In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 9 de 11: Volumes 24, 28, 38 e 40 (Clássicos Favoritos V, VI, IX & X)

Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a nona das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


Partes:   I   |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII  |   IX   |   X   |   XI

Arthurzinho das massas estava em todas nos anos 80.

O embrião de tal onipresença foi sua participação no Circuito Universitário, iniciativa que desde o começo da década anterior levava grandes nomes da MPB para campi, teatros, ginásios e quaisquer outros espaços em que eles coubessem. Sempre destemido, Arthur foi o primeiro músico de concerto a embarcar  numa turnê do Circuito – e, convenhamos, o único capaz de aceitar um convite desses. Partiu de São Paulo, onde então morava, e prosseguiu de Kombi para Campinas e outras dez cidades do interior do estado. A experiência foi-lhe como um Caminho de Damasco: habitué de tantas paragens mundo afora, conhecedor de cada parada ao longo da Trans-Siberiana, Arthur enfim começava a descobrir seu país e a acolhida que as massas nos ginásios davam àquele pianista de raríssima figura, com cabeleira roqueira, calças de brim e a inseparável jaqueta de couro de alce.

Ó lá ela, a guerreira.

Não que tenha deixado a casaca de lado, como atesta, entre outros, o projeto Bach-Chopin que realizou com  João Carlos Martins. Tampouco deixou de ter preocupações fonográficas: farto da miríade de percalços para que seus discos fossem distribuídos pelas gravadoras e decidido decerto a cultivar mais uma úlcera, fundou o selo L’Art, tendo como sócio Lauro Henrique Alves Pinto, um dos “Filhos da Pauta”. Inda assim, preferia os mocassins e os pés na estrada. Xodó das multidões, para as quais era quase sinônimo de piano brasileiro, desfrutava uma liberdade incomum de escolher onde, como e com quem aparecer: mais que arroz de festa, o rei do rolê aleatório.

Até no gibi.

Se não, vejamos: depois de quase tocar com Elomar no formigueiro humano de Serra Pelada – com direito a transporte em avião da FAB, piano incluso -, acabou na não menor muvuca do Festival de Águas Claras, o “Woodstock” brasileiro, onde dividiu palco com Luiz Gonzaga (“esse cabra é tão bom que toca até Luiz Gonzaga”, foi o veredito do próprio) numa noite encerrada por João Gilberto. Às línguas de trapo que o acusavam de buscar as massas por estar em decadência técnica, respondia dando um tempo às turbas para, numa visita à Polônia, tocar (e gravar) Rachmaninoff desse jeito:

Sossegou? Claro que não: deixou São Paulo e mudou-se para o Rio, o qual voltou a chamar de morada depois de vinte anos. Foi fagocitado quase que de imediato pela boemia e requisitado em cada cantina, restaurante ou boteco onde, entre biritas, se cultivasse a boa prosa. Na confraria conhecida como “Clube do Rio”, aproximou-se de Millôr Fernandes, que prontamente reconheceu o potencial da avis rara e lhe escreveu um show, que também dirigiu – e assim, não mais que de repente, nascia “De Repente”.

Alternando textos de Millôr com bitacos de Arthur e grande música dos dois lados do muro da infâmia entre o dito “erudito” do assim chamado “popular”, o show foi um triunfo. Não demoraria para que o showman chegasse às telinhas, a convite de Adolpho Bloch, fundador da Rede Manchete. Conhecera-o em Moscou, nos seus tempos de Conservatório, mas estreitaram o convívio no Rio, frequentando o mesmo barbeiro, praticando o idioma russo e divertindo-se a falar, sem que ninguém mais compreendesse, bandalheiras impublicáveis.  Conquistado por aquele tipo maravilhoso que parecia pronto para TV, Bloch ofereceu-lhe carta branca para criar um programa semanal. Arthur pediu alto e levou: recebeu duas orquestras, dirigidas por Paulo Moura, que também lhe fazia os arranjos, e a crème de la crème  da música brasileira no rol de convidados. Nascia Um Toque de Classe, carregado daqueles momentos que, ao imaginá-los na TV aberta, fazem-me questionar em que sentido, enfim, roda a fita da civilização:

Arthur, que nunca foi muito afeito ao canto, ficou especialmente impressionado com a voz de Ney Matogrosso, que buscava novos rumos para sua carreira depois do frisson que causou com suas performances no extinto conjunto Secos & Molhados:

Ney, inacreditavelmente, ainda não se convencera de que era cantor. Arthur sugeriu que deixasse de lado a maquiagem e figurinos estrambólicos que até então tinham marcado sua carreira e que, de cara lavada, apostasse em sua rara voz. Não demorou até que o belíssimo contralto de Ney, tratado como afinado instrumento, estivesse a dividir o palco com outros quatro virtuoses.

Assim, na luxuosa companhia de Arthur, Paulo Moura (saxofone), Chacal (percussão) e Raphael Rabello (violão de sete cordas), Ney inaugurou uma nova fase em sua carreira com o show O Pescador de Pérolas. De lambujem, aproximou-se de Rabello, há já muitos anos um dos maiores violonistas do mundo, com quem mais adiante gravaria À Flor da Pele, que, em minha desimportante opinião, é um dos álbuns mais sensacionais que Pindorama deu ao mundo. O Pescador de Pérolas também virou disco, ainda que se lamente que o som do piano de Arthur, aparentemente, tenha sido captado do fundo duma lata de azeite:

Lambuzado de mel pelas massas e com saudades, talvez, de ferroadas, Arthur resolveu atirar-se no vespeiro: instigado por seu guru Darcy Ribeiro, aceitou a nomeação para alguns cargos públicos no Governo do Rio. Sob sua direção, o Theatro Municipal e a Sala Cecília Meireles receberam em seus palcos muita gente que seus habitués não deixariam nem entrar pela porta dos fundos, como a Velha Guarda da Portela. Divertindo-se com o previsível reproche de quem via violados seus espaços exclusivos e sacrossantos. Arthur ligou aquele famoso botão e prosseguiu: tocou em favelas (uma imagem de “Rocinha in Concert”está no cabeçalho dessa postagem) e chamou a Orquestra de Câmara de Moscou para tocar com ele em teatros, ao ar livre e em presídios. Quem o chamava de decadente – nem sempre por méritos artísticos – acabava por ter que deglutir cenas como as do Projeto Aquarius, em que o suposto ex-pianista e a Sinfônica Brasileira tocavam para Fla-Flus de gente:

Sim, 200 mil

Para refrescar-se das saraivadas de tomates, o Rei do Rolê Aleatório foi harmonizar seu piano com uma das vozes mais distintas do Brasil, o barítono de Nelson Gonçalves. Com alguns milhares de canções no repertório, escolher o que iria para o álbum foi por si só uma empreitada. O mais difícil, com sobras, era a incompatibilidade de relógios biológicos: Nelson acordava na hora em que Arthur ia dormir. Ainda assim, com cantor no fuso horário de Bagdá e pianista no de Honolulu, a parceria deu liga e rendeu um dos melhores álbuns de suas imensas discografias, O Boêmio e o Pianista:


Miacabo com Arthur e sua cara de “acordei agora”

Durante a extensa turnê com Nelson por mais de trinta cidades brasileiras, Arthur encantou-se com a tranquilidade e o clima ameno de Florianópolis e resolveu, enfim, lançar nela sua âncora. Trouxe seus pianos para perto do mar e até deve ter contemplado a ideia de sossegar. O sucesso da coleção “Meu Piano”, que vendeu um milhão de CDs a preços módicos em bancas de revistas, mostrou-lhe que o público não queria seu sossego. Pelo contrário: ainda havia muito mais gente a conquistar, nos vastos horizontes brasileiros, a ser buscada em seus últimos recantos, mesmo nas grotas que nunca tinham visto um piano. Assim, o rei das harmonizações improváveis juntou um Steinway com uma caçamba de Scania e partiu, como orgulhoso Camelô da Música (o termo é dele), para a mais épica jornada jamais empreendida por um artista brasileiro.


ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima


Volume 24: CLÁSSICOS FAVORITOS V

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Do Pequeno Caderno para Anna Magdalena Bach:

Christian PETZOLD (1677–1733)
1 – No. 2: Minueto em Sol maior, BWV Anh. 114

Johann Sebastian BACH
2 – No. 20: Minueto em Ré menor, BWV Anh. 132

Anton DIABELLI (1781-1858)

Das Sonatinas para piano, Op. 168:
3 – Moderato cantabile
4 – Andantino

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Das Duas Sonatinas para piano, WoO Anh. 5
5 – Sonatina em Sol maior

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Do Álbum para Jovens, Op. 68
6 – O Camponês Alegre
7 – O Cavaleiro Selvagem
8 – Siciliana
9 – Um Pequeno Romance
10 – São Nicolau

Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)

Seis Danças Populares Romenas, Sz. 56
11 – Do Bastão
12 -Do Lenço
13 – Sem Sair Do Lugar
14 – Da Trompa
15 – Polka Romena
16 – Finale: Presto

Heitor VILLA-LOBOS (1887-1959)

Do Guia Prático para Piano, Primeiro Álbum:
,17 – Acordei de Madrugada
18 -A Maré Encheu
19 – A Roseira
20 -Manquinha
21 – Na Corda Da Viola

[as obras de Villa-Lobos não estão disponíveis pelos motivos aqui listados]

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)

Das Doze Peças para piano, Op. 40:
22 – No. 2: Chanson triste

Enrique GRANADOS Campiña (1867-1916)

Das Doze Danças Espanholas:
23 – No. 5, “Andaluza”

Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)

Das Peças Líricas, Op. 43:
24 – No. 6: “À Primavera”

Achille Claude DEBUSSY (1862-1918)

Dos Prelúdios, Primeiro Livro:
25 – No. 8: La fille aux cheveux de lin

Dmitry Dmitryievich SHOSTAKOVICH (1906-1975)

Das Danças das Bonecas, Op. 91:
26 – No. 1: Valsa Lírica
27 – No. 4: Polka
28 – No. 5: Valsa-Scherzo

Scott JOPLIN (1868-1917)
29 – The Entertainer

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: St. Philip’s Church, Londres, Reino Unido, 1998-99
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999.

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Volume 28: CLÁSSICOS FAVORITOS VI

Antônio CARLOS GOMES (1836-1896)
Transcrição de Nicolò Celega (1846-1906)

Da ópera Il Guarany:
1 – Protofonia

Carl Maria Friedrich Ernst von WEBER (1786-1826)

2 – Convite à Dança, Op. 65

Franz Peter SCHUBERT (1979-1828)

Dos Quatro Improvisos para piano, D. 899:
3 – No. 4 em Lá bemol maior

Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
4 – Rondo Capriccioso, Op. 14

Johannes BRAHMS (1833-1897)

Das Valsas para piano, Op. 39:
5 – No. 1 em Si maior
6 – No. 2 em Mi maior
7 – No. 3 em Sol sustenido menor
8 – No. 6 em Dó sustenido maior
9 – No. 15 em Lá bemol maior

George GERSHWIN (1898-1937)

10 – Rhapsody in Blue

Gravação: St. Philip’s Church, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999.

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Volume 38: CLÁSSICOS FAVORITOS IX – TRANSCRIÇÕES CÉLEBRES

Ferenc LISZT (1811-1886)

Dos Doze Lieder de Franz Schubert, S. 558:
1 – No. 9: Ständchen

2 – Miserere du Trovatore de Giuseppe Verdi, S. 433

Do Wagner-Liszt Album:
3 – Isoldes Liebestod

4 – Liebeslied, S. 566 (baseada em Widmung, Op. 25 no. 1 de Robert Schumann)

De Années de Pèlerinage – Deuxième Année: Italie, S. 161:
5 – No. 5: Sonetto 104 del Petrarca

Johannes BRAHMS
Transcrição de Percy Grainger (1882-1961)

Das Cinco Canções, Op. 49:
6 – No. 4: Wiegenlied

Aleksandr Porfirevich BORODIN (1833-1887)
Transcrição de Felix Blumenfeld (1863-1931)

De Príncipe Igor, ópera em quatro atos:
7 – Dança Polovetsiana no. 17

George GERSHWIN
Transcrição de Percy Grainger
8 – The Man I Love

Oscar Lorenzo FERNÁNDEZ (1897-1948)
Transcrição de João de Souza Lima (1898-1982)

Da Suíte Reisado do Pastoreio:
9 – No. 3: Batuque

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: All Saints Church, Tooting, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999

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Volume 40: CLÁSSICOS FAVORITOS X

Charles-François GOUNOD (1818-1893)

1 – Ave Maria (Meditação sobre o Primeiro Prelúdio para piano de Johann Sebastian Bach)

Johann Sebastian BACH

Da Fantasia e Fuga em Dó menor, BVW 906:
2 – Fantasia

Franz SCHUBERT

Três Valsas:
3 – Op. 9 nº 1
4 – Op. 9 nº 2
5 –  Op. 77 nº 10

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)

Dos Doze Estudos para piano, Op. 10:
6 – No. 3 em Mi maior

Ferenc LISZT

Dos Três Estudos de Concerto, S. 144:
7 – No. 3: Un Sospiro

Johannes BRAHMS

Dos Três Intermezzi para piano, Op. 117:
8 – No. 2 em Si bemol menor

Leopold Mordkhelovich GODOWSKY (1870-1938)

9 – Alt-Wien

Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)

De Chants d’Espagne, Op. 232:
10 – No. 1: Prélude (Asturias)

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)

11 – Pavane pour une infante défunte

Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946)
Transcrição do compositor

Do balé El Sombrero de Tres Picos:
12 – Danza del Molinero

Gabriel Urbain FAURÉ (1845-1924)
Transcrição de Percy Grainger

Das Três Melodias, Op. 7:
13 – No. 1: Après un Rêve

Ludomir RÓŻYCKI (1883-1953)
Transcrição de Grigory Ginzburg (1904-1961)

14 – Valsa da Opereta Casanova

Antônio CARLOS GOMES

15 – Quem Sabe?

