In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 10 de 11: Volumes 7, 22, 29 & 36 (Schumann & Liszt I & II, Brahms, O Romantismo Alemão)

Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a décima das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


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Um povo impedido do belo fica embotado.

Arthur Moreira Lima

E como desimpedi-lo?

Arthur, veterano polinizador de beleza planeta afora, queria agora levá-la a seu povo. Depois do sucesso de seus recitais no Morro da Mangueira e no icônico Rocinha in Concert, sonhava alto em se tornar camelô da cultura. Inda bem, talvez pensasse, que não nascera no diminuto Liechtenstein: seu Brasil, afinal, tinha vastidão, pujança, variedade. Por outro lado, os pesadelos logísticos inerentes a qualquer incursão fora das metrópoles faziam-no invejar aquele principadinho do tamanho dum pequi e com estradas de camurça. Lembrava de seu ídolo, Sviatoslav Richter, que ao completar setenta anos partiu com seu piano para uma turnê de seis meses pela Sibéria, tocando para qualquer dúzia de viventes que encontrasse pelo caminho. Nosso herói, que completara sessenta, via urgir seu chamado sem que pudesse contar com Trans-Siberianas e com o estoicismo casca-grossa dos russos.

Tentou começar, e fez uma breve incursão pelo interior do estado do Rio de Janeiro. Voltou derrotado: tocou pianos horrorosos em palcos desabantes, fosse em salas medíocres, fosse em áreas abertas que deglutiam o som toscamente amplificado. Precisava de bons pianos; era de mister que estivessem bem mantidos e afinados; mesmo que os encontrasse num raro teatro de boa acústica, não queria tocar em teatros, pois buscava as massas que o esperavam fora deles; e, se quisesse que elas o ouvissem, tinha que ser com alto e muito bom som. E isso tudo, que era o mínimo, não encontrou em lugar algum. Tudo errado.

Num desses retornos resmunguentos de mais um recital abaixo de qualquer crítica, parou com o motorista para comer um bagulho na beira da estrada. Ao ver passar um possante a rosnar com sua suspensão a ar, veio-lhe o clique:

– E se eu arrumasse um CAMINHÃO-TEATRO?

Comprou um caminhão, transformou seu baú num palco e um dos lados do baú num proscênio dobrável: ali estava seu caminhão-teatro. Evocando seus anos de formação no Colégio Militar, Arthur deu à sua criatura o miliquíssimo nome de DIPCAM, Dispositivo Pianístico de Concerto de Alta Mobilidade, e estava doido para lançar sua Coluna Prestes da Cultura. Acompanhado de outros veículos para transporte de pessoal  e equipamentos, incluindo um piano de concerto extra, a caravana estava a postos. Seu criador, sempre afeito à singeleza na hora de denominar seus projetos, batizou-a de Um Piano pela Estrada. Composta por cinco veículos e até quinze pessoas, ela incluía afinador, técnico de som, seu factotum e motoristas. Mais adiante, somar-se-iam duas dentistas: Margareth, sua esposa, e a enteada Grasiela, que desenvolveriam um projeto paralelo de Saúde Bucal. Intitulado Um Sorriso pela Estrada, ele incluía oficinas de escovação, distribuição de kits de higiene oral e, com a participação eventual de Arthur e seu piano de armário (incluso na bagagem), palestras em escolas.

A viagem inaugural do DIPCAM e o pontapé inicial do projeto ocorreram em 2002, com um concerto em Mendes, no interior do Rio de Janeiro, seguido de apresentações em Araxá e Uberaba. Afora os eventuais ajustes, como a confecção de tocos de peroba para calçar o caminhão-teatro nas nunca planas praças onde o estacionavam, outra mudança mostrou-se premente. Dadas as dificuldades de conseguir patrocínios para cada um dos eventos na miríade de rincões visitados, logo se tornou óbvio que a viabilidade do projeto dependeria de desdobrá-lo em rotas, com patrocinadores robustos para cada uma delas. Com “São Francisco – Um Rio de Música”, turnê que desceu o Velho Chico de sua nascente, em São Roque de Minas, até a alagoana Penedo, num total de 4800 km, Um Piano pela Estrada finalmente deslanchou. Seguiram-se outras rotas, inspiradas tanto em ídolos de Arthur (“Nos Caminhos de JK”) quanto em sua paixão feroz por Geografia (“Nos Caminhos da Fronteira”, que visitou cidades fronteiriças irmanadas com vizinhas estrangeiras, de Chuí a Xapuri). Nos quase dezesseis anos que se passariam até o último concerto, em 2018, Arthur e sua trupe levaram o caminhão-teatro por estradas e balsas a mais de seiscentas cidades brasileiras, e seu odômetro a superar os 400 mil quilômetros – dez voltas em torno do globo, ou muitas trans-siberianas.

Após alguns meses de ajustes, o espetáculo tomou suas formas finais. O DIPCAM estacionava numa área central da localidade, e seu palco era montado (algumas vezes, em mera hora e meia), bem como a estrutura de som e iluminação. Os concertos começavam às 21h, depois do pior do calor, com o público de barriga cheia e novela vista. A abertura ficava a cargo do talento local: cantores, instrumentistas, conjuntos, bandas, charangas e fanfarras revezaram-se na função, mas apenas Seu Lu da Gaita, flautista autodidata de Bom Jesus da Lapa (BA), teve o privilégio de dividir o palco com o protagonista. O recital, com cerca de noventa minutos, intercalava obras com comentários sobre elas. O programa, que fora uma das maiores preocupações de Arthur (em suas palavras, “o programa tem que ser um convite, não um susto”), mesclava “clássicos populares e os clássicos entre os populares”: Sonata ao Luar e Asa Branca, Rondó alla Turca e Carinhoso, Rapsódia Húngara no. 2 e Apanhei-te, Cavaquinho. Um telão mostraria tudo mesmo para quem estivesse longe, talvez trepado em muros e árvores, auxiliado por microcâmeras instaladas no teclado, que mostravam as mãos do astro em ação. No final, autógrafos, visitas ao palco, espiadas no piano e, muito para o gosto do Sr. Pau de Enchente, charla livre. Em seguida, restava desmontar a estrutura, encher os baús e cair na cama para, na manhã seguinte, voltar à estrada.

Queria ter sido um daqueles calços de peroba para acompanhar a epopeia. Os percalços dos caminhos, a descoberta de incontáveis brasis, as anedotas da estrada, os momentos mágicos da interação com o público, e o virtuosismo de Arthur em evocar o melhor que há nos seres humanos, eles todos encheriam tantas páginas quanto foram os quilômetros de estrada. O ótimo livro de Marcelo Mazuras dedica a maior parte das suas a contar-nos a experiência do autor como integrante da trupe. Entre suas muitas histórias memoráveis, nenhuma me tocou mais que aquela que começa com esse recado manuscrito, enviado a Arthur numa das paradas da turnê pelo Nordeste:

Caro pianista Arthur. Sou de uma cidade nordestina onde mais de 50% da população vive de bolsa família ou de aposentadorias rurais. Cultura só aquela que nossos antepassados nos encinarão, tais quais ciranda, coco de roda, quadrilha juninas, bunba meu boi, banda de pifanos, sanfoneiros e o tradicional forro pé de serra. Piano é um bicho que nós do nordeste só conhecemos pela televisão. Se tratando de nossa cidade que nem asfalto tem. Esperamos o ano toda até que venha o São João, e as festa dos padroeiros. E ter que aguentar axé e suing, em pleno São João e a cultura nordestina morrendo. Mas o que tem haver o piano com o nordeste? Ai é onde entra o meu pedido de coração para você. Sou matuto semi analfabeto mas gosto e aprecio o que é bom e olha não é só eu muitos nordestinos. Mas o grande problema é que só escutamos o que não queremos. Porque digo isso, nós não temos condições de se dirigir até a capital Recife que fica a 150km de distância. Pagar um ingresso para te assistir é outro problema e ai é ou não complicado, como já dizia o mestre Ariano Suassuna. Muitas musicas se torna um estrondo porque nós não temos opções de escolher o que queremos. A TV só leva o que elas querem, o rádio só toca o que quer e ai somos obrigados há ter que engolir. Mas caro Arthur, nossa cidade é bem acolhedora e te peço que analise com carinho este pedido e venha nos brindar com o seu talento e fazer com que a cidade de Casinhas tenha também o direito de ter em seu solo uma das mais respeitadas personalidades do mundo artistico internacional. Até porque somos muito carente de cultura em especial. O piano que só temos o direito de ver em televisão e porque não ao vivo e em especial com você. Pode ter a certeza que voce ira sair daqui com o coração muito mas feliz do que já é, e olha que você vai emocionar a todos e com certeza saira muito mais em ser aclamado por muitos daqueles que a caneta é a enxada e o caderno é o chão. Que deus te abençoe e atenda este pedido.”

Meses mais tarde, quando Arthur e o DIPCAM chegaram a uma cidadezinha no interior de Pernambuco, havia alguém especialmente feliz à sua espera. Era Seu Walter, o autor do bilhete, com um sorriso de gaita e os olhos suados. O pianista Arthur chegara a Casinhas, e ele e seu povo, enfim, escutariam o que queriam.

Nada pode ser maior.


NADA.


ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima


VOLUME 7: SCHUMANN & LISZT

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Estudos Sinfônicos em Forma de Variações, Op. 13
1 – Tema: Andante
2 – Estudo Nº 1: Un poco più vivo
3 – Estudo Nº 2: Marcato il canto
4 – Estudo Nº 3: Vivace
5 – Estudo Nº 4: Allegro marcato
6 – Estudo Nº 5: Scherzando
7 – Estudo Nº 6: Agitato
8 – Estudo Nº 7: Allegro molto
9 – Estudo Nº 8: Sempre marcatissimo
10 – Estudo Nº 9: Presto possibile
11 – Estudo Nº 10: Allegro con energia
12 – Estudo Nº 11 : Con espressione
13 – Nº 12 – Finale: Allegro brillante

Ferenc LISZT (1811-1886)

Sonata para piano em Si menor, S. 178
14 – Lento assai – Allegro energico – Grandioso – Cantando espressivo  – Pesante – Recitativo – Andante Sostenuto – Quasi adagio – Allegro energico – Più mosso – Cantando espressivo senza slentare – Stretta quasi presto – Presto – Prestissimo – Andante Sostenuto – Allegro Moderato – Lento Assai

Dos Estudos de Execução Transcendental, S. 139:
15 – No. 10 em Fá menor: Allegro agitato molto

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Estúdio no. 1 da Rádio de Moscou, na Casa Estatal de Radiodifusão e Gravação de Som da União Soviética em Moscou, 1970.
Engenheiro de som: Valentin Sklobo
Piano: Steinway and Sons, Hamburg
Remasterização por Rosana Martins Moreira Lima, 1998.

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VOLUME 22: BRAHMS

Johannes BRAHMS (1833-1897)

Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 83
1 – Allegro non troppo
2 – Allegro appassionato
3 – Andante
4 – Allegretto

Arthur Moreira Lima, piano
Berliner Symphoniker
Otto Mayer, regência

Gravação: Berlim Oriental, República Democrática Alemã, 1976
Piano: Steinway and Sons, Hamburgo
Direção Musical, produção, edição e masterização por Rosana Martins Moreira Lima, 1999.

Das Duas Rapsódias para piano, Op. 79:
5 – No. 2 em Sol menor

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Hampstead, Londres, Reino Unido, 1999
Piano: Steinway and Sons
Engenheiro de som: Peter Nichols
Direção Musical, produção, edição e masterização por Rosana Martins Moreira Lima, 1999.

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VOLUME 29: O ROMANTISMO ALEMÃO

Robert SCHUMANN

Cenas Infantis, Op. 15
1 – De Povos E Terras Distantes
2 – Uma História Curiosa
3 – Cabra-Cega
4 – A Criança Implorando
5 –  Felicidade Perfeita
6 – Um Grande Acontecimento
7 – Rêverie
8 -Na Lareira
9 – O Cavaleiro de Pau
10 – Quase Sério Demais
11 – A Criança com Medo
12 – A Criança Adormece
13 – O Poeta Fala

Johannes BRAHMS

Sonata para piano no. 3 em Fá menor, Op. 5
14 – Allegro maestoso
15 – Andante espressivo
16 – Scherzo
17 – Intermezzo
18 – Finale

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Hampstead, Londres, Reino Unido, 1999
Piano: Steinway and Sons
Engenheiro de som: Peter Nichols
Direção Musical, produção, edição e masterização por Rosana Martins Moreira Lima, 1999.

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VOLUME 36: SCHUMANN & LISZT II

Robert SCHUMANN

Carnaval, Op. 9
1  – Preâmbulo
2 – Pierrô
3 – Arlequim
4 – Valsa Nobre
5 – Eusebius
6 – Florestan
7 – Coquette
8 Réplica
9 – Borboletas
10 – A.S.C.H. – S.C.H.A. (Letras Dançantes)
11 – Chiarina
12 – Chopin
13 – Estrella
14 – Reconhecimento
15 – Pantalon e Colombina
16 – Valsa Alemã/Paganini/Valsa Alemã
17 – Confidência
18 – Passeio
19 – Pausa
20 – Marcha dos Companheiros de Davi contra os Filisteus

Ferenc LISZT

Das Rapsódias Húngaras para piano, S. 244:
 21 – Nº 2 em Dó sustenido menor

Das Consolações para piano, S. 172:
22 – No. 3 em Ré bemol menor: Lento placido

Das Valses Oubliées, S. 215:
23 – No. 1: Allegro

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Hampstead, Londres, Reino Unido, 1998
Piano: Steinway and Sons, Hamburgo
Engenheiro de som: Peter Nichols
Direção Musical, produção, edição e masterização por Rosana Martins Moreira Lima, 1999.

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10ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele abordou seu importante projeto ‘Um piano pela estrada’, que levou recitais de piano a mais de 500 cidades do Brasil. Arthur fala sobre suas motivações iniciais, os desafios, e as conquistas ligadas a este projeto histórico

Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952. Na imagem, o ponta-direita Telê Santana da Silva, o Fio de Esperança (1931-2006)

Vassily

 

In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 9 de 11: Volumes 24, 28, 38 e 40 (Clássicos Favoritos V, VI, IX & X)

Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a nona das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


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Arthurzinho das massas estava em todas nos anos 80.

O embrião de tal onipresença foi sua participação no Circuito Universitário, iniciativa que desde o começo da década anterior levava grandes nomes da MPB para campi, teatros, ginásios e quaisquer outros espaços em que eles coubessem. Sempre destemido, Arthur foi o primeiro músico de concerto a embarcar  numa turnê do Circuito – e, convenhamos, o único capaz de aceitar um convite desses. Partiu de São Paulo, onde então morava, e prosseguiu de Kombi para Campinas e outras dez cidades do interior do estado. A experiência foi-lhe como um Caminho de Damasco: habitué de tantas paragens mundo afora, conhecedor de cada parada ao longo da Trans-Siberiana, Arthur enfim começava a descobrir seu país e a acolhida que as massas nos ginásios davam àquele pianista de raríssima figura, com cabeleira roqueira, calças de brim e a inseparável jaqueta de couro de alce.

Ó lá ela, a guerreira.

Não que tenha deixado a casaca de lado, como atesta, entre outros, o projeto Bach-Chopin que realizou com  João Carlos Martins. Tampouco deixou de ter preocupações fonográficas: farto da miríade de percalços para que seus discos fossem distribuídos pelas gravadoras e decidido decerto a cultivar mais uma úlcera, fundou o selo L’Art, tendo como sócio Lauro Henrique Alves Pinto, um dos “Filhos da Pauta”. Inda assim, preferia os mocassins e os pés na estrada. Xodó das multidões, para as quais era quase sinônimo de piano brasileiro, desfrutava uma liberdade incomum de escolher onde, como e com quem aparecer: mais que arroz de festa, o rei do rolê aleatório.

Até no gibi.

Se não, vejamos: depois de quase tocar com Elomar no formigueiro humano de Serra Pelada – com direito a transporte em avião da FAB, piano incluso -, acabou na não menor muvuca do Festival de Águas Claras, o “Woodstock” brasileiro, onde dividiu palco com Luiz Gonzaga (“esse cabra é tão bom que toca até Luiz Gonzaga”, foi o veredito do próprio) numa noite encerrada por João Gilberto. Às línguas de trapo que o acusavam de buscar as massas por estar em decadência técnica, respondia dando um tempo às turbas para, numa visita à Polônia, tocar (e gravar) Rachmaninoff desse jeito:

Sossegou? Claro que não: deixou São Paulo e mudou-se para o Rio, o qual voltou a chamar de morada depois de vinte anos. Foi fagocitado quase que de imediato pela boemia e requisitado em cada cantina, restaurante ou boteco onde, entre biritas, se cultivasse a boa prosa. Na confraria conhecida como “Clube do Rio”, aproximou-se de Millôr Fernandes, que prontamente reconheceu o potencial da avis rara e lhe escreveu um show, que também dirigiu – e assim, não mais que de repente, nascia “De Repente”.

Alternando textos de Millôr com bitacos de Arthur e grande música dos dois lados do muro da infâmia entre o dito “erudito” do assim chamado “popular”, o show foi um triunfo. Não demoraria para que o showman chegasse às telinhas, a convite de Adolpho Bloch, fundador da Rede Manchete. Conhecera-o em Moscou, nos seus tempos de Conservatório, mas estreitaram o convívio no Rio, frequentando o mesmo barbeiro, praticando o idioma russo e divertindo-se a falar, sem que ninguém mais compreendesse, bandalheiras impublicáveis.  Conquistado por aquele tipo maravilhoso que parecia pronto para TV, Bloch ofereceu-lhe carta branca para criar um programa semanal. Arthur pediu alto e levou: recebeu duas orquestras, dirigidas por Paulo Moura, que também lhe fazia os arranjos, e a crème de la crème  da música brasileira no rol de convidados. Nascia Um Toque de Classe, carregado daqueles momentos que, ao imaginá-los na TV aberta, fazem-me questionar em que sentido, enfim, roda a fita da civilização:

Arthur, que nunca foi muito afeito ao canto, ficou especialmente impressionado com a voz de Ney Matogrosso, que buscava novos rumos para sua carreira depois do frisson que causou com suas performances no extinto conjunto Secos & Molhados:

Ney, inacreditavelmente, ainda não se convencera de que era cantor. Arthur sugeriu que deixasse de lado a maquiagem e figurinos estrambólicos que até então tinham marcado sua carreira e que, de cara lavada, apostasse em sua rara voz. Não demorou até que o belíssimo contralto de Ney, tratado como afinado instrumento, estivesse a dividir o palco com outros quatro virtuoses.

Assim, na luxuosa companhia de Arthur, Paulo Moura (saxofone), Chacal (percussão) e Raphael Rabello (violão de sete cordas), Ney inaugurou uma nova fase em sua carreira com o show O Pescador de Pérolas. De lambujem, aproximou-se de Rabello, há já muitos anos um dos maiores violonistas do mundo, com quem mais adiante gravaria À Flor da Pele, que, em minha desimportante opinião, é um dos álbuns mais sensacionais que Pindorama deu ao mundo. O Pescador de Pérolas também virou disco, ainda que se lamente que o som do piano de Arthur, aparentemente, tenha sido captado do fundo duma lata de azeite:

Lambuzado de mel pelas massas e com saudades, talvez, de ferroadas, Arthur resolveu atirar-se no vespeiro: instigado por seu guru Darcy Ribeiro, aceitou a nomeação para alguns cargos públicos no Governo do Rio. Sob sua direção, o Theatro Municipal e a Sala Cecília Meireles receberam em seus palcos muita gente que seus habitués não deixariam nem entrar pela porta dos fundos, como a Velha Guarda da Portela. Divertindo-se com o previsível reproche de quem via violados seus espaços exclusivos e sacrossantos. Arthur ligou aquele famoso botão e prosseguiu: tocou em favelas (uma imagem de “Rocinha in Concert”está no cabeçalho dessa postagem) e chamou a Orquestra de Câmara de Moscou para tocar com ele em teatros, ao ar livre e em presídios. Quem o chamava de decadente – nem sempre por méritos artísticos – acabava por ter que deglutir cenas como as do Projeto Aquarius, em que o suposto ex-pianista e a Sinfônica Brasileira tocavam para Fla-Flus de gente:

Sim, 200 mil

Para refrescar-se das saraivadas de tomates, o Rei do Rolê Aleatório foi harmonizar seu piano com uma das vozes mais distintas do Brasil, o barítono de Nelson Gonçalves. Com alguns milhares de canções no repertório, escolher o que iria para o álbum foi por si só uma empreitada. O mais difícil, com sobras, era a incompatibilidade de relógios biológicos: Nelson acordava na hora em que Arthur ia dormir. Ainda assim, com cantor no fuso horário de Bagdá e pianista no de Honolulu, a parceria deu liga e rendeu um dos melhores álbuns de suas imensas discografias, O Boêmio e o Pianista:


Miacabo com Arthur e sua cara de “acordei agora”

Durante a extensa turnê com Nelson por mais de trinta cidades brasileiras, Arthur encantou-se com a tranquilidade e o clima ameno de Florianópolis e resolveu, enfim, lançar nela sua âncora. Trouxe seus pianos para perto do mar e até deve ter contemplado a ideia de sossegar. O sucesso da coleção “Meu Piano”, que vendeu um milhão de CDs a preços módicos em bancas de revistas, mostrou-lhe que o público não queria seu sossego. Pelo contrário: ainda havia muito mais gente a conquistar, nos vastos horizontes brasileiros, a ser buscada em seus últimos recantos, mesmo nas grotas que nunca tinham visto um piano. Assim, o rei das harmonizações improváveis juntou um Steinway com uma caçamba de Scania e partiu, como orgulhoso Camelô da Música (o termo é dele), para a mais épica jornada jamais empreendida por um artista brasileiro.


ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima


Volume 24: CLÁSSICOS FAVORITOS V

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Do Pequeno Caderno para Anna Magdalena Bach:

Christian PETZOLD (1677–1733)
1 – No. 2: Minueto em Sol maior, BWV Anh. 114

Johann Sebastian BACH
2 – No. 20: Minueto em Ré menor, BWV Anh. 132

Anton DIABELLI (1781-1858)

Das Sonatinas para piano, Op. 168:
3 – Moderato cantabile
4 – Andantino

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Das Duas Sonatinas para piano, WoO Anh. 5
5 – Sonatina em Sol maior

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Do Álbum para Jovens, Op. 68
6 – O Camponês Alegre
7 – O Cavaleiro Selvagem
8 – Siciliana
9 – Um Pequeno Romance
10 – São Nicolau

Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)

Seis Danças Populares Romenas, Sz. 56
11 – Do Bastão
12 -Do Lenço
13 – Sem Sair Do Lugar
14 – Da Trompa
15 – Polka Romena
16 – Finale: Presto

Heitor VILLA-LOBOS (1887-1959)

Do Guia Prático para Piano, Primeiro Álbum:
,17 – Acordei de Madrugada
18 -A Maré Encheu
19 – A Roseira
20 -Manquinha
21 – Na Corda Da Viola

[as obras de Villa-Lobos não estão disponíveis pelos motivos aqui listados]

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)

Das Doze Peças para piano, Op. 40:
22 – No. 2: Chanson triste

Enrique GRANADOS Campiña (1867-1916)

Das Doze Danças Espanholas:
23 – No. 5, “Andaluza”

Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)

Das Peças Líricas, Op. 43:
24 – No. 6: “À Primavera”

Achille Claude DEBUSSY (1862-1918)

Dos Prelúdios, Primeiro Livro:
25 – No. 8: La fille aux cheveux de lin

Dmitry Dmitryievich SHOSTAKOVICH (1906-1975)

Das Danças das Bonecas, Op. 91:
26 – No. 1: Valsa Lírica
27 – No. 4: Polka
28 – No. 5: Valsa-Scherzo

Scott JOPLIN (1868-1917)
29 – The Entertainer

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: St. Philip’s Church, Londres, Reino Unido, 1998-99
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999.

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Volume 28: CLÁSSICOS FAVORITOS VI

Antônio CARLOS GOMES (1836-1896)
Transcrição de Nicolò Celega (1846-1906)

Da ópera Il Guarany:
1 – Protofonia

Carl Maria Friedrich Ernst von WEBER (1786-1826)

2 – Convite à Dança, Op. 65

Franz Peter SCHUBERT (1979-1828)

Dos Quatro Improvisos para piano, D. 899:
3 – No. 4 em Lá bemol maior

Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
4 – Rondo Capriccioso, Op. 14

Johannes BRAHMS (1833-1897)

Das Valsas para piano, Op. 39:
5 – No. 1 em Si maior
6 – No. 2 em Mi maior
7 – No. 3 em Sol sustenido menor
8 – No. 6 em Dó sustenido maior
9 – No. 15 em Lá bemol maior

George GERSHWIN (1898-1937)

10 – Rhapsody in Blue

Gravação: St. Philip’s Church, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999.

