Villa-Lobos, Pierre Max Dubois, Ibert, Glazunov: Concertos para Saxofone

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 20/7/2010.

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio que envolvam o gênio brasileiro, pelos motivos expostos AQUI

 

No meu “curso autodidata intensivo em música do século XX”, nos anos 70, este disco surgiu como uma revelação que logo se tornou um caso de amor profundo, que perdura até hoje.

Eu nem desconfiava (e desconfio que muitos ainda hoje também nem desconfiam) que o sax podia soar assim, sereno e solene – muito, muito próximo de como soa um violoncelo! Não desgosto de seus outros usos – às vezes sensual, malandro, guinchado, escrachado… Mas é como se fossem dois instrumentos diferentes. Sou capaz de apreciar os dois, como sei apreciar tanto o cravo quanto o piano. Mas a verdade é que um deles – este – combina mais naturalmente comigo.

Meu vinil estava riscado demais no lado B, e o mano Strava conseguiu esta versão a partir de CD. Curioso que no CD as peças vêm em ordem diferente que no vinil – mas eu não me conformei. Restaurei a ordem em que conheci o disco, aberto com imensa classe pelo recitativo-cadência inicial do concerto de Pierre-Max Dubois – um aluno de Milhaud de que pouco se fala no Brasil, mas a julgar por esta amostra merecia mais atenção.

Segue-se a Fantasia de Villa-Lobos, a única das peças que não é para sax alto e sim soprano – com um engenhoso acompanhamento de cordas e três trompas. Não temos nesta gravação a malandragem chorona e/ou jazzística que a Orquestra de Câmara Brasileira regida por Bernardo Bessler atingiu ao acompanhar Paulo Moura. Soa talvez como um poema brasileiro lido por um ator estrangeiro, que não conhece todas as manhas da alma local – mas ainda assim é um grande ator, e consegue fazer uma grande interpretação em termos de algo que talvez possa ser chamado arte universal.

Em todas as quatro peças existe alguma medida de influência do jazz, cada uma a seu modo, mas nenhuma é – digamos – mera tentativa de imitá-lo. São todas de autores suficientemente fortes para se abrir às inspirações do que está soando pelo mundo em sua época sem perder nada de seu sabor característico – tanto o pessoal quanto de sua própria tradição cultural e composicional.

Nisso, um detalhe que me chama atenção é que tanto o Concertino de Ibert quanto o Concerto de Glazunov foram compostos em 1936 – só que o francês estava com 46 anos, e o russo com 71, o último ano da sua vida. Não é de estranhar que o seu concerto – fluente, lírico, com os movimentos todos interligados – seja o de linguagem mais… não digo ‘tradicional’, mas quem sabe ‘comedida’.

Aliás, desde a primeira audição do Concerto de Glazunov me chamou atenção o tema que abre seu movimento ou seção final: começa com um salto de oitava para cima, outro de volta à nota original, mais um para a oitava de baixo, e ainda outro para a original – e isso em ritmo swingado. A oitava raramente é usada com valor melódico na música européia, foi precisamente o jazz quem chamou atenção para essa possibilidade. Que o velho mestre russo tenha resolvido explorá-la em uma de suas últimas obras, e isso ao modo de um fugato – essa forma tão centro-européia de fazer música – sempre me pareceu algo tocante. Talvez mais um dado para fazer deste um disco de “arte universal”.

Pierre-Max Dubois (1930-1995):
Concerto para sax alto e cordas (1959)
01 Lento espressivo – Allegro 6:56
02 Sarabande: lento nostalgico 5:51
03 Rondò: allegretto 4:29

Heitor Villa-Lobos (1887-1959):
Fantasia para sax soprano, 3 trompas e cordas (1946)
04 Animé 4:10
05 Lent 2:39
06 Très animé 2:57

Jacques Ibert (1890-1960):
Concertino da camera para sax alto e 11 instrumentos (1936)
07 Allegro con moto 4:33
08 Larghetto – Animato molto 8:13

Alexander Glazunov (1865-1936):
09 Concerto em mi bemol para sax alto e cordas, op.109 (1936)

Eugène Rousseau (EUA, 1932), saxofone alto e soprano
Orquestra de Câmara Paul Kuentz – regência Paul Kuentz (França, 1930)
Gravação original Deutsche Grammophon, 1972

. . . . . BAIXE AQUI – download here

Ranulfus

[restaurado por Vassily em 20/2/2023. Que saudades, Mestre!]

