A água do Báltico é tão boa para a música erudita que as compositoras — infelizmente raras nesta função — também são beneficiárias. Kaija Saariaho não está apenas entre os mais importantes compositores finlandeses do seu tempo, mas deve ser classificada como um dos principais compositores do final do século XX e início do XXI no mundo. Nascida Kaija Anneli Laakkonen, ela começou a estudar artes plásticas na Universidade de Arte e Design. Casou-se com Markku Veikko Ilmari Saariaho em 1972, mas o casamento durou pouco, terminando no ano seguinte. A compositora, no entanto, manteve seu nome de casada. Em 1976, ela começou seus estudos de composição na Academia Sibelius, com Paavo Heininen. Ela obteve licenciatura em composição da academia em 1980. Depois disso, ela matriculou-se na Musikhochschule em Freiburg, Alemanha, para estudar com o compositor britânico Brian Ferneyhough e, na Alemanha, com Klaus Huber. Foi diplomada em 1983. Por esta altura, já começava a ser conhecida. Sus peças mais importantes no período são as Verblendungen para Orquestra e Gravador (1982-1984) e a peça minimalista Vers le blanc (1982). Esta peça foi composta com a utilização de um computador e um software desenvolvido no IRCAM (L’Institut de Recherche et de Coordination, de Paris), onde ela tinha começado estudos em 1982 a respeito de técnicas de computação e como estas se relacionam com a composição musical. Saariaho mudou-se para Paris no mesmo ano. Em 1984, casou-se com Jean-Baptiste Barrière, também compositor. Teve dois dois filhos, Alexandre, nascido em 1989, e Aliisa, em 1995. Em meados da década de 1980, as obras de Saariaho ganharam muita atenção e ela recebeu muitos prêmios, como o Kranichsteiner em 1986, o Prix Italia em 1988, e no ano seguinte, o Ars Electronica por seus trabalhos Stilleben (1987-1988) e Io (1986-1987). Ela também recebeu muitas encomendas, incluindo uma do Lincoln Center, que resultou em Nymphea (1987), estreada pelo Kronos Quartet. No início dos anos 1990, sua música estava começando a aparecer com maior frequência e começou a ser gravada com regularidade. Saariaho alcançou uma popularidade surpreendente para o tipo de música dissonante que fazia. Outras encomendas chegaram, incluindo uma do Ballet Nacional da Finlândia, para o qual ela produziu The Earth (1991). Muitas de suas composições foram escritas especificamente para grandes artistas ou grupos, como com a peça que ela dedicou ao violinista Gidon Kremer, intitulado Graal Théâtre (1994), e o ciclo de canções Château de l’âme (1996), para Dawn Upshaw. Uma viagem em 1993, para o Japão, levou Saariaho a compor uma obra para percussão e eletrônica, Seis jardins japoneses (1993-1995). A compositora passou um ano ensinando na Sibelius Academy (1997-1998). Em 1999, Kurt Masur e a Filarmônica de Nova York estrearam Oltra mar, e o Festival de Salzburgo, sua primeira ópera, L’amour de loin, em agosto de 2000, que contou com Upshaw e o maestro Kent Nagano. Saariaho também continua a receber prêmios, incluindo o alemão Kaske e o sueco Rolf Schock Prize, ambos em 2001. Muitas de suas obras foram disponibilizados em uma variedade de selos, incluindo BIS, Ondine e DG.
Près – Anssi Karttunen (Cello)
2. Près: I. 7:29
3. Près: II. 3:13
4. Près: III. 8:47
NoaNoa – Camilla Hoitenga (Flute)
5. NoaNoa 8:52
Six Japanese Gardens – Florent Jodelet (Percussion)
6. 6 Japanese Gardens: No. 1. Tenju-an Garden of Nanzen-ji Temple 3:50
7. 6 Japanese Gardens: No. 2. Many Pleasures (Garden of the Kinkaku-ji) 1:28
8. 6 Japanese Gardens: No. 3. Dry Mountain Stream 3:20
9. 6 Japanese Gardens: No. 4. Rock Garden of Ryoan-ji 3:52
10. 6 Japanese Gardens: No. 5. Moss Garden of the Saiho-ji 2:52
11. 6 Japanese Gardens: No. 6. Stone Bridges 3:28
Kaija Saariaho: Graal Théâtre – Château de l’âme – Amers
Graal Théâtre
1) I. Delicato [16:56]
2) II. Impetuoso [10:32]
Gidon Kremer (Violin)
Esa-Pekka Salonen
BBC Symphony Orchestra
Château de l’âme
3) La liane [5:57]
4) A la terre [5:14]
5) La liane [3:01]
6) Pour repousser l’espirit [2:08]
7)Les formules [7:53]
Dawn Upshaw (Soprano)
Esa-Pekka Salonen
Finnish Radio Symphony Orchestra
Finnish Radio Chamber Choir members
Amers
8) Part 1: Libero, dolce, misterioso [8:48]
9) Part 2: Sempre molto energico, ma espressivo [10:59]
Recorded at Maida Vale Studio 1, London, June 1996 (tracks 1-2); Kulttuuritalo (Hall of Culture), Helsinki, June 2000 (tracks 3-7); Finnish Broadcasting Company, Helsinki, June 1998 (tracks 8-9)
Celebramos mais um aniversário da Rainha, e ela não dá sinais de arrefecer o radiador. Vá lá, volta e meia a assombrosa octogenária nos dá um susto, só para daí voltar com tudo – cancelando um concerto ou outro, naturalmente, como sói acontecer desde que Martha é Martha – e nos fazer sonhar com mais uma década todinha (a nona de sua vida, e a oitava como pianista) com ela a forrar nossos tímpanos de deleite.
