.: interlúdio :. Miles Davis: In a Silent Way

Às vezes quero postar algo mais contemporâneo ou diferente, e me pego pensando – mas e aquele disco? Tão importante, que não postei ainda?

Por isso, deixo Nicholas Payton para depois e lhes trago a majestosidade de In a Silent Way.

A data da gravação é 18 de fevereiro de 1969. Os mais próximos da discografia de Miles Davis sabem o que isso significa: nada de bop. O final dos anos 60 marca a tomada de direção em rumo ao fusion – mais um estilo com sua assinatura na certidão de nascimento. Ao agregar instrumentos elétricos ao jazz, aceitou a provocação do rock; e antes de quebrar as estruturas do jazz tradicional no (estupefaciente) “Bitches Brew” (1970), Miles cimentou a base do fusion (toda fama de Dave Brubeck) neste álbum. Não somente na música, também na produção: ativo na edição, realizou um segundo trabalho de composição e arranjo para o resultado final. As frases desconexas, muitas vezes, tiveram sua atonalidade amplificada estruturalmente pelo artista.

São duas faixas; uma por lado, batendo nos vinte minutos. Na verdade, cada música é dividida em três partes – veja logo abaixo para as divisões (apenas didáticas) exatas. Notarão que o último segmento tem o mesmo nome do primeiro; propositadamente, a última parte é uma repetição da primeira. Miles compôs as peças num esquema exposição, desenvolvimento e recapitulação, com o intuito de que fossem melhor assimiladas. Exagero. Duas magníficas viagens de jazz ora harmônico e tranquilo, noutras livre e swingado como nos anos 20, em grooves que lembram o berço da raça de Davis, e em solos de virtuosismo poucas vezes reunido. Não vou precisar falar sobre os integrantes da gravação; a ficha técnica logo abaixo da capa diz tudo. (Estão perdoados por interrogações ao baterista, mas somente.) Apenas destaco que dos três pianos operados, o Fender Rhodes de Corea não é apenas uma delícia para os ouvidos, mas também um aceno do que ocorria em 1969, do lado de fora do estúdio B da Columbia, em Nova Iorque.

Miles Davis – In a Silent Way (256)

01 Shhh/Peaceful (Davis) – 18’16
Shhh – 6’14
Peaceful – 5’42
Shhh – 6’20

02 In a Silent Way/It’s About That Time – 19’52
In a Silent Way (Zawinul) – 4’11
It’s About That Time (Davis) – 11’27
In a Silent Way – 4’14

Miles Davis: trumpet
Wayne Shorter: soprano saxophone
John McLaughlin: electric guitar
Herbie Hancock: electric piano
Chick Corea: electric piano
Joe Zawinul: organ
Dave Holland: bass guitar
Tony Williams: drums(muito bem) Produzido por Teo Macero para a Columbia

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Boa audição!

Blue Dog

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 5 (Maazel, Filarmônica de Viena)

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 5 (Maazel, Filarmônica de Viena)

Esta não é uma grande versão da quinta de Mahler. Ou melhor, a gravação é boa, mas não é candidata ao Olimpo das Gravações. Tornei-me muito exigente em relação a esta obra após ver Daniele Gatti regê-la em Roma. É da vida. A gente vê um cara que realmente é íntimo da obra e ele estraga as outras versões. O alcance emocional da obra pode ser enorme e me parece que Maazel fica aquém dele. O drama é reflexo dos problemas pelos quais o compositor passava. A Sinfonia Nº 5 começou a ser escrita em 1901, após uma grave doença. Na noite entre 24 e 25 de fevereiro, Mahler quase morreu em razão de uma hemorragia intestinal. Durante a convalescença, ele fez o esboço dos primeiros movimentos. No verão seguinte, ele começava uma nova vida acompanhado de sua esposa Alma. Ela também ajudou o marido, sendo a responsável por copiar a partitura da nova sinfonia. Naquele verão, com Alma, ele compôs o famoso Adagietto e o movimento final. Em 24 de agosto de 1901, ele terminaria a partitura, tocando-a ao piano para Alma.

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 5 (Maazel)

Part I , Movement I: Trauermarsch
1 In Gemessenem Schritt. Streng. Wie Ein Kondukt. 5:50
2 Prötzig Schneller. Leidenschaftlich. Wild. 2:13
3 Tempo I. 5:56

Part I, Movement II
4 Stürmisch Bewegt. Mit Grösster Vehemenz. 4:30
5 Langsam Aber Immer. 5:48
6 Nicht Eilen. 4:41

Part II, Movement III: Scherzo
7 Kräftig, Nicht Zu Schnell. 2:30
8 Etwas Ruhiger. 4:23
9 Molto Moderato. 4:02
10 A Tempo I. 4:10
11 Tempo I. (Subito)
French Horn – Wolfgang Tomböck Jr.*
2:31

Part III, Movement IV: Adagietto
12 Sehr Langsam. 10:33

Part III, Movement V: Rondo-Finale
13 Allegro. 8:15
14 Nicht Eilen. A Tempo. 3:42
15 Grazioso. 3:20

Conductor – Lorin Maazel
Orchestra – Wiener Philharmoniker

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Mahler no comando

PQP

Heinrich Ignaz Franz von Biber (1644 – 1704): (Algumas) Sonatas para Violino (1681) – Musica Alchemica & Lina Tur Bonet ֎

Heinrich Ignaz Franz von Biber (1644 – 1704): (Algumas) Sonatas para Violino (1681) – Musica Alchemica & Lina Tur Bonet ֎

Heinrich Biber

Sonatas para Violino

Musica Alchemica

Lina Tur Bonet, violono

 

Foi essa vista que Biber deixou para trás…

A estrada que liga Olmutz até Absam passa por várias cidades interessantes: Brno, Viena, Linz e… Salzburgo. Por essa estrada deveria ter passado o nosso Henrique Biber, lá no verão (europeu) de 1670. O patrão, bispo Karl II von Liechentstein-Kastelkorn, o enviara até lá para comprar na loja de Herr Jacob Steiner alguns violinos e outros instrumentos de cordas para a sua orquestra. Pois o jovem Biber, lá pelos seus vinte e tantos anos, era virtuose do violino e resolveu passar uns dias em Salzburg, mostrando seus muitos talentos ao Arcebispo Maximilian Gandolph von Kuenburg, que era amigo do bispo Karl. Pois Biber gostou tanto de Salzburgo e das oportunidades locais que nunca saiu de lá.

Eventualmente, o bispo Karl se reconciliou com Biber, em prol de preservar um pouco de dignidade. Biber, na verdade, infringiu seu contrato original por seis anos (1670-1676), enquanto estava ausente e desfrutava das riquezas da vida em Salzburgo. Inclusive se casando em 1672. Biber continuou a viver a grande vida em Salzburgo até sua morte em 1704. Ele até se tornou um pouco um socialite e conquistou favores suficientes para ser nomeado cavaleiro pelo Imperador Leopoldo I em 1690 (foi quando o “von” foi adicionado a “Biber”). Os nomes Ignaz e Franz, de dois santos jesuítas, também foram acrescentados.

Essas sonatas aqui gravadas mostram bem como ele era inventivo e talentoso como compositor, revelando também um pouco de suas habilidades como instrumentista.

Eu gostei imensamente do disco, inclusive por sua linda sonoridade. O selo Glossa é Espanhol e as gravações foram feitas em Antequera, que fica próxima de Málaga. A violinista Lina Tur Bonet já esteve aqui pelo blog, patrocinada pelo próprio PQP Bach, apresentando sonatas de Herr Bach e Mr. Handel. Ela tem um excelente currículo e escreveu as notas do disco. Veja um trechinho: Em Biber, pode-se perceber um caráter intimamente ligado à terra, em sua combinação original de melodias populares, danças e elementos folclóricos, e através de seu desejo de ter seu próprio “estúdio de composição”, além de cultivar um jardim e cuidar de videiras.

Apesar do disco não conter as oito sonatas da obra completa publicada por Biber em Nurenberg, no ano de 1681, achei que as aqui apresentadas dão uma ótima perspectiva do todo.

Heinrich Ignaz Franz von Biber (1644 – 1704)

Sonata para Violino III em fá maior

  1. Adagio
  2. Aria
  3. Presto
  4. Variation

Sonata para Violino V em mi menor

  1. Variation
  2. Aria

Sonata para Violino I em lá maior

  1. Presto
  2. Variation
  3. Finale

Sonata para Violino VI em dó menor

  1. Passacagli
  2. Gavotte
  3. Adagio

Harmonia artificiosa ariosa: Partia VII

  1. Praeludium
  2. Allamande
  3. Sarabande
  4. Gigue
  5. Aria
  6. Trezza
  7. Arietta variata

Lina Tur Bonet, violino

Musica Alchemica

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FLAC | 385 MB

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MP3 | 320 KBPS | 167 MB

Lina Tur Bonet selecionou quatro das oito sonatas para violino solo com baixo contínuo e acrescentou uma parthia para duas violas d’amore.

A violinista espanhola Lina Tur Bonet é uma especialista em música virtuosística para violino do início do Barroco e já gravou vários CDs com seu conjunto Musica Alchemica pelo selo Pan Classics.

Sua gravação completa das Sonatas do Rosário de Biber foi celebrada tanto por críticos quanto pelo público, e ela recebeu o prêmio Diapason d’or na França por seu CD “La Bellezza“.

Lina Tur Bonet no castelo do PQP Bach, nos arredores de Málaga

honest and heartfelt music-making, her releases are becoming things to look forward to

GRAMOPHONE

Aproveite!

René Denon

Johan Halvorsen (1864-1935): Orchestral Works, Vol. 1 (Bergen Philharmonic – Thorsen)

Johan Halvorsen (1864-1935): Orchestral Works, Vol. 1 (Bergen Philharmonic – Thorsen)

Aproveitando a deixa do mano PQPBach trago mais um compositor norueguês desconhecido, ao menos por mim. E que bela descoberta. Em minha santa ignorância, a música norueguesa se resumia a Grieg. E Halvorsen, por sinal, era seu amigo.

Mas voltemos à música de Halvorsen. Violinista de mão cheia, escreveu belas peças para o instrumento, peças curtas, por sinal, mas que demonstram um tremendo domínio dos recursos do instrumento, como pode ser ouvido no belo “Andante religioso para Violino e Orquestra”. Como maestro, Halvorsen dirigiu esta mesma Bergen Philharmonic (que na época se chamava Orchestra Harmonien). Para maiores detalhes sobre a vida e a obra de Halvorsen sugiro a leitura do booklet anexo, bem esclarecedor, trazendo detalhes sobre as obras. A coleção tem quatro cds. Trarei um de cada vez para melhor ser apreciado.
Neeme Järvi é um regente de mão cheia, ainda mais com este repertório. E a orquestra, apesar de desconhecida, também é muito boa.

Bela música, para se ouvir num dia nublado e frio como o de hoje.