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: All Saints Church, Tooting, e Rosslyn Hill Chapel, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999

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9ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele abordou os seguintes tópicos, sobre sua carreira na década de 1990: concertos que tocou no morro da Mangueira e na Rocinha; período em que foi diretor da Sala Cecília Meireles; período em que foi subsecretário de cultura do estado do RJ, encarregado do interior; sua colaboração com o cantor Nelson Gonçalves; o recital que realizou juntamente com Ana Botafogo; seu disco dedicado ao compositor Brasílio Itiberê; a grande coleção de 41 CDs “Meu piano”, lançada pela Caras em 1998; a caixa de 6 CDs “MPB – Piano collection”, dedicada a Dorival Caymmi, Chico Buarque, Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Roberto Carlos; disco dedicado a Astor Piazzolla, com arranjos de Laércio de Freitas

Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952. Eis o ponta-esquerda Joaquim Albino, o Quincas (1931-2000).

Vassily

In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 3 de 11: Volumes 5, 18 & 37 (Villa-Lobos I/Villa-Lobos & Radamés Gnattali/Villa-Lobos III)


Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a terceira das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


Partes:   I   |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII   |   IX   |   X   |   XI

Ainda que desembarcasse em Paris com 18 anos, Arthur buscava em Lutécia resolver sua adolescência musical. Idos eram seus tempos de menino-prodígio, e longínqua lhe parecia ainda a perspectiva de viver de Arte. Ademais, deixara para trás o renome que tinha em seu país, imenso, esparso, periférico, para adentrar anônimo uma Meca cultural em que qualquer pedra que se levantasse do calçamento revelaria um punhado de artistas aspirantes – aos quais, agora, se somaria ele próprio. E aquele formigueiro artístico, percebia-se, já vestira roupas melhores: com a Revolução Argelina de vento em popa, a Quarta República ruía, e o vasto império colonial francês colapsava enquanto secavam seus cofres nutridos por riquezas sanguinolentas. Mesmo assim, a turbulenta Paris oferecia um cardápio vasto ao mocetão sedento de experiências que, com o idioma afiado pelos muitos anos no Liceu Francês, logo se jogaria de corpo inteiro ao seu desporto favorito: conversar sobre tudo e com todos, como um dos mais virtuosos paus-de-enchente que seu planeta viria a conhecer.

Tão animada era a entrega de Arthur à hedonia que seria fácil esquecer o piano. Quem garantiu que o esquecimento ficasse por ali mesmo, no futuro do pretérito, foi a responsável pela importação de Monsieur Le Bâton d’Inondation: Madame Marguerite Long. A mestra, sempre muito exigente, não demorou a corroborar a ótima impressão que tivera dele no Concurso Internacional do Rio e, sobretudo, a solidez da formação que tivera sob Lúcia Branco. O jovem boêmio manteve-se na linha, expandiu seu repertório – para antes e para muito além das obras do Alto Romantismo que eram cada vez mais seus xodós – e, só para variar, agregou mais alguns diplomas à coleção que, com folga, o tornaria o mais laureado pianista brasileiro: o primeiro prêmio da Academia Marguerite Long e a menção honrosa no Concurso Internacional Marguerite Long-Jacques Thibaud.

Depois do biênio na França, a volta ao Rio não poderia ter sido mais anticlimática. Afora aqueles que morriam de saudades, não houve comoção alguma com a sua chegada. Sentia-se um João-Ninguém, tocando para a indiferença, um pinto oprimido no ovo que era o circuito da música de concerto em seu país. Logo ficou claro que sua bússola teria que, novamente, apontar para o Exterior. Arthurzinho, o Concurseiro Virtuoso, buscou uma vez mais catapultar-se através de triunfos e, claro, conseguiu: o terceiro lugar na nova edição do Concurso Internacional do Rio de Janeiro rendeu-lhe uma viagem aos Estados Unidos. Participou do Primeiro Concurso Internacional Van Cliburn no Texas, e, ainda mais importante, conheceu seu jovem patrono, então o mais célebre pianista do planeta, ainda a surfar o tsunami de sua vitória da edição de estreia do Concurso Tchaikovsky em Moscou. Cliburn, impressionado com o Chopin que saía das mãos-sósias de Arthur, apresentou-lhe sua própria mestra, a russa Rosina Lhévinne, que o convidou a estudar por dois anos na Juilliard School, em Nova York. Nosso herói, sempre disposto a profundos mergulhos de cabeça, queria beber direto da fonte: a estudar com uma russa no Novo Mundo, preferiu a própria Escola Russa de piano, in loco. Assim, e muito estimulado por Cliburn, reuniu rapidamente um rol notável de recomendações – de professores do Conservatório de Moscou, que conhecera em concursos mundo afora, até Luís Carlos Prestes, com quem seu tio Lourenço lutara nos dois anos da Coluna Invicta – e as enviou à então Capital de Todas as Rússias. O telegrama de resposta o encheu de alegria: o Ministério da Cultura da União Soviética concedera-lhe uma bolsa de cinco anos para, sob Rudolf Kehrer, estudar no Conservatório Tchaikovsky e, de quebra,  charlar em inda outro idioma pelo maior país do planeta.

ooOoo

Falar de Villa-Lobos neste blogue carrega sempre a frustração de não compartilhar Villa-Lobos, pelos curtos e grossos motivos apontados aqui. Compensaremos essas clareiras com fontes alternativas das mesmas gravações nas plataformas de transmissão, enquanto esperamos – em chamas – pelo glorioso 1° de janeiro de 2030, quando por aqui retumbará um VILLA-LOBAÇO tamanho que será ouvido até lá nas Esferas de onde Heitor ora nos olha.

Oremos.


ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima


Volume 5: VILLA-LOBOS I

Heitor VILLA-LOBOS (1887-1959)

Dezesseis Cirandas para piano, W220
1 – Therezinha de Jesus
2 – A Condessa
3 – Senhora Dona Sancha
4 – O Cravo brigou com a Rosa
5 – Cobra-Cega (Toada da Rede)
6 – Passa, Passa, Gavião
7 – Xô, Xô, Passarinho
8 – Vamos Atrás da Serra, Calunga
9 – Fui no Itororó
10 – O Pintor de Cannahy
11 – Nesta Rua, nesta Rua
12 – Olha o Passarinho, Dominé
13 – À Procura de uma Agulha
14 – A Canoa Virou
15 – Que Lindos Olhos
16 – Có, Có, Có

Bachianas Brasileiras no. 4, para piano, W264
17 – Prelúdio (Introdução)
18 – Coral (Canto do Sertão)
19 – Ária (Cantiga)
20 – Dança (Miudinho)

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Master Studios, Rio de Janeiro, 1988
Produção: João Pedro Borges e Carlos E. de Andrade (Carlão)
Engenheiro de som: Denílson Campos.
Coordenação de produção: Manuel Luiz da Silva
Remasterização digital: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo (1995)

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Volume 18: VILLA-LOBOS & RADAMÉS GNATTALI

Heitor VILLA-LOBOS

Concerto no. 1 para piano e orquestra, W453
1 – Allegro/Allegro
2 – Andante
3 – Allegro non troppo

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Sinfônica da Rádio de Moscou
Vladimir Fedoseyev, regência

Gravado no estúdio central da Rádio de Moscou, União Soviética, 1974

Noel de Medeiros ROSA (1910-1937)
Arranjos para piano de Radamés Gnattali (1906-1988)

4 – Feitiço da Vila (em parceria com Osvaldo Gogliano, o Vadico)
5 – Último Desejo/Três Apitos
6 – Fita Amarela/Silêncio de um Minuto
7 – De Babado Sim (parceria com João Mina)/Até Amanhã

Arthur Moreira Lima, piano

Radamés GNATTALI (1906-1988)

Concerto para Noel Rosa, para piano e orquestra
8 – As Pastorinhas (sobre um tema de Noel Rosa e João de Barro)
9 – Em Feitio de Oração  (sobre um tema de Noel Rosa e Vadico)
10 – Conversa de Botequim (sobre um tema de Noel Rosa e Vadico)

Arthur Moreira Lima, piano
Radamés Gnattali, regência

Gravação: Estúdios Vice-Versa, São Paulo, 1978.
Produção: Marcus Vinícius
Engenheiros de som: Renato Viola e Wilson Gonçalves
Coordenação: Manuel Luiz da Silva

Remasterização digital: Rosana Martins Moreira Lima e Peter Nicholls, Londres, 1998.

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (sem/without Villa-Lobos)


Volume 37: VILLA-LOBOS III

Heitor VILLA-LOBOS

A Prole do Bebê nº 1, W140
1 – Branquinha (A Boneca de Louça)
2 – Moreninha (A Boneca de Massa)
3 – Caboclinha (A Boneca de Barro)
4 – Mulatinha (A Boneca de Borracha)
5 – Negrinha (A Boneca de Pau)
6 – Pobrezinha (A Boneca de Trapo)
7 – O Polichinelo
8 – Bruxa (A Boneca de Pano)

Ciclo Brasileiro, para piano, W374
9 – Plantio do Caboclo
10 – Impressões Seresteiras
11 – Festa no Sertão
12 – Dança do Índio Branco
13 – Chôros No.5, “Alma Brasileira”, para piano, W207

14 – Rudepoêma, para piano, W184

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Master Studios, Rio de Janeiro, 1988
Produção: João Pedro Borges e Carlos E. de Andrade (Carlão)
Engenheiro de som: Denílson Campos.
Coordenação de produção: Manuel Luiz da Silva
Remasterização digital: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo (1995).

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Até que irrompa a alvorada do VILLA-LOBAÇO de 1° de janeiro de 2030, as sensacionais leituras de Arthur estarão legalmente disponíveis nas seguintes (e em outras) plataformas, rendendo aos responsáveis a bagatela de  (assim estimamos) 0,0000000001 centavo por audição. Vamos torná-los ricos? 


Heitor Villa-Lobos por Arthur Moreira Lima – Cirandas

16 Cirandas para piano

 

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Heitor Villa-Lobos por Arthur Moreira Lima
Rudepoema – A Prole do Bebê no. 1

Rudepoema
New York Skyline
A Lenda do Caboclo
A Prole do Bebê no. 1
Choros no. 5, “Alma Brasileira”

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Heitor Villa-Lobos por Arthur Moreira Lima
Bachianas Brasileiras no. 4 – Ciclo Brasileiro

Bachianas Brasileiras no. 4
Tristorosa (Valsa)
Ciclo Brasileiro
Valsa da Dor

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Como a gravação do Concerto no. 1 de Villa não está nas plataformas, a cornucópia do Instituto Piano Brasileiro veio, como sempre, em nosso socorro:

Digna de nota é a capa da edição soviética dessa gravação, em que se vê que a orquestra, listada modestamente em português como “Sinfônica da Rádio de Moscou”, era em verdade a GRANDE ORQUESTRA SINFÔNICA DA RÁDIO DE TODA A UNIÃO – pelo menos em nome, um Leviatã capaz de encarar as insanas dificuldades da partitura de Villa.


Já que recorremos à cornucópia do IPB, aproveitei para colher dela três outros lindos pomos com a música de Villa:


Esse álbum lançado somente no Japão em 1977 é um dos melhores na imensa discografia de Arthur. Certamente ciente da qualidade maravilhosa do som, ele parece aproveitar a oportunidade para saborear até os últimos harmônicos de cada nota. A Valsa da Dor tem, aqui, minha interpretação favorita em todos os tempos.

 

As incursões búlgaras de Arthur, que renderam as gravações da integral de Chopin para piano e orquestra, também nos deixaram esse álbum com peças brasileiras em que Villa predomina. Digno de nota o heroísmo do tradutor búlgaro, que transformou “Apanhei-te, Cavaquinho” em “Tenho tempo pra ti, Ukulele”.

E não sabemos se Arthur foi visto dormindo em Sofia, pois é impressionante que, além de todo resto, tenha também tido tempo para dar esse recital mastodôntico (um costume que criou na União Soviética, como veremos em breve).


BÔNUS: como compensação por nada podermos postar de Heitor, o Proibidão, ofereceremos algo da mestra francesa de Arthur. Muito próxima de Ravel, Marguerite Long foi honrada com o convite para ser a solista da première do Concerto em Sol, em 1932, sob a batuta do compositor. A primeira gravação da obra, que apresentaremos a seguir, aconteceria algumas semanas depois, com o português Freitas Branco no pódio e o compositor a supervisionar dos bastidores (e não regendo, a despeito de muitas afirmações em contrário, inclusive da capa do álbum). Inclusas, também, a regravação que Long fez do Concerto em 1952, alguns anos antes de conhecer Arthur, e a primeira gravação do Concerto no. 1 de Milhaud, com a regência do próprio.

