Witold Lutosławski (1913-1994): The Symphonies

Texto retirado daqui.

SINCERIDADE MÁXIMA DA EXPRESSÃO: A MÚSICA DE WITOLD LUTOSLAWSKI

Witold Lutoslawski (1913-94) nasceu em Varsóvia, onde passou a vida criando uma obra que o coloca entre os maiores compositores do século XX. Uma vida marcada por grandes sucessos, mas também por experiências traumáticas. Alguns meses depois do início da 1ª Guerra Mundial (1914), ele e sua família viveram alguns anos em Moscou — onde seu pai foi assassinado em 1918.

Formado em piano e em composição pelo Conservatório de Varsóvia, Lutoslawski estreou como compositor com Variações Sinfônicas, apresentadas em Cracóvia em 1939, às vésperas da 2ª Guerra Mundial. Nos anos da ocupação alemã, ganhou a vida tocando piano nos cafés de Varsóvia e, em 1941, começou a trabalhar com sua primeira obra de grande formato, a Sinfonia nº 1. Depois da guerra, tomou parte na organização da Associação dos Compositores Poloneses e no Festival Outono de Varsóvia, dedicado à música contemporânea.

Depois da estreia da Sinfonia nº 3, em Chicago, em 1983, um crítico escreveu que a obra só poderia ter sido escrita na Polônia, aludindo à situação política do país naquele momento. Lutoslawski, contudo, dizia que nunca havia sido sua intenção representar o mundo exterior, uma vez que ele não precisa ser representado pela arte para que possamos presenciá-lo. A música é “o domínio do mundo ideal, o mundo que emerge da nossa imaginação, dos nossos desejos, da nossa concepção do ideal”. Para ele, a missão do artista era uma atuação nesse “mundo ideal” e sua “expressão” em obras, para assim torná-lo acessível aos outros.

Lutoslawski nunca cedeu às pressões enfrentadas pelos artistas do seu país nos tempos stalinistas. Um exemplo basta: em 1949, depois da estreia da sua Sinfonia nº 1 — tachada pela crítica oficial como “formalista” —, o então ministro da cultura Wlodzimierz Sokorski declarou que um compositor como ele deveria ser atropelado por um bonde.

Não são somente às pressões externas, afinal, que o artista precisa resistir em nome da liberdade criativa. É preciso também recusar a repetição das próprias ideias, em busca de novas formas de expressão: “Eu me cuido muito para que nenhum dos meus pensamentos me domine e para que nenhum deles me possa tirar a liberdade de ir ao encontro de tudo o que a imaginação me possa trazer no futuro”.

Nem as primeiras obras, desde Variações Sinfônicas até Sinfonia nº 1 (1941-47), inspiradas nos clássicos do século XX, nem as da fase seguinte, em que explorava os motivos da música folclórica (Canções Populares Para Piano, 1945; Concerto Para Orquestra, 1950-54), satisfaziam o compositor na busca de uma nova linguagem sonora. Nos anos 1960, Lutoslawski surpreendeu a todos com um novo estilo (Jeux Vénitiens, Sinfonia nº 2, Prelúdios e Fugas), próximo ao da vanguarda ocidental do pós- -guerra: forma aberta, linguagem amelódica e modos não convencionais de articulação do som.

Inspirado pelo aleatorismo de John Cage, ele inventou uma técnica de “aleatorismo controlado”. Mas Lutoslawski manteve distanciamento crítico diante da “ideologia do vanguardismo”. Mesmo os meios extremos do novo estilo presentes nas suas obras não são apenas manifestação de rompimento com a tradição, mas servem para expressar conteúdos e aspirações que a música persegue há séculos.

Nas obras das últimas três décadas da vida do compositor, perde força a presença dos meios radicais do estilo da vanguarda, que entram em simbiose com os elementos da tradição, como linhas melódicas mais acentuadas, segmentação clássica da forma, ou uma emocionalidade “romântica”. Mas Lutoslawski evitava sempre o sistema tonal, dispensável para quem chegou a criar seu próprio sistema de seleção dos intervalos melódicos e harmônicos.

