Alberto Ginastera (1916-1983): Panambí e Estancia (Balés Completos)

Alberto Ginastera (1916-1983): Panambí e Estancia (Balés Completos)

O Ortlieb nos enviou dois CDs da música do argentino Alberto Ginastera. Dois CDs excelentes. Como estou realmente ocupadíssimo hoje, recorro à Coleção Folha de Música Clássica com a informação biográfica deste grande compositor nacionalista. Notem como a Folha admite que Buenos Aires é nossa capital cultural… Estou trabalhando e ouvindo o CD. É muito bom e… às vezes parece Stravinski, mas não é cópia. Ginastera tem voz própria e distinta do russo. É grande compositor, sem dúvida.

Aclamado como o compositor argentino mais influente da história contemporânea, Alberto Evaristo Ginastera desenvolveu uma obra clássica que, surpreendentemente, inspirou várias bandas de rock progressivo na segunda metade do século 20. Estimulantes, líricas e vibrantes, suas composições nacionalistas retratavam o folclore argentino com temáticas fantásticas.

De origem humilde, filho de um catalão e uma imigrante italiana que trabalhavam na agricultura, Alberto Evaristo Ginastera nascera em 11 de abril de 1916, na capital cultural da América do Sul, Buenos Aires. Começou a estudar piano aos sete anos de idade. Com 19, recebeu o seu primeiro prêmio, na Associação El Unisono. Em seguida, formou-se no Conservatório Nacional de Buenos Aires, onde, em 1940, realizou a inédita apresentação de sua famosa obra para balé, O Panambí, além das Danças argentinas (para piano), que lhe projetaram nacionalmente.

O sucesso da estréia também lhe rendeu uma vaga como professor titular no Conservatório Nacional da Argentina. Posteriormente, frequentou as aulas de Aaron Copland em Tanglewood, na Fundação Guggenheim, em Nova York, onde entrou em contato com músicos como o maestro brasileiro Heitor Villa-Lobos.

De volta a Buenos Aires, tomado pela “onda musical nacionalista”, ele e outros compositores argentinos fundaram a Associação Nacional dos Compositores Argentinos, o Conservatório La Plata de Buenos Aires e o Centro Latino Americano para Estudos Musicais Avançados no Instituto Di Tella, do qual se tornou diretor em 1963.

Ginastera foi um compositor completo. Além de desenvolver modernas técnicas de composição, valendo-se do estilo microtonal, construiu um currículo acadêmico respeitadíssimo.

Acumulou cargos em várias instituições, tais como membro do Conselho Internacional de Musica (Unesco), reitor na Universidade Católica Argentina, além de ter sido professor emérito na Universidade de Música no Chile e na Academia Brasileira de Musica. Sua obra – que inclui óperas, balé, música para teatro, concertos para piano e música de câmara, entre vários outros gêneros — foi utilizada até em trilhas sonoras de filmes.

Mas ao contrário de sua agitada carreira, o argentino levou uma vida pessoal com discrição. Depois de passar longos anos entre a Argentina e viagens ao exterior, resolveu mudar-se em 1970 para Genebra, na Suíça, onde conheceu e casou-se com a violoncelista Aurora Natola.

Longe das turbulências políticas e econômicas da Argentina, o compositor passou a utilizar cada vez menos a temática folclórica e dedicar-se mais à criação de obras neo-expressionistas, que foram fontes de inspiração de bandas como o Yes, Gênesis, Emerson Lake and Palmer e Pink Floyd.

Alberto Ginastera morreu no dia 25 de junho de 1983, curiosamente no mesmo ano em que a Argentina voltava à democracia com a convocação de eleições gerais.

Alberto Ginastera – Panambí; Estancia

1. Panambi, Op. 1: Claro de luna el Parana (Moonlight on the Parana) 4:42
2. Panambi, Op. 1: Fiesta indigena (Native festival) 0:26
3. Panambi, Op. 1: Ronda de la doncellas (Girls’ round dance) 1:23
4. Panambi, Op. 1: Danza de los guerreros (Warriors’ dance) 1:58
5. Panambi, Op. 1: Escena (Scene) 2:42
6. Panambi, Op. 1: Pantomima del amor eterno (Pantomime of eternal love) 3:53
7. Panambi, Op. 1: Canto de Guirahu (Guirahu’s Song) 3:21
8. Panambi, Op. 1: El Hechicero se dirige hacia Guirahu (The sorcerer approaches Guirahu) – Aparecen las deidades del agua (The water sprites appear) ? 0:29
9. Panambi, Op. 1: Juego de las deidades del agua (The water sprites play) 2:09
10. Panambi, Op. 1: Reaparece el Hechicero (The sorcerer reappears) – Los gritos del Hechicero (The Sorcerer’s cries) 0:36
11. Panambi, Op. 1: Inquietud de la tribu (The tribe is uneasy) – Suplica de Panambi (Panambi’s prayer) 4:15
12. Panambi, Op. 1: Invocacion a los espiritus poderosos (Invocation to the spirits of power) 1:19
13. Panambi, Op. 1: Danza del Hechicero (Dance of the Sorcerer) 2:10
14. Panambi, Op. 1: El Hechicero habla (The Sorcerer speaks) 0:34
15. Panambi, Op. 1: Lamento de las doncellas (The girls’ lament) 3:12
16. Panambi, Op. 1: Aparicion de Tupa (Tupa appears) – Los guerreros amenazan al Hechicero (The warriors threaten the Sorcerer) 0:51
17. Panambi, Op. 1: El Amanecer (Dawn) 5:09

18. Estancia, Op. 8: Scene 1: El Amanecer – Introduccion y Escena (Dawn – Introduction and Scena) 2:33
19. Estancia, Op. 8: Pequena Danza (Little dance) 2:07
20. Estancia, Op. 8: Scene 2: La Manana – Danza del trigo (Morning – Wheat Dance) 3:21
21. Estancia, Op. 8: Los trabajadores agricolas (The farm labourers) 2:55
22. Estancia, Op. 8: Los peones de hacienda – Entrada de los caballitos (The cattlemen – Entry of the foals) 2:04
23. Estancia, Op. 8: Los puebleros (The townsfolk) 2:19
24. Estancia, Op. 8: Scene 3: La tarde – Triste pampeano (Afternoon – ‘Triste’ from the Pampas) 3:22
25. Estancia, Op. 8: La doma (Rodeo) 2:04
26. Estancia, Op. 8: Idilio crepuscular (Twilight idyll) 2:51
27. Estancia, Op. 8: Scene 4: La Noche – Nocturno (Night – Nocturne) 4:19
28. Estancia, Op. 8: Scene 5: El Amanecer – Escena (Dawn – Scena) 1:41
29. Estancia, Op. 8: Danza final (Final Dance) (Malambo) 3:32

Luis Gaeta, Narrador, Baixo-barítono
London Symphony Orchestra
Gisèle Ben-Dor

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Alberto Ginastera e o gato que pegou emprestado da parede de Poe
Alberto Ginastera e o gato que pegou emprestado da parede de Poe

PQP

Béla Bartók (1881-1945): Os Três Concertos para Piano

Béla Bartók (1881-1945): Os Três Concertos para Piano

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Bem simples. Em quase 59 anos de vida e ouvindo música há pelo menos 45, digo-lhes que este é um dos melhores CDs que conheço. Não era para menos. Aqui temos o gênio do húngaro Bela Bartók + o extraordinário pianista, também húngaro, Géza Anda + aquele que talvez seja o melhor regente de todos os tempos: o igualmente húngaro Ferenc Fricsay. Imaginem que Fricsay, que infelizmente faleceu precocemente aos 49 anos, foi aluno de Bartók. Não dá para descrever o resultado. São pessoas que conhecem e compreendem profundamente um dos maiores compositores do século XX. Aqui nada é normal ou rotineiro. É para se ouvir de joelhos. Aproveitem este verdadeiro tesouro.