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Volume 38: CLÁSSICOS FAVORITOS IX – TRANSCRIÇÕES CÉLEBRES

Ferenc LISZT (1811-1886)

Dos Doze Lieder de Franz Schubert, S. 558:
1 – No. 9: Ständchen

2 – Miserere du Trovatore de Giuseppe Verdi, S. 433

Do Wagner-Liszt Album:
3 – Isoldes Liebestod

4 – Liebeslied, S. 566 (baseada em Widmung, Op. 25 no. 1 de Robert Schumann)

De Années de Pèlerinage – Deuxième Année: Italie, S. 161:
5 – No. 5: Sonetto 104 del Petrarca

Johannes BRAHMS
Transcrição de Percy Grainger (1882-1961)

Das Cinco Canções, Op. 49:
6 – No. 4: Wiegenlied

Aleksandr Porfirevich BORODIN (1833-1887)
Transcrição de Felix Blumenfeld (1863-1931)

De Príncipe Igor, ópera em quatro atos:
7 – Dança Polovetsiana no. 17

George GERSHWIN
Transcrição de Percy Grainger
8 – The Man I Love

Oscar Lorenzo FERNÁNDEZ (1897-1948)
Transcrição de João de Souza Lima (1898-1982)

Da Suíte Reisado do Pastoreio:
9 – No. 3: Batuque

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: All Saints Church, Tooting, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999

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Volume 40: CLÁSSICOS FAVORITOS X

Charles-François GOUNOD (1818-1893)

1 – Ave Maria (Meditação sobre o Primeiro Prelúdio para piano de Johann Sebastian Bach)

Johann Sebastian BACH

Da Fantasia e Fuga em Dó menor, BVW 906:
2 – Fantasia

Franz SCHUBERT

Três Valsas:
3 – Op. 9 nº 1
4 – Op. 9 nº 2
5 –  Op. 77 nº 10

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)

Dos Doze Estudos para piano, Op. 10:
6 – No. 3 em Mi maior

Ferenc LISZT

Dos Três Estudos de Concerto, S. 144:
7 – No. 3: Un Sospiro

Johannes BRAHMS

Dos Três Intermezzi para piano, Op. 117:
8 – No. 2 em Si bemol menor

Leopold Mordkhelovich GODOWSKY (1870-1938)

9 – Alt-Wien

Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)

De Chants d’Espagne, Op. 232:
10 – No. 1: Prélude (Asturias)

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)

11 – Pavane pour une infante défunte

Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946)
Transcrição do compositor

Do balé El Sombrero de Tres Picos:
12 – Danza del Molinero

Gabriel Urbain FAURÉ (1845-1924)
Transcrição de Percy Grainger

Das Três Melodias, Op. 7:
13 – No. 1: Après un Rêve

Ludomir RÓŻYCKI (1883-1953)
Transcrição de Grigory Ginzburg (1904-1961)

14 – Valsa da Opereta Casanova

Antônio CARLOS GOMES

15 – Quem Sabe?

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: All Saints Church, Tooting, e Rosslyn Hill Chapel, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999

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9ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele abordou os seguintes tópicos, sobre sua carreira na década de 1990: concertos que tocou no morro da Mangueira e na Rocinha; período em que foi diretor da Sala Cecília Meireles; período em que foi subsecretário de cultura do estado do RJ, encarregado do interior; sua colaboração com o cantor Nelson Gonçalves; o recital que realizou juntamente com Ana Botafogo; seu disco dedicado ao compositor Brasílio Itiberê; a grande coleção de 41 CDs “Meu piano”, lançada pela Caras em 1998; a caixa de 6 CDs “MPB – Piano collection”, dedicada a Dorival Caymmi, Chico Buarque, Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Roberto Carlos; disco dedicado a Astor Piazzolla, com arranjos de Laércio de Freitas

Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952. Eis o ponta-esquerda Joaquim Albino, o Quincas (1931-2000).

Vassily

In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 4 de 11: Volumes 13, 14, 31 & 34 (A Grande Escola Russa/Rachmaninov/Dois Retratos da Rússia/Meu Tchaikovsky Preferido)

Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a quarta das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


Partes:   I   |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII   |   IX   |   X   |   XI

– Mais de duzentos milhões de seres humanos falam russo. Só uns poucos tocam bem piano. Não deve ser difícil aprender russo.

Com essa voadora à queima-roupa, recebida como resposta à sua preocupação com o aprendizado do idioma do país ao qual acabara de chegar, Arthur Moreira Lima Júnior foi devidamente apresentado a Rudolf Rikhardovich Kerer (doravante Kehrer), para cuja classe fora designado durante os cinco anos de sua bolsa no Conservatório Pyotr Ilyich Tchaikovsky de Moscou, sob os auspícios do Ministério da Cultura da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, no ano da graça de 1963.

Ao mostrar-lhe a caixa de ferramentas, à maneira do que o famigerado beque Gum faria no Fluminense de quatro décadas depois, Kehrer apresentava o recém-chegado ao modus russicus. No entanto, e por mais dura que imaginássemos a adaptação do carioca bonachão ao planeta soviético, com todas cores tragicômicas das histórias de peixes fora d’água, nosso herói a tirou de letra. Safo, flexível e de ouvido afiado, Arthur Arthurovich transpôs com rapidez as temidas dificuldades de adaptação a território, cultura e idioma. Não tardou para que o novo moscovita estivesse, sob temperaturas dúzias de graus abaixo daquelas de seu habitat, a desfrutar muito a experiência mais decisiva de sua vida – e também, naturalmente, a jogar muita conversa fora po-russki.

Arthur Arthurovich e Rudolf Rikhardovich: sempre no limiar entre a lição e o entrevero.

Enquanto o Brasil marchava para suas décadas de sangue e chumbo, a União Soviética experimentava um minúsculo relaxamento de tensões. Ainda que todas paredes enxergassem, que qualquer moita tivesse muitos ouvidos, e que a Guerra Fria tivesse ebulido com a Crise dos Mísseis do ano anterior, os níveis de paranoia na Moscou de Khruschev eram baixos o suficiente para que a fauna humana vinda do exterior fosse recebida com curiosidade e acolhimento.  Ciente de sua posição privilegiada dentro dum regime que controlava todas as instâncias da sociedade, Arthur guardava para si suas críticas e, driblando sensores e censores, aproveitou o que o Regime de melhor tinha a lhe oferecer. O transporte público milagrosamente eficiente e a segurança agradaram-lhe tanto quanto o pervasivo senso de coletividade em tudo e de todos. Mesmo no mítico Conservatório, possivelmente o maior centro formador de músicos do seu tempo, o que em outras paragens seria um ambiente propício a canibalismo entre concorrentes era, na prática, imbuído tão só de camaradagem. Os colegas estudavam juntos, ajudavam-se, retroalimentavam-se, sem vislumbres da competitividade entre pianistas, que Arthur adorava comparar à dos jóqueis nos saudosos páreos da Gávea. Sua maior satisfação, por certo, era com formação holística oferecida aos estudantes. Muito além da Música e de sua História, eles eram instruídos num amplo escopo de disciplinas, da Economia à Política, com doses generosas da doutrina que fundamentava o onipresente Regime. As dezenas de salas do Conservatório vertiam música em todas as vozes e instrumentos, e de suas portas saíam figuras legendárias – gente do naipe de Gilels, de Rostropovich, de Oistrakh – a formarem, por trás delas, novas lendas.

Naquela usina de pianistas em que até os faxineiros assoviavam Rachmaninov, no cerne da então Capital de Todas as Rússias, ninguém o marcaria mais que Rudolf Kehrer. Admirado expoente da Grande Escola Russa, Kehrer incutiu-lhe com eficiência seus fundamentos e prática, que muito divergiam da Escola de Liszt – que fora professor do professor de dona Lúcia Branco – e da Escola Francesa de Mme. Marguerite Long. Os incontáveis arranca-rabos, que Arthur contaria às gargalhadas aos amigos pelo resto da vida, até que foram poucos, se levarmos em conta as culturas e temperamentos diametralmente opostos. Era óbvio ao mestre que o pupilo era uma gema rara, e o talentoso aprendiz sorvia as lições por todas suas terminações nervosas. O resultado não tardou: o pianismo do moço ficou russíssimo, mais russo que os próprios russos (e aqui citamos o crítico e tradutor Irineu Franco Perpétuo, “he outrusses the Russians”). Não perderei tempo tentando convencê-los disso com inda mais verborreia – apenas ouçam, por exemplo, a gravação do Concerto no. 3 de Rachmaninov que incluímos nessa postagem, uma das maiores que existem para essa obra icônica. Ou, talvez, esses Quadros de uma Exposição de Mussorgsky, gravados na Grande Sala do Conservatório de Moscou, seguidos dos Prelúdios de Chopin e de nada menos que OITO peças de bis (porque, sim, recitais mastodônticos são especialidades da Grande Escola Russa)…

 

… ou esse outro recital-maratona, com duas sonatas de Chopin, a integral de suas valsas, e mais alguns punhados de bis:

 

Quem ainda não se convenceu poderá mudar de ideia com esse incrível combo Schubert + Barber…

.

.. ou com essa gravação feita pelo próprio Kehrer da plateia, talvez o ponto alto do pianorrussismo de Arthur Arthurovich, com uma Rapsódia Espanhola antológica, a melhor que já ouvi:

Rudolf Rikhardovich, o Estoico, só sorriria uma vez para Arthur. Foi na mesma tarde em que, após concluir os cinco anos de estudos sob sua supervisão, o mais meridional de seus pupilos o recebeu em seu apartamento e lhe tocou a Sonata de Liszt – ao que o mestre, notório por nunca elogiar os alunos, por acreditar que a bajulação era danosa à formação de artistas, então tascou:

– Isso foi muito bonito.

E deve ter sido, pois Kehrer convidou Arthur para ser seu assistente na cátedra de piano. Por três anos, sempre o titular viajava, quem assumia suas classes era um carioca de Estácio que, em russo fluente, ensinava pianistas russos como tocar mais russamente que os próprios russos.

Isso é russo o bastante? Para Arthur, ainda não. Sempre mais atento à voz do povo que às academias, ele receberia sua certidão definitiva junto com outro sorriso difícil de conquistar: o daquela rubicunda babushka que, depois de mais um recital abarrotado, veio cumprimentá-lo com um singelo:

–  Artur ― nash!

“Arthur é nosso”. E é deles, sim – tanto quanto orgulhosamente nosso. ❤️

 


ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima


Volume 13: A GRANDE ESCOLA RUSSA

Aleksandr Nikolayevich SCRIABIN (1872-1915)

Das Três Peças para piano, Op. 2:
1 – No. 1: Estudo em Dó sustenido menor

Oito Estudos para piano, Op. 42
2 – No. 1 em Ré bemol Maior: Presto
3 – No. 2 em Fá sustenido menor
4 – No. 3 em Fá sustenido maior: Prestissimo
5 – No. 4 em Fá sustenido maior: Andante
6 – No. 5 em Dó sustenido menor: Affanato
7 – No. 6 em Ré bemol maior: Esaltado
8 – No. 7 em Fá menor: Agitato
9 – No. 8 em Mi bemol maior: Allegro

Dos Doze Estudos para piano, Op. 8:
10 – No. 5 em Mi maior: Brioso
11 – No. 11 em Si bemol menor: Andante
12 – No. 12 em Ré sustenido menor: Patetico

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986

Engenheiro de som: Georgi Harizanov
Produção: Nikola Mirchev
Piano Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

 

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)

Dumka, Cena Rústica Russa em Dó menor, para piano, Op. 59
13 – Andantino cantabile

 

Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)

Sonata para piano no. 2 em Ré menor, Op. 14
14 – Allegro non troppo
15 – Allegro moderato
16 – Andante
17 – Vivace

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Moscou, União Soviética, 1970.
Produtor: Valentin Skoblo
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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Volume 14: RACHMANINOV

Sergey Vasilyevich RACHMANINOV (1873-1943)

Concerto para piano e orquestra no. 3 em Ré menor, Op. 30
1 – Allegro ma non tanto
2 – Adagio
3 – Alla breve

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional da Polônia
Thomas Michalak, regência

Gravação: Katowice, Polônia, 1984
Produção: Thomas Frost
Engenheiro de som: Tom Lazarus
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo

Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

Dos Dez Prelúdios para piano, Op. 23:
4 – No. 4 em Ré maior: Andante cantabile
5 – No. 5  em Sol menor: Alla marcia)

Dos Nove Études-Tableaux, Op. 39:
6 – no. 5 em Mi bemol menor: Appassionato

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986

Engenheiro de som: Georgi Harizanov
Produção: Nikola Mirchev
Piano Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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Volume 31 – DOIS RETRATOS DA RÚSSIA

Modest Petrovich MUSSORGSKY (1839-1881)

Quadros de uma Exposição, para piano
1 – Promenade [I]
2 – Gnomus
3 – [Promenade II] Moderato commodo assai e con delicatezza
4 – Il Vecchio Castello
5 – [Promenade III]. Moderato non tanto, pesamente
6 – Tuileries (Dispute d’enfants après jeux)
7 – Bydło
8 – [Promenade IV]. Tranquillo
9 – Balé dos Pintinhos nas Cascas
10 – Dois Judeus Poloneses: um rico, outro pobre (Samuel Goldenberg und Schmuÿle)
11 – Promenade [V]
12 – Limoges, le marché (La grande nouvelle)
13 – Catacombæ (Sepulcrum romanum) –  Cum mortuis in lingua mortua
14 – Baba-Yaga: A Cabana sobre Pernas de Galinha
15 – A Porta de Bogatyr na Antiga Capital de Kiev

 

Sergey PROKOFIEV
Transcrição livre para piano de Tatiana Nikolayeva (1924-1993)

Suíte do Conto Sinfônico Pedro e o Lobo, Op. 67
16 – Pedro (Tema com Variações)
17 – O Passarinho
18 – O Pato
19 – O Gato
20 – O Avô de Pedro
21 – O Lobo
22 – O Sexteto Final: Todas as Personagens

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Londres, Reino Unido, 1999
Engenheiro de som: Peter Nicholls
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo

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Volume 34 – MEU TCHAIKOVSKY PREFERIDO

Pyotr TCHAIKOVSKY

As Estações do Ano, Suíte para piano, Op. 37a
1 – Janeiro: Junto à Lareira
2 – Fevereiro: Carnaval
3 – Março: O Canto da Cotovia
4 – Abril: Flor da Primavera
5 – Maio: Noites Brancas
6 – Junho: Barcarola
7 – Julho: O Canto do Ceifeiro
8 – Agosto: Colheita
9 – Setembro: Caça
10 – Outubro: O Canto do Outono
11 – Novembro: Troika
12 – Dezembro: Natal

Pyotr TCHAIKOVSKY
Transcrições de Arthur Moreira Lima (1940-2024)

Quatro Romances para piano
13 – Apenas Um Coração Solitário, Op. 6 No. 6
14 – Ode às Florestas, Op. 47 No. 5
15 – Janela Escancarada, Op. 63 No. 2
16 – Sozinho outra Vez, Op. 73 No. 6

Pyotr TCHAIKOVSKY

Das Seis Peças para piano, Op. 51
17 – No. 6: Valsa Sentimental

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Londres, Reino Unido, 1999
Engenheiro de som: Peter Nicholls
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo

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“4ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele falou sobre algumas filmagens raras que está encontrando em seu acervo, que incluem seu programa apresentado na Manchete na década de 1980. Depois relembrou o recital de Arnaldo Estrella a que assistiu em Moscou na década de 1960 e do contato que teve com ele nesta época. Mencionou um raro disco que gravou com obras de Chopin em 1969, o que acabou resultando em um convite de Arturo Michelangeli para ser um de seus alunos neste ano, e comentou o motivo que o levou a declinar. Também falou sobre russos célebres que conheceu na época, como Dimitri Shostakovich e Maya Plisetskaya. Depois relembrou recitais e concertos que tocou no Brasil após sua premiação no Concurso Chopin de 1965, incluindo o histórico recital em que tocou pela primeira vez no Theatro Municipal do Rio de Janeiro músicas de Ernesto Nazareth em 1966, anos antes dos discos antológicos que viria a gravar com obras deste compositor. Nesse contexto, falou sobre o contato que teve com o grande pesquisador Mozart de Araújo. Também comentou sobre quando se tornou assistente de Rudolf Kehrer depois que se formou no Conservatório de Moscou, e relembrou outros concursos de que participou na época, como o Concurso de Montreal em 1968, e o Concurso de Leeds em 1969, no qual ficou classificado em 3º lugar, e falou sobre os problemas que houve nesta edição. Também mencionou as vantagens e desvantagens de se tocar o Concerto No. 2 de Chopin em concursos.”


BÔNUS:

Nossa homenagem a Arthur abre vastos parênteses para estender nossa gratidão a seu professor, Rudolf Kehrer (1923-2013), por tudo que compartilhou com nosso herói. Nascido em Tbilisi, capital da Geórgia, Kehrer teve sua trajetória interrompida pela Segunda Guerra Mundial, quando sua família, de origem alemã, foi deportada para o Cazaquistão. Proibido de tocar piano durante o seu exílio, e autorizado a tão-só dedilhar o acordeão, manteve a destreza tanto quanto pôde tocando um teclado falso feito de um pedaço de madeira. Foi somente após a morte de Stalin, em 1953, que conseguiu retomar seus estudos no ainda remoto Conservatório de Tashkent, no Uzbequistão. Em 1961, viu sua carreira de concertista ser enfim lançada após vencer o Concurso de Toda-União em Moscou – cujo vencedor anterior fora também um brilhante pianista de origem alemã, de nome Sviatoslav Richter, e para o qual obtivera, aos 37 anos, a autorização excepcional para competir com pianistas mais jovens. Ainda proibido de se apresentar no Ocidente, assumiu uma cátedra no Conservatório de Moscou e fez muitas gravações para o selo Melodiya que, por muito tempo, só circularam pela sovietosfera. Eu as desconhecia completamente, até encontrar essa enorme coletânea da Doremi. O que ouvi derrubou meu queixo. Apesar da capinha safada, que parece ter sido feita pelo Paint duma babushka, o som é bom, e Kehrer, melhor ainda. Ainda mais que uma máquina de vencer na vida (vide seus retratos, que seriam bastantes para ilustrar todos os verbetes duma Enciclopédia do Estoicismo), ele foi um pianista MONSTRUOSO, tão imenso quanto seu repertório. É ouvir para crer.


 

CD 1

Johannes BRAHMS (1833-1897)
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Ré menor, Op. 15

Grande Orquestra Sinfônica da Rádio de Moscou
Gennady Rozhdestvensky, regência
Gravado em 1969

Sergei RACHMANINOFF
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Dó menor, Op. 18

Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1963

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CD 2

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Concerto para piano e orquestra no. 21 em Dó maior, K. 467
Orquestra Filarmônica de Moscou
Viktor Dubrovsky, regência
Gravado em 1965

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra no.5 em Mi bemol maior, Op. 73
Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1963

Franz LISZT (1811-1881)
Valsa Mephisto no. 1, S. 514
Gravada em 1961

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CD 3

Franz LISZT
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi bemol maior, S. 124
Orquestra Filarmônica de Moscou
Viktor Dubrovsky, regência
Gravado em 1965

Sergei PROKOFIEV (1891-1953)
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Ré bemol maior, Op. 10
Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1961

Georgy Aleksandrovich MUSHEL (1909-1989)
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Lá menor
Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1963

Wilhelm Richard WAGNER (1813-1883)
Arranjo de Franz LISZT
Abertura de “Tannhäuser”, S.442 (1848)
Gravada em 1961

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CD4

Wolfgang Amadeus MOZART

Sonata para piano em Lá menor, K. 310
Gravada em 1975

Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para piano no. 8 em Dó menor, Op. 13, “Patética”
Sonata para piano no. 14 em Dó sustenido menor, Op. 27 no. 2, “Ao Luar”
Gravadas em 1975

Georgy Vasilyevich SVIRIDOV (1915-1998)
Sonata para piano
Gravada em 1975

Franz LISZT
Estudo Transcendental no. 10 em Fá menor, S. 139 (1852)
Gravado em 1961
Années de Pèlerinage, Livro 2, S. 161 – No. 1, “Sposalizio”
Gravado em 1975

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CD 5

Georgy SVIRIDOV
Trio para violino, violoncelo e piano
Viktor Pikaizen, violino
Lev Evgrafov, violoncelo
Gravado em 1984

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Estudos Sinfônicos para piano, Op. 13
Gravados em 1978
Arabesque em Dó maior para piano, Op. 18 
Gravada em 1978

Rudolf Kehrer, piano

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Любимому мастеру — с любовью ♡

 

Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952, . Eis o volante Jair Florêncio de Santana, ou, simplesmente, Jair (1929-2014).

Vassily

In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 1 de 11: Volumes 1, 3 & 12 (Clássicos Favoritos I, II & III)

Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos (e percebam que nem mencionei seu instrumento!), completaria hoje 85 anos. Para celebrar seu legado extraordinário e honrar sua memória, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de hoje até 30 de outubro, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a primeira das onze partes de nossa eulogia ao gigante.

Partes:     |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII   |   IX   |   X   |   XI


Se me perguntassem qual minha primeira memória de Arthur Moreira Lima, eu provavelmente lhes diria que ela é tão remota quanto a que eu tenho de um pianista. Nasci sob o Terror e cresci entre os ventos da Abertura que traziam de volta quem partira em rabos de foguete. Em minha casa ouvia-se muita música – nenhuma que atraísse cassetetes, e quase sempre daquela prevalente em elevadores e consultórios odontológicos. Ainda assim, era música bastante para que a aparição de um pianista na tela da TV, daquelas de antenas finamente ajustadas com palha de aço, não fosse sumariamente rechaçada por uma mudança de canal para a novela da vez. E o pianista, bem, ele era sempre o mesmo: aquele tipo de perfil pontiagudo, olhos a um só tempo alheios e dardejantes, de postura algo gibosa ao teclado e a drapejar sua cabeleira enquanto debulhava com os dedos coisas que eu não imaginava possíveis a mim, menino telespectador. Ele tocava de tudo, e em todo lugar, e ante centenas, milhares, dezenas de milhares de pessoas, e sozinho, e com orquestras, e em toda e qualquer companhia. No programa que teve na TV aberta, inimaginável nesses nossos tristes tempos de Tigrinho, dividiu a ribalta com chorões e roqueiros, seresteiros e jazzistas; mostrou-me Ney Matogrosso pela primeira vez de cara limpa e apresentou-me o semideus Raphael Rabello, que toca, como Gardel canta para os argentinos, cada dia melhor. Entre um número e outro, com o maroto sotaque que nunca renegou seu berço, entrevistava seus convidados com muita descontração – tanta que promoveu o seguinte diálogo entre meus genitores:

– Esse é aquele pianista?
– É.
– Bem informal, hein?
– Sim.
– Nem parece pianista…

O programa saiu do ar sem-cerimoniosamente, e eu, exceto por um LP e outro que encontrava em briques, fiquei sem saber do madeixudo carismático, até o dia em que, exaurido por um plantão no pronto-socorro e disposto a tudo para ver algo que não fosse sangue ou pus, encontrei um palco montado no meio do maior parque de minha Dogville natal. Sobre ele, um piano, e ante este – sim, adivinharam! – o pianista que nem parecia pianista, e que, contrariando tudo o que se dizia dele – que não estudava, que não se levava a sério, que estava decadente – despachava com segurança os arpejos do Estudo Op. 10 no. 1 de Chopin sob o olhar tietante duns gatos-pingados aos quais me juntei, lá na fila do gargarejo. Emendou, em seguida, o “Revolucionário“, o “Tristesse“, o das teclas pretas, e foi esgotando o Op. 10, estudo a estudo, inteiros ou em parte, até que faltou somente…

– O número 2, Arthur.
– Hein?
– Faltou o número 2.
– Cê me odeia, né? – gargalhava – Mas certamente não tanto quanto eu odeio o número 2.

E atacou o temido Op. 10 no. 2, com aquelas escalas rapidíssimas todinhas com os dedos fracos da mão direita, enquanto resmungava das tendinites que ele lhe trouxera.

– Que mais cês querem?
– …
– Digam logo, que daqui a pouco vão me levar à força pro camarim.
– Piazzolla, então!

E nos deu um Adiós Nonino com a mesma eletricidade que pôs suas madeixas em riste na memorável capa do álbum que dedicou a Astor. Ao terminar, com o produtor já a olhar com ganas de arrancá-lo do palco, um dos gatos-pingados lhe alcançou um número de telefone:

– Volto hoje para o Rio – explicava-se, enquanto guardava o papelucho na casaca – mas não deixo de te ligar.
– A costela está assando desde que saí de casa. Eu e ela te aguardamos.
– E a cerveja?
– Ela também. Mais gelada que em Moscou.

E foi arrastado para as coxias, de onde voltou para tocar um Tchaikovsky furioso com a Sinfônica de Dogville. Nunca soube se ele, enfim, telefonou para o churrasqueiro. Imagino que sim. Afinal, aquele ex-menino prodígio, de nobre arte forjada no Brasil e burilada na França e na União Soviética, capaz de dialogar com bolcheviques e mencheviques, maragatos e chimangos, cronópios e famas, sempre foi também um perfeito exemplo do que em minha terra se chama de “pau de enchente” –  aquele tipo que, como os galhos de árvores levados pelas enxurradas, vai parando aqui e ali – e nunca perdeu qualquer oportunidade de falar, de ouvir e de aprender.

