Gosto tanto da música de Lutoslawski que chego a dizer que ele é meu compositor favorito; claro, ao lado de Messiaen. Tenho praticamente sua obra completa na cabeceira da minha cama. Destaco esse pequeno disco (23 minutos) com uma de suas obras mais importantes: o Quarteto de Cordas (1964). Obra que submete os músicos a certas liberdades de tempo, improvisações controladas, e quase total independência entre os instrumentos. Mas não se enganem Lutoslawski é extremamente preciso em suas composições. Um senhor metódico e disciplinado escrevendo música de natureza rebelde.
Outro destaque é o Kronos Quartet, músicos que estavam possuídos nesta gravação.
Faixas:
1. String Quartet: Introductory Movement
2. String Quartet: Main Movement
Em primeiro lugar, dirijo-me aos neófitos: trata-se de música do século XX, o que pressupõe que o ouvinte conhece e gosta de música atonal, de dissonâncias, de ambientes tensos, e não procura linha melódica… Os devotos exclusivos de Mozart ou Haydn, em termos de quartetos de cordas, correm o risco de se assustarem… Por outro lado, os aventureiros correm o risco de se apaixonarem por este disco magnífico, magistral, com obras de grande intensidade e de interesse constante, que revela música profunda e soberba, no topo da sua arte, com o extraordinário Quarteto LaSalle, cuja discografia é infelizmente muito pequena.
Aqui temos um belíssimo quarteto de cordas de Lutoslawski de 1964, em dois movimentos; um de Penderecki de 1960, muito curto (menos de 7 minutos), num único movimento, muito denso, muito vivo, espetacular; um Prelúdio para quarteto de cordas de Toshiro Mayuzumi de 1961 (11 minutos), em um único movimento, e finalmente um quarteto de John Cage, de 1950, em 4 movimentos. São 4 obras, compostas ao longo de cerca de quinze anos, que dão um excelente panorama do que havia de bom naquela época, em vários estilos, com o Quarteto de Cage se destacando mais pela tendência de tocar sem vibrato e de fazer os instrumentos soarem como violas. É sem dúvida o menos denso, o menos tenso e, portanto, talvez o menos cativante, tendo Cage horror a efeitos dramáticos. O disco, no entanto, não contém fraquezas e tem o mérito de nos fazer mergulhar num estado de espírito refinado e numa atenção muito atenta com o som, o silêncio e os timbres das cordas. Quanto à interpretação, os Lasalle são de uma perfeição indescritível, pois sabem dar às pontuações toda a sua densidade, dando sentido aos mínimos detalhes. Estão claramente em osmose com a música, como estiveram com a de Ligeti, Webern ou Berg, que encontramos em outras gravações… Além disso, e para esse tipo de música isso não é um detalhe, a qualidade do som, embora com cerca de quarenta anos, são exemplares, com notável equilíbrio, especialmente nos quartetos de Lutoslawski, Penderecki e Mayuzumi (dezembro de 1967).
Música polonesa gravada na Polônia. Uma boa introdução à obra mais madura de Lutoslawski, mais atonal e menos folclórica do que o Concerto para Orquestra (1954) ou a 1ª Sinfonia (1947). Ao contrário de discos mais focados em um tipo de obras – por exemplo, só com sinfonias ou só com concertos – aqui temos um tipo de programa típico de uma apresentação ao vivo.
O concerto para violoncelo de Lutosławski, estreado por Mstislav Rostropovitch em Londres (1970), tem sido considerado uma das obras-primas para violoncelo e orquestra. Muita gente buscou encontrar nessa obra subtextos socio-políticos: suspeitou-se que o polonês pretendia mostar o papel delicado do indivíduo em diálogo com o poder estatal repressivo, a partir da orquestração muitas vezes brutal e em contrastes tensos e assimétricos com o solista. Porém, mais de uma vez o compositor se posicionou contra essa interpretação: “Se eu quisesse escrever um drama sobre o conflito entre indivíduo e coletividade, eu teria feito isso em uma obra com palavras.”
Vou me arriscar a interpretar essas palavras de Lutosławski, correndo o risco de falar besteira: é como se ele dissesse que a música instrumental tem como vocação tratar de coisas mais pra além, aspectos da nossa vida para os quais as palavras não dão conta. Mesmo assim, essa interpretação política do concerto não é de se jogar fora: apenas não se deve achar que o sucinto par “indivíduo x sociedade” ou “artista x Estado” chega perto de descrever as emoções e novidades que vão aparecendo ao longo dos vinte e poucos minutos dessa obra. O jovem solista francês Gautier Capuçon – 34 anos na época da gravação – dá conta de todas as dificuldades que haviam sido colocadas antes para o veterano Rostropovich. Em comum com o russo, o interesse por música contemporânea: nos últimos anos, Capuçon estreou obras de Danny Elfman e Thierry Escaich, além de ter no seu repertório H. Dutilleux e D. Shostakovich.
Também para a sua 4ª e última Sinfonia, estreada em 1993 em Los Angeles, Lutosławski não quis atribuir um apelido ou um programa. Aspas para ele novamente: “toda tentativa de definir o conteúdo expressivo da música com palavras, ou seja, com meios extra-musicais, se expõe a erros de interpretação e não tem valor objetivo intrínseco.”
Já a a Abertura de Szymanowski, esboçada em 1904 e estreada só em 1919 em Viena, é representativa das primeiras composições sinfônicas desse que é o principal compositor polonês da dita Belle Époque. Para os meus ouvidos, é música bem mais previsível e banal do que a de Lutosławski.
Karol Szymanowski:
1. Concert Overture, Op. 12 (13:15)
Certa vez, vi o Quarteto Hagen tocando Bartók no Southbank Center de Londres. Foi um dos melhores concertos a que fui na vida. O Hagen foi fundado em 1981 por quatro irmãos, Lukas, Angelika (primeiramente substituída por Annette Bik, que foi substituída por Rainer Schmidt em 1987), Veronika e Clemens, em Salzburgo. Os membros do quarteto são professores e mentores no Salzburg Mozarteum e na Hochschule für Musik Basel. Aqui, eles estão no seu chão e dão um chocolate. O Quarteto de Cordas Nº 1 de Ligeti, intitulado Métamorphoses nocturnes, foi composto em 1953–54. É, portanto, representativo do que Ligeti costumava chamar de “o Ligeti pré-histórico”, referindo-se às obras que escreveu antes de deixar a Hungria em 1956. Este quarteto foi fortemente inspirado pelo terceiro e quarto quartetos de Bartók, tanto que recebeu a alcunha “o sétimo quarteto de cordas de Bartók” pelo compositor húngaro György Kurtág. Ligeti só pode estrear este quarteto fora de sua Hungria natal, a performance dele foi proibida. Mas mesmo assim, ele guarda muito do Ligeti posterior. O bom humor e as surpresas estão por todo lado.
Ligeti / Lutosławski / Schnittke: Quartetos de Cordas / Cânon em Memória de Igor Stravinsky (Hagen Quartett)
1 György Ligeti– Streichquartett Nr. 1 = String Quartet No. 1 = Quatuor À Cordes N° 1 = Quartetto Per Archi N. 1 (Métamorphoses Nocturnes)
– – 20:08
– Allegro Grazioso
– Vivace, Capriccioso
– A Tempo
– Adagio, Mesto
– Presto
– […] Molto Sostenuto – Andante Tranquillo
– Più Mosso
– Tempo Di Valse, Moderato, Con Eleganza, Un Poco Capriccioso
– Subito Prestissimo
– Subito: Molto Sostenuto
– Allegretto, Un Poco Giovale
– Allarg. Poco Più Mosso
– Subito Allegro Con Moto, String. Poco A Poco Sin Al Prestissimo
– Prestissimo
– Allegro Comodo, Giovale
– Sostenuto, Accelerando
– Lento
Witold Lutosławski*– Streichquartett = String Quartet = Quatuor À Cordes = Quartetto Per Archi
2 I. Introductory Movement 9:04
3 II. Main Movement 16:36
Alfred Schnittke– Kanon In Memoriam I. Strawinsky Für Streichquartett = For String Quartet = Pour Quatuor À Cordes = Per Quartetto D’archi
4 Lento 8:02
Um disco alegre e muito bem interpretado por Thea King e orquestra. O som alegre do clarinete presta-se não apenas a Poulenc… Gostei demais das peças de Lutoslawski e de Seiber! Nos anos imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial, os músicos e cineastas da Polônia floresceram repentinamente. Foi um notável ressurgimento, mas o regime comunista exigia uma música que fosse ‘acessível’ e folclórica. Witold Lutoslawski cumpria os requisitos sem comprometer muito seus princípios. Os Prelúdios de Dança são um produto desse período difícil e continuam sendo uma de suas obras mais populares. Mátyás Seiber foi um compositor que buscou refúgio na Grã-Bretanha durante tirania nazista. Seiber, aluno de Kodály em Budapeste, trouxe consigo sua herança húngara e o amor pelo jazz, bem como o conhecimento da música de seus contemporâneos mais ilustres, Bartók e Hindemith. Todas essas influências eventualmente se destilaram em um estilo pessoal cujo desenvolvimento foi cruelmente interrompido em 24 de setembro de 1960 por um acidente de carro fatal no Parque Nacional Kruger durante uma visita à África do Sul. Howard Blake nasceu em Londres em 1938. Aos dezoito anos ganhou uma bolsa de estudos para a Royal Academy of Music em Londres, onde estudou piano com Harold Craxton e composição com Howard Ferguson. Então, durante os dez anos seguintes, ele provou ser um músico versátil, trabalhando em Londres como pianista, regente e orquestrador, mas especialmente como compositor. Em 1971 ele deixou Londres para viver em Sussex, onde começou a forjar um estilo pessoal de composição – rítmico, contrapontístico e, acima de tudo, melódico.
Witold Lutoslawski / Matyas Seiber / Howard Blake: Concertos para Clarinete (King)
Howard Blake Clarinet Concerto
B1 – Invocation: Recitativo – Moderato, Molto Deciso 7:51
B2 – Ceremony: Recitativo – Lento Serioso 7:12
B3 – Round Dance: Vivace 6:28
Clarinet – Thea King
Composed By – Howard Blake (faixas: B1 to B3), Matyás Seiber (faixas: A6 to A10), Witold Lutoslawski (faixas: A1 to A5)
Conductor – Andrew Litton (faixas: A1 to A10), Howard Blake (faixas: B1 to B3)
Leader – José-Luis Garcia
Orchestra – English Chamber Orchestra
SINCERIDADE MÁXIMA DA EXPRESSÃO: A MÚSICA DE WITOLD LUTOSLAWSKI
Witold Lutoslawski (1913-94) nasceu em Varsóvia, onde passou a vida criando uma obra que o coloca entre os maiores compositores do século XX. Uma vida marcada por grandes sucessos, mas também por experiências traumáticas. Alguns meses depois do início da 1ª Guerra Mundial (1914), ele e sua família viveram alguns anos em Moscou — onde seu pai foi assassinado em 1918.
Formado em piano e em composição pelo Conservatório de Varsóvia, Lutoslawski estreou como compositor com Variações Sinfônicas, apresentadas em Cracóvia em 1939, às vésperas da 2ª Guerra Mundial. Nos anos da ocupação alemã, ganhou a vida tocando piano nos cafés de Varsóvia e, em 1941, começou a trabalhar com sua primeira obra de grande formato, a Sinfonia nº 1. Depois da guerra, tomou parte na organização da Associação dos Compositores Poloneses e no Festival Outono de Varsóvia, dedicado à música contemporânea.
Depois da estreia da Sinfonia nº 3, em Chicago, em 1983, um crítico escreveu que a obra só poderia ter sido escrita na Polônia, aludindo à situação política do país naquele momento. Lutoslawski, contudo, dizia que nunca havia sido sua intenção representar o mundo exterior, uma vez que ele não precisa ser representado pela arte para que possamos presenciá-lo. A música é “o domínio do mundo ideal, o mundo que emerge da nossa imaginação, dos nossos desejos, da nossa concepção do ideal”. Para ele, a missão do artista era uma atuação nesse “mundo ideal” e sua “expressão” em obras, para assim torná-lo acessível aos outros.
Lutoslawski nunca cedeu às pressões enfrentadas pelos artistas do seu país nos tempos stalinistas. Um exemplo basta: em 1949, depois da estreia da sua Sinfonia nº 1 — tachada pela crítica oficial como “formalista” —, o então ministro da cultura Wlodzimierz Sokorski declarou que um compositor como ele deveria ser atropelado por um bonde.
Não são somente às pressões externas, afinal, que o artista precisa resistir em nome da liberdade criativa. É preciso também recusar a repetição das próprias ideias, em busca de novas formas de expressão: “Eu me cuido muito para que nenhum dos meus pensamentos me domine e para que nenhum deles me possa tirar a liberdade de ir ao encontro de tudo o que a imaginação me possa trazer no futuro”.
Nem as primeiras obras, desde Variações Sinfônicas até Sinfonia nº 1 (1941-47), inspiradas nos clássicos do século XX, nem as da fase seguinte, em que explorava os motivos da música folclórica (Canções Populares Para Piano, 1945; Concerto Para Orquestra, 1950-54), satisfaziam o compositor na busca de uma nova linguagem sonora. Nos anos 1960, Lutoslawski surpreendeu a todos com um novo estilo (Jeux Vénitiens, Sinfonia nº 2, Prelúdios e Fugas), próximo ao da vanguarda ocidental do pós- -guerra: forma aberta, linguagem amelódica e modos não convencionais de articulação do som.
Inspirado pelo aleatorismo de John Cage, ele inventou uma técnica de “aleatorismo controlado”. Mas Lutoslawski manteve distanciamento crítico diante da “ideologia do vanguardismo”. Mesmo os meios extremos do novo estilo presentes nas suas obras não são apenas manifestação de rompimento com a tradição, mas servem para expressar conteúdos e aspirações que a música persegue há séculos.
Nas obras das últimas três décadas da vida do compositor, perde força a presença dos meios radicais do estilo da vanguarda, que entram em simbiose com os elementos da tradição, como linhas melódicas mais acentuadas, segmentação clássica da forma, ou uma emocionalidade “romântica”. Mas Lutoslawski evitava sempre o sistema tonal, dispensável para quem chegou a criar seu próprio sistema de seleção dos intervalos melódicos e harmônicos.