Já é meu bem surrado costume cantar-lhe parabéns pelo cumple e celebrar a data gaiatamente, compartilhando presentes gravados pela própria aniversariante. Marthinha segue tão ativa fazendo música quanto afastada dos estúdios, de modo que todos os novos registros de sua arte, como há já algumas décadas, provêm somente de apresentações ao vivo. Entre as adições à discografia marthinhiana lançadas desde o 5 de junho passado – as quais passo a lhes oferecer a seguir -, apenas uma foi gravada, conforme a promessa do título desta postagem, na nona década de vida da Rainha. Trata-se de um recital em duo com o violinista Renaud Capuçon, gravado no ano passado, em que ela nos serve algumas de suas especialidades: além de uma das sonatas de Schumann, que a mantém entre os poucos grandes intérpretes a prestigiá-las em seu repertório, ela demonstra seguir afiada como sempre na realização das eletrizantes partes pianísticas da “Kreutzer” e da sonata de Franck.
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856) Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105
1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
4 – Adagio sostenuto – Presto
5 – Andante con variazioni
6 – Finale. Presto
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 7 – Allegretto ben moderato
8 – Allegro
9 – Recitativo – Fantasia. Ben moderato
10 – Allegretto poco mosso
Renaud Capuçon, violino
Gravado ao vivo no Grand Théâtre de Provence em Aix-en-Provence (França) em 22 de abril de 2022.
Apesar de já não serem exatamente novidades, por circularem há algumas décadas entre pirat…, er, fãs incondicionais afeitos a compartilhar gravações não oficiais, os muitos registros ao vivo presentes nos oito volumes duplos lançados pelo selo Doremi ao longo do último ano são muito bem-vindos à discografia de Marthinha. Chamo atenção para as sonatas de Beethoven, particularmente sua elétrica – diria até demais! – leitura da “Waldstein” (volume 10) e uma belíssima interpretação da Op. 101 (vol. 11), que, até prova em contrário, são suas únicas para estas obras-primas; uma rara aparição do Concerto no. 3, aquele que ela menos toca entre os três de Ludwig que estão em seu repertório, e que viria a gravar oficialmente só décadas mais tarde (vol. 9); um Rach 3 ainda menos comum, captado durante a brevíssima janela em que ela o tocou (vol. 13); e colaborações com regentes notáveis como Rafael Kubelík (vol. 13), Lorin Maazel (vol. 10), Claudio Abbado (vols. 10 e 11), além de Charles Dutoit – seu ex-marido, amigo e parceiro artístico de tantas décadas, que se faz presente na maior parte dos tomos dessa coleção, acompanhando Martha por toda parte.
Sergei Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 26
1 – Andante
2 – Tema con variazioni
3 – Allegro, ma non troppo
Orquestra Sinfónica del SODRE Charles Dutoit, regência
Gravado em Montevideo (Uruguai) em 14 de junho de 1969
Robert SCHUMANN Toccata em Dó maior para piano, Op. 7 4 – Allegro
Fantasia em Dó maior para piano, Op. 17
5 – Durchaus fantastisch und leidenschaftlich vorzutragen. Im Legenden-Ton 6 – Mäßig. Durchaus energisch 7 – Langsam getragen. Durchweg leise zu halten
Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849) Barcarola em Fá sustenido maior para piano, Op. 60 8 – Allegretto
Scherzo em Dó sustenido menor para piano, Op. 39 9 – Presto con fuoco
Gravado em Edinburgh (Escócia) em 6 de setembro de 1966
Johann Sebastian BACH (1685-1750) Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807 10 – Prélude
11 – Allemande
12 – Courante
13 – Sarabande – Les agréments de la même Sarabande
14 – Bourrée I & II
15 – Gigue
Robert SCHUMANN
Sonata para piano no. 2 em Sol menor, Op. 22 16 – So rasch wie möglich
17 – Andantino
18 – Scherzo
19 – Rondo
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Jeux d’eau, para piano 20 – Très doux
Franz LISZT Das Harmonies poétiques et religieuses para piano, S. 173:
21 – No. 7: Funérailles
Fryderyk CHOPIN Balada para piano no. 3 em Lá bemol maior, Op. 47 22 – Allegretto
Das Quatro mazurcas para piano, Op. 41: 23 – No. 4 em Lá bemol maior
Das Três mazurcas para piano, Op. 63: 24 – No. 2 em Fá menor
Das Quatro mazurcas para piano, Op. 33:
25 – No. 2 em Ré maior
Scherzo para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 31 26 – Presto
Das Quatro mazurcas para piano, Op. 24:
27 – No. 2 em Dó maior
Gravado em Edinburgh (Escócia) em 8 de setembro de 1967
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23
1 – Allegro non troppo e molto maestoso
2 – Andantino semplice
3 – Allegro con fuoco
Göteborgs Symfoniker Charles Dutoit, regência
Gravado em Göteborg (Suécia) em 27 de outubro de 1972
Robert SCHUMANN Concerto em Lá menor para piano e orquestra, Op. 54 4 – Allegro affettuoso
5 – Intermezzo
6 – Allegro vivace
Česká Filharmonie Václav Neumann, regência
Gravado em München (Alemanha Ocidental) em 29 de março de 1971
Ludwig van BEETHOVEN Das Três sonatas para piano, Op. 10: No. 3 em Ré maior
7 – Presto
8 – Largo e mesto
9 – Minuet. Allegro
10 – Rondo. Allegro
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para piano. BB 88, Sz. 80
