Gustav Mahler (1860-1911): Lieder – Elisabeth Kulman & Amarcord Wien ֎

Gustav Mahler (1860-1911): Lieder – Elisabeth Kulman & Amarcord Wien ֎

Gustav Mahler 

Lieder

Elisabeth Kulman

Amarcord Wien

 

Gustav Mahler foi o compositor-regente das grandes – imensas – sinfonias que revolucionou a arte de reger. Viveu um período de esplendor e decadência na Viena do fim do século 19.

Mahler conviveu com artistas e intelectuais como Freud, Klimt, Hugo Wolf, Hugo von Hofmannsthal, Schoenberg, Kokschka, Schiele, Schnitzler e Camillo Sitte.

Viena, além das valsas, também vivia de canções – Lieder – gênero que foi fundamental na obra de Mahler. Um Lied em sua forma mais comum consiste em voz acompanhada ao piano, como nas peças de Schubert, Schumann ou de Hugo Wolf. Mahler deixou canções nessa forma, mas as suas canções mais conhecidas, o acompanhamento é uma orquestra, como no caso do ciclo Lieder eines fahrenden Gesellen. Mas mesmo essas, têm suas versões com acompanhamento de piano. Além desse ciclo, cujas letras são do próprio Mahler, há dois grupos cujas letras são poemas de Friedrich Rückert – os Rückert-Lieder e o um tanto perturbador Kindertotenlieder. Mas há também um grupo de canções escritas sobre poemas do tipo folclórico escolhidos de uma coleção editada por Achim von Arnim e Clemens Brentano, chamada Des Knaben Wunderhorn. Algumas dessas canções acabaram fazendo parte ou servindo de base para movimentos de algumas das sinfonias de Gustav Mahler.

No disco da postagem temos, por assim dizer, um meio caminho, entre o piano e a orquestra. As canções escolhidas para o programa tiveram seus acompanhamentos arranjados para um inusitado conjunto de câmera, formação do grupo Amarcord Wien.  O todo não fica estranho, pois apesar da imensa orquestra usada por Mahler, sua orquestração é quase sempre leve e luminosa. A cantora Elisabeth Kulman iniciou sua carreira como soprano, mas desde 2005 tem atuado como mezzo-soprano e contralto. Neste disco mostra muito talento para interpretar as canções de Mahler.

As canções escolhidas são muito bonitas. Distribuídas no disco temos os 5 Rückert-Lieder , 2 canções do ciclo Lieder eines fahrende Geselle, uma do Kindertotenlieder e as restantes com letras da coleção de poemas Des Knaben Wunderhorn.

Os Rückert-Lieder compreendem três lindas cançõezinhas, Ich atmet einen linden Duft, Blicke mir nicht in die Lieder e Liebst du um Schönheit, que aparecem no início do disco, logo depois da primeira canção, além de duas canções enormes, muito das sérias, Um Mitternacht e Ich bin der Welt abhanden gekommen, no fim do disco, separadas pela canção que Mahler usou na Segunda Sinfonia, para preâmbulo da sua parte final.

O ciclo Lieder eines fahrende Geselle é formado por quatro canções. A segunda delas, Ging heut morgen übers Feld, aparece aqui no início do disco, assim como no vídeo da turma em ação, e a quarta, Die zwei blauen Augen, vem em quinta posição, ainda no ‘esquenta’ do disco.

A canção In diesem Wetter, in diesem Braus, dá realmente o tom do que é o ciclo Kindertotenlieder.

As outras canções têm como letras poemas da coleção Des Knaben Wunderhorn. Duas delas foram compostas mais anteriormente na vida de Mahler e publicadas nos livros de ‘Canções de Juventude’. A canção Ablösung im Sommer trata do cuco e do rouxinol. O cuco, por exemplo, é associado à traição amorosa. Essa canção serviu de base para o terceiro movimento da Terceira Sinfonia. A outra canção deste período é Ich ging mit Lustdurch einen grünen Wald.

Da coleção Des Knaben Wunderhorn temos a já mencionada Urlicht, que se tornou parte da Segunda Sinfonia, Wer hat dies Liedlein erdacht? (Quem compôs está cançãozinha?) e Lob des hohen Verstanden, que novamente trata do cuco e do rouxinol. Agora há um desafio para se saber qual ave canta mais lindamente. É claro que há que esperar o juiz que decidirá.

Para completar o pacote, uma versão de câmara do famoso Adagietto, da Quinta Sinfonia.

Gustav Mahler (1860 – 1911)

  1. Ging heut morger übers Feld – Mahler (Lieder eines fahrenden Gesellen)
  2. Ich atmet’ einen linden Duft – Rückert-Lieder
  3. Blicke mir nicht in die Lieder – Rückert-Lieder
  4. Liebst du um Schönheit – Rückert-Lieder
  5. Die zwei blauen Augen von meinem Schatz – Mahler (Lieder eines fahrenden Gesellen)
  6. Ablösung im Sommer – Des Knaben Wunderhorn – Livro III de Lieder und Gesänge ‘aus der Jugendzeit’
  7. Wer hat dies Liedlein erdacht? – Des Knaben Wunderhorn
  8. Lob des hohen Verstands – Des Knaben Wunderhorn
  9. Ich ging mit Lust durch einen grünen Wald – Des Knaben Wunderhorn – Livro II de Lieder und Gesänge ‘aus der Jugendzeit’
  10. Adagietto – 4 movimento da Quinta Sinfonia
  11. In diesem Wetter, in diesem Braus – Kindertotenlieder (Friedrich Rückert)
  12. Um Mitternacht – Rückert-Lieder
  13. Urlicht – (Des Knaben Wunderhorn) 4 movimento da Segunda Sinfonia
  14. Ich bin der Welt abhanden gekommen – Rückert-Lieder

Elisabeth Kulman, mezzo-soprano

Amarcord Wien:

Tommaso Huber, acordeão

Sebastian Gürtler, violino

Michael Williams, violoncelo

Gerhard Muthspiel, contrabaixo

Arranjos:

Sebastian Gürtler (faixas: 1, 10)

Wolfgang Muthspiel (faixas: 2 até 9, 11 até 14)

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FLAC | 266 MB

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MP3 | 320 KBPS | 133 MB

Em 1911, Henry Krehbiel escreveu sobre Mahler no New York Tribune: We cannot see how any of his music can long survive him.  Tudo indica que ele não havia ouvido o Adagietto…

Mahler já havia dado a sua resposta: My time will come!

Há em Viena lugar chamado Amarcord Café que serve delicias como está da imagem!

Aproveite!

René Denon

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Gustav Mahler (1860-1911): Mahler Lieder

 

 

George Gershwin (1898-1937) – Piano Duets – Katia & Marielle Labèque

Voltando ao universo musical de George Gershwin trago para os senhores outro espetacular álbum que as Irmãs Labeque gravaram com a obra do compositor, em um período em que mergulharam a fundo em pesquisas sobre sua obra. Comprei esse LP em algum momento do final dos anos 80, e foi o disco que me apresentou essa dupla magnífica de pianistas. Antes de continuar, preciso contar a história por trás desse disco.

Sabemos que Gershwin morreu muito jovem, meros 39 anos, mas seu irmão e herdeiro, Ira, um letrista formidável e parceiro de diversas canções de sucesso, viveu muito mais tempo, vindo a falecer em 1983, com 86 anos de idade. E conta a história que um belo dia recebeu em sua residência a prova de um disco que estava sendo lançado na França, onde duas irmãs pianistas gravaram a versão para dois pianos de ‘Rhapsody in Blue’ e do ‘Concerto para Piano em Fá Maior’. Ele teria ficado tremendamente surpreso com a gravação e pediu diversas cópias para distribuir entre amigos, dizendo que ‘via fogos de artifício quando estas meninas tocavam’. As irmãs o visitaram em 1982 e falaram de seu desejo de gravarem mais obras de George em suas versões para dois pianos. Passado algum tempo, a família de Gershwin conseguiu adquirir em um leilão o manuscrito para dois pianos do ‘Americano em Paris’, que foi depositado em um Museu do Congresso em Washington. Assim que as irmãs Labèque tiveram acesso a ele, se dedicaram a estudá-lo. O resultado é o que está gravado neste disco que ora vos trago, que foi a primeira gravação de ‘Um Americano em Paris’ na versão para dois pianos.

O que seria o Lado B do disco traz a “Fantasia sobre Porgy & Bess” do compositor australiano Percy Granger, que foi um grande admirador de Gershwin. Novamente, as irmãs mostram toda a sua versatilidade e intimidade com a obra do compositor norte americano.

Espero que gostem. Vem mais Gershwin / Labéque por aí.

P.S. Uma curiosidade: o produtor desse LP é o guitarrista jazz-fusion John McLaughlin com quem Katia foi casada por alguns anos.

1 An American in Paris (Version for Two Pianos)
2 Fantasy on George Gershwin’s ‘Porgy and Bess’

Katia & Marielle Labèque – Pianos

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George Gershwin (1898-1937) – Rhapsody in Blue, Piano Concerto – Katia & Marièle Labeque

Uma de minhas obras favoritas, a “Rhapsody in Blue” de George Gershwin, e seu famoso ‘Concerto para Piano em Fá Maior” são  aqui interpretados de uma forma pouco convencional, em uma versão para dois pianos, pela maravilhosa dupla formada pelas irmãs Labèque, Katia & Marielle.

A famosa e belíssima orquestração de Ferde Grofé é a que mais frequentemente ouvimos em gravações ou até mesmo ao vivo. Mas o que poucos sabem é que originalmente Gershwin compôs esta obra para dois pianos, assim como o Concerto em Fá Maior e mesmo ‘An American in Paris’. Quem não está acostumado pode estranhar, mas lhes garanto que  a essência da obra está ali. E as irmãs Labèque, como não poderia deixar de ser, dão um show de competência técnica e sensibilidade artística. Detalhe, esse disco foi gravado em 1980, período em que elas se dedicaram a pesquisar a obra do compositor. Trarei outro disco delas também a ele dedicado daqui a alguns dias.

Ouço esse disco há uns trinta e cinco anos, e até hoje ele me transmite uma sensação de frescor, de algo que veio para melhorar meu dia, meu humor. Talvez seja a forte influência do Jazz e do Blues,  tão impregnados em sua obra, que me faz gostar tanto de Gershwin, ou então talvez seja sua incrível capacidade de compor tantas canções tão belas e cativantes, sei lá, só sei que sua música me empolga, me deixa animado, pronto para o que der e vier.