Béla Bartók — Concertos para Piano Nº 1, 2 e 3

1. Piano Concerto No.1, BB 91, Sz. 83 – 1. Allegro moderato – Allegro 9:16
2. Piano Concerto No.1, BB 91, Sz. 83 – 2. Andante 8:35
3. Piano Concerto No.1, BB 91, Sz. 83 – 3. Allegro molto 7:12

4. Piano Concerto No.2, BB 101, Sz. 95 – 1. Allegro 9:59
5. Piano Concerto No.2, BB 101, Sz. 95 – 2. Adagio – Più adagio – Presto 12:18
6. Piano Concerto No.2, BB 101, Sz. 95 – 3. Allegro molto 6:12

7. Piano Concerto No.3, BB 127, Sz. 119 – 1. Allegretto 7:23
8. Piano Concerto No.3, BB 127, Sz. 119 – 2. Adagio religioso 10:16
9. Piano Concerto No.3, BB 127, Sz. 119 – 3. Allegro vivace 6:46

Géza Anda, piano
Radio Symphonie Orchester Berlin — Rias SO de Berlim
Ferenc Fricsay

Gravado em outubro de 1960 (1º concerto) e setembro de 1959 (2º e 3º)

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Bartók: não basta gerar o rebento há que amá-lo e brincar com ele
Bartók: não basta gerar o rebento, há que amá-lo e, se o pedido for razoável, fazer o que ele pede

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Ludwig van Beethoven (1770-1827): Violin Sonatas Nos. 9 “Kreutzer”, 4 & 2

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Violin Sonatas Nos. 9 “Kreutzer”, 4 & 2

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Excelente gravação de uma Naxos cada vez mais bonita e mainstream. Gatto e Libeer realizam um belo trabalho sobre conhecidas obras de câmara de Beethoven. A linda Sonata para violino e piano nº 9, em lá maior, Op. 47, de Ludwig van Beethoven (1770-1827) foi inicialmente dedicada a George Augustus Polgreen Bridgetower, um violinista mulato da Polônia e depois, como relata a tradição, por uma fútil questiúncula amorosa, acabou por ser repassada a Rodolphe Kreutzer (1766-1831), um violinista francês que tinha visitado Viena em 1798 e que Beethoven descreveu como um “querido e afável companheiro que durante sua permanência me proporcionou muito prazer”. Kreutzer teve boa sorte póstuma. Em primeiro lugar porque colocou seu nome na melhor das Sonatas para Violino e Piano e, em segundo lugar, porque. em 1889, Tolstói escreveu uma novela chamada Sonata Kreutzer a qual grudou definitivamente o nome do violinista na Sonata Nº 9.  O tema da novela é a morte, as relações de casal e é uma reafirmação dos valores do espírito. Nem deus sabe qual foi a intenção de Tolstói ao dar este título à novela. Mas vala a pena ouvir este CD.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Violin Sonatas Nos. 9 “Kreutzer”, 4 & 2

Violin Sonata No. 9 in A Major, Op. 47 “Kreutzer”
1 I. Adagio sostenuto – Presto 13:37
2 II. Andante con variazioni 14:20
3 III. Finale. Presto 8:40

Violin Sonata No. 4 in A Minor, Op. 23
4 I. Presto 7:04
5 II. Andante scherzoso, più allegretto 7:37
6 III. Allegro molto 5:11

Violin Sonata No. 2 in A Major, Op. 12 No. 2
7 I. Allegro vivace 6:01
8 II. Andante, più tosto Allegretto 5:20
9 III. Allegro piacevole 5:10

Lorenzo Gatto, violin
Julien Libeer, piano

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Lorenzo: um violinista que é gato
Lorenzo: um violinista que é gato

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“Renaissance Brass” – Scheidt (1578-1654), Weelkes (1576-1623) etc.: canzone, madrigais etc. em quinteto de metais

RenaissanceBrass CAPA-FRENTEGosto demais deste disco! É verdade que o nome e a imagem da capa são enganosos: os instrumentos de metal que temos aqui não são renascentistas: são dois trompetes, uma trompa, um trombone e uma tuba, todos modernos, que constituem o quinteto da Eastman School of Music, de Rochester, estado de New York.

Mas ao dizer que a capa não corresponde ao conteúdo, não estou dizendo que o conteúdo seja de má qualidade: dentro de sua proposta, é impecável!

Transcrevendo das notas de Joel Israel Cohen na capa deste vinil de 1967:

   Para os puritanos de meados do século XX, a ideia de transcrever música de um meio para outro é definitivamente suspeita: a memória de um passado recente em que orquestras de bandolins tocavam rondós de Mozart e pianolas martelavam a Nona de Beethoven ainda persiste e causa estremecimentos embaraçados. Queremos nossa música pura e precisa, com os legatos do segundo oboé exatamente como o compositor os escreveu.

   Outras épocas, no entanto, foram decididamente indiferentes a isso. Durante a Idade Média, Renascimento e Barroco inicial a troca (interchangeability) dos meios de execução era antes a regra do que exceção. Uma composição podia ser cantada, soprada, dedilhada ou friccionada, dependendo das forças que houvesse à mão; nem parece ter existido a ideia da coloração sonora real, verdadeira e autêntica para uma determinada peça. Os madrigais de Thomas Weelkes, por exemplo: embora tenham sido escritos como música vocal, podiam ser e provavelmente eram executados também por instrumentos, e embora o compositor não fosse familiarizado com o timbre dos instrumentos de metal modernos, é improvável que ele fizesse objeção à presente reencarnação de suas obras.

Enfim: o monge Ranulfus acha isso extraordinariamente bonito, e sente algo assim como um efeito tranquilizante, consolador, ao ouvir essas frases com esses timbres. E espera que entre nossos leitores também haja quem venha a gostar!

“Renaissance Brass”
German and English music of the late renaissance “for brass”

  • MÚSICA ALEMÃ: Samuel Scheidt (1587-1654)
    A01 Canzona Gallicam 04’45
    A02 Benedicamus Domino 5’12
    A03 Galliard Battaglia 01’32
    A04 Wendet euch um ihr Äderlein 02’00
    A05 Canzona Aethiopicam 04’36
    A06 Canzona Bergamasca 04’35
  • MÚSICA INGLESA: Thomas Weelkes (1576-1623)
    B01 In Pride of May 01’58
    B02 O Care, Thou Wilt Despatch Me 02’15
    B03 Sit Down and Sing 01’09
    B04 Death Hath Deprived Me 04’43
    B05 As Wanton Birds 01’24
  • MÚSICA INGLESA: diversos
    B06 William Simmes (1575-1625): Fantasie 02’08
    B07 Alphonso Ferrabosco Jr (1575-1628): Four Note Pavan 02’12
    B08 Anthony Holborne (1545-1602): Galliard 01’54
    B09 John O’Koever (?-?): Fantasie 02’28
    B10 Orlado Gibbons (1583-1625): In Nomine 03’34

EASTMAN BRASS QUINTET
Daniel Patrylak and Philip Collins, trompetes
Verne Reynolds, trompa
Donald Knaub, trombone
Cherry Beauregard, tuba

Gravado em Nova York em setembro de 1967
Digitalizado por Ranulfus em junho de 2016

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Ranulfus

Brahms, Bach, Ravel, Chausson, Waxman: Música para violino e piano

Brahms, Bach, Ravel, Chausson, Waxman: Música para violino e piano

Este disco é bom demais, mas tem limitações, sabem? O Brahms é MESMO NOTÁVEL, o Bach é LINDO DE MORRER, o Ravel é EXTRAORDINÁRIO, mas depois o pequepiano de verdade deverá desligar o computador ou o CD Player porque a coisa fica suspeita. Após uma transição meio estranha a cargo de Chausson — um francês que achei mela-cueca — , o tal Waxman faz um medley de Carmen que é das piores coisas que ouvi ultimamente. OK, o CD tem cara de recital. Daquele gênero de recital que começa com o filé e termina com aquela concessão ao gosto do público mais vulgar. É um estilo do qual não gosto. Mas, como diz Milton Ribeiro, futebol é bola na rede e o resto é secundário. Então ouçam o que e como quiserem. Mas de uma coisa tenham certeza, esses armênios aê são bons pra caralho.