11 – Allegro moderato
12 – Sostenuto e pesante
13 – Allegro molto
Fryderyk CHOPIN Vinte e quatro Prelúdios para piano, Op. 28 14 – No. 1 em Dó maior
15 – No. 2 em Lá menor
16 – No. 3 em Sol maior
17 – No. 4 em Mi menor
18 – No. 5 em Ré maior
19 – No. 6 em Si menor
20 – No. 7 em Lá maior
21 – No. 8 em Fá sustenido menor
22 – No. 9 em Mi maior
23 – No. 10 em Dó sustenido menor
24 – No. 11 em Si maior
25 – No. 12 em Sol sustenido menor
26 – No. 13 em Fá sustenido maior
27 – No. 14 em Mi bemol menor
28 – No. 15 em Ré bemol maior
29 – No. 16 em Si bemol menor
30 – No. 17 em Lá bemol maior
31 – No. 18: em Fá menor
32 – No. 19 em Mi bemol maior
33 – No. 20 em Dó menor
34 – No. 21 em Si bemol maior
35 – No. 22 em Sol menor
36 – No. 23 em Fá maior
37 – No. 24 em Ré menor
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
38 – Sonata em Ré menor, K. 141
Fryderyk CHOPIN
Das Três Mazurcas para piano, Op. 63:
39 – No. 2 em Fá menor
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para piano em Dó maior, Op. 53, “Waldstein”
1 – Allegro con brio
2 – Introduzione. Adagio molto
3 – Rondo. Allegretto moderato – Prestissimo
Fryderyk CHOPIN Sonata para piano no. 3 em Si menor, Op. 58 4 – Allegro maestoso
5 – Scherzo. Molto vivace
6 – Largo
7 – Finale. Presto non tanto
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)
Das Estampes para piano, L. 100:
8 – No. 3: Jardins sous la pluie
Gravado em Tokyo (Japão) em 4 de outubro de 1970
Maurice RAVEL Concerto em Sol maior para piano e orquestra
9 – Allegramente
10 – Adagio assai
11 – Presto
Radio-Sinfonieorchester Stuttgart Peter Maag, regência
Gravado em Stuttgart (Alemanha Ocidental) em 10 de outubro de 1969
Ludwig van BEETHOVEN Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro
Radio-Sinfonieorchester Berlin Lorin Maazel, regência
Gravado em Berlim Ocidental (Alemanha Ocidental) em 1972
Sergei PROKOFIEV Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 26
4 – Andante
5 – Tema con variazioni
6 – Allegro, ma non troppo
Orchestre National de la Radiodiffusion Française Claudio Abbado, regência
Gravado na França em 7 de dezembro de 1967
Robert SCHUMANN
Sonata para piano no. 2 em Sol menor, Op. 22 7 – So rasch wie möglich
8 – Andantino
9 – Scherzo
10 – Rondo
Gravado em New York City (Estados Unidos) em 7 de abril de 1973
Ludwig van BEETHOVEN Concerto para piano e orquestra no. 1 em Dó maior, Op. 15
1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondo: Allegro scherzando
Česká Filharmonie
Claudio Abbado, regência
Gravado em Salzburg (Áustria) em 4 de agosto de 1971
Franz LISZT
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi bemol maior, S. 124
4 – Allegro maestoso – Quasi adagio – Allegretto vivace – Allegro animato – Allegro marziale animato
NDR Symphonieorchester Moshe Atzmon, regência
Gravado em Hamburg (Alemanha Ocidental) em 8 de novembro de 1971
Fryderyk CHOPIN Sonata para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 35 5 – Grave. Doppio movimento
6 – Scherzo
7 – Marche funèbre: Lento
8 – Finale: Presto
Gravado em New York City (Estados Unidos) em 2 de outubro de 1974
Johann Sebastian BACH Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807 1 – Prélude
2 – Allemande
3 – Courante
4 – Sarabande – Les agréments de la même Sarabande
5 – Bourrée I & II
6 – Gigue
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para piano em Lá maior, Op. 101
7 – Etwas lebhaft und mit der innigsten Empfindung
8 – Lebhaft. Marschmäßig
9 – Langsam und sehnsuchtsvoll
10 – Geschwind, doch nicht zu sehr, und mit Entschlossenheit
Robert SCHUMANN Kinderszenen, para piano, Op. 15 11 – Von fremden Ländern und Menschen – Kuriose Geschichte – Hasche-Mann – Bittendes Kind – Glückes genug – Wichtige Begebenheit – Träumerei – Am Kamin – Ritter vom Steckenpferd – Fast zu ernst – Fürchtenmachen – Kind im Einschlummern – Der Dichter spricht
Gravado em Veneza (Itália) em 10 de fevereiro de 1969
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata para piano em Lá maior, K. 310 12 – Allegro maestoso
13 – Andante cantabile con espressione
14 – Presto
Gravado em Colônia (Alemanha Ocidental) em 8 de setembro de 1960
Fryderyk CHOPIN Concerto para piano e orquestra no. 2 em Fá menor, Op. 21 1 – Maestoso
2 – Larghetto
3 – Allegro vivace
Detroit Symphony Orchestra Klaus Tennstedt, regência
Gravado em Detroit (Estados Unidos) em 9 de fevereiro de 1978
Robert SCHUMANN Concerto em Lá menor para piano e orquestra, Op. 54 4 – Allegro affettuoso
5 – Intermezzo
6 – Allegro vivace
Orchestre de l’Office de Radiodiffusion-Télévision Française Charles Dutoit, regência
Gravado em Paris (França) em 6 de setembro de 1973
Franz LISZT
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi bemol maior, S. 124
7 – Allegro maestoso – Quasi adagio – Allegretto vivace – Allegro animato – Allegro marziale animato
Göteborgs Symfoniker Norman del Mar, regência
Gravado em Göteborg (Suécia) em 18 de março de 1971
Johann Sebastian BACH Partita no. 2 em Dó menor, BWV 826 1 – Sinfonia
2 – Allemande
3 – Courante
4 – Sarabande