– Decadente.
– Quê?
– Sim. Olha aí: tá vendendo disco na Caras!
– Eita…

O brasileiro não é gentil com seus heróis, e desancaram o heroico Sr. Pau de Enchente quando ele lançou sua antologia pianística a preços módicos e acessível em qualquer banca de revistas. Onde outros viam dinheirismo e decadência, eu, seu desde sempre tiete, só via generosidade – a mesma que o fez tocar para aquelas centenas, aqueles milhares, aquelas dezenas de milhares de gentes, a brilhar na TV e matar de inveja tantos colegas de ofício, a implodir o Muro da Vergonha entre os assim chamados “erudito” e “popular’, e que o levaria, em seu caminhão-teatro feito Caravana Rolidei, a tocar para compatriotas que nunca tinham visto um piano na vida.

Eu nunca consegui lhe agradecer, que se dirá o bastante – se é que haveria gratidão suficiente para tanta dedicação aos ouvidos de seu país! Até tive oportunidades: afinal, tanto eu quanto Sr. De Enchente escolhemos a mesma ilha para passar nossos últimos anos. Por algum tempo, inclusive, compartimos a mesma praia em que, vez que outra, nossos percursos se cruzavam. Numa delas, ele jogava bola com uma criança que, com um pontapé somado ao vigor do Vento Sul, mandou a redondinha na minha direção. Eu, que tenho dois pés esquerdos, devolvi-a com uma vergonhosa rosca para os devidos donos. Já me conformava com a ideia de ir buscá-la ainda mais longe, quando, antes mesmo dela quicar no chão, aquele torcedor doente do Fluminense Football Club aparou a pelota com um golpe seco que orgulharia o Príncipe Etíope e, com um toque de letra digno de Super Ézio, devolveu-a à remetente.

– Valeu, meu bom!

Craque com as mãos e com os pés, o Pelé e o Garrincha do Piano Brasileiro, gênio da raça: também tocas cada dia melhor! Venero-te tanto que jamais te conseguirei ser crítico. Se os leitores-ouvintes o quiserem, que assim sejam – mas minha homenagem aqui, ela terá só carinho e saudade ❤️.

Em memória de Fluminense Moreira Lima (16 de julho de 1940, Rio de Janeiro – Florianópolis, 30 de outubro de 2024) em seu 85º aniversário.


 

ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima

Volume 1: CLÁSSICOS FAVORITOS I

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Myra Hess (1890-1965)
Da Cantata “Herz und Mund und Tat und Leben“, BWV 147:
1 – Coral: Jesus bleibet meine Freude

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Da Sonata para piano no. 11 em Lá maior, K. 331:
2 –  Alla Turca: Allegretto

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Bagatela em Lá menor, WoO 59, “Für Elise”
3 – Poco moto

Carl Maria Friedrich Ernst Freiherr von WEBER (1786-1826)
Da Sonata para piano no. 1 em Dó maior, Op. 24:
4 – Rondo: Presto (“Perpetuum mobile“)

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Das Fantasiestücke, Op. 12:
5 – No. 3: “Warum?”

Ferenc LISZT (1810-1886)
Dos Grandes Estudos de Paganini, S. 141:
6 – No. 3: La Campanella

Jules Émile Frédéric MASSENET (1842-1912)
De Thaïs, ópera em três atos:
7 – Méditation (transcrição do compositor)

Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Da Música Incidental para Ein Sommernachtstraum (“Sonho de uma Noite de Verão”), de William Shakespeare, Op. 61:
8 – No. 9: Marcha nupcial (transcrição do compositor)

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Das Dezoito Peças para piano, Op. 72:
9 – No. 2: Berceuse

Sergei Vasilievich RACHMANINOFF (1873-1943)
Dos Morceaux de Fantaisie, Op. 3:
10 – No. 2: Prelúdio em Dó sustenido menor

Anton Grigorevich RUBINSTEIN (1829-1894)
Das Duas Melodias, Op. 3:
11 – No. 1: Melodia em Fá maior

Alexander Nikolayevich SCRIABIN (1872-1915)
Dos Doze Estudos, Op. 8:
12 – No. 12 em Ré sustenido menor, “Patético”

Achille Claude DEBUSSY (1862-1918)
Da Suite Bergamasque, L. 75:
13 – No. 3: Clair de Lune

Manuel DE FALLA y Matheu (1876-1946)
De El Amor Brujo, balé em um ato:
14 – Dança Ritual do Fogo (transcrição do compositor)

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Volume 3: CLÁSSICOS FAVORITOS II

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Ferruccio Busoni (1866-1924)

Da Toccata e Fuga em Ré menor para órgão, BWV 565:
1 – Toccata

Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
2 – Sonata em Mi Maior, L. 23 (K. 380)

Carl Philipp Emanuel BACH (1714-1788)
3 – Solfeggietto em Dó menor, H 220, Wq. 117:2

Georg Friedrich HÄNDEL
Da Suíte para Teclado no. 5 em Mi maior, HWV 430:
4 – No. 4: Ária com Variações, “The Harmonious Blacksmith”

Ludwig van BEETHOVEN
5 – Seis Escocesas, WoO 83

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
6 – Fantasia-Improviso em Dó sustenido menor, Op. 66

Gioachino Antonio ROSSINI (1792-1868)
Das Soirées Musicales:
7 – No. 8: La Danza (Tarantella Napolitana)

Felix MENDELSSOHN
Das Canções sem Palavras:
8 – Allegro non troppo (Op. 53 no. 2) – Allegretto grazioso (Op. 62 no. 6, Frühlingslied) – Presto (Op. 67 no. 4, La Fileuse)

Ferenc LISZT
Dos Liebesträume, Noturnos para piano, S. 541:
9 – No. 3 em Lá bemol maior

Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)
Do Peças Líricas, Livro III, Op. 43:
10 – No. 1: Papillon

Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
Das Oito Humoresques, Op. 101:
11 – No. 7 em Sol bemol maior

Pyotr TCHAIKOVSKY
Das Estações, Op. 37a:
12 – No. 11: Novembro (Troika)

Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Das Dez Peças para piano, Op. 12:
13 – No. 2: Gavota em Sol menor

Claude DEBUSSY
14 – La Plus que Lente, L. 121

Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Da Suíte Espanhola no. 1, Op. 47:
15 – No. 3: Sevilla

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Volume 12: CLÁSSICOS FAVORITOS III

Johann Sebastian BACH
Concerto em Ré menor, BWV 974 (transcrição do Concerto para oboé de Alessandro Marcello):
1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Allegro

Ludwig van BEETHOVEN
Transcrição de Ferenc Liszt (S. 464)
Da Sinfonia no. 5 em Dó menor, Op. 67:
4 – Allegro con brio

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Dos Improvisos para piano, Op. 90 (D. 899):
5 – No. 2 em Mi bemol maior

Robert SCHUMANN
6 – Arabeske em Dó maior, Op. 18

Ferenc LISZT
Das Soirées de Vienne d’après Schubert, S. 427:
7 – No. 6: Valse-caprice

Claude DEBUSSY
Das Deux Arabesques, L. 66:
8 – No. 1 em Mi maior

Christian August SINDING (1856-1941)
Das Seis Peças, Op. 32:
9 – No. 3: Frühlingsrauschen

Manuel de FALLA
De La Vida Breve, ópera em dois atos:
10 – Dança Espanhola no. 1 (arranjo do compositor)

Pyotr TCHAIKOVSKY
Das Estações, Op. 37:
11 – No. 6: Junho (Barcarola)

Sergei RACHMANINOFF
Dos Études-Tableaux, Op. 39:
12 – No. 9 em Ré maior

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Arthur Moreira Lima, piano

Gravações realizadas na Saint Philip’s Church em Londres, Reino Unido, em 1998
Piano Steinway and Sons
Engenheiro de som: Peter Nichols
Direção Musical, produção, edição e masterização por Rosana Martins Moreira Lima



Fãs de Arthur encontram-se doravante INTIMADOS a ouvir o podcast “Conversa de Pianista”, do Instituto Piano Brasileiro, em que nosso ídolo conversa com o incrível Alexandre Dias, e que foi ao ar em 2020:

“1ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele falou sobre como o piano começou em sua vida, suas primeiras aulas em família, seus primeiros recitais quando criança prodígio, e suas aulas com a grande professora Lúcia Branco, que o levou a participar do I Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro do 1957. Também comentou sobre grandes pianistas a que assistiu nas décadas de 1940 e 1950. Foram mencionados alguns dos assuntos que serão conversados nos próximos episódios, com especial atenção para sua rica discografia, e também sua premiação em importantes concursos internacionais de piano, como o Concurso Chopin (1965), Concurso de Leeds (1969) e o Concurso Tchaikovsky (1970). Nossa homenagem e agradecimento ao grande pianista Arthur Moreira Lima, que em 2020 completa 80 anos”.

Quem apreciar a entrevista encontra-se também intimado a apoiar o Instituto Piano Brasileiro, desde o Brasil ou do Exterior.

Em mais uma homenagem a Fluminense Moreira Lima, oferecer-lhe-emos um álbum de figurinhas com os heróis da final da Copa Rio de 1952, que certamente fizeram Arthurzinho chorar de alegria. Eis o arqueiro Carlos José Castilho, o Castilho (1927-1987).

Vassily

Horowitz in Moscow: Scarlatti, Mozart, Rachmaninov, Scriabin, Schubert, Liszt, Schumann, Chopin, Moszkowski

Horowitz in Moscow: Scarlatti, Mozart, Rachmaninov, Scriabin, Schubert, Liszt, Schumann, Chopin, Moszkowski

Foi com grande surpresa que me dei conta de que esse disco não constava no acervo de mais de 8 mil posts da casa. Horowitz in Moscow documenta nada menos que o retorno do colossal pianista Vladimir Horowitz à União Soviética, sua terra natal, depois de 61 anos. 61 anos! Uma vida…

O recital aconteceu no dia 20 de abril de 1986, na Grande Sala do Conservatório Tchaikovsky, em Moscou, mesmo palco onde Horowitz havia se apresentado pela última vez na URSS, em 1925. O mestre, agora, tinha 82 anos e queria ver sua pátria-mãe Rússia mais uma vez antes de morrer.

O encarte do disco, lançado com o selo amarelo da Deutsche Grammophon, reproduz um texto de Charles Kuralt para a CBS News que capta um pouco da atmosfera em torno do recital:

“Um simples pôster apareceu numa manhã de primavera na parede amarelo-pálido do Conservatório de Música de Moscou. Ele dizia que um recital de piano seria dado por “Vladimir Horowitz (USA). Apenas um pôster, mas que disparou uma descarga elétrica de surpresa e alegria pela capital soviética. Aqueles que viram o pôster, ou que ouviram dizer sobre ele, sabiam que era um concerto para ser lembrado eternamente. E foi. 

Ah, você tinha que ter estado lá! Mas como? Menos de 400 ingressos foram colocados à venda para o público, e uma longa fila de russos amantes da música passaram a noite toda em pé para conseguí-los assim que a bilheteria abrisse. O resto dos 1800 lugares da bela Grande Sala do Conservatório estavam reservados para funcionários do governo e membros de corpos diplomáticos.

Chovia quando chegou a hora do concerto. 20 de abril de 1984, 4 da tarde, hora de Moscou. Centenas de pessoas se aglomeraram sob guarda-chuvas na rua do lado de fora do auditório. Eles sabiam que não iam conseguir escutar uma única nota; queriam apenas poder dizer que estavam presentes nesse dia. (…)”

 

“Na tarde da sexta-feira que antecedeu o concerto, Horowitz veio até a sala para ensaiar, em frente a uma platéia lotada de estudantes e professores de música. Ele checou meticulosamente a luz e o posicionamento do piano no palco, e brincou um pouco com os fotógrafos. Então, sensível à expectativa dos estudantes, começou a tocar seriamente. Um silêncio profundo se instalou na sala. O ensaio então virou um concerto, prelúdio para o recital formal. Muitos estudantes fecharam os olhos para se concentrar no que estavam ouvindo. Um membro da entourage de Horowitz, radiante, disse que aquele ensaio foi uma das melhores performances do pianista que ele ouviu na vida, um presságio maravilhoso para o concerto de domingo, que seria televisionado para a Europa e os Estados Unidos. Os alunos aplaudiram Horowitz por longos minutos e o seguiram até o pátio do Conservatório, cercando seu carro em uma explosão de amor e admiração. Apesar dos esforços de um cordão policial, a limusine levou quase meia hora para andar os cerca de 15 metros até a rua. Mesmo após o carro ter escapado da multidão, os estudantes permaneceram ali em pequenos grupos, discutindo maravilhados o que haviam escutado.

Na tarde do concerto oficial, dois dias mais tarde, muitos daqueles estudantes voltaram querendo mais. Sem ingressos, eles burlaram a segurança disposta ao redor do prédio e conseguiram escapulir até as galerias superiores, no início do concerto. O barulho que você consegue escutar no início da primeira sonata de Scarlatti é o som da polícia soviética tentando, em vão, retirar os estudantes do terraço. Eles, no entanto, permaneceram firmes, a polícia recuou e o concerto prosseguiu — com um grande número de estudantes ‘bicões’ presentes.

Horowitz e a esposa Wanda dando uma conferidinha num manuscrito de um certo Piotr Ilitch Tchaikovsky

O repertório é uma daquelas maravilhosas viagens horowitzianas, prestando reverência a mestres que habitaram as máximas alturas da literatura pianística, com uma inevitável queda para aquele pedaço do planeta que o viu nascer: Scarlatti, Mozart, Rachmaninov, Scriabin, Liszt (incluindo um d’après Schubert), Chopin, Schumann e Moszkowski.

Senhoras e senhores, sem mais delongas, o histórico retorno de Vladimir Horowitz a Moscou, em 1986. Веселитесь!

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Horowitz in Moscow

Domenico Scarlatti (1685-1757)

1 – Sonata in E major, K. 380 (L. 23)

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)

Piano Sonata in C major, K. (330) (300 h)
2 – I. Allegro moderato
3 – II. Andante cantabile
4 – III. Allegreto

Sergei Rachmaninov (1873-1943)

5 – Prelude in G major, op. 32 nº 5
6 – Prelude in G sharp minor, op. 32 nº 12

Alexander Scriabin (1872-1915)

7 – Etude in C sharp minor, op. 2 nº 1
8 – Etude in D sharp minor, op. 8 nº 12

Franz Liszt (1811-1886)
d’après Franz Schubert (1797-1828)

9 – Soirées de Vienne – Valse-Caprice nº 6

Franz Liszt (1811-1886)

10 – Sonetto 104 del Petrarca

Frédéric Chopin (1810-1849)

11 – Mazurca in C sharp minor, op. 30 nº 4
12 – Mazurka in F minor, op. 7 nº 3

Robert Schumann (1810-1856)

13 – Träumerei (from Kinderszenen)

Moritz Moszkowski (1854-1925)

14 – Étincelles, op. 36 nº 6

Sergei Rachmaninov (1873-1943)

15 – Polka de W.R.

Vladimir Horowitz, piano
Gravado ao vivo na Grande Sala do Conservatório de Música de Moscou em 20 de abril de 1986.

PS: Você pode assistir ao concerto, com um filme mostrando os preparativos e o clima, aqui:

PPS: Você também pode ouvir uma digitalização de uma fita cassete mexicana do concerto aqui, uma daquelas coisas insólitas que só o Internet Archive faz por você.

Ganhando flores de ninguém menos que uma sobrinha-neta de Tchaikovsky

Karlheinz

Vários Compositores – FORGOTTEN DANCES – Alessio Bax (piano) ֎

Vários Compositores – FORGOTTEN DANCES – Alessio Bax (piano) ֎

DANÇAS

Bach • Bartók • de Falla 

Albeniz • Liszt • Ravel

Brahms

O que você faz naquele momento de grande atribulação? Como lidar com os dias nos quais seu coração se enche de dúvidas e angústias? Como beber daquele amargo copo? Hoje, eu danço…

Esse disco do pianista italiano Alessio Bax, radicado em Nova Iorque, oferece música que foi inspirada em danças. Dançar é uma das manifestações artísticas mais primitivas e definitivamente afeta a todos, mesmo aos mais desajeitados. Eu parafraseio o adágio antigo dizendo: quem dança, seus males espantam!

O disco começa com Suíte Inglesa No. 2 de Bach, que é uma sequência de danças: allemanda, courante, sarabanda, bourrées e gigue, precedidas por um dançante prelúdio. Um salto no tempo e no estilo nos leva à outra suíte de danças, agora composta por Bartók. O contraste não poderia ser mais forte. A modernidade da suíte de Bartók se deve muito à inspiração folclórica, de natureza mais primitiva do que as danças cortesãs de Bach.

Em seguida o mistério e a sensualidade das danças espanholas estão presentes em peças mais curtas, mas absolutamente características. Manuel de Falla e Isaac Albeniz são os culpados desses pequenos pecados em forma de música para dançar.

Valsas não poderiam faltar e Liszt, assim como o elegantíssimo Ravel proveem essa demanda. E para fechar o recital, duas pequenas e virtuosísticas peças: uma transcrição para piano de uma gavota de Bach, feita por Rachmaninov, e uma dança húngara, de Brahms, num arranjo de outro grande virtuose do piano, György Cziffra.

Você não precisa sair rodopiando ao ouvir o disco, mas se você nem batucar os dedos ou mexer com os pés, precisa rápida terapia de dança…

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

English Suite No. 2 in A minor, BWV807
  1. Prélude
  2. Allemande
  3. Courante
  4. Sarabande
  5. Bourrée I – VI. Bourrée II
  6. Gigue

Belá Bartók (1881-1945)

Tanz-Suite, Sz. 77, BB 86b (Version for Piano)
  1. Moderato
  2. Allegro molto
  3. Allegro vivace
  4. Molto tranquillo
  5. Comodo
  6. Finale. Allegro

Manuel de Falla (1876-1946)

El sombrero de tres picos: Danza del molinero (Farruca)
[Version for Piano, with introduction transcribed by Alessio Bax]
  1. Danza

Isaac Albéniz (1860–1909)

Tango (No. 2 from Espana, Op. 165)
  1. Danza

Manuel de Falla

El amor brujo: Danza ritual del fuego, para ahuyentar los malos espíritus
  1. Danza

Franz Liszt (1811-1886)

Valses oubliées, S. 215: No. 1
  1. Valse

Maurice Ravel (1875–1937)

La Valse
  1. Valse

Johann Sebastian Bach

Violin Partita No. 3 in E Major, BWV 1006 [Arr. Rachmaninov]
  1. Gavotte en rondeau

Johannes Brahms (1833–1897)

Hungarian Dance No. 6 in D flat major [Arr. György Cziffra]
  1. Tanz

Alessio Bax, piano

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MP3 | 320 KBPS | 150 MB

His ninth solo album on Signum Records, Alessio Bax combines exceptional lyricism and insight with consummate technique and is without a doubt “among the most remarkable young pianists now before the public” (Gramophone). Here he presents an album of works for dancing, including tangos and waltzes spanning three centuries. — [Página da gravadora]

How does Bax achieve such a powerful crescendo at the Bartók Dance Suite’s outset without the least banging …As for Falla’s Ritual Fire Dance, you rarely hear the music soar from the ground up, where booming bass lines ignite genuine right-hand fireworks: a wonderful performance. — [Gramophone Magazine, October 2024]

Aproveite!

René Denon

Outro álbum de danças bom demais…

Vários: Dances – Peças para Piano – Benjamin Grosvenor

Franz Liszt (1811-1886): Liszt Piano Recital (Leif Ove Andsnes)

Franz Liszt (1811-1886): Liszt Piano Recital (Leif Ove Andsnes)

Fiz tanta propaganda para o rapaz que nada mais justo que mostrar um pouco de seu talento neste cd excepcional, só com obras de Franz Liszt.

Ouvi este cd três vezes seguidas, e posso recomendá-lo sem pestanejar. Sei que alguns leitores consideram a obra de Lizst um monte de notas sem sentido, mas talvez ao ouvirem esta interpretação mudem de opinão.  Sim, concordo, é um virtuosismo exagerado o que se pede para interpretar estas obras, mas creio que Andsnes consegue demonstrar que por trás de tantas notas existe vida.  Sobre este cd, o editorial da amazon.com escreveu o seguinte:

“An index to the excellence of Leif Ove Andsnes’s Liszt recital is that he makes familiar works exciting and fresh-sounding and obscure ones persuasive and accessible. Andsnes turns the “Mephisto” Waltz No. 1 from a tired circus stunt into a tone poem daring in its effrontery and voluptuous in its lyricism. He plays the “Dante” Sonata without the usual penny-awful bludgeoning and sentimental blustering and lifts its treatment of love, chaos, and redemption to an exalted level. The infrequently performed “Andante lagrimoso” (No. 9 of the Harmonies poétiques et religieuses) is haunting in its unceasing alterations between pain and serenity. And in late works–such as the Second and Fourth “Mephisto” Waltzes and the “Valse oubliée” No. 4–the pianist shows us how far Liszt had traveled from romanticism toward both expressionism and impressionism, making us understand how these works lit the paths of composers as diverse as Debussy, Schoenberg, and Bartók. If you buy only one recording of Liszt’s piano music this year, make it this.

Confesso que não tenho muita familiaridade com a obra de Liszt, com excessão de seus concertos para piano, já postados aqui, e sua Sinfona “Fausto”, além, é claro, de suas rapsódias, e sempre me chamou a atenção sua capacidade de fazer espetáculo. Segundo seus biógrafos, Liszt seria um showman da época, e seu virtuosismo enquanto pianista se transmitiu à sua obra, de difícil execução para os solistas. O cd que ora posto tem momentos de puro virtuosismo, sim, mas ao mesmo tempo, graças a um excepcional intérprete, vemos que “the pianist shows us how far Liszt had traveled from romanticism toward both expressionism and impressionism, making us understand how these works lit the paths of composers as diverse as Debussy, Schoenberg, and Bartók, como bem exemplifica o editorial da amazon. Outro comentarista do mesmo site diz que nunca viu tanto vigor e paixão numa interpretação de uma obra de Liszt. E assino embaixo, ainda mais depois daquela excepcional performance que tive o raro prazer de presenciar semana passada.

Ah, e não se preocupem, a saga Gilels/Beethoven continua.

Franz Liszt  – Liszt Piano Recital – Leif Ove Andsnes

01. Apres une lecture du Dante (Années de pèlerinage, 2e année Italie)
02. Valse Oubliee No 4
03. Mephisto Waltz No 4
04. Die Zelle in Nonnenwerth Elegie Version 4
05. Ballade No 2
06. Mephisto Waltz No 2
07. Andante Lagrimoso (Harmonies Poe iques et Religieuses No 9)
08. Mephisto Waltz No 1 Der Tanz in der Dorfschenke

Leif Ove Andsdnes – Piano

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FDP

Franz Liszt (1811-1887): Concertos para Piano (Richter / Kondrashin)

Franz Liszt (1811-1887): Concertos para Piano (Richter / Kondrashin)

Por FDP Bach: Sviastoslav Richter foi um grande pianista, um dos grandes do século XX. Esta gravação dos concertos de Liszt é histórica, realizada ainda na década de 60, ao lado de outro grande russo, Kiril Kondrashin, que rege a Filarmônica de Londres. Creio que o grande trunfo da dupla Richter / Kondrashin nestas gravações é seu pleno controle da execução, de uma meticulosidade impressionante. Richter não se deixa envolver por demais com a estrutura romântica da obra, a interpreta com racionalidade, diferentemente de outros intérpretes, que resolvem se jogar de corpo e alma na execução. Espero que apreciem.

Por PQP Bach: Curta nota sobre a obra pianística de Liszt: Apesar do pouco sucesso de quase todas as suas obras orquestrais e corais, Liszt seguiu com coerência ferrenha, certo de que estava a produzir para o futuro. E ele realizou-se plenamente apenas na música para piano, seu instrumento. Ainda assim é bom não levar em conta grande parte dela. As variações e fantasias sobre melodias de óperas são medonhas, assim como as danças e as valsas da moda. São músicas de virtuosismo vazio, que apenas serviam como suporte para os concertos do super-astro do teclado que foi Liszt durante boa parte de sua vida. Porém, os dois Concertos para Piano, as peças poéticas Années de pèlerinage e as Harmonies poétiques et religieuses e, principalmente, a incontestabilíssima Sonata para Piano em Si Menor, são outra conversa.

