Sempre se esperava algo novo quando Nikolaus Harnoncourt voltava sua atenção para uma importante peça musical. Nos últimos anos, ele vinha dando ao público uma nova visão de algumas das obras-primas da música romântica e da música romântica tardia. Seu Um Réquiem Alemão de Brahms é baseado em um estudo completo das ideias do compositor sobre como ele deve ser realizado. É uma interpretação sensível que adota uma abordagem completamente nova para o trabalho. Tecnicamente e artisticamente, o disco é um registro perfeito do concerto realizado em Viena em dezembro de 2007, que foi recebido com entusiasmo pela imprensa musical e pelo público. Até o fim de sua vida, Nikolaus Harnoncourt não demonstrava nenhum sinal de acomodar sua insaciável curiosidade musical. Ainda bem.
Johannes Brahms (1833-1897): Um Réquiem Alemão
1 Selig Sind, Die Da Leid Tragen 11:46
2 Denn Alles Fleisch, Es Ist Wie Gras 14:28
3 Herr, Lehre Doch Mich 11:39
4 Wie Lieblich Sind Deine Wohnungen 5:36
5 Ihr Habt Nun Traurigkeit 7:23
6 Denn Wir Haben Hier Keine Bleibende Statt 12:21
7 Selig Sind Die Toten 12:12
Baritone Vocals – Thomas Hampson
Soprano Vocals – Genia Kühmeier
Choir – Arnold Schoenberg Chor
Orchestra – Wiener Philharmoniker
Conductor – Nikolaus Harnoncourt
NOTA DE VASSILY: sem perceber, acabei fazendo uma postagem sobre um disco já postado – erro capital que, no talião PQPiano, significa punição compulsória de suspensão por ganchos e banho de piche, que, com agravantes (como, no meu caso, fazê-lo com um disco já postado pelo patrão PQP), acrescenta também a tortura, esta sim insuportável, de audições forçadas perpétuas de André Rieu. Na tentativa de evitar este fim horrível, redimo-me e remeto as senhoras e senhores para postagem original do patrão, cujo link eu reativei. Miserere mei, PQP!
Curioso duo: Argerich, que dispensa apresentações (e, se você acabou de chegar ao planeta e precisar delas, basta dizer que ela é, para muitos, a maior pianista viva), e Alexandre Rabinovitch-Barakovsky, pioneiro da composição minimalista, regente e, descobri só comprando a gravação, bom pianista.
Fazer um duo com Argerich não é para qualquer um, claro, e Rabinovitch dá conta do recado. Em minha insignificante opinião, entretanto, o trabalho de Argerich em duo é (se é que se pode dizer isso de uma artista tão sensacional) o ponto, assim digamos, menos forte em sua carreira. Não me entendam mal: sou tiete irremediável de Martha, só acho que sua força mercurial torna seu piano pouco miscível ao conjunto intrincado e coeso que é necessário à música para duo. Felizmente, não é o caso desta gravação – ainda que em sua capa, estranhamente, os músicos se deem as costas.
BRAHMS – HAYDN VARIATIONS – WALTZES – SONATA IN F MINOR MARTHA ARGERICH – ALEXANDRE RABINOVITCH
Johannes BRAHMS (1833-1897)
Variações sobre um Tema de Joseph Haydn para dois pianos, Op. 56b
01 – Chorale St. Antoni: Andante
02 – Var. I: Andante con moto
03 – Var. II: Vivace
04 – Var. III: Con moto
05 – Var. IV: Andante
06 – Var. V: Poco presto
07 – Var. VI: Vivace
08 – Var. VII: Grazioso
09 – Var. VIII: Poco presto
10 – Finale: Andante
Sonata em Fá menor para dois pianos, Op. 34b
11 – Allegro non troppo
12 – Andante, un poco Adagio
13 – Scherzo: Allegro – Trio
14 – Finale: Poco sostenuto – Allegro non troppo
Cinco Valsas para dois pianos, Op. 39b
15 – No. 1 em Si maior: Tempo giusto
16 – No. 2 em Mi maior
17 – No. 3 em Si menor
18 – No. 4 em Sol sustenido menor
19 – No. 5 em Lá bemol maior
Trecho do documentário “Nelson Freire”, de João Moreira Salles, em que uma dengosa e quase ronronante Martha fala (em português!) de sua longa amizade e parceria com o pianista mineiro.
Eu andava um pouco reticente com as peças de câmera do barbudo Johannes. Gosto muito das sonatas para violino e talvez mais ainda das sonatas para violoncelo. Mas as outras obras estavam um pouco deixadas de lado. Se bem que o quinteto com piano é constante aqui em casa, quase sempre acompanhado de seu irmão mais velho, o quinteto de Schumann. Maravilhas. Pois foi pelo quinteto então que cheguei a este álbum da postagem. E também pelo pianista Till Fellner, figurinha carimbada do meu álbum. O Belcea Quartet eu conhecia dos quartetos de Debussy e Ravel. Pois não é que gostei demais de tudo? Linda música, grande álbum, ouvido muitas vezes, continua mais lindo. E vocês já sabem, quando isto acontece, eu divido com vocês!
O Brahms que compôs estes quartetos ainda não era barbudo, mas já estava com bem quarenta anos, em 1873, quando publicou os dois primeiros, como Opus 51.
A história é que Brahms já havia destruído vinte quartetos de cordas antes de dar-se por satisfeito com estes dois. Parece difícil de acreditar, mas é muito plausível. Vejamos, Brahms estava entrando em um campo onde vicejava quartetos de Haydn, Mozart, Beethoven e Schubert! E Brahms estava sob a pressão colocada sobre ele pelas expectativas criadas pelo famoso artigo de Schumann, intitulado Neue Bahnen, Novos Caminhos. Aparentemente Brahms já estava trabalhando na composição destes quartetos em 1869. Escreveu ao seu editor dizendo que Mozart teve muito trabalho para produzir seus seis Haydn-Quartets, e ele faria o seu melhor para produzir um ou dois que fossem descentes. E ele cumpriu sua palavra, como você poderá constatar baixando este maravilhoso álbum.
O terceiro quarteto foi composto dois anos mais tarde. Brahms passava férias de verão em Ziegelhausen evitando pensar muito na sua primeira sinfonia e para distrair-se passou a compor coisinhas, entre elas o quarteto. Segundo Joseph Joachim, este era o seu quarteto favorito, que reflete o ensolarado ambiente que Brahms desfrutou durante sua composição.
O quinteto com piano é obra anterior aos quartetos e começou sua existência como um quinteto de cordas. Veja que o grande quinteto de cordas de Schubert, assim como os seus últimos quartetos foram publicados quando Brahms estava iniciando sua carreira de compositor.
Apesar de reconhecerem a beleza da música, amigos como Joseph Joachim e Clara Schumann fizeram críticas à peça neste formato. Brahms então o remodelou na forma de uma sonata para dois pianos, mas logo depois reescreveu tudo na versão para piano e quarteto de cordas. Nesta forma, a obra foi publicada em 1865, como o Opus 34. A versão sonata para dois pianos também foi publicada como Op. 34b, mas o exigente Brahms destruiu a versão para quinteto de cordas.
Uma crítica bastante equilibrada deste álbum, que você pode ler na íntegra aqui, nos informa que as gravações dos quartetos pelo Belcea Quartet têm um profundo sentido de afeição e calor humano. Menciona também o fato de as gravações das peças individuais terem sido feitas uma a uma, com intervalo de vários meses entre elas. Isto teria permitido ao grupo tomar cada peça por si própria, enfatizando os seus principais aspectos.
Não deixe de notar a intensidade da interpretação logo no primeiro movimento do primeiro quarteto, nem as melodias húngaras do último movimento do segundo quarteto. O movimento lento do terceiro quarteto é também sublime. E o que dizer do quinteto? Maravilhas.
Não é por nada que o crítico termina sua resenha com a frase que resume bem o álbum: Aqui está uma performance profundamente gratificante!
Johannes Brahms (1833-1897)
CD1
Quarteto de cordas No. 1 em dó menor, Op. 51, 1
Allegro
Romanze (Poco adagio)
Allegretto molto moderato e comodo
Allegro
Quarteto de cordas No. 2 em lá menor, Op. 51, 2
Allegro non troppo
Andante
Quase minueto, moderato
Finale (allegro non assai)
CD2
Quarteto de cordas No. 3 em si bemol maior, Op. 67
Vivace
Andante
Agitato (Allegretto non troppo)
Poco allegretto com variazioni
Quinteto com piano em fá menor, Op. 34
Allegro non troppo
Andante, un poco adagio
Scherzo (Allegro)
Finale (Poco sostenuto – Allegro non troppo)
Belcea Quartet
Corina Belcea, violino
Alex Schacher, violino
Krysztof Chorzelski, viola
Antoine Lederlin, violoncelo
Till Fellner, piano (Op. 34)
Gravado entre 2014 e 2015, no Britten Studio, Aldeburgh
Veja o que The Sunday Times disse do álbum: What a feast this is. The Belcea’s textures are so rich, you would think a larger force of strings was playing. And in the quintet’s glorious andante, their eloquence almost rivals that of the great Busch Quartet.