Johan Halvorsen (1864-1935) – Orchestral Works, Vol. 1 – Bergen Philharmonic – Thorsen

1 Bojarernes Indtogsmarsch
2 Andante religioso for Violin & Orchestra
3 Suite from ‘Mascarade’ – 1 Holberg-Ouverture. Allegro moderato – Poco meno mosso –
[Tempo I] – Più mosso (un poco) – Intermedium
4 2 Cotillon. Introduktion Allegro – Allegro – Un poco meno mosso – Coda
5 3 Menuetto. Introduktion ad lib. – [ ] – Più mosso
6 4 Hanedansen. Allegro moderato – Con grandezza – Un poco animato – Coda
7 5 Gavotte. [ ] – Musette. [ ]
8 6 Molinasque (Grotesk dans). Allegro moderato – Coda. Più mosso
9 7 Kehraus (Bachanal). Vivace molto
10 8a Arietta. Andante con moto – Più mosso – Poco meno – Più mosso – Meno – Largamente – A tempo I – Adagio
11 8b Passepied. Allegretto grazioso – Meno mosso
12 La Mélancolie Mélodie de Ole Bull (1810–1880) – Andante
13 Symphony No. 1 in C minor – I Allegro non troppo – Un poco più mosso – Poco meno mosso – Agitato – Tempo I – Animato –
Meno mosso – Largamente – Più mosso
14 II Andante – Più mosso – Tempo I – Molto più mosso – Tempo I – Tranquillo – Più mosso – Pesante – Tranquillo – Adagio
15 III Scherzo. Lento – Allegro con spirito – Allegretto – Più mosso – Meno mosso – Tempo I (Allegro con spirito) – Lento – Allegro molto
16 IV Finale (Rondo). Introduction Andante – Allegro deciso – Un poco meno mosso – Tranquillo – Molto tranquillo – Tempo I (Allegro deciso) – Poco meno mosso – Un poco meno mosso – Allegro molto

Marianne Thorsen violin
Bergen Philharmonic Orchestra
Neeme Järvi – Conductor

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Bigodón do Halvorsen

FDP

.: interlúdio :. Miroslav Vitous: Universal Syncopations (Vitous, Garbarek, Corea, McLaughlin, DeJohnette)

.: interlúdio :. Miroslav Vitous: Universal Syncopations (Vitous, Garbarek, Corea, McLaughlin, DeJohnette)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Algumas obviedades são muito verdadeiras. Quando você Universal Syncopations, entenderá que música é sobre ouvir. Syncopations é um encontro único de grandes músicos que, além de tocarem com verdadeira maestria, parecem ouvir uns aos outros com atenção e respeito. É uma espécie de democracia auditiva: todo mundo tem a chance de dizer o que quer e, ao mesmo tempo, cada um deixa o outro falar. No entanto, Vitous representa a espinha dorsal dessa conversa democrática. Ele está sempre sugerindo o assunto. Ele não impõe, ele propõe. É inútil dizer que Vitous é um mestre orador. Seu discurso não é alto, mas suave e claro e, acima de tudo, imaginativo e habilidoso. Vitous constrói um equilíbrio perfeito entre as virtudes harmônicas e melódicas do baixo. E DeJohnette é um monstro a auxiliá-lo a manter o ritmo. A banda é um bando de veteranos astutos — hoje alguns já morreram — que conversam e colaboram com declarações curtas, mas incisivas e graciosas. A cota de Jan Garbarek talvez seja maior. A incursão inusitada de seu sax é um dos destaques de Universal Syncopations. Já Chick Corea, por sua vez, permanece bastante discreto. Ele diz isso ou aquilo e depois volta ao silêncio. O mesmo acontece com o guitarrista John McLaughin, que parece dizer “olha, eu acho que…” e então se cala. Mas o início de seu pensamento vale a pena ser ouvido com atenção… Por outro lado, o repertório se tece como uma suíte, orgulhosa representante da estética ECM. É mais uma atmosfera audível do que apenas uma sessão de gravação de um grupo de velhos amigos. A foto da capa do disco mostra um misterioso céu noturno adornado com nuvens brancas tracejadas. Se tal imagem pudesse fazer som, as Universal Syncopations de Vitous chegariam direto aos nossos ouvidos, conversando e nos deixando saber porque a música é, apenas, uma questão de ouvir.

Miroslav Vitous: Universal Syncopations (Vitous, Garbarek, Corea, McLaughlin, DeJohnette)

1 Bamboo Forest 4:35
2 Univoyage 10:48
3 Tramp Blues 5:15
4 Faith Run 4:50
5 Sun Flower 7:16
6 Miro Bop 3:59
7 Beethoven 7:13
8 Medium 5:06
9 Brazil Waves 4:26

Double Bass, Written-By – Miroslav Vitous
Drums – Jack DeJohnette
Guitar – John McLaughlin
Piano – Chick Corea
Soprano Saxophone, Tenor Saxophone – Jan Garbarek
Trombone – Isaac Smith (faixas: 2 to 4)
Trumpet – Wayne Bergeron (faixas: 2 to 4)
Trumpet, Flugelhorn – Valerie Ponomarev* (faixas: 2 to 4)
Written-By – Jack DeJohnette (faixas: 8), Jan Garbarek (faixas: 7, 9)

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Miroslav Vitous serrando um contrabaixo

PQP

Sergei Prokofiev (1891-1953): Sonata para Piano nº 1 e 6, Danças de Cinderela, Estudos (Argentieri)

Um disco recente com música que eu amo profundamente (principalmente as Sonatas 1 e 6) interpretada por uma pianista jovem e pouco conhecida. Poderia dar errado: não seria a primeira nem a segunda vez se eu parasse o disco no meio e retornasse aos grandes mestres do passado – ou no caso de Prokofiev, dois grandes pianistas ainda vivos mas já na casa dos 70 anos: Sokolov e Raekallio.

A aposta na moça italiana, porém, deu certo: Stefania Argentieri faz um Prokofiev envolvente e escolhe um repertório bastante interessante, começando com obras maduras (Peças de Cinderela, de 1944, 6ª Sonata, de 1940) e passa depois para obras de quando o compositor tinha menos de 20 anos. Nessa abordagem cronológica invertida, é como se a pianista mergulhasse na individualidade de Prokofiev mostrando como ele partiu de ideias que circulavam em sua época e foi criando, aos poucos, um lugar próprio para si.

Com seus ritmos constantes ligados à dança (não por acaso seus balés e música para o palco em geral tiveram tanto sucesso), Prokofiev seria, na sua geração, uma espécie de anti-Debussy. O francês, em sua busca pelos sons do vento e do mar, nunca imitava o ritmo previsível dos relógios. É verdade que o jovem Debussy havia composto, na Suite Bergamasque (de 1890, retocada para publicação em 1905), um minueto e um passepied, duas danças de ritmo constante apesar de extremamente sofisticadas. Mas seu estilo ainda estava em formação. É nos 24 Prelúdios para piano (1909-1913) que a linguagem de Debussy está plenamente formada e ele utiliza ritmos constantes apenas para quebrá-los pouco depois, como em La sérénade interrompue (A serenata interrompida), de nome autoexplicativo, e em Hommage à S. Pickwick Esq. P.P.M.P.C. (Homenagem a um personagem cômico de Charles Dickens). Nesta última, o hino da Grã-Bretanha começa solene e grave, mas logo se torna bem-humorado e grotesco justamente pelas interrupções e irregularidades.

Assim como Debussy, Prokofiev precisou tatear um pouco antes de achar o seu estilo que aparece nas danças extraídas do balé Cinderela e na 6ª Sonata. Na sua 1ª sonata, Prokofiev ainda era um jovem compositor e pianista estudando no Conservatório de São Petersburgo. O estilo às vezes parece imitar o de Scriabin, mas uma imitação muito bem feita, uma cópia de gênio. E nos estudos a figura de Chopin também aparece nas entrelinhas.

Vejamos abaixo, nas palavras extraídas do encarte do álbum por Attilio Cantore (professor em Milão), outros aspectos da relação entre Prokofiev e o vasto e agitado mundo que existia ao redor dele. Nessa verificação da hipótese mais ou menos óbvia de que Prokofiev não era um sábio em sua torre de marfim isolado da música do século XX, o interessante é percebermos como Prokofiev ocupa, no meio dos outros e relacionado a eles, um lugar que ninguém mais poderia ocupar.

Aluno de Liadov, Tcherepnin e Rimsky-Korsakov, de quem assimilou a veia épica, Sergei Prokofiev apareceu na cena russa e internacional bastante jovem. Seu ecletismo encontrou um terreno fértil numa época em que o cenário musical incluía o impressionismo francês, o romantismo sinfônico tardio da Europa central, além do “profeta” Scriabin e Schönberg participando da crise na organização tonal.

Se é verdade que Prokofiev, quando mais maduro, se sentia estrangeiro ao pensamento dodecafônico, é igualmente verdade que em 1911 foi o jovem Prokofiev que estreou na Rússia os Klavierstücke, Op. 11 de Schönberg. Igualmente significante foi a nunca resolvida rivalidade com Stravinsky: uma contínua batalha com o compositor 9 anos mais velho, também formado em São Petersburgo, que levou o mais jovem ao estudo e à assimilação tática e tácita de características de Stravinsky.

A música de Prokofiev oferece um retorno à tonalidade: de um jeito novo, ele cria um mundo tonal cheio de “notas erradas”. Sua escrita, embora mostre diversas influências, parece evitar estratégias codificadas: é uma escrita com suas próprias leis. Mesmo na mesma obra, podem coexistir diferentes princípios de difícil identificação.

Retrato de Prokofiev por Anna Ostroumova – Paris, 1926

Sergei Prokofiev (1891-1953):
Seis peças de Cinderela, op.102
1 I. Valsa: Cinderela e o Príncipe
2 II. Variação de Cinderela
3 III. A disputa
4 IV. Valsa: Cinderela vai para o baile
5 V. Pas de Chale
6 VI. Amoroso
Sonata para Piano nº 6 em lá maior, op. 82
7 I. Allegro Moderato
8 II. Allegretto
9 III. Temp di Valzer, Lentissimo
10 IV. Vivace
11 Sonata para Piano nº 1 em fá menor, op. 1
Quatro Estudos, op. 2
12 No. 1 em ré menor
13 No. 2 em mi menor
14 No. 3 em dó menor
15 No. 4 em dó menor
16 Suggestion Diabolique, op. 4 nº 4

Stefania Argentieri, piano
Recorded at Teastro Giuseppe Curci, Barletta, Italy, 2019

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Stefania Argentieri é professora em Lecce, sul da Itália: no mapa, é o salto alto da bota

Pleyel

J. S. Bach (1685-1750): Solo & Double Violin Concertos (Podger / Manze)

J. S. Bach (1685-1750): Solo & Double Violin Concertos (Podger / Manze)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Andrew Manze e Rachel Podger que retomam peças fundamentais do barroco alemão: os Concertos para Violino de Johann Sebastian Bach. O CD merece todo meu respeito. O estilo de Manze é altamente individual. Alguns de seus acordes soam notavelmente rústicos. Ele usa o vibrato mínimo, que é o correto. Além disso, ele não tem medo de ornamentar os concertos solo — uma prática que pode irritar quanto satisfazer os ouvintes. Ele geralmente reserva essas alterações nas recapitulações e defende seus embelezamentos com base na própria prática de Bach. Essas novidades vão desde as notas no final do Allegro de abertura do BWV1043 até as intervenções mais extensas no primeiro Allegro de BWV1042. Ouvintes conservadores podem sair correndo… A Academia de Música Antiga oferece um papel coadjuvante competente. Mas vale sempre a pena ouvir Manze em palavras e ações. E aqui ele está acompanhado de uma futura estrela, a jovem, na época, Rachel Podger. Um fato curioso é que ninguém pode ter certeza de quantos concertos para violino Bach escreveu. Sua produção de concerto consiste em várias obras escritas para determinados instrumentos, depois reorganizadas para outros. O cânone estabelecido de seus concertos para violino é limitado ao BWV 1043, 1041 e 1042. O resto não se sabe.