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)

Concerto em Sol maior para piano e orquestra, M. 83
1 – Allegramente
2 – Adagio assai
3 – Presto

Marguerite Long, piano
Pedro de Freitas Branco, regência

Gravado em Paris em 1932, sob supervisão do compositor

Darius MILHAUD (1892-1974)

Concerto para piano e orquestra no. 1, Op. 127
4 – Très vif
5 – Mouvement de Barcarolle
6 – Final (Animé)

Marguerite Long, piano
Darius Milhaud, regência

Gravado em Paris em 1935

Maurice RAVEL

Concerto em Sol maior para piano e orquestra, M. 83
7 – Allegramente
8 – Adagio assai
9 – Presto

Marguerite Long, piano
Orchestre de la Société des Concerts du Conservatoire
Georges Tzipine,
regência

Gravado em Paris, 1952

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE


 

Terceira parte do podcast “Conversa de Pianista”, com as entrevistas que Alexandre Dias conduziu com Arthur em 2020. Nessa parte, “ele falou sobre sua ida em 1963 para a cidade de Moscou, e como foi sua experiência na União Soviética em plena Guerra Fria, tanto suas vantagens como desvantagens. Comentou sobre as matérias que cursou no Conservatório Tchaikovsky, e suas aulas de piano com o professor Rudolf Kehrer. Falou sobre a necessidade de um pianista ter uma formação humanista, interessando-se por várias áreas do conhecimento – neste contexto, falou sobre como os russos valorizam muito a cultura. Relembrou nomes de gigantes do piano russo, como Heinrich Neuhaus, Emil Gilels e Sviatoslav Richter, alguns dos quais ele chegou a assistir em concertos. Depois, falou sobre sua preparação para participar do Concurso Chopin de 1965, no qual viria a ficar em 2º lugar, tornando-se favorito do público e obtendo fama mundial, e detalhou o repertório que estudou, e a rotina intensa de estudos a que se submeteu, com grande antecedência. Também relembrou como foi a experiência no concurso em si, em que conheceu Martha Argerich, e onde também encontrou Magda Tagliaferro, como membro do júri. Por fim, mencionou vários países em que realizou gravações nesta época, e que ainda não foram encontradas”.

Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952. Eis o zagueirão João Carlos Batista Pinheiro, o Pinheiro (1932-2011), que formou com o goleiro Castilho e o capitão Píndaro a “Santíssima Trindade” da defesa tricolor.

Vassily

Chopin (1810 – 1849): Noturnos / Villa-Lobos (1887 – 1959): Cirandas (Arthur Moreira Lima, piano)

Arthur Moreira Lima Jr. (Rio de Janeiro, 16 de julho de 1940 – Florianópolis, 30 de outubro de 2024) por suas próprias palavras:

I. Em entrevista na edição de 14/10/1974 do jornal carioca O Pasquim:

“Acho jogadores assim como o Gérson, Didi, maravilhosos. Como certos pianistas. Didi pra mim é o Gulda. Ele podia errar tudo, mas de repente tinha aquele momento de gênio que neguinho pode estudar a vida inteira que não vai conseguir fazer igual.”
O PASQUIM – Tem algum grande pianista hoje como Didi?
ARTHUR – Sei lá, os grandes pianistas atuais tendem mais para Pelé do que pra Didi. São perfeitos demais. Tem o Rubinstein, né? Esse ainda faz uns troços que dão aquela ereção, entende?”
(…)
O PASQUIM – Qual é o autor brasileiro que você executa com mais receptividade lá fora?
ARTHUR – Bem, eu só tenho tocado Villa-Lobos. Que, aliás, tem uma receptividade muito maior lá fora do que no Brasil. Ele é considerado o maior compositor das Américas. E com toda razão. Tem neguinho aí que perto dele não pega nem juvenil. Eu gosto muito do Ernesto Nazareth também. Mas é um compositor muito mais difícil de ser entendido no estrangeiro. Aliás, eu vou gravar um disco em Moscou só com músicas brasileiras e é claro que vou incluir Nazareth.”
(Obs: após a publicação da entrevista, em 1975 Arthur foi convidado a gravar um vinil duplo dedicado somente a Nazareth, no Brasil mesmo, seguido de outro, totalizando quatro LPs que estão entre seus legados mais preciosos e você pode encontrá-los aqui)

II. Em 1981, quando lançou os Noturnos em gravação feita na Califórnia/USA e escreveu o texto do encarte do disco, traduzido para o inglês e re-traduzido aqui:

“A palavra nocturne foi utilizada pelo pianista e compositor irlandês John Field (1782-1832) para designar um tipo de composição lenta (calma e sonhadora), que tinha como principal característica a imitação do bel canto. Chopin gostava de tocar os noturnos de Field, adicionando floreios improvisados no estilo de sua época.

A declamação pianística (principal característica dos noturnos) é a chave do estilo de Chopin e da sua filosofia artística. Não é surpreendente, então, que Chopin tivesse uma especial predileção pelos seus noturnos. Ele os tocava frequentemente para os seus alunos e amigos, em salões e em concertos públicos. Em termos de pedagogia, o Mestre atribuía a eles uma importância comparável à dos Estudos.

Os noturnos exemplificam notavelmente a ousadia musical de Chopin e seus revolucionários modos de abordar o instrumento. Ouvindo eles todos, podemos apreciar o caminho artístico atravessado por Chopin – com cerca de 17 anos, as primeiras tentativas no gênero (Noturnos Póstumos nº 19, 20 e 21); com 36, a transcendência, a perfeição da forma musical, alargada no seu conteúdo emocional, rica em invenção harmônica e de contrapondo, como evidenciado na obra mais tardia (nº 18).”

III. Em 1988 No encarte de sua coleção de 3 LP dedicados a Villa-Lobos, um deles você pode ouvir no link mais abaixo:

“Impregnadas de sentimento brasileiro, as peças não fogem à linha geral de sua obra, filosoficamente assentada no nacionalismo, baseada em ritmos e melodias do nosso riquíssimo folclore e realizada tecnicamente sob a influência de compositores europeus como Stravinsky, Bartók e Debussy, influência essa que apenas orientou seu talento genial, sem impedir que em momento algum deixassem de vir à tona seu autodidatismo e sua marcante personalidade.

Fiel às suas raízes populares, o piano do Villa-Lobos é brilhante, marcando os ritmos por vezes como se fosse um instrumento de percussão, indo do mais terno ao mais agressivo, sem nunca perder uma grande presença de som, que lhe é característica.”

IV. O pianista, que tocou muitas vezes tanto em Moscou como em Kiev, lamentou em 2022:

“Tanto os russos como os ucranianos são muito simpáticos. Fico muito triste com esse conflito. Não estou do lado de nenhum governante. Minha preocupação é com o povo, a população. A Polônia está recebendo os refugiados ucranianos e nesses grupos há músicos. Nossa missão é lutar pela paz.” (aqui)

Frédéric Chopin (1810 – 1849):
21 Noturnos

Arthur Moreira Lima, Blüthner Piano
Recorded in Little Bridges Auditorium, Pomona College, CA, USA, 1981
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320 kbps

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Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) – Cirandas:
A Condessa
Senhora Dona Sancha
O Cravo brigou com a Rosa
Pobre Cega (Toada da Rede)
Passa, Passa, Gavião
Xô, Xô Passarinho
Vamos Atras da Serra, Calunga
Xô, Xô Passarinho
Vamos Atrás da Serra, Calunga
Fui no Tororó
O Pintor de Cannahy
Nesta Rua, Nesta Rua
Olha o Passarinho, Dominé
À Procura de uma Agulha
A Canoa Virou
Que Lindos Olhos!
Có, Có, Có

Arthur Moreira Lima, Steinway Piano
Recorded: Rio de Janeiro, 1988

OUÇA AQUI – Spotify

Obs: Villa-Lobos, só no streaming. Reclamações, enviem por favor aos herdeiros do compositor.

(A foto que abre esta postagem é do Instituto Piano Brasileiro, também responsável por compartilhar várias outras preciosidades de Arthur Moreira Lima no Youtube (aqui) e, aqui, o mapa com todas as cidades onde ele tocou no seu projeto “Um Piano na Estrada”)
Pleyel

Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Jobim, Krieger, Levy, Lorenzo Fernandez, Mignone, Nepomuceno, Pereira, Villa-Lobos: Danças Brasileiras (Minczuk)

Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Jobim, Krieger, Levy, Lorenzo Fernandez, Mignone, Nepomuceno, Pereira, Villa-Lobos: Danças Brasileiras (Minczuk)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Disco imperdível não apenas por ser brasileiro, mas pelo excelente repertório, pela qualidade da Osesp e pelo trabalho extraordinário do maestro Roberto Minczuk. Este panorama de Danças Brasileiras encontra seu ponto alto em Batuque, de Nepomuceno, na Congada de Mignone, no Batuque de Lorenzo Fernández, na bartokiana Passacalha de Edino Krieger, n`A Chegada Dos Candangos de Tom Jobim e em Mourão, de Clóvis Pereira e Guerra Peixe. Mas o restante não é esquecível. Gravado em 2003, este álbum é muito divertido, oferecendo músicas que são tocadas ocasionalmente, mas que raramente são reunidas para produzir uma hora de ritmos.  Algumas peças são desconhecidas. Por exemplo, A Chegada dos Candangos é um trecho da Sinfonia da Alvorada, uma das obras orquestrais negligenciadas de Tom Jobim.

Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Jobim, Krieger, Levy, Lorenzo Fernandez, Mignone, Nepomuceno, Pereira, Villa-Lobos: Danças Brasileiras (Minczuk)

1 Garatuja – Prelúdio
Composed By – Alberto Nepomuceno
8:55
2 Batuque
Composed By – Alberto Nepomuceno
3:39
3 Samba
Composed By – Alexandre Levy (2)
7:03
4 Dança Frenética
Composed By – Heitor Villa-Lobos
5:34
5 Congada
Composed By – Francisco Mignone
5:49
6 Batuque
Composed By – Oscar Lorenzo Fernández
3:54
Três Danças Para Orquestra
Composed By – Mozart Camargo Guarnieri
(8:48)
7 Dança Selvagem (Savage Dance) [No. 2] 1:43
8 Dança Negra (Negro Dance) [No. 3] 4:42
9 Dança Brasileira (Brazilian Dance) [No. 1] 2:13
10 Passacalha para o Novo Milênio
Composed By – Edino Krieger
7:07
11 A Chegada Dos Candangos
Composed By – Antonio Carlos Jobim
4:01
12 Mourão
Composed By – Clóvis Pereira, César Guerra Peixe
3:03

Conductor – Roberto Minczuk
Orchestra – Osesp — São Paulo Symphony Orchestra

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PQP

J. S. Bach / Brahms / Chopin / Rachmaninov / Domenico Scarlatti / Schubert / Schumann: Yara Bernette – Encores – Semana do Dia Internacional da Mulher

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio com obras do gênio brasileiro, pelos motivos expostos AQUI


Uma semana de celebrações por conta do Dia da Mulher não poderia deixar de prestar reverência a um território específico de excelência no nosso panorama musical: o piano. A galeria de pianistas brasileiras é uma verdadeira constelação que atravessa gerações: Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Cristina Ortiz, Eliane Rodrigues, Erika Ribeiro, Diana Kacso, Linda Bustani, Clara Sverner, Menininha Lobo, Mariinha Fleury, Anna Stella Chic, Eudóxia de Barros, Felicja Blumental (nascida na Polônia, naturalizada brasileira), Rosana Martins…

Entre elas, uma estrela brilha com particular intensidade, por conta de sua sonoridade singular: estamos falando de Yara Bernette (1920-2002), uma artista de carreira tão impecável quanto longeva: foram mais de 4.000 concertos e recitais, ao longo de quase sete décadas. Uma vida inteira dedicada ao instrumento.

O verbete dedicado a ela na Enciclopédia do Instituto do Piano Brasileiro, escrito por Marcia Pozzani, está bem completo e rico em informações – vale a leitura. Para atiçar um pouco a curiosidade, no entanto, deixo um trecho de uma crônica escrita por Tarsila do Amaral (recolhida no livro Tarsila Cronista, organizado por Aracy Amaral e publicado pela Edusp em 2001). Ela relata uma história contada para ela pela própria Yara, quando se vira em apuros ao estar sem uma partitura para um concerto no Canadá. É um delicioso relato do frisson causado pela pianista, que a levaria inclusive até a glória de ter o selo dourado da Deutsche Grammophon estampado na capa de seus discos:

       ” (…) Nisso bate alguém na porta. Aparece um velhinho simpático – o maior crítico musical do Canadá – com uma música na mão e diz: “Miss Bernette, desculpe incomodá-la justamente agora, mas estou curioso por saber se a ‘Chaconne’ que a senhora vai tocar é desta edição”. Yara Bernette diz ao anjo que os céus lhe enviaram: “Peço-lhe deixar aqui a música. No primeiro intervalo conversaremos”. Deu-se o milagre. E o mais interessante é que o crítico não costumava levar música aos concertos. Apenas abriu a primeira página, foi chamada para o palco. Nunca tocou tão bem como naquela noite. O crítico musical, A. A. Alldrick, que a salvara sem o saber, dedicou-lhe excepcionalmente dois artigos ao invés de um, como de costume, afirmando no Winnipeg Free Press: “O recital de Yara Bernette foi um acontecimento fascinante… Yara Bernette é obviamente uma artista do calibre de ‘uma entre mil’. 
       Ao terminar a narrativa a grande pianista me diz: “Desde então, sinto que existe na minha carreira artística uma proteção divina”.
       Mais tarde num de seus inúmeros concertos, dizia o crítico Irving Kolodin no New York Sun: “Miss Bernette, prendendo a atenção dos ouvintes, fez com que a versão da ‘Chaconne’ de Bach  por Busoni valesse a pena de ser ouvida. Isso acontece uma vez por temporada e essa vez coube a Miss Bernette na sua execução definitiva”.
       Na sua tournée pelo México, disse o crítico musical do Excelsior: “Há muito não ouvíamos uma pianista do seu calibre, e também há muito tempo nenhum outro pianista havia interessado tanto os críticos nem obtido tantos elogios”.
       O New York Post exclama: “Tirem os chapéus, senhores! Miss Bernette é a última e irresistível palavra”, enquanto o New York Sun comenta: “Talentos pianísticos deste calibre têm raros similares”. (…)”

Flavio de Carvalho, “Retrato de Yara Bernette”, óleo sobre tela, 1951

O disco que apresento nesse post – gravado em 1995, já nos últimos anos de vida de Yara, no auge de sua maturidade – evoca essas antigas turnês, já que reúne uma série de peças que ela costumava tocar como bis (ou encore, em francês) em seus concertos e recitais. São peças emblemáticas do repertório pianístico, que refletem as preferências da artista. As interpretações são puro deleite; é um disco a que retorno, de tempos em tempos, há muitos anos.