Ontem e anteontem, apresentamos as versões de Muttere Mullovapara este extraordinário repertório. Pois Ibragimova crava sua bandeira no Olimpo dos bons registros modernos destas Sonatas. Aqui, ela é mais do que consistente. Mas ainda fico com Mutter… A delicadeza e a quietude de Alina Ibragimova é talvez a característica mais marcante dessas performances. Escute o centro lírico do final da Op 78, que coisa! Na primeira audição, fiquei desapontado por Ibragimova ser tão contida; na segunda, já achei que sua aparente reticência fazia todo sentido. Há grandes momentos — movimentos inteiros –, neste CD muito bem gravado. O final do Op. 100 transmite calor através de cores sutis, frases flexíveis e uma linda narrativa. A delicadeza do terceiro movimento do Op 108 é arrebatadora, graças em grande parte ao leve toque de Tiberghien. A inclusão de Clara Schumann é um bonito bonus track.
Johannes Brahms (1833-1897): Sonatas para Violino e Piano (Ibragimova)
Johannes Brahms Violin Sonata No 1 In G Major (Op 78) (27:22)
1 – Vivace Ma Non Troppo 10:40
2 – Adagio – Pìu Andante – Adagio Come I 8:06
3 – Allegro Molto Moderato – Pìu Moderato 8:35
Johannes Brahms Violin Sonata No 2 In A Major (Op 100) (18:56)
4 – Allegro Amabile 8:08
5 – Andante Tranquillo – Vivace – Andante – Vivace Di Pìu – Andante – Vivace 5:35
6 – Allegretto Grazioso, Quasi Andante 5:12
Johannes Brahms Violin Sonata No 3 In D Minor (Op 108) (21:15)
7 – Allegro 8:29
8 – Adagio 4:13
9 – Un Poco Presto E Con Sentimento 2:58
10 – Presto Agitato 5:33
11 Clara Schumann Andante Molto (No 1 Of Three Romances, Op 22)
Lembram do post de ontem, destas mesmas Sonatas com Mullova? Pois bem, mesmo com o sotaque germânico de Mutter, fico com a russa. Mas que belo trabalho realiza o pianista norte-americano Lambert Orkis neste CD! Ele faria uma diferença decisiva a favor de Mutter? A parceria Mutter-Orkis, de tantas gravações — remember a tremenda e notável integral das Sonatas de Beethoven — parece sempre coesa e convincente. Mas é apenas minha opinião. Amanhã, teremos Ibragimova com estas mesmas Sonatas.
Johannes Brahms (1833-1897): Sonatas para Violino e Piano (Mutter)
01 Sonata for Violin and Piano No 2 in A Op 100 1 Allegro amabile
02 Sonata for Violin and Piano No 2 in A Op 100 2 Andante tranquillo
03 Sonata for Violin and Piano No 2 in A Op 100 3 Allegretto grazioso – Quasi andante
04 Sonata for Violin and Piano No 1 in G Op 78 1 Vivace ma non troppo
05 Sonata for Violin and Piano No 1 in G Op 78 2 Adagio
06 Sonata for Violin and Piano No 1 in G Op 78 3 Allegro molto moderato
07 Sonata for Violin and Piano No 3 in D minor Op108 1 Allegro
08 Sonata for Violin and Piano No 3 in D minor Op108 2 Adagio
09 Sonata for Violin and Piano No 3 in D minor Op108 3 Un poco presto e con sentimento
10 Sonata for Violin and Piano No 3 in D minor Op108 4 Presto agitato
Este CD reúne dois excepcionais músicos, o violoncelista Anner Bylsma e o pianista Lambert Orkis, dois experientes músicos, que gravaram juntos nos anos 90, até Orkis ser ‘cooptado’ pela divina Anne-Sophie Mutter, para ser seu fiel escudeiro, e assim tem sido nos último 25 anos. Aqui eles interpretam duas das mais importantes e belas obras do Romantismo, as Sonatas para Violoncelo de Brahms. Isso aqui é tão bom, mas tão bom que só a primeira sonata já ouvi três vezes seguidas.
A intensidade que a dupla impõe às obras é única. Trata-se de um CD emocionante, antes de tudo. O som do violoncelo de Anner Bylsma quase chora em um lamento angustiante, dolorido. Poucas vezes tive a oportunidade de ouvir uma interpretação tão apaixonada e intensa quanto esta. Só os grandes músicos conseguem este resultado, depois de muito tempo de dedicação. A comparação inevitável é Rostropovich – Serkin, e ouso dizer que Bylsma / Orkis ganharia por uma diferença de meio corpo.
01. Brahms Johannes – Cello Sonata No. 1 in E minor (op. 38) I. Allegro non troppo
02. Brahms Johannes – Cello Sonata No. 1 in E minor (op. 38) II. Allegretto quas
03. Brahms Johannes – Cello Sonata No. 1 in E minor (op. 38) III. Allegro
04. Schumann Robert – 5 Stuecke im volkston (op. 102) I. ‘Vanitas vanitatum’. Mi
05. Schumann Robert – 5 Stuecke im volkston (op. 102) II. Lansgam
06. Schumann Robert – 5 Stuecke im volkston (op. 102) III. Nicht schnell, mit vi
07. Schumann Robert – 5 Stuecke im volkston (op. 102) IV. Nicht zu rasch
08. Schumann Robert – 5 Stuecke im volkston (op. 102) V. Stark und markiert
09. Brahms Johannes – Cello Sonata No. 2 in F (op. 99) I. Allegro vivace
10. Brahms Johannes – Cello Sonata No. 2 in F (op. 99) II. Adagio affetuoso
11. Brahms Johannes – Cello Sonata No. 2 in F (op. 99) III. Allegro passionato (
12. Brahms Johannes – Cello Sonata No. 2 in F (op. 99) IV. Allegro molto
Havia um velho post de FDP Bach onde ele perguntava aos pequepianos: quem toca melhor estas Sonatas, Mullova ou Mutter? E disponibilizava ambas as gravações. Eu sei lá onde foi parar este post, mas eu, que não sou bobo, fiquei com os arquivos cá comigo. Na minha opinião, Mullova vence a disputa, apesar da outra ser apenas a Mutter. Acho que o trabalho de Mullova é exato, mágico, brilhante, e Mutter ficaria abaixo, em minha DESCONSIDERÁVEL opinião. Só que estamos falando do Olimpo das interpretações. Você ouve a que quiser. Amanhã teremos Mutter. E, depois de amanhã, vou meter Ibragimovana disputa. Aguardem.
Johannes Brahms (1833-1897): Sonatas para Violino e Piano (Mullova)
01. Brahms Sonata No.1 in G, Op.78 – 1. Vivace ma non troppo
02. Brahms Sonata No.1 in G, Op.78 – 2. Adagio
03. Brahms Sonata No.1 in G, Op.78 – 3. Allegro molto moderato
04. Brahms Sonata No.2 in A, Op.100 – 1. Allegro amabile
05. Brahms Sonata No.2 in A, Op.100 – 2. Andante tranquillo – Vivace – Andante –
06. Brahms Sonata No.2 in A, Op.100 – 3. Allegretto grazioso (quasi Andante)
07. Brahms Sonata No.3 in D minor, Op.108 – 1. Allegro
08. Brahms Sonata No.3 in D minor, Op.108 – 2. Adagio
09. Brahms Sonata No.3 in D minor, Op.108 – 3. Un poco presto e con sentimento
10. Brahms Sonata No.3 in D minor, Op.108 – 4. Presto agitato
Viktoria Mullova – Violin
Piotr Anderszewsky – Piano
Lembram daquela série interminável de discos da Philips — lançados nos anos 70 e 80 — que eram seleções malucas de clássicos e que tinham gatinhos na capa? Ali, o Aleluia de Händel podia vir antes de um trecho de Rhapsody in Blue, o qual era seguido pela Abertura 1812 e pela chamada Ária na Corda Sol (mentira, corda sol coisa nenhuma) de Bach, por exemplo. Salada semelhante é servida por Khatia Buniatishvili neste CD. Mas o importante é faturar enquanto a beleza não abandona a pianista. Ela tem alguns anos de sucesso ainda. Como habitualmente, neste disco ela é muita emoção e languidez — principalmente a última –, acompanhada de um talento que não precisaria ter registros gravados. Temos tanta gente melhor! Depois deste disco altamente suspeito, ela sucumbe aqui. Só a aparência não basta. Afinal, ouvimos o CD. Vocês sabem que eu amo as belas musicistas, mas tudo tem limite.