Johann Sebastian Bach (1685-1770) – Solo & Double Violin Concertos

Concerto in D Minor for Two Violins BWV 1043
01. Vivace
02. Largo ma non tanto
03. Allegro

Concerto in A Minor for Violin BWV 1041
04. Allegro
05. Andante
06. Allegro Assai

Concerto in E Major for Violin BWV 1042
07. Allegro
08. Adagio
09. Allegro assai

Concerto in D Minor for Two Violins BWV 1060
10. Allegro
11. Adagio
12. Allegro

Andrew Manze & Rachel Podger, violinos
The Academy of Ancient Music
Andrew Manze, regente

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O violinista e regente Andrew Manze
O violinista e regente Andrew Manze

PQP

Gyorgy Ligeti (1923-2006) – Études – Musica Ricercata (Ligeti Edition 3)

OK, já sabem que eu adoro Ligeti, não? Pouca gente deu-se conta de que Kubrick voltou a utilizar a música de Ligeti em seu último filme De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut). Tratava-se da bartokiana Musica Ricercata Nº 2. A música pontuava muito bem a hesitação do personagem de Tom Cruise ao não saber — creio eu! — bem como manejar a sexualidade de sua mulher… Claro que nenhum de nós passa ou passou por este gênero de problema… Adiante!

Kubrick tinha bastante amor aos compositores húngaros. isto comprova seu bom gosto. Em O Iluminado usou e abusou da Música para Cordas, Percussão e Celesta de Béla Bartók, lembram?

Pois bem, este é mais um esplêndido CD da coleção da Sony que traz gravações realizadas sob supervisão de Ligeti. O pianista Pierre-Laurent Aimard deve saber a sorte que teve e aproveitou para realizar um trabalho de mestre. Ele pegou o espírito do compositor, sem dúvida, e suas versões estão fadadas a serem referências obrigatórias. Um bem-aventurado, né? Os comentaristas que li dão total precedência ao fato de que os Estudos são uma das mais importantes obras do século XX, dando pouca atenção ao restante do disco (M. Ricercata). Estranho. Não tenho absolutamente nada contra os Estudos, mas a Musica Ricercata é muito bonita. A Wikipedia reforça sua importância histórica:

As primeiras obras de Ligeti são uma extensão da linguagem musical de seu compatriota Béla Bartók. Por exemplo, suas peças para piano Musica Ricercata (1951 – 53), foram comparadas com as do Mikrokosmos de Bartók. A coleção de Ligeti tem onze peças ao todo, A primeira usa somente uma nota “lá” executada em diversas oitavas. Só no fim da peça é possível escutar a segunda nota – “ré”. A segunda peça emprega três notas diferentes, a terceira emprega quatro, e assim até o fim, de tal forma que a décima-primeira peça usa todas as doze notas da escala cromática.

Nessa primeira parte de sua carreira, Ligeti foi afetado pelo regime comunista da Hungria daquele tempo, que impunha a estética do realismo socialista. A décima peça da Musica Ricercata foi proibida pelas autoridades por considerarem-na “decadente”. Isto se deveu provavelmente ao uso muito livre dos intervalos de segunda menor. Devido à ousadia de suas intenções musicais, é fácil de supor a razão por ter decidido deixar a Hungria.

Com vocês…

Ligeti – Études – Musica Ricercata

01 – Etude 1 [Book 1] – Desordre
02 – Etude 2 [Book 1] – Cordes A Vide
03 – Etude 3 [Book 1] – Touches Bloquees
04 – Etude 4 [Book 1] – Fanfares
05 – Etude 5 [Book 1] – Arc-En-Ciel
06 – Etude 6 [Book 1] – Automne A Varsovie
07 – Etude 7 [Book 2] – Galamb Borong [1988]

08 – Etude 8 [Book 2] – Fem [1989]
09 – Etude 9 [Book 2] – Vertige [1990]
10 – Etude 10 [Book 2] – Der Zauberlehrling [1994]
11 – Etude 11 [Book 2] – En Suspens [1994]
12 – Etude 12 [Book 2] – Entrelacs [1993]
13 – Etude 13 [Book 2] – Lescalier Du Diable [1993]
14 – Etude 14 [Book 2] – Coloana Infinita [1993]

15 – Musica Ricercata [1]
16 – Musica Ricercata [2]
17 – Musica Ricercata [3]
18 – Musica Ricercata [4]
19 – Musica Ricercata [5]
20 – Musica Ricercata [6]
21 – Musica Ricercata [7]
22 – Musica Ricercata [8]
23 – Musica Ricercata [9]
24 – Musica Ricercata [10]
25 – Musica Ricercata [11]

26 – Etude 15 [Book 3] – White On White [1995]

Pierre-Laurent Aimard, piano

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LINK ALTERNATIVO

PQP (2008) – link atualizado por Pleyel em maio de 2023

.: interlúdio :. Moon and Sand – Tom Harrell & Jacky Terrasson (1991)

.: interlúdio :. Moon and Sand – Tom Harrell & Jacky Terrasson (1991)

Há quem duvide de que o homem foi à lua. Eu acredito, pois que seria uma tolice típica da nossa espécie (mais propriamente do gênero masculino). Se era por falta de cratera, que viessem conhecer nossas estradas, ruas e calçadas. Aqui em Salvador-BA tem um buraco do qual saem chineses aos magotes semanalmente. Mas como reza uma conhecida canção, a propósito, de um talentosíssimo baiano, sobre o luar nada mais se tem a dizer, só nos restando assim apreciá-lo. Ocorre que amiúde um plenilúnio nos inebria, como se o víssemos pela primeira vez. Jaci na mitologia Tupi; Máni, entidade masculina na mitologia nórdica e irmão da deusa Sól; Selene para os antigos gregos; lar do Super Mouse (quem lembra dele?), vizinho de São Jorge e seu dragão. Essa conversa de viagem à lua não é coisa nova. Talvez o autor mais antigo a imaginar tal odisseia tenha sido Luciano de Samósata, por volta de 150 d.C., em sua obra ‘Uma História Verdadeira’. Ah sim! é mentira, Terta? Bradaria o saudosíssimo Chico Anísio na pele do veríssimo Pantaleão. Luciano narra uma fantástica viagem à lua e menciona extraterrestres, 2000 anos antes da invenção da Ufologia, de Spielberg e dos fumarentos acampamentos na Chapada Diamantina. No século XVIII, o bibliotecário, escritor, cientista e, conforme um biógrafo, trapaceiro, o alemão Rudolph Erich Raspe, escreveu sobre o simpaticíssimo Barão de Munchausen, que dentre inúmeras proezas e tropelias, ascende aos céus de navio e visita o Rei da Lua. No século XIX, o genialíssimo Edgar Allan Poe manda seu intrépido Hans Pfaall para a lua num balão. Naquele mesmo século, o maravilhoso e profético Júlio Verne nos legaria o delicioso ‘Da Terra à Lua’, que nos primórdios do cinema seria tão bem ilustrado pelo gênio do grande Georges Méliès. Como vemos, nosso satélite não atrai apenas as marés, mas nosso imaginário, como nenhum outro personagem do teatro celestial. É inumerável a quantidade de poemas e canções, da antiguidade aos nossos tempos, de Omar Khayyam a Glenn Miller; passando por uma certa Sonata cujo subtítulo apócrifo deixaria seu compositor furioso e por uma das peças mais encantadoras da música de um certo gaulês chamado de impressionista. A Lua sem dúvida é o refúgio de todo poeta, compositor, enfim artista ou quem quer que se arvore a escrever num momento zero de inspiração (como no presente instante). Ela funciona para fascinar e inspirar, com sua luz, suas fases, seus mistérios.

Jacky Terrasson

O tema ‘Moon and Sand’ já cativa pelo título, que evoca algo das Mil e uma Noites, filmes de Valentino, romances aventurescos e praias ao luar. Foi composto por Alec Wilder, cancioneiro e compositor erudito, e teve diversas gravações ao longo das décadas, sendo a primeira delas de Xavier Cugat e sua Orquestra em 1941, hoje um nome um tanto esquecido. Uma bonita melodia emoldurada por uma progressão harmônica expressiva cujas características bastante peculiares atrai irresistivelmente os improvisadores. Um registro marcante do tema se encontra na trilha sonora do documentário ‘Let’s Get Lost’, sobre o fabuloso Chet Baker; interpretado pelo próprio, naturalmente. Esse precioso e um tanto raro registro traz um trompetista que brilha altaneiro sobre todos os outros trompetistas do jazz na atualidade. É o último dos gênios trompetistas vivos do jazz, e que os céus o preservem, o magnífico, lírico, adorável, Tom Harrell. Acompanhado pelo excepcional pianista muito pouco comentado em nossas plagas, o formidável Jacky Terrasson, artista de prodigiosa habilidade, feeling e fantástica imaginação, que com este álbum fez sua estreia no mundo fonográfico. No repertório, temas de diversos autores. Só um deles, ’20 Bars Tune’, é do trompetista. Temos ‘Tune Up’, um clássico de Miles Davis; do grande Tadd Dameron, a belíssima balada ‘If You Cold See Me Now’; ‘Just Around Midnight’, a joia de Thelonius Monk; outro encanto de balada, ‘Beautiful Love’, de Victor Young; ‘Com Alma’, de Dizzy Gillespie, entre outros. Tudo tocado com feliz e despojado talento e feeling, como pede o melhor do jazz. A formação em duo é das mais intimistas e difíceis para um trompetista. Particularmente falando como adepto do instrumento, é das minhas formações preferidas. Essa camerística composição teve como pioneiras no mundo do jazz as gravações dos lendários Joe King Oliver e Jelly Roll Morton (‘Tom Cat Blues’ e ‘King Porter Stomp’, de 1924); seguidos por Louis Armstrong e Earl Hines (‘Weather Bird’, de 1928). Um dos mais belos registros nessa formação tive o prazer de postar aqui no PQP, o disco ‘Diane’, com Chet Baker e o pianista Paul Bley. Fico a dever outra joia, também com Tom Harrell e o pianista Dado Moroni, para breve. Mr. Harrell, a quem escrevi no Facebook dizendo que ele me faz crer em anjos músicos. Ele curtiu! Fiquei feliz da vida. Dedico esta postagem à amiga, hoje raio de luar, Lara Lins.

Moon and Sand – Tom Harrell & Jacky Terrasson (1991)

  1. Moon and Sand (Alec Wilder)
  2. Tune Up (Miles Davis)
  3. Beautiful Love (Victor Young)
  4. If You Cold See Me Now (Tadd Dameron)
  5. 20 Bars Tunes (Tom Harrell)
  6. What Kind of Fool Am I (Leslie Bricusse)
  7. Parisian Thoroughfare (Bud Powell)
  8. Janine (Duke Pearson)
  9. Just Around Midnight (Thelonious Monk)
  10. Rythm-A-Ning (Thelonouis Monk)
  11. Com Alma/Well You Needn’t (Dizzy Gillespie/Th. Monk)

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Mr. Harrell, que me faz crer em anjos músicos.

Wellbach

György Ligeti (1923 – 2006): Estudos para Piano – Han Chen ֎

György Ligeti (1923 – 2006): Estudos para Piano – Han Chen ֎

Ligeti

Estudos

Dois Caprichos

HAN CHEN 陳涵

 

Há pouco tivemos um pequeno Ligeti frenzy onde algumas ótimas gravações dos Études para Piano foram postadas. Mas, como nosso apetite por essas obras é insaciável, sempre que uma nova gravação tão bem recomendada como esta aparece, nosso editor chefe logo encomenda uma postagem, com urgência!

