Às vezes ele é um Egberto Gismonti soltando vocalizes de vogais puras ao piano, em outras parece um Jarrett (mas fazendo ritmos com a boca), depois um elegante Chick Corea ou quem sabe um Satie enlouquecido? Mas, bem, a música sempre tem certo sabor oriental. Com tantos cruzamentos, é melhor dizer que tudo isso é Tigran Hamasyan, um pianista armênio de jazz. Ele toca composições originais que são fortemente influenciadas pelo que adiantei e ainda pela tradição popular armênia. Suas improvisações contêm harmonias e ornamentações estranhas, certamente baseados em tradições do Oriente Médio e do sul da Ásia Ocidental. Vale a pena ouvir e acompanhar a carreira. Este An Ancient Observer é muito bom disco. Desde a primeira faixa, entramos num mundo em que a palavra “ancient” é responsável por séculos de história, e as melodias vão e vem como lembranças de um sonho. Os vocais não somente adicionam riqueza de timbres, mas também cerca o ouvinte com uma presença espiritual.
Tigran Hamasyan (1987): An Ancient Observer
1 Markos and Markos 5:38
2 The Cave of Rebirth 5:39
3 New Baroque 1 1:50
4 Nairian Odyssey 11:00
5 New Baroque 2 1:36
6 Etude No. 1 2:08
7 Egyptian Poet 2:20
8 Fides Tua 4:51
9 Leninagone 3:56
10 Ancient Observer 5:57
Resolvi fazer minha primeira incursão no jazz neste blog. Como o colega PQP disse de si, não sou nenhum especialista nesse gênero: nem pensem em discutir comigo detalhes de estilos, gravações, nomes – mas, como em quase todos os campos, tenho minhas paixões também no jazz – e esta é provavelmente a maior. Não estranhem, portanto, que se trate de alguém que chegou a esse campo por uma porta lateral ou dos fundos, ou que fez qualquer caminho que não o mais usual em qualquer coisa: quase todas as minhas paixões são assim!
Miss Simone, ou melhor, Eunice Kathleen Waymon (com 36 anos na foto ao lado), começou com o piano aos 3 anos e fez um caminho de aprendizado clássico, como se nota das inflexões chopinianas da faixa 9 e sobretudo nas bachianas por toda parte, em especial na faixa 7.
Acontece que os recursos para bancar os estudos, pra variar um pouquinho, eram escassos, e Miss Waymon começou a levantar uns trocos tocando e cantando na noite – coisa que a senhora sua mãe pastora metodista fundamentalista não podia saber de jeito nenhum, pois apesar de não haver lido Drummond jamais consideraria isso uma solução, apenas uma quase-rima: com DEMON.
Foi assim que nasceu uma nova pessoa: Nina Simone – que levou uma vida tão cheia de aventuras e desventuras (pelo Caribe, África e França, inclusive impedida – acreditem – de voltar aos EUA por razões legais) que vocês deveriam procurar ler sobre ela em algum lugar.
Em 1958 sai então o primeiro disco dessa figura, então com 25 anos: Little Girl Blue. Estou dizendo porque todas as fontes dizem, mas não estranho se vocês duvidarem como eu duvidei: “isso não pode ser um disco de estreia!”
Não ouso dizer que seja um dos melhores discos da história do jazz porque, como já disse, não sou especialista e poderia ser apedrejado. Mas para mim, meu sentir pessoal, é um dos discos mais belos da história, ponto. Sim, yes, ja, oui: outros podem sentir diferente, mas eu sinto isso, digo há tempos e a impressão não parece querer mudar.
Mas como cada um é cada um, sugiro que vão sem nenhuma expectativa – como, aliás, acho que a gente devia ir sempre a qualquer coisa nova, não?
Nina Simone: Little Girl Blue (1958)
01 – Mood indigo [originalmente faixa 02]
02 – Don’t smoke in bed
03 – He needs ne
04 – Little girl blue
05 – Love me or leave me
06 – My baby just cares for me
07 – Good bait
08 – Plain gold ring
09 – You’ll never walk alone
10 – I loves you, Porgy [originalmente faixa 01]
11 – Central Park Blues
[Faixas-bônus – posteriores – incluídas na fonte utilizada]
12 – He’s got the whole world in His hands
13 – For all we know
14 – African mailman
15 – My baby just cares for me (extended version)
Excelente CD. A música de Monteverdi com episódios e elementos jazzísticos aqui e ali. Roberta Mameli é excelente cantora e não canta Monteverdi por acaso: é uma especialista no compositor. Na maioria das faixas, ela mantém a linha original da partitura acompanhada de instrumentos barrocos da maneira tradicional, enquanto os solistas de jazz — saxofone, trompete, bateria (escovas) ou violoncelo — pegam linhas melódicas, fornecem acompanhamento harmônico ou dão um fundo rítmico, transformando as peças antigas em uma mistura de barroco e jazz. Em algumas peças, até mesmo o cravo se aventura em harmonias jazzísticas. As faixas são bem executadas e gravadas. Pode-se demorar um pouco para se acostumar com essa mistura eclética de estilos musicais, mas eu já estava adaptado desde a primeira faixa. Grande Roberta Mameli, que aparece despida de preconceitos e disposta a explorações de um repertório que é tudo, menos morto.
‘Round M: Monteverdi Meets Jazz
1 Madrigals, Book 8 (Madrigali, libro ottavo), “Madrigali guerrieri, et amorosi”: Lamento della ninfa, SV 163 (arr. for jazz ensemble) 7:50
2 Ohime ch’io cado, ohime (arr. A. Lo Gatto) 5:17
3 Cantade: Usurpator tiranno (arr. for jazz ensemble) 9:03
4 Curtio precipitato et altri capricii, Book 2, Op. 13: Canzonetta, “Spirituale sopra la nanna” (arr. for jazz ensemble) 9:42
5 Bizzarrie poetiche poste in musica, Book 3, Op. 4: Pianto di Erinna (arr. for jazz ensemble) 8:08
6 Madrigals, Book 7 (Concerto: settimo libro de madrigali): Ohime, dov’e il mio ben, dov’e il mio core?, SV 140 (arr. for jazz ensemble) 5:54
7 Si dolce e’l tormento (arr. for jazz ensemble) 6:53
8 Trasfigurazione della ninfa 8:20
Desde a sua introdução em 2003, a coleção de 6 CDs “Best Audiophile Voices” tem consistentemente contado com algumas das mais elegantes gravações vocais femininas de jazz dos últimos anos. Produto mais vendido da Top2 Music, passou a ser sinônimo de melodias memoráveis, vocais de qualidade, arranjos suaves e gravações superiores.