Lançado em comemoração pelos 75 anos da pianista, o álbum foi gravado em fevereiro de 1995 no Teatro Cultura Artística, no centro de São Paulo, em um dos Steinways que faziam parte do acervo da casa. Tragicamente, o piano queimou junto com o teatro no dantesco incêndio que o consumiu em 17 de agosto de 2008. São, portanto, memórias fonográficas de um tempo que um universo que já nos deixou.

Áudio da apresentação de Yara Bernette na TV Excelsior, em 1961, tocando Debussy e Chopin. Créditos, como de praxe, para o espetacular Instituto Piano Brasileiro

Viva Yara Bernette!

Karlheinz

 

1. Domenico Scarlatti (transcr. Carl Tausig) – Pastorale
2. Domenico Paradies – Sonata em Lá – Tocata
3. J. S. Bach (transcr. W. Kempff) – Sonata BWV 1.031 – Siciliano
4. Felix Mendelssohn – Rondó Capriccioso, op. 14
5. Felix Mendelssohn – Scherzo, op. 16 no. 2
6. Robert Schumann – Cenas Infantis, op. 15 no. 7 – Rêverie
7. Robert Schumann – Cenas da Floresta, op. 82 no. 7 – O pássaro profeta
8. Johannes Brahms – Intermezzo, op. 117 no. 2
9. Frederic Chopin – Mazurka, op. 7 no. 3
10. Frederic Chopin – Mazurka, op. 17 no. 4
11. Frederic Chopin – Mazurka, op. 24 no. 4
12. Frederic Chopin – Estudo póstumo no. 1
13. Frederic Chopin – Noturno, op. 48 no. 1
14. Frederic Chopin (transcr. Franz Liszt) – Canção polonesa, op. 74 no. 5 – Minhas alegrias
15. Claude Debussy – Segundo Caderno – Prelúdio no. 7 – La Terrasse des Audiences du Clair de Lune
16. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 5
17. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 10
18. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 12
19. Heitor Villa-Lobos – Suíte Prole do Bebê no. 1 – O Polichinelo

Yara Bernette, piano

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Guiomar Novaes: transcrições & miniaturas, de Bach e Gluck a Villa-Lobos (+ a Fantasia Triunfal de Gottschalk)

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 11/5/2010.

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio com obras do gênio brasileiro, pelos motivos expostos AQUI


À medida em que avança a aventura de redescoberta de Guiomar Novaes, iniciada aqui há duas semanas, começo a ter a impressão de que seu legado de gravações é um tanto desigual: algumas são realizações gigantescas, cuja importância se percebe com absoluta certeza de modo intuitivo, mas alcança tão longe que temos dificuldade de explicar em palavras (do que ouvi até agora, é o caso das suas realizações de Chopin, especialmente os Noturnos); já outras são, digamos, meramente grandes…

Temos aqui as 7 peças curtas retiradas do CD Beethoven-Klemperer postado há alguns dias, mais o disco só de peças brasileiras (com certo desconto para Gottschalk) lançado em 1974 pela Fermata – creio que o seu último.

As primeiras parecem ter se firmado em sua carreira como standards no tempo dos discos de 78 rotações, que só comportavam peças curtas. Hoje qualquer pianista “sério” franziria o nariz pra esse repertório: “transcrições de concerto” de um prelúdio para órgão de Bach e de trechos orquestrais de Gluck e Beethoven. Ao que parece, no começo do século XX o fato de serem coisas agradáveis de ouvir ainda era tido como justificativa bastante para tocá-las.

Mas o que mais me surpreendeu foi à abordagem às 3 peças originais de Brahms: nada da solenidade que se costuma associar a esse nome; sem-cerimônia pura! Como também nos movimentos rápidos do Concerto de Beethoven com Klemperer, tenho a impressão de ver uma “moleca” divertindo-se a valer, e me pergunto se não é verdade o que encontrei em uma ou duas fontes: que a menina Guiomar teria sido vizinha de Monteiro Lobato, e este teria criado a personagem Narizinho inspirado nela!

Também me chamou atenção que Guiomar declarasse que sua mãe, que só tocava em casa, teria sido melhor pianista que ela mesma, e que tenha escolhido por marido um engenheiro que também tocava piano e compunha pequenas peças: Otávio Pinto. Casaram-se em 1922, ano de sua participação na Semana de Arte Moderna, ela com 27, ele com 32. Guiomar nunca deixou de tocar peças do marido em recitais mundo afora – nada de excepcional, mas também não inferiores a tantos standards do repertório europeu – e ainda no disco lançado aos 79 anos encontramos as Cenas Infantis do marido, além de uma peça do cunhado Arnaldo (Pregão).

Dados sem importância? Não me parece. Parecem apontar para que a própria Guiomar visse as raízes últimas da sua arte não no mundo acadêmico, “conservatorial”, e sim numa tradição brasileira hoje extinta: a (como dizem os alemães) Hausmusik praticada nas casas senhoriais e pequeno-senhoriais, paralela à arte mais de rua dos chorões, mas não sem interações com esta. Aliás, podem me chamar de maluco, mas juro que tive a impressão de ouvir evocações de festa do interior brasileiro – até de sanfona! – tanto no Capricho de Saint-Saëns sobre “árias de balé” de Gluck quanto no Capricho de Brahms.

Será, então, que podemos entender Guiomar como uma espécie de apoteose (= elevação ao nível divino) da tradição das “sinhazinhas pianeiras”? Terá ela querido conscientemente levar ao mundo clássico um jeito brasileiro de abordar a música?

E terá sido ao mesmo tempo um “canto de cisne” dessa tradição, ou terá tido algum tipo de herdeiro? Não sei, mas se alguém me vem à cabeça na esteira dessa hipótese, certamente não é o fino Nelson Freire e sim o controverso João Carlos Martins!

Para terminar: a vida inteira Guiomar insistiu em terminar programas com a ‘famigerada’ Fantasia Triunfal de Gottschalk sobre o Hino Brasileiro, que, honestamente, não chega a ser grande música. Acontece que, segundo uma das biografias, logo ao chegar a Paris, com 15 anos, Guiomar teria sido chamada pela exilada Princesa Isabel – ela mesma pianista – e teria recebido dela o pedido de que mantivesse essa peça sempre no seu repertório. E, curioso, ainda ontem o Avicenna postava aqui duas peças de Gottschalk como músico da corte de D. Pedro II (veja AQUI).

Será que isso traz água ao moinho da hipótese de Guiomar como apoteose e canto-de-cisne de um determinado Brasil? Bom, vamos ouvir música, e depois vocês contam as suas impressões!

Pasta 1: faixas adicionais do CD “Guiomar-Beethoven-Klemperer”
04 J. S. Bach (arr. Silotti) – Prelúdio para Órgão em Sol m, BWV 535
05 C. W. Gluck (arr. Sgambati e Friedman) – Danças dos Espíritos Bem-Aventurados, de “Orfeo”
06 C. Saint-Saëns: Caprice sur des airs de ballet de “Alceste”, de Gluck
07 J. Brahms – Intermezzo op.117 nº 2
08 J. Brahms – Capriccio op.76 nº 2
09 J. Brahms – Valsa em La bemol, op.39 nº 15
10 L. van Beethoven (arr. Anton Rubinstein) – Marcha Turca das “Ruínas de Atenas”

. . . . BAIXE AQUI – download here 

Pasta 2: disco “Guiomar Novaes”, Fermata, 1974
a1 Francisco Mignone – Velho Tema (dos Estudos Transcedentais)
a2 Otávio Pinto – Cenas Infantis
a3 Marlos Nobre – Samba Matuto (do Ciclo Nordestino)
a4 Arnaldo Ribeiro Pinto – Pregão (de Imagens Perdidas)
a5 J. Souza Lima – Improvisação
a6 M. Camargo Guarnieri – Ponteio
b1 H. Villa-Lobos – Da Prole do Bebê: Branquinha, Moreninha
b2 H. Villa-Lobos – O Ginete do Pierrozinho (do Carnaval das Criancas)
b3 H. Villa-Lobos – Do Guia Prático: Manda Tiro, Tiro, Lá; Pirulito; Rosa Amarela; Garibaldi foi a Missa
b4 L. M. Gottschalk – Grande Fantasie Triomphale sur l’Hymne National Brésilien Op. 69

. . . . BAIXE AQUI – download here 

Ranulfus

[restaurado com reverência e saudade por seu amigo Vassily em 4/3/2023]

Nelson com Guiomar Novaes. Foto do acervo particular de Nelson Freire, publicada pelo sensacional Instituto Piano Brasileiro

Homenagem a Paulo Moura, sax (1933-2010): ConSertão, com Elomar (violão e voz), Moreira Lima (piano e cravo) e Heraldo do Monte (viola brasileira)

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 13/7/2010.

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio que envolvam o gênio brasileiro pelos motivos expostos AQUI

Embora pessoalmente eu prefira uma outra abordagem do sax (como vocês verão daqui a uns dias), nunca pude deixar de tirar o chapéu para o trabalho do Paulo Moura – que precisamente neste álbum mostra seu fôlego para se estender para além da música da noite urbana (faixas 8, 9, 11, 12), também pelo hierático neo-trovadorismo do arquiteto baiano re-sertanejado Elomar (faixas 1, 2, 3, 4, 13 – especialmente a 4).

Mas Paulo Moura faleceu ontem (12/07/2010) à noite, não é hora de falar.
Deixo vocês com a música.

ConSertão – um passeio musical pelo Brasil
Elomar (composições, violão, voz), Arthur Moreira Lima (piano, cravo),
Heraldo do Monte (viola brasileira, violão elétrico),
Paulo Moura (sax soprano, sopranino e alto)
Participações de Paulo Moura assinaladas com *
Gravadora Kuarup, 1982

01 Estrela maga dos ciganos / Noite de Santos Reis (Elomar)*
02 Na estrada das areias de ouro (Elomar)*
03 Campo branco (Elomar)*
04 Incelença pra terra que o sol matou (Elomar)*
05 Trabalhadores na destoca (Elomar)
06 Pau de arara (Luís Gonzaga)
07 Festa no sertão (Villa-Lobos)
08 Valsa da Dor (Villa-Lobos)*
09 Lenínia (Codó)*
10 Valsa de Esquina nº 12 (F. Mignone)
11 Espinha de bacalhau (Severino Araújo)*
12 Pedacinhos do céu (Waldir Azevedo)*
13 Corban (Elomar)*

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Ranulfus

[reverentemente restaurado por Vassily em 27/2/2023]

Villa-Lobos, Pierre Max Dubois, Ibert, Glazunov: Concertos para Saxofone

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 20/7/2010.

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio que envolvam o gênio brasileiro, pelos motivos expostos AQUI

 

No meu “curso autodidata intensivo em música do século XX”, nos anos 70, este disco surgiu como uma revelação que logo se tornou um caso de amor profundo, que perdura até hoje.

Eu nem desconfiava (e desconfio que muitos ainda hoje também nem desconfiam) que o sax podia soar assim, sereno e solene – muito, muito próximo de como soa um violoncelo! Não desgosto de seus outros usos – às vezes sensual, malandro, guinchado, escrachado… Mas é como se fossem dois instrumentos diferentes. Sou capaz de apreciar os dois, como sei apreciar tanto o cravo quanto o piano. Mas a verdade é que um deles – este – combina mais naturalmente comigo.

Meu vinil estava riscado demais no lado B, e o mano Strava conseguiu esta versão a partir de CD. Curioso que no CD as peças vêm em ordem diferente que no vinil – mas eu não me conformei. Restaurei a ordem em que conheci o disco, aberto com imensa classe pelo recitativo-cadência inicial do concerto de Pierre-Max Dubois – um aluno de Milhaud de que pouco se fala no Brasil, mas a julgar por esta amostra merecia mais atenção.

Segue-se a Fantasia de Villa-Lobos, a única das peças que não é para sax alto e sim soprano – com um engenhoso acompanhamento de cordas e três trompas. Não temos nesta gravação a malandragem chorona e/ou jazzística que a Orquestra de Câmara Brasileira regida por Bernardo Bessler atingiu ao acompanhar Paulo Moura. Soa talvez como um poema brasileiro lido por um ator estrangeiro, que não conhece todas as manhas da alma local – mas ainda assim é um grande ator, e consegue fazer uma grande interpretação em termos de algo que talvez possa ser chamado arte universal.