1 Johann Sebastian Bach: Was mir behagt, ist nur die muntre Jagd, BWV 208: IX. Schafe können sicher weiden (Arr. for Piano)
2 Pyotr Ilyich Tchaikovsky: The Seasons, Op. 37b: X. October (Autumn Song)
3 Felix Mendelssohn-Bartholdy: Lied ohne Worte in F-Sharp Minor, Op. 67/2
4 Claude Debussy: Suite Bergamasque, L. 75: III. Clair de lune
5 Giya Kancheli: Tune from the Film by Lana Gogoberidze: When Almonds Blossomed
6 György Ligeti: Musica ricercata No. 7 in B-Flat Major
7 Johannes Brahms: Intermezzo in B-Flat Minor, Op. 117/2
8 Franz Liszt: Wiegenlied, S. 198
9 Antonín Dvorák: Slavonic Dance for Four Hands in E Minor, Op. 72/2: Dumka (Allegretto grazioso)
10 Maurice Ravel: Pavane pour une infante défunte in G Major, M. 19
11 Frédéric Chopin: Etude in C-Sharp Minor, Op. 25/7
12 Alexander Scriabin: Etude in C-Sharp Minor, Op. 2/1
13 Domenico Scarlatti: Sonata in E Major, K. 380
14 Edvard Grieg: Lyric Piece in E Minor, Op. 57/6: Homesickness
15 Traditional: Vagiorko mai / Don’t You Love Me?
16 Wilhelm Kempff: Suite in B-Flat Major, HWV 434: IV. Menuet
17 Arvo Pärt: Für Alina in B Minor
Passada em revista a parte da família das cordas que é tocada com arcos, enveredamos por um outro ramo da família com quem os arcos não falam muito, pois as salas de concerto costumam torcer-lhes os narizes: aquele das cordas dedilhadas.
Antes que me joguem os tomates, ou me perguntem por que exus eu não apus a palavrinha .:interlúdio:. ao título de uma gravação, vejam só, de banjo, de BANJO, de B A N J O! incongruentemente atirada no meio das sacrossantas interpretações dos Pollinis e Bernsteins que os blogueiros não-vassílycos publicam por aqui, bem, antes que venham os apupos, os “foras!” e que me defenestrem, eu antecipadamente me defendo: Béla Fleck é um TREMENDO músico e merece ser ouvido.
Ok, o repertório do CD é um balaio de gatos cheio de figurinhas fáceis do repertório das coleções “The Best of”, só que ele é feito sob medida para Fleck exibir com sobras seu talento. Asseguro-lhes que dificilmente ouvirão um banjo ser tocado com tanta maestria, ainda mais acompanhado por músicos do naipe de, entre outros, Joshua Bell, John Williams e Edgar Meyer. No final, para relaxar, Fleck colocou uma ótima versão bluegrass do “Moto Perpétuo” de Paganini, mas ela está claramente identificada como tal e os puristas entre vós outros poderão deletá-la antes que ela fira algum ouvido.
E, se vocês acharam interessante o Fleck ter o nome de Béla, saibam que o nome completo do cavalheiro é Béla Anton Leoš Fleck. Sim: uma homenagem ao grande Béla, àquele Anton e a este Leoš.
PERPETUAL MOTION – BÉLA FLECK
Domenico SCARLATTI (1685-1757)
01 – Sonata em Dó maior, K. 159
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
02 – Invenção a duas vozes no. 13 em Lá menor, BWV 784
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)
03 – Children’s Corner, L. 113 – “Doctor Gradus ad Parnassum”
Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
04 – Mazurkas, Op. 59 – no. 3 em Fá sustenido menor
Johann Sebastian BACH
05 – Partita no. 3 em Mi maior, BWV 1006 – Prélude
Fryderyk Franciszek CHOPIN
06 – Études, Op. 10 – no. 4 em Dó sustenido menor
07 – Mazurkas, Op. 6 – no. 1 em Fá sustenido menor
Johann Sebastian BACH
08 – Invenção a três vozes (Sinfonia) em Sol maior, BWV 796
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
09 – Souvenir d’un lieu cher, Op. 42 – no. 3: Mélodie
Johannes BRAHMS (1833-1897)
10 – Cinco estudos para piano, Anh. 1a/1 – no. 3 em Sol menor, após Johann Sebastian Bach
Johann Sebastian BACH
11 – Suíte no. 1 em Sol maior, BWV 1007 – Prelude
12 – Invenção a três vozes (Sinfonia) em Si menor, BWV 801
Domenico SCARLATTI
14 – Sonata em Ré menor, K. 213
Johann Sebastian BACH
15 – Invenção a duas vozes no. 6 em Mi maior, BWV 777
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
16 – Sonata no. 14 em Dó sustenido menor, Op. 27 no. 2, “Luar” – Adagio sostenuto
Johann Sebastian BACH
17 – Invenção a duas vozes no. 11 em Sol menor, BWV 782
Ludwig van BEETHOVEN
18 – Sete Variações sobre “God Save the King”, WoO 78
Johann Sebastian BACH
19 – Invenção a três vozes (Sinfonia) em Mi menor, BWV 793
Niccolò PAGANINI arranjo de James Bryan Sutton
12 – Moto Perpetuo, Op. 11 (versão bluegrass)
Béla Fleck, banjo Joshua Bell, violino Gary Hoffmann, violoncelo Evelyn Glennie, marimba Edgar Meyer, contrabaixo Chris Thile, bandolim James Bryan Sutton, violão folk John Williams, violão
Troquei o servidor para o Google Drive. Creio que agora o pessoal vai poder baixar os arquivos sem maiores problemas.
Ah, os russos… Que podemos dizer deles quando o assunto são os grandes violinistas do passado? David Oistrakh e Leonid Kogan entre outros, eram músicos excepcionais, acima da condição normal de um ser humano, eram seres iluminados, abençoados com um dom único, o de extrair de uma caixinha de madeira com quatro cordas toda a emoção que pudesse ser exposta. Não bastava o que estava no papel, havia de se ler o que estava nas entrelinhas, subentendido.
Leonid Kogan nasceu em 1924 e faleceu em 1983, em uma estação de trem, onde ia embarcar para mais uma apresentação. Foi casado com uma irmã do grande pianista Emil Gilels, que também era violinista, e pai de outro violinista. Leonid Kogan foi um gigante absoluto do instrumento, e neste CD toca cinco peças básicas do repertório do instrumento. Senti falta do Concerto de Mendelssohn, mas tudo bem. Kogan só foi apresentado ao Ocidente em 1958, tocando exatamente o Concerto de Brahms, e fez um sucesso estrondoso.
Kogan não foi tão prolífico em termos de gravação quanto seu amigo mais velho, David Oistrakh. Mas o que gravou foi o suficiente para demonstrar todo o seu imenso talento.
A gravadora EMI contratou para essas gravações dois grandes maestros russos para acompanhar o músico: Kiril Kondrashin e Constantin Silvestri, ou seja, nada pode dar errado quando temos estes nomes envolvidos.
Espero que apreciem, fã que sou da escola russa de violino, sei que os senhores também irão gostar.
CD 1
01. Brahms Violin Concerto in D, Op.77 – I. Allegro non troppo
02. Brahms Violin Concerto in D, Op.77 – II. Adagio
03. Brahms Violin Concerto in D, Op.77 – III. Allegro giocoso, ma non troppo vivace
04. Lalo Symphonie espagnole, Op.21 – I. Allegro non troppo
05. Lalo Symphonie espagnole, Op.21 – II. Scherzando (Allegro molto)
06. Lalo Symphonie espagnole, Op.21 – III. Intermezzo ( Allegro non troppo)
07. Lalo Symphonie espagnole, Op.21 – IV. Andante
08. Lalo Symphonie espagnole, Op.21 – V. Rondo (Allegro)
09. Tchaikovsky Serenade melancholique, Op.26
Leonid Kogan – Violin
Philharmonia Orchestra
Kiril Kondrashin – Conductor
CD 2
01. Beethoven Violin Concerto in D major, op.61 – I. Allegro ma non troppo
02. Beethoven Violin Concerto in D major, op.61 – II. Laghetto
03. Beethoven Violin Concerto in D major, op.61 – III. Rondo Allegro
04. Tchaikovsky Violin Concerto in D major, op.35 – I. Allegro moderato
05. Tchaikovsky Violin Concerto in D major, op.35 – II. Canzonetta Andante
06. Tchaikovsky Violin Concerto in D major, op.35 – III. Finale Allegro vivace
Leonid Kogan – Violin
Orchestre de la Societé des Concerts du Conservatoire
Constantin Silvestri – Conductor
Não, você não leu errado: estas são as gravações completas dos legendários violinistas Joachim e Sarasate, feitas no começo do século XX.
Sim, Joachim: aquele que estreou sob a batuta de Felix Mendelssohn e consolidou o Concerto Op. 61 de Beethoven no repertório, que escreveu dezenas de cadenzas para concertos alheios, fundador de uma importante escola pedagógica, amigo de Schumann e de Brahms, e consultor deste último nas obras concertantes para violino.
E sim, ele mesmo: Sarasate, o mais célebre dos violinistas do século XIX depois de Paganini, receptor das dedicatórias da Sinfonia Espanhola de Lalo, do Concerto no. 2 de Wieniawski, do Concerto no. 3 e Introdução e Rondó Caprichoso de Saint-Saëns, entre outros.