Muitas intérpretes aqui listadas não são tão conhecidas do grande mundo fonográfico pois gostam mais de se apresentar em casas noturnas do restrito Circuito Elizabeth Arden.
Preparei as que mais gosto para esta postagem. Espero que também apreciem.
Palhinha: ouçam: 13 Both Sides Now (Jeanette Lindstrom & Steve Dobrogosz, autor, ao piano)
01 It Wouldn’t Have Made a Difference (Alison Krauss)
02 When I Dream (Carol Kidd)
03 What a Wonderful World (Eva Cassidy)
04 Over the Rainbow (Jane Monheit)
05 Perhaps Love (Jheena Lodwick)
06 Dave True Story (Kelly Flint)
07 Better be Home Soon (Andrea Zonn)
08 When I Fall in love (Claire Martin)
09 Fly Away (Corrinne May)
10 Desperado (Emi Fujita)
11 In a Sentimental Mood (Jacqui Dankworth)
12 I Left My Heart in San Francisco (Jean Frye Sidwell)
13 Both Sides Now (Jeanette Lindstrom & Steve Dobrogosz, autor, ao piano)
14 My Foolish Heart (Salena Jones)
15 Someone to Watch Over Me (Susannah McCorkle)
16 Cry Me a River (Tania Maria)
17 Fields of Gold (Emi Fujita)
18 Secret Love (Janet Seidel)
19 We’ve Only Just Begun (Salena Jones)
20 Vincent (Starry night) (Sara K)
21 For All We Know (Hayati Kafe)
22 Lady Jane (Jane Duboc)
23 If (Marianna Leporace)
24 You Don’t Bring Me Flowers (Salena Jones)
25 Get me through December (Alison Krauss & Natalie Mac Master)
26 Blame it on my youth (Emilie-Claire Barlow)
27 Bridge over troubled water (Eva Cassidy)
28 You belong to me (Janet Seidel)
29 500 miles (Noon)
30 Smoke gets in your eyes / All the things you are (Roberta Gambarini)
31 I don’t want to miss a thing (Salena Jones)
32 You’ve got a friend (Stacey Kent)
“If you have to ask what jazz is you will never know”. São palavras brilhantes de Louis Armstrong, que contêm grande verdade, dada a capacidade do jazz de incorporar um enorme leque de influências, humores, cores, sons, o que torna sua definição decididamente inexata. E fascinante. Gerald Clayton é um pianista nascido na Holanda, mas que mora desde criança em Los Angeles. Seu Tributary Tales é um álbum que não perde tempo, com a excelente “Unforeseen” abrindo esplendidamente o disco. O que se destaca imediatamente é o trabalho de percussão — Cole, Lugo e Brown arrasam. Ao longo de uma boa parte do disco, Clayton parece se esquivar dos holofotes, tendo a seção de sopros o comando da melodia principal enquanto seu (excelente) piano tem um papel mais percussivo, em segundo plano. Curiosamente, nota-se algo de soul music aqui e ali. Um baita disco.
Gerald Clayton: Tributary Tales
1 Unforeseen 5:58
2 Patience Patients 6:13
3 Search For 1:08
4 A Light 4:19
5 Reach For 0:36
6 Envisionings 6:43
7 Reflect On 1:09
8 Lovers Reverie 3:11
9 Wakeful 5:54
10 Soul Stomp 7:47
11 Are We 7:00
12 Engage In 1:29
13 Squinted 7:11
14 Dimensions: Interwoven 5:50
15 Blues For Stephanie (Japan-only bonus track)
Gerald Clayton: piano; Logan Richardson: sax (alto); Ben Wendel: sax (tenor, baixo); Dayna Stephens: sax (barítono); Joe Sanders: baixo; Justin Brown: bateria; Aja Monet: voz; Carl Hancock Rux: voz; Sachal Vasandani: voz; Henry Cole: percussão; Gabriel Lugo: percussão.
Ingmar Bergman disse uma vez que Andrei Tarkovsky filmava como se sonha. E o Quarteto Tarkovsky, que recebeu o nome do grande cineasta russo, desenvolveu uma linguagem de própria, muito próxima dos sonhos. Para o líder e pianista François Couturier, o silêncio e a lentidão de Tarkovsky estão intimamente relacionados com a estética desenvolvida no terceiro álbum do grupo, Nuit blanche, produzido por Manfred Eicher em Lugano em abril de 2016. Aqui temos peças diversas composta por François Couturier ou criadas no momento por Couturier, a violoncelista Anja Lecher, o saxofonista Jean-Marc Larché e o acordeonista Jean-Louis Matinier. Elas exploram a textura dos sonhos e da memória e continuam a fazer uma referência oblíqua a Tarkovsky. É improviso, composição moderna e música barroca,tudo ao mesmo tempo agora.
François Couturier (1950): Nuit Blanche
1 Rêve 2:54
2 Nuit blanche 5:38
3 Rêve II 1:22
4 Soleil sous la pluie 4:41
5 Dream III 2:05
6 Fantasia 4:26
7 Dream IV 2:29
8 Urga 11:19
9 Daydream 2:52
10 Cum Dederit Delectis Suis Somnum 5:46
11 Nightdream 2:23
12 Vertigo 0:57
13 Traum V 1:31
14 Traum VI 2:25
15 Dakus 4:34
16 Quant ien congneu a ma pensee 5:05
17 Rêve étrange… 1:20
“This is apparently the thirteenth release by the Necks, and this reviewer is ashamed to admit that it’s the first one he’s heard, especially when the music is singular enough to satisfy the average iconoclast status to which this reviewer would make no claim, incidentally.”