Concluída em 1983, a Sinfonia nº 3 — uma composição monumental e exuberante escrita ao longo de cerca de dez anos — é considerada o auge de sua obra sinfônica e um marco na música da segunda metade do século XX. Nos últimos anos de vida, porém, Lutoslawski não deu continuidade a esse tipo de expressão, procurando uma nova coloração instrumental. Sua linguagem tornou-se mais camerística e ainda menos vanguardista do que nas obras anteriores. Chain 1, 2, 3 (1983-86), Concerto Para Piano (1987-88) e Sinfonia nº 4 (1988- 92) são obras-primas dessa fase. Lutoslawski dá continuidade também às suas composições vocais, com o ciclo de canções Chantefleurs et Chantefables (sobre poemas de Robert Desnos) para soprano e orquestra, em que se manifesta sua afinidade com a poesia francesa e o gosto de escrever obras para crianças, a que se dedicara muito nos anos do pós-guerra.
O trabalho de composição, para Lutoslawski, vinha sempre acompanhado de reflexão crítica e teórica, registrada em inúmeras anotações, principalmente no que ele chamava de Caderno de Pensamentos, mas também em entrevistas, palestras e artigos. São comentários à margem da obra que podem ajudar a compreender melhor seus princípios, sua trajetória e suas metas, e que também articulam uma singular filosofia de relacionamento do artista com o seu destinatário. O Caderno de Pensamentos foi traduzido para o inglês e publicado na coletânea Lutoslawski on Music (Scarecrow Press, 2007), organizada pelo musicólogo Zbigniew Skowron. Em anotação de 24 de março de 1972, o compositor afirma:
“Não quero captar nada, quero encontrar. Encontrar os que no fundo da alma sentem como eu. Como realizá-lo? Só por uma máxima sinceridade de expressão artística em todos os níveis, desde um detalhe técnico até as profundezas mais misteriosas, mais íntimas. Sei que essa atitude elimina de antemão um grande número de potenciais ouvintes das minhas composições. Em compensação, os que ficam são um tesouro inestimável”. Ao falar da sua linhagem artística, Lutoslawski apontava Debussy, Bartók, Ravel e Stravinsky — todos eles artistas que sabiam conciliar uma extensa gama emocional e sensorial com uma ordem sonora precisa em todos os seus detalhes. Embora a vida inteira fizesse experiências com o dodecafonismo, a ideia da ordem serial de Arnold Schoenberg e Anton Webern não o atraía muito, resistindo ao cálculo intelectual sistemático. A diversidade das formas e técnicas revelada ao longo de uma trajetória artística de mais de 60 anos não nos impede de vislumbrar traços de unidade numa obra original e inconfundível. A crítica aponta, entre eles, a virtuosidade e a precisão dos detalhes, o colorido brilhante e a sensualidade do som, a energia do movimento e a sutileza de suas partículas, a moderação da expressão emocional junto a gestos de comoção lírica, a expansividade e a intimidade.
São contrastes que moldam o mundo de sons de Lutosawski e que geram, em grande medida, a força e a dramaticidade de suas obras.
HENRYK SIEWIERSKI é doutor em Ciência da Literatura pela Universidade Jaguelloniana de Cracóvia e professor titular do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília.
Witold Lutosławski (1913-1994): The Symphonies
1. Fanfare for Los Angeles Philharmonic 0:55
2. Symphony No. 1: I. Allegro giusto 5:10
3. Symphony No. 1: II. Poco adagio 9:26
4. Symphony No. 1: III. Allegretto misterioso 4:21
5. Symphony No. 1: IV. Allegro vivace 5:31
6. Symphony No. 2: I. Hésitant (Instrumental) [Clean] 13:40
7. Symphony No. 2: II. Direct (Instrumental) [Clean] 14:11
8. Symphony No. 3 [Clean] 31:26
9. Symphony No. 4 [Clean] 21:01
Dawn Upshaw, na Sinfonia N° 2
Peter Crowley, na Sinfonia N° 2
Los Angeles Philharmonic
Esa-Pekka Salonen
O século XX teve alguns compositores com uma ou duas grandes sinfonias e outras esquecidas: penso em Honegger, Chávez e Prokofiev, que têm em comum o ciclo desigual de sinfonias.
Não é o caso de Lutoslawski. Com a 1ª mais ligada à música folclórica (próxima do Concerto para Orquestra e sua influência de Bartók) e com a 2ª, a 3ª e a 4ª mais atonais e inovadoras, o nível é sempre lá em cima. A 2ª tem uma forma binária: introdução, com a indicação “Hesitante” e o “prato principal”, com a indicação “Direto”. A 3ª e a 4ª são em um movimento único mas seguem um pouco esse esquema geral de primeiro as apresentações um pouco tímidas e depois os finalmentes.
Nossa Rainha completou hoje 81 anos, antes que eu completasse a tarefa de lhe prestar homenagem pelas oitenta primaveras. Vá lá que a intenção original, que era a de tão só trazer um apanhado geral do que de mais significativo ela legou a cada década, expandiu por demais seu escopo e acabou por se tornar um tremendo trampo que desembocará numa discografia completa de Marthinha. E venha lá, também, que não é nem o hábito deste blogue, nem condizente com o tempo de que disponho, promover um imenso derramamento de gravações a cada poucos dias. Ainda assim, e enquanto lhes prometo que As Idades de Marthinha em breve estarão completas, desejo redimir-me junto à homenageada. Para isso, e na falta de qualquer lançamento com gravações inéditas desde seu último aniversário, alcanço-lhes um álbum duplo lançado em 2015, mas gravado naquele que ora nos parece incrivelmente distante 2007, durante o Festival de Verbier, Suíça.
Carte Blanche é o registro duma luxuosa noite de recitais para a qual Martha teve carta branca (e os xerloques de plantão já deduziram o porquê do título) para escolher quem quisesse para com ela tocar. Ao abrir os trabalhos, a Rainha adotou a praxe de rodear-se de músicos bálticos para tocar trios com piano, ainda que, em lugar do violinista habitué, o letão Gidon Kremer, seja o lituano Julian Rachlin que se some à dona da festa e ao outro letão quase compulsório, o violoncelista Mischa Maisky, para uma leitura marcante do trio “Fantasma” de Beethoven. Em seguida, a anfitriã abre uma raríssima exceção à sua moratória de recitais solo (tão rara que eu só a posso atribuir ao cancelamento de última hora de algum convidado) para recriar, com aquele estilo espontâneo, quase improvisatório que lhe é tão peculiar, as Cenas Infantis de Schumann. Quando ela termina, Lang Lang senta-se a seu lado e começam a tocar uma peça improvável para o repertório de ambos, o Rondó a quatro mãos de Schubert. Parece faltar um tanto de entendimento entre eles (quem ouvir Martha e Barenboim tocando a mesma peça concordará), o que talvez não deva surpreender num duo de músicos de tanta verve e impulsividade. Tudo melhora – e demais – na peça seguinte, a Mamãe Gansa de Ravel, em que a verve e impulsividade supracitadas vêm bem a calhar para encerrar de maneira estimulante a obra e seu Jardim Feérico. Não tenho muito a falar de bom do item seguinte, a Arpeggione de Schubert, na qual o brilhante Yuri Bashmet parece padecer, pela imprecisão de sua performance, do mal que muitas vezes aflige os grandes instrumentistas quando se dedicam à regência: se falta de tempo, ou de estudo, ou de ambos, deixo para vocês me dizerem. Na continuação, a irresistível sonata no. 1 de Bártok está ótima, por menos acostumados que estejamos a ouvir o timbre redondinho, caloroso de Renaud Capuçon a serviço dos ferrenhos ataques bartokianos às cordas e à mesmice rítmica. Os trabalhos se encerram com uma estimulante interpretação daquele cavalo de batalha dos recitais de Martha e Nelson Freire, as Variações Paganini de Lutosławski, com a venezuelana Gabriela Montero no lugar de nosso saudoso compatriota. Como bis, à guisa de cafezinho e petit four, Gabriela dá uma palhinha de sua impressionante capacidade de improvisação (confiram no YouTube, que vale a pena!) e faz a batidíssima “Parabéns a você” passar por vários ritmos e roupagens para homenagear a pianista Lily Maisky, filha de Mischa, que estava de aniversário no dia da Carte Blanche – mas é claro que os xerloques também já se deram conta de que eu desejei que, enquanto ouvíssemos Montero, nós todos déssemos os parabéns à Rainha.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Dos Dois trios para piano, violino e violoncelo, Op. 70 – no. 1 em Ré maior, “Fantasma” 1 – Allegro vivace e con brio
2 – Largo assai ed espressivo
3 – Presto
Martha Argerich, piano
Julian Rachlin, violino
Mischa Maisky, violoncelo
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856) Kinderszenen, para piano, Op. 15 4 – Von fremden Ländern und Menschen
5 – Kuriose Geschichte
6 – Hasche-Mann
7 – Bittendes Kind
8 – Glückes genug
9 – Wichtige Begebenheit
10 – Träumerei
11 – Am Kamin
12 – Ritter vom Steckenpferd
13 – Fast zu ernst
14 – Fürchtenmachen
15 – Kind im Einschlummern
16 – Der Dichter spricht
Martha Argerich, piano
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828) Rondó em Lá maior para piano a quatro mãos, D. 951, “Grand Rondeau”
17 – Allegretto quasi andantino
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Ma Mère l’Oye, suíte para piano a quatro mãos, M. 62
18 – Pavane de la Belle au Bois Dormant: Lent
19 – Petit Poucet: Très modéré
20 – Laideronnette, Impératrice des Pagodes: Mouvement de Marche
21 – Les Entretiens de la Belle et de la Bête: Mouvement de Valse très modéré
22 – Le Jardin Féerique: Lent et Grave
Martha Argerich e Lang Lang, piano
Franz SCHUBERT Sonata para arpeggione e piano em Lá menor, D. 821
(transcrita para viola e piano) 23 – Allegro moderato
24 – Adagio
25 – Allegretto
Yuri Bashmet, viola
Martha Argerich, piano
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para violino e piano no. 1, Sz. 75
26 – Allegro appassionato
27 – Adagio
28 -Allegro
Renaud Capuçon, violino
Martha Argerich, piano
Witold Roman LUTOSŁAWSKI (1913-1994)
Variações sobre um tema de Paganini, para dois pianos 29 – Tema – Variações I-XII – Coda
Martha Argerich e Gabriela Montero, pianos
Gabriela MONTERO (1970)
30 – Improvisação sobre “Parabéns a você”
Gabriela Montero, piano
Gravado ao vivo em 27 de julho de 2007, durante o Festival de Verbier, Suíça
Atentem para a data da postagem original. É de 2011.
O maestro Yan Pascal Tortelier tem um currículo respeitável. Não havia escutado nada ainda sob a sua condução. Sou sabedor de que, após os problemas com John Neschling, em 2009, Tortelier foi contratado para ser o regente titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Tortelier é francês de nascimento. Mas já teve a oportunidade de conduzir importantes orquestras como a de Londres, São Francisco, Montréal, Paris e São Petersburgo. Vale ressaltar que o seu principal protagonismo foi à frente da orquestra da BBC de Londres. Seu trabalho na BBC lhe rendeu uma láurea (inclusive, as peças regidas neste post estão a cargo da sinfônica inglesa). A primeira impressão foi positiva. As três peças (broadcastings) que surgem nesta postagem, deixaram-me feliz. Conhecia somente o concerto para violino de Britten, compositor que se sempre provoca admiração e surpresa quando o escuto. A suíte de Bridge também provocou uma impressão de contentamento. Fato importante é que Frank Bridge foi professor de Britten, o maior compositor inglês de todos os tempos (em minha humilde opinião). Lutoslawski, por sua vez, com sua linguagem áspera, continua a ser um desafio. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!
Frank Bridge (1879-1941) – The Sea-Suite For Orchestra
01. 1. Seascape (Allegro ben moderato)
02. 2. Sea-foam (Allegro vivo)
03. 3. Moonlight (Adagio ma non troppo)
04. 4. Storm (Allegro energico)
Benjamin Britten (1913-1976) – Violin concerto, op. 15
05. I. Moderato Con Moto-
06. II. Vivace-Cadenza-
07. III. Passacaglia Andante Lento (Un Poco Meno Mosso)
Dabiel Hope, violin
Witold Lutoslawski (1913-1994) – Concerto for Orchestra
08. I. Intrada: Allegro maestoso
09. II. Capriccio notturno e arioso: Vivace
10. III. Passacaglia, toccata e corale: Andante con moto
O maestro Marriss Jansons tem uma ampla discografia, sobretudo à frente de duas orquestras renomadas: a do Concertgebouw de Amsterdam e a da Rádio Bávara de Munique. Ambas as orquestras têm, já há alguns anos, seus próprios selos que lançam seus CDs (uma tendência neste século XXI), e por motivos comerciais privilegiaram pesos-pesados do repertório sinfônico sob a regência de Jansons: Sinfonias de Brahms e de Mahler, Balés de Stravinsky, etc.
Nessa coleção de gravações de rádio da Orquestra do Concertgebouw, Brahms, Mahler e Stravinsky também aparecem, mas o que mais me interessa aqui é a presença de outros nomes que mostram a diversidade da música orquestral do século XX: o polonês Lutoslawski, o tcheco Martinů, os franceses Messiaen, Poulenc e Varèse, o russo Prokofiev… Poderíamos desejar também música brasileira, mexicana, um pouco mais dos poloneses… enfim, não se pode ter tudo.
