.: interlúdio :. The Michael Landau Group: Organic Instrumentals

.: interlúdio :. The Michael Landau Group: Organic Instrumentals

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Olhando assim, Michael Landau não parece um guitarrista de rock. Sua natureza discreta guarda no currículo atuações junto a Joni Mitchell, James Taylor, Pink Floyd e… também Miles Davis, para citar alguns. Mas ele tem um grupo fantástico a seu serviço. Um discreto grupo fusion. É rock e blues com belas improvisações. Porém, ao contrário de alguns de seus contemporâneos roqueiros, Landau evita frescuras de guitar hero, concentrando seus talentos na criação de peças musicais que nos tocam em um nível mais profundo. Cada faixa é independente, mas leva você para a próxima. Não é um CD não superproduzido, mas também não é áspero. Como diz o título, é orgânico. Todas as composições são ótimas, com excelentes atuações de todos os envolvidos. Minhas preferidas são Delano, Smoke e Big Sur Howl.

.: interlúdio :. The Michael Landau Group: Organic Instrumentals

1 Delano
Bass – Jimmy Haslip
Drums – Charley Drayton
Electric Organ [Hammond Organ] – Larry Goldings
Guitar – Michael Landau

2 Sneaker Wave
Bass – Teddy Landau
Drums – Vinnie Colaiuta
Electric Organ [Hammond Organ] – Larry Goldings
Guitar, Bass – Michael Landau

3 Spider Time
Bass – Jimmy Haslip
Drums – Gary Novak
Electric Organ [Hammond Organ], Piano – Larry Goldings
Guitar – Michael Landau

4 The Big Black Bear
Bass – Andy Hess
Drums – Gary Novak

5 Karen Mellow
Bass – Andy Hess
Drums – Gary Novak
Electric Organ [Hammond Organ] – Larry Goldings
Guitar – Michael Landau

6 Ghouls And The Goblins
Bass – Chris Chaney
Drums – Gary Novak
Electric Organ [Hammond Organ] – Larry Goldings
Guitar – Michael Landau

7 Big Sur Howl
Drums – Gary Novak
Electric Organ [Hammond Organ] – Larry Goldings
Flugelhorn – Walt Fowler
Guitar – Michael Landau

8 Woolly Mammoth
Bass – Andy Hess
Drums – Charley Drayton
Electric Organ [Hammond Organ] – Larry Goldings
Guitar – Michael Landau

9 Smoke
Electric Organ [Hammond Organ], Organ [Estey Reed Organ], Carillon – Larry Goldings
Guitar – Michael Landau

10 The Family Tree
Guitar – Michael Landau

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Landau: um roqueiro sem cara de roqueiro

PQP

Gabriel Fauré (1845-1924): Quintetos para Piano Nº 1 e 2 (Schubert Ensemble)

Gabriel Fauré (1845-1924): Quintetos para Piano Nº 1 e 2 (Schubert Ensemble)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

A música de Fauré é tímida. Ela não bate na porta pedindo para entrar. Você é que tem que convidá-la para se acomodar. Ela não grita chamando você, não chama sua atenção, tem que ser convidada, repito. Depois disso você poderá fruir de algumas das melhores obras low profile deste planeta, uma curiosa e discreta ligação entre romantismo e modernismo. Neste CD, o Schubert Ensemble traz requintadas e compreensivas versões destas duas obras extraordinárias do compositor. O pianista William Howard traz uma leveza de toque à parte de piano, timidamente virtuosa. O grupo é apaixonado pela música de Fauré e, nos últimos anos, deu muitos recitais com estes quintetos reflexivos e altamente individuais. Fauré foi aluno de Saint-Saëns e professor de Ravel. Sua fluidez acontece aparentemente sem esforço, mas se você ouvir atentamente seus Quintetos para Piano, ouvirá grandes dramas, tensões e profunda emoção, tudo habilmente demonstrado. “A música de câmara”, escreveu Fauré, “é a verdadeira música e a expressão mais sincera de uma personalidade genuína.” E em sua música de câmara ele conseguiu algo efetivamente notável.

Gabriel Fauré (1845-1924): Quintetos para Piano Nº 1 e 2 (Schubert Ensemble)

Piano Quartet No.1 in C minor, Op.15 (1876-79)
1 – I. Molto moderato
2 – II. Adagio
3 – III. Allegretto moderato
Piano Quintet in C minor, Op. 115 (1919-21)
5 – I. Allegro moderato
6 – II. Allegro vivo
7 – III. Andante moderato
8 – IV. Allegro Molto

The Schubert Ensemble Of London:
Piano – William Howard
Cello – Jane Salmon
Viola – Douglas Paterson
Violin – Maya Koch, Simon Blendis

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Fauré lendo a versão impressa de “Os Imortais Posts de PQP Bach”

PQP

Domenico Scarlatti (1685-1757): 17 Sonatas – Wolfram Schmitt-Leonardy, piano ֍

Domenico Scarlatti (1685-1757): 17 Sonatas – Wolfram Schmitt-Leonardy, piano ֍

Domenico Scarlatti

Sonatas

Wolfram Schmitt-Leonardy

 

Como uma personagem de Virginia Wolf, Domenico Scarlatii viveu duas vidas em uma. Até seus quase quarenta anos seguiu o modelo e imposições de seu pai, Alessandro Scarlatti, compositor de óperas napolitano. A música que produziu nesta vida – essencialmente óperas e música litúrgica sacra, não é má (há um disco de John Eliot Gardiner regendo o famoso Monteverdi Choir no qual você pode ouvir um Stabat Mater), mas não chega levantar a plateia. A morte de um Scarlatti permitiu o nascimento (ou o renascimento) do outro. Domenico, ou Domingo, como viria a ser conhecido em sua nova vida, deixou seu cargo como Diretor Musical da Basílica de São Pedro, onde trabalhava para o Cardeal Ottoboni e também servia a Rainha da Suécia, e rumou para o Oeste!

Maria Bárbara, Princesa de Portugal, Rainha de Espanha

Podemos mudar de vida, mas certos hábitos são do tipo ‘die hard’. Domingo Scarlatti foi servir a Casa Real de Portugal e ficou encarregado de dar lições de cravo para a Princesa Maria Bárbara de Bragança. A garota era longe de ser bonita e seria feia caso não fosse princesa, mas era ótima aluna e se tornou Rainha da Espanha. Tudo isso para nossa (e de Domenico) sorte. Pois que o marido dela, Fernando, também apreciava a música.

Como parte da entourage do casal real, Scarlatti teve sua subsistência para lá de garantida – morou em linda casa em Madri e a rainha também lhe socorria quando havia problemas devido aos pecadilhos dos jogos. Ele chegou mesmo a ser Cavaleiro da Ordem de Santiago, que lhe garantia o direito de usar roupas de veludo e seda, assim como anéis, colares e até mesmo um chapéu também de veludo.

Dom Domingo

Este luxo todo foi recompensa pela criatividade que desabrochou neste novo Scarlatti e o fez produzir mais de 500 sonatas – uma novidade após a outra. Incrementadas por sabores e sons de Espanha, elas deram ar da graça em 1738, quando trinta delas foram publicadas e depois republicadas em Londres, com mais doze acrescentadas ao lote.

Schmitt-Leonardy em pose de pianista…

Toda essa obra foi preservada em cópias lindamente manuscritas e encadernadas com capas de couro, a mando da Rainha. Essa verdadeira música de Scarlatti nunca deixou de encantar os apaixonados pela música de teclado, Frederico Chopin sendo um deles, e eu adoro ouvi-las interpretadas ao piano, como é o caso neste álbum mesmo espetacular. Ouça as três primeiras sonatas do disco e terás uma perspectiva do que está pela frente… Uma faixa melhor do que a outra. Se fores ouvir uma só, para alegrar seu dia, ouça a faixa No. 7, que aqui chamamos ‘A Espivetada’. E se estiver sobrando mais um tempinho, e precisares de um bom momento de reflexão, vá para a faixa No. 12, a Sonata Reflexiva!

O pianista Wolfram Schmitt-Leonardy gravou álbuns para o selo Brillant com música de Chopin e Schumann e Brahms, entre outros. Este disco com música de Scarlatti é o primeiro que eu ouço, mas fiquei animado para conhecer mais suas interpretações. Os Prelúdios de Chopin estão já na minha lista de futuras audições…

Domenico Scarlatti (1685 – 1757)

  1. Sonata K. 1 em ré menor
  2. Sonata K. 32 em ré menor
  3. Sonata K. 33 em ré maior
  4. Sonata K. 87 em si menor
  5. Sonata K. 29 em ré maior
  6. Sonata K. 27 em si menor
  7. Sonata K. 427 em sol maior
  8. Sonata K. 132 em dó maior
  9. Sonata K. 98 em mi menor
  10. Sonata K. 135 em mi maior
  11. Sonata K. 162 em mi maior
  12. Sonata K. 208 em lá maior
  13. Sonata K. 39 em lá maior
  14. Sonata K. 322 em lá maior
  15. Sonata K. 455 em sol maior
  16. Sonata K. 95 em dó maior
  17. Sonata K. 466 em fá menor

Wolfram Schmitt-Leonardy, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 213 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 180 MB

Wolfram ficou bem mais relaxado depois que você baixou o álbum….

Wolfram Schmitt-Leonardy was born in Saarlouis, Germany, in 1967, and his first important teacher was a student of Walter Gieseking and Edwin Fischer. His quintessentially pianistic approach to Scarlatti exploits all the colouristic possibilities of a modern grand, while articulating the quick sonatas with sparkling deftness of touch.

Sparkling and touching!

Aproveite!

René Denon

Monteverdi (1567-1643): Teatro d’Amore – L’Arpeggiata & Christina Pluhar ֎

Monteverdi (1567-1643): Teatro d’Amore – L’Arpeggiata & Christina Pluhar ֎

Claudio Monteverdi

Teatro d’Amore

Nuria Rial & Philippe Jaroussky

L’Arpeggiata

Christina Pluhar

Antes deste disco eu costumava ver Claudio Monteverdi como uma figura de valor histórico, compositor que desempenhara um papel importante no desenvolvimento da música entre os períodos renascentista e barroco. Sim, tem a coleção ‘Vespro della Beata Vergine’ e eu já havia ouvido o ‘Torna Zéfiro’, que está no disco, mas não havia me dado conta que a música de Claudio Monteverdi têm esta dimensão de atualidade, que identificamos na música que faz parte de nossa vida. Este álbum mostrou-me como sua música é atemporal – acordes, suspiros, e todo o encanto de cantar sobre amar e ser amado. Não deixe de ouvir!

Nuria adorou o fim de semana na Ilha do PQP Bach

A Abertura é cartão de visita e ecoa no início de ‘Vespro della Beata Vergine’. É claro que os músicos que produziram o álbum têm enorme mérito e passarei a buscar outros discos associados a seus nomes. Um destaque para Nuria Rial e Philippe Jaroussky, que tornam mágicos alguns dos momentos aqui, como no dueto ‘Pur ti miro’, da ópera ‘L’Incoronazione de Poppea’. Esta faixa é a campeã em número de bis aqui em casa. Sem contar o efeito da língua italiana, apropriada para falar de ‘amore’:

O mia vita, o mio tesoro,

Io son tua, tuo son io…

Philippe ficou no Castelo do PQP Bach e se divertiu muito!

É verdade que é quase a mesma coisa em português, mas dito assim, pelo menos aqui, faz enorme sucesso!

Ah, os instrumentistas que acompanham os cantores são sensacionais. Sopros, percussão e instrumentos dedilhados, um som envolvente e expressivo.

L’Arpeggiata é um grupo liderado pela harpista Christina Pluhar que tem muita presença e personalidade, mas deve ser também muita aglutinadora, pois todos estão muito bem. O álbum foi produzido na Sala de Concerto Vredenburg, em Utrecht, durante uma edição do Festival Oude Muziek.

L’Arpeggiata

Christina Pluhar diz: “O que há de mais admirável em Monteverdi é a tremenda diversidade de técnicas composicionais que ele domina e combina de forma brilhante. Nesta gravação, gostaríamos de destacar a variedade de suas composições seculares.”