5 – Rondeau
6 – Capriccio
Sergei PROKOFIEV Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83 7 – Allegro inquieto
8 – Andante caloroso
9 – Precipitato
Robert SCHUMANN
Fantasiestücke, para piano, Op. 12 10 – Des Abends – Aufschwung – Warum? – Grillen – In der Nacht – Fabel – Traumes Wirren – Ende vom Lied
Scherzo em Dó sustenido menor para piano, Op. 39 11 – Presto con fuoco
Fryderyk CHOPIN
12 – Andante Spianato e Grande Polonaise Brillante para piano, Op. 22
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
13 – Sonata em Ré menor, K. 141
Gravado em Toronto (Canadá) em 3 de novembro de 1978
Wolfgang Amadeus MOZART Concerto para piano e orquestra no. 25 em Dó maior, K. 503 1 – Allegro Maestoso
2 – Andante
3 – Allegretto
New York Philharmonic Rafael Kubelík, regência
Gravado em New York City (Estados Unidos) em 7 de fevereiro de 1978
Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943) Concerto para piano e orquestra no. 3 em Ré menor, Op. 30 4 – Allegro ma non tanto
5 – Intermezzo. Adagio
6 – Finale. Alla breve
Ludwig van BEETHOVEN Concerto para piano e orquestra no. 1 em Dó maior, Op. 15 1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondo. Allegro scherzando
NDR Orchester Moshe Atzmon, regência
Gravado em Hamburgo (Alemanha Ocidental) em 23 de agosto de 1976
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23
4 – Allegro non troppo e molto maestoso
5 – Andantino semplice
6 – Allegro con fuoco
Orchestre de la Suisse Romande Charles Dutoit, regência
Gravado em Génève (Suíça) em 24 de outubro de 1973
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Jeux d’eau, para piano 7 – Très doux
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
8 – Sonata em Ré menor, K. 141
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para piano. BB 88, Sz. 80
1 – Allegro moderato
2 – Sostenuto e pesante
3 – Allegro molto
Robert SCHUMANN
Fantasiestücke, para piano, Op. 12 4 – Des Abends – Aufschwung – Warum? – Grillen – In der Nacht – Fabel – Traumes Wirren – Ende vom Lied
Maurice RAVEL Gaspard de la nuit, Trois poèmes pour piano d’après Aloysius Bertrand, M. 55 5 – Ondine
6 – Le gibet
7 – Scarbo
Fryderyk CHOPIN Barcarola em Fá sustenido maior para piano, Op. 60 8 – Allegretto
Dos Dois noturnos para piano, Op. 48 9 – No. 1 em Dó menor
Scherzo em Dó sustenido menor para piano, Op. 39 10 – Presto con fuoco
“Siri com Toddy”, diriam alguns, ao verem o lépido trio de Haydn pareado com o demoníaco Concerto no. 3 de Prokofiev, ambos gravados durante participações da Rainha no Festival de Verbier. Mas quem pode reclamar, quando o Haydn é tão lindamente tocado, e o Prokofiev vem num dos melhores registros desta que é, há décadas, uma de suas mais magmáticas intérpretes?
Joseph HAYDN (1732-1809) Trio para piano, violino e violoncelo no. 39 em Sol maior, Hob.XV:25 1 – Andante
2 – Poco adagio
3 – Rondo all’Ongarese (Presto)
Vadim Repin, violino Mischa Maisky, violoncelo
Gravado em Verbier (Suíça) em 27 de julho de 2000
Sergei PROKOFIEV Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 30 4 – Andante – Allegro
5 – Tema con variazioni
6 – Allegro ma non troppo
Verbier Festival Orchestra
Yuri Temirkanov, regência
Falando em reclamar, chegou a minha vez: reconheço os méritos da longa carreira e extraordinária vida de Ivry Gitlis, mas não me conto entre seus fãs como intérprete. Martha, aparentemente, nunca ligou para minha opinião desimportante (no que age muito bem), e foi muito amiga do violinista israelense, a quem acompanhou em muitos recitais, excertos dos quais apareceram nesse volume duplo e meio mal ajambrado da Doremi. Só porque sou implicante, incluí somente as faixas com participação da Rainha – se os aficionados por Gitlis me xingarem o bastante nos comentários, talvez eu lhes traga, algum dia, as faixas que arbitrariamente limei.
Wolfgang Amadeus MOZART
Sonata para violino e piano no. 18 em Sol maior, K. 301 1 – Allegro con spirito
2 – Allegro
Ludwig van BEETHOVEN Da Sonata para violino e piano em Fá maior, Op. 24, “Primavera”: 3 – Rondo
Gravado em Lugano (Suíça) em 14 de junho de 2006
Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
4 – Adagio sostenuto – Presto
5 – Andante con variazioni
6 – Finale. Presto
Friedrich (“Fritz”) KREISLER (1875-1962)
7 – Liebesleid
Gravado em Lugano em 7 de junho de 2003
Claude DEBUSSY
Sonata para violino e piano em Sol menor, L. 140
8 – Allegro vivo
9 – Fantasque et léger
10 – Finale. Très animé
Gravado em Lugano em 24 de junho de 2004
Fritz KREISLER
11 – Schön Rosmarin
12 – Liebesleid
A já longa recusa a tocar solo, tanto nos palcos quanto nos estúdios, naturalmente direcionou Marthinha para rumos e repertórios novos como camerista. Suas participações em festivais, em especial o de Lugano, costumam trazer surpresas, entre as quais poucas poderiam ser mais obscuras que o duo pianístico Bilder aus Osten (“Quadros do Oriente”) de Schumann, aqui num arranjo do clarinetista Mark Denemark, e a seleção de peças de Bruch para piano, clarinete e viola (tocada por Lyda, a filha mais velha da Diva) que encerra o disco a seguir.