Han Chen pronto para enfrentar esse inverno brabo que faz no Rio de Janeiro

Realmente, o disco do Han Chen merece toda a nossa apreciação. Este jovem pianista é natural de Taichung, Taiwan, e estudou com Yoheved Kaplinsky na Juilliard School, onde obteve seu bacharelado e mestrado. Ele foi beneficiado, em parte, com uma bolsa de ex-alunos do Van Cliburn. Foi vencedor do primeiro prêmio no Sexto Concurso Internacional de Piano da China e o seu álbum de estreia, pela Naxos, oferece algumas transcrições de óperas de Liszt.

Este álbum dos Études foi escolhido pelo editor da Gramophone como um dos dez melhores para a última edição da revista. Veja um trecho da resenha: “[Chen]’s one of the few pianists who handles both gnarly contemporary scores and over-the-top Romantic showpieces with equal authority and style…” (“Chen é um dos poucos pianistas que domina tanto partituras contemporâneas desafiadoras quanto peças românticas exuberantes com igual autoridade e estilo…“)

Outro álbum do Chen é uma coletânea de peças do compositor e regente inglês Thomas Adès, que talvez apareça dia desses no seu PQP Bach mais próximo.

Sobre a música desse álbum, você já sabe, Ligeti compôs seus Estudos para Piano ao longo de sua carreira, deixando três livros, o terceiro meio que por terminar, mas assim terminado pela situação. Eu não consigo deixar de ficar muito impressionado com os arrasadores estudos Désorde (lembro do Caos da Matemática), Der Zauberlehrling (O Aprendiz de Feiticeiro) e L’escalier du diable. Mas há muito o que admirar nestas peças e espero que você comente depois de ouvir o disco, indicando quais estudos lhe impressionaram mais.

A ordem aqui é um pouco diferente dos outros discos postados. Primeiro o Livro Um e o Livro Três. Em seguida, como intermezzo, duas peças mais de juventude, dois Caprichos. Completando o disco, o Livro Dois, que inicia com o Galamb Borong (com jeito de música javanesa), Fém (que é ferro…), além de dois estudos dos que mencionei acima, terminando com a Columna infinta, que talvez nunca acabe…

György Ligeti (1923 – 2006)

Études for piano, livre 1 (études 15-18)

  1. 1, Désordre
  2. 2, Cordes à vide
  3. 3, Touches bloquées
  4. 4, Fanfares
  5. 5, Arc-en-ciel
  6. 6, Automne à Varsovie

Études for piano, livre 3 (études 15-18)

  1. 15, White on White
  2. 16, Pour Irina
  3. 17, À bout de souffle
  4. 18, Canon

Dois Caprichos (1947)

  1. Capriccio No. 1
  2. Capriccio No. 2

Études for piano, livre 2 (études 7-14)

  1. 7, Galamb Borong
  2. 8, Fém
  3. 9, Vertige
  4. 10, Der Zauberlehrling
  5. 11, En Suspens
  6. 12, Entrelacs
  7. 13, L’escalier du diable
  8. 14, Columna infinită
  9. 14a, Coloana fără sfârşit (Coluna sem fim)

Han Chen, piano

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MP3 | 320 KBPS | 200 MB

Ói nóis aqui travêz….
Han Chen se preparando para a entrevista com o pessoal do PQP Bach…

Aproveite!

René Denon

Wolfgang Amadeus Mozart (1759-1891) – Quintetos para Clarinete – Dieter Klöcker, Leopold String Quartet

Eis mais um delicioso CD do incansável clarinetista Dieter Klöcker, que gravou dezenas de CDs com obras para o seu instrumento. Aqui ele junta-se a um Quarteto de Cordas para tocarem o Quinteto para Clarinete K. 516c. Já trouxemos gravações dessa obra em outras ocasiões, com outros solistas. Mas já me declarei fã deste músico, que tem uma discografia considerável, tendo sido um musicólogo especializado na redescoberta de obras esquecidas para o seu instrumento, principalmente de compositores contemporâneos de Mozart e de Beethoven. Já trouxe outros CDs dele, quem não conhece, recomendo fortemente.

O site Mozart Project assim define esse Quinteto:

“O Quinteto para Clarinete em lá maior de Mozart, K. 581, foi escrito em 1789 para o clarinetista Anton Stadler. É o único quinteto de clarinete de Mozart e é uma das primeiras e mais importantes obras escritas para o instrumento. O quinteto é considerado uma conquista suprema da era clássica e é uma das obras mais populares de Mozart.”

É sempre bom ouvirmos este Quinteto. É uma obra deliciosa, que apenas confirma a genialidade de Mozart.

01. Movement for Clarinet and String Quartet in B-Flat Major, KV 516c Allegro
02. Movement for Clarinet and String Quartet in A Major, KV 581a Allegro non troppo
03. Movement for Clarinet, Bassetthorn and String Trio in F Major, KV 580b Allegro
04. Clarinet Quintet in A Major, KV 581 I. Allegro
05. Clarinet Quintet in A Major, KV 581 II. Larghetto
06. Clarinet Quintet in A Major, KV 581 III. Menuetto
07. Clarinet Quintet in A Major, KV 581 IV. Allegro con Variazioni

Dieter Klöcker – Clarinet
Leopolder Quartett

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György Ligeti (1923-2006): Six Bagatelles / Kammerkonzert / Dix Pièces Pour Quintette À Vent (Les Siècles, Roth) — 100 anos de Ligeti!

György Ligeti (1923-2006): Six Bagatelles / Kammerkonzert / Dix Pièces Pour Quintette À Vent (Les Siècles, Roth) — 100 anos de Ligeti!

Pensaram que as homenagens pelos 100 anos de Ligeti tinham acabado? Pois é, eu também pensei, pensei até o momento em que este CD caiu no meu colo. E ele é muito bom! As Seis Bagatelas são de 1953, o Concerto de Câmara é de 1970 e as 10 Peças são mais ou menos da mesma época, de 1968. É curioso observar o Ligeti inicial e compará-lo com  aquele mais próximo da composição de Lux Aeterna. O segundo é muito melhor, apesar de terem quase a mesma linguagem. Como escreveu Arthur Nestrovski, alegria e humor não são exatamente as primeiras palavras que vêm à cabeça quando se pensa em música contemporânea. Mas numa época de indefinição e falta de rumo para a composição, a música alegre do húngaro Gyõrgy Ligeti é uma das poucas unanimidades entre crítica e público. A tradição do humor húngaro — entre o absurdo e o francamente  cômico, de uma alegria também desesperada — encontra em Ligeti o seu maior e inesperado expoente. Confiram!

György Ligeti (1923-2006): Six Bagatelles / Kammerkonzert / Dix Pièces Pour Quintette À Vent (Les Siècles, Roth) — 100 anos de Ligeti!

Six Bagatelles
Bassoon [Basson] – Michael Rolland
Clarinet [Clarinette] – Christian Laborie
Flute – Marion Ralincourt
Horn [Cor] – Pierre Rougerie (2)
Oboe [Hautbois] – Hélène Mourot
1 Allegro Con Spirito 22:21
2 Rubato. Lamentoso
3 Allegro Grazioso
4 Presto Ruvido
5 Adagio. Mesto (Béla Bartók In Memoriam)
6 Molto Vivace. Capriccioso

Kammerkonzert
Conductor [Direction] – François-Xavier Roth
Ensemble – Les Siècles
7 Corrente: Fließend
8 Calmo Sostenuto
9 Movimento Preciso E Meccanico
10 Presto

Dix Pieces Pour Quintette A Vent
Bassoon [Basson] – Michael Rolland
Clarinet [Clarinette] – Christian Laborie
Flute – Marion Ralincourt
Horn [Cor] – Pierre Rougerie (2)
Oboe [Hautbois] – Hélène Mourot
11 Molto Sostenuto E Calmo
12 Prestissimo Minaccioso E Burlesco
13 Lento
14 Prestissimo Leggiero E Virtuoso
15 Presto Staccatissimo E Leggiero
16 Lo Stesso: Presto Staccatissimo E Leggiero
17 Vivo, Energico
18 Allegro Con Dleicatezza
19 Sostenuto, Stridente
20 Presto Bizzarro

Les Siècles
François-Xavier Roth

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Surpreendentemente, aqui não ocorreu nenhuma ideia a Ligeti.

PQP

Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Erwartung, Cabaret Songs

Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Erwartung, Cabaret Songs

Sobre a cantora: nos 20 ou 30 anos em que esteve no auge da carreira, Jessye Mae Norman (Augusta, Georgia, 1945 — New York, 2019) foi provavelmente a maior intérprete do repertório em alemão: Beethoven, Schubert, Wagner, Mahler, Strauss, Schoenberg… Outro dia uma amiga que morou em Viena por 20 anos me disse que, além da tremenda voz, ela cantava especialmente bem em alemão. Incompetente para opinar sobre esse idioma, falei com os colegas de blog Karlheinz e Vassily, que confirmaram: Jessye era absolutamente idolatrada na Alemanha e sua dicção na língua alemã era belíssima.

Sobre o compositor: outro dia vi alguém falar que a relação entre T.W. Adorno e A. Schönberg era praticamente o que hoje os jovens chamam de broderagem. Talvez fosse… O fato é que gente inteligente como o escritor Adorno e o maestro-compositor-TV-star L. Bernstein superestimaram a figura de Schönberg como grande luz que iluminaria a música erudita por séculos. Uso aqui “superestimar” com um pouco mais de rigor do que o uso hoje muito comum dessa palavra (a cantora A lançou um hit ontem, está no 1º lugar no spotify, os fãs da cantora B dizem: superestimada). Refiro-me ao impacto que Schönberg teve sobre a música nos, digamos, 50 anos após a sua morte: foi grande, mas nada comparável à influência de Beethoven nas décadas de 1830-1880 ou de Chopin nas décadas de 1850-1900. Estou falando tanto da influência sobre outros compositores como sobre os públicos, casas de edição de partituras, o vasto mundo lá fora: foi superestimada. Por outro lado, seria um erro descartar a obra do alemão. Erwartung é, na minha opinião, um dos seus pontos mais altos. E discordo de CDF Bach, abaixo, quando ele diz que não é algo bonito de se ouvir.

O. Messiaen disse sobre essa obra, em uma entrevista: “pode ser verdade que a escola serial escreveu apenas sobre assuntos mórbidos e obras quase sempre passadas à noite. Não é por acaso que Erwartung de Schoenberg se passa à noite e é um assunto horrível, uma mulher que vê o cadáver de seu amante… – [entrevistador] E podemos adicionar Wozzeck e… – Muitas outras que são obras-primas, sem dúvida, mas são obras-primas sombrias.

Pleyel
(a seguir a postagem original de 2009)

É tão compreensivo que um ouvinte rejeite a música de Schoenberg. Como sentir prazer diante de algo que só é possível assimilar (caso assimile) acostumando o cérebro às dissonâncias e contrastes expressionistas, muitas vezes reveladoras de uma face pouco encantadora da natureza humana? No entanto como podemos ser completos, observando o mundo e a nós mesmos, se não lidamos com todos os aspectos conflitantes, como aqueles revelados na literatura de Dostoievski e tão bem aceitos por nós? Mas a música, por ser algo mais direto, parece ter aceitação quando apenas nosso lado romântico, engraçado, virtuoso ou divino é mostrado.