A coleção, aos meus ouvidos, começa muito bem, com uma envolvente interpretação da Sinfonia Fantástica em que se nota a concentração absoluta de toda a orquestra nos pizzicati, tremolos, valsa com harpas, marcha com tutti de metais e outras formas expressivas do genial orquestrador que foi Berlioz. Depois o nível cai em uma La Valse de Ravel quase no piloto automático, com bem menos espírito dançante do que as gravações de Haitink/Concertgebouw ou Munch/Boston. Mas o nível melhora muito com uma interpretação de tirar o fôlego do Concerto para Orquestra de Lutoslawski. Estreado em Varsóvia em 1954 e logo alcançando notoriedade dos dois lados da Cortina de Ferro, esse Concerto encerrou em grande estilo a primeira fase de Lutoslawski como compositor. Nessa fase, ele se inspirava bastante em melodias folclóricas polonesas. Após obras mais curtas, de câmara ou para voz e orquestra, ele resolveu fazer esse Concerto de maior fôlego, antes de se aventurar por caminhos mais vanguardistas. Obviamente está presente o tempo todo a inspiração de Bartók, aliás este último aparece também nessa caixa de Jansons com seu Concerto para Orquestra, de 1943, em uma interpretação sem defeitos, mas menos espetacular que este Bartók aqui e este aqui.
E então chegamos às grandes Sinfonias, com destaque para uma 6ª de Tchaikovsky e uma 7ª de Mahler com a sonoridade marcante do Concertgebouw e a energia das apresentações ao vivo. Há também Strauss, Hindemith, uma obra juvenil e romântica de Webern… um programa com um pouco para cada gosto, como é de bom tom para a temporada anual de uma grande orquestra.
Mariss Jansons / Concertgebouw Orchestra – The Radio Recordings 1990-2014
CD 1:
Hector BERLIOZ
Symphonie fantastique, Op. 14 (1830)
Encontrei, por acaso, ontem uma gravação que me deixou de queixo caído: não fazia ideia de que Stokowski houvesse gravado Lutosławski. Verdade que é o primeiro Lutosławski, ligado claramente à música de Bartók (de fato, mesmo depois, ele continuaria umbilicalmente ligado, mas de formas mais sinuosas, complexas, ambíguas; aqui, não, tudo é direto e cristalino, ainda que esteja longe, muito longe, de ser a obra que Bartók não escreveu), mas seja o compositor teoricamente visto como conservador (e tenho muitas ressalvas a essa percepção), seja o vanguardista de pouco depois, Lutosławski é grande, fantástico em sua capacidade de manejar a massa sonora, na compactação e na fluência de suas peças, na sua capacidade de construir climas. Pessoalmente, gosto mais desta 1ª Sinfonia do que de qualquer peça puramente orquestral de Bartók (salvo, talvez, pelo início do Mandarim Miraculoso). E nas mãos de Stokowski (numa gravação ao vivo, de 1959), a peça soa fresca, intensa, como nunca havia visto (ouvido) antes. A princípio, o primeiro impacto é a velocidade e a angulosidade da regência, mas não menos impressionante é a coesão que ela imprime, o frescor que tira aquele bolor de obra escolar que estava impregnado em nossa (tanto Antoni Wit quanto o próprio Lutosławski acabam fazendo isso em suas gravações e, do que me recordo, não conheço outras interpretações), e que ele consegue mesmo quando é menos acelerado que Wit no último movimento. Por essas e outras, minha reverência por Stokowski só cresce.
Da 5ª Sinfonia do Shostakovich não tenho muito o que dizer. Não a escutei com atenção e não é, em absoluto, uma das minhas sinfonias favoritas (seria tão melhor por ouvir o Stokowski regendo uma das quatro primeiras ou a décima!).
Ótima diversão!
Witold Lutoslawski
Sinfonia nº1 (1947), para orquestra
01 I. Allegro giusto
02 II. Poco adagio
03 III. Allegro misterioso
04 IV. Allegro vivace
Dmitri Shostakovich
Sinfonia nº5 in Ré menor, Op. 47, para orquestra
05 I. Moderato
06 II. Allegretto
07 III. Largo
08 IV. Allegro non troppo
Orquestra Filarmônica Nacional de Varsóvia (faixas 1-4) Orquestra Filarmônica Tcheca de Praga (5-8) Leopold Stokowski, regente
Se a década pré-pandêmica de nossa Rainha consolidou práticas das anteriores – raras gravações em estúdio, pouquíssimas aparições solo, prolífico camerismo e generoso incentivo a jovens talentos -, os anos 10 também a viram explorar repertório novo e desempenhar papéis inéditos, alguns ligados a suas raízes bonaerenses, tais como tangueira e Luthier, e outros ainda mais insuspeitos, como acompanhista em Lieder e em cancioneiro iídiche. Notem que essa discografia argerichiana que ora concluímos, e que supomos tão completa quanto a pudemos deixar, não inclui a importante coleção de registros de Marthinha no Festival de Lugano, que nosso colega FDP Bach está a nos trazer aos poucos.
Exceto por uma já tradicional vinda a Buenos Aires na metade do ano, quando dá a seus conterrâneos o privilegiado ar de sua graça, Martha não é lá muito afeita a explorar seu continente. Uma exceção notável foi a turnê por várias capitais do Brasil em 2004, certamente instigada pelo amado amigo Nelson Freire, com quem tocou em duo e autografou um LP do patrão PQP e um CD meu lá em nossa Dogville natal. Outra foi essa breve residência na província de Santa Fe, para a qual foi persuadida por outro amigo, Daniel Rivera, um pianista nascido em Rosario e radicado na Itália há muitas décadas. Cada disco registra a íntegra de uma das noites de Martha no festival, o que explica a repetição de algumas peças. Destaco a interpretação de Scaramouche, cujo movimento Brazileira cita (e, para muitos, plagia) Ernesto Nazareth, marcando, ainda que tangencialmente, uma das muito poucas vezes que a música brasileira passou pelos dedos de nossa deusa (outra delas está aqui). Digna de nota, também, é a substancial participação no repertório de compositores argentinos contemporâneos, especialmente na última noite, na qual a Rainha fez parte dum mui hábil conjunto de tango que incluiu sua primogênita, Lyda, a tocar viola.
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381
1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto
Johannes BRAHMS (1833-1897) Variações sobre um tema de Joseph Haydn, para dois pianos, Op. 56b
4 – Thema: Andante
5 – Poco più animato
6 – Più vivace
7 – Con moto
8 – Andante con moto
9 – Vivace
10 – Vivace
11 – Grazioso
12 – Presto non troppo
13 – Finale: Andante
Franz LISZT (1811-1886) Les Préludes, poema sinfônico, S. 97
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
14 – Andante maestoso
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Concertino em Lá menor para dois pianos, Op. 94
1 – Adagio – Allegretto – Adagio – Allegro – Adagio – Allegretto
Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943) Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17
2 – Introduction
3 – Valse
4 – Romance
5 – Tarantella
Darius MILHAUD (1892-1974) Scaramouche, suíte para dois pianos, Op. 165b 6 – Vif
7 – Modéré
8 – Brazileira
Luis Enríquez BACALOV (1933-2017)
9 – Astoreando, para dois pianos
Ástor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)
2 – “Milonga Del Angel”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón
Aníbal Carmelo TROILO (1914-1975)
3 – “Sur” y “La Última Curda”, para bandoneón
Néstor Eude MARCONI (1942)
e Daniel MARCONI (1970)
4 – “Gris Se Ausencia” y “Robustango”, para bandoneón
Ástor PIAZZOLLA 5 – “Oblivión” del “Concierto Aconcagua” – “Tema de María” – “Verano Porteño” – Cadencia del “Concierto Aconcagua”- “La Muerte del Angel” – “Lo Que Vendrá” – “Decarísimo”, para bandoneón
Néstor MARCONI 6 – “Para El Recorrido”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
7 – “Moda Tango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
Ástor PIAZZOLLA
8 – “Libertango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneó
9 – “Tres Minutos Con La Realidad”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón
Néstor Marconi, bandoneón (faixas 3-9)
Enrique Fagone, contrabaixo (faixas 6-9)
Daniel Rivera, piano (faixas 1, 2 e 9)
Gabriele Baldocci, piano (faixa 6)
Martha Argerich (faixas 1, 2, 7-9)
Lyda Chen, viola (faixas 2, 6-9)
Gravado ao vivo em Rosario, Argentina, entre 19 e 25 de outubro de 2012
Se Martha também é María, e Argerich pela família catalã do pai, ela também é Heller por sua mãe Juanita, filha de judeus russos estabelecidos na província de Entre Ríos. E, se não lhes posso afirmar que o iídiche fez parte de sua infância, não tenho muitas dúvidas de que ele ajudou a aproximá-la de Ver bin Ikh! (“Quem sou eu!”), projeto da atriz e cantora Myriam Fuks. Nascida em Tel Aviv e radicada em Bruxelas, Myriam aqui resgata, com sua profunda voz de contralto, diversas canções judaicas centro-europeias, acompanhada dum prodigioso conjunto de amigos, que inclui o demoníaco Roby Lakatos, Mischa e Lily Maisky, o brilhante Evgeny Kissin (que desenvolve uma belíssima carreira paralela na composição e declamação de poemas em iídiche) e, claro, nossa Rainha, a quem cabe a honra de encerrar o álbum com a parte de piano de Der Rebe Menachem (“O Rabino Menahem”).
VER BIN IKH! – MYRIAM FUKS
1 – Vi Ahin Zol Ikh Geyn (S. Korn-Teuer [Igor S. Korntayer]/O. Strokh) Evgeny Kissin, piano
02 – Far Dir Mayne Tayer Hanele/Klezmer Csardas de “Klezmer Karma” (R. Lakatos/M. Fuks) Alissa Margulis, violino Nathan Braude, viola Polina Leschenko, piano
3 – Malkele, Schloimele (J. Rumshinsky) Sarina Cohn, voz Philip Catherine, guitarra Oscar Németh, baixo
4 – Deim Fidele (B. Witler) Lola Fuks, voz Michael Guttman, violino
5 – Yetz Darf Men Leiben (B. Witler) Paul Ambach, voz
Martha sempre teve o costume de acolher, tanto em sua vida pessoal quanto sob as suas protetoras asas artísticas, artistas mais jovens, e um seu modus operandi bem típico nas últimas décadas tem sido o das participações, por óbvio muito especiais, em álbuns de colegas que admira. O pianista russo-alemão Jura Margulis teve o privilégio de ter a Rainha a seu lado para encerrar este volume de suas próprias transcrições para piano, tocando a dois pianos a Noite no Monte Calvo, de Mussorgsky. Eu, que adoro Modest quase tanto quanto amo Marthinha, não só fiquei entusiasmado ao finalmente ouvi-la tocar uma de suas obras, como também passei a sonhar com o dia em que a escutaria a tocar os Quadros de uma Exposição, que certamente ficariam supimpas sob suas mãos. Pode parecer um pedido exagerado a quem já tem oitenta anos e um tremendo repertório, mas não perdi minhas esperanças; muito pelo contrário, eu as vi renovadas quando Martha, em 2020, aprendeu e tocou as partes de piano da maravilhosa Der Hirt auf dem Felsen de Schubert e, para minha maior alegria, de duas das Canções e Danças da Morte de Mussorgsky. Sonhar, enfim, nada custa – ainda.
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Matthäus-Passion, BWV 244
1 – Wir setzen uns mit Tränen nieder
Wolfgang Amadeus MOZART Do Requiem em Ré menor, K. 626 2 – Confutatis maledictis
3 – Lacrimosa
Giacomo PUCCINI (1858-1924)
4 – Crisantemi, SC 65
Franz LISZT 5 – Mephisto-Walzer
Robert SCHUMANN De Dichterliebe, Op. 48: 6 – No. 4: Wenn ich in deine Augen seh’
Dmitri SHOSTAKOVICH Da Sinfonia no. 8 em Dó menor, Op. 65 7 – Toccata
8 – Passacaglia
Sayat NOVA (1712-1795)
Transcrição de Arno Babadjanian (1921-1983)
9 – Melodie – Elegie
Modest Petrovich MUSSORGSKY (1839-1881)
10 –Noch′ na lysoy gore (“Noite no Monte Calvo”), para dois pianos
Jura Margulis, piano (1-10) e transcrições (exceto faixa 9)
Martha Argerich, piano II (faixa 10)
“Noite no Monte Calvo” gravada em Lugano, Suíça, junho de 2014
Uma overdose de genialidade portenha, e praticamente um esculacho de Buenos Aires para com cidades menos dotadas de talentos (i.e., quase todas as outras), foi aquela noite de agosto de 2014 em que Les Luthiers encontraram Daniel Barenboim e Martha Argerich no sacrossanto palco do Teatro Colón. Depois da habitual dose de obras do imerecidamente obscuro Johann Sebastian Mastropiero, o genial quinteto juntou-se a Barenboim para narrar A História do Soldado de Stravinsky, e os seis se somariam a Martha para o Carnaval dos Animais de Saint-Saëns. Nem o vídeo, nem o áudio do memorável encontro foram lançados comercialmente – o que nos obriga a nos contentarmos com o ensaio geral, feito na manhã do concerto, com a plateia repleta de fãs que não tinham conseguido ingressos para a noite:
Martha e Daniel voltariam a se encontrar no Colón no ano seguinte, sem Les Luthiers, para um programa de formato mais familiar a eles. À rara audição dos estudos canônicos de Schumann no arranjo improvável de Debussy, eles fizeram seguir uma obra do próprio Claude-Achille e a irresistível sonata com percussão de Bartók: repertório incomum e – em que pese a ausência de J. S. Mastropiero – nada menos que tremendo.
Robert SCHUMANN Seis estudos em forma canônica, para piano, Op. 56
Transcrição para dois pianos de Claude Debussy (1862-1918)
1 -Nicht zu schnell
2 – Mit innigem Ausdruck
3 – Andantino
4 – Innig
5 – Nicht zu schnell
6 -Adagio
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) En Blanc et Noir, suíte para dois pianos, L. 134
7 – Avec Emportement (À Mon Ami A. Koussevitzky)
8 – Lent. Sombre (Au Lieutenant Jacques Charlot Tué a l’ennemi en 1915, le 3 Mars)
9 – Scherzando (À Mon Ami Igor Stravinsky)
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para dois pianos e percussão, Sz. 110
10 – Assai lento – Allegro molto
11 – Lento, ma non troppo
12 – Allegro non troppo
Daniel Barenboim, piano II
Lev Loftus e Pedro Manuel Torrejón González, percussão (faixas 10-12)
Gravado ao vivo em Buenos Aires, Argentina, agosto de 2015
Dezoito anos depois de sua primeira gravação juntos, Martha e Itzhak Perlman reecontraram-se em Paris para novas sessões em estúdio – as primeiras de Martha na década para o repertório de concerto. Às Fantasiestücke de Schumann e a sonata no. 4 de Bach, eles somaram a fatia brahmsiana da sonata F-A-E, completando o álbum com uma sonata de Schumann gravada em 1998 e ainda mantida inédita por falta de pareamento.