Brahms, Bach, Ravel, Chausson, Waxman: Música para violino e piano

Brahms:
1. Violin Sonata No. 3 in D minor Op. 108: I. Allegro
2. Violin Sonata No. 3 in D minor Op. 108: II. Adagio
3. Violin Sonata No. 3 in D minor Op. 108: III. Un poco presto e con sentimento
4. Violin Sonata No. 3 in D minor Op. 108: IV. Presto agitato
Bach:
5. Ciaccona from Partita No.2 in D minor, BWV 1004 for violin solo
Ravel:
6. Tzigane, Rhapsodie de Concert
Chausson:
7. Poème Op. 25
Waxman:
8. Carmen Fantasie for Violin and Piano base on Themes from the Opera of Georges Bizet

Sergey Khachatryan, Violino
Lusine Khachatryan, Piano
Vladimir Khachatryan, Piano

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Sergey e Lusine Khachatryan, não encontramos Vladímir
Sergey e Lusine Khachatryan, não encontramos Vladímir

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.: intermezzo :. Besame Mucho: Dominick Farinacci

.: intermezzo :. Besame Mucho: Dominick Farinacci

Nos ecos do trompete de Al Hirt, trazido, para meu enaltecimento e honraria pelo compadre mestre Avicena, trago um maravilhoso trompetista menos conhecido em nossas paragens. O formidável Dominick Farinacci, americano de Cleveland – Ohio; nascido em 3 de março de 1983, ou seja, na ponta do ramo de uma nova e brilhante geração de trompetistas. Também compositor e band-leader, Dominick foi um dentre apenas 18 classificados em todo mundo pela Julliard School num programa especial de bolsas para quatro anos de formação. Teve sua carreira impulsionada por Wynton Marsalis, seguindo-se então uma sucessão de êxitos e prêmios. Segundo nos conta Dominick, sua preferência de menino teria sido tornar-se baterista. Para nossa sorte ele não demonstrou talento nesse instrumento e o maestro de sua escola declarou que precisavam na verdade de trompetistas. Os êxitos de Dominick não turvaram sua modéstia. Digo isso por razões que explicarei a seguir. Particularmente falando, posso me orgulhar, como trompetista, de partilhar com ele duas coisas em comum: o trompete e o fato de termos sido inspirados por Louis Armstrong – como aconteceu com inúmeros outros músicos ligados ao Jazz no decurso do século XX. Explico o meu caso. Quem se lembra das velhas TVs Telefunken, aquelas em preto e branco, valvuladas, que passávamos os parcos canais naqueles botões para direita e para esquerda, trock-trock… pois é. Foi numa delas, na casa da minha avó em Caruaru – Pe, que em 1971 vi notícias sobre o falecimento de Satchmo, ou Pops, ou ainda Papa Louis. Aqueles sons e aquela figura incrível, com sua voz indescritível, me tomaram para sempre. Somente anos depois, devido a certa carência de informações no meu contexto, pude conhecer mais sobre ele, todavia, o gosto pelo instrumento permaneceu e acabei virando trompetista. Com Dominick, segundo ele mesmo, se deu algo similar. Suas inspirações foram Louis Armstrong e Harry James. Sei que em 1983, quando a cegonha o trouxe ao mundo, eu estava mergulhado no disco Hello Dolly e nos fascículos da ótima e misericordiosa série Gigantes do Jazz da Editora Abril. Especialmente no primeiro disco, de Louis, que ouvi até o vinil ficar branco. Não vem ao caso mas… vou contar que é divertido: Fascinado pelo jazz de New Orleans, em minha fantasia de moleque de 13, 14 anos, a cidade em que eu então vivia – no interior de Sergipe – era a própria New Orleans. Reuni uns colegas, clarineta, trombone, percussão, tuba; mostrava as gravações pra eles e tentávamos macaquear o que ouvíamos com resultados desastrosos mas empolgantes. Assim foi fundada a “Jass Band Itabaiana City” (SSs propositais, conforme as primeiras bandas do gênero). Todos tinham nomes de guerra: Lord Cotonete (eu), Kid Sacabuxa (o trombonista Roberto Millet), Zero (o clarinetista Aroldo Santos), Touro Sentado à bateria (meu pai Uéliton Mendes RIP) e por fim Salário Mínimo (meu irmão mais novo Saulo Mendes ao cavaquinho). Então fazíamos funerais de New Orleans pelas ruas, com uma grande caixa de papelão como um caixão de defuntos, que a molecada ajudava a carregar. Era um espanto. As pessoas não tinham ideia do que diabo era aquilo, espantávamos os cavalos na feira, choviam batatas sobre nós… é isso, contei. Adiante.

Falando então do que pontuei acima, a modéstia do artista. É encantador quando a um grande talento se soma a virtude da humildade. A música é muito reveladora, em diversos aspectos. Particularmente falando, abomino virtuosismo gratuito. Ou a habilidade serve à música, como no caso de Liszt, ou que o sujeito vá tocar suas mil notas por segundo numa corda bamba, com uma melancia na cabeça e um macaco hidrófobo dentro das calças. Francamente. Um trompetista renomado que me causa certa aversão é o magnífico cubano Arturo Sandoval, especialmente quando não está em seu habitat musical natural: os estilos de sua ilha natal. Ao jazz Arturo se empenha obsessivamente em demonstrar que é o pisto mais rápido do Oeste e que toca para além das estratosferas agudas como nenhum outro – sempre perderá para Jon Faddis e Maynard Ferguson. É algo deveras irritante. Faço essa extrema comparação para pontuar a sobriedade do estilo de Dominick. Fraseador formidável, mais afeito ao gênio de Chet Baker a ao comedimento cool de Miles Davis, sem ser glacial. Um maravilhoso melodista, que busca em suas improvisações o discurso eloquente, porém expressivo. Já realizou bom número de álbuns e continua a todo vapor em sua carreira, todavia não precisa expor nos seus encartes os dotes físicos, como andou fazendo o Chris Botti – possivelmente imitando as antológicas fotos de Chet Baker por William Claxton; mas também um bom trompetista.

Outro dom fundamental de Dominick é o bom gosto na escolha do seu repertório. Neste disco, a faixa título é um tema icônico das antigas, todos conhecem ‘Besame Mucho’, da pianista e compositora mexicana Consuelo Velásquez (1916-2005), peça de 1940; que já tive o prazer de tocar em mil e uma noites nas serestas de meus anos passados pelos interiores, sempre com prazer. De música bonita a gente não cansa. Consuelo disse que se inspirou em uma ária de ópera de Henrique Granados (fica o desafio pra quem quiser nos dizer qual é). Poucos sabem que até os Beatles gravaram Besame Mucho, numa fracassada sessão de gravações em 1961, porém, a faixa viria à tona em uma antologia futura. João Gilberto também gravou o tema, muito depois do suicídio do seu gato. O disco abre com ‘Ghost of A Chance’, baladíssima usual no repertório de inúmeros jazzistas, embora a suprema gravação seja de Clifford Brown em um dos zênites do jazz. A segunda faixa foi um ‘desconcerto’ quando ouvi pela primeira vez. Em que esquina de NY Dominick teria se batido com Herivelto Martins?! A antológica canção brasileira ‘Caminhemos’. Belíssimo tema aqui tratado com belo arranjo e maravilhosa interpretação. A quinta faixa também é do fundo do baú e também do repertório do Al Hirt no filme Candelabro Italiano – ‘Al Di La’. Em seguida, Piazzolla, o intenso ‘Libertango’. Na faixa 8 um clássico do repertório Bebop, o melódico tema Nostalgia, do soberbo trompetista Fats Navarro. Na décima faixa outra baladíssima, a sinatriana ‘You go to my head’.