Claudio Monteverdi (1567 – 1643)

  1. L’Orfeo, SV 318 – Toccata (Alessandro Striggio)
  2. Ohimè ch’io cado, SV 316 (PJ)
  3. Pur ti miro, dueto de L’Incoronazione di Poppea (PJ & NR)
  4. Damigella tutta bella, SV 235 (JF, NA, CA, PJ, JvE, NR)
  5. Madrigais, Livro 8: Lamento della ninfa, SV 163: IV. Amor (NA, CA, NR, JvE)
  6. Si dolce è’l tormento (do Libro Nono di Magrigali e Canzonette) (PJ)
  7. L’Orfeo, SV 318, Act 5: Sinfonie & Moresca (Alessandro Striggio)
  8. Madrigais, Livro 7: Interrotte speranze, SV 132 (JvE, CA)
  9. Chiome d’oro, bel thesoro, SV 143 (Arranjo de Christina Pluhar) (NR)
  10. L’Incoronazione di Poppea, SV 308, Act 2: “Oblivion soave” (Arnalta) (PJ)
  11. Hor che’l ciel e la terra (Livro 8), SV 147 (NA, JF, MR, CA, LA, PJ, JvE)
  12. Madrigais, Livro 7: Tempro la cetra, SV 117 (JvE, CA)
  13. Livro 8: Ballo, SV 154b
  14. Madrigais, Livro 7: Con che soavità, SV 139 (NR)
  15. Madrigais, Livro 8: Vago augelletto che cantado vai, SV 156 (NA, JF, ZT, CA, LA, PJ, JvE)
  16. Zefiro torna e di soavi accenti, SV 251 (Arranjo de Christina Pluhar) (PJ, NR)

Nuria Rial, soprano

Philippe Jaroussky, contra-tenor

João Fernandes, baixo

Nicolas Achten, baritono

Cyril Auvity, tenor

Jan van Elsacker, tenor

Michaela Riener, soprano

Lauren Armishaw, soprano

Zsuzsanna Toth, soprano

L’Arpeggiata

Christina Pluhar

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 291 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 142 MB

Christina Pluhar

Seção “The book is on the table”:

“As resident ensemble at the Festival Oude Muziek Utrecht in August 2006, L’Arpeggiata presented the programme of this CD in concert and recorded it in the main auditorium of the Vredenburg with its outstanding acoustics.” – Liner notes

The gorgeous singing of the soloists and stylish instrumental performances, though dazzling and gimlet-eyed, are also elegant and respectful without being obsequiously slavish to convention. BBC Music, 2009

Still, as a whole, this CD is joyous and moving. In short, Monteverdi by a magnificent artist, presented in a manner that is either the height of bastardization, or a genuine example of intelligent democratization–you choose!

Improvised cornett parts are much in evidence, but not in the excerpts from Poppea. Jaroussky is not quite gentle enough in Arnalta’s lullaby; but in “Pur ti miro” he and Nuria Rial make the most of the semitone clashes, their lines intertwining sensuously over a beguiling plucked continuo accompaniment. Do give this very lively disc a try.

Não deixe de ouvir este maravilhoso disco! Aproveite! (Eu fiquei pluhado…)

René Denon

Christina e Philippe no recital para o pessoal do PQP Bach

.: interlúdio :. Ithamara Koorax: Rio Vermelho (1995)

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 31/12/2015

.Senhorxs: sei que este último dia de 2015 já está carregado até não poder mais de postagens tremendas, mas, desculpem, eu não posso deixar virar para 2016 sem registrar o vigésimo ano deste disco que considero um “unicum”, isto é: sem similar.

Ithamara é mais um desses casos de brasileirx vítima do nosso complexo de vira-lata endêmico: indicada não sei quantas vezes pela Downbeat entre as principais cantoras de jazz do mundo, diva absoluta no Japão, e ainda – ai! – “Ithamara quem?” para a maior parte dos brasileiros – isso quando este disco contém nada menos que a última gravação de Tom Jobim (no piano de algumas faixas); solos inacreditáveis de Ron Carter ao baixo; Luiz Bonfá, Marcos Valle, Paulo Malaguti e o próprio Tom entre os arranjadores – etc. etc.

Mas não deixo de compreender que, para brasileiros, ouvir sua própria música dita “popular” interpretada assim tenha que causar alguma estranheza. É realmente incomum – e tanto, que eu mesmo tenho dificuldades em colocar em palavras de que modo é incomum. Minha hipótese principal: por uma lado, Ithamara faz uma leitura instrumental da melodia – quero dizer, usando a voz como um instrumento solista, muitas vezes a-lu-ci-na-da-men-te; por outro, não esquece o texto, mas faz dele uma leitura teatral, de alta dramaticidade. São duas intensidades simultâneas tão altas que o resultado definitivamente não cabe em situação assim como embalar um jantar: ou você embarca e navega junto, ou se sente jogado para lá e para cá pela turbulência; sem paz – o que parece chegar ao extremo nas duas faixas em inglês, Cry me a river e Empty glass.

Quanto às onze faixas em português, admito que algo dificulta a fruição do disco até para mim: seis delas são um revival da chamada “música de fossa”, ou “música de dor de cotovelo” (ou mesmo sete, se incluirmos ‘Retrato em branco e preto’ nessa categoria) – sendo cinco numa sequência só. Ora, justamente com as leituras de La Koorax, isso pode ser uma travessia de efetivo risco para depressivos e bipolares… Se eu avalio que há um erro neste disco, é este excesso – entre tantos outros excessos que resultaram felizes!

‘Rio Vermelho’ foi o terceiro disco de Ithamara. Conheço bem este e o segundo, ‘Ao Vivo’, um pouco menos colorido timbristicamente porém igualmente intenso – mas conheço pouco dos posteriores, pois me passaram a impressão de que os produtores internacionais tenham conseguido domar um tanto o vulcão inventivo da artista – com o que confesso que meu interesse caiu um pouco.

Estarei dizendo que acho que na média Ithamara pode ter ficado sendo uma cantora menor? Não! Não acho que arte comporte esse tipo de cálculo mesquinho. Para mim, uma sílaba pode ser bastante para consagrar um(a) artista. No caso, sugiro que ouçam com atenção o gradualíssimo crescendo de tensão em Retrato em branco e preto, até a sílaba -CA- de “pecado”. Vocês me considerarão completamente maluco se seu disser que dentro dessa sílaba eu vejo se abrir uma paisagem tão ampla quanto as do Planalto Central, ou quem sabe a de algum mirante da Serra do Mar?

Pois bem: a uma cantora que conseguiu fazer isso comigo eu jamais admitirei que alguém venha a chamar de “menor” – seja lá o que houver feito ou deixado de fazer depois!

ITHAMARA KOORAX : RIO VERMELHO
Data de gravação: outubro de 1994
Data de lançamento: abril de 1995

1. Sonho de Um Sonho (Martinho da Vila/R. De Souza/T. Graúna) – 3:50
2. Retrato Em Branco E Preto (Buarque/Jobim) – 5:38
3. Correnteza (Bonfá/Jobim) – 6:41
4. Preciso Aprender a Ser Só (Valle/Valle) – 4:54
5. Tudo Acabado (Martins/Piedade) – 5:26
6. Ternura Antiga (Duran/Ribamar) – 3:48
7. Não Sei (DeOliveira/Gaya) [d’aprés Chopin] – 4:27
8. É Preciso Dizer Adeus (de Moraes/Jobim) – 3:36
9. Cry Me a River (Hamilton) – 6:06
10. Índia (Flores/Fortuna/Guerreiro) – 7:05
11. Rio Vermelho (Bastos/Caymmi/Nascimento) – 3:44
12. Se Queres Saber (Peter Pan) – 8:14
13. Empty Glass (Bonfá/Manning) – 4:02

Ithamara Koorax – Arranger, Vocals, Executive Producer
Antonio Carlos Jobim – Piano, Arranger
Luiz Bonfá – Guitar, Arranger
Ron Carter – Bass
Sadao Watanabe – Sax (Alto)
José Roberto Bertrami – Arranger, Keyboards
Arnaldo DeSouteiro – Arranger, Producer
Jamil Joanes – Bass (Electric)
Carlos Malta – Flute (Bass), Sax (Tenor)
Pascoal Meirelles – Drums
Paulo Sérgio Santos – Clarinet
Marcos Valle – Arranger, Keyboards
Mauricio Carrilho – Guitar (Acoustic), Arranger
Daniel Garcia – Sax (Soprano), Sax (Tenor)
Paulo Malaguti – Piano, Arranger, Keyboards
Sidinho Moreira – Percussion, Conga
Marcos Sabóia – Engineer, Mixing
Otto Dreschler – Engineer
Fabrício de Francesco – Engineer
Rodrigo de Castro Lopes – Engineer, Mastering
Livio Campos – Cover Photo
Hildebrando de Castro – Cover Design, Cover Art
Celso Brando – Liner Photo
Christian Mainhard – Artwork

. . . . . . . BAIXE AQUI – download here

Ranulfus

[restaurado com carinho e saudades por Vassily em 14/3/2023, como parte das homenagens a Ranulfus e ao Dia Internacional da Mulher]

Sofia Gubaidúlina (n. 1931): Quartetos Nº 1, 2 e 3 / Trio de Cordas (Danish) – Semana do Dia Internacional da Mulher

Sofia Gubaidúlina (n. 1931): Quartetos Nº 1, 2 e 3 / Trio de Cordas (Danish) – Semana do Dia Internacional da Mulher

O “Quarteto de Cordas Nº 1” de Gubaidúlina foi escrito em 1971. Desta forma, é de antes de sua maturidade como compositora. Trata-se de uma obra sobre o isolamento, a partitura contém pausas prescritas durante as quais os músicos, que iniciaram a obra sentados juntos no centro do palco, avançam lentamente em direção aos quatro cantos do mesmo. O resultado é que cada instrumentista toca as últimas seis páginas da partitura como se fosse um músico solo. Infelizmente, um aparelho de som não pode comunicar totalmente esse conceito…

O “Quarteto de Cordas Nº 2” foi encomendado em 1987 pelo Kuhmo Chamber Music Festival para o Sibelius Quartet. Dezesseis anos se passaram desde seu primeiro quarteto e nesse tempo sua técnica de composição mudou completamente. Durante a década de 1970, seu trabalho começou a ser profundamente inspirado pela fé ortodoxa e, na década de 1980, essa inspiração religiosa foi acompanhada por um profundo interesse pelo uso de fórmulas matemáticas como a Sequência de Fibonacci. Esta peça está relacionada com a sua sinfonia “Stimmen …Verstummen”, do ano anterior.

Em contraste com a grande lacuna entre o primeiro e o segundo quarteto, o “Quarteto de Cordas Nº 3” veio logo após o Nº 2. Ele encontra inspiração nas linhas de “The Waste Land” de T.S. Eliot, e é um trabalho de movimento único dividido igualmente em uma seção de abertura dedilhada e uma segunda metade onde o arco é introduzido e o som drasticamente transformado. Considero este o menos bem-sucedido dos quartetos de Gubaidúlina, mas admito que posso estar totalmente errado.

O “Trio de Cordas” para violino, viola e violoncelo (1988) foi escrito logo após o terceiro quarteto de cordas e é emocionante. O primeiro movimento começa com austeridade áspera. O segundo movimento tem um ritmo mecânico que lembra o segundo quarteto de cordas de Ligeti, enquanto o terceiro resume o que veio antes e o decompõe em uma calmamente. Para terminar, digo que o Danish Quartet é uma joia, sensacional mesmo.

Sofia Gubaidúlina (n. 1931): Quartetos Nº 1, 2 e 3 / Trio de Cordas (Danish)

01. Streichquartett Nr. 1 22:56
02. Streichquartett Nr. 2 09:04
03. Streichquartett Nr. 3 18:36
04. Streichtrio – I 06:21
05. Streichtrio – II 04:54
06. Streichtrio – III 08:08

Performers:
Tim Frederiksen (1-3), Arne Balk-Møller, violins
Claus Myrup, viola
Henrik Brendstrup, cello

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Gubaidúlina tem reagido positivamente às piadinhas que colocamos nas legendas das fotos

PQP

Florence Price (1887-1953): Scenes in Tin Can Alley (Peças para piano) – Josh Tatsuo Cullen, piano – Semana do Dia Internacional da Mulher ֎

Florence Price (1887-1953): Scenes in Tin Can Alley (Peças para piano) – Josh Tatsuo Cullen, piano  – Semana do Dia Internacional da Mulher ֎

 

Florence Beatrice Price

Peças para piano

Josh Tatsuo Cullen

 

 

Homenagem pelo Dia Internacional da Mulher

Em muitos sentidos, Florence Beatrice Price foi uma mulher única. Nascida em uma família multiracial, tornou-se a primeira compositora afro-americana a ter uma sinfonia interpretada por uma grande orquestra americana. Nada menos que a Chicago Symphony Orchestra, sob a regência de Frederick Stock, seu regente principal, em 1933.

Nascida em Little Rock, Arkansas, em uma comunidade racialmente integrada, era filha de um dentista e uma professora de música. Aos 16 anos foi aceita no New England Conservatory, em Boston, e recebeu completa formação musical na mais respeitada instituição deste tipo nos EUA. Retornou a Little Rock após sua formação, até a morte de seus pais. Depois foi para o sul e tornou-se professora da Clark Atlanta University, onde conheceu o advogado Thomas Price, com quem se casaria. As condições de vida no sul, com a segregação racial, tornou a vida muito difícil e eles mudaram-se para Chicago. O casamento não foi feliz e eles divorciaram-se.

Em Chicago havia algumas oportunidades de trabalho, tais como composição de peças instrucionais, especialmente para crianças, com muitas publicações, mas nenhuma posição em alguma instituição de ensino. Outra fonte de renda vinha de tocar música durante os filmes do cinema mudo e compor música para o rádio (usando codinome).