De quebra, para fechar o disco, algumas das gravações que Eugène Ysaÿe, o maior violinista de seu tempo, realizou durante uma visita a Nova York em 1912.
Joachim tinha 72 anos quando realizou suas gravações – idade avançada para a época – e certamente já não estava no melhor de sua forma, tanto física quanto técnica. As técnicas primitivas de gravações, agravadas pelas dificuldades inerentes à captação do som do violino, ainda mais com as cordas de tripa que eram então a norma, exigem bastante do ouvinte que deseja apreciar a arte deste violinista legendário. As duas peças de Bach para violino solo carregam a distinção de serem as primeiras obras do Pai da Música jamais gravadas. Chamam a atenção também as ornamentações que adicionou, especialmente à bourrée, o uso muito comedido de vibrato (pois a escola fundada por Joachim assim defendia) e o que parece uma entonação distinta, que talvez estivesse em voga na distante década de 1830, quando começou a receber sua educação musical.
Comedimento era o que não existia no diminuto corpo de Sarasate, virtuose de fama mundial e compositor de diversas obras feitas sob medida para exibir sua técnica. Diferentemente de Joachim, ele abusa do vibrato e, a julgar por suas gravações, apreciava andamentos insanamente rápidos. O Prelúdio da Partita em Mi maior de Bach, por exemplo, é tocada em velocidade lúbrica, mais rápido até do que era capaz o violinista sexagenário: lá pelo segundo terço ele se perde completamente, como um estudante em pânico na prova, e só vem a se recuperar quando a obra se encaminha para o final (ele parece comentar alguma coisa no fim – talvez uma exclamação desbocada – mas não a consegui entender). O arranjo do Noturno de Chopin permite apreciar um pouco de seu afamado “cantabile”, que pelo jeito abusava do portamento. No entanto, é em suas próprias obras que o basco parece se sair melhor, principalmente no “Zapateado” e nas famosas “Zigeunerweisen” (Árias Ciganas), aparentemente abreviadas para caberem na gravação – o Adagio acaba bruscamente (em meio a instruções sem-cerimoniosamente faladas pelo intérprete) para dar lugar ao velocíssimo Finale.
Já o belga Ysaÿe, aluno dos legendários Vieuxtemps e Wieniawski em Bruxelas, viveu até os anos 30. Por isso, deixou um legado maior de gravações, que nos soam mais modernas e muito mais satisfatórias que as de Sarasate e Joachim – mérito, também, da impressionante evolução das técnicas de gravação. O movimento final do Concerto de Mendelssohn, apesar dos cortes necessários para que coubesse num lado de um LP de 78 rpm, é bastante bom, e a famosa elegância do estilo de Ysaÿe fica evidente, apesar de algumas escorregadelas. Lembremo-nos de que as gravações eram feitas em uma só tomada, e o alto custo da mídia não permitia o luxo de repetir tomadas a bel-prazer.
Espero que apreciem estas gravações preciosas que permitem, pelo menos àqueles que lhe relevam os ruídos de superfície inerentes às limitações técnicas da época, uma fascinante viagem aural ao passado.
JOSEPH JOACHIM – THE COMPLETE RECORDINGS (1903) PABLO DE SARASATE – THE COMPLETE RECORDINGS (1904) EUGÈNE YSAYE – SELECTED RECORDINGS (1912)
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
01 – Partita no. 1 em Si menor para violino solo, BWV 1002 – Bourrée
02 – Sonata no. 1 em Sol menor para violino solo, BWV 1001 – Adagio
Joseph Joachim, violino
(1903)
Joseph JOACHIM (1831-1907)
03 – Romance em Dó maior para violino e piano
Johannes BRAHMS (1833-1897), arranjos para violino e piano de Joseph Joachim
04 – Dança Húngara no. 1 em Sol menor
05 – Dança Húngara no. 2 em Ré menor
Joseph Joachim, violino
Pianista desconhecido
(1903)
Pablo Martín Meliton de SARASATE y Nevascués (1844-1908)
BÔNUS: vocês sabiam que não há só uma, mas DUAS gravações de Johannes Brahms ao piano? Claro que o som é precaríssimo, pois elas são de 2 de dezembro de 1889 (imaginem, menos de um mês após a Proclamação de República no Brasil!). Brahms toca uma de suas Danças Húngaras e um trecho de uma polca de Josef Strauss. Este vídeo do pianista Jack Gibbons, que tem um dos melhores canais de YouTube para amantes do piano, guia-nos nessa experiência aural a um só tempo difícil e privilegiada:
Um dos mais célebres concertos da história da Filarmônica de Nova York (e que o encarte chama de “infame”) foi o que aconteceu na noite de 6 de abril de 1962, cuja gravação agora lhes apresento.
Os músicos envolvidos eram estrelas da gravadora Columbia e surfavam em sucessos estrondosos: o regente Leonard Bernstein, nas ondas de “West Side Story”, que chegara ao cinema no ano anterior; e o pianista canadense Glenn Gould, ainda no maremoto causado por sua gravação de estreia das Variações Goldberg, sete anos antes, embora já granjeasse a reputação de excentricidade que só cresceria no decorrer dos vinte anos que lhe restariam de vida.
Bernstein e Gould já tinham colaborado algumas vezes, tanto em palcos quanto em estúdios, sem maiores dificuldades. Durante os ensaios do Concerto de Brahms, entretanto, ficou claro que as concepções de ambos para a obra eram radicalmente diferentes. Gould, célebre pelas liberdades que tomava em relação às partituras (em especial nos andamentos, articulação e dinâmica – i.e., quase tudo, exceto as notas!), escolhera uma abordagem lenta e ruminativa, enfatizando o contraponto. Bernstein, mais afeito a obedecer as indicações do compositor, acedeu. Não obstante, com a orquestra a postos, entrou sozinho no palco e, subindo ao pódio, sentiu obrigado a eximir-se da responsabilidade em relação ao que se iria ouvir:
“Não se apavorem, o Sr. Gould está aqui [risadas da plateia – Gould era famoso pelos cancelamentos de última hora, e de tal forma que a orquestra já preparara a Sinfonia no. 1 de Brahms para o caso dele não aparecer]. Ele aparecerá num instante. Não tenho, ahn, como vocês sabem, o hábito de falar em qualquer concerto, exceto os das quintas à noite, mas uma situação curiosa surgiu, que merece, penso eu, uma ou duas palavras. Vocês estão prestes a ouvir uma, digamos, interpretação bastante inortodoxa do Concerto em Ré menor de Brahms, uma interpretação distintamente diferente de qualquer outra que eu já escutei, ou até mesmo, diria, sonhei, em seus andamentos notavelmente vagarosos e frequentes abandonos das indicações dinâmicas de Brahms. Não posso dizer que estou totalmente de acordo com a concepção do Sr. Gould, e isso traz a interessante pergunta: ‘por que a estou regendo?’. Eu estou regendo porque o Sr. Gould é um artista tão capaz e sério que eu tenho que levar a sério tudo aquilo que ele concebe em boa fé, e sua concepção é interessante o bastante para eu achar que vocês também a devem ouvir.
Mas a velha pergunta permanece: ‘num concerto, quem é o chefe: o solista ou o regente?’. A resposta, claro, é às vezes um, às vezes o outro, dependendo das pessoas envolvidas. Mas quase sempre os dois conseguem se entender por persuasão, charme ou mesmo ameaças para chegarem a uma interpretação coerente. Só uma vez antes na vida eu tive que me submeter à concepção totalmente nova e incompatível de um solista, e isso foi da última vez que acompanhei o Sr. Gould [gargalhadas da plateia]. Mas dessa vez as discrepâncias em nossos entendimentos são tão grandes que achei que tinha que fazer esta breve ressalva. Então por que, para repetir a pergunta, estou regendo? Por que não faço um pequeno escândalo – conseguir um solista substituto, ou mandar o regente assistente conduzir? Porque estou fascinado, feliz com a oportunidade de um novo olhar sobre esta obra muito executada. Porque, ainda mais, há momentos na interpretação do Sr. Gould que emergem com frescor e convicção surpreendentes. Em terceiro lugar, porque todos nós podemos aprender algo com este extraordinário artista, que é um intérprete pensante, e finalmente porque há na música aquilo que Dimitri Mitropoulos costumava chamar de “elemento esportivo”, aquele toque de curiosidade, aventura, experimentação, e posso assegurar-lhes que tem sido uma aventura colaborar com o Sr. Gould neste Concerto de Brahms ao longo dessa semana, e é nesse espírito de aventura que nós agora o apresentamos a vocês” [minha tradução livre]
O comentário de Bernstein e a interpretação de Gould, claro, causaram um pequeno escândalo. Os críticos detonaram ambos, e a gravação da transmissão radiofônica circulou durante décadas em cópias piratas, até ser lançada oficialmente (e com qualidade de gravação pirata) pela Sony em 1998, incluindo o controverso pronunciamento de Bernstein.
