Um dos grandes prazeres naqueles dias era o de fazer a ronda – ir às lojas de CDs, ver as novidades. Como essas lojas também tinham seus barflies, sempre encontrava algum conhecido ou mesmo, com sorte, um amigo. Sabíamos os gostos (e desgostos) uns dos outros e parte da diversão consistia em correr na frente para provocar quem ficava para trás – sobrou só uns Tchaikoviskys aí para você… era o bordão.
Depois íamos tomar café e exibir os resultados das compras. Não sou saudosista, os tempos são outros, mas o prazer de ir passando os discos e se deparar com um álbum com a combinação – compositor – repertório – intérprete reunidos é algo difícil de esquecer.
Uma dessas últimas emoções, desses prazeres do passado, foi encontrar este álbum da postagem e me ocorreu na Arlequim, uma linda loja que havia no Paço Imperial, no Centro do Rio de Janeiro.
O álbum duplo com as Partitas de Bach, interpretadas pelo então desconhecido Igor Levit foi a prenda do dia! I snaped it up, sem vacilar! E valeu cada centavo investido.
Revivo isto tudo e os faço saber pois que Igor Levit ganhou não um, mas dois prestigiosos prêmios da edição deste terrível ano de 2020 da Gramophone Awards, a premiação da prestigiosa revista de música inglesa.
O prêmio na categoria Instrumental, pela gravação das Sonatas para Piano de Beethoven, disponível já há um bom tempo no seu distribuidor PQP Bach Ars Blog mais próximo, já seria para monumentais comemorações. Mas Igor levou outro premio ainda, talvez de maior prestígio. Ele ganhou também na categoria Artista do Ano. Certamente suas aptidões artísticas o levaram a tanto, como você poderá verificar ouvindo o álbum desta postagem, mas a razão pela qual Levit segue ganhando prêmios de diversos segmentos vem de sua atitude e seus posicionamentos firmes e exemplares frente a tantas questões que nos afligem nestes tempos deveras conturbados que vivemos. Ele ganhou também o Beethoven Prize por suas claras e fortes posições externadas nas mídias, como você poderá ver aqui.
Mas hoje é dia de Bach e Levit nos levará pelo mundo maravilhoso das Partitas. Bach já havia produzido duas coleções de suítes para o teclado quando a Primeira das Partitas foi impressa em 1726 – com a promessa de mais outras que a seguiriam. A coleção ficou completa em 1731 e foi designada Clavier-Übung (Exercícios para Teclado), terminologia que já havia sido adotada por Johann Kuhnau, o predecessor de Bach como Kantor de Santo Tomás, em Leipzig.
A impressão desta coleção – Opus 1 de Bach – pode ter sido uma tentativa de aumentar a renda e criar uma nova frente de atividade, uma vez que o interesse pela música religiosa vinha declinando devido a várias dificuldades. Inclusive, esta seria a motivação para a criação de mais um novo ciclo de suítes, pois que os pretensos compradores da coleção eram os muitos estudantes de Bach e outros músicos profissionais, que já tinham certamente suas cópias das lindas Suítes Inglesas e Francesas. E melhor ainda para nós, que ganhamos mais uma coleção primorosa de Suítes de Bach, um verdadeiro compendio de estilos musicais – aberturas francesas, tocatas, fugas e fantasias, assim como uma miríade de danças. E tudo isto entregue a você pelas mãos do artista do ano: Igor Levit!
Quando Igor Levit deu seu primeiro recital nos Estados Unidos da América, em 2014, Alex Poots, que era o diretor artístico do Park Avenue Armory em 2014, ficou encantado com sua musicalidade e sua consideração. Ele teve então a ideia de apresentá-lo a Marina Abramović.
Foram então todos ao Chiltern Firehouse, um hotel chique em Londres, com um bar lotado e barulhento depois da meia-noite, quando Marina Abramović pediu ao Levit que tocasse alguma coisa ao piano.
Levit lembra-se de ter dito “Marina, eu não posso tocar o piano aqui, todo o mundo está dançando”. Mas o dono do local silenciou o D.J. e Levit tocou o último movimento da Sonata Hammerklavier.
Mr. Poots disse que o salão ficou em silêncio: “Em um bar barulhento, cheio de festa e de vida, podia-se ouvir um alfinete cair ao chão”.
Um bom disco de música barroca italiana. Mas Dall’Abaco não é Vivaldi, nem Corelli. Embora se trate de concertos sem instrumentos declaradamente solo ou concertante, o primeiro violino pode ter breves seções concertantes. Os modelos de Vivaldi, ou mais corretamente os modelos italianos da primeira metade do século, são evidentes: escrita extremamente fluente, raro uso de contraponto imitativo, predomínio da melodia. Dall’Abaco é um sujeito bem famoso em Verona. O cara era veronês e dá nome ao conservatório musical da cidade. Está escrito lá: Conservatorio Statale di Musica Evaristo Felice Dall’Abaco, Alta Formazione Artistica e Musicale. Trata-se de uma região muito musical, a gente anda na rua e os cartazes colados nas paredes e bancas, em vez de anunciar a Ivete Sangalo ou o grupo de rock da cidade, anunciam trios de Shostakovich ou a próxima atração da Arena. É outro mundo. Quando conheci a Piazza Bra em 2006, pensei que ali poderia ser o meu lugar se fosse rico; até hoje dou frequentemente uma olhada em como está a minha Piazza com uma webcam que transmite 24 horas sua situação. Estamos de olho!
Mas, não obstante as exigências neuróticas de genialidade de nosso blog, Evaristo foi um grande compositor. Aluno de Torelli, recebeu enorme influência de Corelli e Vivaldi, porém tem voz própria e original. Dall`Abaco acabou como Kammermusicker de Maximiliano Emanuel I. Ficou pouco tempo na Bavária, teve que fugir junto para a Bélgica após uma derrota militar. Viveu anos em Bruxelas e compôs também para cortes francesas e holandesas. Eu querendo ir morar em Verona e o compositor de cidade só fugiu por toda sua vida…
A propósito, eu me apaixonei pelo Concerto V In Sol.
Evaristo Felice Dall’Abaco (1675-1742): Concerti A Più Instrumenti Opera Sesta
CD 1
Concerto XII In Re
1-1 Allegro
1-2 Grave
1-3 Allegro ma Non Troppo
Concerto IV In Si Minore
1-4 Allegro
1-5 Adagio
1-6 Allegro
Concerto II In Mi
1-7 Allegro Ma Non Troppo
1-8 Aria. Cantabile
1-9 Allegro Assai
Concerto III In Fa
1-10 Allegro
1-11 Largo Sempre Piano
1-12 Allegro E Spiritoso
Concerto I In Do
1-13 Allegro
1-14 Largo
1-15 Presto E Spiccato
Concerto VIII In Re
1-16 Allegro
1-17 Largo
1-18 Allegro
CD 2
Concerto VII In La
2-1 Allegro
2-2 Grave
2-3 Presto
Concerto XI In Mi
2-4 Allegro
2-5 Aria. Cantabile
2-6 Allegro E Spiritoso
Concerto X In Do
2-7 Allegro
2-8 Largo
2-9 Allegro
Concerto IX In Sib
2-10 Allegro Ma Non Troppo
2-11 Largo Assai
2-12 Allegro Assai
Concerto V In Sol
2-13 Allegro E Vivace Assai
2-14 Aria. Adagio Cantabile
2-15 Allegro
Concerto VI In Fa
2-16 Allegro
2-17 Adagio
2-18 Allegro Ma Non Troppo
2-19 Allegro Assai
Il Tempio Armonico
Orchestra Barocca Di Verona
Alberto Rasi
Uma boa festa de aniversário tem seus diferentes momentos, tais como a chegada dos primeiros convidados, os últimos retoques na decoração, os animadores atuando. Com sorte, um número de mágica. Se a festa é para um adulto, boa parte da diversão vem das conversas, papos entre pessoas que há muito não se veem, até alguns distantes desafetos, essas coisas. Com o decorrer da festa, certos protocolos se fazem necessários, fotos com parentes ou amigos mais íntimos e o momento mais aguardado, de cantar parabéns, apagar as velinhas e cortar o bolo. Daí em diante é debandada geral, a festa está terminando.
Balões não podem faltar…
Mais ou menos é este o sentimento aqui nestas postagens – de que o momento de cantar parabéns está próximo e assim nosso projeto #BTHVN250 inicia suas últimas voltas em órbita e se prepara para reentrar na atmosfera.
Mas ainda há oportunidades de rememorar grandes momentos do aniversariante. No caso do Ludovico, eu preciso ainda mencionar algumas obras que são muito significativas. É claro, toda a sua obra está sendo meticulosamente postada num trabalho cuidadoso especialmente do Vassily, mas eu gostaria de lhes falar daquelas que me são especialmente caras. Pois agora vos falo da Hammerklavier. Não foi uma amizade – uma relação – assim fácil, desde o início. Nosso caso realmente ficou sério depois da gravação feita por Emil Gilels para a Deustche Grammophon. Com certeza esta gravação está por aí postada por algum de meus colegas de blog, pois que esta turma está ativa há um bom tempo e eles não dão mole em serviço.
Eu já fiz uma postagem de uma gravação que considero também maximal (isto é, uma gravação que atingiu, na minha concepção, um nível artístico insuperável, mas que não pode ser comparada com outra gravação maximal, como a de Gilels, pois que estas coisas não são comparáveis como se estivéssemos em um torneio ou em um concurso) feita por Murray Perahia também para a Deutsche Grammophon.
Steven e sua cara de roqueiro…
Mas, hoje, no contexto do #BTHVN250, apresento-vos a gravação feita pelo Steven Osborne, para a Hyperion. Magistral! Muscular, física, intensa! Eu fiquei de queixo caído. Claro, cada um tem a sua gravação preferida, uma interpretação que chegue tão próximo quanto possível de sua imagem de gravação ideal da tal obra. Pois nestes dias estranhíssimos deste ano de 2020, para mim, Osborne, que tem sobrenome de roqueiro, é o cara da Hammerklavier. E para arredondar o disco, as duas outras sonatas que a antecederam, que formam assim um estranho, mas interessante triunvirato. Uma sonatinha com dois movimentos (Opus 90), uma sonata com quatro movimentos, os dois últimos ligados um ao outro (Opus 101) e a grande sonata Hammerklavier! Mas, no disco, elas são dispostas ao contrário da ordem cronológica.
Espero que você tenha a oportunidade de ouvir este disco lindo, gravado com os altíssimos padrões técnicos da Hyperion, com a produção sempre excelente de Andrew Keener. Achei que a capa foi feita pela equipe que estava de plantão quando o time oficial saiu de férias. Mas, tão pequena queixa não chega a macular o disco.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Sonata para Piano No. 29 in si bemol maior, Op. 106 ‘Hammerklavier’
Allegro
Scherzo: Assai vivace – Presto
Adagio sostenuto, appassionato e con molto sentimento
Largo – Allegro – Allegro risoluto
Sonata para Piano No. 28 in lá maior, Op. 101
Allegretto ma non troppo (Etwas lebhaft und mit der innigsten Empfindung)
Vivace alla marcia (Lebhaft, Marschmäßig)
Adagio, ma non troppo, con affetto (Langsam und sehnsuchtsvoll) + IIIb. Allegro (Geschwind, doch nicht zu sehr, und mit Entschlossenheit)
Sonata para Piano No. 27 in mi menor, Op. 90
Mit Lebhaftigkeit und durchaus mit Empfindung und Ausdruck
[this] is about the big picture, objectivity and a powerful kinaesthesia that could propel rockets into space…the result is a virtuoso apotheosis as brilliant as molten iron from a blast furnace Grammophone – 2016
The Scottish pianist plays with an authority built on intelligent, very human musicianship: his accounts of these three late-period Beethoven sonatas are hugely personal but are never about him. The Guardian – 2016
Aproveite!
René Denon
Steven contando para o pessoal do PQP Bach de Santa Catarina quantas vezes ele precisa explicar que é o Osborne, não o Osbourne…
Esta é a minha primeira postagem de um disco só com música do George Felipe e a escolha me fez pensar bastante sobre música, talento e coisas do gênero.
A pergunta que martelei estes dias, por conta disso, vai mais ou menos assim: Pode um talento a um só tempo ser prêmio e castigo? Pode o afortunado portador de um talento assombroso acabar, de certa forma, sucumbindo a ele?
Telemann, Handel e Bach nasceram próximos uns aos outros tanto do ponto de vista cronológico como geográfico e foram músicos de imenso talento (dããã…). Mas cada um deles usou seus talentos de maneira bastante diversa, como podemos observar nas obras destes três compositores que chegaram até nós.
Em seus dias, Telemann era mais famoso do que Bach e, de certa forma, Handel também. Este era cosmopolita, um verdadeiro cidadão do mundo.
