.: interlúdio :. National Youth Jazz Orchestra (NYJO): Cookin’ With Gas

.: interlúdio :. National Youth Jazz Orchestra (NYJO): Cookin’ With Gas

Um bom disco, tecnicamente perfeito, impecável mesmo, mas ninguém vai roubar ou matar por ele. É uma big band jovem muito competente e só.

A National Youth Jazz Orchestra (NYJO) é uma orquestra de jazz britânica fundada em 1965 por Bill Ashton. Em 2010, Mark Armstrong assumiu o cargo de Diretor Musical da principal banda de atuação e Diretor Artístico da organização. Assim sendo, o fundador Bill Ashton tornou-se presidente vitalício.

Com sede em Westminster, Londres, a NYJO começou como London Schools’ Jazz Orchestra e evoluiu para se tornar uma orquestra nacional. Seu objetivo é o de oferecer uma oportunidade para jovens músicos talentosos do Reino Unido. Eles se apresentam nas principais salas de concerto, teatros, rádio e televisão, fazem gravações, encomendam novas obras a compositores e arranjadores britânicos e apresentam seu o amor pelo jazz para um considerável público. Enfim, coisa de primeiro mundo.

A NYJO é selecionada por audição e convite e tem idade máxima de 25 anos. Ela realiza cerca de 40 shows por ano, a grande maioria envolvendo oficinas educacionais para crianças em idade escolar. Ela ensaia todos os sábados no London Centre of Contemporary Music, perto da London Bridge, em Londres.

.: interlúdio :. National Youth Jazz Orchestra (NYJO) – Cookin’ With Gas

1.Beyond the Hatfield Tunnel 6:37
2.Hot Gospel 6:57
3.Step on the Gas 2:54
4.Mr. B. G. 4:07
5.Be Gentle 4:44
6.Behind the Gasworks 6:06
7.Cookin’ with Gas 5:57
8.S’wonderfuel 7:18
9.We Care for You 5:28
10.Big Girl Now 3:54
11.Gasanova 4:05
12.Afterburner 3:36
13.The Water Babies 9:02
14.The Heat of the Moment 3:29

Total time 70:40

Trumpets: Ian Wood, Mark Cumberland, Olly Preece, Gerard Presencer, Fred Maxwell, Neil Yates, Paul Cooper, Martin Shaw, Graham Russell, Mark White.
Trombones: Dennis Rollins, Pat Hartley, Winston Rollins, Tracy Holloway, Richard Henry, Mark Nightingale, Brian Archer.
Saxophones: Michael Smith, Howard, McGill, Scott Garland, Adrian Revell, Pete Long, Melanie Bush, Richard Williams, Nigel Crane.
Horn: Clare Lintott
Flute: Julie Davis
Piano: Steve Hill, Clive Dunstall.
Guitar: Paul Hudson, James Longworth.
Bass: Mark Ong
Drums: Chris Dagley
Percussion: Steve smith and John Robinson.
Vocals: Jacqui Hick.

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Às vezes fica difícil de ilustrar

PQP

.: interlúdio :. Keith Jarrett Trio – Still Live

Keith Jarrett - Still LiveRelendo este texto escrito há três anos, e também o comentário do manuel, que diz que: “Eu ficaria sem comer durante meses…anos… se pudesse. só ouvindo estas maravilhas” e claro, ouvindo novamente o disco, entendo o quão importante é ouvirmos ele concentrados, sem interferências ou ruídos externos, apenas deixando-se levar pelo talento destes músicos que, repito, nunca cansarei de admirar. É como se a cada audição descobríssemos coisas novas, detalhes, nuances que passaram desapercebidos em outras ocasiões. Não creio que possa haver novamente um trio como esse, o nível de excelência alcançado aqui é algo de outro mundo. E tenho dito … !!!

Esta versão de ‘My Funny Valentine’ é uma das melhores que já tive a oportunidade de ouvir. É muito emocionante, desde sua introdução. Esta obra já apareceu em outros álbuns do Trio, mas aqui ela é muito especial. Talvez por ter sido esta versão a primeira que ouvi, já há muito tempo atrás, uns vinte e cinco mais ou menos.

Na verdade me aproximei mais deste trio depois de um período turbulento de minha vida, quando ainda não havia definido os rumos que ela teria. Estava tudo muito confuso, recém saíra de um relacionamento muito confuso e complicado. E então, caiu-me em mãos este CD duplo, emprestado por um amigo, que pediu para ouvi-lo com atenção e de preferência com muita concentração. Aprendi ali como se deve ouvir esses caras: silêncio, concentração, mas antes de tudo um bom fone de ouvido. Sim, ouçam com fone de ouvido para identificar os detalhes, as sutilezas, as nuances que estes monstros sagrados do Jazz conseguem extrair destas obras. O fraseado de um solo de Jarrett não é apenas um fraseado, é um exercício e claro, uma aula de improvisação. Aliás, sejamos justos, todos os solos deste CD são uma verdadeira aula de improvisação. O gemido de fundo que ouvimos de Jarrett faz parte do conjunto da obra. Demonstra o quão inspirado e concentrado ele se encontra, quase como em um estado de transe.

Keith Jarrett Trio – Still Live

CD 1

01-My Funny Valentine
02-Autumn Leaves
03-When I Fall In Love
04-The Song Is You

CD 2
01-Come Rain Or Come Shine
02-Late Lament
03-You And The Night And The Music (Medley)
04-Billie’s Bounce
05-I Remember Clifford

Keith Jarrett – Piano
Gary Peacock – Bass
Jack DeJohnette – Drums

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FDP

.: interlúdio :. Journal Intime Joue Jimi Hendrix: Lips on Fire

.: interlúdio :. Journal Intime Joue Jimi Hendrix: Lips on Fire

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma abordagem à altura do grande homenageado, Jimi Hendrix. Um disco excepcional não só pela qualidade, mas também pela qualidade dos instrumentistas — ouçam a sensacional Angel! O Journal Intime é um trio (às vezes quarteto e até quinteto) de metais que emula o mítico trio de Hendrix usando extrema criatividade. Lips on Fire mostra a personalidade musical única de Hendrix, sua técnica tão pessoal, o ecletismo dos seus gostos, e sua particularíssima noção de ritmo. É uma forma vanguardista e também psicodélica de iluminar e prolongar este grande artista. O grupo consegue capturar os gestos, as distorções e o espírito de nossa querida Voodoo Child.

Journal Intime Joue Jimi Hendrix — Lips on Firee

1 Foxy People
Written-By – F. Gastard*
2 Lover Man
Written-By – J. Hendrix*
3 Viens !
Written-By – F. Gastard*
4 If 6 Was 9
Written-By – J. Hendrix*
5 Angel
Written-By – J. Hendrix*
6 Odysseus Praeludium
Written-By – F. Gastard*
7 Lips On Fire
Written-By – Journal Intime (2)
8 Hey Baby
Written-By – J. Hendrix*
9 All Along The Watchtower
Written-By – B. Dylan*
10 Little Blowing
Written-By – M. Mahler*
11 1983… (A Merman I Should Turn To Be)
Written-By – J. Hendrix*
12 Villanova Junction
Written-By – J. Hendrix*

Bass Saxophone, Tenor Saxophone, Soprano Saxophone, Piano, Keyboards [Ms10 Korg & Fender Bass Rhodes] – Frédéric Gastard
Drums, Percussion, Shaker – Denis Charolles
Trombone – Matthias Mahler
Trumpet, Bugle – Sylvain Bardiau
Vocals, Electric Guitar – Rodolphe Burger

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Journal Intime: olho no olho com Jimi Hendrix

PQP

.: interlúdio :. Jazz Sabbath

Um interessante CD de jazz, com um ótimo trio tocando versões de canções clássicas do mítico grupo de rock ‘Black Sabbath’. Por si só, este CD poderia ser apenas um CD de covers, igual a dezenas de outros que vemos por aí. Mas os meninos resolveram contar uma história, que em um primeiro momento, pode soar verdadeira, mas depois de um tempo entendemos se tratar de uma brincadeira.

Enfim, resumindo a história, o Jazz Sabbath teria sido fundado em 1968 pelo pianista Milton Keanes, pelo baixista Jacque T´Fono, e pelo baterista Juan Také, e logo se destacaram no cenário do Jazz Londrino de final de década.  Teriam gravado um disco cujo lançamento foi marcado para a Sexta Feira 13, do mês de Fevereiro de 1970. Porém Milton Keanes sofreu um sério ataque do coração e o lançamento foi cancelado. E  enquanto se recuperava, o tal do material, ainda inédito, teria sido repassado para uma banda de Heavy Metal recém formada, convenientemente chamada ‘Black Sabbath’, que se apropriou destas canções e as transformou nas clássicas canções que os fãs da banda tão bem conhecem. A Fita Master, com a gravação original teria se perdido em um incêndio no galpão onde o estúdio guardava seu material. Passados quase cinquenta anos, aquele velho prédio foi vendido e o comprador encontrou a tal da Fita Master, que mostrava a origem daquelas canções. Ou seja, a famosa banda, que criou o Heavy Metal, era na verdade uma farsa, fazendo sucesso com música alheia.

Quando li essa história pela primeira vez,  me assustei, afinal sou fã do Black Sabbath, e ouço a banda desde minha adolescência. Repassei a história para os colegas daqui do PQPBach, que também se assustaram. Mas depois de uma pesquisa no Google, verificamos que se tratava apenas de uma jogada de marketing, os caras querendo ser famosos inventaram essa história.

Estratégias de marketing a parte, é um bom disco, nada excepcional. Deixam irreconhecíveis petardos como ‘Iron Man’, ‘Fairies Wear Boots’ e ‘Children of the Grave’. Keanes é um excelente improvisador, merece ser conhecido. E na verdade, Milton Keanes, na verdade, é Adam Wakeman, filho do tecladista Rick Wakeman, e que já toca com a banda há algum tempo, assim como seu pai, que é o responsável pelo piano em ‘Changes’, no mítico álbum ‘Volume 4″.

01. Fairies Wear Boots
02. Evil Woman
03. Rat Salad
04. Iron Man
05. Hand Of Doom
06. Changes
07. Children Of The Grave

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Confiram o nível da ‘farsa’ assistindo ao ótimo documentário abaixo :

 

.: interlúdio :. Hommage à Eberhard Weber – Pat Metheny, Jan Garbarek, Gary Burton, etc.

.: interlúdio :. Hommage à Eberhard Weber – Pat Metheny, Jan Garbarek, Gary Burton, etc.

Este CD me caiu em mãos por acaso, e o ouvia ocasionalmente, sem prestar muita atenção nele. Mas aproveitei estas pequenas férias coletivas de final de ano para ouvir alguns CDs com mais atenção, e esse foi um deles.

Minha geração (nasci em 1965) cresceu ouvindo e procurando os LPs e posteriormente os  CDs do selo de Manfred Eicher (ECM) ansiosamente nas lojas de discos. Músicos como Jan Garbarek, Gary Burton e Pat Metheny se tornaram nossa referência, e buscávamos ansiosamente todos os seus lançamentos. E tocando com toda essa galera, um nome se destacava, o do baixista alemão Eberhard Weber. Procurei então seus discos solos, e também seu trabalho ao lado de outros músicos geniais. Dono de um estilo único, com um timbre facilmente identificável, ele se destacou principalmente entre os anos 70 e 80. Infelizmente foi acometido por um derrame, o que o afastou dos palcos, mas não da música.

Este CD que ora vos trago foi gravado ao vivo, e tem um timaço de músicos envolvidos, começando pelos citados acima, Burton, Garbarek e Metheny, dentre outros, além da fantástica SWR Big Band,  Juntamente com seu amigo, o saxofonista norueguês Jan Garbarek e do guitarrista norte americano Pat Metheny, Weber se aproveitou da tecnologia, criando novas composições a partir de solos seus em trabalhos anteriores. São obras únicas, intimistas, que contam com a altíssima sensibilidade dos músicos envolvidos, Ouçam a incrível ‘Resumé Variations’, que abre o CD, onde Garbarek desfila todo o seu talento e versatilidade, ou então a suíte ‘Hommage’, composta por Pat Metheny, com 31 minutos de duração para entenderem o que digo. O texto de Metheny no encarte do CD também é bem esclarecedor:

“I was asked to participate in a special event to be held in January 2015 to honor Eberhard’s incredible life as a musician. My idea was to try to create something special for this very unique musician. Since Eberhard’s stroke in 2007, he has not been able to play. But I felt that his sonic identity was such a huge component in his work that I wanted to somehow acknowledge it in whatever form I could.

It came to me that it would be interesting to take the idea of sampling one step further; to find video elements of Eberhard improvising and then reorganize, chop, mix and orchestrate elements of those performances to gether into a new composition with a large projection of the Eberhard moments that I chose filling a screen behind us as we performed. It seemed like a new way to compose for me that would almost take the form of visual sampling. Although this seemed like an Eberhard-worthy idea, technically it was quite difficult to do. As it happened, there were only two really usable performances that included long stretches of Eberhard improvising on screen to be found, one from 1986 in Stuttgart and another brief interlude from a Jan Garbarek concert in 1988 in Leverkusen.

The challenges were many, but first and foremost was the issue how to create from scratch an extended piece that would honor Eberhard and also utilize the skills and talents of the commissioning large ensemble, the excellent SWR Big Band.”