Concluída em 1983, a Sinfonia nº 3 — uma composição monumental e exuberante escrita ao longo de cerca de dez anos — é considerada o auge de sua obra sinfônica e um marco na música da segunda metade do século XX. Nos últimos anos de vida, porém, Lutoslawski não deu continuidade a esse tipo de expressão, procurando uma nova coloração instrumental. Sua linguagem tornou-se mais camerística e ainda menos vanguardista do que nas obras anteriores. Chain 1, 2, 3 (1983-86), Concerto Para Piano (1987-88) e Sinfonia nº 4 (1988- 92) são obras-primas dessa fase. Lutoslawski dá continuidade também às suas composições vocais, com o ciclo de canções Chantefleurs et Chantefables (sobre poemas de Robert Desnos) para soprano e orquestra, em que se manifesta sua afinidade com a poesia francesa e o gosto de escrever obras para crianças, a que se dedicara muito nos anos do pós-guerra.

O trabalho de composição, para Lutoslawski, vinha sempre acompanhado de reflexão crítica e teórica, registrada em inúmeras anotações, principalmente no que ele chamava de Caderno de Pensamentos, mas também em entrevistas, palestras e artigos. São comentários à margem da obra que podem ajudar a compreender melhor seus princípios, sua trajetória e suas metas, e que também articulam uma singular filosofia de relacionamento do artista com o seu destinatário. O Caderno de Pensamentos foi traduzido para o inglês e publicado na coletânea Lutoslawski on Music (Scarecrow Press, 2007), organizada pelo musicólogo Zbigniew Skowron. Em anotação de 24 de março de 1972, o compositor afirma:

“Não quero captar nada, quero encontrar. Encontrar os que no fundo da alma sentem como eu. Como realizá-lo? Só por uma máxima sinceridade de expressão artística em todos os níveis, desde um detalhe técnico até as profundezas mais misteriosas, mais íntimas. Sei que essa atitude elimina de antemão um grande número de potenciais ouvintes das minhas composições. Em compensação, os que ficam são um tesouro inestimável”. Ao falar da sua linhagem artística, Lutoslawski apontava Debussy, Bartók, Ravel e Stravinsky — todos eles artistas que sabiam conciliar uma extensa gama emocional e sensorial com uma ordem sonora precisa em todos os seus detalhes. Embora a vida inteira fizesse experiências com o dodecafonismo, a ideia da ordem serial de Arnold Schoenberg e Anton Webern não o atraía muito, resistindo ao cálculo intelectual sistemático. A diversidade das formas e técnicas revelada ao longo de uma trajetória artística de mais de 60 anos não nos impede de vislumbrar traços de unidade numa obra original e inconfundível. A crítica aponta, entre eles, a virtuosidade e a precisão dos detalhes, o colorido brilhante e a sensualidade do som, a energia do movimento e a sutileza de suas partículas, a moderação da expressão emocional junto a gestos de comoção lírica, a expansividade e a intimidade.

São contrastes que moldam o mundo de sons de Lutosawski e que geram, em grande medida, a força e a dramaticidade de suas obras.

HENRYK SIEWIERSKI é doutor em Ciência da Literatura pela Universidade Jaguelloniana de Cracóvia e professor titular do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília.

Witold Lutosławski (1913-1994): The Symphonies

1. Fanfare for Los Angeles Philharmonic 0:55

2. Symphony No. 1: I. Allegro giusto 5:10
3. Symphony No. 1: II. Poco adagio 9:26
4. Symphony No. 1:  III. Allegretto misterioso 4:21
5. Symphony No. 1: IV. Allegro vivace 5:31

6. Symphony No. 2: I. Hésitant (Instrumental) [Clean] 13:40
7. Symphony No. 2: II. Direct (Instrumental) [Clean] 14:11

8. Symphony No. 3 [Clean] 31:26

9. Symphony No. 4 [Clean] 21:01

Dawn Upshaw, na Sinfonia N° 2
Peter Crowley, na Sinfonia N° 2
Los Angeles Philharmonic
Esa-Pekka Salonen

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Há que ouvir mais Lutosławski, gente!
Há que ouvir mais Lutosławski, gente!

P.S. de Pleyel ao repostar:

O século XX teve alguns compositores com uma ou duas grandes sinfonias e outras esquecidas: penso em Honegger, Chávez e Prokofiev, que têm em comum o ciclo desigual de sinfonias.
Não é o caso de Lutoslawski. Com a 1ª mais ligada à música folclórica (próxima do Concerto para Orquestra e sua influência de Bartók) e com a 2ª, a 3ª e a 4ª mais atonais e inovadoras, o nível é sempre lá em cima. A 2ª tem uma forma binária: introdução, com a indicação “Hesitante” e o “prato principal”, com a indicação “Direto”. A 3ª e a 4ª são em um movimento único mas seguem um pouco esse esquema geral de primeiro as apresentações um pouco tímidas e depois os finalmentes.

PQP (2014) / Pleyel (2022)

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