Em todas as quatro peças existe alguma medida de influência do jazz, cada uma a seu modo, mas nenhuma é – digamos – mera tentativa de imitá-lo. São todas de autores suficientemente fortes para se abrir às inspirações do que está soando pelo mundo em sua época sem perder nada de seu sabor característico – tanto o pessoal quanto de sua própria tradição cultural e composicional.

Nisso, um detalhe que me chama atenção é que tanto o Concertino de Ibert quanto o Concerto de Glazunov foram compostos em 1936 – só que o francês estava com 46 anos, e o russo com 71, o último ano da sua vida. Não é de estranhar que o seu concerto – fluente, lírico, com os movimentos todos interligados – seja o de linguagem mais… não digo ‘tradicional’, mas quem sabe ‘comedida’.

Aliás, desde a primeira audição do Concerto de Glazunov me chamou atenção o tema que abre seu movimento ou seção final: começa com um salto de oitava para cima, outro de volta à nota original, mais um para a oitava de baixo, e ainda outro para a original – e isso em ritmo swingado. A oitava raramente é usada com valor melódico na música européia, foi precisamente o jazz quem chamou atenção para essa possibilidade. Que o velho mestre russo tenha resolvido explorá-la em uma de suas últimas obras, e isso ao modo de um fugato – essa forma tão centro-européia de fazer música – sempre me pareceu algo tocante. Talvez mais um dado para fazer deste um disco de “arte universal”.

Pierre-Max Dubois (1930-1995):
Concerto para sax alto e cordas (1959)
01 Lento espressivo – Allegro 6:56
02 Sarabande: lento nostalgico 5:51
03 Rondò: allegretto 4:29

Heitor Villa-Lobos (1887-1959):
Fantasia para sax soprano, 3 trompas e cordas (1946)
04 Animé 4:10
05 Lent 2:39
06 Très animé 2:57

Jacques Ibert (1890-1960):
Concertino da camera para sax alto e 11 instrumentos (1936)
07 Allegro con moto 4:33
08 Larghetto – Animato molto 8:13

Alexander Glazunov (1865-1936):
09 Concerto em mi bemol para sax alto e cordas, op.109 (1936)

Eugène Rousseau (EUA, 1932), saxofone alto e soprano
Orquestra de Câmara Paul Kuentz – regência Paul Kuentz (França, 1930)
Gravação original Deutsche Grammophon, 1972

. . . . . BAIXE AQUI – download here

Ranulfus

[restaurado por Vassily em 20/2/2023. Que saudades, Mestre!]

Homenagem a Nelson Freire (1944-2021)

O mineiro de Boa Esperança, que foi muito jovem estudar piano no Rio de Janeiro e depois em Viena, nos deixou hoje aos 77 anos. Uma grande perda para a música brasileira e mundial.

Hoje não teremos postagens de Nelson Freire. Já foram muitas as homenagens em vida. Apenas remetemos a três janelas para o vasto mundo online lá fora, janelas que têm em comum a figura de Villa-Lobos, de quem Nelson foi um dos maiores intérpretes. O primeiro vídeo, de 1965 e postado pelo incansável Instituto Piano Brasileiro, mostra Nelson muito jovem na Alemanha tocando várias miniaturas para piano de Debussy, Scriabin e outros, incluindo a Dança (Miudinho), 4º mov. das Bachianas brasileiras No.4.

Nelson aprendeu com grandes mestres como Novaes, Rubinstein e Horowitz a arte de montar recitais de piano com pequenas peças que vão se encaixando, arte na qual o bis é essencial. Aliás, o seu disco mais recente é todo dedicado aos bises (Encores, pela Decca em 2019).

Passando para os anos 1970, um blog europeu publicou recentemente o maravilhoso álbum que Nelson gravou, também na Alemanha, pela Telefunken/Teldec. O repertório é só Villa-Lobos:

https://susato.blogspot.com/2020/11/heitor-villa-lobos-klavierwerke-nelson.html

E o segundo vídeo mostra Nelson no auge da fama, tocando o Momoprecoce, composição carnavalesca de 1929 na qual Villa-Lobos utiliza percussões que nós brasileiros conhecemos bem: chocalhos, reco-reco, tamborim… Que essa homenagem seja uma celebração alegre, se é que é possível.

Como tocava…

Modinhas fora de moda – Lenita Bruno & Orquestra Leo Peracchi (Acervo PQPBach)

LENITA-BRUNO---MODINHAS-FORA-DE-MODAModinhas fora de moda
Lenita Bruno
Orquestra Leo Peracchi
1960

Segundo a contra-capa, “este LP é o resultado de um trabalho de equipe, com honesto objetivo artístico: 1) O Maestro que orientou e presidiu à gravação teve a mais ampla liberdade; 2) A Intérprete opinou sempre com severo espírito crítico; 3) A técnica foi segura e sem concessões e 4) A prensagem, de alta qualidade. Irineu Garcia, Festa Discos.”

01. Cantigas (Alberto Nepomuceno/Branca Colaço)
02. Casinha pequenina (Domínio Popular-Arr. Léo Peracchi)
03. Se os meus suspiros pudessem (Arr. Batista Siqueira)
04. Hei de amar-te até morrer Anônimo (Arr. Mario de Andrade)
05. Canção da felicidade (Barroso Neto/Nosor Sanchez)
06. Lundu da Marquesa de Santos (Villa-Lobos/Viriato Correia)
07. Conselhos (Carlos Gomes/Doutor Velho Experiente)
08. Foi numa noite calmosa (Arr. Luciano Gallet)
09. Cantiga (Barroso Neto/Luis Guimarães)
10. Róseas flores da alvorada (Domínio popular-Arr. Mario de Andrade)
11.Modinha (Jaime Ovalle/Manuel Bandeira)
12. 1ª Trova (Alberto Nepomuceno/Osório Duque Estrada)
13. 2ª Trova (Alberto Nepomuceno/Magalhães Azeredo)

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MP3 320 kbps – 84 MB – 40 min

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LP digitalizado por Avicenna

.

Boa audição.

Avicenna

Voz Ativa Madrigal: Pro Nobis (Acervo PQPBach)

qovs4nProdução independente do Voz Ativa Madrigal, gravado no ano de 2000, este CD é composto por músicas sacras de diversos períodos da história da música, desde o Barroco até o Contemporâneo.

Um dos objetivos deste disco foi o registro de peças da música brasileira, incluindo composições do período colonial de André da Silva Gomes e Manoel Dias de Oliveira. Destaque especial para Heitor Villa-Lobos de quem o grupo foi o primeiro a receber autorização para registro de Ave Maria. Também inclui uma peça escrita especialmente para compor o repertório deste trabalho, de Robson Cavalcante.
Este é o primeiro registro do PROMUSA – Projeto de Música Sacra, concebido e levado a efeito pelo Voz Ativa Madrigal.
(http://www.vozativamadrigal.com.br/vam05/discos.htm#PRONOBIS)

Giuseppe Antonio Pitoni (1675-1743)
01. Christus factus est
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
02. Ave verum corpus
03. Laudate Dominum
André da Silva Gomes (Lisboa, 1752 – São Paulo, SP, 1844)
04. O vos omnes
Franz Schubert (1797-1828)
05. Chor der engel
Anton Bruckner (Austria, 1824-1896)
06. Ave Maria
07. Tota pulchra es Maria
Heitor Villa-Lobos (1887-1959)
08. Ave Maria
09. Ave verum
Gyorgy Deak-Bardos (1905-1991)
10. Eli! Eli!
Manoel Dias de Oliveira (São José del Rey [Tiradentes], 1735-1813)
11. Surrexit Dominus (Moteto para procissão de Domingo de Páscoa)
Robson Barata Cavalcante (1962 – )
12. Ave Maris Stella

Pro Nobis – 2000
Voz Ativa Madrigal
Maestro Ricardo Barbosa

Este CD pertence ao acervo do musicólogo Prof. Paulo Castagna. Não tem preço !!!
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2jcbrls

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Boa audição.

2uei2kk

 

 

 

 

 

 

 

Avicenna

Coral Altivoz – Desenredos – 1999: (Acervo PQPBach)

30jlpbcCoral Altivoz

Regente: Mário Assef
Acompanhadora: Bianca Malafaia

 

Fundado em 1993, o Coral Altivoz é composto, atualmente, por quarenta integrantes, entre alunos de diversos cursos, professores, funcionários e pessoas da comunidade em geral. O Altivoz participa frequentemente de eventos acadêmicos nos diversos campi regionais da UERJ e de acontecimentos externos à Universidade, tendo sua agenda repleta durante todo o ano, cumprindo uma média de 35 apresentações anuais.

34fm9h3Coral Altivoz

Desenredos
Autor desconhecido
01. Bumba-Meu-Boi
Ernst Mahle (Alemanha, 1929-hoje em Piracicaba, SP) sobre poema de Cassiano Ricardo Leite (S J dos Campos, SP, 1895-R de Janeiro, 1974)
02. Categiró
Ivan Lins (1945) e Gonzaguinha (Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior )(Rio de Janeiro, 1945-Renascença, PR, 1991)
03. Desenredo
Cláudio Nucci (Jundiaí, SP, 1956) e Juca Filho (Rio de Janeiro, 1956)
04. Dos Rios
Sérgio Oliveira de Vasconcellos Corrêa (São Paulo, 1934) – fuga baseada em tres temas indígenas: Dança dos Coroados; Canide Ioune e Nozani-na
05. Moacaretá
Antífona para Domingo de Ramos, Manuscrito do Piranga, MG, 1ª metade do séc. XVIII. Autor desconhecido, transcrição Paulo Castagna
06. Pueri Hebraeorum
Osvaldo Costa de Lacerda (São Paulo, 1927-2011)
07. Ofulú Lorêrê
Francisco Mignone (S. Paulo, 1897-Rio de Janeiro, 1986)
08. Congada
Ernst Mahle (Stuttgart, Germany 1929-hoje em Piracicaba, SP)
09. Quatro Maracatus
Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 1887-1959), sobre poema de Ferreira Goulart (São Luiz, MA, 1930)
10. Trenzinho Caipira
Caio Senna (Rio deJaneiro, 1959) sobre poema de Manuel Inácio da Silva Alvarenga (Vila Rica, 1749-Rio de Janeiro, 1814)
11. Madrigal 1
Moraes Moreira (Ituaçu, BA, 1947) e Armandinho
12. Davi Licença
Gilberto Gil (Salvador, BA, 1942) e Torquato Neto (Teresina, PI, 1944-Rio de Janeiro, 1972)
13. Geléia Geral
Ernani Aguiar (Petrópolis, RJ, 1950) sobre poemas de Carlos Drummond de Andrade (Itabira, MG, 1902- Rio de Janeiro, 1987) e Mário de Andrade (S. Paulo, 1893-1945)
14. Cantos Pro Rio
Sérgio Oliveira de Vasconcellos Corrêa (São Paulo, 1934)
15. Moacaretá (A Capella)

Desenredos – 1999
Coral Altivoz
Regente: Mário Assef (desde 1996)
Acompanhadora: Bianca Malafaia

memoria
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Mais outro CD do acervo do musicólogo Prof. Paulo Castagna. Não tem preço !!!

Boa audição.

surpresas

 

 

 

 

 

 

 

 

Avicenna

Antologia da música brasileira I e II, por Arnaldo Estrella (piano)

capaArnaldo Estrella (1908-1980) foi um dos principais nomes do piano brasileiro no século XX, com uma longa dedidação ao repertório de compositores nacionais como Villa-Lobos e Mignone, que dedicaram obras a ele. Foi também professor, formando várias gerações de alunos, dos quais o mais famoso foi provavelmente Antonio Guedes Barbosa. Fiz algumas perguntas sobre ele para outra ex-aluna de destaque na música nacional, a pianista Linda Bustani.

– Arnaldo Estrella realmente tocava muita música brasileira? Ou os convites que ele teve pra gravar privilegiaram essa parte do repertório dele?

Linda: Ele se dedicou mesmo à música brasileira. Inclusive era um dos poucos pianistas, ou o único àquela época, a fazer turnê na União Soviética. Na década de 1960, todo ano ele passava um mês lá, tocando música brasileira. Inclusive ele trazia russos pra visitarem o Brasil e com tudo aquilo que teve, ditadura, comunismo e tal, ele nunca foi preso, era intocável, todo mundo o respeitava.

– Com qual compositor brasileiro ele tinha uma maior identificação?

Linda: A paixão dele mesmo era Villa-Lobos. Ele convivia muito com Mignone, Claudio Santoro, essa gente toda. Ele levava a música brasileira ao exterior, por isso também teve tantos convites pra gravar música brasileira.

– Mais alguma curiosidade sobre ele?

Linda: Era um homem extremamente exigente, ele escrevia muito bem, tinha um programa de rádio, e além de tudo era um excelente pintor, essa particularidade pouca gente conhece. Tinha um conhecimento incrível de arte, de pintura, literatura, de tudo, por isso era extremamente exigente com a qualidade e o desempenho dos alunos dele.

O repertório destes dois CDs serve como uma aula da história do piano brasileiro. Não podendo falar de todas as obras, me limito a destacar que após a bela melodia ‘Il Neige’ (está chovendo, em francês), de pianismo delicado, o Tango Brasileiro já começa trazendo um outro universo musical, mais quente, tropical, brasileiro. Alexandre Levy, que morreu aos 27 anos, expressou fortemente a musicalidade da sua terra natal e, sem nenhuma base científica para dizê-lo, suspeito que esse tango, de 1890, teve influência no nacionalismo musical de Villa-Lobos, Radamés Gnattali e outros tantos.