Bach nos legou uma música ‘definitiva’, mais profunda, se pudesse aplicar este adjetivo para algo tão efêmero como música. Certamente isto se deve ao seu talento, mas também à sua atitude ao preparar seu legado, aperfeiçoando sua música de forma intensa, especialmente na fase final de sua vida. Os outros dois talentosos compositores desta já um pouco estranha conversa produziram em profusão, aspergindo sobre tudo que escreviam seus abundantes atributos, sua imensa facilidade musical, sua fluência no trato com a composição musical. Mas certamente tinham uma atitude mais pragmática em relação à sua obra.
O tema deste disco são as suítes orquestrais e já falei um pouco sobre elas em postagem dia destes. Pois enquanto Bach nos deixou quatro delas, Telemann, dito por ele mesmo, deitou pena em mais do que duzentas, das quais umas 134 foram preservadas. Assim, não foi difícil escolher mais duas para acompanhar neste álbum a mais famosa das três, a Wassermusik.
Vista do Elba atual com o Elbphilharmonie (https://www.elbphilharmonie.de/en/)
Com uma orquestração rica, dois piccolos, duas flautas doce, oboés, fagote, cordas e contínuo, esta suíte foi apresentada em 6 de abril de 1723 nas comemorações do Centenário do Almirantado de Hamburgo. Fez tanto sucesso que foi repetida pelos seguintes quatorze anos e ganhou nome: ‘Hamburger Ebb und Fluth” ou ‘Musica maritima’. Impossível não pensar em um paralelo com a Música Aquática de Handel. Há inclusive uma gravação que reúne as duas peças. A suíte composta para o Almirantado leva em conta o fato de Hamburgo ser um importante porto no rio Elba. Assim, figuras mitológicas relacionadas às águas são aludidas nos movimentos que a compõem. Deusas e deuses, ninfas, o movimento do mar e até os felizes (por estarem enfim em um porto) marinheiros.
Telemann deixou-nos tanta música que é preciso uma forma de catalogação científica, para distinguir as peças. As outras duas suítes são mais simples na orquestração e no escopo, mas adoráveis a seu próprio mérito. Veja, a Ouvertüre (Orchestersuite) C-dur, TWV 55: C6 foi composta para três oboés, cordas e contínuo, enquanto a Ouvertüre e-moll, TWV 55: e5 apenas para cordas e contínuo. É simples, C-dur é dó maior na notação germânica. TWV 55 atende ao grupo de suítes de Telemann. C6 quer dizer que esta é a de número 6 das suítes em dó maior. A Wassemusik é a TWV 55: C3. Isto é, a terceira suíte em dó maior catalogada. A e5 então é qual?
Este disco foi gravado entre 1985 e1987 e a edição que ouvi é de 1992. A Cappella Coloniensis é da cidade de Colônia e foi fundada em 1954 na Nordwestdeutscher Rundfunk (Radio Alemã), inspirada na Orquestra da Corte de Dresden, famosa na Europa no século 18 e alcançava cerca de 40 músicos. A Cappella Coloniensis é um grupo pioneiríssimo na prática de música com instrumentos e técnica de época. Aqui eles estão sob a regência de Hans-Martin Linde, um virtuose da flauta doce que fundou também uma orquestra – Linde Consort – e gravou inúmeros discos. Ele hoje está com 90 anos.
Georg Philipp Telemann (1681 – 1767)
Abertura (Suíte Orquestral) em dó maior, TWV 55: C6
Ouverture
Harlequinade
Espagnol
Bourree en trompette
Sommeille
Rondeau
Menuet I-II
Gigue
Abertura (Suíte Orquestral) em dó maior, TWV 55: C3 ‘Wassermusik’ – ‘Hamburger Ebb’ und Flut’
Ouverture: Hamburger Ebb und Fluth
Sarabande: Die schlaffende Thetis
Bouree: Die erwachende Thetis
Loure: Der verliebte Neptunus
Gavotte: Die spielenden Najade
Harlequinade: Der schertzende Tritonus
Der sturmende Aeolus
Menuet: Der angenehme Zephir
Gigue: Ebbe und Fluth
Canarie: Die lustigen Bots-Leute
Abertura (Suíte Orquestral) em mi menor, TWV 55: e3
Um pianista que nasceu no Chile e aperfeiçoou a sua arte na Alemanha, tornando-se um grande intérprete de Beethoven! Esta frase nos faz pensar imediatamente em um nome – Claudio Arrau! Bem, um nome e um sobrenome. Mas o disco da postagem foi gravado há poucos dias e seu lançamento oficial é hoje (30/10/2020, dia no qual escrevo estas mal traçadas). Assim, não pode ser Claudio, mas o jovem pianista Christoph Scheffelt preenche as características descritas na frase e já ganhou o prêmio “Claudio Arrau”, o renomado Rahn Music Prize. E ganhou também mais outras coisas.
Neste disco recentíssimo ele coloca todo o seu talento e sua preparação para nos brindar com sua interpretação das três coleções de pequenas joias do grande Ludovico, as Bagatelas op. 33, op. 119 e op. 126. A famosa ‘Pour Elise’ foi colocada também na cesta…
A crítica de The Observer, Fiona Maddocks, nos conta que as 11 pequenas peças que formam o Opus 119 foram compostas enquanto Beethoven trabalhava nas gigantescas peças corais e sinfônicas – a Missa Solemnis e a Nona Sinfonia. Talvez ele fosse do tipo que polia pedrinhas enquanto descansava de carregar pedronas. O seu editor em Leipzig reclamou que essas pecinhas, umas bagatelas, nem pareceriam que eram de Beethoven. Vejam que obtuso. Beethoven sabia do valor artístico delas e as enviou para seu antigo aluno Ferdinad Ries, que estava em Londres, onde elas foram então publicadas. Com estas peças, que foram compostas ao longo de toda a sua vida, Beethoven podia explorar uma grande variedade de sentimentos, expressões musicais, fazendo inovações. Mostrar todas estas cores e sons, a ideia de um caleidoscópio nos vem à mente, exige bastante do intérprete. Na minha opinião, Christoph Scheffelt conseguiu realizá-las com graça e eloquência e tudo isso sem resvalar na pieguice. Basta ver sua interpretação da surrada ‘Pour Elise’.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Bagatelles (7), Op. 33
1 in E flat major. Andante grazioso, quasi allegretto
2 in C major. Scherzo. Allegro – Trio
3 in F major. Allegretto
4 in A major. Andante
5 in C major. Allegro ma non troppo
6 in D major. Allegretto quasi andante
7 in A flat major. Presto
Bagatelles (11), Op. 119
1 in G minor. Allegretto
2 in C major. Andante con moto
3 in D major. À l’Allemande
4 in A major. Andante cantabile
5 in C minor. Risoluto
6 in G major. Andante – Allegretto
7 in C major. Allegro ma non troppo
8 in C major. Moderato cantabile
9 in A minor. Vivace moderato
10 in A major. Allegramente
11 in B flat major. Andante ma non troppo
Für Elise (Bagatelle in A minor, WoO59)
Bagatela
Bagatelles (6), Op. 126
1 in G major. Andante con moto
2 in G minor. Allegro
3 in E flat major. Andante
4 in B minor. Presto
5 in G major. Quasi allegretto
6 in E flat major. Presto – Andante amabile e con moto – Tempo I
Nesta página aqui você poderá ver um vídeo mostrando como foi feita a gravação do disco.
Para nosso momento ‘The Book is on the Table’: A genius is also interesting in his little things. And what seems small on the outside, it does not necessarily have to be. Thus the Bagatelles are among the remarkable piano works of Ludwig van Beethoven.
Bagatelas, como não amá-las?
Aproveite!
René Denon
Aqui está uma opção de bagatelas com tempero russo:
Com esta postagem, inicio uma série que farei com gravações históricas, que incluirá Furtwangler, Toscanini, Fricsay, entre outros.
E vou começar simplesmente por esta que é considerada a maior das gravações já realizadas da Sinfonia nº 9 de Beethoven. Na verdade, esta e a de Furtwangler, apesar de terem sido realizadas ainda na década de 50, são consideradas imbatíveis até hoje, mesmo com os avanços das técnicas de gravação. Talvez seja este seja um dos grandes trunfos desta gravação. Realizada ao vivo no Carnagie Hall, em 1952, temos um Toscanini já no alto de seus 85 anos. Até então, o maestro nunca se sentira seguro com suas performances da obra, tanto que só autorizou esta que aqui temos para ser lançada. Conhecemos sua fama de rigor com que dirigia as orquestras. E ao que tudo indica, esse rigor ele aplicava a si mesmo também. Enfim, trata-se de uma 9ª Sinfonia absolutamente perfeita em todos os seus detalhes. Ninguém, absolutamente ninguém que a ouve, tem opinião diferente.
A NBC Symphony Orchestra foi montada pelo próprio Toscanini, que a regeu por 17 anos, até 1954. Ou seja, era a sua cara.
Abaixo, deixo o comentário de um cliente da amazon, sobre esta gravação.
“Arturo Toscanini (1867-1957) spent much of his conducting career trying to give a “definitive” performance of Beethoven’s ninth symphony. He conducted the symphony numerous times; it wasn’t until 1952 that he was sufficiently satisfied with a recording of this major work to authorize a commercial release.
Toscanini had hated to record during the days of 78-rpm discs. Each 12-inch record side played a little under five minutes, so it was necessary for the conductor and musicians to stop periodically while the master was changed. Only in the United Kingdom, where Toscanini made recordings with the BBC Symphony Orchestra, did a record producer (Fred Gaisberg) come up with a system using two recording machines, so that Toscanini and the musicians did not have to stop.
Toscanini was very happy when RCA Victor began using magnetic sound film to record his sessions with the NBC Symphony. Then, in 1948, RCA switched to magnetic tape. With both processes, continuous performance were possible and true high fidelity was realized. Toscanini told his friends that he was often very happy with the long-playing records that RCA began issuing in 1950. By 1952, RCA was using a single full range microphone, suspended above Toscanini’s head, to achieve its “New Orthophonic” process. Occasionally, an additional microphone was used to pick up soloists. The results in this recording were exceptional and very realistic.
Toscanini always felt there were problems with performances with Beethoven’s ninth symphony. Something always seem to go wrong, either with the soloists, the chorus, the orchestra, or the conductor himself. It’s likely other conductors and musicians recognized the challenges of this very difficult music. Just as Beethoven had done with his “Missa Solemnis,” the composer challenged the musicians with his very profound and very intricate music. Both works stretch the singers to their vocal limits; having sung “Missa Solemnis” and the ninth symphony, this writer can attest to the considerable challenges of the music.
The commercial recording that Toscanini made with the NBC Symphony Orchestra in Carnegie Hall in 1952 was the culmination of years of trying to understand Beethoven’s intensely complicated musical score. That Toscanini succeeded in producing a legendary recording is a real tribute to his greatness. It’s particularly amazing that he made this recording the year he turned 85 years of age.
Joining Toscanini and the NBC Symphony in this recording were a group of outstanding vocal soloists, particularly American tenor Jan Peerce, whom Toscanini considered among his all-time favorite singers. Peerce first sang with Toscanini in a 1939 broadcast performance of this symphony. The Robert Shaw Chorale, which had first performed with Toscanini in a 1945 broadcast performance of the ninth, were on hand, again providing some of the best choral singing possible. Shaw would go on to become a symphony conductor himself (with the Atlanta Symphony) and some said that he was much influenced by his mentor.
It is well known that the four movements attempt to present various musical philosophies of life. Beethoven basically rejects the first three proposals, even reviewing them in the opening moments of the fourth symphony, and then has the bass soloist sing, “O friends, not these sounds.” Beethoven uses Schiller’s “Ode to Joy” and the recurring main theme has become one of his most famous melodies, later used as the tune for the hymn “Joyful, Joyful, We Adore Thee.” The composer clearly had already recognized that one must accept fate and not be discouraged; it was such determination that enabled to live and continue composing despite increasing deafness.
This performance set the standard for all recordings of the Beethoven ninth symphony. Few conductors, singers, and musicians have succeeded as well as Toscanini did in this memorable performance. “
Portanto, eis um grande momento da história da música no século XX.
Ludwig van Beethoven – Symphony nº 9 in D Menor, op. 125
1. Symphony No. 9, Op. 125 ‘Choral’ In D Minor: Allegro Ma Non Troppo, Un Poco Maestoso
2. Symphony No. 9, Op. 125 ‘Choral’ In D Minor: Molto Vivace
3. Symphony No. 9, Op. 125 ‘Choral’ In D Minor: Adagio Molto E Cantabile; Andante Moderato
4. Symphony No. 9, Op. 125 ‘Choral’ In D Minor: Presto; Allegro Assai
Eileen Farrell – Soprano
Nan Merriman – Contralto
Norman Scott – Bass
Jan Peerce – Tenor
NBC Symphony Orchestra
Robert Shaw Chorale
Arturo Toscanini
Este é um típico lindo disco dos anos 1980. Este foi produzido em 1984 e ainda tem as proporções de um LP – quatro concertos, dois para cada lado do bolachão.