Espero que apreciem. Este CD foi a minha trilha sonora de final de ano. E com esta postagem pretendo reiniciar meus trabalhos aqui no PQPBach, depois de alguns meses de ausência, devido a diversos problemas, desde saúde até profissionais. Mas estou acreditando que este novo ano vai me ajudar a superar os desafios que o ano velho trouxe.

FELIZ 2021 !!!

Hommage à Eberhard Weber – Pat Metheny, Jan Garbarek, Gary Burton, etc.

01. Resumé Variations
02 – Hommage
03 – Touch
04 – Maurizius
05 – Tübingen
06 – Notes After An Evening
07 – Street Scenes (Bonus Track)

PAT METHENY guitars
JAN GARBAREK soprano saxophone
GARY BURTON vibraphone
SCOTT COLLEY double bass
DANNY GOTTLIEB drums
PAUL McCANDLESS English horn, soprano saxophone
KLAUS GRAF alto saxophone
ERNST HUTTER euphonium
MICHAEL GIBBS arranger, conductor
RALF SCHMID arranger
RAINER TEMPEL arranger
LIBOR ŠÍMA arranger
and the SWR BIG BAND
HELGE SUNDE conductor

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FDP

Balaio de Preconceitos

Balaio de Preconceitos

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Esta é uma postagem de maio de 2011, preparada pelo sumido CDF Bach. São 6 excelentes CDs, uns  extraordinários, outros menos, todos muito bons. Espero que eles sirvam de bom augúrio para um melhor 2021 para todos nós. Adeus 2020, fique longe!

Depois do texto de CDF, logo após a marcação “.oOo.“, coloco as capas e os detalhes da cada disco. 

Lembro bem que minha primeira experiência como ouvinte atento foi com esse disco ao vivo de Chuck Mangioni. Foi uma revolução, pois na época eu só ouvia o que passava nas rádios (imaginem!). Não sei como foi parar em minhas mãos. Mérito meu não foi, meu miolo era mole demais para isso na época. Lembro, contudo, que as faixas 2 à 6, eu ouvia quase todos os dias, e claro, o clássico “Round Midnight”. O disco ainda me agrada, não sei se pela qualidade dos músicos (participações especiais de Dizzy Gilespie e Chick Corea) ou pelas lembranças de minha época de fedelho. Mas quem sabe outro menino desavisado acesse esse disco e sofra do mesmo impacto prazeroso e transformador.

Daí pra frente, descobri que a música não foi feita só pra dançar, tomar cachaça ou pensar na namorada. Depois de muitos anos intensos, ainda continuo desfazendo alguns dos meus preconceitos no mundo musical. Um bem antigo e ainda atual é sobre a importância de Telemann para história da música. Quem aqui já não leu que esse compositor alemão escreveu mais de 3000 trabalhos? Quase o que todos os outros grandes compositores escreveram em todas as épocas juntos. Um verdadeiro compositor de “quantidade”. Não era aceitável que Telemann, na época, pudesse ser mais famoso e importante que o velho papai Bach. Mas a vingança não tardou, Telemann caiu feio nas épocas seguintes, enquanto Bach subia no pedestal. Essa justiça dos tempos, no entanto, é imperfeita, nega a possibilidade de entendermos a fama e importância de Telemann na época.Trago para vocês três discos para mostrar um pouco da diversidade e qualidade desse grande compositor. O primeiro disco traz uma micro-ópera chamada Pimpinone, que costumava ser apresentada nos intervalos das grandes óperas de Handel. A obra é musicalmente divertidíssima e empolgante com apenas duas personagens, o chefe da casa Pimpinone e sua empregada Vespeta. Algo muito próximo de La Serva Padrona de Pergolesi. Pimpinone é uma ópera italiana em língua alemã. No segundo disco já vamos ver Telemann fazendo música religiosa, com aquele tom sombrio e ao mesmo tempo esperançoso da música alemã. São cantatas intimistas com poucos instrumentos que, sem exagerar, estão em pé de igualdade com algumas cantatas de Bach. No terceiro disco, vamos para a Espanha, onde Telemann com maestria única e original faz uma pequena peça musical sobre o “cavaleiro da triste figura” – Don Quichotte auf der Hochzeit des Comacho. Uma obra-prima ainda desconhecida da maioria dos ouvintes.

Outro injustiçado que até virou motivo de piada – Muzio Clementi. Em 1780, o pobre Clementi participou de uma pequena “competição” com Mozart para ver quem melhor interpretava e improvisava. Nem preciso dizer quem causou mais forte impressão. Mozart escreveu ao pai “ ele toca até bem…mas não tem bom gosto…muito mecânico” e depois em 1783 escreveu “Clementi é um charlatão, assim como todos os italianos”. Clementi foi basicamente um compositor para piano, e muito das suas sonatas iniciais apresentam, apesar do virtuosismo cativante, um pouco desse característica “mecânica” apontada por Mozart. No entanto, creio que Mozart teria mudado de opinião se ouvisse as sonatas do último período de Clementi. São sonatas beethovianas, com aquelas transições inesperadas e inspiradas. Prestem atenção na harmonia inicial da sonata op.40 n.2. As sonatas op.50 são às vezes mais inspiradas que as sonatas de Mozart (quem diria?).

Falo agora não apenas de um compositor desconhecido ou injustiçado, mas de uma época toda – a nossa. A música pós-1945 não convenceu o público e ainda não continua convencendo, com raríssimas exceções. Britten, Shostakovich, Arvo Part entre outros que estão fora do mainstream moderno, não contam. Falo dos compositores que estão na ponta da locomotiva, aqueles que escreveram a história do modernismo, esses estão na corda bamba da imortalidade. Citados em livros, porém desconhecidos nos palcos. “Culpa deles?” Só se a exploração de novos mundos for considerada um defeito. George Crumb é um compositor americano, um grande experimentador de possibilidades sonoras, abriu um novo espectro sonoro e pessoal, mas sem perder o foco de sua inspiração, aliás, inspiração muito ligada a poesia de Garcia Lorca. Esse disco trata de estudos moderníssimos para piano, algo que deixaria Chopin ou Liszt assustados. Na minha primeira audição imaginei ouvir um pequeno ensemble de músicos, mas foi engano meu, temos apenas o pianista e seu piano. Makrokosmos (1972-1973) é composto de dois volumes com 12 fantasias cada um sobre os símbolos do zodíaco. É preciso ouvir para acreditar. Absolutamente imperdível.

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Chuck Mangione – Tarantella

1 Tarantellas
2 The XIth Commandment Suite
3 Legend Of The One-Eyed Sailor
4 Bellavia
5 Hill Where The Lords Hide
6 Lake Placid Fanfare
7 Things To Come
8 ‘Round Midnight
9 Manteca
10 My One And Only Love
11 All Blues

Acoustic Guitar, Electric Guitar – Paul Viapiano
Alto Saxophone, Tenor Saxophone – Joe Romano
Baritone Saxophone – Bob Militello*
Bass Trombone – Jim Daniels
Congas, Percussion – Ralph McDonald*
Drums, Percussion – Dan D’Imperio, James Bradley, Jr.*
Drums, Timpani [Tympani] – Steve Gadd
Electric Bass – Charles Meeks, Jeff D’Angelo
Electric Guitar – Carl Lockett, Eric Gale
Flute – Kathyryn Moses*
French Horn – Jay Wadenpfuhl, Jerry Peel
Percussion – Dave Mancini
Piano [Acoustic Piano], Electric Piano – Gap Mangione
Piano [Acoustic Piano], Electric Piano, Trumpet, Percussion – Chick Corea
Producer, Conductor, Flugelhorn, Electric Piano – Chuck Mangione
Saxophone, Flute – Chris Vadala
Tenor Saxophone – Pat LaBarbera, Sal Nistico
Trombone – Birch Johnson, Keith O’Quinn, Rick Chamberlain
Trumpet, Flugelhorn – Jeff Tyzik, Joe Mosello, Lew Soloff
Trumpet, Jew’s Harp – Dizzy Gillespie

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Telemann – Pimpinone

01. Intermezzo I. Arie: Wer will mich? Bin Kammermädchen (Vespetta)
02. Rezitativ: Ich suche zwar ein Glück
03. Arie: Hoflich reden, lieblich singen (Vespetta)
04. Rezitativ: Doch was kann dieses wohl fur Lust erwecken
05. Arie: Wie sie mich ganz verwirren kann (Pimpinone, dazu Vespetta)
06. Rezitativ: Was aber denkt ihr nun zu tun
07. Duett: Mein Herz erfreut sich in der Brust (Vespetta, Pimpinone)
08. Intermezzo II. Rezitativ: Vespetta, willst du von mir gehen?
09. Andante und Arioso: Hab’ ich in dem Dienste (Vespetta)
10. Rezitativ: Schweig, schweig, du hast ja alles recht gemacht
11. Arie: Sieh doch nur das Feuer (Pimpinone)
12. Rezitativ: Er schweige nur
13. Arie: Ich bin nicht häßlich geboren (Vespetta)
14. Rezitativ: So geht es gut!
15. Arie/Duett: Reich die Hand mir, o welche Freude (Vespetta, Pimpinone)
16. Intermezzo III. Rezitativ: Ich will dahin, wohin es mir beliebet, gehn
17. Arie: Ich weiß, wie man redet (Pimpinone)
18. Rezitativ: Fur dieses Mal sei ihr der Ausgang unbenommen
19. Arie: Wie die andern will ich’s machen (Vespetta)
20. Rezitativ: Wie aber, wenn ich’s auch so machen wollte?
21. Arie/Duett: Wilde Hummel, böser Engel (Vespetta, Pimpinone)
22. Rezitativ: Du eigensinn’ger Esel, schau
23. Arie/Duett: Schweig hinkunftig, albrer Tropf! (Vespetta, Pimpinone)

Vespetta – Erna Roscher
Pimpinone – Reiner Süß
Staatskapelle Berlin
Conductor – Helmut Koch

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Telemann – Cantatas

Kein Vogel Kann Im Weiten Fliegen Twv 1:994 (Kantate Nr. 44 Aus Harmonischer Gottesdienst)
1 Aria: Kein Vogel Kann Im Weiten Fliegen 3:56
2 Recitativo: Kein Mensch Darf Den Geringer Schatzen 1:04
3 Aria: Erwage, Sichrer Mensch, Mit Beben 5:54

Deines Neuen Bundes Gnade Twv 1:212 (Kantate Nr. 47 Aus Harmonischer Gottesdienst)
4 Aria: Deines Neuen Bundes Gnade 4:53
5 Rezitativ: Wer Hat Den Schaum Der Wilden Wasserwogen 1:50
6 Ich Zweifle Nicht, Ich Bin Gerecht 4:04

Schau Nach Sodom Nicht Zurücke Twv 1:1243 (Kantate Nr. 48 Aus Harmonischer Gottesdienst)
7 Aria: Schau Nach Sodom Nicht Zurucke 3:40
8 Recitativo: Durch Christum Von Gesetze Los Zu Sein 1:16
9 Aria: Enthatlet Euch, Das Zu Erfullen 4:36

Die Ehre Des Herrlichen Schöpfers Zu Melden Twv 1:334 (Kantate Nr. 54 Aus Harmonischer Gottesdienst
10 Aria: Die Ehre Des Herrlichen Schopfers Zu Melden 2:59
11 Recitativo: Der Undank Ist Zu Gross 1:32
12 Aria: Singet Gott In Eurem Herzen 3:49

Verfolgter Geist, Wohin? Twv 1:1467 (Kantate Nr. 55 Aus Harmonischer Gottesdienst)
13 Aria: Verfolgter Geist, Wohin? 2:52
14 Recitativo: So Ist Es Gross Ist Die Gefahr 2:24
15 Aria: So Kampfet, Gerustete Krieger, Mit Freuden! 3:56

Locke Nur, Erde, Mit Schmeichelndem Reize Twv 1:1069 (Kantate Nr. 57 Aus Harmonischer Gottesdienst)
16 Aria: Locke Nur, Erde, Mit Schmeichelndem Reize 4:47
17 Recitativo: Verstummet Nur, Verkehrte Lehrer 1:06
18 Aria: Verlass Den Bau Der Ird’schen Hutte 3:58

Packe Dich, Gelähmter Drache Twv 1:1222 (Kantate Nr. 64 Aus Harmonischer Gottesdienst)
19 Aria: Packe Dich, Gelahmter Drache 4:04
20 Recitativo: Der Helfer Sei Gelobt 2:11
21 Aria: Hinweg, O Hollisches Getummel 4:00

Affourtit, Pieter
Bernardini, Alfredo
Beuse, Christian
Darmstadt, Gerhart
Eichberger, Myriam
Frimmer, Monika
Hammer, Christoph
Hirtreiter, Bernhard
Kotz-Geitner, Petra
Schwarz, Gotthold