Sobre as doze Valsas de Esquina de Francisco Mignone, Enio Silveira escreveu:
Caracteristicamente brasileiras na essência e no sentimento, assim como na forma, (“Hoje em dia bom número das modinhas populares são em três-por-quatro e valsas legítimas” – Mário de Andrade in Pequena História da Música), essas composições nos dão expressivo retrato musical desse doce-amargo que constitui ou constituía o modo de ser de nosso povo.

No encarte do segundo LP vinha o seguinte texto de Manuel Bandeira:
Creio não errar se disser que Arnaldo Estrella é agora o maior pianista que o Brasil tem.
Aqui são sobretudo as suas qualidades de frase, elegância, malícia, que Estrella nos proporciona no gênero tão amável da valsa, vindo da melodia ainda não brasileira de Oswald, já brasileira de Nepomuceno, até à brasileiríssima série de nosso “rei da valsa” Francisco Mignone, passando por Villa-Lobos, sempre surpreendente, e Lorenzo Fernandez, rematando com o fino, o raro Camargo Guarnieri.

Antologia da música brasileira I
1. O Amor Brasileiro (Sigismond Neukomm)
2. A Sertaneja (Brasílio Itiberê)
3. Noturno (Leopoldo Miguez)
4. Il Neige (Henrique Oswald)
5. Tango Brasileiro (Alexandre Levy)
6. Galhofeira (Alberto Nepomuceno)
7. Minha Terra (Barroso Neto)
8. Lenda do Caboclo (Villa-Lobos)
9. Protetor Exu (Brasílio Itiberê)
10. Dança de Negros (Fructuoso Viana)
11. Moda (Lorenzo Fernandez)
12. Cucumbizinho (Francisco Mignone)
13. Valsa nº 7 (Radamés Gnattali)
14. Canção Sertaneja (Camargo Guarnieri)
15. Saci Pererê (Luiz Cosme)

Folder
Antologia da música brasileira II
1. Valsa de esquina nº 12 (Francisco Mignone)
2. Valsa de esquina nº 1 (Francisco Mignone)
3. Valsa Chôro nº 11 (Francisco Mignone)
4. Valsa Chôro nº 8 (Francisco Mignone)
5. Primeira Valsa (Souza Lima)
6. Valsa Suburbana (Lorenzo Fernandez)
7. Valsa da Dôr (Villa-Lobos)
8. Poema Singelo (Villa-Lobos)
9. Valsa Lenta (Henrique Oswald)
10. Valsa (Alberto Nepomuceno)
11. Valsa nº 4 (Camargo Guarnieri)

Arnaldo Estrella, piano

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Estrella
Estrella, fingindo que está estudando, posa para foto

Pleyel

Canções, Modinhas e Lundús (Brazilian songs): Luiz Alves da Silva, countertenor & Dolores Costoyas, guitar (Acervo PQPBach)

8xlz5tUm raro, histórico e agradável CD

Brazil – the unknown giant

REPOSTAGEM

If we look at Brazil from a musical point of view we discover a rich, varied and fascinating country well worth investigating. We do not know whether Brazil’s musical history is as ancient as Europe’s: the conquering Portuguese — like their Spanish counterparts in the surrounding countries — have destroyed the old local cultures in order to replace it with their own. But there are indications suggesting that the indigenous Indios — mostly from the Guarani Tribe — had their own music which they used for celebrations that greatly impressed the first European visitors. The French mariner Jean de Kery landed here in 1556 and called the country a “land full of music”. But unfortunately we know nothing about the music of the Indios. The church quickly realized that music was the easiest way to overcome pagan traditions. Religious music in Brazil flourished especially in the region of Minas Geiras, around the beautiful old little town of Ouro Preto. In the archives of the local churches innumerable works can be found; particularly rich was the so called «Barocco Mineiro», arround 1800.

After 1820 the new Empire of Brazil encouraged a rich musical life at the courts and in the palaces. The Mulatto José Mauricio Nunes Guarcia, in his quality of Master of the Court Chapel, wrote a lot of splendid church music; in the Salons the “Modinhas”, a form of melodic songs imported from Lisbon and closely related to middle European Romanticism, became very popular. At the same time Brazilian music became internationally succesful: Emperor Dom Pedro II, a great lover of music (who had unsuccesfully invited Richard Wagner to come to his residence in Rio de Janeiro) sent the young Carlos Gomes to Milan to study music. There his opera “Il Guarani” was premiered at the Scala in 1870. The success was such that even Verdi presented his congratulations. Brazil had its “National Opera”.

When towards the end of the century Dom Pedro II had to yield to lhe Republic, a concentration of the musical life, took place. As in most European and all Latin American countries a “nationaliste” generation made its appearance. Its goal was the creation of a Brazilian Music based on national elements. Amongst this groupe we find Alberto Nepomuceno, Francisco Braga, Alexandre Levy, Itiberé da Cunha, Ernesto Nazareth. The following generation produced some of the most distinguished Brazilian composers: Oscar Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone, Camargo Guarnieri, José Siqueira, Radames Gnatalli, Waldemar Henrique, Vieira Brandão, Hekel Tavares and at least a dozen more.

Prof. Kurt Pahlen (translated by Francois Lilienfeld)(extraído do encarte)

Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 1887-1959)
01. Lundú da Marqueza de Santos
02. Viola quebrada
03. Realejo
Ernesto Nazareth (Rio de Janeiro, 1863-1934)
04. Escorregando – solo de guitare
Francisco Mignone (S. Paulo, 1897-Rio de Janeiro, 1986)
05. Canto baixinho
Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 1887-1959)
06. A gatinha parda
Ernesto Nazareth (Rio de Janeiro, 1863-1934)
07. Odeon – Dança Brasileira – solo de guitare
08. A casinha pequenina
Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 1887-1959)
09. Redondilha
Augusto Marcellino (S. Paulo, 1911-Buenos Aires, 1973)
10. Remeleixo (Chôro Nr. 9) – solo de guitare
Anonyme
11. Ô lelê lilá
Trad. arr. Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 1887-1959)
12. Papae Curumiassu
Anonyme
13. Nozani-ná
Trad. arr. Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 1887-1959)
14. Cantilena
15. Estrela é lua nova
João Teixeira Guimarães ou João Pernambuco (Jatobá, atual Petrolândia, PE, 1883-Rio de Janeiro,1947)
16. Interrogando (longo) – solo de guitare
Anonyme (19ième Siècle)
17. Si te adoro
18. Roseas flores d’alvorada
19. Hei de amar-te até morrer
Gabriel Fernandes da Trindade (Portugal ,c.1790-Rio de Janeiro, 1854)
20. Graças aos ceos
Padre Telles (Bahia, c.1800 – Rio de Janeiro, c.1860)
21. Eu tenho no peito
José Francisco Leal (Rio de Janeiro, 1792-1829)
22. Deliro e Suspiro
Emílio Eutiquiano Correia do Lago (Franca, SP, 1837 -S. Paulo, 1871)
23. Último adeus de amor
José Francisco Leal (ca.1850-ca.1900)
24. Esta noite, Oh ceos!
A. J. S. Monteiro (Rio de Janeiro, ca.1830-ca.1890
25. Que noites eu passo
João Teixeira Guimarães ou João Pernambuco (Jatobá, atual Petrolândia, PE, 1883-Rio de Janeiro,1947)
26. Sons de Carrilhoes (Chôro) – solo de guitareaos ceos
Padre Telles (Bahia, c.1800 – Rio de Janeiro, c.1860)
21. Eu tenho no peito
José Francisco Leal (Rio de Janeiro, 1792-1829)
22. Deliro e Suspiro
Emílio Eutiquiano Correia do Lago (Franca, SP, 1837 -S. Paulo, 1871)
23. Último adeus de amor
José Francisco Leal (ca.1850-ca.1900)
24. Esta noite, Oh ceos!
A. J. S. Monteiro (Rio de Janeiro, ca.1830-ca.1890
25. Que noites eu passo
João Teixeira Guimarães ou João Pernambuco (Jatobá, atual Petrolândia, PE, 1883-Rio de Janeiro,1947)
26. Sons de Carrilhoes (Chôro) – solo de guitare

Canções, Modinhas e Lundús (Brazilian songs) – 1992
Luiz Alves da Silva, countertenor
Dolores Costoyas, guitar

Álbum fora de catálogo desde 1992.
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.Outro CD do acervo do musicólogo Prof. Paulo Castagna. Não tem preço !!!

Boa audição.

2nkpeaf

 

 

 

 

 

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Avicenna

Raphael Rabello toca o Estudo nº1!

IM-PER-DÍ-VEL !!! (mesmo sendo só o vídeo)

Raphael Rabello aparece nesse vídeo abaixo tocando o Estudo nº1 de Villa-Lobos e pirando em cima, no programa Ensaio, da TV Cultura, em 1993.
Atingi o êxtase e resolvi compartilhar!

PS: tem os dois vídeos com a mesma interpretação: o primeiro que mostra o rapaz tocando, só que com o som ruim (pra que vocês o vejam em ação), e outro com o som arrumado.

http://youtu.be/Aq4bYH1eluc

http://youtu.be/8vmdetspPZ8

Heitor Villa-Lobos, 125 anos

Esses dias estava pensando com meus botões e me lembrei que Heitor Villa-Lobos nasceu em 1887 eque, portanto, faria 125 anos neste ano de 2012. Pensei: “se não me engano, ele nasceu em março; vou ‘googar’ pra ver o dia certo e fazer uma postagem comemorando o aniversário do gênio“. Mas nem fiz isso, abro o google hoje e me deparo com este selo comemorando a data. Me senti impelido em responder.

Villa-Lobos não foi apenas um grande compositor brasileiro. Foi um dos mais prolíficos e versáteis autores de todo o mundo no século XX, um dos grandes nomes da música erudita de nosso planeta. Com mais de mil (isso, mil!) composições, o pai de CVL foi também o ser humano que mais registrou, em partitura, cantos de pássaro na história.

Não tenho como esconder aqui que Villa-Lobos é dos compositores que mais aprecio. Pra ser bem direto, o cara era muito foda! Fazia desde música infantil (“O Cravo Brigou com a Rosa”, “Teresinha de Jesus” e “Fui no Tororó” são algumas delas), até música de câmara e formações para pequenos grupos (orquestra de cordas, hepteto de sopros, oito violoncelos e uma soprano) chegando mesmo a coisas megalômanas, como o Choros nº14, com duas orquestras e fanfarra (infelizmente, sua partitura desapareceu…), ou o Choros nº10, com orquestra, reco-reco, ganzá, pandeiro e a turma cantando em tupi, assim como ocorre no Descobrimento do Brasil, músicas ensandecidas, delirantes e impregnantes.

Lembro de quando escapei da turma numa viagem didática em São Paulo e entrei no Theatro Municipal, pagando R$ 5,00 pra ver um concerto (estudante pooooobre…). A Orquestra Municipal e o seu Coro executaram o Choros nº10… Acho que nunca senti uma coisa como aquela em um concerto! Delírio, força, peso… Tinha tudo isso naquela partitura orgástica.
(Aproveite e veja o Choros nº10 – segunda parte – e talvez você me entenda)
http://www.youtube.com/watch?v=DKLvqhwzgTI

Ele compôs 14 choros, 9 Bachianas, 12 sinfonias, balés, óperas, concertos para todo o tipo de instrumento que você imaginar (um dos mais belos, por exemplo, é o Concerto para Harmônica e Orquestra), além da vastíssima obra para piano (5 concertos, o Choros nº11 e uma penca de peças solo e infantis) e para violão (Choros nº1, 5 prelúdios, 12 estudos e um concerto com orquestra), referências para os músicos nesses instrumentos.
Aqui, o Concerto para Harmônica (3º movimento):
http://www.youtube.com/watch?v=7UnVmG-DDhY

Sua orquestração demonstra um compositor com um domínio pleno (e raro) de todos os instrumentos da orquestra (Infelizmente, não postamos obras desse mestre aqui por conta de direitos autorais). Uns compositores puxavam mais para as cordas, outros para os sopros. Villa-Lobos passeia pelos timbres dos instrumentos como (quase) ninguém! E suas obras mais volumosas possuem uma base, um poder dos graves simplesmente absurdo! Soma-se a isso a sua capacidade de reelaborar os temas musicais, esticando-os, comprimindo-os, alternado e alternando-os de uma forma estritamente moderna e única.
(ops, melhor parar por aqui que acho que já estou começando a babar)

Bom, mas o que que eu vou dizer mais do cara?
Acho que um singelo “Parabéns, Villa-Lobos”! Como diria Obama, “You are the man“! P.Q.P, Villa-Lobos!

 

Bisnaga

Curto e grosso

Durante a semana passada, fomos informados, por um representante dos detentores dos direitos sobre a obra de Villa-Lobos, que deveríamos retirar do ar todos os links das obras do maior compositor erudito brasileiro ou pagar multas e direitos. Retirei imediatamente do ar todos os posts de Villa. Não tenho como retirar todos os links, pois muitos não são nossos e sim de colaboradores que escolheram o PQP Bach como o maior repositório de Villa no Brasil. E, se não tenho como pagar em dia nem todas as minhas contas, imaginem se pagaria diretos sobre a obra alheia…

Já tivemos experiências com outros autores brasileiros, todos ainda vivos. Estes sempre se declararam felizes e honrados por terem sua obra aqui divulgada. Alguns nos mandam CDs e arquivos mp3 para serem postados. Ainda ontem recebi um CD já convertido em mp3 (e no Rapidshare) de um deles.