Erwartung de Schoenberg é um monodrama sobre medo e o descontrole. Alguns críticos a chamam de música freudiana. Não é realmente algo bonito de se ouvir. A história é um monólogo psicológico sobre uma mulher que espera seu amante numa floresta, até que ela descobre o corpo do rapaz assassinado. A partir daí ela começa a ter uma série de distúrbios e lembranças sobre uma possível traição dele ou até mesmo dela ter sido a autora do crime. A obra foi escrita para soprano e orquestra com pavorosas situações de desespero e agonia. Jessye Norman confessou que foi o papel mais difícil de sua carreira. Mas como foi recompensador o seu esforço, não há quem a supere aqui.

Quem vai encarar?

Para aqueles que não vão nessa empreitada, tentem ouvir as músicas de cabaret de Schoenberg. São lindíssimas e engraçadas, com destaque para a última faixa do disco que não canso de ouvir.

Arnold Schoenberg (1874 – 1951):
1-9. Erwartung, Op.17
10. Cabaret Songs – Galathea
11. Cabaret Songs – Gigerlette
12. Cabaret Songs – Der genügsame Liebhaber
13. Cabaret Songs – Einfältiges Lied
14. Cabaret Songs – Mahnung
15. Cabaret Songs – Jedem das seine
16. Cabaret Songs – Seit ich so viel Weiber sah
17. Cabaret Songs – Nachtwandler

Jessye Norman – soprano
Metropolitan Opera Orchestra (NYC, USA)
Conducted by James Levine

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Link Alternativo

Arnold Schoenberg. Auto retrato, 1910

CDF Bach

Franz Schubert (1797-1828): As Últimas Sonatas para Piano, D. 958, 959 e 960 (Perahia)

Franz Schubert (1797-1828): As Últimas Sonatas para Piano, D. 958, 959 e 960 (Perahia)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Deus gravou este mesmo repertório melhor do que Perahia. Deus é Pollini, óbvio. Mas a gravação do pianista e maestro nova-iorquino também é sensacional. Ele é enormemente elegante nos movimentos lentos. Seu problema é a comparação com os movimentos rápidos de Pollini, onde este é diabolicamente decidido e exato. Mas, se fosse você, eu baixaria estes CDs sem medo. É um grande repertório que os pianistas costumam não tocar juntos em concertos em função dos tamanhos de cada uma das 3 últimas sonatas. Ou seja, Perahia enfrenta uma forte concorrência de nomes como Brendel, Pollini e Arrau, bem como de veteranos como Schnabel. Mesmo em tal companhia ele se sai bem, tocando com uma sonoridade enxuta que marca claramente as belas linhas melódicas de Schubert. Sua abordagem mantém a visão geralmente clássica das obras, sem transformá-las em extravagâncias românticas. Argh! Perahia é uma adição digna à discografia de Schubert.

Franz Schubert (1797-1828): As Últimas Sonatas para Piano, D. 958, 959 e 960

CD1:
1. Sonata in C minor for Piano, D. 958/I. Allegro 10:50
2. Sonata in C minor for Piano, D. 958/II. Adagio 8:27
3. Sonata in C minor for Piano, D. 958/III. Menuetto. Allegro – Trio 3:08
4. Sonata in C minor for Piano, D. 958/IV. Allegro 9:09

5. Sonata in A Major for Piano, D. 959/I. Allegro 15:20
6. Sonata in A Major for Piano, D. 959/II. Andantino 8:03
7. Sonata in A Major for Piano, D. 959/III. Scherzo. Allegro vivace – Trio. Un poco più lento 4:45
8. Sonata in A Major for Piano, D. 959/IV. Rondo. Allegretto 11:41

CD2:
1. Sonata in B-flat Major for Piano, D. 960/I. Molto moderato 19:04
2. Sonata in B-flat Major for Piano, D. 960/II. Andante sostenuto 9:34
3. Sonata in B-flat Major for Piano, D. 960/III. Scherzo. Allegro vivace con delicatezza 3:48
4. Sonata in B-flat Major for Piano, D. 960/IV. Allegro ma non troppo 7:57

Murray Perahia, piano

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OK, Murray eu sei dizer, mas e Perahia?

PQP

Franz Schubert (1797-1828): Quinteto "A Truta", D. 677 / Movimento para Quarteto de Cordas D. 703 (Gilels / Amadeus)

Franz Schubert (1797-1828): Quinteto "A Truta", D. 677 / Movimento para Quarteto de Cordas D. 703 (Gilels / Amadeus)

Sim, o fantástico Quinteto para Piano “A Truta” de Schubert!

Como estou meio ocupado, transcrevo um excelente texto explicativo encontrado neste blog:

Esta peça em Lá Maior foi composta quando Schubert tinha apenas 22 anos embora tenha sido publicada em 1829 – um ano após a sua morte.

A peça é composta à volta de um conjunto de variações de um Lied anterior de Schubert Op.32 (D.550) e é formada por cinco andamentos. Tal como em muitas das obras de Schubert podemos criticar uma composição pouco perfeita , como uma espécie de esquisso. A esta obra em particular é frequentemente apontado o facto de existir uma fraca coesão entre andamentos e de serem frequentes longas repetições de material temático com pouca ou nenhuma transformação. A composição do quinteto é pouco usual pela presença do contrabaixo tendo permitido a Schubert a exploração de outras sonoridades.

1º Andamento (Allegro vivace) : Este andamento está escrito na forma de sonata. A explicação sobre o significado deste termo está prometida para um destes dias.

2º Andamento (Andante) : Este andamento está construído com base em diálogos entre instrumentos que por várias vezes parecem estar a terminar mas que depois recomeçam transmitindo algum humor (pela repetição do fim anunciado … )

3º Andamento (Scherzo – Presto) : Este andamento é rápido como o nome indica transmitindo um grande vigor a que se junta um melancólico trio para balancear o andamento.

4º Andamento (Andantino – Allegretto) : Este andamento é baseado em variações sobre a canção de que falámos no início deste post. Cada um dos instrumentos toca a melodia a seu tempo.

5º Andamento (Allegro giusto) : Semelhante na construção ao segundo andamento mas por vezes considerado excessivamente repetitivo (em alguns casos os interpretes optam mesmo por não fazer as repetições marcadas pelo compositor).

Franz Schubert (1797-1828): Quinteto “A Truta”, D. 677, e Movimento para Quarteto de Cordas D. 703

Quintet for Piano, Violin, Viola, Cello and Double-bass in A major, D 667 “The Trout”

1. 1. Allegro vivace – 1. Allegro vivace 13:41
2. 2. Andante – 2. Andante 7:17
3. 3. Scherzo (Presto) – 3. Scherzo (Presto) 4:02
4. 4. Thema – Andantino – Variazioni I-V – Allegretto – 4. Thema – Andantino – Variazioni I-V – Allegretto 8:00
5. 5. Finale (Allegro giusto) – 5. Finale (Allegro giusto) 6:20

6. Quartet Movement in C minor, D 703

Emil Gilels
Amadeus Quartett

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O Quarteto Amadeus espera que a Truta seja imediatamente servida

PQP

Antonio Vivaldi (1678-1741): Concerti per le Solennità (Carmignola, Sonatori de la Gioiosa Marca)

 Seguimos com mais Vivaldi festivo. Neste disco, todos os concertos são para o mesmo solista, o violino de Carmignola. Para termos uma ideia do clima festivo em que eram executados e ouvidos esses concertos, as imagens aqui falam mais do que as palavras. (Millôr Fernandes tinha aquela frase: “Uma imagem vale mais do que mil palavras. Agora tente dizer isso com uma imagem.”)

Comecemos, então, muito antes de Vivaldi: houve um tempo, longo tempo, em que por muitos séculos Veneza mandava no comércio de boa parte do Mediterrâneo, fazia comércio com bizantinos, turcos, persas, sírios, judeus e outros povos… O mosaico acima, de 1200 e pouco, retrata a Basilica di San Marco recebendo – em festa! – o corpo do evangelista São Marcos, que venezianos tomaram dos cristãos coptas da antiquíssima Igreja de Alexandria (que se mantinha após a islamização do Egito, mas fraca politicamente e representando uma minoria social, minoria que ainda corresponde a milhões de pessoas, 10% ou um pouco menos da população do Egito de hoje). O mosaico tem uma incongruência histórica: em cima do portal central com seu Cristo e o emblema IC XC (Jesus Cristo), podem ser vistos os quatro cavalos roubados de Constantinopla em 1204. Clique na imagem para ver os cavalos melhor. Napoleão depois levaria os cavalos para Paris mas o Congresso de Viena (1815) os devolveria. Ou seja, como fizeram Napoleão e ingleses no Egito e Atenas, antes o fez Veneza: roubou com base no princípio básico segundo o qual “quem pode, pode; quem não pode, se sacode!” (Como vovó já dizia…)

Não foi na imensa Basilica di San Marco que Vivaldi trabalhou, aliás em seu tempo ela talvez já fosse musicalmente pouco respeitada, apesar de toda a beleza dos mosaicos brilhantes e tesouros roubados. Mas em dois concertos gravados neste álbum temos uma característica musical que foi desenvolvida cerca de cem anos antes em San Marco: são concerti a due cori, ou seja, nos quais os músicos se dividem em dois grupos, um de cada lado da igreja, com o público no centro, é claro. Essa forma espacial e conceitual é bastante diferente daquela que se consolidou no estilo chamado de “teatro italiano”, que tem como característica a nítida separação entre o público e o palco, com este último na frente, em um tablado mais alto. Existem outras formas, além do público atrás (teatro italiano) ou no meio (due cori): por exemplo nas arenas greco-romanas e nos atuais estádios de futebol, o público fica em torno do espetáculo. Cada uma dessas organizações espaciais resulta em relações sujeito-objeto diferentes, é assunto para várias horas de conversa tomando bons vinhos. Retomemos o essencial: Vivaldi passou alguns períodos fora de Veneza e depois voltou a trabalhar no Ospedale della Pietà, encontrando o lugar reformado: em 1724 a igreja se adaptou arquitetônica e musicalmente ao formato com dois coros (ou duas orquestras na linguagem de hoje), aquele que em San Marco já era comum desde 1600! E assim podemos ter certeza de que os dois concertos per la Santissima Assunzione di Maria Vergine foram compostos quando Vivaldi já tinha cerca de 50 anos, representando o seu estilo maduro.

Uma estranha relíquia: a língua de Santo Antônio

Os demais concertos do álbum, associados a outras festas cristãs, são anteriores. O primeiro deles provavelmente é o RV 212, para a “festa da santa língua de Santo Antônio de Pádua”, em fevereiro de 1712, quando Vivaldi morava naquela cidade. Nascido em Lisboa e morto em Pádua (Padova), seguidor de São Francisco, Santo Antônio foi canonizado pouco após sua morte em 1231: grande orador, sua língua incorruptível (“mumificada” de alguma forma) é venerada na Basílica dedicada a este santo em Pádua, 3ª maior cidade na região do Vêneto atrás de Veneza e Verona. Normalmente quando se fala em Santo Antônio nas línguas neo-latinas, é dele que se fala, enquanto em outros lugares o nome se refere sobretudo ao eremita Santo Antônio, que viveu no deserto no século IV e sofreu as famosas tentações retratadas por Hieronymus Bosch, Salvador Dalí e tantos outros pintores de imaginação fértil.