O Concerto em Fá Maior também foi composto originalmente para dois pianos,e foi transcrito para Piano e Orquestra pelo próprio compositor, logo após sua conclusão e também nos mostra toda a sua incrível capacidade criativa e sua fortíssima influência da música negra.

Enfim, as Irmãs Labèque nos oferecem aqui 43 minutos de puro prazer auditivo, impossível negar sua incrível capacidade expressiva de um compositor tão múltiplo e ao mesmo tempo tão único. A perfeita sincronia e entendimento musical entre as irmãs pianistas sempre será o grande destaque desta formação, seja qual for o repertório que estiverem tocando.

01. Rhapsody In Blue
02. Piano Concerto in F 1. Allegro
03. Piano Concerto in F 2. Adagio
04. Piano Concerto in F 3. Allegro agitato

Katia & Marielle Labèque – Pianos

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Leonard Bernstein (1918-1990): Sinfonia Nº 2 “A Idade da Ansiedade” / West Side Story: Danças Sinfônicas / Abertura Candide (Steuerman, Florida Philharmonic, Judd)

Leonard Bernstein (1918-1990): Sinfonia Nº 2 “A Idade da Ansiedade” / West Side Story: Danças Sinfônicas / Abertura Candide (Steuerman, Florida Philharmonic, Judd)

James Judd e a Filarmônica da Flórida oferecem boas leituras dessas famosas peças de Bernstein. Suas interpretações mais refinadas sacrificam parte do elemento “swing”, particularmente na seção jazzística do Masque da Sinfonia e na maior parte das danças de West Side Story, em favor da precisão e transparência, como se fossem vistas através das lentes de Stravinsky ou Copland. Há pouco dos famosos registros do próprio compositor. Mas há muito a recomendar neste disco. Depois da animada Candide Overture (que qualquer orquestra norte-americana deve saber de cor), as danças de West Side Story caem um pouco, apesar de que são as Danças de WSS, né? Porém, na Sinfonia, Judd detalha os vários humores de forma eficaz, delineando claramente a sutileza das variações das Sete Idades e as bordas mais irregulares da seção dos Sete Estágios. Somente no clímax arrasador do Epílogo é que realmente ouvimos do que essa orquestra é capaz. Eles são muito bons! O pianista Jean-Louis Steuerman é excelente, toca tudo com clareza, graça e sensibilidade. Sua interpretação lembra mais a leitura tecnicamente perfeita de Marc-André Hamelin em vez do estilo mais lúdico de Lukas Foss com o próprio Bernstein.

Leonard Bernstein (1918-1990): Symphony No. 2 / West Side Story: Symphonic Dances / Candide Overture (Steuerman, Florida Philharmonic, Judd)

1. Candide Overture 00:04:09

West Side Story: Symphonic Dances
2. West Side Story: Symphonic Dances 00:22:37

Symphony No. 2, “The Age of Anxiety”
3. Part I: Prologue 00:02:44
4. Part I: The Seven Ages: Variation I 00:01:00
5. Part I: The Seven Ages: Variation II 00:01:33
6. Part I: The Seven Ages: Variation III 00:01:27
7. Part I: The Seven Ages: Variation IV 00:00:54
8. Part I: The Seven Ages: Variation V 00:00:53
9. Part I: The Seven Ages: Variation VI 00:01:02
10. Part I: The Seven Ages: Variation VII 00:01:57
11. Part I: The Seven Stages: Variation VIII 00:01:46
12. Part I: The Seven Stages: Variation IX 00:01:22
13. Part I: The Seven Stages: Variation X 00:00:32
14. Part I: The Seven Stages: Variation XI 00:00:54
15. Part I: The Seven Stages: Variation XII 00:00:16
16. Part I: The Seven Stages: Variation XIII 00:00:47
17. Part I: The Seven Stages: Variation XIV 00:00:33
18. Part II: The Dirge 00:06:27
19. Part II: The Masque 00:04:45
20. Part II: The Epilogue 00:07:53

Composer: Bernstein, Leonard
Conductor: Judd, James
Orchestra: Florida Philharmonic Orchestra
Piano: Steuerman, Jean Louis

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Bernstein aponta para Steuerman e diz: “Este é um grande pianista!”.

PQP

W. A. Mozart (1756-1791): Divertimento K. 563 / Adágio e Fuga K. 546 (Kremer, Kashkashian, Ma, Philips)

W. A. Mozart (1756-1791): Divertimento K. 563 / Adágio e Fuga K. 546 (Kremer, Kashkashian, Ma, Philips)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Um baita CD. O Mozart final tem sempre coisas lindas e estimulantes. O que este cara se tornaria se não tivesse morrido aos 35 anos! O Divertimento K.563 é relativamente pouco conhecido, mas é, na minha opinião, uma obra-prima. Mozart estava no auge absoluto como compositor. Aqui você ouve camadas de significados sob uma superfície impecavelmente polida. Cada vez que ouço isso, parece que aprendo algo novo. Mozart tenta sublimar seus sofrimentos, mas não consegue. Em parte do primeiro movimento e no Adágio em sua totalidade, está a dor em toda a sua crueza. Não fica pedra sobre pedra. No final, o “coração dança, mas não de alegria”. Ouça e comprove.

W. A. Mozart (1756-1791): Trio K. 563 / Adágio e Fuga K. 546 (Kremer, Kashkashian, Ma)

Adagio And Fugue, K. 546 For String Quartet
1 I. Adagio 3:04
2 II. Fugue 3:58

Divertimento For Violin , Viola And Cello In E-Flat Major, K.563
3 I. Allegro 12:42
4 II. Adagio 13:15
5 III. Menuetto. Allegretto – Trio 4:50
6 IV. Andante 7:29
7 V. Menuetto. Allegretto – Trio I – Trio II 5:12
8 VI. Allegro 6:11

Cello – Yo-Yo Ma (em todas as faixas)
Viola – Kim Kashkashian (em todas as faixas)
Violin – Daniel Phillips (tracks: 1, 2), Gidon Kremer (em todas as faixas)

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PQP

Léos Janácek (1854-1928) – Sinfonietta, Lachian Dances & Taras Bulba

Na segunda-feira da semana passada, fui surpreendido pelo fato de que não poderia dar continuidade ao Ser da Música, espaço que eu conduzia com máxima persistência desde os idos de 2009. O espaço tinha um valor sentimental para mim. Recebi ao longo de mais de treze anos, muitas manifestações benfazejas de almas que acompanhavam discretamente as postagens feitas todos os dias. Ao todo foram mais de seis mil. Acredito que muita gente deve ter se abastecido com boas gravações. Era essa a finalidade. Fazia um esforço para ouvir tudo o que postava. Não deixei jamais de fazê-lo. Mas, tudo se foi. Como disse para os colegas do PQP Bach em tom de melancólica ironia: “O ser da música não mais será”.

O que me consola é que está tudo salvo em meu email. Diariamente, o Google enviava o que eu postava no dia anterior. E assim a vida segue. Retorno ao PQP Bach e penso que por aqui ficarei durante bastante tempo. Não tenho a intenção de recomeçar. Nunca deixei de acompanhar as postagens dos distintos colegas do espaço. Já tive uma passagem rápida por esta página nos anos de 2010 e 2011 – se a memória não falha. Quando fui interpelado pelo PQP sobre o que havia acontecido com o blog que eu conduzia e dei a fatídica notícia do seu ocaso, a primeira coisa que recebi foi um generoso convite para retornar. Então, vamos lá!

Esta postagem eu havia feito no dia 12 de maio. É o primeiro disco que aparece por aqui após esse hiato de onze anos. Escolhi-o pela força emblemática das obras. Recordo-me que, quando o escutei ainda no início do mês, fiquei impressionado com a qualidade e o repertório. O disco traz duas obras pelas quais eu tenho grande admiração. A espetacular Sinfonietta, obra cuja escrita iniciou-se em 1925, mas que teve a sua estreia em 1926. É uma das últimas obras escritas pelo compositor tcheco. É uma obra com um forte apelo marcial. Começa com uma marcante fanfarra. A outra obra é a rapsódia para orquestra, denominada Taras Bulba, baseada na novela do escritor russo Nikolai Gogol. A história é bastante curiosa e traz um conjunto de elementos culturais do leste europeu. Trata sobre cossacos, polacos e ucranianos. Janácek escreveu a obra entre os anos de 1915 e 1918. A regência do disco fica a cargo do maestro uruguaio José Serebrier à frente excelente Filarmônica Estatal Tcheca. Boa apreciação!

Léos Janácek (1854-1928) –

01. Sinfonietta, Op. 60: Fanfares
02. Sinfonietta, Op. 60: The Castle
03. Sinfonietta, Op. 60: The Queen’s Monastery
04. Sinfonietta, Op. 60: The Street
05. Sinfonietta, Op. 60: The Town
06. Lachlan Dances: Starodavny I
07. Lachlan Dances: Pozehanny – Jose Serebrier
08. Lachlan Dances: Dymak
09. Lachlan Dances: Starodavny II
10. Lachlan Dances: Celadensky
11. Lachlan Dances: Pilky
12. Taras Bulba, Rhapsody for Orchestra: The Death Of Andri
13. Taras Bulba, Rhapsody for Orchestra: The Death Of Ostap
14. Taras Bulba, Rhapsody for Orchestra: Prophecy And Death Of Taras Bulba

Czech State Philharmonic
José Serebrier, regente

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Janácek dando um tempo na escrita para acompanhar os comentários do PQP Bach
Janácek dando um tempo na escrita para acompanhar os comentários do PQP Bach”

George Enescu / Leoš Janácek / Albert Roussel: Sonatas para violino e piano (Jodry, Steen-Nokleberg)

George Enescu / Leoš Janácek / Albert Roussel: Sonatas para violino e piano (Jodry, Steen-Nokleberg)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Eu sou um sujeito de ascendência 100% portuguesa nas três últimas gerações, tenho cara de judeu — não sou, acho eu –, e amo a música cigana. Enescu nasceu em Liveni, na Romênia, num 19 de agosto. Esta data é a melhor data para se nascer. Quem nasce em 19 de agosto é inteligente, bonito, tem bom caráter e dança bem. Mas chega de besteira. Este disco de 1993 recebeu prêmios por onde foi e, nossa, é muito folclórico e cigano. Enescu (ou Enesco), Janácek e Roussel foram beber nas fontes gitanas e voltaram de lá embriagados. Bem, OK, Enescu bebeu muito, Janácek bebeu um pouco e Roussel declinou… Mas embriaguemo-nos todos! Baita disco!