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Telemann – Don Quichotte

Nr. 1 Aria (Don Quichotte) “Ein Wahrer Held Eilt Schon Ins Feld” 3:30
2 Nr. 2 Recitativo (Sancho Pansa) “Vortrefflich, Herr!” 1:26
3 Nr. 3 Aria (Sancho Pansa) “Mich Deucht, Ich Sehe Noch Die Fürchterliche Decke” 3:52
4 Nr. 4 Recitativo (Don Quichotte, Sancho Pansa) “So Kannst Du Denn Die Prellung Nicht Verschmerzen” 1:10
5 Nr. 5 Aria (Don Quichotte) “Kleinmütiger, Hör Auf Zu Klagen” 3:23
6 Nr. 6 Recitativo (Don Quichotte, Sancho Pansa) Bestrebst Du Dich Also, Dem Beispiel Nachzuahmen” 1:21
7 Nr. 7 Aria (Sancho Pansa) “Hat Mich Der Große Menschenfresser” 3:27
8 Nr. 8 Recitativo (Don Quichotte, Sancho Pansa) “Sieh, Sancho, Sieh! Hier Gibt’s Ein Neues Abenteuer” 0:48
Zweite Szene
9 Nr. 9 Coro (Sopran Solo, Chor Der Schäfer) “Die Schönste Schäferin Beglückt Den Reichsten Hirten Dieser Flur” 3:32
10 Nr. 10 Recitativo (Don Quichotte, Sancho Pansa, Grisostomo, Pedrillo) “Herr! Han Ich’s Nicht Gesagt?” 1:39
11 Nr. 11 Aria (Don Quichotte) “Beim Amadis, Beim Ritter Von Der Sonne!” 2:50
12 Nr 12 Recitativo (Don Quichotte, Sancho Pansa, Pedrillo) “Was Sagt Mein Herr?” 1:43
13 Nr. 13 Aria (Sancho Pansa) “Mein Esel Ist Das Beste Tier” 2:46
14 Nr. 14 Recitativo (Don Quichotte, Sancho Pansa, Grisostomo, Pedrillo) “So Sehr Nun Dieser Tag Die Flur Erfreut” 1:18
15 Nr. 15 Aria (Grisostomo) “Kein Schlaf Besucht Die Starren Augenlider” 4:19
16 Nr. 16 Recitativo (Don Quichotte, Sancho Pansa, Grisostomo) “Er Dauert Mich!” 1:31
17 Nr. 16a Coro “Die Schönste Schäferin” 3:30
18 Nr. 17 Recitativo (Sancho Pansa, Grisostomo, Pedrillo) “Mich Dünkt, Es Steigt Ein Dampf Von Wohlgerüchen” 0:48
19 Nr. 18 Duetto (Don Quichotte, Sancho Pansa) “Wenn Ich Die Trommel Rühren Höre” 3:18
Dritte Szene
20 Nr. 19 Recitativo (Don Quichotte, Sancho Pansa, Grisostomo) “Dort Kommt Die Braut” 1:08
21 Nr. 20 Aria E Coro (Grisostomo, Pedrillo, Chor Der Schäfer) “Dich, Schäfer, Dessen Glück Die Wälder Widerhallen” 1:48
22 Nr. 21 Recitativo (Comacho, Pedrillo, Chor Der Schäfer) “Geliebte Freundin, Höre” 0:41
Vierte Szene
23 Nr. 21a Recitativo Accompagnato (Basilio, Sancho Pansa, Quiteria, Comacho, Chor Der Freunde Des Basilio) “Schau Her, Quiteria!” 3:19
24 Nr. 22 Aria (Basilio) “Nun Bist Du Mein” 0:59
25 Nr. 23 Recitativo (Chor Der Freunde Des Comacho, Comacho, Don Quichotte, Sancho Pansa) “O List!” 1:00
26 Nr. 24 Aria (Quiteria) “Behalte Nur Dein Gold” 0:44
Fünfte Szene
27 Nr. 25 Recitativo (Comacho, Basilio, Sancho Pansa) “Nur Nicht Zu Stolz” 1:18
28 Nr. 26 Coro (Quiteria, Basilio, Don Quichotte, Sancho Pansa, Chor Der Schäfer) “Die Klugheit Ist Vom Günstigen Geschicke Das Kostbarste Geschenk” 1:31

Alto Vocals [Comacho] – Annette Kohler*
Bass Vocals [Don Quichotte] – Raimund Nolte
Bass Vocals [Sancho Pansa] – Michael Schopper
Bassoon – Rhoda Patrick
Chorus – Vokalensemble Der Akademie Für Alte Musik Bremen
Chorus Master – Manfred Cordes
Conductor – Michael Schneider (2)
Double Bass – Love Persson
Harpsichord [I] – Harald Hoeren
Harpsichord [II] – Sabine Bauer
Leader – Anke Backhaus
Libretto By – Daniel Schiebeler
Orchestra – La Stagione
Percussion, Timpani – Ekkehard Leue
Piccolo Flute – Karl Kaiser
Soprano Vocals [Grisostomo] – Mechthild Bach
Soprano Vocals [Pedrillo] – Silke Stapf
Soprano Vocals [Quiteria] – Heike Hallaschka
Tenor Vocals [Basilio] – Karl-Heinz Brandt
Theorbo – Michael Dücker
Trumpet – Friedemann Immer, Hannes Kothe
Viola – Claudia Steeb, Klaus Bundies
Violin [I] – Anke Vogelsänger, Hajo Bäß, Ruth Weber
Violin [II] – Barbara Kralle, Helmut Hausberg, Mechthilde Werner, Veronica Schepping
Violoncello – Nicholas Solo, Rainer Zipperling

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Clementi – Piano Sonatas

Piano Sonata in G major Op 40 No 1[24’52]
1 Allegro molto vivace[7’42]
2 Adagio, sostenuto e cantabile[5’41]
3 Allegro[6’17]
4 Finale: Presto[5’12]

Piano Sonata in B minor Op 40 No 2[15’54]
5 Movement 1: Molto adagio e sostenuto – Allegro con fuoco e con espressione[8’10]
6 Movement 2a: Largo mesto e patetico[2’10]
7 Movement 2b: Allegro – Tempo I – Presto[5’34]

Piano Sonata in D major Op 40 No 3[19’13]
8 Adagio molto – Allegro[10’30]
9 Adagio con molto espressione[3’39]
10 Allegro[5’04]

Piano Sonata in A major Op 50 No 1[21’06]
11 Allegro maestoso e con sentimento[8’29]
12 Adagio sostenuto e patetico[4’25]
13 Allegro vivace[8’12]

Piano Sonata in D minor Op 50 No 2[19’03]
14 Allegro non troppo ma con energia[8’19]
15 Adagio con espressione[4’20]
16 Allegro con fuoco, ma non troppo presto[6’24]

Piano Sonata in G minor ‘Didone abbandonata’ Op 50 No 3[25’35]
17 Largo patetico e sostenuto – Allegro ma con espressione[11’18]
18 Adagio dolente[5’57]
19 Allegro agitato, e con disperazione[8’20]

Howard Shelley (piano)

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Crumb – Makrokosmos I+II

Makrokosmos I
1 Klänge Des Ursprungs (Genesis I) (Krebs) 4:16
2 Proteus (Fisch) 1:17
3 Pastorale (Aus Dem Königreich Atlantis, Ca. 10,000 V. Chr.) (Stier) 2:10
4 Kruzifixus [Symbol] (Steinbock) 2:43
5 Der Gespenstische Gondoliere (Skorpion) 3:03
6 Nachtzauber I (Schütze) 4:13
7 Schattenmusik (Für Äolsharfe) (Waage) 2:40
8 Der Magische Kreis Der Unendlichkeit (Moto Perpetuo) [Symbol] (Löwe) 1:55
9 Der Abgrund Der Zeit (Jungfrau) 2:53
10 Frühlingsfeuer (Widder) 1:56
11 Traumbilder (Liebestod-Musik) (Zwilling) 4:52
12 Spiral-Galaxis [Symbol] (Wassermann) 2:46

Makrokosmos II
13 Morgenmusik (Genesis II) (Krebs) 2:53
14 Der Mystische Klang (Schütze) 3:01
15 Regen- Tod-Variatonen (Fisch) 1:46
16 Zwillings-Sonnen [Symbol] (Zwilling) 3:40
17 Gespenster-Nocturne: Für Die Druiden Von Stonehenge (Nachtzauber II) (Jungfrau) 3:14
18 Wasserspeier (Stier) 1:24
19 Tora! Tora! Tora! (Skorpion) 2:22
20 Eine Weissagung Nostradamus’ [Symbol] (Widder) 4:13
21 Kosmischer Wind (Waage) 3:37
22 Stimmen Aus 〈Corona Borealis〉 (Wassermann) 3:13
23 Litanei Der Glocken Der Milchstrasse (Löwe) 3:14
24 Agnus Dei [Symbol] (Steinbock) 3:56

Piano – Robert Groslot

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cdf

.: interlúdio :. McCoy Tyner with Stanley Clarke and Al Foster

O ano está acabando e quem não perdeu uma tia, um professor, uma cunhada ou um irmão querido, de sangue ou não, em 2020? Para homenagear tantos idosos e idosas que se foram, eu dedico uma segunda postagem ao pianista McCoy Tyner (11 de dezembro de 1938 – 6 de março de 2020).

McCoy Tyner ganhou três prêmios Grammy de melhor álbum de jazz instrumental, em 1988, 1995 e 2004, em cada um desses álbuns ele estava acompanhado de grandes músicos, como o trompetista Terence Blanchard e os saxofonistas Pharoah Sanders e Michael Brecker. Mas na opinião do aspirante a pianista que escreve essas linhas, os mais importantes álbuns de McCoy Tyner como líder são na formação de trios. Sem instrumentos de sopro, a imensa ausência de John Coltrane não pesa tanto e podemos ouvir com mais atenção um dos pianistas mais originais do último século.

Na década de 1970, McCoy gravou alguns excelentes álbuns no formato de trio, incluindo um grande disco ao vivo no Japão com o onipresente baixista Ron Carter (parceiro de Miles Davis, Chet Baker, Wayne Shorter, aliás díficil é citar alguém que não tocou com ele!) e o quase onipresente baterista Tony Williams. Há também um, chamado Supertrios por incluir duas duplas diferentes de baixistas/bateristas (Ron e Tony estão lá, é claro), com uma bela interpretação de Wave (Tom Jobim) e de outros standards. Esses dois álbuns podem ser encontrados na homenagem que McCoy recebeu logo após sua morte no blog jazz-rock-fusion-guitar, que assim como o PQP Bach, existe desde os tempos da internet discada, com algumas mudanças de endereço porque ninguém é de ferro.

No ano 2000, já com mais de 60 anos, McCoy lançou um CD em trio com dois grandes nomes um pouco mais jovens: Stanley Clarke se revezando entre o baixo acústico e o elétrico, Al Foster na bateria. Eles começam com um tema em homanegam a Coltrane (Trane-like), com os acordes um tanto percussivos de McCoy Tyner fazendo progressões harmônicas mais ou menos no estilo dos álbuns My Favorite Things e Olé Coltrane. Mas após essa homenagem o trio percorre muitos outros caminhos: um flerte animado com a música latino-americana (Carriba), momentos em que o baixo de Stanley Clarke flerta com o fusion e o funk (I want to tell you ‘bout that) e momentos mais calmos, em que o pianista, mais do que na década de 1960, se sente à vontade para improvisar em um clima mais intimista, suave, de quem não precisa mais provar nada pra ninguém e pode calmamente valorizar o swing das melodias do standard Never let me go e da autoral Memories.

Também em 2000, McCoy Tyner explicou em uma entrevista que Stanley e Al já tinham tocado com ele algumas vezes desde os anos 70, e que cada vez que se encontravam novamente a conexão era muito forte. Ele prossegue: “gosto de fornecer espaço suficiente para que a pessoa se sinta confortável para fazer o que faz. Eu não gosto de algemar pessoas. Mas, ao mesmo tempo, ele precisa entender que, quando está tocando comigo, ele também precisa ouvir. Ouvir e responder são coisas muito importantes.”

Sobre a presença do jazz no dia a dia dos EUA, ele compara:

Minha mãe sabia quem eram Billie Holiday, Count Basie e Duke Ellington. Ela sabia quem eles eram porque faziam parte da comunidade e tínhamos orgulho dessas pessoas. Esse tipo de acessibilidade não parece mais existir nesse nível – o nível em que a dona de casa, encanador ou carpinteiro comum conhece dessa música. Lembro de entrar em um ônibus em Chicago uma vez e o motorista do ônibus disse “Ah, você toca com Coltrane! Vocês estão por aqui? Eu vou assistir!” Era o motorista do ônibus! A música era acessível. Tínhamos nosso quinhão de tempo de rádio. Mas agora está tão inundado de coisas que não estão no mesmo nível de qualidade, mas vendem. Isso dá uma ideia geral do estado de espírito do público. Eu não estou descartando isso, a música comercial tem seu lugar. Naquela época havia gospel, jazz, blues, rock e pop. O jazz não era promovido como as estrelas do pop, mas o público tinha mais acesso do que hoje.