Florence e sua obra foram caindo em esquecimento após sua morte, mas a sua verdadeira dimensão começou a ser vislumbrada em 2009. Um casal de St. Anne, Illinois, se preparava para reformar uma casa abandonada em péssimas condições quando se depararam com pilhas e pilhas de papéis, com o nome Florence Price escrito por todos os lados. Arquivistas da Universidade de Arkansas foram informados e recolheram esse tesouro. A casa havia sido usada por Florence Price para veraneio e depois de sua morte havia sido abandonada e, como muitas de suas contribuições, caído em esquecimento. Não fosse o cuidado do casal, esse esquecimento teria se perpetuado. Entre os papéis foram encontrados uma sinfonia e dois concertos para violino, além de muitas outras coisas. Lentamente agora a obra dessa notável mulher está sendo apresentada a uma maior audiência. Assim, para homenageá-la trazemos um álbum com algumas de suas peças para piano, interpretadas por Josh Tatsuo Cullen. Eu gostei muito da música deste disco e esta é a principal razão de incluí-lo nas postagens comemorativas do Ano Internacional da Mulher. Há um que de ragtime, em algumas das peças, mas há bem mais do que isso. As peças Clouds e Church Spires in Moonlight são bastante especiais. Talvez algum de nossos outros colaboradores consiga trazer outras postagens que ilustrem ainda mais a obra desta notável compositora.

Florence Beatrice Price (1887 – 1953)

  1. Scenes in Tin Can Alley: The Huckster
  2. Scenes in Tin Can Alley: Children at Play
  3. Scenes in Tin Can Alley: Night
  4. Thumbnail Sketches of a Day in the Life of a Washerwoman: Morning
  5. Thumbnail Sketches of a Day in the Life of a Washerwoman: Dreaming at the Washtub
  6. Thumbnail Sketches of a Day in the Life of a Washerwoman: A Gay Moment
  7. Thumbnail Sketches of a Day in the Life of a Washerwoman: Evening Shadows
  8. Clouds
  9. Village Scenes: Church Spires in Moonlight
  10. Village Scenes: A Shaded Lane
  11. Village Scenes: The Park
  12. Preludes: No. I Allegro Moderato
  13. Preludes: No. II Andantino Cantabile
  14. Preludes: No. III Allegro Molto
  15. Preludes: No. IV Wistful. Allegretto con Tenerezza
  16. Preludes: No. V Allegro
  17. Cotton Dance (Presto)
  18. Three Miniature Portraits of Uncle Ned: At Age 17
  19. Three Miniature Portraits of Uncle Ned: At Age 27
  20. Three Miniature Portraits of Uncle Ned: At Age 70

Josh Tatsuo Cullen, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 118 MB

Josh gostou de aparecer aqui no PQP Bach apresentando música de Florence Price

Trechos da resenha de Jed Distler para a revista Gramophone:

There’s no question, however, that Josh Tatsuo Cullen’s taking on the short and charming piano pieces gathered for this release is an act of the utmost sincerity and a true labour of love. He believes in this music and plays it with finesse, flair and conviction.

Cullen infuses the impressionistic Clouds with the same concern for nuance and tonal application that a pianist such as Ivan Moravec brought to Debussy. Conversely, he serves up Cotton Dance like the hard-hitting cakewalk it is.

Mais informações sobre F. Price, aqui.

Aproveite!
René Denon

J. S. Bach / Brahms / Chopin / Rachmaninov / Domenico Scarlatti / Schubert / Schumann: Yara Bernette – Encores – Semana do Dia Internacional da Mulher

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio com obras do gênio brasileiro, pelos motivos expostos AQUI


Uma semana de celebrações por conta do Dia da Mulher não poderia deixar de prestar reverência a um território específico de excelência no nosso panorama musical: o piano. A galeria de pianistas brasileiras é uma verdadeira constelação que atravessa gerações: Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Cristina Ortiz, Eliane Rodrigues, Erika Ribeiro, Diana Kacso, Linda Bustani, Clara Sverner, Menininha Lobo, Mariinha Fleury, Anna Stella Chic, Eudóxia de Barros, Felicja Blumental (nascida na Polônia, naturalizada brasileira), Rosana Martins…

Entre elas, uma estrela brilha com particular intensidade, por conta de sua sonoridade singular: estamos falando de Yara Bernette (1920-2002), uma artista de carreira tão impecável quanto longeva: foram mais de 4.000 concertos e recitais, ao longo de quase sete décadas. Uma vida inteira dedicada ao instrumento.

O verbete dedicado a ela na Enciclopédia do Instituto do Piano Brasileiro, escrito por Marcia Pozzani, está bem completo e rico em informações – vale a leitura. Para atiçar um pouco a curiosidade, no entanto, deixo um trecho de uma crônica escrita por Tarsila do Amaral (recolhida no livro Tarsila Cronista, organizado por Aracy Amaral e publicado pela Edusp em 2001). Ela relata uma história contada para ela pela própria Yara, quando se vira em apuros ao estar sem uma partitura para um concerto no Canadá. É um delicioso relato do frisson causado pela pianista, que a levaria inclusive até a glória de ter o selo dourado da Deutsche Grammophon estampado na capa de seus discos:

       ” (…) Nisso bate alguém na porta. Aparece um velhinho simpático – o maior crítico musical do Canadá – com uma música na mão e diz: “Miss Bernette, desculpe incomodá-la justamente agora, mas estou curioso por saber se a ‘Chaconne’ que a senhora vai tocar é desta edição”. Yara Bernette diz ao anjo que os céus lhe enviaram: “Peço-lhe deixar aqui a música. No primeiro intervalo conversaremos”. Deu-se o milagre. E o mais interessante é que o crítico não costumava levar música aos concertos. Apenas abriu a primeira página, foi chamada para o palco. Nunca tocou tão bem como naquela noite. O crítico musical, A. A. Alldrick, que a salvara sem o saber, dedicou-lhe excepcionalmente dois artigos ao invés de um, como de costume, afirmando no Winnipeg Free Press: “O recital de Yara Bernette foi um acontecimento fascinante… Yara Bernette é obviamente uma artista do calibre de ‘uma entre mil’. 
       Ao terminar a narrativa a grande pianista me diz: “Desde então, sinto que existe na minha carreira artística uma proteção divina”.
       Mais tarde num de seus inúmeros concertos, dizia o crítico Irving Kolodin no New York Sun: “Miss Bernette, prendendo a atenção dos ouvintes, fez com que a versão da ‘Chaconne’ de Bach  por Busoni valesse a pena de ser ouvida. Isso acontece uma vez por temporada e essa vez coube a Miss Bernette na sua execução definitiva”.
       Na sua tournée pelo México, disse o crítico musical do Excelsior: “Há muito não ouvíamos uma pianista do seu calibre, e também há muito tempo nenhum outro pianista havia interessado tanto os críticos nem obtido tantos elogios”.
       O New York Post exclama: “Tirem os chapéus, senhores! Miss Bernette é a última e irresistível palavra”, enquanto o New York Sun comenta: “Talentos pianísticos deste calibre têm raros similares”. (…)”

Flavio de Carvalho, “Retrato de Yara Bernette”, óleo sobre tela, 1951

O disco que apresento nesse post – gravado em 1995, já nos últimos anos de vida de Yara, no auge de sua maturidade – evoca essas antigas turnês, já que reúne uma série de peças que ela costumava tocar como bis (ou encore, em francês) em seus concertos e recitais. São peças emblemáticas do repertório pianístico, que refletem as preferências da artista. As interpretações são puro deleite; é um disco a que retorno, de tempos em tempos, há muitos anos.

Lançado em comemoração pelos 75 anos da pianista, o álbum foi gravado em fevereiro de 1995 no Teatro Cultura Artística, no centro de São Paulo, em um dos Steinways que faziam parte do acervo da casa. Tragicamente, o piano queimou junto com o teatro no dantesco incêndio que o consumiu em 17 de agosto de 2008. São, portanto, memórias fonográficas de um tempo que um universo que já nos deixou.

Áudio da apresentação de Yara Bernette na TV Excelsior, em 1961, tocando Debussy e Chopin. Créditos, como de praxe, para o espetacular Instituto Piano Brasileiro

Viva Yara Bernette!

Karlheinz

 

1. Domenico Scarlatti (transcr. Carl Tausig) – Pastorale
2. Domenico Paradies – Sonata em Lá – Tocata
3. J. S. Bach (transcr. W. Kempff) – Sonata BWV 1.031 – Siciliano
4. Felix Mendelssohn – Rondó Capriccioso, op. 14
5. Felix Mendelssohn – Scherzo, op. 16 no. 2
6. Robert Schumann – Cenas Infantis, op. 15 no. 7 – Rêverie
7. Robert Schumann – Cenas da Floresta, op. 82 no. 7 – O pássaro profeta
8. Johannes Brahms – Intermezzo, op. 117 no. 2
9. Frederic Chopin – Mazurka, op. 7 no. 3
10. Frederic Chopin – Mazurka, op. 17 no. 4
11. Frederic Chopin – Mazurka, op. 24 no. 4
12. Frederic Chopin – Estudo póstumo no. 1
13. Frederic Chopin – Noturno, op. 48 no. 1
14. Frederic Chopin (transcr. Franz Liszt) – Canção polonesa, op. 74 no. 5 – Minhas alegrias
15. Claude Debussy – Segundo Caderno – Prelúdio no. 7 – La Terrasse des Audiences du Clair de Lune
16. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 5
17. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 10
18. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 12
19. Heitor Villa-Lobos – Suíte Prole do Bebê no. 1 – O Polichinelo

Yara Bernette, piano

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Sofia Gubaidúlina (n. 1931): The Lyre of Orpheus & Canticle of the Sun (Kremer) – Semana do Dia Internacional da Mulher

Sofia Gubaidúlina (n. 1931): The Lyre of Orpheus & Canticle of the Sun (Kremer) – Semana do Dia Internacional da Mulher

A profundidade destas obras… O quanto são intrigantes… Bem, solistas talentosos, o violinista Gidon Kremer e o violoncelista Nicolas Altstaedt, trazem à tona a alma musical única da russa Gubaidúlina. A Kremerata Baltica apoia com competência os dois músicos. Na minhs opinão, a peça principal do álbum é The Lyre of Orpheus, um tributo emocionante à memória da filha da compositora. Com lirismo despido e inspirado, o conjunto deslumbra com tons pulsantes. Sofia Gubaidúlina não designa nenhuma das peças desta gravação como concertos, embora apresentem um instrumento solo e um conjunto que o acompanha. Essa lógica é evidente na sonoridade da música, que integra organicamente os solistas em sua textura e estrutura. Gubaidúlina é inquestionavelmente uma modernista, mas também é uma mística, então sua música tende a transmitir uma busca pela transcendência. Ela escreveu The Lyre of Orpheus para violino, percussão e orquestra de cordas para Gidon Kremer e a Kremerata Baltica. Em suas notas sobre a peça, Gubaidúlina escreve de forma um tanto enigmática, mas a música em si brilha com doçura tímbrica e quase inevitavelmente convida o ouvinte a trazer à mente a pungência do mito de Orfeu. Ela não menciona isso nas notas, diz que escreveu a peça como um memorial para sua filha, o que certamente explica a intensa profundidade de sentimento da música. O Canticle of the Sun para violoncelo, coro de câmara, percussão e celesta foi dedicado a Mstislav Rostropovich, que o estreou em 1998. A orquestração cria uma atmosfera de mistério. A compositora quis homenagear a personalidade solar do violoncelista. O violoncelo faz ouvir todo o tipo de acordes no primeiro movimento e há um rugido de êxtase furioso no final do segundo movimento. A peça termina em tom maior, numa delicada filigrana. Nicolas Altstaedt apresenta uma performance convincente e o Coro de Câmara de Riga é fantástico. Adorei a primeira peça, mas a segunda me cansou um pouco. Talvez o problema seja eu, claro.

Sofia Gubaidúlina (n. 1931): Canticle of the Sun (Kremer)

01 – The Lyre of Orpheus (2006)

02 – The Canticle of the Sun (1997, rev. 1998): Glorification of the Creator, and His Creations – the Sun and the Moon
03 – The Canticle of the Sun (1997, rev. 1998): Glorification of the Creator, the Maker of the four elements: air, water, fire and earth
04 – The Canticle of the Sun (1997, rev. 1998): Glorification of life
05 – The Canticle of the Sun (1997, rev. 1998): Glorification of death

Musicians:
Gidon Kremer – violin (track 1)
Marta Sudraba – violoncello (track 1)
Kremerata Baltica – string orchestra (track 1)

Nicolas Altstaedt – violoncello (tracks 2-5)
Andrei Pushkarev – percussion (tracks 2-5)
Rihards Zajupe – percussion (tracks 2-5)
Rostislav Krimer – celesta (tracks 2-5)
Riga Chamber Choir, Conducted by Māris Sirmais (tracks 2-5)

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Sofia Gubaidúlina tentando exorcizar você, meu endemoniado leitor

PQP

Ruth Crawford Seeger (1901-1953): Vocal and Chamber Music – Semana do Dia Internacional da Mulher

 

Existem artistas que lamentamos que, por circunstâncias da vida, tenham deixado uma obra mais curta do que poderiam. Entre eles, há um grupo mais seleto cujas obras não só resistem à passagem do tempo, como também, justamente por respirarem ousadia, tornam-se ainda mais interessantes. Só nos resta imaginar quanta música boa poderia ter nascido se as condições fossem mais favoráveis.

Este é certamente o caso de Ruth Crawford Seeger (1901-1953), uma compositora norte-americana que é muito menos tocada e conhecida do que deveria. Nascida em East Liverpool, Ohio, era filha de um pastor metodista, o que levou a família a perambular por diversas cidades de Ohio, Missouri e Indiana até se estabelecer em Jacksonville, Flórida.