Faço minha a confissão de Nic Jones, do All About Jazz — até me sinto melhor por ter chegado atrasado. Estou postando este disco de supetão: descobri-o hoje cedo e não pude parar de ouvi-lo desde então, e estou louco pra chegar em casa e escutá-lo com a devida atenção, nas minhas queridas e pesadas caixas de som, ao invés desses fones de ouvido vazando o entrecortado ambiente de trabalho.
O The Necks é um trio australiano cuja exploração se dá num espectro bastante específico, e pouco revisto, do jazz: o minimalismo. “Chemist” evoca os drone blues de La Monte Young, as texturas de Steve Reich e os espaços acústicos dos discos de Miles Davis entre 1969 e 1970; um jazz que evolui muito lentamente, hipnotizando. Não há canções, e os temas desenvolvem-se sem objetivo que não o de observar a própria trajetória — mas, ao contrário do que se poderia esperar, não é enfadonho, nem carece de um melhor arranjo. Inclusive recebe bem ouvintes de jazz de quaisquer vertentes — que não tenham transtorno de déficit de atenção, preferencialmente, para encarar as faixas de mais de 20 minutos — , pois é um disco límpido, suave e bem-articulado.
“Ultimately, the chasm between being genuinely creative and simply going over the same old ground is arguably as wide as it’s ever been, and this group comes down firmly on the side of the former.
Now, these ears have got some catching up to do.”
The Necks – Chemist /2006 [V0]
Chris Abrahams: piano, keyboards
Lloyd Swanton: bass
Tony Buck: drums, percussion, guitar
Para solicitar a ativação de algum link, deixe sua mensagem clicando no quadradinho em branco no lado superior direito desta postagem.
No seu estilo pedante, a crítica de jazz cita 1959 como um annus mirabilis, um ano premiado. Nele foram gravados os álbuns Kind of Blue e Sketches of Spain, de Miles Davis; Mingus Ah Um, de Charles Mingus; e Time Out, de Dave Brubeck. Todos numa antiga igreja armênia da Rua 30, em Nova York, convertida em estúdio pela Columbia. Uma faixa do álbum de Brubeck, “Take Five”, logo fascinou a todos por sua ginga hipnótica e pelo uso arrojado do tempo 5/4. Lançada em single, se tornaria, em 1961, o primeiro disco de jazz a atingir a marca de um milhão de cópias vendidas. Embora Brubeck fosse o cérebro do quarteto e sua autêntica máquina-de-compor, o sucesso veio de onde menos se esperava: de Paul Desmond, o saxofonista improvisador, basicamente um intérprete de material alheio.
O álbum Time Out quase não foi lançado. Chegou às lojas contra a vontade de todos os executivos da Columbia, menos um: o manda-chuva Goddard Lieberson, presidente da companhia. Dave Brubeck relembra: “Quebrei três leis da Columbia. Todas as sete faixas eram composições originais, quando a gravadora gostava de entremear com standards. Queria também músicas que fizessem as pessoas dançar e eu lhes dei todos aqueles compassos esquisitos. Botaram um pintura na capa do LP, coisa que nunca se fazia com um disco de jazz. Obviamente, a companhia não queria lançar o álbum”. Surpreendentemente, os fãs estavam mais preparados para os compassos extravagantes de Brubeck do que os executivos da indústria fonográfica e não só compraram o álbum, como dançaram ao som dele. Como intérprete, Paul Desmond foi um saxofonista cool por excelência. Avesso aos ruídos fisiológicos subjacentes ao instrumento (arquejos, guinchos e sussurros de palhetas, percussão de teclas), sempre tocou longe do microfone, emitindo um som limpo e cristalino, direto da campanha do seu alto. Definia seu som inconfundível com um gracejo: “Eu sempre quis soar como um martini seco”.
“Take Five” foi tocada muitas vezes pelo quarteto e dezenas de artistas a gravaram, da cantora sueca Monica Zetterlund em 1962 à versão póstuma de King Tubby em 2002. Em 1961, Carmen McRae gravou uma versão com letra composta por Dave e sua mulher, Iola.
Desmond morreu aos 52 anos, em 1977, de câncer do pulmão, sem descendentes. Os royalties de suas composições e interpretações, foram destinados, segundo sua vontade, para a Cruz Vermelha norte-americana, que recebe cerca de cem mil dólares por ano. “Take Five” representa grande parte desta receita, e continua fazendo a rapaziada dançar ao compasso de 5/4. (parte do artigo de Roberto Muggiati, Gazeta do Povo, Curitiba, 16.08.09. O texto completo está em: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=915077&tit=Paul-Desmond-e-o-jazz-milionario).
1. Blue Rondo A La Turk – Dave Brubeck (echoes Mozart’s “Rondo alla Turca” from his Piano Sonata No. 11)
2. Strange Meadow Lark – Dave Brubeck
3. Take Five – Paul Desmond
4. Three To Get Ready – Dave Brubeck
5. Kathy’s Waltz – Dave Brubeck
6. Everybody’s Jumpin’ – Dave Brubeck
7. Pick Up Sticks – Dave Brubeck
Coletâneas são desiguais, mas têm a vantagem de nos darem uma visão bastante clara das diversas vertentes de um artista, se ele as tiver, claro. Algumas das faixas abaixo já foram divulgadas no PQP, casos de Edges Of Illusion e Gone to the dogs, mas há outras extraordinárias, que me fazem desejar conhecer inteiramente os álbuns de onde saíram. Esta coletânea é uma espécie de isca. E eu a fisguei e estou bem feliz de ser puxado pelo anzol de Surman. A qualidade do som dos saxes e clarinetes do inglês é inacreditável.