McCoy Tyner with Stanley Clarke and Al Foster (2000)
1. Trane-Like – 9:12
2. Once Upon a Time – 5:31
3. Never Let Me Go (Evans, Livingston) – 4:19
4. I Want to Tell You ‘Bout That – 5:19
5. Will You Still Be Mine? (Adair, Dennis) – 6:46
6. Goin’ ‘Way Blues – 6:31
7. In the Tradition Of (Clarke) – 7:38
8. The Night has a Thousand Eyes” (Bernier, Brainin) – 4:53
9. Carriba – 5:41
10. Memories – 3:43
11. I Want to Tell You ‘Bout That [alternate take] – 5:57
All compositions by McCoy Tyner except as indicated

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BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – MP3 320 kbps

“This lovely album seems to have a little bit of everything – ballads and blues, standards and originals, subtle swing and funky dance rhythms.” – Donald Elfman

McCoy Tyner em 2005
(Foto: Joe Mabel, wikipedia)

Pleyel

.: interlúdio :. Duke Ellington: Jazz Moods | Hot

.: interlúdio :. Duke Ellington: Jazz Moods | Hot

Este volume da série Jazz Moods, da Legacy, mostra a big band de Duke Ellington durante suas três primeiras décadas. O CD vai desde os primeiros dias da carreira do grande band leader e compositor em 1927, até o ano de 1941. Todas as faixas aqui são clássicas de Ellington e foram gravadas muitas vezes, mas essas versões, em quase todos os casos, são as originais. Há a gravação original de It Don’t Mean a Thing (If It Ain’t Got That Swing) com a vocalista Ivie Anderson à frente da banda — o outro vocalista nessas sessões de 1932 era um cara chamado Bing Crosby. Cotton Tail, de 1940, apresenta um solo sensacional de saxofone do grande Ben Webster. Também está incluída a versão de 1928 de The Mooche. E há um belo solo de trompete de Juan Tizol na gravação de Caravan em 1937, e 11 outros clássicos “quentes” de Ellington. Embora não haja nada de novo neste disco, o som é mais do que digno e é bom ter tantos originais de um período tão fértil em um só lugar. Aproveitem!

Duke Ellington ‎– Jazz Moods | Hot

1 Hot And Bothered 2:52
2 It Don’t Mean A Thing (If You Ain’t Got That Swing) 3:08
3 Coton Tail 3:03
4 The Mooche (78rpm Version) 3:14
5 Battle Of Swing 2:57
6 Rockin’ In Rhythm 3:14
7 Braggin’ In Brass 2:43
8 Caravan 3:05
9 Ring Dem Bells 2:48
10 Merry-Go-Round 2:57
11 East St. Louis Toodle-Do 3:04
12 In A Jam 2:58
13 Take The “A” Train 2:53
14 Tootin’ Through The Roof 2:52

O disco original não informa as várias formações das big bands de Ellington nas faixas.

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Duke Ellington e sua turma dando uma canja na sede municipal da PQP Bach Corp. em Faxinal do Soturno

PQP

.: interlúdio :. Egberto Gismonti Group – Infância (1991)

.: interlúdio :. Egberto Gismonti Group – Infância (1991)

Neste dia muito musical aqui em casa, lá vai outro CD. Gosto muito de Gismonti, muito mesmo. Este belo CD não chega a ser uma anormalidade em sua carreira ultra produtiva. Com dificuldades para gravar no Brasil, Gismonti encontrou ancoradouro na grande ECM de Manfred Eicher, onde gravou dezenas de CDs para nosso prazer. Destaque para a extraordinária Infância e 7 Anéis, mas tudo é bom nesta grande gravação de Gismonti com amigos.

Egberto Gismonti Group – Infância (1991)

01. Ensaio De Escola De Samba (Danca Dos Escravos) 8:47
02. 7 Anéis 9:07
03. Meninas 7:14
04. Infância 10:45
05. A Fala Da Paixao 6:09
06. Recife & O Amor Que Move O Sol E Outras Estrelas 10:58
07. Danca №1 5:18
08. Danca №2 4:07

Egberto Gismonti – piano, guitars
Nando Carneiro – synthesizers, guitar
Zeca Assumpcao – bass
Jacques Morelenbaum – cello

Produced by Manfred Eicher

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PQP

.: interlúdio :. John Zorn: Spy Vs Spy (The Music of Ornette Coleman)

.: interlúdio :. John Zorn: Spy Vs Spy (The Music of Ornette Coleman)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Meus amigos pequepianos, meus amores, não vou lhes enganar. Este CD de John Zorn é de uma tal pauleira que pulveriza os esforços e torna dietética a imensa maioria dos grupos de heavy metal. O que quero dizer é que a grande música contida em Spy Vs Spy não é para estômagos fracos que iniciam seus domingos ouvindo a primavera de Vivaldi e sim para aqueles que desejam ver os passarinhos vivaldianos perecerem arregalados sob o tremor de baixo, bateria e saxofones alucinantes. O CD começa em altíssima rotação, depois até pisa no freio, reduzindo a velocidade para os 220 Km/h.

Mas assim é a música de Coleman e assim é Zorn, que a acentuou. Sua intensidade é a do rock, mas a dificuldade é absurda. Há fanáticos por este disco e há pessoas que o odeiam mortalmente. Difícil ficar indiferente quando de uma audição. Eu e meu filho estamos no primeiro grupo. Mas nunca o toco perto de outrem que desconheço. Não sou louco.

Volume bem alto, OK? A menos que vocês tenham vizinhos bregas armados. Ou milicianos.

São dois saxofones, duas baterias e um seguríssimo baixo dando o maior chocolate.

John Zorn: Spy Vs Spy (The Music of Ornette Coleman)

1 WRU 2:38
2 Chronology 1:08
3 Word For Bird 1:14
4 Good Old Days 2:44
5 The Disguise 1:18
6 Enfant 2:37
7 Rejoicing 1:38
8 Blues Connotation 1:05
9 C. & D. 3:05
10 Chippie 1:08
11 Peace Warriors 1:20
12 Ecars 2:28
13 Feet Music 4:45
14 Broad Way Blues 3:42
15 Space Church 2:28
16 Zig Zag 2:54
17 Mob Job 4:24

Bass – Mark Dresser
Drums – Joey Baron, Michael Vatcher
Saxophone – Tim Berne
Saxophone, Producer – John Zorn

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PQP

.: interlúdio :. Chet Baker em Milão, 1959

.: interlúdio :. Chet Baker em Milão, 1959

A pior pizza que já comi em minha vida foi em Milão. Vá lá. Pizza de aeroporto não é coisa em que nos possamos fiar, mas a pizza do aeroporto de lá talvez só não seja pior do que a produzida pela Subway. Imaginem um disco de arremesso olímpico besuntado com uma coisa vermelha e ácida – segundo dizem, molho de tomates. De passagem, todavia, era o melhor que eu poderia ter conseguido. Decerto que ao lado da sua soberba Catedral, Milão talvez ofereça algo melhor. Milão, que nos evoca ópera e cânticos.

Santo Ambrósio

No alvorecer da Idade Média foi um dos maiores centros da ascendente Igreja Cristã, em um tempo no qual sua influência se espalhava como uma sombra, destruindo templos pagãos, perseguindo filósofos, queimando tesouros literários, cometendo tropelias bem diferentes das que poderia aprovar seu ídolo, o JC. Mas por outro lado, enquanto alguns pensadores do momento, os chamados Patrísticos, demonizavam a música como algo sensual e típico dos costumes pagãos, o bom e doce Santo Ambrósio compunha cânticos que atraiam multidões para seu templo e para seu credo, fundando a chamada Igreja Ambrosiana, com uma tradição canora mais antiga que o Canto Gregoriano.

Aproximadamente dois milênios mais tarde a música seria bem diferente e felizmente profaníssima. E se nada tinha a ver com o passado, agora Milão era visitada por um ‘angelo’. Quando do seu grande sucesso na Itália, foi como batizaram o então jovem Mr. Baker, Il Angelo. O Tromba d’Oro. Resultou que uns idiotas roubaram seu trompete achando que era de ouro mesmo. Foram grandes as aventuras de Chet na Itália naqueles tempos, que lhe valeram inclusive algum tempo atrás das grades. Conta-se que ao entardecer se ouvia um mágico trompete se espalhando sobre os telhados e montes toscanos, como se a carceragem de Lucca guardasse um anjo trompetista – e quem sabe se não era verdade mesmo! Alguns artistas nascem com tal gênio que os poderíamos dizer alados. Como sempre, caímos no mesmo argumento: um dos melhores discos de fulano. A profusão de qualidade na obra de Chet é avassaladora, sob diversos aspectos e sujeita a discussões sobre sua performance, expressão, habilidade. Mas acontece que este é sim um dos seus grandes registros. Os solos são de uma beleza, frescor e perfeição que poderiam ter sido compostos anteriormente e com todo bom gosto e sabedoria. Não foram, era improvisado mesmo, após as encantadores exposições temáticas. Já transcrevi alguns deles e posso provar a excelência arquitetônica da coisa, pela teoria e pela prática. Todas as faixas são standards consagrados do jazz, de autores como Charlie Parker, Tadd Dameron, Miles Davis, Sonny Rollins e Gerry Mulligan. Com destaque especial para Indian Summer, adorável tema do compositor Victor Herbert (de quem existe um fabuloso concerto para violoncelo, vale procurar).

Chet Baker in Milan, 1959

  • Lady Bird
  • Cheryl Blues
  • Tune Up
  • Line For Lyons
  • Pent Up House
  • Look for The Silver Lining
  • Indian Summer
  • My Old Flame

Chet Baker – trompete
Glauco Masetti – sax alto
Gianno Basso – sax tenor
Renato Sellani – piano
Franco Serri – Bass
Gene Victory – Drums

Arranjos de Giulio Libano

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Angelo, ma non troppo

Wellbach

.: interlúdio :. Hiromi´s Sonic Bloom – Beyond Standard

Ouvir Hiromi Uehara sempre é uma grande experiência, nunca sabemos o que podemos esperar desta gigante do piano, a moça que está reescrevendo o lugar do piano no Jazz. Um cliente da amazon a situou entre Errol Garner e Mahavishnu Orchestra, o que quer que isso possa significar. Bem uma coisa posso afirmar, sem temer: parece que Hiromi está sempre ligada em uma tomada, ela extravasa energia, se não concordam, ouçam o que ela faz com a mítica ‘Caravan’, de Duke Ellington.  Além do clássico, extrapola todos os limites, todas as barreiras do convencional: ah, isso é Ellington, não podemos ousar tanto. A ousadia é a marca registrada da pianista. Por isso a amo.

Quando resolve fazer uma releitura absolutamente estonteante dos ‘standards’, desconstruindo Gershwin, Coltrane, Debussy (sim, ela toca Clair de Lune), ela reescreve a história do piano no Jazz. É a evolução natural de Thelonius Monk, de Oscar Peterson, de Chick Corea, de Keith Jarrett, de Herbie Hancock e mais recentemente, Brad Mehldau. É a soma de todos, mais o seu talento natural. Não por acaso gravou discos sensacionais com Stanley Clarke, o genial baixista, um dos pais do Fusion, e com o próprio Chick Corea citado acima.

Outro detalhe a destacar é o incrível trio que a acompanha, a Hiromi´s Sonicbloom, formado por excepcionais músicos, que nos proporcionam ótimos momentos.

Esse CD é de 2008, tudo bem, mas continua de um frescor, de uma naturalidade que parece que foi gravado ontem.  E como todos os outros Cds dela que eu e PQPBach já trouxemos aqui, este é mais um que leva o selo de “IM-PER-DÍ-VEL!!’ do PQPBach.

Hiromi´s Sonic Bloom – Beyond Standard

1Intro: Softly As In A Morning Sunrise 0:28
2 Softly As In A Morning Sunrise 7:27
3 Clair De Lune 7:23
4 Caravan 8:47
5 Ue Wo Muite Aruko 8:41
6 My Favorite Things 7:46
7 Led Boots 6:31
8 XYG 6:29
9 I’ve Got Rhythm 5:51

Hiromi Uehara – piano, keyboards
David “Fuze” Fiuczynski – fretted and fretless guitar
Tony Grey – electric bass
Martin Valihora – drums

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LINK ALTERNATIVO

FDP

.: interlúdio :. Dream Circus – Misha Mullov-Abbado

Filho de peixe peixinho é?  O músico envolvido neste baita CD de Jazz é simplesmente filho de Claudio Abbado e de Viktoria Mullova, bota DNA nobre nessa mistura. Mas deve ser difícil para estes filhos de celebridades conseguirem se afastar da sombra de seus pais e mostrar que eles também tem talento. São inúmeros os casos, nem vem ao caso numerá-los. O peso e a cobrança devem ser muito grandes. ‘Ah, ele só conseguiu contrato com gravadora porque é filho de gente importante’, com certeza eles devem ouvir muito isso.

Em minha modestíssima opinião, ele herdou sim dos pais a verve musical, só que resolveu seguir por outro caminho, demonstrando que o talento pode vir de berço, e aos poucos vai sendo esculpido. Aliás, recém foi lançado um CD novo dele, tocando com sua mãe. Se vocês se comportarem direitinho, trago assim que possível.

Misha, ao contrário dos pais, ele maestro, ela violinista, optou por um estilo musical diferente, e toca contrabaixo acústico, aquele instrumento grande, que ali fica no cantinho, discreto, dando suporte à harmonia da banda, acompanhando o baterista, seu fiel parceiro. Recentemente faleceu um dos maiores contrabaixistas do Jazz, Gary Peacock, o eterno parceiro de Keith Jarrett  e de Jack DeJohnette, mas não podemos negar que este estilo musical  é pródigo em grandes especialistas no instrumento, como o insuperável Charles Mingus, o mítico Jaco Pastorius, o lendário Ron Carter e lá nos tempos em que os dinossauros dominavam a Terra,  o genial Paul Chambers.  Espero que Misha venha a escrever o seu nome na história do Jazz, ao lado destes grandes músicos do passado.

