Jenő Jandó (1952 – 2023): Uma Pequena Antologia ֎

Jenő Jandó (1952 – 2023): Uma Pequena Antologia ֎

“De muitas maneiras, Jenő Jandó definiu a abordagem que a Naxos tem para o seu catálogo: inovação, completude, qualidade, abrangência e disponibilidade. A isso pode-se acrescentar talvez a supremacia da obra sobre o ego do intérprete.”

Em 4 de julho de 2023 o mundo da música gravada perdeu um de seus mais prolíficos artistas – Jenő Jandó, pianista húngaro. Nascido em Pécs, em 1º de fevereiro de 1952, começou a carreira como a maioria dos pianistas, ganhando concursos e visibilidade. Atuou também como professor da Academia Franz Liszt de Budapest. O acervo de gravações deixado por Jenő Jandó merece as características listadas na página da Naxos – inovação, completude, qualidade, abrangência e disponibilidade.

Gravou para o selo Hungaroton, mas sua carreira de artista de disco se confunde com a do selo Naxos, para o qual deixou um enorme legado.

Para reverenciar tudo o que ele fez pelos amantes da música, especialmente os menos abastados, reuni nesta postagem quatro de seus discos, tentando dar alguma representatividade à sua extensa e bela obra.

Piano e Orquestra: Neste gênero Jenő Jandó deixou muitas gravações memoráveis, como a Integral dos Concertos para Piano de Mozart, que você encontrará aqui no PQP Bach. Há uma gravação da dobradinha com os concertos de Grieg e Schumann e outro disco espetacular com os Concertos de Bartók. Esse último também está aqui no blog. Como neste ano também reverenciamos o último dos românticos, decidi postar o Concerto No. 2 de Rachmaninov, que vem acompanhado da Rapsódia sobre um tema de Paganini. Música para milhões! Veja os louvores do Penguin Guide sobre esse disco, pela tradução feita pelo Chat PQP: As performances dessas obras por Jenő Jandó são muito recomendáveis. Ele tem a completa medida das idas e vindas, a fluência da fraseologia rachmaninoviana e o movimento lento é romanticamente expansivo, a reprise particularmente bela, assim como o final tem bastante energia e um sentimento lírico maduro. A Rapsódia é interpretada brilhantemente, tão boa quanto qualquer performance no catálogo.

Sergei Rachmaninov (1873 – 1943)

Concerto para Piano No. 2 em dó menor, Op. 18

  1. Moderato
  2. Adagio sostenuto
  3. Allegro scherzando

Rapsódia sobre um tema de Paganini, Op. 43

  1. Rapsódia

Jenő Jandó, piano

Budapest Symphony Orchestra

Giőrgy Lehel, regência

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Piano Solo: Aqui a lista de gravações é imensa. Nomes como Beethoven, Mozart, Bach, Schubert, Haydn, Schumann, Liszt, Scarlatti estão por lá. De Beethoven, Mozart, Haydn e Schubert gravou as integrais das sonatas para piano e outras cositas… De Bach há gravações do Cravo Bem Temperado e das Variações Goldberg. De qualquer forma, para mim, a Integral das Sonatas para Piano de Beethoven merece uma referência, mesmo tendo seus montes e vales, como disse o Conde Vassily. Desta coleção escolhi o disco que foi lançado como o Volume 2, com três sonatas que têm apelidos: Waldstein, Tempest e Les Adieux. Mais uma vez, o Penguin Guide: Jenő Jandó oferece aqui três das famosas sonatas, interpretadas com muito prazer, e elas soam bem agradáveis devido à sua abordagem direta.

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Sonata para Piano No. 21 em dó maior, Op. 53 “Waldstein”

  1. Allegro con brio
  2. Introduzione: Molto Adagio
  3. Rondo: Allegretto Moderato

Sonata para Piano No. 17 em ré menor Op. 31 No. 2 “Tempest”

  1. Largo – Allegro
  2. Adagio
  3. Allegretto

Sonata para Piano No. 26 em mi bemol maior Op. 81a “Les Adieux”

  1. Adagio – Allegro (Les Adieux)
  2. Andante Espressivo (L’Absence)
  3. Vivacissimamente (Le Retour)

Jenő Jandó, piano

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Alguns dias após está postagem ter ido ao ar, recebemos alguns comentários singelos. Entre eles, uma menção a esse disco, que decidi acrescentar à pequena antologia. Vale!

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Sonata para Piano No. 8 em dó menor, Op. 13 ‘Pathetique’

  1. Grave – Allegro di molto e con brio
  2. Adagio cantabile
  3. Rondo: Allegro

Sonata para Piano No. No. 14 em dó sustenido menor, Op. 27 No. 2 ‘Ao Luar’

  1. Adagio sostenuto
  2. Allegretto
  3. Presto agitato

Sonata para Piano No. No. 23 em fá menor, Op. 57 ‘Appassionata’

  1. Allegro assai
  2. Andante con moto
  3. Allegro ma non troppo – Presto

Jenő Jandó, piano

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Música de Câmara: Jenő era ótimo músico camarístico e há vários discos primorosos nesse gênero. Sonatas para Violino e Piano com Takako Nishizaki, música para violoncelo e piano, de Kodaly, por exemplo, com a violoncelista Maria Kliegel, música para clarinete e piano com o clarinetista Kálmán Berkes. Para essa postagem escolhi uma gravação na qual ele faz parceria com o ótimo Quarteto Kodály, outra instituição da Naxos. Veja os comentários sobre a gravação dos Quintetos com Piano de Schumann e Brahms por esses titulares absolutos do time Naxos. Sobre o Quinteto de Brahms: “Essa ótima gravação da Naxos tem muito a oferecer, mesmo que não inclua a repetição da exposição do primeiro movimento. A execução é ousadamente espontânea e possui muita energia e sentimento expressivo. A abertura do final também possui um certo mistério e, de maneira geral, com uma gravação cheia de corpo e muita presença, isso causa uma forte impressão. Certamente, é uma pechincha.” Sobre o Quinteto de Schumann: “Uma performance fortemente caracterizada do belo Quinteto de Schumann, interpretado por Jenő Jandó e o Quarteto Kodály. Esta é uma interpretação vigorosa, romântica em espírito, e sua espontaneidade é bem transmitida por uma gravação vívida, feita em uma acústica atraente e ressonante.”

Robert Schumann (1810 – 1856)

Quinteto com Piano em mi bemol maior, Op. 44

  1. Allegro Brillante
  2. In Modo D’una Marcia. Un Poco Largamente
  3. Scherzo: Molto Vivace – Trio I – Trio II – L’istesso Tempo
  4. Allegro, Ma Non Troppo

Johannes Brahms (1833 – 1897)

Quinteto com Piano em fá menor, Op. 34

  1. Allegro Non Troppo
  2. Andante, Un Poco Adagio
  3. Scherzo: Allegro – Trio
  4. Finale: Poco Sostenuto – Allegro Non Troppo – Presto, Non Troppo

Jenő Jandó, piano

Kodaly Quartet

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Música Ligeira: Num outro aspecto da música gravada, decidi trazer esse disco com selo Hungaroton, com música mais leve e despretensiosa – típica do período austro-húngaro, que revela outro aspecto da produção deste verdadeiro maratonista do piano que foi Jenő Jandó. O disco contém peças de Rossini e Schubert arranjadas para piano por Liszt. Rossini era frequentador das soirées nas casas dos abastados Aguado e Rothschild, onde ele geralmente acompanhava trechos mais famosos de suas óperas ao piano. Eventualmente ele acabou compondo novas peças para essas ocasiões. Isso deu surgimento a árias e duetos que foram posteriormente publicadas em ciclos, com o nome Soirées musicales. Liszt gostava bastante dessas peças e acabou fazendo arranjos delas para piano, que é o que ouvimos aqui. Já as Soirées de Vienne foram feitas sobre melodias de Schubert e buscam entreter e encantar.

Arranjos de Ferenc Liszt (1811 – 1886)

Composições de Franz Schubert (1797 – 1828)

Soirées De Vienne

  1. 2 Poco Allegro

Arranjos de Ferenc Liszt

Composições de Gioacchino Rossini (1792 – 1868)

Soirées Musicales R.236: Part One

  1. 1 La Promessa (The Promise) – Canzonetta
  2. 5 Il Rimprovero (Reproach) – Canzonetta
  3. 7 La Partenza (Depart) – Canzonetta
  4. 11 L’Orgia (The Orgy) – Arietta
  5. 3 L’Invito (Invitation) – Bolero
  6. 6 La Pastorella Dell’Alpi (The Shepherdess Of The Alps) – Tirolese
  7. 7 La Gita In Gondola (By Gondola) – Barcarola
  8. 8 La Danza (Dance) – Tarantella Napoletana

Arranjos de Ferenc Liszt

Composições de Franz Schubert

Soirées De Vienne

  1. 7 Allegro Spiritoso

Arranjos de Ferenc Liszt

Composições de Gioacchino Rossini

Soirées Musicales R.236: Part Two

  1. 2 La Regata Veneziana (The Venice Regatta) – Notturno
  2. 8 La Pesca (Fishing) – Notturno
  3. 10 Serenata (Serenade) – Notturno
  4. 12 Li Marinari (The Sailors) – Duetto

Arranjos de Ferenc Liszt

Composições de Franz Schubert

Soirées De Vienne

  1. 8 Allegro Con Brio

Jenő Jandó, piano

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Aproveite e celebre a obra desse grande artista!

René Denon

Henry Purcell (1659-1695): O Solitude (ou as canções que Purcell fez pra mim) (Lesne)

Henry Purcell (1659-1695): O Solitude (ou as canções que Purcell fez pra mim) (Lesne)

Não, não, esqueçam a bobagem acima. Sabem? Purcell tem uma belíssima coleção de canções, algo verdadeiramente esplêndido. Uma vez, em Porto Alegre, o Pro Cantione Antiqua ofereceu-nos um recital de canções cômicas de Purcell. Foi incrível aquilo, inesquecível. As pessoas riam a valer. Havia imitações de animais que eram verdadeiramente impagáveis, além de melodias que faziam a plateia sorrir mesmo sem entender perfeitamente seus conteúdos poéticos. Sem dúvida, algo de muito original.

Mas há também — e principalmente — as coleções líricas deste autor preferencialmente vocal. Mas parece que a escolha das canções deste disco destacou uma parte tão, mas tão obscura da série das centenas de canções de Purcell que ficou meio, assim, mais ou menos, entende?

Apesar disso, é fundamental dizer que o contratenor Gérard Lesne e Il Seminario Musicale cumprem um trabalho impecável ao interpretar a parte mais desconhecida das canções que Purcell fez para mim…

Henry Purcell (1659-1695): O Solitude

O solitude, my sweetest choice, Z406
If music be the food of love
The fatal hour comes on apace, Z421
What a sad fate is mine
While Thirsis, wrapp’d in downly sleep Z437
The Indian Queen: instrumental air
Distressed Innocence: Air lent
I attempt from Love’s sickness fly
Ask me to love no more, Z358
Beneath a dark and melancholy grove, Z461
If pray’rs and tears, Z380
Incassum Lesbia, incassum rogas (‘The Queen’s Epicedium’), Z383
In Cloris all soft charms agree, Z384
A thousand sev’ral ways I tried Z359
Intermède instrumental
Bacchus is a pow’r divine, Z360
Intermède instrumental
Intermède instrumental
Young Thirsis’ fate, Z473
An Evening Hymn ‘Now that the sun hath veiled his light’, Z193

Gérard Lesne, alto
Il Seminario Musicale

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Gérard Lesne descansando na cama da suíte do PQP Hotel de Paris

PQP

Antonio Vivaldi – As Quatro Estações – Rachel Podger, Brecon Baroque

Começo com esta postagem a trazer as gravações que a violinista inglesa, Rachel Podger, fez da obra de Antonio Vivaldi. A moça é um ‘monxtro’, como dizem cá pelas terras litorâneas do sul, principalmente na Ilha de Santa Catarina. Tem um pleno domínio do violino barroco, que toca com maestria. Sem medo, a coloco entre as maiores especialistas em interpretação historicamente informada, ao lado de outra excepcional violinista, Armandine Beyer.

Esta gravação das indefectíveis “Quatro Estações” é um primor de execução e criatividade. Difícil ficarmos indiferentes à ela. A própria sonoridade do instrumento de Podger é diferente, o som é mais rústico, mais cru.

Peço licença para citar o editorialista da amazon.com :

“A nova gravação de Podger visa acertar o relógio – reorientando os ingredientes que tornam The Four Seasons tão especial e lembrando os ouvintes do notável frescor da invenção de Vivaldi.”

E é exatamente este o destaque que pode se dar a esta gravação: frescor e inovação em sua execução, nos apresentando uma obra revigorada. Nem perderia mais tempo apresentando este CD tão especial, mas preciso falar da última obra executada, Concerto Il Grosso Mogul RV 208, com seu incrível Allegro final, com uma incrível cadenza de cinco minutos de duração, onde Lady Podger explora e expõe toda a sua técnica e virtuosismo. Repetindo os manezinhos da Ilha de Santa Catarina, diria com toda convicção: ‘Lady Podger, éx um monxtro’

Espero que apreciem.

Le Quattro Stagioni
Concerto No. 1 La Primavera – Spring Op. 8 No. 1 RV 269
1 Allegro
2 Largo E Pianissimo
3 Allegro
Concerto No. 2 L’Estate – Summer Op. 8 No. 2 RV 315
4 Allegro Mà Non Molto
5 Adagio
6 Presto
Concerto No. 3 L’Autunno – Autumn Op. 8 No. 3 RV 293
7 Allegro
8 Adagio Molto
9 Allegro
Concerto No. 4 L’Inverno – Winter Op. 8 No. 4 RV 297
10 Allegro Non Molto
11 Largo
12 Allegro

Il Riposo Per Il S.S. Natale RV 270
13 Allegro
14 Adagio
15 Allegro
Concerto L’Amoroso RV 271
16 Allegro
17 Cantabile
18 Allegro
Concerto Il Grosso Mogul RV 208
19 Allegro
20 Grave
21 Allegro

Rachel Podger – Violin & Director
Brecon Baroque

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Henry Purcell, Georg Friedrich Händel, Joseph Haydn: To Saint Cecilia (Les Musiciens Du Louvre, Minkowski)

Henry Purcell, Georg Friedrich Händel, Joseph Haydn: To Saint Cecilia (Les Musiciens Du Louvre, Minkowski)

Roubo? Mas é claro! E digo de onde. Foi roubado do Átila do Prato Feito, um excelente blog. Tudo porque seduziu-me a ideia do CD duplo e o excelente conjunto que interpreta o repertório. O estranho é que não gostei muito da amada (por mim) Ode de Handel, levada um tanto em ponto morto, sem a densidade emocional que PQP exigiria em seus sonhos. Mas pensem bem: três Cecílias, três vezes a padroeira da música, uma vez por Purcell, depois por Handel e Haydn. Não, só roubando mesmo. Leiam o post do Átila, muito melhor do que aquilo que escrevo aqui.