“Trabalhar com Martha”, disse Itzhak, “foi uma experiência única para mim… seu brilho e as cores que ela usa quando toca são reconhecíveis tão longo você as escuta – é ela, ninguém mais soa assim… Estou muito feliz com que pudemos de fato gravar novamente… quando surgiu a possibilidade de que ela tivesse um punhado de dias livres para gravar eu disse ‘eu irei a qualquer lugar!!!'”. A julgar pela cumplicidade com que tocaram e pelo olhar curioso de Martha para o bonachão Itzhak na capa do álbum, tenho certeza de que a viagem valeu a pena.
Robert SCHUMANN
Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105 1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft
Fantasiestücke, para violino e piano, Op. 73 4 – Zart und mit Ausdruck
5 – Lebhaft, leicht
6 – Rasch und mit Feuer
Johannes BRAHMS Scherzo para violino e piano, WoO 2 (da sonata “F-A-E”, composta em colaboração com Robert Schumann e Albert Dietrich)
7 – Allegro
Johann Sebastian BACH Sonata para violino e teclado no. 4 em Dó menor, BWV 1017
8 – Siciliano. Largo
9 – Allegro
10 – Adagio
11 – Allegro
Itzhak Perlman, violino
Gravado em Saratoga, Estados Unidos, julho de 1998 (1-3) e Paris, França, março de 2016 (4-11)
Ainda que a gravação anterior de Martha para o Carnaval dos Animais – aquela com Gidon Kremer – seja mais famosa, eu prefiro essa, com Antonio Pappano no duplo papel de pianista e regente e Annie, filha de Martha com Charles Dutoit, a narrar. Se aquela com Les Luthiers é melhor que essa, jamais saberemos enquanto os detentores da preciosa gravação no Colón não a trouxerem a público. O que sabemos é que Johann Sebastian Mastropiero é um compositor muitíssimo superior a Saint-Saëns e que, por isso, nossa Rainha deveria tocá-lo mais. Fica a dica, Marthinha.
Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique 5 – Introduction et Marche Royale du Lion
6 – Poules et Coqs
7 – Hémiones
8 – Tortues
9 – L’Éléphant
10 – Kangourous
11 – Aquarium
12 – Personnages à Longues Oreilles
13 – Le Coucou au Fond des Bois
14 – Volière
15 – Pianistes
16 – Fossiles
17 – Le Cygne
18 – Finale
Annie Dutoit, narração
Gabriele Geminiani, violoncelo
Libero Lanzilotta, contrabaixo
Antonio Pappano, piano II e regência
Enquanto se desligava aos poucos do festival centrado sobre si em Lugano, Martha passou a visitar Hamburgo com cada vez mais frequência, até ver um novo festival em torno de si, realizado no mês de junho na soberba Laeiszhalle daquela cidade em que mais chove em toda Alemanha. Este Rendez-vous with Martha Argerich é o tributo fonográfico do impressionante programa do festival em 2018, reunindo um elenco cheio de figuras estelares da galáxia da Rainha – incluindo algumas literalmente familiares, como suas filhas Lyda e Annie e o ex-companheiro Kovacevich. Gosto de todos os discos, repletos que são do elã característico de Marthinha, mesmo quando ela não está de fato a tocar. Meu xodó, no entanto, é o último, com um delicioso Carnaval dos Animais narrado por Annie e uma não menos saborosa seleção de repertório ibérico e latino-americano que se encerra com uma versão tanguera de Eine kleine Nachtmusik que certamente faria Amadeus gargalhar em dois por quatro.
Claude DEBUSSY De Nocturnes, L. 91 1 – Fêtes (arranjo para dois pianos de Maurice Ravel)
Anton Gerzenberg, piano II
Sonata em Sol menor para violino e piano, L. 140 2 – Allegro vivo
3 – Intermède. Fantasque et léger
4 – Finale. Très animé
Géza Hosszu-Legocky, violino Evgeni Bozhanov, piano
5 – Prélude à l’après-midi d’un faune, L. 86
(arranjo para dois pianos do próprio compositor)
Stephen Kovacevich, piano I
Sonata em Ré menor para violoncelo e piano, L. 135
6 – Prologue: Lent, sostenuto e molto risoluto
7 – Sérénade: Modérément animé
8 – Finale: Animé, léger et nerveux
Mischa Maisky, violoncelo
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) 9 – La Valse, poème choreographique (arranjo para dois pianos do próprio compositor)
Nicholas Angelich, piano II
Sonata em Ré menor para violino e violoncelo, M. 73
10 – Allegro
11 – Très vif
12 – Lent
13 – Vif, avec entrain
Alexandra Conunova, violino Edgar Moreau, violoncelo
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Sinfonia no. 1 em Ré maior, Op. 25, “Clássica”
Transcrição para dois pianos de Rikuya Terashima
1 – Allegro
2 – Larghetto
3 – Gavotta: Non troppo allegro
4 – Finale: Molto vivace
Evgeni Bozhanov e Akane Sakai, pianos
5 – Abertura sobre temas hebraicos, para piano, clarinete, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 34
Pablo Barragán, clarinete Akiko Suwanai e Alexandra Conunova, violinos Lyda Chen, viola Edgar Moreau, violoncelo
Suíte de Cinderella (Zolushka), balé em três atos, Op. 87
Arranjo para dois pianos de Mikhail Vasilyevich Pletnev (1957)
6 – Introduction: Andante dolce
7 – Querelle: Allegretto
8 – L’Hiver: Adagio – Allegro moderato
9 – Le Printemps: Vivace con brio – Moderato – Presto
10 – Valse de Cendrillon: Andante – Allegretto – Poco più animato – Più animato – Meno mosso
Akane Sakai eAlexander Mogilevsky, pianos
11 – Gavotte: Allegretto
12 – Gallop: Presto – Andantino – Presto
13 – Valse Lente: Adagio – Poco più animato – Assai più mosso – Poco più animato – Meno mosso (più animato dell’adagio
14 – Finale: Allegro moderato – Allegro espressivo – Presto – Allegro moderato – Andante
Evgeni Bozhanov e Kasparas Uinskas, pianos
Sonata em Dó maior para dois violinos, Op. 56 15 – Andante cantabile
16 – Allegro
17 – Commodo (quasi allegretto)
18 – Allegro con brio
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975) Concerto em Dó menor para piano, trompete e orquestra de cordas, Op. 35
1 – Allegro moderato – attacca:
2 – Lento – attacca:
3 – Moderato – attacca:
4 – Allegro con brio
Sergei Nakariakov, trompete
Symphoniker Hamburg
Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Mi menor, Op. 67
5 – Andante – Moderato – Poco più mosso
6 – Allegro con brio
7 – Largo
8 – Allegretto – Adagio
Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo
Zoltán KODÁLY (1882-1967) Duo para violino e violoncelo, Op. 7 9 – Allegro serioso, non troppo
10 – Adagio – Andante 11 – Maestoso e largamente, ma non troppo lento – Presto
Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Trio para violino, violoncelo e piano no. 1 em Ré menor, Op. 49 (transcrição para flauta, violoncelo e piano)
1 – Molto allegro ed agitato
2 – Andante con moto tranquillo
3 – Scherzo
4 – Finale
Johannes BRAHMS
Sonata para piano e violino no. 2 em Lá maior, Op. 100 1 – Allegro amabile
2 – Andante tranquillo — Vivace — Andante — Vivace di più — Andante — Vivace
3 – Allegretto grazioso (quasi andante)
Akiko Suwanai, violino Nicholas Angelich, piano
Sergey RACHMANINOV
Sonata em Sol menor para violoncelo e piano, Op. 19 4 – Lento. Allegro moderato
5 – Allegro scherzando
6 – Andante
7 – Allegro mosso
Camille SAINT-SAËNS 1-30 – Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique
Annie Dutoit, narração Jing Zhao, violoncelo Lilya Zilberstein e Martha Argerich, pianos
Symphoniker Hamburg Ion Marin, regência
Ernesto Sixto de la Asunción LECUONA Casado (1895-1963) Quatro danças cubanas, para piano
31 – A la antigua
32 – Al fin te ví
33 – No hables más!
34 – En tres por cuatro
Três danças afro-cubanas, para piano 35 – La Conga de Medianoche
36 – La Comparsa
37 – Danza de los Ñañigos
Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Arranjo de Mauricio Vallina (1970)
Da Suíte España, Op. 165 38 – No. 2: Tango
Ángel Gregorio VILLOLDO Arroyo (1861- 1919)
Arranjo de Lea Petra
39 – El Choclo
Mauricio Vallina, piano
Eduardo Oscar ROVIRA (1925- 1980)
40 – A Evaristo Carriego
Ástor PIAZZOLLA 41 – Triunfal
42 – Adiós Nonino
Wolfgang Amadeus MOZART 43 – Musiquita Noturna (arranjo do Allegro da Eine Kleine Nachtmusik, K. 525)
Jing Zhao, violoncelo (faixa 40)
The Guttman Tango Quartet:
Michael Guttman, violino
Lysandre Denoso, bandoneón
Chloe Pfeiffer, piano
Ariel Eberstein, contrabaixo
Entre os protegidos de Martha Argerich, o sul-coreano Dong Hyek Lim é um dos meus favoritos: não são muitos os jovens pianistas que conseguem, na falta de melhor definição, dizer a música sem firulas egocêntricas, nem aparentar qualquer esforço, mesmo nas passagens mais cabeludas do repertório. Aqui ele doma o monstruoso Rach 2 com um som apropriadamente grande e muita precisão, para depois encarar as Danças Sinfônicas de Sergey em companhia de Sua Majestade, que lhe concede o privilégio da especialíssima participação em seu álbum: uma moral e tanto para o pibe.
Sergey RACHMANINOV Concerto para piano e orquestra no. 2 em Dó menor, Op. 18 1 – Moderato
2 – Adagio sostenuto – Più animato – Tempo I
3 -Allegro scherzando
Dong Hyek Lim, piano
BBC Symphony Orchestra
Alexander Vedernikov
Gravado em Londres, Reino Unido, setembro de 2018
Danças sinfônicas para orquestra, Op. 45
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
4 – Non allegro
5 – Andante con moto
6 – Lento assai – Allegro vivace – Lento assai. Come prima – Allegro vivace
Mais um Rendez-vous com Martha em Hamburgo, desta vez em 2019, com resultados muito bons, ainda que tão entusiasmantes quanto os do ano anterior. Jamais escreveria isso num tom de queixume, mas a Rainha legou-nos tantas interpretações memoráveis que as revisitas aos itens de seu repertório despertam comparações com as legendárias versões anteriores, num curioso efeito colateral dos setenta anos de carreira e duma magnífica discografia. Refiro-me, principalmente, à gravação do concerto de Tchaikovsky, em que ela brilha como sempre, mas a Sinfônica de Hamburgo não tanto quanto a Royal Philharmonic sob a mesma batuta de Charles Dutoit, décadas antes. E teria havido, enfim, menos elã no notável elenco de intérpretes do que no ano anterior, ou estarei eu tão só blasé depois de tanto escutar gravações antológicas de Marthinha para lhes apresentar sua discografia integral? Só vocês me poderão dizer.
Felix MENDELSSOHN Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Dó menor, Op. 66
1 – Allegro energico e con fuoco
2 – Andante espressivo
3 – Scherzo
4 – Finale. Allegro appassionato
Renaud Capuçon, violino
Edgar Moreau, violoncelo
Johannes BRAHMS
Sonata para violino e piano no. 1 em Sol maior, Op. 78 5 – Vivace ma non troppo
6 – Adagio
7 – Allegro molto moderato
Wolfgang Amadeus MOZART
Andante e variações em Sol maior para piano a quatro mãos, K. 501 1 – Thema – Variationen I-V
Stephen Kovacevich e Martha Argerich, piano
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer” 2 – Adagio sostenuto — Presto
3 – Andante con variazioni
4 – Finale. Presto
Tedi Papavrami, violino
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828) Fantasia em Fá menor para piano a quatro mãos, D. 940 5 – Allegro molto moderato
6 – Largo
7 – Scherzo. Allegro vivace
8 – Finale. Allegro molto moderato
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23 1 – Allegro non troppo e molto maestoso
2 – Andantino semplice – Prestissimo – Tempo I
3 – Allegro con fuoco
Symphoniker Hamburg
Charles Dutoit, regência
Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971) Les Noces, Cenas Coreográficas com Música e Vozes
4 – La tresse
5 – Chez le Marié
6 – Le Départ de la Mariée
7 – Le Repas de Noces
Nicholas Angelich, Gabriele Baldocci, Alexander Mogilevsky e Stepan Simonian, pianos
Europa Choir Akademie Görlitz
Charles Dutoit, regência
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757) Sonatas (Esercizi) para teclado: 1 – K. 495 em Mi maior
2 – K. 20 em Mi maior
3 – K. 109 em Lá menor
4 – K. 128 em Si bemol menor
5 – K. 55 em Sol maior
6 – K. 32 em Ré menor
7 – K. 455 em Sol maior
Evgeni Bozhanov, piano
Johann Sebastian BACH Concerto em Lá menor para quatro pianos e orquestra de cordas, BWV 1065 8 – Allegro
9 – Largo
10 – Allegro
Martha Argerich, Dong Hyek Lim, Sophie Pacini e Mauricio Vallina, pianos
Symphoniker Hamburg
Adrian Iliescu, regência
Robert SCHUMANN
Kinderszenen, para piano, Op. 15 11 – Von fremden Ländern und Menschen
12 – Kuriose Geschichte
13 – Hasche-Mann
14 – Bittendes Kind
15 – Glückes genug
16 – Wichtige Begebenheit
17 – Träumerei
18 – Am Kamin
19 – Ritter vom Steckenpferd
20 – Fast zu ernst
21 – Fürchtenmachen
22 – Kind im Einschlummern
23 – Der Dichter spricht
Martha Argerich, piano
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Introdução e Polonaise Brilhante em Dó maior, para violoncelo e piano, Op. 3
24 – Largo – Alla polacca
Wolfgang Amadeus MOZART Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381 1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto
Martha Argerich e Akane Sakai, piano
Claude DEBUSSY
Petite Suite, para piano a quatro mãos, L. 65 4 – En bateau
5 – Cortège
6 – Menuet
7 – Ballet
Sergei Babayan e Evgeni Bozhanov, piano
Enrique GRANADOS Campiña (1862-1916)
Transcrição para violino e piano de Fritz Kreisler (1875-1962)
Das Doze danças espanholas, Op. 37 8 – No. 5: Andaluza
Friedrich “Fritz” KREISLER (1875-1962)
9 – Schön Rosmarin
Géza Hosszu-Legocky, violino
Sergei Babayan, piano
Francis Jean Marcel POULENC (1899-1963) Sonata para dois pianos, FP 165
10 – Prologue
11 – Allegro molto
12 – Andante lyrico
13 – Epilogue
Witold Roman LUTOSŁAWSKI (1913-1994)
14 – Variações sobre um tema de Paganini, para dois pianos
Karin Lechner e Sergio Tiempo, pianos
Sergey RACHMANINOV
Das Seis peças para piano a quatro mãos, Op. 11 15 – No. 4: Valsa
A gravação mais recente de Martha, já sob a égide da Covid-19, foi feita em duo com a pianista grega Theodosia Ntokou, outra de suas muito queridas protegidas. A escolha de uma transcrição da sinfonia “Pastoral” de Beethoven só não é mais curiosa do que a própria versão escolhida: em lugar da mais famosa e autoritativa, feita por Carl Czerny, aluno do próprio renano, elas escolheram o obscuro arranjo do ainda mais obscuro Selmar Bagge. A “Pastoral” foi-me uma grata surpresa, assim como lhes será a bonita leitura que Ntokou entrega da sonata “Tempestade”, depois de se despedir da Rainha. E, já que estamos a falar de despedidas, despeço-me eu aqui por terminar de oferecer-lhes, ao longo de oito capítulos e incontáveis adiamentos, a discografia completa da maior pianista de nosso tempo, num tributo aos seus oitenta anos que, concluído já no caminho de seus oitenta e dois, deseja-lhe a saúde e o fogo de sempre para oferecer ao público que tanto a ama o estupor com que ela o nutre há mais de sete décadas.