Schumann (1810-1856): Carnaval, Op. 9 (Versão Orquestral) e outras peças para balé de outros compositores

Schumann (1810-1856): Carnaval, Op. 9 (Versão Orquestral) e outras peças para balé de outros compositores
Bob Schumann posou especialmente para o PQP Bach
Bob Schumann posou especialmente para o PQP Bach

Acho que é notório que eu, Marcelo Stravinsky, adoro arranjos orquestrais de peças pianísticas e vice-versa. Gosto muito, também, de suítes para balé, e aproveitando a deixa do Carlinus, em reviver Schumann , quero compartilhar uma peça que buscava há um certo tempo. Carnaval, Op. 9, é uma série de 22 pequenas peças para piano, baseada nas personagens da Commedia dell’arte.  Escrita no período de 1834 a 1835, foi dedicada ao violinista Karol Lipiński. É subtitulada Scènes mignonnes sur quatre notes (Pequenas cenas em quatro notas).

***

Carnaval, Op. 9

Em cada seção de Carnaval, aparecem uma ou ambas das duas Séries de notas musicais. São elas:
* Lá, Mi bemol, Dó, Si (A-E♭-C-B); em alemão são escritas como A-Es-C-H
* Lá bemol, Dó, Si; em alemão (A♭-C-B): As-C-H.

Essas duas Séries na verdade soletram o que, em alemão, é o nome da cidade onde a namorada de Schumman, Ernestine von Fricken, nasceu (Asch, que agora é Aš, pertencente à República Checa). São também as letras musicais de seu próprio nome: Schumann’.

Em Carnaval, Schumann vai musicalmente além de Papillons, para quem ele mesmo concebeu a história de que era uma ilustração musical. Carnaval permanece famosa por suas passagens resplandecentes de cordas e por seu deslocamento rítmico.

Dentre os vários que orquestraram Carnaval, temos Ravel, que fez arranjos de apenas algumas partes. A versão aqui apresentada, tem orquestrações de Alexander Glazunov, Nikolai Rimsky-Korsakov, Anatoly Lyadov e Alexander Tcherepnin, por encomenda dos Balés Russos, na pessoa de Sergei Diaghilev.

Fonte: Wikipédia

Uma ótima audição!

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Ernest Ansermet – Original Masters Vol. 3

Delibes, from Copélia
01. Tableau 1 – Prélude – Mazurka 05:37

Delibes, from Sylvia
02. Suite – 1. Prélude – Les Chasseresses 05:10

Franck, Le Chasseur Maudit
03. Symphonic Poem 14:39

Chabrier, Joyeuse Marche
04. 03:58

Chabrier, from Le Roi Malgré Lui
05.  Danse slave 05:04

Faure, from Pénélope
06. Prélude 07:55

Schumann, Carnaval, Op. 9 (orchestral version)
07. Préambule 02:33
08. Pierrot 01:17
09. Arlequin 01:09
10. Valse noble 01:37
11. Eusebius 01:27
12. Florestan 00:59
13. Coquette 01:36
14. Papillons 00:59
15. A.S.C.H. – S.C.H.A. 00:52
16. Chiarina 00:56
17. Chopin 01:47
18. Estrella 00:33
19. Reconnaissance 01:33
20. Pantalon et Colombine 01:05
21. Valse Allemande 00:56
22. Paganini 01:26
23. Aveu 01:00
24. Promenade 01:33
25. Pause 00:26
26. Marche des “Davidsbünler” contre les Philistins 02:53

Suisse Romande Orchestra, Ernest Ansermet

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Ernest Ansermet em pose clichê.
Ernest Ansermet em pose clichê.

Marcelo Stravinsky