Purcell, Handel e Haydn: To Saint Cecilia

Hail, bright Cecilia, Z 328 “Ode on St Cecilia’s Day” by Henry Purcell
1. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (Symphony) 9:49
2. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘Hail! Bright Cecilia!’) 4:03
3. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘Hark, Each Tree’) 3:45
4. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘Tis Nature’s Voice’) 4:28
5. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (Soul of the World’) 2:07
6. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (Thou Tun’st this World’) 5:11
7. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘With That Sublime Celestial Lay’) 2:49
8. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (Wond’rous Machine’) 2:12
9. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘The Airy Violin’) 1:16
10. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (In Vain the Am’rous Flute’) 6:36
11. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘The Fife and All the Harmony of War’) 2:52
12. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘Let These Amongst Themselves Contest’) 2:22
13. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (Hail! Bright Cecilia!’) 4:09

Ode for St Cecilia’s Day, HWV 76 by George Frideric Handel
14. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (Overture: Larghetto e staccato – Allegro – Minuetto I – Minuetto II) 5:14
15. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘From Harmony’) 0:30
16. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘When Nature’) 2:54
17. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘From Harmony’) 3:17
18. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘What Passion Cannot Music Raise’) 10:12
19. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘The Trumpet’s Loud Clangor’) 3:12
20. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (March) 1:39

Disc 2:
1. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘The Soft Complaining Flute’) 6:28
2. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘Sharp Violins Proclaim’) 3:34
3. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘But Oh! What Art Can Teach’) 5:43
4. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘Orpheus Could Lead’) 1:29
5. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘But Bright Cecilia’) 0:54
6. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘As From the Pow’r of Sacred lays’) 7:52

Missa Cellensis in honorem, H 22 no 5 “Cäcilienmesse” by Franz Joseph Haydn
7. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Kyrie I’) 3:09
8. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Christe’) 3:02
9. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Kyrie II’) 2:51
10. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Gloria In Excelsis Deo’) 2:37
11. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Laudamus Te’) (‘Laudamus Te’) 3:35
12. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Gratias Agimus Tibi’) (‘Gratias Agimus Tibi’) 2:49
13. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Domine Deus’) 5:03
14. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Qui Tollis Peccata Mundi’) 5:15
15. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Quoniam Tu Solus Sanctus’) (‘Quoniam Tu Solus Sanctus’) 2:53
16. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Cum Sancto Spiritu’) (‘Cum Sancto Spiritu’) 0:27
17. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘In Gloria Dei Patris’) (‘In Gloria Dei Patris’) 3:03
18. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Et Incarnatus Est’) (‘Et Incarnatus Est’) 8:33
19. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Et Resurrexit’) (‘Et Resurrexit’) 4:36

Anders J. Dahlin (Tenor)
Lucy Crowe (Soprano)
Richard Croft (Tenor)
Nathalie Stutzmann (Alto)
David Bates (Countertenor)
Luca Tittoto (Bass)
Neil Baker (Baritone)

Regência: Marc Minkowski
Les Musiciens du Louvre
Choeur des Musiciens du Louvre

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Mendelssohn não sabe o que está fazendo aqui.

PQP

Mozart (1756 – 1791): Quartetos com Piano & Trio ‘Kegelstatt’ – Domus Quartet ֎

Mozart (1756 – 1791): Quartetos com Piano & Trio ‘Kegelstatt’ – Domus Quartet ֎

MOZART

Quartetos com Piano

Trio com Clarinete ‘Kegelstatt’

Domus Quartet

Richard Hosford, clarinete

 

Não se deixe enganar pela capa, este é um ótimo disco. Reuniu um time de músicos e técnicos excelentes para ser gravado e está recheado de lindas obras de Mozart.

O repertório consiste dos dois quartetos com piano e o trio ‘Kegelstatt’, combinações incomuns de instrumentos e mesmo inéditas (no caso do trio) nos dias em que foram compostas.

O quarteto Domus era então formado por Krysia Osostowicz (violino), Timothy Boulton (viola), Rchard Lester (violoncelo) e eram todos bem jovens em 1991. O selo Virgin colocou a produção nas mãos de Andrew Keener e as gravações foram feitas na St. George’s Church, em Bristoll. O produtor deixou uma pequena nota no livreto contando da enorme alegria do grupo ao tocar para uma audiência e, por isso, boa parte do resultado final do disco foi gravada ao vivo.

Os fotógrafos do QP Bach tiveram muito trabalho, mas conseguiram um bom ângulo…

Os quartetos para piano de Mozart chegaram à sua existência graças a um ótimo personagem que vivia em Viena, era músico, compositor e, como Mozart, fora atraído para essa cidade mais ou menos na mesma época que ele. Franz Anton Hoffmeister publicava música e encomendou três quartetos com piano de Mozart, esperando grandes vendas para os músicos amadores vienenses, sempre ávidos por boas melodias. Mas, quando o primeiro dos quartetos ficou pronto, Hoffmeister cancelou o acordo com o amigo Wolfie, deixando que este ficasse com o dinheiro já pago e liberando-o da obrigação de compor os outros. O fato é que no dia da inspiração para o primeiro quarteto, a musa que atendeu aos chamados do compositor era a da tonalidade sol menor… e ela estava inspirada. A parte para piano é bem mais difícil do que se esperava e, apesar da belíssima música, toda a obra soava estranhíssima para aqueles dias. Veja por você como essa tonalidade afetava Mozart, que a usou também em outras obras impressionantes, como as Sinfonias Nos. 25 e 40, assim como no Quinteto de Cordas K. 516. Aqui está uma postagem recente, feita pelo nosso editor chefe, com uma gravação também recente e excelente do quinteto…

Franziska…

Hoffmeister explicou tudo para o amigo Mozart, sobre a parte para piano, a tonalidade… deve ser isso, pois apesar de estar livre do compromisso, Mozart compôs ainda mais um Quarteto, aquele bem mais próximo da receita de Franz Anton. O Quarteto em mi bemol maior, K. 493, foi completado nos mesmos dias que Mozart finalizou a ópera As Bodas de Fígaro e, assim como o Concerto No. 22, também em mi bemol, é uma obra elegante e graciosa.

O Trio com Clarinete tem sua história ligada a outro amigo de Mozart, o clarinetista Anton Stadler, que tocou essa parte pela primeira vez em companhia do próprio Mozart, que por sua vez tocou a parte da viola, na estreia da peça. Ao piano a jovem Franziska, filha do dono da casa onde o evento se deu, o Barão Gottfried van Jacquin. A jovem e seu irmão eram alunos de Mozart e, pelo que podemos ouvir no trio, era talentosa.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Quarteto com Piano No. 1 em sol menor, K 478

  1. Alegro
  2. Andante
  3. Rondo: Allegro

Trio para Piano, Clarinete e Viola em mi bemol maior, K 498 ‘Kegelstatt’

  1. Andante
  2. Menueto
  3. Allegretto

Quarteto com Piano No. 2 em mi bemol maior, K 478

  1. Allegro
  2. Larghetto
  3. Rondo: Allegretto

Domus

Krysia Osostowicz, violino

Timothy Boulton, viola

Richard Lester, violoncelo

Susan Tomes, piano

com Richard Hosford, clarinete

Domus em trajes ingleses…

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MP3 | 320 KBPS | 181 MB

Na seção ‘The book is on the table’ de hoje, temos um resumo de uma crítica de Mr. Stanley Crowe:

Domus is long gone, and its members have morphed into the Florestan Trio, but it was a great group, and by the time they recorded these Mozart pieces, they had been together for a dozen years. The music […] is superbly played and recorded here. Just as sound, I was taken with the recording of the “Kegelstat” Trio (for piano, viola, and clarinet), where the instruments seem in perfect balance and the charm of the piece […] comes through well. As always, the pianist Susan Tomes excels […] and it’s good to hear the viola to somewhat more advantage than one usually does in quartets. Timothy Boulton plays beautifully, as does Richard Hosford, an excellent clarinetist.
There are other fine recordings of these pieces out there, but this is as good as any.

Resumindo: ‘as good as it gets!’

Concordo com ele! Aproveite!

René Denon

Aqui, mais uma:

Mozart (1756 – 1791) ∾ Quartetos com Piano ∾ Paul Lewis e Leopold String Trio ֍

Padre Antonio Soler (1729-1783) – Villancicos (Camerata e Coro A. Soler, Gustavo Sánchez)

A música de Soler desafia as periodizações usuais e coloca problemas para aquelas generalizações como “em 1750 o barroco acabou”. Como se o assim chamado estilo barroco tivesse tido as mesmas características e cronologia na Itália, França, Alemanha (falar de um barroco protestante já é estranho por outros motivos que não vêm ao caso hoje), na Península Ibérica e nas colônias de ultra-mar onde as cartas demoravam meses para chegar e as modas, muito mais.

O Padre Soler viveu toda a vida na Espanha mas, leitor voraz e também escritor, acompanhava as novidades musicais impressas e manuscritas dos países vizinhos. Suas obras mais famosas são as sonatas e o fandango para teclado: tendo conhecido bem o cravo e o piano, ele viveu a transição entre esses dois instrumentos e usou práticas então recentes como o “baixo de Alberti”, muito comum nas sonatas de Mozart. Mas, se me perguntarem, as sonatas de Soler são mais variadas e originais do que as de Mozart, que atingiu momentos pianísticos mais sublimes sobretudo nos concertos.

Soler, por sua vez, não compôs concertos para piano e orquestra, talvez pela ausência de orquestras regulares na região de Madrid. Mas ele é o autor dos primeiros quintetos com teclado de que se tem notícia (1776). Para quarteto de cordas e cravo (ou piano ou órgão, há controvérsias), eles inauguram uma formação na qual Schumann e Shostakovich criariam obras-primas.

Além dessas obras instrumentais, há missas e outras coisas menos conhecidas até hoje, como os villancicos, que são música vocal não litúrgica, tradicional em festas populares na Espanha desde o fim da idade média. Em sua forma portuguesa, o vilancete foi cultivado por Camões. Soler compôs diversos villancicos de Natal, mas neste disco foram gravados apenas villancicos compostos para a festa de São Lourenço, padroeiro do gigantesco Monastério de El Escorial, próximo a Madrid e onde a família real passava parte do ano, sendo assim, junto com o Palacio de Aranjuez, uma espécie de “Versalhes espanhol”. Essa festa ocorria a cada mês de agosto e os seis vilancicos foram cantados entre 1753 e 1770. As partituras não circularam pelo mundo: modesto, Soler as guardou na Biblioteca do monastério (foto abaixo).

Real Biblioteca del Escorial, fundada em 1565

A orquestração dos villancicos de Soler é bem simples – apenas violinos e baixo contínuo no primeiro de 1753, aos quais se somam duas trompas nos outros, oboé em um -, refletindo a ausência de grandes orquestras em Madrid, onde os instrumentos de teclado reinavam na preferência da elite (lembrem-se que, quando Soler era jovem, a Rainha Maria Bárbara encomendou cinco pianofortes de Florença para sua corte).

Então se por um lado o clima festivo e o canto com coro SATB e solistas lembram algumas cantatas de J.S. Bach ou o Gloria de Vivaldi, por outro lado a orquestração mais simples para cordas (sem partes para viola e com o violoncelo inserido no contínuo) e a predominância das trompas em alguns trechos dá um clima que em termos genéricos podemos chamar de medieval/renascentista ou, se quisermos ser mais precisos, associaremos à música coral da Veneza de G. Gabrieli, um século antes de Vivaldi e talvez ainda influente na Espanha na época. Ou ainda, em uma extrapolação por analogia, poderíamos relacionar à alegria das festas de interior como as de São João no Brasil – que ocorrem fora da igreja mas são festas de santo como esses villancicos.

Em todo caso, não imaginemos Soler compondo obras corais em castelhano pensando em competir com Bach, Vivaldi ou Gabrieli. Era um homem de cultura cultivada, rato de bibliotecas, talvez em suas obras em latim – missas, réquiem, salmos – ele quisesse impressionar bispos e arcebispos, mas em seus vilancicos em castelhano ele estava fazendo música para festa de santo. Isso talvez dê pistas sobre o inclassificável estilo de Soler: fez sonatas para ouvidos de aristocratas e fez música coral que o povo espanhol queria ouvir e cantar durante as festas. E, como lembra o Luiz Simas, quem faz o santo é o povo, bem mais que o Vaticano.

Padre Antonio Soler (1729-1783) – Villancicos a San Lorenzo

1. En la plaza de Roma. Villancico a 8 con Violines y Trompas, 1756 (10:53)
2 El laurel lleno de amor. Villancico a 8 con Violines y Trompas, 1759 (15:26)
3 En consonancias de guerra. Villancico a 8 con Violines, 1753 (9:09)
4 El sufrimiento más noble. Villancico a 8 con Violines, Oboe y Trompas, 1765 (7:59)
5 Al Que de Dios templo vivo. Villancico a 8 con Violines y Trompas, 1769 (16:25)
6 Flores, vientos, aves, fuentes. Villancico a 8 con Violines y Tromplas, 1770 (8:07)

Camerata e Coro Antonio Soler, Gustavo Sánchez
Recorded: El Escorial, España, 2017
1ª gravação mundial – as partituras se encontram em cópia única na Real Biblioteca del Escorial

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Detalhe de uma pintura de El Greco (1580) no Monasterio de El Escorial

Pleyel

Chopin / Rachmaninov: Sonatas para Piano Nº 2 + Berceuse + Barcarolle (Grimaud)

Chopin / Rachmaninov: Sonatas para Piano Nº 2 + Berceuse + Barcarolle (Grimaud)

Vi Pollini tocar a Sonata Nº 2, a da Marcha Fúnebre,
dias após a morte de Claudio Abbado. Ele dedicou a interpretação a seu amigo e o que aconteceu depois foi uma coisa do outro mundo. Claro que Grimaud não é culpada disso, mas aquele recital reverbera até hoje em meus ouvidos. O que ela faz está OK, mas Pollini é quem tem uma das gravações de referência, não ela. Hélène Grimaud é uma mulher de fortes ideais.  Como pianista, frequentemente divide o público. Este disco é bastante bom, apesar do Rachmaninov, embora eu realmente pudesse passar sem a vocalização semelhante a de Glenn Gould. Não sei por que os produtores de discos não mandam os artistas ficarem quietos na frente dos microfones. Limite-se a fazer cócegas nos marfins, Hélène. O ponto alto do CD são os Chopins, claro. Esqueça Rach.