Com grande sensibilidade para as artes, Ruth primeiro interessou-se por poesia, até que decidiu estudar música seriamente. Primeiro estabeleceu-se em Chicago e depois em Nova York, desbravando corajosamente um ambiente francamente machista, conquistando uma série de prêmios e bolsas de estudo. Ela foi a primeira compositora mulher a receber uma bolsa da Fundação Guggenheim, em 1930, que a levou a Berlim e Paris no ano seguinte. Foi na capital alemã que ela compôs sua obra mais influente e conhecida, o String Quartet 1931.

De volta aos Estados Unidos, ela se casou em 1932 com um de seus professores, o compositor e musicólogo Charles Seeger, que logo depois assumiu um cargo na capital Washington, no setor de música da Resettlement Administration, em meio aos programas de reconstrução da economia norte-americana em torno do new deal do presidente Franklin Roosevelt.

A união com Charles selou o destino de Ruth em muitos sentidos, já que sua promissora carreira de compositora foi sacrificada em nome do machismo e da construção de uma família. Sem receber apoio do marido, que expressamente declarava que ela deveria se relegar ao papel de mãe e esposa para que a carreira dele prosperasse, Ruth compôs poucas obras autorais nas duas décadas seguintes, até sua prematura morte por câncer em 1953.

Isso, no entanto, não impediu que desempenhasse um valiosíssimo trabalho no Arquivo de Música Folclórica da Biblioteca do Congresso, em Washington. Trabalhando ao lado de Alan e John Lomax, ela prestou uma imensa contribuição na preservação das raízes da música dos Estados Unidos, recolhendo temas, escrevendo arranjos, transcrições e organizando coletâneas de canções e música tradicional.

Entre os filhos do casal Ruth e Charles Seeger, ao menos dois seguiram de perto o trabalho dos pais: o cantor folk Mike Seeger e a cantora country Peggy Seeger.

***

Neste álbum, um dos portraits da série Continuum da gravadora Naxos, há um interessante apanhado dos anos de juventude de Ruth, reunindo obras compostas entre 1924 (o Prelude no. 1 – Andante, para piano) e 1932, quando regressa da Europa (Two Ricercari, para voz e piano, sobre poemas de H. T. Tsiang).

Ao longo das peças, para diferentes grupos e combinações de instrumentos, podemos intuir as razões que levam a obra de Crawford a ser situada como “modernista” na tradição composicional americana. Podemos notar como o ímpeto mais melódico, pós-romântico das primeiras obras vai se transformando em uma escrita mais precisa, econômica e radical.

Um pequeno disco que funciona como boa porta de entrada para o universo de uma compositora que merece ser muito melhor explorado.

Ruth Crawford Seeger (1901-1953): Vocal and Chamber Music

Suite for Five Wind Instruments and Piano
(1927; revised 1929)

1. Adagio religioso/Giocoso – Allegro non troppo
2. Andante tristo
3. Allegro con brio

Jayn Rosenfeld, flauta
Marsha Heller, oboé
Joch Craig Barker, clarinete
Daniel Grabois, trompa
Cynde Iverson, fagote
Cheryl Seltzer, piano
Joel Sachs, regência

Sonata for Violin and Piano
(1925-26)

4. Vibrante, agitato
5. Buoyant
6. Mistico, intenso; Allegro

Mia Wu, violino
Cheryl Seltzer, piano

Two Ricercari
(Poems of H. T. Tsiang)
(1932)

7. Sacco, Vanzetti
8. Chinaman, Laundryman

Nan Hughes, mezzo-soprano
Joel Sachs, piano

9. Prelude no. 1 – Andante (1924)
10. Prelude no. 9 – Tranquilo (1928)
11. Study in Mixed Accents (1930)

Cheryl Seltzer, piano

Diaphonic Suite no. 1 for Flute
(1930)

12. Scherzando
13. Andante
14. Allegro
15. Moderato, ritmico

Jayn Rosenfeld, flauta

Diaphonic Suite no. 2 for Bassoon and Cello
(1930)

16. Freely
17. Andante cantando
18. Con Brio

Susan Heineman, fagote
Maria Kitsopoulos, violoncelo

Three Songs
(Poems of Carl Sandburg)
(1930-32)

19. Rat Riddles
20. Prays of Steel
21. In Tall Grass

Nan Hughes, mezzo-soprano
Marsha Heller, oboé
Erik Charlston, percussão
Cheryl Seltzer, piano
Orchestral Ostinato
Joel Sachs, regência

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Karlheinz

Chiquinha Gonzaga (1847-1935): tangos, choros, polkas, corta-jaca, maxixes… (H. Gomes, C. Sverner, P. Moura) – Semana do Dia Internacional da Mulher

Depois de uma curta vida de casada, Chiquinha se revoltou, fugiu, foi viver independente no seu canto, repudiada por todos, parentes e amigos, que não podiam se conformar com aquella ofensa à moral pública. (…) Foi professora de piano, constituiu um chôro para execução de dansas em casas de família, em que se fazia acompanhar do filhinho mais velho, tocador de cavaquinho, com dez anos de idade.
Francisca Gonzaga compôs 77 obras teatrais e umas duas mil peças avulsas. Quem quiser conhecer a evolução das nossas danças urbanas terá sempre que estudar muito atentamente as obras dela. (Mario de Andrade, em artigo de 1940)

Enquanto a mãe de Chiquinha era uma mulher negra que teria sido alforriada na pia batismal, o pai da compositora era um militar de família tradicional carioca e colocou a filha para ter aulas de piano com o maestro Lobo e apresentou-a a Francisco Manuel da Silva (1795-1865), autor do Hino Nacional e fundador do Conservatório do Rio de Janeiro, atual Escola de Música da UFRJ. A família de José Basileu Gonzaga, aliás, era parente distante de Ernesto Nazareth e de Francisco Manuel da Silva (cujo avô era “Silva Nazareth”) (mais sobre o parentesco aqui).

Mas aos 23 anos, ao separar-se do marido, Chiquinha foi considerada morta por seu pai: seu nome era impronunciável na casa dos Gonzaga e ela não pôde criar seus três filhos. O divórcio era um grande escândalo naquela época e, nas palavras de Chiquinha (citada na biografia de Dalva Lazaroni, p.68), “jamais diga que eu abandonei meu primeito marido; eu fui uma vítima que fugiu do seu torturador”.
Ela passava, então, a dedicar-se profissionalmente à música para sua manutenção econômica: dava aulas de piano, tocava à noite na Lapa e na praça Tiradentes, compôs obras teatrais e outras para os salões brasileiros, mas em alguns casos também impressas e vendidas na Europa. Ou seja, se não fosse a separação de seu marido – repito, um escândalo imenso à época – talvez Chiquinha Gonzaga não tivesse uma vida tão cheia de aventuras e inovações. Ela foi autora da primeira marchinha de Carnaval – Ó Abre alas, de 1899 – e atuou também no chamado “teatro de revista”, que passava “em revista” os acontecimentos políticos e sociais do ano, com humor, ironia e música. Chiquinha também atuou na campanha abolicionista nos anos 1880. Imaginem as reações na época a uma mulher que dava opiniões sobre política e regia orquestras em teatros…

É preciso deixar claro, porém, que Chiquinha Gonzaga, assim como seus contemporâneos Ernesto Nazareth (1863-1934) e Pixinguinha (1897-1973), tiveram uma educação musical formal, mas não tiveram a oportunidade de estudar profundamente orquestração: o instrumento que os dois primeiros conheciam bem era o piano. Se vocês virem alguma obra de Chiquinha ser tocada por orquestra, confiram bem se não se trata de um arranjo mais recente. Por outro lado, em 1932, com mais de 80 anos, Chiquinha publicou um grupo de composições para saxofone e para flauta – reunidas sob o título Alma Brasileira. Essas obras, na maioria já publicadas antes para piano solo, apareciam agora reunidas como “chôros para flauta” e “chôros para saxofone” como explica Edinha Diniz, aqui:

O conjunto compreende três volumes, chamados ‘séries’, contendo dez peças cada, num total de 30 músicas, sendo 20 para sax e dez para flauta. O mais curioso é a designação choro para essas músicas impressas, uma vez que elas foram antes  concebidas, e algumas até publicadas, para piano, como ‘polcas’, ‘habaneras’ e ‘tangos’. Por que somente na década de 1930 uma compositora que estreou em 1877, e que sempre fora ligada às rodas de choro, atuando inclusive como pianista do conjunto Choro Carioca, liderado pelo compositor e flautista Joaquim Antonio Callado, usaria pela primeira vez a designação choro em sua obra impressa? Por que não antes?
Sabemos que a palavra choro designou, na década de 1870, o conjunto musical Choro Carioca, liderado pelo citado flautista Callado e, por extensão, os conjuntos instrumentais responsáveis pelo abrasileiramento das técnicas de execução dos instrumentos europeus. Em sua formação original, o choro era um grupo musical constituído de uma flauta, um cavaquinho e dois violões, com predominância de um solista. […] Somente mais tarde, o original estilo interpretativo dos gêneros musicais importados tornou-se ele próprio um gênero.

Joaquim Callado (1848-1880) dedicou a Chiquinha sua composição “Querida por todos”, gravada no disco abaixo, de Hercules Gomes. Hercules é um pianista que mistura os clássicos e os populares, tomando certas liberdades interpretativas que provavelmente seriam aprovadas nas rodas de choro de Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga, pixinguinha e Villa-Lobos. Já o outro disco, gravado por Paulo Moura e Clara Sverner, traz gravações mais sóbrias, fiéis aos textos e que parecem querer mostrar o quanto toda essa música é não somente dançante e alegre mas também sofisticada.

No tempo da Chiquinha
1. Gaúcho (O Corta-jaca) (Chiquinha Gonzaga)
2. Água do Vintém (Chiquinha Gonzaga)
3. Cintilante (Chiquinha Gonzaga)
4. Querida por Todos (J. Callado)
5. Cananéa (Chiquinha Gonzaga)
6. Atraente (Chiquinha Gonzaga)
7. Machuca!… (Chiquinha Gonzaga, Patrocínio Filho)
8. Não Se Impressione (forrobodó de Massada) (Chiquinha Gonzaga, Carlos Bettencourt/Luiz Peixoto)
9. Santa (Chiquinha Gonzaga)
10. Argentina (Xi) (Chiquinha Gonzaga)
11. No Tempo da Chiquinha (Laércio de Freitas)
12. Walkyria (Chiquinha Gonzaga)
13. Biónne (adeus) (Chiquinha Gonzaga)
Hercules Gomes – piano
Convidados: Rodrigo Y Castro (flauta) e Vanessa Moreno (voz)
Recorded: Estúdio Arsis, São Paulo, Brasil, fev/2018

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – No tempo da Chiquinha (2018)

Vou Vivendo
1 Vou Vivendo (Benedito Lacerda, Pixinguinha)
2 Lamento (Pixinguinha)
3 Ingênuo (Benedito Lacerda, Pixinguinha)
4 Atraente (Chiquinha Gonzaga)
5 Amapá (Chiquinha Gonzaga)
6 Io T’Amo (Chiquinha Gonzaga)
7 Monotonia (Radamés Gnattali)
8 Samba-Canção (Radamés Gnattali)
9 Devaneio (Radamés Gnattali)
10 Fantasia (Ronaldo Miranda)

Clara Sverner – piano
Paulo Moura – saxofone
Recorded: Escola Nacional de Música, Rio de Janeiro, Brasil, jan/1986

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Vou Vivendo (1986)

PS: Todas as fotos desta postagem mostram a rua Riachuelo, onde Chiquinha Gonzaga viveu boa parte de sua vida. Antes chamada rua de Matacavallos, ela vai dos Arcos da Lapa até perto do Campo de Santana e Igreja de Santana, onde Chiquinha se casou aos 15 anos de idade (igreja demolida para a construção da Central do Brasil e Av. Pres. Vargas). Na rua de Mata-Cavallos também moraram Dom Casmurro e Capitu, Villa-Lobos e Pixinguinha. Em 1865 a rua recebeu o nome de Riachuelo em homenagem a uma batalha naval na nojenta guerra em que brasileiros e aliados massacraram homens, mulheres e crianças paraguaias. As fotos são respectivamente de 1915, 1928, 1958 e 1965. Ao fundo, na penúltima foto, vê-se o alto prédio da Mesbla, próximo da Cinelândia, inaugurado em 1934, quando Chiquinha ainda era viva.

Fui, cheguei aos Arcos, entrei na rua de Matacavallos. A casa não era logo alli, mas muito além da dos Invalidos, perto da do Senado.
(Machado de Assis – Dom Casmurro – grafia original)

Pleyel

.: interlúdio :. Ira Kaspi – You And The Night And The Music – Semana do Dia Internacional da Mulher

.: interlúdio :. Ira Kaspi – You And The Night And The Music – Semana do Dia Internacional da Mulher

Ira Kaspi é uma cantora finlandesa nascida em 1964. Não há novidades em sua música, é o velho, bom e elegante disco de jazz de cantora + uma competente banda de jazz + cordas. Os solos são dela, do pianista e do saxofonista. Mas como são bons esses finlandeses! Talvez a única surpresa seja o fato de tratar-se de canções autorais, quase todas compostas pelo grupo, mas sempre dentro daquele estilo fora de uma época determinada — quero dizer, são atemporais desde os anos 50… You and the Night and the Music é o 7º álbum de Ira. Suas gravações anteriores incluem álbuns em duo e um outro CD com suas próprias canções de jazz influenciadas pelo pop. Este aqui apresenta o quinteto Ira`s Jazz Diva Band e a Lohja City Symphonic Orchestra. Gostei de tudo, mas me entusiasmei especialmente por duas canções mais agitadas: Call Me Irresponsible e The Best Is Yet to Be Coming.