John Surman – Selected Recordings (1976-1999)
1 Druid’s Circle
2 Number Six
3 Portrait of a Romantic
4 Ogeda
5 The Returning Exile
6 Edges Of Illusion
7 The Buccaneers
8 The Snooper
9 Mountainscape VIII
10 Figfoot
11 Piperspool
12 Gone To The Dogs
13 Stone Flower
John Surman – Soprano Saxophone, baritone saxophone, bass clarinet, recorder, synthesizer, keyboard
John Abercrombie – guitar
Paul Bley – piano
Gary Peacock – double-bass
Barre Phillips – double-bass
Chris Pyne – trombone
Terje Rypdal – guitar
As tais Variações sobre Campos Asiáticos marca a primeira vez que o clarinetista Louis Sclavis, o violinista Dominique Pifarély eo violoncelista Vincent Courtois gravaram como um trio. Sclavis convocou o projeto, mas o grupo é democrático: “Eu propus que fizéssemos um coletivo real, e cada um de nós compôs para o programa.” O “novo grupo” tem bastante pré -história: Sclavis e Pifarély têm tocado juntos em diversos contextos há 35 anos, Sclavis e Courtois há 20 anos, mas eles efetivamente mantêm a capacidade de surpreender uns aos outros como improvisadores. “Estamos redesenhando nossa forma de interagir e estamos continuamente trazendo novas coisas para o projeto”. O álbum tem produção de Manfred Eicher.
Louis Sclavis, Dominique Pifarély, Vincent Courtois: Asian Fields Variations
Sei que estou em débito com os senhores devido a minha baixa contribuição ao blog. Vamos tentar compensar um pouco com este CD triplo, que com certeza vai receber o selo de qualidade de IM-PER-DÍ-VEL !!!. E não creio que precise explicar as razões. Basta ouvir e se deliciar . São três cds, que prometem trazer todas as colaborações entre estes dois gigantes da música do século XX, Louis Armstrong e Ella Fitzgerald. Um show de competência, virtuosismo, sensibilidade, e sei lá mais o quê …
os dois primeiros cds trazem um timaço de músicos acompanhantes, que incluem:
Oscar Peterson – Piano
Herb Ellis – Guitar
Ray Brown – Bass
Buddy Rich – Drums
Do terceiro CD, tenho apenas a informação de se trata da Orquestra de Russel Garcia.
CD 1
01 Can’t We Be Friends
02 Isn’t This a Lovely Day
03 Moonlight in Vermont
04 They Can’t Take that Away from Me
05 Under a Blanket of Blue
06 Tenderly
07 A Foggy Day
08 Stars Fell on Alabama
09 Cheek to Cheek
10 The Nearness of You
11 April in Paris
12 Don’t Be that Way
13 Makin’ Whoopee
14 They All Laughed
15 Comes Love
16 Autumn in New York
01 Let’s Do It
02 Stompin’ at the Savoy
03 I Won’t Dance
04 Gee, Baby, Ain’t I Good to You
05 Let’s Call the Whole Thing Off
06 These Foolish Things
07 I’ve Got My Love to Keep Me Warm
08 Willow Weep for Me
09 I’m Puttin’ All My Eggs in One Basket
10 A Fine Romance
11 Ill Wind (You’re Blowin’ Me No Good)
12 Love Is Here to Stay
13 I Get a Kick Out of You
14 Learnin’ The Blues
15 You Won’t Be Satisfied (Until You Break My Heart)
16 Undecided
01 Overture
02 Summertime
03 I Wants to Stay Here
04 My Man’s Gone Now
05 I Got Plenty O’ Nuttin
06 The Buzzard Song
07 Bess, You Is My Woman Now
08 It Ain’t Necessarily So
09 What You Want Wid Bess
10 A Woman Is a Sometime Thing
11 Oh, Doctor Jesus
12 Medley – Here Come De Honey Man – Crab Man – Oh, Dey’s So Fresh and Fine
13 There’s a Boat Dat’s Leavin’ Soon for New York
14 Oh, Bess, Oh Where’s My Bess
15 Oh, Lawd, I’m on My Way
Este CD de Jack DeJohnette me foi apresentado por um grande amigo integrante da OSPA (não se trata de caxumba, mas da famigerada Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) e talvez seja um dos três melhores discos lançado pela ECM em toda sua riquíssima história. É estupendo e jamais me esqueceria dele se fosse para aquela ilha deserta! Abaixo, faço um copy and paste de duas críticas encontradas na rede. As críticas publicadas têm muito menos entusiasmo do que teria uma minha. Sou grande admirador deste CD que é uma sequência irrepetível de cinco obras-primas. O quarteto é notável, com destaque para David Murray. O que vocês ouvirão não é algo rotineiro. Baixem logo e ouçam atentamente.
This is a very cool album from drummer DeJohnette. His sidemen, Arthur Blythe and David Murray are both superb soloists, and each of them get some room to show their talents. Three of the five tunes are DeJohnette’s originals, my favorite of which is the rather catchy “Zoot Suite”. Filling out the album are two Coltrane tunes. For the most part, this has none of the atmospheric and cool aesthetic that most ECM albums have. It is quite lively and at times ferocious. Definitely worth checking out.
By Eric Brinkmann
Jack DeJohnette, man!!,
This Jack DeJohnette date is a studio recording from 1980 that features a quartet with David Murray on tenor sax and bass clarinet, Arthur Blythe on alto, and Peter Warren on bass and cello. It’s true that Jack DeJohnette is something of an impressionist drummer and, as such, he helped define the sound of the ECM label, home of Pat Metheny, Keith Jarrett, and Jan Garbarek. He was also known for the occasional piano excursion and on this album plays both piano and melodica when he’s not on the skins, while showcasing his compositional talents with 3 originals and 2 Coltrane tunes.
In addition to DeJohnette’s adventurous writing, this recording is really defined by the presence of World Saxophone Quartet players David Murray and Arthur Blythe. David Murray is the heir apparent to Eric Dolphy, and here he pays tribute to the bearded one with bass clarinet excursions on the DeJohnette penned “One for Eric” and the Coltrane/Dolphy standard “India.” Murray has really mastered this instrument (though he typically favors tenor sax) and I’m always searching for albums where he gets it out. Like Murray, Blythe is also comfortable stretching things out in the upper register with wails and squawks when the moment calls for it.