Robert SCHUMANN
Bilder aus Osten, para piano a quatro mãos, Op. 66 (arranjo de Mark Denemark para piano, clarinete, viola e violoncelo) 1 – Lebhaft
2 – Nicht schnell und sehr gesangvoll zu spielen
3 – Im Volkston
4 – Nicht schnell ‘Chanson Orientale’
5 – Lebhaft
6 – Reuig andächtig
Mark Denemark, clarinete Lyda Chen, viola Mark Drobinsky, violoncelo
Gravado em Lugano (Suíça) em 16 de junho de 2007
Max Christian Friedrich BRUCH (1838-1920)
Das Oito peças para clarinete, viola e piano, Op. 83: 7 – No. 5: Rumänische Melodie: Andante
8 – No. 6: Nachtgesang: Andante con moto
9 – No. 7: Allegro vivace, ma non troppo
10 – No. 8: Moderato
A um só tempo celebração dos noventa anos de Rodion Shchedrin e um bom apanhado geral de sua fascinante e multifacetada obra, a compilação a seguir, que reúne gravações ao vivo em diversas edições do Festival de Verbier, nos faz ouvir Martha e seu amicíssimo ex-vizinho Mischa Maisky no Concerto Duplo para violoncelo e piano – a única obra de Shchedrin que tem em seu repertório -, além duma minigaláxia de celebridades musicais que inclui o próprio compositor, um excelente pianista.
Rodion Konstantinovich SHCHEDRIN (1932) Concerto duplo para piano, violoncelo e orquestra, “Oferenda Romântica” 1 – Moderato quasi andantino
2 – Allegro
3 – Sostenuto assai
Mischa Maisky, violoncelo Verbier Festival Orchestra
Neeme Järvi, regência
Gravado em Verbier (Suíça) em 30 de julho de 2012
Antigas Melodias Tradicionais Russas, para violoncelo e piano 4 – Lento un poco rubato
5 – Allegro, ma non troppo
6 – Maestoso
7 – Adagietto
8 – Moderato
Rodion Shchedrin, piano Sol Gabetta, violoncelo
Duetos Românticos, para piano a quatro mãos
9 – Andante cantabile
10 – Allegro sotto voce
11 – Maestoso con moto
12 – Allegretto moderato, a la gypsy
13 – Allegro, ma non troppo
14 – Andante recitando
15 – (Coda) Prestissimo
Rodion Shchedrin e Roland Pöntinen, piano
16 – Concerto no. 1 para orquestra, ‘Tschastuschi’
Verbier Festival Orchestra
Mikhail Pletnev, regência
Improvisos para piano, “Páginas sem Arte” 17 – No. 1, Romantic Etude (Staccato-Etude)
18 – No. 2, Unforgettable Micaëla
19 – No. 3, Music to Chekhov’s Play
20 – No. 4, The Tsar’s Cortege
21 – No. 5, Aria
22 – No. 6, Reminiscenses of Old-Age Romances…
23 – No. 7, The Politician Speaks … !
Um dos veios mais belos e imutáveis da personalidade de Martha é a generosidade com que ela acolhe, prestigia e promove jovens artistas. A suíça Maria Solozobova tinha um pouco mais da metade da idade da Rainha quando tornou-se sua parceira de duo e, como quase sempre acontece com quem dela se aproxima, também sua amiga. O relato seguinte de Maria, parte duma entrevista a uma agência russa, é puro suco de Argerich:
“Nos conhecemos por acaso. As estrelas deviam estar alinhadas, ou algo assim. Certa vez, dei um concerto com a Orquestra Filarmônica do Sul da Alemanha em Konstanz e um amigo nosso, um advogado, me apresentou a uma jovem pianista nos bastidores. Ele disse que precisávamos nos conhecer, pois ela era uma ótima artista. Essa pessoa era Cristina Marton-Argerich, que é casada com o sobrinho de Martha. Cristina e eu imediatamente nos tornamos amigas e começamos a tocar juntas e isso acabou me levando a conhecer Martha. (…) não é fácil conhecer uma artista do calibre de Martha, então pedi a Cristina para me apresentar a ela. Na época, o festival de Martha ainda acontecia em Lugano, então fui para lá e, depois de nos apresentarmos, decidimos nos encontrar e tocar algumas peças juntas, por pura diversão, em casa. Nos encontramos então na casa dela em Genebra [para tocar] a sonata de Franck. Há uma história quanto a esse encontro: fiquei presa em um engarrafamento e cheguei duas horas atrasada. Martha é uma pessoa muito fora do comum: ela quase nunca atende o telefone, então ela me esperou na rua – quer dizer, ela ficou ali o tempo todo, mulher pequena e frágil que ela é. Fiquei terrivelmente envergonhada, pois mal nos conhecíamos na época e ainda não tínhamos nos tornado amigas. Quando tocamos a peça juntas pela primeira vez, parecia tão natural que mal pude acreditar. Nós a executamos perfeitamente do começo ao fim na primeira tentativa, e então ela disse: ‘Vamos para a cozinha comer algumas guloseimas’. Fiquei sem palavras e não pude deixar de perguntar: ‘Podemos tocar mais uma vez?’ Ela se virou e perguntou: ‘Para quê?’ Fiquei novamente sem palavras, mas rapidamente pensei na resposta: ‘Não poderíamos… Só por prazer?’. Martha é muito brincalhona. Ela é tão efervescente, e tem esse olhar brilhante, especial. Ela me olhou bem e disse “Tudo bem”, e tocamos pela segunda vez, de uma forma completamente diferente! Foi incrível, e eu realmente adorei. Ela sente a música tão profundamente, duma maneira tão colorida… As palavras não podem expressar o quão bom foi. Você realmente tem que experimentar para entender”.