Enescu
Sonata para Violino e Piano Nº 3 (em estilo folclórico romeno), Op. 25

1 Moderato malinconico
2 Andante sostenuto e misterioso
3 Allegro con brio, ma non troppo mosso

Janácek
Sonata para Violino e Piano

4 Con moto
5 Ballada
6 Allegretto
7 Adagio

Roussel
Sonata para Violino e Piano, Nº 2, Op. 28

8 Allegro con moto
9 Andante
10 Presto

Annie Jodry, violino
Einar Steen-Nokleberg, piano

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Ciganos fazendo uma visita à sede campestre de Morungava (RS) da PQP Bach Corp.

PQP

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): 6 Concertos para Cravo WQ 43 (Staier, Freiburger Barockorchester, Müllejans)

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): 6 Concertos para Cravo WQ 43 (Staier, Freiburger Barockorchester, Müllejans)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Um disco que reúne Andreas Staier e a Freiburger Barockorchester não pode ser ruim. E não é. Ainda mais tocando concertos do mais talentoso de meus irmãos. É claro que há aquele respeito de a orquestra não trovejar sobre o delicado som do cravo, mas isso CPE administra brilhantemente. Publicado em 1772, os “Sei Concerti” marcou o fim de três décadas de tédio como cravista da corte de Frederico, o Grande. Dentro de um clima vivo, os movimentos rápidos se alternam alegremente. Este é um CD quente, um daqueles onde tudo parece chegar junto na hora certa. Aqui está a melhor orquestra barroca do mundo se juntando a um dos melhores cravistas do planeta em concertos de um compositor que parece estar ganhando novo reconhecimento como o gigante que verdadeiramente era. A sensação de liberação criativa evidente nas conhecidas sinfonias de cordas de 1773 também está presente nesses concertos e, de fato, foi sua ousadia formal que motivou Staier, a julgar pelo entusiasmo do libreto. Staier compara CPE Bach a Beethoven. Vocês podem confirmar a veracidade da comparação quando (por exemplo) o primeiro movimento do nº 2 colide com o início do segundo. Parece Beethoven, assim como a Fantasia Wanderer ou a Sonata em Si menor de Liszt. E que lindo é este segundo mvto — sério, parece jazz. E o que dizer dos dois movimentos finais do Nº 4?  Grande disco!

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): 6 Concertos para Cravo WQ 43 (Staier, Freiburger Barockorchester, Müllejans)

Concerto No. 1 In F Major
1-1 1. Allegro Di Molto 5:48
1-2 2. Andante 3:43
1-3 3. Prestissimo 4:10

Concerto No. 2 In D Major
1-4 1. Allegro Di Molto 7:50
1-5 2. Andante 6:11
1-6 3. Allegretto 8:24

Concerto No. 3 In E Flat Major
1-7 1. Allegro 7:05
1-8 2. Larghetto 3:35
1-9 3. Presto 4:03

Concerto No. 4 In C Minor
2-1 1. Allegro Assai 3:24
2-2 2. Poco Adagio 2:15
2-3 3. Tempo Di Minuetto 2:51
2-4 4. Allegro Assai 4:27

Concerto No. 5 In G Major
2-5 1. Adagio – Presto 4:58
2-6 2. Adagio 2:34
2-7 3. Allegro 5:04

Concerto No. 6 In C Major
2-8 1. Allegro Di Molto 7:27
2-9 2. Larghetto 3:55
2-10 3. Allegro 6:44

Andreas Staier
Freiburger Barockorchester
Petra Müllejans

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Staier testando o cravo da PQP Bach Corp. de Göttingen.

PQP

Béla Bartók (1881-1945): Rapsódias Nos. 1 e 2 / Andante / Quinteto para Piano (Kodály Quartet, Jandó)

Béla Bartók (1881-1945): Rapsódias Nos. 1 e 2 / Andante / Quinteto para Piano (Kodály Quartet, Jandó)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

As Rapsódias são muito bonitas, o Andante nem se fala. Mas vou colocar meu foco sobre o curioso (e lindo) Quinteto.

Aos 22 anos, Bartók escreveu um imenso Quinteto para Piano e Cordas. São quase 45 minutos de uma música bem complicada. Ao envelhecer, o compositor passou a detestar esta sua manifestação da juventude. Por anos, segui a opinião dele. Só que, no ano passado, fui obrigado a ouvir atentamente a coisa e achei a peça maravilhosa. Li que Janine Jansen também é uma defensora do Quinteto. Quem ama Bartók reconhece ali, em embrião, características que serão desenvolvidas depois. O Quinteto tem todas as sementes, inclusive um movimento cigano e aquela dureza que por vezes nos arranha… Mas talvez admirá-lo seja coisa de fã, de gente que consegue reconhecer o adulto no feto.

Béla Bartók começou a escrever seu Quinteto para Piano em Berlim, não muito depois de se formar na Academia Liszt de Budapeste. Esta foi uma época em que sua música estava sob a influência de Richard Strauss e Debussy. Em 1902, Bartók tinha ouvido Also sprach Zarathustra e a impressão recebida por ele era aparente em seu recém-concluído poema sinfônico, Kossuth. Simultaneamente, Bartók também estava começando a explorar uma linguagem musical nacional como forma de expressar a identidade húngara, e essa tensão entre a tradição clássica europeia e o desejo de forjar algo novo caracteriza grande parte do quinteto. A obra foi concluída no verão de 1904 na Hungria, e apresentada pela primeira vez em Viena, no Ehrbar Saal, em 21 de novembro pelo Prill Quartet, com o próprio compositor assumindo o piano. Como ele comentou em uma carta alguns dias depois a seu professor de piano da Academia, István Thomán: ‘A dificuldade de meu quinteto prejudicou gravemente a primeira apresentação — mas, afinal de contas, de alguma forma ele foi aprovado. O público gostou ao ponto de voltarmos 3 vezes ao palco.’ As críticas foram amplamente positivas. O crítico do Welt Blatt , no entanto, foi menos gentil, observando que “um talento inconfundível luta com um vício questionável de efeitos distintos, que não raramente são totalmente repulsivos”… O quinteto foi posteriormente revisado e a nova versão foi interpretada pela primeira vez em 7 de janeiro de 1921. Com o passar dos anos, Bartók passou a detestar a peça. Zoltán Kodály pensou que Bartók tinha destruído totalmente a obra. Ela sumiu. Só que ela foi redescoberta pelo estudioso de Bartók Denijs Dille. Isso em janeiro de 1963. Ela nunca se tornou popular, mas Janine Jansen a ama e é a atual “dona” da peça. Digo que é “dona” porque ela a divulga onde e quando pode com seu enorme talento e 1,85m. É realmente uma obra que não parece ser de Bartók. Talvez o último movimento possua algo de sua voz, mas é só. Eu gosto muito do Quinteto pelo extravasamento de sinceridade juvenil, o que paradoxalmente a torna mais claro para os aficionados e mais obscuro para o público. Estou com Janine nessa.

Béla Bartók (1881-1945): Rapsódias Nos. 1 e 2 / Andante / Quinteto para Piano (Kodály Quartet, Jandó)

Rhapsody No. 1, Sz. 86
1. Prima parte ‘lassu’: Moderato 00:04:38
2. Seconda parte ‘friss’: Allegretto moderato 00:05:44

Rhapsody No. 2, Sz. 89
3. Prima parte ‘lassu’: Moderato 00:04:17
4. Seconda parte ‘friss’: Allegro moderato 00:06:49

Andante in A Major, BB 26b
5. Andante in A Major, BB 26b 00:03:24

Piano Quintet
6. Andante 00:13:08
7. Vivace (Scherzando) 00:08:47
8. Adagio 00:11:26
9. Poco a poco più vivace 00:08:24

Kodály Quartet
Jenő Jandó

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Jenő Jandó (1952) é um tremendo artista. Gravou um incrível número de CDs para a Naxos e sempre com competência. É um fenômeno. Quando a gente pensa que ele vai tocar mal, erramos. Ele é infalível.

PQP

Olivier Messiaen (1908-1992): Quarteto para o Fim dos Tempos (para piano, clarinete, violino e violoncelo)

Olivier Messiaen (1908-1992): Quarteto para o Fim dos Tempos (para piano, clarinete, violino e violoncelo)


IM-PER-DÍ-VEL !!!

O Quarteto para o Fim dos Tempos foi estreado diante de todos os prisioneiros no pátio gelado do campo de concentração de Stalag VIII A de Görlitz, na fronteira sudoeste da Polônia. Era o dia 15 de janeiro de 1941 e nevava. Menos de dois anos antes, em setembro de 1939, a França entrara na Segunda Guerra Mundial. Messiaen fora chamado para servir o exército e, poucos meses depois, em maio de 1940, durante uma ofensiva alemã, foi capturado e levado para o campo de concentração.

O Quarteto foi estreado por Messiaen ao piano, mais Henri Akoka (clarinete), Jean le Boulaire (violino) e Étienne Pasquier (violoncelo). Nenhum dos três era músico profissional. Acontece que o oficial nazista responsável pelo Stalag gostava de música e, quando soube da presença de Messiaen, deixou que o compositor trabalhasse a fim de fazer um concerto. Seu nome era Karl-Albert Brüll, um apreciador da música do compositor. Ele proporcionou a Messiaen “condições ‘excepcionais” de trabalho. Deu-lhe lápis, borrachas e papel de música. Também foi-lhe permitido isolar-se num quarto vazio com um guarda de plantão à porta a fim de evitar que fosse incomodado.

Messiaen escreveu, para os únicos outros instrumentistas que lá estavam presos (um violoncelista, um violinista e um clarinetista), um breve trio que foi posteriormente inserido na obra como quarto movimento. Depois, com a chegada de um piano, Messiaen compôs o resto da obra, assumindo o instrumento.

O católico Messiaen propôs que sua obra fosse uma meditação sobre o Apocalipse de João (10, 1-7). A partitura é encabeçada com o seguinte excerto: “Vi um anjo poderoso descer do céu envolvido numa nuvem; por cima da sua cabeça estava um arco-íris; o seu rosto era como o Sol e as suas pernas como colunas de fogo. Pôs o pé direito sobre o mar e o pé esquerdo sobre a terra e, mantendo-se erguido sobre o mar e a terra levantou a mão direita ao céu e jurou por Aquele que vive pelos séculos dos séculos, dizendo: não haverá mais tempo; mas nos dias em que se ouvir o sétimo anjo, quando ele soar a trombeta, será consumado o mistério de Deus”.

A estruturação do Quarteto em oito movimentos é explicada por Messiaen da seguinte forma: “Sete é o número perfeito, a criação em seis dias santificada pelo Sábado divino; o sete deste repouso prolonga-se na eternidade e se converte no oito da luz inextinguível e da paz inalterável”.