On “One for Eric,” after the players state the theme, Murray gets into a sauntering bass clarinet exploration before Blythe picks up the pace in the second half with a wailing alto sax solo, then bass and drum solos before the group returns to repeat the theme in unison to conclude. Fairly straight ahead structure here with fiery solos. “Zoot Suite” on the other hand, alternates between a repeated six-note stanza, with the players dancing around it very much in the spirit of the WSQ, and sections of third-stream cello-infused textures. Murray and Blythe get into a duel at the 2/3rds mark, before a return to third-stream impressionistics to round out the piece. Coltrane’s “Central Park West” is a brief, languid ballad with the horns and cello playing an almost dirge without time for any soloing. “India” has DeJohnette starting things off on piano, with Murray on bass clari and Blythe on alto coming in like Coltrane and Dolphy before Murray goes into his solo and then Blythe following — this tune is similar in form to the first track, with great horn soloing on top of a fairly standard arrangement.
It’s “Journey to the Twin Planet” that is the standout here, and apparently an acquired taste, though I acquired this album because of this particular track. It’s a bit avante garde and starts deceptively slow and exploratively with melodica, tenor, and alto sputtering, squawking, and blowing airily before things gradually build to a spastic, orgiastic release at 2:22 with all four players going at it — DeJohnette crashing the cymbals, Murray blustering away, Blythe caterwalling, and Warren plucking furiously. Then they’re back to the careful explorations that they started with, continuing at a snails pace with melodica, cello, and horns, before segueing into a melodica-led rhythm that sounds like something Steve Reich would have written. It’s adventurous, other-worldly, and out-there — honestly, I wish the whole album was like this, though obviously some will feel the opposite.
At 38 minutes, this is an all-too-short album, but the DeJohnette arrangements, fierce blowing by Murray and Blythe, and curious instrumentation make this an fascinating and enjoyable album.
By Joe Pierre
Jack DeJohnette – Special Edition (1979)
1. One For Eric (DeJohnette)
2. Zoot Suite (DeJohnette)
3. Central Park West (Coltrane)
4. India (Coltrane)
5. Journey To The Twin Planet (DeJohnette)
David Murray – Clarinet (Bass), Sax (Tenor)
Arthur Blythe – Sax (Alto)
Jack DeJohnette – Drums, Synthesizer, Guitar, Piano, Melodica, Main Performer, Producer, Keyboards, Mellophonium
Peter Warren – Bass, Cello
Música composta por François Couturier tendo por inspiração os filmes de Andrei Tarkovsky, seus atores favoritos e a forma como ele jogava com cor e som. Couturier é louco por Tarkovsky. Bem, eu também sou louco por Tarkovsky. O compositor reuniu um grupo pouco ortodoxo de músicos para o projeto. Anja Lechner, mais conhecida nos círculos clássicos, já demonstrou em Chants, Hymns and Dances (ECM, 2004) do que é capaz. O acordeonista Jean-Louis Matinier trabalha com Couturier no trio de Anouar Brahem. O saxofonista soprano Jean-Louis Marché é o novo nome aqui, embora tenha trabalhado com Couturier e Matinier no passado. A química do grupo inequivocamente funciona.
François Couturier (1950): Nostalghia – Song For Tarkovsky
1 Le Sacrifice 8:59
2 Crépusculaire 13:20
3 Nostalghia 8:27
4 Solaris I
Composed By – Lechner*, Couturier*, Larché*
3:19
5 Miroir 3:21
6 Solaris II
Composed By – Lechner*, Couturier*, Larché*
2:47
7 Andreï 7:05
8 Ivan
Composed By – Couturier*, Larché*
6:14
9 Stalker 7:01
10 Le Temps Scellé 5:02
11 Toliu 8:24
12 L’Éternel Retour 3:46
Accordion – Jean-Louis Matinier
Piano – François Couturier
Soprano Saxophone – Jean-Marc Larché
Violoncello – Anja Lechner
As famosas Children`s Songs, de Chick Corea, foram originalmente lançadas em 1984, no vinil cuja capa colocamos ao lado. Corea diz que Béla Bartók foi uma de suas maiores influências e, pô, está na cara. Suas Canções Infantis são breves e tranquilas. São também líricas e de estrutura nem tão simples assim (imagina se a 11ª pode ser chamada de simples?!). Elas são uma espécie de versão de Corea para os Mikrokosmos de Bartók. Ele apredeu piano com eles. As 153 pequenas peças de Bartók foram escritas como um crescente desafio para jovens estudantes de piano. Já as 20 de Corea são miniaturas altamente melódicas que refletem um certo ar brincalhão — em alguns casos, naïve. É aquele tipo de música enganadora: parece simples, mas sofre terrivelmente na mão de pianistas fracos. Não é o caso do grande virtuose Chick Corea.
Um bom disco de jazz. Melodioso, tranquilo, educado. PQP Bach prefere coisas mais viscerais, mas o CD de Enrico Pieranunzi (piano), Marc Johnson (baixo acústico) e Gabriele Mirabassi (clarinete) agradou por sua simplicidade e calma. Foi bom ouvi-lo no calor insuportável de Porto Alegre durante o último fim-de-semana. Ajudou a manter a cabeça no lugar. Indicado para quem está em férias. Os clarinetistas costumam babar por Mirabassi, atenção!