Acredito que Villa — sendo como era — também ficaria feliz em ver mais de 100 CDs com sua obra divulgados livremente para ouvintes, estudantes e músicos de todo o mundo, mas assim não pensam os detentores dos direitos. Pretendo entrar em contato direto com eles, mas por enquanto é isso. Paciência.

Estou escrevendo este arrazoado em função de que começaram a aparecer reclamações como a que segue (além de outras bem mais indignadas) com o sumiço:

Se reclama tanto que a cultura nacional não tem permeabilidade entre nossos patrícios (até a ponto de julgarem que o povo brasileiro é ignorante) e quando surge uma das poucas iniciativas de divulgação da verdadeira Música brasileira ela é obrigada a se calar?

Não entendo (talvez seja eu o idiota) como podem querer manter um compositor da importância de Villa-Lobos nos alçapões do desconhecimento e visar apenas o lucro, lucro este que verdadeiramente não lhes pertence, pois que é fruto da criatividade de alguém que sei que estaria envergonhado com tal decisão, alguém que lutou pela educação musical em nossa pátria e sabia que só se pode ensinar àquele que está encantado pelo que estuda.

Às vezes tenho pena dos artistas verdadeiros pela mesquinharia deste mundo…

É isso. E mais: peço calma. Não adianta nada encher de palavrões a caixa de comentários.

PQP


Last week, we were informed by a representative of the rights holders of Villa-Lobos’s work that we should remove all links to his works or face fines and royalties. I immediately took down all posts related to Villa. I can’t remove every link, as many are not ours but from collaborators who have chosen PQP Bach as the largest repository of Villa-Lobos in Brazil. And if I can’t even pay all my bills on time, let one say paying royalties on someone else’s work…

We have had experiences with other Brazilian authors, all still alive. They have always expressed happiness and pride that their works are being shared here. Some even send us CDs and MP3 files for posting. Just yesterday, I received a CD already converted to MP3 (and uploaded on Rapidshare) from one of them.

I believe that Villa-Lobos —being as he was—would also be happy to see more than 100 CDs of his work freely shared for listeners, students, and musicians worldwide, but such is not the view of the rights holders. I plan to contact them directly, but for now, that’s it.

I am writing this explanation because complaints have started to appear, like the one below (besides many more outraged ones), about the disappearance:

“They complain so much that our national culture lacks permeability among our compatriots (to the point of judging that Brazilians are ignorant) and when one of the few initiatives to promote true Brazilian Music appears, it is forced to remain silent?

I don’t understand (maybe I’m the idiot) how they want to keep a composer of Villa-Lobos’s importance in oblivion and aim solely at profit, a profit that truly does not belong to them, as it is the result of the creativity of someone who I know would be ashamed of such a decision—someone who fought for musical education in our homeland and knew that teaching can only happen to those enchanted by what they study.

Sometimes I feel sorry for true artists because of the pettiness of this world…”

That’s it. And more: I ask for patience. It’s pointless to fill the comment box with swear words.

PQP

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Bachianas Brasileiras (completas)

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio, pelos motivos expostos AQUI

 

As Bachianas Brasileiras do grande Villa são, para muitos, a principal obra do compositor. Foram escritas entre os anos de 1930 e 1945. Estão erigidas por uma série de nove suítes ao todo. Villa fundiu material folclórico essencialmente brasileiro (em relevo a música sertaneja), às formas pré-clássicas de Bach – isso se constitui num neo-barroco. O compositor tencionava com isso criar uma versão à brasileira dos Concertos de Brandenburgo de Johann Sebastian Bach, segundo a wikipédia. Percebemos com isso dois fatores: (1) construir uma grande obra que homenageasse a alma do Brasil. Isso é notável! (2) Homenagear Bach, além de realçar a profunda influência do compositor alemão sobre a produção do Villa. Os títulos das Bachianas, curiosamente, receberam um títutlo à brasileira e outro bachiano. Esse fato apenas releva a duplicidade. Ou seja, é uma homenagem ao Brasil e à obra de Bach. A gravação ora apresentada é brasileira e tem na direção de Isaac Karabtchewsky conduzindo a Orquestra Sinfônica do Brasil. As canções são entoadas em português. Para muitos, não se trata de uma grande gravação. Ou seja, fica aquém das bachianas. Talvez “a uma” estrela que a moçada da Amazon deu, explicite bem o que estou falando. Mas como nosso esporte é postar, postamos o “necessário” e o “des-necessário” (falo por mim). É mais ou menos aquilo que Machado fala em Memórias Póstumas de Brás Cubas, numa das passagens mais belas da literatura brasileira: “Meu senhor, falou-me um longo verme gordo, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, tampouco amamos ou detestamos o que roemos: nós apenas roemos.” . Boa apreciação!

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Bachianas Brasileiras (completas)

DISCO 1

Bachianas Brasileiras No. 1- Pour orchestre ei violoncelles
01. Introduction (Embolada)
02. Prelude (Modinha)
03. Fugue (Conversa)

Bachianas Brasileiras No. 2 – Pour orchestre symphonique
04. Prelude (Ponteio)
05. Aria (O Canto da Nossa Terra)
06. Dance (Lembrança do Sertão)
07. Toccata (O Trenzinho do Caipira)

Bachianas Brasileiras No. 3 – Pour piano et orchestre
08. Prelude (Ponteio)
09. Fantaisie (Devaneio)
10. Aria (Modinha)
11. Toccata (Picapaú)

DISCO 2

Bachianas Brasileiras No. 4 – Pour orchestre symphonique
01. Prelude (Introdução)
02. Chorale (Canto do Sertão)
03. Aria (Cantiga)
04. Dance (Miudinho)

Bachianas Brasileiras No. 5 – Pour soprano et orchestra de violoncelles
05. Aria (Cantilena)
06. Dance (Martelo)

Bachianas Brasileiras No. 6. – Pour flute et solo de basson
07. Aria
08. Fantaisie

DISCO 3

Bachinas Brasileiras No. 7 – Pour orchestre symphonique
01. Prelude (Ponteio)
02. Gigue (Quadrilha Caipira)
03. Toccata (Desafio)
04. Fugue (Conversa)

Bachinas Brasileiras No. 8 – Pour orchestre symphonique
05. Prelude
06. Aria (Modinha)
07. Toccata (Catira Batida)
08. Fugue

Bachianas Brasileiras No. 9 – Pour orchestre à cordes
9. Prelue et Fugue

Orchestre Symphonique du Bresil
Isaac Karabtchewsky, regente

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Scans

Carlinus

Heitor Villa-Lobos (1887-1959): Rudepoema / Danças (REUPADO – ARQUIVOS SEM RUÍDOS)

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio, pelos motivos expostos AQUI

 

Peço licença ao CVL para postar obras de seu pai e apresentar uma das composições de Villa-Lobos que mais me empolgam, o Rudepoema.
Nesse conjunto de obras orquestrais, com destaque para o Rudepoema, Villa-Lobos demonstra uma excepcional inventividade e um completo domínio orquestral em todos os seus tons e nuances. São obras com ritmação bastante acentuadas, com muito vigor e brasilidade, principalmente As Danças Características Africanas, apresentadas por uma orquestra competente e sob a batuta de Roberto Duarte, exíminio maestro e um especialista na obra do compositor carioca.
Iniciado em meados de 1921 no Brasil e terminado em 1926 em Paris, o Rudepoema foi escrito originalmente para piano solo e dedicado a Artur Rubinstein. A falta de uma forma clara revela elementos de improvisação, embora em alguns outros aspectos Rubinstein observasse no Rudepoema, uma certa equivalência brasileira à Sagração da Primavera de Stravinsky, reflexo do próprio compositor e, acima de tudo do Brasil.

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Heitor Villa-Lobos: Rudepoema / Danças

1. Dança Frenética (5:40)

Danças Características Africanas
2. Nº 1 – Farrapós (5:55)
3. Nº 2 – Kankukus (6:56)
4. Nº 3 – Kankikis (5:51)

5. Dança dos Mosquitos (8:41)

6. Rudepoema (21:33)

Slovak Radio Symphony Orchestra (Bratislava)
Roberto Duarte, Regente

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE 320 KBPS

Marcelo Stravinsky

Heitor Villa-Lobos (1887-1959): peças para Orquestra de Câmara e Solistas – com Paulo Moura (1933-2010) ao sax (reloaded in memoriam)

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Fazia tempo que eu queria postar esse CD, mas ele simplesmente tinha desaparecido. Lembrei dele, porque senti falta da Fantasia para Saxofone e Orquestra entre as obras postadas, mas acabei perdendo a oportunidade de postá-lo em homenagem aos 50 anos de falecimento de Villa-Lobos, exatamente por não saber onde andava o meu exemplar. Agora que o encontrei, cá estou compartilhando com vocês.

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O instrumento mais representativo da música brasileira é o violão. Não é à toa que uma das parcelas mais legítimas da obra de Heitor Villa-Lobos seja dedicada a este instumento. É claro que seria incongruente afirmar-se que há composições mais ou menos legítimas do que outras. Mas, no caso específico de Villa-Lobos, a obra para violão, principalmente os Préludios, os Estudos e o Concerto para Violão e Pequena Orquestra, já integram em caráter definitivo o repertório universal do violão, enquanto outras obras ainda aguardam a vez de se legitimarem. Todo compositor passa por esse processo. Mahler, Bruckner e muitos outros também viveram essa experiência, embora já estivessem mortos.

Em 1951, atendendo a um pedido do violonista Andrés Segóvia, Villa-Lobos compôs o Concerto para Violão e Pequena Orquestra. Hoje em dia, a popularidade de uma obra, sem nos descuidarmos de sua valoração intrínseca, pode ser medida estatisticamente, através do número de gravações registrado em catálogos. Nos últimos dez anos, o Concerto para Violão mereceu mais de vinte gravações, tendo como intérpretes alguns dos maiores violonistas da atualidade: Juliam Bream, Pepe Romero, John Williams, Turíbio Santos e outros. Na verdade, o Concerto é um verdadeiro achado, dividido nos tradicionais três movimentos, obedientes aos andamentos rápido-lento-rápido. Uma das grandes atrações inventadas por Villa-Lobos é a cadenza que faz a união do segundo com o terceiro movimento, onde o violonista exige suas habilidades técnicas em harmônicos, ritmos e citações de grande sutileza.

Talvez a identificação de um paralelismo entre Bach e a essência da música brasileira tenha sido a principal marca da genialidade de Heitor Villa-Lobos.  Foi a partir daí que a representação de nossos sistemas rítmicos adquiriu a grandeza indispensável à fama internacional. Doa a quem doer, o sistema rítmico da antiga MPB era viciado no uso e abuso da síncope, tanto na melodia quanto no acompanhamento, o que dificultava sua reprodução por músicos de outras culturas. Uma vez Villa-Lobos se referiu à dificuldade com que os compositores brasileiros da primeira metade do século anotavam o samba. Além do mais, os ritmos que acentuam os tempos fortes do acompanhamento se tornam mais populares (a valsa, a marcha, o tango, o blues, etc.). A grandeza das Bachianas foi sublinhada justamente por essa característica rítmica mais universal, sem que se perdessem os padrões brasileiros. O grande exemplo é a Quarta Bachianas. Já a Bachianas Nº 9 é mais econômica e, devido a isso, talvez seja mais representativa das intenções de Villa. Composta originalmente para vozes, sendo em seguida reestruturada para orquestra, apresenta como introdução um Prelúdio de escritura absolutamente despojada, seguido por uma Fuga a seis vozes, onde Heitor esbanja seus conhecimentos de contraponto.

Tanto a Fantasia para Saxofone e Pequena Orquestra, de 1948, quanto a Ciranda das Setes Notas, para fagote e quinteto de cordas, de 1933, mostram o compositor numa de suas preferências: a combinação de instrumentos de sopro e conjuntos de cordas. Na verdade, a Fantasia para Saxofone, funciona como um pequeno concerto, também nos três movimentos tradicionais, rápido-lento-rápido, já empregados no Concerto para Violão.

Na Ciranda, as sete notas do título são enunciadas pelas cordas e repetidas pelo fagote, do primeiro ao sétimo grau da escala, com um retorno imediato ao sexto. Um tema simples, que passará por diversos estágios, garantindo ao fagote o papel de condutor de uma estrutura composta em forma contínua, mas que na realidade têm um sabor de suíte. A comunicação através de uma escritura multifacetada, às vezes tipicamente brasileira, outras vezes, em tonalidades reflexivas, tão bem desenhadas pelo timbre nostálgico do instrumento solista.

Fonte: Encarte do CD. (Victor Giudice)

Uma ótima audição!

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Villa-Lobos: Concertos para Solista e Orquestra

Concerto para Violão e Pequena Orquestra (1951)
01. Allegro preciso (5:14)
02. Andantino ed Andante – Cadenza (7:03)
03. Allegro non troppo (4:43)

Bachianas Brasileiras Nº 9 para orquestra de cordas (1945)
04. Prelúdio (2:11)
05. Fuga (6:50)

Fantasia para Saxofone e Orquestra (1948)
06. Animé (4:41)
07. Lent (3:11)
08. Très animé (3:12)

09. Ciranda das Sete Notas para fagote e cordas (1933) (10:26)

Turíbios Santos, violão
Paulo Moura, saxofone soprano
Noel Devos, fagote

Orquestra de Câmara Brasileira
Bernardo Bessler

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Marcelo Stravinsky

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Quartetos de Cordas V – reload

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Mais uma série concluída. Encarte aqui.

Estou lacônico hoje: só vou falar nos comentários e se eu me empolgar com eles. Tenho esse direito, já que a recíproca de vocês para com os posts é mais comum.