Não sei se Dominick reclamaria disso, mas o disco tinha apenas 11 faixas e acrescentei mais três. O fiz, a princípio, porque são temas que ele interpreta maravilhosamente; também porque havia pensado em somente duas faixas e isso daria um número azarento, assim acrescentei mais uma e ficaram 14 faixas. Não são quaisquer temas. Na faixa 12, eu diria que Dominick dá um ‘ciao’ – seu sobrenome Farinacci (que se ele não fosse um cara modesto poderia ter mudado), evidencia sua origem italiana. O tema de Nino Rota ‘Speak Softly Love’ do poderoso Chefão, que todos conhecem… Olha lá, não quero dizer que o Dominick seja afilhado de nenhum Dom Corleone (mas também nada contra, quem me dera!); seja como for, olhando para ele podemos considerar que ficaria ótimo como um talentoso e simpático ragazzo trompetista na trilogia de Coppola. A outra faixa acrescentada é o bonito tema Estate, de Bruno Martino e por fim um lindo tema imortalizado no jazz por John Coltrane: Say It.

Após estas considerações nas quais figuraram apreciações, confidências e diatribes, vamos à música, com o talentoso Dominick Farinacci.

Besame Mucho: Dominick Farinacci

1 Ghost of A Chance
2 Caminhemos
3 It’s all right with me
4 Besame Mucho
5 Al Di La
6 Libertango
7 Shmoove
8 Nostalgia
9 Jimmy two times
10 You go to my head
11 Down to the wire
12 Speak Softly Love
13 Estate
14 Say It

Dominick Farinacci, (trumpet)
Adam Birnbaum (piano)
Peter Washington (bass)
Carmen Intorre,jr. (drums)
Recorded: NYC, April 17-18,2004

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trompetista

Wellbach

Leevi Madetoja (1887-1947): Symphony No. 2 in E-Flat Major, Op. 35 / Kullervo / Elegy

Leevi Madetoja (1887-1947): Symphony No. 2 in E-Flat Major, Op. 35 / Kullervo / Elegy

Madetoja foi aluno de Sibelius e isto fica claro logo que começamos a ouvi-lo. Mas Madetoja é muito mais grandioso e menos dotado de talento Porém, não é suplício manter contato com este CD.  A orquestração é excelente, a orquestra de Helsinki é maravilhosa e a gente acaba engolindo tudo facilmente. Mas não é um gênio como foi seu professor. Sua maior obra é esta Sinfonia Nº 2 e é curioso notar como há nela tanto Sibelius quanto Tchaikovski. O final da Sinfonia, triste e resignado, é seu ponto alto. Ele escreveu três sinfonias e sua inspiração secou. Havia uma quarta sinfonia totalmente pronta, mas ela foi perdida numa estação ferroviária de Paris em 1938. Madetoja ficou muito deprimido. Exausto, morreu aos 60 anos de doença cardíaca.

Leevi Madetoja (1887-1947): Symphony No. 2 in E-Flat Major, Op. 35 / Kullervo / Elegy

1 Kullervo, Op. 15 14:23

Symphony No. 2 in E-Flat Major, Op. 35
2 I. Allegro moderato 13:24
3 II. Andante 13:36
4 III. Allegro non troppo 09:40
5 IV. Epilogue: Andantino 05:05

6 Sinfoninen sarja (Symphonic Suite), Op. 4: I. Elegia (Elegy) 05:54

Helsinki Philharmonic Orchestra
John Storgårds

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Leevi Madetoja: grandiloquente
Leevi Madetoja: grandiloquente, mas com belo final de Sinfonia

PQP

Mighty Aphrodite – music from the motion picture

Mighty Aphrodite – music from the motion picture

Não vou contar o filme. Se o fizesse seria um infame, um vilão. Poderosa Afrodite é uma das obras mais deliciosas do cinema e uma das melhores e imaginativas criações de Woody Allen. Como poderia estragar o prazer de quem ainda não o viu? Além disso, é um filme fácil de se encontrar, felizmente está ao alcance de todos. Sua trilha é mais uma galeria de delícias de diversos autores. O disco, assim como o filme, abre ao som do Bouzouki – tradicional cordofone grego. Duas faixas bonitas, com a intensidade e a expressividade da música das plagas de Alexis Zorba. A segunda peça traz a assinatura de um mestre no gênero, George Zambetas. Sendo um filme de Woody Allen é natural que logo surja um jazz das antigas, na faixa 3, com o trombonista Wilbur de Paris – que não era parisiense, era sobrenome mesmo, tocando ‘I’ve found a new baby’. Benny Goodman, sem dúvida um dos ídolos do também clarinetista Woody Allen, aparece na faixa 4, com a famosa Whispering. Goodman que foi aclamado o Rei do Swing, mais tarde sabiamente penduraria as chuteiras com a derrocada do estilo big-band, indo tocar música erudita, a exemplo do concerto de Mozart, mais Bartok, Copland, Bernstein, Stravinsky… Na faixa 5, a joia de Rodgers & Hart: Manhattan, numa daquelas raras gravações que Allen costuma exumar para os seus filmes, uma versão de Carmen Cavallaro – embora de nome feminino, foi um famoso pianista em sua época. A faixa 7 é um dos ápices do disco. Li’l Darlin’, tema de Neal Hefti, com Count Basie e Orquestra. Apesar de Duke Ellington, como sabemos, ser o rei da elegância no jazz, nesse momento o duque tira a sua coroa para o conde. Uma das gravações mais bonitas e perfeitas do jazz. Ouvimos o lacônico piano de Basie, característica desenvolvida, segundo ele, devido ao fato de ter que revezar sua mão direita entre o teclado, o charuto, o copo de whisky e a mão direita dos que vinham cumprimentá-lo enquanto ele tocava nas noites de Kansas City e NY. Um absoluto primor. A faixa seguinte, de número 8, Errol Garner interpreta Penthouse Serenade, tema ‘utilizado’ pelo Djavan, que, até onde eu saiba, não foi devidamente creditado a Jackson & Burton – ilustres menos conhecidos. Garner também aparece na faixa seguinte de número 9 e na 10 o Ramsey Lewis Trio sacode os esqueletos com uma peça gravada nos anos 60, com um jazz já metamorfoseado em soul music – The ‘in’ crowd. As faixas 11 e 12 são verdadeiras delícias: o Dick Hyman Chorus com dois clássicos, primeiro o standard de Cole Porter, ‘You do something to me’ (que está num dos mais belos momentos do filme de Allen); e ‘When you’re smiling’, tema imortalizado por Billie Holiday e Louis Armstrong. A última faixa de número 13, é uma peça que apesar de constar no encarte do disco não consta no mesmo, talvez devido a algum problema com os direitos autorais, mas dei um jeito de constar e aqui temos o famosíssimo Take Five de Paul Desmond, naturalmente na sua versão consagrada, com o Dave Brubeck Quartet; destaque para o antológico solo de bateria do grande Joe Morello, eu diria, só ombreado pelo percussionista à caixa clara da Banda de Pífanos de Caruaru na faixa A Briga do Cachorro com a Onça – raridade que em breve estará também no PQP. Deliciem-se com esta maravilhosa trilha sonora. Dedico esta postagem tão saborosa ao nosso patriarca Mr. Avicena, com o abraço de todos nós.

Mighty Aphrodite – music from the motion picture

1 Neo Minore – Vassilis Tsitsanis in bouzouky solo
2 Horos Tou Sakena – George Zambetas in bouzouky solo
3 I’ve found a new baby – Wilbur de Paris
4 Whispering – Benny Goodman
5 Manhattan – Carmen Cavallaro
6 When your love has gone – Bert Ambrose Orchestra
7 Li’l Darlin’ – Count Basie Orchestra
8 Penthouse Serenade – Errol Garner
9 I handnt anyone till you – Errol Garner
10 The ‘in’ crowd – Ramsey Lewis Trio
11 You do something to me – Dick Hyman Chorus
12 When you’re smiling – Dick Hyman Chorus
13 Take Five – The Dave Brubeck Quartet

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Trilha sonora deliciosa de um filme impagável.
Trilha sonora deliciosa de um filme impagável.