Apesar do compositor ser veneziano, este disco não poderia ser mais inglês. O selo Gaudeamus é o braço da ASV – Academy Sound and Vision – dedicado à música antiga. E é excelente no que faz. Ainda não ouvi um disco ruim desta turma e entre eles, muitos excelentes.
A capa é linda. O uso da guirlanda de flores fazendo uma moldura da linda ilustração escolhida é marca registrada do selo e lembra as ornamentações típicas de instrumentos do período barroco, como certos cravos, e estabelece uma característica importante de identificação do selo. Assim com outros selos ingleses, eles são bambas em fazer capas.
Mas o que importa é a música e como ela é tocada! Vivaldi era violinista e suas composições são primariamente para violino. É verdade, sua imaginação e verve, assim como o contato com as maravilhosas artistas órfãs, o estimularam a produzir música para outros instrumentos, assim como a grana indicou o caminho da ópera e da música sacra. Mas seu negócio era o violino e suas publicações são primariamente para este instrumento. Verdade, o Opus 10 são concertos para flauta, e no Opus 3 há uns dois concertos para oboé.
O primeiro concerto desta pequena, mas judiciosamente escolhida coleção, é o segundo do Opus 11 e tem nome – Il Favorito! Preste atenção no Andante, o movimento lento, que poderia ser uma ária em uma ópera do padre.
A coleção mais famosa é Il Cimento dell’Armonia e dell’Inventione (A Disputa entre Harmonia e Invenção), o Opus 8, que começa com os quatro concertos programáticos mais famosos do mundo – As Quatro Estações, garantia de sucesso e disco vendido. Pois o segundo concerto do disco é, assim, uma quinta estação. La Tempesta di Mare é um concerto também programático, mas agora o tema é outro. E para um veneziano, o mar era um elemento dos mais importantes. Os instrumentos imitam os sons da agitada tempestade.
Monica Huggett
Depois do Opus 13, uma coleção possivelmente espúria, mas bonitinha, o padre passou a comercializar ele mesmo os manuscritos de seus concertos. É por isso que uma enorme parte de sua obra foi encontrada em coleções de manuscritos em bibliotecas, como a de Turim, de onde vem este terceiro concerto do disco. O Concerto em lá maior é um ótimo exemplo de como as diferentes técnicas e truques do violino foram usadas pelo compositor para grande efeito.
De qualquer forma, o concerto do disco que eu mais gostei é o que leva o nome L’Amoroso e nos conta sobre um pastoral idílio, com simplicidade, mas ardor, e que termina de maneira confiante e feliz.
Roy participando de uma regata com o pessoal do PQP Bach nas águas frias do Guaíba…
A orquestra tem o genérico nome London Vivaldi Orchestra e certamente deve ser formada pelos especialistas de música tocada com instrumentos e práticas da época e no outro dia estariam no The English Concert, do Pinnock, no The Academy of Ancient Music, do Hogwood ou ainda no English Baroque Soloists do Gardiner. Aqui eles acompanham a espetacular violinista Monica Huggett, que também dirige a orquestra, cujo líder é o violinista Roy Goodman.
Eu achei o som um pouquinho passado, mas isso é reclamação pequena, o ouvido rapidamente se ajusta quando temos música tão linda e tão lindamente interpretada. Um bom exemplo de que quantidade não é tão necessária para se fazer um ótimo disco, que ainda pode dar muito prazer.
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto para Violino em mi menor, RV 277 ‘Il Favorito’
Allegro
Andante
Allegro
Concerto para Violino em mi bemol maior, RV 253 ‘La Tempesta di Mare’
De um crítico amador (mas sensível) na Amazon.com: I rather prefer this version to the one Monica Huggett later recorded for Virgin Classics with the Raglan Baroque Players. But the other three concertos also have their own distinctive characters and certainly could not be confused with anything from the “Four Seasons”. L’Amoroso, in particular, lives up to its title perfectly, with some “lovely” violin playing to match the mood.
Meus amigos pequepianos, meus amores, não vou lhes enganar. Este CD de John Zorn é de uma tal pauleira que pulveriza os esforços e torna dietética a imensa maioria dos grupos de heavy metal. O que quero dizer é que a grande música contida em Spy Vs Spy não é para estômagos fracos que iniciam seus domingos ouvindo a primavera de Vivaldi e sim para aqueles que desejam ver os passarinhos vivaldianos perecerem arregalados sob o tremor de baixo, bateria e saxofones alucinantes. O CD começa em altíssima rotação, depois até pisa no freio, reduzindo a velocidade para os 220 Km/h.
Mas assim é a música de Coleman e assim é Zorn, que a acentuou. Sua intensidade é a do rock, mas a dificuldade é absurda. Há fanáticos por este disco e há pessoas que o odeiam mortalmente. Difícil ficar indiferente quando de uma audição. Eu e meu filho estamos no primeiro grupo. Mas nunca o toco perto de outrem que desconheço. Não sou louco.
Volume bem alto, OK? A menos que vocês tenham vizinhos bregas armados. Ou milicianos.
São dois saxofones, duas baterias e um seguríssimo baixo dando o maior chocolate.
John Zorn: Spy Vs Spy (The Music of Ornette Coleman)
1 WRU 2:38
2 Chronology 1:08
3 Word For Bird 1:14
4 Good Old Days 2:44
5 The Disguise 1:18
6 Enfant 2:37
7 Rejoicing 1:38
8 Blues Connotation 1:05
9 C. & D. 3:05
10 Chippie 1:08
11 Peace Warriors 1:20
12 Ecars 2:28
13 Feet Music 4:45
14 Broad Way Blues 3:42
15 Space Church 2:28
16 Zig Zag 2:54
17 Mob Job 4:24
Bass – Mark Dresser
Drums – Joey Baron, Michael Vatcher
Saxophone – Tim Berne
Saxophone, Producer – John Zorn
A capa deste álbum tem uma foto do violoncelista em pleno movimento – efeito conseguido pela longa exposição – tem uma escolha de tipos para o título e demais informações, em caixa alta, com algumas falhas, como se fosse resultado de um carimbo e coroando tudo o título: EVOLUTION.
Adolfo Gutiérrez Arenas
O que temos aqui são as sonatas compostas por Beethoven para violoncelo e piano. As variações que costumam ser adicionadas como contrapeso ficaram de fora desta vez, mas isto também é parte de um plano geral.
Plano este que é muito bem explicado pelos articulados artistas no excelente libreto que pode ser acessado na sua versão digital aqui.
Os músicos explicam que costumam apresentar as cinco sonatas em sequência em seus concertos – para que se possa apreciar a evolução do estilo de Beethoven.
Christopher Park
Para eles, as Sonatas do Opus 5 são as exclamações de alguém que entendeu que está destinado a ser ouvido, que a Sonata do Opus 69 reflete a conquista de uma nova voz, poderosa e certa de si mesma, e as duas últimas Sonatas, do Opus 102, mostram a necessária transição para uma reclusão interior.
Pois é, os músicos – o violoncelista Adolfo Gutiérrez Arenas e o pianista Christopher Park têm opiniões bem definidas e as explicam de forma clara no libreto.
Dizem que as interpretações politicamente corretas que arredondam as arestas da música de Beethoven, tornando-as peças polidas e bonitas, roubam-lhes alguma essência. Para eles, e eu concordo ao ler junto, é fundamental na interpretação da música de Beethoven o contraste entre uma incrivelmente brilhante, audaciosa e sofisticada arte e os mais puros e primitivos sentimentos trazidos por seu estilo de compor, levando a uma montanha russa de emoções que em uma mesma frase leva do doce ao amargo, do exultante ao desesperado, do vulgar ao elevado, mas sempre com honestidade.
Essa intensidade e mesmo brutalidade nas mudanças de emoções estão presentes em toda a sua música, desde os dias do classicismo do Opus 5 a uma metafísica musical, presente no Opus 102. Uma evolução artística e espiritual incrível e sem paralelos.
Depois disso, vale a pena conferir!
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Sonata para Violoncelo No. 1 em fá maior, Op. 5 No. 1
Adagio sostenuto
Allegro
Rondo. Allegro vivace
Sonata para Violoncelo No. 2 em sol menor, Op. 5 No. 2
Adagio sostenuto ed espressivo
Allegro molto più tosto presto
Rondo. Allegro
Sonata para Violoncelo No. 3 em lá maior, Op. 69
Allegro, ma non tanto
Scherzo. Allegro molto
Adagio cantabile
Allegro vivace
Sonata para Violoncelo No. 4 em dó maior, Op. 102 No. 1
Andante
Allegro vivace
Adagio + IIb. Allegro vivace
Sonata para Violoncelo No. 5 em ré maior, Op. 102 No. 2
Spanish cellist Adolfo Gutierrez Arenas and German-Korean pianist Christopher Park deliver refreshingly vigorous, even irreverent performances of the complete Beethoven Cello Sonatas, works that offer the listener a unique overview of the composer’s evolving style.
Esta semana ainda não postei algum disco de Mozart? Deve estar havendo algo incomum, algo errado comigo… Assim, sem maiores delongas, escolhi entre os cinco discos de Mozart que ando ouvindo, aquele que mais gostei até agora. Digo até agora pois seguirei ouvindo todos mais uma vez e certamente dúvidas persistirão.
Mas esta postagem tem também o objetivo de chamar um pouco a atenção de nossos leitores-seguidores para a caríssima figura que foi a ‘enorme’ pianista catalã, Alicia de Larrocha.
Ela nasceu em 23 de maio de 1923, em Barcelona, e foi criança prodígio. Filha e sobrinha de pianistas que estudaram com Enrique Granados, ela estudou na Academia Granados com Frank Marshall. Neste ambiente conheceu Artur Rubinstein e Alfred Cortot. Mesmo medindo um metro e meio de altura e com mãos pequeninas, não experimentou dificuldades em tocar mesmo as obras para piano que desafiam a qualquer pianista, como os concertos de Brahms, Rachmaninov, Ravel, Bartók e Prokofiev. As interpretações que mais marcaram sua carreira foram as de compositores espanhóis como Albeniz, Granados, De Falla e Mompou. Ao ouvir este disco entenderá por que ela ganhou o apelido Lady Mozart!
O texto a seguir é uma tradução do espanhol de partes de um artigo que poderá ser apreciado na íntegra aqui.
Sua estatura – chegava apenas a um metro e meio –, sua aparente fragilidade, e ter mãos especialmente pequenas nunca foram empecilho para sua carreira. ‘Alongava suas mãos incluindo quando não estava tocando’, recorda-se sua filha. O maestro Gerard Schwartz destaca sua maestria e o ‘fato de que nunca soava mecanicamente, de que seus ritmos eram sempre sofisticados’. Seu desembaraço se comprovava mesmo quando enfrentava o Concerto para Piano e Orquestra No. 3 de Rachmaninov, uma peça que em sua época era considerada impensável interpretar com dedos tão pequenos como os dela. ‘Ela o tocava como se nada estivesse acontecendo, de uma forma muito romântica’, lembra o fascinado maestro.
Sua personalidade também foi destacada pelas palavras de David Frost, encarregado de produzir a maioria das suas gravações, na parte final de sua carreira. Ele afirma que ‘sua humildade não era uma pose, era real. Ela sentia que precisava atingir um ideal que havia proposto em música e que nunca parecia alcançar’.
O artigo também revela como ela foi ‘avançado em seu próprio tempo. Seu casamento com o também pianista Joan Torra propôs uma verdadeira revolução para a época. Ele deixou sua própria carreira de lado para que ela pudesse explorar seu talento. Torra passou a dar aulas para sustentar os primeiros passos da pianista nos EUA e quando a carreira dela decolou, ele cuidou dos filhos e os criou enquanto ela passava seis meses por ano em média no outro lado do oceano. ‘Ele foi meu herói, deixou tudo por mim e se dedicou a mim, por toda a vida’, disse ela emocionada em uma entrevista nos anos 80.
Ela brincava com sua altura: ‘Minha meta sempre foi fazer arte. Desde que nasci tive queda pela música. Minha mãe e minha tia, alunas de Granados, se horrorizavam com a ideia de que uma menina tão pequena se dedicasse a isto e que seria um obstáculo ao meu desenvolvimento. Talvez seja por isso que não terminei de crescer.’
Cercada de estrelas como Montserrat Caballé ou Dalí durante sua carreira, os que a conheceram insistem em destacar duas virtudes: seu virtuosismo ao piano e sua afabilidade com as pessoas. Pianista, maestros e alunas a recordam como uma pessoa ‘de energia positiva, carinhosa e generosa’ ou como uma mulher ‘pela qual a gente se apaixonava, era impossível não o fazer’.