Dream Circus – Misha Mullov-Abbado

01. Some Things Are Just So Simple
02. Equinox
03. Little Vision
04. The Infamous Grouse
05. Seven Colours
06. Stillness
07. Little Astronaut
08. The Bear
09. Blue Deer

Misha Mullov-Abbado – double bass
James Davison – trumpet & flugelhorn
Matthew Herd – alto saxophone
Sam Rapley – tenor saxophone
Liam Dunachie – piano & Hammond organ*
Scott Chapman – drums

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.: interlúdio :. Eumir Deodato: Inútil Paisagem

.: interlúdio :. Eumir Deodato: Inútil Paisagem

Pena que parte da música brasileira dos anos 60 não manteve o apuro técnico das gravações de Eumir Deodato. este disco é  um milagre e, se tivéssemos mais improvisações, poderia ter sido lançado ontem. Mas é de 1964.

Deixo aqui o comentário de Carlos Calado — escrito em 2014 — acerca de Inútil Paisagem:

Naquele ano de 1964, muitos músicos brasileiros devem ter sentido ao menos um pouco de inveja do jovem pianista e arranjador Eumir Deodato. Seu disco de estreia – “Inútil Paisagem”, gravado pelo selo Forma, com arranjos orquestrais que ele escrevera para 12 canções de Tom Jobim – trazia na contracapa um texto de apresentação cheio de elogios, assinado por ninguém menos que o próprio Jobim.

“É incrível que um rapaz de 22 anos possa escrever para orquestra como Eumir escreve. Não basta ser musical, talentoso, habilidoso, sabido ou sábio. Escrever para orquestra é coisa que envolve toda uma técnica, experiência, um passado de erros passados a limpo, e eu não creio que Eumir tenha tido, com 22 anos, tempo para isso”, escreveu Jobim, compositor e músico exigente, que não costumava sair distribuindo elogios fáceis. O texto também incluía mais um de seus achados poéticos: “Meu Deus, quanta coisa Deus deu a Deodato!”

Passados cinquenta anos, Deodato ainda demonstra um certo embaraço ao se lembrar desse episódio, mas o motivo não tem nada a ver com música. “Quando alguém me falou sobre aquele elogio do Tom, tomei um susto. Sou um cara tão distraído que, para falar a verdade, ainda não tinha lido a contracapa do meu disco”, confessa o carioca, nascido no bairro do Catete, que vive nos Estados Unidos desde o final dos anos 1960.

Deodato não se recorda exatamente de quando e como conheceu Jobim. Lembra-se de tê-lo visto de longe algumas vezes, no início da década de 1960, nas animadas reuniões musicais promovidas pela família do letrista Lula Freire, em seu apartamento, no bairro de Copacabana, no Rio. Nesses encontros, frequentados por músicos da bossa nova e apreciadores do cool jazz, era comum se encontrar o violonista Baden Powell, o pianista Luiz Eça ou o flautista Bebeto Castilho, entre outros.

“O Tom já era o mais cobiçado de todos, naquela época. Ele já tinha várias músicas gravadas com sucesso, como ‘Teresa da Praia’ ou as parcerias com Dolores Duran, que eram lindas. Sempre havia muita gente em volta dele, naquelas reuniões de bossa nova. E eu era um cara muito calado, tímido. Demorou para que eu tivesse a oportunidade de conversar com ele”, recorda.

Mesmo admirando as canções e a musicalidade de Jobim, Deodato não considera que tenha sido influenciado diretamente por ele, como pianista e compositor. “Trabalhando com o Tom, eu fui descobrindo o que ele considerava mais importante na música. Ele valorizava muito as melodias – era um ótimo arquiteto de linhas melódicas. Tom também era um grande fã do Villa-Lobos. Muitas das coisas mais clássicas que fez eram influenciadas pelas ideias do Villa-Lobos”, analisa.

A ligação dos dois se consolidou quando Deodato foi convidado por Jobim a fazer arranjos para os temas instrumentais e canções que compusera para o filme “Garota de Ipanema”, de Leon Hirszman, lançado em 1967. Clássicos da obra jobiniana nasceram nesse filme ainda pouco conhecido, como o instrumental “Surfboard”, a canção “Ela É Carioca” e, claro, o megassucesso “Garota de Ipanema”, com letras de Vinicius de Moraes.

“O Tom me deu muita força. Depois desse filme eu trabalhei muito com ele”, credita Deodato, ao relembrar outra parceria da dupla para o cinema: a trilha sonora do filme “Os Aventureiros” (“The Adventurers”), do britânico Lewis Gilbert, com a bela norte-americana Candice Bergen, no elenco. Canções populares de Jobim, como “Olha, Maria” (com letra de Vinicius de Moraes e Chico Buarque) e a valsa “Chovendo na Roseira”, nasceram como temas instrumentais para essa trilha, ainda intitulados “Amparo” e “Children’s Games”, respectivamente.

Deodato se lembra de que, quando ele e Jobim chegaram a Londres, em 1969, ainda não havia uma edição final do filme para que pudessem iniciar o trabalho. “O Tom ia escrever todos os temas e eu tinha que fazer as orquestrações. Enquanto a edição não ficou pronta, passamos dias sentados na King’s Road, olhando as garotas de minissaia, passando. Ficávamos discutindo o que faríamos com as músicas, tomando aquela cerveja morna que os ingleses servem nos bares”, recorda.

Para muitos críticos e fãs de Jobim, seus discos “Tide” e “Stone Flower” – ambos lançados em 1970, com produção do norte-americano Creed Taylor, por selos diferentes – estão entre os melhores produtos de sua parceria com Deodato. “Naquela época, Creed trabalhava para a gravadora A&M, mas tinha criado seu próprio selo, o CTI. Então pegou a verba da A&M para gravar o disco do Tom e fez dois. E ainda escolheu as melhores faixas para o ‘Stone Flower’, que saiu pelo selo dele”, comenta o arranjador.

Poucos anos depois, já como artista do elenco da gravadora de Taylor, Deodato teve uma surpresa tão grande quanto a provocada pelos elogios de Jobim aos arranjos de seu primeiro disco. O arranjo “crossover” que criou para o poema sinfônico “Also Sprach Zarathustra” (composição de Richard Strauss, que havia se tornado bastante popular, na época, ao integrar a trilha sonora do filme “2001, Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick) chegou ao topo das paradas de sucesso, em 1973.

“Foi um arranjo praticamente feito no estúdio, ao vivo, que me deixou quase morto”, diverte-se Deodato, contando que levou para a sessão de gravação apenas um esboço da introdução desse arranjo. ““Eu estava sem ideias, mas, na noite anterior, pouco antes de dormir, lembrei de um baiãozinho que tinha anotado em um caderno. Como a música do Strauss e esse tema eram compostas em dó, achei que valia a pena tentar. Deu certo”.

Desde os anos 1970, o requisitado Deodato atuou em centenas de outros projetos e gravações, com artistas de diversos estilos e gerações: do guitarrista de jazz Wes Montgomery e da banda funk Kool and the Gang às cantoras Gal Costa e Björk. Já no ano passado, reencontrou a obra de Jobim, ao escrever os arranjos para o álbum que a cantora Vanessa da Mata dedicou ao grande maestro da bossa.

“Só fizemos algumas mudanças de ritmo. Depois de trabalhar tantos anos com o Tom, sei que que ele tinha pavor de que trocassem a harmonia de suas composições”, comenta o arranjador, consciente de que tentar fazer a música de Jobim soar melhor ou mesmo mais atual, sem comprometer sua identidade, seria uma tarefa inglória.

Eumir Deodato: Inútil Paisagem

1 Insensatez (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
2 Corcovado (Tom Jobim)
3 Só Tinha de Ser Com Você (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira)
4 O Morro Não Tem Vez (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
5 Vivo Sonhando (Tom Jobim)
6 Ela É Carioca (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
7 O Amor Em Paz (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
8 Garota de Ipanema (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
9 Inútil Paisagem (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira)
10 Samba de Uma Nota Só (Tom Jobim/Newton Mendonça)
11 Meditação (Tom Jobim/Newton Mendonça)
12 Samba do Avião (Tom Jobim)

Eumir Deodato: Piano
Juquinha: Bateria
Luis Marinho: Baixo
Roberto Menescal: Violão
Oscar Castro Neves: Violão
Aurino: Sax barítono
Meirelles: Sax tenor, Flauta
Orlando: Sax tenor
Paulo Moura: Sax alto
Édson Maciel: Trombone
Copinha: Flauta
Hamilton: Pistom
Irany Pinto e Sua Turma: Cordas
Arranjos e Direção: Eumir Deodato
Produção e Direção Artística: Roberto Quartin

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O vinil

PQP

.: interlúdio :. Charles Mingus: Oh Yeah e Entrevista (The Complete Atlantic Recordings – CDs 5 e 6 de 6)

.: interlúdio :. Charles Mingus: Oh Yeah e Entrevista (The Complete Atlantic Recordings – CDs 5 e 6 de 6)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Oh Yeah é um álbum de estúdio lançado em abril de 1962 pela Atlantic Records. Foi gravado em 1961 e apresenta o líder cantando em várias faixas e tocando piano em todas. Uma obra-prima. Aqui temos um tema, Ecclusiastics, que é tão comovente e atinge tantos acordes e tons que causam arrepios na minha espinha toda vez que ouço. Coisa de louco. Mas há mais: a lenta e descontraída Oh Lord Don’t Let Them Drop That Atomic Bomb On Me tem a vibração da banda de jazz dos velhos tempos, muito embriagada e que certamente lhe trará alegria. Bem, nada como a felicíssima Eat That Chicken com toda a banda cantando, tocando e sendo exuberante. O CD final traz uma entrevista de Mingus conduzida por Nesuhi Ertegün, que foi descoberta em 1987. A entrevista tem  77 minutos e aparece como um disco bônus do box que ora mostramos. Vocês podem comer tranquilamente esta galinha, oh yeah!

A entrevista que está no CD 6 dura 76 minutos e jamais é arrastada ou chata. Vale muito a audição.

.: interlúdio :. Charles Mingus: Oh Yeah e Entrevista (The Complete Atlantic Recordings – CD 5 e 6 de 6)

CD 5
01. Devil Woman (Charles Mingus) 9:38
02. Ecclusiastics (Charles Mingus) 6:55
03. “Old” Blues For Walt’s Torin (Mingus) 8:59
04. Peggy’s Blue Skylight (Charles Mingus) 9:42
05. Hog Callin’ Blues (Charles Mingus) 7:26
06. Oh Lord Don’t Let Them Drop That Atomic Bomb On Me (Charles Mingus) 5:38
07. Passions Of A Man (Charles Mingus) 4:52
08. Wham Bam Thank You Ma’am (Mingus) 4:41
09. Invisible Lady (Charles Mingus) 4:49
10. Eat That Chicken (Charles Mingus) 4:36

Total time: 67:34 min.

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CD 6
01. 1 Charles Mingus interviewed by Nesuhi Ertegun

Total time: 75:00 min. aprox.

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Sources:
CD 5: 1,2,5-8,10 From “Oh Yeah” (Atlantic 1377)
CD 6: Previously unissued extended interview. Edited version originally appeared on CD reissue of “Oh Yeah” (Atlantic 90667-2, 1988)

Personnel on CD 5:
Charles Mingus (p, vcl), Roland Kirk (ts, fl, siren, manzello, strich), Booker Ervin (ts), Jimmy Knepper (tb), Doug Watkins (b), Dannie Richmond (d).
Recorded on November 6, 1961 at Atlantic Studios, New York City

CD 6 recorded late 1961/early 1962 Nesuhi Ertegun’s office, Atlantic Records, New York

Charles Mingus (1922-1979)

PQP

.: interlúdio :. Charles Mingus: Mingus At Antibes (The Complete Atlantic Recordings – CD 4 de 6)

.: interlúdio :. Charles Mingus: Mingus At Antibes (The Complete Atlantic Recordings – CD 4 de 6)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Este espetacular Mingus at Antibes foi originalmente lançado em 1974 no Japão pela BYG Records sob o título Charles Mingus Live With Eric Dolphy. Foi gravado em uma apresentação ao vivo em 1960 no festival Jazz à Juan em Juan-les-Pins e foi relançado pela Atlantic Records de forma mais completa –como um álbum duplo — com o título Mingus In Antibes nos Estados Unidos em 1976.

Dolphy e Mingus pareciam ter nascido um para o outro. Fazem um jazz vanguardista, alegre e agressivo, criativo ao extremo. Nestes dias em que se fala tanto em racismo e onde pessoas brancas — que, forçadas ou não, são imigrantes como os negros — deixam escancarados seus preconceitos, gostaria de lembrar como morreu o genial saxofonista e claronista Eric Dolphy, um negro do qual brotava os citados sons alegres, vanguardistas, criativos e de desconformidade. Foi um grande artista, como vocês podem ouvir neste CD.

Na tarde de 18 de Junho de 1964, Dolphy caiu nas ruas de Berlim e foi levado a um hospital. Os enfermeiros, que não sabiam que ele era diabético, pensaram que ele havia tido uma overdose e deixaram-no num leito até que passasse o efeito das “drogas”. E ele morreu aos 36 anos… Foi um enorme artista.
Eric Dolphy (1928-1964)

O álbum captura uma incrível performance e apresenta alguns dos músicos regulares de Mingus em um quinteto geralmente sem piano, embora a banda seja acompanhada por Bud Powell em I’ll Remember April, e o próprio Mingus toca piano em Wednesday Night Prayer Meeting e Better Git Hit In Your Soul.