Wellbach

Johannes Brahms (1833-1897) – Vioin Concerto & Double Concerto – Perlman, Rostropovich, Haitink, Giulini, CSO, RCO

21V0KXQC1YLFaz tempo que o Concerto Duplo de Brahms não aparece por aqui, então resolvi traze-lo novamente, além do Concerto para Violino do mesmo Brahms,  duas gravações que entraram no panteão das grandes gravações e que trazem o maior violinista de sua geração, Itzhak Perlman muito bem acompanhado: no Concerto Duplo temos simplesmente Rostropovich, que dispensa apresentações, assim como Haitink e a excepcional Orquestra do Concertgebow de Amsterdam, considerada a melhor orquestra do mundo das últimas décadas. A gravação com o Giulini do Concerto para violino já apareceu por aqui, nos primórdios do blog.

9190b5UPPIL._SX522_Como diria nosso querido Carlinus, uma boa apreciação !!!

01 Double Concerto for Violin and Cello in A Minor, Op.102_ I. Allegro
02 Double Concerto for Violin and Cello in A Minor, Op.102_ II. Andante
03 Double Concerto for Violin and Cello in A Minor, Op.102_ III. Vivace non troppo

Itzhak Perlman – Violin
Sviatoslav Rostropovich – Cello
Royal Concertgebow Orchestra

04 Violin Concerto in D, Op.77_ I. Allegro non troppo
05 Violin Concerto in D, Op.77_ II. Adagio
06 Violin Concerto in D, Op.77_ III. Allegro giocoso, ma non troppo vivace

Itzhak Perlman – Violin
Chicago Symphony Orchestra
Carlo Maria Giulini

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De Falla (1876-1946): Concierto para Clave – Orbón (1925-1991): 3 Cantigas del Rey; Partitas – Arauxo (1584-1654): Tiento – Selma y Salaverde (1595-1636): canzone, danze. Rafael Puyana, Heather Harper.

BISCOITO FINO, senhores! Fino e incomum. É até difícil escolher por qual aspecto começar a falar deste que talvez seja o mais ciumentamente conservado entre os vinis do Monge Ranulfus – então comecemos justamente pelo desafio que foi a digitalização.

É espantoso, antes de mais nada, que tão tremendo material nunca tenha sido relançado em formato digital, com remasterização profissional. Nossa luta para recuperar o conteúdo foi inglória: toda tentativa de reduzir o rumble de fundo resultou em distorção grotesca dos timbres, e até sumiço de notas essenciais. O que os senhores têm em mãos é portanto apenas uma “fotografia” de uma audição de vinil, onde há uma discreta porém contínua nota que os compositores não escreveram, introduzida pela mecânica do equipamento – além de algumas fantasmagorias eletroeletrônicas, que sequestrariam integralmente o som do cravo caso fossem removidas, especialmente na bela faixa 14. Espero que me perdoem porque poderia ser pior: poderíamos não ter essa música ao alcance!

A capa proclama orgulhosamente que, exceto o concerto de De Falla, todas as faixas são “primeiras gravações mundiais”. É uma produção complexa, envolvendo diferentes grupos de músicos, inclusive dois regentes de renome, tendo em comum apenas o cravista Rafael Puyana – por isso espanta que a Philips holandesa não tenha registrado local nem data das gravações, nem do lançamento. Podemos apostar em 1963 ou 64 apenas porque as “Partitas” de Julián Orbón aparecem sem numeração – e em sua lista de obras se encontram “Partitas nº 1” de 1963, e “Partitas nº 2” já de 1964.

Rafael Puyana, de certa forma o star da produção – não sem razão, mesmo se em boa parte do disco o cravo não é solista -, nasceu na Colômbia em 1931. Estreou como pianista aos 13 anos, foi estudar em Boston aos 16, e aos 19 estava em Paris, como aluno de cravo de ninguém menos que Wanda Landowska, e de composição da onipresente Nadia Boulanger.

O disco se abre com o paradoxal monumento que é o Concerto para Cravo, Flauta, Oboé, Clarinete, Violino e Violoncelo – composto por de Falla em 1926 e dedicado precisamente a Madame Landowska. Paradoxal porque atinge o lirismo através de aspereza e energia frenética, quase a patadas, e a monumentalidade em meros 13 minutos – e justamente por isso é um monumento. Se, como disse José Miguel Wisnik, A Sagração da Primavera for “heavy metal de luxo”, pra mim isto será “heavy metal de luxo de câmara, cool e cult” – algo assim.

Em contraste, o lado B traz música espanhola da renascença ou barroco inicial: um Tiento de Francisco Correa de Arauxo para teclado solo, e o resto são “canções” e danças instrumentais compostas ou arranjadas em contraponto pelo frei Bartolomé de Selma y Salaverde. Pense 1963, e verá que esse foi um trabalho pioneiro, anterior à prevalência dos instrumentos de época, mas feito com suficiente garra e bossa para não me soar inautêntico. O destaque vai para a faixa 14 (com perdão dos seus ruídos inexorcizáveis), onde os ‘due tenori’ que dialogam são feitos por um fagote moderno e por uma dulciana – de mesma tessitura, porém de timbre mais recolhido – num possível símbolo da passagem de bastão que se daria na abordagem à música antiga nas décadas seguintes.

Finalmente, Julián Orbón: nascido na Espanha, fez o trajeto inverso a Puyana: aos 18 anos veio morar em Cuba, com a família também de músicos. Depois terminou se instalando nos EUA, onde foi alvo de altos elogios de Copland, com quem teve aulas. Nas Tres Cantigas del Rey o cravo e um quarteto de cordas dialogam de modo contemporâneo com as Cantigas de Santa Maria atribuídas a Dom Alfonso X, “el sabio”, rei de Castela, sendo os textos, no entanto, não em castelhano e sim em galego-português arcaico – dos mais antigos documentos da nossa língua, portanto. O resultado? Ouçam vocês mesmos. Comento apenas que minha preferida é a segunda.

Quanto às suas Partitas para cravo solo, tomei a liberdade de deslocar do final do lado A para o final geral do programa – pois para mim isso é música pra lá de séria. De uma profundidade introspectiva que exige silêncio depois, e não danças saltitantes. E afirma Orbón, para mim, como um compositor maiúsculo, substancial, que não era pra estar entre os “etcétera”, como se encontra agora. Quer dizer: qualquer pista para mais de Julián Orbón será bem-vinda!

Manuel de Falla (1876-1946): Concierto para Clave y cinco instrumentos (1926)
01 Allegro  03’15
02 Lento (giubiloso ed energico)  05’53
03 Vivace (fessibile, scherzando)  04’04

Julián Orbón (1925-1991): Tres Cantigas del Rey (1960)
04 A creer devemos que todo pecado (cantiga 65)  02’09
05 A Virgen en que é toda santidade (cantiga 134)  03’44
06 Resurgir pode et fazel os seus vivel (cantiga 133)  01’23

Fray Bartolomé de Selma y Salaverde (~1595 – ~1636)
07 Canzona a 4 (sopra Bataglia)  04’37

Francisco Correa de Arauxo (1584-1654)
08 Quinto Tiento de séptimo tono (cravo solo)  04’00

Fray Bartolomé de Selma y Salaverde (~1595 – ~1636)
09 Gagliarda a 2  01’40
10 Canzona per soprano solo  03’11
11 Balletto a 2 e a 3  01’57
12 Corrente a 3  00’35
13 Corrente a 4  01’00
14 Canzona a 3 (due tenori e basso)  04’06

Julián Orbón (1925-1991)
15 Partitas nº 1 (cravo solo) (1963)  09’37

  • Rafael Puyana, cravo
  • David Sandeman, Neil Black, Thea King, Raymond Cohen, Terence Weil, com direção de Charles Mackerras (faixas 01 a 03)
  • Heather Harper, soprano; London Symphony String Quartet; direção de Antal Dorati (faixas 04 a 06)
  • David Munrow, flauta doce e dulciana. Deirdre Dundas-Grant, fagote. Raymond Cohen, Nona Liddell, violinos. Patrick Ireland, viola. Terence Weil, violoncelo. Oliver Brookes, violone. Stephen Whittaker, percussão (faixas 07 a 14)

.  .  .  .  .  .  BAIXE AQUI – download here (MP3 320 kbps)

Ranulfus

.: interlúdio :. moreorlessjazz CD 2 – Vários

coverMais um volume desta ótima coletânea, intitulada More Or Less Jazz com ótimos momentos, inclusive conseguiram fazer com que a canção de James Cullum se encaixasse muito bem entre as diversas escolhas. Como falei na postagem do primeiro CD, não gosto de coletâneas, mas tenho de tirar o chapéu para elogiar o bom gosto dos produtores.
Ideal para encontros de velhos amigos, para jogar conversa fora, ou então, para ouvir no carro, ajuda a passar o tempo nos intermináveis congestionamentos de nossas cidades.
Espero que apreciem.