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral”
Transcrição para dois pianos de Selmar Bagge (1823-1896)
1 – Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande. Allegro ma non troppo
2 – Szene am Bach. Andante molto moto
3 – Lustiges Zusammensein der Landleute. Allegro
4 – Gewitter. Sturm. Allegro
5 – Hirtengesang. Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm. Allegretto
Theodosia Ntokou, piano II
Gravado em Lugano, Suíça, julho de 2020
Das Três sonatas para piano, Op. 31: No. 2 em Ré menor, “Tempestade”
6 – Largo
7 – Adagio
8 – Allegretto
Martha chegou aos quarenta com a reputação consolidada: uma das maiores pianistas do seu tempo, um fenômeno que abarrotava todas as salas de concerto, e tão célebre pelos recitais que dava quanto por aqueles que cancelava. Sua aversão tanto à cultura do espetáculo quanto ao estrelato levou-a, ao longo da década, a evitar a imprensa e os holofotes. Pouco a pouco, também, trocou as aparições solo por colaborações com amigos que, como veríamos nas décadas seguintes, seriam mantidas por toda a vida. Isso, naturalmente, refletiu-se em seu legado discográfico nos anos 80: muitos duos, alguns concertos, apenas um (e derradeiro) álbum solo – e, o mais incrível, nenhum Chopin.
Um dos mais fieis escudeiros de Martha, o leto-israelense Mischa Maisky (1948) é tão próximo da Rainha que ela escolheu ser sua vizinha quando mudou-se para Bruxelas. Maisky é, claro, um ótimo violoncelista, mas tende sempre a romantizar bastante as coisas, embora sua vizinha, felizmente, quase sempre lhe sirva de antídoto aos excessos de sacarose. O arranjo para violoncelo da sonata de Franck – um dos xodós de Martha, que a gravou tantas vezes, sempre com parceiros diferentes – é muito atraente, e as obras de Debussy que fecham o disco me fazem lamentar, como já fizera quando comentei a gravação com Gitlis, que a Rainha não tenha gravado mais coisas do pai da Chouchou.
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890)
Arranjo de Jules Delsart (1844-1900) Sonata em Lá maior para violoncelo e piano 1 – Allegretto ben moderato
2 – Allegro
3 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
4 – Allegretto poco mosso
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) Sonata em Ré menor para violoncelo e piano
5 – Prologue: Lent – Sostenuto e molto risoluto
6 – Sérénade et Final (Modérément animé – Animé)
La Plus que Lente, valsa para piano
Arranjo para violoncelo e piano de Mischa Maisky (1948)
7 – Molto rubato con morbidezza
Dos Prelúdios para piano, Livro I: 8 – No. 12: Minstrels: Modéré (arranjo de Mischa Maisky para violoncelo e piano)
Martha e Nelson Freire (1944-2021) eram amigos desde os tempos de estudantes em Viena. Sobretudo, e com o devido perdão pelo lugar-comum, eram almas gêmeas e o demonstravam sobejamente quando tocavam em duo. Eu jurava que este disco, que inaugurou a parceria deles em estúdios de gravação, já fazia parte do acervo do PQP Bach. Enganei-me: ele só foi, em verdade, citado pelo patrão numa outra postagem com os dois, em que ele contou de seu breve encontro com a deusa para um autógrafo em Porto Alegre, e da espirituosa mensagem que ela deixou em seu LP.
Sergey Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943)
Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17 1 – Introduction
2 – Valse
3 – Romance
4 – Tarantella
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) La valse, Poème Chorégraphique pour Orchestre Transcrição para dois pianos do próprio compositor
5 – Mouvement de valse viénnoise
Witold Roman LUTOSŁAWSKI (1913-1994)
Variações sobre um tema de Paganini, para dois pianos 6 – Tema – Variações I-XII – Coda
Nelson Freire, piano
Gravado em La Chaux-de-Fonds, Suíça, em agosto de 1982
Grande amigo de Martha, o cipriota Nicolas Economou (1953-1993) certamente estaria a dividir os palcos com ela até hoje, não tivesse sucumbido jovem ao alcoolismo e, por fim, a uma desgraça automobilística. O destaque dessa gravação, a única que fizeram, é a hábil transcrição de Economou para a suíte de “O Quebra-Nozes” de Tchaikovsky, dedicada a Stéphanie e Semele, as caçulas da dupla.
Sergey RACHMANINOFF Danças Sinfônicas, Op. 45, para dois pianos
1 – Non allegro
2 – Andante con moto
3 – Lento assai – Allegro vivace – Lento assai. Come prima – Allegro vivace
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Suíte do balé “O Quebra-Nozes”, Op. 71a
Transcrição para dois pianos de Nicolas Economou (1953-1993)
4 – Ouverture-miniature: Allegro giusto
5 – Danses Caractéristiques – Marche: Tempo di Marcia viva
6 – Danses Caractéristiques – Danse de la Fée Dragée: Andante non troppo
7 – Danses Caractéristiques – Danse Russe – Trépak: Tempo di Trepak, molto vivace
8 – Danses Caractéristiques – Danse Arabe: Allegretto
9 – Danses Caractéristiques – Danse Chinoise: Allegro moderato
10 – Danses Caractéristiques – Danse des Mirlitons: Moderato assai
11 – Valse Des Fleurs: Tempo de Valse
Nicolas Economou, piano
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em março de 1983
Martha sequer completara quarenta e dois anos quando nos legou seu último registro solo em estúdio. Enfastiada do processo de gravação, e num resmungo crescente quanto a solidão nos recitais e sessões (e eu acho que sua expressão amuada na capa diz-lhes mais do que eu seria capaz de lhes contar), deixou-nos um Schumann emblemático antes de se calar para sempre como recitalista em discos. Horowitz, com quem ela quisera ter aulas, ficaria faceiro com a jamais-aluna se ouvisse a endiabrada “Kreisleriana” e as “Cenas Infantis” tocadas assim, com a verve e o colorido que lhe eram tão característicos.
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856) Kinderszenen, para piano, Op. 15 1 – Von fremden Ländern und Menschen
2 – Kuriose Geschichte
3 – Hasche-Mann
4 – Bittendes Kind
5 – Glückes genug
6 – Wichtige Begebenheit
7 – Träumerei
8 – Am Kamin
9 – Ritter vom Steckenpferd
10 – Fast zu ernst
11 – Fürchtenmachen
12 – Kind im Einschlummern
13 – Der Dichter spricht
Kreisleriana, Fantasias para piano, Op. 16 14 – Äußerst bewegt
15 – Sehr innig und nicht zu rasch
16 – Sehr aufgeregt
17 – Sehr langsam
18 – Sehr lebhaft
19 – Sehr langsam
20 – Sehr rasch
21 – Schnell und spielend
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em abril de 1983
Beethoven é, confessadamente, o compositor favorito de Martha, mas, em vivo contraste com seu amado Schumann, não o gravou muito quanto diz gostar dele. Se ela não tivesse abandonado as gravações solo, talvez encarasse a empreitada de registrar algumas sonatas do renano, como sói acontecer com os pianistas em maturidade artística. Por outro lado, os dois primeiros concertos para piano de Ludwig, seus cavalos de batalha como compositor-pianista recém-chegado a Viena, são figurinhas fáceis nos concertos da Rainha e em suas gravações ao vivo. Essa aqui, com a orquestra do Concertgebouw sob o patriarca dos Järvi, é uma das melhores, à qual se segue uma bonita “Patética” de Tchaikovsky, conduzida por aquele discreto gigante que atendia por Antal Doráti.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19 1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondò. Molto allegro
Koninklijk Concertgebouworkest Neeme Järvi, regência
Gravado em Amsterdã, Países Baixos, em novembro de 1983
Pyotr TCHAIKOVSKY
Sinfonia no. 6 em Si menor, Op. 74, “Patética”
4 – Adagio – Allegro non troppo
5 – Allegro con grazia
6 – Allegro molto vivace
7 – Finale — Adagio lamentoso
Koninklijk Concertgebouworkest Antal Doráti, regência
Gravado em Amsterdã, Países Baixos, em novembro de 1983
Não é todo mundo que tem dois parças letões. Mas Martha não é todo mundo e tem, além de Mischa Maisky, um outro nativo de Riga como parceiro musical de toda vida. Gidon Kremer (1947) ganhou rápida notoriedade depois de deixar a União Soviética e, com imenso repertório e interpretações muito originais, transformou-se num queridinho de plateias e gravadoras. Gosto dele, apesar de não ser seu fã incondicional, mas, assim como acontece com Maisky, acho que Martha consegue lhe domar os arroubos mercuriais, de modo que as parcerias com ela estão entre suas melhores gravações. Este é o primeiro dos quatro discos com a integral das sonatas de Beethoven, e essas gravações das sonatas da juventude do renano deixam muito óbvio que os dois estão tão entrosados e à vontade quanto os vemos na capa do disco.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Três sonatas para violino e piano, Op. 12
Sonata no. 1 em Ré maior 1 – Allegro con brio
2 – Tema con variazioni: Andante con moto
3 – Rondo: Allegro
Sonata no. 2 em Lá maior 4 – Allegro vivace
5 – Andante, più tosto allegretto
6 – Allegro piacevole
Sonata no. 3 em Mi bemol maior 7 – Allegro con spirito
8 – Adagio con molta espressione
9 – Rondo: Allegro molto
Gidon Kremer, violino
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em novembro de 1984
Martha voltou a unir-se a Maisky para este registro das sonatas para gamba e cravo de Sebastião Ribeiro, e o resultado é surpreendente. Não pela qualidade dos intérpretes, que é notória – embora Martha aqui dome uma vez mais os esguichos de sacarose do vizinho -, e sim pelo quão convincentes estas sonatas soam sob mãos tão pouco barrocas. A transparência e clareza do Bach da Rainha permeiam toda a gravação, e acho Maisky perfeito, quase gambístico, nos movimentos rápidos da sonata em Sol menor.
Johann Sebastian BACH (1685-1750) Três sonatas para viola da gamba e cravo obbligato, BWV 1027-29
Sonata no. 1 em Sol maior, BWV 1027
1 – Adagio
2 – Allegro ma non tanto
3 – Andante
4 – Allegro moderato
Este disco pode ser descrito como uma “baguncinha entre amigos”: Martha trouxe Nelson e Mischa, e Kremer trouxe Isabelle van Keulen e Elena Bashkirova, sua ex-esposa e então recém-mãe dos dois filhos de Daniel Barenboim, que, por sua vez, ainda era casado com Jacqueline du Pré. Antes que isso vire a “Quadrilha” de Drummond, afirmo-lhes que o resultado é bem divertido: Martha e Nelson se esbaldam na idiomática escrita pianística de Saint-Saëns, Maisky aproveita a chance de confeitar o belíssimo Le Cygne, e Kremer e Bashkirova, alternando-se entre seus instrumentos e narração, trazem interesse às pouco gravadas peças que completam o disco (e se a história do touro Ferdinand lhes parecer familiar, certamente será porque vocês já a viram aqui)
Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
O Carnaval dos Animais, Grande Fantasia Zoológica 1 – Introdução e Marcha Real do Leão
2 – Galinhas e Galos
3 – Hémiones (asnos selvagens da Mongólia) – Animais velozes
4 – Tartarugas
5 – O Elefante
6 – Cangurus
7 – Aquário
8 – Personagens de orelhas compridas
9 – O cuco nas profundezas dos bosques
10 – Aviário
11 – Pianistas
12 – Fósseis
13 – O Cisne
14 – Final
Martha Argerich e Nelson Freire, pianos
Gidon Kremer e Isabelle van Keulen, violinos
Tabea Zimmermann, viola
Mischa Maisky, violoncelo
Georg Hörtnagel, contrabaixo
Irena Grafenauer, flauta
Eduard Brunner, clarinete
Edith Salmen-Weber, glockenspiel Markus Steckeler, xilofone
Alan RIDOUT (1934-1996), texto de Munro Leaf
15 – Ferdinand the Bull, para narrador e violino solo
Elena Bashkirova, narração
Gidon Kremer, violino
Frieder MESCHWITZ (1936) Tier-Gebete (“Preces dos Animais”), para narrador e piano Texto: “Prières Dans L’Arche”, de Carmen Bernos de Gasztold, traduzido para o alemão por A. Kassing e A. Stöcklei
16 – A Prece do Boi
17 – A Prece do Rato
18 – A Prece do Gato
19 – A Prece do Cão
20 – A Prece da Formiga
21 – A Prece do Elefante
22 – A Prece da Tartaruga
23 – A Prece da Girafa
24 – A Prece do Macaco
25 – A Prece do Galo
26 – A Prece do Velho Cavalo
27 – A Prece da Borboleta
Gidon Kremer, narração
Elena Bashkirova, piano
Alan RIDOUT, texto de David Delve 28 – Little Sad Sound
Gidon Kremer, narração
Alois Posch, contrabaixo
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em abril de 1985
O segundo ato em disco da longa parceria entre Martha e nosso saudoso Nelson foi esta gravação da versão de concerto da sonata para dois pianos e percussão de Béla Viktor János, que a tocou pela primeira e única vez em público, com a esposa Ditta e sob a regência do compatriota Fritz Reiner, em sua última aparição como concertista, em 1943. Se Nelson e Martha nunca juntaram as escovas de dentes, a impressão que se tem ao escutar esse registro com a Concertgebouw sob o ótimo David Zinman é bem diferente: Ditta e Béla ficariam com inveja da liga que los sudamericanos dão ao originalíssimo tecido sonoro criado pelo magiar genial.