Quanto a música do disco, o que dizer? Digo que são sonatas para piano de Mozart e já são do período de maturidade do compositor. A que eu mais gosto é a Sonata em lá maior, que começa com um andante grazioso, um conjunto de variações, e termina com a famosa ‘Marcha Turca’! Mas as outras são tão lindas quanto…
Her Mozart performances, as well as her readings of Bach and Scarlatti, were so carefully detailed and light in texture that even as public taste shifted toward the more scholarly interpretations of period-instrument specialists, Ms. de Larrocha’s readings retained their allure.
Ao ouvir este disco você entenderá por que ela ganhou o apelido de Lady Mozart!
Aproveite!
René Denon
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Há muitos exemplos que corroboram a tese de que os músicos são longevos e os pianistas, em particular, comprovam bem esta teoria. Além de envelhecer graciosamente, eles permanecem ativos por toda a vida e talvez este seja parte do segredo.
Foi este o caso de Rudolf Firkušný, pianista nascido na República Tcheca, em 1912, mas que nos fins da década de 1930 se estabeleceu nos Estados Unidos da América.
Sua linhagem musical é requintada. Estudou com Leoš Janáček, Josef Suk e piano com Vilém Kurz. Estudou também com Alfred Cortot e Arthur Schnabel. Não é por nada que Vladimir Horowitz elogiou uma de suas interpretações dos Klavierstücke de Schubert – beautiful!
Firkušný foi um pianista brilhante – interpretava os clássicos Mozart, Beethoven, Schubert, Schumann, Chopin e Brahms com excelência, mas criou uma tradição na interpretação das obras de compositores tchecos, como Smetana, Dvořák, Janáček e Martinů, que compôs especificamente para ele.
Walter Susskind
Rudolf também foi músico camerístico, contribuindo com grandes nomes de sua época, como Pierre Fournier, Janos Starker, Nathan Milstein e com o Julliard String Quartet. Dia destes trarei um torso do projeto que ele começou com o Panocha Quartet, que infelizmentou restou inacabado e testemunha como ele poderia interagir com músicos muito mais jovens com resultados maravilhosos.
William Steinberg
A escolha da gravação da postagem busca contribuir para o projeto #BTHVN250 com ótimas interpretações destes dois seminais concertos do aniversariante Ludovico e também homenagear este importante intérprete. Isto sem contar que o disco é ótimo, som excelente, dois concertões para piano acompanhados por big bands!!
Aqui está um link para uma entrevista em inglês com o Firkušný.
Tomei a liberdade de traduzir o pequeno trecho do libreto (na verdade um folder, uma vez que a edição do meu CD é do tipo ‘budget’), escrito por David Foil.
Em que momento Ludwig van Beethoven tornou-se um fenômeno único que conhecemos simplesmente por “Beethoven”? Um bom palpite seria em algum ponto da noite de 5 de abril de 1803, quando ele estreou seu Terceiro Concerto para Piano como parte de um megaconcerto com músicas de sua autoria (chamado Akademie) no Theater an der Wien. O interminável programa incluía a Primeira e a Segunda Sinfonias, mais a estreia do Oratório Cristo no Monte das Oliveiras. O público certamente ficou feliz de modo geral – pois as outras obras eram de estilo muito familiar – mas as pessoas e os críticos ficaram intrigados, mesmo ofendidos pelo novo concerto para piano. A graça e o equilíbrio dos dois primeiros concertos foram-se dando lugar a uma voz sinfônica ousada, muscular. Ao abandonar a inevitabilidade do estilo clássico, o compositor de 33 anos estava em busca de mais, mais, mais, batendo forte especialmente com o papel audacioso do solista, como o protagonista em um drama puramente musical. Se este enorme salto artístico resultou em uma ainda mais idiossincrática obra no sublime Quarto Concerto para Piano – as audiências da época realmente não gostaram dele – tudo foi perdoado com o Quinto, uma obra de nobreza e força sem paralelos, chamada de Imperador. Escrito enquanto a Europa sofria pela ansia de Napoleão por mais domínios territoriais, o Imperador foi lançado como uma espécie de majestoso contra-ataque. É mais do que isto, é claro, mas a força e a formidável grandeza da expressão de Beethoven aqui merece ser coroada. Há concertos para piano mais longos, com som ainda mais alto, mas nenhum maior.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Concerto para Piano No. 3 em dó menor, Op. 37
Allegro con brio
Largo
Rondo (Allegro – Presto)
Concerto para Piano No. 5 em mi bemol maior, Op. 73
Allegro
Adagio un poco mosso & III. Rondo (Allegro)
Rudolf Firkušný, piano
Philarmonia Orchestra & Walter Susskind (Terceiro Concerto)
Pittsburgh Symphony Orchestra & William Steinberg (Emperor)
— Gramophone [5/1966, reviewing an LP release of the 3rd Concerto]: Firkusny always strikes me as an admirable pianist and I don’t remember ever having failed to get pleasure from his playing and his artistry, certainly not here in this finely musical account of the Beethoven. He doesn’t storm the work (he is not that sort of pianist) but his interpretation is elegant, in the best sense of that word, and eloquent. This is a wholly musical performance. Firkusny plays Beethoven’s cadenza, by the way. Susskind contributes a good accompaniment and the mono sound, if not specially brilliant, is still very agreeable.
Apesar da crítica falar em gravação mono, o CD afirma que a gravação é estéreo. Naqueles dias havia uma transição na tecnologia e gravações mono e estéreo eram feitas simultaneamente.
Note que as iniciais dos nomes dos regentes são iguais – WS – e que os números de opus dos concertos são números reversos: 37 e 73! Depois dessa série de indícios cósmicos, pode apostar – o disco é ótimo!
Um bom disco de um repertório pouco frequentado. Os compositores mais conhecidos do CD são Porpora e Leo. Nem conhecia Fiorenza e Sabatino, isso que sou um perseguidor de barrocos. Como disse tantas vezes, o barroco parece ser interminável, mas estes não são concertos especialmente belos, não são grandes achados. São animados, meridionais, rápidos, atléticos, soam bem, mas não têm magia. A extrema competência e compreensão dos músicos comandados pela extraordinária Chiara Banchini compensa e a gente sai bem convencido de que é grande música, só que depois esquece… É um disco que indico fortemente para as manhãs felizes!
Fiorenza / Leo / Porpora / Sabatino: Concertos Napolitanos para Violoncelo
Nicola Fiorenza (?-1764)
Solo Cello Concerto in F major
01. Presto
02. Allegro
03. Largo
04. Allegro
Nicola Antonio Porpora (1686-1768)
Cello concerto in G major
05. Adagio
06. Allegro
07. Adagio
08. Allegro
Leonardo Leo (1694-1744)
Solo Cello Concerto in A major
09. Andantino gracioso
10. Allegro
11. Larghetto
12. Allegro
Nicola Fiorenza (?-1764)
Cello Concerto in A major
13. Largo
14. Allegro
15. Adagio
16. Allegro
Nicola Sabatino (1708-1796)
Solo di Violoncello con due violini e basso in G major
17. Largo assai
18. Fuga
19. Adagio
20. Allegro mà preso
Gaetano Nasillo, cello
Ensemble 415
Chiara Banchini, direction
“Acho, acima de tudo, que a expressão “música atonal” é muito infeliz – é o mesmo que chamar voar de “a arte de não cair” ou de nadar como “a arte de não se afogar”, a citação de “Hauer’s Theories” (1923) de Arnold Schönberg (1874-1951) personifica bem a figura do artista inovador e revolucionário. Em diversas situações ao longo da história da arte, inovar e romper com um sistema ou situação estabelecida, pressupõe um conhecimento sólido e profundo nessa área específica. De outro modo, não se estaria a romper com nada. Schönberg tinha um grande conhecimento prático e teórico da música e da sua evolução, tendo afirmado: “sou um conservador que foi forçado a tornar-se revolucionário”. Schönberg encarou esta nova organização sonora como uma consequência inevitável da desagregação do sistema tonal, já iniciada por Liszt (últimas peças) mas sobretudo por Wagner, e que conduziu ao que ele designou a “emancipação da dissonância”. De formação essencialmente autodidata, interpretação (tocou violino e violoncelo) e composição, Schönberg foi um teórico e pedagogo notável. Deixou trabalhos e escritos fundamentais sobre as bases da composição e da análise musical. Schönberg foi a figura central da “Segunda Escola de Viena”, juntamente com os seus brilhantes discípulos Alban Berg (1885-1935) e Anton Webern (1883-1945), ambos vienenses (a designação “segunda” resulta da existência em Viena nos séculos XVIII e XIX de uma outra famosa tríade constituída por Haydn, Mozart e Beethoven).
Arnold Schoenberg. Auto retrato 1910
Em 1898, Schoenberg se converteu ao cristianismo na igreja luterana. Isso foi em parte para fortalecer seu apego às tradições culturais da Europa Ocidental, e em parte como um meio de autodefesa “em uma época de ressurgimento do anti-semitismo”. Em 1921, Arnold Schoenberg foi forçado a deixar sua casa de férias na Áustria por causa da crescente onda de anti-semitismo na Europa. Foi uma experiência traumática à qual Schoenberg frequentemente se referia, e da qual uma primeira menção aparece em uma carta dirigida a Wassily Kandinsky (abril de 1923): “Finalmente aprendi a lição que me foi imposta este ano, e Jamais esquecerei. É que não sou alemão, nem europeu, na verdade, talvez nem mesmo um ser humano (pelo menos, os europeus preferem o pior de sua raça a mim), mas sou judeu”. Essa experiência o levou a reavaliar sua identidade judaica e, por fim, o levou à composição de sua “obra-prima fragmentária”, “Moses und Aron”. A ópera extrai suas figuras e motivos do Livro do Êxodo, e o conflito entre as crenças dos dois personagens centrais é refletido na música. Schoenberg morreu seis anos antes de sua estréia, mas considerou “Moses und Aron” como sua obra mais importante. Com a ascensão do Partido Nazista , as obras de Schoenberg foram rotuladas de música degenerada , porque eram modernistas e atonais. Ele emigrou para os Estados Unidos em 1933, após longa meditação, regressou ao judaísmo, pois percebeu que “a sua herança racial e religiosa era incontornável” e assumiu uma posição inconfundível ao lado da oposição ao nazismo. Tornou-se cidadão americano em 1941.
“Moses und Aron” tem suas raízes na peça anterior de Schoenberg, “Der biblische Weg” (1926-27), uma resposta de forma dramática aos crescentes movimentos antijudaicos no mundo de língua alemã após 1848 e uma expressão profundamente pessoal de sua própria crise de “identidade judaica”. Schoenberg deixou “Moses und Aron” inacabado quando fugiu da Alemanha em 1932. Ele começou a esboçar a obra em 1926, que originalmente deveria ser um oratório, e escreveu os Atos I e II do que se tornou uma ópera entre 1930 e 1932. Há um libreto completo para o Ato III, mas a música nunca foi terminada. Às vezes é lido após o final da música, mas a tradição passou a ser interpretar os Atos I e II como uma ópera completa – o final do Ato II é uma conclusão poderosa. Apesar de seu status inacabado, é amplamente considerado como a obra-prima de Schoenberg (o compositor húngaro Zoltán Kocsis completou o último ato, com a permissão dos herdeiros de Schoenberg, em 2010). “Moses und Aron” quase sempre é interpretado do jeito como Schoenberg o deixou em 1932, com apenas dois dos três atos planejados concluídos.
Em suas excelentes notas de livreto, Sergio Morabito escreve astutamente: “O objetivo de Schoenberg é representar os choques de personalidade entre os personagens individuais de Moisés, Aarão e o povo, e por causa do posicionamento religioso-filosófico da ópera, não há referências diretas ao passado histórico ”. Schoenberg traz tudo para nossos próprios tempos. Não é de surpreender, portanto, que olhando para as fotos da produção no livreto, os performers estão em trajes modernos e bastante informais. É uma ópera muito incomum, sem cantoras principais. O único papel principal é de Aron, um alto tenor. A parte de Moisés, para voz baixa, é escrita como um canto falado. O outro papel vocal são os refrões, com vários personagens. Há muitas passagens de polifonia altamente complexa e deve ser lembrado que esta é uma partitura completa de doze tons – um fato do qual Schoenberg estava especialmente orgulhoso. Portanto, também é difícil para o ouvinte, mas acredito que a ópera é a obra-prima avassaladora de Schoenberg, tanto em seu sentido dramático quanto em seu equilíbrio quase clássico de ópera numérica e sua adoção do conceito de Wagner de desenvolvimento sinfônico contínuo. A escrita vocal e orquestral de Schoenberg é excelente e, embora a ópera não seja exatamente parte do repertório padrão, ela é encenada regularmente e há um número crescente de gravações. Gosto muito desta gravação que ora compartilhamos com os amigos do blog.