.: interlúdio :. Charles Mingus: Mingus At Antibes (The Complete Atlantic Recordings – CD 4 de 6)

01. Prayer For Passive Resistance (Charles Mingus) 8:06
02. Better Git Hit In Your Soul (Charles Mingus) 11:36
03. Wednesday Night Prayer Meeting (Charles Mingus) 12:06
04. Folk Forms I (Charles Mingus) 11:08
05. What Love? (Charles Mingus) 13:34
06. I’ll Remember April (DePaul, Johnston) 13:39

Source: From “Mingus At Antibes” (Atlantic 2-3001)

Charles Mingus (b & p on #2,3), Eric Dolphy (as, b-cl on #5), Booker Ervin (ts on #1-5), Ted Curson (tp), Bud Powell (p only on #6), Dannie Richmond (d).
Recorded live on July 13, 1960 at the Antibes Jazz Festival, Juan-les-Pins, France

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Mingus chegando ao PQP Bach Jazz Golden Saloon

PQP

.: interlúdio :. Clark Terry: Clark After Dark – The Ballad Album, 1977

.: interlúdio :. Clark Terry: Clark After Dark – The Ballad Album, 1977

Se você odeia a beleza, evite este disco. Se odeia especialmente jazz, baladas, interpretadas com suma maestria, mantenha o máximo de distância dessas faixas, pois lhe farão adoecer de tanto desagrado. Terá urticária nas trompas auditivas, que se espalhará pela massa cinzenta deixando-a ‘Blue’. Estes sons certamente o levarão a bater as botas, tal será o seu efeito deletério no seu organismo impermeável ao fantasticamente belo. Foi o nosso formidável Lamartine Babo que teria determinado para seu epitáfio a seguinte sentença: “Aqui jaz um compositor que nunca gostou de Jazz”. Mas ao nosso Lamartine tudo se perdoa, ele que nos legou tantas maravilhas e anedotas que merecem uma postagem à parte. Outro renomado que abominava e atacava o jazz, o filósofo Adorno, todavia, se eu mesmo tivesse sido apresentado ao que lhe apresentaram como jazz em seu tempo e lugar, abominaria da mesma forma: bandas germânicas macaqueando o chamado Dixieland.

Clark & Justin

Em 2014 foi filmado um excelente, intenso e comovente documentário sobre o trompetista Clark Terry, chamado “Keep On Keepin’ On”, de Allan Hicks. Nele o músico se expôs com uma coragem e humanidade sem igual, junto ao jovem pianista cego Justin Kauflin (1986). O filme conta, a partir da amizade dos dois, a trajetória do mestre e os primeiros passos do discípulo rumo ao seu estrelato no cenário jazzístico. Em um momento dificílimo para Terry, idoso, cego, massacrado pela idade e pela diabetes. Ao longo do filme são celebrados seus 91 e 92 anos. São rememorados seu nascimento em St. Louis, em 1920. Seu ingresso na grande orquestra de Count Basie, em seguida na também monumental orquestra de Duke Ellington. Sua amizade de décadas com Quincy Jones e apresentações com sua orquestra.

Teacher Clark

“Keep On Keepin’ On” traz algo até mais rico e inusitado do que a trajetória de um eminente músico. Nos mostra Clark Terry como um pioneiro na educação do jazz. Seu primeiro aluno foi o próprio Quincy, trompetista de 12 anos, “tão magro que poderia montar um galo”, nas palavras do próprio Clark. Este, ao longo do documentário, às vezes lutando para manter o otimismo, que é a característica dominante de seu temperamento. Grandes nomes do jazz visitam a ele e sua esposa Gwen em sua casa, em Pine Bluff, Arkansas, e os acompanham até o hospital quando sua saúde piora. É um dos maiores documentos sobre o jazz e sobre um músico já realizados. Infelizmente o tivemos por breve tempo na Netflix, que prima por retirar do ar o que há de melhor e entulhar séries idiotas, com raras exceções.

Clark Terry é um dos gênios do trompete no jazz. Um panteão sagrado ocupado por totens altíssimos, que remonta ao primeiro e lendário Buddy Bolden – que nada teria gravado ou se perdeu. O hierático Louis Armstrong, ladeado por Joe King Oliver e Bix Beiderbecke; Roy Eldridge, Dizzy Gillespie, Miles Davis; Freddie Hubbard, Clifford Brown, Booker Little; Chet Baker, Tom Harrell, Wynton Marsalis; e não poderia deixar de citar nosso ‘queridão’, Marcio Montarroyos. Clark tem a sorte de possuir aquele dom de ser reconhecido nas primeiras duas notas. Seu feeling marcante, seu swing, humor e qualidade sonora o demarcam. Em uma entrevista a uma revista de Jazz francesa na década de 70, Terry falou de sua mágoa em não ter sido também um trompetista “erudito”. Ele, que assim como outros colegas transitou pelo box por breve tempo (a exemplo de Kenny Dorham e Miles Davis – que flertou com o box e tomou um jab de Hermeto Pascoal, mas isso conto depois). Clark diz que em seu tempo sequer poderia passar na calçada de um conservatório, tal era o racismo vigente. Lembrando que também a suprema Nina Simone sofreu a mesma proscrição. Aqui entre nós, se Clark, com a habilidade que possuía por dom, tivesse se dedicado à música chamada “erudita”, teríamos como maiores referenciais nesta área, o seu nome e o do inefável Maurice André. Se passariam umas décadas e muito sacrifício para que fosse possível um Wynton Marsalis, bamba em ambos os flancos, aceito em seu contexto, e dali para o mundo.

No cardápio deste fantástico disco, o que há de ‘melhor impossível’. Abre com o clássico de Eroll Garner: Misty. Seguindo-se Nature Boy, lindíssimo tema imortalizado por imortais como Nat King Cole e tantos outros. Tema composto por um precursor do movimento hippie nos anos 40, chamado Eben Ahbez, que vivia e fumava seu boró debaixo daquele famoso letreiro de Hollywood. Certo dia, tocado pela inspiração, concebeu sua cantiga, desceu da montanha para os estúdios e ficou podre de rico. Se bem lembro, foi trilha de um estranho filme chamado O Menino dos Cabelos Verdes, ou algo assim. Na terceira faixa, Georgia! Ela mesma, on My Mind, celebérrima canção que nos faz lembrar Ray Charles, composta pelo sujeito que seria o tipo ideal para encarnar James Bond, conforme o próprio Ian Fleming: Hoagy Charmichael. Todas as outras faixas são belas e Clark é um daqueles Midas cujo toque a tudo transforma em ouro. Acompanhado por uma super orquestra, com arranjos e regência de Peter Herbolzheimer.

E por falar em beleza, numa entrevista, o presente mago do trompete Clark Terry, nos diz:

“Dizem que podemos sentir através da música das pessoas. Tem algo de verdadeiro nisso, porque sei que alguns homens são perversos, nervosos e maus; e soam ser perversos, nervosos e maus. Eu não gostaria de soar perverso, nervoso e mau. Gosto de soar tranquilo e alegre; e até, em alguns casos, belo! Mesmo sendo um homem velho e feio, gosto de pensar que ao menos minha alma é bela.”

Oh, Mr. Terry, vossa mercê é um Adônis, um príncipe de beleza. E este seu disco é um dos maiores espetáculos do Jazz. Conforme ele mesmo disse, seu preferido.

Dedico esta postagem ao grande amigo e padrinho de inúmeros trompetistas, da Bahia e de outras plagas, Sergio Benutti.

Clark After Dark – The Ballad Album, 1977

1 – Misty – Eroll Garner
2 – Nature Boy – Eben Ahdez
3 – Georgia on My Mind – Hoagy Charmichael
4 – November Song – Mike Hennessey
5 – Clark After Dark – Herbolzheimer e Terry
6 – Willow Weep for Me – Ann Ronell
7 – Yesterdays – Jerome Kern
8 – Emily – Johnny Mercer
9 – Angel Eyes – Matt Dennis
10 – Girl Talk – Bobby Troup

Clark Terry – Flugelhorn e Trompete

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Clark Terry, melhor impossível.

Wellbach

.: interlúdio :. Charles Mingus: Blues & Roots (The Complete Atlantic Recordings – CD 3 de 6)

.: interlúdio :. Charles Mingus: Blues & Roots (The Complete Atlantic Recordings – CD 3 de 6)

IM-PER-DI-VEL !!!

Blues & Roots é um álbum de Charles Mingus, gravado em 1959 e lançado em 1960. Foi reeditado em CD, pela Atlantic Records e Rhino .

Mingus explicou o nascimento desse disco nas notas do álbum:

“Esse disco é incomum, apresentando apenas uma parte do meu mundo musical, o blues. Há um ano, Nesuhi Ertegün sugeriu que eu gravasse um álbum inteiro de blues no estilo de Haitian Fight Song (Atlantic LP 1260), porque algumas pessoas, principalmente os críticos, estavam dizendo que eu não balançava o suficiente. Nesuhi queria dar a eles uma enxurrada de soul music: adoração, blues, swinging, earthy. Eu pensei sobre isso. Nasci no ritmo, bati palmas na igreja quando criança, mas cresci e gosto de fazer outras coisas além de dançar. Mas como o blues pode fazer mais do que apenas dar a batida, concordei e aí está.”

.: interlúdio :. Charles Mingus: Blues And Roots (The Complete Atlantic Recordings – CD 3 de 6)

CD 3
01. E’s Flat Ah’s Flat Too (Charles Mingus) 6:37
02. My Jelly Roll Sou (Charles Mingus) 6:47
03. Tensions (Charles Mingus) 6:27
04. Moanin’ (Charles Mingus) 7:57
05. Cryin’ Blues (Charles Mingus) 4:58
06. Wednesday Night Prayer Meeting (Charles Mingus) 5:42
07. E’s Flat Ah’s Flat Too (Alternate Take) 7:16
08. My Jelly Roll Soul (Alternate Take) 11:51
09. Tensions (Alternate Take) 5:30
10. Wednesday Night Prayer Meeting (Alt.) 6:56

Total time: 70:20 min

Sources:
CD 3: 1-6 From “Blues & Roots” (Atlantic 1305)
CD 3: 7-10 previosly unissued.

Personnel on CD 3:
Charles Mingus (b), John Handy (as), Jackie McLean (as), Booker Ervin (ts), Pepper Adams (bs), Willie Dennis, Jimmy Knepper (tb), Horace Parlan (p, except on #1 & 7), Mal Waldron (p, only on #1 & 7).
Recorded on February 4, 1959 at Atlantic Studios, New York City

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PQP

.: interlúdio :. Centenário de Bird – Charlie Parker with Strings

Se vivo estivesse, Charles Parker, Jr. teria feito cem anos ontem.

Reconheço o ridículo do “se vivo estivesse” – pois, ainda que a heroína e a bebida não o matassem aos meros trinta e quatro anos, e de tal maneira que o legista pensou que ele tivesse sessenta, sua pobre carcaça não iria mesmo tão longe. Todavia, sempre o senti assim mesmo, tremendamente vivo. Cada vez que escuto algum de seus álbuns, é como se aquele som inimitável estivesse a ser criado ali do meu lado, naquele exato momento, com todo olor de goró e cigarros. Por outro lado, o impacto do meteoro Bird foi tão avassalador que é difícil imaginar um mundo sem ele, de modo que me parece estranho que ele tenha partido meros vinte anos antes de eu, que me acho tão garoto, aqui chegar para escutá-lo. Poucas pessoas foram tão influentes para a Música – quase nenhuma, com certeza, numa trajetória tão fulgurantemente breve – de modo que, sim: Bird está muito vivo.

E por achá-lo tão vivo que quase caí da cama ontem ao perceber, entre espessas remelas, que se passara quase todo o 29 de agosto e eu esquecera de prestar a Bird a homenagem que, há já um bom tempo, eu lhe prometera fazer pelo centenário. Mais ainda: não tinha a menor ideia de qual gravação eu lhes alcançaria do inestimável gênio. Enquanto pensava no que escrever, a abertura de “Just Friends”, que voltava sem parar a meus esquecidos miolos, resolveu a questão: aquele solo frenético e fluido a irromper após uma açucarada introdução das cordas sempre calou fundo cá comigo, e Charlie Parker with Strings foi a gravação que fundiu meu ouvido granítico e o convenceu a derreter-se com jazz.

Muitos fãs de Parker rechaçam With Strings como uma concessão comercialoide, feita justamente para ouvintes que, como eu outrora, jamais cogitaram adquirir uma gravação do gênero. Ainda assim, acho que ela se presta muito bem à homenagem. Aquelas sessões de gravação em New York City, somadas a algumas outras tomadas ao vivo, foram a realização dum sonho longamente acalentado por Bird, que muito desejava tocar com acompanhamento de cordas – e seu sax contralto, como é óbvio para qualquer um que aqui o ouça, ficou muito à vontade para decolar entre seus companheiros engomadinhos.

Com as devidas desculpas ao ídolo pelo lapso de esquecer seu centenário, e aos seus fãs, por uma escolha de repertório que talvez não os agrade, alcanço-lhes Charlie Parker with Strings com a certeza, reavivada enquanto a escuto pela trocentésima vez, de que Bird não nos deixou em 1955: outros cem anos se passarão, e talvez mais cem vezes cem, e seu visionário legado ainda não terá achado um ouvido capaz de lhe ser contemporâneo.