Franz Liszt (1811-1887): Concertos para Piano (Richter / Kondrashin)

1. Piano Concerto No. 1 In E flat: 1. Allegro maestoso
2. Piano Concerto No. 1 In E flat: 2. Quasi adagio
3. Piano Concerto No. 1 In E flat: 3. Allegretto vivace – Allegro animato
4. Piano Concerto No. 1 In E flat: 4. Allegro marziale animato

5. Piano Concerto No. 2 In A: Adagio sostenuto assai – Allegro agitato assai
6. Piano Concerto No. 2 In A: Allegro moderato
7. Piano Concerto No. 2 In A: Allegro deciso – Marziale un poco meno allegro
8. Piano Concerto No. 2 In A: Allegro animato

Composed by Franz Liszt
Performed by London Symphony Orchestra with
Sviatoslav Teofilovich Richter
Conducted by Kiril Kondrashin

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Richter treinando levitação

FDP / PQP

Brahms / Liszt: Concertos para Piano Nº 1 (Lizzio * / Nanut / Goldmann / Tomsic)

Brahms / Liszt:  Concertos para Piano Nº 1 (Lizzio * / Nanut / Goldmann / Tomsic)

* Alberto Lizzio foi um pseudônimo inventado pelo produtor musical e maestro Alfred Scholz e associado a gravações antigas, muitas vezes dirigidas por Milan Horvat, Carl Melles ou pelo próprio Scholz. Essas gravações foram usadas para lançar gravações clássicas baratas para o mercado de massa ou para produção musical. Scholz escreveu uma biografia fictícia de Lizzio, alegando que ele nasceu em Merano , Tirol do Sul , em 30 de maio de 1926, estudou violino, composição e regência em Milão , Lombardia , e que sua segunda esposa, com quem teve um filho, morreu em 1980 em um acidente de carro em que Lizzio ficou gravemente ferido. A biografia fictícia termina com a sua morte em 22 de outubro de 1999, em Dresden.

Já Anton Nanut (13 de setembro de 1932 – 13 de janeiro de 2017) existiu de fato e foi um famoso maestro esloveno. De 1981 a 1999 atuou como maestro titular da Orquestra Sinfônica da RTV Eslovênia. Foi professor de regência na Academia de Música de Liubliana e líder artístico do Octeto Esloveno nos seus anos mais produtivos. Nanut colaborou com mais de 200 orquestras e fez mais de 200 gravações com diversas gravadoras. Sua gravação do Concerto de Brahms neste CD é fantástica! A pianista solista, a eslovena Dubravka Tomšič também existiu. Aliás, ainda está viva aos 84 anos e é realmente baita!

Brahms / Liszt: Concertos para Piano Nº 1 (Lizzio * / Nanut * / Goldmann / Tomsic)

Concerto For Piano No. 1 In D Minor Op. 15
Composed By – J. Brahms*
1 Maestoso 22:58
2 Adagio 13:12
3 Rondo: Allegro Ma Non Troppo 11:57

Concerto For Piano And Orchestra No. 1 In E Flat Major G124
Composed By – F. Liszt*
4 Allegro Maestoso 5:23
5 Quasi Adagio – Allegretto Vivace – Allegro Animato 9:11
6 Allegro Marziale Animato 4:05

Conductor – Alberto Lizzio (tracks: 4, 5, 6), Anton Nanut (tracks: 1, 2, 3)
Orchestra – Philharmonia Slavonica (tracks: 4, 5, 6), Simfonični Orkester RTV Ljubljana (tracks: 1, 2, 3)
Piano – Dieter Goldmann (tracks: 4, 5, 6), Dubravka Tomsic (tracks: 1, 2, 3)

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Dubravka Tomšič Srebotnjak, pianista eslovena | Foto: Tamino Petelinsek / STA

PQP

Henri Dutilleux (1916-2013): Sonata para piano, Prelúdios / Franz Liszt (1811 -1886): Angelus, Klavierstucke, Mephisto, Valse Oubliée, Nuages Gris (Jonas Vitaud, piano)

Estreada em 1948, a Sonata para piano de Dutilleux é uma das grandes obras do repertório pianístico do século XX. É claro que devemos desconfiar desse tipo de afirmação categórica, normalmente acompanhada de provas por A+B que não costumam provar grandes coisas. Mas ao menos é o que dizem meus ouvidos: Dutilleux transita com grande liberdade dentro das três formas escolhidas para os três movimentos. É verdade que Liszt argumentou: “vinho novo pede garrafas novas” e nesse aspecto foi seguido por Wagner, Schoenberg, Debussy, Messiaen e tantos outros. Mas Dutilleux já chega bem depois e faz parte daqueles que voltaram às formas antigas para, a partir delas, produzir novidades. No piano de meados do século XX, isso rendeu obras como as Sonatas para Piano de Prokofiev e os Prelúdios e Fugas de Shostakovich, além dessa Sonata de peso do francês Dutilleux.

O primeiro movimento é um legítimo Allegro de sonata, o segundo um lento Lied com explorações harmônicas tipicamente francesas – Gary Higginson escreveu que esta é uma sonata que Debussy poderia ter escrito – e o movimento final é um Chorale (no sentido das obras de Bach para órgão) com variações. Uma curiosidade: os títulos dos movimentos variam entre italiano, alemão e francês, o que poderia indicar uma inclinação cosmopolita de Dutilleux, lembrando que a sonata veio logo após o fim da 2ª Guerra.

No disco gravado pelo também francês Jonas Vitaud, a sonata – que ele estudou, quando jovem, com o próprio compositor – eclipsa as outras obras. Ainda assim, este é um bom álbum para quem quer ouvir os Três Prelúdios (1973–1988) de Dutilleux e as Nuvens cinzentas (Nuages Gris), obra madura de Liszt na qual ele flerta com a música atonal. Também a primeira obra do disco, “Angelus! Prece aos anjos da guarda”, tem uma grandiosa interpretação. Mas na Mephisto Valse e na Valse Oubliée de Liszt, ficou faltando para Vitaud um certo espírito faustiano que habita essas obras: o velho tema do pacto com o coisa-ruim. Para esse Liszt de uma certa malícia, melhor ouvir Horowitz, Novaes, Foldes ou Kissin. Aluno de Brigitte Engerer, Jonas Vitaud é mais polido, mais preocupado com os belos coloridos e ornamentos. No Dutilleux isso funciona perfeitamente.

Liszt, o prolífico, parece o oposto de Dutilleux, compositor de catálogo reduzido, homem discreto e reservado. Mas eu encontro pontos em comum mais profundos. Ambos tiveram uma longa carreira, e seu estilo mudou consideravalmente com o tempo. São músicos da síntese, que assimilaram diversas correntes na sua própria linguagem. Em vida, mostraram-se curiosos e altruistas com seus pares e com as novas gerações. Quanto a Dutilleux, tive a sorte de conhecê-lo em 2004 no festival de Cordes-sur-Ciel, e estudar com ele várias peças, incluindo suas Figuras de ressonância para dois pianos, com Bertrand Chamayou. (Jonas Vitaud, no encarte do álbum)

01 Liszt: Angelus ! Prière aux anges gardiens (extrait des Années de Pèlerinage III)
02 Dutilleux: Prélude n°1 : D’ombre et de silence
03 Liszt: Klavierstück, S192 n°3
04 Dutilleux: Prélude n°2 : Sur un même accord
05 Liszt: Valse oubliée n°1
06 Liszt: Nuages gris
07 Dutilleux: Prélude n°3 : Le jeu des contraires
08 Liszt: Méphisto-Valse n°1
09-11 Dutilleux: Sonate opus 1 (I. Allegro con moto, II. Lied, III. Choral et variations)
Jonas Vitaud, piano
Recorded: Abbaye-école de Sorrèze, France, oct. 2014

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320 kbps

Dutilleux on whether chance procedures have a place in music: ‘A very small one, yes – homeopathic maybe!’ (Citado na BBC Music Magazine, December 2022)

Pleyel

O Mestre Relembrado – Antonio Guedes Barbosa, 80 anos

Há oitenta anos, Antonio Guedes Barbosa nascia na capital da Paraíba. Sua trajetória, desde sua João Pessoa – lá na proa das Américas, onde o sol lhes nasce primeiro – até os mais míticos palcos do mundo, foi desgraçadamente interrompida pelo infarto que o tirou de nós e de sua arte antes que completasse cinquenta anos.

Além de queridas lembranças para quem o conheceu como familiar ou amigo, da gratidão de quem o teve como professor, e da impressão mais profunda em quem teve o privilégio de escutá-lo ao vivo, Antonio legou-nos um pequeno tesouro discográfico, que resgatamos lenta e devotamente ao longo da série de publicações que já lhe consagramos por aqui.

Quando a começamos, e nisso já se vão mais de oito anos, não o fizemos sem resmungos. O mestre pessoense do teclado, afinal, de interpretações tão lapidares e som granítico, parecia esquecido. Depois que lançamos a primeira publicação, os comentários que recebemos foram unânimes em apontar-lhe tanto a grandeza quanto o inexplicável oblívio – para espanto até de um certo rapaz nova-iorquino, de sobrenome Perahia, que, segundo consta, também toca direitinho o piano.

Desde então, felizmente, algo mudou. O mundo e o som, por óbvio, seguem tristes sem Antonio, assim como tristes seguimos nós a imaginar – porque isso é tudo o que podemos, infelizmente – as belezas tantas que ele teria cometido ao longo desses trinta anos. Entre um lamento e outro, no entanto, fomos trazendo sua discografia, que estava toda fora de catálogo, para o acervo deste blog, até que ela fosse quase (mais sobre esse “quase” logo adiante) toda resgatada e disponibilizada aqui – o que jamais teríamos conseguido sem a colaboração decisiva de alguns de seus fãs no Brasil e no exterior, que preferem permanecer anônimos, e a quem nunca conseguiremos ser gratos o bastante.

Melhor ainda: a família do Mestre confiou o acervo do artista ao Instituto Piano Brasileiro (ainda não apoia o IPB? Pois faça-o JÁ!), que o está digitalizando com o zelo customeiro para, sob a curadoria de seu diretor, Alexandre Dias, disponibilizá-lo para o público. Por ora, o mundo que tanto pranteia o Mestre já pode se assombrar com a playlist de gravações inéditas divulgadas pelo IPB, que prova que o repertório dele era ainda mais vasto e complexo do que já se sabia.

Para celebrar os oitenta anos de Antonio, rendo-lhe uma homenagem que corrige um lapso e alcança-lhes um presente.

O lapso que corrijo foi o de ter, presunçosamente, dado por completa a tarefa de publicar a discografia do Mestre. Tolinho que sou, chamei de epílogo o capítulo XIII da série, para só perceber que errara feio, que errara rude, e que faltara aquela sua gravação mais difícil de encontrar, cuja raridade só reflete o contexto invulgar, com toques de esdruxulidade, em que foi feita.

O invulgar? Reunirem-se num mesmo palco, em 1979, a Orquestra Sinfônica Brasileira, sob seu titular Isaac Karabtchevsky, e cinco dos maiores pianistas brasileiros – Antonio, Arthur Moreira Lima, Nelson Freire, João Carlos Martins e Jacques Klein -, e todos tocarem o raríssimo arranjo para seis pianos, provavelmente feito por Czerny, do Héxameron que Liszt compôs em colaboração com o restante do panteão pianístico parisiense de sua época.

O toque esdrúxulo? Que o sexto piano fosse tocado não por um concertista, e sim por Paulo Maluf, então governador de São Paulo, que, instigado por uma récita desse arranjo do Héxameron no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em novembro de 1979, resolveu organizar uma outra no Anhembi. E foi além, modificando o rol de solistas: substituiu Yara Bernette e Fernando Lopes, que tinham tocado no Rio, por seu amigo, o grande João Carlos Martins, e por ele próprio, tocando seus solos num arranjo em que as dificuldades pianísticas sobraram para Arthur Moreira Lima.

É ouvir para crer.

Franz LISZT (1811-1886)
Hexaméron, Morceau de concert,
 sobre a Marcha de “I Puritani” de Bellini, S. 392
composto em colaboração com Sigismond THALBERG (1812-1871),  Johann Peter PIXIS (1788-1874), Heinrich HERZ (1803-1888), Carl CZERNY (1791-1857) e Fryderyk CHOPIN (1810-1849)

1 – Introduction: Extremement lent (Liszt)
2 – Tema: Allegro marziale (transcrito por Liszt)
3 – Variation I: Ben marcato (Thalberg)
4 – Variation II: Moderato (Liszt)
5 – Variation III: di bravura (Pixis)
6 – Ritornello (Liszt)
7 – Variation IV: Legato e grazioso (Herz)
8 – Variation V: Vivo e brillante (Czerny)
9 – Fuocoso molto energico; Lento quasi recitativo (Liszt)
10 – Variation VI: Largo (Chopin)
11 – Coda (Liszt)
12 – Finale: Molto vivace quasi prestissimo (Liszt)

Antonio Guedes Barbosa (2, 3, 12), Arthur Moreira Lima (1, 2, 4, 9, 10, 11, 12), , Jacques Klein (2, 8, 12), João Carlos Martins (2, 5, 12), Nelson Freire (2, 7, 12), Paulo Salim Maluf (2, 10, 12), pianos
Orquestra Sinfônica Brasileira
Isaac Karatchevsky,
regência

Gravado no Palácio das Convenções do Anhembi (SP) em 15 de dezembro de 1979.

Nota: A identificação das partes correspondentes a cada pianista baseou-se na publicação desta gravação pelo Instituto Piano Brasileiro, cujo primoroso trabalho de pesquisa, curadoria e divulgação capitaneado pelo incansável Alexandre Dias cada um de nós deveria apoiar.

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (MP3)

Encontre o estranho no ninho (e, sim, erraram o nome de Antonio)

Por fim, o presente.

Numa discografia tão pequena, inda que fabulosa, como a de Antonio, chama atenção que ele nos tenha legado duas integrais das mazurcas de Chopin. Suas leituras delas são realmente impressionantes e demonstram sua maestria sobre as complexidades rítmicas dessa aparentemente ingênua dança polonesa, uma Costa dos Esqueletos musical em que já naufragaram tantos virtuoses.

Esqueçam, no entanto, minha desimportante opinião, e atentem para as desses dois rapazes:

Estimado Sr. Rodrigues [Presidente da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro],
Escrevo-lhe com o propósito de comunicar-lhe direta e pessoalmente minha opinião, reiterada publicamente várias vezes, sobre Antonio Barbosa, a quem considero entre os cinco maiores pianistas de sua geração.
Seria muito conveniente e necessário que as autoridades e instituições oficiais do Brasil dessem toda sua a ajuda a este extraordinário artista – do qual seu país natal pode sentir-se legitimamente orgulhoso -, contribuindo assim para impulsionar sua carreira num nível internacional.

Cordialmente,

Claudio Arrau

 


A quem possa interessar: ouvi pessoalmente Antonio Barbosa tocar as mazurcas de Chopin, e gostei muito mesmo de sua interpretação.

Sinto que sua interpretação dessas peças merece uma grande gravação.

Sinceramente,
Vladimir Horowitz


Alguém resolveu lhes dar ouvidos, e, para nossa alegria, a primeira gravação de Antonio a tocar as mazurcas aconteceria naquele mesmo 1983 em que o tal Arrau se manifestou. A alegria, no entanto, teve algo de agridoce, dada a distribuição muito limitada do álbum triplo, do qual restam alguns poucos exemplares, quase invariavelmente muito deteriorados. Hoje, quarenta anos depois de seu lançamento, temos o prazer de devolver à alegria sua plena doçura, compartilhando uma restauração primorosa da gravação do Mestre, a quem homenageamos com admiração e saudades imorredouras nos oitenta anos de seu nascimento.


Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)

AS 51 MAZURCAS

LP 1

Quatro Mazurcas para piano, Op. 6
1 – No. 1 em Fá sustenido menor
2 – No. 2 em Dó sustenido menor
3 – No. 3 em Mi maior
4 –  No. 4 em Mi bemol menor

Cinco Mazurcas para piano, Op. 7
5 – No. 1 em Si maior
6 – No. 2 em Lá menor
7 – No. 3 em Fá menor
8 – No. 4 em Lá bemol maior
9 – No. 5 em Dó Maior

Quatro Mazurcas para piano, Op. 17
10 – No. 1 em Si maior
11 – No. 2 em Mi menor
12 – No. 3 em Lá bemol maior
13 – No. 4 em Lá menor

Quatro Mazurcas para piano, Op. 24
14 – No. 1 em Sol menor
15 – No. 2 em Dó maior
16 – No. 3 em Lá bemol maior
17 – No. 4 em Si bemol menor

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LP 2

Quatro Mazurcas para piano, Op. 30
1 – No. 1 em Dó menor
2 – No. 2 em Si menor
3 – No. 3 em Ré bemol maior
4 – No. 4 em Dó sustenido menor

Quatro Mazurcas para piano, Op. 33
5 – No. 1 em Sol sustenido menor
6 – No. 2 em Dó maior
7 – No. 3 em Ré maior
8 – No. 4 em Si menor

Quatro Mazurcas para piano, Op. 41
9 – No. 1 em Mi menor
10 – No. 2 em Si maior
11 – No. 3 em Lá bemol maior
12 – No. 4 em Dó sustenido menor

Três  Mazurcas para piano, Op. 50
13 – No. 1 em Sol maior
14 – No. 2 em Lá bemol maior
15 – No. 3 em Sol sustenido menor

Das Três Mazurcas para piano, Op. 56
16 – No. 1 em Si maior

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LP 3

Das Três Mazurcas para piano, Op. 56
1 – No. 2 em Dó maior
2 – No. 3 em Dó menor

Três Mazurcas para piano, Op. 59
3 – No. 1 em Lá menor
4 – No. 2 em Lá bemol maior
5 – No. 3 em Fá sustenido menor
Três Mazurcas para piano, Op. 63
6 – No. 1 em Si maior
7– No. 2 em Fá menor
8 – No. 3 em Dó sustenido menor

9 – Mazurca em Lá menor, Op. póstumo
10 – Mazurca em Lá menor, ‘Notre Temps’

Quatro Mazurcas para piano, Op. 67
11 – No. 1 em Sol maior
12 – No. 2 em Sol menor
13 – No. 3 em Dó maior
14 – No. 4 em Lá menor

Quatro Mazurcas para piano, Op. 68
15 – No. 1 em Dó maior
16 – No. 2 em Lá menor
17– No. 3 em Fá maior
18 – No. 4 em Fá maior

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Antonio Guedes Barbosa, piano
Gravações feitas no Estúdio Intersom (São Paulo), em 1983
LPs distribuídos em 1983, em circulação limitada, pela Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

Todas as imagens usadas nesta publicação provêm do acervo do artista, doado por sua família ao Instituto Piano Brasileiro, que gentilmente autorizou sua divulgação.


Antes que nos chamem de mentirosos, assumimos que a discografia de Antonio ainda não está completa aqui no PQP Bach: pelos motivos aqui expostos, esta segunda de suas duas leituras das Bachianas Brasileiras n° 4 de Villa-Lobos só pode ser ouvida em outros sítios, como o acima. Mas não desistiremos – voltaremos ao assunto em 2030 [gargalhada insana]

 

Ao Mestre, com carinho

Vassily

Stravinsky / Chopin / Beethoven / Webern / Liszt / Debussy / Mozart / Bach: The Art of Maurizio Pollini

Stravinsky / Chopin / Beethoven / Webern / Liszt / Debussy / Mozart / Bach: The Art of Maurizio Pollini

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Quando Maurizio Pollini completou 70 anos, a DG fez-lhe esta homenagem em 3 CDs. A boa curiosidade que são seleções pessoais do pianista de suas gravações para a Deutsche Grammophon: de Petrushka de Stravinsky e Estudos de Chopin a concertos de Beethoven e Mozart. Também inclui sua primeira e rara gravação de sua premiada performance do Primeiro Concerto para Piano de Chopin em Varsóvia, em 1960. Ganhei este álbum de alguém — desculpe, esqueci de quem. Os 3 CDs vêm acoplados num um livro de capa dura colorido de 120 páginas, com muitas fotos e a discografia completa de Pollini na DG. Para um fã do pianista, imperdível é pouco.

Aliás, em junho deste ano, o grande pianista nos deu um belo susto. Aos 81 anos, ele esqueceu da obra que estava tocando e se atrapalhou totalmente. Pior, passou a tocar uma que viria depois e passou longe de seus habituais e altíssimos padrões de interpretação. Tudo aconteceu no imenso Royal Festival Hall, do Southbank Center, local onde vi Pollini tocar esplendidamente em fevereiro de 2014. A primeira peça do programa, o Arabesque de Schumann, foi interpretada lindamente de memória, mas em seguida, em vez da anunciada Fantasia de Schumann, ele começou uma Mazurka de Chopin, que deveria vir no segundo bloco. Ele pareceu se perder (ou possivelmente lembrou de que estava na peça errada) e de repente parou e saiu do palco por alguns minutos. Voltou com uma partitura da Fantasia de Schumann e começou a tocá-la, mas continuou folheando as páginas aparentemente ao acaso. Algumas das páginas estavam soltas e foram parar no chão, então ele caiu em verdadeira confusão, muitas vezes parando e arruinando qualquer senso de fluxo da música. Deve ter sido muito triste de assistir. Pollini sempre foi perfeito, imaculado, dando grande sentido a cada nota. Na segunda metade, um vira-páginas esteve presente e a execução foi muito mais parecida com o que temos experimentado com ele nos últimos anos. Foi certamente uma bela execução, mas também com algumas notas erradas e passagens confusas. Ele toca há décadas de memória, sempre. É claro que ele foi aplaudido de pé, mas nenhum bis foi oferecido. A experiência deve tê-lo abalado.

Para tirar o gosto amargo do parágrafo acima, coloco aqui o texto que publiquei em meu perfil do Facebook logo após ver Pollini p0wela primeira vez ao vivo em 18 de fevereiro de 2014:

“Hoje foi um dia especialíssimo e irrepetível — quem sabe? — em Londres. Eu e Elena assistimos ao concerto de Maurizio Pollini no Royal Festival Hall, sala principal do Southbank Center. O programa era vasto, mas centrado em peças de Chopin e Debussy. Ele tocou o primeiro livro dos prelúdios do francês e peças esparsas do primeiro. O concerto foi dedicado por Pollini à memória de Claudio Abbado. Talvez isso explique a recolocação no programa da Sonata nº 2 para piano, Op. 35, cujo terceiro movimento é a célebre Marcha Fúnebre. Tudo isso contribuiu para que a eletricidade estivesse no ar. Mas talvez o melhor seja passar a palavra para a Elena, que não tinha tido ainda muito contato com Pollini, enquanto que eu o conheço desde os anos 70, chamo-o de deus no PQP Bach e considero-o um dos maiores artistas vivos de nosso planeta, tão vulgar. No intervalo, após uma série de Chopins, a Elena já me dizia: “Ele tem altíssima cultura musical e concisão. Enquanto o ouvia, pensava em diversas formas de reciclagem: ecológica, emocional, psíquica… Sua interpretação é a de um asceta que pode tudo, mas demonstra humildade e grandeza em trabalhar apenas para a música. Pollini não fica jogando rubatos e efeitos fáceis para o próprio brilho, mas me fez rezar e chorar. Que humanidade, que sabedoria! Depois desse concerto, minha vida não será a mesma”. Foi a primeira vez que vi Pollini em ação, após ouvir dúzias de seus discos. Acho que não vou esquecer da emoção puramente musical — pois ela existe, como não? — de ouvir meu pianista predileto. Para Pollini ser absolutamente fabuloso, só falta o que não quero que aconteça e que já ocorreu com Abbado.