O Enredo de Moses und Aron
Uma curiosidade sobre o título da ópera: Schoenberg omitiu um “A” no nome de Aaron porque o compositor era extremamente supersticioso sobre o número 13; “Moses und Aaron” tem 13 letras!
Premiere: 6 June 1957 – Zurich Opera House
O Moisés de Michelangelo
Século XIII a.C.
Local: Egito e deserto.
Ato 1 Moisés, na presença da sarça ardente, relutantemente recebe de Deus a ordem para se tornar um profeta e libertar Israel da escravidão no Egito. Moisés pede para ser poupado de tal tarefa, ele está velho e embora possa pensar, ele não pode falar. Deus lhe garante que colocará palavras em seu coração e ordena que ele encontre seu irmão Aron.
No deserto, Moisés cumprimenta Aron, que terá que ser seu porta-voz, explicando suas idéias difíceis em termos que as pessoas possam entender. Logo os dois começam a se desentender: Moisés lhe assegura que o amor é a chave para desvendar esse mistério, mas Aron louva a Deus por ouvir orações e receber ofertas. Moisés adverte que a purificação do próprio pensamento é a única recompensa que se pode esperar dos tributos.
Na comunidade israelita, muitos afirmam ter visto Deus em diferentes manifestações. Um jovem casal fala sobre o fato de Moisés ter sido escolhido para liderar os israelitas. Os anciãos temem que, por ter matado um guarda egípcio, trazendo retribuição a seu povo, ele os coloque em mais problemas. Um homem expressa esperança de que a nova ideia de um único Deus se mostre mais forte do que os múltiplos deuses do Egito, mais forte do que as garras do Faraó. O povo reitera essa esperança, olhando para a chegada de Moisés e Aron, que vão mudando de papéis de maneira que é difícil distinguir um do outro. Tentando explicar como Deus só pode ser percebido dentro de si mesmo, Moisés fica frustrado com a loquacidade de Aron, que parece enfraquecer sua ideia. Aron desafia Moisés, agarrando sua vara e jogando-a no chão, quando ela se transforma em uma serpente; isso, diz Aron, mostra como uma ideia rígida pode se tornar flexível. As pessoas se perguntam como esse novo Deus pode ajudá-las contra o poder de Faraó. Aron mostra-lhes outra maravilha: a mão de Moisés, que parece leprosa, é curada quando ele a coloca sobre o coração, onde Deus habita. O povo agora acredita que Deus fortalecerá suas próprias mãos: eles se livrarão de suas algemas e escaparão para o deserto, onde Moisés diz que a pureza de pensamento fornecerá o único sustento de que precisam. Derramando água do Nilo, que parece se transformar em sangue, Aron interpreta o sinal, dizendo que eles não suarão mais sangue pelos egípcios, mas serão livres. Quando a água parecer clara novamente, Aron diz que o Faraó se afogará nela. Prometida uma terra de leite e mel, o povo jurou fidelidade a este novo Deus.
Ato 2
INTERLÚDIO. Moisés partiu há quarenta dias e o povo ficou esperando no deserto. Incomodado por sua longa ausência, o povo se pergunta se Deus e Moisés os abandonaram.
No sopé da montanha, Aron, um sacerdote e um grupo de anciãos se perguntam por que Moisés se foi por tanto tempo, já que a licenciosidade e a desordem prevalecem entre o povo. Aron lhes garante que, assim que Moisés assimilar a intenção de Deus, ele a apresentará de uma forma que o povo possa compreender. Para as pessoas ansiosas que se aglomeram em busca de conselhos, ele admite que Moisés pode ter desertado ou estar em perigo. Vendo-os indisciplinados e prontos para matar seus sacerdotes, Aron tenta acalmá-los devolvendo-lhes seus outros deuses: ele lhes dará uma imagem que possam adorar. Um bezerro de ouro é colocado e as ofertas são trazidas, incluindo abnegação no altar. Um jovem emaciado que protesta contra a falsa imagem é morto por líderes tribais. Os sacerdotes sacrificam quatro virgens, e as pessoas, que andam bebendo e dançando, tornam-se selvagens e orgiásticas. Depois de esgotados e muitos adormecidos, um vigia vê Moisés voltando da montanha. Destruindo o bezerro de ouro, Moisés exige uma prestação de contas de Aron, que justifica sua indulgência para com o povo dizendo que nenhuma palavra viera de Moisés. Embora o amor de Moisés seja inteiramente por sua ideia de Deus, Aron diz, o povo também precisa de seu amor e não pode sobreviver sem ele. Em desespero, Moisés esmaga as tábuas das leis que trouxe da montanha. Aron o denuncia como tímido, dizendo que ele mesmo mantém viva a ideia de Moisés ao tentar explicá-la. Guiado por uma coluna de fogo na escuridão, que durante o dia se transforma em coluna de nuvem, o povo sai, encorajado mais uma vez a seguir o sinal de Deus para a Terra Prometida. Moisés desconfia da coluna como outra imagem vã, mas Aron diz que ela os guia verdadeiramente. Quando Aron se juntou ao povo em seu êxodo, Moisés se sentiu derrotado. Ao colocar palavras e imagens no que não pode ser expresso, Aron falsificou a percepção absoluta de Moisés sobre Deus, lamentando que ele não tenha a capacidade de falar.
Ato 3
(Schoenberg nunca compôs a música para a única cena do ato final.) Aron é preso, acusado de fomentar esperanças inúteis com suas imagens, como a da Terra Prometida. Aron insiste que a palavra de Moisés não significaria nada para o povo, a menos que fosse interpretada em termos que eles pudessem entender. Moisés declara que tal sofisma conquistará a fidelidade do povo às imagens e não a Deus; por deturpar a verdadeira natureza de Deus, Aron continua conduzindo o povo de volta ao deserto. Quando Moisés diz aos soldados para soltarem Aron, Aron cai morto. Mesmo no deserto, disse Moisés, o povo alcançará seu objetivo – a unidade com Deus.
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“Moses und Aron” que vamos compartilhar com os amigos do blog é uma experiência de audição incrivelmente intensa. O que quer que se pense sobre a linguagem musical de Schoenberg – aqui ela encontra uma expressividade e coesão da qual nós ficamos imersos. Aparecendo no papel de Moisés, o magistral barítono Franz Grundheber oferece uma caracterização impressionante do personagem profético / revolucionário em sua interpretação meio cantada e meio falada, maravilhoso com uma “grandeza rústica”. O tenor Andreas Conrad incorpora seu irmão, Aron, com uma intensidade incrível, e o Europa Chor Akademie se destaca como o terceiro componente do drama, os israelitas. Toda a produção é supervisionada por um dos maestros mais convincentes deste repertório na atualidade, Sylvain Cambreling, que conduz a orquestra de execução impecável. Cambreling traz controle e visão impressionantes (e necessários) para esta ópera musicalmente complexa, uma construção de forte intensidade dramática por toda parte. Sob a batuta de Cambreling, a música nem parece tão dissonante. Identificamos a beleza das linhas instrumentais e as harmonias resultantes soam mais inebriantes do que estranhas, são reproduzidas com suavidade e com cuidado. Em minha modesta opinião de entusiasta de óperas no geral os cantores são todos notáveis, mesmo os pequenos papéis são notavelmente bem cantados. A escrita complicada tem um tratamento de conjunto excelente.
Moses und Aron – Arnold Schoenberg
Moses – Franz Grundheber Aron – Andreas Conrad
EuropaChorAkademie
SWR Sinfonieorchester Baden-Baden und Freiburg
Sylvain Cambreling, maestro
Gravado em setembro de 2012
Chega o dia em que o grande violinista — no caso a grande violinista — acha que tem que roubar repertório de outros instrumentos. E o faz bem, roubando (ou transcrevendo) a belíssima Partita para Flauta Solo, BWV 1013, de Bach. O restante do repertório deste Guardian Angel é original, mas tudo fica opaco perto da Partita de Bach e da Passacaglia de Biber. Eu amo a Passacaglia, uma daquelas peças que não requerem virtuosismo e sim sensibilidade. Em mãos mais duras, ela cai na vala das obras descartáveis, mas quando cai nas mãos de uma Podger, rende loucamente. Um CD aparentemente despretensioso que é uma joia. Confiram!
J. S. Bach, Biber, Montanari, Pisendel & Tartini: Guardian Angel (Rachel Podger)
Johann Sebastian Bach (1685 -1750)
Partita for flute in A minor, BWV 1013:
01. I. Allemande (04:07)
02. II. Corrente (03:41)
03. III. Sarabande (05:26)
04. IV. Bouree Anglaise (02:40)
Nicola Matteis (d. after 1713)
From: Other Ayrs, Preludes, Allmands, Sarabands etc. – The 2nd Part:
05. Passagio rotto (02:34)
06. Fantasia (01:51)
07. Movimento incognito (02:49)
Giuseppe Tartini (1692-1770)
Sonata in A minor, B: a3:
08. I. Cantabile (01:40)
09. II. Allegro (02:15)
10. III. Allegro (03:41)
11. IV. Giga (01:21)
12. V. Theme and variations (12:12)
Sonata in B minor, No.13, B: h1:
13. I. Andante (04:45)
14. II. Allegro assai (02:48)
15. III. Giga. Allegro affettuoso (02:48)
Johann Georg Pisendel (1687-1755)
Sonata per violino solo senza basso:
16. I. (02:45)
17. II. Allegro (05:16)
18. III. Giga (02:49)
19. IV. Varoatione (04:00)
Heinrich Ignaz Franz von Biber (1644-1704)
20. From: Mystery Sonatas: Passacaglia in G minor for solo violin (08:52)
Antonio Montanari (1676-1737)
21. Sonata Camera (Giga) — Bonus Track (02:27)
É claro que a Berliner Philharmoniker que atuou sob a batuta de Furtwängler ou Karajan é completamente outra do que aquela que atuou sob a regência de Abbado ou que atua hoje – fazendo ‘lives’ e concertos pela internet. Não só pela maneira como responde às demandas artísticas ou à personalidade do regente que a dirige no momento, fisicamente a orquestra é renovada. Mesmo assim, temos a tendência a considerar, tanto a orquestra de Berlim como outras formações orquestrais como instituições e assim um pouco imutáveis. Isso também acontece, de certa forma, com conjuntos de câmera. Basta tomar como exemplo o highlander Beaux Arts Trio. Assim como com as orquestras, também certos grupos musicais se institucionalizam e o nome permanece, apesar da renovação dos elementos.
O Smetana Trio que gravou o álbum da postagem certamente é bem outro do que aquele que se apresentou pela primeira vez, quando foi fundado há mais de 80 anos, pelo famoso pianista Josef Páleníček. Este sobrenome agora acompanha o nome Jan e se encontra atrás da estante do violoncelo. Mesmo recentemente a mão que segura o arco do violino é outra do que aquela dos discos que ainda estão listados na página do Trio. Mesmo assim, uma certa continuidade, um conjunto de características que define o conjunto permanece – afinal, é isso o que esperamos das instituições.
Assim, temos deste grupo musical de alta linhagem, com raízes bem estabelecidas num ambiente de cultura musical refinada, um álbum excelente.
A escolha de repertório – quatro belíssimos trios com piano do homenageado do ano – gravados com requinte pelo ótimo selo Supraphon, não poderia ser melhor.
Da juventude do compositor temos o Trio em dó menor, o terceiro do Opus 1, aquele que inquietou o Papa Haydn.
Depois o Trio em si bemol maior, dedicado ao patrono, aluno e melhor amigo do Ludovico – o Trio do Arquiduque, aqui aristocraticamente interpretado, com grande equilíbrio entre os instrumentos, muito garbo e ótimo som.
Para completar, os dois Trios do Opus 70, o famoso de apelido fantasmagórico, que adentra com impetuosidade o recinto assim que chega e seu par, também muito clássico e belo.
É verdade, não é uma integral, mas para que ficar olhando para o que não temos, se o que temos é de tão grande beleza e apresentado com requinte e competência? Não espere mais e vá logo arranjando espaço no pen-drive…
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Trio com Piano em dó menor, Op. 1, 3
Allegro con brio
Andante cantabile con variazioni
Menuetto. Quasi allegro – Trio
Finale. Prestissimo
Trio com Piano em si bemol maior, Op. 97
Allegro moderato
Scherzo. Allegro
Andante cantabile ma pero con moto
Allegro moderato
Trio com Piano em ré maior, Op. 70, 1 – “Fantasma”
Veja o que o pianista Jitka Čechová disse: “We know from history that this type of piano trio crystallised during the era of Classicism. In his early works, Beethoven still foregrounded the piano, and only later did the other two instruments become equal, which is clearly heard on our new album.”
Nada como fazer uma média com os amigos…
Aproveite!