Ira Kaspi – You And The Night And The Music

1 Don’t Go To Strangers
Lyrics By – Redd Evans
Music By – Arthur Kent, Dave Mason*
4:36

2 You And The Night And The Music
Lyrics By – Howard Dietz
Music By – Arthur Schwartz
6:15

3 How Do You Keep Up The Light
Lyrics By – Ira Kaspi
Music By – Ape Anttila
3:50

4 Someday My Prince Will Come
Lyrics By – Larry Morey
Music By – Frank Churchill
4:35

5 The Gentle Rain
Lyrics By – Matt Dubey
Music By – Luiz Bonfa*
4:24

6 Call Me Irresponsible
Lyrics By – Sammy Kahn*
Music By – Jimmy Van Heusen
5:06

7 The Good Life
Lyrics By – Jack Reardon
Music By – Alexander Distel*
3:08

8 That Old Devil Called Love
Lyrics By – Doris Fisher
Music By – Allan Roberts
5:07

9 In The Wee Small Hours Of The Morning
Lyrics By – Bob Hilliard
Music By – David Mann (3)
4:28

10 The Best Is Yet to Be Coming
Lyrics By – Ira Kaspi
Music By – Ape Anttila
3:30

Arranged By – Ape Anttila, Mikko Hassinen
Bass Guitar, Percussion – Ape Anttila
Conductor – Esa Heikkilä
Drums – Markku Ounaskari
Orchestra – Lohja City Orchestra*
Orchestrated By – Mikko Hassinen
Piano – Mikael Jakobsson
Recorded By [Vocals] – Ape Anttila
Tenor Saxophone – Jussi Kannaste
Vocals – Ira Kaspi

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Kaspi ficou feliz ao saber de sua estreia no melhor e mais tradicional blog de música brasileiro.

PQP

Diversos Compositores – Antologia de Intérpretes Femininas – Semana do Dia Internacional da Mulher

Diversos Compositores – Antologia de Intérpretes Femininas – Semana do Dia Internacional da Mulher

Ji Su Jung, percussionista

Marin Alsop, regente

Maria João Pires, pianista

Gina Bachauer, pianista

 

Nesta postagem especial preparada para homenagear as mulheres nesta semana do Dia Universal da Mulher, escolhi algumas excelentes intérpretes que representam a enorme e inestimável contribuição delas para a música.

Ji Su Jung

Começamos nosso programa com o Concerto para Marimba, escrito pelo jovem compositor norte-americano Kevin Puts. A solista chama-se Ji Su Jung, que foi a primeira percussionista a ganhar a prestigiosa bolsa Avery Fisher Career Grant. Formada pelo Peabody Institute, da Johns Hopkins University, e pela Yale School of Music, Ji Su Jung é agora uma solista requisitada universalmente e professora do Curtis Institute of Music e do Peabody Institute.

Marin Alsop

Sobre o Concerto, o compositor explicou como surgiu a inspiração: A melodia da abertura do Concerto foi provavelmente inspirada quando ouvi o aquecimento de um pianista no placo do Teatro Eastman enquanto por lá passava a caminho da aula. A tonalidade de mi bemol maior sempre me foi muito próxima devido à sua riqueza e também por aparecer com frequência nas obras de Mozart, em particular em dois de seus concertos para piano, que de certa forma serviram como modelo para a minha peça.

Ji Su Jung é acompanhada pela Baltimore Symphony Orchestra, regida pela maestrina Marin Alsop, que foi uma das primeiras a interpretar as obras de Kevin Puts.

M-J Pires

Como eu gosto muito de ouvir o piano, na sequência teremos uma linda Sonata de Schubert interpretada pela maravilhosa pianista Maria João Pires.

Com uma carreira longa e de excelente qualidade, passou pelas gravadoras Denon e Erato e tem sido uma das estrelas do selo amarelo, Deutsche Grammophon. Esta sonata de Schubert é uma das mais belas e faz parte de um lançamento que reúne algumas obras de Schubert gravadas por Maria João Pires.

Gina Bachauer

Para a última etapa da nossa compilação escolhi uma artista que chamou a atenção exatamente por desempenhar um papel que estava quase exclusivamente dominado por homens, interpretando grandes concertos para piano, como o Concerto em si bemol maior, de Brahms, o Concerto de Grieg, Concerto em mi bemol maior de Liszt e o Concerto em si bemol maior, de Tchaikovsky. Gina Bachauer nasceu em Atenas, de pais estrangeiros, e iniciou sua carreira na Grécia. Estudou em Paris com Alfred Cortot e nos anos 1930 trabalhou na França e na Suíça com Rachmaninov em seus Concertos para Piano. Ela tornou-se uma expoente nestes concertos, especialmente no de No. 3. Suas gravações para o selo Mercury são bastante conhecidas. Aqui podemos ouvir suas interpretações de algumas peças solo de Debussy e atuando como solista de um concerto de Mozart. A orquestra da gravação foi fundada pelo seu regente, Alec Sherman que foi o segundo marido de Gina Bachauer.

Kevin Puts (Nascido em 1972)

Concerto para Marimba (1997, ver. 2021)

  1. Flowing
  2. Broad and deliberate
  3. With energy

Ji Su Jung, marimba

Baltimore Symphony Orchestra

Marin Alsop

Franz Schubert (1757 – 1828)

Sonata para piano em lá maior, D. 664

  1. Allegro moderato
  2. Andante
  3. Allegro

Maria João Pires, piano

Claude Debussy (1862 – 1918)

Pour le piano

  1. Prélude
  2. Sarabande
  3. Toccata

Prelúdios

  1. La cathédrale engloutie
  2. Bruyères
  3. Danseuses de Delphes

Gina Bachauer, piano

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Concerto para piano No. 17 em dó maior, K. 453

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Allegretto

Gina Bachauer, piano

London Orchestra

Alec Sherman

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 268 MB

Maria-João Pires

Viva as mulheres!

Ji Su Jung

Sofia Gubaidúlina (n. 1931): Quinteto com piano / Introitus (Concerto para piano) / Dançando na corda bamba – Semana do Dia Internacional da Mulher

A esperança
dança
na corda bamba de sombrinha
e em cada passo dessa linha
pode se machucar
(Aldir Blanc / João Bosco)

Se a metáfora da esperança equilibrista foi lembrada pelos dois sambistas brasileiros no tempo da Anistia e de fim de uma ditadura (embora fim lento, gradual e com sigilo), a mesma metáfora ocorreu a Sofia Gubaidúlina logo após se mudar para a Alemanha, saindo de uma Moscou em colapso. Nas palavras da compositora, o título da obra Dancer on a tightrope se relaciona com um

desejo de se livrar das amarras da vida cotidiana. O desejo de voar pelo prazer do movimento, da dança e da virtuosidade estática. Um dançarino na corda-bamba é também uma metáfora para esta oposição: a vida como risco, e a arte como fuga para uma outra existência. O que me interessou nesta peça foi criar as circunstâncias para o jogo de contrastes no qual o ritmo preciso da dança do violino triunfa sobre o curso movimentado da parte para piano.

Os materiais usados por um dos grandes pianistas em atividade para tocar Gubaidúlina

Por exemplo, esse contraste é obtido pela deformação do ritmo ao se tocar sobre as cordas do piano com um cálice de vidro; pela gradual transformação destes sons harmônicos transparentes em fortissimo agressivo do cálice sobre as cordas graves do piano; pelo som ameaçador desse ritmo quando tocado pelo pianista que utiliza um dedal de costura de metal e, finalmente – o evento principal na forma da peça – pela passagem do pianista das cordas para o teclado. Todos esses eventos são dominados pelo violinista em uma dança extática.

O violinista Gidon Kremer foi importante na carreira de Gubaidúlina ao divulgar seu 1º concerto para violino e outras obras por todo o mundo. O 2º concerto para violino seria estreado em 2007 por Anne-Sophie Mutter. Kremer aparece neste disco de hoje da gravadora BIS, junto com pianistas não tão famosos como ele ou Mutter.

O concerto “Introitus” já foi postado e comentado por este mesmo Pleyel em 2018. Sigo com a opinião de que, junto com os não-concertos de Messiaen, são as melhores obras para piano e orquestra da segunda metade do século XX.

E o quinteto composto em 1957, quando Gubaidúlina era uma estudante em Moscou, me parece obra de alguém ainda com uma voz menos própria, mas parecida com a de Shostakovich e outros russos, mas enganos sempre são possíveis nesses juízos de valor.

Sofia Gubaidúlina (n. 1931):
1-4. Piano quintet (1957)
5. “Introitus” – Piano Concerto (1978)
6. Dancer on a tightrope (1993)

R. Aizawa, K. Vogler, M. Wang, U. Eichenauer, P. Bruns (1-4); B. Rauchs, Kyiv Chamber Players, V. Kozhukhar (5); G. Kremer, V. Sakharov (6). Recorded: 1995-1997

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320kbps

Gidon Kremer relaxa após passar pela corda-bamba sem sombrinha, com violino

Pleyel

Guiomar Novaes: transcrições & miniaturas, de Bach e Gluck a Villa-Lobos (+ a Fantasia Triunfal de Gottschalk)

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 11/5/2010.

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio com obras do gênio brasileiro, pelos motivos expostos AQUI


À medida em que avança a aventura de redescoberta de Guiomar Novaes, iniciada aqui há duas semanas, começo a ter a impressão de que seu legado de gravações é um tanto desigual: algumas são realizações gigantescas, cuja importância se percebe com absoluta certeza de modo intuitivo, mas alcança tão longe que temos dificuldade de explicar em palavras (do que ouvi até agora, é o caso das suas realizações de Chopin, especialmente os Noturnos); já outras são, digamos, meramente grandes…

Temos aqui as 7 peças curtas retiradas do CD Beethoven-Klemperer postado há alguns dias, mais o disco só de peças brasileiras (com certo desconto para Gottschalk) lançado em 1974 pela Fermata – creio que o seu último.

As primeiras parecem ter se firmado em sua carreira como standards no tempo dos discos de 78 rotações, que só comportavam peças curtas. Hoje qualquer pianista “sério” franziria o nariz pra esse repertório: “transcrições de concerto” de um prelúdio para órgão de Bach e de trechos orquestrais de Gluck e Beethoven. Ao que parece, no começo do século XX o fato de serem coisas agradáveis de ouvir ainda era tido como justificativa bastante para tocá-las.

Mas o que mais me surpreendeu foi à abordagem às 3 peças originais de Brahms: nada da solenidade que se costuma associar a esse nome; sem-cerimônia pura! Como também nos movimentos rápidos do Concerto de Beethoven com Klemperer, tenho a impressão de ver uma “moleca” divertindo-se a valer, e me pergunto se não é verdade o que encontrei em uma ou duas fontes: que a menina Guiomar teria sido vizinha de Monteiro Lobato, e este teria criado a personagem Narizinho inspirado nela!

Também me chamou atenção que Guiomar declarasse que sua mãe, que só tocava em casa, teria sido melhor pianista que ela mesma, e que tenha escolhido por marido um engenheiro que também tocava piano e compunha pequenas peças: Otávio Pinto. Casaram-se em 1922, ano de sua participação na Semana de Arte Moderna, ela com 27, ele com 32. Guiomar nunca deixou de tocar peças do marido em recitais mundo afora – nada de excepcional, mas também não inferiores a tantos standards do repertório europeu – e ainda no disco lançado aos 79 anos encontramos as Cenas Infantis do marido, além de uma peça do cunhado Arnaldo (Pregão).

Dados sem importância? Não me parece. Parecem apontar para que a própria Guiomar visse as raízes últimas da sua arte não no mundo acadêmico, “conservatorial”, e sim numa tradição brasileira hoje extinta: a (como dizem os alemães) Hausmusik praticada nas casas senhoriais e pequeno-senhoriais, paralela à arte mais de rua dos chorões, mas não sem interações com esta. Aliás, podem me chamar de maluco, mas juro que tive a impressão de ouvir evocações de festa do interior brasileiro – até de sanfona! – tanto no Capricho de Saint-Saëns sobre “árias de balé” de Gluck quanto no Capricho de Brahms.

Será, então, que podemos entender Guiomar como uma espécie de apoteose (= elevação ao nível divino) da tradição das “sinhazinhas pianeiras”? Terá ela querido conscientemente levar ao mundo clássico um jeito brasileiro de abordar a música?

E terá sido ao mesmo tempo um “canto de cisne” dessa tradição, ou terá tido algum tipo de herdeiro? Não sei, mas se alguém me vem à cabeça na esteira dessa hipótese, certamente não é o fino Nelson Freire e sim o controverso João Carlos Martins!