Houve até quem atribuísse à controvérsia com Bernstein a decisão posterior de Gould de abandonar para sempre as apresentações ao vivo e concentrar-se em gravações de estúdio. Não é, entretanto, o que ele deixa entender na entrevista que deu a um radialista, anos depois, e que também está incluída no álbum. Não tenho como transcrever tudo o que Gould, um notório tagarela, falou, mas ele essencialmente corrobora a atitude de Bernstein e declara ter problemas com a dualidade masculino/feminino do concerto como forma musical – posição que o levaria, no restante da carreira, a preferir gravar obras para piano solo e música de câmara.
Sobre a gravação em si, já falei que a qualidade do som é medonha: tem-se a impressão de que os microfones preferiram captar a sinfonia tísica da plateia, que não para de botar os bofes para fora, ao piano de Gould, que parece tocar das coxias. Os andamentos são de fato muito lentos, mas me parece haver um gradual accelerando ao longo dos movimentos, em especial no Maestoso. O mais interessante é que as gravações posteriores de Bernstein (como aquela que ele faria com Krystian Zimerman) duram quase tanto quanto a que ele fez com Gould, o que nos faz concluir que, talvez, o solista tenha vencido o embate contra o regente.
É bem provável que vocês, acostumados a Gilels, Zimerman e Pollini, detestem a interpretação de Gould. Para mim, ela foi um gosto adquirido: eu também já a detestei, mas sua leitura heterodoxa é hoje uma de minhas favoritas.
Johannes BRAHMS (1833-1897)
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Ré menor, Op. 15
01 – Introdução de Leonard Bernstein
02 – Concerto Op. 15 – Maestoso
03 – Concerto Op. 15 – Adagio
04 – Concerto Op. 15 – Rondo – Allegro non troppo
05 – Trecho de entrevista de Glenn Gould ao radialista James Fassett (1967)
Glenn Gould, piano New York Philarmonic Leonard Bernstein, regência
Gravado no Carnegie Hall, Nova York, em 6 de abril de 1962.
Será que um Stradivarius vale tudo o que pedem por ele?
E um Amati? Ou um Guarneri?
Talvez este álbum possa ajudá-los a responder.
Nele, o virtuoso ítalo-americano Ruggiero Ricci (1918-2012) toca, em quinze famosos violinos, várias peças curtas que considera adequadas às características de cada instrumento. Depois, no que é talvez a parte mais interessante do álbum, ele toca o mesmo trecho – o início solo inicial do Concerto no. 1 de Max Bruch – com as mesmíssimas condições de estúdio em cada um dos violinos, a maior parte dos quais leva apelidos que remetem a ex-proprietários célebres. Apesar da overdose de Stradivari, o xodó de Ricci era seu inseparável Guarneri del Gesù (o “Ex-Huberman”, que surpreendemente não aparece nesta gravação), que foi, depois de sua morte, adquirido por uma companhia japonesa e cedido à violinista japonesa Midori Gotō.
A “Glória de Cremona” a que se refere o título é a rica tradição de luteria daquela cidade, que teve seu pináculo entre os séculos XVI e XVIII através de luthiers da estirpe de Stradivari, Guarnieri, Bergonzi, Amati e da Salo, cujos preciosos instrumentos são, há já muito tempo, o privilégio dos maiores virtuosos.
THE GLORY OF CREMONA – RUGGIERO RICCI
Jean-Antoine DESPLANES [Giovanni Antonio Piani] (1678-1760)
01 – Intrada [violino de Andrea Amati, c. 1560-170]
PietroNARDINI (1722-1793) 02 – Larghetto [violino de Antonio Stradivari, “ex-Rode”, 1733]
Antonio Lucio VIVALDI (1678-1741)
03 – Praeludium [violino de Nicolò Amati, 1656]
Niccolò PAGANINI (1782-1840)
04 – Cantabile e Valzer [violino de Antonio Stardivari, “Il Monasterio”,1719]
Wolfgang AmadeusMOZART (1756-1791)
arranjo de Carl Friedberg (1872–1955)
05 – Adagio [violino de Giuseppe Guarneri del Gesù, “Il Plowden”, 1735]
Dmitri Borisovich KABALEVSKY (1904-1987)
06 – Improvisation, Op. 21 no. 1 [violino de Antonio Stradivari, “Il Spagnolo”, 1677]
Piotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
07 – Souvenir d’un lieu cher, Op. 42 – no. 2: Mélodie [violino de Giuseppe Guarneri del Gesù, “Il Lafont”, 1735]
Francesco Maria VERACINI (1690-1768)
08 – Largo [violino de Gasparo da Salo, ca. 1570-80]
Maria Theresia vonPARADIS (1759-1824)
arranjo de Samuel Dushkin (1891-1976)
09 – Sicilienne [violino de Carlo Bergonzi, “Il Constable”, 1731]
Jenő HUBAY (1858-1937)
10 – The Violin Maker of Cremona [violino de Giuseppe Guarneri del Gesù, “Ex-Bériot”, 1744]
Georg FriedrichHÄNDEL (1685-1759)
11 – Larghetto [violino de Antonio Stradivari, “El Madrileño”, 1720]
Robert SCHUMANN (1810-1856)
arranjo de Fritz Kreisler (1875-1962)
12 – Romance em Lá maior [violino de Giuseppe Guarneri del Gesù, “Ex-Vieuxtemps”, 1739]
Johannes BRAHMS (1833-1897)
13 – Dança Húngara no. 20 [violino de Antonio Stradivari, “Ex-Joachim”, 1714]
14 – Dança Húngara no. 17 [violino de Giuseppe Guarneri del Gesù, “Ex-Gibson”, 1734]
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN-Bartholdy (1809-1847)
arranjo de Fritz Kreisler
15 – Lieder ohne Wörte, Op. 62 – No. 1: “Mailüfte” (“Brisas de Maio”) [violino de Antonio Stradivari, “Ex-Ernst”, 1709]
Ruggiero Ricci, violinos Leon Pommers, piano
Max Christian FriedrichBRUCH (1838-1920)
Concerto para violino e orquestra no. 1 em Sol menor, Op. 26
I – Vorspiel. Allegro moderato (excerto – solo inicial)
Executado por Ruggiero Ricci nos seguintes instrumentos:
16 – Andrea Amati (c. 1560-70)
17 – Nicolò Amati (1656)
18 – Antonio Stradivari, “Il Spagnolo” (1677)
19 – Antonio Stradivari, “Ex-Ernst” (1709)
20 – Antonio Stradivari, “Ex-Joachim” (1714)
21 – Antonio Stradivari, “Il Monasterio” (1719)
22 – Antonio Stradivari, “El Madrileño” (1720)
23 – Antonio Stradivari, “Ex-Rode” (1733)
24 – Gasparo da Salo (c. 1570-80)
25 – Carlo Bergonzi, “Il Constable” (1731)
26 – Giuseppe Guarneri del Gesù, “Il Gibson” (1734)
27 – Giuseppe Guarneri del Gesù, “Il Lafont” (1735)
28 – Giuseppe Guarneri del Gesù, “Il Plowden” (1735)
29 – Giuseppe Guarneri del Gesù, “Ex-Vieuxtemps” (1739)
30 – Giuseppe Guarneri del Gesù, “Ex-Bériot” (1744)
Um álbum com o mesmo conceito daquele que postamos ontem: um célebre concerto para violino, Ruggiero Ricci, e várias cadências de diferentes autores. A orquestra, aqui, sai-se melhor, e Ricci parece mais à vontade com Brahms do que com Beethoven. As cadências mais famosas dividem o álbum com algumas das quais eu não fazia a menor ideia – assim como, em minha habitual ignorância, também não sabia que o célebre musicólogo Donald Francis Tovey tinha sido compositor.
RUGGIERO RICCI PLAYS BRAHMS VIOLIN CONCERTO
JohannesBRAHMS (1833-1897)
Concerto em Ré maior para violino e orquestra, Op. 77
01 – Allegro non troppo (início, compassos 1-525)
02 – Cadência de Ferruccio Busoni
03 – Cadência de Joseph Joachim
04 – Cadência de Edmund Sing
05 – Cadência de Hugo Heermann
06 – Cadência de Leopold Auer
07 – Cadência de Eugène Ysaÿe
08 – Cadência de František Ondrícek
09 – Cadência de Franz Kneisel
10 – Cadência de Henri Marteau
11 – Cadência de Fritz Kreisler
12 – Cadência de Donald Francis Tovey
13 – Cadência de Jan Kubelík
14 – Cadência de Adolf Busch
15 – Cadência de Jascha Heifetz
16 – Cadência de Nathan Milstein
17 – Cadência de Ruggiero Ricci
18 – Allegro non troppo (conclusão, compassos 511-535)
19 – Adagio
20 – Allegro giocoso, ma non troppo vivace – Poco più presto
Ruggiero Ricci, violino Sinfonia of London Norman del Mar, regência
Direto do túnel do tempo, trago para os senhores uma magnífica gravação de uma das minhas sinfonias favoritas, a Segunda de Brahms, onde um jovem maestro se consolidava entre os grandes regentes do final do século XX, Claudio Abbado. O ano era 1968, este que vos escreve ainda mal falava as primeiras palavras, além de mal conseguia caminhar.