Stravinsky / Chopin / Beethoven / Webern / Liszt / Debussy / Mozart / Bach: The Art of Maurizio Pollini

Three Movements From Petrushka
Composed By – Igor Stravinsky
1-1 Danse Russe: Allegro Giusto 2:32
1-2 Chez Petrouchka 4:18
1-3 Le Semaine Grasse: Con Moto – Allegretto – Tempo Giusto – Agitato 8:28

12 Etudes, Op.25
Composed By – Frédéric Chopin
1-4 No: 1 In A Flat Major: Allegro Sostenuto 2:13
1-5 No: 2 In F Minor: Presto 1:27
1-6 No: 3 In F Major: Allegro 1:53
1-7 No: 4 In A Minor: Agitato 1:41
1-8 No: 5 In E Minor: Vivace 2:56
1-9 No: 6 In G Sharp Minor: Allegro 2:04
1-10 No: 7 In C Sharp Minor: Lento 4:52
1-11 No: 8 In D Flat Major: Vivace 1:04
1-12 No: 9 In G Flat Major: Allegro Assai 0:57
1-13 No: 10 In B Minor: Allegro Con Fuoco 3:58
1-14 No: 11 In A Minor: Lento – Allegro Con Brio 3:32
1-15 No: 12 In C Minor: Molto Allegro, Con Fuoco 2:31

Piano Sonata No: 32 In C Minor, Op.111
Composed By – Ludwig van Beethoven
1-16 Maestoso – Allegro Con Brio Ed Appassionato 8:47
1-17 Arietta: Adagio Molto Semplice E Cantabile 17:22

Variations For Piano, Op.27
Composed By – Anton Webern
1-18 Sehr Maassig 1:53
1-19 Sehr Schnell 0:40
1-20 Ruhig Fliessend 3:26

2-1 Polonaise In F Sharp Minor, Op.44 – Tempo Di Polacca-Doppio Movimento, Tempo Di Mazurka-Tempo I
Composed By – Frédéric Chopin
10:51
2-2 Polonaise In A Flat Major, Op.53 “Heroic” – Maestoso
Composed By – Frédéric Chopin
7:02

Piano Concerto No: 5 In E Flat Major, Op. 73 “Emperor”
Composed By – Ludwig van Beethoven
Conductor – Karl Böhm
Orchestra – Wiener Philharmoniker
2-3 Allegro 20:28
2-4 Adagio Un Poco Mosso – Attaca 8:02
2-5 Rondo: Allegro 10:15

2-6 La Lugubre Gondola I, S200 No: 1
Composed By – Franz Liszt
4:04
2-7 R.W. – Venezia, S201
Composed By – Franz Liszt
3:45

Preludes, Book 1
Composed By – Claude Debussy
2-8 VI: Des Pas Sur La Neige. Triste Et Lent. 3:45
2-9 Vii: Ce Qu’A Vu Le Vent D’Ouest. Anime Et Tumultueux. 3:06
2-10 X: La Cathedrale Engloutie Profondement Calme 6:10

Piano Concerto No: 24 In C Minor, K. 491
Cadenza – Salvatore Sciarrino
Composed By – Wolfgang Amadeus Mozart
Leader – Maurizio Pollini
Orchestra – Wiener Philharmoniker
3-1 Allegro 12:33
3-2 Larghetto 8:12
3-3 Allegretto 9:23

The Well-Tempered Clavier, Book 1 – “Prelude And Fugue In C Sharp Minor”, Bwv 849
Composed By – Johann Sebastian Bach
3-4 Praeludium IV 2:43
3-5 Fuga IV 4:48

The Well-Tempered Clavier, Book 1 – “Prelude And Fugue In G Major”, Bwv 860
Composed By – Johann Sebastian Bach
3-6 Praeludium XV 0:57
3-7 Fuga XV 2:52

Piano Concerto No: 1 In E Minor, Op. 11
Composed By – Frédéric Chopin
Conductor – Jerzy Katlewicz
Orchestra – Warsaw Philharmonic Orchestra*
3-8 Allegro Maestoso 16:10
3-9 Romance: Larghetto 9:44
3-10 Rondo: Vivace 9:32

Conductor – Jerzy Katlewicz (faixas: CD 3 (8 to 10)), Karl Böhm (faixas: CD 2 (3 to 5))
Orchestra – Warsaw Philharmonic Orchestra* (faixas: CD 3 (8 to 10)), Wiener Philharmoniker (faixas: CD 2 (3 to 5); CD 3 (1 to 3))
Piano – Maurizio Pollini (faixas: All Tracks)

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Foto de PQP Bach no citado recital.

PQP

Klára Würtz Plays Romantic Piano Music – Romantischer Klavierabend ֎

 

Música Romântica

Para Piano

Klára Würtz

 

 

Recebi uma pasta musical que prometia – Concerto para Piano No. 2 de Brahms mais as Quatro Peças para Piano, op. 119 – um total de oito arquivos na pasta, um disco virtual com oito faixas, quatro do concerto e as outras quatro, das lindas peças. O selo holandês Brillant não é assim, uma Brastemp, mas traz ótimas gravações e oferece muitas outras possibilidades além do que costuma ser gravado de novo e de novo. A pianista Karin Lechner pode não ser muito conhecida, mas foi protegida de Martha Argerich e isso não costuma acontecer por nada.  A expectativa pelo disco era alta, mas ao colocar para tocar a música que surgiu foi bem outra. Escondidas atrás das informações sobre a música de Brahms estava um recital para piano, música do período romântico. Pois a deliciosa dúvida imediatamente se pôs – o que e quem estaria tocando? Até parecia um desafio do PQP Bach.

As quatro primeiras faixas eram familiares, melodias bem conhecidas, mas eu não conseguia exatamente descobrir o que estava tocando. Depois de uma segunda audição, algumas cascatas de notas começaram a se revelar. Busquei a confirmação comparando com arquivos do meu acervo (atividade bem divertida) e assim surgiu o primeiro nome – Gnomenreigen, de Liszt. Eu confesso não ter muita paciência com Liszt, mas não faz muito tempo postei dois discos de Murray Perahia e lá estava a confirmação. Daí para descobrir que a faixa quatro era a Valsa Mefisto foi um pulo, pois ela também estava num disco que havia ouvido há pouco, um disco com valsas gravado pelo pianista Vassilis Varvareso. A terceira faixa foi a que mais me iludiu. Eu achava que poderia ser um noturno de Chopin, mas não conseguia nenhuma coincidência. Fui para outra parte do disco e duas faixas descobri de cara. Schubert, Impromptu, só faltou verificar qual deles. O disco mais a mão era uma gravação de Marc-André Hamelin. Logo em seguida a faixa oito, a Primeira Balada de Chopin, linda, como interpretada por Nobuyuki Tsujii. Fui dormir com o placar empatado, quatro a quatro. No outro dia, cedo, outra faixa logo se revelou, Arabesco de Schumann, como não percebi antes? Lá estava a prova, no disco do Fabrizio Chiovetta. Mas essas vitórias empalideciam quando eu pensava na terceira faixa, tão perto, mas tão distante. Dei tratos à bola, mas nada… Neste ponto me ocorreu algo, e você pode até dizer que foi golpe baixo, mas a curiosidade me aguçava e então, apelei: Google Search – Pesquisar uma música – e a peça revelou-se o Sonho de Amor, de Liszt. Como não pude ver antes? Como dizem os gringos, I was barking to the wrong tree, pensando que pudesse ser algo de Chopin. Aí o recital se revelou por inteiro. A primeira peça, o outro estudo de Liszt, também gravado pelo Perahia, Ruídos da Floresta, e a quinta faixa, outra famosíssima, Les Jeux d’eau à la Villa D’Este, que tenho tocada pelos dedos de outro grande pianista, Pierre-Laurent Aimard. De posse do programa, faltava descobrir o pianista, mas com a lista dos nomes das peças, não foi difícil localizar. O Google logo deu o serviço, a pianista é a ótima Klára Würtz, que já teve discos aqui por mim postados, num disco do mesmo selo Brillant, com o sugestivo nome ‘Música Romântica para Piano’. O tal disco da Klára tem, na verdade, mais duas faixas, outra de Chopin, a lindíssima Barcarolle, e uma peça virtuosística de Debussy, L’isle joyeuse. Eu já havia montado um disco paralelo com as peças interpretadas pelos outros pianistas, que havia usado como referência para confirmar as peças do disco misterioso. Gostei tanto da atividade que resolvi postar assim, o romântico recital de Klára Würtz e depois, tudo de novo, com os outros intérpretes. Fica com você ouvir tudo e depois me contar do que gostou mais…

Franz Liszt (1811 – 1886)

  1. Estudo de Concerto No. 1 – Waldesrauschen
  2. Estudo de Concerto No. 2 – Gnomenreigen
  3. Liebestraume, S. 541 / R. 211
  4. Valsa Mefisto No. 1
  5. Années de pèlerinage, Livro 3, S. 163 – No. 4, Les jeux d’eau a la Villa d’Este

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Impromptu, D935, No. 3 em si bemol maior

Robert Schumann (1810 – 1856)

  1. Arabeske em dó maior, Op. 18

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

  1. Ballade No. 1 em sol menor, Op. 23
  2. Barcarolle em fá sustendo maior, Op. 60

Claude Debussy (1862 – 1918)

  1. L’isle joyeuse

Klára Würtz, piano

Klara Würtz

Disco Paralelo

Franz Liszt (1811 – 1886)

  1. Estudo de Concerto No. 1 – Waldesrauschen
  2. Estudo de Concerto No. 2 – Gnomenreigen

Murray Perahia, piano

  1. Liebestraume, S. 541 / R. 211

Nobuyuki Tsujii, piano

  1. Valsa Mefisto No. 1

Vassilis Varvareso, piano

  1. Années de pèlerinage, Livro 3, S. 163 – No. 4, Les jeux d’eau a la Villa d’Este

Pierre-Laurent Aimard, piano

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Impromptu, D935, No. 3 em si bemol maior

Marc-André Hamelin, piano

Robert Schumann (1810 – 1856)

  1. Arabeske em dó maior, Op. 18

Fabrizio Chiovetta, piano

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

  1. Ballade No. 1 em sol menor, Op. 23

Nobuyuki Tsujii, piano

  1. Barcarolle em fá sustendo maior, Op. 60

Dong-Hyek Lim, piano

Claude Debussy (1862 – 1918)

  1. L’isle joyeuse

Van Cliburn, piano

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MP3 | 320 KBPS | 181 MB

 

 

 

 

 

 

 

 

 

When chosen Gramophone’s Pick of the Month (May 2022), the review sums up: “Würtz’s performances have disarming freshness which throws our listening emphases away from her and back on to the music.” The Hungarian-born pianist Klára Würtz is based in The Netherlands and is best known for her numerous recordings on Brilliant Classics.

Aproveite!

René Denon

Concurso Tchaikovsky 1962 – O Empate: Vladimir Ashkenazy & John Ogdon

Concurso Tchaikovsky 1962 – O Empate: Vladimir Ashkenazy & John Ogdon

O mundo da música clássica tem uma paixão quase esportiva por concursos, já há muitas e muitas décadas. Jovens músicos foram alçados ao estrelato e carreiras foram feitas a partir de premiações em competições internacionais. Em meio a essa mitologia, um dos mais tradicionais e prestigiosos quando se trata de pianistas é o Concurso Internacional Tchaikovsky, que acontece a cada quatro anos em Moscou e São Petersburgo desde 1958. Depois meses antes de Bellini se tornar o primeiro brasileiro a erguer a Jules Rimet, Van Cliburn arrebatou o prêmio em Moscou, aos 23 anos.

Ao centro, a partir da esquerda: Ashkenazy, o premiê soviético Nikita Kruschov e Ogdon

A edição seguinte, em 1962, ficou marcada por um empate entre dois jovens, futuros titãs, mas que já experimentavam ali algum sucesso internacional: o russo Vladimir Ashkenazy, 24 anos, e o inglês John Ogdon, 25. O júri tinha gente do mais alto calibre: além do presidente Emil Gilels, estavam nomes como Nadia Boulanger, Lev Oborin, Yakov Flier e a nossa dame Magdalena Tagliaferro. A Guerra Fria estava, como dizem os jovens hoje em dia, torando – o episódio que ficou conhecido como Crise dos Mísseis, em que o planeta quase foi pro beleléu, estava logo ali na esquina: aconteceu em outubro daquele ano.

Nadia Boulanger e Emil Gilels julgando pacas

Este disco traz as gravações das finais do concurso. Ashkenazy interpreta duas peças do padroeiro do concurso, ele mesmo, Piotr Ilyich Tchaikovsky: o Concerto para Piano nº 1, em si bemol menor, op. 23Dumkaop. 59. Já Ogdon optou por duas peças do húngaro Franz Liszt: O Concerto para Piano nº 1, em mi bemol maior, e a Valsa Mefisto nº 1.

O encarte do disco traz um interessante relato de Ashkenazy, pinçado de sua autobiografia Beyond Frontiers, de 1984, escrita em parceria com o tycoon de agenciamento de artistas eruditos Jasper Parrott:

       “Eu disse [ao Ministro da Cultura] que não queria participar, sobretudo porque não era o meu tipo de música. Eles responderam: ‘Como assim? Como você pode dizer que Tchaikovsky, nosso grande compositor russo, não é o seu tipo de música?’ Então, no fim, eu tive que engolir minhas palavras – simplesmente não havia maneiras de fazê-los entender que um artista pode ser mais adequado para tocar, digamos, Beethoven que Tchaikovsky…

       De todo modo, eu ainda era muito jovem e acostumado a aceitar que na União Soviética você não resiste por muito tempo à pressão que vem de cima se você não quer a sua vida arruinada das mais diferentes formas. Por fim, como esperava-se tanto de mim, foi difícil não aceitar o desafio: ainda que não fosse a competição certa para que eu mostrasse o meu melhor trabalho.

       Mas, ainda que eu não tenha gostado da competição por causa de todas as pressões artificiais e musicais, assim que eu ouvi a maioria dos outros competidores eu realmente senti que tinha mais a dizer. Mas ganhar o primeiro prêmio era outra história. Até porque, no fim, ganhar depende muito de como você toca naquele dia em particular, e com toda a atenção voltada para o concerto em si bemol menor de Tchaikovsky na rodada final, o resultado era especialmente incerto. Para tocar toda aquela bravura, que eu na verdade detestava, você tem que crer de forma apaixonada além de ter o ‘equipamento’. E aquele tipo de tocar oitavado realmente não era o meu negócio – aquilo era pra John Ogdon, Van Cliburn e Horowitz.”

Ogdon realmente esmirilhava nas oitavas, mas era muito mais do que isso: foi um estupendo intérprete de Liszt, e esse disco mostra o brilho incandescente e vigoroso de seu pianismo. Também gravou alguns compositores menos óbvios, como Carl Nielsen e Charles-Valentin Alkan. Discípulo de Egon Petri, Ogdon teve sua carreira e sua vida tragicamente abreviados por uma esquizofrenia aguda, vindo a falecer precocemente em 1989, aos 51 anos.

Senhoras e senhores, sem mais delongas, apertem os cintos, pois vamos voar para Moscou, 1962. счастливого пути!

ps: Se alguém quiser brincar de jurado, a caixa de comentários está aberta e pitacos são muito bem vindos. Quem você premiaria?


1962 International Tchaikovsky Competition – The Draw

Piotr Ilyich Tchaikovsky (1840-93)

Concerto para Piano nº 1, op. 23, em si bemol menor
1. Allegro non troppo e molto maestoso; Allegro con spirito
2. Andantino semplice; Prestissimo
3. Allegro con fuoco

4. Dumka, op. 59 (“Scene from Russian country life”)

Vladimir Ashkenazy, piano
Orquestra Sinfônica Estatal da URSS
Konstantin Ivanov, regência

Franz Liszt (1811-86)

Concerto para Piano nº 1, em mi bemol maior
5. Allegro maestoso
6. Quasi adagio
7. Scherzo
8. Finale: Allegro marciale animato

9. Valsa Mefisto nº 1 (“A dança na estalagem”)

John Ogdon, piano
Orquestra Sinfônica Estatal da URSS
Victor Dubrovsky, regência

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Karlheinz

Cécile Ousset, piano – Liszt: Sonata em si menor e “Études d’exécution transcendante d’après Paganini” / Ravel: “Concerto em Sol”, “Concerto para mão Esquerda” e obras para piano solo.

Cécile Ousset, piano – Liszt: Sonata em si menor e “Études d’exécution transcendante d’après Paganini” / Ravel: “Concerto em Sol”, “Concerto para mão Esquerda” e obras para piano solo.
Cécile Ousset, pianista francesa, nascida em Tarbes, França, 1936.

Cécile Ousset é destas pianistas com imensa verve e domínio técnico. De forma generosa e incansável, ao longo da carreira, entregou-se ao lapidar da interpretação – às novas percepções e possibilidades… E o fez com cuidados de ourivesaria, tanto no repertório solo, quanto nas sonoridades massivas e grandiloquência dos concertos com orquestra…

Neste sentido, as bases da “escola russa”, realizada com Marcel Ciampi, final dos anos 40, em Paris, lhe proporcionaram vigor e aguçado controle técnico. De resto, personalidade e sensibilidade se agregaram à paixão e originalidade…

E no “concurso Queen Elizabeth”, 1956, vencido por Vladimir Ashkenazy, a pianista francesa, então com 20 anos, obteve 4° lugar, quem sabe, posição desconfortável para quem almejasse carreira internacional. Mas, se pensarmos que Lazar Berman e Tamas Vasary ficaram em 5ª e 6ª colocações, temos ideia do nível da competição e dimensão da jovem musicista…

Prodígio musical, Cécile Ousset ingressou no “Conservatório de Paris”, aos 10 anos, e estudou com Marcel Ciampi, que havia orientado Hephzibah e Yaltah Menuhin… E da pedagogia de Ciampi, dizia: “baseada na ‘escola russa’, não na francesa, o método era modelado em Anton Rubinstein, com ênfase em dedos fortes e ombros livres, para garantir precisão e ‘peso de braço’… Quando Ciampi percebeu meus dedos curvados, no clássico estilo francês, ficou horrorizado”. E mudou tudo…

Arthur Rubinstein, pianista polonês (1887-1982)

A estreia profissional ocorreu na “salle Gaveau”, Paris, organizada por Arthur Rubinstein, ninguém menos, impressionado com a musicalidade e potencial da pianista. Membro do júri, no concurso “Marguerite Long – Jacques Thibaud”, de 1953, o polonês ficou descontente com o 4° lugar obtido por Cécile Ousset, então, com 17 anos… E, neste caso, opinião de Rubinstein foi premiação maior que qualquer classificação…

Finalmente, Cécile Ousset obteve 2° lugar no concurso “Busoni”, 1959, sem vencedor em 1° lugar… E ainda perseguida pelo número quatro, outra 4ª colocação, no concurso “van Cliburn”, 1962 – mas, sempre entre primeiros colocados… Tais competições eram e continuam sendo vitrines a projetar solistas e dar início à carreiras internacionais…

A projeção artística de Cécile foi gradual. E a partir dos anos 80, após substituir Martha Argerich no “Festival de Edimburgo”, Escócia, os convites aumentaram consideravelmente… Também, suas gravações ofereciam conjunto soberbo, onde destacavam-se autores românticos e repertório francês…

Cécile Ousset, notável pianista, especialmente, no repertório romântico e francês.

Entre público e crítica, em geral, há controvérsias e diversidade de opiniões… Mas, Cécile Ousset convida e conduz o ouvinte; seduz através do fraseado e das sonoridades; e com toque intenso, busca densidade e encantamento. Os registros de “Alborada del Gracioso” ou “Une barque sur l’océan”, de Ravel, são preciosos… E sua discografia oferece beleza e prazer. “The Musical Times” referiu-se como “pianista estimulante, pela robusta sonoridade e virtuosismo incontestável”, mas que ia além, “ao buscar clareza e colorido”…

Se pensarmos que sensorialidade e emotividade controlam o toque… E que, passo a passo, se descortinam efeitos sonoros e expressivos, que resultarão na concepção musical e poética… Então, imagine-se os desafios e possibilidades interpretativas de grandes obras musicais…

“Entre os mais notáveis pianistas da atualidade” – “Financial Times”.

Assim, o pianismo de Ousset é um mundo sonoro a descobrir e encantar-se. E não por acaso, trabalhou com regentes do porte de Simon Rattle – a quem profetizou “brilhante carreira”, em 1985; além de Ghünther Herbig, Rudolf Barshai e Neville Marriner… E com Kurt Masur e a “Gewandhausorchester”, de Leipzig, obteve “Gran prix du Disque” da “Académie Charles Cros”, de Paris, com “2° concerto para Piano”, de Brahms…

Precisão e originalidade emergem de obras amplamente conhecidas e com renovado interesse, como “La campanella”, de Liszt; ou “Impromptu” op. 31 n°2, de Fauré. Mas, sobretudo, em obras de fôlego e alto romantismo, como a “Sonata em si menor”, de Liszt; “2ª Ballada” e sonata “Marcha fúnebre”, de Chopin; ou nas desafiantes “Variações s/ tema de Paganini”, de Brahms, revela-se a intérprete madura e soberana…

Capítulo especial ocupa a música francesa, em gravações integrais de Debussy e Ravel… Na imensa riqueza harmônica e variedades de cores e nuances, de “Ce qu’a vu le vent d’ouest”, “Poisson d’or” e “Feux d’Artifice”, de Debussy; ou de “Jeux d’eau”, “Le tombeau de Couperin” e “Valses nobles et sentimentales”, de Ravel…

E realizou notáveis performances em concertos para piano, marcadas pelas exuberantes sonoridades, expertises da “escola russa”, e pelo diálogo intenso com os conjuntos orquestrais, em Tchaikowsky, Grieg, Rachmaninov, Poulenc e Prokofiev; além de peculiar leitura das “33 Variações s/ valsa de Diabelli”, de Beethoven… 

Yaltah Menuhin, pianista e poetisa, irmã caçula de Yehudi e Hephzibah Menuhin (1962).

Também vocacionada para docência, a partir de 1984, passou a realizar “masterclasses” anuais, na vila medieval de Puycelsi, França; e inúmeros cursos nos USA, Canadá, Europa, Austrália e extremo Oriente; além de integrar júri em grandes competições, como “Van Cliburn”, “Rubinstein”, “Leeds” e “Queen Elisabeth”…

E pela contribuição artística, tornou-se patrona honorária do “Yaltah Menuhin Memorial Fund”, sediado na Holanda, em apoio à jovens músicos… Por fim, problemas de saúde levaram Cécile Ousset encerrar apresentações públicas, em 2006. Atualmente, conta 87 anos, com relevantes discografia e trajetória musical…

Download no PQP Bach

Cécile Ousset deixou belíssimo legado e ganhou abrangente edição da “Warner Classics” – Box com 16 CDs, excetuando-se o “2° concerto para Piano”, de Brahms, com Kurt Masur, que não integra a coleção…

Capa da “Warner Classics”, Box 16 CDs, com acervo completo de Cécile Ousset.

Para download no PQP Bach, seguem três CDs:

  • CD 07, com obras de Franz Liszt – “Sonata em si menor” e “6 Études d’exécucion transcendante d’après Paganini”, piano solo

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  • CD 13, com obras de Maurice Ravel – “Valses nobles et sentimentales”, “Jeux d’eau”, “Menuet sur le nom de Haydn”, “Sonatine”, “Pavane pour une infante Défunte”, “Mirroirs”, piano solo…
  • CD 16, com obras de Maurice Ravel – “Concerto em Sol” e “Concerto para mão Esquerda”, para piano e orquestra, com “Birminghan Symphony Orchestra”, direção de Simon Rattle; e suíte “Le tombeau de Couperin”, piano solo…

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Sugerimos também:

1. Áudio youtube “EMI classics” – Claude Debussy, “Images, Book 2” – I. “Cloches à travers les feuilles”; II. “Et la lune descend sur le temple qui fut”; III. “Poissons d’or”, com Cécile Ousset…

2. Áudio youtube “Berlin classics” – Johannes Brahms, “2° concerto para piano e orquestra, em si bemol maior, op. 83”, com “Gewandhausorchester”, de Leipzig, direção Kurt Masur – “Gran prix du Disque”, da “Académie Charles Cros”, de Paris… 

Movimentos: I. “Allegro nom  troppo” – II. “Allegro appassionato” – III. “Andante” – IV. “Allegreto grazioso”. Para acessar áudio (Clique aqui).

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“Nesta edição, nossa gratidão e homenagem às mulheres!”

“Dia Internacional da Mulher, 08/03/2023”

Alex DeLarge

Frédéric Chopin (1810-1849): Concerto para Piano nº 2 em 3 gravações ao vivo (Rubinstein, Arrau, Pires)

(e ainda: 1ª Balada, 4º Scherzo, Norturnos, 1º Concerto de Liszt…)
Chopin: O Aristocrata, o Escultor, o Poeta

Artur Rubinstein (1887-1982)

O Chopin aristocrata
Se seu rosto mostrava algumas rugas, se seus cabelos eram prateados, um bom observador teria visto nisso as marcas da paixão e os sulcos do prazer, pois os característicos pés de galinha nas têmporas e os degraus do palácio na testa eram rugas elegantes. Tudo nele revelava os modos do homem que teve muitas mulheres.

Sem exagerar no cheiro, o cavaleiro exalava como um perfume de juventude que refrescava seu ar. Suas mãos de aristocrata, bem cuidadas como as de uma donzela, chamavam a atenção para as unhas rosadas e bem cortadas. Finalmente, sem seu nariz magistral e superlativo, seu rosto seria um tanto infantil.

Se ele tinha a virtude de não repetir seus bon mots pessoais e nunca falar de seus amores, suas graças e seus sorrisos cometiam deliciosas indiscrições. Seu principal vício era o tabaco que tirava de uma velha caixa dourada adornada com o retrato de uma princesa.

Além disso, o Chevalier de Valois redimia seus defeitos por tantas outras graças que a sociedade devia se sentir suficientemente indenizada. Ele se esforçava realmente bastante para esconder seus anos e agradar seus conhecidos. É preciso destacar o extremo cuidado que tinha com suas camisas de linho, sempre brancas, limpas e de uma fineza aristocrática. Quanto ao paletó, embora notavelmente limpo, era sempre usado, mas sem manchas.