Tentações de Sto Antonio (Bosch, circa 1500, versão do MASP, único Bosch no Brasil)
Cerimônia religiosa na igreja de San Lorenzo, em Veneza, em quadro pintado em 1789 por Gabriele Bella. Pelo menos dois concertos de Vivaldi, o RV 286 e o RV 562, foram encomendados a Vivaldi com a intenção de abrilhantar cerimônias em San Lorenzo

O Concerto em ré maior apelidado Grosso Mogul não parece ter sido assim nomeado por Vivaldi, o nome aparece apenas nas partituras desse concerto que circularam na Alemanha. J.S. Bach gostava tanto dele que fez uma transcrição para órgão (BWV 594). Na partitura original, ao invés de “Grosso Mogul” (título do imperador muçulmano que mandava em boa parte da Índia, da dinastia que fez o Taj Mahal em 1653), consta a sigla RBDV, cujo significado é desconhecido mas, segundo o professor Reinhard Strohm, o V deve se referir a ela, novamente ela, a Virgem Maria. Com suas cadências longas, difíceis e impressionantes, o concerto provavelmente data do primeiro momento de fama de Vivaldi em Veneza, por volta de 1713: após períodos em Brescia, Pádua e Vicenza, ele voltou para sua cidade natal em meio a muitas celebrações após as vitórias militares contra os turcos. Além de solar em seus concertos para violino, Vivaldi também estreou naquela época como compositor de oratórios com um de nome grandioso: “A vitória naval prevista por Sua Santidade o Papa Pio V”, referência a uma outra vitória de Veneza e aliados contra o Império Turco Otomano (em 1572, veja o quadro de Veronese aqui).

Gabriel Bella: sposalizio nobile alla salute circa 1780 (pintura usada na capa deste e de outros discos

Antonio Vivaldi (1678-1741):
1-3 – Concerto “Per la Solennità della S. Lingua di S. Antonio di Padova” in D Major, RV 212
4-6 – Concerto “Il Riposo – Per il Santo Natale” in E Major, RV 270
7-9 – Concerto “Per la Solennità di S. Lorenzo” in F Major, RV 286
10-12 – Concerto in due Cori “Per la Santissima Assunzione di Maria Vergine” in D Major, RV 582
13-15 – Concerto in due Cori “Per la Santissima Assunzione di Maria Vergine” in C Major, RV 581
16-18 – Concerto “LDBV” (“Grosso Mogul”) in D Major, RV 208

Giuliano Carmignola, violino principale
Sonatori de la Gioiosa Marca
Recorded: Chiesa San Vigilio Col San Martino, Treviso, Veneto, Italia, 1996

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Um post-scriptum em outro tom menos celebratório: as línguas estrangeiras são interessantes para desnaturalizar o que ouvimos desde sempre. “Virgem Maria” é uma expressão tão banal quanto “cruz credo”, mas lendo que em italiano dois desses concertos eram dedicados à “Assunzione di Maria Vergine” me salta aos olhos a grosseria, a fofoca que é associar, como se diz “Alexandre o Grande”, “Maria, a Virgem”. Uma preocupação com a virgindade – nunca a dos homens, claro – que me lembra aqueles que hoje em dia ficam se preocupando com banheiro unissex ou se autointitulando “imbrochável”.

No mesmo século 18 em que Vivaldi viveu, os arquivos da inquisição na América portuguesa registram casos de padres acusados de, durante a confissão, “apalpar os seios das mulheres, meter suas mãos por debaixo das saias, beijá-las, agarrá-las”, perguntar “se queriam pecar com eles”, se tinham “vaso [vagina] grande ou pequeno” e, “ouvindo confissões de mulheres casadas, perguntavam até sobre o tamanho do pênis dos maridos” (cito aqui o historiador Ronaldo Vainfas, Moralidades Brasílicas, 1997).

Quero crer que esses padres que se aproveitavam das confissões para novos pecados tenham sido minoria no século de Vivaldi (no fundo, jamais saberemos porque o que foi denunciado e anotado são gotas d’água no oceano ou ao menos na lagoa). Também creio que precisamente essa minoria de padres que apalpavam as mulheres no escuro – e/ou se informavam sobre seus maridos com vistas a pecados futuros – foram precisamente aqueles que mais se preocupavam com a virgindade de Maria.

Igrejas de Veneza, por Andrejs Bovtovičs

Pleyel

Antonio Vivaldi (1678-1741): La Senna festeggiante (La Risonanza, Bonizzoni)

Antonio Vivaldi (1678-1741): La Senna festeggiante (La Risonanza, Bonizzoni)

Vivaldi compunha como quem bebe água: são centenas de concertos, muitas óperas, obras sacras, além de muita coisa que se perdeu na noite dos anos. Neste disco, o conjunto La Risonanza – que também gravou todas as muitas cantatas italianas de Händel – apresenta uma serenata do padre veneziano que não rezava missas: mas não pensem que esse nome serenata significasse algo como canções amorosas, nada disso: veremos mais abaixo que se trata de uma obra homenageando grandes figuras poderosas em Veneza e na França.

J.S. Bach também compôs várias obras seculares para ocasiões especiais, hoje comumente chamadas cantatas embora, ao que parece, ele não usasse tanto o termo: entre as que não se perderam, temos a homenagem funeral à esposa de Augusto III, eleitor da Saxônia (BWV 198), várias cantatas para puxar o saco deste mesmo Augusto ou ainda o nascimento do filho deste… Uma cantata para um casamento que não se tem certeza de quem foi (BWV 202), uma outra para celebrar a nomeação do novo professor de Direito Romano da Universidade de Leipzig (BWV 207). Nesta última, ele pegou emprestados trechos do 1º Concerto de Brandenburgo: essa prática do autoplágio também era comum nas obras vocais de Vivaldi e nesta Senna festeggiante ele pegou emprestadas melodias de sua ópera Giustino (1724), além de enxertar uma passagem de Antonio Lotti (1667-1740) – seu contemporâneo, também veneziano – na Ouverture instrumental da segunda parte.

O libreto do disco defende essa prática, lembrando que esse tipo de música muitas vezes era encenada uma única vez e o compositor podia querer tirar uma ária ou passagem instrumental do esquecimento: “Vivaldi, como Handel, era cuidadoso e talentoso na arte dos empréstimos, preocupado não só em poupar seu tempo e esforço mas também em estender a vida de seus melhores trechos musicais.” E no caso dessa “Senna festeggiante”, o nome próprio faz referência a ele mesmo, o rio Sena que corta as cidades de Paris e Rouen. (“La Senna”, ou “La Seine” em francês, enquanto Roma é cortada por “il Tevere”: essa alternância entre masculinos e femininos mostra que esses nomes dos rios estão ancorados em tradições regionais muito mais antigas do que a razão fria e calculista dos dicionaristas.)

La Seine à Rouen – Claude Monet, 1872

A serenata, encenada em Veneza em 1726, foi provavelmente encomendada pelo embaixador francês naquela cidade e servia para puxar o saco de três homens célebres: o próprio embaixador, o Cardinal Ottoboni – membro da aristocracia veneziana e envolvido em assuntos diplomáticos com Paris e Roma – e finalmente, acima desses na hierarquia da época, o rei Louis XV, avô do outro Luís que teria a cabeça cortada bem depois. A história não tem o drama típico das óperas: com personagens mais ideais do que reais (a/o Sena, a Virtude e a Idade de Ouro), parece mais um diálogo de Platão, autor que, como se sabe, havia sido redescobrido entre os italianos desde o Renascimento.

Esse resumo do libreto aparece com mais detalhes nos trechos abaixo. Antes, mais um parêntese: Vivaldi provavelmente usava no dia a dia o dialeto do Vêneto, ainda vivo em muitas famílias locais. E para comunicações com diplomatas, estrangeiros etc. usava o italiano mais padrão, espécie de língua franca, usada também nas óperas e serenatas. Vamos às palavras de Michael Talbot no libreto do disco:

Três obras sobreviventes de Vivaldi pertencem a um interessante gênero vocal secular, muito cultivado no fim do século 17 e maior parte do 18, comumente conhecido como a serenata. A descrição alternativa desse tipo de obra como “cantata dramática” explica sua essência: uma obra vocal (logo, cantata) e dramática, nos termos da época, por se estruturar em um diálogo entre dois ou mais personagens nomeados.

O termo serenata deriva não de sera (noite), esta etimologia é um engano, o termo vem de sereno e reflete o fato de que essas obras era normalmente montadas não em teatros com cenários, mas em locais mais informais onde ou a plateia ou os músicos, ou todos eles, ficavam a céu aberto.

Serenatas costumava ser o ponto alto de elaboradas festas [nota do Pleyel: o termo italiano “festa” aparece no texto em inglês, o que é sintomático sobre a vida inglesa] comemorando algum evento significativo na vida de uma pessoa ou família importante, como um nascimento, aniversátio, casamento, visita ou tratado de paz. Serenatas costumavam ter cantores solistas e uma orquestra com cordas e continuo, às vezes aumentada com sopros; um coro separado era uma raridade. Aqui, Vivaldi emprega os três cantores nos poucos movimentos de “coro”. Seus enredos são conversas calmas entre as dramatis personae ao invés de uma sequência de eventos cheios de ação.

La Senna festeggiante é fruto da relação, de 1724 a 1729, entre Vivaldi e o embaixados francês em Veneza, Jacques-Vincent Languet, comte de Gergy. Os embaixadores costumavam, no dia 25 de agosto, fazer uma festa comemorativa do dia de São Luis [rei francês (1214-1270) canonizado por ter ido fazer guerra com muçulmanos em cruzadas]. Foi provavelmente em 1726 que Vivaldi compôs esta serenata: o ano pode ser estabelecido pelas características do papel usado no manuscrito,que foi copiado pelo pai do compositor, Giovanni Battista Vivaldi (com algumas inserções na letra de Antonio Vivaldi), mas também pelos padrões de empréstimos e relações entre a serenata e outras obras.

Menos de um ano antes, dia 12 de setembro de 1725, Vivaldi escrevera uma serenata menor, a duas vozes (RV 687) para celebrar o casamento de Louis XV com a princesa polonesa Maria Leszczynska. Em 1726 havia motivos para uma obra mais elaborada, homenageando a França além do monarca: a visita do Cardeal Pietro Ottoboni, protetor das artes e membro do patriciato veneziano, que atuava à época como represenante dos interesses franceses em Roma. Seu triunfal retorno em 1726 marcava a normalização das relações diplomáticas entre Veneza e França.

O libretto, por Lalli (parceiro frequente de Vivaldi) adota um esquema comum para serenatas da época: dois personagens alegóricos, L’Età dell’oro e La Virtù, caminham por uma paisagem triste em busca da felicidade perdida. Então, encontram La Senna, que promete a felicidade, e o clima fica mais alegre a partr daí. No segundo ato, se dirigem diretamente ao rei da França com elogios e orações.

Vivaldi insere, em alguns trechos, elementos musicais do estilo francês, que não aparecem em quase nenhuma de suas outras obras. Além de ritmos típicos que à época eram chamados “alla francese” nas partituras, há também inflexões harmônicas e melódicas tipicamente francesas sobratudo na Ouvertur (é como escreveu Giovanni Battista Vivaldi) que abre o segundo ato. Mas, mesmo com esses detalhes, a maior parte da obra é de estilo sobretudo italiano.

Na orquestração, temos o estilo de escrita para cordas típico de Vivaldi. Oboés e flautas doces aparecem como strumenti di rinforzo em apenas alguns movimentos, ficando calados na maior parte deles. Com exceção das suas óperas, La Senna festeggiante é a mais ambiciosa obra secular de Vivaldi a ter sobrevivido, um equivalente do que é, na obra sacra, o oratório Juditha triumphans.

As encomendas para o embaixador Languet não pararam aí: em 1727 ele escreveu uma serenata e um Te Deum para marcar o nascimento de duas princesas reais. Mas logo depois o compositor viajou para a Áustria e Boêmia e as encomendas do embaixador iriam para Albinoni. Quando voltou a Veneza, Languet não estava mais por lá. Então La Senna festeggiante é o principal testemunho da sua alta reputação na França após a publicação, em 1725, das Quattro stagioni.