Olivier Messiaen (1908-1992): Quarteto para o Fim dos Tempos
(para piano, clarinete, violino e violoncelo)

1. Liturgia de cristal 3:01
2. Vocalise, para o anjo que anuncia o fim dos tempos 5:30
3. Abismo dos pássaros 8:48
4. Intermezzo 1:48
5. Louvor à eternidade de Jesus 9:58
6. Dança da fúria para as sete trombetas 5:40
7. Turbilhão de arco-íris, para o anjo que anuncia o fim dos tempos 8:19
8. Louvor à imortalidade de Jesus 9:14

Gil Shaham, violino
Paul Meyer, clarinete
Jian Wang, violoncelo
Myung-Whun Chung, piano

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Messiaen: obra-prima escrita num campo de concentração
Messiaen: obra-prima escrita num campo de concentração

PQP

Sergei Prokofiev (1891-1953): Scythian Suite / Symphony No. 5 (Celibidache, Stuttgart)

Sergei Prokofiev (1891-1953): Scythian Suite / Symphony No. 5 (Celibidache, Stuttgart)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Um tremendo disco! Uma linda gravação ao vivo com Celi em grande forma. Aliás, Celibidache não apreciava os estúdios, preferindo sempre os registros ao vivo. Concordo com ele. Ao vivo, no ambiente de concerto, tudo fica muito melhor. A Quinta Sinfonia foi composta em 1944 e estreada em Moscou a 13 de janeiro de 1945, sob a regência do próprio compositor. Segundo Sviatoslav Richter, a obra é reflexo de “uma alcançada maturidade interior e uma volta ao passado”. Para ele, o compositor olhava “para a própria vida e para tudo o que aconteceu”. Prokofiev tinha retornado ao momento anterior do exílio de dezessete anos e revivia seu passado como artista e como homem. Mesmo tolhido artisticamente, viu que era preciso dar uma face russa a sua obra. A Quinta Sinfonia foi escrita quinze anos após a Quarta e dez anos após o reingresso de Prokofiev na Rússia. Nesse hiato, o compositor viu seu estilo de composição sofrer uma transformação considerável e buscava inspiração na força melódica autêntica do seu país, em suas raízes: “o estrangeiro não combina com minha inspiração, porque eu sou russo e a coisa pior para um homem como eu é viver no exílio. Devo voltar. Devo ouvir ressoar ao ouvido a língua russa, devo falar com as pessoas, a fim de que possa restituir-me o que me falta: os seus cantos, os meus cantos.” Sobre a Quinta Sinfonia, ele disse: “esta música amadureceu dentro de mim, encheu minha alma” […] “não posso dizer que escolhi estes temas, eles nascem em mim e devem se expressar”. A volta ao país natal se desdobrou no retorno às raízes musicais de sua juventude, na qual demonstrara amar profundamente a música de Haydn. A simplicidade e inocência das composições de Haydn eram vistas por Prokofiev como exemplo de clareza e sofisticação. O regresso à natureza neoclássica da Primeira Sinfonia deveu-se mais ao renascimento em si do espírito haydniano que propriamente pela censura impingida à sua música pelo Comitê Central do Partido Comunista. Ao compor nos moldes do “realismo socialista”, Prokofiev inaugurou uma fase chamada por ele de “nova simplicidade”. Nas palavras do compositor: uma “linguagem musical que possa ser compreendida e amada por meu povo”. Simples, sem ser simplista, ele fez sua música retornar ao predomínio do elemento melódico, à transparência na orquestração e à nitidez da forma, de acordo com as normas clássicas. Se os movimentos lentos I e III – Andante e Adagio – se vestem de uma ternura elegíaca e de introspecção, os allegros II e IV, um scherzo e um finale refletem o puro humor advindo de Haydn. Desse contraste, sem dores nem tristezas, nasceu uma das obras mais célebres da música soviética, definida pelo compositor como o “canto ao homem livre e feliz, à sua força, à sua generosidade e à pureza de sua alma”.

Adaptado deste texto de Marcelo Corrêa para a Filarmônica de Minas Gerais.

Sergei Prokofiev (1891-1953): Scythian Suite / Symphony No. 5 (Celibidache, Stuttgart)

Scythian Suite Op. 20
1 The Adoration Of Veless And Ala (Allegro Feroce – Poco Meno Mosso – Poco Meno Lento) 6:29
2 The Enemy God And The Dance Of The Spirits Of Darkness (Allegro Sostenuto) 3:21
3 Night (Andantino – Poco Più Mosso) 6:54
4 The Glorious Departure Of Lolly And The Sun’s Procession (Tempestoso – Un Poco Sostenuto – Allegro – Andante Sostenuto) 6:17

Symphony No. 5 In B Flat Major Op. 100
5 Andante 12:50
6 Allegro Marcato 9:02
7 Adagio 13:52
8 Allegro Giocoso 9:31

SWR Stuttgart Radio Symphony Orchestra
Sergiu Celibidache

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Celi com seu grupo de heavy metal

PQP

D. Shostakovich (1906-1975), E. Denisov (1929-1996), S. Rachmaninoff (1873-1943) – Obras para Cello e Piano (Laferrière, Vitaud)

Em um CD de 2005 já postado por PQP, temos uma gravação de referência da Sonata de Shosta para violoncelo e piano, por Martha Argerich e Micha Maisky. O que essa dupla faz na sonata é uma barbaridade! O temperamento fogoso de Martha cai muito bem na obra escrita pelo jovem Shosta em 1934, pra não falar da fluência de Micha – educado em Leningrado e depois aluno de Rostropovich em Moscou – na linguagem do compositor.

Mas hoje temos um outro álbum mais recente, com dois músicos franceses que trazem várias sutilezas, detalhes que passaram quase despercebidos naquela outra interpretação. Por exemplo o canto do violoncelo e o acompanhamento suave do piano no movimento lento (largo) belíssimo que Vitaud e Laferrière conduzem em um andamento mais calmo e sonhador que a outra dupla citada. No 2º e no 4º movimento, temos aquele piano staccato, meio moto perpetuo meio marcha, tão característico de Shosta. Poucos anos depois, ele cairia em desgraça junto ao regime soviético por causa de obras como a ópera Lady Macbeth e o balé O Parafuso (1931), este último encenado apenas um dia e logo banido por seu enredo subversivo: um trabalhador que queria sabotar o maquinário da fábrica com um parafuso. O balé O riacho límpido (1935) – no qual camponeses casados flertavam com bailarinas – também foi proibido e o autor do libretto foi preso e fuzilado. O jovem Shostakovich deu sorte e escapou por um fio.

O repertório escolhido pela dupla francesa tem também a sonata para violoncelo e piano de Rachmaninoff, composta quando este também tinha menos de 30 anos. Cheia de melancolia romântica e melodias notáveis, essa sonata – assim como os Trios Elegíacos de Rach – me agrada mais do que os exageros orquestrais dos concertos para piano. Digamos assim: um piano e um violoncelo açucarados são glicose em uma medida razoável, enquanto uma orquestra inteira assim já é demais para minha saúde. Podem me xingar nos comentários.

Shosta e Denisov em 1953

E entre as duas grandes sonatas temos o conjunto de variações de Denisov sobre um singelo tema de Schubert, tema do Impromptu D.935 nº 2, que só neste ano de 2022 já apareceu aqui no PQPBach nas gravações de Chukovskaya, Lupu e Sokolov. Usem a lupa no canto superior direito para comparar… Também à direita e mais abaixo, o nome de Edison Denisov faz sua estreia aqui. Denisov era mal visto pelo regime soviético assim como seus colegas de geração Schnittke e Gubaidulina. Ou seja: estava em boa companhia, a uma distância segura dos lambe-botas de sempre. Todo ditador tem seus puxa-sacos: me desculpem vocês a digressão, é porque hoje vi o retorno daquele senhor dono de um canal de TV brasileiro, um que sempre sorriu e bateu palma pra ditador, e me lembrei que meus avós – um tiquinho mais velhos que a geração desse puxa-saco brasileiro, de Denisov e de Gubaidulina – sempre desprezaram eSSe senhor. “Muitos se deixaram engambelar por oportunismo” (L.F. Verissimo sobre 64), mas me perdoem novamente por esses longos parênteses, talvez eles tenham a função de explicar que nenhum desses compositores aqui representados deve ser confundido com o regime russo, seja o antigo ou o novo. Este disco não tem nada a ver com essas minhas últimas frases amargas, o Shosta/Rach/Denisov da dupla francesa é puro lirismo e sensibilidade: como um bom vinho rosé, é sutil e complexo sem ser pesado.

Rach preparado para o inverno

Dmitri Shostakovich (1906-1975)
Cello Sonata in d minor, op.40
1 I. Allegro non troppo 11’51
2 II. Allegro 3’13
3 III. Largo 8’04
4 IV. Allegro 4’05
Edison Denisov (1929-1996)
5 Variations on a theme by Schubert 13’36
Sergei Rachmaninoff (1873-1943)
Cello Sonata in g minor, op.19
6 I. Lento. Allegro moderato 13’53
7 II. Allegro scherzando 6’27
8 III. Andante 5’41
9 IV. Allegro mosso 10’35

Victor Julien-Laferrière, cello
Jonas Vitaud, piano

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PS: Em um contexto de joga-pedra-na-geni-russa, Alain Lompech escreveu essas palavras abaixo na revista Classica de Abril/22, aqui mal traduzidas:

Não nos esqueçamos do seguinte: o compositor Dmitri Shostakovich (1919-1975) foi muito mal visto na década de 1970. Ele foi tratado como o compositor oficial do regime soviético. Quando foi lançado “Testemunho: Memórias de Shostakovich, observações recolhidas por Simon Volkov” (1980), alguns comentaristas afirmaram que se tratava de uma falsificação.

Do lado comunista, furiosos com um conteúdo que se sabia correto, assim como no campo dos jornalistas e críticos de música ocidentais que não aceitavam descobrir uma realidade muito diferente das conclusões que eles tiravam absurdamente de uma música que simplesmente não obedecia aos cânones obrigatórios da Segunda Escola de Viena. Nessas páginas, descobrimos um homem petrificado pelo arbítrio e que pensava em apenas uma coisa: compor.