Para terminar: a vida inteira Guiomar insistiu em terminar programas com a ‘famigerada’ Fantasia Triunfal de Gottschalk sobre o Hino Brasileiro, que, honestamente, não chega a ser grande música. Acontece que, segundo uma das biografias, logo ao chegar a Paris, com 15 anos, Guiomar teria sido chamada pela exilada Princesa Isabel – ela mesma pianista – e teria recebido dela o pedido de que mantivesse essa peça sempre no seu repertório. E, curioso, ainda ontem o Avicenna postava aqui duas peças de Gottschalk como músico da corte de D. Pedro II (veja AQUI).

Será que isso traz água ao moinho da hipótese de Guiomar como apoteose e canto-de-cisne de um determinado Brasil? Bom, vamos ouvir música, e depois vocês contam as suas impressões!

Pasta 1: faixas adicionais do CD “Guiomar-Beethoven-Klemperer”
04 J. S. Bach (arr. Silotti) – Prelúdio para Órgão em Sol m, BWV 535
05 C. W. Gluck (arr. Sgambati e Friedman) – Danças dos Espíritos Bem-Aventurados, de “Orfeo”
06 C. Saint-Saëns: Caprice sur des airs de ballet de “Alceste”, de Gluck
07 J. Brahms – Intermezzo op.117 nº 2
08 J. Brahms – Capriccio op.76 nº 2
09 J. Brahms – Valsa em La bemol, op.39 nº 15
10 L. van Beethoven (arr. Anton Rubinstein) – Marcha Turca das “Ruínas de Atenas”

. . . . BAIXE AQUI – download here 

Pasta 2: disco “Guiomar Novaes”, Fermata, 1974
a1 Francisco Mignone – Velho Tema (dos Estudos Transcedentais)
a2 Otávio Pinto – Cenas Infantis
a3 Marlos Nobre – Samba Matuto (do Ciclo Nordestino)
a4 Arnaldo Ribeiro Pinto – Pregão (de Imagens Perdidas)
a5 J. Souza Lima – Improvisação
a6 M. Camargo Guarnieri – Ponteio
b1 H. Villa-Lobos – Da Prole do Bebê: Branquinha, Moreninha
b2 H. Villa-Lobos – O Ginete do Pierrozinho (do Carnaval das Criancas)
b3 H. Villa-Lobos – Do Guia Prático: Manda Tiro, Tiro, Lá; Pirulito; Rosa Amarela; Garibaldi foi a Missa
b4 L. M. Gottschalk – Grande Fantasie Triomphale sur l’Hymne National Brésilien Op. 69

. . . . BAIXE AQUI – download here 

Ranulfus

[restaurado com reverência e saudade por seu amigo Vassily em 4/3/2023]

Nelson com Guiomar Novaes. Foto do acervo particular de Nelson Freire, publicada pelo sensacional Instituto Piano Brasileiro

Rachmaninov (1873 – 1943) • Scriabin (1872 – 1915) • Ligeti (1923 – 2006) • Prokofiev (1891 – 1953): Yuja Wang – Recital de Berlim (2018) • PQP-Originals ֍

Rachmaninov (1873 – 1943) • Scriabin (1872 – 1915) • Ligeti (1923 – 2006) • Prokofiev (1891 – 1953): Yuja Wang – Recital de Berlim (2018) •  PQP-Originals ֍

Rachmaninov • Scriabin

Ligeti • Prokofiev

Peças para Piano

Yuja Wang

 

 

Sergei Rachmaninov (1873 – 1943)

150 anos de nascimento

&

György Ligeti (1923 – 2006)

100 anos de nascimento

O pessoal do PQP Bach Pâtisserie Gourmet caprichou no bolo do Ligeti!

Mais uma postagem comemorativa, agora com dois homenageados! Para prestar essa homenagem trazemos a reedição de uma postagem feita pelo PQP Bach em 2020 – o Recital de Berlim de Yuja Wang (2018).

Yuja Wang é uma pianista sensacional e coloca aqui toda a sua arte a brilhar em um programa que demanda certa atenção do ouvinte, pois foge do óbvio.

Aqui está o texto da postagem original e o selo da série PQP-Originals:

 

Yuja Wang e Khatia Buniatishvili são livres para se vestirem como quiserem. É justo. Mas boa parte do público as conhece mais através das pernas de uma e dos seios e costas da outra do que por suas qualidades musicais. É injusto. Wang é efetivamente uma tremenda pianista, mas creio que o mesmo não se possa dizer de Buniatishvili, uma instrumentista que aposta apenas na emoção. Para comprovar o que digo, este CD da DG venceu vários prêmios de melhor disco eruditosolo de 2019. Isto é, Wang merece ser ouvida. O Ligeti e o Prokofiev dela são sensacionais. Já Rachmaninov e Scriabin são compositores tão estranhos a meu gosto que não vou falar. A 8ª Sonata de Prokofiev é notavelmente interpretada. Como Sviatoslav Richter, ela consegue integrar o poder e o lirismo que caracterizam os longos movimentos externos. Ao manter o Andante sognando estável, elegante e discreto, os toques expressivos de Wang tornam-se ainda mais significativos. Dos três Estudos de Ligeti, o Vertige é o melhor, e raramente soou tão suave e transparente.

Decidi fortalecer o pacote adicionando ao arquivo musical mais dois Estudos de Ligeti e uma outra Sonata para Piano de Scriabin, que fazem parte de um outro disco de Yuja Wang, chamado Sonatas e Estudos, postado também pelo PQP Bach, em 2016.

Assim temos um pacote com peças bastante representativas dos dois homenageados que certamente lhe abrirão o apetite por mais e umas sonatas para piano de dois conterrâneos e bem conhecidos de Rachmaninov. As Sonatas de Scriabin estão espetaculares e a interpretação da Sonata de Prokofiev foi elogiada pelo PQP Bach!

Sergei Rachmaninov (1873 – 1943)

  1. Prelude Op. 23 No. 5 em sol menor
  2. Etude-Tableaux, Op. 39, No. 1 em dó menor
  3. Étude-Tableaux, Op. 33, No. 3 em dó menor
  4. Prelude Op. 32 No. 10 em si menor

Alexander Scriabin (1872 – 1915)

  1. Sonata para Piano No. 10, Op. 70

György Ligeti (1923 – 2006)

Études Pour Piano

  1. No. 3 “Touches bloquées”
  2. No. 9 “Vertige”
  3. No. 1 “Désordre”
  4. No. 4 “Fanfares” (Faixa Extra)
  5. No. 10 “Der Zauberlehrling” (Faixa Extra)

Alexander Scriabin (1872 – 1915)

Sonata para Piano No. 2 em sol sustenido menor “Sonate-Fantasie”

  1. Andante (Faixa Extra)
  2. Presto (Faixa Extra)

Sergei Prokofiev (1891 – 1953)

Piano Sonata No. 8 in B flat major, Op. 84

  1. Andante dolce
  2. Andante sognando
  3. Vivace

Yuja Wang, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 307 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 215 MB

As peças de Rachamaninov são dois famosos Prelúdios, peças com as quais ele ganhou a atenção do mundo musical bem no início da carreira, além de dois Estudos-Tableau. Ou seja, estudos, mas que também contam uma história. Eu sempre tomo como referência algumas das peças de Mussorgsky, que compõem a suíte Quadros de Uma Exposição.

Aproveite!

Luminosa!

As postagens originais:

Chopin · Scriabin · Liszt · Ligeti: Sonatas para Piano e Estudos

Rachmaninov / Scriabin / Ligeti / Prokofiev: The Berlin Recital (Yuja Wang)

PQP Bach Quizz: Qual ator você escolheria para fazer o papel de György Ligeti?

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Two-Part Inventions and Three-Part Sinfonias (Inventions) – BWV 772-801 (Gould)

MAIS UMA GRAVAÇÃO COM O SELO IMPERDÍVEL DE QUALIDADE DO PQPBACH !! 

No dia de seu aniversário, FDPBach lembra um de seus ídolos em se tratando de Bach, o imenso Glenn Gould. Uma gravação incrível, que, mesmo depois de sessenta anos de seu lançamento, mantém sua atualidade e reforça ainda mais a importância deste incrível pianista.

Em outra postagem, já discorremos sobre Glenn Gould, com direito a um belo artigo de Milton Ribeiro para ilustrar. Nossa querida Clara Schumann também já fez sua postagem deste genial pianista canadense.

FDP Bach então, resolveu cumprir sua parte. E ela será em duas etapas. Nesta primeira, serão as gravações das Invenções para duas e três vozes, além das sinfonias para duas e três vozes. Trata-se de obra fundamental no repertório de nosso pai, e nas mãos de um de seus principais intérpretes, Glenn Gould. Trata-se de obra densa, de extrema complexidade, porém extremamente rica em suas possibilidades, e executada com maestria, e com a competência única e habitual do genial Gould.

Two-Part Inventions and Three-Part Sinfonias (Inventions) BWV 772-801

01 – Inventio 1 in C Major (BWV 772)
02 – Sinfonia 1 in C Major (BWV 787)
03 – Inventio 2 in C Minor (BWV 773)
04 – Sinfonia 2 in C Minor (BWV 788)
05 – Inventio 5 in E-flat Major (BWV 776)
06 – Sinfonia 5 in E-flat Major (BWV 791)
07 – Inventio 14 in B-flat Major (BWV 785)
08 – Sinfonia 14 in B-flat Major (BWV 800)
09 – Inventio 11 in G Minor (BWV 782)
10 – Sinfonia 11 in G Minor (BWV 797)
11 – Inventio 10 in G Major (BWV 781)
12 – Sinfonia 10 in G Major (BWV 796)
13 – Inventio 15 in B Minor (BWV 786)
14 – Sinfonia 15 in B Minor (BWV 801)
15 – Inventio 7 in E Minor (BWV 778)
16 – Sinfonia 7 in E Minor (BWV 793)
17 – Inventio 6 in E Major (BWV 777)
18 – Sinfonia 6 in E Major (BWV 792)
19 – Inventio 13 in A Minor (BWV 784)
20 – Sinfonia 13 in A Minor (BWV 799)
21 – Inventio 12 in A Major (BWV 783)
22 – Sinfonia 12 in A Major (BWV 798)
23 – Inventio 3 in D Major (BWV 774)
24 – Sinfonia 3 in D Major (BWV 789)
25 – Inventio 4 in D Minor (BWV 775)
26 – Sinfonia 4 in D Minor (BWV 790)
27 – Inventio 8 in F Major (BWV 779)
28 – Sinfonia 8 in F Major (BWV 794)
29 – Inventio 9 in F Minor (BWV 780)
30 – Sinfonia 9 in F Minor (BWV 795)

Glenn Gould – Piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FDP

Olivier Messiaen (1908-1992): Turangalîla-Symphonie – Wiener Philharmoniker, Esa-Pekka Salonen; Yuja Wang

Iniciamos o mês dedicado às mulheres com uma pianista que arrasta multidões em todos os países por onde passa. Yuja Wang já apareceu neste blog quando era um jovem talento promissor, apareceu depois, ainda jovem mas já mais experiente, fazendo música de câmara. Hoje trazemos uma obra que ela ainda não gravou em disco, mas já apresentou dezenas de vezes com grandes maestros como Dudamel e Salonen: a Turangalîla-Symphonie de Messiaen. A gravação, em alta qualidade, é proveniente da transmissão ao vivo do Festival de Salzburg (2022).