Antonio Vivaldi (1678-1741):
La Senna festeggiante – Serenata a tre, RV 693, Venezia, 1726

Yetzabel Arias Fernández, soprano (l’Età dell’oro)
Martín Oro, alto (la Virtù)
Sergio Foresti, bass (la Senna)

La Risonanza:
Yanina Yacubsohn, Hélène Mourot, oboes
Isabel Lehmann, Thera de Clerck, recorders
Carlo Lazzaroni, Silvia Colli, Renata Spotti, Elena Telò, violins i
Mauro Lopes, Ulrike Slowik, Giacomo Trevisani, violins ii
Livia Baldi, Elena Confortini, violas
Caterina Dell’Agnello, Claudia Poz, cellos
Davide Nava, double bass
Fabio Bonizzoni, harpsichord & direction

Recorded in Saint Michel en Thiérache, France, 2011

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Teto da igreja San Luigi dei Francesi, em Roma (1756)

Pleyel

W. A. Mozart (1756-1791): Serenatas K. 361 e 375 (de Waart)

W. A. Mozart (1756-1791): Serenatas K. 361 e 375 (de Waart)

Estou bem longe de ser um nostálgico, mas esta gravação de 1968, feita em Amsterdam, ainda mora em meu coração. Toda vez que a ouço, me encanto, e olha que há outras, mais recentes deste repertório, que são igualmente espetaculares. Eu sempre sonho com o contrabaixista que toca aqui… E dos sopros nem vou falar.

Ademais lembram disso?

Na página não parecia nada! O princípio simples, quase cômico. Só uma pulsação. Trompas, fagotes… Como uma sanfona enferrujada. E depois, subitamente… Lá bem no alto… Um oboé. Uma única nota, ali pendurada, decidida. Até que um clarinete a substitui, adoçando-a numa frase de tal voluptuosidade… Isto não era uma composição de um macaco amestrado. Era música como eu nunca tinha ouvido. Cheia de uma saudade, de uma saudade não realizada. Parecia-me que estava a ouvir a voz de Deus.

Pois é, Ouçam o Adágio da Gran Partita, K. 361. E mais não digo.

W. A. Mozart (1756-1791): Serenatas K. 361 e 375 (de Waart)

Serenade In B Flat, KV 361 “Gran Partita” B-dur En Si Bémol
1 Largo-Allegro Molto 9:45
2 Menuetto – Trio I-II 9:17
3 Adágio 5:41
4 Menuetto (Allegretto) – Trio I-II 5:23
5 Romanze (Adagio – Allegretto – Adagio) 5:49
6 Thema Mit 6 Variationen (Andante) 9:46
7 Finale (Molto Allegro) 3:20

Serenata Em Mi Bemol, KV 375 Es-dur. En Mi Bemol
8 Allegro Maestoso 7:53
9 Menuetto 4:10
10 adágio 5:48
11 Menuetto 3:19
12 Alegro 3:35

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Foto de uma execução da “Gran Partita” em Si bemol maior, KV 361, Serenata nº 10 para doze instrumentos de sopro e contrabaixo de Mozart

PQP

.: intermezzo :. Eric Dolphy: Out There (1960) e Out to Lunch (1964)

.: intermezzo :. Eric Dolphy: Out There (1960) e Out to Lunch (1964)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

É claro que não deveria nunca escrever sobre jazz. Adoro jazz, mas sou muito boêmio. Diferentemente dos eruditos, só ouço os caras de que gosto. Então, meu deus jazzístico é Charlie Mingus — que, dizem, era um compositor erudito que gostava de jazz — , secundado por Ellington, Miles e Dolphy. Os outros, including Coltrane, Parker, Evans e Jarrett, ficam fora de meu Olimpo. É bóbvio que não devo posar de conhecedor. Não pouso, mas indico Dolphy como um grande compositor, improvisador anárquico e originalíssimo que morreu da forma mais estúpida possível a um ser humano.

Sim, ele era diabético. Deu entrada no hospital em coma diabético. Porém, como era músico, os médicos acharam que ele estava drogado e logo voltaria a si. Morreu. Aos 36 anos.

Eric Dolphy tocava saxofone alto, flauta e clarone. Na verdade, foi o primeiro claronista importante como solista no jazz, além de ser dos maiores flautistas do estilo. Em todos esses instrumentos era um improvisador impecável. Nas primeiras gravações, ele tocava ocasionalmente um clarinete soprano tradicional em Si bemol. Seu estilo de improvisação era característico por uma torrente de ideias, utilizando amplos saltos intervalares e abusando das doze notas da escala. Embora o trabalho de Dolphy seja às vezes classificado como free jazz, suas composições e solos possuem uma lógica diferente da dos músicos de free jazz.

.: intermezzo :. Eric Dolphy: Out There (1960) e Out to Lunch (1964)

Out There
1. Out There 6:52
2. Serene 6:58
3. The Baron 2:54
4. Eclipse 2:43
5. 17 West 4:48
6. Sketch Of Melba 4:36
7. Feathers 5:00

Out to Lunch
1. Hat And Beard 8:24
2. Something Sweet, Something Tender 6:03
3. Gazzellioni 7:23
4. Out To Lunch 12:09
5. Straight Up And Down 8:19

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(Os dois discos estão juntinhos por causa do inverno)

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PQP

Antonín Dvořák (1841-1904): Quinteto para piano em lá maior, Op.81 (Bernáthova, Quarteto Janácek)

Antonín Dvořák (1841-1904): Quinteto para piano em lá maior, Op.81 (Bernáthova, Quarteto Janácek)

Um velho (1957) e belo LP da DG com o Quinteto para piano em lá maior, Op.81, de Dvorák, com a pianista tcheca Eva Bernáthová e o Quarteto de Cordas Janácek. O Quarteto Janáček foi fundado em 1947 por Jiří Trávníček, Adolf Sýkora, Jiří Kratochvíl e Karel Krafka, então estudantes do Conservatório de Brno. Neste período se dedicavam à obra do compositor Leoš Janáček, mas mais tarde ampliaram seu repertório. A partir de 1955 iniciaram uma agenda de recitais que os levou a diversos palcos do mundo. Gravaram muitos discos com obras de Janáček, Debussy, Mozart, Haydn, Dvorak e outros, recebendo vários prêmios por suas interpretações, incluindo o Grand Prix du Disque da Academia Charles Cros e o Preis der deutschen Schallplattenkritik. O quarteto nunca foi extinto e ainda está ativo com novos integrantes, claro.

.oOo.

Dvorák compôs seu Quinteto Para Piano e Cordas nº 2, Op. 81 em 1887 na sua casa de campo, em Vysoka. O Quinteto obteve grande sucesso, sendo hoje reconhecido como uma das obras-primas do gênero.

A abertura é tranquila: o violoncelo desliza sobre o acompanhamento do piano, uma barcarola. Mas esta tranquilidade dá lugar a passagens vigorosas das cordas, às quais se sucedem trechos de grande lirismo. São nessas mudanças de humor que residem os encantos do movimento.

No segundo movimento, intitulado Dumka, também se alternam passagens lentas e rápidas. Essa é uma das formas favoritas do compositor, que também a utilizou em seu famoso Trio para Piano Dumky. O movimento tem a forma de um rondó, A-B-A-C-A-B-A, onde “A” é o refrão elegíaco ao qual se alternam trechos rápidos. Dvorák vai enriquecendo a textura do “A” a cada vez que ele retorna. Os episódios intermediários vão ganhando um crescente contraste com o início e caminhando para o vibrante clímax, uma dumka, a “dança selvagem” como a chamava Dvorák.

O brilhante Scherzo Furiant tem características de uma valsa rápida e de um Furiant, uma dança rápida do folclore da Boêmia. Dvorák usou Furiants em muitos de seus Scherzos escritos nessa época (década de 1880). Aqui, o violoncelo e a viola se alternam em pizzicatos, sob o violino, que toca o tema principal. O trio, mais lento, é uma genial transformação da melodia da abertura do primeiro movimento.

O Finale é espirituoso, alto astral. O segundo violino leva o tema a uma fuga, no desenvolvimento. Dvorák anota tranquillo para a seção central, que tem a forma de um coral. Depois dessa pausa momentânea, a peça gradualmente ganha velocidade e termina, no dizer de um comentarista, “com brilhantes floreios pentatônicos, proféticos do estilo americano de Dvorák”.

Fonte: Clássicos dos Clássicos

Antonín Dvořák (1841-1904): Quinteto para piano em lá maior, Op.81 (Bernáthova, Quarteto Janácek)

I- Allegro, ma non tanto 10min
II- Dumka: Andante con moto 10min53
III- Scherzo (Furiant): molto vivace 4min25
IV- Finale: Allegro 7min

Eva Bernáthová, piano
Quarteto de Cordas Janácek:
Jirí Trávnícek, 1º violino
Adolf Síkora, 2º violino
Jiri Kratochvil, viola
Karel Krafka, violoncelo

DGG LPM 18 379
Gravação 12-02-1957 em Beethoven-Saal, Hannover
Tempo total: 32:18

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F. Schubert (1797-1828): Octeto D. 803 (Academy Of Ancient Music Chamber Ensemble)

F. Schubert (1797-1828): Octeto D. 803 (Academy Of Ancient Music Chamber Ensemble)

Postagem dedicada àquela que foi
a mulher de Schumann,
possivelmente a amante de Brahms,
mas que gosta mesmo é de Schubert.

 

(Notem que o “gosta” da dedicatória está no presente. Quem de vocês conseguirá entender esta dedicatória?)

Concebido como o esboço de uma grande sinfonia, o extraordinário Octeto D. 803 foi escrito durante a primavera de 1824. E realmente o Octeto, com seus inúmeros tutti, tem uma feição um pouco sinfônica, apesar de possuir muitos episódios puramente camarísticos. Mas é uma tremenda música, uma obra que cresce muito, principalmente após o Allegro Vivace.

Poderia postar um septeto agora, né? Talvez o de Beethoven. Ou o de Berwald.

Octeto D. 803 para clarinete, trompa, fagote, quarteto de cordas e contrabaixo

1. Schubert: Octet In F, D 803 – 1. Adagio, Allegro
2. Schubert: Octet In F, D 803 – 2. Adagio
3. Schubert: Octet In F, D 803 – 3. Allegro Vivace
4. Schubert: Octet In F, D 803 – 4. Andante con Variazioni
5. Schubert: Octet In F, D 803 – 5. Menuetto
6. Schubert: Octet In F, D 803 – 6. Andante Molto, Allegro

Academy Of Ancient Music Chamber Ensemble

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Schubert bebendo vinho com amigos. Gravura de Ralph Bruce.

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Augustine Bassano / Jeronimo Bassano / Coprario / Ferrabosco I, Harden / Henry VIII / Holborne / Lassus / Lloyd Marenzio / Vecchi: Viva l’amore – Música dos Séculos XVI e XVII

Augustine Bassano / Jeronimo Bassano / Coprario / Ferrabosco I, Harden / Henry VIII / Holborne / Lassus / Lloyd Marenzio / Vecchi: Viva l’amore – Música dos Séculos XVI e XVII

Mais um belo CD da Opus 111, desta vez focalizado na música inglesa. Confesso que não entendi bem o nome do CD que é inteira e autenticamente inglês. OK, aí tem muito compositor inglês nascido na Itália, mas mesmo assim tudo foi escrito na Inglaterra. É um bonito disco, com os delicados temas sendo levados pelos extraordinários Flanders Recorder Quartet e Toyohiko Satoh (alaúde). É um recomeço delicado de um P.Q.P. Bach pós-férias. Ainda preguiçoso, ele vem com uma música que pensa ser matinal, sem explicar por quê. Enjoy!