Chopin / Rachmaninov: Sonatas para Piano Nº 2 + Berceuse + Barcarolle (Grimaud)

Frédéric Chopin Piano Sonata No. 2 In B Flat Minor, Op. 35 (25:20)
1 – Grave – Doppio Movimento 7:32
2 – Scherzo 6:43
3 – Marche Funèbre. Lento 9:24
4 – Finale. Presto 1:41

Sergei Rachmaninov* Piano Sonata No. 2 In B Minor, Op. 36 (23:13)
5 – Allegro Agitato 9:49
6 – Non Allegro – Lento 7:25
7 – L’istesso Tempo – Allegro Molto 5:59

8 Frédéric Chopin– Berceuse In D Flat Major, Op. 57 5:00

9 Frédéric Chopin– Barcarolle In F Sharp Major, Op. 60 8:33

Piano – Hélène Grimaud

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Cuidado! Ela é faca na bota!

PQP

Giuseppe Verdi (1813-1901): “La Traviata” – ópera em três atos (Sutherland, Bergonzi, Merrill, Pritchard) (Callas, Kraus, Sereni, Ghione)

Giuseppe Verdi (1813-1901): “La Traviata” – ópera em três atos (Sutherland, Bergonzi, Merrill, Pritchard) (Callas, Kraus, Sereni, Ghione)
Cena final de “La Traviata”, 19° ópera de Giuseppe Verdi – “Metropolitan Opera”, New York, 2022/23.

Março de 1853, público veneziano assistiria criação impar do repertório operístico. Mas, no lugar do arrebatamento de “Rigoletto” ou da impetuosidade de “Il Trovatore”, Verdi abordava a delicadeza dos afetos. Em “La Traviata”, tal como “Luisa Miller”, temática e música se voltariam ao intimismo e à vida burguesa…

E o amor de um jovem estudante seria dedicado a uma cortesã, acossada pela tuberculose e pela morte… Personagem central, Violetta experimentaria tal pureza de sentimentos, diferenciados da diversão, dos jogos de sedução e vida mundana da alta sociedade parisiense. Sentimentos que ressignificavam sua existência, pela simplicidade, dedicação e ternura de um jovem, em derradeira homenagem à mulher que abrira mão do amor…

A música pontuará tais sentimentos, de carinho e devoção, oferecendo, à personagem moribunda, apaziguamento final – afirmação do amor romântico, eternamente possível… Assim, Violetta resgatava o amor poético que abandonara, quem sabe, impossível, em troca do luxo e liberdade que conquistara… Do amor proibido à mulher mundana e solitária, mas que a reencontrava…

Cena de “La Traviata” – Tereza Stratas e Plácido Domingo, no filme de Franco Zefirelli, 1982.

Também valores burgueses estarão presentes, diante do envolvimento de Alfredo. Quem sabe, fantasia juvenil a comprometer futuro pessoal e projeção de abastada família… Paixão incompatível a de respeitável cidadão, quando haviam regras a seguir, que permitiam transitar entre a família, a sociedade e os cabarés de luxo – com a devida discrição e típicos cinismos, a equilibrarem relações sociais e familiares…

Libreto, porém, não intensificará o que poderia tornar-se dramático conflito – caso da persistência e determinação dos amantes. A doença de Violetta impedia tais desdobramentos… Assim, desenlace será de lamento e consternação… De consolo diante da morte, em comovente abordagem da condição feminina. “La Traviata” representa delicada joia na dramaturgia verdiana…

Giuseppe Verdi, mestre da ópera italiana (1813-1901).

Motivações

Durante a composição de “Il Trovatore”, o libretista Salvatore Cammarano resistia na adaptação da peça do espanhol Antonio Gutiérrez. Em tais circunstâncias, Verdi cogitou mudar a temática para o romance “Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas, filho, que considerava “simples e comovente”... Cammarano via trama e personagens de Gutiérrez demasiado inverossímeis, enquanto Verdi, inúmeras possibilidades cênicas e dramáticas… Por fim, entenderam-se e o libretista, gradualmente, mergulhou no trabalho…

Verdi, todavia, não abandonou ideia de musicar “Dama das Camélias”. Em período que esteve em Paris, com Giuseppina Strepponi, assistiu a peça de Dumas, filho, no “Theatre de Vaudeville”, início de 1852…  Quando viria saber as razões da lentidão de Cammarano. O poeta napolitano encontrava-se gravemente doente e, para grande tristeza, viria a falecer, deixando incompleto o libreto de “Il Trovatore”…

“Theatre de Vaudeville”, Paris – por Jean Beraud. Estreia da peça teatral “Dama das Camélias”, 1852.

Solidário à família, Verdi cumpriu integralmente compromissos contratuais, mais complemento financeiro, em demonstração de afeto e reconhecimento ao poeta, que trabalhara também com Donizetti e Mercadante… E concluiu libreto com o jovem Leone Emanuele Bardare… Da parceria com Cammarano resultaram quatro óperas: “Alzira”, “La battaglia di Legnano”, “Luisa Miller” e “Il Trovatore”…

No retorno à “Sant’Agata”, março/1852, quando ainda trabalhava em “Il Trovatore”, Verdi recebeu convites de Milão, Veneza e Bologna… E concordou em compor uma ópera para o teatro “La Fenice”, de Veneza, que resultaria em “La Traviata”, com libreto de Francesco Piave…

E ao contrário da complexa elaboração de “Il Trovatore”, “La Traviata” fluiu sem contratempos, sendo realizada, praticamente, em dois meses. Até estreia de “Il Trovatore”, em Roma, janeiro/1853, muito pouco da nova ópera estava escrito, embora firmada parceria com Piave… Programada para março/1853, o libretista veneziano instalou-se em “Sant’Agata” para acelerar composição e eventuais adaptações do texto…

Francesco Maria Piave, poeta veneziano, libretista de “La Traviata”.

Piave era colaborador afável e flexível, pronto a reelaborar versos, cenas e situações dramáticas – ao sabor do processo criativo de Verdi, nem sempre cordial quando absorvido no trabalho… E foi libretista que mais colaborou com Verdi, em cerca de 10 óperas, nos libretos de “Ernani”, “I due Foscari”, “Macbeth”, “Il Corsaro”, “Stiffelio”, “Rigoletto”, “La Traviata”, “Simon Boccanegra”, “Aroldo” e “La forza del Destino”… 

“La Traviata” se tornou especial homenagem à feminilidade, ao derradeiro amor de uma bela e experiente mulher, afamada cortesã, através da paixão de um jovem estudante de direito… O drama se desenvolve entre o amor, renúncia e doença de Violetta; a dedicação e revolta de Alfredo; em contrapontos à objeção familiar, pela dissuasão do romance…

Período “entre guerras” e temática burguesa

Dado a longevidade, Verdi testemunhou e participou de inúmeros eventos. Quando residia em Paris, mobilizou-se durante a “1ª guerra de independência” e festejou as façanhas do “Levante de Milão”, 1848. Intercedeu por apoio junto ao governo francês, embora, sem sucesso. E estreou “La battaglia di Legnano” em plena Roma ocupada, 1849, durante a efêmera república proclamada pelas forças de Mazzini e Garibaldi; depois repelidas por nações europeias, a pedido do Papa. Por fim, celebraria a monarquia italiana, 1861, sendo nomeado senador, por Vitor Emanuelle, em 1874…

Giuseppe Verdi recebido por Vitor Emanuelle.

Com sua música e ativismo, Verdi tornou-se figura simbólica da unificação, junto com Garibaldi e Mazzini – “os três Giuseppes”. Mas, a partir de “Luisa Miller”, dezembro de 1849, iniciava nova fase, espécie de produção “entre guerras”, abordando a literatura pré-romântica, de Schiller e do “sturm und drang” (“tempestade e ímpeto”); depois, do romantismo francês, com Émile Souvestre e Victor Hugo – adentrando temáticas líricas e burguesas…

A década de 50 marcaria, sobretudo, reorganização, econômica e militar, do “Risorgimento”, sob liderança da Sardenha-Piemonte, de Cavour e Vitor Emanuelle… Apaziguamento revolucionário, que, no caso de Verdi, resultaria em sucessão de obras-primas. Após “Luisa Miller” e “Stiffelio”, viriam “Rigoletto”, “Il Trovatore” e “La Traviatta”, formando célebre trilogia, seguidas de “I Vespri Siciliani”, “Aroldo”, “Simon Boccanegra” e “Ballo Maschera”…

“Encontro de Garibaldi e Vitor Emanuelle II, em Teano”, Pintura de Sebastiano de Albertis.

Apenas em 1859, então com apoio da França, o “Risorgimento” empreenderia nova e bem sucedida campanha – “2ª guerra de independência”… Lombardia, Sicilia e Nápoles seriam libertadas. E a cada conquista, massiva adesão popular, consolidando ideia de nação. Em 1861, Vítor Emanuelle proclamou a “Monarquia Italiana”, com capital em Turim, depois Florença, 1865… E a unificação se estenderia até a libertação do Vêneto, 1868, com apoio da Prússia; e depois, Roma, 1870… Cerca de dez anos de lutas!

Música em “La Traviata”

Décima nona ópera – considerando “Jerusalém, rifacimento de I Lombardi”, “La Traviata” se caracteriza pelo fluente melodismo. Com amplo domínio da tradição, Verdi cogitava maior continuidade da música, a fim de evitar demasiadas interrupções do fluxo dramático – dos chamados números, o que conseguiu parcialmente…

Curiosamente, algo original e contemporâneo à concepção do “drama musical” wagneriano… No entanto, Verdi encontrou caminho flexibilizando a forma, buscando concisão e readequando cenas e ritmo dramático. Também expressivo e discreto uso de “leimotivs”… Tais adaptações permitiam maior fluência e lirismo musical – o progressismo verdiano!…

Música do “Brindisi” – manuscrito de Verdi, 1° ato de “La Traviata”.

Neste período, então exilado na Suíça, Wagner iniciava composições do ciclo “Anel do Nibelungo”, 1851, e “Tristão e Isolda”, 1857, explorando os limites da tonalidade e propondo “sprechgesange” (canto declamado) a substituir a ópera por números… A década de 1850, portanto, ensejou concepções musicais e dramáticas que marcaram final do séc. XIX e início do séc. XX. E ambos, Verdi e Wagner, seriam referenciais…

A música em “La traviata” oferece melodismo transbordante. Também concisão dos recitativos. E além dos expressivos prelúdios orquestrais, os coros, de grande beleza e vigor, enriquecem cenas de salão e urbanas… Nesta fase, movido por outras abordagens, Verdi distanciava-se do caráter patriótico e do cantar da liberdade, protagonizados, sobretudo, pelos coros, em “Nabucco”, “I Lombardi” e outras, então associadas à unificação italiana. E tal como em “Luísa Miller”, buscava o lirismo, no lugar do épico…

Cena 2 do 2° ato – coro “Noi siamo zingarelli”, de “La Traviata”, Theatro Municipal de São Paulo, regência Roberto Minczuk, 2018.

Estreia em Veneza e contratempos

A medida que se aproximava a estreia, Verdi preocupava-se com o elenco, sobretudo, com a “prima donna”… Verdi desejava um soprano lírico jovem, bela aparência e que transmitisse paixão. Temia pelo fracasso da estreia… Piave, por sua vez, estava incumbido, pelo teatro, a convencer Verdi, que Fanny Salvini-Donatelli, contratada na temporada, seria escolha adequada… Ao que Verdi, francamente, se opôs… Fanny não preenchia nenhuma das expectativas. E sugeriu Rosina Penco, da estreia de “Il Trovatore”…  Piave respondeu ao teatro, alegando “mau humor infernal do maestro, devido à sua indisposição, mas, muito provavelmente, porque não tinha fé na companhia”… 

Verdi chegou em Veneza duas semanas antes da estreia, em 21/02. Concluiu orquestração, para estreia dia 06/03/1853, e congratulou-se com nível e empenho da orquestra. Mas, estreia realizou-se com Fanny Salvini-Donatelli… Em bilhete enviado à Emanuele Muzio, seu assistente, disse: “Caro Emanuele, ‘La Traviata’ na noite passada – um fiasco. Minha culpa, ou dos cantores? o tempo dirá…”

Cartaz de estreia de “La traviata” – Teatro “La Fenice”, Veneza, Itália, 06/03/1853.

“Gazzetta Privilegiata di Venezia” publicou: “primeira noite, um fracasso. No entanto, a desprezada Fanny Donatelli salvou o 1° ato e tinha ‘parte do leão’ a cantar… Estrago maior foi no 2° Ato, protagonizado pelas vozes masculinas, tenor e barítono. Por fim, no 3° Ato, a plateia não resistiu à robusta Donatelli encenar mulher que morria de tuberculose. O riso contagiou os presentes…”

A crítica, no entanto, reconheceu qualidades na ópera, atribuindo fracasso à performance, não ao drama ou à música… E Verdi fora chamado diversas vezes ao palco. Um dos motivos para escolha do tema foi sua contemporaneidade. A ópera abordava personagens da vida moderna, suas vestes e ambientes de época. No entanto, diretores do “La Fenice”, com receio do tema, optaram por figurinos do séc. XVIII, da era Luís XIV…

Apesar do fracasso, vieram convites de Gênova e do teatro “San Carlo”, de Nápoles. E Verdi ironizou ao amigo Cesare de Sanctis: “Ah, então gostaram da minha ‘Traviata’, aquela pobre pecadora, que teve tão pouca sorte em Veneza. Um dia, o mundo lhe fará justiça! Mas, não em Nápoles, onde padres ficariam horrorizados ao verem, no palco, o que fazem na calada da noite…”

Teatro “San Benedetto”, 2ª produção de “La Traviata”, Veneza, Itália, após fracasso da estreia no teatro “La Fenice”.