O digno fidalgo, que jantava fora todos os dias e voltava na hora de se deitar. Seu único gasto com alimentação era, portanto, pela manhã: uma taça de chocolate acompanhada de manteiga e de frutas da estação. Ele só acendia a lareira nos invernos mais pesados, e somente de madrugada. Nas mesas de jantar mais distintas de Alençon ele era um convidado permanente. Seus talentos como jogador de baralho, contador de histórias e boa companhia eram apreciados: os donos das casas tinham necessidade do seu olhar de aprovação. Quando uma mulher ouvia o chevalier dizer em um baile: “a senhora está adoravelmente bem vestida!”, ela ficava mais alegre com este elogio do que com o desespero de sua rival.
(Trechos de La Vieille Fille [A Solteirona], por Honoré de Balzac, 1836)

A mãe de Chopin era uma senhora de origem aristocrática, mas de uma família sem dinheiro, de modo que se viu obrigada a trabalhar (expressão que aristocratas pronunciam como uma das maiores desgraças possíveis). Já George Sand, maior amor da vida de Chopin, não apenas tinha sangue nobre – era prima distante dos reis da França – como também era herdeira de uma charmosa casa no norte de Paris (atual Musée de la vie romantique) e de uma casa de campo em Nohant. Ou seja, Chopin esteve nesses meios de aristocratas com um sabor de ruína do passado que, na obra de Balzac, parece sempre prestes a ser varrida pelo capitalismo (tudo que é sólido desmancha no ar, escreveu um leitor atento de Balzac).

Rubinstein às vezes era descrito como um pianista aristocrático, o que talvez queira dizer que ele seguia apenas seus caprichos. Mais fiel ao espírito do que ao texto de Chopin, portanto, embora ele também não esbofeteie o texto e mantenha, sobretudo, sempre as boas maneiras, transgredindo sem perder a elegância. Reparem, por exemplo, a partir dos 5min45s do movimento lento central, uma cascata de notas descendentes que normalmente os pianistas fazem mais lenta e suave, mas Rubinstein faz rápida, como quem sorri e diz: me deu vontade. (A partitura é dúbia quanto ao andamento, expressando apenas o estado de espírito: “legatissimo dolcissimo”).

No fundo, estamos falando menos do suposto sangue azul e mais de um tipo de atitude aristocrática, uma forma imaginária de se existir no mundo, pois há também gente de linhagem nobre fazendo as manobras mais baixas como as do Princípe Andrew, filho mais novo da Rainha Elizabeth II, que conseguiu abafar todas as investigações sobre estupro de uma menor de idade.

Em Edinburgh, Escócia, durante o cortejo fúnebre do caixão da finada rainha, um jovem gritou que Andrew era um velho doente (aqui o vídeo), em seguida o jovem foi colocado no chão por policiais, preso e processado. Assim agem alguns aristocratas da vida real, mas a aristocracia expressa na música de Artur Rubinstein (como já em 1840 na de Balzac) era mais um personagem da ficção, um estereótipo como os da commedia dell’arte, ou o “núcleo rico” de uma novela da Globo sempre ao som de bossa nova.

Claudio Arrau (1901-1991): Tela sob carvão

             O Chopin escultor

A cadeira onde Balzac escrevia (sua casa é o atual Museu Balzac, em Paris) – o busto atrás é de 1844 por David d’Angers

Articular o passado historicamente não significa conhecê-lo “tal como ele propriamente foi”. Significa apoderar-se de uma lembrança tal como ela lampeja num instante de perigo. (Walter Benjamin, Teses sobre o conceito de História)

Claudio Arrau foi descrito como um pianista-filósofo por alguns críticos, e não discordo desse adjetivo. Porém, lembrando que na Grécia Antiga e em tantos outros lugares os filósofos – como os aristocratas – evitavam qualquer tipo de trabalho braçal, me parece mais adequado descrever o que Arrau faz aqui com os concertos de Chopin (2º) e de Liszt (1º) a partir da metáfora do escultor.

Distante do ar despreocupado de Rubinstein, Arrau parece preocupadíssimo em não deixar de sublinhar nenhuma intenção do compositor. Enquanto Rubinstein parece estar improvisando melodias que ele conhece desde o berço, Arrau parece estar talhando o relevo melódico e harmônico na pedra ou na madeira, com esforço evidente. A tensão em diversos momentos é fortemente romântica, acompanhada por uma orquestra com gestos grandiosos.

Arrau parece ir apontando para que o ouvinte não perca nada de importante: “veja, aqui Chopin cria tensão para depois afrouxar, ali Chopin abunda em brilho com essa cascata de notas agudas” – a que mencionamos alguns parágrafos acima, Arrau a executa de forma doce, rigorosa e sempre atenta a partir dos 6min13s.

Daniel Barenboim, em entrevista com Joseph Horowitz, disse sobre o então veterano pianista: “quando Arrau toca, uma das forças que conduzem a música é a tensão harmônica. Bem mais do que a beleza melódica de uma frase; mais ainda do que a pulsão rítmica. (…) Quando ele toca acordes, eles soam sempre tão cheios e equilibrados de forma que ouvimos tudo: não só as notas de cima e as de baixo.”

O Arrau que Barenboim conheceu era o grande mestre que trazia conhecimentos de tempos idos. Mas quando Arrau começava sua carreira, na Alemanha, a maior parte do público e dos pianistas considerava a música de Chopin apenas agradável, charmosa. Os sérios alemães não sabiam bem que estatuto dar a um compositor que se abstém da música de câmara e orquestral. O agrado fácil ao público nunca foi a ambição do artista Arrau: ele argumentaria que, uma vez tendo superado seu medo inicial de desagradar ao público, o artista deve desenvolver em seguida o medo de agradar.

Aprendendo, ao longo dos anos, a ver em Chopin música pura e abstrata, e não apenas música de salão, Arrau se afastou da dança que é o pretexto, ao menos nominal, de tantas de suas obras – Valsas, Polonaises, Mazurkas. É a harmonia, não o ritmo, o essencial em suas gravações que, como apontado por Benjamin, buscam menos recriar o mundo de Chopin “tal como ele propriamente foi”, mas sobretudo recriar as lembranças em um mármore, granito ou madeira, dando cores e texturas grandiosas às intenções e tensões do compositor.

Maria João em Belgais, Portugal (março/2020)

O Chopin poeta
Se Arrau é como um escultor que, com suas ferramentas, dá vida ao espírito que Chopin deixou preso nas partituras, Pires se comporta um pouco como atriz e sobretudo como poetisa. Como diria o Fernando Pessoa:

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Pires, portanto, encarna as expressões de Chopin quando vai ligando as notas como se fossem palavras, sempre com um ar de facilidade, que é pura interpretação: para ela, com suas mãos pequenas, quase nada lhe é fácil de tocar, mas ela nos engana deliciosamente. A cascata aguda que já mencionamos, Pires também toca de forma delicadíssima como manda a partitura, aos 6min15s do movimento lento.

Em 2019 as plateias em São Paulo e Belo Horizonte tiveram o provilégio de ouvir Pires tocar uma monumental, equilibrada sonata op. 111 de Beethoven e uma finíssima seleção de noturnos de Chopin:
os três do op. 9 (escritos em 1830-32), os dois do op. 27 (1835) e o nº 1 op. 72 (1827-29). Do ponto de vista formal, os noturnos não são tão exigentes quanto Beethoven, é verdade. Mas o seu melodismo poético talvez não encontre paralelos na história da música. E se o público já estava dominado pelo Beethoven, aqui foi uma elevação. A interpretação de Maria João Pires, seu senso de agógica, sem nenhum maneirismo, atinge um grau de expressão artística raro mesmo entre os grandes músicos da atualidade.
(palavras de Nelson Rubens Kunze)

E também temos as palavras da poeta ou poetisa, pois no libreto dessa gravação ao vivo na Polônia, Maria João Pires se solta em uma longa entrevista:
“Eu amo os dois concertos e nunca deixo de tocá-los. Também gosto das outras obras de Chopin para piano e orquestra. E ao contrário daqueles que criticam sua habilidade de orquestração, eu acho que há também muita beleza nas partes orquestras dos concertos. Ambos são cheios de mágica, cheios de sonhos…”

“O que eu mais amo na música de Chopin é sua impermanência: ali, nada é fixo para sempre, nada é definitivo. Como na vida. Tudo muda. Normalmente as pessoas gostam de um sentimento de segurança. Não querem aceitar o fato de envelhecerem, adorariam manter suas posses, viver para sempre, mas para mim ser permanente e possessivo é contra a natureza transitória de nossa existência. E Chopin nos dá a maior lição nesse aspecto, pois nos mostra como aceitar a impermanência da vida. Nesse sentido ele é o maior dos poetas entre os músicos.”

Frédéric Chopin:
1-3. Piano Concerto No. 2, in F minor
4. Ballade No.1 in G minor Op. 23
5. Mazurka in C minor Op.56 No.3
6. Scherzo in E major Op.54
7-9. Etudes Op.10 No.6, 8, 9
10-11. Grande Polonaise brillante précédée d’un Andante spinato, Op.22
Artur Rubinstein, piano
Philharmonia Orchestra
Carlo Maria Giulini, conductor
Recorded: Royal Festival Hall, London, 16 May 1961 (Concerto), Concert Hall, Broadcasting House, London,6 Oct. 1959 (Solo Piano)

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1-3. Frédéric Chopin: Piano Concerto No. 2, in F minor
4-7. Franz Liszt: Piano Concerto No. 1, in E flat major
Claudio Arrau, piano
Danish National Symphony Orchestra
Conductor: Miltiades Caridis.
Recorded: Radiohuset’s Concert Hall, 25 Nov. 1967

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Frédéric Chopin:
1-3. Piano Concerto No. 2, in F minor
4-10. Nocturnes Op.9 (No. 1-3), Op.27 (No. 1-2), Op.48 (No. 2), Op. posth. (Lento con gran espressione)
Maria João Pires, piano
Sinfonia Varsovia
Christopher Warren-Green, conductor
Recorded: Warsaw, 29 aug. 2010 (Concerto), 29 aug. 2014 (Nocturnes)

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F. Chopin em pintura de seu amigo E. Delacroix

Pleyel

Vários Compositores: Murray Perahia – Dois álbuns incomuns! ֍

Vários Compositores: Murray Perahia – Dois álbuns incomuns! ֍

 

 

 

 

 

 

Entre 1973 e 1989 os colecionadores de LPs e, posteriormente CDs, especialmente aqueles que apreciavam música para piano, puderam colecionar uma série de ótimos discos, lançados pelo selo CBS Masterworks e, posteriormente Sony. Eram álbuns trazendo o solista Murray Perahia, que ficava melhor a cada disco, mas sempre em repertório bastante clássico: Schumann, Chopin, Schubert, Mozart (a série de Concertos para Piano, com a ASMF). Havia também Mendelssohn (incluindo os Concertos para Piano) e, um pouco depois, Beethoven. Algumas Sonatas para Piano e a série dos Concertos para Piano, acompanhado pela Orquestra do Concertgebouw, regida por seu titular – Bernard Haitink. Além desses, esporádico Bartók, um Quarteto com Piano de Brahms, com o Quarteto Amadeus, e a dobradinha de Concertos para Piano de Schumann e Grieg. Aqui, a Orquestra da Rádio Bávara regida por Sir Colin Davis.

Este fluxo de belezuras, que seguiria depois com mais outras maravilhas, como o disco das Baladas de Chopin, o das Sonatas para Piano de Mozart, e de algumas tantas parcerias, foi turbilhonado em 1990 e 1991 por dois discos fora da curva – não em qualidade técnica ou beleza sonora, mas sim na escolha do repertório. Em 1990 foi lançado o disco The Aldeburgh Recital, com as Variações em dó menor, de Beethoven, o Carnaval de Viena, de Schumann e … tá dam… Liszt e Rachmaninov. E em 1991, um disco com o Prelúdio, Coral e Fuga, de César Franck e mais Liszt. Muito bem, são estes os discos da postagem.

Depois, o fluxo retomou sua regularidade, com bons discos de parcerias. Aliás, quando se juntava em parceria era sempre de nível excelente – Sir Georg Solti e Radu Lupu, ao piano, acompanhou Dietrich Fischer-Dieskau em uma gravação do Winterreise, o remake do Concerto de Schumann, agora com Claudio Abbado regendo a Berliner Philharmoniker. Aí vieram os discos com música mais antiga. Primeiro o maravilhoso álbum com música de Handel e Scarlatti, depois Bach – Suítes Inglesas, Variações Goldberg, Concertos para Piano, Partitas! Ah, as Partitas! E, para não dizer que tenha deixado de lado os clássicos, um e outro disco de Beethoven (ainda na Sony), o espetacular disco dos Estudos de Chopin e o tremendo disco com música de Brahms – Variações sobre um tema de Handel. Houve a mudança de casa, as Suítes Francesas, de Bach, inaugurando o selo amarelo, e finalmente o disco com a Hammerklavier e a Ao Luar. A qualidade sempre muito alta, mas os hiatos passaram a ser grandes – houve o ferimento no dedo com as complicações que seguiram. Mas essa lengalenga toda é para enfatizar o quanto os dois discos desta postagem são estranhos no ninho. A música de César Franck, Rachmaninov e Liszt não mais voltaram a frequentar os discos de Murray Perahia. Como essas peças foram para aí? A resposta tem a ver com Vladimir Horowitz.

Murray Perahia tinha 17 anos quando Horowitz bateu na porta de sua casa e disse: Poderia falar com o Sr. Perahia? Murray respondeu: Vou chamar meu pai. Não, respondeu Volodya, eu quero falar com Murray Perahia. Eu sou o Sr. Horowitz. O jovem Perahia ainda não havia realmente entendido de quem se tratava. A casa ficava em Nova Iorque, no bairro do Bronx, com muitos judeus. Todo o mundo se chamava Horowitz lá, disse Perahia na entrevista em que contou esta história.

Murray Perahia ainda não havia se decidido completamente pela carreira de pianista e enrolou. Horowitz esperou mais treze anos para finalmente aproximar-se de Murray Perahia, ganhar a sua amizade e tornar-se seu professor. Neste tempo, ele já era famoso e tinha uma carreira estabelecida. Era o pouco que faltava para definitivamente estabelecer Perahia como o pianista especialíssimo que ele tem sido.

Sobre essa experiência, Murray disse: Nós exploramos o piano ‘virtuoso’. Quando se aprende as cores que o piano pode oferecer, se descobre também o escopo do que se pode alcançar ao tocar o piano.

Horowitz lhe disse: Se você quer ser mais do que um virtuoso, primeiro você precisa se tornar um virtuoso!

Creio que esses dois discos são resultado dessa experiência, de chegar lá e depois ir além…

The Aldeburgh Recital

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

32 Variações para piano em dó menor, WoO 80

Robert Schumann (1810 – 1856)

Carnaval de Viena, Op. 26

Franz Liszt (1811 – 1886)

Rapsódia Húngara No. 12

Consolação No. 3

Sergei Rachmaninov (1873 – 1943)

Etude-Tableaux Op. 33, No. 2 em dó maior

Etude-Tableaux Op. 39, No. 5 em mi bemol menor

Etude-Tableaux Op. 39, No. 6 em lá menor

Etude-Tableaux Op. 39, No. 9 em ré maior

Murray Perahia, piano

Faixas Extras

Consolação No. 3

(do álbum Horowitz em Moscou)

Etude-Tableaux Op. 33, No. 2 em dó maior

Etude-Tableaux Op. 39, No. 5 em mi bemol maior

Etude-Tableaux Op. 39, No. 5 em mi bemol menor

Etude-Tableaux Op. 39, No. 9 em ré maior

(do Álbum Horowitz plays Rachmaninov & Liszt)

Vladimir Horowitz, piano

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Volodya avistando a turma do PQP Bach na plateia de um de seus concertos…

Murray Perahia plays Franck & Liszt

César Franck (1822 – 1890)

Prelúdio, Coral e Fuga

Franz Liszt (1811 – 1886)

Valsa Mefisto No. 1

Soneto No. 104 de Petrarca (Anos de Peregrinação – Itália)

Estudo de Concerto No. 1 ‘Waldesrauschen’

Estudo de Concerto No. 2 ‘Gnomenreigen’

À Beira de Uma Fonte (Anos de Peregrinação – Suíça)

Rapsódia Espanhola

Murray Perahia, piano

Extra:

Valsa Mefisto No. 1

(do álbum Horowitz em Moscou)

Soneto No. 104 de Petrarca (Anos de Peregrinação – Itália)

(do álbum Horowitz plays Liszt)

Vladimir Horowitz, piano

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De uma entrevista dada à Bruce Duffie:

BD:    Do you play differently for the microphone than you do for a live audience?

MP:    I think yes.  There’s an excitement that goes into a live concert that’s very hard to capture in a recording.  Sometimes it works; sometimes it goes.  It’s not to say that it’s impossible, but I do find that it’s different to play for an audience.

J. S. Bach (1685-1750): Transcrições – Gordon Fergus-Thompson, piano ֎

J. S. Bach (1685-1750): Transcrições – Gordon Fergus-Thompson, piano ֎

 

Bach

Transcrições

Gordon Fergus-Thompson

 

 

Traduttore – traditore, diria Umberto Eco, um autor largamente traduzido e um tradutor extremamente prolífico. Quando alguém traduz, precisa inventar, recriar, e, portanto, trair. Mas não fossem as traduções, quantas obras-primas ficariam restritas aos seus espaços culturais de origem? Não resisto a fazer um paralelo entre a literatura e a música e, guardadas as devidas proporções, o mesmo ocorreu com Johann Sebastian Bach.

Fico imaginando a avidez com que ele deve ter devorado as partituras de músicas italianas e francesas – Vivaldi e tantos outros – levadas pelo príncipe Johann Ernst, sobrinho do Duque de Saxe-Weimar, para esta corte, em sua visita por lá, por volta de 1713, após viajar pela Bélgica e Holanda.

Bach e seu amigo Telemann seguiam o conceito de imitatio e aemulatio,o princípio da imitação inicial, passando então a um estágio de desenvolvimento que buscava superar a imitação – vide o Concerto Italiano.

Bach começou a copiar as obras italianas e ao mesmo tempo passou a arranja-las, transcrevê-las para os seus próprios instrumentos – o cravo e o órgão.

Isso certamente legitima todos os compositores, maiores e menores, que se debruçaram sobre suas obras e as estudaram e as transcreveram, relendo-as segundo suas próprias perspectivas artísticas e seus próprios talentos. Com isso, as tornaram ainda mais acessíveis e as disponibilizaram para um público maior.

Algumas peças de Bach – a Chaconne da Partita em ré menor para violino eu conheci primeiro na transcrição feita por Ferruccio Busoni, para piano, peça que abre este disco. Algumas transcrições são mais traidoras, assim como esta Chaconne de Busoni, que parece maior, mais tonitruante, do que a peça original, para violino solo. Mas, quem sabe se essa mesma não seria uma transcrição de uma peça ainda mais anterior, para órgão?

Capitão Nemo verificando se a afinação do órgão estava adequada…

Outras guardam mais a singeleza do original, como ocorre nas transcrições feitas por Dame Myra Hess (Jesus, Alegria dos Homens…) e pelo incansável Wilhelm Kempff (Siciliano). Se o seu coração não se derreter com As Ovelhinhas Podem em Segurança Pastar, transcrição de Christopher Le Fleming, pode ir correndo fazer um exame no cardiologista mais próximo, pois que ele se transmutou em pedra.

A Suíte de Rachamaninov, arranjada de três peças da Partita em mi maior, vai surpreender muita gente, que associa este compositor aos arroubos românticos e acordes inalcançáveis.

E para arrematar, imagine o Capitão Nemo, tendo que ficar alguns dias em um porto, sem poder se deliciar com os sons do órgão, esperando uma completa revisão no Nautilus. É claro, ele alugaria um flat com um piano e atacaria a Toccata e Fuga em ré menor, na transgressão de Ferruccio Busoni, assim como está na peça que arremata o disco.

Este é um entre muitos discos com transcrições das obras de Bach para piano que tenho ouvido. Pretendo postar alguns mais, acrescentando mais insultos à esta injúria… O pianista da vez é inglês e bem conhecido por suas gravações das obras de Ravel, Debussy e Scriabin. Ele é atualmente professor do Royal College of Music de Londres.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Transcrições:

Ferruccio Busoni (1866 – 1924)

  1. Chaconne da Partita em ré menor para violino, BWV 1004
  2. Prelúdio Coral BWV645 ‘Wachet auf, ruft uns die Stimme’
  3. Prelúdio Coral BWV659 ‘Nun komm, der Heiden Heiland’
  4. Prelúdio Coral BWV734 ‘Nun freut euch, lieben Christen gmein’
  5. Prelúdio Coral BWV639 ‘Ich ruf’ zu dir, Herr Jesu Christ’

Franz Liszt (1811 – 1886)

Prelúdio e Fuga em lá menor, BWV543
  1. Prelúdio
  2. Fuga

Lord Berners (1883 – 1950)

  1. In Dulci Jubilo, BWV 729

Dame Myra Hess (1890 – 1965)

Cantata BWV147 ‘Herz und Mund und Tat und Leben’
  1. Jesus, Alegria dos Homens

Wilhelm Kempff (1895 – 1991)

Sonata para flauta em mi bemol maior, BWV1031
  1. Siciliano
Christopher Le Fleming chegou atrasado para a foto e o DP de Arte do PQP Bach atacou de Christopher Lee…

Christopher Le Fleming (1908 – 1985)

  1. As Ovelhinhas Podem em Segurança Pastar, da Cantata BWV208

Sergei Rachmaninov (1873 – 1943)

Suíte da Partita em mi maior para violino, BWV1006
  1. Preludio
  2. Gavotte
  3. Gigue

Ferruccio Busoni

Toccata e Fuga em ré menor, BWV565
  1. Toccata e Fuga

Gordon Fergus-Thompson, piano

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Gordon Fergus-Thompson no Salão de Pianos do PQP Bach
Lord Berners mostrando para a equipe do PQP Bach o piano no qual fez sua transcrição…

De todos os transcritores deste disco, de longe, o mais impressionante, não por sua obra, mas por sua excentricidade, é Lord Berners. Como não sou de dar spoiler, espero que você faça o dever de casa e descubra por você mesmo…

Aproveite!

René Denon

Homenagem à pianista Diana Kacso

Homenagem à pianista Diana Kacso
Diana Kacso, pianista brasileira

O piano brasileiro perde uma brilhante intérprete: a carioca Diana Kacso, que marcou sua trajetória por especial interesse no repertório romântico. Neste 1º de março, próximo passado, aos 68 anos, veio a falecer, após enfrentamento de câncer… Formada no “Conservatório brasileiro de Música”, Rio de Janeiro, com Elzira Amábile, 1971; e, mais tarde, na “Juilliard School”, de Nova York, com Sascha Gorodnitzski, 1972/75, Diana optou por fixar residência nos EUA…

Ao longo da carreira, realizou recitais no Carnegie Hallde New York; no Concertgebouw, de Amsterdam; e no “Queen Elizabeth Hall”, de Londres, além de diversas programações para rádio e TV… E como solista, em cocertos com a “London Players” e as filarmônicas de Munique, Israel e Londres; nos USA, Europa e Ásia... Destacaram-se também trabalhos em música de câmara, com Nancy Green (cello), Jennifer Devore (cello), e Rosemary Glyde (violista)…

Diana Kacso – finalista no “Concurso Chopin”, Varsóvia, 1975.

Premiada em diversos concursos, nacionais e internacionais, obteve 6º lugar no “Concurso Chopin”, de Varsóvia, 1975, quando Krystian Zimermann foi 1º colocado; 2º lugar no “Concurso Rubinstein”, de Tel Aviv, 1977; e 1º lugar no “Concurso de Viña del Mar”, Chile, 1978… Após inicio promissor, Diana priorizou a vida familiar, além de dedicar-se a movimentos pela causa animal. Assim, por 20 anos, evitou intensificar a carreira internacional e dedicou-se ao ensino… Sua musicalidade e apresentações, no entanto, eram marcantes e sua presença nos palcos, solicitada!

Diana Kacso – segunda à esquerda, entre os seis finalistas do “Concurso Chopin”, 1975, com Krystian Zimermann, 1º colocado, à direita.

Entre os apreciadores do piano, muito se fala em intérpretes que, francamente, exploram o virtuosismo mais técnico, e aqueles que, pela musicalidade, invariavelmente, priorizam a expressividade… Diana Kacso buscava certo equilibrio, entre vigor e expressividade… A partir de 2006, esteve diversas vezes no Brasil, para rever amigos, realizar masterclasses e também recitais, na “Sala Cecília Meireles”, Rio de Janeiro; e nos “Conservatório de Tatuí” , “OSMC de Campinas” e “Festivais de Campo do Jordão”, em São Paulo…

E, entre os registros que permanecem, suas interpretações da “Sonata em si menor”, de Liszt, da “Polonaise-Fantasie” ou da “Ballada em fá menor”, de Chopin, são reveladoras da leitura acurada, personalidade e amplo domínio técnico… Uma grande artista, cujas qualidade e musicalidade ficam nos poucos registros fonográficos que realizou… 

Após atuação no “Concurso de Leeds”, Inglaterra, 1978, surgiu interesse da gravadora alemã “Deutsche Grammophon”, que resultou na bela gravação com obras de Liszt e Chopin, de 1980… Aos 68 anos, penso, Diana nos deixa precocemente… Ficam a gratidão e carinho por seu trabalho e atuações. E, pelo talento e alto nível artístico, lugar especial na memória e no pianismo brasileiro. Descanse em paz…  

Premiações

“Concurso Internacional do Rio de Janeiro” (1976) – 3º lugar
“9º Concurso Internacional Chopin” (Varsóvia, 1975) – 6º lugar
“Teresa Carreño Concurso Internacional Latino-Americano” (Caracas, 1976) – 1º lugar
“Concurso Internacional Artur Rubinstein” (Tel Aviv, 1977) – 2º lugar
“Concurso Internacional de Leeds” (Inglaterra, 1978) – 2º lugar
“Concurso Internacional de Viña del Mar” (Chile, 1978) – 1º lugar
“Concurso Internacional Gina Bechauer” (Atenas, 1982) – 2º lugar

Aos seus alunos, Diana aconselhava: “sobre técnica, a concentração; e sobre o coração, a parte que transmite sentimentos, através da música”…

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Diana Kacso, brilhante pianista brasileira, 1953-2022.