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
1 – Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Finale. Presto
Sergei PROKOFIEV Sonata para violino e piano no. 2 em Ré maior, Op. 94a 4 – Moderato
5 – Scherzo. Presto
6 – Andante
7 – Allegro con brio
Maria Solozobova, violino
Gravado em Zürich (Suíça) em 23 de dezembro de 2014
Acolher jovens como Solozobova não significa, para Martha, deixar de lado seus velhos parceiros na Música. O mais antigo deles é seu conterrâneo Daniel Barenboim, que ela conhece desde os tempos em que ambos eram as mais famosas crianças-prodígio de Buenos Aires. A gravação a seguir, lançada pelo selo Peral, do próprio Barenboim, não poderia trazer Martha em situação mais confortável: o No. 2 de Beethoven, que ela tocaria de olhos vendados, na companhia de Daniel, com uma orquestra idealizada e burilada pelo próprio ao longo de algumas décadas, e no mesmo venerando palco do Teatro Colón em que ela estreara incríveis… sessenta e seis anos antes!
Ludwig van BEETHOVEN Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro
West-Eastern Divan Orchestra Daniel Barenboim, regência
Gravado no Teatro Colón em Buenos Aires (Argentina), julho de 2015
Encerrando nosso tributo anual à deusa maior do piano, o Concerto no. 2 de Beethoven volta, pareado com outro cavalo de batalha de Martha: o Concerto em Sol de Ravel, do qual legou à eternidade a gravação para mim definitiva com Abbado, e que ela toca aqui na companhia de seu mais novo queridinho, o israelense Lahav Shani. Shani tem colaborado estreitamente com a Rainha (e talvez tanto quanto denote a ilustração da capa do álbum, que os torna um só ser bicéfalo), ora como pianista, ora frente a Filarmônica de Israel, do qual é atualmente o diretor musical. Cinquenta inacreditáveis anos separam essas duas leituras de Ravel, e é assombroso como a passagem do tempo só se faz notar pela engenharia de som, pois ninguém o diria pela agilidade, elã e consumada arte de Marthinha ao teclado.
Feliz cumple, Reina – e que nunca pares de nos encantar ❤
Ludwig van BEETHOVEN Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro
Gravado em Tel Aviv (Israel) em 22 de dezembro de 2019
Maurice RAVEL Concerto em Sol maior para piano e orquestra
4 – Allegramente
5 – Adagio assai
6 – Presto
Gravado em Tel Aviv em 24 e 27 de dezembro de 2019
Ampliar o repertório depois dos oitenta anos? Sim, se tu és Marthinha: ei-la tocando pela primeira vez em público o pouquíssimo conhecido Souvenir de Paganini, um memento musical composto por Chopin aos 19 anos, instigado por um concerto do célebre violinista em Varsóvia.
Como é bom ouvir Sibelius, não? Este CD tem seu conhecido Concerto para Violino e mais algumas obras desconhecidas e nada desprezíveis, antes pelo contrário. No Concerto, a romena Marcovici, se não chega ao Olimpo do Concerto, nos dá uma versão bem convincente. Já a orquestra e Järvi dão um banho de competência. O Concerto é uma obra melodiosa de grande expressão e virtuosismo, que goza de enorme popularidade entre os violinistas e o público. É um dos concertos para violino mais executados nas salas de concerto. E eu gosto muito dos extras, principalmente da Abertura em lá menor com sua linda introdução através dos metais. Acho que é um CD que merece ser ouvido.
Jean Sibelius (1865-1957): Concerto para Violino, Op. 47 / Overture In A Minor / Menuetto / In Memoriam (Gothenburg SO, Silvia Marcovici, Neeme Järvi)
Violin Concerto In D Minor, Op.47 (33:25)
1 Allegro Moderato 17:10
2 Adagio Di Molto 8:09
3 Allegro, Ma Non Tanto 7:48
4 Overture In A Minor (1902) 6:26
5 Menuetto (1894) 5:38
6 In Memoriam, Op.59 (Funeral March For Large Orchestra) 7:57
Conductor – Neeme Järvi
Orchestra – Gothenburg Symphony Orchestra
Violin – Silvia Marcovici (tracks: 1 to 3)
A compositora Kaija Saariaho morreu em sua própria cama na manhã de 2 de junho de 2023. O comunicado da família prossegue: os tumores cerebrais não afetaram suas capacidades cognitivas, exceto nos últimos momentos da doença. Eles atrapalhavam, porém, as capacidades motoras, causando dificuldades para andar e diversas quedas e, com isso, ossos quebrados. Suas aparições de cadeira de rodas geravam perguntas das quais ela desviava: seguindo conselhos de seu médico, ela manteve a doença como assunto privado, de família, para poder focar no seu trabalho sem ser vista como uma incapaz.
Essa postura discreta – e aqui falo eu, do Brasil, sem nunca tê-la visto de perto nem mesmo de longe – apenas deu seguimento ao estilo de Saariaho, pelo menos ao julgarmos por essa fala típica de tímidos famosos (famosos tímidos?) como Luís Fernando Verissimo: quando ela era jovem e estudava órgão antes de se dedicar inteiramente à composição,
Eu me sentia bem confortável [tocando órgão], porque eu podia tocar e ainda assim ficar escondida da plateia.
Apesar dessa personalidade tímida, discreta, ela queria compor e ser ouvida: para isso, saiu da sua Finlândia natal, onde, segundo ela, na época ninguém queria saber de música nova. Estranha mudança: hoje, é um dos países mais receptivos para a música clássica contemporânea. Mas estamos falando de mais de 40 anos atrás: ela se mudou para Paris, se casou com um francês e foi trabalhar no IRCAM (Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique; em português, Instituto de Pesquisa e Coordenação Acústica/Música).
Em 2005 Saariaho escreveu, se recordando: “Na década de 1980 eu me interessava pela questão de saber como podemos, ao amplificar ou modificar eletronicamente sons delicados e frágeis, criar uma música irreal e onírica. Como as pequenas coisas às quais dificilmente prestaríamos qualquer atenção podem subitamente tornar-se imensas e ocupar o espaço sonoro.”