Cinquenta e um anos se passaram desde então, aquele jovem maestro já nos deixou, mas antes de isso acontecer, nos proporcionou muita alegria e emoção no coração, graças a sua incrível sensibilidade artística Abbado já não está mais entre nós. E é com muita emoção que ouço esta pintura que é a Segunda de Brahms nas mãos deste jovem que ainda não conhecia muito da vida, digamos assim. Já no primeiro movimento ela mostra a que veio. Intercala momentos de lirismo, e ao mesmo tempo de tensão, a linguagem brahmsiana já está bem clara e definida, identificamos rapidamente suas principais características. Sim, sabemos que ele demorou para escrever sua primeira sinfonia, sempre dizia que depois de Beethoven, não havia mais o que se poderia expressar. Que bom que ele conseguiu superar essa barreira criativa. Que talvez tenha sido benéfica, basta analisarmos a qualidade destas quatro maravilhas que são suas sinfonias. A maturidade ajudou a moldá-las.
1. Symphony No. 2 in D, Op. 73- 1. Allegro non troppo
2. Symphony No. 2 in D, Op. 73- 2. Adagio non troppo – L’istesso tempo, ma grazioso
3. Symphony No. 2 in D, Op. 73- 3. Allegretto grazioso –
4. Symphony No. 2 in D, Op. 73- 4. Allegro con spirito
5. Academic Festival Overture, Op.80
Berliner Philharmoniker
Claudio Abbado – Conductor
Ah, os clássicos! Sempre é possível aprender com eles. Há um filme espetacular chamado The trouble with Harry.O filme é um clássico de Hitchcock e vale a pena futura investigação. Mas, hoje, do filme, emprestamos apenas o nome.
O Herbert aqui é o von Karajan, personalidade que desperta (mesmo depois de mais de trinta anos de sua morte) sentimentos extremos nas pessoas.
Karajan ocupou lugar de destaque absoluto no mundo da (chamada) música clássica por muitas décadas e, para muitos, até hoje, é sinônimo de perfeição e garantia de alta qualidade nas gravações. No caso dele, foram muitas.
O problema com Karajan é que ele nos coloca diante de dilemas que (lamentavelmente) insistem em nos afrontar. Essas questões podem ser abordadas de maneira aristotélica, como o fez Alexandre diante do Nó de Górgio, assumindo algum dos polos do ame ou odeie. Aqui vamos tentar uma abordagem diferente, que resumidamente consiste em evitar absolutamente coisas como
mas não deixar de desfrutar coisas como
É inevitável falar da indústria fonográfica sem mencionar o dia 19 de janeiro de 1946, no qual Walter Legge encontrou-se em Viena com Herbert von Karajan. Os detalhes deste encontro podem ser lidos no livro On and Off the Record, organizado a partir de anotações de Legge pela sua mulher, Elisabeth Schwarzkopf. Outra perspectiva destes controversos personagens pode ser lida no Maestros, Obras-Primas & Loucura, de Norman Lebrecht. Sempre que possível, ouça diferentes lados da mesma história!
Walter Legge foi um precursor da figura do produtor de discos e, se não inventou essa profissão, a moldou em sua forma atual, levando-a a níveis altíssimos de profissionalismo.
No final da Segunda Grande Guerra, Legge, que falava fluentemente alemão e sabia tudo sobre música, orquestras e gravações, sem ser músico profissional, percorria a Alemanha e a Áustria em busca de talentos para seus projetos. Especificamente buscava um regente para a sua Orquestra Philharmonia, recém formada por músicos escolhidos criteriosamente.
Herbert, mais uma vez, estava no lugar certo, na hora (quase) certa. E tinha tudo e mais um pouco com o que Walter sempre sonhara. Mas havia uma pegadinha, um embaraço monumental. Karajan estava passando por um processo de des-nazificação. Estava proibido de atuar em público, por exemplo. Veja, se você não sabia destes fatos, deve perceber que se tratando deste período histórico, as coisas nunca são exatamente simples.
No dia do encontro, Karajan deveria se apresentar com a Orquestra Filarmônica de Viena e, apesar dos ensaios, o concerto foi cancelado pelas autoridades russas apenas algumas horas antes. Para Legge, a questão da des-nazificação era apenas técnica. Ele próprio acabou se casando com a Schwarzkopf, que também passou por processo semelhante.
Como Karajan se tornou membro do partido é relativamente fácil de entender. Veja um trecho dos muitos artigos que andei lendo: Ruthlessly ambitious as a young man and grimly autocratic in his later years, his life story is marked by bitter rivalries, feuds and, most notoriusly, membership of the Nazy Party. Ou seja, implacavelmente ambicioso quando jovem e incansavelmente autocrático nos seus últimos anos, a história de sua vida é marcada por amargas rivalidades, disputas e, mais notoriamente, ter sido membro do Partido Nazista.
Karajan iniciara como regente em Ulm em 1929, num dos primeiros degraus de uma escada longuíssima de ascensão na carreira de regente nos países de língua alemã. Suas apresentações no Festival de Salzburg e outros concertos, inclusive com a Filarmônica de Viena, despertaram a atenção no cenário musical. Cenário este que com a ascensão do Nazismo ficava mais e mais despovoado de muitos nomes.
Apesar destes sucessos iniciais, ficou desempregado e teria entrado para o partido para conseguir a posição de regente em Aachen, onde as condições de trabalho eram boas.
Suas relações com o establishment, no entanto, não eram boas. Seu sucesso e sua juventude foram usados para afrontar Wilhelm Furtwängler, que era doentiamente inseguro. A rivalidade entre eles foi imensa. Furtwängler não pronunciava o nome Karajan e referia-se a ele simplesmente por K.
Karajan, que regia de memória, dirigiu uma apresentação desastrosa de Die Meistersinger, devido a um barítono embriagado. Com isso, caiu em absoluta desgraça com Adolf Hitler.
Além disso, casou-se com Anita Güterman, de avô judeu, o que certamente não contribuiu para amainar as coisas.
A despeito disso, Karajan fez sucesso. Ele trazia um sopro de novidade num cenário empobrecido pelas restrições impostas pela situação. Em seus concertos havia música que na época era nova. Vamos lembrar que Richard Strauss e Paul Hindemith, por exemplo, eram vivos e ativos. Karajan também apresentava uma perspectiva diferente da preconizada pelos concertos de Furtwängler. Arturo Toscanini sempre fora uma grande influência para Karajan, que ouvia as gravações de outros regentes, como Stokowski e Mengelberg, com suas grandes sonoridades. O interesse pelas novas tecnologias sempre esteve presente em sua vida.
O crítico Klaus Geitel lembra o ‘glittering, exciting’ thrill of pre-war Berlin concerts with their new repertoire: concerts with Furtwängler ‘were like going into a cathedral’; with Karajan, it was ‘like going to the Venusberg, like entering a bacchanal. ’ – ‘o entusiasmo brilhante e a excitação dos concertos em Berlim antes da guerra com seus novos repertórios: concertos com Furtwängler ‘eram como ir a uma catedral’; com Karajan, era ‘como ir ao Venusberg, como entrar em um bacanal. ’ Assanhado, não? Mas certamente realça as diferenças.
Com o fim do processo de des-nazificação, Karajan iniciou sua ascensão no mundo musical. Gravações para a EMI com a Philharmonia, para a London com a Filarmônica de Viena, apresentações no Festival de Salzburg e no Bayreuth Festspielhaus. O passo mais importante foi dado em 1955, com a morte de Furtwängler. Karajan torna-se diretor vitalício da Filarmônica de Berlim. O resto é história.
O Kaiser do Legato, a busca constante pela beleza de som. Esses ideais buscados incansável e germanicamente por Karajan foram, a um tempo, a sua glória e a sua maldição. Enquanto havia resistência, essa busca deixava margem a percepção da presença humana em seus resultados. A medida que os avanços tecnológicos e a reunião de poderes absolutos em suas mãos foram se consolidando, os resultados tornaram-se caricaturas. Sinfonias envernizadas e brilhantes, mas sem vida interior.
Além disso, sua personalidade gera um antagonismo que não se percebe contra figuras que viveram situações parecidas, algumas até com agravantes, como Richard Strauss, Karl Böhm e Carl Orff, por exemplo.
Talvez, o problema com Herbert seja que ele nos faz encarar o que pode haver de melhor, mas também o que pode haver de pior nos seres humanos. E isso, reflete-se em nós mesmos. Mas, chega de vãs filosofias e vamos a música da postagem.
Ouça as gravações de duas lindas sinfonias de Brahms, a Sinfonia Inacabada de Schubert e o poema sinfônico Les Preludes, de Liszt. Essas gravações são resultados de um encontro que marcou época e estabeleceu padrões altíssimos. Aqui temos a Orquestra Philharmonia, a produção de Walter Legge e o maestro que queria tomar o mundo da música, prestes a fazer exatamente isso.