Alex DeLarge

Chopin / Mozart / Liszt, por Yulianna Avdeeva

Em minha modestíssima e insignificante opinião, a russa Yulianna Avdeeva é o grande nome feminino do piano da atualidade, e uma fortíssima candidata a ocupar o trono de Martha Argerich. Seu repertório vai de Bach a Prokofiev sem maiores problemas. Não teme se expor nas redes sociais, a acompanho no Facebook, onde de vez em quando faz postagens muito interessantes sobre as obras que está estudando. Quem tiver tempo livre, procurem no Youtube suas lives sobre o Cravo Bem Temperado. Como boa filha de seu tempo, Avdeeva sente-se perfeitamente a vontade na frente de uma câmera para analisar cada um dos prelúdios e fugas e expor suas dificuldades de interpretação.

Neste CD que ora vos trago, temos obras de três compositores bem diferentes. Começando com a maravilhosa ‘Fantasia in Fá Menor, op 49’, de Chopin, que já trouxe em outra ocasião com a mesma pianista, mas em outro contexto, gravado ao vivo. Aqui Yulianna está dentro de um estúdio, então temos uma abordagem diferente, mas igualmente de altíssima qualidade, afinal estamos falando de uma vencedora do dificílimo Concurso Chopin de Varsóvia. E isso é para poucos. Para mostrar ainda mais sua versatilidade e talento, ainda temos A Sonata nº6 de Mozart e duas obras de Liszt, incluíndo a dificílima ‘Après Une lecture Du Dante’, um tour de force para a nossa intérprete.

Chopin:
1 Fantasie In F Minor Op.49

Mozart:
Piano Sonata No.6 In D Major K.284
2 Allegro
3 Rondeau En Polonaise. Andante
4 Tema Con Variazione

Liszt:
5 Après Une Lecture Du Dante – Fantasia Quasi Sonata
6 Aida Di Giuseppe Verdi – Danza Sacra E Duetto Finale S.436

Yulianna Avdeva – Piano

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FDP

Franz Liszt (1811-1886): Peças para Piano e Sonata S178 (Hamelin)

Franz Liszt (1811-1886): Peças para Piano e Sonata S178 (Hamelin)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Eu costumo ser (muito) hostil a Liszt. Por isso, quando comecei a ouvir e a gostar (muito) deste disco, fiquei surpreso. Fui atrás deste CD por causa da Sonata, uma das poucas obras de Liszt que admiro, mas acabei feliz com tudo o que ele traz. Por falar na Sonata, esta de Hamelin é uma das melhores gravações dela que já ouvi. A complicada obra se desdobra com uma espontaneidade e aparente inevitabilidade que entusiasma. Isso logo após depois da Tarantella de Venezia e Napoli, tocada com uma velocidade e clareza que talvez leve alguns colegas do pianista ao desespero. Não é uma questão de virtuosismo por si só. A rapidez das notas repetidas de Hamelin na Tarantella é quase inacreditável, mas ele mantém a poesia e o refinamento. Mesmo assim, o lugar de honra vai para a Sonata. Bah, que Sonata linda, um Sonatão! Adoro!

Franz Liszt (1811-1886): Peças para Piano e Sonata S178

1)Fantasie und Fuge über das Thema B-A-C-H S529ii [12:36]

2)Bénédiction de Dieu dans la solitude (No 03 of Harmonies poétiques et religieuses, S173) [17:54]

Venezia e Napoli – Supplement aux Années de Pèlerinage seconde volume S162
3) No 1: Gondoliera [5:15]
4) No 2: Canzone [3:06]
5) No 3: Tarantella [9:22]

Sonate “Piano Sonata in B minor” S178
6) Movement 1: Lento assai [11:58]
7) Movement 2: Andante sostenuto [7:55]
8) Movement 3: Allegro energico [1:50]
9) Movement 4: Allegro energico – Più mosso [5:40]
10) Movement 5: Andante sostenuto [3:43]

Marc-André Hamelin, piano

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Marc-André Hamelin na garagem de pianos da PQP Bach Corp de Montreal.

PQP

Chopin (1810-1849): Prelúdios; Liszt (1811-1886) e Scriabin (1871-1915): Sonatas – Daniil Trifonov

Os prelúdios de Chopin são obras-primas das variações de humor, alternando entre a alegria, a melancolia e outros sentimentos típicos do romantismo. Os primeiros prelúdios seguem o contraste mais comum entre tom maior (alegre, expansivo, com uma simplicidade quase infantil) e tom menor (lento, calmo). Mas ao longo da obra, a partir do 7º “Andantino” e do 8º “Molto agitato“, as coisas vão ficando mais complicadas e há uma certa inversão de papéis, pois os de tom maior maior vão se tornando mais sutis e lentos – como o prelúdio nº 15, apelidado de gota d’água, e que é de certa forma o centro dramático desse arco narrativo – e os de tom menor vão ficando apressados, tensos, ansiosos, com a agitação nervosa típica de um Schumann, que aliás é o outro grande mestre desse tipo de obra de contrastes.

E na gravação de Daniil Trifonov, esses contrates são exacerbados: acho que nunca ouvi o prelúdio nº 3 “Vivace” tão vivo, ou o 8º e o 22º “Molto agitato” tão agitados por uma certa energia oculta, demoníaca, como bem perceberam Martha Argerich e Gilles Macassar:

O que ele faz com suas mãos é tecnicamente incrível. Mas também o seu toque – tem a delicadeza mas também um elemento demoníaco. – Martha Argerich sobre Daniil Trifonov
Daniil Trifonov dá vida as partituras de Liszt, Scriabin ou Chopin com um virtuosismo nas fronteiras do sobrenatural. – Gilles Macassar, revista Télérama

Em alguns dos prelúdios mais animados e virtuosísticos, Trifonov se apressa enormemente, correndo riscos ao vivo, e dá até a impressão de ser apenas mais um pianista ruso querendo mostrar sua técnica prodigiosa para o público nova-iorquino, que já idolatrou tantos outros pianistas russos… Mas em alguns prelúdios mais introspectivos, Trifonov desacelera e vai a passos lentos, apreciando a paisagem. Por exemplo no prelúdio 21, “Cantabile“, no qual a mão direita deve cantar como em uma ária, ele segue um ritmo bem mais lento que os de Argerich, Nelson Freire ou Rafal Blechacz, tocando com a tranquilidade similar à de Maria João Pires, embora não tão devagar quanto o sui generis Grigory Sokolov – lembrando que este último é bem diferente dos clichês sobre pianistas russos, e não por acaso, faz muito mais sucesso na Europa do que nos EUA.

Assim como Trifonov (3ª e 9ª sonata) e Freire (4ª sonata), que já postei aqui tocando Scriabin ao vivo, Trifonov faz uma interpretação brilhante do compositor russo, com uma certa energia que dificilmente se encontra nas gravações de estúdio. Publicada em 1898, essa sonata tem um pequeno programa escrito por Scriabin:

“A primeira seção representa a calma de uma noite à beira do mar; o desenvolvimento é a agitação do mar profundo. A seção central mostra a lua aparecendo após a escuridão do começo da noite. O segundo movimento representa o oceano agitado em uma tempestade.”

Quero lembrar aqui que Debussy compôs La Mer apenas em 1905, o que mostra uma das várias coincidências entre esses dois compositores que provavelmente se conheceram muito pouco, mas viveram o mesmo ‘espírito do tempo’ (zeitgeist).

A Sonata de Liszt é uma das obras tecnicamente mais difíceis do repertório para piano. Não vou me alongar sobre ela, apenas comentar que – enquanto a 5ª sinfonia de Beethoven supostamente começaria com o destino batendo à porta – Liszt inicia sua obra com uma nota solitária, uma nota sol, com a marcação sotto voce, um sussuro ou, alternativamente, uma chamada no escuro, do tipo: tem alguém aí? Após a sonata marítima de Scriabin, Trifonov inicia essa sonata de Liszt com toda a calma do mundo, deixando o sussuro de Liszt se projetar em meio ao silêncio, como aquelas aves marinhas que cantam em uma só nota em meio ao vento e às ondas, sem saber se alguém vai ouvir. Uma nota é só uma nota e ao mesmo tempo é muito mais.

Alexander Scriabin: Piano Sonata No. 2 In G Sharp Minor Op, 19 “Sonata-Fantasy”
1 Andante 7:05
2 Presto 3:26

Franz Liszt: Piano Sonata In B Minor S 178
3 Lento Assai – Allegro Energico 11:13
4 Più Mosso – Andante Sostenuto 7:37
5 Allegro Energico – Andante Sostenuto – Lento Assai 10:59

Frédéric Chopin: 24 Preludes Op. 28
6 Nr. 1 In C Major 0:38
7 Nr. 2 In A Minor 2:03
8 Nr. 3 In G Major 0:49
9 Nr. 4 In E Minor 1:40
10 Nr. 5 In D Major 0:32
11 Nr. 6 In B Minor 1:51
12 Nr. 7 In A Major 0:47
13 Nr. 8 In F Sharp Minor 1:40
14 Nr. 9 In E Major 1:30
15 Nr. 10 In C Sharp Minor 0:28
16 Nr. 11 In B Major 0:38
17 Nr. 12 In G Sharp Minor 1:11
18 Nr. 13 In F Sharp Major 3:08
19 Nr. 14 In E Flat Minor 0:32
20 Nr. 15 In D Flat Major 5:25
21 Nr. 16 In B Flat Minor 1:04
22 Nr. 17 In A Flat Major 5:58
23 Nr. 18 In F Minor 0:50
24 Nr. 19 In E Flat Major 1:06
25 Nr. 20 In C Minor 1:30
26 Nr. 21 In B Flat Major 2:15
27 Nr. 22 In G Minor 0:40
28 Nr. 23 In F Major 1:06
29 Nr. 24 In D Minor 2:43

Nikolai Karlovich Medtner (1880-1951) (Encore)
30 Skazki Op. 26 – Fairy Tales – No. 2 In E Flat Major 1:25

Daniil Trifonov – piano
Live at Carnegie Hall, New York, USA, February 2013

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Franz Liszt

Pleyel

Franz Liszt (1811-1886): Harmonies Du Soir (Nelson Freire)

Franz Liszt (1811-1886): Harmonies Du Soir (Nelson Freire)

Bem, meus caros. Eu não sou a pessoa mais indicada para comentar este disco. Sei de sua alta qualidade artística, mas não consegui ouvir até o final. É muito romantismo para meu coração duro e burro. É tudo muito bonito, mas penso que faltam sangue e música, sobrando ornamentos e virtuosismo. Aliás, esta é uma tola opinião (e agressão beócia) pessoal de quem não aprecia o gênero. É claro que o disco é incensado e todos o elogiam, é claro que trata-se de um real consenso, é claro que há poesia e conteúdo sob a técnica vistosa, mas o que posso fazer se não me dou conta deles? Sim, sei: Nelson Freire é um autêntico gênio. É também uma pessoa modesta e inteligente, cujo virtuosismo e sensibilidade são lendários, mas sabe quando é não pra gente? Pois é. Só que jamais deixaria de postar um disco do qual tantos de vocês fruirão sem dar a mínima para PQP Bach. E ele (o disco) está aí.

Franz Liszt (1811-1886): Harmonies Du Soir (Nelson Freire)

2 Etudes De Concert, S.145
1 No.1 Waldesrauschen 04:00

Années De Pèlerinage: 2ème Année: Italie, S.161
2 Sonetto 104 Del Petrarca 05:57

Valse Oubliée No.1 In F Sharp, S.215
3 Valse Oubliée No.1 In F Sharp, S.215 02:45

Ballade No.2 In B Minor, S.171
4 Ballade No.2 In B Minor, S.171 13:43

Années De Pèlerinage: 1e Année: Suisse, S.160
5 Au Lac De Wallenstadt 02:45

Hungarian Rhapsody No.3 In B Flat, S.244
6 Hungarian Rhapsody No.3 In B Flat, S.244 04:25

6 Consolations, S. 172
7 No. 1 In E Major (Andante Con Moto) 01:42
8 No. 2 In E Major (Un Poco Più Mosso) 02:31
9 No. 3 In D Flat Major (Lento, Placido) 04:22
10 No. 4 In D Flat Major (Quasi Adagio) 02:59
11 No. 5 In E Major (Andantino) 02:21
12 No. 6 In E Major (Allegretto, Sempre Cantabile) 02:11

Harmonies Du Soir
13 Harmonies Du Soir 08:37

Nelson Freire, piano

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Afasta de mim esse tanto de romantismo…

PQP

Bach/Busoni, Mendelssohn, Schubert/Liszt: Canções sem Palavras (Songs Without Words — Perahia)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Escrevo este textinho em 12 de junho, Dia dos Namorados, mas ele está programado para ir ao ar lá em 5 de julho, data em que está marcada a segunda dose de minha amada AstraZeneca, além de ser a dia de aniversário de minha mãe — ela faria 94 anos — e daquela pessoa que posso chamar de meu melhor amigo. Todas datas especiais, portanto. O disco do esplêndido Murray Perahia não tem nada a ver com isso. Mas é um bom disco, um disco, antes de tudo, inteligente. Ele explora os vários pontos fortes de Perahia. Estas peças exigem acima de tudo a capacidade de projetar e sustentar uma linha de canto, de moldar e dar forma a um som belo e cheio de nuances e de evocar a atmosfera de cada inspiração poética. Em suma, eles exigem um pianista com a sensibilidade e o temperamento de Perahia. Os Prelúdios Corais de Bach/Busoni são tocados com andamentos inteiramente naturais, não tão fúnebres como Nikolai Demidenko, mas nunca permitindo que os acompanhamentos, por mais floreados que sejam, soem apressados ​​ou agitados. Na seleção de canções de Mendelssohn, Perahia jamais chafurda nas peças mais lentas — um pecado comum em pianistas que as interpretam. Ele consegue trazer um sorriso ao nosso rosto com o final espirituoso. De todas essas riquezas, no entanto, eu estava mais interessado nas transcrições das canções de Schubert/Liszt. Perahia, um schubertiano natural e pianista de calor e pureza lírica, parece-me um candidato óbvio para esses arranjos maravilhosos e os resultados são sempre envolventes. A poesia pura deste disco é algo para se alegrar e a arte de Perahia brilha em cada compasso.

Bach/Busoni, Mendelssohn, Schubert/Liszt: Canções sem Palavras (Songs Without Words — Perahia)

Johann Sebastian Bach / Ferruccio Busoni
1 “Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme,” BWV 645 3:24
2 “Nun Komm, Der Heiden Heiland,” BWV 659 4:14
3 “Nun Freut Euch, Lieben Christen,” BWV 734 2:03
4 “Ich Ruf’ Zu Dir, Herr Jesu Christ,” BWV 639 3:04

Felix Mendelssohn
Lieder Ohne Worte
5 Opus 19, No. 3 2:07
6 Opus 67, No. 2 1:57
7 Opus 30, No. 4 2:27
8 Opus 19, No. 1 3:14
9 Opus 19, No. 5 2:13
10 Opus 30, No. 6 2:54
11 Opus 38, No. 3 2:13
12 Opus 102, No. 5 1:12
13 Opus 38, No. 2 1:58
14 Opus 30, No. 2 1:57
15 Opus 67, No. 1 2:02
16 Opus 38, No. 6 3:08
17 Opus 67, No. 4 1:43
18 Opus 53, No. 4 2:25
19 Opus 62, No. 2 1:47

Franz Schubert / Franz Liszt
20 “Auf Dem Wasser Zu Singen” 3:52
21 “In Der Ferne” 6:35
22 “Ständchen” 5:17
23 “Erlkönig” 4:28

Murray Perahia, piano

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OK, Murray eu sei dizer, mas e Perahia?

PQP

Viva a Rainha! – As Idades de Marthinha: a Oitava Década (2011-2020) [Martha Argerich, 80 anos]

Viva a Rainha! – As Idades de Marthinha: a Oitava Década (2011-2020) [Martha Argerich, 80 anos]

1941-1950 | 1951-1960 | 1961-1970 | 1971-1980 | 1981-1990 | 1991-2000 | 2001-2010 | 2011-2020 | 2021-


Se a década pré-pandêmica de nossa Rainha consolidou práticas das anteriores – raras gravações em estúdio, pouquíssimas aparições solo, prolífico camerismo e generoso incentivo a jovens talentos -, os anos 10 também a viram explorar repertório novo e desempenhar papéis inéditos, alguns ligados a suas raízes bonaerenses, tais como tangueira e Luthier, e outros ainda mais insuspeitos, como acompanhista em Lieder e em cancioneiro iídiche. Notem que essa discografia argerichiana que ora concluímos, e que supomos tão completa quanto a pudemos deixar, não inclui a importante coleção de registros de Marthinha no Festival de Lugano, que nosso colega FDP Bach está a nos trazer aos poucos.


Exceto por uma já tradicional vinda a Buenos Aires na metade do ano, quando dá a seus conterrâneos o privilegiado ar de sua graça, Martha não é lá muito afeita a explorar seu continente. Uma exceção notável foi a turnê por várias capitais do Brasil em 2004, certamente instigada pelo amado amigo Nelson Freire, com quem tocou em duo e autografou um LP do patrão PQP e um CD meu lá em nossa Dogville natal. Outra foi essa breve residência na província de Santa Fe, para a qual foi persuadida por outro amigo, Daniel Rivera, um pianista nascido em Rosario e radicado na Itália há muitas décadas. Cada disco registra a íntegra de uma das noites de Martha no festival, o que explica a repetição de algumas peças. Destaco a interpretação de Scaramouche, cujo movimento Brazileira cita (e, para muitos, plagia) Ernesto Nazareth, marcando, ainda que tangencialmente, uma das muito poucas vezes que a música brasileira passou pelos dedos de nossa deusa (outra delas está aqui). Digna de nota, também, é a substancial participação no repertório de compositores argentinos contemporâneos, especialmente na última noite, na qual a Rainha fez parte dum mui hábil conjunto de tango que incluiu sua primogênita, Lyda, a tocar viola.

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381
1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto

Johannes BRAHMS (1833-1897)
Variações sobre um tema de Joseph Haydn, para dois pianos, Op. 56b
4 – Thema: Andante
5 – Poco più animato
6 – Più vivace
7 – Con moto
8 – Andante con moto
9 – Vivace
10 – Vivace
11 – Grazioso
12 – Presto non troppo
13 – Finale: Andante

Franz LISZT (1811-1886)
Les Préludes, poema sinfônico, S. 97
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
14 – Andante maestoso

Daniel Rivera, piano II

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Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Concertino em Lá menor para dois pianos, Op. 94

1 – Adagio – Allegretto – Adagio – Allegro – Adagio – Allegretto

Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943)
Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17
2 – Introduction
3 – Valse
4 – Romance
5 – Tarantella

Darius MILHAUD (1892-1974)
Scaramouche, suíte para dois pianos, Op. 165b
6 – Vif
7 – Modéré
8 – Brazileira

Luis Enríquez BACALOV (1933-2017)
9 – Astoreando, para dois pianos

Daniel Rivera, piano II

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Johannes BRAHMS
1-8 – Variações sobre um tema de Joseph Haydn, para dois pianos, Op. 56b

Sergei RACHMANINOFF
9-12 – Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17

Franz LISZT
13 – Les Préludes, poema sinfônico, S. 97
Transcrição para dois pianos do próprio compositor

Johannes BRAHMS (1833-1897)
De Souvenir de Russie, para piano a quatro mãos, Anh. 4/6:
14 – No. 3: Romance de Warlamoff. Con moto (vídeo)

Daniel Rivera, piano II

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Luis BACALOV
1 – “Astoreando”, para dois pianos

Ástor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)
2 – “Milonga Del Angel”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón

Aníbal Carmelo TROILO (1914-1975)
3 – “Sur” y “La Última Curda”, para bandoneón

Néstor Eude MARCONI (1942)
e Daniel MARCONI
(1970)
4 – “Gris Se Ausencia” y “Robustango”, para bandoneón

Ástor PIAZZOLLA
5 – “Oblivión” del “Concierto Aconcagua” – “Tema de María” – “Verano Porteño” – Cadencia del “Concierto Aconcagua”-  “La Muerte del Angel” – “Lo Que Vendrá” – “Decarísimo”, para bandoneón

Néstor MARCONI
6 – “Para El Recorrido”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
7 – “Moda Tango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón

Ástor PIAZZOLLA
8 – “Libertango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneó
9 – “Tres Minutos Con La Realidad”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón

Néstor Marconi, bandoneón (faixas 3-9)
Enrique Fagone, contrabaixo (faixas 6-9)
Daniel Rivera, piano (faixas 1, 2 e 9)
Gabriele Baldocci, piano (faixa 6)
Martha Argerich (faixas 1, 2, 7-9)
Lyda Chen, viola (faixas 2, 6-9)

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Gravado ao vivo em Rosario, Argentina, entre 19 e 25 de outubro de 2012


Se Martha também é María, e Argerich pela família catalã do pai, ela também é Heller por sua mãe Juanita, filha de judeus russos estabelecidos na província de Entre Ríos. E, se não lhes posso afirmar que o iídiche fez parte de sua infância, não tenho muitas dúvidas de que ele ajudou a aproximá-la de Ver bin Ikh! (“Quem sou eu!”), projeto da atriz e cantora Myriam Fuks. Nascida em Tel Aviv e radicada em Bruxelas, Myriam aqui resgata, com sua profunda voz de contralto, diversas canções judaicas centro-europeias, acompanhada dum prodigioso conjunto de amigos, que inclui o demoníaco Roby Lakatos, Mischa e Lily Maisky, o brilhante Evgeny Kissin (que desenvolve uma belíssima carreira paralela na composição e declamação de poemas em iídiche) e, claro, nossa Rainha, a quem cabe a honra de encerrar o álbum com a parte de piano de Der Rebe Menachem (“O Rabino Menahem”).

VER BIN IKH! – MYRIAM FUKS

1 – Vi Ahin Zol Ikh Geyn (S. Korn-Teuer [Igor S. Korntayer]/O. Strokh)
Evgeny Kissin, piano

02 – Far Dir Mayne Tayer Hanele/Klezmer Csardas de “Klezmer Karma” (R. Lakatos/M. Fuks)
Alissa Margulis, violino
Nathan Braude, viola
Polina Leschenko, piano

3 – Malkele, Schloimele (J. Rumshinsky)
Sarina Cohn, voz
Philip Catherine, guitarra
Oscar Németh, baixo

4 – Deim Fidele (B. Witler)
Lola Fuks, voz
Michael Guttman, violino

5 – Yetz Darf Men Leiben (B. Witler)
Paul Ambach, voz

6 – Greene Bletter (M. Oiysher)
Roby Lakatos, violino

7 – Die Saposhkeler’ (D. Meyerowitz)

8 – Pintele Yid (L. Gilrot/A. Perlmutter-H. Wohl)
Zahava Seewald, voz

9 – ls In Einem Is Nicht Dou Ba Keiner (B. Witler)

10 – Dous Gezang Fin Mayne Hartz (B. Witler)
Myriam Lakatos, voz

11 – Schlemazel (B. Witler)
Édouard Baer, voz

12 – Nem Der Nisht Tsim Hartz (B. Witler)

13 – Hit Oup Dous Bisele Koyer’ (B. Witler)
Michel Jonasz, voz

14 – Schmiele (G. Ulmer)
Mona Miodezky, voz
Roby Lakatos, violino

15 – Ziben Gite Youren (D. Meyerowitz)

16 – Bublitchki (Beygeleich) (Tradicional)
Alexander Gurning, piano

17 – Ver Bin Ikh? (B. Witler)
Mischa Maisky, violoncelo
Lily Maisky, piano

18 – Der Rebe Menachem (A. Gurning/M. Fuks-M. Rubinstein)
Martha Argerich, piano

Myriam Fuks, voz
Aldo Granato, acordeão
Klaudia Balógh, violino
Lászlo Balógh, guitarra
Christel Borghlevens, clarinete
Oscar Németh, contrabaixo

Gravado em Bruxelas, Bélgica, maio de 2014

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Martha sempre teve o costume de acolher, tanto em sua vida pessoal quanto sob as suas protetoras asas artísticas, artistas mais jovens, e um seu modus operandi bem típico nas últimas décadas tem sido o das participações, por óbvio muito especiais, em álbuns de colegas que admira. O pianista russo-alemão Jura Margulis teve o privilégio de ter a Rainha a seu lado para encerrar este volume de suas próprias transcrições para piano, tocando a dois pianos a Noite no Monte Calvo, de Mussorgsky. Eu, que adoro Modest quase tanto quanto amo Marthinha, não só fiquei entusiasmado ao finalmente ouvi-la tocar uma de suas obras, como também passei a sonhar com o dia em que a escutaria a tocar os Quadros de uma Exposição, que certamente ficariam supimpas sob suas mãos. Pode parecer um pedido exagerado a quem já tem oitenta anos e um tremendo repertório, mas não perdi minhas esperanças; muito pelo contrário, eu as vi renovadas quando Martha, em 2020, aprendeu e tocou as partes de piano da maravilhosa Der Hirt auf dem Felsen de Schubert e, para minha maior alegria, de duas das Canções e Danças da Morte de Mussorgsky. Sonhar, enfim, nada custa – ainda.