Messiaen e Yvonne Loriod em 1952 (entre eles, um aluno metido olhando pra câmera: K. Stockhausen aos 24 anos)

Estreada em 1949, essa sinfonia em dez movimentos curtos tem uma parte importante e difícil para piano, inspirada em uma outra grande pianista, Yvonne Loriod, com quem Messiaen iria se casar apenas uns dez anos depois. Ele explicava que, desde que conheceu Loriod durante a 2ª Guerra, ele sabia que podia escrever “as maiores excentricidades” para piano, sabendo que ela iria dar conta. Sobre a Turangalîla, o compositor afirmou que esta obra tinha uma parte para piano bastante desenvolvida, “destinada a ‘diamantear’ a orquestra com linhas brilhantes, cachos de acordes [1], cantos de pássaros, o que faz da obra quase um concerto para piano e orquestra”. Ênfase no quase, pois Messiaen não compôs nenhum concerto nos moldes tradicionais, e nenhuma outra sinfonia em quatro movimentos: ele preferia formas inovadoras como esta sinfonia em 10 movimentos. Importante notar ainda que as partes para cordas soam espantosamente brilhantes com a Filarmônica de Viena. Esse legato agudo de violinos e violas não é uma constante em Messiaen: nas obras orquestrais seguintes – Réveil des oiseaux (1953), Oiseaux exotiques (1956) – ele usaria uma orquestra sem cordas e o brilho ficaria com as madeiras e com os “diamantes pianísticos”

[1] Messiaen falava em “cachos de acordes” no piano como quem fala em cachos de bananas ou de uvas. A citação é do livro “Messiaen” publicado em 1957 por Claude Rostand: Turangalîla-Symphonie est surtout une partition frappante par sa conception et sa réalisation sonore. […] des jeux de timbres, célestas et vibraphones rappelant les gamelang indous; une batterie extrêmement riches; une onde Martenot pour les effets expressifs; une partie de piano solo très développée, très difficile, “destinée à diamanter l’orchestre de traits brillants, de grappes d’accords, de chants d’oiseaux et qui en fait presque un concerto pour piano et orchestre”

Olivier Messiaen (1908-1992): Turangalîla-Symphonie
1 Introduction. Modéré, un peu vif
2 Chant d’amour Nr.1: Modéré, lourd
3 Turangalîla Nr.1: Presque lent, reveur
4 Chant d’amour Nr.2: Bien modéré
5 Joie du sang des étoiles. Vif, passionné, avec joie
6 Jardin du sommeil d’amour. Très modéré, très tendre
7 Turangalîla Nr.2: Un peu vif
8 Développement de l’amour: Bien modéré
9 Turangalîla Nr.3: Bien modéré
10 Final: Modéré, presque vif, avec une grande joie

Wiener Philharmoniker, Esa-Pekka Salonen (conductor)
Yuja Wang – piano
26 August 2022 im Großes Festspielhaus Salzburg

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – flac
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320kbps

Ensaio de Yuja com a Filarmônica de Viena

Pleyel

Béla Bartók (1881-1945): The Piano Concertos (Bavouzet / Noseda / BBC)

Béla Bartók (1881-1945): The Piano Concertos (Bavouzet / Noseda / BBC)

Sim, eu sei o que o mano PQP vai dizer: nunca houve uma gravação dos concertos para piano como a que Géza Anda realizou ainda nos anos 60, com o Férenc Fricsay. Mas o genial pianista húngaro já morreu há bastante tempo, assim como o fantástico maestro húngaro, e neste meio tempo nasceu Jean-Efflam Bavouzet, este excelente pianista francês, um de meus favoritos da atualidade. Lembram de seu Debussy e de seu Ravel que postei ano passado? Aqui, Bavouzet encara os três petardos bartokianos com maestria, perícia, e tranquilidade. Coisa de gente grande, que sabe o que faz. Para ouvir, sugiro pararem de fazer o que estiverem fazendo e prestarem atenção, e depois me digam se o rapaz não é bom mesmo. Enquanto escrevo este texto, e ouço este excelente CD, meu vizinho ouve uma música eletrônica horrível, possivelmente para irritar os vizinhos antes de ir para as baladas de sexta feira à noite, e também para mostrar que o equipamento de som dele é melhor que o meu, e provavelmente o é. Mas deixemos ele de lado… cada um sabe a dor e a delícia de ser o que se é, como dizia o poeta. E fiquemos com o Béla. Divirtam-se.

Béla Bartók (1881-1945): The Piano Concertos (Bavouzet / Noseda / BBC)

01. Béla Bartók – Piano Concerto No.1, BB 91 – I Allegro moderato
02. Béla Bartók – Piano Concerto No.1, BB 91 – II Andante
03. Béla Bartók – Piano Concerto No.1, BB 91 – III Allegro

04. Béla Bartók – Piano Concerto No.2, BB 101 – I Allegro
05. Béla Bartók – Piano Concerto No.2, BB 101 – II Adagio – Presto – Adagio
06. Béla Bartók – Piano Concerto No.2, BB 101 – III Allegro molto

07. Béla Bartók – Piano Concerto No.3, BB 127 – I Allegretto
08. Béla Bartók – Piano Concerto No.3, BB 127 – II Adagio religioso
09. Béla Bartók – Piano Concerto No.3, BB 127 – III [Allegro vivace]

Jean-Efflam Bavouzet – Piano
BBC Philharmonic
Gianandrea Noseda – Conductor

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Bavouzet durante uma live com os gaúchos do PQP Bach. É que ele quer fazer uma churrasqueira naquela janela ali atrás.

FDP & PQP

Homenagem a Paulo Moura, sax (1933-2010): ConSertão, com Elomar (violão e voz), Moreira Lima (piano e cravo) e Heraldo do Monte (viola brasileira)

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 13/7/2010.

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio que envolvam o gênio brasileiro pelos motivos expostos AQUI

Embora pessoalmente eu prefira uma outra abordagem do sax (como vocês verão daqui a uns dias), nunca pude deixar de tirar o chapéu para o trabalho do Paulo Moura – que precisamente neste álbum mostra seu fôlego para se estender para além da música da noite urbana (faixas 8, 9, 11, 12), também pelo hierático neo-trovadorismo do arquiteto baiano re-sertanejado Elomar (faixas 1, 2, 3, 4, 13 – especialmente a 4).

Mas Paulo Moura faleceu ontem (12/07/2010) à noite, não é hora de falar.
Deixo vocês com a música.

ConSertão – um passeio musical pelo Brasil
Elomar (composições, violão, voz), Arthur Moreira Lima (piano, cravo),
Heraldo do Monte (viola brasileira, violão elétrico),
Paulo Moura (sax soprano, sopranino e alto)
Participações de Paulo Moura assinaladas com *
Gravadora Kuarup, 1982

01 Estrela maga dos ciganos / Noite de Santos Reis (Elomar)*
02 Na estrada das areias de ouro (Elomar)*
03 Campo branco (Elomar)*
04 Incelença pra terra que o sol matou (Elomar)*
05 Trabalhadores na destoca (Elomar)
06 Pau de arara (Luís Gonzaga)
07 Festa no sertão (Villa-Lobos)
08 Valsa da Dor (Villa-Lobos)*
09 Lenínia (Codó)*
10 Valsa de Esquina nº 12 (F. Mignone)
11 Espinha de bacalhau (Severino Araújo)*
12 Pedacinhos do céu (Waldir Azevedo)*
13 Corban (Elomar)*

. . . . . BAIXE AQUI – download here

Ranulfus

[reverentemente restaurado por Vassily em 27/2/2023]

Handel (1685-1759) & Brahms (1833-1897): O Projeto Handel (Peças para Piano) – Seong-Jin Cho ֍

Handel (1685-1759) & Brahms (1833-1897): O Projeto Handel (Peças para Piano) – Seong-Jin Cho ֍

Handel

3 Suítes Grandes

Brahms

Variações Handel

Seong-Jin Cho, piano

 

A ideia não é nova – András Schiff gravou um disco para a TELDEC em 1994 reunindo peças de Handel, Brahms e Reger. Confesso que não lembro da peça de Max Reger, mas certamente me lembro das peças de Handel e Brahms.

Seong-Jin Cho

A reverência de certos compositores para com mestres do passado quase sempre resulta em boa música. Ravel é um desses e Stravinsky, a seu modo, também. Foi com essa perspectiva que abordei esse disco que achei excelente. Três suítes de Handel, incluindo aquela que termina com variações e fuga – O Ferreiro Harmonioso – seguidas das Variações e Fuga sobre um tema de Handel, de Brahms. Como bônus, a título de encores, mais uma peça de Handel e um arranjo do venerando Wilhelm Kempff.

Outro grande pianista que dedicou parte de um álbum a música de Handel é Murray Perahia. O paralelo não termina aqui. Após anos de dedicação à música dos períodos clássico e romântico, Perahia que passava por um período afastado do piano devido à uma lesão, mergulhou na música do período barroco – Handel, Scarlatti e Bach – e em seu retorno à atividade ganhamos alguns ótimos discos. Felizmente Seong-Jin Cho não precisou se machucar para encontrar na música para teclado do período barroco novos estímulos para sua arte.

George Handel (1685–1759)

Suíte No. 2 em fá maior HWV 427

  1. Adagio
  2. Allegro
  3. Adagio
  4. Allegro [Fugue]

Suíte No. 8 em fá menor HWV 433

  1. Prélude
  2. Allegro [Fugue]
  3. Allemande
  4. Courante
  5. Gigue

Suíte No. 5 em mi maior HWV 430

  1. Prélude
  2. Allemande
  3. Courante
  4. Air – Double I–V [Air com 5 Variações “The Harmonious Blacksmith”]

Johannes Brahms (1833–1897)

  1. Variações e Fuga sobre um Tema de Handel em si bemol maior op. 24

George Handel (1685–1759)

  1. Sarabande em si bemol maior HWV 440/3 (3º. Mov. da Suíte No. 7 em si bemol maior)
  2. Menuetto em sol menor (Arr. Wilhelm Kempff) anteriormente tratado como 4º. Mov. da Suíte em si bemol maior, HWV 434

Seong-Jin Cho, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 210 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 153 MB

 “For me, Handel’s music comes directly from the heart, so people can easily follow it.”, says Cho. He was also keen to explore the ways in which Handel influenced later composers and so chose to record Brahms’s enormously creative response to music from one of the suites as well. Brahms based his twenty-five variations on the Air from Handel’s Suite No. 3 in B flat major HWV 434, a simple theme on which Handel himself built four short variations. 

Espero que você goste deste álbum tanto quanto eu…

Aproveite!

René Denon

Seong-Jin Cho achando o Salão de Pianos do PQP Bach Co-op um ‘must’…

Domenico Scarlatti (1685-1757): Sonatas (Konstantin Scherbakov, piano)

Vimos aqui que, nos tempos de Scarlatti pai e filho, a palavra improviso era reservada à poesia, não sendo usada no sentido musical em qualquer das línguas latinas!

Já a palavra “fantasia”, com significado correlato ao de improviso, aparece na edição de 1694 do Dictionnaire de l’Academie Française: Fantaisie. s.f. L’Imagination [Fantasia, subst.fem. A Imaginação], seguida de várias descrições complementares, incluindo a seguinte:
“Fantasia se diz também de uma coisa inventada por prazer, e na qual se seguiu mais o capricho do que as regras da Arte. ‘Uma fantasia de Pintor, uma fantasia de Poeta, de Músico, de tocador de alaúde’.” No Dicionário Musical de Rousseau (1768), só se fala em “improvisar” para cantores e poetas, jamais para música instrumental.

O Padre Antonio Soler – que foi aluno, assistente e copista de D. Scarlatti – escreveu em 1762 o tratado Llave de la modulación, y antigüedades de la música. Ali, Soler busca conceituar a modulação que ele e seus contemporâneos faziam no cravo, pianoforte e órgão, normalmente de forma improvisada: “a Modulação, segundo sua definição geral, é a suavidade nos trânsitos de um tom a outro”. No prefácio, Don Joseph de Nebra, Organista e Vice-Maestro da Real Capela de Sua Majestade, afirma: “Confesso com ingenuidade que nunca pensei que pudessem dar regras fixas para Modulações tão sofisticadas: acreditava que eram produzidas pela prática, pelo bom gosto, pela fineza do ouvido …” E Don Antonio Ripa, outro grande organista, ao elogiar a obra de Soler como importante para aqueles que modulavam [ou seja, improvisavam] em igrejas, até porque, como ele diz nas entrelinhas, nem todos eram tão bons como Soler, alguns machucavam os ouvidos: “Julgo que esta Obra há de ser de muita utilidade, não só para Mestres de Capela e Organistas, a quem abre portas com várias regras e Modulações de bom gosto, para que à sua imitação suas produções musicais tenham novidade e boa harmonia, sem incorrer no defeito da aspereza e sem serem ingratas ao ouvido”.

C.P.E. Bach, músico da mesma geração de Soler, escreveu um Ensaio sobre a verdadeira arte de tocar os instrumentos de teclado (Berlin, 1753) e no prefácio ele vende seu peixe:

“Não podemos ignorar quantas exigências coloca o teclado; ninguém se contenta de exigir de um tecladista o que se exige de qualquer instrumentista, a capacidade de executar, segundo as regras da boa interpretação, uma obra escrita para seu instrumento. Exige-se do tecladista também que ele executa Fantasias [isto é, improvisos!] de todo tipo, que ele crie naquele momento sobre um tema dado, segundo as regras mais severas da harmonia e da conduta melódica, […] que ele seja mestre na ciência do baixo contínuo, que ele possa realizá-la com discernimento.”

Ou seja, Soler e C.P.E. Bach não mencionam improviso, mas é disso que eles estavam falando. Só quando a fidelidade ao texto torna-se padrão é que o improviso torna-se um momento específico, percebido e valorizado, como nas cadências dos concertos para piano de Mozart. Nos tempos dos Scarlatti, o improviso era uma daquelas coisas como o ar que respiramos, óbvio demais para que alguém fale a respeito…

Este disco de hoje é um deleite para os ouvidos justamente por esse equilíbrio entre por um lado a “arte da modulação”, aprendida com muitos anos de estudo, e por outro lado os saltos e modulações de tipo improvisado, executados com pequenas liberdades rítmicas e de dinâmica pelos bem treinados dedos do intérprete. Hoje professor em Zurich – tendo entre suas alunas a jovem Yulianna Avdeeva que, como ele, é muito cuidadosa com o som que faz e pouco preocupada com holofotes e selfies -, o pianista russo Scherbakov executa as obras de D. Scarlatti com admirável clareza sonora, o que quer dizer que todas as vozes se fazem ouvir com seu caráter específico. Ao mesmo tempo em que as particularidades soam cheias de fantasia, o conjunto, o todo é ordenado e coeso, seguindo – e quebrando brevemente quando necessário – as regras severas mencionadas por C.P.E. Bach. (Como propôs o historiador francês François Furet, a desobediência às regras e leis é um “dilema bem conhecido” dos historiadores que estudam o Antigo Regime: “no alto, a minúcia extraordinária na regulamentação de tudo; em baixo, desobediência crônica”).