René Denon
Depois desta postagem, você poderá querer visitar:
Durante dois dias – em 28 de junho de 2019 (Sonatas Nos. 1 a 3, 9 e 10) e em 14 de agosto de 2019 (Sonatas Nos. 4 a 8), reuniram-se no Kasakakeno Bunka Hall, Gunma, a violinista Mariko Senju e o pianista Yukio Yokoyama e gravaram todas as sonatas para violino e piano de Ludwig van Beethoven!
Você pode achar que foi muito, uma façanha e tanto. E foi, realmente, um grande feito, considerando o alto nível técnico e artístico do resultado, mas lendo as biografias destes astros da música no Japão, não parece muito surpreendente.
Mariko Senju começou a estudar violino com dois anos e três meses! Quando se começa tão cedo, a unidade de tempo para a idade precisa ser mais refinada, meses!
A moça é realmente espetacular. Em 1990, para comemorar o aniversário de 15 anos de seu debut musical, ela produziu e se apresentou em um recital, tocando Seis Sonatas para Violino de Ysaye, as Sonatas e Partitas para Violino Solo de Bach, os 24 Caprichos de Paganini e todos os Concertos para Violino de Mozart. Isso tudo em uma noite. Beethoven teria adorado a ideia.
Façanhas titânicas também aparecem no currículo de Yukio Yokoyama. Em 1998 ele interpretou todas as peças para piano de Beethoven, incluindo as 32 Sonatas, as Variações, as Bagatelas e tudo o mais em meros 10 meses em uma série de concertos a convite do Saitama Arts Center. É verdade que se o Vassily tivesse sido escalado para verificar se realmente toda a obra para piano foi apresentada, o Yukio provavelmente teria que inserir alguma novidade em algum de seus concertos…
Assim, não é surpreendente que estes dois grandes músicos tenham conseguido gravar as Sonatas para Violino e Piano em tão pouco tempo.
Mas o que importa é a música e essas sonatas são fonte de muitas alegrias musicais. É claro, cada um de nós tem um fraco por esta ou por aquela, ou mesmo um movimento especial de que mais gostamos, que mais nos emociona ou que nos convida a dançar.
As duas mais conhecidas são a Sonata Primavera e a Sonata Kreutzer. Eu sempre gostei muito da Sonata Primavera, mas me impressiona mais a Sonata Kreutzer, que parece mais intensa. Mas há outras ótimas sonatas. Ouça o Adagio cantabile, o segundo movimento da Sonata No. 7, em dó menor, Op. 30, 2, e me diga, não é uma maravilha? O Allegro vivace, último movimento da Sonata No. 8, em sol maior, Op. 30, 3 é outro movimento que eu gosto demais e sempre tenho que ouvir duas vezes.
As três primeiras são mais simples, mas têm aquela coisa da impetuosidade do jovem compositor. Veja o Andante con moto – um conjunto de variações, o segundo movimento da Primeira Sonata, em ré maior, Op. 12, 1. Maravilha. Há mais movimentos que são conjuntos de variações, inclusive na Sonata Kreutzer. E a última sonata? A mais madura de todas? Não espere mais, vá logo baixando…
Liturgia selvagem e insolente sob o sol da Grécia de Ésquilo, a cantata Oresteïa é tudo menos música decorativa. Iannis Xenakis fascina e encanta o ouvinte com o alegria e o ritmo de seus movimentos, seus coros masculinos grandiosos [Agamenon] e o clamor opressor de suas vozes femininas [Les Chorephores].
As origens da Oresteïa de Iannis Xenakis são quase tão marcantes quanto a própria música. Em algum momento da década de 1960, a cidade de Ypsilanti, em Michigan (EUA), descobriu que seu nome não era derivado de alguma língua nativa americana, mas sim do grego. Cheia de orgulho por sua recém-descoberta associação étnica, a cidade decidiu realizar um festival grego em um anfiteatro construído no campo de beisebol da universidade local. Eles contrataram um autêntico diretor grego e também concordaram em contratar os serviços de um autêntico compositor grego para escrever a partitura incidental. Xenakis abraçou o projeto, escreveu mais de uma hora e meia de música para a produção, que ao que tudo indica foi um grande sucesso. Com o intuito de resgatar o trabalho para a atuação em concerto, Xenakis posteriormente preparou uma cantata com duração de cerca de 50 minutos, acrescentando em meados da década de 1980 o sensacional — e HILARIANTE, na minha opinião — movimento Kassandra – e aqui temos o resultado.
OK, ouvir Oresteïa não é tão fácil de ouvir quanto Alexander Nevsky de Prokofiev, outra cantata que nasceu de, digamos, raízes históricas e geopolíticas, mas qualquer um que pense que Xenakis seja inacessível pode ouvir Oresteïa e reconsiderar este julgamento precipitado. O que dá a essa música seu estranho fascínio é a combinação de elementos vocais geralmente semelhantes a um canto (apesar de hermeticamente atonal), com interlúdios instrumentais de sonoridade primitiva (mas na verdade muito sofisticados tecnicamente). A esse respeito, não estamos tão longe de A Sagração da Primavera, de Stravinsky, das obras vocais de Varèse ou dos cenários posteriores do drama grego de Carl Orff.
Você pode ouvir isso muito claramente no segundo movimento, Kassandra, com sua escrita delirante para percussão e barítono, bem como no canto do refrão em Les Choephores. A escrita instrumental estilizada, muitas vezes monofônica e permeada por estranhos sons de percussão e extremos de altura, adiciona a impressão de rigidez primordial que se adapta perfeitamente bem ao drama.
Thomas Adès e a Britten Sinfonia definitivamente adentram a arena de pesos pesados encarando as Sinfonias 4, 5 e 6 – Pastoral. Que ousadia! A julgar pela crocante Eroica que você pode ouvir na postagem anterior deste grupo, eu mal podia esperar para ouvir a nova trinca, e a quarta começou de maneira trepidante. Após a introdução um tanto sombria, em que parece estarmos atravessando um bosque em uma trilha, irrompe o sol – com o alegro, que é forte e intenso, sem ser frenético. Preste atenção nos borbulhantes sons dos sopros no primeiro movimento desta quarta.
Prosseguimos com majestade pelo segundo movimento, onde a orquestra de tamanho mais próximo daquela usada originalmente rende seus dividendos. O equilíbrio entre os diferentes naipes da orquestra é facilmente obtido. O final do adágio tem uma ótima pegada, aliás como muitas outras coisas neste lançamento.
O último movimento da Quarta Sinfonia avança coruscante e a antecipação pela Quinta é grande! Esta gravação da Quarta me faz lembrar, devido a intensidade, a gravação ao vivo da mesma obra com o Carlos Kleiber, minha very first postagem no blog!
A Quinta bate à porta com urgência, mas também com calor nas cordas – as diferenças nos timbres dos instrumentos, repetindo o tema da abertura é ótimo. O segundo movimento continua com seus intensos questionamentos, as lindas cordas, especialmente as mais graves, bem aparentes. O tímpano bem audível, mas sem se sobrepor aos outros instrumentos. E sem pressa. E o scherzo? Achei ótimo, assim como a transição para movimento final, com todas as suas mudanças de marchas… Intensidade, articulação, balanço, urgência sem pressão, são as palavras que voltam às minhas anotações, na medida que vou ouvindo. Adorei o flautim nos minutos finais e como Beethoven é enfático, não?
Bom, verdade, se você gosta de seu Beethoven extra cremoso, afaste seu mouse destes arquivos, busque outras paradas. Sinfonias de Beethoven – mesmo integrais – não faltam este ano, especialmente aqui no blog. Mas, se você está disposto a ousar um pouco e abrir ouvidos para diferentes perspectivas, este lançamento será uma festa.
Como na primeira leva das sinfonias, temos aqui duas obras do compositor contemporâneo Gerald Barry. Entre a Quinta e a Pastoral, um Concerto para Viola, em um movimento de uns 15 minutos. O concerto começa modernoso, com gongo e sons de vento – squishes – mas tem cara de concerto. A viola repetindo o tema apresentado no início, os outros instrumentos conversando com o solista… Uma certa aspereza que não é de toda má. A viola deve ter despertado a vontade de usar sons rascantes que permeiam a peça. Eu definitivamente a reconhecerei quando ouvir novamente. Há uma dissolução interessante no minuto final, onde o solista assobia (?) o tema. Essa intervenção moderna torna a chegada da Pastoral muito mais interessante do que se os acordes anteriores tivessem sido os da Quinta. Novamente notei o uso de uma orquestra menor como algo positivo, a mesma coisa de antes, as vozes dos diferentes setores da orquestra sendo ouvidas claramente. Há urgência, mas não pressa. Bom, melhor apressar aqui pois a redação já anda enorme e a tempestade está chegando com raios e trovões. Vou correr em busca de abrigo. Aposto que a volta da bonança será tranquila e a alegria dos ‘campesinos’ autêntica.
Bom, tem ainda a Conquista da Irlanda. Como no caso da postagem anterior, duas peças do Barry, em cada caso uma peça orquestral e outra com voz. Nos dois casos, preferi a peça orquestral, mas deixo para você decidir…
Não sei como prosseguiremos daqui. As Sinfonias 7 e 8 devem ser ótimas, a julgar pelo que ouvi até aqui, mas a Nona é mais desafiadora e propõe novos problemas. E enquanto esperamos, vamos nos divertindo com o que já temos.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Symphony No. 4 in B-Flat Major, Op. 60
I. Adagio – Allegro vivace
II. Adagio
III. Allegro vivace
IV. Allegro ma non troppo
Symphony No. 5 in C Minor, Op. 67
I. Allegro con brio
II. Andante con moto
III. Scherzo: Allegro + IV. Allegro
Gerald Barry (b. 1952)
Viola Concerto
Concerto
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Symphony No. 6 in F Major, Op. 68 “Pastoral”
I. Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande. Allegro ma non troppo
II. Scene am Bach. Andante molto moto
III. Lustiges Zusammensein der Landleute. Allegro + IV. Gewitter. Sturm. Allegro + V. Hirtengesang. Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm. Allegretto
Vejam o que um crítico disse sobre o Concerto para Viola de Barry: ‘[…] he has never distinguished between the exercises all musicians play when they are learning their instruments and “regular music”. Exercises have given him “as much pleasure as Schubert”. In the concerto, almost all of the soloist’s material is exercise-like – repeated figures that run through the viola’s range with manic insistence, and are sometimes interrupted by rowdy volleys of brass and explosions of percussion, or taken up by one or more sections of the orchestra, always in rhythmic unison.
After just over 15 minutes of these exchanges, there is one final surprise: the soloist lights upon a fragile, wistful tune, which he first plays on his viola and then whistles quietly, as if to himself. Power may not be as superb a whistler as he is viola player, but it still adds an unexpectedly touching ending to this typically strange work.
Este conjunto apareceu originalmente como LPs separados nos anos 70 e 80, e passou esgotado por muito tempo. Era um crime, já que Purcell passou boa parte de sua curta e prolífica vida profissional no teatro, seja escrevendo as músicas incidentais contidas nesses CDs, ou a música para suas obras maiores, as semi-óperas (Rei Arthur, The Fairy Queen, etc.). Quase todas essas obras são joias e certamente representam um pináculo da música inglesa do século XVII. Purcell tinha gênio para extrair ouro musical das letras mais pesadas e ele faz o mesmo com os textos das canções nessas peças. Hogwood e o AAM oferecem performances limpas. O som desses discos analógicos antigos foi limpo e melhorado — embora eles já fossem originalmente muito bons. Como acontece com a maioria das coisas que Hogwood gravou, os extremos emocionais são achatados, então a natureza “sobrenatural” da música do final do século 17, tão frequentemente enfatizada em apresentações barrocas mais recentes, não aparece aqui. Mas, nossa, como vale a pena ouvir! O CD recebe o selo de imperdível principalmente pelas lindas peças instrumentais que estão lá no final. São ouro puro!