01. Silje Nergaard – Let There Be You
02. Lisa Ekdahl – The Color Of You
03. Jamie Cullum – These Are The Days
04. Steve Tyrell – The Very Thought Of You
05. Rick Braun – What Are You Doing The Rest Of Your Life
06. Ella Fitzgerald & Joe Pass – That Old Feeling
07. Gretchen Parlato – Flor De Lis
08. Stan Getz & Charlie Byrd – Samba Triste
09. Chris Botti – La Belle Dame Sans Regrets
10. rejazz feat. Lisa Bassenge – All I Need
11. Slow Train Soul – Twisted Cupid
12. Gordon Haskell – Tell Me All About It
13. Michael Keashammer – Comes Love
14. Jacqui Naylor – My Funny Valentine

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Johannes Brahms (1833-1897) – Piano Trios nº 2 e Op. posth. in A Major – Beaux Arts Trio

41nALOt0OALDia destes nosso mentor PQPBach trouxe os Trios de nº 1 e 3, e hoje completo o pacote com os de nº 2 e 4, porém com outros intérpretes, talvez o principal intérprete destas obras, o Beaux Arts Trio.

Chamar estas peças de obras primas é chover no molhado. O sentido e a capacidade de coesão que comentei dia destes nos trios de Haydn mais do que nunca se fazem sentir aqui.  Muitas vezes pensamos se tratar de um único instrumento tocando, tamanha a empatia que existia entre os músicos. Coisa de gente grande. Nenhum deles procura se destacar mais do que o outro, a linguagem é clara, não existem subterfúgios. Com estes caras, a música de Brahms se mostra ainda mais brahmsiniana, com o perdão desta retórica tola. Prefiro citar o biógrafo de Brahms, Malcolm McDonald, quando comenta o segundo trio, em Dó maior:

“(…) o em dó maior é não menos opulento – provavelmente é ainda mais – em sua profusão de material, mas a elaboração é magistral em sua economia, de modo que a obra inteira é de registro moderado, quase sem uma nota perdida. Embora em tons escuros, Brahms não encontra nenhuma claridade superficial em dó maior: a tonalidade gera a partir dele música viril e bem humorada, com um intenso sentido de finalidade. (…)  O violino e o violoncelo são tratados como uma unidade isolada, duplicando-se um ao outro em oitavas e terças, com o fim de contrabalançar eficientemente com o piano.”

Mas vamos ao que viemos.

Johannes Brahms (1833-1897) – Piano Trios nº 2 e Op. posth. in A Major – Beaux Arts Trio

01. Piano Trio in C major, op. 87 – I. Allegro
02. Piano Trio in C major, op. 87 – II. Andante con moto
03. Piano Trio in C major, op. 87 – III. Scherzo. Presto
04. Piano Trio in C major, op. 87 – IV. Finale. Allegro giocoso
05. Piano Trio in A major, op. posth. – I. Moderato
06. Piano Trio in A major, op. posth. – II. Vivace – Trio
07. Piano Trio in A major, op. posth. – III. Lento
08. Piano Trio in A major, op. posth. – IV. Presto

Beaux Arts Trio

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FDP

Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Violin Concertos – Jeanne Lemon, Tafelmusik Baroque Orquestra

frontEis mais um registro excelente do Tafelmusik, sob a direção competente da Jeanne Lemon, que para completar, ainda é uma baita violinista. Adoro estes concertos, sei lá quantas versões já ouvi, ou quantas tenho, só sei que adoro estes concertos.
Um CD ideal para ouvir em uma tarde chuvosa de um final de semana chuvoso. Música ideal para reflexão, para se pensar na vida. Espero que apreciem.

01. Concerto for Violin, Strings & b.c. in A minor, BWV 1041 I. (-)
02. II. Andante
03. III. Allegro assai
04. Concerto for 2 Violins, Strings & b.c. in D minor, BWV 1043 I. Vivace
05. II. Largo ma non tanto
06. III. Allegroo
07. Concerto for Violin, Strings & b.c. in E major, BWV 1042 I. Allegro
08. II. Adagio
09. III. Allegro assai
10. Concerto for 3 Violins, Strings & b.c. in D major, BWV 1064r I. Allegro
11. II. Adagio
12. III. Allegro

Jeanne Lemon – Violin & Music Director
Linda Melsted – solo violin -(4-6, 10-12)
David Greenberg solo violin (10-12)
Tafelmusik Baroque Orchestra

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Joseph Joachim Raff (1822-1882): Cello Concertos / Begegnung / Duo for Cello and Piano, Op.59

Joseph Joachim Raff (1822-1882): Cello Concertos / Begegnung / Duo for Cello and Piano, Op.59

Joachim Raff era um dos compositores mais populares e influentes da era romântica. ele escreveu onze sinfonias, três óperas, e uma infinidade de sonatas, concertos e canções, trazendo sua obra completa para mais de 300 peças. Por que não ouvimos falar dele? Ora, ele deveria estar na moda. Imaginem que ele era socialmente progressista e fundou uma escola de composição para mulheres! Mas era suíço, e as pessoas odeiam a Suíça. A família Raff mudou-se da Alemanha para a Suíça para que seu pai evitasse o recrutamento por Napoleão para a campanha malfadada à Rússia. Boa jogada. Por falar em boa, sua música é de boa qualidade. Raff parece ter simplesmente caído fora de moda sem explicação plausível. E a gente ouve carradas de românticos ruins… A estrela desta gravação é, sem dúvida, Daniel Müller-Schott, cuja inteligência na interpretação e virtuosismo são realmente arrebatadores. São performances muito maduras para um artista ainda em início de carreira.

Joseph Joachim Raff (1822-1882):
Cello Concertos / Begegnung / Duo for Cello and Piano, Op.59

1. Cello Concerto No. 1 in D minor, Op. 193: 1. Allegro
2. Cello Concerto No. 1 in D minor, Op. 193: 2. Larghetto
3. Cello Concerto No. 1 in D minor, Op. 193: 3. Finale. Vivace

4. Begegnung, phantasie-stück for cello & piano, Op. 86/1

5. Duo for cello & piano in A major, Op. 59: 1. Andantino
6. Duo for cello & piano in A major, Op. 59: 2. Allegro appassionato

7. Cello Concerto No. 2 in G major, Op. posth.: 1. Allegro
8. Cello Concerto No. 2 in G major, Op. posth.: 2. Andante
9. Cello Concerto No. 2 in G major, Op. posth.: 3. Allegro vivace

Daniel Müller-Schott, violoncelo
Robert Kulek, piano
Bamberger Symphoniker
Hans Stadlmair, regente

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Joseph Joachim Raff
Joseph Joachim Raff

PQP

Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Sonatas para Flauta, BWV 1020, 1030-1032, Partita para Flauta Solo, BWV 1013

51oRRwQd5MLLink Revalidado a pedido do Charlles Campos. Esta postagem foi feita lá nos primórdios do blog, em 2007, há quase dez anos. O tempo passa, o tempo voa. Mas a qualidade desta gravação continua a mesma.