Richard Osborne escreveu uma biografia de Herbert von Karajan. Em suas palavras:
Even the greatest talent, pushed a hair’s breadth in the wrong direction, can end up seeming like a parody of itself: the maniacal Toscanini, the blockish Klemperer, Gielgud crooning, Olivier ranting. Karajan’s Achilles’ heel would be a tendency to over-refinement and an excess of smoothness, the downside of his highly cultivated art.
O calcanhar de Aquiles de Karajan foi sua tendência para o super refinamento e um excesso de suavidade, o lado negativo de sua altamente cultivada arte.
Nathalie Clein tem estilo ao interpretar lindamente esse esplêndido programa de Brahms + Schubert. A gravação tem alguns detalhes que fazem a alegria de meu combalido coração: ouve-se claramente a carpintaria do cello. Clein tem bom som e parece não se importar muito em bater com o arco, nem com provocar alguns ronquinhos. Ah, e ela respira bastante, de forma e audível, fato natural em seres humanos. Prefiro a atmosfera de um concerto ao vivo do que a perfeição técnica provocada por engenheiros de som ciosos de limpeza, higiene e segurança no trabalho.
Em 1994, aos 17 anos, a violoncelista Natalie Clein foi a primeira vencedora do concurso britânico Festival Eurovisão de Jovens Músicos. Ela não se apressou em correr para uma carreira solo, tendo se concentrado em estudos com o grande Heinrich Schiff, bem como em desenvolver uma reputação internacional de concertos com orquestras, executando e colaborando com gente como Martha Argerich, Ian Bostridge e Steven Isserlis.
Este é seu CD de estreia (2004). Um desafio. As duas extraordinárias sonatas românticas de Brahms, juntamente com a Arpeggione.
1. Cello Sonata No. 2 in F Op. 99: I. Allegro vivace 8:54
2. Cello Sonata No. 2 in F Op. 99: II. Adagio affettuoso 6:45
3. Cello Sonata No. 2 in F Op. 99: III. Allegro passionato 6:59
4. Cello Sonata No. 2 in F Op. 99: IV. Allegro molto 4:18
5. Arpeggione Sonata in A minor D821: I. Allegro moderato 11:42
6. Arpeggione Sonata in A minor D821: II. Adagio – 4:10
7. Arpeggione Sonata in A minor D821: III. Allegretto 8:45
8. Cello Sonata No. 1 in E minor Op. 38: I. Allegro non troppo 13:46
9. Cello Sonata No. 1 in E minor Op. 38: II. Allegretto quasi Menuetto 5:51
10. Cello Sonata No. 1 in E minor Op. 38: III. Allegro 6:35
Você já imaginou uma orquestra sem contrabaixos? Pois é: uma desgraça – pior ainda tratando-se de uma orquestra de cordas. Mas como instrumento solista falta ainda bastante para o contrabaixo se consolidar dentro do repertório orquestral, mesmo com Bottesini (o Paganini do instrumento) tendo aberto caminhos para seu virtuosismo.
Nem mesmo a música de câmara contribuiu com muita coisa, tanto que um camarada chamado Catalin Rotaru encheu o saco e começou a fazer transcrições de peças mais desafiadoras, originalmente escritas para violoncelo ou violino. O romeno residente nos EUA, por exemplo, pinta e borda na paráfrase que escreveu sobre o Capricho 24 do aludido Paganini.
Porém neste CD aqui vocês verão um Rotaru comedido (comedido na demonstração de domínio técnico), que preferiu colocar apenas uma paráfrase (sobre Bach) em meio a duas sonatas (Brahms e Rachmaninov) onde respeita praticamente por completo a partitura, tocando o contrabaixo no registro agudo – ou seja, nas cello notes.
Nessas sonatas, a interpretação de Catalin chega a ser mais lírica do que a de muitos cellistas (particularmente, pela primeira vez senti beleza nessa primeira sonata de Brahms), por isso recomendo o download – que passa a ser obrigatório para fãs de peças do gênero, isto é, de sonatas.
***
Catalin Rotaru – Bass(ic) Cello Notes
Brahms
1. Sonata for Cello and Piano No.1 in E Minor, Op. 38: Allegro Non Troppo 11:53
2. Sonata for Cello and Piano No.1 in E Minor, Op. 38: Allegretto Quasi Menuetto 5:43
3. Sonata for Cello and Piano No.1 in E Minor, Op. 38: Allegro 6:48
Bach
4. Chaconne from Partita No. 2 in D minor, BWV 1004: Ciaccona 14:30
Rachmaninov
5. Sonata for Cello and Piano, Op. 19: Lento – Allegro Moderato 10:56
6. Sonata for Cello and Piano, Op. 19: Allegro Scherzando 6:40
7. Sonata for Cello and Piano, Op. 19: Andante 6:13
8. Sonata for Cello and Piano, Op. 19: Allegro mosso – Moderato – Vivace 11:26
Seguindo com a postagem desta super caixa da Deutsche Grammophon encontramos agora as gravações que a dupla Abbado / Pollini realizou dos Concertos para Piano de Brahms. São três CDs pois o sexto CD traz a gravação lá de 1977. Como a proposta da caixa é reunir todas as gravações que a dupla realizou juntos, nada mais justo que trazer aquela reunião. Só muda a orquestra, a recente nos tempos de Abbado a frente da Filarmônica de Berlim, a velha, frente a Filarmônica de Viena.
Nem preciso falar da qualidade. Temos aqui dois dos maiores músicos do novo e do velho século. A diferença entre as gravações obviamente é a idade e a maturidade que os músicos adquiriram no decorrer daqueles vinte anos. Como diria nosso querido e saudoso Carlinus, espero que tenham uma boa apreciação.
CD 4
01 – Piano Concerto No. 1 in D minor, Op. 15 I. Maestoso
02 – Piano Concerto No. 1 in D minor, Op. 15 II. Adagio
03 – Piano Concerto No. 1 in D minor, Op. 15 III. Rondo Allegro non tropo
01 – Piano Concerto No. 2 in B flat, Op. 83 I. Allegro non troppo (1995)
02 – Piano Concerto No. 2 in B flat, Op. 83 II. Allegro appassionato
03 – Piano Concerto No. 2 in B flat, Op. 83 III. Andante
04 – Piano Concerto No. 2 in B flat, Op. 83 IV. Allegretto grazioso
Maurizio Pollini – Piano
Berliner Philharmoniker
Claudio Abbado – Conductor
01 – Piano Concerto No. 2 in B flat, Op. 83 I. Allegro non troppo (1977)
02 – Piano Concerto No. 2 in B flat, Op. 83 II. Allegro appassionato
03 – Piano Concerto No. 2 in B flat, Op. 83 III. Andante
04 – Piano Concerto No. 2 in B flat, Op. 83 IV. Allegretto grazioso
Maurizio Pollini – Piano
Wiener Philharmoniker
Claudio Abbado – Conductor
O maior e mais belo Concerto para Violino está em muito boas mãos aqui, com Itzhak Perlman perfeito na sua execução, inclusive a considero esta gravação superior àquela realizada lá nos anos 70 com Giulini (trata-se de uma opinião pessoal, é claro, mas há quem concorde comigo). Claro que entrou nessa fórmula a maturidade profissional e musical deste incrível músico adquirida no correr dos anos. O violino de Perlman flui com uma incrível naturalidade, sem maiores problemas ou obstáculos. Outra escolha interessante de Perlman é a da cadenza, aqui escrita pelo famoso violinista Joseph Joachim, amigo pessoal do compositor e primeiro intérprete da obra.
Daniel Baremboim faz sua parte com a competência de sempre, desta vez tendo a poderosa Filarmônica de Berlim sob seu controle.
Além de mostrar todo o seu virtuosismo e técnica no Concerto, Perlman nos brinda com a execução de algumas Danças Húngaras, acompanhado por outro grande nome, Vladimir Ashkenazy, bem conhecido daqui do PQPBach.
Só tem gente grande aqui, queridos. Espero que apreciem. Eu gostei muito desta gravação.
01 – Violin Concerto in D Op. 77 – I. Allegro Non Troppo
02 – Violin Concerto in D Op. 77 – II. Adagio
03 – Violin Concerto in D Op. 77 – III. Allegro Giocoso, Ma Non Troppo Vivace
Itzhak Perlman – Violin
Berliner Philharmoniker
Daniel Baremboim – Conductor
04 – Sonatensatz In C Minor – Scherzo
05 – Hungarian Dances – No. 1 In G Minor
06 – Hungarian Dances – No. 2 In D Minor
07 – Hungarian Dances – No. 7 In A Major
08 – Hungarian Dances – No. 9 In E Minor
Há compositores que possuem uma linguagem singular e que nos toca profundamente. Certamente, Brahms é um desses. É um dos meus compositores favoritos. Gosto incondicionalmente de sua música, de sua sensibilidade. Achei que era um dever postar este CD. Achei-o recentemente. Pensei em não postá-lo. 160 kbps é uma quantia, para mim, pouco apetecível. Gosto de mp3s a partir de 224 kbps. Mas como se trata de uma CD com um conteúdo tão espetacular, decidi postar. Já fazia um certo tempo que eu não postava o bom e velho Brahms. E aqui ele aparece interpretado por Serkin e Rostropovich. Verdadeiramente imperdível! Um bom deleite!