Nessa preocupação mais com timbres do que com melodias e mais com o preenchimento do “espaço sonoro” do que com uma narrativa a exemplo da forma-sonata, ela se colocava como parte de uma tradição que incluía Debussy, Dutilleux e muitos de seus contemporâneos. Nos anos 90 ela compôs seu primeiro concerto para um instrumento solista com orquestra e sem artifícios eletrônicos: dedicado ao violinista Gidon Kremer, seria o primeiro de muitas obras do tipo. Concerto, para Saariaho, não é necessariamente uma obra em três movimentos no esquema típico da música clássica desde os tempos de Vivaldi… Na mesma entrevista em que admitia se sentir confortável escondida do público, ela dizia que a “ideia de pegar uma forma pré-definida e dizer ‘ok, vamos escrever uma sonata ou compor algo de acordo com uma forma clássica’ – simplesmente não é possível para a minha música.”
O concerto então, não é uma forma pré-definida e nem uma demonstração de virtuosismo de um instrumentista-estrela extrovertido: é sempre, para Saariaho, a oportunidade de confrontar os timbres da orquestra com os do solista, e ela dizia também que aprendia muito conversando com os solistas para quem os concertos eram dedicados. Vários concertos vieram: depois do violino de Kremer (que aliás foi padrinho de muita música nova, incluindo também o 1º concerto de Gubaidulina, e contribuiu para o reconhecimento mundial de ambas as compositoras) em 1994, vieram obras orquestrais tendo como solista a flauta (2001), o violoncelo (2006), o clarinete (2010), o órgão (2013), a harpa (2015) e várias peças vocais com orquestra. Sua última obra, composta quando doente, foi um concerto para trompete, a ser estreado em agosto próximo.
Teremos mais Saariaho aqui no blog ainda este mês. Trago hoje apenas dois bombons, duas gravações de rádio, uma em Paris e uma em Londres, em duas das principais salas de concerto da Europa, pois Saariaho, felizmente, foi reconhecida em vida.
Em “D’om le vrai sens” (2010), Saariaho se inspira nas seis tapeçarias da série “A Dama e o Unicórnio”, feitas por volta de 1500, com cinco delas representando os cinco sentidos e a última com a inscrição “à mon seul désir”, que suscitou várias interpretações sobre se este sexto sentido seria o desejo, o amor ou algo do tipo. Na peça, o clarinetista anda pelo público e pelo meio da orquestra, como aqueles atores de teatro contemporâneo que vão conversar com a plateia, ao invés de ficar brilhando no alto do palco.
Em “Vers toi qui es si loin” (2018), na verdade uma adaptação da ária final de sua primeira ópera estreada em 2000, Saariaho novamente escreveu para violino e orquestra anos após o concerto de 1994. É uma curta peça que acaba de modo abrupto como os sonhos. Para nos aproximarmos do mundo dessa compositora que buscava a delicadeza e a imprevisibilidade da “Gramática dos sonhos” (nome de uma peça de 1988 para duas cantoras, harpa, viola e cello), entendo que os concertos para solista e orquestra oferecem uma certa moldura em que o ouvinte já conhece um mínimo do que vai encontrar, ao contrário das obras orquestrais sem solista e as da fase mais eletrônica de Saariaho, essas sim verdadeiramente imprevisíveis e podendo gerar uma certa confusão nos recém-chegados.
Kaija Saariaho (1952-2023): D’om le vrai sens (2010) (34:00)
Kari Kriikku, clarinet
Orch. Philh. de Radio France, Esa-Pekka Salonen
Live, 19 feb 2011
Théâtre du Châtelet, Paris
A sonoridade do primeiro concerto deste álbum é sen-sa-ci-o-nal! O Concerto à otto stromenti, composto por Veracini, no qual o violino é acompanhado por oboés, trompetes e tímpanos tem um som esplendoroso. É ouvir para crer… A violinista Chouchane Siranossian, que já gravou vários discos, não poderia ter encontrado um acompanhamento melhor do que o da excelente Venice Baroque Orchestra e seu maestro Andrea Marcon, como você poderá perceber neste disco no qual eles exploram o virtuosismo dos concertos para violino dos compositores italianos que mantiveram alguns laços com a sereníssima Veneza.
Mas o compositor mais popular para violino, assim como o mestre desse instrumento naqueles dias era Don Antonio Vivaldi. Se tons agudos e rápidos fossem maldades, Vivaldi teria muitos pecados pelos quais responder… como disse sobre ele o musicólogo inglês Charles Burney.
Veracini é conhecido por ter sido um dos solistas em Veneza nas missas de Natal na Catedral de São Marcos nos dias 24 e 25 de dezembro de 1711. Em fevereiro de 1712 ele interpretou um de seus concertos para violino, acompanhado de trompetes, oboés e cordas como parte das celebrações em honra do Embaixador Austríaco em Veneza do recém-eleito Imperador Sacro Romano Charles VI.
A lenda diz que quando Tartini ouviu Francisco Maria Veracini tocando o violino em 1716, ficou muito impressionado e insatisfeito com sua própria técnica. Ele fugiu para Ancona e trancou-se em um quarto para praticar o uso do arco com mais tranquilidade e mais convenientemente do que em Veneza, onde ele tinha um lugar na orquestra da ópera. De qualquer forma, ele certamente superou suas limitações, como atestam as dificuldades técnicas de suas obras, como a famosa sonata Il Trillo del Diavolo, que assim introduziu algumas diabruras ao violino e seria seguido atentamente depois pelo também virtuose Niccolò Paganini.
De Locatelli não se sabe o período em que esteve ativo em Veneza, mas ele certamente esteve lá. Uma das características que distinguia Locatelli era a sua técnica do uso do arco. Ele desenvolveu um estilo virtuosístico que explorava todas as suas possibilidades, incluindo arcos rápidos, saltos de corda e arcos duplos. Entre as principais contribuições de Locatelli para a literatura do violino estão suas VI Introduttioni teatrali e VI Concerti, publicadas em 1735, e seu conjunto de concertos para violino intitulado L’Arte del Violino; XII Concerti Cioè, Violino solo, con XXIV Capricci ad libitum, publicado em 1733.