Racconti Mediterranei
1. The Kingdom (Where Nobody Dies) 6:58
2. Les amants 4:34
3. Canto nascosto 3:47
4. Il canto delle differenze 5:48
5. Una piccola chiave dorata 4:40
6. O toi dèsir 5:45
7. Lighea 6:10
8. Coralie 5:39
9. Un’alba dipinta sui muri 4:16
10. Stefi’s Song 4:56
11. Canzone di Nausicaa 7:34
Enrico Pieranunzi, piano
Marc Johnson, contra-baixo
Gabriele Mirabassi, clarinete
Este disco me foi apresentado por um amigo no início dos anos 80. Adorei, curti, ouvi muito, nossa, mas acho que fazia uns 20 anos que não o fazia. Peguei o vinil hoje e vi quão anos 70 ele é. Uma confusão de gêneros e uma instrumentação que jamais Corea utilizaria se fossem outros os tempos, só que há um talento e uma juventude embutidos nele que o torna uma obra-prima daquelas indiscutíveis. O pianista, compositor e arranjador Chick Corea é mais conhecido por seus grupos de fusion Return to Forever e Chick Corea’s Elektrik Band, mas tem um pé na salsa que tocava com Mongo Santamaria no início de carreira. Se o jazz norte-americano é óbvio e principal ao longo de sua carreira, seu interesse pelo derramamento lírico espanhol também é. Este ambicioso trabalho — disco do ano de 1976 em quase todas as publicações — traz boa parte da herança cultural de sua família. além de ser uma reminiscência da colaboração entre Miles Davis e Gil Evans em Sketches of Spain e da pesquisa de Charles Mingus em Tijuana Moods. Já postamos estas duas outras obras-primas?
Chick Corea – My Spanish Heart
1 Love Castle 4:46
2 The Gardens 3:12
3 Day Danse 4:27
4 My Spanish Heart 1:38
5 Night Streets 6:02
6 The Hilltop 6:16
7 The Sky 4:58
8 Wind Danse 4:55
9 Armando’s Rhumba 5:19
10 Prelude To El Bozo 1:34
11 El Bozo, Part I 2:52
12 El Bozo, Part II 2:04
13 El Bozo, Part III 4:59
14 Spanish Fantasy, Part I 6:06
15 Spanish Fantasy, Part II 5:15
16 Spanish Fantasy, Part III 3:06
17 Spanish Fantasy, Part IV 5:06
18 The Clouds 4:33
Logo após elogiadíssimos trabalhos com o trompetista Paolo Fresu (Chiaroscuro) e com os guitarristas Wolfgang Muthspiel e Slava Grigoryan (Travel Guide), Ralph Towner retorna a um trabalho solo com My Foolish Heart. O toque de Towner em seu violão de 12 cordas é imediatamente identificável e os trabalhos solo são uma parte importante da discografia deste multi-instrumentista que completa 77 anos no próximo dia 1º de março. My Foolish Heart segue a grande tradição de Diary, Solo Concert, Ana, Anthem e Time Line. O CD possui novas composições, todas muito boas — uma linda homenagem ao falecido Paul Bley (Blue As In Bley), bem como duas (Shard e Rewind) do Oregon, grupo do qual participa desde o Período Pré-Antigo. O único standard é My Foolish Heart, famosa na interpretação de Bill Evans. O 29º álbum de Towner para a ECM tem apenas 40 min, mas vale cada segundo.
Ralph Towner: My Foolish Heart
1 Pilgrim 4:31
2 I’ll Sing To You 4:32
3 Saunter 5:01
4 My Foolish Heart 3:51
5 Dolomiti Dance 4:24
6 Clarion Call 4:40
7 Two Poets 2:04
8 Shard 0:54
9 Ubi Sunt 1:20
10 Biding Time 1:29
11 Blue As In Bley 3:53
12 Rewind 3:43
Este é um CDs mais baixados do PQP Bach em todos os tempos. E merece. Tenho pouco a dizer. É um dos melhores discos de jazz que já ouvi. Mesmo. The Lost Chords Find Paolo Fresu é uma obra-prima desta tremenda compositora, pianista, arranjadora, band leader e dona do espetacular grupo The Lost Chords. Notável a elegância e sofisticação de lady Bley, aqui aos 71 anos, idade que tinha quando do lançamento do disco. Aqui, Carla Bley deixa inteiramente de lado seu humor anárquico e, tendo convidado o extraordinário trompetista italiano Paolo Fresu — uma das maiores revelações do jazz atual — , expõe inesperado e melancólico lirismo.
Se um dia eu chegasse à conclusão que não teria mais tempo ou disposição para seguir no PQP, este álbum seria uma bela despedida; mas ainda não penso nisso, pois acho que ainda devo auxiliar os melhores acordes perdidos a encontrar os mais compreensivos ouvidos.
(Os antigos ouvintes dos Beatles reconhecerão I want you (She`s so heavy) na faixa 4. Descubram lá!)
Carla Bley: The Lost Chords Find Paolo Fresu
1. One Banana 8:29
2. Two Banana 6:37
3. Three Banana 3:50
4. Four 4:51
5. Five Banana 7:51
6. One Banana More 1:23
7. Liver Of Life 7:13
8. Death Of Superman / Dream Sequence#1 – Flying 7:50
9. Ad Infinitum 7:42
Paolo Fresu: trumpet, flugelhorn
Andy Sheppard: soprano and tenor saxophones
Carla Bley: piano
Steve Swallow: bass
Billy Drummond: drums.
Charlie Haden é o baixista Charlie Haden, um dos maiores nomes do jazz de todos os tempos, infelizmente falecido em julho de 2014. Gonzalo Rubalcaba é um esplêndido pianista cubano. Juntos, eles gravaram este Tokyo Adagio, uma calma e quente flanada sobre alguns temas próprios e outros velhos conhecidos nossos. O resultado é uma conversa suave entre dois amigos — um talentoso pianista de coração romântico, e um baixista que teve a generosidade e empatia para ajudá-lo a cantar. O que eles criam é pura poesia. Rubalcaba nunca é menos que impressionante aqui. Depois da audição você volta a ficar grato por este registro ter acontecido e por ter havido como Charlie Haden andando em nosso planeta.