CHARLIE PARKER WITH STRINGS

Charlie Parker with Strings (primeiro LP, Mercury MG-35010)

01 – Just Friends (John Klenner, Sam M. Lewis)
02 – Everything Happens to Me (Tom Adair, Matt Dennis)
03 – April in Paris (Vernon Duke, E.Y. Harburg)
04 – Summertime (George Gershwin, Ira Gershwin, DuBose Heyward)
05 – I Didn’t Know What Time It Was (Richard Rodgers, Lorenz Hart)
06 – If I Should Lose You (Ralph Rainger, Leo Robin)

Charlie Parker, sax contralto
Mitch Miller, oboé
Bronislaw Gimpel, Max Hollander e Milton Lomask, violinos
Frank Brieff, viola
Frank Miller, violoncelo
Myor Rosen, harpa
Stan Freeman, piano
Ray Brown, contrabaixo
Buddy Rich, bateria
Jimmy Carroll, arranjos e regência
Gravadas em estúdio em 30 de novembro de 1949

Charlie Parker with Strings (segundo LP, Mercury MGC-109)

07 – Dancing in the Dark (Arthur Schwartz, Howard Dietz)
08 – Out of Nowhere (Johnny Green, Edward Heyman)
09 – Laura” (David Raksin, Mercer)
10 – East of the Sun (and West of the Moon) (Brooks Bowman)
11  – They Can’t Take That Away from Me” (George & Ira Gershwin)
12 – Easy to Love (Cole Porter)
13 – I’m in the Mood for Love (Jimmy McHugh, Dorothy Fields)
14 – I’ll Remember April (Gene de Paul, Pat Johnston, Don Raye)

Charlie Parker, sax contralto
Joseph Singer, trompa
Eddie Brown, oboé
Sam Caplan, Howard Kay, Harry Melnikoff, Sam Rand e Zelly Smirnoff, violinos
Isadore Zir, viola
Maurice Brown, violoncelo
Verley Mills, harpa
Bernie Leighton, piano
Ray Brown, contrabaixo
Buddy Rich, bateria
Xilofone e tuba – artistas desconhecidos
Joe Lipman, arranjos e regência
(gravações em estúdio em 5 de julho de 1950)

Faixas-bônus:

15 – Temptation (Nacio Herb Brown, Arthur Freed)
16 – Autumn in New York (Vernon Duke)
17 – Lover (Richard Rodgers, Lorenz Hart)
18 – Stella by Starlight (Victor Young, Ned Washington)

Charlie Parker, sax contralto
Al Porcino, Chris Griffin e Bernie Privin, trompetes
Will Bradley e Bill Harris, trombones
Murray Williams e Toots Mondello, sax contralto
Hank Ross, sax tenor
Stan Webb, sax barítono
Artie Drelinger, oboé
Sam Caplan, Sylvan Shulman (provavelmente) e Jack Zayde, violinos
Verley Mills, harpa
Lou Stein, piano
Bob Haggart, contrabaixo
Don Lamond, drums
Madeiras, violinos, violas e violoncelo – artistas desconhecidos
Joe Lipman, arranjos e regência
Gravadas em estúdio em janeiro de 1952

19 – Repetition (Hefti)

Charlie Parker, sax contralto
Vinnie Jacobs, trompa
Al Porcino, Doug Mettome e Ray Wetzel, trompetes
Bill Harris e Bart Varsalona, trombones
John LaPorta, clarinete
Murray Williams e Sonny Salad, sax contralto
Pete Mondello e Flip Phillips, sax tenor
Manny Albam, sax barítono
Sam Caplan, Zelly Smirnoff, Gene Orloff, Manny Fiddler, Sid Harris e Harry Katzmann, violinos
Nat Nathanson e Fred Ruzilla, violas
Joe Benaventi, violoncelo
Tony Aless, piano
Curly Russell, contrabaixo
Shelly Manne, bateria
Diego Iborra, percussão
Neal Hefti, arranjo e regência
Gravado ao vivo no Carnegie Hall, New York City, em dezembro de 1947

20 – What Is This Thing Called Love? (Porter)
21 – April in Paris (Duke, Harburg)
22 – Repetition (Neal Hefti)
23 – You’d Be So Easy to Love (Porter)
24 – Rocker (Gerry Mulligan)

Charlie Parker, sax alto
Tommy Mace, oboé
Sam Caplan, Ted Blume e Stan Karpenia, violinos
Dave Uchitel, viola
Violoncelista desconhecido
Wallace McManus, harpa
Al Haig, piano
Tommy Potter, contrabaixo
Roy Haynes, bateria
Gravadas ao vivo do Carnegie Hall, New York City, em 17 de setembro de 1950

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Túmulo de Charlie Parker em Kansas City, Missouri. Bird foi sepultado na cidade em que cresceu, homônima àquela em que nasceu, que fica do outro lado do rio Missouri, no estado do Kansas. O enterro cristão na cidade natal ocorreu aparentemente contra sua vontade – ele queria ser enterrado sem qualquer pompa em Long Island, ao lado da filha Pree, que morreu aos três anos. Notem que o instrumento na lápide, além de estar invertido, não é o sax contralto com que Bird se imortalizou, e sim um sax tenor (foto do autor)Vassily

.: interlúdio :. Charles Mingus: The Clown & Tonight At Noon (The Complete Atlantic Recordings – CD 2 de 6)

.: interlúdio :. Charles Mingus: The Clown & Tonight At Noon (The Complete Atlantic Recordings – CD 2 de 6)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

The Clown é um álbum de Charles Mingus lançado em setembro de 1957 pela Atlantic Records. É o seguimento de Pithecanthropus Erectus de 1956 e apresenta narração improvisada de Jean Shepherd na música título do disco. Todas as faixas foram gravadas em 12 de março de 1957, exceto The Clown, gravada em 13 de fevereiro do mesmo ano.

De acordo com as notas principais de Nat Hentoff, Mingus explicou porque escolheu essas quatro faixas para o álbum: “Eu selecionei essas quatro sobre outras duas que eram mais complexas, porque alguns caras estavam dizendo que eu não balançava. Então eu fez alguns que fizeram eles balançar. Este álbum também tem os primeiros blues que eu já gravei.”

Os trechos a seguir vêm das notas originais e são declarações do próprio Mingus .

Sobre Haitian Fight Song, Mingus disse: “Eu diria que essa música tem um sentimento folclórico contemporâneo. Meu solo é profundamente concentrado. Eu não posso tocar direito a menos que esteja pensando em preconceito, ódio e perseguição. E em como isso é injusto. Há tristeza e choro, mas também determinação. E geralmente termina com o meu sentimento: “Eu disse a eles! Espero que alguém tenha me ouvido.”

Blue Cee é um blues padrão: “Eu ouvi um Basie nele e também um sentimento de igreja “

Reincarnation of a Lovebird é uma composição dedicada ao saxofonista bebop Charlie Parker, conhecido como “Bird”. “Eu não diria que me propus a escrever um artigo sobre Bird. […] De repente, percebi que era Bird. […] De certa forma, o trabalho não é bem como ele. É construído em longas temas e a maioria de suas linhas melódicas eram curtas. Mas é meu sentimento sobre Bird. Eu senti vontade de chorar quando escrevi.”

The Clown conta a história de um palhaço “que tentou agradar as pessoas como a maioria dos músicos de jazz, mas de quem ninguém gostava até ele morrer. Minha versão da história terminou com ele explodindo o cérebro com as pessoas rindo e finalmente sendo satisfeitas porque pensaram que era parte do show. Gostei da maneira como Jean mudou o final; deixa mais a questão a cargo do ouvinte.”

Tonight at Noon foi lançado pelo Atlantic em 1964. Compila faixas gravadas em duas sessões — as sessões de 1957 do álbum intitulado The Clown e as sessões de 1961 de Oh Yeah . Várias faixas foram adicionadas quando dos relançamentos em CD. A crítica do Allmusic de afrimou: “Enquanto a sessão anterior mostra Mingus indo para o blues através de harmonias europeias e abordagens melódicas com tempos de bop (especialmente na faixa-título), a última sessão com sua elegância noturna e irregularidades surgem mais como algum tipo de exercício na vanguarda de Ellington, as harmonias sofisticadas que dão lugar a marchas lânguidas e blues tingidos de evangelho… Apesar do fato de ser uma colcha de retalhos, ainda há muita magia em Tonight at Noon”. O poeta britânico Adrian Henri escreveu o poema Tonight at Noon que dedicou a Charles Mingus e à banda de Liverpool Clayton Squares.

.: interlúdio :. Charles Mingus: The Clown & Tonight At Noon (The Complete Atlantic Recordings – CD 2 de 6)

01. The Clown (Charles Mingus) 12:29
02. Passions Of A Woman Loved (Mingus) 9:43
03. Blue Cee (Charles Mingus) 7:48
04. Tonight At Noon (Charles Mingus) 5:58
05. Reincarnation Of A Lovebird (Mingus) 8:31
06. Haitian Fight Song (Charles Mingus) 11:57

Total time: 56:21 min

Sources:
CD 2: 1,3,5,6 From “The Clown” (Atlantic 1260)
CD 2: 2,4 From “Tonight At Noon” (Atlantic 1416)

Personnel on CD 2:
Charles Mingus (b), Shafi Hadi (Curtis Porter) (ts), Jimmy Knepper (tb), Wade Legge (p), Dannie Richmond (d). Jean Shepherd (improvised narration on #1).
Track #1 recorded on February 13, 1957 at Audio-Video Studios, New York City. Rest of tracks recorded on March 12, 1957 at Atlantic Studios, New York City

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Mingus atento à banda

PQP

.: interlúdio :. Charles Mingus: Pithecanthropus Erectus (The Complete Atlantic Recordings – CD 1 de 6)

.: interlúdio :. Charles Mingus: Pithecanthropus Erectus (The Complete Atlantic Recordings – CD 1 de 6)

Pithecanthropus Erectus (1956) é um álbum do compositor e baixista de jazz Charles Mingus. Mingus observou que este foi o primeiro álbum em que ensinou os arranjos para seus músicos conversando e cantando, em vez de colocar os acordes e arranjos por escrito. De acordo com as notas do disco original, a música-título é um poema de dez minutos, representando a ascensão do homem desde suas raízes hominídeas (Pithecanthropus erectus) até uma eventual queda devido a “seu próprio fracasso em perceber a inevitável emancipação daqueles que ele procura escravizar e sua ganância ao tentar manter uma falsa segurança”. O Penguin Guide to Jazz atribuiu a ele uma classificação máxima de quatro estrelas e a adicionou à sua coleção principal, descrevendo-o como “Um dos melhores álbuns de jazz modernos”. A mesma publicação analisa em partes a primeira faixa, que é descrita como “absolutamente crucial para o desenvolvimento da improvisação coletiva livre da década seguinte”.

Pithecanthropus Erectus

01. Pithecanthropus Erectus (Charles Mingus) 10:33
02. A Foggy Day (George Gershwin) 7:47
03. Love Chant (Charles Mingus) 14:56
04. Profile Of Jackie (Charles Mingus) 3:07
05. Laura (David Raskin) 4:52
06. When Your Lover Has Gone (Einar Swan) 2:27
07. Just One Of Those Things (Cole Porter) 6:06
08. Blue Greens (Teddy Charles) 11:42

Total time: 61:38 min.

Sources:
CD 1: 1-5 From “Pithecanthropus Erectus” (Atlantic 1237)
CD 1: 5-8 From Teddy Charles’ “Word From Bird” (Atlantic 1274)

Personnel on CD 1:
Tracks #1-5: Charles Mingus (b), Jackie McLean (as), J.R. Monterose (ts), Mal Waldron (p), Willie Jones (d). Recorded at Audio-Video Studios, New York, on January 30, 1956

Tracks #5-8: Teddy Charles (vib), Hall Overton (p), Charles Mingus (b), Ed Shaughnessy (d). Recorded on November 12, 1956 in New York City

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PQP

.: interlúdio :. Conjunto Som 4 – 1965

.: interlúdio :. Conjunto Som 4 – 1965

Um disco saboroso, com sabor brasileiríssimo. Para apresentá-lo deveria começar falando de coisas bem brasileiras, mas de futebol nada entendo, exceto que a bola é redonda e que deveriam se decidir pra que lado correr, e não ficarem pra lá e pra cá (que não me amaldiçoe o compadre mestre Milton Ribeiro, afeiçoado ao nobre esporte). De café não sou especialista, embora ame café. Só sei que o nosso café brasileiro é inigualável, imbatível. Já me deram cafés de outras plagas e nenhum se compara ao mais modesto dos nossos torrados. Feijoada, mocotó, moqueca e farofa! Meu Santo Onófre! Só mesmo invocando Vinícius na causa:

Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem maior aprouver fazer dieta.

Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.

Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro: dêem-me feijão com arroz

E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.

Eis tudo. Não dá pra ser vegano diante da sinfonia de sabores de nossa pátria gastronômica; nem dá pra ser Gregoriano com um disco desses.