Johannes Brahms (1833-1897): As Sonatas para Violoncelo e Piano
Sonata for Cello and Piano No. 1 in E minor, Op. 38
01. 1. Allegro non troppo
02. 2. Allegretto quasi Menuetto
03. 3. Allegro
Sonata for Cello and Piano No. 2 in F major, Op. 99
04. 1. Allegro vivace
05. 2. Adagio affettuoso
06. 3. Allegro passionato
07. 4. Allegro molto
A principal razão para esta postagem é este disco maravilhoso, que merece ser ouvido muitas e muitas vezes. A Sinfonia Italiana de Mendelssohn recebe uma de suas interpretações mais alerta e ensolarada de que se tem notícia. A Segunda Sinfonia de Brahms, com a repetição do primeiro movimento observada, está gloriosa. A orquestra formada para gravações com os melhores músicos das orquestras de Londres, foi reunida no lendário Studio 1 da EMI, na Abbey Road.
Ouvindo o disco podemos imaginar um maestro vigoroso, mas flexível – características facilmente associadas a um jovem. Na verdade, estas foram praticamente as últimas gravações de Leopold Stokowski, aos 95 anos.
O produtor Roy Emerson conta que quando não estava no pódio, Stokowski era uma figura frágil, mas assim que começava qualquer atividade relacionada à música, seja estudando as partituras, ouvindo as gravações realizadas e, sobretudo, quando regendo, ele se revelava ativo e cheio de energia.
Para a maioria das pessoas da minha geração (e das gerações próximas, também), o nome Stokowsky está associado ao filme Fantasia, produzido por Walt Disney. Este filme foi feito em 1940! Foram usadas pela primeira vez técnicas de gravações em multiple audio channels e o filme apresentado em stereophonic sound. A Sagração da Primavera, que havia sido escrita em 1913 por Stravinsky, é um dos números do filme. A transcrição para orquestra da Toccata e Fuga em ré menor, de Bach, que abre o filme, lembra o começo da carreira de Stokowski como organista. Naquele tempo ele fazia o contrário, transcrevendo para órgão famosas peças orquestrais. Popularização de música erudita foi também uma das coisas para as quais Stokowski contribuiu.
Nascido em Londres, foi na Filadélfia que encontrou a oportunidade de desenvolver sua arte, tornando a Orquestra da Filadélfia uma das melhores do mundo. Numa época de regentes quase icônicos – Toscanini, Furtwängler, Klemperer, Bruno Walter – Stokowski foi capaz de imprimir sua própria personalidade na maneira de fazer música, produzindo seu típico som, com graves pronunciados, como o que você vai ouvir, se baixar este lindo disco.
Este disco apresenta algumas características que poderíamos chamar sinais dos tempos. Algumas novidades, mas firmemente plantado na tradição. Primeiro as novidades. Desde que a crise econômica e as mudanças tecnológicas devastaram a indústria fonográfica, abatendo gigantescas empresas e reunindo sob o mesmo guarda-chuvas selos anteriormente rivais, os departamentos de marketing têm feito tudo o que podem para vender discos. Umas das estratégias é focar no artista, que passou a ser apresentado um pouco como um pop-star. Assim, vemos capas de discos com violinistas em vestidos esvoaçantes, pianistas fotografados sob ângulos mais ousados. Coisas que eram mais comuns para aqueles discos de árias das divas.
O reflexo desta onda esta no título do disco: VOLODOS plays Brahms. O que vende o disco não é a música de Brahms (isto do ponto de vista de marketing), mas Volodos tocando música de Brahms. Tudo bem, Arcadi Volodos é um extraordinário pianista e já tem sido testado pelo tempo. No entanto, a estratégia é clara: foco nos fãs de Volodos, menos nos amantes da música de Brahms.
O segundo detalhe é de ordem técnica. Fiquei impressionado com o som do disco, especialmente com o volume do som. Comparando com outras gravações das peças, foi necessário rápida movimentação do controle remoto para baixar o som quando passava de algum outro disco para este. Eis a questão: estaria o advento da música em arquivos digitais, dos discos virtuais, fazendo com que os produtores aumentem o volume de seus discos? Como essa alteração na mídia, essa nova tecnologia tem afetado as gravações? Espero as suas considerações…
Mas, voltando aos outros e mais interessantes aspectos do disco. Afirmo-vos sem qualquer dúvida, pelo menos nos meus dias, o universo da música gravada seguirá firme e incólume, confirmando antigas e enraizadas tradições.
Volodos é um pianista que dá continuidade a uma linhagem que retorna aos tempos de Liszt. Faz pensar em Richter, Gilels, mas principalmente, em Horowitz, só para ficar nos russos. Eu sei, calma, arroubos assim podem ser perigosos, mas vá lá, ouça o disco. Se os encantamentos deste mago do teclado não te atingirem, estarás perdido para a música com piano. Emprestando o bordão de um dos meus eminentes pares, o disco é
IM-PER-DÍ-VEL!!!!
Ah, é claro, tem aí também o Brahms – algumas de suas peças outonais, lindas!!
Até na escolha do repertório, Volodos remete a alguns dos artistas que o antecederam. Em vez de tocar todo o opus 76, suas oito peças, toca apenas as quatro primeiras. No lugar do disco estar completo com os opus 116 a 119, como fazem los otros, ele segue com o opus 117 e o opus 118. Temos assim um disco com cinquenta e quatro minutos de música, muita música em cinquenta e quatro minutos. Para que reclamar? Basta dizer que o disco ganhou o Gramophone Award e Diapason d’or. Agradou a gregos e baianos. Espero que o agrade também!
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Piano Pieces
Capriccio in F-Sharp Minor, Op. 76, No. 1: Um poco agitato, Unruhig bewegt
Capriccio in B Minor, Op. 76, No. 2: Allegretto non troppo
Se é surpreendente que Brahms tenha composto obras para órgão, o que se dirá quando algum de nós resolver postar seus motetos… Sim, são obras em que Brahms tenta fingir ser meu pai e não é uma má tentativa, muito pelo contrário. Brahms é denso e tinha a mesma queda de meu pai aos intricados jogos das fugas. Trata-se de muito boa música, principalmente os Onze Prelúdios Corais, Op. 122, escritos quando meu pai já o chamava para fazer-lhe companhia no céu — opa, os crentes vão gostar desta frase saída da pena de um ateu! Mas eu ia dizer que esta foi a última obra escrita por Brahms.
O que realmente não dá para entender é que tais peças — ouçam-nas! — sejam raramente ouvidas. Não parece Brahms, não parece Bach, parece um compositor novo, desconhecido, que faz música de primeira linha.
Johannes Brahms (1833-1897): Integral das composições para órgão
1. Prelude and Fugue in G minor 00:07:25
2. Fugue in A flat minor 00:07:53
11 Chorales Preludes, Op. 122
3. Mein Jesu, der du mich 00:06:20
4. Herzliebster Jesu 00:03:47
5. O Welt, ich muss dich lassen 00:03:41
6. Herzlich tut mich erfreuen 00:02:21
7. Schmucke dich, o liebe Seele 00:02:48
8. O wie selig seid ihr doch 00:02:00
9. O Gott, du frommer Gott 00:06:20
10. Es ist ein Ros’ entsprungen 00:02:37
11. Herzlich tut mich verlangen 00:02:35
12. Herzlich tut mich verlangen 00:04:18
13. O Welt, ich muss dich lassen 00:03:29
14. Chorale Prelude and Fugue on ‘O Traurigkeit, o Herzeleid’ 00:08:58
O Concerto para Piano e Orquestra Nº 2 de Brahms é separado por 22 anos do primeiro. É excelente, mas não tanto quando este. Brahms começou a trabalhar na peça em 1878 e a concluiu em 1881. A estréia do concerto foi em Budapeste, em 9 de novembro de 1881, com o próprio Brahms como solista. Foi um sucesso imediato e ela passou a excursionar com seu belo concerto por toda a Europa. Afinal, a grana rules.
Johannes Brahms (1833-1897): Concerto para Piano Nº 2, Op. 83
1. Piano Concerto No.2 In B Flat, Op.83 – 1. Allegro Non Troppo 19:17
2. Piano Concerto No.2 In B Flat, Op.83 – 2. Allegro Appassionato 9:21
3. Piano Concerto No.2 In B Flat, Op.83 – 3. Andante – Più Adagio 12:08
4. Piano Concerto No.2 In B Flat, Op.83 – 4. Allegretto Grazioso – Un Poco Più Presto 10:00
Claudio Arrau
Concertgebouw Orchestra
Bernard Haitink