Charlie Haden & Gonzalo Rubalcaba – Tokyo Adagio
1. En La Orilla Del Mundo (The Edge Of The World) (9:04)
2. My Love And I (11:54)
3. When Will The Blues Leave (8:29)
4. Sandino (5:47)
5. Solamente Una Vez (You Belong To My Heart) (9:11)
6. Transparence (7:18)
Em 2012, The Bad Plus convidou o saxofonista Joshua Redman para se juntar a eles por uma semana de performances no Blue Note em Nova York. Foi um estrondoso sucesso. Filas e mais filas de pessoas entusiasmadas que obrigaram o grupo a se reunir outras vezes no local e fora dele. Foram feitos uns para os outros. Mas apenas em 2014 entraram nos estúdio da Nonesuch para gravar seu álbum de “estreia”. Sete das nove faixas são composições inéditas. Apenas Dirty Blonde e Silence Is the Question, são novos arranjos de favoritos do Bad Plus. Redman disse que “tocar o Bad Plus me permitiu explorar uma parte da minha música e minha herança musical que eu nunca tinha acessado com qualquer outro grupo. A aventura com é como estar num liquidificador. O trio me empurra para as margens e me atrai para o núcleo”.
The Bad Plus Joshua Redman
01 – As This Moment Slips Away
02 – Beauty Has It Hard
03 – County Seat
04 – The Mending
05 – Dirty Blonde
06 – Faith Through Error
07 – Lack The Faith But Not The Wine
08 – Friend Or Foe
09 – Silence Is The Question
Reid Anderson – bass Ethan Iverson – piano David King – drums Joshua Redman – tenor saxophone
Quem ouve este respeitável senhor em seu Steinway, não imagina que ele tenha 82 anos, quase 83. Por cinco décadas, Ahmad Jamal liderou pequenas bandas de jazz a partir de seu piano, sempre com grande elegância e dando importância verdadeiramente africana ao ritmo. Nunca parou tocar ou criar e este Blue Moon não é apenas mais um CD de Ahmad Jamal, mas um dos melhores trabalhos de uma longa carreira. Miles Davis disse por diversas vezes que Jamal era uma de suas maiores inspirações e é possível admitir tal fato desde os primeiros acordes de Autumn Rain, a primeira faixa de Blue Moon.
Neste disco, Jamal reinventa de forma requintada várias canções do pós-guerra, demonstrando um amor insuspeitado por Hollywood. Ele vai desde a música-tema de Laura, filme de 1944 de Otto Preminger, até o clássico Blue Moon, que aparece desnuda, quase resumida a um minimalista ostinato de 10 minutos. Coisa de gênio.
A impressão que Jamal nos passa é a de ter atingido um grau de perfeição que simplesmente não é possível melhorar. Mas é o nível habitual, visitado e revisitado por ele. Resta saber o que come e bebe. Em 2010, aos 80 anos, Jamal lançou um dos álbuns mais belos de sua carreira, o esplêndido A Quiet Time. Agora, dois anos depois repete a dose. Esperamos mais e mais, Ahmad.
Ahmad Jamal: Blue Moon (2012)
1. Autumn Rain 7’45
2. Blue Moon 10’11
3. Gypsy 5’26
4. Invitation 13’21
5. I Remember Italy 13’14
6. Laura 6’33
7. Morning Mist 8’44
8. This Is the Life 7’38
9. Woody’n You 5’11
Ahmad Jamal – piano
Reginald Veal – double bass
Herlin Riley – drums
Manolo Badrena – percussion
Finalizando minha participação nas homenagens aos 100 anos de A Sagração da Primavera, relanço um dos CDs mais baixados este ano — este post é originalmente de 2013 — em nosso blog: a versão da Sagração para Jazz Trio. Ah, por falar nisso, este grupo está apresentando este mesmo arranjo hoje, em Nova Iorque.
Como é que é? Vão tocar a minha Sagração com um trio de jazz? Muito bom!
Grande The Bad Plus!
Acho que nunca mais aquele amigo do meu filho dirá novamente algo parecido para mim. Ele disse que um “power trio” tinha gravado toda a Sagração da Primavera e que era fantástico. Fiquei enchendo o saco dele para ouvir. Ele me mandou sua única fonte, um vídeo do YouTube, desses que mostram uma reles foto parada enquanto ouvimos a música. Putz, era realmente espetacular. Ao que indica esta reportagem, eles estrearam a Sagração no dia 26 de março de 2011, na Duke University, depois de passar 8 meses desvendando e domando o monstro. O resultado é espetacular.
O baixista, o pianista e o baterista. “É uma peça difícil…”.
Há declarações curiosas, como a do baixista Reid Anderson. Para aliviar as dificuldades da obra, a banda escolheu um plano curioso de ataque. Começaram pelo final e trabalharam dali para trás. “Nós inventamos que o último movimento era o mais difícil”, diz o baixista. “Era bom pensar assim do ponto de vista psicológico. Nós estávamos, cuidadosamente, tentando fazer da Sagração uma peça nossa, algo nosso”. O pianista Iverson diz pouca coisa além de “é uma peça difícil”.
No início, há alguns efeitos que achei estranhos, mas depois que engrena fica uma coisa de louco.
Igor Stravinsky (1882-1971): A Sagração da Primavera para Jazz Trio (!!!)
01 – First Part– Adoration Of The Earth- Introduction
02 – The Augurs Of Spring
03 – Ritual Of Abduction
04 – Springs Rounds
05 – Games Of The Two Rival Tribes–Procession Of The Sage
06 – The Sage–Dance Of The Earth
07 – Second Part– The Sacrifice- Introduction
08 – Mystic Circle Of The Young Girls
09 – Glorification Of The Chosen One
10 – Evocation Of The Ancestors–Ritual Action of The Ancestors
11 – Sacrifical Dance
The Bad Plus:
Ethan Iverson, piano
Reid Anderson, baixo
Dave King, bateria
Uma penca de divertidos covers jazzísticos de música popular pelo extraordinário trio estadunidense The Bad Plus, todos de Mineápolis, cidade de Prince. A seguir roubamos a resenha de Gabriel Sacramento, do grande blog Escuta Essa!
Caos que une o popular ao jazzístico
Por Gabriel Sacramento
The Bad Plus é um trio americano de jazz instrumental. Mas quando digo jazz, não me refiro ao jazz clássico, easy listening que é, em muitos momentos, trilha sonora de momentos românticos. O jazz desses caras é totalmente diferente, confuso (que aqui não é um demérito), intrigante e caótico.