Henry Purcell (1659-1695): Música para o Teatro (Hogwood) — Vol. 6 de 6 (mais Scans)
CD6:
Love Triumphant, or Nature Will Prevail, incidental music, Z. 582
01. How happy’s the husband
Rule a Wife and Have a Wife, incidental music, Z. 587
02. There’s not a swain
The Female Virtuosos, incidental music, Z. 596
03. Love, thou art best
Epsom Wells, incidental music, Z. 579
04. Leave these useless arts
The Maid’s Last Prayer, or, Any Rather than Fail, incidental music, Z. 601
05. Though you make no return
06. No, resistance is but vain
07. Tell me no more
Aureng-Zebe, or, the Great Mogul, incidental music, Z. 573
08. I see, she flies me
The Canterbury Guests, or, A Bargain Broken, incidental music, Z. 591
09. Good neighbour why?
The Fatal Marriage, or, the Innocent Adultery, incidental music, Z. 595
10. The danger is over
11. I sigh’d and owned my love
Spanish Friar, or, the Double Discovery, incidental music, Z. 610
12. Whilst I with grief
Pausanias, the Betrayer of his Country, incidental music, Z. 585
13. Sweeter than roses
14. My dearest, my fairest
The Mock Marriage, incidental music, Z. 605
15. Oh! how you protest … ‘Twas within a furlong … Man is for the woman made
Oroonoko, incidental music, Z. 584
16. Celemene, pray tell me
17. Pavan for 2 violins & continuo in A major, Z. 748
18. Pavan for 2 violins & continuo in A minor, Z. 749
19. Pavan for 2 violins & continuo in B flat major, Z. 750
20. Pavan for 2 violins & continuo in G minor, Z. 751
21. Pavan for 3 violins & continuo in G minor, Z. 752
22. Sonata for violin & continuo (Trio Sonata) in G minor, Z. 780
23. Chacony, for 4 strings in G minor, Z. 730
Sopranos: Elizabeth Lane, Emma Kirkby, Joy Roberts, Judith Nelson, Prudence Lloyd
Countertenor: James Bowman
Tenors: Alan Byers, Julian Pike, Martyn Hill, Paul Elliott, Peter Bamber, Rogers Covey-Crump
Basses: Christopher Keyte, David Thomas, Geoffrey Shaw, Michael George
The Taverner Choir
Chorus Director: Andrew Parrott
Academy of Ancient Music
Conductor: Christopher Hogwood
Winterreise é uma viagem fadada à ruina e ao fracasso, um ciclo de 24 canções sobre coisas tristes, desoladoras, mas ainda hoje segue… Tentaremos entender um pouco este mistério.
Apesar da minha alta ascendência alsaciana, cresci cercado de culturas das mais mundanas, de farinhas de pau, feijões diversos e palmitos extraídos das matas vizinhas. Isto coloca uma questão das mais intrigantes: em que ponto desta vivência dolente e preguiçosa dei-me interessado e em pouquíssimo tempo obcecado e apaixonado pelas canções-arte, os chamados Lieder? Certamente o achado de um álbum duplo, velhíssimos LPs, selo Angel – de mavioso e seráfico logotipo – com Dietrich Fischer-Dieskau cantando o ciclo Die Schöne Müllerin, acompanhado ao piano pelo fiel Gerald Moore. E a atração para o vórtice foi completada com a descoberta do Winterreise, agora cantado pelo Hans Hotter, tendo mais uma vez ao teclado Gerald Moore.
Certamente o caso seria registrado nos anais da Sociedade Tapejarense de Antropologia, caso tal sociedade existisse: como pode um ser vivente que cresceu em um ambiente bucólico e semitropical, ter algum interesse, e quem poderia crer, paixão, por canções levadas em uma língua estranha, gutural, acompanhadas ao piano? Ainda que fosse uma violinha, haveria uma brecha ao entendimento… E se soubessem que a fiada de canções mais martelada na vitrolinha do ser em estudo tratava de uma série de desoladoras canções, que desfilam um completo desmantelamento psicológico do perturbado viajante, que atravessa as paragens nevadas iluminadas por muitos sóis? O tal personagem se debate entre a desilusão amorosa e encara uma solidão medonha e que encontra alívio apenas na companhia de cães e corvos e num final encontro com uma fantasmagórica figura?
Bem, eu diria que a atração pelo contrastante sempre foi forte na minha pessoa e o que parece reverso sempre tocou em mim uma tecla especial. Mas você precisará verificar por si mesmo: Há alguma razão para prosseguir canção após canção, ouvindo um rosário de tristezas e lamentações – quase todas em tom menor?
Caso você se dê uma chance, poderá descobrir a essência da arte de Franz Schubert – que se preparou por uma vida temperada de alegrias e sofrimentos vários – para compor o Winterreise.
Nestes dias eu me aproximo desta música intensa com alguma relutância e a ouço com parcimônia, pois que esta obra é uma daquelas que me é muito cara e, quando me pega, custa deixar-me para as outras coisas.
Desta vez ele pegou-me pela recomposição – ideia ou conceito – ainda não sei, feita pelo maestro e compositor, Hans Zender. Mas sobre isto, vocês precisarão esperar a próxima postagem.
Schubert iniciou a composição do Winterreise musicando em fevereiro de 1827 doze poemas de Wilhelm Müller, de quem ele já havia musicado o ciclo Die Schöne Müllerin. A vida já lhe havia imposto uma dose pesada de sofrimentos. Além da penúria econômica, ele sofria de sífilis, que de maneira ou outra o levaria a morte, no fim do ano seguinte. Naqueles dias a doença era incurável e causava sequelas vexatórias, além de dolorosas. O tom e tema dos poemas certamente despertaram a chama criativa mais intensa, mas a composição não foi fácil, como ele mesmo disse claramente. Nesta primeira fase da composição, Schubert lidou com as 12 primeiras canções do ciclo, sobre os poemas que encontrou publicados em um almanaque chamado ‘Urania für 1823’. A apresentação destes poemas no Urania é Wanderlieder von Wilhelm Müller – Die Winterreise. In 12 Liedern. Schubert achava que o ciclo estava completo. Esta etapa do ciclo começa com a maravilhosa Gute Nacht, que estabelece o teor e clima do ciclo todo, passa pela mais famosa do ciclo – Der Lindenbaum – e termina com a expressiva Einsamkeit – Solidão!
Mas Müller, que morreria em setembro de 1827, estendeu o ciclo acrescentando mais 12 poemas. Quando Schubert encontrou a versão do ciclo completo, publicada agora em um livro, se deu conta do problema: os novos poemas estavam entrelaçados com aqueles que ele já havia musicado. (Para detalhes sobre essas diferenças, veja aqui, nas excelentes notas escritas sobre o Winterreise pelo pianista Graham Johnson, responsável por um dos projetos mais completos sobre Lieder e Schubert, apresentado pela Hyperion). Schubert decidiu seguir musicando os novos poemas e os colocou como continuação dos que já havia composto, criando assim o seu ‘segundo volume’. Schubert adotou a mesma ordem que Müller, mas com uma significativa exceção. Na sua sequência, Schubert antecipou o penúltimo poema – Mut (Coragem) – para a antepenúltima posição, fazendo a troca com Die Nebensonnen – que vou chamar de ‘Três Sóis’. A inversão é providencial, uma vez que Mut é assim uma última tentativa de vencer a ruína e o fim. As frases ‘Klagen ist für Toren’ – Chorar é para Tolos – e ‘Will kein Gott auf Erden sein, sind wir selber Götter!’ – Se não podemos ter deuses na terra, seremos deuses nós mesmos, mostram um certo arroubo de coragem. Aí segue a canção dos três sóis, que faz menção a um fenômeno relativamente raro em que, devido a reflexão e refração de luz solar por pequenos cristais de gelo, tem-se a impressão que há três sóis suspensos no céu.
Neste ponto do ciclo, como diz um aristocrata amigo meu, na sua mais fleugmática e fluente maneira de colocar as coisas difíceis de se dizer, a saúde mental do nosso viajante de inverno já havia ido para as picas! (Pardon my French…) E a canção segue desolada, após os sóis se porem, o viajante desaparecerá na escuridão. Em alemão, ‘Im Dunkeln wird mir wohler sein’, é ainda mais escuro.
Fica assim a questão: como pode haver prazer em ouvir o ciclo todo após todas estas explicações? Você precisa tentar por si próprio e tirar suas próprias conclusões.
Antes que você prossiga para os downloads, deixarei algumas indicações a título de ‘aquilo que você não pode perder’:
– A primeira canção – Gute Nacht – dá o tom da obra toda e estabelece o sentido de despedida, num ciclo que oscila entre a desilusão amorosa, a solidão e a morte. Entendemos que há um amor que não frutificou, que desencadeou essa viagem mesmo no rigor do inverno. Boa Noite do título é menção ao que ele escreveu no portão da casa da amada ao partir.
– Der Lindenbaum é possivelmente a mais famosa canção do ciclo e é comum ouvi-la em recitais separada do ciclo. Mas não é uma canção que trata de alegria. Ela mistura as lembranças de momentos felizes passados junto à árvore do título, que chamamos tília, com a cruel situação vivida pelo viajante. Alguns comentários sobre esta canção falam até em suicídio.
– Frühlingstraum (Sonho de Primavera) e Die Post, que faz menção as trompas das Carruagens dos Correios, são duas canções em tom maior, mais animadas. Mas a animação apenas se refere às lembranças e só fazem tornar a realidade atual mais excruciante.
– Die Krähe (O Corvo) – Esta canção é terrível. O corvo o acompanha na viajem – uma imagem assustadora. Ele menciona que pelo menos há constância até a sepultura. O cara já está no bico do corvo…
– Mas, como naqueles bons romances ou filmes-cabeça, somos deixados a dar tratos a bola, com a última canção – Der Leiermann. Há imagens medievais que representam a morte como o homem do realejo, mas a canção final não deixa as coisas fáceis para conclusões. As muitas interpretações do desfecho do caminhante estão disponíveis por aí, mas a cada vez que ouço o ciclo, fico às voltas com novas possibilidades. Afinal, fica a pergunta que o viajante faz ao homem do realejo: Quando cantar minhas canções, você me acompanhará tocando seu realejo?
– As Gravações –
Gerald Moore
Há tantas gravações desta obra, como você pode observar nesta página aqui, que se faz necessária uma palavra sobre as escolhas feitas para esta postagem. Schubert escreveu a música para tenor, mas gravações com barítono ou baixo são até mais comuns. É claro, o mais famoso cantor de Lieder do qual temos notícias, Dietrich Fischer-Dieskau, gravou o ciclo inúmeras vezes e estabeleceu padrões altíssimos. Mas como já há uma postagem desse cantor no site, decidi escalar para esta postagem a gravação de Hans Hotter acompanhado pelo decano dos pianistas acompanhadores, Gerald Moore. Gosto muito desta gravação e creio que ela ainda pode oferecer muitas alegrias. Mas, como é uma gravação jurássica, escolhi outra gravação com voz de barítono, a gravação feita no âmbito do projeto de Graham Johnson – Integral dos Lieder de Schubert, no selo Hyperion. Acho que esta escolha presta uma devida homenagem a este excelente músico.
Graham contando sua saga aos pessoal do PQP Bach…
Para a voz de tenor, decidi trazer a gravação de Jonas Kaufmann, que talvez seja mais conhecido por suas atuações em óperas, mas também é um ótimo cantor de Lieder. Quase postei a gravação de Peter Schreier acompanhado por Sviatoslav Richter, mas basta um jurássico de cada vez.
Finalmente, como gosto de intrigar os leitores seguidores mais curiosos e detalhistas, tem aí uma gravação misteriosa para sua análise inquisidora. Posteriormente a identidade desta dupla de artistas será devidamente revelada.
Franz Schubert (1797 – 1828)
Winterreise, D 911
Com letras escritas por Wilhelm Müller (1794 – 1827)
Apareça lá na casa do Schober hoje e cantarei para você um ciclo de canções de arrepiar. Estou ansioso para saber o que você dirá delas. Elas me deram mais trabalho do que qualquer uma das minhas outras canções.
O quinto CD desta série traz uma monte de obras-primas do barroco. Para começar, quem conhece o filme A Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, logo reconhecerá o Prelúdio, faixa 3. Logo depois, temos a belíssima Music for a while (8) e, como se não bastasse, a faixa 11 é Retir’d from any mortal’s sight, aqui em interpretação linda de morrer de Emma Kirkby. E o que dizer da cômica At the close of the ev’ning?