A PEDIDOS REUPEI O MEU CD QUE TEM 16 FAIXAS, COM A PARTITA PARA FLAUTA SOLO. QUEM QUISER, PODE BAIXAR NOVAMENTE ….

Como o final de semana está chegando, FDP Bach resolveu fazer três postagens peso-pesado para seus leitores/ouvintes, que apenas aos sábados e domingos tem tempo disponível para baixar e ouvir com mais atenção a estas pérolas…
Começarei com uma gravação antológica, e aproveitando também para fazer uma contraposição à última postagem do nosso colega Blue Dog: Algumas das mesmas sonatas para flauta de Bach postadas na versão de Jarrett/Petri nas mãos mágicas de Aurelè Nicolet e Karl Richter, dois dos maiores intérpretes do século XX da obra de nosso pai. Já a tive em vinil, aliás ainda a tenho, e quando a encontrei em cd nacional (????) quase tive um infarto de tão emocionado que fiquei..

P.S. Segundo comentário de cliente da amazon esta gravação não é apenas a melhor gravação já realizada destas obras mas a melhor gravação já realizada na história da indústria fonográfica.

Bem, vamos ao que interessa…

Johann Sebastian Bach – Sonaten für Flöte und obligates Cembalo BWV 1020, 1030-1032 e Partita a-mol für flöte solo BWV 1015

1 – Sonata in B minor BWV 1030 – Andante
2 – Sonata in B minor BWV 1030 – Largo e dolce
3 – Sonata in B minor BWV 1030 – Allegro

4 – Sonata in E flat major BWV 1031 – Allegro moderato
5 – Sonata in E flat major BWV 1031 – Siciliano
6 – Sonata in E flat major BWV 1031 – Allegro

7 – Sonata in A Major BWV 1032 – Vivace
8 – Sonata in A Major BWV 1032 – Largo e dolce
9 – Sonata in A Major BWV 1032 – Allegro

10 – Sonata in G minor BWV 1020 – Allegro
11 – Sonata in G minor BWV 1020 – Adagio
12 – Sonata in G minor BWV 1020 – Allegro

13 – Partita in A minor for flute solo, BWV 1013 – Allemande
14 – Partita in A minor for flute solo, BWV 1013 – Corrente
15 – Partita in A minor for flute solo, BWV 1013 – Sarabande
16 – Partita in A minor for flute solo, BWV 1013 – Bouree anglaise

Karl Richter – cravo
Aurelè Nicolet – Flauta

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topelement
Aurèle Nicolet (1926-2016) – Uma singela homenagem a um dos maiores flautistas do Século XX, que faleceu no mês de Janeiro.

Joseph Haydn (1732-1809) – Symphonies n° 45, 46, 47, 51, 52 & 64 – Hogwood, Academy of Ancient Music

Untitled2Então vamos fazer o seguinte: diante de tantos apelos por mais postagens de Haydn, vou trazer aos poucos as Sinfonias em sua íntegra, a partir da de nº 45. Começo com Hogwood, mas pode ser que apareçam gravações com outros regentes e orquestras.

A Sinfonia de nº 45, também conhecida como Sinfonia do Adeus, é a mais extensa e a única das sinfonias de Haydn que termina em um Adagio. Existe uma lenda por trás de sua composição, e não sei se ela é real, de qualquer forma, é obra de gênio. Ela terminaria em um Adagio, e na medida em que cada músico termina sua parte ele se retira do palco, ficando apenas dois violinos, que a concluem. A lenda conta que na época em que a escreveu, Haydn era compositor residente do Principe Esterházy, e no verão de 1772 esse poderoso Príncipe foi passar as suas férias em seu palácio de Verão na Hungria. Porém os músicos ficaram insatisfeitos, pois o local era longe de suas residências, então eles precisavam pegar uma condução, segundo consta um barco, para o retorno, e este barco saia em determinada hora. Para evitar que os músicos perdessem a tal da condução, Haydn compôs um adágio para o final da sinfonia, então à medida em que cada músico terminava sua parte, saia correndo para pegar a condução. Quem ficava no final era o próprio Haydn e outro músico, que não tinham suas famílias residindo em outro local. Genial, não acham? Assim o compositor não se indispunha nem com os músicos nem com seu patrão.

Lembro de ter ouvido esta sinfonia ao vivo pela primeira vez com a Orquestra de Câmera Russa, lá pela metade da década de 80, se não me engano dirigida pelo lendário violinista Vladimir Spikanov, e que contou esta história antes de tocarem a sinfonia.

Mas chega de falar e vamos ao que interessa.

CD 1

1 Symphony 45 in f# ‘Farewell’ – 1. Allegro assai
2 Symphony 45 in f# ‘Farewell’ – 2. Adagio
3 Symphony 45 in f# ‘Farewell’ – 3. Menuet_ Allegretto – Trio
4 Symphony 45 in f# ‘Farewell’ – 4. Finale_ Presto – Adagio
5 Symphony 46 in B – 1. Vivace
6 Symphony 46 in B – 2. Poco adagio
7 Symphony 46 in B – 3. Meneut_ Allegretto – Trio
8 Symphony 46 in B – 4. Finale_ Presto e scherzando

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CD 2

1 Symphony 47 in G – 1. [Allegro]
2 Symphony 47 in G – 2. Un poco adagio, cantabile
3 Symphony 47 in G – 3. Menuet al roverso – Trio al roverso
4 Symphony 47 in G – 4. Finale_ Presto assai
5 Symphony 51 in Bb – 1. Vivace
6 Symphony 51 in Bb – 2. Adagio
7 Symphony 51 in Bb – 3. Menuetto – Trio I, II
8 Symphony 51 in Bb – 4. Finale_ Allegro

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CD 3

Symphony No.52 in C Minor, Hob.I:52
1. 1. Allegro assai con brio 9:34
2. 2. Andante 12:19
3. 3. Menuetto (Allegretto) 3:56
4. 4. Finale (Presto) 4:58
Symphony No.64 in A Major, Hob.I:64 “Tempora mutantus”
5. 1. Allegro con spirito 9:00
6. 2. Largo 6:18
7. 3. Menuet & Trio – Allegretto 2:51
8. 4. Finale: Presto

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Academy of an Ancient Music
Christopher Hogwood – Conductor

Bela Bartok (1881-1945): Sonata for 2 Pianos and Percussion, BB 115, W. A. Mozart (1756-1791): Andante and Five Variations in G for Piano (4-Hands), K.501, Debussy: En blanc et noir, L.134

Bela Bartok (1881-1945): Sonata for 2 Pianos and Percussion, BB 115, W. A. Mozart (1756-1791): Andante and Five Variations in G for Piano (4-Hands), K.501, Debussy: En blanc et noir, L.134

71DwcIjgw5L._SL1043_Eis uma Postagem com P maiúsculo, daquelas tipo arrasa-quarteirão, facilmente classificável como IM-PER-DÍ-VEL !!!, e que vai deixar nosso mentor PQPBach alucinado, perguntando de onde tirei essa jóia rara e também perguntando o porquê de estar postando isso só agora.

Na verdade, só agora estou trazendo isso porque só agora é que consegui esse CD. Sabia de sua existência, mas ainda não tivera a oportunidade nem de ouvi-lo nem sequer encontrá-lo.

Martha Argerich e Stephen Kovacevich estavam no apogeu de seus trinta e poucos anos, e já conhecidos como grandes músicos. Se já eram casados, ou se já estavam separados, precisaria pesquisar melhor. Só sei que a química entre os dois funciona perfeitamente aqui. Sai faísca desse CD.