Verdi, cauteloso, só admitiria nova produção com elenco que julgasse adequado… E “La Traviata” voltaria ao palco em Veneza, no teatro “San Benedetto”, menos afamado que “La Fenice”, a convite de Antonio Gallo – com mesmos cenários e figurinos, mas novo elenco… Verdi concordou, reviu alguns números e fez ajustes nas tessituras vocais – a música, basicamente, permanecia inalterada…

“La Traviata” voltou à cena em 06/05/1854, com Maria Spezia, soprano, Francesco Landi, tenor, e Filippo Coletti, barítono, que haviam atuado em “Alzira” e “I Masnadieri”. Verdi estava em Paris – convite do “Opéra” que resultaria em “I Vespri Siciliani”, ficando  entusiasmado com o sucesso e almejado reconhecimento – uma ópera em que acreditava!

“Dama das Camélias”

Diz o narrador em “Dama da camélias”: “para muitos talvez pareça ridículo, mas tenho inesgotável indulgência pelas cortesãs. E nem me dou ao trabalho de discutir…”

E assim, abordou o tema das cortesãs, cujas decadência e mortes, após vida turbulenta, eram esquecidas por seus amantes. Em sensível relato, o amante de Marguerite Gautier, o jovem Armand Duval, que sofreu imensamente sua morte, reflete sobre a fragilidade que tais escolhas traziam a estas mulheres…

Greta Garbo em “Camille”, filme de George Cukor, 1936.

Também preocupavam o autor: a escolha do tema, recorrente na literatura francesa, abordado por Victor Hugo, Musset e Alexandre Dumas, pai; e supostas apologias ao vício e à prostituição, por enfatizar a humanidade do personagem, no lugar de tratá-lo, vulgarmente, com desprezo e preconceito… Por fim, o romance surpreendeu e obteve grande sucesso…

Em relato piedoso, Armand Duval lembra trajetória da jovem até tornar-se cortesã, o que, praticamente, lhe absolvia de quaisquer faltas… Da vida de desamparo, privações e doenças; e por fim, a sobrevivência e a prostituição… E traz citação bíblica: “Tudo será perdoado àquele que muito amou”…

Greta Garbo e Robert Taylor, em “Camille”, filme de George Cukor, 1936.

“Dama das Camélias” apresenta mulher generosa, distanciada da vulgaridade e do embrutecimento, muitas vezes, presentes em vidas semelhantes – meios inescapáveis de resistir e sobreviver…

A relação com Armand a resgatava de um mundo vazio em afetos. De toda gama de carências, descobria carinho e dedicação. Mas, apesar da sinceridade de tais sentimentos, era atraída por amor proibido, que confrontava sua condição à família do amante. Sobretudo, com o pai, apelando à mulher experiente, a fim de convencê-la de tal impossibilidade. Marguerite sabia das regras, do que renunciara quando entregou-se à prostituição; sabia das mazelas e da hipocrisia; e como a sociedade se conduzia em tais papeis…

Na Paris do sec. XIX, diria Marguerite: “Se aquelas que ingressam em tão vergonhoso ofício soubessem, prefeririam ser camareiras. Mas não… A vaidade de ter vestidos, carruagens e diamantes nos arrasta; acreditamos no que ouvimos, pois a prostituição tem sua fé. No entanto, pouco a pouco, corrói nossos coração, corpo e beleza… (Se pelo que sabemos) somos temidas como feras selvagens, também somos desprezadas como párias; muito mais cercadas pelos que nos tomam, do que pelos que nos dão… Por fim, morremos como cães abandonados, depois de perdermos os outros e a nós mesmas…”

Greta Garbo em “Camille”, filme de George Cukor, 1936.

Assim, emergiam as cruéis ambiguidades do ofício, das expectativas de sucesso frente à renúncia e às frustrações; do luxo e satisfação da vaidade diante da melancolia e do arrependimento… Marguerite admitia não passar de uma mulher perdida e pede à Armand que se reconcilie com a família: “Volte para seu pai, meu amigo… Olhe por sua irmã, moça pura, que ignora nossas misérias. Volte para aqueles que logo esquecerão o que lhe fez esta moça da vida…”

Em outros momentos, sonhava, quem sabe, iludia-se, ao planejar “desfazer-se da imagem de cortesã, também do luxo que a cercava e dedicar-se ao jovem amante”. Mas logo sentia-se reduzida à simples mercadoria, pelo que oferecia como cortesã; trazida à realidade pelo pai de Armand, evocando valores que os distanciavam. Também advertindo-a da ingênua paixão do filho – sentimento ocasional, transitório…

Restava a morte, quem sabe, oportuna e libertadora, redentora e purificadora, visto que em vida sua condição era irreversível… Assolada por tais conflitos, a relação com Armand tornava-se impossível. Embora fosse autêntico seu amor, impunha-se a renúncia, a privação de quaisquer prazeres, não fossem do luxo e da distração – espécie de condenação existencial em meio à riqueza e o conforto… Morta para tais sentimentos, no entanto, ainda cultivava empatia e bondade, “nem sempre presentes entre aqueles, ditos de moral impoluta”…

Greta Garbo e Robert Taylor, em “Camille”, filme de George Cukor, 1936.

Em comovente relato, de lamento e compaixão, virtudes eram pontuadas… Marguerite era vítima de suas escolhas, de suas origens e contingências… Portanto, à margem, perdida para outras possibilidades de felicidade… Mas, sensível em meio à rejeição e ao desprezo, revelava dignidade, ainda presente em vidas corrompidas e conflitadas….

Por fim, o romance remetia ao jogo social, do cinismo e promíscua cumplicidade entre o moral e o imoral, dos desejos e seus subterfúgios, aparentemente contraditórios, mas complementares – tão escancaradamente presentes nos tecidos sociais… Assim, vícios e prostituição, ditos imorais, estavam imbricados, entrelaçados aos comportamentos, ditos virtuosos, em permeável interação…

Reafirmando-se “popular jargão”… Desde tempos imemoriais, a prostituição persistia, alcançando todas as camadas sociais, tão intensos e inevitáveis seus apelos… E afora o lirismo, presente nos temas da solidão e do amor romântico, ao longo do tempo, cortesãs também exerceram influências política e nos costumes. E tais capacidades de sedução e encantamento, além dos mais caros presentes, aproximaram-nas intimamente do poder, quem sabe, mais do que de seus amantes… 

Greta Garbo em “Camille”, filme de George Cukor, 1936.

Em trajetórias tão peculiares, entre o conforto e o luxo, a decadência e a miséria, nos reportamos, novamente, ao narrador: “talvez pareça ridículo, mas tenho inesgotável indulgência  pelas cortesãs…” Quem sabe, inesgotável indulgência pelas misérias humanas… Onde o poder que oferece regalias, esconde imprevisibilidade; então, exercido com rigor, até crueldade, tal a ambição e volatilidade dos privilégios – e assim, assentando direitos e valores…

E ao oprimido, suficientemente resistente e sem perspectivas, restava submeter-se, até humilhar-se, pela ideologia que lhe impunha aceitar, como inexorável realidade, sua condição… E se, por vezes, lhe fosse permitido transitar e usufruir de luxo e outras benesses, então, em troca de especiais talento ou beleza… 

Alphonsine Rose Plessis, chamada Marie Duplessis.

Em tais contextos, a burguesia, tão desprezada, quanto temida, ascendia e se consolidava; enquanto os pobres e miseráveis seguiam à margem, abandonados… Numa sociedade hierarquizada, mas suscetível à transversalidade dos afetos e da sexualidade… E curiosamente, o romance remetia ao ano de 1848, chamado “primavera dos Povos”, dos movimentos anarquistas e comunistas, de um lado; e liberais, de outro…

Assim, neste espectro social e econômico, através dos interesses de classe, determinavam-se o aceitável e o inaceitável; e, por vezes, o trágico… Tal como do amor entre Luísa e Rodolfo, em “Luísa Miller”; ou de Violetta e Alfredo, em “La Traviata” – do amor que não transige, eternizando-se na morte…

Marie Duplessis

Nascida na extrema pobreza, Alphonsine Rose Plessis, filha de camponês alcoólatra, após morte da mãe, foi levada à Paris, ainda analfabeta, aos 14 anos… Desde a origem humilde, em meio ao desamparo e à violência, até a notoriedade, ocorreria trajetória meteórica… Em Paris, Alphonsine encontrou protetores, encantados com suas beleza e perspicácia… Então, aprendeu a ler e escrever, além de cursar aulas de música, dança e etiqueta…

Percebendo atração que exercia, passou a frequentar salões aristocráticos e literários, tornando-se amante do conde Ferdinand Monguyon. Então, adotou o nome Marie Duplessis… Outro amante foi o jovem Agénor de Guiche, futuro duque de Gramont – relação fortemente contestada pelo pai de Agénor, que tornou-se mote de “La Traviata”…

Alphonsine Rose Plessis, conhecida p/ Marie Duplessis, célebre cortesã parisiense.

Em suas experiências, rapidamente, Marie assimilou modos elegantes e passava a frequentar a ópera – buscava conhecimento, aliando charme, sensibilidade e inteligência. Para uma menina, alfabetizada aos 15 anos, descortinou-se percurso inimaginável, da pobreza absoluta até as elites e à vida cultural parisiense…

Atraente e discreta, a jovem cortesã teve amantes que lhe proporcionaram luxo e conforto. Em Paris, sua casa reunia admiradores, entre aristocratas e artistas. Além de Dumas, filho, teve um caso com o músico Franz Liszt… E da paixão com o romancista, a quem confidenciou experiências pessoais, resultou “Dama das Camélias”… Por fim, vítima da tuberculose, Marie Duplessis morreu aos 23 anos…

Alexandre Dumas, filho, romancista francês, autor de “A dama das  Camélias”.

Alexandre Dumas, filho

Apesar da rigidez, a moral burguesa escondia permissividade e jogo de aparências. Firmemente alicerçada no cinismo e na hipocrisia, tornara-se objeto dos dramaturgos e fascínio dos comediantes. Alexandre Dumas era filho ilegítimo de Dumas, pai, com uma costureira, Marie-Catherine Labay. Em 1831, o pai reconheceu e ganhou a guarda do filho, assegurando-lhe cuidadosa educação, nas instituições “Goubaux” e “Bourbon”, além de introduzi-lo na sociedade, cafés e saraus parisienses… 

As leis, à época, permitiam aos pais, facilmente, obterem a guarda dos filhos – dolorosa perda para Marie-Catherine. O afastamento e sofrimento da mãe, possivelmente, atraíram Duma, filho, para trágica condição feminina, despertando compaixão e especial sentimento moral. Em sua trajetória, além do estigma da ilegitimidade, se depararia com racismo. Dumas, filho, era mestiço, tinha traços negroides da bisavó haitiana e, inevitavelmente, foi hostilizado pelos colegas de internato…

Tais experiências marcaram seus pensamento, comportamento e literatura. Em “O filho Natural”, 1858, defendeu casamento obrigatório para aqueles que tivessem “filhos ilegítimos”… E “Dama das Camélias” se tornaria dos maiores sucessos da literatura francesa, séc. XIX – chamado “século de ouro” do romance europeu… Escrito a partir de relacionamento pessoal com afamada cortesã parisiense, Marie Duplessis, que durou três anos, 1842/45. Em 1847, Marie viria falecer, abalando profundamente o escritor. E em 1848, surgiria o romance…

Capa do romance “A Dama das Camélias”, do romancista francês Alexandre Dumas, filho.

Ao contrário do pai, Dumas, filho, recebeu inúmeras homenagens, ingressou na “Académie Française” e foi agraciado com a “Légion d’Honneur”. E apesar do imenso sucesso de público, Dumas, pai, geralmente, era menosprezado nos círculos acadêmicos, por produzir literatura de caráter “leve e entretenimento”…

O êxito de “Dama das Camélias” e sua adaptação teatral garantiram rendimentos até a morte do escritor, permitindo-lhe escrever ensaios e engajar-se nas defesas da igualdade de gênero e do divórcio…Embora imbuído de particular sentimento moral, seguiu os passos do pai e costumes de época, com inúmeros casos amorosos… Em 1864, dezessete anos após a morte de Marie Duplessis, se casaria com a princesa Nadeja Naryschkine e teria uma filha. E mais tarde, viúvo, com Henriette Régnier, 40 anos mais jovem…

Como escritor, igualou-se ao pai em prestígio internacional… E após sucesso de “Dama das Camélias”, escreveu outros 12 romances e peças teatrais, entre “O amigo das mulheres”, “Processo Clemenceau”, “Francillon”, “As idéias de Mme. Aubray” e outras. Nos últimos anos, cuidava dos filhos e mantinha discreta participação política. Morreu aos 65 anos, 1895, em Marly-le-Roy, França – depois trasladado para “Cimetière de Montmartre”, Paris…

Em viagem à Paris, 1852, Verdi e Giuseppina assistiram adaptação teatral de “Dama das Camélias”, no “Theatre de Vaudeville”. Verdi já conhecia o romance e havia sugerido, anteriormente, ao libretista Salvatore Cammarano. Mas, para atender o teatro “La Fenice”, de Veneza, propôs à Francesco Piave, elaboração do libreto…

Acesso ao teatro “La Fenice”, pelos canais de Veneza.

Cortesãs europeias

A atuação das cortesãs está imbricada à história humana, em todos os níveis sociais… Na Europa, a partir dos séc. XVI, algumas desfrutaram de grande prestígio, fortuna e influência, não raro, associando charme e beleza à cultura, sensibilidade e sagacidade política. Também viveram a decadência e o passar dos anos, a melancolia e a solidão…

Banquete – Imagem da Grécia antiga – cortesã e seu patrono.