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Concerto para dois pianos, percussão e orquestra 1 – Assai lento – Allegro molto
2 – Lento, ma non troppo
3 – Allegro ma non troppo
Nelson Freire, piano II
Jan Labordus e Jan Pustjens, percussão
Zoltán KODÁLY (1882-1967)
4 – Danças de Galanta (Galántai táncok), para orquestra
Koninklijk Concertgebouworkest
David Zinman, regência
Gravado em Amsterdã, Países Baixos, em agosto de 1985
Martha devora aqui, como é costumeiro, aquele seu outro cavalo de batalha – o Concerto em Sol de Ravel – num disco dedicado a Maurice e ao israelense Gary Bertini (1927-2005), um ótimo regente que nos legou um excelente ciclo de sinfonias de Mahler – do qual vocês poderão ter boa ideia pelo capricho com que ele burila a sensacional segunda suíte de Daphnis et Chloé.
Maurice RAVEL
Suíte no. 2 do balé Daphnis et Chloé 1 – Lever du jour
2 – Pantomime 3 – Danse générale
Concerto para piano e orquestra em Sol maior 4 – Allegramente
5 – Adagio assai
6 – Presto
7 – La Valse, poema coreográfico para orquestra
Kölner Rundfunk-Sinfonie-Orchester
Gary Bertini, regência
Gravado ao vivo em Colônia, Alemanha Ocidental, em dezembro de 1985
Marthita e Danielito foram as duas mais famosas Wunderkinder portenhas nos anos 40. A emigração dos Barenboim para Israel e os diferentes rumos que os prodígios tomaram em suas carreiras fizeram com que se revissem e gravassem só já consagrados e maduros. Essa gravação de Noches em los Jardines de España é minha favorita, pelo que Martha traz de colorido e, surpreendentemente, de sobriedade à parte pianística, integrando seu piano à massa orquestral como se dela fosse só uma parte, e não a briosa solista de costume. Completa o disco um registro da mais efetiva das orquestrações da suíte Iberia de Albéniz, que, apesar de muitas belezas, não é muito minha praia, fã que sou do pianismo magistral da obra original.
Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946) Noches en los Jardines de España, para piano e orquestra 1 – En el Generalife: Allegretto tranquillo e misterioso
2 – Dansa Lejana: Allegretto giusto – En los Jardines de la Sierra de Córdoba: Vivo
Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
De Iberia, suíte para piano (orquestração de Enrique Fernández Arbós)
3 – Evocación
4 – El Puerto
5 – El Albaicin
6 – Fête-Dieu à Séville
7 – Triana
Em mais um álbum que reflete sua risonha capa, Martha e Kremer divertem-se em suas leituras dessas sonatas-irmãs de Beethoven, paridas em números de opus separados tão só por uma mundana questão de papel. O letão e a argentina, intérpretes tão originais quanto impulsivos, emprestam uma bem-vinda inquietude aos tantos gestos temperamentais de Ludwig, sempre o nervosinho. Acima de tudo, o que Martha faz desses discos instiga a imaginação, quando nela pomos a Rainha a tocar algumas das quase trinta sonatas do renano que jamais trouxe a público.
Ludwig van BEETHOVEN
Sonata em Lá menor para violino e piano, Op. 23
1 – Presto
2 – Andante scherzoso, più allegretto
3 – Allegro molto
Sonata em Fá maior para violino e piano, Op. 24, “Primavera” 4 – Allegro
5 – Adagio molto espressivo
6 – Scherzo: Allegro molto
7 – Rondo: Allegro ma non troppo
Mais Kremer, e ainda mais sorrisos. À curiosa escolha do repertório – dois concertos compostos por um Mendelssohn adolescente – soma-se a distinta companhia da Orpheus, uma orquestra de câmara notória por ser conduzida não por regentes, mas por seus próprios músicos, através dum original e participativo processo criativo. A Orpheus, que não é muito afeita a superestrelas, parece ter aberto uma exceção à turma de Martha (pois também gravou com Mischa Maisky), com bons resultados. Aqui, a temperamental dupla de solistas está quase irreconhecível em sua dedicação à transparência e ao equilíbrio clássico dessas peças que só surpreenderão quem desconhece o considerável compositor que Felix já era quando moleque.
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847) Concerto para piano, violino e orquestra de cordas em Ré menor, MWV O4 1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Allegro molto
Concerto para violino e orquestra de cordas em Ré menor, MWV O3 4 – Allegro
5 – Andante
6 – Allegro
O status de superestrela garantiu a Martha gravidade suficiente para atrair outros astros à sua órbita e promover festivais centrados em sua presença, como os de Beppu (Japão) e Lugano (Suíça), bem como em sua Buenos Aires natal. Aqui, ela é parte duma constelação granjeada por Gidon Kremer para o festival de Lockenhaus, na Áustria, capitaneado por ele. A participação de Martha resumir-se-ia ao duo que abre o disco, com a participação de Alexandre Rabinovitch (mais – mas MUITO mais – sobre ele em breve), mas resolvi encerrá-lo com uma breve peça de Kreisler tocada com o capitão Kremer, transplantada de outro disco. O recheio é muito, e muito bom Schubert, com destaque para dois pouco ouvidos trios.
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828) Rondó em Ré maior para piano a quatro mãos, D. 608
1 – Allegretto
Martha Argerich e Alexandre Rabinovitch, piano
2 – 25 Winterreise, ciclo de canções sobre poemas de Wilhelm Müller, D. 911
Robert Holl, baixo
Oleg Maisenberg, piano
Trio em Mi bemol maior para piano, violino e violoncelo, D. 897, “Notturno”
26 – Adagio
Oleg Maisenberg, piano
Gidon Kremer, violino
Clemens Hagen, violoncelo
Trio em Si bemol maior para violino, viola e violoncelo, D. 581
27 – Allegro moderato
28 – Andante
29 – Menuetto: Allegretto
30 – Rondo: Allegretto
Natural de Baku, no Azerbaijão, mas educado na Rússia e radicado na Suíça, o pianista, compositor e regente Alexandre Rabinovitch será figurinha fácil na próxima década de vida artística de nossa Rainha. Nessa gravação, eles encaram a travessia da monumental suíte “Visões do Amém”, de Olivier Messiaen, composta durante a ocupação nazista da França (e depois de sua indesejável temporada em Görlitz) e destinada à interpretação do próprio compositor e de sua esposa, Yvonne Loriod. Messiaen criou as partes para piano especificamente para os temperamentos dos dois, destinando ao piano de Yvonne as “dificuldades rítmicas, os clusters, tudo que tem velocidade, charme e qualidade de som” e a seu próprio “a melodia principal, elementos temáticos, tudo o que demanda emoção e força”. A descrição de Yvonne lhes pareceu familiar? Pois escutem a gravação e me contem quem tocou a parte de Mme. Loriod.
Olivier Eugène Prosper Charles MESSIAEN (1908-1992) Visions de l’Amen, para dois pianos (1943)
1 – Amen de la Création
2- Amen des étoiles, de la planète à l’anneau
3 – Amen de l’agonie de Jésus
4 – Amen du Désir
5 – Amen des Anges, des Saints, du chant des oiseaux
6 – Amen du Jugement
7 – Amen de la Consommation
Alexandre Rabinovitch, piano II
Gravado em Londres, Reino Unido, em dezembro de 1989
Um de meus discos para uma ilha deserta: a maravilhosa gravação do Concerto em Sol de Ravel (1984), pareada com o no. 3 de Prokofiev. Duas das especialidades da Rainha, sob a batuta de um de seus bruxos, Claudio Abbado.
Numa outra empreitada com Gidon Kremer, gravada em 1985, Martha encara peças contemporâneas que, se já foram interpretadas com mais “sotaque”, são tão boas que sempre merecem a audição. Minha favorita entre as gravações desse álbum é a de Messiaen.
Dois cavalos de batalha argerichianos, interpretados com o brilho de sempre pela Rainha, a despeito do som orquestral cavernoso e pouco congenial (1985)
Minha gravação favorita das sonatas para violoncelo e piano de Beethoven deve quase tudo a Martha: foi seu brilho no finale daquela obra-prima, a sonata Op. 69, que primeiro me chamou a atenção para seu nome, quando eu era um garoto de poucos fios de barba a escutar a gravação, no mesmo 1990 em que foi lançada.
Nicolas Economou toca “Martha My Dear”, dos Beatles, para a própria, no início dos anos 80.
De acordo com a Wikipedia, Lugano é uma cidade com 65 mil habitantes, localizada no Sul da Suíça, um local paradisíaco, ao lado de um lago absolutamente magnífico.
Foi ali que Martha Argerich organizou por muitos anos um Festival de Música, revelando muitos músicos talentosos, e outros já famosos aproveitaram para desfilarem ainda mais seu talento.
A série começa com o genial Trio para Piano ‘Ghost’ de Beethoven, belamente interpretado por Martha, o Capuçon violinista, Renaud, e Mischa Maisky, que dispensa apresentações. Músicos deste nível tocando juntos, em um lugar como este, com certeza seria o passeio dos sonhos de muita gente.
CD 1:
Ludwig van Beethoven (1770-1827):
Piano Trio in D major “Ghost”, Op. 70,1
Ferruccio Busoni (1866-1924) / Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791):
Fantasie für eine Orgelwalze, arrangement for 2 pianos in F minor (after Mozart, K. 608)
Robert Schumann (1810-1856):
Andante and Variations for 2 pianos in B flat major, Op. 46
Kinderszenen, Op. 15
Martha Argerich – piano
Lilya Zilberstein – piano
Gabriela Montero – piano
Renaud Capuçon – violin
Mischa Maisky – cello
CD 2:
Ludwig van Beethoven (1770-1827):
Piano Quartet No. 2 in D major, WoO 36,2
Maurice Ravel (1875-1937):
Ma mère l’oye, suite for piano 4 hands
Mikhail Glinka (1804-1857):
Grand Sextet for piano, two violins, viola, cello and double-bass
Olivier Messiaen (1908-1992):
Theme and Variations, for violin & piano
Maurice Ravel (1875-1937):
Daphnis et Chloé, suite No. 2 (transcr. 2 pianos Lucien Garban)
Martha Argerich – piano
Alexander Mogilevsky – piano
Karin Lechner – piano
Francesco Piemontesi – piano
Sergio Tiempo – piano
Lucia Hall – violin
Alissa Margulis – violin
Lida Chen – viola
Nora Romanoff-Schwarzberg – viola
Mark Drobinsky – cello
Enrico Fagone – double bass
CD 3:
Béla Bartók (1881-1945):
Violin Sonata No.1 Sz75
Ernő von Dohnányi (1877-1960):
Piano Quintet No.1 in C minor, op.1
Witold Lutosławski (1913-1994):
Variations on a Theme by Paganini for 2 pianos
Martha Argerich – piano
Nicholas Angelich – piano
Mauricio Vallina – piano
Renaud Capuçon – violin
Dora Schwarzerg – violin
Lucia Hall – violin
Nora Romanoff-Schwarzberg – viola
Jorge Bosso – cello
Na série de postagens com as grandes sinfonias do Século XX, trago hoje uma postagem original de CDF Bach em 2010. Não tenho notícias sobre o paradeiro deste irmão de PQP e FDP, quem souber dele, favor nos avisar nos comentários. O Lutoslawski da 1ª Sinfonia, do Concerto para Orquestra e da Música Fúnebre deve muito à linguagem de Bartók. Cito o que escreveu Itadakimasu em outra postagem dos primórdios deste site, quando muitos de nós tínhamos internet discada: Verdade que é o primeiro Lutosławski, ligado claramente à música de Bartók (de fato, mesmo depois, ele continuaria umbilicalmente ligado, mas de formas mais sinuosas, complexas, ambíguas; aqui, não, tudo é direto e cristalino, ainda que esteja longe, muito longe, de ser a obra que Bartók não escreveu), mas seja o compositor teoricamente visto como conservador (e tenho muitas ressalvas a essa percepção), seja o vanguardista de pouco depois, Lutosławski é grande, fantástico em sua capacidade de manejar a massa sonora, na compactação e na fluência de suas peças, na sua capacidade de construir climas. Pessoalmente, gosto mais desta 1ª Sinfonia do que de qualquer peça puramente orquestral de Bartók (salvo, talvez, pelo início do Mandarim Miraculoso).