Imagine os filmes mais estúpidos de Hollywood que você possa imaginar: filmes de ação cafonas, comédias fofinhas e sem graça, grandes épicos xaroposos. Agora imagine que um dos maiores compositores vivos trabalhando para eles, produzindo trilhas musicais surpreendentes, assustadoramente belas e emocionantes para esses filmes descartáveis. É isso que você obtém com este conjunto: música que Henry Purcell compôs para cerca de duas dúzias de peças, muitas vezes totalmente esquecíveis, outras não, pois, ocasionalmente, ele se juntava a um dramaturgo digno de sua estatura como John Dryden, Aphra Behn ou William Congreve. Nestes casos, os resultados são ainda melhores, mas na maioria das vezes você pode — e deve — curtir a música aqui sem saber nada sobre as peças originais…
CD5:
The Libertine, or, the Libertine Destroyed, incidental music, Z. 600
01. Nymphs and shepherds
02. We come
03. Prelude
04. Prepare, prepare, new guests draw near
05. To arms, heroic prince
The Massacre of Paris, incidental music, Z. 604
06. Thy genius, Io (2 settings)
Oedipus, incidental music, Z. 583
07. Hear, ye sullen powers below
08. Music for a while
09. Come away, do not stay … Laius! Hear, hear
10. Overture for 2 violins, viola & continuo in D minor, Z. 771
The History of King Richard II, or, The Sicilian Usurper, incidental music, Z. 581
11. Retir’d from any mortal’s sight
Sir Barnaby Whigg, or, No Wit Like a Woman’s, incidental music, Z. 589
12. Blow, blow, Boreas, blow
Sophonisba, or Hannibal’s Overthrow, incidental music, Z. 590
13. Beneath the poplar’s shadow
The English Lawyer, incidental music, Z. 594
14. My wife has a tongue
A Fool’s Preferment, or, The Three Dukes of Dunstable, incidental music, Z. 571
15. I sigh’d, and I pin’d … There’s nothing so fatal as woman
16. Fled is my love … ‘Tis death alone … I’ll mount to yon blue Coelum
17. I’ll sail upon the Dog-star
18. Jenny, ‘gin you can love
19. If thou wilt give me back my love
The Indian Emperor, or, The Conquest of Mexico, incidental music, Z. 598
20. I look’d, and saw within
The Knight of Malta, incidental music, Z. 599
21. At the close of the ev’ning
Why, my Daphne, why complaining? (A Dialogue between Thirsis and Daphne), song for soprano, bass & continuo, Z. 525
22. Why, my Daphne, shy complaining
The Wives’ Excuse, or, Cuckolds Make Themselves, incidental music, Z. 612
23. Ingrateful love!
24. Hang this whining way of wooing
25. Say, cruel Amoret … Corinna, I excuse thy face
Cleomenes, the Spartan Hero, incidental music, Z. 576
26. No, no, poor suff’ring heart
Regulus, or, the Faction of Carthage, incidental music, Z. 586
27. Ah me! to many deaths
The Marriage-Hater Match’d, incidental music, Z. 602
28. As soon as the chaos … How vile are the sordid intregues
Sopranos: Elizabeth Lane, Emma Kirkby, Joy Roberts, Judith Nelson, Prudence Lloyd
Countertenor: James Bowman
Tenors: Alan Byers, Julian Pike, Martyn Hill, Paul Elliott, Peter Bamber, Rogers Covey-Crump
Basses: Christopher Keyte, David Thomas, Geoffrey Shaw, Michael George
The Taverner Choir
Chorus Director: Andrew Parrott
Academy of Ancient Music
Conductor: Christopher Hogwood
A primeira publicação de uma composição de Beethoven, então com menos do que 12 anos, foi um conjunto de 9 variações para piano sobre uma marcha de Dressler. Variações sempre fizeram parte da sua obra, às vezes com destaque de número de opus, às vezes como movimento de uma sonata ou outra obra, até culminar nas famosas Variações Diabelli.
Na juventude estas peças eram ainda mais comuns, pois serviam para mostrar suas habilidades como pianista e improvisador.
Eu gosto muito destes três conjuntos de variações, especialmente as que levam o apelido ‘Eroica’ e as agitadíssimas variações do Opus 76. Eu as conheci de um LP de selo Melodia com o lendário pianista Sviatoslav Richter. O disco da postagem de hoje foi gravado pelo espetacular pianista japonês Yukio Yokoyama.
Para completar o disco, além das várias variações, três rondós, sendo o último aquele que manifesta a raiva do sovina pela perda de sua pataca, agitadíssimo.
Uma das gratas surpresas deste estranhíssimo ano de 2020 foi ter conhecido algumas gravações deste pianista. Não há uma que tenha desgostado e várias delas gostei bastante! Assim, decidi compartilhar algumas com vocês, começando por esta postagem.
Yukio Yokoyama foi criança prodígio e além do interesse pelo piano, também se dedicou à composição. Estudou na Universidade de Belas Artes e Música de Tokyo e posteriormente estudou no Conservatório de Paris com bolsa do governo francês. Teve por mestres excelentes pianistas, como Jacques Rouvier e Vlado Perlemuter. Logo ganhou prêmios internacionais e consolidou sua carreira de concertista e além de ter muitos discos gravados, atua como professor e como jurado de vários concursos internacionais de piano.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Variações e Rondós
6 Variações para piano, Op. 34
15 Variações para piano, Op. 35 – “Variações Eroica”
6 Variações para piano, Op. 76
Rondo em dó maior, Op. 51, 1
Rondo em sol maior, Op. 51, 2
Rondo a capriccio em sol maior, Op. 129 – “Die Wut uber den verlorenen Groschen”
Mr. Yokoyama aproveitando a haute cuisine de PQP Bach Coop
Momento ‘The Book in on the Table’: The Op 34 Variations are played reasonably quickly and strongly and make for a fine diversion, the Op 76 Variations are superb […] The Eroica Variations are fine indeed. Each of the short variations holds one’s rapt attention, and the concluding fugue is superb, if perhaps a bit brittle sounding at times. The two Op 51 Rondos are superbly and beautifully played and deserve more air time […]. The ever delightful Rage over a Lost Penny is played in pure virtuoso fashion and thrills in so far as it can.
Fine, indeed! Aproveitem!
René Denon
PS: A cor da capa da postagem é uma homenagem à segunda camisa do Inter…
Muito bom este CD 4. Muitas árias bonitas e interessantes. Dotado de um sentido melódico muito expressivo, Purcell compôs toda a sua obra encaminhando-se para a modernidade. As suas composições foram escritas, basicamente, para a Igreja, a corte e o entretenimento. O gênio de Purcell como compositor de teatro foi prejudicado pelo fato de não haver ópera pública em Londres durante sua vida. A maior parte de sua música de teatro consiste em música instrumental e canções interpoladas ao drama, embora ocasionalmente houvesse oportunidades para cenas musicais mais extensas. Sua contribuição para o palco foi de fato modesta até 1689, quando escreveu a obra-prima Dido e Aeneas.
Henry Purcell (1659-1695): Música para o Teatro (Hogwood) — Vol. 4 de 6
CD4:
The Double Dealer, incidental music, Z. 592
01. Overture
02. Hornpipe – Minuet – Air – Hornpipe
03. Cynthia frowns
04. Minuet – Minuet – Air – Air
The Richmond Heiress, or, A Woman Once in the Right, incidental music, Z. 608
05. Behold the man
The Rival Sisters, or, the Violence of Love, incidental music, Z. 609
06. Overture
07. Celia has a thousand charms
08. Take not a woman’s anger ill
09. How happy, how happy is she
Henry II, King of England, incidental music, Z. 580
10. In vain, ‘gainst Love, in vain I strove
Tyrannic Love, or, the Royal Martyr, incidental music, Z. 613
11. Hark! my Damilcar!
12. Ah! how sweet it is to love
13. Overture for 2 violins, 2 violas & continuo in G minor, Z. 772
Theodosius, or, the Force of Love, incidental music, Z.606
14. Prepare, prepare, the rites begin
15. Cans’t thou, Marina
16. The gate to bliss
17. Hark! Hark! behold the heav’nly choir
18. Now the fight’s done
19. Sad as death at dead of night
20. Dream no more of pleasures past
21. Hail to the myrtle shade
22. Ah cruel, bloody Fate
Sopranos: Elizabeth Lane, Emma Kirkby, Joy Roberts, Judith Nelson, Prudence Lloyd
Countertenor: James Bowman
Tenors: Alan Byers, Julian Pike, Martyn Hill, Paul Elliott, Peter Bamber, Rogers Covey-Crump
Basses: Christopher Keyte, David Thomas, Geoffrey Shaw, Michael George
The Taverner Choir
Chorus Director: Andrew Parrott
Academy of Ancient Music
Conductor: Christopher Hogwood
Este disco não chega ao nível dos dois primeiros, mas mesmo assim é muito bom. São mais árias do que música orquestral, às vezes parece que estamos ouvindo uma ópera barroca. Em sua música vocal, Purcell definiu a língua inglesa com uma sensibilidade que ninguém tinha igualado antes ou depois. Apenas Britten, que amava a música de Purcell, chegou próximo. Em sua música instrumental, Purcell mostrou-se um verdadeiro moderno, sendo um dos primeiros a explorar as possibilidades da cor orquestral. Ele mesclou influências do contraponto antigo às últimas danças francesas e às acrobacias vocais italianas. Ainda assim, o resultado é sempre puro Purcell. E com uma cara inglesa que vou lhes contar.
Henry Purcell (1659-1695): Música para o Teatro (Hogwood) — Vol. 3 de 6
CD3:
01. Overture and Suite for 2 violins, viola & continuo in G major, Z. 770 (inner parts incomplete)
Don Quixote, incidental music, Z. 578
02. Sing all ye Muses
03. When the world first knew creation
04. Let the dreadful engines of eternal will
05. With this sacred charming wand
06. Since times are so bad
07. Genius of England
08. Lads and Lasses, blithe and gay
09. From rosie bow’rs
Amphitryon, or, the Two Sosias, incidental music, Z. 572
10. Overture
11. Saraband
12. Celia, that I once was blest
13. Hornpipe – Scotch tune
14. For Iris I sigh
15. Air – Minuet – Hornpipe
16. Fair Iris and her swain
17. Bourrée
Sopranos: Elizabeth Lane, Emma Kirkby, Joy Roberts, Judith Nelson, Prudence Lloyd
Countertenor: James Bowman
Tenors: Alan Byers, Julian Pike, Martyn Hill, Paul Elliott, Peter Bamber, Rogers Covey-Crump
Basses: Christopher Keyte, David Thomas, Geoffrey Shaw, Michael George
The Taverner Choir
Chorus Director: Andrew Parrott
Academy of Ancient Music
Conductor: Christopher Hogwood
Continuando a série – Gostei, Postei! – um disco ótimo para ser ouvido em movimento. Eu o tenho levado para ouvir durante as caminhadas. Ele também serve bem para ouvir enquanto você prepara o jantar. Será surpreendido com headphones mexendo a salada ou virando a omelete. Pura diversão!
Veja que não há contraindicações caso você queira ouvi-lo escarrapachado no sofá, naquele momento de paz em que o pessoal que trabalha no condomínio já foi embora, calando as malditas máquinas de lavar a jatos e os cortadores de grama, e os vizinhos ainda não ligaram as TVs para o jornal ou novela. Bem, agora as pessoas maratonam séries. Deste moderno hábito tenho conseguido seguir incólume, so far…
Mas, divago… Milhaud teve uma longa vida e compôs muita música. Tinha o que ocorre com alguns de seus conterrâneos, o bicho que os faz viajar. Rodou mundo e absorveu muita música em diferentes culturas. As suas conexões com o Brasil, onde passou um tempo a serviço do Ministro Plenipotenciário (adorei o título) Paul Claudel, dão um colorido delicioso ao disco. Estão presentes em duas peças – no último movimento da primeira – Brasileira (Mouvement de samba), em Scaramouche, e na última, o Boi no Telhado!
Darius Milhaud nasceu em Marselha, em 1892, e é um dos integrantes do chamado “les Six”, um grupo de compositores franceses que se propunha a apresentar uma alternativa aos estilos wagneriano e ao impressionista. Entre 1916 e 1918, Milhaud trabalhou no Brasil a serviço da embaixada da França junto do adido cultural Paul Claudel. Neste período, teve intenso contato com a atmosfera da música popular urbana do Rio de Janeiro que serviu como fonte de inspiração para várias de suas obras, dentre elas “Scaramouche”, “Saudades do Brasil” e “O boi no telhado”.
Na sua música “Le Boeuf sur le toit” (ou “O boi no telhado”), Darius Milhaud faz uso de cerca de 28 melodias de músicas populares de compositores cariocas da época. Algumas dessas melodias são facilmente identificáveis, como “Corta-Jaca”, de Chiquinha Gonzaga, “Flor do Abacate”, de Álvaro Sandim, e “Apanhei-te, cavaquinho”, de Ernesto Nazareth, que era um dos compositores e instrumentistas mais admirados por Milhaud. O próprio título “O boi no telhado” também é de inspiração brasileira, pois faz referência a um tango de mesmo nome escrito em 1918 por José Monteiro, também conhecido como Zé Boiadeiro.
Outras partes das Américas estão no disco, como nas peças Kentuckiana e carnaval à la nouvelle-orléans.
O disco é magistralmente interpretado por Stephen Coombs, tarimbado na música para duo de pianos ou piano a quatro mãos, e o português Artur Pizarro, que tem uma carreira solo bastante distinta, mas aqui está em excelente sintonia com o outro músico. E o selo Hyperion nos dá um show de produção com um ótimo livreto.
An entertaining and delightful issue which brings some high-spirited pianism from these fine players.
The Penguin Guide of Recorded Classical Music
2011 edition
Eu confesso não saber se há alguma relação entre O Boi no Telhado de José Monteiro (Zé Boiadeiro) – Darius Milhaud e a maravilhosa história de O Boi Voador de Maurício de Nassau. Se há, digam me vocês…
Aproveite! Nem sempre se encontra um disco tão saboroso…
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