Mas, seguindo a linha da prudência de Dumas, filho, de não ensejar apologia da prostituição ou de qualquer natureza, dado a complexidade do tema, entre as maiores cortesãs europeias estava o desejo de libertação de determinadas condições. Trajetórias, por vezes, malogradas e trágicos finais… Ainda assim, revelavam-se mulheres desafiadoras, sedutoras e influentes…

Ser cortesã implicava, além do prestígio e do luxo, particular interação social e política… Portanto, não se limitavam a estrita venda do corpo, mas um privilégio àqueles com quem mantinham amizade, fruto dos talentos intelectuais e particular percepção do mundo… Muitas renunciaram à tradição e à moralidade para se libertarem da opressão, da violência e do que lhes parecia indigno: ser mulher… Outras, por mera sobrevivência, quem sabe, no extremo do rebaixamento social… Portanto, escolhas plenas de contradições e conflitos…

O termo cortesã, desde o Renascimento, adquiriu dois sentidos, empregado tanto para a nobreza, quanto para a mulher que ascendia socialmente através da prostituição… Também diferenciava-se, sobejamente, da prostituta popular, que era pobre, se oferecia na rua ou no bordel, atendia muitos clientes e era explorada por um “cáften”; enquanto a cortesã era rica, independente e atendia elites econômicas e políticas… Em geral, ambas tinham origem humilde ou na pequena burguesia…

“Prostitutas”, pintura de Toulouse-Lautrec, 1894.

A prostituta rica ou “cortesã”, por ofício e vida social, apresentava-se luxuosamente e confundia-se com mulheres da aristocracia. Também seduzia pela cultura e trato refinado… Algumas adquiriram patrimônio e títulos de nobreza, tamanha admiração de seus amantes…

Retrato de Veronica Franco – “Mulher que descobre os seios”, Tintoretto, 1570.

Veronica Franco

Em Veneza, séc. XVI, viveu Veronica Franco – “rainha das cortesãs”, que além da beleza, destacava-se pela cultura, visões do mundo renascentista e do direito das mulheres. Jacopo Comim – chamado “Tintoretto” – frequentou o salão de Veronica e a retratou… Cansada de ser espancada, a jovem de 18 anos, com filho no colo, pediu o dote e abandonou o marido, para tornar-se mais prestigiada “cortigiani oneste” entre os canais de Veneza…

“Cortigiani oneste” tinham privilégio de escolher seus amantes. Mulheres que combinavam meretrício com ampla cultura, oferecendo companhia e sofisticada conversação, além de sexo… Em Veneza, haviam mais de três mil prostitutas registradas e cerca de 200 “cortigiani oneste”… Veronica herdou o ofício da mãe, Paola Fracassa, que abandonara a prostituição para casar-se. Mas, ao ficar viúva, retornou. Após frustração no casamento, a filha também optou pela prostituição… Ambas constam da edição de “Tariffa delle puttani”, de 1572, entre as mais prestigiadas de Veneza, com respectivos preços…

“Igreja Santa Maria Formosa”, paróquia de Veronica Franco, em Veneza.

Bela, delicada e culta, Verônica adentrou os salões venezianos. Em 1574, a senhoria da república de Veneza solicitou-lhe companhia à Henrique de Valois, futuro rei de França, para estreitar laços políticos. Conta-se, o futuro Henrique III preferia a companhia de rapazes, vestidos de mulher. As habilidades de Veronica, no entanto, criaram noite aprazível, satisfazendo os desejos do futuro rei – e a aliança franco-veneziana seguiu a contento… 

Também destacou-se como poetisa, em “Terze rime”, validada por Domenico Venieri, poeta que depois a difamou… Veronica envolveu-se com Marco, sobrinho de Domenico, que tornou-se grande amor em sua vida… Também sua casa tornou-se um ateneu, reunindo intelectuais e artistas, além de concertos e discussões filosóficas… O célebre Michel de Montaigne frequentou o salão, onde recebeu peculiar presente:  “Lettere familiari e diversi” (“Cartas íntimas e variadas”), que reunia correspondência de Veronica com personalidades de época – testemunho único de usos e costumes, da Veneza do séc. XVI…

Michel Eyquem de Montaigne, filósofo renascentista.

Por fim, denunciada ao “santo ofício”, por desatenção à religião e feitiçaria, foi julgada e presa. Mais tarde, absolvida, graças ao relacionamento com hierarcas da cúria de Veneza, mas processo marcou seu declínio e significativa perda de bens. Retirada em sua mansão, propôs, às autoridades venezianas, albergue para cortesãs doentes e idosas, onde também se ensinasse ofício àquelas que desejassem mudar de vida… Faleceu em 1591, aos 45 anos…

Ninon de Lenclos

Extremamente culta, a cortesã francesa mudou os costumes dos séc. XVII e XVIII. Escritora e patronesse das artes, Anne de l’Enclos ou Ninon de Lenclos, orfã de mãe, aos 15 anos, decidiu entrar para o convento. Passado um ano, desistiu da vida religiosa, mas a experiência lhe inspirou ser livre, solteira e independente…

Então, passou a frequentar salões, onde se cultivasse poesia e literatura. E decidiu seguir a vida de cortesã, por rejeitar, totalmente, a ideia do casamento. Ninon teve inúmeros amantes, entre eles, o primo, rei Luís II de Bourbon; o nobre Gaston de Coligny; e o duque de La Rochefoucauld… Para Lenclos, independente da classe social, maridos eram infiéis e violentos; e as mulheres, legalmente, desprotegidas contra abusos…

Ninon de Lenclos, célebre cortesã francesa.

De fato, Ninon foi mulher independente, não propriamente uma cortesã. Era auto suficiente financeiramente e escolhia seus amantes. Como a descreveu Saint-Simon: “Tinha muitos adoradores, mas sempre um amante. E quando se cansava, o abandonava com toda franqueza”… Teve um filho, com o marquês de Villarceuax… E quando rompeu, enviou ao triste marquês, mecha de seus cabelos. Com os cabelos curtos criou novo penteado, que virou moda em Paris – corte “à la Ninon”…

Opiniões relativas à religião, somadas à fama de cortesã, levaram-na à prisão por ordem da rainha Anna da Áustria, mãe de Luís XIV. Foi libertada por iniciativa de Cristina, da Suécia, que apelou ao cardeal Mazarin. Livre, Ninon escreveu “La coquette vengée”, onde refletia, provocativamente, que todos poderiam ser felizes, mesmo sem religião…

Algumas frases: “Para fazer amor é preciso mais espírito do que comandar um exército”… “Reduzir a mulher ao papel de objeto sexual é excluí-la da prática de sua integridade, da qual é perfeitamente capaz”… “Homens, muitas vezes, são derrotados pela falta de jeito, mais do que pela virtude das mulheres”…

Anna da Austria e cardeal Mazarin.

De natureza educadora, abriu “escola de galanteria” que virou moda em Paris. E dirigida à jovens aristocratas, abrangia: psicologia das mulheres; cuidados particulares com a amante ou a esposa; técnicas de cortejar e seduzir; métodos para encerrar relações; além de curso avançado sobre fisiologia do sexo…

Adentrando os 40 anos, priorizou a literatura. De espírito mordaz e agudo senso comercial, criou “salão Ninon”, em Paris, que reunia artistas e intelectuais. Tornou-se símbolo da mulher culta, livre e independente. E dizia o duque de Saint-Simon: “Ninon fazia amigos em todas as esferas da vida, com particular habilidade para mantê-los próximos e, ao mesmo tempo, cordiais entre si…” 

Parte de sua fortuna deixou para o filho do contador, criança que julgava especialmente talentosa. Se chamava François Marie Arouet e viria tornar-se o célebre Voltaire… Faleceu em 1705, aos 89 anos…

“Madame de Pompadour”

Entre as mais prestigiadas cortesãs francesas, encontra-se Jeanne-Antoinette Poisson, “Marquesa de Pompadour”. Se ter amante era demonstração de virilidade para um monarca, ser amante do rei de França, uma honraria… Assim, a mãe de Pompadour esforçou-se para dar à filha “educação de uma cortesã superior”…

Jeanne-Antoinette Poisson, “Marquesa de Pompadour”, por Quentin Delatour.

Jeanne-Antoinette era ainda criança, quando Luís XV reinava, então, casado com a polaca Maria Leczinska… Longa trajetória, portanto, aguardava a futura “Madame de Pompadour” até convívio com máximo poder, em França… E Pompadour influenciaria fortemente a política francesa…

Com origem na burguesia, o pai, François Poisson, trabalhava em empresa de suprimentos do exército. E parte da educação de Jeanne-Antoinette foi estimulada por rico viúvo, Charles Tournehem, proporcionando-lhe aulas de dança, “clavicêmbalo” e declamação… Aos 15 anos, havia consenso e desejo, na menina, de tornar-se cortesã… E à medida que amadurecia, tornava-se jovem deslumbrante – em formas, estatura, olhos brilhantes, pele macia e belos dentes, uma raridade à época…

Luís XV, de França.

Passando a frequentar os círculos parisienses, conheceu Charles-Guillaume Le Normant d’Etioles, banqueiro e sobrinho de Tournehem, com quem viria casar-se. Suspeita-se que Tournehem tenha arranjado a aproximação… E o jovem casal instalou-se nos arredores de Paris, onde Jeanne-Antoinette ficou conhecida como Madame d’Etioles… O casamento lhe proporcionou convívio com a nobreza, quando as mulheres usavam coches e os homens praticavam caça à raposa…

A proximidade do castelo de Choisy, de Luís XV, possibilitava cruzar com a comitiva real… E, finalmente, Madame d’Etioles chamou atenção do rei… Luís XV, após dez anos de casamento e dez filhos, passara a procurar amantes… E após falecimento de Marie-Anne, duquesa de Châteauroux, estava livre a vaga de “maîtresse déclarée” (“amante declarada”). Assim, abriu-se caminho… E a partir de 1745, com 24 anos, Madame d’Etioles frequentava bailes e era citada, pelo cronista da corte, como nova conquista de Luís XV… 

A jovem cortesã ganhou suíte no esplendoroso palácio de Versalhes, próxima aos “petites cabinets”, de uso exclusivo do rei… E embora houvesse distância imensa entre a aristocracia e a burguesia, o cronista Luynes registrava paixão mutua entre Luís XV e Madame d’Etioles… De outro, se a França estava em guerra contra Áustria e Grã-Bretanha, aproximação pessoal com Luís XV muito interessava à fornecedores do exército, então, protetores de Jeanne-Antoinette… E tratou-se da separação com Le Normant d’Etioles…

Jardins do Palácio de Versalhes – França.

Para assegurar presença na corte, Luís XV providenciou título de nobreza à jovem. Assim, aos 24 anos, a monarquia francesa nomeava Jeanne-Antoinette – “Marquesa de Pompadour, proprietária de terras, ainda com posse indefinida”… E enquanto era rejeitada entre os nobres, pela origem burguesa, empenhava-se em aprender regras de protocolo e etiqueta…

E conquistou ilustre amigo: Voltaire. Os filósofos iluministas, embora pregassem reformas, eram bem recebidos nas cortes. E Voltaire frequentou tanto a corte francesa, quanto a prussiana, de Frederico II – dos chamados déspotas esclarecidos, que admiravam a intelectualidade, embora não acreditassem que tais ideias pudessem mudar a Europa…

Frederico II, da Prússia e Voltaire, filósofo do Iluminismo.

Apoiada por Luís XV, Pompadour promoveu artistas como Quentin Delatour e François Boucher, que a retrataram, além de construir, restaurar e decorar palácios. Investiu e negociou com burgueses ricos, interessados em projeção social, além de recuperar fábrica de porcelana de Vincennes, transferindo-a para Sèvres; por fim, estimulou edição da “Encyclopédie” e pesquisas de Buffon e Helvetius…

Arguta e ambiciosa, à medida que conhecia a nobreza, ampliava espaço. Pedidos e favorecimentos passavam por ela, dado a influência sobre Luís XV – espécie de ministra de estado…  Entre seus opositores estava o duque de Richelieu, que almejava ser primeiro-ministro. Percebendo tais aspirações, Pompadour afastou-o da corte. E à medida que firmava ascendência junto ao rei, aumentava participação no governo – além de amante, tornava-se amiga e conselheira de Luís XV, que passara a confiar nela, ou mesmo, confiar a ela decisões… 

“Batalha de Minden” – 1759, travada em território da atual Alemanha – “Guerra dos 7 Anos”. Infantaria britânica enfrenta carga da cavalaria francesa.

E, naturalmente, Pompadour poderia falhar. E falhou… Assim, ao aproximar-se da rainha Maria Tereza, da Áustria, influiu na assinatura do “Tratado de Versalhes”, de 1756, que pactuava França e Áustria em caso de defesa, o que levou Luís XV à desastrosa “Guerra dos 7 anos”, contra a Prússia. Além da derrota, França cedeu aos britânicos, aliados dos prussianos, parte das colônias na América e na Índia…

A flagrante derrota a abalou, pessoal e politicamente, além da morte da filha, Alexandrine. Mas, a amizade de Luís XV permaneceu – por cerca de 19 anos, até sua saúde fragilizar-se… A “maîtresse déclarée” contraiu tuberculose, vindo a falecer em 1763, aos 42 anos… Em seus últimos dias, reconciliou-se com a Igreja e deixou parte dos bens a uma “vidente”, que teria previsto sua trajetória…

Emma Crouch, cortesã conhecida como Cora Pearl.

Cora Pearl

Por fim, uma celebridade em Paris, nos anos 1860. Nascida na Inglaterra, Emma Crouch tornou-se Cora Pearl, após sofrer estupro, aos 15 anos… Filha de um celista e compositor de época, Frederick Crouch, que abandonou a família para emigrar aos USA, deixando 15 filhos… A mãe, abandonada, casou novamente, mas Emma rejeitou o padrasto. Então, foi enviada para internato na França e quando retornou à Londres, passou a morar com os avós… Neste período, aos 15 anos, trabalhava como assistente de modista, quando foi embriagada, estuprada e deixada num quarto de hotel… Quando acordou, traumatizada, decidiu morar sozinha e mudou identidade – para Cora Pearl… 

Cora Pearl acompanhada pelo príncipe Achille Murat.

Em viagem à Paris, Cora apaixonou-se pela cultura e vitalidade da capital francesa… E soube que a prostituição era liberada, desde que registrada e feitos exames periódicos. Muito charmosa e corpo escultural, passou a atrair homens, preferencialmente, da aristocracia… Assim, tornou-se amante do duque de Rivoli; do príncipe William, da casa de Orange, da Holanda; e do príncipe Achille Murat, sobrinho neto de Napoleão Bonaparte…

Amante duradouro, no entanto, foi Napoleão-Jérôme Bonaparte, primo de Napoleão III, que lhe presenteou com joias, casas e pequeno palácio – “Les petites Tuileries”. Muito popular, tornou-se referência de moda, pela ousadia no vestuário, maquiagem e cabelos coloridos… No auge da fama, possuía três casas, estábulo com 60 cavalos e muitos empregados…

Após a guerra franco-prussiana, houve mudança de costumes na sociedade francesa, tornando-se mais conservadora. Os amantes, gradualmente, afastaram-se e, finalmente, ocorreu um escândalo – “L’affair Duval”. Um jovem, em desespero, suicidou-se na presença de Cora Pearl, por ela rejeitá-lo, sistematicamente… Cora acabou expulsa do país e exilou-se em Monte Carlo, onde publicou autobiografia, não sem antes chantagear, financeiramente, seus ex-amantes… Morreu em 1886, aos 50 anos…

Cortesã japonesa.

Libreto e sinopse de “La Traviata”

Ambientado na revolução de 1848, em Paris, “Dama das Camélias” – referência à flor preferida do personagem, trata de famosa cortesã, Marguerite Gautier, e sua relação com estudante de direito, Armand Duval, de aristocrática família…  Marguerite alternava entre “camélias brancas e vermelhas”, de acordo com disponibilidade para vida social. O romance aborda conflito entre amor de ambos e posição social de Armand. Também impossibilidade do jovem, sem apoio familiar, oferecer conforto e luxo a que Marguerite se habituara…

Personagens vivem intensa paixão, mas Marguerite tem consciência de sua condição e doença… De outro, os amantes sofrem dura oposição do pai de Armand. Marguerite reflete sobre o amor e as renúncias que fez, ao tornar-se cortesã. E Armand revolta-se. Finalmente, a relação é atingida pela morte de Marguerite… Na ópera, romance de Dumas, filho, foi adaptado por Francesco Piave, habitual colaborador de Verdi, e nomes substituídos para “Violetta Valéry” e “Alfredo Germont”…

Marie Duplessis, cortesã francesa que inspirou “Dama das Camélias”.

Sinopse

Ação ocorre em Paris, França, sec. XIX.

  • Personagens: Violetta Valéry, cortesã parisiense (soprano); Alfredo Germont, jovem estudante de direito (tenor); Giorgio Germont, pai de Alfredo (barítono); Gastone de Létorières, amigo de Violetta (tenor);  Barão Douphol, pretendente de Violetta (barítono) ; Flora Bervoix, amiga de Violetta (soprano); Aninna, empregada de Violetta (soprano); Marquês d’Obigny (baixo); Dr. Grenvil (baixo); Giuseppe, servo de Violetta (tenor); servo de Flora (tenor); comissionário (baixo);
  • Coros: Aristocratas, convidados, amigos e empregados de Violetta.
  • Ballet: Cena dos ciganos e toureiros, animando uma festa.
Figurino p/Violetta, para estreia no teatro “La Fenice”, 1853.

Ópera inicia com “Prelúdio” orquestral

1° Ato – Salão na casa de Violetta Valéry

Após belo e sentimental prelúdio orquestral, cena abre com uma festa na residência de Violetta Valéry, prestigiada cortesã parisiense. Entre os convidados e animada música, Violetta conclama: “Flora, amici, la notte che resta d’altre gioje qui fate brillar… Frale tazze più viva è la festa!” (“Flora, amigos, à noite que resta, que brilhem outras alegrias… Em meio as taças, mais vibrante é a festa!”)… Como anfitriã, Violetta se esforçava para motivar os convidados, mas encontrava-se debilitada…  

Entra Gastone, amigo de Violetta, e apresenta Alfredo Germont, há muito, apaixonado por Violetta… Gastone canta “Ecco un altro che molto v’onora. Pochi amichi a lui similisono…” (“Aqui está outro que te admira. Poucos amigos são como ele…”) e Violetta responde “Mio Visconte mercè di tal dono” (Meu visconde, grata por esta presença”)… E antes do jantar, convidados propõem um brinde. Alfredo canta o amor sincero e Violetta o amor livre, no célebre conjunto “Libiamo, libiamo ne’ lieti calici, che la bellezza infiora”  (“Libertemos os felizes cálices, que se adornam de beleza”)… “Godiam la tazza e il cantico” (“Gozemos as taças e o canto”). Violeta canta “La vita è nel tripudio” (“Vida é voluptuosidade!”) e Alfredo responde “Quando non s’ami ancora” (“Quando não conhecemos o amor”)…

“La Traviata” – Cena do “Brindisi”, 1° Ato – “Teatro Colón”, Buenos Aires, 2017.

Então, ouve-se música em outro salão. Perguntam os convidados “Che è ciò?” e Violetta responde “Non gradireste ora le danze?” (“Vocês não gostariam de dançar agora?”). E iniciam uma valsa!… Mas, Violetta sente um mal estar… Alfredo aproxima-se, “V’ucciderete aver v’è d’uopo cura” (“Acabareis por te matar”)…  “Dell’esser vostro” (“Deverias te cuidar”)… “Se mia foste, custode io veglierei pe’vostri” (“Se fosses minha, eu te cuidaria”), ao que Violetta responde “Che dite? Cura di me?…” (“Que dizes? Você se importa comigo?…”). Alfredo canta “Perchè nessuno al mondo v’ama”… “Tranne sol io!” (“Porque ninguém te ama neste mundo… como eu!”)…

Duetto “Um di felici” – 1° Ato, Maria Callas e Alfredo Kraus, Lisboa, 1958.

E iniciam célebre  duetto “Un dì felice” (“Um dia feliz”). Alfredo declara seu amor e Violetta responde não haver espaço, em sua vida, para tal sentimento… Despedem-se, mas Violetta oferece uma “camélia” à Alfredo, pedindo-lhe que volte quando a flor murchar, o que significava vê-la no dia seguinte… Alfredo canta “Io son felice! Oh, quanto v’amo!” (“Eu sou feliz! Oh, quanto te amo!”)…

Neste duetto, ocorre tema recorrente – “leitmotiv”, que reaparecerá na ária “Ah, fors’è lui che anima”; e ao final da ópera, como reminiscência para declamação. Os versos dizem: “Di quell’amor, ch’è palpito dell’universo intero… Misterioso, altero… Croce e delizia al cor…” (“Do amor, que pulsa do universo inteiro… Misterioso e soberano… Cruz e delícia do coração…”)

Então, convidados se retiram, “Si ridesta in ciel l’aurora, e n’è forza di partir. Merce’ a voi, gentil signora…” (“Aurora nasce e não temos forças para partir… Obrigado, gentil senhora…”). E Violetta, sozinha, ficou dividida em suas emoções. Tem sua vida e liberdade, mas encontro com Alfredo a perturbou, despertou-lhe o amor…

Maria Callas em “La Traviata – Final 1° Ato” – “È strano… Ah, fors’è lui… Sempre Libera” – Lisboa, Portugal, 1958.

E canta grande ária, “tour de force” do repertório de soprano, que inicia na cavatina “Ah, fors’è lui che anima”(“Ah, talvez, ele me encante”…), seguida da cabaletta “Sempre libera degg’io folleggiar di gioia in gioia”  (“Sempre livre para a alegria”), e no recitativo, reflete: “È strano! è strano! in core scolpiti ho quegli accenti! Saria per me sventura un serio amore? Che risolvi, o turbata anima mia? Null’uomo ancora t’accendeva… O gioia, ch’io non conobbi… Essere amata amando!” (“Estranho! Meu coração trepida! O amor seria uma desgraça, para mim?… Nenhum homem despertou isto… Oh, alegria que não conhecia, ser amada, também amando!”)… A grande ária encerra o 1° Ato…

2° Ato 

Cena 1 – Casa de campo de Violetta Valéry, nos arredores de Paris

Violetta e Alfredo encontram-se numa casa de campo. Após “Allegro vivace”, em breve introdução orquestral, Alfredo, exultante, canta sua paixão, na ária “De’ miei bollenti spiriti. Il giovanile ardore, ella temprò col placido. Sorriso dell’amore!” (Do meu caloroso espírito, um ardor juvenil. E ela, com plácido sorriso de amor!”)…  Mas, através de Annina, secretária de Violetta, Alfredo toma conhecimento da venda da propriedade. E na cabaletta, “O mio rimorso! O infamia. E vissi in tale errore?” (Oh, remorso. Oh, infâmia, tenho vivido este engano?), percebe que não tinha meios de manter o padrão de vida de Violetta… E viaja à Paris, na busca de recursos, a fim de evitar que Violetta se desfizesse dos bens…

Lodovico Graziani, tenor – “Alfredo” na estreia no teatro “La Fenice”, 1853.

Após partida de Alfredo, Violetta está à espera de interessados na propriedade… E recebe visita de Giorgio Germont, pai de Alfredo. Tema melódico austero, nas cordas, anuncia a chegada… Ambos se apresentam e Giorgio, angustiado, dispara: “Sì, dell’incauto, che a ruina corre, ammaliato da voi” (“Sim, sou pai do incauto que corre para ruína, encantado por você”)… Violetta responde “Donna son io, signore, ed in mia casa” (“Senhor, sou uma senhora e estou em minha casa”)… 

Em grande cena, Violetta fala dos sentimentos por Alfredo e expõe porque se desfazia dos bens… Grosseiro, Giorgio à ofende: “D’ogni vostro avere or volete spogliarvi?… Ah, il passato perchè, perchè v’accusa?” (“Desfazer-se de todas as posses? Ah, o passado te acusa?”). Violetta responde “Più non esiste or amo Alfredo. E Dio lo cancellò col pentimento mio”) (“Não existe mais passado porque agora amo Alfredo. Deus me absolveu com meu arrependimento”)…

Giorgio canta “Nobili sensi invero!” (“Nobres sentimentos”) e Violettta responde “Oh, come dolce mi suona il vostro accento!” (“Oh, como soam doces estas palavras!”). No entanto, dramaticidade se intensifica, quando Giorgio propõe, “Ed a tai sensi, un sacrificio chieggo” (“E a tais sentimentos, um sacrifício peço”). Violetta, apreensiva, responde “Ah, no, tacete. Terribil cosa chiedereste certo!” (“Ah, cala-te. Vens pedir algo terrível!”). Giorgio expõe, “D’Alfredo il padre la sorte, l’avvenir domanda or qui De’ suoi due figli” (“Pai de Alfredo lhe pede pelo futuro de seus dois filhos”). E Violetta indaga, “Di due figli?”… Giorgio responde que noivado de sua filha será desfeito, se perdurar a relação entre Violetta e Alfredo…

Figurino p/ “La Traviata”

“Recitativo accompagnato” evolui para “arioso” e Giorgio canta, “Sì, pura siccome un angelo, Iddio mi diè una figlia” (“Sim, pura como um anjo, Deus me deu uma filha”). Violetta interpreta como afastar-se um tempo, até que se realize o casamento… Mas, Giorgio retifica, “Pur non basta”… E Violetta exclama, “Volete che per sempre a lui rinunzi?” (“Pede que renuncie para sempre?”). Giorgio responde “È d’uopo!” (“É necessário!”)…  E a música agita-se, pontuando indignação de Violetta, “Ah no, giammai! Non sapete quale affetto vivo, immenso m’arda in petto?” (“Ah não, jamais! Não sabes do afeto que sinto, imenso ardor no peito?”). Violetta fala de tudo que perdeu, da solidão e da doença que a consome… E ainda lhe pedem que se afaste de Alfredo… Em pungente momento, canta “Ch’io mi separi da Alfredo? Ah, il supplizio è si spietato, Che morir preferirò!” (“Que eu me afaste de Alfredo? Ah, tal suplício é demais, prefiro morrer!”)…

Figurino p/Violetta, de Luigi Sapelli – Archivio Storico Ricordi, 1905.

Giorgio, pensando nos filhos, valores burgueses, honras pessoal e familiar, insiste: “È grave il sacrifizio, ma pur tranquilla udite” (“É grande o sacrifício, mas deves escutar com calma”), ao que Violetta reage,  “Ah, più non dite, v’intendo m’è impossibile” (“Ah, cala-te, te entendo, mas é impossível”). Então, Giorgio torna-se mordaz e ironiza: “Como quiera, pero el hombre es voluble…” (“Como queira, mas o homem é volúvel…”), insinuando ser fantasia transitória a paixão do filho… Violetta responde, “Gran Dio!”… E iniciam maravilhoso, mas doloroso duetto, “Un dì, quando le veneri Il tempo avrà fugate…” (“Um dia, quando tua beleza tiver passado…”)

Violetta se fragiliza com os argumentos, em “Così alla misera ch’è un dì caduta, di più risorgere speranza è muta!” (“Para a desgraçada que se perdeu, se nega toda esperança de redenção!”). E chorando, canta: “Dite alla giovine sì bella e pura, ch’avvi una vittima della sventura. Cui resta un unico raggio di bene, che a lei il sacrifica e che morrà! ” (“Diga à jovem, tão bela e pura, que existe uma vítima de infortúnio, da qual resta um raio de bondade e que, por ela, se sacrificará e morrerá…”). Ao que Giorgio responde, percebendo sinceridade nos sentimentos de Violetta, mas sem transigir: “Sì, piangi, o misera supremo, il veggo, è il sacrificio ch’ora io ti chieggo. Sento nell’anima già le tue pene; coraggio e il nobile cor vincerà” (“Sim, chore, oh, miserável suprema, entendo sacrifício que agora vos peço… Sinto suas dores em minha alma; a coragem e o nobre coração vencerão”)…

Duetto “Dite alla giovine” – Ermonela Jaho e Dmitri Hvorostovsky, “Opéra Nationel De Paris”.

Sem interrupção do drama, duetto apresenta sucessão de estados emotivos. E ao renunciar à Alfredo, Violetta canta, “Qual figlia m’abbracciate forte, così sarò” (“Abrace-me, como uma filha”). Giorgio e Violetta se abraçam… Então, Giorgio a valoriza: “Generosa! e per voi che far poss’io?” (“Generosa! Que posso fazer por você?”). Violetta suplica, “Morrò! la mia memoria, non fia ch’ei maledica. Se le mie pene orribili, vi sia chi almen gli dica” (“Morro, mas não permitas que amaldiçoem minha memória. Que alguém relate, ao menos, meus horríveis sofrimentos”)…

Felice Varesi, barítono – “Giorgio Germont”, na estreia do Teatro “La Fenice”, Veneza, 1853.

Atendido em suas expectativas, Giorgio conforta Violetta, em “No, generosa, vivere e lieta voi dovrete. Merce’ di queste lagrime, dal cielo un giorno avrete” (Não, mulher generosa, viva e seja feliz. O céu, um dia, recompensará suas lágrimas”)… “Premiato il sacrifizio sarà del vostro amor” (“O sacrifício de seu amor, lhe será reconhecido”)… Ambos se despedem e Giorgio se retira, encerrando sensível momento do drama…

Solitária, Violetta suplica em “Dammi tu forza, o cielo!”… Então, chama Annina, sua secretária, e entrega correspondência. Violetta aceita convite para uma festa, que antes rejeitara… Annina se retira e Violetta, desolada, tenta redigir carta à Alfredo… Um lamento, em solo de clarineta, pontua a cena, até a chegada de Alfredo, que indaga o que fazia… Para quem escrevia… Alfredo recebera severa carta e estava aguardando chegada de Giorgio, seu pai… Violetta não mostra a carta, dissimula, mas acaba chorando… Cena se agita até culminar em pungente apelo: “Amami, Alfredo, quant’io t’amo!” (“Ama-me Alfredo, tanto quanto te amo!”) – momento de grande emotividade de “La Traviata”! Então, Violetta deixa a cena…

Joan Sutherland, soprano – Cena “Violetta retorna à Paris”, Australian Opera, 1978.

Sozinho, Alfredo aguarda Giorgio, “È tardi: ed oggi forse più non verrà mio padre” (“É tarde, talvez meu pai não venha hoje…”). Entra Giuseppe e avisa que Violetta partira para Paris, às pressas… Annina a acompanhou. Alfredo acredita que viajara em função da venda dos bens… Mas, chega mensageiro e entrega carta de Violetta. Alfredo irrita-se profundamente e, à chegada de Giorgio, abraça, desolado, seu pai…

Giorgio acolhe, em “Mio figlio! Oh, quanto soffri! Tergi, ah, tergi il pianto. Ritorna di tuo padre orgoglio e vanto” (“Meu filho! Oh, quanto sofri! Ah, enxugue as lágrimas. Volte a ser o orgulho de teu pai”). E procura consolar Alfredo, em “Di Provenza il mar, il suol, chi dal cor ti cancello?” (“Como se apagou, em teu coração, terra e mar de Provenza?”) – célebre solo de barítono…

Mas, descontrolado, Alfredo quer vingança da suposta traição… Giorgio reage, em “Dunque invano trovato t’avrò? Un padre ed una suora t’affretta a consolar” (Assim, te encontrei em vão?… Um pai e uma irmã estão prontos a te consolar!…). Mas, inconsolável, Alfredo desconfia do Barão Douphol, antigo pretendente de Violetta. E ao tomar conhecimento que Violetta fora a uma festa, prepara sua vendeta, “Ah! ell’è alla festa! volisi L’offesa a vendicar!” (Ah, ela foi a uma festa! Irei vingar tal ofensa!)…. Encerrando Cena 1 do 2° Ato…

Cena 2 – No palácio de Flora

Cena abre em “Allegro brillante” na orquestra. Prepara-se uma festa com muitos convidados. Flora canta “Avrem lieta di maschere la notte” (“Máscaras animarão a festa!”). Violetta e Alfredo estavam convidados, mas Marquês d’Obigny informa que haviam se separado e que Violetta virá com o Barão Douphol… E todos cantam “Giungono gli amici!” (“Chegaram nossos amigos!”) e iniciam a festa!

Coro e Ballet ”Noi siamo zingarelle” – Ato 2 – cena 2, “Metropolitan Opera”, New York, 2022/23.

Em lúdico momento, damas disfarçadas de ciganas entram, em belo coro feminino, “Noi siamo zingarelle”. Após, entram Gastone e outros disfarçados de toureiros, no vigoroso coro masculino “Di Madride noi siam mattadori” (“Somos toureiros de Madrid”). Homens tiram as máscaras e Alfredo adentra o salão. Flora pergunta por Violetta e Alfredo responde “Non ne so…” (“Não sei…”)

Violetta entra, acompanhada do Barão Douphol, e se surpreende: “Ah, perchè venni, incauta! Pietà di me, gran Dio!…” (“Ah, porque veio, imprudente! Tenha pena de mim, senhor!…”). Alfredo e outros iniciam jogo de cartas. Alfredo está com sorte, “Oh, vincerò stasera; e l’oro guadagnato poscia a goder tra’ campi ritornerò beato” (“Ganharei esta noite e voltarei a gozar, feliz, no campo”). Flora pergunta: “Solo?”. E Alfredo responde: “No, no, con tale che vi fu meco ancor, poi mi sfuggia” (“Não, irei com a mesma que estava comigo e me deixou…”). E Violetta reage: “Mio Dio!”…

Jogo segue e apostas aumentam. Alfredo segue ganhando. E Flora comenta: “Del villeggiar la spesa farà il baron, già il vedo” (“Pelo que vejo, barão pagará por suas férias…”). Além dos contendores, demais convidados assistem e vibram a cada lance… Então, Violetta chama Alfredo… E o alerta do perigo em desafiar o Barão. Alfredo ignora, mas percebe preocupação: “La mia morte! Che ven cale?” (“Minha morte, acaso te importa?”)… Violetta responde: “Va, sciagurato. Scorda un nome ch’è infamato… Di fuggirti un giuramento sacro io feci!” (“Parte, miserável. Esqueça um nome que é infame.  Para afastar-me de ti fiz juramento sagrado!”)…

Violetta e Alfredo na “Cena final do jogo de Cartas” – 2°Ato, 2ª Cena – “Fundação Cultural do Pará”, 2017.

Surpreso, Alfredo indaga “E chi potea?” (“E quem poderia pedir-te?). Violetta responde “Chi diritto pien ne avea” (“Quem de maior direito tem”). Alfredo pergunta, “Douphol?”… E Violetta, com enorme esforço, mente, “Si…”. Alfredo, indignado, convoca a todos: “Ogni suo aver tal femmina per amor mio sperdea. Io cieco, vile, misero, tutto accettar potea. Ma è tempo ancora! tergermi Da tanta macchia bramo…” (“Tudo que esta mulher tinha, dilapidou por amor a mim. Eu, cego, vil, mísero, tudo aceitei. Mas, em tempo, quero lavar esta mancha”) e arremessa com desprezo, sobre Violetta, saco com dinheiro que ganhara no jogo… Atônita e humilhada, Violetta desmaia!…

Neste momento, entra Giorgio Germont e assiste os presentes defenderem a honra de Violetta, em “Oh, infamia orribile!… Un cor sensibile così uccidesti! Di donne ignobile Insultator. Di qui allontanati, Ne desti orror!” (“Oh, infâmia horrível! Um coração sensível tens assassinado! Ignóbil difamador de mulheres. Afasta-te daqui. Nos causas horror!)… Cena desenvolve-se em grande “concertato”… Giorgio não reconhece o filho em tamanha revolta e canta “Di sprezzo degno se stesso rende. Dov’è mio figlio? più non lo vedo…” (“Ele se faz digno de desprezo. Onde está meu filho? Não o vejo mais…”). Mas, segue, “Io so che l’ama, che gli è fedele, eppur, crudele, tacer dovrò!” (“Sei que a ama e que lhe é fiel, mas em momento tão cruel, devo me calar”)…

Concertato “Oh, quanto peni”, Cena 2 – final 2° Ato, na Ópera de Roma, 2016.

Alfredo lamenta, “Ah sì che feci! ne sento orrore… Dall’ira spinto son qui venuto! Or che lo sdegno ho disfogato, Me sciagurato! Rimorso n’ho” (“Assim agi e sinto horror… Impulsionado pela raiva… Agora, que extravasei minha indignação, desgraçado de mim! Não tenho remorso!”). Violetta responde, “Alfredo, Alfredo, di questo core, non puoi comprendere tutto l’amore… Ma verrà giorno in che il saprai… Dio dai rimorsi ti salvi allora… Io spenta ancora, pur t’amerò” (Alfredo, deste coração não compreendes todo amor… Mas chegará o dia em que saberás… Deus te livre do remorso, então… Estarei ausente, mas te amarei!”)…

Em defesa da honra de Violetta, Barão Douphol desafia Alfredo a um duelo… E todos cantam por Violetta, “Ah, quanto peni!… Qui soffre ognuno del tuo dolore… Fra cari amici qui sei soltanto, rasciuga il pianto che t’inondò!” (“Ah, quanto sofres!… E sofremos juntos tua dor… Estás rodeada de amigos, enxuga o pranto que te inunda!)… Em grandioso e comovente “concertato” conclui-se 2° Ato …

Fanny Salvini-Donatelli, soprano – “Violetta”, na estreia no “La Fenice”, 1853.

3° Ato – Quarto na casa de Violetta Valéry 

Cena abre com delicado e sensível “Prelúdio” orquestral, que remete à solidão e à agonia, quem sabe, à consternação e à despedida… O canto estará imerso nesta melodia dolente, sobretudo, das cordas… Num quarto, Violetta encontra-se muito debilitada. Fala com Annina, que anuncia o Dr. Grenvil, um bom amigo… Tenta levantar-se, mas está muito fraca. Dr. Grenvil ajuda a recompor-se no leito… E faz prognóstico otimista, mas Violetta entende como “mentira piedosa”…

Violetta declama carta que recebeu de Giorgio Germont: “Teneste la promessa; la disfida Ebbe luogo! il barone fu ferito, però migliora; Alfredo è in stranio suolo; il vostro sacrifizio, Io stesso gli ho svelato; Egli a voi tornerà pel suo perdono; Curatevi meritate un avvenir migliore” (“Você manteve a promessa; o duelo aconteceu. Barão foi ferido, mas passa bem; Alfredo está em solo estrangeiro; Vosso sacrifício foi, por mim, revelado; Alfredo retornará para pedir perdão: cuide-se, você merece futuro melhor”) – “leitmotiv”, em pianíssimo na orquestra, pontua declamação com o tema “Di quell’amor, ch’è palpito”…

Joan Sutherland, soprano australiano – “La Traviata” no “Covent Garden”, Londres, 1960.

À espera da morte, Violetta reflete sobre sua aparência; do quanto a vida mudou e as experiências que teve; do quanto o médico tentava animá-la… Também pede perdão à Deus, por suas culpas e desventuras… Lamenta ausência e amor de Alfredo, a apoiar e consolar-lhe a alma cansada… Debilitada, despede-se da vida na ária “Addio, del passato bei sogni ridenti…” (“Adeus, doces recordações do passado…”) – nesta ária, o canto é adornado por tênue lamento do oboé, em contraponto “obligato”… 

Mas, Paris está em festa. Celebrações pagãs são ouvidas nas ruas, contrastando com a dor, a doença, solidão e agonia de Violetta. Fora de cena, ouve-se o “Coro das máscaras”, que canta “Largo al quadrupede, sir della festa. Di fiori e pampini, cinto la testa… Abbia il saluto, Parigini, date passo al trionfo del Bue grasso…” (“Abram caminho ao quadrúpede, senhor da festa. Com folhas e flores, enfeitemos a cabeça… Façam uma saudação, parisienses, deem passagem ao triunfo do boi gordo…”). Ironicamente, ou em sua homenagem, a morte de Violetta ocorria em meio à grande alvoroço – danças, fantasias e alegria…

E Annina traz uma surpresa, em “D’esser calma promettete?… Una gioia improvvisa” (“Prometa manter a calma, senhora?… uma alegria repentina…”). Ao que Violetta exclama: “Alfredo!… Amado Alfredo!”… Alfredo entra: “Mia Violetta! Colpevol sono… so tutto, o cara” (“Minha Violetta!… Sou o culpado, sei de tudo, querida”)… E Violetta, “Io so che alfine reso mi sei!” (“Apenas sei que estás comigo!”). A euforia do reencontro prepara belo duetto, onde Alfredo afirma sua esperança, “Parigi, o cara/o noi lasceremo, La vita uniti trascorreremo” (“Deixemos Paris, querida. Aproveitemos a vida”). E juntos, alternam desejos, em “De’ corsi affanni compenso avrai, la mia/tua salute rifiorirà… Sospiro e luce tu mi sarai, Tutto il futuro ne arriderà!” (“As penas passadas serão recompensadas, a minha/tua saúde reflorescerá… Suspiro e luz você será para mim. E o futuro sorrirá!”)…

Joan Sutherland e Luciano Pavarotti, no Duetto “Parigi, o cara/o noi lasceremo”, no “Metropolitan Opera”, New Yor, 1987.

Mas, Violetta se resigna, “Ah, non più, a un tempio, Alfredo, andiamo, del tuo ritorno grazie rendiamo” (Ah, não mais, Alfredo. Vamos ao templo agradecer teu retorno”)… Alfredo perturba-se, “Tu impallidisci…” (“Estás pálida…”) e Violetta, “È nulla, sai! Gioia improvvisa non entra mai senza turbarlo in mesto core…” (“Não é nada! Alegria repentina acelerou meu coração…”). Alfredo exclama “Ahi, cruda sorte!”… (“Ah, destino cruel!”)…

Segue “cabaletta” e Violetta canta “Gran Dio! non posso!”… “Gran Dio! morir sì giovane, Io che penato ho tanto!” (Grande Deus! Não posso!… Grande Deus! Morrer tão jovem, depois de tanto sofrer!”)… Alfredo responde, “Oh, mio sospiro, oh palpito, diletto del cor mio!”… (“Ah! Meu sospiro, ah, dileta de meu coração!”)… “Tutto alla speranza… Violetta mia, deh, calmati, m’uccide il tuo dolor…” (“Ah! muita esperança… Minha Violetta, ah, calma, tua dor me mata…”). E Violetta responde, “Alfredo! oh, il crudo termine serbato al nostro amor!” (“Alfredo! Oh, cruel desfecho aguarda nosso amor!”)…

Em comovedor final, entra Giorgio Germont… Surpresa, Violetta canta “Non mi scordaste?” (“Não me esqueceste, senhor?”). E Giorgio responde, “La promessa adempio, a stringervi qual figlia vengo”) (“Promessa que cumpro, para te abraçar como filha”). Canta Alfredo, “La vedi, padre mio?”… ao que Giorgio responde, “Di più non lacerarmi… troppo rimorso l’alma mi divora” (“Não me tortures mais… tanto remorso devora minha alma…”)

Violetta pede à Alfredo, “Più a me t’appressa ascolta, amato Alfredo…” (“Mais perto de mim te escuto, amado Alfredo…”) Música adquire caráter dolente e fúnebre, em solene “Andante sostenuto”… Canta Violetta, “Prendi: quest’è l’immagine de’ miei passati giorni” (“Pega, este é um retrato de dias passados”). Alfredo responde, “No, non morrai, non dirmelo… Dei viver, amor mio!” (“Não, não morrerás, não diga isto… Tens que viver, meu amor!”). E Germont pede perdão, “Cara, sublime vittima d’un disperato amore, perdonami lo strazio recato al tuo bel core…” (Querida, sublime vítima de um amor desesperado, perdoa a dor que a teu coração causei…”)

Cena final de “La Traviata”, 19° ópera de Giuseppe Verdi – “Metropolitan Opera”, New York, 2022/23.

Em “dolce cantabile”, Violetta deseja, à Alfredo, sorte no amor, “Se una pudica vergine, degli anni suoi nel fiore, a te donasse il core, sposa ti sia lo vo” (“Se mulher honesta, na flor da idade, um dia, te entregar o coração, faça-a tua esposa. É meu desejo”). Novas reminiscências melódicas – leitmotiv “Di quell’amor ch’è palpito” – evocam momentos passados entre Violetta e Alfredo… Violeta delira, “È strano!… Gli spasmi del dolore. In me rinasce… m’agita insolito vigore!… Ah! io ritorno a vivere!… Oh gioia!” (“Estranho!… Cessaram as dores. Em mim renasce… me agita insólito vigor!… Ah! torno a viver!… Oh, alegria!”). Mas, subitamente, volta o mal estar, então, desfalece e cai… Violetta agonizava!…

Todos exclamam, “O cielo! muor!…” (“Oh, céus! Está morrendo!…”). Alfredo grita dolorosamente, “Violetta!!”… Germont exorta, “Oh, Dio! soccorrasi…” (“Oh, Deus! Ajude-se…”). E Dr. Grenvil lamenta: “È spenta!…” (“Está morta!…”). Todos lamentam: “Oh, mio dolor!!…”

– Cai o pano –

“La Traviata” tem sido interpretada por todas as grandes divas. E vem sendo montada, ininterruptamente, desde a estreia, em Veneza, 06/03/1853… Aos 40 anos, com “Rigoletto” e “Il Trovatore”, Verdi formava trilogia magnífica, que o elevou no cenário romântico europeu… E até os 80 anos, seriam mais 40 anos de profícua atividade e outras obras primas, com “Aída”, o monumental “Réquiem”, “Otelo” e “Falstaff”… O mestre italiano, falecido aos 88 anos, 1901, tornou-se autor de óperas mais encenado no mundo…

Giuseppe Verdi e Giuseppina Verdi Strepponi – união de 49 anos, até a morte da esposa, em 1897.

Após estreia, no teatro “La Fenice”, “La Traviata” obteve sucesso no teatro “San Benedetto”, de Veneza, 1854, e imediatamente montada em diversos teatros europeus e americanos… No “Teatro Lyrico Fluminense”, Rio de Janeiro, 1855; “Her Majesty’s Theatre”, Londres, 1856; Théâtre Italien”, Paris, 1856; “Academy of Music”, Nova York, 1856; “Covent Garden”, Londres, 1858; “Metropolitan Opera”, Nova York, 1883; “Opéra”, de Paris, 1886; e muitas se seguiram… 

“Teatro Provisório”, depois “Teatro Lyrico Fluminense” – 1852/75, palco de estreias de Verdi, no Brasil.

No Rio Janeiro, “Teatro Provisório”, depois chamado “Teatro Lyrico Fluminense” – em atividade de 1852/75, montou “La Traviata”, em 1855, um ano após sucesso no teatro “San Benedetto”… Antes mesmo das estreias em Paris, Londres e Nova York… Período em que o público carioca assistiu “Macbeth”, 1852, “Attila” e “Luisa Miller”, 1853; “Il Trovatore”, 1854, “Rigoletto”, 1856, e “Giovana D’Arco”, 1860… Posteriormente, seria demolido, função de novo planejamento urbano e inauguração do “Teatro D. Pedro II”, abril/1875…

Além do romance, também adaptação teatral de “Dama das Camélias” foi grande sucesso em Paris, Londres e nos teatros da “Broadway”, New York, final do séc. XIX… No Brasil, Sarah Bernhardt estreou a peça, com Don Pedro II na plateia… E ao longo do sec. XX, diversas produções cinematográficas, tanto do romance, quanto da ópera de Verdi… “Margarite Gautier” tornou-se personagem almejado por grandes atrizes, como Greta Garbo e Vivien Leigh… E cerca de doze filmes foram produzidos, entre 1906 e 1980, seguindo-se adaptações para “rádio e televisão”…

Sarah Bernhardt – atriz pioneira em “Dama das Camélias”, teatro e cinema – filme de 1912 – “Harvard Theatre Collection”, 1891.
  1. Gravações de “La Traviata”

Apesar do fracasso na estreia, “La Traviata”, rapidamente, ganhou os palcos do mundo, tornando-se das mais populares óperas de todos os tempos. Foi imensamente gravada, de modo que apresentamos lista sucinta em CDs e DVDs:

  • Gravação em áudio – CD Naxos, gravação de 1928

“Orchestra and Chorus of La Scala”, direção Lorenzo Molajoli
Solistas: Mercedes Capsir (Violetta) – Lionello Cecil (Alfredo) – Carlo Galeffi (Giorgio Germont)
“Teatro alla Scala”, Milão, Itália

  • Gravação em áudio – LP EMI, 1952

“Orchestra Sinfonica di Milano della RAI”, direção Carlo Maria Giulini
Solistas: Renata Tebaldi (Violetta) – Giacinto Prandelli (Alfredo) – Gino Orlandini (Giorgio Germont)
“Chorus della RAI”, direção Roberto Benaglio
“Teatro alla Scala”, Milão, Itália

  • Gravação em áudio – LP Melodram / CD Walhall, 1957

“The Metropolitan Opera Orchestra and Chorus”, direção Fausto Cleva 
Solistas: Renata Tebaldi (Violetta) – Giuseppe Campora (Alfredo) – Leonard Warren (Giorgio Germont)
New York, USA

  • Gravação em áudio – LP EMI Classics, 1958

“Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional São Carlos”, direção Franco Ghione
Solistas: Maria Callas (Violetta) – Alfredo Kraus (Alfredo) – Mario Sereni (Giorgio Germont)
“Coro do Teatro São Carlos”, Lisboa, Portugal

  • Gravação em áudio – LP/CD Decca, 1963

“Orchestra e Coro del Maggio Musicale Fiorentino”, direção John Pritchard
Solistas: Joan Sutherland (Violetta) – Carlo Bergonzi (Alfredo) – Robert Merrill (Giorgio Germont)
Florença, Itália

  • Gravação em áudio – LP RCA Victor – CD Sony classical, 1967

“RCA Italiann Opera Orchestra”, direção George Prêtre
Solistas: Montserrat Caballe (Violetta) – Carlo Bergonzi (Alfredo) – Sherrill Milnes (Giorgio Germont)
“Chorus della RAI”, direção Nino Antonellini
“Teatro alla Sacala”, Milão, Itália

  • Filme em DVD – VAI, 1968

“Orchestra and Chorus of the Roma Opera House”, direção Giuseppe Patanè
Solistas: Anna Moffo (Violetta) – Franco Bonisoli (Alfredo) – Gino Bechi (Giorgio Germont)
Direção de cena e produção, Mario Lanfranchi
Itália, 1968

  • Gravação em áudio – LP EMI, 1971

“Royal Philharmonic Orchestra”, direção Aldo Ceccato
Solistas: Beverly Sills (Violetta) – Nicolai Gedda (Alfredo) – Rolando Panerai (Giorgio Germont)
“The Aldis Choir”, direção John Aldis,
“All Saint’s Church”, Tooting, Inglaterra

Obs: Acompanhada de grande elenco, destaca-se, nesta gravação, o excelente soprano coloratura Beverly Sills.

  • Gravação em áudio – LP Deutsche Grammophon, 1977

Bayerischer Staatsorchester”, direção Carlos Kleiber
Solistas: Lleana Cotrubas (Violetta) – Placido Domingo (Alfredo) – Sherrill Milnes (Giorgio Germont)
Bayerischer Staatsopernchor “, direção Wolfgang Baumgart
Munique, Alemanha

  • Gravação em áudio – LP EMI-Odeon, 1982

“Philharmonia Orchestra”, direção Riccardo Muti
Solistas: Renata Scotto (Violetta) – Alfredo Kraus (Alfredo) – Renato Bruson (Giorgio Germont)
“Ambrosian Opera Chorus”, direção John McCarth

  • Gravação em DVD – Deutsche Grammophon, 1982

“The Metropolitan Opera Orchestra and Chorus”, direção James Levine
Solistas: Teresa Stratas (Violetta) – Plácido Domingo (Alfredo) – Cornell MacNeill (Giorgio Germont)
Direção cênica e produção Franco Zeffirelli

Obs: Célebre produção para o cinema, dos anos 80. Franco Zeffirelli, além de cineasta, destacou-se também como diretor de teatro e ópera.

  • Gravação em DVD – Kultur, 2005

“Orquestra e Coro do Teatro La Fenice”, direção Carlo Rizzi
Solistas: Edita Gruberova (Violetta) – Neil Shikoff (Alfredo) – Giorgio Zancanaro (Giorgio Germont)
Dançarinos do “Balleto di Toscana”
“Gran Teatro La Fenice”, Veneza, Itália

  • Gravação em DVD – Deutsche Grammophon, 2006

“Wienwer Philharmoniker”, direção Carlo Rizzi
Solistas: Anna Netrebko (Violetta) – Rolando Villanzón (Alfredo) – Thomas Hampson (Giorgio Germont)
“Wiener Staatopernchor”, direção Rupert Huber
Viena, Áustria

Obs: Interessante e inovadora produção, substituindo montagem de época com cenários e figurinos modernos. 

  • Gravação em DVD – Deutsche Grammophon, 2016

“NDR Radiophilharmonie”, direção Keri-Lynn Wilson
Solistas: Marina Rebeka (Violetta) – Francesco Demuro (Alfredo) – Thomas Hampson (Giorgio Germont)
Coros: “Mädchenchor Hannover”; “Johannes-Brahms-Chor Hannover”; “Mitglieder des Chores der Staatsoper Hannover”
“Maschpark”, Hannover, Alemanha

Obs: Produção em forma de concerto, utilizando entorno do palco, ao “ar livre”, com excelente resultado…  

Joan Sutherland, soprano australiano – “La stupenda”…
  • Download no PQP Bach

Para download e compartilhamento da música de Verdi em “La Traviata”, homenageamos dois grandes sopranos:

– Joan Sutherland e “Orchestra e Coro del Maggio Musicale Fiorentino”, direção John Pritchard, 1963 – gravação em áudio…

Vencedora de concurso lírico na Austrália, a jovem Joan Sutherland viajou à Londres para seguir estudos na “Opera School of the Royal College of Music”, onde conheceu e casou-se com Richard Bonynge, pianista e regente. E juntos, trilharam brilhante carreira musical… Em 1960, gravou “The Art of the Prima Donna”, que lhe rendeu um “Grammy Award”, pelo selo Decca, de 1963. Apresentou-se em todos os grandes teatros do mundo, com prestigiados regentes e solistas…

A exemplo de Maria Callas, empenhou-se no resgate de repertório, há muito, abandonado pelos teatros líricos… Nesta produção, Joan Sutherland divide o palco com os excelentes Carlo Bergonzi (Alfredo) e Robert Merrill (Giogio Germont). Conhecida como “La stupenda”, encontrava-se na plenitude vocal – cor, dinâmica, extensão e coloratura. Também destacam-se o belo trabalho do coro, orquestra e direção de John Pritchard…

Capa CD Decca, de “La Traviata”, com Sutherland, Bergonzi e Merrill. Direção John Pritchard, 1963.

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– Maria Callas e “Orquestra Sinfônica e Coro do Teatro Nacional São Carlos”, direção Franco Ghione, Lisboa, Portugal, 1958 – gravação em áudio…

Maria Callas, soprano greco-americano – “La divina”…

Nascida em Nova York, USA, María Kekilía Sofía Kalogerópulu, era filha de imigrantes gregos. Dificuldades financeiras, no entanto, forçaram sua mãe retornar à Grécia, onde iniciou estudos musicais no conservatório de Atenas… Destacou-se a partir de 1948, na interpretação de “Norma”, de Bellini… E a década de 50 marcou seus apogeu e intensa agenda. Reduzindo compromissos, a partir dos anos 60, foi estimulada pelo amigo e cineasta, Franco Zeffirelli, retomar carreira, quando realizou 2° Ato de “Tosca”, de Puccini…

Mas, instabilidade emocional a fragilizou, levando abandonar atividades, sobretudo, em meio de expressão tão sensível, como a voz humana. A partir de 1975, com a morte de Aristóteles Onassis, amigos, novamente, tentaram reanimá-la. No entanto, sua última gravação, de 1977, limitou-se à registo do verso “Deh! non m’abbandonar”, da ária “Madre, pietosa vergine”, da “Forza del Destino”, de Verdi. Viria falecer no mesmo ano, de 1977…

Referência entre as interpretações de Maria Callas, a produção do “Teatro São Carlos”, de Lisboa, além da grande diva, apresenta as vozes de Alfredo Kraus (Alfredo) e Mario Sereni (Giorgio Germont). Este ano, de 2023, marca cem anos do nascimento da artista, a quem homenageamos. Conhecida como “La divina”, Callas empenhou-se em colocar a técnica vocal à serviço do drama e dos personagens. Também destacam-se, nesta gravação, o trabalho do coro, orquestra e direção de Franco Ghione…  

Capa EMI Classics – “La_Traviata”, Callas, Kraus e Sereni. Direção Franco Ghione, 1958.

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Sugerimos também:

    1. Vídeo youtube – produção do “NDR Radiophilharmonie”, direção Keri-Lynn Wilson, com Marina Rebeka (Violetta), Francesco Demuro (Alfredo) e Thomas Hampson (Giorgio Germont). No “Maschpark”, Hannover, Alemanha, 2016.

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“E quem resiste à ‘La Traviata’…”

Alex DeLarge