O Lutoslawski da 2ª Sinfonia e do Livre pour Orchestre escreve de modo mais complexo, menos ligado à música folclórica, mas sempre buscando criar uma conexão íntima com o ouvinte, ainda que isso não vá acontecer com 100% das pessoas. Sem problemas: nem toda mensagem jogada em uma garrafa vai ser lida, nem todo poço furado encontra água. Como escreveu Lutoslawski, seu objetivo ao compor era “encontrar pessoas que no fundo de suas almas sintam o mesmo que eu sinto… Essas são as pessoas mais próximas de mim, ainda que eu não as conheça pessoalmente. Considero a atividade criativa como um tipo de pescaria de almas, e a melhor cura para a solidão, esta forma tão humana de sofrimento.” Fiquem com a postagem original de CDF Bach, que foi uma dessa almas pescadas.
Não há nada mais complexo e difícil que ouvir. Quando paramos de falar (um grande passo, aliás), não necessariamente paramos para ouvir. A mente continua sua tagarelice até entrar em uníssono com o interlocutor. Para os mais incontidos, frases rápidas são exclamadas para ressaltar as idéias do outro (que na verdade são também do ouvinte). No fim, tudo continua como começou. O prazer que sentimos na concordância desfaz qualquer possibilidade de aprendermos algo diferente.
A música, no entanto, nos faz aprender um bocado sobre essas deficiências. Ouvindo a música de Haydn, por exemplo, consigo ver minhas limitações, principalmente quando o mestre me prega aquelas surpresas: tudo levando a um caminho e, pronto! Dou de cara com um caminho inusitado e nunca imaginado por mim. No futebol, a experiência foi a mesma. Lembro de ter sido um jogador razoável na minha infância, mas ficava puto da vida com os dribles que um fedelho me dava. Ouvir, assim como viver, é confrontar nossas fraquezas. E quem está disposto a isso com frequência?
Outro compositor que mostra muito como é limitada minha imaginação é o polonês Witold Lutoslawski. Sua linguagem não é fácil, mas tem uma unidade e coerência que ajuda o ouvinte a seguir adiante. No fim tenho a sensação de que ganhei muito com meu silêncio.
CD 2
1. Concerto for Orchestra: I. Intrada (Allegro Maestoso)
2. Concerto for Orchestra: II. Capriccio, Notturno E Arioso (Vivace)
3. Concerto for Orchestra: III. Passacaglia, Toccata E Corale (Andante Con Moto – Allegro Giusto)
4. Jeux Vénitiens
5. Livre Pour Orchestre
6. Mi-parti
CD 3
1. Preludia i fuga 1 Preludes Nos 1-7
2. Preludia i fuga 2 Fugue
3. Trois Poèmes d’Henri Michaux I: Pensées
4. Trois Poèmes d’Henri Michaux II: Le grand combat
5. Trois Poèmes d’Henri Michaux III: Repos dans le malheur
6. Paroles tissées
7. Trzy postludia No. 1
Um sensacional álbum triplo que reúne gravações dos anos 90 de música moderna por Anne-Sophie Mutter e diversas orquestras. Tudo é um primor, a começar pelo Concerto neoclássico de Stravinsky. Aliás, cada um dos CDs inicia com uma obra-prima. Há o já citado Concerto de Strava, o belíssimo e insuperável Concerto Nº 2 para Violino e Orquestra de Bartók e o não menos de Berg. Este último tem a triste alcunha de “À Memória de um Anjo”. É que Berg recebeu a notícia da morte de Manon Gropius, filha do arquiteto Walter Gropius e de Alma Mahler. Manon faleceu aos 18 anos, vítima de poliomielite. Naquele momento, Berg estava finalizando o Concerto. Ele então transformou-se num tributo à memória da adolescente e também em um réquiem para si mesmo, que morreria logo depois de compô-lo. O restante tem menos história, mas não é de jogar fora, imagina! Destaque para obras de Lutoslawski, Moret e Rihm, compostas especialmente “Para Anne-Sophie Mutter”. Te mete com ela, rapaz! (Bem, adoraria que ela se metesse comigo).
Anne-Sophie Mutter Modern: Works by Stravinsky / Lutoslawski / Bartók / Moret / Berg / Rihm
Disc 1
Concerto en ré
Composed By – Igor Stravinsky
Conductor – Paul Sacher
Orchestra – Philharmonia Orchestra
1 1. Toccata 5:51
2 2. Aria I 4:09
3 3. Aria II 5:13
4 4. Capriccio 5:49
Partita (“For Anne Sophie Mutter”)
Composed By – Witold Lutoslawski
Piano – Phillip Moll
5 1. Allegro giusto 4:14
6 2. Ad libitum 1:12
7 3. Largo 6:22
8 4. Ad libitum 0:47
9 5. Presto 3:51
Chain 2 (“For Paul Sacher”)
Composed By – Witold Lutoslawski
Conductor – Witold Lutoslawski
Orchestra – BBC Symphony Orchestra
10 1. Ad libitum 3:48
11 2. A battuta 4:58
12 3. Ad libitum 4:58
13 4. A battuta – Ad libitum – A battuta 4:27
Disc 2
Violinkonzert Nr. 2
Composed By – Béla Bartók
Conductor – Seiji Ozawa
Orchestra – Boston Symphony Orchestra
1 1. Allegro non troppo 16:16
2 2. Andante tranquilo – Allegro scherzando – Tempo I 9:58
3 3. Allegro molto 12:13
En rêve (“pour Anne Sophie Mutter”)
Composed By – Norbert Moret
Conductor – Seiji Ozawa
Orchestra – Boston Symphony Orchestra
4 1. Lumière vaporeuse. Mystérieux et envoŭtant 7:13
5 2. Dialogue avec l’Etoile 5:44
6 3. Azur fascinant (Sérénade tessinoise). Exubérant, un air de fête
Disc 3
Violinkonzert (“To the memory of an angel”)
Composed By – Alban Berg
Conductor – James Levine
Orchestra – The Chicago Symphony Orchestra
1 I. Andante – Allegretto 11:31
2 II. Allegro – Adagio 16:12
“Gesungene Zeit” (“Time Chant”) – Dedicated To Anne-Sophie Mutter
Composed By – Wolfgang Rihm
Conductor – James Levine
Orchestra – The Chicago Symphony Orchestra
3 [Anfang / beginning / début / inizio] 14:27
4 [Takt / bar / mesure / battuta 179] 9:56
O Japão costuma idolatrar os virtuosos do piano, porém se um pianista ou músico cancela um concerto no último momento, as consequências são implacáveis. Certa vez, o famoso Arturo Benedetti Michelangeli recusou-se a tocar por algum motivo. Em resposta, confiscaram seu piano pessoal e o mundo musical nipônico declarou-o persona non grata pelo resto da vida. Martha Argerich, hoje com 75 anos, décadas atrás também suspendeu um concerto em Tóquio, o último de sua primeira turnê do Japão, que estava sendo apoteótica. O imperador estaria presente, mas Martha brigara com seu namorado da época, o regente Charles Dutoit, e pegou um avião para o Alaska sem avisar ninguém. Jamais seria perdoada, só que… No ano seguinte, voltou ao Japão pagando sua passagem e deu 14 concertos sem receber nada. O mesmo organizador que tinha sido lesado por ela recebeu a renda de todos os 14 concertos, só que… Ela fez com que um pianista angolano — um dos muitos jovens que Martha auxiliou — sentasse a seu lado para virar as páginas da partitura. O angolano usava uma túnica sem mangas e a exposição da pele masculina no Japão é considerada quase tão obscena como o cancelamento de um concerto, mas ninguém disse nada porque Martha Argerich é algo sobre-humano para os japoneses.
Martha Argerich já tocou com lombalgia, com infecção dentária, em cadeira de rodas, de minissaia (pois perderam sua mala no aeroporto), com grama no cabelo (fizeram-na tocar numa floresta), mas só os concertos que ela suspendeu ficaram famosos. Declara que o que a sufoca desde os oito anos de idade são algumas das características da vida no mundo da música clássica: “Eu não quero ser uma máquina de tocar piano. Vivo sozinha, toco sozinha, ensaio sozinha, como sozinha, durmo sozinha. É muito pouco para mim”. Daniel Barenboim, que a adora, disse: “Martha fez todo o possível para destruir sua carreira, mas não conseguiu”. O primeiro concerto foi cancelado aos dezessete anos, “só para saber como eu me sentiria.” Aos vinte anos, com uma carreira brilhante pela frente, ela passou três anos sem se aproximar de um piano, assistindo TV em um pequeno apartamento em Nova York. Quando o dinheiro acabava, trabalhava como secretária. Afinal, para algo devia servir ter os dedos tão rápidos. A poucas quadras dali, vivia Vladimir Horowitz. Ela tinha a intenção de ir falar com ele para dizer: “Ajude-me a voltar a tocar piano”. Nunca se atreveu a uma visita. Melhor, pois Horowitz estava há dez anos sem tocar em público, submetia-se a sessões regulares de eletrochoque e só aceitava gravar discos em sua própria casa. Mas Argerich, como sabemos, voltou a tocar. Após sua consagração no Concurso Chopin em Varsóvia, em 1965, ela foi ao estúdio de Abbey Road gravar um álbum, porque todos os seus amigos estavam em Londres. Deixaram-na sozinha com um piano no estúdio. Ela pediu uma jarra de café, olhou hesitante para o teclado e executou três vezes o repertório que tinha escolhido. Abandonou a jarra de café vazia e nem ouviu o que tinha gravado. E passou a morar em uma espécie de pensão musical chamada Clube de Londres.
Quem morava lá? Barenboim, Jacqueline Du Pré, Nelson Freire, Fou-Tsong, Kovacevic, todos com apenas um único telefone na entrada do prédio cheio de vazamentos, pianos, sofás comidos pelas traças e cinzeiros. Todos em total liberdade e camaradagem. Havia gente que estava na casa para tocar algum instrumento e os que estavam lá para ouvir e conviver. Para quase todos, aquela comunidade era uma espécie de interlúdio feliz, mas ela entendeu que queria viver assim para sempre. Alugou um orfanato do século XIX, em Genebra — cuja porta não tem chave — povoou-a de pianos, gatos e sofás e recebeu todos os jovens pianistas em crise que a procuraram. Ela os adotava até a recuperação. O(a) adotado(a) tocava piano, participava de jogos de adivinhação, dançava e cozinhava para as filhas de Martha quando ela saía em turnê. Ela tem três filhas de três homens diferentes, apesar de a vida em comunidade lhe dar um ar respeitoso de mulher casada.
Há um belo documentário filmado por sua filha mais nova. É a história íntima da mãe e das filhas. Em uma cena, todas estão sentadas na grama pintando as unhas dos pés. As filhas decidem pintar cada dedo da mãe de uma cor diferente. A agitada Annie, segunda filha (do citado Dutoit), diz que sua lembrança mais viva da infância é a de ficar deitada debaixo do piano, olhando os pés descalços de sua mãe até dormir. “Isto é minha mãe, mais do que seus cabelos, cigarros e gestos: onde já se viram pés tão grandes e tão femininos ao mesmo tempo?”. Stephanie, a mais jovem — diretora do documentário e filha do referido Stephen Bishop Kovacevich –, conta sobre a primeira vez que acompanhou sua mãe num concerto e sobre sua imensa provação: “Tudo era muito solene, muito dramático, eu não gostei, me senti estranha”. Ouviu todo o concerto angustiada nos bastidores até que sua mãe voltou: “Eu estava exausta e ela dez anos mais jovem.” Lyda, a mais velha e a única que já é mãe — é também violoncelista profissional –, fala de quando a mãe foi operada de um feio melanoma em 1999. Depois de três horas e meia na sala de cirurgia, ela estava feliz e radiante em contraste com o esgotamento dos cirurgiões. Eles se recusaram a fazer uma cirurgia convencional para abrir a caixa torácica de Martha, pois “uma pianista precisa de todos os músculos do seu corpo para tocar”.
Até hoje Martha Argerich avisa seus companheiros de palco para não lhe beijarem a mão ou tocarem seu cabelo. Ela não gosta. Já não vive em Genebra, mas em Bruxelas, numa casa também está cheia de pessoas, gatos e pianos. Como Tchékhov, que construiu uma casa para sua família e amigos e um quarto afastado para escrever, ela tem um pequeno apartamento em Paris onde apenas cabem um piano, uma cama, uma televisão e uma imagem de Liszt presa com fita adesiva na parede. Seu próximo projeto é uma pensão para artistas aposentados, como a que fundou Verdi em Milão para cantores que ficaram sem voz. De todas as suas formidáveis frases — “Quando os pianos não me querem, não os toco de jeito nenhum”, “Eu acho que eu nunca me senti exatamente mulher, só consigo me ver como a menina de cinco anos e o menino de quatorze que me habitam”, “Chopin é ciumento, exclusivo, faz com que você toque mal qualquer outro compositor”, “Como me saí hoje? Como um cavalo selvagem ou como um carrossel de cavalinhos?” — a minha favorita é “Sou um pouco infantil. Se fosse inteiramente infantil não diria”.
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Milton Ribeiro escreve:
(1) Há uns dez anos, fui pedir um autógrafo a Martha Argerich após um concerto. Como já tenho certa experiência, não levei um CD, mas um disco de vinil para que a assinatura saísse maior. A foto da capa era bonita pacas. Ela pegou o disco com a mão direita e tapou a boca com a esquerda, fazendo cara de admiração. Olhou para mim e disse:
— Como eu era bonita! Agora sou tão feia, tão horrível, uma bruxa velha.
Comecei a responder que não era nada disso e ela fez um gesto mandando eu me calar:
— Não minta, por favor.
(2) Em janeiro deste ano, vi Martha Argerich tocar o Concerto Nº 3 de Prokofiev no Southbank Center, em Londres, com a Orquestra Filarmônica de São Petersburgo sob a regência de seu velho amigo Yuri Temirkanov. Foi um arraso. Não é somente uma das músicas que mais amo como é uma espécie de “Concerto de Martha”. Ninguém toca aquilo como ela, com aquela miraculosa exatidão e sensibilidade. Após a introdução, quando ela começou a tocar… Olha, não lembro de outra oportunidade em que eu chorei num concerto. Não houve escândalo, ninguém viu, mas aconteceu.