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Matthäus-Passion, BWV 244
1 – Wir setzen uns mit Tränen nieder

Wolfgang Amadeus MOZART
Do Requiem em Ré menor, K. 626
2 – Confutatis maledictis
3 – Lacrimosa

Giacomo PUCCINI (1858-1924)
4 – Crisantemi, SC 65

Franz LISZT
5 – Mephisto-Walzer

Robert SCHUMANN
De Dichterliebe, Op. 48:
6 – No. 4: Wenn ich in deine Augen seh’

Dmitri SHOSTAKOVICH
Da Sinfonia no. 8 em Dó menor, Op. 65
7 – Toccata
8 – Passacaglia

Sayat NOVA (1712-1795)
Transcrição de Arno Babadjanian (1921-1983)
9 – Melodie – Elegie

Modest Petrovich MUSSORGSKY (1839-1881)
10 – Noch′ na lysoy gore (“Noite no Monte Calvo”), para dois pianos

Jura Margulis, piano (1-10) e transcrições (exceto faixa 9)
Martha Argerich, piano II (faixa 10)

“Noite no Monte Calvo” gravada em Lugano, Suíça, junho de 2014

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Uma overdose de genialidade portenha, e praticamente um esculacho de Buenos Aires para com cidades menos dotadas de talentos (i.e., quase todas as outras), foi aquela noite de agosto de 2014 em que Les Luthiers encontraram Daniel Barenboim e Martha Argerich no sacrossanto palco do Teatro Colón. Depois da habitual dose de obras do imerecidamente obscuro Johann Sebastian Mastropiero, o genial quinteto juntou-se a Barenboim para narrar A História do Soldado de Stravinsky, e os seis se somariam a Martha para o Carnaval dos Animais de Saint-Saëns. Nem o vídeo, nem o áudio do memorável encontro foram lançados comercialmente – o que nos obriga a nos contentarmos com o ensaio geral, feito na manhã do concerto, com a plateia repleta de fãs que não tinham conseguido ingressos para a noite:


Martha e Daniel voltariam a se encontrar no Colón no ano seguinte, sem Les Luthiers, para um programa de formato mais familiar a eles. À rara audição dos estudos canônicos de Schumann no arranjo improvável de Debussy, eles fizeram seguir uma obra do próprio Claude-Achille e a irresistível sonata com percussão de Bartók: repertório incomum e – em que pese a ausência de J. S. Mastropiero – nada menos que tremendo.

Robert SCHUMANN

Seis estudos em forma canônica, para piano, Op. 56
Transcrição para dois pianos de Claude Debussy (1862-1918)
1 -Nicht zu schnell
2 – Mit innigem Ausdruck
3 – Andantino
4 – Innig
5 – Nicht zu schnell
6 -Adagio

Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)
En Blanc et Noir, suíte para dois pianos, L. 134
7 – Avec Emportement (À Mon Ami A. Koussevitzky)
8 – Lent. Sombre (Au Lieutenant Jacques Charlot Tué a l’ennemi en 1915, le 3 Mars)
9 – Scherzando (À Mon Ami Igor Stravinsky)

Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)
Sonata para dois pianos e percussão, Sz. 110
10 – Assai lento – Allegro molto
11 – Lento, ma non troppo
12 – Allegro non troppo

Daniel Barenboim, piano II
Lev Loftus e Pedro Manuel Torrejón González, percussão (faixas 10-12)

Gravado ao vivo em Buenos Aires, Argentina, agosto de 2015

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Dezoito anos depois de sua primeira gravação juntos, Martha e Itzhak Perlman reecontraram-se em Paris para novas sessões em estúdio – as primeiras de Martha na década para o repertório de concerto. Às Fantasiestücke de Schumann e a sonata no. 4 de Bach, eles somaram a fatia brahmsiana da sonata F-A-E, completando o álbum com uma sonata de Schumann gravada em 1998 e ainda mantida inédita por falta de pareamento.

“Trabalhar com Martha”, disse Itzhak, “foi uma experiência única para mim… seu brilho e as cores que ela usa quando toca são reconhecíveis tão longo você as escuta – é ela, ninguém mais soa assim… Estou muito feliz com que pudemos de fato gravar novamente… quando surgiu a possibilidade de que ela tivesse um punhado de dias livres para gravar eu disse ‘eu irei a qualquer lugar!!!'”. A julgar pela cumplicidade com que tocaram e pelo olhar curioso de Martha para o bonachão Itzhak na capa do álbum, tenho certeza de que a viagem valeu a pena.

Robert SCHUMANN
Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105
1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft

Fantasiestücke, para violino e piano, Op. 73
4 – Zart und mit Ausdruck
5 – Lebhaft, leicht
6 – Rasch und mit Feuer

Johannes BRAHMS
Scherzo para violino e piano, WoO 2 (da sonata “F-A-E”, composta em colaboração com Robert Schumann e Albert Dietrich)
7 – Allegro

Johann Sebastian BACH
Sonata para violino e teclado no. 4 em Dó menor, BWV 1017
8 – Siciliano. Largo
9 – Allegro
10 – Adagio
11 – Allegro

Itzhak Perlman, violino

Gravado em Saratoga, Estados Unidos, julho de 1998 (1-3) e Paris, França, março de 2016 (4-11)

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Ainda que a gravação anterior de Martha para o Carnaval dos Animais – aquela com Gidon Kremer – seja mais famosa, eu prefiro essa, com Antonio Pappano no duplo papel de pianista e regente e Annie, filha de Martha com Charles Dutoit, a narrar. Se aquela com Les Luthiers é melhor que essa, jamais saberemos enquanto os detentores da preciosa gravação no Colón não a trouxerem a público. O que sabemos é que Johann Sebastian Mastropiero é um compositor muitíssimo superior a Saint-Saëns e que, por isso, nossa Rainha deveria tocá-lo mais. Fica a dica, Marthinha.

Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)

Sinfonia no. 3 em Dó menor, Op. 78, “com Órgão”
1 – Adagio – Allegro moderato
2 – Poco Adagio
3 – Allegro moderato – Presto
4 – Maestoso – Allegro

Daniele Rossi, órgão

Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique
5 – Introduction et Marche Royale du Lion
6 – Poules et Coqs
7 – Hémiones
8 – Tortues
9 – L’Éléphant
10 – Kangourous
11 – Aquarium
12 – Personnages à Longues Oreilles
13 – Le Coucou au Fond des Bois
14 – Volière
15 – Pianistes
16 – Fossiles
17 – Le Cygne
18 – Finale

Annie Dutoit, narração
Gabriele Geminiani, violoncelo
Libero Lanzilotta, contrabaixo
Antonio Pappano, piano II e regência

Gravado em Roma, Itália, novembro de 2016

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Enquanto se desligava aos poucos do festival centrado sobre si em Lugano, Martha passou a visitar Hamburgo com cada vez mais frequência, até ver um novo festival em torno de si, realizado no mês de junho na soberba Laeiszhalle daquela cidade em que mais chove em toda Alemanha. Este Rendez-vous with Martha Argerich é o tributo fonográfico do impressionante programa do festival em 2018, reunindo um elenco cheio de figuras estelares da galáxia da Rainha – incluindo algumas literalmente familiares, como suas filhas Lyda e Annie e o ex-companheiro Kovacevich. Gosto de todos os discos, repletos que são do elã característico de Marthinha, mesmo quando ela não está de fato a tocar. Meu xodó, no entanto, é o último, com um delicioso Carnaval dos Animais narrado por Annie e uma não menos saborosa seleção de repertório ibérico e latino-americano que se encerra com uma versão tanguera de Eine kleine Nachtmusik que certamente faria Amadeus gargalhar em dois por quatro.

Claude DEBUSSY
De Nocturnes, L. 91
1 – Fêtes (arranjo para dois pianos de Maurice Ravel)

Anton Gerzenberg, piano II

Sonata em Sol menor para violino e piano, L. 140
2 – Allegro vivo
3 – Intermède. Fantasque et léger
4 – Finale. Très animé

Géza Hosszu-Legocky, violino
Evgeni Bozhanov, piano

5 – Prélude à l’après-midi d’un faune, L. 86
(arranjo para dois pianos do próprio compositor)

Stephen Kovacevich, piano I

Sonata em Ré menor para violoncelo e piano, L. 135
6 – Prologue: Lent, sostenuto e molto risoluto
7 – Sérénade: Modérément animé
8 – Finale: Animé, léger et nerveux

Mischa Maisky, violoncelo

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
9 – La Valse, poème choreographique (arranjo para dois pianos do próprio compositor)

Nicholas Angelich, piano II

Sonata em Ré menor para violino e violoncelo, M. 73
10 – Allegro
11 – Très vif
12 – Lent
13 – Vif, avec entrain

Alexandra Conunova, violino
Edgar Moreau, violoncelo

Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Sinfonia no. 1 em Ré maior, Op. 25, “Clássica”
Transcrição para dois pianos de Rikuya Terashima
1 – Allegro
2 – Larghetto
3 – Gavotta: Non troppo allegro
4 – Finale: Molto vivace

Evgeni Bozhanov e Akane Sakai, pianos

5 – Abertura sobre temas hebraicos, para piano, clarinete, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 34

Pablo Barragán, clarinete
Akiko Suwanai e Alexandra Conunova, violinos
Lyda Chen, viola
Edgar Moreau, violoncelo

Suíte de Cinderella (Zolushka), balé em três atos, Op. 87
Arranjo para dois pianos de Mikhail Vasilyevich Pletnev (1957)
6 – Introduction: Andante dolce
7 – Querelle: Allegretto
8 – L’Hiver: Adagio – Allegro moderato
9 – Le Printemps: Vivace con brio – Moderato – Presto
10 – Valse de Cendrillon: Andante – Allegretto – Poco più animato – Più animato – Meno mosso

Akane Sakai e Alexander Mogilevsky, pianos

11 – Gavotte: Allegretto
12 – Gallop: Presto – Andantino – Presto
13 – Valse Lente: Adagio – Poco più animato – Assai più mosso – Poco più animato – Meno mosso (più animato dell’adagio
14 – Finale: Allegro moderato – Allegro espressivo – Presto – Allegro moderato – Andante

Evgeni Bozhanov e Kasparas Uinskas, pianos

Sonata em Dó maior para dois violinos, Op. 56
15 – Andante cantabile
16 – Allegro
17 – Commodo (quasi allegretto)
18 – Allegro con brio

Tedi Papavrami e Akiko Suwanai, violinos

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Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Concerto em Dó menor para piano, trompete e orquestra de cordas, Op. 35
1 – Allegro moderato – attacca:
2 – Lento – attacca:
3 – Moderato – attacca:
4 – Allegro con brio

Sergei Nakariakov, trompete
Symphoniker Hamburg

Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Mi menor, Op. 67
5 – Andante – Moderato – Poco più mosso
6 – Allegro con brio
7 – Largo
8 – Allegretto – Adagio

Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein
, violoncelo

Zoltán KODÁLY (1882-1967)
Duo para violino e violoncelo, Op. 7
9 – Allegro serioso, non troppo
10 – Adagio – Andante
11 – Maestoso e largamente, ma non troppo lento – Presto

Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo

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Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)

Trio para violino, violoncelo e piano no. 1 em Ré menor, Op. 49 (transcrição para flauta, violoncelo e piano)
1 – Molto allegro ed agitato
2 – Andante con moto tranquillo
3 – Scherzo
4 – Finale

Susanne Barner, flauta
Gabriele Geminiani, violoncelo

Ludwig van BEETHOVEN
Concerto em Dó maior para violino, violoncelo e piano, Op. 56
5 – Allegro
6 – Largo – attacca:
7 – Rondo alla polacca

Tedi Papavrami, violino
Mischa Maisky, violoncelo
Symphoniker Hamburg
Ion Marin, regência

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Robert SCHUMANN
Fantasiestücke
para violoncelo e piano, Op. 73
1 – Zart und mit Ausdruck
2 – Lebhaft, leicht
3 – Rasch und mit Feuer

Mischa Maisky, violoncelo

04-23 – Dichterliebe, ciclo de canções sobre textos do Lyrisches Intermezzo de Das Buch der Lieder de Heinrich Heine, Op. 48 (edição original de 1840)

Thomas Hampson, barítono

 

Johannes BRAHMS
Sonata para piano e violino no. 2 em Lá maior, Op. 100
1 – Allegro amabile
2 – Andante tranquillo — Vivace — Andante — Vivace di più — Andante — Vivace
3 – Allegretto grazioso (quasi andante)

Akiko Suwanai, violino
Nicholas Angelich, piano

Sergey RACHMANINOV
Sonata em Sol menor para violoncelo e piano, Op. 19
4 – Lento. Allegro moderato
5 – Allegro scherzando
6 – Andante
7 – Allegro mosso

Jing Zhao, violoncelo
Lilya Zilberstein, piano

Camille SAINT-SAËNS
1-30 – Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique

Annie Dutoit
, narração
Jing Zhao, violoncelo
Lilya Zilberstein e Martha Argerich, pianos
Symphoniker Hamburg
Ion Marin, regência

Ernesto Sixto de la Asunción LECUONA Casado (1895-1963)
Quatro danças cubanas, para piano
31 – A la antigua
32 – Al fin te ví
33 – No hables más!
34 – En tres por cuatro

Três danças afro-cubanas, para piano
35 – La Conga de Medianoche
36 – La Comparsa
37 – Danza de los Ñañigos

Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Arranjo de Mauricio Vallina (1970)
Da Suíte España, Op. 165
38 – No. 2: Tango

Ángel Gregorio VILLOLDO Arroyo (1861- 1919)
Arranjo de Lea Petra
39 –
El Choclo

Mauricio Vallina, piano

Eduardo Oscar ROVIRA (1925- 1980)
40 – A Evaristo Carriego

Ástor PIAZZOLLA
41 – Triunfal
42 – Adiós Nonino

Wolfgang Amadeus MOZART
43 – Musiquita Noturna (arranjo do Allegro da Eine Kleine Nachtmusik, K. 525)

Jing Zhao, violoncelo (faixa 40)
The Guttman Tango Quartet:
Michael Guttman, violino
Lysandre Denoso, bandoneón
Chloe Pfeiffer, piano
Ariel Eberstein, contrabaixo

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Gravado em Hamburgo, Alemanha, junho de 2018


Entre os protegidos de Martha Argerich, o sul-coreano Dong Hyek Lim é um dos meus favoritos: não são muitos os jovens pianistas que conseguem, na falta de melhor definição, dizer a música sem firulas egocêntricas, nem aparentar qualquer esforço, mesmo nas passagens mais cabeludas do repertório. Aqui ele doma o monstruoso Rach 2 com um som apropriadamente grande e muita precisão, para depois encarar as Danças Sinfônicas de Sergey em companhia de Sua Majestade, que lhe concede o privilégio da especialíssima participação em seu álbum: uma moral e tanto para o pibe.

Sergey RACHMANINOV
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Dó menor, Op. 18
1 – Moderato
2 – Adagio sostenuto – Più animato – Tempo I
3 -Allegro scherzando

Dong Hyek Lim, piano
BBC Symphony Orchestra
Alexander Vedernikov

Gravado em Londres, Reino Unido, setembro de 2018

Danças sinfônicas para orquestra, Op. 45
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
4 – Non allegro
5 – Andante con moto
6 – Lento assai – Allegro vivace – Lento assai. Come prima – Allegro vivace

Dong Hyek Lim, piano I

Gravado em Berlim, Alemanha, dezembro de 2018

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Mais um Rendez-vous com Martha em Hamburgo, desta vez em 2019, com resultados muito bons, ainda que tão entusiasmantes quanto os do ano anterior. Jamais escreveria isso num tom de queixume, mas a Rainha legou-nos tantas interpretações memoráveis que as revisitas aos itens de seu repertório despertam comparações com as legendárias versões anteriores, num curioso efeito colateral dos setenta anos de carreira e duma magnífica discografia. Refiro-me, principalmente, à gravação do concerto de Tchaikovsky, em que ela brilha como sempre, mas a Sinfônica de Hamburgo não tanto quanto a Royal Philharmonic sob a mesma batuta de Charles Dutoit, décadas antes. E teria havido, enfim, menos elã no notável elenco de intérpretes do que no ano anterior, ou estarei eu tão só blasé depois de tanto escutar gravações antológicas de Marthinha para lhes apresentar sua discografia integral? Só vocês me poderão dizer.

Felix MENDELSSOHN
Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Dó menor, Op. 66
1 – Allegro energico e con fuoco
2 – Andante espressivo
3 – Scherzo
4 – Finale. Allegro appassionato

Renaud Capuçon, violino
Edgar Moreau, violoncelo

Johannes BRAHMS
Sonata para violino e piano no. 1 em Sol maior, Op. 78
5 – Vivace ma non troppo
6 – Adagio
7 – Allegro molto moderato

Renaud Capuçon, violino
Nicholas Angelich, piano

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Wolfgang Amadeus MOZART
Andante e variações em Sol maior para piano a quatro mãos, K. 501
1 – Thema – Variationen I-V

Stephen Kovacevich e Martha Argerich, piano

Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
2 – Adagio sostenuto — Presto
3 – Andante con variazioni
4 – Finale. Presto

Tedi Papavrami, violino

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Fantasia em Fá menor para piano a quatro mãos, D. 940
5 – Allegro molto moderato
6 – Largo
7 – Scherzo. Allegro vivace
8 – Finale. Allegro molto moderato

Gabriela Montero e Martha Argerich, piano

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Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23
1 – Allegro non troppo e molto maestoso
2 – Andantino semplice – Prestissimo – Tempo I
3 – Allegro con fuoco

Symphoniker Hamburg
Charles Dutoit, regência

Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971)
Les Noces, Cenas Coreográficas com Música e Vozes
4 – La tresse
5 – Chez le Marié
6 – Le Départ de la Mariée
7 – Le Repas de Noces

Nicholas Angelich, Gabriele Baldocci, Alexander Mogilevsky e Stepan Simonian, pianos
Europa Choir Akademie Görlitz
Charles Dutoit, regência

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Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
Sonatas (Esercizi) para teclado:
1 – K. 495 em Mi maior
2 – K. 20 em Mi maior
3 – K. 109 em Lá menor
4 – K. 128 em Si bemol menor
5 – K. 55 em Sol maior
6 – K. 32 em Ré menor
7 – K. 455 em Sol maior

Evgeni Bozhanov, piano

Johann Sebastian BACH
Concerto em Lá menor para quatro pianos e orquestra de cordas, BWV 1065
8 – Allegro
9 – Largo
10 – Allegro

Martha Argerich, Dong Hyek Lim, Sophie Pacini e Mauricio Vallina, pianos
Symphoniker Hamburg
Adrian Iliescu, regência

Robert SCHUMANN
Kinderszenen
, para piano, Op. 15
11 – Von fremden Ländern und Menschen
12 – Kuriose Geschichte
13 – Hasche-Mann
14 – Bittendes Kind
15 – Glückes genug
16 – Wichtige Begebenheit
17 – Träumerei
18 – Am Kamin
19 – Ritter vom Steckenpferd
20 – Fast zu ernst
21 – Fürchtenmachen
22 – Kind im Einschlummern
23 – Der Dichter spricht

Martha Argerich, piano

Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
Introdução e Polonaise Brilhante em Dó maior, para violoncelo e piano, Op. 3
24 – Largo – Alla polacca

Mischa Maisky, violoncelo

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Sergey PROKOFIEV
Sonata para violino e piano no. 2 em Ré maior, Op. 94a
1 – Moderato
2 – Presto
3 – Andante
4 – Allegro con brio

Tedi Papavrami, violino

Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 26
1 – Andante – Allegro
2 – Tema con variazioni
3 – Allegro ma non troppo

Symphoniker Hamburg
Sylvain Cambreling, regência

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Wolfgang Amadeus MOZART
Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381
1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto

Martha Argerich e Akane Sakai, piano

Claude DEBUSSY
Petite Suite, para piano a quatro mãos, L. 65
4 – En bateau
5 – Cortège
6 – Menuet
7 – Ballet

Sergei Babayan e Evgeni Bozhanov, piano

Enrique GRANADOS Campiña (1862-1916)
Transcrição para violino e piano de Fritz Kreisler (1875-1962)
Das Doze danças espanholas, Op. 37
8 – No. 5: Andaluza

Friedrich “Fritz” KREISLER (1875-1962)
9 – Schön Rosmarin

Géza Hosszu-Legocky, violino
Sergei Babayan, piano

Francis Jean Marcel POULENC (1899-1963)
Sonata para dois pianos, FP 165
10 – Prologue
11 – Allegro molto
12 – Andante lyrico
13 – Epilogue

Witold Roman LUTOSŁAWSKI (1913-1994)
14 – Variações sobre um tema de Paganini, para dois pianos

Karin Lechner e Sergio Tiempo, pianos

Sergey RACHMANINOV
Das Seis peças para piano a quatro mãos, Op. 11
15 – No. 4: Valsa

Martha Argerich e Khatia Buniatishvili, piano

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Gravado em Hamburgo, Alemanha, junho de 2019


 

A gravação mais recente de Martha, já sob a égide da Covid-19, foi feita em duo com a pianista grega Theodosia Ntokou, outra de suas muito queridas protegidas. A escolha de uma transcrição da sinfonia “Pastoral” de Beethoven só não é mais curiosa do que a própria versão escolhida: em lugar da mais famosa e autoritativa, feita por Carl Czerny, aluno do próprio renano, elas escolheram o obscuro arranjo do ainda mais obscuro Selmar Bagge. A “Pastoral” foi-me uma grata surpresa, assim como lhes será a bonita leitura que Ntokou entrega da sonata “Tempestade”, depois de se despedir da Rainha. E, já que estamos a falar de despedidas, despeço-me eu aqui por terminar de oferecer-lhes, ao longo de oito capítulos e incontáveis adiamentos, a discografia completa da maior pianista de nosso tempo, num tributo aos seus oitenta anos que, concluído já no caminho de seus oitenta e dois, deseja-lhe a saúde e o fogo de sempre para oferecer ao público que tanto a ama o estupor com que ela o nutre há mais de sete décadas.

Ludwig van BEETHOVEN

Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral”
Transcrição para dois pianos de Selmar Bagge (1823-1896)
1 – Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande. Allegro ma non troppo
2 – Szene am Bach. Andante molto moto
3 – Lustiges Zusammensein der Landleute. Allegro
4 – Gewitter. Sturm. Allegro
5 – Hirtengesang. Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm. Allegretto

Theodosia Ntokou, piano II

Gravado em Lugano, Suíça, julho de 2020

Das Três sonatas para piano, Op. 31:
No. 2 em Ré menor, “Tempestade”
6 – Largo
7 – Adagio
8 – Allegretto

Theodosia Ntokou, piano

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Desta década da discografia da Rainha vocês já encontravam aqui no PQP Bach as seguintes gravações:

W. A. Mozart (1756-1791): Piano Concerto No.25 K.503 & Piano Concerto No.20 K.466

2013


A Quatro Mãos: Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Franz Schubert (1797-1828) – Igor Stravinsky (1882-1971) – Duos para piano – Martha Argerich e Daniel Barenboim

2014

[Restaurado] Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Abertura de “Le Nozze di Figaro” – Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15 – Maurice Ravel (1875-1937): Rapsodie Espagnole – Pavane pour une Infante Défunte – Alborada del Gracioso – Boléro – Argerich – Barenboim #BTHVN250

2014


Hiroshima, ano 77 [Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano no. 1, Op. 15 – Argerich / Dai Fujikura (1977): Concerto para piano no. 4, “Akiko’s Piano” – Hagiwara]

2015


[Restaurado] BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15 – Sinfonia no. 1 em Dó maior, Op. 21 – Argerich – Ozawa

2017


[Restaurado] Sergey Prokofiev – Prokofiev for Two – Martha Argerich, Sergei Babayan

2017


Viva a Rainha! – Martha Argerich, 80 anos [Debussy: Fantasia para piano e orquestra]

2018


[Restaurado] BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 18 – Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Divertimento, K. 136 (excerto) – Edvard Grieg (1843-1907) – Suíte Holberg, Op. 40 – Argerich – Ozawa

2019



Nossa Rainha fala português [e que sdds, Nelson ♥♥♥]

Vassily