[Parte desta postagem foi construída com ajuda do Chat PQP]
Francesco Maria Veracini (1690 – 1768)
Concerto à otto stromenti em ré maior
Allegro
Largo
Allegro
Pietro Locatelli (1965 – 1764)
Concerto em dó menor, Op. 3 No. 2
Andante – Capriccio
Largo
Andante – Capriccio
Giuseppe Tartini (1692 – 1770)
Concerto para violino em fá maior, D. 61
Allegro
Grave
Allegro
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto para violino em ré maior, RV 208 ‘Grosso Mogul‘
Vejam um trecho de uma crítica a um outro álbum gravado por esses mesmos artistas cujo programa é completo com música de Tartini: After several recordings with Anima Eterna and Jos Van Immerseel, the French violinist Chouchane Siranossian tackles a programme of extremely virtuosic concertos that few Baroque violinists dare to face. Thanks to her technical gifts and to partners ideally suited to this repertory – the Venice Baroque Orchestra and its conductor Andrea Marcon, a specialist in the Italian Baroque style – she takes up the challenge with brio.
Chanter et danser le flamenco aide à la compréhension de la musique d’Albéniz. Naples, ma ville natale, a été occupée par les Espagnols pendant trois siècles et notre folklore en est impregné. Les plus belles des chansons napolitaines ont un rhytme espagnol : ce sont souvent des sortes de habaneras. – Aldo Ciccolini
“Cantar e dançar o flamenco ajuda na compreensão da música de Albéniz. Nápoles, minha cidade natal, foi ocupada pelos espanhóis por três séculos e nosso folclore se misturou. As mais belas canções napolitanas têm um ritmo espanhol: são frequentemente tipos de habaneras.” – Aldo Ciccolini
Com essas palavras iniciais do pianista napolitano naturalizado francês, resta pouco a se comentar: explicar que do fim do século XIX e do XX um monte de compositores espanhóis fizeram música para piano de forte inspiração em melodias e ritmos populares? Comparar a boa recepção dessa música no resto da Europa, sobretudo França, com a recepção do pianista Ciccolini, que escolheu esse país como sua segunda pátria? Arriscar talvez uma análise mais profunda sobre a França como lugar de encontro de tradições de vários cantos da Europa, e isso desde o Império Romano? Afinal, celtas ali guerrearam e depois dialogaram com romanos, francos (que eram uma tribo germânica do tempo das “invasões bárbaras”), “mouros” do norte da África e tudo mais, com rotas comerciais e de peregrinação como o Caminho de Compostela, a França nunca teve vocação para se fechar sobre si mesma como certas ilhas e sempre bebeu das tradições alheias… O fato é que boa parte das partituras de Albéniz, Granados, Falla e Mompou foram publicadas em Paris. Tudo isso fica só no nível do esboço porque a fala de Ciccolini já resume muita coisa em poucas palavras, inclusive lembrando da parte bélica, violenta (“minha cidade foi ocupada pelos espanhóis”) que acaba influenciando tudo, até as tradições de música e dança. Deixo a seguir apenas mais alguns detalhes sobre as “Canções e Danças” do catalão Federico Mompou (Frederic na forma afrancesada, assim como Chopin se afrancesara um século antes).
Publicadas entre as décadas de 1920 e 1940, as Canciones y danzas (em castelhano), ou Cançons i danses (em catalão) nº 1 a 7 são peças para piano divididas em duas seções: uma primeira, “canção”, mais lenta, seguida por uma “dança” mais agitada, em alguns casos baseada em melodias populares e em outros casos apenas inspirada em traços do folclore catalão. O estilo de Mompou é mais ou menos minimalista, sem sons fortíssimos ou passagens virtuosas hiper-rápidas. Posteriormente Mompou escreveria mais sete peças com o mesmo título. Outros pianistas gravaram a integral das 14 Cançons i danses para piano, incluindo a brasileira Clelia Iruzun e também o próprio compositor ao piano.
1-6. España, 6 Feuilles d’Album, Op. 165
Composer: Isaac Albéniz
I Prélude 1:53
II Tango 2:52
III Malagueña 3:40
IV Serenata 3:05
V Capricho Catalan 2:46
VI Zortzico 2:31
7. Allegro de Concierto en ut dièse majeur 7:11
Composer: Enrique Granados
8-15. Canciones y Danzas
Composer: Federico Mompou
N° 1 Quasi moderato – Allegro non troppo 3:27
N° 2 Lento – Molt amable 2:20
N° 3 Modéré – Sardana: temps de marche 3:46
N° 4 Moderat – Viv 3:51
N° 5 Lento litúrgico – Senza rigore, Ritmado 3:45
N° 6 Cantabile espressivo – Ritmado 3:02
N° 7 Lento – Danza 2:27
N° 8 Moderato cantabile con sentimento – Danza 2:59
16-18. Noches en los jardines de España
Composer: Manuel de Falla
I En el Generalife 11:54
II Danza lejana 5:27
III En los jardines de la sierra de Cordoba 10:07
Alco Ciccolini (1925-2015) – piano
Orchestre National de la Radiodiffusion France, Ernesto Halffter (16-18)
Recorded: Paris, 1956 (1-15), 1953 (16-18)
P.S.: As danças de Albéniz tocadas nesse disco fazem um verdadeiro tour da Espanha: a Malagueña faz referência a Málaga, cidade mediterrânea voltada para a África, depois tem um Capricho Catalan e por último o Zortzico, dança “torta” com 5 tempos por compasso, típica do País Basco lá no norte da Espanha em sua costa atlântica.