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Brahms / Lutoslawski / Prokofiev / Rachmaninov / Tchaikovsky: Music for Two Pianos
Piotr Tchaikovsky (1840-1893) · The Nutcracker – Suite
1. I. Ouverture miniature:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu)
2. Marche:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
3. Danse de la Fée Dragée:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
4. Danse russe Trepak:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
5. Danse Arabe:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
6. Danse Chinoise:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
7. Danse Mirlitons:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
8. III. Danse des Fleurs:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu)
Sergei Rachmaninov (1873-1943) · Suite No.2 for two pianos
9. I. Introduction (Alla marcia):- Suite No. 2 in C Op. 17
10. II. Valse (Presto):- Suite No. 2 in C Op. 17
11. III. Romance (Andantino):- Suite No. 2 in C Op. 17
12. IV. Tarentelle (Presto):- Suite No. 2 in C Op. 17
Disc: 2 Johannes Brahms (1833-1897) · Sonata in F minor for two pianos, Op. 34b
1. Allegro non troppo:- Sonata in F minor for 2 pianos Op.34b
2. Andante, un poco adagio:- Sonata in F minor for 2 pianos Op.34b
3. Scherzo (Allegro):- Sonata in F minor for 2 pianos Op.34b
4. Finale (Poco sostenuto – Allegro non troppo – Presto non troppo):- Sonata in F minor for 2 pianos Op.34b
Johannes Brahms (1833-1897) · St Antoni Variations
5. Theme – ‘St Anthony Choral’. Andante:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
6. Variation I. Andante con moto:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
7. Variation II. Vivace:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
8. Variation III. Con moto:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
9. Variation IV. Andante:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
10. Variation V. Poco presto:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
11. Variation VI. Vivace:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
12. Variation VII. Grazioso:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
13. Variation VIII. Poco presto:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
14. Finale. Andante:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
Sergei Prokofiev (1891-1953) . Symphony No.1 in D Major, Op.25 “Classical” (for two pianos):
15 I. Allegro 4:11
16 II. Larghetto 3:55
17 III. Gavotte. Non troppo Allegro 1:31
18 Finale. Molto vivace 4:20
Witold Lutosławski (1913-1994)
19 Variations on a Theme by Paganini for two pianos 5:34
Mais um grande disco de música da segunda metade do século XX. Aqui, Schnittke está acompanhado de Lutoslawski e Ligeti, mas permanece como a estrela deste CD da Deutsche Grammophon que faz parte da coleção Classikon, destinada aos clássicos modernos. E, com efeito, são gravações que já tinham aparecido em discos anteriores da DG. Apesar do disco abrir e fechar com Lutoslawski, penso que ele sirva de parênteses para as criações de Ligeti e Schnittke, a meu ver superiores. Vale muito a audição!
Schnittke (1934-1998) / Lutoslawski (1913-1994) & Ligeti (1923-2006): Obras para Orquestra de Câmara
Witold Lutoslawski (1913-1994)
Chain 3 (1986)
for Orchestra
Grande CD de 1999 que traz uma espécie de apanhado, na verdade, da segunda metade do século XX. Para comprovar, basta notar que a maioria dos compositores da “mostra” ainda está viva em 2017. Claro que o destaque fica com Fratres, obra de Pärt (diga Piárt) tão famosa que já foi utilizada em mais de dez filmes, sendo os mais famosos Sangue Negro (There Will Be Blood), de Paul Thomas Anderson e Amor Pleno (To the Wonder), de Terrence Malick. O restante das peças também são excelentes. Um Penderecki da fase radical, uma Gubaidulina sensacional e um Schnittke, ah, Schnittke.
Transformations 20th Century Works Violin & Piano (com Roman Mints e Evgenia Chudinovich)
Artem Vassilev
1. Pieces (5) for violin & piano
2. Pieces (5) for violin & piano
3. Pieces (5) for violin & piano
4. Pieces (5) for violin & piano
5. Pieces (5) for violin & piano
Arvo Pärt
6. Fratres, for violin & piano
Krzysztof Penderecki
7. Miniatures (3) for violin & piano: Movement 1
8. Miniatures (3) for violin & piano: Movement 2
9. Miniatures (3) for violin & piano: Movement 3
Elena Langer
10. Transformations for violin & piano
11. Transformations for violin & piano
Witold Lutoslawski
12. Subito, for violin & piano
Sofia Gubaidulina
13. Dancer on a Tightrope, for violin & piano
Alfred Schnittke
14. Silent Night (Stille Nacht), for violin & piano
Este disco de 1990 é uma joia. E é também um CD de grandes artistas celebrando a talentosa violinista Anne-Sophie Mutter. Temos o imenso Paul Sacher regendo o Concerto de Stravinsky e Witold Lutoslawski conduzindo sua própria música. Garanto-lhes que você não poderá obter performances melhores desta música em CD. Ao menos por enquanto. O conhecido Concerto de Stravinsky é a peça mais conhecida e fácil de compreender neste CD. Mutter é absurdamente brilhante neste concerto. Os Lutoslawski são mais difíceis mas nada agressivos. Eu os colocaria em algum lugar na transição entre a música erudita conservadora do século 20 conservadora e os casos mais intrincados. De qualquer maneira, o prazer de ouvir Mutter é algo.
Igor Stravinsky (1882-1971) / Witold Lutoslawski (1913-1994): Violin Concerto / Chain 2 & Partita
Igor Stravinsky (1882 – 1971)
Concerto en rPartie for violin and Orchestra
1) 1. Toccata [5:51]
2) 2. Aria I [4:09]
3) 3. Aria II [5:13]
4) 4. Capriccio [5:49]
Anne-Sophie Mutter
Philharmonia Orchestra
Paul Sacher
Witold Lutoslawski (1913 – 1994)
Partita (for Violin and Orchestra)
5) 1. Allegro giusto [4:14]
6) 2. Ad libitum [1:12]
7) 3. Largo [6:22]
8) 4. Ad libitum [0:47]
9) 5. Presto [3:51]
Anne-Sophie Mutter
Phillip Moll
BBC Symphony Orchestra
Witold Lutoslawski
Chain 2 Dialogue for Violin and Orchestra
10) 1. Ad libitum [3:48]
11) 2. A battuta [4:58]
12) 3. Ad libitum [4:58]
13) 4. A battuta – Ad libitum – A battuta [4:27]
Anne-Sophie Mutter
BBC Symphony Orchestra
Witold Lutoslawski
O segundo CD do duo Labèque Sisters traz um repertório bem mais eclético, que vai de Tchaikovsky a Berio, passando por Brahms, Dvorák entre outros. Outro grande momento das irmãs, impecáveis em sua incrível capacidade de tocarem juntas como se fossem uma só.
Já trouxe em outra ocasião a gravação das Danças Húngaras de Brahms com essa dupla, mas já faz bastante tempo, então os links também já eram.
2.001. Tchaikovsky Swan Lake, Op.20, TH.12 – Arr. for piano duet – Russian dance
2.002. Brahms Hungarian Dance No.1 in G Minor, WoO 1 No.1 – for piano duet – Allegro molto
2.003. Brahms Hungarian Dance No.20 in E Minor, WoO 1, No.20 – Arr. for piano duet – Poco allegretto – Vivace
2.004. Brahms Hungarian Dance No.5 in G Minor, WoO 1 No.5 – for Piano Duet – Allegro – Vivace
2.005. Dvorák 8 Slavonic Dances, Op.72, B.147 – For Piano Duet – No.2 in E Minor (Allegretto grazioso)
2.006. Dvorák 8 Slavonic Dances, Op.46, B.83 – For Piano Duet – No.8 in G Minor (Presto)
2.007. Bizet Jeux d’enfants, Op.22 – 12 pieces for Piano duet – 11. Petit mari, petite femme
2.008. J. Strauss II Pizzicato Polka – for Piano Duet – Pizzicato Polka
2.009. J. Strauss II Auf der Jagd, Op.373 – for Piano Duet – Polka (Schnell)
2.010. Fauré Dolly Suite, Op.56 – for piano duet – 1. Berceuse
2.011. Poulenc L’Embarquement pour Cythère, valse-musette pour deux pianos FP 150
2.012. Milhaud Scaramouche – for 2 Pianos Op.165b – 3. Brazileira (Mouvement de samba)
2.013. Grainger Country Gardens (Handkerchief Dance) – Arr. for Piano Duet – Country Gardens (Handkerchief Dance)
2.014. Gershwin Three Preludes for Piano (1926) – Arr. for Piano Duet – I. Allegro ben ritmato e deciso, in B flat
2.015. Gershwin Three Preludes for Piano (1926) – Arr. for Piano Duet – II. Andante con moto e poco rubato, in C sharp minor
2.016. Gershwin Three Preludes for Piano (1926) – Arr. for Piano Duet – III. Allegro ben ritmato e deciso, in E flat minor
2.017. Stravinsky Three Easy Pieces (for Piano Four-Hands) – II. Waltz
2.018. Stravinsky 5 Easy Pieces for Piano Duet – 5. Galop
2.019. Lutoslawski Variations on a Theme of Paganini – Arr. for two pianos – Variations on a Theme of Paganini
2.020. Berio Polka, for piano quatre-mains
Já declarei inúmeras vezes aqui no PQPBach que música contemporânea não é muito a minha praia, parei em Stravinsky e Prokofiev, e não me arrisco muito mais no repertório mais recente. Mas confesso que me rendi a este CD logo no início do Concerto para Orquestra do Lutoslawski. Um pouco com certeza pela condução segura de Mariss Jansons e pela execução como sempre impecável da Orquestra da Rádio Bávara. Mas ainda se trata de obra audível para os meus parâmetros.
Szymanowski não é tão novo assim, e essa terceira sinfonia talvez seja sua obra mais conhecida. O Tchaikowski que não é o Piotr, e até onde li não tem nenhum parentesco com aquele, me era um compositor totalmente desconhecido até então. Nunca tinha ouvido nada dele.
Mas volto a ressaltar o primor de execução desta orquestra espetacular, e Mariss Jansons com certeza é um dos grandes regentes da atualidade. Trata-se de um CD para ser ouvido com atenção e diversas vezes, se possível, para se acostumar os ouvidos com a sonoridade dessas obras.
1 (Witold Lutoslawski) Concerto for Orchestra I. Intrada
2 (Witold Lutoslawski) Concerto for Orchestra II. Capriccio notturno e arioso
3 (Witold Lutoslawski) Concerto for Orchestra III. Passacaglia, toccata e Corale
4 (Karol Szymanowsky) Symphony No. 3, Op. 27, ‘Piesn o nocy’ (The Song of the Night) 1 – Moderato asai
5 (Karol Szymanowsky) Symphony No. 3, Op. 27, ‘Piesn o nocy’ (The Song of the Night) 2 – Vivace scherzando
6 (Karol Szymanowsky) Symphony No. 3, Op. 27, ‘Piesn o nocy’ (The Song of the Night) 3 – Largo
Rafal Bartminski – Tenor
Andreas Röhn – Solo Violine
Eis finalmente o quinto cd dessa coleção. A clarinetista israelense Sharon Kam interpreta dois compositores contemporâneos poloneses, Penderecki e Lutoslawski, sendo que o Concerto de Penderecki é uma “world premiere recording”. A moça não é fraca não, como diriam lá na minha terra.
Fiquei muito feliz com a repercussão que essa coleção teve. Até ter acesso a este material essa excelente clarinetista me era desconhecida, mas o talento dela está muito bem demonstrado nesta série de cinco cds que eu trouxe para os senhores nestas últimas semanas. Espero que tenham gostado.
Um CD estranho, ao menos para mim. Não gosto desta obra de Rachmaninov, a coisa melhora muito no Shostakovich, mas volta a cair no Lutoslawski, espécie de resposta ou complemento a Rach. Mas, ouvindo o CD por inteiro, é indiscutível reconhecer a boa sacada do repertório ultra coerente, tendo Paganini como eminência parda que faz de Rach e Lutos pequenas marionetes prontas para serem depostas.
Se eu fosse você ouviria com atenção. Afinal, não pretendo ser o dono da verdade.
Rachmaninov / Shostakovich / Lutoslawski:
Rapsódia sobre um tema de Paganini / Concerto para Piano N° 1 / Paganini Variations
1. Rhapsody On A Theme Of Paganini, Op.43 23:07
2. Piano Concerto No.1 For Piano, Trumpet & Strings, Op.35 – 1. Allegretto 5:58
3. Piano Concerto No.1 For Piano, Trumpet & Strings, Op.35 – 2. Lento 8:27
4. Piano Concerto No.1 For Piano, Trumpet & Strings, Op.35 – 3. & 4. – Moderato – Allegro Con Brio 8:18
5. Paganini Variations, For Piano & Orchestra 8:42
Peter Jablonski, piano
Royal Philharmonic Orchestra
Vladimir Ashkenazy
Para ser bem honesto, como não me dou lá muito bem com canto lírico e, ainda que seja fã de carteirinha de Lutosławski, não aceito muito as coisas cantadas dele (salvo peças para coro), mas entrando em clima natalino, aqui seguem as 20 canções natalinas polonesas dele, escritas logo depois da Guerra, para voz e piano, e rearranjadas no fim da vida para voz, coro e orquestra. Não é o Lutosławski moderníssimo das décadas de 60 e 70, mas, quando a soprano está fora da parada, a música é uma delícia (o arranjo é bem bonito e de extremo bom gosto, como costuma ser o caso ao ser falar em Lutosławski). Tristemente a soprano não costuma estar fora da parada, claro (mas creio que, se não tiverem problemas com canto lírico, será muito boa a fruição).
De lambuja, acompanham a Lacrimosa (peça de 1937) e as muito mais arrojadas Cinco Canções, escritas em 1957.
Boa diversão!
Witold Lutosławski (1913-1994)
1-20 Vinte Canções Natalinas Polonesas, para soprano, coro feminino e orquestra
21 Lacrimosa, para soprano, coro e orquestra
22-26 Cinco Canções, para voz feminina e 30 instrumentos solo
Olga Pasichnyk, Soprano (faixas 1-21) Jadwiga Rappé, Alto (faixa 22-26) Polish Radio Chorus, Kraców (faixas 1-21) (Włodzimierz Siedlik, Chorus Master) Polish National Radio Symphony Orchestra (Katowice) Antoni Wit