Augustine Bassano / Jeronimo Bassano / Coprario / Ferrabosco I, Harden / Henry VIII / Holborne / Lassus / Lloyd Marenzio / Vecchi: Viva l’amore – Música dos Séculos XVI e XVII

1 Pasttime With Good Company
Composed By – Henry VIII
2:01
2 Helas, Madam
Composed By – Henry VIII
3:06
3 Fantasia A5, No.3
Composed By – Jerome Bassano
3:00
4 Let Not Us That Young Men Be
Composed By – Anonymous
1:47
5 Pavan
Composed By – Lodovico Bassano
4:28
6 Madame D’Amours
Composed By – Anonymous
4:58
7 Galliard Passion
Composed By – Anthony Holborne
1:55
8 Pavana Ploravit
Composed By – Anthony Holborne
4:50
9 Galliard Sic Semper Soleo
Composed By – Anthony Holborne
1:18
10 Almaine The Choyse
Composed By – Anthony Holborne
1:33
11 Almaine The Honie-suckle
Composed By – Anthony Holborne
1:32
12 Galliard The Fairie-round
Composed By – Anthony Holborne
1:20
13 Pavin
Composed By – Alfonso Ferrabosco
3:40
14 Di Sei Bassi
Composed By – Alfonso Ferrabosco
3:55
15 Interdette Speranze
Composed By – Alfonso Ferrabosco
3:14
16 Bassano: Pavane 16 A 6
Composed By – Augustine Bassano
2:18
17 Bassano II: Almande 15 A 6
Composed By – Jerome Bassano
1:03
18 Coperario Almande 22 A 6
Composed By – Giovanni Coperario*
1:12
19 Lassus: Mon Coeur Se Recommande A Vous
Composed By – Roland de Lassus
2:02
20 Puzzle-Canon I
Composed By – John Lloyd (10)
2:06
21 Lloyd: Puzzle-Canon II
Composed By – John Lloyd (10)
1:58
22 Nel Piu Fiorito Aprile
Composed By – Luca Marenzio
1:22
23 Phancy
Composed By – Edward Blanks*
2:32
24 Saltavan Ninfe, Satiri E Pastori
Composed By – Orazio Vecchi
1:31
25 Harden: A Fancy I
Composed By – James Harding (3)
3:36
26 Harden: A Fancy II
Composed By – James Harding (3)
3:21

Flanders Recorder Quartet
Bart Spanhove
Paul Van Loey
Joris Van Goethem
Fumihari Yoshimine
and with
Peter van Heyhen,
Geert van Gele,
Katherine Rooman

Capilla Flamenca
Katelijne Van Laethem – Soprano
Marnix De Cat – Countertenor
Jan Caals – Tenor
Jan Van Elsacker – tenor
Lieven Termont – Baritone
Dirk Snellings – Bass
Toyohiko Satoh – Lute
Philippe Malfeyt – Lute

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Os meninos do Flanders Recorder Quartet

PQP

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Württemberg Sonatas Wq 49 (Jarrett)

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Württemberg Sonatas Wq 49 (Jarrett)

Eu tenho tara por CPE Bach. Também tenho tara por Keith Jarrett. Então este CD é pra mim! Ouvir este disco após o Bach de Dinnerstein (ver postagem de ontem) foi maravilhoso. Jarrett é elegante e discreto quando faz música erudita. Dinnerstein — apesar de ser uma maravilhosa pessoa — não tem nada daquilo que gosto em música, ela é esparramadamante romântica. Os estudiosos tendem a separar as obras de CPE Bach, encontrando nelas (1) traços do barroco, (2) dos primeiros clássicos e até mesmo um (3) prenúncio da era romântica. No entanto, essas sonatas soam completas em si mesmas, e não é provável que nos assustemos com as emoções agitadas que chocaram os contemporâneos de CPE Bach. As Sonatas de Württemberg (1744) receberam o nome de um de seus alunos, o duque Carl Eugen de Württemberg e foram escritas originalmente para clavicórdio. A execução de Jarrett é nuançada e variada, reconhecidamente de uma forma que um clavicórdio não poderia reproduzir. Ele declara a bela melodia do Adagio na Sonata nº 2 com ousadia, recua e depois retorna à sua abordagem inicial de maneira convincente. É uma performance comovente, assim como sua execução do Andante na Sonata nº 4, que começa com o delineamento de uma única nota da melodia principal. Não sei por que essa gravação foi retida por quase trinta anos — Jarrett gravou tudo em 1994 — e o fato é que o estilo lírico de Jarrett se encaixa notavelmente em CPE Bach. Recomendo uma atenta audição. Vale a pena.

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Württemberg Sonatas Wq 49 (Jarrett)

Sonata I In A Minor
1-1 Moderato 7:35
1-2 Andante 3:15
1-3 Allegro Assai 5:28

Sonata II In A-flat Major
1-4 Un Poco Allegro 6:51
1-5 Adagio 3:07
1-6 Allegro 3:50

Sonata III In E Minor
1-7 Allegro 6:01
1-8 Adagio 3:16
1-9 Vivace 3:06

Sonata IV In B-flat Major
2-1 Un Poco Allegro 5:42
2-2 Andante 3:01
2-3 Allegro 4:29

Sonata V In E-flat Major
2-4 Allegro 7:41
2-5 Adagio 3:20
2-6 Allegro Assai 3:26

Sonata VI In B Minor
2-7 Moderato 7:09
2-8 Adagio Non Molto 3:43
2-9 Allegro 4:44

Piano – Keith Jarrett

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Francamente…

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J. S. Bach (1685-1750): Bach: A Strange Beauty (Dinnerstein)

J. S. Bach (1685-1750): Bach: A Strange Beauty (Dinnerstein)

Simone Dinnerstein chega romanticamente com um variado programa de obras (barrocas) de Bach e transcrições de Busoni (Ich ruf zu dir, Herr Jesu Christ), Kempff (Nun freut euch, lieben Christen gmein) e Myra Hess (Jesus bleibet meine Freude) tocada em um piano moderno que ressoa com toda uma gama de sons com um certo abuso de pedal que embaça e mistura as vozes. Nos Concertos Nº 1 e 5 para teclado (OK…) e orquestra é acompanhada pela Kammerorchester Staatskapelle Berlin de forma muito precisa com uma pulsação hipnótica e uma forte linha de baixo. Mas o melhor é provavelmente a Suíte Inglesa Nº 3 de onde emerge toda a estranha personalidade da pianista. O disco alterna momentos genuinamente inspirados se alternam com execuções, digamos, idiossincráticas. Dinnerstein é uma pianista séria, claro, mas ainda não chega a Perahia, Schiff e Hewitt. A apresentação do CD é linda, com pinturas a óleo da própria pianista e o som é esplêndido.

J. S. Bach (1685-1750): Bach: A Strange Beauty (Dinnerstein)

1 Ich Ruf Zu Dir, Herr Jesu Christ, BWV 639
Arranged By [Arr.] – Busoni*
3:40

Keyboard Concerto No. 5 In F Minor, BWV 1056
2 Allegro 3:17
3 Largo 2:56
4 Presto 2:48

5 Nun Freut Euch, Lieben Christen Gmein, BWV 734
Arranged By [Arr.] – Kempff*
2:26

English Suite No. 3 In G Minor, BWV 808
6 Prélude 2:53
7 Allemande 5:02
8 Courante 1:59
9 Sarabande 4:13
10 Gavotte I/II 2:50
11 Gigue 2:20

Keyboard Concerto No. 1 In D Minor, BWV 1052
12 Allegro 8:00
13 Adagio 7:16
14 Allegro 7:13

15 Jesus Bleibet Meine Freude (Jesu, Joy Of Man’s Desiring), BWV 147
Arranged By [Arr.] – Hess*
3:53

Composed By – Johann Sebastian Bach
Orchestra – Kammerorchester Staatskapelle Berlin*
Piano – Simone Dinnerstein

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Dinnerstein: romântica pra mais de metro.

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Jean-Philippe Rameau (1683-1764): Acante Et Céphis & Les Fêtes D’Hébé (Brüggen)

Jean-Philippe Rameau (1683-1764): Acante Et Céphis & Les Fêtes D’Hébé (Brüggen)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Rameau é uma festa. E, com Brüggen no comando, a festa é total. O IM-PER-DÍ-VEL !!! acima é mais do que justo. A afeição de Frans Bruggen pela música orquestral de Rameau é confirmada pelas muitas edições anteriores de danças de suas óperas. Estes incluíram suítes de Castor et Pollux (1991), Les indes galantes (1994), Dardanus (1987) e Abaris (1987). Enquanto a música de Les fetes d’Hebe (1739), uma das óperas de maior sucesso de Rameau, é bem conhecida, a de Acante et Cephise (1751) não é. Acante et Cephise continua sendo uma peça injustamente negligenciada, tornando a suíte de abertura e as 15 danças de Bruggen ainda mais bem-vinda. Acante et Cephise foi uma das primeiras peças em que Rameau introduziu clarinetes e estes são imediatamente ouvidos com grande efeito na brilhante abertura, cuja escrita para trompa às vezes prenuncia Gluck. A Orchestra of the Eighteen Century responde notavelmente à direção de Bruggen. Ele é um músico maravilhoso cuja imaginação e sensibilidade são compreensivelmente disparadas por algumas das orquestrações mais inovadoras e evocativas que surgiram na primeira metade do século XVIII. Em suma, este repertório é absolutamente cativante e envolvente. O som foi tomado ao vivo. Vale a pena ouvir!

Jean-Philippe Rameau (1683-1764): Acante Et Céphis & Les Fêtes D’Hébé (Brüggen)

Acante Et Céphise
1 Ouverture: Vœux De La Nation, Feu D’Artifice, Fanfare: Vive Le Roi 4:06
2 Air. Mouvement De Chaconne Vive 2:25
3 Gavottes 1:36
4 Air Gracieux 2:17
5 Musette Tendre 1:23
6 Tambourins 1:24
7 Loure 2:49
8 Musette Gracieuse En Rondeau 1:04
9 Menuets 2:00
10 Air Gracieux Pour Les Génies Et Fées 1:01
11 Air Vif Pour Les Esprits Acriens 1:45
12 Contre-Danse 0:57
13 Entrée 1:48
14 Rigaudons 1:10
15 Menuets Un Peu Lents Avec Tambourin 3:13
16 Menuets 3:28

Les Fêtes D’Hébé
17 Ouverture 3:07
18 Menuets 2:44
19 Contredance 0:44
20 Air Gracieux Pour Zéphire Et Les Grâces 3:01
21 Passepieds 2:18
22 Musette Tendre En Rondeau 1:48
23 Loure 2:15
24 Gavottes En Rondeau Pour Les Bergers 3:03
25 Tambourin En Rondeau 1:59
26 Air Tendre, Air Pour Le Génie De Mars, La Victorie 4:57
27 Rigaudons 1:41
28 L’Hymen, Chaconne 4:22
29 Musette En Rondeau 2:15

Composição – Jean-Philippe Rameau
Regente – Frans Brüggen
Orquestra – Orchestra of the Eighteen Century
Tempo total de reprodução 66:38
Gravado ao vivo em Utrecht, Holanda, em setembro de 1996 e fevereiro de 1997

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O grande, genial e querido Frans Brüggen (1934-2014) em foto de 2012.

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