Nada de raiva, é que estou bastante ocupado esta semana: preparação de balancetes anuais do Café do Rato Preto do mundo inteiro pra passar uma vista. (Update: Vendi o café e hoje estou triliardário.)

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Villa-Lobos – Quartetos 15, 16, 17 – Quarteto Bessler-Reis

01 Quarteto de Cordas nº 15 – Allegro Non Troppo
02 Quarteto de Cordas nº 15 – Moderato
03 Quarteto de Cordas nº 15 – Scherzo Vivo
04 Quarteto de Cordas nº 15 – Allegro
05 Quarteto de Cordas nº 16 – Allegro non Troppo
06 Quarteto de Cordas nº 16 – Molto Andante (Quasi Adagio)
07 Quarteto de Cordas nº 16 – Scherzo Vivace
08 Quarteto de Cordas nº 16 – Molto Allegro
09 Quarteto de Cordas nº 17 – Allegro Non Troppo
10 Quarteto de Cordas nº 17 – Lento
11 Quarteto de Cordas nº 17 – Allegro Vivace
12 Quarteto de Cordas nº 17 – Allegro Vivace, Con Fuoco

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CVL

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Quartetos de Cordas IV – reload

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio, pelos motivos expostos AQUI

 

Retomo uma série de CDs que foi iniciada pelo mano PQP Bach no início do ano e que, naturalmente, não poderia ficar incompleta, pois falar de quarteto de cordas no século XX é falar de Bartók, Shostakovitch e Villa-Lobos (dêem uma escutada em Philip Glass também) – só o meu querido pai deixou 17. Então, aproveitem este presente de Natal antecipado.

Prestem atenção, que serão cinco posts ao todo e o quarto está vindo agora, antes do terceiro, para que vocês possam baixar os dois primeiros CDs mais este durante o fim de semana – e porque o próximo é duplo. Visite os dois primeiros posts da série clicando aqui e aqui. E acesse o texto do encarte e tudo o mais sobre o presente CD aqui. (Update: Não, não acesse…)

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Villa-Lobos – Quartetos de Cordas 12, 13, 14 – Quarteto Bessler-Reis

01 Quarteto de Cordas nº 12 – Allegro
02 Quarteto de Cordas nº 12 – Andante Melancólico
03 Quarteto de Cordas nº 12 – Allegretto Leggiero
04 Quarteto de Cordas nº 12 – Allegro (Bien Rythmé)
05 Quarteto de Cordas nº 13 – Allegro non Troppo
06 Quarteto de Cordas nº 13 – Scherzo (Vivace)
07 Quarteto de Cordas nº 13 – Adagio
08 Quarteto de Cordas nº 13 – Allegro Vivace
09 Quarteto de Cordas nº 14 – Allegro
10 Quarteto de Cordas nº 14 – Andante
11 Quarteto de Cordas nº 14 – Scherzo (Vivace)
12 Quarteto de Cordas nº 14 – Molto Allegro

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CVL

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Quartetos de Cordas III – reload

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio, pelos motivos expostos AQUI

 

Antepenúltimo post da série. Vale lembrar que a integral dos quartetos de cordas do Villa, lançada pela Kuarup, tem cinco álbuns. Este é o único duplo e o único com o Quarteto Amazônia: os restantes são simples e com o Quarteto Bessler-Reis.

Acesse o texto do encarte aqui. (Quer dizer, não acesse mais: a Kuarup fechou)

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Villa-Lobos – Quartetos 7 e 11 – Quarteto Amazônia

01 Quarteto de Cordas nº 7 – Allegro
02 Quarteto de Cordas nº 7 – Andante
03 Quarteto de Cordas nº 7 – Scherzo
04 Quarteto de Cordas nº 7 – Allegro Justo
05 Quarteto de Cordas nº 11 – Allegro non Troppo
06 Quarteto de Cordas nº 11 – Scherzo Vivace
07 Quarteto de Cordas nº 11 – Adagio
08 Quarteto de Cordas nº 11 – Poco Andantino

BAIXE AQUI

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Villa-Lobos – Quartetos 8, 9, 10 – Quarteto Amazônia

01 Quarteto de Cordas nº 8 – Allegro
02 Quarteto de Cordas nº 8 – Lento
03 Quarteto de Cordas nº 8 – Scherzo
04 Quarteto de Cordas nº 8 – Quasi Allegro
05 Quarteto de Cordas nº 9 – Allegro
06 Quarteto de Cordas nº 9 – Andantino Vagaroso
07 Quarteto de Cordas nº 9 – Allegro Poco Moderato
08 Quarteto de Cordas nº 9 – Molto Allegro
09 Quarteto de Cordas nº 10 – Poco Animato
10 Quarteto de Cordas nº 10 – Adagio
11 Quarteto de Cordas nº 10 – Scherzo
12 Quarteto de Cordas nº 10 – Molto Allegro

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CVL

Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) – Quartetos de Cordas II – reload

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio, pelos motivos expostos AQUI

 

Seguimos com o segundo CD dedicado aos Quartetos de Villa-Lobos. Os seguintes virão apenas quando eu comprá-los, OK? Não abro mão dos originais, neste caso. Abaixo, copiei para vocês o comentário de Luiz Paulo Horta que retirei do site da Kuarup. (Link fora do ar, pois a Kuarup fechou as portas)

Heitor Villa-Lobos foi um dos compositores mais prolíficos do século. Mas isto não diminui a significação de ter ele escrito 17 quartetos de cordas – a mais rigorosa das formas musicais, aquela que não admite “enchimentos”, onde o artista não tem como disfarçar eventuais falhas técnicas ou de inspiração.

Neste mesmo século, Bartók escreveu 6 quartetos, Hindemith, 7, Prokofiev, 2, Stravinsky, nenhum.

Somente Shostakovitch chega perto do Villa, com 15.

A série de Villa-Lobos está distribuída cronologicamente em pelo menos três etapas. Os quatro primeiros quartetos foram escritos entre 1915 e 1917 – ano em que ele completou 30 anos, e produziu grandes obras como os poemas sinfônicos Amazonas e Uirapurú. O nº 5 é de 1931; o nº 6 de 1938.

Daí em diante, de 1942 a 1957 (2 anos antes de sua morte), ele engrena uma série impressionante de 11 quartetos, em nível sempre ascendente, escrevendo um por ano, ou no máximo a cada 2 anos.

O Villa dos Choros, ponto de referência em toda a sua obra, é o Villa encachoeirado, transbordante de idéias, fabuloso orquestrador. Pois ei-lo de repente entregue à mais estrita disciplina, ou pelo menos à mais austera disposição sonora. Encerrada em 1945 a série das Bachianas, é a produção quartetística que domina todo o seu período final – situação histórica que não deixa de lembrar a de Beethoven.

Como explicar esta dedicação? Talvez pela atração do desafio, que é a mola criadora dos maiores mestres. Ou Villa queria provar, a si mesmo e aos outros, que ele fora além do menino indisciplinado que, em seus verdes anos, pulava muros para beber a musicalidade dos “chorões” do Rio antigo? Bruno Kiefer anota a presença da polifonia imitativa nos quartetos de Villa-Lobos, “muito mais presente do que se possa imaginar”. E Arnaldo Estrella corrobora: “É frequente a apresentação de um tema em entradas sucessivas das quatro vozes, como é constante o uso da imitação, e isto desde o 2º quarteto”. A textura polifônica dos quartetos revela a poderosa atração pela herança de Bach (e a série final dos quartetos segue-se cronologicamente à das Bachianas). “Nos seus quartetos – acentua Estrella – Villa- Lobos não utiliza a forma sonata, ignorando-a (quase) por completo. O molde não lhe convinha, não o seduz”. Em vez disso, Villa constrói preferencialmente por justaposição. “Utiliza os processos eternos da variação para obter continuidade. Serve-se de contrastes oportunos para estabelecer variedade”, completa Estrella. O Quarteto nº 4 é um quarteto “clássico” em relação aos outros. É um Villa cosmopolita, universalista, refletindo o clima impressionista que ainda estava no ar, e seus próprios estudos da música francesa. O 1º movimento chega a dar a impressão de que vai usar um tratamento temático tradicional. Mas, como observa Bruno Kiefer, uma idéia musical só é tema quando dá origem a um trabalho temático, o que aqui só acontece episodicamente. Já nessas primeiras obras consistentes desvenda-se a técnica de construção musical que Villa carregará pela vida afora, e onde podem ser identificadas algumas constantes: liberdade formal (isto é, autonomia face a esquemas pré-estabelecidos); invenção contínua; importância extrema do ostinato, puramente rítmico ou melódico, notas ou acordes pedais aparecendo frequentemente. O Andantino tem um esquema tradicional ABA. Um desenho ritmicamente simples acompanha, num movimento oscilante, uma melodia que evoca um tema de Xangô. Aqui, a melodia brasileira começa a repontar, e há inflexões seresteiras que são como uma premonição das Bachianas. O Scherzo é vivo e brilhante, com passagens virtuosísticas. Neste e em outros Scherzi é que o Villa brincalhão reagirá contra a severidade do gênero, criando um dos mais efetivos aspectos desta grande série de quartetos. O Allegro final é uma forma sonata na qual, de modo característico, o desenvolvimento foi substituído por um fugato sobre um tema novo, comandado pelo violoncelo (em toda a série, Villa trata com carinho o seu instrumento). O Quarteto nº 5 poderia ser batizado de “redescoberta do Brasil”. Em 1930, Villa-Lobos estava voltando da Europa, para não continuar a depender de mecenas. Encontra o velho Brasil, os críticos que o hostilizavam, as limitações do nosso meio artístico. Chega a pensar em fazer as malas e retornar ao Velho Mundo.

A Revolução de 1930 produz uma drástica mudança de cenário.

Por um feliz acaso, Villa conhece João Alberto, músico amador e interventor nomeado para o Estado de São Paulo. João Alberto “compra” o projeto de educação musical que era um antigo sonho de Villa-Lobos. Surge o Villa educador, compositor do Guia Prático e de muitas obras de caráter didático. O Quarteto nº 5 encaixa-se nessa alvorada de esperanças. Nele, Villa-Lobos abre mão, sem a menor cerimônia, da escrita propriamente quartetística, em favor de um estilo rapsódico. Tudo aqui é de uma simplicidade que desencoraja análises rebuscadas. É um quarteto “folclórico”, com muita verve e sem outra preocupação aparente que não a de seduzir o ouvinte, carregá-lo para uma viagem pelas fontes da musicalidade brasileira. Mais alguns anos se passam; e o Villa que escreve o Quarteto nº 6 já está perfeitamente seguro de si mesmo e de seus métodos. Basta lembrar que 1938 é o ano em que ele trabalha nas Bachianas 5 e 6. Não estranha, assim, que o nº 6 seja, sob vários aspectos, o mais “brasileiro” dos seus quartetos, aquele em que o compositor coloca este gênero aristocrático sob a égide do nacionalismo. Não se trata de obra “folclórica”, como o despretencioso nº 5. Desta vez, estamos ante uma autêntica transmutação em arte de constâncias melódicas e rítmicas das raízes brasileiras. A obra está impregnada da rítmica do sertão mítico de Villa-Lobos. Ele alterna sabiamente os climas no Poco Animato, passando da textura contrapontística à melodia solta com uma facilidade de mestre. O Allegreto está claramente ancorado no tom de lá maior. Melodia alterna com pizzicato; e entre ritmos de dança, ouvimos os ecos de uma “festa no sertão”. O Andante Molto, embora em dó maior, é um daqueles mergulhos na floresta escura em que Villa está como que “em casa”. A viola enuncia um tema nobre, sereno, que impressiona pela economia de recursos e eficácia expressiva, e que os outros instrumentos vão imitando. Na seção central, o tema exposto à maneira do Ricercare confirma a naturalidade com que ele pensa polifonicamente. O Allegro Vivace é de grande variedade rítmica e alegria comunicativa.

Luiz Paulo Horta

Villa-Lobos – Quartetos de Cordas 4 5 6

01 Quarteto de Cordas nº 4 – Allegro com Moto (Heitor Villa-Lobos) 07:46
02 Quarteto de Cordas nº 4 – Andantino (Tranquilo) (Heitor Villa-Lobos) 05:29
03 Quarteto de Cordas nº 4 – Scherzo (Allegro Vivace) (Heitor Villa-Lobos) 05:51
04 Quarteto de Cordas nº 4 – Allegro (Heitor Villa-Lobos) 06:49

05 Quarteto de Cordas nº 5 – Poco Andantino (Heitor Villa-Lobos) 06:55
06 Quarteto de Cordas nº 5 – Vivo e Enérgico (Heitor Villa-Lobos) 04:08
07 Quarteto de Cordas nº 5 – Andantino (Heitor Villa-Lobos) 03:04
08 Quarteto de Cordas nº 5 – Allegro (Heitor Villa-Lobos) 04:42

09 Quarteto de Cordas nº 6 – Poco Animato (Heitor Villa-Lobos) 06:06
10 Quarteto de Cordas nº 6 – Allegretto (Heitor Villa-Lobos) 05:12
11 Quarteto de Cordas nº 6 – Andante Quasi Adagio (Heitor Villa-Lobos) 06:25
12 Quarteto de Cordas nº 6 – Allegro Vivace (Heitor Villa-Lobos) 07:0

Quarteto Bessler-Reis:
Bernardo Bessler (1º violino),
Michel Bessler (2º violino),
Marie-Christine Springuel (viola),
Alceu Reis (violoncelo)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE