Mais um baita disco. Vou ter que procurar sinônimos para meus elogios a fim de não cansar vocês, meus tesouros. O Ébène é sensacional e as obras… O que dizer? O Razumovsky Nº 3 era o quarteto de Beethoven preferido de meu pai. É lindo mesmo. O que são o segundo e quarto movimentos? E o Op. 130, ainda acompanhado pela Grosse fuge da qual jamais deveria ter se separado? Um disco incrível. O Op. 130 foi estreado lançado em março de 1826 pelo Quarteto Schuppanzigh e dedicado a Nikolai Galitzin em sua publicação em 1827, ano da morte de Beethoven.
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Quartetos Nros. 9, Op. 59, Nº 3, 13. Op. 130 e Grosse fuge Op. 133
1. Beethoven: String Quartet No. 9 in C Major, Op. 59 No. 3, “Razumovsky”: I. Introduzione (Andante con moto – Allegro vivace) (11:15)
2. Beethoven: String Quartet No. 9 in C Major, Op. 59 No. 3, “Razumovsky”: II. Andante con moto quasi allegretto (9:26)
3. Beethoven: String Quartet No. 9 in C Major, Op. 59 No. 3, “Razumovsky”: III. Minuet. Grazioso – Trio (5:16)
4. Beethoven: String Quartet No. 9 in C Major, Op. 59 No. 3, “Razumovsky”: IV. Allegro molto (5:49)
5. Beethoven: String Quartet No. 13 in B-Flat Major, Op. 130: I. Adagio ma non troppo – Allegro (13:33)
6. Beethoven: String Quartet No. 13 in B-Flat Major, Op. 130: II. Presto (1:53)
7. Beethoven: String Quartet No. 13 in B-Flat Major, Op. 130: III. Andante con moto, ma non troppo. Poco scherzando (7:02)
8. Beethoven: String Quartet No. 13 in B-Flat Major, Op. 130: IV. Alla danza tedesca (Allegro assai) (3:12)
9. Beethoven: String Quartet No. 13 in B-Flat Major, Op. 130: V. Cavatina (Adagio molto espressivo) (8:37)
10. Beethoven: Grosse fuge in B-Flat Major, Op. 133 (16:21)
Quatuor Ébène:
Pierre Colombet, violin
Gabriel Le Magadure, violin
Marie Chilemme, viola
Raphaël Merlin, violoncelo
O primeiro disco de Konstantin Lifschitz que ouvi foi seu álbum de estreia, que trazia uma coleção de obras. Começando com a maravilhosa Abertura Francesa de Bach, prosseguia até peças de Scriabin e Medtner, passando por Papillons, de Schumann. O disco do selo Denon de 1994 foi seguido por um outro, gravado em junho de 1994 no Conservatório de Moscou com as Variações Goldberg, firmando assim as credenciais do jovem pianista como grande intérprete de Bach. Depois, silêncio… Não mais ouvi do Konstantin.
O primeiro CD há muito desapareceu de minhas prateleiras (ah, os amigos…), mas o outro, com as Variações do velho Bach, vez e outra frequenta minha vitrola.
Pois eis que chegou pela mala direta do PQP Bach recentemente uma penca de discos do Lifschitz tocando Bach. Ele então está aí, bem ativo. Inclusive, percebi que há uma integral das sonatas para piano do grande Ludovico, gravada ao vivo por ele. Mas isso vou deixar guardado, pois que tempo é largo, mas é finito.
Como queria logo dividir com os caros e insaciáveis seguidores do blog alguma coisa deste excelente pianista, escolhi da penca este que me pareceu muito apetitoso. E gostei tanto que tenho ouvido o mesmo, inteiro quando tempo permite, aos trechinhos quando o tempo escasseia. E é que mesmo com a quarentena e o enfurnamento, há coisas a serem feitas.
O que temos aqui? Um arranjo feito para piano da Oferenda Musical, que todo o mundo sabe (quem não sabe pode começar clicando aqui…) é resultado de uma longa e cansativa viagem que o velho Bach fez até Sanssouci, Potsdam, para pagar uma visita a Frederico, o Grande, e também ver seu filho Carl Philipp Emanuel. O monarca, que era cheio de truques e adorava colocar seus visitantes em uma saia justa (se bem que, no caso de Bach, seria uma peruca justa), desafiou Johann Sebastian a compor uma peça que nem o cão chupando manga conseguiria. Mas vai mexer com quem está quieto. Ouça o Ricercar a 6, na faixa 11 deste disco e começarás a entender o tamanho dos poderes do ‘maior de todos’.
Konstantin Lifschitz ainda acrescenta ao disco o Prelúdio e Fuga em mi bemol maior, BWV 552, apelidado ‘Santa Ana’, escrito originalmente para órgão. Os minutos finais, da fuga, são de tirar o folego. E assim, para baixar a adrenalina e lançar um olhar ao que aconteceu antes de Bach, ele completa o recital com três lindas tocatas de Frescobaldi. Ouçam e me contem vocês!
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Oferenda Musical, BWV 1079 (arranjada para piano por K Lifschitz)
Ricercar a 3
Canon perpetuus super Thema Regium
Canon 1. a 2_ Canon cancrizans
Canon 2. a 2 Violini in uníssono
Canon 3. a 2 per Motum contrarium
Canon 4. a 2 per Augmentationem, contrario Motu
Canon 5. a 2_ Canon circularis per Tonos
Fuga canonica in Epidiapente
Canon a 2 Querendo invenietis
Canon perpetuus
Ricercar a 6
Canon a 4
Triosonate_ Largo
Triosonate_ Allegro
Triosonarte_ Andante
Triosonarte_ Allegro
Prelúdio e Fuga em mi bemol maior, BWV 552 ‘Santa Ana’
Prelúdio
Fuga
Girolamo Frescobaldi (1583 – 1643)
Toccata prima do ‘Primo libro d’Intavolatura di toccate di címbalo et organo’
Toccata quinta do ‘Secondo libro de toccate, canzone… di cembalo et organo’
Toccata seconda do ‘Secondo libro de toccate, canzone… di cembalo et organo’
Não é todo dia que se ouve uma estreia mundial de algo de Beethoven, nem que seja a reinvenção de algo que bem conhecemos e, como é o meu caso – porque eu ainda não declarei a vocês hoje meu amor a esse concerto! -, que também amamos.
Trata-se dum arranjo para piano e quinteto de cordas do próprio Beethoven para seu concerto Op. 58. A obra foi um imenso sucesso, de modo que era natural que fosse rapidamente adaptado a formações de câmara e publicado para vendas ao público, como era praxe da época para a divulgação de composições bem-sucedidas. O arranjo, no entanto, parece não ter sido destinado às prensas, e sim encomendado pelo príncipe Lobkowitz, mecenas de Ludwig, em cuja residência o concerto tivera sua estreia privada, alguns anos antes. Os originais, em estado deplorável, quase ilegíveis pela caligrafia e desorganização medonhas do compositor, serviram de base para a reconstrução que aqui escutarão. Habilmente realizada pelo musicólogo Hans-Werner Küthen e descrita com detalhes no encarte desta gravação, ela mostra que Beethoven não se limitou somente a dividir as partes da orquestra entre as cordas. Ele foi bastante além, e reescreveu trechos consideráveis da parte do piano, tornando-a mais complexa que a original e dando ao instrumento uma proeminência que não tem no concerto, que é notório pelo admirável equilibrio entre solista e orquestra. Para os que conhecem bem a obra, é divertido perceber as alterações, mais notáveis no primeiro movimento, e muito estimulante ouvir o que Robert Levin, também distinto musicólogo, numa leitura surpreendentemente anabólica do ademais sereno concerto, para o qual escreveu suas próprias cadenze. Completa a gravação o trio para piano, violino e violoncelo baseado na sinfonia no. 2, que vocês já ouviram numa versão bastante camerística, e que sob Levin e seus talentosos comparsas soa tremendamente sinfônica.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra no. 4 em Sol maior, Op. 58 Arranjo para piano e quinteto de cordas do próprio compositor
Reconstruído por Hans-Werner Küthen Cadenze de Robert Levin
Original composto entre 1804-1807 Publicado em 1808 Dedicado ao arquiduque Rudolph da Áustria
Robert Levin, piano Lucy Howard e Peter Hanson, violinos Anette Isserlis e Alan George, violas David Watkin, violoncelo
Sinfonia no. 2 em Ré maior, Op. 36 (arranjo para piano, violino e violoncelo pelo próprio compositor) Composta entre 1801-02 Arranjo para trio publicado em 1803 Dedicada ao príncipe Karl von Lichnowsky
4 – Adagio molto – Allegro con brio
5 – Larghetto quasi andante
6 – Scherzo: Allegro
7 – Allegro molto
Robert Levin, piano Peter Hanson, violino David Watkin, violoncelo
Mais um maravilhoso CD desta série do Ébène, desta vez advindo de um registro colhido na querida Sala São Paulo. Da ultra sofisticada série de últimos quartetos de Beethoven, o Op. 127 é aquele de que menos gosto. Ele foi concluído em 1825 e é o primeiro dos quartetos tardios. Mas gosto demais do Op. 18, Nº 6, uma peça com o toque de Haydn. O primeiro movimento é poderoso, o Scherzo é surpreendente com suas alterações rítmicas e interrupções (o que ocorre também no movimento inicial). A introdução lenta do quarto movimento, ‘La Malinconia’, é cheia de mudanças ousadas de harmonia e textura. É uma das passagens mais famosas do Beethoven inicial e ele pede que seja tocada com a maior delicadeza. Um discaço! O que dizer o Quarteto Ébène? Olha, são estupendos!
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Quartetos Nros. 6, Op. 18 & 12, Op. 127 (Ébène)
1 String Quartet No. 6 in B-Flat Major, Op. 18 No. 6: I. Allegro con brio 6:24
2 String Quartet No. 6 in B-Flat Major, Op. 18 No. 6: II. Adagio ma non troppo 8:16
3 String Quartet No. 6 in B-Flat Major, Op. 18 No. 6: III. Scherzo (Allegro) 3:27
4 String Quartet No. 6 in B-Flat Major, Op. 18 No. 6: IV. La Malinconia 9:16
5 String Quartet No. 12 in E-Flat Major, Op. 127: I. Maestoso – Allegro 7:16
6 String Quartet No. 12 in E-Flat Major, Op. 127: II. Adagio ma non troppo e molto cantabile 17:01
7 String Quartet No. 12 in E-Flat Major, Op. 127: III. Scherzando vivace 8:22
8 String Quartet No. 12 in E-Flat Major, Op. 127: IV. Finale (Allegro) 6:51
Quatuor Ébène:
Pierre Colombet, violin
Gabriel Le Magadure, violin
Marie Chilemme, viola
Raphaël Merlin, violoncello
Assim como azeitonas, alcachofras e, mais essencialmente e problemáticas, anchovas, a voz de Patricia Petibon é um gosto adquirido. Ela é uma coloratura alta (até E-flat), sua técnica é formidável, capaz de ter grande floridez e controle da respiração muito fina, ela canta principalmente sem vibrato, e o tom pode ser tão brilhante como diamante que pode irritar, embora em momentos dramáticos mais escuros, ela pode moderar o brilho. Ela se envolve completamente no que está cantando e, por isso, é muito comovente – a tristeza e o desespero de Jonathan em David et Jonathas, de Charpentier, são impressionantes, assim como a raiva lunática de Armide pela ópera de Lully (o que ela faz com a palavra “hate” é digno de Callas como Medéia). Todos os trechos de Rameau são habilmente manipulados, do silvestre ao bélico e vice-versa.
Ela também se diverte com a frivolidade e virtuosismo da obra quase inteiramente desconhecida de 15 minutos de Grandval (1676-1753), na qual o cantor tenta agradar sua platéia chamando por todos os vários estilos e temas de música de seu tempo: uma queixa de Orfeu, hinos a Baco, canções de amor fofas, árias de vingança, evocações para o inferno, um apelo a Netuno, um grito de guerra e assim por diante, tudo feito com paixão. A peça é um tour-de-force de mudança de humor – quase psicose, de fato – e Petibon me parece ser o único intérprete que eu quero ouvir cantar. Ela pode ser incrivelmente sedutora, lançando notas altas ou arrulhando como uma pomba. Ela deve ser dinamite no palco.
A maioria das músicas deste CD é rara e é quase o suficiente para querer ouvir, principalmente se o barroco francês é a sua xícara de chá. É maravilhosamente tocado por um grupo chamado Les Folies Françoises, liderado por Patrick Cohen-Akenine, com os sopros importantes presentes e tocados de maneira deslumbrante (os oboés amadeirados no primeiro número de Platee, o fagote em uma ária de Les fetes d’Hymen ), o cravo audível e comentando a voz o tempo todo, as cordas atacadas com verve, as trombetas e tambores nos trazendo de pé. Tente isso, você pode gostar. De fato, você pode adorar. – Robert Levine
Patricia Petibon – Airs baroques français Jean-Philippe Rameau (França, 1683-1764) 01. “Platée” (1749) – Air de Clarine: Soleil, fuis de ces lieux” 02. “Les fêtes de l’Hymen et de l’Amour” (1747) – Ariette de l’Amour: “Volez, plaisirs, célébrez ce beau jour 03. “Les fêtes de l’Hymen et de l’Amour” (1747) – “Entrée des Égyptien 04. “Les fêtes de l’Hymen et de l’Amour” (1747) – Ariette de l’Égyptienne: “L’amant que j’adore” 05. “Les fêtes de l’Hymen et de l’Amour” (1747) – Ariette de l’Égyptienne: “Amour, lance tes traits” 06. “Platée” – Air de la Folie: “Formons les plus brillants concerts… Aux langueurs d’Apollon” Marc-Antoine Charpentier (France, 1643-1704) 07. “David et Jonathas” (1688) – Jonathas: “A-t-on jamais souffert une plus rude peine?” Jean-Baptiste Lully (Italy, 1632-France, 1687) 08. Lully, “Armide” (1686) – Prélude. Armide: “Enfin, il est en ma puissance” 09. “Armide” – Armide: “Le perfide Renaud me fuit” Jean-Philippe Rameau (França, 1683-1764) 10. “Les Indes Galantes” (1735) – Air de Phani: “Viens, hymen” 11. “Les Indes Galantes” – Air de Zima: “Régnez, plaisirs et jeux” 12. “Les Indes Galantes” – Chaconne Nicolas Racot de Grandval (França, 1676-1753) 13 Rien du tout (1755), pour soprano, simphonie et basse continue
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Tanto tempo despendi em lhes falar que amo esse concerto – falei de novo! – que acabei sem lhes falar DO concerto em si. Pois ele foi composto com a intenção de, como todos seus pares, servir de veículo para o próprio compositor, que ainda era, com folgas, o melhor pianista de Viena. Ele teve duas estreias, em farta companhia musical: uma privada, na qual também estrearam a abertura “Coriolan” e a sinfonia no. 4, e uma pública, um concerto leviatânico com orquestra, coro e o compositor-pianista, que também incluiu partes da missa em Dó e nada menos que as premières das sinfonias nos. 5 e 6, da ária Ah, perfido! e da Fantasia Coral, o grand finale que reunia todas as forças usadas nas quatro horas de música. A bilheteria reverteria integralmente para o compositor, que foi financiado por seus mecenas para o aluguel do teatro e os cachês dos muitos músicos. Provavelmente lhe rendeu um bom dinheiro, mas a recepção foi morna, tanto porque estava congelantemente frio no teatro, quanto porque algumas peças tinham sido pouco ensaiadas, e também, de acordo com os relatos, a superdose de tão poderosa música tornava difícil apreciá-la criticamente. De qualquer forma, o concerto também marcou a despedida de Beethoven como solista – quando da estreia do concerto no. 5, três anos depois, sua surdez estava tão profunda que a parte de piano teve que ser delegada a outrem.
Sempre que escuto John O’Conor tocando Beethoven de modo tão distinto e convincente, fico a imaginar se o próprio Beethoven não se reconheceria no estilo do irlandês: enérgico e expressivo, cantante sempre que necessário, com certas liberdades agógicas que certamente o compositor também tomava sem ressalvas. Suas gravações dos concertos são tão boas quanto as das suas sonatas, embora padeçam – tanto quanto elas – da engenharia de som um tanto tacanha da Telarc. Completam a gravação, com a regência muito competente do alemão Andreas Delfs, um concerto no. 1 bastante pimpão e uma das minhas versões favoritas do no. 3, cujo Dó menor soa aqui mais radiante do que o costume.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15 Composto em 1795 Publicado em 1801 Dedicado à princesa Anna Louise Barbara Odescalchi
1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondo. Allegro scherzando
Concerto para piano no. 3 em Dó menor, Op. 37 Composto entre 1800-1803 Publicado em 1804 Dedicado ao príncipe Louis Ferdinand da Prússia
Os 16 quartetos de cordas de Beethoven ocupam um lugar de honra no repertório de câmara e, com suas nove sinfonias e 32 sonatas para piano, traçam a progressão de uma vida criativa. 2020 marca o 250º aniversário do nascimento do compositor, e Quatuor Ébène estava realizando uma extensa turnê, intitulada Beethoven Around the World, que iria desde meados de 2019 a dezembro de 2020. Mas aí veio a pandemia… Durante esse período, o grupo francês faria mais de 120 apresentações num total de 21 países, com foco nos ciclos completos dos quartetos a partir de fevereiro de 2020. Beethoven Around the World abrange gravações ao vivo que constituem um ciclo completo, feito em sete das grandes cidades do mundo: Viena (no Konzerthaus); Filadélfia (Kimmel Center); Tóquio (Suntory Hall); São Paulo (Sala São Paulo); Melbourne (Centro de Recitais de Melbourne); Nairobi e Paris (Philharmonie de Paris). A interpretação do Ébène ficará como referência e o calor das apresentações ao vivo são apreciadíssimas por este que vos escreve. Vida longa ao Ébène! E que só voltem após a pandemia, tá?
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Quartetos Nros. 1 & 14 (Ébène)
1 String Quartet No. 1 in F Major, Op. 18 No. 1: I. Allegro con brio 9:32
2 String Quartet No. 1 in F Major, Op. 18 No. 1: II. Adagio affettuoso ed appassionato 11:14
3 String Quartet No. 1 in F Major, Op. 18 No. 1: III. Scherzo. Allegro molto 3:17
4 String Quartet No. 1 in F Major, Op. 18 No. 1: IV. Allegro 6:37
5 String Quartet No. 14 in C-Sharp Minor, Op. 131: I. Adagio ma non troppo e molto espressivo 7:35
6 String Quartet No. 14 in C-Sharp Minor, Op. 131: II. Allegro molto vivace 3:12
7 String Quartet No. 14 in C-Sharp Minor, Op. 131: III. Allegro moderato – Adagio 0:49
8 String Quartet No. 14 in C-Sharp Minor, Op. 131: IV. Andante ma non troppo e molto cantabile – Allegretto 14:35
9 String Quartet No. 14 in C-Sharp Minor, Op. 131: V. Presto 5:13
10 String Quartet No. 14 in C-Sharp Minor, Op. 131: VI. Adagio quasi un poco andante 2:25
11 String Quartet No. 14 in C-Sharp Minor, Op. 131: VII. Allegro 7:05
Quatuor Ébène:
Pierre Colombet, violin
Gabriel Le Magadure, violin
Marie Chilemme, viola
Raphaël Merlin, violoncello
Como um cliente / comentarista da amazon escreveu, mesmo depois de quarenta e cinco anos passados de sua gravação, este histórico registro ao vivo do tecladista Rick Wakeman continua atualizadíssimo. É um divisor de águas, eu diria. Partindo do livro clássico de Julio Verne, Wakeman nos leva a um mundo onírico, enriquecido com paisagens sonoras que nos tiram o fôlego em todos os momentos.
Juntar uma banda de rock com uma orquestra sinfônica não era novidade lá em 1974, vide o Concerto para Banda e Orquestra, do Deep Purple, lançado alguns anos antes. A novidade aqui é a introdução de um coro com dezenas de vozes e os teclados de Wakeman, que são o grande destaque do LP. Ele cria um universo sonoro com infinitas possibilidades, tendo como suporte, além do English Rock Essemble, banda que o acompanhava, “apenas” a Orquestra Sinfônica de Londres e o English Chamber Choir. Ah, sim, o registro da gravação foi feito no Royal Albert Hall, templo da música londrina.
Desde a impactante abertura, os incríveis solos de Wakeman e a fantástica performance de seus vocalistas, Ashley Holt e Garry Pickford-Hopkins, e a narração, que cita passagens do livro de Verne, cada minuto desta aventura sonora é minuciosamente pensada em seus mínimos detalhes, uma produção impecável, mesmo se tratando de um registro ao vivo, direto do Royal Albert Hall.
Por incrível que pareça, Rick Wakeman trouxe esta loucura toda para o Brasil em 1975, em três apresentações memoráveis no Maracanazinho, no Rio, no Estádio da Portuguesa em São Paulo e no Gigantinho em Porto Alegre. Foi acompanhado pela Orquestra Sinfônica Brasileira, nos shows do Rio e de São Paulo, e na capital gaucha, pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, sempre sob a regência de Isaac Karabitchewsky.
Wakeman trouxe consigo uma parafernália de equipamentos que somavam dezenove toneladas. Os jornais da época contam que o músico era fã de futebol, e coincidiu que na mesma época do show do Rio, iria ocorrer a final do Campeonato Brasileiro entre o Cruzeiro e o Internacional de Porto Alegre, em pleno Estádio do Maracanã, e ele teria assistido a esta partida, vencida pelo time gaucho: “O espetáculo “acachapante” teve como momento de clímax (para os colorados) a homenagem que Wakeman, grande fã de futebol, fez ao Internacional, que dias antes, ali do lado, no Beira-Rio, tinha conquistado seu primeiro título de campeão brasileiro. No bis, Wakeman e seus músicos voltaram ao palco vestidos com camisetas vermelhas do time. Ele lógico, com a 3, do capitão Figueroa, autor do gol contra o Cruzeiro que garantiu a taça.” (Jornal Zero Hora, 29/10/2014).
Meu irmão mais velho contou certa vez que estava lá no Maracanazinho, e que nunca mais esqueceu o espetáculo que assistiu. Foram duas horas de uma loucura sonora e visual, que impactou todos os que lá estavam.
Dia desses me desafiaram a identificar os dez discos que mais me influenciaram, e este aqui com certeza está na lista. Quem não conhece, espero que goste, e para os saudosistas, como eu, serve para matar saudades.
The Journey / Recollection
The Battle / The Forest
The Band :
Garry Pickford-Hopkins & Ashley Holt – Vocals
Guitar – Mark Egan
Electric Bass – Roger Newell
Drums – Barney James
Music Arranged for the London Symphony Orchestra and The English Chamber Choir by Will Malone & Danny Beckerman
Como mencionei ontem, amo tanto esse concerto que não o consigo mais apreciar criticamente. Abandono-me às suas belezas, seja na interpretação de Gilels – que, assim como minha declaração de amor ao Op. 58, vocês também ouviram ontem -, seja na de Maria João (que recomendo muito, e restaurei para vocês), ou nessas duas do mestre praguense, Ivan Moravec.
Moravec, de quem, num doloroso dever, fizemos o obituário aqui no PQP Bach, era um pianista de toque muito preciso e absolutamente obcecado pela qualidade do som dos pianos que tocava, tanto que viajava com sua maletinha de utilidades e passava quase tanto tempo com os técnicos quanto com os regentes. Apesar de sua merecida fama de perfeccionista – o que não o impedia de dar seus grunhidos ao teclado, que os mais atentos ouvirão -, estava muito mais para um exigente sacerdote do que para um almofadinha cheio de manias, e provocava muita admiração pela capacidade de, tanto nos ensaios quanto nas apresentações, repetir com tanta precisão as passagens que os takes resultantes eram indiferenciáveis, se não fossem numerados, e de não errar uma nota sequer. É claro que as qualidades de Moravec vão bem além de não errar: suas leituras de Beethoven transbordam riqueza timbrística, lirismo e – especialmente no maravilhoso movimento lento – expressividade. A primeira que lhes apresento foi a segunda a ser gravada, ao vivo e em 2003, com a então jovem Prague Philharmonia sob a regência de seu fundador, Jiří Bělohlávek, que depois seria titular da BBC Symphony Orchestra. Ela tem um caráter, diria, mais mozartiano, e é seguida de duas peças que dificilmente poderíamos imaginar pareadas a um concerto de Beethoven, mas que harmonizam muito bem com ele: as Variações Sinfônicas de César Franck (que nasceu no ano em que Ludwig começou a “Ode à Alegria”), na interpretação que me fez enfim gostar da obra, e o maravilhoso concerto de Maurice Ravel (nascido no ano em que Franck, então decano do Conservatório de Paris, completou Les Éolides), tocado duma maneira que Benedetti Michelangeli, que praticamente cooptou Moravec para ser seu aluno, certamente amaria ouvir. As cadenze do Op. 58 são do próprio Beethoven.
A segunda, de 1964, foi gravada em Viena, enquanto Moravec ainda podia viajar com bastante liberdade, sob a regência de Martin Turnovský, um compatriota que se exilaria do lado de lá da Cortina de Ferro depois da Primavera de Praga. É a versão mais idiomaticamente beethoveniana que conheço, tecnicamente impecável, expressão exuberante do controle absoluto do todo e de tudo, e um dos meus modelos de perfeição postos em disco. Deixo-a com vocês numa ripagem de LP, enquanto aguardo sentado que alguém no mercado fonográfico deixe um pouco de lado os decotões da Khatia e resolva fazer para a Humanidade o bem de remasterizá-lo e lançá-lo em mídia digital.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra no. 4 em Sol maior, Op. 58 Composto entre 1804-1807 Publicado em 1808 Dedicado ao arquiduque Rudolph da Áustria
Liya Petrova venceu o Concurso Internacional de Violino Carl Nielsen em 2016, o que tornou inevitável este disco do único concerto para violino da Nielsen. Há alguns anos, essa peça era tão rara no catálogo gravado que era preciso procurar muito para encontrar algo realmente bom. Hoje, pode-se escolher entre trinta ou quarenta gravações, incluindo algumas das principais celebridades. Sendo assim, Liya Petrova devia justificar a recomendação, né? E justifica. O primeiro ponto a seu favor é o som maravilhoso que ela produz. Esta é realmente uma das interpretações mais belas que se pode encontrar, algo que combina técnica aparentemente ilimitada com musicalidade de primeira. E isto tanto no Nielsen quando no extraordinário Concerto Nº 1 de Prokofiev. A Odense Symphony Orchestra também faz um trabalho espetacular. A búlgara Liya Petrova é uma estrela em ascensão, com a agenda lotada. Merece.
Prokofiev / Nielsen: Concerto para Violino Nº 1 / Concerto para Violino Op. 33
Prokofiev: Violin Concerto No. 1 in D major, Op. 19 23:19
I. Andantino 10:03
II. Scherzo. Vivacissimo 4:02
III. Moderato 9:14
Nielsen: Violin Concerto, Op. 33 (FS61) 38:25
I. Prelude. Largo – Allegro cavalleresco 20:40
IIa. Poco adagio 7:02
IIb. Rondo. Allegretto scherzando 10:43
Liya Petrova (violin)
Odense Symphony Orchestra
Kristiina Poska
Tanto esperei por que chegasse a vez de postar meu concerto para piano favorito que, quando ela enfim chegou, eu mal acho o que lhes escrever. Já escutei tantas vezes o maravilhoso Op. 58 que não consigo mais pensar criticamente em suas qualidades: eu simplesmente as sorvo e com elas me delicio. E tanto o amo, e tão imenso é meu amor por ele, que não conseguirei deixar-lhes somente uma interpretação – serão algumas entre minhas preferidas, ao longo dos próximos dias, porque – bem, eu já lhes disse que é amor?
O início do primeiro movimento – que Beethoven, num gesto sem precedentes, deixa a cargo do solista – costuma dar-me a tônica de cada gravação. Alguns pianistas entram portentosamente, e terminam incongruentes com os comentários da orquestra, que se seguem. Outros acanham-se demais, talvez por medo de serem pervasivos nessa pérola em que solista e conjunto jamais duelam. E há Emil Gilels, que, a despeito de tudo que já se falou da têmpera leonina com que encarava os desafios mais furiosos da literatura para piano, acerta em cheio em timbre e pulso com seus acordes murmurantes. A parceria com Leopold Ludwig, um regente com larga experiência em ópera, e talvez por isso mesmo, funciona à perfeição – o pathos do Andante, um tenso diálogo entre piano e cordas, só poderia vir do mais lírico dos pianistas soviéticos e de um consumado, sensível acompanhador. Os dois oferecem-nos, entre todas as versões que conheço do Op. 58, aquela mais afim à obra-prima seguinte, o concerto para violino que também amo demais, que também se desenrola com serenidade a partir de uma célula rítmica expressa logo no primeiro compasso – aqui, pelo piano, e lá, pelos tímpanos. Atrações adicionais são as cadenze escolhidas por Gilels, que foram fornecidas pelo compositor, mas são muito menos tocadas que aquelas que vocês provavelmente conhecem, as dos longos trinados. Completando o disco, um “Imperador” que poderia ter mais pujança rítmica, ainda que lhe sobre garbo e, no Adagio muito mais lento que o habitual, uma mágica entrada do solista que, sozinha, vale toda a gravação.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra no. 4 em Sol maior, Op. 58 Composto entre 1804-1807 Publicado em 1808 Dedicado ao arquiduque Rudolph da Áustria
Concerto para piano e orquestra no. 5 em Mi bemol maior, Op. 73, “Imperador” Composto em 1809 Publicado em 1810 Dedicado ao arquiduque Rudolph da Áustria
4 – Allegro
5 – Adagio un poco mosso
6 – Rondo: Allegro
Emil Gilels, piano Philarmonia Orchestra Leopold Ludwig, regência
“Não gostam agora? Gostarão mais tarde. Escrevo para o futuro”. Beethoven, em resposta às críticas às obras de sua última fase.
Maria João Pires, em introdução à live realizada com 10 pianistas da Deusche Grammophon no dia internacional do piano* (28/03/2020):
“Tenho uma pequena mensagem para vocês: acho que devemos encarar essa terrível crise pela qual estamos passando como algo que devemos aceitar de qualquer maneira, e com uma reflexão sobre o que devemos fazer melhor no futuro. Tomar mais cuidado conosco, com o planeta e uns com os outros. Ter mais respeito e compartilhar mais as coisas.
Eu gostaria de interpretar Beethoven hoje, porque acho que há uma forte conexão entre o que está acontecendo conosco e o que temos que aprender com isso. E Beethoven era o homem da luta, da esperança, da luta por justiça, que tinha muita compaixão, era realmente uma alma pura. E acho que a música dele reflete isso, e através dele, podemos aprender muitas coisas importantes para o presente e o futuro.”
Maria João é uma intérprete EXCEPCIONAL das últimas sonatas de Beethoven. Enquanto o disco anterior, com sonatas da fase do meio de Beethoven, é poético e interessante, este aqui é IMPERDÍVEL, por trazer uma concepção única das sonatas opus 109 e 110, compostas quando Beethoven já estava surdo. São sonatas que sempre soarão como música do futuro. A última sonata, opus 111, ela também toca em recitais, mas nunca gravou em LP ou CD, o que mostra o quanto as gravadoras podem ser estúpidas. Pior pras gravadoras! No final desta postagem** estão os links de vídeos da também extraordinária opus 111 de Maria João Pires.
Beethoven (1770-1827) – Sonatas para piano nº 8, 30 e 31
Sonata nº 31, opus 110
I. Molto cantabile, molto espressivo
II. Allegro molto
III. Adagio ma non troppo – Fuga
Sonata nº 8, opus 13, “Patética”
I. Grave – Allegro di molto e con brio
II. Adagio cantabile
III. Rondo
Sonata nº 30, opus 109
I. Vivace ma non troppo
II. Prestissimo
III. Andante molto cantabile ed espressivo
Maria João Pires, piano
Gravado na Igreja Norte-Dame des Roses, Grisy-Suisnes, França, dezembro de 1975
As longas e bem-sucedidas parcerias com Mstislav Rostropovich e, principalmente, com Anne-Sophie Mutter acabaram por eclipsar as outras vertentes da carreira do ótimo filadelfiano Lambert Orkis. Além de muito ter gravado com instrumentos originais (junto ao Castle Trio e em parceria com Anner Bylsma), ele tem uma discografia muito interessante como recitalista, que pretendemos revelar aos poucos por aqui.
Começamos por esta gravação com a grandiloquente “Appassionata” (para variar, mais um nome que Beethoven não agregou a obra sua) interpretada em três pianos diferentes, baseados em modelos vienenses. Não sou muito afeito a copiar textos de encartes, mas achei que o relato do próprio Orkis era informativo o bastante para ser traduzido bem livremente, dentro de seu estilo bastante direto e prosaico e aqui oferecido a vocês:
“Quando Beethoven compôs a ‘Appassionata’ em 1805, ainda não se chegara a um consenso acerca de como um piano deveria soar. De fato, o instrumento padecia das dores de um rápido desenvolvimento. A extensão do teclado expandia-se a partir das cinco oitavas, fabricantes tentavam aumentar o volume do som, e conceitos diversos de construção de teclado e pedais eram implementados.
Como Viena era uma capital musical, também era um centro para o desenho e construção de excelentes pianos. De fato, fabricantes na região de Viena durante o final do século XVIII e o começo do século XIX – tais como Johann Andreas Stein (muito prestigiado por Mozart), Wenzel Schantz (preferido por Haydn), Anton Walter (outro favorito de Mozart, e também de Beethoven), Nannette Streicher (admirada por Beethoven) e Conrad Graf (conhecido tanto por Beethoven quanto por Schubert) encontraram um mercado no público musical vienense.
Com o tempo, conceitos para a construção de pianos mudaram, algumas vezes dramaticamente. Os três instrumentos usados nesta gravação são baseados em modelos vienenses de construção de pianos e representam três instantâneos da evolução do piano em Viena.
Ao trazer para um CD três interpretações da sonata ‘Appassionata’ de Beethoven em três pianos diferentes, eu não estava só a tentar demonstrar as diferenças sonoras entre os instrumentos, mas também mostrar como qualidades tonais diversas e respostas variadas dos teclados afetariam minha maneira de tocar a peça.
As durações das respectivas interpretações diferiram do que eu antecipara. Ainda que os dois pianofortes fossem mais próximos em estilo entre si do que o moderno Bösendorfer, eu esperava uma maior diferença da duração de minha performance entre os dois instrumentos mais antigos. De fato, por causa de sua sonoridade mais profunda, martelos mais robustos, e ação algo mais pesada, esperava que a duração de minha interpretação no pianoforte Regier, que representava o design vienense mais tardio, fosse mais longa. Ainda que as diferenças não sejam grandes, minhas performances dos dois primeiros movimentos no Regier foram na verdade mais curtas que no pianoforte Wolf, de design mais antigo.
Por causa de seu timbre sustentado e cantante, e um conceito de construção planejado para prevalecer sobre as maiores orquestras e penetrar nos recessos mais distantes das maiores salas de concerto, não me surpreendi com que minhas interpretações no Bösendorfer Imperial Concert Grand fossem as mais longas para cada um dos movimentos. No entanto, as diferenças não foram tão grandes quanto esperava.
O efeito dos pianos propriamente ditos nas minhas interpretações foi bastante sutil. Dei-me conta de que foi minha concepção da sonata que foi, por fim, a força motriz em minhas leituras da peça. Em cada caso, ajustei minha abordagem do instrumento de maneira a perceber como eu percebia a obra de acordo com meu gosto.
Devo dizer que dediquei um tempo considerável a aprender esta peça em pianofortes. Uma vez que tive em mente o som da articulação nítida do pianoforte, bem como da flexibilidade rítmica de que precisava para compensar a relativa perda de poder de sustentação nos agudos desses pianos, este som tornou-se parte de minha visão interpretativa que tentei, então, conseguir em cada piano que toquei.
O pianoforte Wolf é o mais próximo em design àqueles que eram contemporâneos no momento em que Beethoven compôs esta peça. Seu som incisivo e ação leve ornam bem com as passagens rodopiantes e temperamento feroz dessa obra. As teclas brancas são mais curtas, e as pretas, mais estreitas que aquelas dum piano moderno. Esse teclado um tanto apertado, somada à ação muito leve torna a execução limpa e acurada um desafio, especialmente nos momentos mais dramáticos. Devo também apontar que eu sou consideravelmente maior que o vienense médio do começo do século XIX…
Não obstante, tocar a ‘Appassionata’ neste instrumento foi um deleite. O que lhe falta em volume é compensado por sua flexibilidade e intimismo. Ainda que sonicamente pequeno, em termos relativos, o drama possível com ele foi de fato bastante grande. No pianoforte Wolf, minha execução da sonata atingiu um alto grau de tensão nervosa. Pode-se quase sentir que Beethoven tentava romper as costuras do instrumento. Em suma, a peça crepita com vitalidade.
Um aspecto interessante deste pianoforte e do Regier é o sistema de pedais. Ambos têm um legítimo pedal ‘una corda’. Este pedal, frequentemente chamado assim nos pianos modernos, move os martelos e as teclas de maneira a que os martelos percutem apenas uma das três cordas [para cada nota]. Com o tempo, esta disposição, ainda que sonicamente interessante, provou-se mecanicamente problemática. Consequentemente, com a chegada da modernidade, esse sistema foi-se modificando de modo a que a maioria dos pianos de cauda de hoje movem os martelos de modo a golpearem duas das três cordas. E ainda, alguns dos instrumentos mais recentes modificaram o ajuste de modo que todas as três cordas são percutidas com uma parte diferente e mais macia do martelo.
Com estes pianofortes, é possível conseguir uma variedade de timbres dependendo de minha escolha de usar uma, duas ou três cordas. Além disso, esses pianos têm um pedal moderador que pianos modernos dificilmente têm. Esse pedal insere uma peça de material macio entre o martelo e a corda que resulta num som bastante peculiar, que combinado com o pedal ‘una corda’ dá-lhe um efeito um tanto fantasmagórico. Escute o começo da ‘Appassionata’ em cada um dos três instrumentos. Perceba o quão distante a introdução soa nos dois pianofortes e o quão comparativamente ‘real’ ela soa no instrumento vienense moderno.
Por causa da ação mais pesada no fortepiano Regier, eu previ mais dificuldades em gravar a obra nesse instrumento do que de fato encontrei. Este piano representa a tecnologia disponível para Beethoven no final de sua vida. Seu som mais profundo e sua sonoridade mais intensa não foram contemporâneas à composição desta peça. Achei o teclado um tanto maior um problema ao lidar com passagens complexas. Meus dedos apreciaram o contato mais firme. O resultado foi que pude tocar menos preocupado, o que provavelmente explica por que minhas gravações foram mais rápidas neste piano. Também foi muito divertido fazer-me ouvir com sua intensidade sônica. Passagens fortes ficaram ótimas. Com este piano senti que estava tocando um instrumento cujo conceito atingira o pináculo de seu desenvolvimento. Implementos adicionais seriam requeridos para conseguir algo diferente com o som do piano.
Essa diferença veio com o metal e o tamanho. Assistir aos carregadores de piano transportarem o Bösendorfer Imperial Concert Grand para o local da gravação durante uma tempestade torrencial foi algo. Sua grandeza fazia seus primos encolherem. Mesmo um Steinway de concerto que dividia a sala com o Bösendorfer parecia delicado, comparado a ele. Ainda que algumas vezes tenha tocado o Bösendorfer em salas de concerto pelo mundo, eu nunca gravara com ele. Nos Estados Unidos, instrumentos Bösendorfer são relativamente raros. Em seu país natal, a Áustria, ele é muito encontradiço. Graças à sequência de gravações – Wolf primeiro, Regier segundo, Bösendorfer por último -, tocar o Bösendorfer foi inicialmente um choque. Ainda que eu tivesse bastante experiência com a ‘Appassionata’ em pianos modernos, as tomadas iniciais nas gravações pareciam pesadas, pachorrentas, borradas, e altas. Havia som demais vindo do instrumento e muita força disponível; eu tinha que achar maneiras de colocar tudo em perspectiva.
No movimento lento, seu belo e sustentado timbre seduziram-me em adotar um andamento mais lento. Eu me flagrei tão só tomando meu tempo para saborear o som. Ainda que a ação deste piano não fosse pesada para os padrões modernos, ela certamente era mais pesada que seus parentes mais velhos. Somando-se a isso, o ataque suave e a qualidade cantante deste instrumento fizeram-me mudar minha técnica ao tocá-lo de modo a capturar algo da nitidez e da diversidade de articulação que sinto serem inerentes à peça.
Senti-me bem em tocar teclas modernas novamente. E quando a paixão do momento pedia por força aparentemente ilimitada, esse piano conseguia realmente dar a resposta. E, apesar da ação mais pesada e avassaladora, sua responsividade era tanta que a duração de minhas performances foi apenas um pouco mais longa que aquelas nos pianofortes.
Ao longo dessas sessões, estava bem ciente da linhagem desses instrumentos. Ainda que soem muito diferentes um dos outros, pode-se sentir a conexão entre eles através dos dedos. É como se eles fossem membros de famílias muito próximas. A diferença entre cada um deles e os membros de outra família podem ou não ser dramáticas, mas são tangíveis, pelo menos àqueles que conhecem bem os indivíduos específicos.
Espero que gostem de escutar esta grande obra através da ‘lente’ de cada um desses instrumentos. Tenham certeza de que eu adorei tocá-los. Eles ensinaram-me muito”
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sonata para piano em Fá menor, Op. 57, “Appassionata” Composta entre 1804-5 Publicada em 1807 Dedicada ao conde Franz von Brunsvik
I – Allegro assai
II – Andante con moto
III – Allegro ma non troppo
Executada em três pianos de design vienense:
Faixas 01-03: pianoforte de Thomas e Barbara Wolf, baseado em instrumentos de Nannette Streicher (ca. 1814-20)
Faixas 04-06: piano Bösendorfer Imperial Concert Grand
Faixas 07-09: pianoforte de R. J. Regier, baseado em instrumentos vienenses de 1830
Como nos lembra Milton Ribeiro, Beethoven desde cedo tinha uma noção muito curiosa de que não lhe bastava estudar a música de Bach, Händel, Haydn e Mozart: era preciso também conhecer literatura. Com entusiasmo, atirou-se à leitura de Homero, Shakespeare, Goethe e Schiller.
Em carta de 29 de junho de 1800 para um amigo de Bonn, Ludwig escreveu sobre a vontade de rever seus companheiros, sua terra natal e o Reno: “Quando esse dia virá, não posso te dizer com certeza. Mas quero dizer que me encontrarão maior: não falo do artista, mas também do homem, que lhes parecerá melhor; e se o bem-estar não crescer um pouco em nossa pátria, minha arte deverá se dedicar a melhorar a sorte dos mais pobres…”
Maria João Pires tem uma visão de mundo um pouco similar, tão necessária em nossa era de profissionais hiperespecializados que, nas palavras de Millôr Fernandes, sabem cada vez mais sobre cada vez menos, até saberem tudo sobre nada. Maria João, que já passou dos 70 anos de idade, encerrou sua carreira internacional de turnês longas e cansativas. Só toca quando quer, onde quer. O resto do tempo, vive em sua casa em Portugal, bem longe das cidades grandes. Casa essa que é ao mesmo tempo o centro Artistico de Belgais, onde ela ensina alguns jovens em uma verdadeira imersão, onde eles aprendem música mas também aprendem a fazer pão. Pois é, a grande pianista de mãos pequeninas ainda hoje amassa pão na sua casa. Como escreveu o português Julio Resende:
Das suas mãos se trabalham e se enamoram muitos nutrientes, para o corpo e para a alma. Não, esqueçam o que disse agora! Não faz sentido falar aqui da velha distinção corpo-alma, porque a pianista tem demonstrado por todo o mundo que na sua música e nos seus concertos, os dois – alma e corpo – vivem muito bem em união, sem distinção, sem competição, a construir das suas diferenças momentos de comunhão.
Maria João é talvez a única discípula viva do lendário pianista alemão Wilhelm Kempff, outro grande intérprete de Beethoven que, como mostram suas gravações, também parecia transcender a divisão entre corpo e alma, com interpretações que davam novos significados para as frases musicais aparentemente mais banais, sobretudo nas sonatas mais simples e pouco tocadas. Mas vamos deixar a própria Maria João falar, em entrevista que deu na ocasião de sua mais recente vinda ao Brasil, em 2019:
“Kempff não era meu professor, mas eu tocava para ele, eram momentos importantes, foram fundamentais em minha carreira.”
“Beethoven ganhou a importância que teve em minha vida depois da mudança para a Alemanha. E a base do aprendizado foi o conhecimento profundo que Kempff tinha de sua obra. Naqueles encontros, eu comecei de fato a entender, respeitar, saber como decifrar uma partitura do compositor, a sua história”, ela explica.
Em seguida, questionada sobre o que a fascina no compositor, ela faz uma pausa. “É tão difícil colocar em palavras. Beethoven é quem liga a matéria ao espírito. É quem nos mostra que podemos viver uma vida material e, ao mesmo tempo, viver ideais muito fortes. Há nisso uma visão profunda do nosso universo, que não se explica. Mas se sente. É aí que entra o gênio.”
Beethoven (1770-1827) – Sonatas para piano nº 23, 17 e 14
Sonata nº 23, opus 57, “Appassionata”
I. Allegro assai
II. Andante con moto
III. Allegro, ma non troppo
Sonata nº 17, opus 31 no. 2, “Tempestade”
I. Largo – Allegro
II. Adagio
III. Allegretto
Sonata nº 14, opus 27 no. 2, “Ao Luar”
I. Adagio sostenuto
II. Allegretto
III. Presto agitato
Maria João Pires, piano
Gravado na Igreja Norte-Dame des Roses, Grisy-Suisnes, França, dezembro de 1975
“Oratório Messiah, HWV 56, de George Frideric Handel, versão 1754 do Foundling Hospital, que apresenta cinco solistas: dois sopranos (Sandrine Piau, Katherine Watson), contralto (Anthea Pichanick), tenor (Rupert Charlesworth) e baixo-barítono (Andreas Wolf), gravado em 20 a 22 de dezembro de 2016, publicado em 6 de outubro de 2017, com Le Concert Spirituel, choir & orchestra e Hervé Niquet, maestro.
Depoimento de Hervé Niquet: Por que mais um Messiah? Examinei as diferentes partituras existentes e decidi pela versão muito interessante de 1754, que apresenta cinco solistas. Vocês devem se lembrar que, quando Handel chegou a um lugar para realizar seu oratório, ele tinha solistas de diferentes padrões à sua disposição. Então ele rapidamente revisou sua pontuação de acordo …
Tudo isso está diretamente relacionado à realidade da situação de Handel como promotor de concertos. Naqueles dias, para ganhar a vida com sua música, um compositor precisava absolutamente executar suas obras e lucrar à noite. A idéia de não retocar um trabalho para evitar “estragar” ou “distorcer” é muito mais moderna. Deve haver cerca de uma dúzia de versões do Messias (não listarei todas). A versão de 1754 raramente é tocada porque exige cinco solistas: dois sopranos, alto, tenor e baixo … optei aqui por uma interpretação operística, seguindo a sugestão do drama inerente a esse relato da vida de Cristo.
Oratório Messiah, HWV 56 Georg Friedrich Händel (Alemanha, 1685 – Inglaterra, 1759) PARTE I – DISCO 1 1 de 18 Part I – No.1 SINFONIA Grave-Allegro moderato 2 de 18 Part I – No.2 ACCOMPAGNATO “Comfort ye my people” 3 de 18 Part I – No.3 AIR “Every valley shall be exalted” 4 de 18 Part I – No.4 CHORUS “And the glory of the Lord” 5 de 18 Part I – No.5 ACCOMPAGNATO “Thus saith the Lord of hosts” 6 de 18 Part I – No.6 AIR “But who may abide” 7 de 18 Part I – No.7 CHORUS “And he shall purify”, No.8 RECITATIVE “Behold a virgin shall conceive” 8 de 18 Part I – No.9 AIR & CHORUS “O thou that tellest” 9 de 18 Part I – No.10 RECITATIVE “For behold” 10 de 18 Part I – No.11 AIR “The people that walked” 11 de 18 Part I – No.12 CHORUS “For unto us a Child is born” 12 de 18 Part I – No.13 Pifa (Sinfonia Pastorale), No.14 RECITATIVE “There were shepherds” 13 de 18 Part I – No.14B RECITATIVE “And lo, the angel of the Lord”, No.15 RECITATIVE “And the angel said unto them” 14 de 18 Part I – No.16 RECITATIVE & ACCOMPAGNATO “And suddenly” 15 de 18 Part I – No.17 CHORUS “Glory to God in the highest” 16 de 18 Part I – No.18 AIR “Rejoice greatly”, No.19 RECITATIVE “Then shall the eyes of blind” 17 de 18 Part I – No.20 AIR “He shall feed His flock” 18 de 18 Part I – No.21 CHORUS “His yoke is easy”
PARTE II – DISCO 2 1 de 29 Part II – No.22 CHORUS “Behold the lamb of God” 2 de 29 Part II – No.23 AIR “He was despised” 3 de 29 Part II – No.24 CHORUS “Surely He hath borne our griefs” 4 de 29 Part II – No.25 CHORUS “And with His stripes” 5 de 29 Part II – No.26 CHORUS “All we like sheep” 6 de 29 Part II – No.27 RECITATIVE & ACCOMPAGNATO “All they that see Him” 7 de 29 Part II – No.28 CHORUS “He trusted in God” 8 de 29 Part II – No.29 RECITATIVE “Thy rebuke hath broken His heart” 9 de 29 Part II – No.30 AIR “Behold, and see” 10 de 29 Part II – No.31 RECITATIVE “He was cut off out” 11 de 29 Part II – No.32 AIR “But Thou didst not leave His soul in hell” 12 de 29 Part II – No.33 CHORUS “Lift up your heads”, No.34 RECITATIVE “Unto which of the angels” 13 de 29 Part II – No.35 CHORUS “Let all the angels of God” 14 de 29 Part II – No.36 AIR “Thou art gone up on high” 15 de 29 Part II – No.37 CHORUS “The Lord gave the word” 16 de 29 Part II – No.38 AIR “How beautiful are the feet” 17 de 29 Part II – No.39 CHORUS “Their sound is gone out” 18 de 29 Part II – No.40 AIR “Why do the nations” 19 de 29 Part II – No.41 CHORUS “Let us break their bonds asunder”, No.42 RECITATIVE “He that dwelleth in heaven” 20 de 29 Part II – No.43 AIR “Thou shalt break them” 21 de 29 Part II – No.44 CHORUS “Hallelujah”
PART III – DISCO 2 22 de 29 Part III – No.45 AIR “I know that my Redeemer liveth” 23 de 29 Part III – No.46 CHORUS “Since by man came death” 24 de 29 Part III – No.47 RECITATIVE “Behold, I tell you a mystery” 25 de 29 Part III – No.48 AIR “The trumpet shall sound”, No.49 RECITATIVE “Then shall be brought to pass” 26 de 29 Part III – No.50 DUET “O death” 27 de 29 Part III – No.51 CHORUS “But thanks be to God” 28 de 29 Part III – No.52 AIR “If God be for us” 29 de 29 Part III – No.53 CHORUS “Worthy is the Lamb”
Para degustar:
Oratório Messiah, HWV 56, de George Frideric Handel, versão 1754 Le Concert Spirituel, choir & orchestra e Hervé Niquet, maestro – 2016 Sopranos (Sandrine Piau, Katherine Watson)
Contralto (Anthea Pichanick)
Tenor (Rupert Charlesworth)
Baixo-barítono (Andreas Wolf)
Por gentileza, quando tiver problemas para descompactar arquivos com mais de 256 caracteres, para Windows, tente o 7-ZIP, em https://sourceforge.net/projects/sevenzip/ e para Mac, tente o Keka, em http://www.kekaosx.com/pt/, para descompactar, ambos gratuitos.
If you have trouble unzipping files longer than 256 characters, for Windows, please try 7-ZIP, at https://sourceforge.net/projects/sevenzip/ and for Mac, try Keka, at http://www.kekaosx.com/, to unzip, both at no cost.
Difícil falar da “Eroica” sem chover molhadissimamente no já encharcado. Que ela foi revolucionária e sem precedentes em termos de escopo, extensão e recursos; que é um marco entre o classicismo e o romantismo; que fora dedicada a Napoleão, e que a dedicatória foi removida com uma furiosa rasura a faca no frontispício da partitura; que seu cerne é uma extraordinária Marcha Fúnebre, instantaneamente admirada; e que o tema do finale é o único que, em sua obra, recorre em mais de uma peça, tendo aparecido antes numa contradança, em variações para piano e em seu balé Prometheus.
O que talvez nem todos saibam é que justamente a extensão e o escopo foram as maiores reclamações daqueles que a ouviram na estreia; que seu papel de marco só foi reconhecido muito mais tarde, e que a “Eroica” não teve em sua época uma divulgação à altura da importância que hoje se lhe reconhece, muito por conta do plantel de músicos requerido, que não foi o pretendido por Beethoven nem em sua estreia, recriada nesta fascinante gravação; que a dedicatória a Napoleão foi retirada antes dos talhos de faca na partitura, mas por motivos do vil metal, oferecido ao sempre necessitado Beethoven pelo novo dedicatário; que a “Sinfonia Grande” foi, mesmo com a mudança na dedicatória, “[in]titolata Bonaparte”, para só ser chamada “Eroica” depois que o emputecimento com Napoleão levasse Ludwig a querer com ela “festeggiare il sovvenire d’un grand’uomo”; que muitas vezes ela foi abreviada, por premências de tempo ou pela incompreensão do público, e tocada só até a Marcha Fúnebre; e que o finale, detestado pelos contemporâneos por pouco portentoso e incongruente com os movimentos pregressos, soa-nos hoje como o mais beethoveniano, pelo emprego genial das técnicas de variação e pelos exemplos precoces de seu interesse na forma da fuga.
Todo regente que se preza encara a “Eroica”, e não há, para mim, alguém que tenha igualado Ferenc Fricsay, que já foi postado aqui. Ainda assim, sempre tento ouvir esse monumento como se fosse a primeira vez, e nunca deixo de lhe descobrir uma nuance nova em meio ao estupor.
Acabo de ouvi-la dezoito vezes, e redescobri-la outras tantas. Conclamo os leitores-ouvintes, agora, ao fazerem o mesmo.
Sinfonia no. 3 em Mi bemol maior, Op. 55, “Eroica” Composta em 1802-04 Publicada em 1806 Dedicada ao príncipe Franz Joseph von Lobkowitz
1 – Allegro con brio
2 – Marcia funebre. Adagio assai
3 – Scherzo. Allegro vivace – Trio
4 – Finale. Allegro molto – Poco Andante – Presto
Há compositores que não são para amadores ou diletantes. Mahler tem sorte; raramente ouvi gravações de suas obras que não fossem de alto nível. Herreweghe realiza um excelente trabalho em Des Knaben Wunderhorn e, se não chega ao nível dos grandes mahlerianos, dá-nos uma boa versão de uma das mais importantes obras do marido de Alma.
Des Knaben Wunderhorn significa A trompa mágica do menino, e é uma coleção de textos de canções populares, publicada por Clemens Brentano e Achim von Arnim no começo do século XIX. A coleção contém basicamente canções da Idade Média. Algumas das canções foram musicadas por Gustav Mahler entre 1892 e 1901. Ela são apresentadas em qualquer seqüência, depende dos intérpretes. Há controvérsias sobre o número delas, alguns dizem que são 12; outros, que são 24. Herreweghe nos mostra 14… No ciclo há canções extraordinárias, como Wer hat dies Liedlein erdacht (melhor na gravações de von Otter + Abbado), Des Antonius von Padua Fischpredigt, Wo die schönen Trompeten blasen, mas as outras não são piores, não.
Gustav Mahler: Des Knaben Wunderhorn
1. Des Knaben Wunderhorn: Revelge Dietrich Henschel, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 6:46
2. Des Knaben Wunderhorn: Verlor’ne Müh’ Sarah Connolly, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 2:41
3. Des Knaben Wunderhorn: Des Antonius von Padua Fischpredigt Dietrich Henschel, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 3:54
4. Des Knaben Wunderhorn: Das irdische Leben Sarah Connolly, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 3:00
5. Des Knaben Wunderhorn: Trost im Unglück Sarah Connolly, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 2:28
6. Des Knaben Wunderhorn: Wo die schönen Trompeten blasen Dietrich Henschel, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 6:48
7. Des Knaben Wunderhorn: Wer hat dies Liedlein erdacht? Sarah Connolly, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 2:09
8. Des Knaben Wunderhorn: Lob des hohen Verstands Dietrich Henschel, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 2:36
9. Des Knaben Wunderhorn: Der Tamboursg’sell Dietrich Henschel, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 5:57
10. Des Knaben Wunderhorn: Das himmlische Leben Sarah Connolly, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 8:56
11. Des Knaben Wunderhorn: Lied des Verfolgten im Turm Dietrich Henschel, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 4:11
12. Des Knaben Wunderhorn: Rheinlegendchen Sarah Connolly, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 3:05
13. Des Knaben Wunderhorn: Der Schildwache Nachtlied Dietrich Henschel, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 5:38
14. Des Knaben Wunderhorn: Urlicht Sarah Connolly, Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe 5:04
Sarah Connolly
Dietrich Henschel
Orchestre des Champs-Élysées
Philippe Herreweghe
Fiz esta postagem lá em 2012, incrível, já se passaram oito anos. Muita água rolou embaixo da ponte de lá para cá, mas uma coisa continua igual: o altíssimo nível de interpretação destes dois incríveis músicos, principalmente Viktoria Mullova. Os comentaristas / clientes da amazon são quase que unânimes em considerarem esta sua leitura da Sonata a Kreutzer como uma das melhores já realizadas. E tenho quase certeza de que os senhores irão concordar. Pena que essa gravação não se transformou em um projeto de gravar a integral destas sonatas … mas estamos falando de Mullova, e como comentei abaixo, a qualidade acima da quantidade.
Viktoria Mullova, para variar, dá um show neste baita CD onde interpreta duas sonatas para violino do gênio de Bonn, a sonata n°3 do op. 12, e a obra máxima para esta formação, a divina “Sonata a Keutzer”. Como parceiro tem o excelente “pianofortista” Kristian Bezuidenhout. Tenho este CD já há algum tempo, porém reconheço que também faz tempo que não dou atenção a ele, pois estava meio inacessível em um HD externo, que fica guardado em um armário. De vez em quando pego ele, para procurar alguma coisa diferente para postar.
Como salientei diversas vezes nos últimos tempos, estou trabalhando como um condenado, e este foi meu primeiro domingo livre em mais de um mês, portanto desconheço o que significa a expressão “descansar no final de semana”. Se não tenho respondido á solicitações de reupagens, respondo agora: não, infelizmente não há condições mínimas de reupar arquivos deletados pelos Megauploads e rapidshares. É material que está em hds externos, partições de hds de computadores que foram descartados e do qual não foram feitos backups, e o que é pior, material que foi gravado em cds e dvds que simplesmente não são mais lidos. Trata-se da famosa “redundância cíclica de dados”. O computador trava mas não consegue ler os dados gravados naquela mídia.
Voltando à Mullova, que é o que interessa aqui, tenho a dizer o seguinte: baixem e ouçam… é Beethoven, porra!!! Interpretado por uma das maiores violinistas de sua geração. Não tenho informações se ela chegou a encarar gravar todas as sonatas para violino e piano de Beethoven, assim como o fez Anne-Sophie Mutter, há algum tempo atrás, ou outros tantos violinistas de renome. Mullova prefere a qualidade à quantidade. Grava pouco, porém é difícil dizer que um CD dela não é tão bom quanto outro.
Deleitem-se.
01 Violin Sonata no.3 in E flat op.1
02 II. Adagio con spirito
03 III. Rondo Allegro molto
04 Violin Sonata no.9 in A op.47 ‘Kreutzer’
05 II. Andante con variazioni
06 III. Presto
Viktoria Mullova – Violin
Kristian Bezuidenhout – Fortepiano
Parear duas das mais concisas sonatas de Beethoven com a segunda do grandiloquente Rachmaninoff – ainda que seja sua versão revisada e, se é que se pode dizer isso de algo de Rach, um pouco simplificada – é uma escolha pouquíssimo convencional. Aí os leitores-ouvintes olham a capa do disco, enxergam o intérprete e compreendem tudo: o que é convencional, afinal, na carreira de Ivo Pogorelić?
Nada, sem dúvidas – desde sua origem, quando havia Iugoslávia, um filho de pai croata e mãe sérvia que o colapso da federação transformou num croata nascido em Belgrado, passando por sua formação naquela capital e em Moscou, os estudos e posterior casamento com sua professora e mentora Aliza Kezeradze, nada, desde o começo, apontava para o frugal.
Mesmo que não entendam tchongas do idioma, vale a pena conferir Ivo sendo,
bem, Ivo desde os tempos de moleque.
Sua grande estreia no cenário mundial, dir-se-ia de sola, ou mesmo uma voadora dupla nas costas do estado das coisas musical foi, claro, o X Concurso Internacional Chopin de Varsóvia, em 1980, no qual, entre 180 competidores engravatados e engomados e prontíssimos para agradar os jurados na meca dos chopinianos, ele surgiu com esses trajes, essa cachopa e tocando Chopin dessa maneira:
O público amou o enfant terrible e transformou-o em seu queridinho. Os jurados dividiram-se. Lajos Kentner abandonou o barco no final da primeira etapa, alegando que “se gente como Pogorelić chega à segunda etapa, eu não posso participar do júri – temos critérios diferentes”. Quando ele foi eliminado, na semifinal – depois de inverter a ordem de apresentação das peças, sair do palco e voltar para tocar o restante do programa obrigatório como se fosse um bis para uma plateia incensada -, foi a vez de Martha Argerich – ninguém menos! – pular fora em protesto, bradando que Pogorelić era um “gênio”, que seus colegas jurados eram incapazes de aceitá-lo por causa de seu “conservadorismo entranhado” e que sentia vergonha de fazer parte daquele júri.
GRAVATA DE CAUBÓI, gurizada
A eliminação de Pogorelić, somada a sua persona provocativa e sua abordagem heterodoxa das interpretações assegurou-lhe tanta fama que hoje ele é mais lembrado que o próprio vencedor do concurso em 1980 – o vietnamita Đặng Thái Sơn, um artista extraordinário e introspecto, que acabou por carregar a imerecida pecha de nêmese do croata. Ivo, entretanto, não voltou para casa com as mãos abanando: recebeu prêmios e troféus extraoficiais, foi convidado a tocar com uma orquestra no final do concurso (honra que caberia aos vencedores, ainda que sua orquestra fosse de estudantes) e, de quebra, ainda assinou um polpudo contrato com a Deutsche Grammophon, para a qual gravou vários discos, todos de muito sucesso e certamente recheados de momentos magníficos, durante os anos 80.
Nas décadas seguintes, Pogorelić tornou-se cada vez mais bissexto, tanto nos palcos como nos estúdios. Talvez por problemas de saúde, em parte também pela viuvez (Aliza, vinte anos mais velha que ele, faleceu em 1996), quem sabe pelos desafios naturais da maturidade, inda mais pungentes para quem foi menino-prodígio e jovem provocador. Quando voltou a dar recitais, tornou-se um esporte popular massacrá-lo por excentricidades e inconsistências em dinâmica e agógica não muito diferentes daquelas que tanto foram incensadas durante os anos 80. E em 2019, depois de mais de vinte anos sem gravar, lançou esse disco pela Sony e recebeu uma chuva de tomates.
Não acho que a tomatina se justifique, pelo menos no que tange a Beethoven. As duas sonatas escolhidas, que estão entre as mais concisas entre as trinta e duas, prestam-se bem às idiossincrasias de Pogorelić. A Op. 54, que abre com uma alegoria de um minueto e termina com um agitado finale, já foi comparada a uma sonata convencional da qual foram arrancados os dois primeiros movimentos. Gostei da abordagem, embora estranhe bastante os crescendos meio despropositados que estão a trovejar bem antes dos clímaxes. Costumo preferir a Op. 78, uma de minhas sonatas prediletas (e também do próprio Beethoven), com andamentos menos hesitantes, especialmente no segundo movimento, em que Pogorelić parece ruminativo e quebra toda a verve prescrita como um Allegro vivace. Sobre Rachmaninoff, deixo para vocês comentarem – não conheço bem a obra, mas estranhei os andamentos lentos e, de novo, os crescendos meio precoces. Fiquei sem saber muito bem qual a razão de ser de tudo aquilo que ouvi, mas talvez esse não seja um problema entre Ivo e essa sonata, e sim meu com Sergei no geral.
Gênio, como proclamou nossa deusa Marthinha, ou mero embuste? Qualquer que seja vosso veredito, eu saúdo o retorno do garoto terrível e espero ansioso suas novas traquinagens.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sonata para piano em Fá maior, Op. 54 Composta em 1802 Publicada em 1804
01 – In tempo d’un menuetto
02 – Allegretto
Sonata para piano em Fá sustenido maior, Op. 78 Composta em 1809 Publicada em 1810 Dedicada a Therese von Brunsvik
03 – Adagio cantabile
04 – Allegro vivace
Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943)
Sonata para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 36
(“A Nova Versão, Revisada e Reduzida pelo Autor”, 1931)
05 – Allegro agitato
06 – Non allegro—Lento
07 – Allegro molto
Em 2020, Orchestrion poderia se chamar Quarantine por ser um trabalho absolutamente individual de Metheny. Ele tocou todos os instrumentos e o resultado foi bom. O álbum, obviamente de estúdio, foi lançado pela Nonesuch em janeiro de 2010. A orquestra de Metheny foi construída pelo engenheiro Eric Singer e a Liga de Robôs Urbanos Musicais Eletrônicos (LEMUR), Ken Caulkins em Ragtime West, Mark Herbert, Cyril Lance e Peterson Electro-Musical Products . O conjunto inclui pianos, marimba, vibrafone, sinos de orquestra, baixos, GuitarBots, percussão, pratos e tambores, garrafas sopradas e outros instrumentos mecânicos, acústicos e personalizados.
Desde criança, Metheny passava os verões mexendo e alterando coisas no piano de seu avô. Ele sempre foi fascinado pela mecânica de fazer música. Com Orchestrion, ele arrasta sua obsessão infantil para o século XXI. Orchestrions eram mini-orquestras tocadas mecanicamente do século XIX, geralmente construídas em torno do piano, e a capa do álbum ilustra a interpretação moderna de Metheny do orchestrion. Ele fica pequeno ao lado dos imensos racks de mecanismos, instrumentos de percussão personalizados, guitarbots, pianos e garrafas Disklavier, todos controláveis através de seu violão através de solenóides e MIDI. Embora seja tocada por máquinas, essa música soa surpreendentemente humana. Há batimentos cardíacos na percussão, vozes zumbindo nas cordas e músicas sem palavras de garrafas sopradas. A faixa-título é otimista, com um aceno para o povo irlandês e a consonância e dinâmica que você espera da música de Metheny. Há percussão densa em todos as faixas e o álbum inteiro está mergulhado em lirismo, com linhas de guitarra pungentes patinando sobre belas mudanças harmônicas.
Peças introspectivas como o Entry Point e o Soul Search não funcionam tão bem assim. A falta de um toque humano no piano é perceptível. Ao contrário de Tubular Bells ,de Mike Oldfield, Orchestrion não desfila cada instrumento numa passarela. É o violão ou o piano que lideram em cada faixa, enquanto os outros instrumentos fornecem textura. A dinâmica é impressionante e os instrumentos parecem naturais, mas falta a excitação de um ego humano real disparando sobre outro. Apesar das algumas deficiências, Orchestrion é Pat Metheny. Afinal, ele compôs, tocou e improvisou todos os sons que você ouve. E chegou perto do seu objetivo de tornar este álbum mais do que uma curiosidade, mas o impacto real seria certamente o de ver seu Orchestrion ao vivo.
Parte de geringonça está aqui, ó:
.: interlúdio :. Pat Metheny (1954): Orchestrion
01. Orchestrion 15:52
02. Entry Point 10:28
03. Expansion 8:37
04. Soul Search 9:20
05. Spirit Of The Air 7:45
O Santo Graal, o vaso de esmeralda em que José de Arimatéria teria guardado o sangue de Cristo, quando ferido pelo centurião romano no Calvário, foi levado, por anjos, a Titurel, santo cavaleiro que o guarda no cimo imaculado da montanha de Montserrat localizado ao norte da Espanha Gótica, no mosteiro de Montsalvat. Outros cavaleiros, puros como o chefe, da relíquia também tiram seu vigor divino. Uma pomba celeste, uma vez por ano vem renovar a força do Santo Graal. Elevam-se da orquestra sons agudíssimos, murmúrios de violinos que flutuam e logo se agregam em frases precisas; sutilmente ouvimos o tema do Graal. Passando pausadamente pela orquestra, esta página de deslumbrante esplendor, nos prepara para a lenda de Lohengrin que é a quinta ópera e a última da segunda fase do trabalho de Richard Wagner (1813-1883). Pela primeira vez, o compositor não chama mais a introdução de “abertura”, mas de “prelúdio”. Isso documenta a mudança no papel da introdução. Não é mais uma peça que expõe os temas (como era em Tannhäuser), mas se torna parte da história, onde o ouvinte está sintonizado com o que está por vir.
Hoje a dupla FDPBach e Ammiratore irá contar a história desta brilhante ópera, com ótimas cenas e fortes contrastes. Assim como em Tannhäuser, esta ópera apresenta dois mundos diferentes: a pureza dos Cavaleiros do Graal e o mundo sombrio e mágicos dos pagãos. Wagner conseguiu extrair muitos dos temas da ópera de lendas medievais. Mas é mérito do compositor que Lohengrin se torne uma narrativa coerente e emocionante, unindo as várias sagas e fragmentos históricos com sua incrível capacidade criativa. Como já dissemos no post anterior, Wagner descobriu as lendas de Tannhäuser e de Lohengrin na mesma época, em 1841. As fontes de Lohengrin foram o poema épico de Wolfram von Eschenbach “Parzival”, do início do século XIII, e um épico anônimo de “Lohengrin”, do século XV. Ambos contam a história de um cavaleiro que chega em um barco puxado por um cisne para resgatar uma dama em perigo e que ele deverá partir quando esta dama lhe fizer perguntas que foram proibidas. O libreto terminou em 1845, a composição estava em andamento no ano seguinte e a partitura completa no final de abril de 1848.
No entanto, circunstâncias não-musicais atrasaram a estreia. Wagner não pôde comparecer à apresentação porque estava escondido em seu asilo suíço. Por sinal a década de 1840 foi extraordinariamente movimentada para Wagner (e para a Europa). Musicalmente, ele completou quatro óperas – “Rienzi”, “Der fliegende Hollender”, “Tannhäuser” e “Lohengrin” – estava ocupado como maestro e arranjador e ativo como jornalista e ensaísta musical. Mas os eventos mais perigosos para ele foram os políticos. Wagner era um ativista radical de esquerda com tendências revolucionárias em uma era de muita agitação política na Europa. E ele não escondeu seus sentimentos. Os admiradores que o conheceram socialmente naquela época ficaram surpresos com o fato de a música geralmente não ser um tópico em suas conversas. Em vez disso, ele era obcecado por política. Ele fez pelo menos um discurso político público e se associou a vários personagens radicais contra os poderes autocráticos da realeza da Alemanha e Áustria, o resultado foi que ele conseguiu a atenção da polícia, colocou sua carreira e posição como “Royal Kapellmeister” em risco ao escrever um artigo em que previa a queda da aristocracia. Quando a insurreição eclodiu em Dresden, em 1849, Wagner estava envolvido, embora toda a extensão de suas atividades permanecesse incerta. Foi obrigado a abandonar o seu país e não teve permissão para andar em solo alemão por 12 anos.
Franz Liszt, em Weimar, preparou e conduziu a estreia de Lohengrin, que finalmente ocorreu em agosto de 1850. Wagner teve que supervisionar pelo correio a uma distância bem segura, não se atreveu a comparecer pessoalmente porque corria o risco de ser preso. De fato, foi somente em maio de 1861, 13 anos após sua conclusão, que Wagner pôde assistir a uma performance de Lohengrin.
Por um longo tempo, Lohengrin foi o trabalho mais apresentado de Richard. A grosso modo Lohengrin constitui, primeiramente, um conflito histórico entre a cristandade e o paganismo. Ortrud, que é um produto da imaginação wagneriana e de seu apelo aos deuses da mitologia alemã, revelava que, para ela, o cristianismo seria uma heresia e que a força dos deuses e da natureza terminariam por triunfar. Assim, a metamorfose do cisne em um menino, no final da ópera, aparece como o apogeu de uma luta entre os deuses da mitologia, que haviam transformado o menino em um cisne, e Cristo, o novo deus, que triunfa quando dá de volta ao menino a forma humana.
A ópera provou ser um grande sucesso, e o nome de Wagner começou a ser mencionado na mesma intensidade que os compositores de ópera já estabelecidos da época (Rossini e Meyerbeer). O sucesso de Lohengrin também garantiu o avanço definitivo de Wagner como compositor de ópera. Em pouco tempo tornou-se o compositor mais famoso da Europa. Como resultado de seu grande sucesso, ele recebeu anistia parcial em 1860.
No entanto, havia agora outra corte real que começou a interessá-lo muito mais do que a de Dresden: a corte do rei Ludwig II de Munique. Reza a lenda que o jovem rei Ludwig II assistiu uma apresentação de Lohengrin em 1857 e deixou o teatro de Munique em lágrimas. Essa experiência não só mudou a vida do monarca, mas também a vida de Wagner…. Uma curiosa cadeia de eventos positivos em sua carreira, que o compositor não poderia ter previsto quando começou a trabalhar na história do cavaleiro dos cisnes, ocorreu. O rei ficou obcecado pelo compositor e por suas obras e desempenhou um papel poderoso no apoio à sua carreira: ele forneceu dinheiro e usou sua influência para avançar em projetos importantes, incluindo a construção do Festspielhaus em Bayreuth. Literalmente o legítimo “fã de carteirinha” do século XIX.
A atração do rei por Lohengrin (talvez se explique porque um cisne era o símbolo da família real), foi a inspiração para construir um dos castelos mais famosos do mundo. Enquanto planejava o Castelo Neuschwanstein, Ludwig escreveu a Wagner o que equivalia a uma dedicação do castelo ao compositor e suas óperas, mencionando Lohengrin especificamente. Quando esta pandemia passar e se você estiver passeando pela Baviera, junte-se às hordas de turistas em Neuschwanstein: você sentirá os fantasmas de Richard Wagner e seu misterioso cavaleiro dos cisnes em praticamente todas as alas. Este castelo também inspirou Walt Disney, um século depois, a construir o seu “Magic Kingdom”.
O Enredo
(baseado no livro “As mais belas óperas” de Milton Cross)
Local: Antuérpia da primeira metade do século X.
Como dito no início do texto desta postagem, o prelúdio começa com o motivo do Santo Graal, levando ao refrão do Sonho de Elsa do primeiro ato, a música cresce até um tremendo clímax, concluindo em uma bela volta ao tema do Santo Graal, nesta volta as cortinas lentamente começam a subir.
Ato 1
Um campo nas margens do rio Scheldt, além das muralhas de Antuérpia.
O Rei Henrique está sentado em seu trono sob o “Carvalho do Julgamento”, cercado pelos seus nobres saxões. Diante deles, a alguma distância, está sentado Frederico Telramund, com Ortrud junto dele. Tem a seu lado os nobres de Brabante. O arauto avança, e faz um sinal para os trompetes tocarem uma fanfarra.
Ele anuncia que o Rei Henrique está convocando os homens de Brabante para a defesa do reino germânico. Vigorosamente, os brabanções prometem seus leais esforços em benefício de seu país. Em seguida, o rei se ergue e saúda seus vassalos (“Deus esteja convosco, queridos homens de Brabant”). Em tons solenes, ele lhe diz que as hordas húngaras estão ameaçando a Alemanha nas fronteiras do leste. Uma trégua de nove anos expirou, e agora os húngaros estão se preparando para a luta. O Rei Henrique diz que veio pedir aos “brabanções” que marchem com ele imediatamente para Mainz, e enfrentem o inimigo. Voltando-se para Telramund, ele indaga por que Brabante, com que contava para apoiá-lo naquela hora crucial, está dividida pela guerra civil e desavenças.
Telramund agradece ao rei por ter vindo agir como árbitro (“Muito obrigado, meu rei, por teres vindo aqui também para fazeres justiça!”), e depois dá sua explicação. Relata que o Duque de Brabante, no seu leito de morte, entregou a seus cuidados a educação dos dois filhos do duque, Elsa e Gottfried. Um dia, Elsa deixou o palácio com seu irmão e, mais tarde, voltou sozinha. Gottfried nunca mais foi encontrado. Convencido pela conduta culposa, e pelas evasivas de Elsa, de que ela era responsável pelo desaparecimento do irmão, prossegue Telramund, ele renunciou ao direito de tomá-la sua noiva – um direito assegurado a ele pelo duque – e desposou Ortrud. Telramund acusa, então, Elsa pelo assassinato do irmão, e reclama o trono de Brabante. Há um murmúrio de surpresa e desapontamento por parte das pessoas da Corte a respeito dessa alarmante situação. Quando Telramund prossegue, acusando incisivamente Elsa de ter conspirado depois para governar Brabante com um amante secreto a seu lado, o Rei Henrique o silencia. Os saxões e os “brabanções” erguem suas espadas, e cantam que suas armas permanecerão fora de suas bainhas até que seja proclamado o julgamento da acusada pelo rei. O arauto convoca Elsa.
Com o acompanhamento de um exaltado tema, Elsa se aproxima para tomar lugar diante do rei. Os homens comentam suavemente que aquele que ousa acusar um ser tão puro deve estar mesmo certo de sua culpa. O Rei Henrique pergunta se ela é Elsa de Brabante (“És tu, Elsa de Brabant? Reconheces-me como teu juiz!”). Ela faz uma reverência sem responder. Quando ele pergunta se ela conhece a natureza das acusações contra si, Elsa calmamente inclina a cabeça. O rei pergunta se ela confessa sua culpa (“Dize, Elsa! Que tens para me confidenciar?”). Como se estivesse em transe, Elsa murmura sobre seu irmão. Depois, começa o dramático solilóquio conhecido como “O Sonho de Elsa” (“Sozinha em agitados e tristes dias, eu implorei a Deus para aliviar a minha dor.”). Perdida e sozinha, canta Elsa, ela rezou pedindo ajuda, e um grito de angústia irrompeu de seus lábios. Quando o eco lhe trouxe a morte de volta, ela caiu adormecida no chão. Aí, então, em uma visão apareceu diante dela um cavalheiro em uma reluzente e nobre armadura. Ele seria seu defensor naquela hora de profunda tristeza. (“No brilho da luz de suas armas, um cavaleiro aproximou-se de mim, tão puro e de virtudes como eu nunca havia imaginado: da garupa pendia uma dourada trompa, apoiada sobre sua espada. É como se ele tivesse vindo do céu para mim, um autêntico herói; com um gesto honesto e puro ele me consolou. É esse cavaleiro que eu espero que seja meu defensor!”).
Profundamente comovido pela sua atitude muito dignificante, o Rei Henrique aconselha Telramund a pensar cuidadosamente antes de persistir em suas acusações. Em resposta, Telramund furiosamente desafia para o combate qualquer um que questione a verdade de suas afirmativas. Voltando-se para Elsa, o rei pergunta quem ela escolherá como seu defensor. Em um estático refrão, ela repete que o guerreiro de sua visão lutará por ela. Sua mão será a sua recompensa.
Agitadamente, os homens dizem que um prêmio real espera o guerreiro que aceitar o desafio. Após uma fanfarra, o arauto ordena que o defensor se apresente. Quando não há resposta, Telramund grita que suas acusações estão justificadas, e que ele está certo. Elsa implora ao rei que toque a fanfarra mais uma vez. Mais uma vez, há o silêncio. Caindo de joelhos, Elsa canta a eloquente e comovedora oração, na qual ela pede que seu cavalheiro apareça (“Ele me apareceu sob tua ordem: Ó Senhor, dizei agora ao meu cavaleiro para me ajudar em minha aflição. Deixa-me vê-lo, como eu já o vi!”). As damas de seu séquito se unem a ela em coro em seu pedido. De repente, os homens que se encontram próximos da margem do rio exclamam que está se aproximando um bote puxado por um cisne. Outros unem suas vozes para afirmar que um guerreiro de resplandecente armadura está de pé no bote, guiando o cisne com rédeas de ouro. O coro sobe a um tremendo crescendo quando o bote de Lohengrin se aproxima da margem. Elsa, de pé, como enfeitiçada, não se volta para olhar. O Rei Henrique observa a cena enlevado. Telramund olha em um misto de medo e raiva, enquanto Ortrud mira o cisne aterrada.
Lohengrin, metido na sua magnífica armadura, apoia-se em sua espada assim que o bote toca na margem. Um grito de boas-vindas ecoa da multidão (“Nós te saudamos, homem enviado de Deus!”). Há grande expectativa quando Lohengrin desce do bote, e se despede do cisne (“Agora, cabe-me agradecer-te, meu querido cisne! Retorna, pelas vastas ondas, lá para baixo, de onde me conduziste em tua barca; retorna somente para trazer-nos a felicidade! O teu dever tu fielmente o cumpriste! Adeus! Adeus, meu caro cisne!”). Ele agradece ao cisne, e lhe diz que retome à terra mágica de onde vieram, e tristemente lhe dá adeus à medida que o cisne se afasta. O coro comenta em tons de pasmo.
Lohengrin apresenta suas homenagens ao rei e, enquanto o tema do Graal soa suavemente na orquestra, diz-lhe que veio para proteger a jovem que foi tão cruelmente acusada. Voltando-se para Elsa, ele pede o privilégio de ser seu cavalheiro defensor. Apaixonadamente, ela o saúda como seu herói e salvador (“Meu herói, meu salvador! Aceita-me; eu dou para ti tudo o que eu sou!”). Segue-se um dramático colóquio, no qual ela se promete a Lohengrin se ele vencer o combate. Por outro lado, ele arranca dela a promessa de que ela nunca perguntará seu nome nem procurará saber de que lugar de veio (“Elsa, se eu devo chegar a ser teu esposo, se eu devo proteger teu país e teu povo, se nada me deverá separar de ti, existe uma coisa que tens de saber e me prometer: jamais deverás perguntar, nem mesmo ter curiosidade de saber, de onde eu procedo e qual é o meu nome, ofício e origem.”). Elsa fervorosamente declara que manterá a promessa (“Jamais, Senhor, eu vos colocarei essas perguntas.”), Lohengrin toma-a nos braços, gritando que a ama (“Elsa! Eu te amo!”).
Enquanto o coro canta suavemente o estranho encanto dessa cena, Lohengrin escolta Elsa até o Rei Henrique, entregando-a a seus cuidados. Rapidamente se defrontando com Telramund, ele declara que ela é inocente, e que suas acusações são falsas. Quando Telramund é aconselhado pelos seus próprios homens a não lutar com aquele adversário enviado dos céus, ele responde que seria melhor morrer do que provar ser um covarde (“Melhor morrer do que me acovardar!”).
Nesse ínterim, os nobres marcam a área do combate. Após o arauto anunciar as regras do desafio, e os dois adversários invocarem a ajuda de Deus, o Rei Henrique oferece uma dignificante e solene oração, na qual pede que o direito triunfe (“Meu Senhor e Deus, eu te faço uma invocação para que estejas presente neste combate! Proclama a tua sentença com a vitória da espada, mostrando claramente onde está a mentira e onde está a verdade! Fazei com que aquele que for inocente bata-se com a arma do herói, e possa o que agir com falsidade ser castigado! Ajuda-nos, então, meu Deus, neste instante, porque nossa sabedoria é falível!”), conhecida como a “Invocação do rei”. Todos entoam a prece em um majestoso coro. Quando as trombetas soam, o rei bate a espada três vezes em seu escudo, que é o sinal para o início do combate.
Os dois cavalheiros se atiram um contra o outro, e há um breve, mas furioso retinir de espadas. Com um poderoso golpe, Lohengrin põe Telramund no chão, e depois se coloca sobre seu inimigo vencido com a ponta da espada na garganta dele. Em uma dramática frase, o cavalheiro afirma que poupará a vida de Telramund. Enquanto o coro saúda o vencedor com um possante grito, Elsa se entrega a Lohengrin com frases apaixonadas (“Oh! Eu reencontrei a alegria, igualmente a tua glória, que eu seja digna de ti, no mais abundante louvor. Em ti eu devo deixar de ser eu; diante de ti eu me faço esquecer, porque eu sou afortunada, torna então tudo que eu sou!”). Segue-se um magnífico coro de louvor e regozijo. Ele é cantado por todos, exceto por Telramund e Ortrud, que lamentam sua derrota e vergonha. Vencido pela ira e humilhação, Telramund cai aos pés de Ortrud, enquanto Elsa e Lohengrin gozam do triunfo no brilhante clímax do coro.
Ato 2
A fortaleza de Antuérpia. Ao fundo Pallas, a morada dos cavalheiros. Na direção do fundo, à direita, o Kemenate (residência das damas na idade média). É noite. Há luzes nas janelas, e sons alegres vêm de dentro. Nas sombras dos degraus da catedral, no lado oposto aos dos aposentos reais, estão sentados Telramund e Ortrud. Foram destituídos de suas prerrogativas reais, e estão trajando roupas de mendigos. Telramund está absorto em pensamentos, enquanto Ortrud dirige um olhar malévolo às janelas iluminadas.
De repente, Telramund se volta para sua mulher com amargas observações, dizendo que foi sua diabólica feitiçaria que o levou a perder sua honra no combate. Ortrud responde-lhe com escarnecedor desdém, dizendo que a raiva dele é muito tardia, e deve ser dirigida contra seus inimigos, aqueles que provocaram aquela desgraça. Ainda resta uma esperança para eles, diz Ortrud, pois ela conhece o feitiço que permitirá dominar Lohengrin. Assim que o cavalheiro revelar seu nome e sua estirpe, seu poder mágico será quebrado. Somente Elsa poderá obter esse segredo dele, e ela precisa ser persuadida, ou forçada, a interrogar o cavalheiro. Deliberadamente, ela consegue levar Telramund a uma fúria selvagem ao lhe dizer que se ele conseguir tirar uma gota de sangue de Lohengrin, isso o deixaria indefeso. Em um dramático e poderoso refrão, cantado em uníssono, Ortrud e Telramund juram que obterão uma terrível vingança (“Eu a chamo a obra da vingança da noite tempestuosa de meu coração! Vós que estais perdidos em um doce sono, sabei que a desventura vos espera!”).
A medida que suas vozes morrem num ameaçador sussurro, Elsa aparece no balcão do Kemenate, e ali fica parada um instante em feliz reflexão. As ardentes frases de sua canção marcam o início do que é conhecido como a “Cena do Balcão” (“A vós, brisas, que tão frequentemente vos inteirastes de meus tristes lamentos, eu vos devo agora agradecer, dizendo como se revela a minha felicidade!”). Ortrud manda Telramund sair e, com uma voz dolorosa, chama por Elsa. Maliciosamente afirmando estar com remorso e arrependimento, ela lamenta o mal que possa ter causado, e que Telramund tenha agido com ira irracional e impensada. Elsa, comovida pela sua aparente tristeza, tenta confortá-la. Pede a Ortrud para que aguarde, e apressadamente entra no quarto. Sozinha, Ortrud apela, em uma selvagem exultação, para Odin e Freia, os deuses pagãos, para ajudá-la na realização de sua vingança. Quando Elsa reaparece com duas damas de companhia, Ortrud se ajoelha diante dela em uma atitude servil. Elsa, em transportes de alegria pelo seu próximo casamento, assegura a Ortrud seu perdão, e diz que também conseguirá uma palavra de perdão de seu defensor.
Habilmente, Ortrud aconselha a Elsa a não amar tão cegamente, expressa a esperança de que ela nunca se decepcione por causa de seus sentimentos. Embora momentaneamente atemorizada pelo ominoso som das palavras de Ortrud, Elsa, com fervor, tenta fazer com que ela acredite que somente a fé pode trazer a felicidade ao amor (“Deixa-me ensinar-te quão doce é a felicidade decorrente da pura confiança! Deixa-te livremente convencer-te dela: é uma felicidade que não conhece o remorso!”). Em voz baixa, Ortrud, sarcasticamente, observa que o verdadeiro triunfo de Elsa provará ser sua ruína (“Ah! Esse orgulho deve me ajudar em como combater sua fé! Contra essa soberba dirigirei minha arma, através de sua arrogância virá seu remorso.”). As vozes das duas mulheres se unem em um breve, mas expressivo dueto que leva o colóquio a um fim. Elsa permite a Ortrud que a acompanhe ao Kemenate. Assim que as mulheres entram, surge Telramund. Olhando para elas, murmura satisfeito que a diabólica feitiçaria de Ortrud destruirá aqueles que lhe tiraram a honra (“Assim penetra a desventura nessa Casa! Executa, mulher, o que a tua astúcia idealizou; eu não me sinto capaz de impedir a tua obra! A desgraça começou com a minha caída e ruína, agora, ela fará cair quem me ocasionou esta situação! Somente uma coisa agora conta para mim: aquele que arrebatou a minha honra deve perecer!”).
Ouvem-se trompetes em várias torres da cidadela saudando o romper do dia. Rapidamente, Telramund se esconde atrás de uma coluna da catedral para evitar ser visto pelos criados, que entram para realizar suas tarefas matinais. Logo, o espaço diante do Pallas fica cheio de cortesãos e homens da fortaleza. Em um vibrante coro eles cantam os gloriosos eventos que marcarão aquele dia (“À fanfarra do amanhecer nos congrega de novo, e o dia nos promete muito! Aquele que aqui fez a respeito de si nobres prodígios executará talvez novas ações!”). Depois, todos se voltam na direção do arauto, que sai do Pallas. Ele proclama o edito real banindo Telramund como um traidor, e dizendo que qualquer um que o ajude seja passível de pena de morte. Os homens amaldiçoam-no com veemência. O arauto depois anuncia que o defensor de Elsa declinou do título de duque, e pediu para ser chamado de Protetor de Brabante. O coro aclama seu herói.
Após um trompete pedir selênio à multidão, o arauto informa que o defensor de Elsa convida a todos para se unirem a ele, naquele dia, nas festividades de seu casamento. No dia seguinte, porém, eles devem estar prontos para seus deveres militares e para marcharem para a guerra. Os homens juram sua lealdade em um exultante coro (“Não hesitai em ir à guerra, pois o nobre herói vos guiará! Aquele que corajosamente combater ao lado dele, a glória lhe sorrirá! Avante!”). Enquanto povo e guerreiros se misturam em grande excitação, quatro nobres “brabanções”, antigos seguidores de Telramund, reúnem-se à parte, e sombriamente discutem entre si o problema de marcharem contra um inimigo que nunca os desafiou. Neste momento, aproxima-se Telramund furtivamente. Ele declara que está resolvido a desmascarar o pretenso líder como um feiticeiro e um renegado. Espantados com o aparecimento de Telramund, eles o advertem para que se mantenha escondido, e tentam escondê-lo dos olhos da multidão.
Quatro pajens anunciam agora Elsa e seu cortejo nupcial. Com o acompanhamento de um marcante refrão, o cortejo sai do Kemenate, enquanto os nobres e o povo alinham-se do outro lado da grande praça. Há um tremendo coro de aclamação quando Elsa e as damas se movem na direção da catedral (“Como um anjo ela se aproxima, inflamada de um casto fervor!”). No cortejo, está Ortrud, agora com trajes reais.
Quando Elsa está começando a subir os degraus da catedral, Ortrud avança, e para diante dela. Em incontida fúria, ela declara que jamais a seguirá como uma reles subalterna, e que forçará Elsa a ficar no lugar dela. Quando Elsa iradamente a repele, Ortrud altivamente a desafia a dizer o nome do cavalheiro de quem ela é a noiva. Exclama que talvez haja um bom motivo porque ele evita perguntas sobre sua origem. Em uma dramática e impetuosa frase (“Tu, difamadora! Mulher covarde!”), Elsa repele as terríveis acusações de Ortrud. Chama a todos como testemunhas de que seu cavalheiro é um homem imaculado que poupou a vida de seu terrível inimigo. Furiosa, Ortrud retruca que seu defensor desconhecido é um diabólico impostor.
Nesse ponto, trompetes assinalam a aproximação do Rei Henrique, Lohengrin e seus seguidores, que avançam majestosamente, deixando o Pallas. Espantados com aquele rebuliço, o rei e Lohengrin se detêm. Elsa corre para os braços do cavalheiro, implorando-lhe que a proteja. Imperiosamente, Lohengrin ordena a Ortrud que saia, e depois ternamente pede a Elsa que o acompanhe até a catedral.
O cortejo se movimenta de novo. Subitamente, Telramund irrompe pela multidão, defronta-se com o rei, e com raiva pede para ser ouvido. Os guerreiros gritam ameaçando-o, enquanto o rei ordena que ele seja detido. Quando a multidão recua de medo diante de sua fúria, Telramund lança-se numa violenta acusação (“Aquele que eu vejo no esplendor diante de mim eu o acuso de magia negra!”). Acusa Lohengrin de ser um feiticeiro, e pede que ele revele seu nome e estirpe. Com violência, acrescenta que ele ali chegou em circunstâncias muito misteriosas que merecem uma explicação. O povo começa a murmurar, tomado de suspeitas.
Com veemência, Lohengrin replica que nenhuma acusação falsa pode manchar sua honra. Diz que nem mesmo o rei pode forçá-lo a falar. Apenas a uma pessoa ele responderá: Elsa. Ao dizer o nome dela em uma bela frase, Lohengrin se volta para Elsa, observando uma expressão de terror no rosto da jovem. O grande coro de conclusão do ato começa agora quando os espectadores expressam seu espanto e confusão (“Que segredo é esse que o herói deve ter bem guardado?”). Ortrud e Telramund exultam porque o veneno da suspeita está provocando seu efeito fatal no coração de Elsa. (“Eu a vejo exposta a uma violenta emoção. O germe da dúvida foi colocado no fundo do seu coração!”). A própria jovem, abalada, expressa suas dúvidas e temores, enquanto Lohengrin diz que seus acusadores terão de apresentar provas.
Encabeçados pelo rei, os nobres se reúnem à volta de Lohengrin, e asseguram-lhe seu apoio. Telramund se aproxima de Elsa, e miseravelmente sugere-lhe que entregue Lohengrin nas mãos dele. Uma gota do sangue do cavalheiro, diz-lhe, roubará dele sua proteção mágica, e também o tornará indefeso. Elsa tenta mandar Telramund embora. Vendo os dois em conversa, Lohengrin se coloca entre eles, e, com voz terrível, ordena que Telramund se retire.
Elsa, abatida pela vergonha e pela dúvida, cai ao chão, aos pés de Lohengrin. Este, gentilmente, a ergue, perguntando-lhe se deseja fazer a pergunta fatal. Em um comovedor refrão, ela responde que o amor vence qualquer dúvida (“Meu salvador, que me trouxe a felicidade! Meu herói, ao qual eu devo me unir! Meu amor deve ser maior do que a força da dúvida”). Em seguida, Lohengrin a conduz até o rei. Enquanto todos saúdam o casal de noivos, no brilhante clímax do coro. O rei os conduz até o alto da escadaria da catedral. Elsa e Lohengrin se abraçam. Neste momento, Elsa vê Ortrud de pé, abaixo dela, com o braço erguido em um gesto de triunfo. Controlando-se com um esforço supremo, Elsa se vira rapidamente, e entra na igreja com Lohengrin e com o rei.
Ato 3
Câmara nupcial ricamente adornada. De um lado, uma janela aberta. O brilhante prelúdio, peça de concerto muito conhecida, descreve a atmosfera das festividades nupciais que encerraram o ato. Na conclusão do prelúdio, as portas do fundo se abrem, e entra o cortejo nupcial, encabeçado elos pajens carregando velas.
As mulheres escoltam Elsa, enquanto os homens acompanham o Rei Henrique e Lohengrin. Todos cantam o mundialmente famoso “Coro Nupcial” ou popularmente conhecido como “Lá vem a noiva” (“Fielmente guiados, entrai lá, onde encontrareis a bênção do amor! Na coragem triunfante, o prêmio do amor fará de vós o mais feliz dos casados. Campeão da juventude, avança! Glória da juventude, avança! Que o sussurro da festa fique agora para trás, que a felicidade do coração vos seja total!”).
Elsa e Lohengrin se abraçam. Os pajens retiram seus mantos, e então o rei se aproxima e abençoa o casal. Os homens e as mulheres, juntamente com o rei, se retiram acompanhados pelos acordes do “Coro Nupcial”. Suas vozes morrem a distância à medida que os pajens fecham as portas. Deixando o casal “enfim a sós”.
Lohengrin conduz Elsa a um sofá, e ternamente inicia o magnífico dueto de amor, (“O doce canto se perde ao longe; sozinhos estamos; sós pela primeira vez, desde que nos encontramos. Nós estamos presentemente retirados do mundo, nenhum curioso pode ouvir as saudações dos nossos corações. Elsa, minha mulher! Tu, doce criatura, pura esposa! Dize-me, agora, se és feliz!”). Em frases apaixonadas, com um sensual acompanhamento orquestral, os enamorados dão vazão à sua paixão. Mas, quando Lohengrin, em êxtase, diz o nome de Elsa, e ela responde, há uma sutil mudança na atmosfera. Elsa murmura que seu nome soa doce nos lábios dele (“Com que doçura tua boca pronuncia o meu nome! Não podes tu outorgar-me o nobre som de teu nome? Somente quando formos conduzidos à bonança do amor, tu permitirás que minha boca o pronuncie? “), mas há acordes sombrios quando ela tenta fazer com que Lohengrin lhe diga seu nome.
Lohengrin desvia a resposta com fervorosos protestos de amor, dizendo que ele deseja, em troca da incomensurável devoção por ela, a confiança da jovem. Mas o comportamento de Elsa se torna mais agitado quando ela insiste para que ele revele seu segredo. Quando ele lhe diz que veio dos reinos da luz para salvá-la e ganhar seu amor, ela grita desesperada que, por aquelas palavras, ela sabe que seu amor está perdido. Agora, lamenta-se ela, cada dia trará o medo atormentador de que ele a deixará para voltar para o país encantado de onde veio. Alarmada, ela imagina ver o cisne voltando para levar seu amado. Lohengrin pede-lhe que deixe de fazer a pergunta, neste momento em que ouvimos de novo o tema da advertência associado com as palavras (“Cessa de assim te atormentar! “). Louca de dúvida e de medo, Elsa quer saber seu nome, de onde veio, qual sua estirpe (“Nada poderá me dar a paz, nada poderá arrancar a minha loucura, a menos que – mesmo ao preço de minha vida – tu me reveles quem tu és! De onde vieste? Qual é a tua origem?”).
Neste momento, Telramund e seus quatro vassalos irrompem no quarto de espadas na mão. Gritando de terror, Elsa apanha a bainha da espada de Lohengrin, que estava junto ao sofá. Ela lhe entrega a arma, Lohengrin a brande, e mata Telramund com um terrível golpe. Nesse ínterim, os quatro nobres jogam suas espadas no chão, e ajoelham-se aos pés de Lohengrin. Elsa desmaia nos braços do cavalheiro.
Há uma longa e tensa pausa. Depois, Lohengrin tristemente murmura que toda a felicidade se foi (“Desgraça, agora se foi toda a nossa felicidade!”). Carrega Elsa para o sofá. Ela volta a si, e murmura uma prece. Lohengrin, então, ordena aos nobres que levem o corpo de Telramund até o rei. Chamando duas damas de companhia, pede-lhes que vistam Elsa com os trajes nupciais, e a escoltem até o trono. Lentamente, Lohengrin deixa a câmara, enquanto Elsa é levada pelas damas de companhia. O dia rompe, e os pajens apagam as velas.
Aqui, a cortina é fechada por alguns momentos. Ouve-se uma fanfarra à distância. A cena muda para um prado às margens do Escalda, como no início da ópera. Com agitada música marcial, o Rei Henrique e os nobres chegam com seus séquitos. Eles se dispõem em formatura quando o rei, mais uma vez, toma seu lugar no trono sob o grande carvalho. Em um heroico refrão (“Eu agradeço a vós, gentis homens de Brabant! Como meu coração se inflamaria de orgulho se encontrasse em cada país da Alemanha um exército tão rico e tão forte! Agora, avizinha-se a hora de enfrentar o inimigo do rei; nós o receberemos com valentia: de suas tristes regiões do leste, ele jamais deverá de novo atacar! Pela terra alemã, a espada alemã! Assim será provada a força do Império!”), ele pede a seus seguidores que se preparem para marchar contra o inimigo, e depois pergunta sobre o herói que os chefia.
Nesse ponto, entram os quatro nobres, carregando o corpo de Telramund numa padiola, colocando-o diante do trono. O rei e os presentes lançam uma exclamação de horror e surpresa. Elsa, curvada sob o peso da dor, surge com seu séquito, seguida de perto por Lohengrin. Envergando sua armadura de combate, ele caminha com solene dignidade quando o Rei Henrique e os guerreiros o aclamam como o herói de Brabante.
Em seguida, os homens ouvem, incrédulos, o cavalheiro declarar que não pode conduzi-los na batalha. Não veio como guerreiro, mas para se justificar, e, com essas palavras, descobre o cadáver de Telramund. Explicando as circunstâncias do ataque, Lohengrin pede um julgamento pela morte de Telramund. Em um vigoroso coro, o rei e os guerreiro proclamam a justiça de seu ato.
Mas, há ainda outra acusação prossegue Lohengrin. Dramaticamente, conta para a tensa audiência que Elsa, através de pérfida traição, quebrou a promessa feita, perguntando-lhe seu nome e sua estirpe. Agora, ele anuncia, chegou o momento predestinado de revelar seu segredo. E assim o faz na sua famosa ária. A medida que o exaltado tema do Graal percorre a orquestra, ele canta o templo na montanha de Monsalvat, onde repousa o cálice sagrado, o Santo Graal. Seu poder divino é renovado a cada ano pela visita de uma pomba celestial. O Graal é guardado por uma legião de consagrados cavalheiros. É dever desses guerreiros imaculados acorrer em defesa daqueles que são ameaçados pelo mal na Terra. Mas, assim que o nome do cavalheiro é conhecido, ele deixará para sempre a companhia daqueles que redimiu. Foi como um cavalheiro do Graal que ele próprio veio até ali, prossegue Lohengrin. No brilhante clímax de sua canção, ele proclama que é filho de Parzifal, um dos cavalheiros do Graal e que seu nome é Lohengrin. (“Em um país bem longe daqui, inacessível a vossos passos, há um castelo com o nome de Montesalvat; um templo luminoso e esplêndido encontra-se dentro dele, não se conhece no mundo nada de mais precioso; dentro dele, um cálice de poder divino e milagroso, está guardado como a mais sagrada relíquia: uma corte de anjos o trouxe lá para que por desvelo o guardem os homens mais puros. Cada ano uma pomba branca desce do céu para reforçar o seu maravilhoso poder: ele se chama Graal, e a fé a mais pura por ele é difundida sobre todos os cavaleiros. Aquele que é eleito para servir ao Graal, este ele o arma de um poder sobrenatural; nenhum maligno embuste ou fraude pode atingi-lo. Logo que ele o divisar, a noite da morte se esvanece sobre o infrator. Mesmo aquele que é enviado a um país distante para defender o direito e a virtude, da sua força divina não ficará despido, pois ele permanece incógnito. O Graal é de uma natureza tão sublime que, quando é descoberto, deve evitar o profano; é por isso que não se deve nutrir dúvida sobre seu cavaleiro, que, uma vez descoberto, deve deixar a companhia daqueles onde se encontra. Ouvi, agora, como recompensa, a resposta à pergunta proibida! Foi o Graal que me enviou até vós: meu pai, Parzival, carrega sua coroa, e eu, seu cavaleiro, me chamo Lohengrin!”).
O povo, abalado e maravilhado, comenta aquela maravilhosa história. Elsa dá um grito de remorso, e se aproxima de Lohengrin, vacilante. Ele a toma nos braços, e canta uma pungente frase de tristeza e reprovação e lamenta o trágico destino que destruiu a felicidade de ambos, e depois dá adeus (“Ó Elsa! O que me fizeste? Quando meus olhos te viram pela primeira vez eu me senti ardente de amor por ti e rapidamente conheci uma nova felicidade: o poder sublime, o prodígio de minha origem, a força que dissipou meu segredo, antes de tudo eu quis me por ao serviço do coração mais puro. Por quê me forçaste a revelar-te meu segredo? Agora devo, ah, ser separado de ti!”).
Elsa implora que ele não a deixe. O povo soma suas vozes à dela em um dramático acompanhamento de frases vibrantes. Mas Lohengrin replica que sua ausência já provocou a indignação do Graal, e que somente partindo o pecado da quebra da promessa de Elsa poderá ser expiado. Em resposta ao pedido dos guerreiros, que lhe pedem que fique para chefiá-los contra seu inimigo, Lohengrin se volta para o Rei Henrique, e assegura-lhe uma gloriosa vitória.
Uma grande comoção percorre a multidão quando o cisne subitamente aparece à distância. Quando ele atinge a margem, Lohengrin o saúda em tons tristes (“Meu caro cisne! Ah, esta última, triste viagem, como bem queria dela te poupar!”). Quando o cavalheiro canta sua saudação, a orquestra toca o motivo do cisne. Lohengrin explica que será esta a última viagem que farão juntos, pois, dentro em breve, o cisne terá cumprido o seu ano de serviço e, então, liberto pelo poder do Graal, será transformado, readquirindo a forma humana. Em agonia e desespero, volta-se para Elsa. Diz que se ela tivesse confiado nele durante aquele ano de prova, de modo que ele tivesse permanecido com ela, o poder do Graal devolver-lhe-ia seu irmão ao seu lugar de direito, ao lado dela.
Em seguida, entrega a Elsa sua espada, assim como sua trompa e seu anel, pedindo-lhe que os entregue ao irmão assim que retornar. A espada o protegerá, a trompa emitirá um pedido de socorro quando houver perigo, e o anel o lembrará do defensor que acorreu para socorrer sua irmã (parêntesis dos blogueiros: igual as relíquias do “Ciclo do Anel” – Siegfrid). Apaixonadamente, Lohengrin beija Elsa em despedida, enquanto ela permanece como transfigurada. Em tons sombrios, todos lamentam sua partida.
De repente, irrompe Ortrud. Sarcasticamente, ela diz a Lohengrin que volte para sua casa. Agora, ela pode contar à sua infeliz noiva a verdade. O cisne que puxa o bote nada mais é do que o herdeiro de Brabante transformado em animal. O colar em volta do seu pescoço é o instrumento de feitiçaria, com o qual ela tirou a forma humana do rapaz. (“Vai para casa! Vai para tua casa, soberbo herói, para que eu possa revelar com júbilo a esta tola moça quem estava te levando na barca! Pela corrente de ouro que eu o envolvi, vi claramente que ele é aquele cisne: ele é o herdeiro de Brabant!”).
Em orgulhosa exultação, ela se volta para Elsa, dizendo que se não fosse sua traição em revelar seu nome, Lohengrin poderia libertar seu irmão do encantamento no fim de um ano. Agora, o terrível encanto mantém sua força (“Aprendei como se vingam os deuses que vocês que não mais os adoram!”). O rapaz permanecerá como cisne, e é este cisne que levará o defensor de Elsa para sempre. Ao ouvir isso, o povo grita violentamente contra Ortrud.
Lohengrin, que está junto à margem do rio, entendeu perfeitamente as palavras de Ortrud, e cai de joelhos solenemente para uma muda prece. Todos os olhares se voltam para ele, numa expectativa plena de tensão. A branca pomba do Graal desce sobre o barco. Lohengrin a avista, com um olhar de reconhecimento, levanta-se e liberta o cisne de sua cadeia; a seguir, devolve à terra um belo rapaz, vestido numa roupa prateada e cintilante: é Gottfried.
À visão de Gottfried, Ortrud cai ao chão. Lohengrin salta rápido para dentro da barca. Elsa olha Gottfried, transfigurada no último momento de alegria, o qual avança e se inclina diante do rei. Todos o contemplam com admiração e alegria, e os “brabanções” se ajoelham diante dele em sinal de respeito e de homenagem. Gottfried precipita-se, em seguida, para os braços de Elsa .
Após um curto momento de alegre júbilo, Elsa torna vivamente seu olhar para o rio, onde ela não avista mais Lohengrin. Ao longe, pode-se ainda avistar Lohengrin; ele está sentado na barca, a cabeça inclinada, apoiada tristemente sobre seu escudo.
Elsa, que Gottfried segura nos braços, cai lentamente sobre a terra, sem vida. Lohengrin é visto sempre cada vez mais distante.
Nesta postagem que ora vamos compartilhar, com imensa alegria, para os amigos do blog, traremos três gravações de períodos distintos. Uma gravação ao vivo em 1942 da Staatskapelle Berlin sob a regência do maestro Robert Heger. Uma versão absolutamente clássica que é a do Solti de 1985. A terceira versão, ao vivo, gravada no Bayreuth Festspielhaus 2019 em 26 de julho transmitida nas ondas da net sob o comando do maestro Christian Thielemann. Pessoal, divirtam-se com mais esta ópera (nos divertimos bastante escrevendo o texto….ufa!)
Lohengrin – Robert Heger (1942)
Esta é a lendária apresentação nazista de Lohengrin feita em 1942 conduzida por Robert Heger com a Berliner Staatsoper. Sim, relatos desta gravação dizem que Hitler estava na plateia enquanto suas tropas se organizavam para tentar invadir o sul da Rússia. A primeira impressão que notamos sobre essa apresentação ao vivo de 1942 é o som extraordinariamente vívido, que provavelmente deriva de uma matriz original em ótimas condições. Os cantores apreciam o drama como se fossem realmente os personagens que retratam: desde o imponente Heinrich de Ludwig Hoffmann e a madura Elsa de Maria Müller, até a ameaçadora Ortrud de Margarite Klose e, o melhor desta gravação, é o Franz Völker com o papel-título. A execução da orquestra varia de surpreendentemente segura para uma espécie de tensão dispersiva, talvez pelo momento bélico em que viviam a época. Ouvindo esta performance com atenção ela começa um pouco penosa, tensa, quase vazia do misticismo wagneriano, conforme os atos vão acontecendo a concentração vai melhorando. Só no último ato este registro pega fogo, ai sim a dramaticidade fica evidente. Vale pelo registro histórico.
Lohengrin – Franz Völker Elsa – Maria Müller Ortrud – Margarete Klose Friedrich von Telramund – Jaro Prohaska König Heinrich – Ludwig Hofmann
Der Heerrufer des Königs – Walter Großmann
Chor der Staatsoper Berlin
Staatskapelle Berlin – Robert Heger
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE Lohengrin – Georg Solti (1985/1986)
Esta leitura do iluminado Sir Georg Solti é, penso eu, uma de suas grandes pérolas, ele deixa que a música respire, ganhe vida. Por exemplo, nesta gravação ele permite que as belezas “ocultas” do prelúdio brilhem como se ele estivesse desmembrando as seções com amor e o resultado é o que deveria ser: um prelúdio interpretado de forma genial, lindo mesmo. O trabalho da Filarmônica de Viena é quase perfeito, um trabalho lindamente modulado que deixa evidente o extraordinário entendimento que o maestro tinha da música de Wagner. Os cantores são ótimos. Plácido Domingo, é claro, tem uma voz bonita, sua interpretação é cheia de paixão, alguns críticos gostam de chamar a atenção para a pronúncia com sotaque, acho que ele vai bem pois no final das contas o Lohengrin vem do mosteiro de Monsalvat, montanha de Montserrat, que fica na Catalunha, logo deveria mesmo ter sotaque espanhol……. Jessye Norman também tem uma voz magnífica, acho um pouco forte demais para a virginal Elsa. Hans Sotin é um excelente rei. A Ortrud de Randová excelente, sua voz crepita como faíscas e demonstra bem o seu ódio por todos. Siegmund Nimsgern também interpreta o complexo Telramund com voz que mostra indignação e é cheia de lamentações, quando necessário. Se eu fosse aconselhar alguém que seja estreante nesta ópera esta é a versão que eu recomendaria. O impacto é emocional, muitas vozes bonitas e cheias de paixão al´me da batuta do mestre Solti. . Esta gravação é, artística e tecnicamente, magnífica.
Lohengrin – Plácido Domingo Elsa – Jessye Norman Ortrud – Eva Randová Friedrich von Telramund – Siegmund Nimsgern König Heinrich – Hans Sotin Der Heerrufer des Königs – Dietrich Fischer-Dieskau
Chor der Wiener Staatsoper
Wiener Philharmoniker – Sir Georg Solti
Lohengrin – Christian Thielemann (2019)
Gostei desta recente versão do maestro Thielemann realizada no dia 26 de julho de 2019 no Bayreuth Festspielhaus. Foi muito bem nos primeiro e terceiro atos, a Orquestra fazendo bonito mais uma vez e respeitando o andamento um pouco mais rápido do Thielemann em comparação ao andamento da gravação do Solti. O elenco desta geração é admirável. O Lohengrin de Klaus Florian Vogt é muito bonito de ouvir, majestoso. A Elsa de Camilla Nylund meiga e dramática fez uma performance inteligente, comprometida e lindamente cantada, gostei bastante. Tomasz Konieczny e Elena Pankratova ofereceram seus personagens Telramund e Ortrud igualmente inteligentes e altamente musicais. Georg Zeppenfeld, na minha modestíssima opinião, nunca desaponta, é um rei Henrique muito bem cantado. Egils Silins também atraiu minha atenção e admiração, bonito de ouvir. E por último, mas não menos importante, as performances marcantes do Bayreuth Festival Chorus, o peso vocal, musicalidade são memoráveis. O registro digital ao vivo faz toda a diferença…. lindão!
Lohengrin – Klaus Florian Vogt Elsa – Camilla Nylund Ortrud – Elena Pankratova Friedrich von Telramund – Tomasz Konieczny König Heinrich – Georg Zeppenfeld Der Heerrufer des Königs – Egils Silinš
Bayreuth Festival Chorus
Bayreuth Festival Orchestra – Christian Thielemann
E se Vladimir Horowitz, que não morria de amores por Beethoven, tivesse gravado a integral das sonatas do grão mestre de Bonn? E se então recorrêssemos ao já nosso manjado expediente, o de tirar a medida da série pela interpretação da “Waldstein”? Como ele se sairia?
Daremos uma oportunidade dupla ao velho Volodya para que o julguem os leitores-ouvintes: suas duas gravações em estúdio da “Waldstein”, realizadas com um intervalo de dezesseis anos e muitíssimo diferentes. A primeira, de 1956, ainda tem toda a sua estampa de jovem virtuose, com os contrastes dinâmicos pouco atentos às intenções do compositor, os crescendos a retumbarem nos graves, e toda a gama de truques que impressionaram as plateias da primeira metade daquele século, o que inclui a substituição do famoso glissando em oitavas prescrito pelo compositor por agilíssimas “oitavas Horowitz”, uma de suas marcas registradas. Muito estimulante, sem dúvidas, mas também repleta de evidências para aqueles que o acusam, com muito bons motivos, de ser um “mestre da distorção”, e que talvez sosseguem ao escutar a segunda gravação, de 1972, muito mais fiel às detalhadas indicações dinâmicas de Beethoven, e que é uma de minhas interpretações favoritas da obra.
Acompanhando as “Waldstein” estão duas gravações da Sonata Op. 27 no. 2, também muito diferentes (a de 1956, gravada na sala de estar do pianista em New York, é melhor, apesar do som), além de uma outra “Appassionata” (menos furiosa que a pregressa) e uma leitura muito colorida, gravada ao vivo, da Op. 101, que demora a deslanchar, mas encerra muito bem.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
VLADIMIR HOROWITZ – THE COMPLETE MASTERWORKS RECORDINGS, 1965-1972
BEETHOVEN
Sonata “quasi una fantasia” no. 2 em Dó sustenido menor, “Ao Luar” Composta em 1801 Publicada em 1802 Dedicada à condessa Giulietta Guicciardi
Sonata para piano em Dó maior, Op. 53, “Waldstein” Composta entre 1803-4 Publicada em 1805 Dedicada ao conde Ferdinand von Waldstein
04 – Allegro con brio
05 – Introduzione: Adagio molto
06 – Rondo: Allegretto moderato
Sonata para piano em Fá menor, Op. 57, “Appassionata” Composta entre 1804-5 Publicada em 1807 Dedicada ao conde Franz von Brunsvik
07 – Allegro assai
08 – Andante con moto
09 – Allegro ma non troppo
Sonata para piano em Lá maior, Op. 101 Composta em 1816 Publicada em 1817 Dedicada à baronesa Dorothea Ertmann
10 – Etwas lebhaft, und mit der innigsten Empfindung. Allegretto, ma non troppo
11 – Lebhaft, marschmäßig. Vivace alla marcia
12 – Langsam und sehnsuchtsvoll. Adagio, ma non troppo, con affetto – Geschwind, doch nicht zu sehr, und mit Entschlossenheit. Allegro
Mesmo que não entendam italiano e não tenham o menor interesse no problema de executar as oitavas em glissando do finale da Waldstein, o vídeo vale só pela demonstração da passagem em diferentes pianos e pela elegante voz do distinto cavalheiro, que leciona piano no Japão (o que se deduz pela reverência que faz no início e no final do vídeo). E “Beethoven Autentico”, o sítio que ele menciona, foi das melhores descobertas que fiz nos meus mergulhos beethovenianos para esta série.
Caso haja dificuldades para assistir ao vídeo aqui na página, sigam o link.
E aqui termina esta coleção de Hyperion, gravada pelo Purcell Quartet e Purcell Band, dedicada aos trabalhos de diversos compositores que escreveram variações sobre o famoso tema português. Postamos os seis CDs nos últimos seis dias. No disco deste post estão as seis Folias e apenas elas. Uma joia! Na verdade, mas de 150 compositores fizeram variações sobre este tema e aqui estão somente alguns dos principais. Acho que as melhores variações são as de Marais, Scarlatti e CPE Bach, mas todo mundo pode discordar.
O tema conhecida como ‘La Folia’ fascinou muitos compositores desde o século XVII. De origem portuguesa, a palavra significa ‘louco’ ou ‘cabeça vazia’ e até a década de 1670 indicava uma dança rápida e barulhenta, na qual os participantes pareciam estar ‘fora de si’. No final do século, uma forma nova, mais lenta, se desenvolveu. Também foi ajustada a estrutura harmônica para formar a simetria perfeita que inspirou Corelli a usá-la na 12ª de suas Sonatas para Violino, Op 5. Aquela famosa obra inspirou Vivaldi, CPE Bach, Alessandro Scarlatti e outros compositores a escreverem variações sobre ‘La Folia’ — incluindo até Rachmaninov, embora o título ‘Variações sobre um tema de Corelli’ pareça indicar que ele pensasse que a música era do compositor. Bem, o que esperar de Rachmaninov, né?
Este CD reúne obras inspiradas em ‘La Folia’ de seis compositores, começando com a Sonata original de Corelli e finalizando com o arranjo orquestral de Geminiani. As obras de CPE Bach e Scarlatti são para teclado solo. As seis peças foram retiradas da série de CDs da Hyperion que postei nos seis dias anteriores. É só conferir.
Corelli / Marais / Scarlatti / Vivaldi / CPE Bach / Geminiani: Variações sobre La Folia
1 Violin Sonata in D minor ‘La Folia’ Op 5 No 12 [9’58] Arcangelo Corelli (1653-1713)
Elizabeth Wallfisch (violin), Richard Boothby (cello), Robert Woolley (harpsichord)
2 Les Folies d’Espagne [16’23] Marin Marais (1656-1728)
The Purcell Quartet, William Hunt (viola da gamba)
3 Primo e Secondo Libro di Toccate Alessandro Scarlatti (1660-1725)
Toccata No 7: La Folia [13’08]
Robert Woolley (harpsichord)
4 Trio Sonata in D minor ‘Variations on La Folia’ RV63 [9’29] Antonio Vivaldi (1678-1741)
The Purcell Quartet
5 12 Variationen über die Folie d’Espagne H263 Wq118/9 [7’58] Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788)
Robert Woolley (harpsichord)
6 Concerto grosso ‘La Folia’ [10’53] Francesco Geminiani (1687-1762)
The Purcell Quartet, The Purcell Band
Em 1683, Michel-Richard de Lalande entrou na Chapelle Royale como um vice-mestre (sous-maître) depois de receber o apoio de Luís XIV em um formidável concurso de recrutamento. Com apenas 25 anos, o jovem compositor rapidamente se tornou o favorito do rei e alcançou os cargos mais cobiçados da corte em uma carreira de quase quarenta anos.
Acima de tudo, Luís XIV o incluiu nas consultas para a construção da nova Chapelle Royale, adjacente ao Palácio de Versalhes. À medida que os arcos subiam gradualmente para o céu, Lalande compôs e revisou seus motetos, que expressam a grandeza então inigualável do reino, ao mesmo tempo que testemunham a acústica incomparável da capela. Suas obras – conjuntos de salmos, hinos e Te Deum – registram a atmosfera na corte na liturgia, em tempos de angústia e alegria.
Após a gravação anterior das configurações de Te Deum por Lully e Charpentier no Chapelle Royale, Vincent Dumestre e Le Poème Harmonique agora retornaram a Versailles para enfrentar a música que Lalande compôs para aquele lugar extraordinário. Juntamente com os grandes motetos Deitatis majestatem e Ecce nunc benedicite, com sua síntese da pompa real e a linguagem da ópera, eles oferecem o emocionante Miserere e o mais grandioso Te Deum realizado no reinado de Luís XIV, o Te Deum do próprio rei .(ex-internet)
Lalande: Majesté
01. Deitatis Majestatem: Deitatis Majestatem: Deitatis Majestatem 02. Deitatis Majestatem: Deitatis Majestatem: Hic enim misericors 03. Deitatis Majestatem: Deitatis Majestatem: Simphonie 04. Deitatis Majestatem: Deitatis Majestatem: O caro Christi vera 05. Deitatis Majestatem: Deitatis Majestatem: Te omnes angeli 06. Deitatis Majestatem: Deitatis Majestatem: O mentis jubilatio 07. Deitatis Majestatem: Deitatis Majestatem: Quam dulcis est 08. Deitatis Majestatem: Deitatis Majestatem: O bonitatis prodigium 09. Ecce Nunc Benedicite, S.8: Ecce Nunc Benedicite, S.8: Ecce nunc benedicite Dominum 10. Ecce Nunc Benedicite, S.8: Ecce Nunc Benedicite, S.8: In noctibus extollite 11. Ecce Nunc Benedicite, S.8: Ecce Nunc Benedicite, S.8: Benedicat te Dominus ex Sion 12. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Te Deum laudamus 13. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Te æternum Patrem 14. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Tibi omnes angeli 15. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Sanctus, Sanctus, Sanctus 16. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Te gloriosus Apostolorum 17. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Te per orbem terrarum 18. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Tu rex gloriæ 19. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Tu, ad liberandum 20. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Tu, devicto mortis aculeo 21. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Tu ad dexteram Dei sedes 22. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Te ergo quæsumus 23. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Æterna fac cum sanctis 24. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Salvum fac populum tuum 25. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Et rege eos 26. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Per singulos dies benedicimus te 27. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Dignare, Domine 28. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: Miserere nostri 29. Te Deum, S.32: Te Deum, S.32: In te, Domine, speravi
Gravado na Capella Cracovientis, durante o Création Festival Misteria Paschalia, Cracovia, em 2017.
Por gentileza, quando tiver problemas para descompactar arquivos com mais de 256 caracteres, para Windows, tente o 7-ZIP, em https://sourceforge.net/projects/sevenzip/ e para Mac, tente o Keka, em http://www.kekaosx.com/pt/, para descompactar, ambos gratuitos.
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De tudo, um pouco – é o que encontramos nesse variado bornal de bagatelas que Beethoven nos legou para a voz, mas que jamais levou à prensa. Da primeira canção – “Para um bebê”, WoO 108, composta aos seus treze anos e quem sabe inspirada por algum de seus seis irmãos, dos quais quatro morreram ainda na primeira infância – até “Um Homem Nobre”, WoO 151 – escrita aos 52 anos sobre um poema de Goethe, seu ídolo por toda a vida -, passamos por duas canções de bebedeira (WoO 109 e 111, retratos de seus já bem ébrios vinte e poucos anos), canções em italiano (WoO 119 e 125) e francês (WoO 116), um poema de Matthison (que lhe inspiraria a maravilhosa Adelaide), nada mais que quatro versões para um mesmo poema do genial Goethe (WoO 134) e, para agradar tanto aos amantes de cuscos e bichanos, uma elegia a um poodle morto (WoO 110) e um arranjo duma canção folclórica sobre um querido gatinho (Hess 133):
“Unsa Kaz had Kazln g’habt
Draiunseksi, maini;
Oan’s had a Ringerl af,
Das is schon das maini”
“Nossa gata teve gatinhos,
Sessenta e três, todos meus;
Um deles tem listrinhas,
Esse é o meu favorito”
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
1 – An einen Säugling, WoO 108 (von Döhring, 1784) [AS/WO]
2 – Trinklied, beim Abschied zu singen, WoO 109 (1790) [PS/WO]
3 – Elegie auf den Tod eines Pudels, WoO 110 (1793) [PS/WO]
4 – Punschlied, WoO 111 (1790-92) [PS/WO]
5 – An Laura, WoO 112 (1792, Matthison) [PS/WO]
6 – Klage, WoO 113 (1790, Hölty) [PS/WO]
7 – Ein Selbstgesprach, WoO 114 (1792, Gleim) [PS/WO]
8 – An Minna, WoO 115 (1792) [PS/WO]
9 – Que le Temps me dure, WoO 116, Hess 129 (1ª versão) (Rousseau, 1793) [PS/WO]
10 – Que le Temps me dure, WoO 116, Hess 130 (2ª versão) (Rousseau, 1793) [UH/HH]
11 – Der freie Mann, WoO 117 (1792, Pfeffel) [PS/WO]
12 – Oh Care Selve, Oh Cara, WoO 119 (1794, Metastasio) [PS/WO]
13 – Man strebt, die Flamme zu verhehlen, WoO 120 (1800-02) [AS/WO]
14 – Abschiedsgesang an Wiens Burger, WoO 121 (1796, Friedelberg) [GL/WO]
15 – Kriegslied der Österreicher, WoO 122 (1797, Friedelberg) [GL/WO]
16 – La Tiranna, WoO 125 (1798-99, Wennington) [PS/WO]
17 – Neue Liebe, neues Leben, WoO 127 (1798-99, Goethe) [PM/HH]
18 – Romance, WoO 128 [PS/WO]
19 – Gedenke Mein!, WoO 130 [PS/WO]
20 – Sehnsucht, WoO 134 (1807-1808, Goethe) – 1ª versão [AS/WO]
21 – Sehnsucht, WoO 134 (1807-1808, Goethe) – 2ª versão [AS/WO]
22 – Sehnsucht, WoO 134 (1807-1808, Goethe) – 3ª versão [AS/WO]
23 – Sehnsucht, WoO 134 (1807-1808, Goethe) – 4ª versão [AS/WO]
24 – An die Geliebte, WoO 140 (1811-14, Stoll) – 2ª versão [AS/WO]
25 – An die Geliebte, WoO 140 (1811-14, Stoll) – 3ª versão [DFD/JD]
26 – Der Gesang der Nachtigall, WoO 141 (1813, Herder) [AS/WO]
27 – Des Kriegers Abschied, WoO 143 (1814, Reissig) [PS/WO]
28 – Merkenstein, WoO 144 (1814, Rupprecht) – 1ª versão [PM/HH]
29 – So oder So, WoO 148 (1817, Lappe) [PS/WO]
30 – Der edle Mensch, WoO 151 (1823, Goethe) [HP/HH]
31 – Gesang aus der Ferne, WoO 137 (1809, Reissig) – 1ª versão [PM/HH}
32 – Das liebe Kätzchen, Hess 133 (folclórica) [VH/HH]
33 – Der Knabe auf dem Berge, Hess 134 [UH/HH]
Adele Stolte, soprano [AS] Ulrike Helzel, mezzo-soprano [UH] Heidi Person, mezzo-soprano [HP] Peter Schreier, tenor [PS] Peter Maus, tenor [PM] Volker Horn, tenor [VH] Günther Leib, barítono [GL] Dietrich Fischer-Dieskau, barítono [DFD] Jörg Demus, piano [JD] Walter Obertz, piano [WO] Hans Hilsdorf, cravo (faixas 32 e 33) e piano [HH]