Este é mais um disco da integral das sonatas de D. Scarlatti que vai sendo lentamente lançada pela Naxos: não vou postar todos os discos pois nem todos são tão brilhantes como este aqui. Scherbakov gravou, pela Naxos, obras românticas extremamente virtuosísticas: Estudos de Liszt e de Lyapunov, Concertos de Tchai e de Rach… Ele não é um nome muito associado ao barroco, o que só me faz lamentar que não tenha gravado mais obras de Scarlatti, Soler e cia.

Domenico Scarlatti, – Complete Keyboard Sonatas Vol. 7
1 Sonata In F Major, K.483/L.472/P.407 2:53
2 Sonata In F Major, K.542/L.167/P.546 5:40
3 Sonata In B Flat Major, K.360/L.400/P.520 4:22
4 Sonata In C Minor, K.40/L.375/P.119 1:51
5 Sonata In C Major, K.422/L.451/P.511 5:34
6 Sonata In F Minor, K.238/L.27/P.55 4:06
7 Sonata In F Major, K.17/L.384/P.734:04
8 Sonata In A Major, K.500/L.492/P.358 3:15
9 Sonata In A Major, K.114/L.344/P.141 4:24
10 Sonata In E Minor, K.291/L.61/P.282 4:56
11 Sonata In G Major, K.328/L.S27/P.485 4:10
12 Sonata In A Major, K.320/L.341/P.335 3:10
13 Sonata In G Major, K.283/L.318/P.482 4:45
14 Sonata In C Major, K.464/L.151/P.460 3:14
15 Sonata In D Major, K.313/L.192/P.398 3:13
16 Sonata In D Major, K.479/L.S16/P.380 4:25

Konstantin Scherbakov, piano
Recorded at Potton Hall, Suffolk, UK, 2000

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Uma das coleções manuscritas de sonatas pertencentes à Rainha Bárbara da Espanha

Pleyel

.: interlúdio :. John Zorn: Mount Analogue

.: interlúdio :. John Zorn: Mount Analogue

Classificar este disco é impossível, então ele vai para a categoria, por assim dizer, mais democrática: o jazz. John Zorn construiu uma carreira cavando fundo os confins da expressão musical, torcendo gêneros com uma maestria complicada de explicar mas que não pode deixar de ser admirada. Seus estilos variam do clássico ao jazz, do peso total ao avant-garde, do folclore a coisas ao total rigorismo, passando por quase tudo que há entre eles. Raramente, no entanto, temos a oportunidade de ver Zorn preso à Terra. Em razão destas metamorfoses ele é tão amado por seus fãs, dentre os quais me incluo. Para os não iniciados, a música de Zorn é um pouco hostil, para dizer o mínimo. No entanto, em Mount Analogue, faz um álbum igualmente atraente para os fãs de suas tendências mais vanguardistas, bem como para aqueles que estão ansiosos para encontrar um caminho de entrada para sua discografia pesada.

John Zorn: Mount Analogue

1 Mount Analogue 38:21

Bass, Oud, Guimbri [Gimbri], Vocals – Shanir Ezra Blumenkranz
Composed By, Arranged By, Conductor, Producer – John Zorn
Percussion [Calabash], Drums, Percussion, Bells [Orchestral Bells], Vocals – Tim Keiper
Percussion, Bells [Prayer Bells], Vocals – Cyro Baptista
Piano, Organ, Vocals – Brian Marsella
Vibraphone, Chimes, Vocals – Kenny Wollesen

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

John Zorn passeia pelo Palácio do Alvorada após a passagem da família Bolsonaro

PQP

Rimsky-Korsakov (1844-1908): Sheherazade / The Tale of Tsar Saltan (Suite) (Seattle Symph / Schwarz)

Rimsky-Korsakov (1844-1908): Sheherazade / The Tale of Tsar Saltan (Suite) (Seattle Symph / Schwarz)

Tenho muitas lembranças pessoais ligadas a esta Sheherazade de R-K. Meu pai ouvia demais esta obra e ela sempre me traz de volta a infância. Aqui, Gerard Schwarz e sua orquestra de Seattle fazem uma boa versão de Sheherazade: voluptuosa, exótica, pulsante e também muito emocionante. Você pode dizer que será uma bela performance desde o primeiro compasso: firme e forte, com os metais dando ao tema um rosnado ameaçador, seguido pelo lindo solo de violino de Maria Larionoff representando a própria protagonista. Apenas o final, embora rápido e preciso, carece daquele toque de cinematográfico, mas este é um ponto menor. Os dois movimentos internos, em particular, têm uma nitidez e um fluxo muito legais e um tanto incomuns. A suíte Tsar Saltan busca o espetacular – para o bem e para o mal. Seu movimento central, “The Tsarina in a Barrel at Sea”, é o melhor.

Rimsky-Korsakov (1844-1908): Sheherazade / The Tale of Tsar Saltan (Suite) (Seattle Symph / Schwarz)

Scheherazade, Op. 35
1 I. The Sea And Sinbad’s Ship 10:46
2 II. The Kalender Prince 11:34
3 III. The Young Prince And The Young Princess 10:43
4 IV. Festival At Baghdad – The Sea 12:48

Tale Of Tsar Saltan Suite, Op. 57
5 I. The Tsar’s Farewell And Departure 4:41
6 II. The Tsarina In A Barrel At Sea 7:20
7 III. The Three Wonders 7:14

8 Flight Of The Bumblebee 1:31

Soloist: Maria Larionoff (violin)
Conductor: Gerard Schwarz
Orchestra: Seattle Symphony

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Rimsky Korsakov em 1897 com aquela barba de compositor bem estabelecido e a ser respeitado

PQP

.: interlúdio :. John Coltrane & Don Cherry – The Avant-Garde (1960) / John Coltrane & Rashied Ali – Interstellar Space (1967)

Dois discos de John Coltrane sem piano, e essa ausência não é apenas uma curiosidade: faz toda diferença… O primeiro foi gravado em 1960 com três músicos da banda de Ornette Coleman, com três da cinco composições também assinadas por Coleman: ele e Coltrane tinham uma admiração mútua um pelo outro, embora nunca tenham gravado juntos. E as bandas de Coleman quase nunca contavam com pianistas, o que fazia parte de seu som característico, mais baseado em solos do que em acordes, e que receberia o nome de Free Jazz a partir do álbum com este nome, que seria gravado seis meses depois dessas sessões comandadas por Don Cherry e John Coltrane. (Outros saxofonistas, como Eric Dolphy e Archie Shepp, que surgem após Coltrane e Coleman, vão liderar bandas também sem piano, à vezes com o vibrafone ocupando o espaço dos agudos…)

Curioso, porém, que o disco, no qual Cherry e Coltrane estão em pé de igualdade, dividindo solos em cada faixa, não soe tão livre assim, pelo contrário, às vezes fica uma certa impressão de fórmula aplicada a cada uma das jams, com trompete e sax introduzindo as melodias em uníssono e depois dividindo solos, o trompete com seu som mais nasal e o sax mais “redondo”, sem as “cascatas sonoras” (sheets of sound) que Coltrane fazia em outros álbuns daquele período. Ou seja: alguns grandes solos, belas melodias de Ornette Coleman e Thelonius Monk, mas paradoxalmente organizadas de forma pouco livre, com um jeitão, se me permitem abusar de mais um anglicismo, um jeitão de “one size fits all”. Das suas gravações como convidado com bandas de colegas, Coltrane soa mais livre no disco Bags & Trane, de 1959.

John Coltrane & Don Cherry: The Avant-Garde
1. Cherryco (Don Cherry) – 6:47
2. Focus on Sanity (Ornette Coleman) – 12:15
3. The Blessing (Ornette Coleman) – 7:53
4. The Invisible (Ornette Coleman) – 4:15
5. Bemsha Swing (Thelonious Monk, Denzil Best) – 5:05

John Coltrane – tenor and soprano saxophone
Don Cherry – cornet
Charlie Haden – double bass (tracks 1, 3)
Percy Heath – double bass (tracks 2, 4, 5)
Ed Blackwell – drums
Recorded: June 28, 1960; July 8, 1960 / Released: 1966

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Coltrane (1926-1967) vive em uma rua em Denver, EUA

Quatro meses após as sessões de The Avant-Garde, Coltrane gravaria My Favorite Things e, devido ao grande sucesso não só artístico como comercial deste LP, ele não mais faria outras gravações com bandas alheias: tocaria sempre com o piano de McCoy Tyner e a bateria de Elvin Jones, até o fim de 1965. O baixista variava (às vezes, dois baixos!) e, às vezes, chamava mais alguém nos sopros, como Eric Dolphy e Freddie Hubbard. Como escreveu David Stoesz, no fim do ano de 1965, Coltrane  entrou em um território tão “far out” que os seus leais companheiros — o “quarteto clássico” que havia gravado A Love Supreme e Crescent — não o seguia mais. O que ele buscava eram sentimentos puros, para além de notas e certamente para além de algo tão mundano como acordes.

Do fim de 1965 em diante, teria sempre ao seu lado o piano de Alice Coltrane. Não fez mais freelances… confiram o último mês em que Coltrane tocaria ao vivo e em estúdio com o grupo de Miles Davis: março de 1961, mesmo mês de lançamento de My Favorite Things

Então o disco Interstellar Space, gravado em fevereiro de 1967, é uma raridade por apresentar novamente um Coltrane sem piano (e agora sem baixo), apenas com bateria e, agora sim, absolutamente livre. Dessa vez, após alguns anos que lhe trariam mais experiência e várias viradas de rumo, Coltrane soa sem amarras, nada parece planejado, a começar por aquela própria seção de gravação, se acreditarmos no jornalista Ben Ratliff: segundo ele, Interstellar Space foi gravado em um dia em que Rashied Ali (na banda de Coltrane desde 65) chegou no estúdio em New Jersey e não encontro nenhum outro músico, para logo depois ver Coltrane chegar:

Soon Coltrane arrived. / “Ain’t nobody coming?” he said to Coltrane. / “No, it’s just you and me.” / “What are we playing? Is it fast? Is it slow?” / “Whatever you want it to be. Come on. I’m going to ring some bells.”

Coltrane improvisou acompanhado apenas do baterista Rashied Ali, alçando alguns de seus voos mais altos e ao mesmo tempo incompreensíveis. Se você estiver iniciando sua jornada pela discografia do saxofonista, ouça primeiro alguma coisa de 1959 a 1964 e chegue aqui só depois de se apaixonar pelo timbre de Coltrane, sua maneira de respirar e de “fazer arte” (também no sentido de quem fala em crianças “fazendo arte”, ou seja, bagunça). No LP (lançado em 1974) temos a informação de que a música foi produzida por John Coltrane e o álbum, por Ed Michel e Alice Coltrane – suponho que o papel desses dois tenha sido, entre outros detalhes, nomear as faixas e escolher a ordem delas no disco. No CD (1991), temos duas faixas adicionais que entram no meio da bagunça de uma forma coesa, afinal foram gravadas no mesmo dia pela mesma dupla.

Aqui, só temas novos, não há espaço para standards de outros compositores – embora nos shows ao vivo da época ainda aparecessem versões muito peculiares de My Favorite Things e Naima (de Giant Steps, de 1959). Esses dois álbuns citados, e em um grau ainda maior A Love Supreme (1964), transformaram John Coltrane em uma celebridade internacional e ele poderia passar muitos anos repetindo a formação de quarteto e lotando show dos dois lados do Atlântico Norte. Mas se repetir certamente não era o objetivo de John Coltrane, ele queria sempre fazer algo novo e desde 1961 já havia inovado em outras formações, seja com mais músicos ou com menos e, nesse caso, uma forma de bagunçar o coreto era com só dois instrumentistas tocando: Saxofone e Bateria/Percussão. Sem baixo e piano, os improvisos podiam seguir ainda mais livres: é assim, sozinho com Elvin Jones, que ele toca já em 1961 em alguns trechos da faixa Chasin’ the Trane do disco “Live at the Village Vanguard”. No ano seguinte, o piano também se calava na metade final de Traneing In ao vivo na Suécia, lançada no disco póstumo “Bye Bye Blackbird”, além de alguns trechos de Crescent, disco de 1964… Mas um disco inteiro de saxofone e percussões, só em Interstellar Space.

John Coltrane & Rashied Ali: Interstellar Space
1 Mars 10:41
2 Venus 8:28
3 Jupiter 5:22
4 Saturn 11:33
5 Leo 10:53
6 Jupiter Variation 6:44

John Coltrane – tenor saxophone, bells, producer
Rashied Ali – drums
Recorded February 22, 1967 at Van Gelder Recording Studio, Englewood Cliffs, New Jersey; Released September 1974

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Rashied Ali (1935-2009)

Tony Whyton wrote that the tracks on Interstellar Space “clearly demonstrate the full glory of Coltrane’s late style”[32] and notes that “the removal of identifiable structures, a steady pulse, and clear sense of meter opens up the music and removes familiar aids of orientation for the listener. In this respect, although Coltrane’s sound and approach can be understood as part of the same continuum, the context has changed dramatically to the point where the music is clearly experienced more as an immediate sensation. This leads to recordings such as Interstellar Space being received as musical processes rather than as products; they encourage us to listen in the here and now as opposed to assimilating what has happened before and predicting what will happen next.”

Pleyel