A proposta sonora deles é o avant garde jazz, utilizando métodos inortodoxos e experimentais com o jazz para expressar sentimentos através da música. Além disso, eles costumam fazer covers de diversos artistas da música popular, trazendo o comum para o universo jazzístico meândrico no qual estão inseridos.
O novo disco – It’s Hard – é composto só por covers. Dentre os artistas que foram regravados estão Johnny Cash, Peter Gabriel, Prince e Neil Finn. E mais uma vez o grupo vem reafirmar a autoridade que tem quando se fala em avant garde mesclado com jazz. Isso fica claro, por exemplo, no caos sonoro de alguns momentos de “Maps” e nas notas estranhas de “Game Without Frontiers”. Eles misturam passagens realmente intrincadas com momentos mais calmos, como em “Time After Time”. Em “Alfombra Magica”, percebemos vários direcionamentos diferentes pelos quais a música segue, entrecortados por pausas periódicas.
Fazer covers é uma tarefa um tanto complicada. É preciso saber até onde se deve colocar sua pessoalidade e até onde se deve respeitar a criação original. Os caras do The Bad Plus mostram que são peritos na arte de desconstruir ideias antes gravadas e construí-las novamente, tomando como norte a livre improvisação. Nisso, eles também se mostram preocupados com a essência das criações originais. “I Walk The Line” do Johnny Cash é um exemplo claro. O trio mantém a melodia e o ritmo, enquanto trabalha a música dando-lhe sentimentos novos e seguindo novos rumos com a improvisação.
Se em vários momentos eles soam caóticos e complexos demais para uma primeira audição, em outros eles nos fazem perceber a beleza de poucas notas e melodias simples, enquanto a instrumentação nos envolve e nos eleva. A música do trio segue uma progressão impressionante, que se dá tanto do começo ao fim de cada faixas, quanto da primeira à última música do álbum.
É como se o caos que eles tentam criar fosse o mundo que enfrentamos diariamente com todos os problemas e o estresse do dia-a-dia, e o contraste com momentos mais limpos e calmos seria o chegar em casa, descansar e dormir. Essa analogia com o que vivemos torna mais fácil a compreensão do que os americanos tentam fazer. A completude e profundidade do que o trio tenta passar com sua música, aliado à sofisticação com que tudo é feito, é o que chama a atenção para o que ouvimos no disco.
Uma sonoridade criativa, complexa (e completa) feita por apenas três músicos. Um baixo, teclado e bateria, trabalhando o conceito de música de uma forma inventiva, falando a linguagem jazzística, mas tomando como base a produção pop. Um disco que vale a pena, mesmo que você não o entenda completamente na primeira vez que ouvir.
The Bad Plus — It’s Hard
1. “Maps” — Brian Chase, Karen Lee Orzolek, Nick Zinner 4:21
2. “Games Without Frontiers” — Peter Gabriel 4:19
3. “Time After Time” — Cyndi Lauper, Rob Hyman 6:14
4. “I Walk The Line” — Johnny Cash 3:18
5. “Alfombra Magica” — Bill McHenry 4:07
6. “The Beautiful Ones” — Prince 3:32
7. “Don’t Dream It’s Over” — Neil Finn 5:21
8. “Staring At The Sun” — Tunde Adebimpe, David Andrew Sitek 4:27
9. “Mandy” — Scott English, Richard Kerr 6:13
10. “The Robots” — Florian Schneider, Karl Bartos, Ralf Hütter 3:30
11. “Broken Shadows” — Ornette Coleman 3:32
The Bad Plus:
Reid Anderson – bass
Ethan Iverson – piano
David King – drums
Paul Bley estava em turnê pela escandinávia com seu velho companheiro Gary Peacock no baixo e dois brilhantes jazzistas ingleses, o baterista Tony Oxley e o sax barítono e o clarone de John Surman, quando Manfred Eicher interrompeu a excursão chamando-os para gravar em Oslo. Era o ano de 1991. O CD é muito bom, consistindo de sete solos de puro improviso, três duetos e duas faixas onde toca o quarteto completo. Os temas são lentos, quase solenes. Olha, só músicos excepcionais como estes podem manter um disco interessante com tão alto grau de improvisação. Nada parece ter sido programado e, no entanto, são mostradas profundidades vertiginosas.
Paul Bley / Gary Peacock / Tony Oxley / John Surman: In The Evenings Out There
Afterthoughts 4:04
Portrait Of A Silence 5:55
Soft Touch 3:38
Speak Easy 2:44
Interface 5:19
Alignment 3:47
Fair Share 6:01
Article Four 8:26
Married Alive 4:14
Spe-cu-lay-ting 1:24
Tomorrow Today 2:15
Note Police 7:54
Baritone Saxophone, Bass Clarinet – John Surman
Bass – Gary Peacock
Drums – Tony Oxley
Piano – Paul Bley
Um CD bem humorado de improvisações e brincadeiras sobre a música do ultra vienense Strauss. Pegue uma valsa de Strauss, adicione algumas expressões jazzísticas, técnica, improvisação, e você saberá o que é este All that Strauss. Claro que a projeto representava um desafio. Neste caso, o tratamento dado pelos arranjos foi muito bem concebido a fim de ficar bem longe dos conceitos sinfônicos. A coesão da Vienna Art Orchestra é notável. Acho que Strauss ficaria feliz de ouvir a loucura que esses vienenses fizeram com ele. Se o compositor tivesse vivido mais 25 anos, ouviria o jazz.
A Vienna Art Orchestra
Vienna Art Orchestra: All that Strauss
01. Wein, Weib und Gesang (09:12)
02. Process-Plolka (02:04)
03. Ein Morgen, ein Mittag, ein Abend in Wien (07:58)
04. Mit Extrapost (03:29)
05. Albion-Polka (03:52)
06. Gruss an Prag (03:16)
07. Lagunen-Walzer (09:00)
08. Persischer Marsch (03:20)
09. Hellenen Polka (04:40)
10. Marienklange walzer (07:09)
11. Eljen a Magyar (04:10)
12. Czardas (04:51)
13. Donauwalzer (10:51)