Shostakovich e sua esposa Irina também preparados para o inverno russo

Pleyel

Francesco Tristano (1981) / J. S. Bach (1685-1750) / John Cage (1912-1992): bachCage (Tristano)

Francesco Tristano (1981) / J. S. Bach (1685-1750) / John Cage (1912-1992): bachCage (Tristano)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Esta foi, em 2011, a estreia de Francesco Tristano no mundo das gravações. Tristano é pianista e compositor e aqui mistura-se com Bach e Cage. Tristano é um representantes daquele tipo de músico que não pertence mais a uma escola específica. Os mais diversos tipos de música estão lado a lado, tirados de seu contexto típico e disponíveis, digamos, de uma forma democrática. Tristano faz uso disso, deixando sua marca. Mas vejam bem, o sotaque dele para as peças de Bach é bem estranho, mas eu acho as estranhezas muito estimulantes. Indo mais longe, digo que a brincadeira que ele e o engenheiro de som fazem no Menuett II From French Suite N. 1, BWV 812, me atingiu o coração de tal maneira que quase me apaixonei. Bom disco. (Acho que não é a primeira vez que ouço um CD com peças de Bach e Cage. Sabem que é uma mistura que funciona?).

Francesco Tristano (1981) / J. S. Bach (1685-1750) / John Cage (1912-1992): bachCage

1 Introit
Written-By – Francesco Tristano
1:21

Partita N. 1 In B Flat Major, BWV 825
Composed By – Johann Sebastian Bach
2 Praeludium 1:50
3 Allemande 2:41
4 Courante 2:41
5 Sarabande 4:17
6 Menuet I 1:08
7 Menuet II – Menuett I Da Capo 1:16
8 Gigue 1:50

9 In A Landscape
Composed By – John Cage
9:02

The Seasons (1947)
Composed By – John Cage
10 Prelude 1:09
11 Winter 1:20
12 Prelude II 1:00
13 Spring 3:05
14 Prelude III 0:53
15 Summer 3:33
16 Prelude IV 0:47
17 Fall 2:33
18 Finale (Prelude I Reprise) 0:50

Vier Duette, BWV 802-805
Composed By – Johann Sebastian Bach
19 Duett N. 1 In E Minor, BWV 802 2:03
20 Duett N. 2 In F Major, BWV 803 2:18
21 Duett N. 3 In G Major, BWV 804 1:58
22 Duett N. 4 In A Minor, BWV 805 2:44

23 Etude Australe N. VIII, Book I (1974-1975)
Composed By – John Cage
4:56

24 Interludes
Written-By – Francesco Tristano
2:34

25 Menuett II From French Suite N. 1, BWV 812
Composed By – Johann Sebastian Bach
1:41

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Tristano fazendo alongamento sobre o piano. Ele sabe que as girafas de pescoço longo foram beneficiadas na seleção natural.

PQP

Johann Nepomuk Hummel (1778-1837) / George Onslow (1784-1853): Quintetos para Piano (Nepomuk)

Johann Nepomuk Hummel (1778-1837) / George Onslow (1784-1853): Quintetos para Piano (Nepomuk)

Como muitos, um disco muito bem interpretado em cima de obras pouco interessantes. Hummel é um austríaco, velho conhecido nosso — tem um belo Concerto para Trompete e vários Concertos para Piano mais ou menos –, já o menino Onslow é um francês de ascendência inglesa, cuja reputação declinou rapidamente após sua morte, o que também aconteceu com Hummel, mas nem tanto. Em comum, ambos conheciam Beethoven, porém não adiantou. A luz do talento brilha para poucos. De qualquer maneira, este é um disco agradável, que não agride nem irrita ninguém. Sabem? Achei o menino Onslow mais interessante que o velho Hummel no repertório deste CD.

Johann Nepomuk Hummel (1778-1837) / George Onslow (1784-1853): Quintetos para Piano (Nepomuk)

Quintet Opus 74 In D Minor
Composed By – Johann Nepomuk Hummel
1 Ellegro Con Spirito 14:57
2 Menuetto O Scherzo (Allegro) 5:54
3 Andante Con Variazioni 8:29
4 Finale (Vivace) 8:32

Quintet Opus 70 In B Minor
Composed By – George Onslow
5 Allegro Grandioso E Non Troppo Presto 11:55
6 Andantino Cantabile E Simplice 6:31
7 Allegretto Molto Moderato 8:58

Nepomuk Fortepiano Quintet

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O menino Onslow

PQP

Franz Joseph Haydn (1732-1809): Applausus – Jubilaeum Virtutis Palatium (Spering)

Franz Joseph Haydn (1732-1809): Applausus – Jubilaeum Virtutis Palatium (Spering)

Um CD delicioso, tremendamente agradável de se ouvir, com árias maravilhosas. Já o tenho há algum tempo, e já tinha pensado em postá-lo ano passado, mas agora a ocasião é mais propícia, já que estou lhes proporcionando uma overdose de Haydn. Trata-se de uma Cantata, composta por encomenda, em homenagem aos cinquenta anos de vida monástica do Abade da Abadia Cisterciense de Zwettl. Ou seja, sendo uma obra comemorativa temos uma música alegre e festiva. O booklet traz o libreto e um pequeno histórico da obra, além de biografias dos solistas e do regente. E por falar neles, temos ótimos solistas e uma excelente orquestra dirigida por um especialista no repertório barroco e do classicismo, Andreas Spering, que fazem deste CD uma excelente companhia para estes dias frios e chuvosos do feriadão. Para quem gosta da obra coral e vocal de Haydn temos nesta cantata todos os ingredientes para satisfazê-los.

Franz Joseph Haydn (1732-1809): Applausus – Jubilaeum Virtutis Palatium (Spering)

CD 1
01 – 1a Recitativo_ ‘Quae Metamorphosis_’
02 – 1b Quartetto_ ‘Virtus inter ardua’
03 – 2a Recitativo_ ‘Supersedete admirationi’
04 – 2b Aria_ ‘Non chymaeras somniatis’
05 – 3a Recitativo_ ‘Ergone securae sunt’
06 – 3b Duetto_ ‘Dictamina mea’
07 – 4a Recitativo_ ‘Et ego, o Sorores!’
08 – 4b Aria_ ‘O pii Patres Patriae!’
09 – 5a Recitativo_ ‘Consolationis plea sum’
10 – 5b Aria_ ‘Si obtrudat ultimam’

CD 2

01 – 6a Recitativo_ ‘Prima fueram’
02 – 6b Aria_ ‘Rerum, quas perpendimus’03 –
7a Recitativo_ ‘Jubilae est’
04 – 7b Aria_ ‘O beatus incolatus’
05 – 8a Recitativo_ ‘ Ad vos convertirmur’
06 – 8b Coro_ ‘O Caelites, vos in vocamus’

Composed By – Joseph Haydn
Conductor – Andreas Spering
Ensemble – Capella Augustina
Oboe – Susanne Regel
Vocals [Fortitudo] – Johannes Weisser
Vocals [Justitia] – Donát Havár
Vocals [Prudentia] – Marina De Liso
Vocals [Temperantia] – Anna Palimina
Vocals [Theologia] – Andreas Wolf

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Andreas Spering espreitando o ambiente do PQP Bach

FDPBach

.: interlúdio :. Gary Burton & Keith Jarrett / Throb (Burton)

.: interlúdio :. Gary Burton & Keith Jarrett / Throb (Burton)

Eu não ouvia este CD há anos, e minha impressão — neste período em que fiquei longe dele — é a de que ele soava muito datado. A sonoridade geral situa-no claramente nos anos 70. Porém, hoje, muito rapidamente, fiquei impressionado com a sensação de que há algo muito limpo e original no álbum. Há grande exuberância, são músicos tocando coisas que gostam e se divertindo fazendo isso. Há momentos em que tudo beira o pop, e o som do rock da época jamais se afasta. No entanto, a musicalidade, harmonia e improvisação são claramente o produto de músicos de jazz altamente talentosos. Você logo descobrirá que não consegue tirar as pequenas melodias peculiares da sua cabeça. As músicas têm aquela agradável característica de serem ao mesmo tempo bonitas ​​e inesperadas. Não é um disco necessário, mas é mais do que apenas agradável.

Gary Burton & Keith Jarrett (1971)
1 Gary Burton & Keith Jarrett– Grow Your Own 4:51
2 Gary Burton & Keith Jarrett– Moonchild / In Your Quiet Place 7:19
3 Gary Burton & Keith Jarrett– Como En Vietnam 7:02
4 Gary Burton & Keith Jarrett– Fortune Smiles 8:28
5 Gary Burton & Keith Jarrett– The Raven Speaks 8:15

Throb (1969)
6 Gary Burton– Henniger Flats 4:22
Composed By – David Pritchard (2)
7 Gary Burton– Turn Of The Century 5:03
8 Gary Burton– Chickens 2:25
9 Gary Burton– Arise, Her Eyes 3:45
10 Gary Burton– Prime Time 3:59
Composed By – Jerry Hahn
11 Gary Burton– Throb 4:27
12 Gary Burton– Doin The Pig 3:40
13 Gary Burton– Triple Portrait 4:25
14 Gary Burton– Some Echoes 6:54

Bass – Steve Swallow
Composed By – Keith Jarrett (tracks: 1, 2, 4, 5), Michael Gibbs (tracks: 7, 11, 13, 14), Steve Swallow (tracks: 3, 8, 9, 12)
Drums – Bill Goodwin
Guitar – Jerry Hahn (tracks: 6 to 14), Sam Brown (2) (tracks: 1 to 5)
Piano, Electric Piano, Soprano Saxophone – Keith Jarrett (tracks: 1 to 5)
Vibraphone [Vibes] – Gary Burton (tracks: 1 to 5)
Vibraphone [Vibes], Piano – Gary Burton (tracks: 6 to 14)
Violin – Richard Greene (tracks: 6 to 14)

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PQP

Frank Bridge (1879-1941): The Sea-Suite For Orchestra / Benjamin Britten (1913-1976): Violin Concerto, op. 15 / Witold Lutoslawski (1913-1994): Concerto for Orchestra (Tortelier)

Frank Bridge (1879-1941): The Sea-Suite For Orchestra / Benjamin Britten (1913-1976): Violin Concerto, op. 15 / Witold Lutoslawski (1913-1994): Concerto for Orchestra (Tortelier)

Atentem para a data da postagem original. É de 2011.

O maestro Yan Pascal Tortelier tem um currículo respeitável. Não havia escutado nada ainda sob a sua condução. Sou sabedor de que, após os problemas com John Neschling, em 2009, Tortelier foi contratado para ser o regente titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Tortelier é francês de nascimento. Mas já teve a oportunidade de conduzir importantes orquestras como a de Londres, São Francisco, Montréal, Paris e São Petersburgo. Vale ressaltar que o seu principal protagonismo foi à frente da orquestra da BBC de Londres. Seu trabalho na BBC lhe rendeu uma láurea (inclusive, as peças regidas neste post estão a cargo da sinfônica inglesa). A primeira impressão foi positiva. As três peças (broadcastings) que surgem nesta postagem, deixaram-me feliz. Conhecia somente o concerto para violino de Britten, compositor que se sempre provoca admiração e surpresa quando o escuto. A suíte de Bridge também provocou uma impressão de contentamento. Fato importante é que Frank Bridge foi professor de Britten, o maior compositor inglês de todos os tempos (em minha humilde opinião). Lutoslawski, por sua vez, com sua linguagem áspera, continua a ser um desafio. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!

Frank Bridge (1879-1941) – The Sea-Suite For Orchestra
01. 1. Seascape (Allegro ben moderato)
02. 2. Sea-foam (Allegro vivo)
03. 3. Moonlight (Adagio ma non troppo)
04. 4. Storm (Allegro energico)

Benjamin Britten (1913-1976) – Violin concerto, op. 15
05. I. Moderato Con Moto-
06. II. Vivace-Cadenza-
07. III. Passacaglia Andante Lento (Un Poco Meno Mosso)

Dabiel Hope, violin

Witold Lutoslawski (1913-1994) – Concerto for Orchestra
08. I. Intrada: Allegro maestoso
09. II. Capriccio notturno e arioso: Vivace
10. III. Passacaglia, toccata e corale: Andante con moto

Você pode comprar na Amazon AQUI, AQUI e AQUI

BBC Symphony Orchestra
Yan Pascal Tortelier, regente
Daniel Hope, violino

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Britten e Bridge: Lutoslawski chegou atrasado para a foto no Complexo Wimbledon-PQP Bach

Carlinus

Einojuhani Rautavaara (1928 – 2016): Sinfonia No. 7 • Concerto para Flautas • Cantus articus – Sinfonia Lahti & Osmo Vänskä ֍

Einojuhani Rautavaara (1928 – 2016): Sinfonia No. 7 • Concerto para Flautas • Cantus articus – Sinfonia Lahti & Osmo Vänskä ֍

Rautavaara

Sinfonia No. 7 – ‘Anjo de Luz’

Concerto para Flautas – ‘Danças com Ventos’

Cantus articus

Sinfonia Lahti

Osmo Vänskä

 

Einojuhani Rautavaara se disse afortunado por nascer na Finlândia, um país com destinos dramáticos, situado entre o oriente e o ocidente, entre a Europa e a Tundra, entre as fés ortodoxa e luterana (suas próprias palavras). Eu não creio que ele imaginasse como soam proféticas as palavras ‘destinos dramáticos’, devido ao momento em que vivemos. Talvez a Finlândia, assim como boa parte daquela região, esteja próxima a viver ‘destinos dramáticos’.

Einojuhani Rautavaara

Mas nosso espaço aqui é para entretenimento e boa música e Rautavaara é um compositor cuja obra merece ser divulgada e oferece uma oportunidade para ouvirmos música quase contemporânea.

Ainda segundo o próprio, Rautavaara iniciou seus estudos de composição com uma bolsa para estudar na Juilliard School de Nova Iorque, dada por Jan Sibelius. Esta experiência foi importante para seu entendimento do que é ser europeu. Ele também estudou na Suíça o que chamou de vanguarda musical. Depois tornou-se professor da Academia Sibelius até 1990, para ‘colocar o pão na mesa’. As atividades de composição ficavam para depois do jantar… Mesmo assim, ele produziu várias sinfonias, óperas, peças de câmara e música sacra.

Einojuhani vestido a caráter para gravar os cantos dos pássaros nas margens do rio Gravataí…

Uma coisa dá para garantir, Rautavaara tem boa mão para nomear suas obras. Me animei para ouvir sua música ao ver o nome de uma destas peças na capa de um disco no twitter de alguém – Cantus articus, Concerto para Pássaros e Orquestra. Esta obra foi escrita em 1972 para o Festival Acadêmico da Universidade de Oulu, que fica bem ao norte da Finlândia… na Tundra. Os solistas do concerto são pássaros do ártico e para a melhor conveniência deles, sua participação foi gravada pelo próprio Einojuhani. Você precisa ouvir para crer.

A Sinfonia que inicia o programa é a obra mais longa e tem o apelido Anjo de Luz. Essa obra foi encomendada pela Orquestra Sinfônica de Bloomington. Bloomington é a capital do estado de Indiana, no meio-oeste americano, e a sua universidade tem uma excelente escola de música. A primeira audição se deu lá em 1995. Há outras duas peças com nomes de anjos, mas eu só conheço essa.

Completando o programa do disco, um Concerto para Flautas, de nome ‘Danças com Ventos’, de 1974. Este concerto já deu seu ar da graça no PQP Bach, mas os links are long gone. A criatividade do autor faz com que o solista troque de instrumento diversas vezes.

Einojuhani Rautavaara (1928 – 2016)

Sinfonia No. 7 (Anjo de Luz)

  1. Tranquillo
  2. Molto allegro
  3. Come un sogno
  4. Pesante – Cantabile

Concerto para Flautas, Op. 63  (Danças com Ventos)

  1. Andantino
  2. Vivace
  3. Andante moderato
  4. Allegro

Cantus Arcticus, Op. 61 (Concerto para Pássaros e Orquestra)

  1. Suo (Pântano)
  2. Melankolia
  3. Joutsenet muuttavat (Cisnes migrando)

Petri Alanko, flauta(s) [5-8]

Sinfonia Lahti

Osmo Vänskä

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FLAC | 284 MB

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MP3 | 320 KBPS | 187 MB

Osmo Vänskä

The BIS recording is excellent, with state-of-the-art sound, and Vanska’s performance has impressive power and atmosphere; he keeps the music moving and casts a strong spell. — Penguin Guide, 2011 edition

Na entrevista com o pessoal do PQP Bach, lá pelos fins da década de 2000, Einojuhani afirmou: Desde 1990 minha vida tem sido muito agradável. Moro em uma velha casa com jardim e estou casado com a mais maravilhosa mulher que eu poderia imaginar…

Aproveite!
René Denon

Beethoven (1770-1827) e Brahms (1833-1897): Concertos Triplo e Duplo (Poseidon / Järvi)

Beethoven (1770-1827) e Brahms (1833-1897): Concertos Triplo e Duplo (Poseidon / Järvi)


IM-PER-DÍ-VEL !!!

Grande gravação do Trio Poseidon com a Orquestra de Gotemburgo, sob a direção de Neeme Järvi (os titulares da orquestra são Järvi, Gustavo Dudamel e Christian Zacharias). Gostei mais da gravação do Poseidon para o Triplo de Beethoven do que as dos registros de gigantes como o trio Richter, Oistrakh e Rostropovich ou Barenboim, Perlman e Ma. Não é pouca coisa não e sei que nem todos concordarão. A primeira qualidade deste trabalho é a interpretação mais coesa — afinal, eles formam um trio! –, a segunda é a excelente qualidade sonora, sob o altíssimo padrão Chandos.

Beethoven (1770-1827) e Brahms (1833-1897): Concertos Triplo e Duplo

Ludwig van Beethoven (1770-1827):
Concerto for Piano, Violin, Cello and Orchestra, Op.56
1 Triple Concerto For Violin, Cello And Piano In C Major, Op. 56: I. Allegro 17:58
2 Triple Concerto For Violin, Cello And Piano In C Major, Op. 56: II. Largo – 5:41
3 Triple Concerto For Violin, Cello And Piano In C Major, Op. 56: III. Rondo Alla Polacca 12:57

Johannes Brahms (1833-1897):
Concerto for Violin, Cello and Orchestra, Op.102
4 Double Concerto For Violin And Cello In A Minor, Op. 102: I. Allegro 17:08
5 Double Concerto For Violin And Cello In A Minor, Op. 102: II. Andante 6:58
6 Double Concerto For Violin And Cello In A Minor, Op. 102: III. Vivace Non Troppo 8:30

Trio Poseidon
Gothenburg Symphony Orchestra
Neeme Järvi

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Trio Poseidon
Trio Poseidon

PQP

Mikhail Glinka (1804-1857): Sonata para Viola e Piano / Nikolai Roslavets (1881-1944): Sonata para viola e piano / Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sonata para viola e piano, Op. 147 (Bashmet)

Mikhail Glinka (1804-1857): Sonata para Viola e Piano / Nikolai Roslavets (1881-1944): Sonata para viola e piano / Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sonata para viola e piano, Op. 147 (Bashmet)

Álbum sensacional!!

Este CD é formidável. Reúne três importantes compositores da música russa – Glinka, Roslavets e Shostakovich. Glinka é considerado como o pai da música russa. Suas composições influenciaram O Grupo dos Cinco, formado por Balakirev, Borodin, Cui, Mussorgsky e Rimsk-Korsakov. Tal grupo procurava uma produção essencialmente russa. Já Roslavets tem em sua produção musical uma importante marca – suas obras revelam um mundo sonoro denso e misterioso, que sugere influências de Debussy e Scriabin, e, até certo ponto, Schoenberg. O último dos três compositores é Shostakovich, uma das minhas paixões. A Sonata para viola e piano, Op. 147 é singular e melancólica. Não deixe de ouvir este registro que revela o âmago da produção russa. Sou apaixonado pela música russa. E eis aqui uma possibilidade de conferir este extraordinário CD com três sonatas fantásticas. Boa apreciação!

Mikhail Glinka (1804-1857): Sonata para Viola e Piano / Nikolai Roslavets (1881-1944): Sonata para viola e piano / Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sonata para viola e piano, Op. 147 (Bashmet)

Mikhail Glinka (1804-1857) – Sonata para Viola e Piano in D menor (18:21)
1. Allegro moderato [9:59]
2. Larghetto ma non troppo [8:14]

Nikolai Roslavets (1881-1944) – Sonata para viola e piano (12:23)
3. Sonata para viola e piano [12:23]

Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Sonata para viola e piano, Op. 147 (36:11)
4. Moderato [11:24]
5. Allegretto [6:52]
6. Adagio [17:53]

Yuri Bashmet, viola
Mikhail Muntian, piano

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Glinka: na sua música não transparece o mesmo mau humor da foto.

Carlinus

Luigi Boccherini (1743-1805): Quintetos para Violão Nos. 4, 7 and 9 “La ritirata di Madrid” (Yepes / Melos Quartett)

Luigi Boccherini (1743-1805): Quintetos para Violão Nos. 4, 7 and 9 “La ritirata di Madrid” (Yepes / Melos Quartett)

Boccherini não é um mágico. Ele faz coisas bonitas, mas não “magica” como um compositor de grande talento faria. Seus quintetos são pouco divulgados, então estas gravações restauradas tornam-se importantes para quem queira ter contato com o compositor. A versão de 1969 do No. 7 de Julian Bream ainda é a melhor disponível e o conjunto integral dos Quintetos por Pepe Romero también es muy bueno. O que este disco oferece são os dois itens mais coloridos de todos, os últimos movimentos do nº 9 (La ritirata di Madrid) e do nº 4 (Fandango, com castanholas). Elas estão muito abaixo do nível de ‘obra-prima’, mas  isso não tem importância. Este disco também oferece um toque de primeira linha de todos os participantes, embora o violão pudesse ter recebido um pouco mais de destaque na gravação.

Luigi Boccherini (1743-1805): Quintetos para Violão Nos. 4, 7 and 9 “La ritirata di Madrid” (Yepes / Melos Quarttet)

Quintett No. 4 D-Dur (Gérard No. 448)
1 1. Allegro Maestoso 4:50
2 2. Pastorale 5:14
3 3. Grave Assai – Fandango 7:06

Quintett No. 7 E-Moll (Gérard No. 451)
4 1. Allegro Moderato 5:15
5 2. Adagio 4:30
6 3. Minuetto – Trio – Minuetto 4:12
7 4. Allegretto 5:18

Quintett No. 9 C-Dur (Gérard No. 453)
8 1. Allegro Maestoso Assai 9:26
9 2. Andantino 3:20
10 3. Allegretto 5:49
11 4. Maestoso E Lento ; Variazoni I-XII, “La Ritirata Di Madrid” 6:12

Ensemble [String Quartet] – Melos Quartett
Guitar – Narciso Yepes

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Luigi Boccherini: Muy feliz en esta rara aparición en PQP Bach.

PQP

.:interlúdio:. Grateful Dead ao vivo em Paris, 4 de maio de 1972

Em 1967, oito grupos de rock de São Francisco conseguiram algum hype instantâneo ao aparecer no Monterey Pop Festival: Big Brother & The Holding Co., Country Joe & the Fish, the Electric Flag, the Grateful Dead, Jefferson Airplane, Moby Grape, Quicksilver Messenger Service e Steve Miller Blues Band.

The Dead (para os íntimos) eram basicamente uma banda de blues sem um cantor de blues – Pigpen tentou, Jerry Garcia nem tentou. O disco de estreia, de 67, tinha poucos destaques, espetacular apenas em sua uniformidade, e vendeu menos do que qualquer um dos outros grupos citados. Você tem que vê-los ao vivo, é o que todo mundo diz. (Robert Christgau)

Há exatos 50 anos, em sua primeira turnê na Europa, o Grateful Dead fez uma das suas apresentações mais originais e mais reverenciadas pelo séquito de fãs “deadheads”, alguns dos quais acompanhavam a banda nas turnês em que cada show era bem diferente dos outros.

Este é um show ao vivo, sem playbacks ne edições posteriores, com mais de três horas de música. Para os não iniciados na música do Grateful Dead, alguns avisos aos navegantes:

    • Melhor começar pela segunda parte do show: antes da pausa, os blues dolorosos (Hurts me too, The Stranger) e as baladas country (El Paso, Beat it on down the line) são de menos interesse exceto para os especialistas… ou então talvez sejam só para quem nasceu ao norte do México;
    • Após o intervalo, começam as jams mais saborosas: em Good Lovin’, Ron ‘Pigpen’ Mckernan comanda a banda como um grupo de câmara em improvisos livres guiados pelo frontman em tempo parcial (porque a banda nunca teve um cantor em tempo integral, sempre revezaram). As indicações “just keep it nice, easy, smooth…” e “shift gears” (troca de marcha) vão guiando os músicos. Pigpen não tinha a voz de um Howlin’ Wolf ou de um James Brown, mas ninguém imita a forma como ele conduz os músicos (duas guitarras, um baixo, um piano, um órgão e bateria) por caminhos cheios de blues, de mojo* e outras palavras intraduzíveis;
    • Esses improvisos coletivos tomavam direções realmente imprevisíveis e mudavam muito entre um show e outro. Por exemplo essa canção Good Lovin’, neste show em Paris, durou 23:18, enquanto na noite anterior havia durado 16:53; em outros shows da turnê europeia durou apenas 10 minutos;
    • Ainda sobre os improvisos coletivos guiados por Pigpen, um dos mais interessantes de toda a carreira do grupo é Turn On Your Lovelight neste show de 1970, com a participação de Janis Joplin. Pigpen e Janis eram amigos muito queridos e vizinhos em San Francisco;
Janis Joplin e Pigpen
  • Além disso, havia improvisos desses que se ouve mais frequentemente: solos de um instrumento, ou dois se revezando, enquanto a banda seguia uma harmonia e andamento previstos. Por exemplo os solos de gaita e de guitarra que se alternam em Big Boss Man, ou a estrutura de Goin’ Down the Road Feeling Bad, em que um refrão se repete alternando com vários solos dos dois guitarristas;
  • Os membros mais recentes do Grateful Dead em 1972 eram o pianista Keith Godchaux e sua esposa que faz uma participação vocal em duas ou três canções. O piano de Godchaux, mais próximo do jazz, faz uma dobradinha com o órgão Hammond B-3 de Pigpen, bem mais blues;
  • Apesar do nome e do uso de caveiras em suas capas de discos (aqui, uma gárgula parisiense), o Grateful Dead não está nada próximo do heavy metal que então nascia com bandas como Black Sabbath. A guitarra raramente (pra não dizer nunca) usa distorção, o som é mais limpo do que o blues de um Jimi Hendrix;
  • Após os blues de Pigpen, afinal chegamos ao tema do grupo sobre o qual se criou a mística mais forte: Dark Star, cantada por Jerry Garcia. Se no disco Live/Dead, de 1969, havia dois bateristas e era tudo mais percussivo e acelerado, aqui em 1972 em Paris o improviso toma rumos bem mais meditativos, mais minimalistas, com o baixo guiando boa parte do percurso. Sim, este é um daqueles discos ao vivo com solos de baixo e de bateria;
  • O baixista Phil Lesh, que esteve desde a primeira até a última formação do Grateful Dead, é o membro com mais estudos formais. Em seu período de estudante (quando tocava trompete), conheceu o também californiano Terry Riley, além dos compositores europeus Luciano Berio e Darius Milhaud quando estes deram cursos na Califórnia;
  • Em resumo é uma performance ao vivo com espaços para o inesperado e apontando para temáticas muito diversas: jazz no piano e na bateria, blues no órgão hammond e nos solos de guitarra, proximidade dos compositores minimalistas e também da divina Janis Joplin, tudo isso se misturou na região de San Francisco, que sempre viveu um certo Fla-Flu com Los Angeles, considerada pelos primeiros superficial e vendida. Com desprezo por Hollywood, mas ainda falando em nome da Califórnia, o Grateful Dead ao vivo em Paris é isso tudo na mesma noite.

Grateful Dead Live at Olympia Theater, Paris, France, 1972-05-04
Set 1
Greatest Story Ever Told, Deal, Mr. Charlie, Beat It On Down The Line, Brown Eyed Women, Chinatown Shuffle, Playin’ In The Band, You Win Again, It Hurts Me Too, He’s Gone, El Paso, Big Railroad Blues, Two Souls In Communion, Casey Jones

Set 2
Good Lovin’, Next Time You See Me, Ramble On Rose, Jack Straw, Dark Star-> Drums-> Dark Star-> Sugar Magnolia, Sing Me Back Home, Mexicali Blues, Big Boss Man, Uncle John’s Band, Goin’ Down The Road Feelin’ Bad-> Not Fade Away, Encore: One More Saturday Night

Jerry Garcia – lead guitar, vocals
Donna Jean Godchaux – vocals
Keith Godchaux – piano
Bill Kreutzmann – drums
Phil Lesh – electric bass, vocals
Ron “Pigpen” McKernan – organ, harmonica, percussion, vocals
Bob Weir – rhythm guitar, vocals

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BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE – FLAC – Parte 2

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*Mojo: Probably of Creole origin, cognate with Gullah moco (“witchcraft”), Fula moco’o (“medicine man”). 1. A magic charm or spell. 2. Supernatural skill or luck. 3. (slang) Personal magnetism; charm. 4. (slang) Sex appeal; sex drive.

Pleyel

Johannes Brahms (1833-1897): 3 Sonatas para Clarinete e Piano (Collins, Hough)

A imensamente profunda Sonata para Violino e Piano de Johannes Brahms é uma de minhas obras favoritas do compositor, já a ouvi dezenas, quiçá centenas de vezes, com os mais diversos intérpretes. Quando vi esse CD que ora vos trago, me assustei com a ‘pretensão’ do clarinetista Michael Collins em transcrevê-la para seu instrumento, mas depois de ouvir algumas vezes vi que meu temor não era justificado. Claro, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa bem diferente, mas entendo que a essência da obra está presente, porém falta ao clarinete aquela capacidade que entendo que apenas o violino tem de se expor publicamente, sem medo, por isso a dificuldade na transcrição. Collins não é nenhum estudante de música querendo impressionar seu professor, ao contrário, trata-se de um músico experiente, e demonstra conhecer profundamente a obra e, principalmente seu instrumento. Além disso, ele conta com a cumplicidade de Stephen Hough, pianista inglês muito conhecido e com uma discografia imensa e um grande intérprete da obra de Brahms.

Dentro do não tão extenso catálogo da obra de Brahms o clarinete tem um destaque especial. Assim seu biógrafo Malcolm McDonald destaca o porquê dessa preferência:

“As quatro últimas obras de câmara de Brahms constituem um grupo invulgarmente autônomo, já que todas destacam a clarineta – instrumento de que ele gostava muito, mas que anteriormente não utilizara fora das partituras orquestrais – e foram inspiradas pela maestria do principal clarinetista da Orquestra de Meiningen, Richard Mühlfeld. Assim como o mundo deve o Concerto e o Quinteto para clarineta de Mozart à interpretação virtuosística de Anton Stadler, deve a Mühlfeld o Trio com clarineta em lá menor, op. 114, o Quinteto para clarineta e quarteto de cordas em si menor, op. 115 e as duas Sonatas para clarineta e piano que constituem o op. 120 de Brahms. (…) e as obras que compôs para ele oferecem comparativamente poucas oportunidades contínuas para o exercício da musicalidade refinada, expressão pessoal e beleza de timbre.”

Já analisando as Sonatas op. 120, McDonald, expõe:

“À sua maneira, elas eram, como o Concerto Duplo, pioneiras: como não havia modelos clássicos para tal combinação, ele estava constituindo um novo gênero, com peças que desde então têm permanecido pedras angulares do repertório para clarineta. E não só do repertório para clarineta: com alterações mínimas nas partes do solo, Brahms compôs versões alternativas para viola e piano – criando com um único lance as primeiras sonatas importantes também para este instrumento – e passou a adaptá-las também para violino. (…) Essas três versões paralelas demonstram que ele desejava que a música tivesse a mais ampla difusão possível.”

Já postamos as outras obras para clarinete que Brahms compôs, como esse aqui do colega René Denon. O foco aqui são as Sonatas, novamente indico a clássica biografia de Malcolm McDonald, que como poucos conseguem traduzir e sintetizar a obra do genial compositor em palavras.
Em se tratando de Brahms, sempre me excedo nas palavras. Lamento se a postagem ficou muito grande e com muitas citações, mas creio ser importante uma análise mais acurada e detalhada de obras tão importantes.

P.S. Vai de brinde nesta postagem a Sonata para Violino nº2 de Brahms, nas mãos de dois dos principais músicos do século XX, Sviatoslav Richter e David Oistrakh.

Johannes Brahms (1833-1897): 3 Sonatas para Clarinete e Piano (Collins, Hough)

1. Violin Sonata No. 2 in A Major, Op. 100 ‘Thun’ (Arr. M. Collins for Clarinet & Piano) I. Allegro amabile
2. Violin Sonata No. 2 in A Major, Op. 100 ‘Thun’ (Arr. M. Collins for Clarinet & Piano) II. Andante tranquillo – Vivace
3. Violin Sonata No. 2 in A Major, Op. 100 ‘Thun’ (Arr. M. Collins for Clarinet & Piano) III. Allegretto grazioso, quasi andante
4. Clarinet Sonata No. 1 in F Minor, Op. 120 No. 1 I. Allegro appassionato
5. Clarinet Sonata No. 1 in F Minor, Op. 120 No. 1 II. Andante un poco adagio
6. Clarinet Sonata No. 1 in F Minor, Op. 120 No. 1 III. Allegretto grazios
o7. Clarinet Sonata No. 1 in F Minor, Op. 120 No. 1 IV. Vivace
8. Clarinet Sonata No. 2 in E-Flat Major, Op. 120 No. 2 I. Allegro amabile
9. Clarinet Sonata No. 2 in E-Flat Major, Op. 120 No. 2 II.Allegro appassionato
10.Clarinet Sonata No. 2 in E-Flat Major, Op. 120 No. 2 III. Andante con moto – Allegro

Michael Collins – Clarineta
Stephen Hough – Piano

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Johannes Brahms (1833-1897): Integral das Sinfonias (Rattle e Filarmônica de Berlim)

Johannes Brahms (1833-1897): Integral das Sinfonias (Rattle e Filarmônica de Berlim)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Um excelente registro de uma parte importante da obra de um de meus compositores mais amados. Todos sabem que meus três compositores preferidos são Bach, Beethoven, Brahms, Mahler, Shostakovich e Bartók. Rattle aparece raivoso na estupenda Sinfonia Nº 1 e mais próximo do convencional nas outras. A orquestra… Bem, a Filarmônica de Berlim apenas segue um organismo perfeito. Temos (ou tivemos) no PQP as integrais de Abbado e de Jochum e digo-lhes: não vou fazer comparações entre tais gigantes.

A Primeira é solene e dramática. É a maior de todas as sinfonias, segundo este que vos escreve. A Segunda é mais pastoral com sua orquestração leve e brilhante. A Terceira, com dois movimentos lentos e um final sombrio, é a mais pessoal e enigmática. A Quarta tem orquestração compacta e a monumental chacona do finale remetem o ouvinte à música pré-clássica, principalmente a Bach.

Sinfonia No. 1 in C minor, Op. 68
01. Un poco sostenuto-allegro-meno allegro
02. Andante sostenuto
03. Un poco allegretto e grazioso
04. Finale

Sinfonia No. 2 in D major, op. 73
01. I. Allegro non troppo
02. II. Adagio non troppo
03. III. Allegretto grazioso (quasi andantino) – Presto ma non assai – Tempo I
04. IV. Allegro con spirito

Sinfonia Nº 3 in F Major, op. 90
01. I. Allegro con brio
02. II. Andante
03. III. Poco Allegretto
04. IV. Allegro

Sinfonia No. 4 em E menor, Op. 98
01 Allegro Non Troppo
02 Andante Moderato
03 Allegro Giocoso, Poco Meno Presto, Tempo
04 Allegro Energico E Passionato, Più Allegro

Berliner Philharmoniker
Simon Rattle

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Simon Rattle não tem como não ser feliz
Simon Rattle não tem como não ser feliz

PQP

Johannes Brahms (1833-1897): 8 Danças Húngaras, 18 Valsas, 11 Variações sobre um tema de Schumann (Jordans & Doeselaar, Piano a quatro mãos)

Depois de Bach e Beethoven, é claro que o pessoal da música historicamente informada ia chegar até o 3º B. Recentemente PQP postou os concertos de Brahms com Buchbinder e Harnoncourt, com instrumentos modernos mas concepção bastante diferente das gravações às quais estamos mais acostumados. Em 2019, András Schiff gravou os mesmos concertos utilizando um piano Blüthner de 1859. E em 2020, dois pianistas holandeses gravaram este disco para o selo belga Passacaille, utilizando um outro piano da marca alemã Blüthner (circa 1867). Essa marca de pianos com sede em Leipzig existe até hoje e é tão respeitada quanto a austríaca Bösendorfer e a alemã-americana Steinway, ainda que esta última predomine no mundo todo por motivos em parte musicais, em parte de publicidade e grana pesada.

Diferença entre um Erard (1908) de cordas paralelas e um Steinway de cordas cruzadas

Nos anos 1860 a Blüthner ainda usava cordas retas, o que dá uma sonoridade ligeiramente diferente para os harmônicos. As cordas cruzadas foram se tornando o padrão no fim do século XIX, pois permitiam acomodar cordas mais longas, o que significava mais ressonância (som mais forte) para o instrumento. Essa obsessão pela potência sonora (Freud explica?) tem a ver com o uso do piano em salas de concerto cada vez maiores. Por exemplo a principal sala de concertos de Leipzig, o Gewandhaus, tinha 500 lugares em sua primeira versão (1781), em 1842 sua versão reformada já acolhia mil pessoas e em 1884 uma nova sala com o mesmo nome tinha 1700 assentos. Após os bombardeios de 1943, o novo Gewandhaus (1977) tem 1900 lugares. Capacidade parecida com os 1739 assentos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro quando inaugurado (1909) e com as duas mil pessoas que cabem no Concertgebouw (Amsterdam, 1888) e na Salle Pleyel (Paris, 1927).

Mas o programa de hoje não é para essas grandes salas de concerto, e por isso mesmo ele combina tão bem com a sonoridade mais delicada, mais intimista do piano Blüthner de 1867. Estamos falando de música para piano a quatro mãos, que naqueles tempos era uma ótima oportunidade para juntar lado a lado casais, mãe e filha, amigos, enfim qualquer dupla na intimidade do lar. Tanto Beethoven como Brahms têm uma série de obras publicadas para quatro mãos.

A obra-prima inquestionável de Brahms para piano a quatro mãos, já conhecida da maioria dos nossos leitores, é a série de Danças Húngaras publicadas entre 1869 e 1880. A inspiração na música popular coloca uns toques apimentados, umas pitadas de mistério e de inesperado nesse compositor que normalmente é bem mais civilizado e intelectual. As mudanças de andamento e de caráter são constantes. Vejam o que disse a revista Gramophone de março de 2022:

We have to thank Brahms for the idea of the Hungarian dance as a discrete genre. He published two volumes (for piano four hands) in 1869, and two more in 1880. It’s generally assumed that he took the idea from an 1853 concert tour in which he (aged 20) had accompanied Hungarian violinist Ede Reményi as the latter improvised in Hungarian folk style.

Years later, in the Ungärische Tänze, Brahms sincerely believed that he was arranging folk melodies (which is why he never gave them an opus number). In fact, several living composers later claimed authorship, including Reményi himself. Yet the style hongrois had been adding colour (whether original or not) to western European music for decades, for example in Haydn’s Piano Trio Hob XV:25 (1795) and Berlioz’s ‘Marche hongroise’ (1846). Liszt’s first 15 Hungarian rhapsodies (published 1851-53) had given the style a renewed currency, and it fell to 20th-century musicologists to point out that all this ear-tickling exotica was merely an (often flamboyant) imitation of a single, very particular branch of Hungarian popular music: the stylised dances performed by Roma gypsy  musicians in Budapest cafes and at aristocratic soirées.

O resto do álbum é um repertório menos conhecido de Brahms: as 18 Liebeslieder-Walzer (Valsas-canções-de-amor) foram publicadas originalmente para piano a quatro mãos e quatro solistas vocais. Entre as poucas gravações, há uma famosa, de 1937-38 com Dinu Lipatti and Nadia Boulanger ao piano e quatro cantores. Provavelmente a pedido de seu editor, Brahms arranjou essas valsas apenas para dois pianistas, sem cantores. E também fez um arranjo orquestral de algumas delas, única versão dessas valsas a ter aparecido aqui no blog. Tanto as valsas quanto as Varições sobre um tema de Robert Schumann, op.23, mostram um Brahms mais sério, com andamentos mais constantes. Especialmente nas variações sobre o tema do compositor recentemente falecido, Brahms se mostra muito reverente e respeitoso, seja por causa da ajuda que Robert Schumann deu para alavancar sua carreira, seja em respeito à viúva Clara Schumann, com quem Brahms teria passado muitas noites… tocando a quatro mãos. E vocês pensando em outra coisa, como se esse blog fosse lugar para espalhar boatos!

Até onde sabemos, trata-se da primeira gravação de Brahms a quatro mãos em um piano do século XIX. Se eu fosse você, baixava correndo por causa das Danças Húngaras, mesmo que incompletas. O resto são figurinhas raras pra completar o álbum.

Johannes Brahms (1833-1897): Música para Piano a Quatro Mãos
1-5. Hungarian Dances, WoO 1, No. 1-5
6-16. Variations on a Theme by Robert Schumann in E-Flat Major, Op. 23
17-34. Liebeslieder-Walzer, Op. 52a, No. 1-18
35-37. Hungarian Dances, WoO 1, No. 8, 11, 13

Wyneke Jordans, Leo van Doeselaar – Blüthner grand piano, Leipzig, circa 1867, stored for years in Berlin, now in the Edwin Beunk Collection (Netherlands)

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Piano Bluthner de cordas retas (circa 1867) usado nesta gravação

Pleyel