Houve tempo em que música instrumental tinha guarida num cantinho do gosto popular brasileiro. E que instrumentistas tinham nome e renome, mesmo sendo uma alcunha, como ‘Papudinho’. José Lídio Cordeiro, trompetista pernambucano, 1931-1991. Quem hoje em dia conhece este nome? Alguns bem aventurados, com certeza já ouviram falar dele – e o ouviram. Todavia foi um referencial no trompete brasileiro, com discos solo e inúmeras participações em diversos e ressaltados trabalhos, junto a cantores e grupos orquestrais. Outro nome, e este se inscreve nas estrelas, nosso amadíssimo Hermeto Pascoal, na época ainda não transfigurado em Gandalf, Merlim, mago dos magos. Oriundo de Lagoa da Canoa, Alagoas, 1936. Cujos méritos, gênio e magia não preciso alardear, mesmo porque em postagem anterior já o fiz – a qual recomendo vivamente. Os demais cavaleiros desta tétrade sonora são Azeitona ao contrabaixo e Edilson, bateria. Sob o prosaico e oliváceo apelido de Azeitona, Arnaldo Alves de Lima atuou ao contrabaixo ao longo de três décadas, garantindo os fundamentos harmônicos e o balanço, desde o antológico disco Chega de Saudade do João Gilberto, até os poéticos e etílicos shows de Toquinho e Vinícius pelos palcos do mundo. Sobre o excelente Edilson, não encontrei rastros, exceto que onde estava Azeitona, estava Edilson, em diversos e formidáveis trabalhos instrumentais. Ninguém lamenta mais que eu por esta lacuna, e agradeço a quem trouxer informações sobre este importante músico. O disco é essencialmente jazzístico, tem solos improvisados e outros elementos que caracterizam um período da música instrumental brasileira entre os anos 50 e 60. Jazz, enfim, não é propriamente o que se toca, mas como se toca. Ou, se preferirem os puristas, um disco de ritmos brasileiros com influências jazzísticas; ou sendo ainda mais chato, um evidente ecletismo genérico musical com resultados híbridos. Ufa! PQP!

No repertório, delícias do cardápio ‘cantoral’ brasileiro (esta palavra não existe, exceto como sobrenome de um grande cancioneiro mexicano, mas tá valendo. Só aqui, pessoal, por favor). Perceberemos que apesar de termos 4 integrantes, ouviremos 5. O Trismegístico Hermeto usa de seus poderes e se desdobra entre o piano e a flauta ao mesmo tempo. Milagres não são novidade quando se trata Dele.

Um conselho que deixo aqui aos ouvintes, desfrutem com acompanhamentos: cerveja gelada ou whisky; suquinho para os passarinhos; tripa assada com muita cebola. Batatas fritas com alho ralado e torrado. Tudo isso antes da babilônica macarronada, ou uns dois metros de luzidias costelas de porco assadas, dignas de Nabucodonosor. De sobremesa um vinho do porto, pois que algum sábio latino andou dizendo que “borracho que bebe miel, ay de él!” E, se aprouverem aos céus, maravilhosa, ou maravilhosas companhias. Apreciem sem qualquer moderação. Não engorda, a música que engorda é Rossini, que era também gastrônomo.

CONJUNTO SOM 4 – 1965
Papudinho – Trompete
Hermeto Pascoal – Piano e Flauta
Azeitona – Contrabaixo
Edilson – Bateria

  • Consolação – Baden Powell e Vinícius de Morais
  • Samba Novo – Durval Ferreira e Newton Chaves
  • Minha Namorada – Carlos Lyra e Vinícius de Moraes
  • Deus Brasileiro – Marcos Vale e Paulo Sérgio Valle
  • Maria Moita – Carlos Lyra e Vinícius de Moraes
  • Deixa – Baden Powell e Vinícius de Morais
  • Esse mundo é meu – Rui guerra e Sérgio Ricardo
  • Inútil Paisagem – Aluysio de Oliveira e Tom Jobim
  • Balanço Zona Sul – Tito Madi
  • Nanã – Moacyr Santos e Marcos Telles
  • Samba de Verão – Marcos Vale e Paulo Sérgio Valle
  • Louco de Saudade – Denis Brean

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Os 2 + 2 que são 5, já dizia Caetano.

Wellbach

.: interlúdio :. Paul Barbarin’s Band / Punch Miller’s Bunch & George Lewis – Jazz at Preservation Hall

.: interlúdio :. Paul Barbarin’s Band / Punch Miller’s Bunch & George Lewis – Jazz at Preservation Hall

Jazz at Preservation Hall

Paul Barbarin

Punch Miller & George Lewis

 

Eu tomava o bondinho da St. Charles Avenue quase no ponto final, próximo à St. Clairborne Avenue e fazia uma adorável viagem de uns quarenta minutos, em direção ao French Quarter. Depois de uma curva de noventa graus, o bondinho seguia em um trajeto que parece um arco, por uma região lindíssima. Eu preferia sentar à esquerda, para avistar as margens do Mississipi. Passávamos o Audubon Park com suas magníficas árvores, pelo Uptown com suas grandes mansões, seguindo justamente a St. Charles Avenue até o cruzamento com a Jackson Avenue, onde normalmente descia do bondinho.

Audubon Park

À direita, o rio Mississipi, em frente, o velho mercado, e à esquerda um emaranhado de ruas e avenidas repletas de cultura, belezas, sons e sabores. New Orleans é uma das cidades mais belas dos Estados Unidos da América. Certamente é uma das mais ricas em cultura. O melting pot, Big Easy. Os nomes das avenidas e dos lugares revelam as diferentes culturas que por lá passaram e deixaram suas marcas e costumes, num rico caldo cultural. Jefferson Avenue, Napoleon Avenue, Tchoupitoulas, Calle Real ou Royal Street.

Cafe Du Monde, French Quarter , New Orleans

Depois de tomar um café com beignets no Café Du Monde, uma paradinha na La Madeleine, um passeio pelas lindas lojas de antiguidades, você chega à Jackson Square. Um pouco de preguiça, espiar a fauna do lugar, música nas ruas. Aí, você enfia pela St. Peter street para ir a um lugar que não se pode deixar de ir – Preservation Hall.

Este disco me fez lembrar disso tudo, com saudade, mas saudade boa, daquela que conforta, que revigora a gente.

É verdade, este disco foi gravado uns trinta anos antes de que eu andasse por lá, mas é ainda mais autêntico por isso.

O Preservation Hall foi criado em 1961 e o disco gravado em 1963, you do your math…

A criação do Preservation Hall foi fundamental para (perdão pelo trocadilho, mas a ideia é exata) preservar a autêntica cultura musical, o jazz como havia nascido por lá. Nos comentários que estão na contracapa do disco pode-se entender a importância desta instituição. ‘Tocar no Preservation Hall tirou a demanda comercial, a pressão artificial da Banda do Barbarin e também de sua seleção (de músicas): nada do tradicional atacar de The Saints, nada de acelerar o tempo da música. A música de Barbarin, The Second Line, surge com uma inocência e simplicidade que mostra o trompete de Cagnolatti e o clarinete de Cottrell, ao lado do suave dedilhar de Sayles, no que eles têm de melhor’.

O disco é composto de duas sessões. Uma ocupada pela banda de Paul Barbarin e a outra pela turma do “Punch” Miller. Eles eram tão autênticos músicos de New Orleans quanto pode haver.

Paul Barbarin
  1. Slide, Frog, Slide (Tradicional)
  2. The Second Line (Paul Barbarin)
  3. Give It Up (Paul Barbarin)
  4. Too Late (Paul Barbarin)
  5. Take A Ferry Boat To New Orleans (Tradicional)

Paul Barbarin & His Jazz Band

Ernie Cagnolatti, trompete

Louis Cottrell, clarinete

Waldren “Frog” Joseph, trombone

Lester Santiago, piano

Emanuel Sayles, banjo

Placide Adams, baixo

Paul Barbarin, bateria

Ernest “Punch” Miller
  1. Corrine, Corrina (Bo Chatman, J.M. Williams, Mitchell Parish)
  2. Hindustan (Harold Weeks, Oliver Wallace)
  3. Nobody Knows The Way I Feel This Morning (Tradicional)
  4. Tiger Rag (Original Dixieland Jazz Band)
  5. Preservation Blues (Tradicional)

Punch Miller’s Bunch & George Lewis

Ernest “Punch” Miller, trompete

George Lewis, clarinete

Louis Nelson, trombone

Emanuel Sayles, banjo

“Papa John” Joseph, baixo

Abbey “Chinee” Foster, bateria

George Lewis

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FLAC | 378 MB

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MP3 | 320 KBPS | 241 MB

Uma frase que está na contracapa do disco resume tudo com precisão fulminante: “This is happy music, and the right men are playing it”.

Pessoal checando as postagens do PQP Bach, lá no Cafe Du Monde…

We are back in business, fellas!

Aproveitem!

René Denon

.:interlúdio:. Stan Getz & Eddie Sauter: Focus (1961)

Este é um dos mais extraordinários discos do jazz. Tentarei dizer porquê. Não basta ser belo. Os bastidores do belo envolvem um infinito – e deflagram também um infinito em cada um que o contempla. Imagine-se de repente desperto num planeta no qual tudo é novo, você caiu ali de paraquedas e precisa sobreviver, em meio aos inquietos e intensos habitantes. Você quer interagir, encontrar seu lugar naquele contexto – não tem escolha. Você quer ser aceito e luta por conhecer as regras da casa. Para, olha, escuta, fala, segue e não quer ser atropelado nem pisar em falso. Próximo vê uma flor no chão da esquina, acolá uma avalanche! Corre! Quem são aqueles? Quem sou eu aqui? Procura entender e ser entendido. Parece que caiu num livro do Ray Bradbury (ou Kafka!). Pois bem. Neste disco o fabuloso saxofonista Stan Getz se vê diante de desafios semelhantes. O compositor Eddie Sauter (discípulo de Bartok) elaborou uma suíte, uma estupenda orquestração de cordas, uma floresta de timbres, uma metrópole de harmonias, onde o intrépido improvisador é atirado sem qualquer linha melódica definida. Ele poderá contar se muito com algumas cifras harmônicas, como ventoinhas para se guiar conforme as brisas e tempestades sonoras. A orquestra é um Golias, ele um Davi. Precisa lutar, algumas vezes para não profanar a delicada textura orquestral que o envolve, outras vezes para não ser engolido, esmagado, tolhido pela dinâmica endiabrada da orquestra; pela variedade de situações harmônicas e rítmicas. A orquestra o provoca, o seduz, por vezes cobra sedução. Em certo momento se vê numa verdadeira arena, diante da bateria infernal de Roy Haines. Briga, dialoga, sobrevive, como o Superman na vasta Metrópolis. Mas chega de delongas. Ouçamos esta maravilha jazzística na qual o jazz reside precisamente no improvisador. Todo o resto é escrito com rigor ‘erudito’. Este é certamente um dos melhores e bem-sucedidos experimentos neste sentido. Ouçam, abandonem-se aos sons. Como disse algum poeta do qual me foge o nome, “a confiança no apoio invisível confere ao pássaro a coragem de se atirar no vazio”. Lamento que o compositor não tenha intentado regravar sua orquestração com diversos artistas, numa série de discos. Seria um tesouro inestimável para a música. Este breve texto, agradeço ao Black & White, que me permitiu produzi-lo de improviso – diríamos, jazzisticamente. Confesso que o cachorrinho branco do rótulo me incomoda. Vou pintá-lo de azul, assim fica ‘Black n Blues’.

FOCUS – STAN GETZ & EDDIE SAUTER

  1. I’m Late, I’m Late
  2. Her
  3. Pan
  4. I Remember When
  5. Night Rider
  6. Once Upon a Time
  7. A Summer Afternoon
  8. I’m Late, I’m Late – Bonus track
  9. I Remember When – Bonus track

Stan Getz – Sax Tenor
Steve Kuhn – Piano
John Neves – Bass
Roy Haynes – Drums
Alan Martin, Norman Carr, Gerald Tarack – Violins
Jacob Glick – Viola
Bruce Roger  – Cello
Eddie Sauter –  Arranger
Hershy Kay – Conductor

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Wellbach

.: interlúdio :. Tommy Flanagan, John Coltrane, Kenny Burrell e Idrees Sulieman: The Cats

.: interlúdio :. Tommy Flanagan, John Coltrane, Kenny Burrell e Idrees Sulieman: The Cats

A questão aqui é saber se o álbum é bom ou é  irrelevante. The Cats é um disco de hard bop creditado ao saxofonista tenor John Coltrane e ao pianista Tommy Flanagan. Com eles, estão Idrees Sulieman no trompete e Kenny Burrell na guitarra, mais Louis Hayes na bateria e Doug Watkins no baixo. Os quatro primeiros fazem solos em todas as faixas, com a exceção de “How Long Has This Been Going On?” que apresenta Tommy Flanagan em um trio de piano com Doug Watkins e Louis Hayes. Os solos são certamente obras de profissionais, mas comparado a outros álbuns, esse em particular não tem muitos momentos memoráveis. Um disco apenas médio de uma época do jazz — 1957 — onde nasciam quase só obra-primas memoráveis. Seria bom mencionar que o susto que Flanagan nós dá em Solacium, onde ele cita o início da Fantaisie Impromptu de Chopin. Ou seja, os gatos deste CD são meio vagabundos.

Tommy Flanagan, John Coltrane, Kenny Burrell e Idrees Sulieman: The Cats

1 “Minor Mishap” – 7:26
2 “How Long Has This Been Going On?” (George and Ira Gershwin) – 5:58
3 “Eclypso” – 7:57
4 “Solacium” – 9:10
5 “Tommy’s Tune” – 11:58

Personnel
Idrees Sulieman – trumpet
John Coltrane – tenor saxophone
Tommy Flanagan – piano – trio track 2
Kenny Burrell – guitar
Doug Watkins – bass
Louis Hayes – drums
On “How Long Has This Been Going On” Sulieman, Coltrane and Burrell do not play.

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Tommy Flanagan bebe uma cerveja na Sala Jazz em P & B do PQP Bach

PQP