Bela Bartok (1881-1945): Sonata for 2 Pianos and Percussion, BB 115, W. A. Mozart (1756-1791): Andante and Five Variations in G for Piano (4-Hands), K.501, Debussy: En blanc et noir, L.134

(01) Bártok – Sonata for 2 Pianos and Percussion, BB 115 (Sz.110), 1. Assai lento – Allegro molto
(02) Sonata for 2 Pianos and Percussion, BB 115 (Sz.110), 2. Lento ma non troppo
(03) Sonata for 2 Pianos and Percussion, BB 115 (Sz.110), 3. Allegro non troppo
(04) Mozart – Andante and Five Variations in G for Piano (4-Hands), K.501, 1. Thema
(05) Andante and Five Variations in G for Piano (4-Hands), K.501, 2. Var.1
(06) Andante and Five Variations in G for Piano (4-Hands), K.501, 3. Var.2
(07) Andante and Five Variations in G for Piano (4-Hands), K.501, 4. Var.3
(08) Andante and Five Variations in G for Piano (4-Hands), K.501, 5. Var.4
(09) Andante and Five Variations in G for Piano (4-Hands), K.501, 6. Var.5
(10) Debussy – En blanc et noir, L.134, 1. Avec emportement
(11) En blanc et noir, L.134, 2. Lent. Sombre
(12) En blanc et noir, L.134, 3. Scherzando

Martha Argerich & Stephen Kovacevich – Pianos
Willy Goudswaard, Michael de Roo – Percussions

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Martha Argerich e Stephen Kovacevich: até hoje na ativa
Martha Argerich e Stephen Kovacevich: até hoje na ativa

FDP [revalidado por Vassily em 20/1/2021]

J. S. Bach (1685-1750): As Sonatas e Partitas para Violino Solo – John Holloway

J. S. Bach (1685-1750): As Sonatas e Partitas para Violino Solo – John Holloway

IM-PER-DÍ-VEL !!!!

Um grande disco! Uma das melhores versão das Sonatas e Partitas de Bach para violino solo. E uma bela e surpreendente gravação da ECM. Em todos os níveis — estético, emocional, técnico — , as interpretações de John Holloway convencem. Sua articulação está limpa, maleável e o timbre de seu violino barroco garante desde o Adagio da abertura do Sonata Nº 1, o brilho que os contrapontos de Bach exigem serem abordados com clareza. Inteligência, intensidade e drama estão presentes em igual medida.

É uma música muito familiar a mim, mas que aqui é ouvida como se fosse nova. O violinista inglês, um astro da música em instrumentos de época, extrai Bach de seu violino como se o estivesse reesculpindo.

J. S. Bach – The Sonatas and Partitas for Violin Solo

CD 1
1. Sonata No.1 in G minor BWV 1001 – I. Adagio
2. Sonata No.1 in G minor BWV 1001 – II. Fuga – Allegro
3. Sonata No.1 in G minor BWV 1001 – III. Siciliana
4. Sonata No.1 in G minor BWV 1001 – IV. Presto

5. Partita No.1 in B minor BWV 1002 – I. Allemanda
6. Partita No.1 in B minor BWV 1002 – II. Double
7. Partita No.1 in B minor BWV 1002 – III. Corrente
8. Partita No.1 in B minor BWV 1002 – IV. Double. Presto
9. Partita No.1 in B minor BWV 1002 – V. Sarabande
10. Partita No.1 in B minor BWV 1002 – VI. Double
11. Partita No.1 in B minor BWV 1002 – VII. Tempo di Borea
12. Partita No.1 in B minor BWV 1002 – VIII. Double

13. Sonata No.2 in A minor BWV 1003 – I. Grave
14. Sonata No.2 in A minor BWV 1003 – II. Fuga
15. Sonata No.2 in A minor BWV 1003 – III. Andante
16. Sonata No.2 in A minor BWV 1003 – IV. Allegro

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CD 2
1. Partita No.2 in D minor BWV 1004 – I. Allemanda
2. Partita No.2 in D minor BWV 1004 – II. Corrente
3. Partita No.2 in D minor BWV 1004 – III. Sarabanda
4. Partita No.2 in D minor BWV 1004 – IV. Giga
5. Partita No.2 in D minor BWV 1004 – V. Ciaccona

6. Sonata No.3 in C major BWV 1005 – I. Adagio
7. Sonata No.3 in C major BWV 1005 – II. Fuga
8. Sonata No.3 in C major BWV 1005 – III. Largo
9. Sonata No.3 in C major BWV 1005 – IV. Allegr assai

10. Partita No.3 in E major BWV 1006 – I. Preludio
11. Partita No.3 in E major BWV 1006 – II. Loure
12. Partita No.3 in E major BWV 1006 – III. Gavotte en rondeau
13. Partita No.3 in E major BWV 1006 – IV. Menuet I
14. Partita No.3 in E major BWV 1006 – V. Menuet II
15. Partita No.3 in E major BWV 1006 – VI. Bourrée
16. Partita No.3 in E major BWV 1006 – VII. Gigue

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John Holloway, violino barroco

ECM New Series 1909/10

 

John Holloway, nada rotineiro
John Holloway, nada rotineiro

PQP

[restaurado por Vassily em 6/6/2020 e em 9/1/2022]

Johannes Brahms (1833-1897) – Sinfonia nº1 in C Minor, op 68, Robert Schumann (1810-1856) – Sinfonia nº1, op. 38 ‘Primavera’ – Karajan, Berliner Philharmoniker

51ayHlJYkmLPois  bem, resolvi fuçar meu acervo e principalmente as gravações que tenho da coleção Originals, da Deutsche Grammophon e tenho reencontrado diversos cds que merecem ser trazidos para os senhores. Comecei com os concertos para piano de Beethoven com o Wilhelm Kempff, e agora trago Karajan regendo a monumental Sinfonia nº 1 de Brahms, a sinfonia das sinfonias, em minha modesta opinião.
Já comentei que minha relação com esta gravação do Karajan é muito pessoal, por isso a considero a melhor já realizada, apesar de obviamente saber da qualidade das versões de Fützwangler e a do Toscanini, gravadas ainda em Mono, e creio que já postadas por aqui. Enfim, aquele momento em que ouvi esta impressionante versão do Karajan era um momento muito particular de minha vida, e ela de certa forma supriu determinada carência que não vem ao caso discutir. Na época até comentei com um amigo que parecia que eu estava tendo uma visão, entrando no Nirvana, ou algo do gênero, eramos apenas eu e aquela música maravilhosa. O resto era silêncio. É incrível o efeito que a música de Brahms exerce sobre mim,nem sei explicar. Por isso vou seguir em frente.
A outra gravação deste CD é a belíssima Sinfonia Primavera de Schumann, o amigão de Brahms. Ao contrário da sinfonia deste, a obra de Schumann evoca um estado de espírito mais elevado, mais alegre, contrastando com a sobriedade da obra brahmsiana. Não por acaso é chamada de ‘Primavera’.

01. Brahms – Symphony No. 1, Mvt. 1 – Un poco sostenuto – Allegro
02. Symphony No. 1, Mvt. 2 – Andante – sostenuto
03. Symphony No. 1, Mvt. 3 – Un poco allegretto e grazioso
04. Symphony No. 1, Mvt. 4 – Adagio – Allegro non troppo ma co
05. Schumann Symphony No. 1, Mvt. 1 – Andante un poco maestoso – Alle
06. Symphony No. 1, Mvt. 2 – Larghetto – (attacca)
07. Symphony No. 1, Mvt. 3 – Scherzo. Molto vivace
08. Symphony No. 1, Mvt. 4 – Allegro animato e grazioso

Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan – Conductor

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Erik Satie (1866-1925): Peças para Piano

Erik Satie (1866-1925): Peças para Piano

É inevitável. Ao menos um disco de Satie você terá em seu acervo. Ele tem algumas obras bastante boas e famosas. Mas poucas pessoas são apaixonadas por sua arte muitas vezes estática e quase sempre bem humorada. Aliás, o cômico em Satie costuma permanecer esquecido para dar espaço à poesia de peças como a deste disco. Porém, afirmo-lhes: o melhor de Satie está nos últimos discos da coleção de suas obras completas. São peças para vários instrumentos que ninguém mais ouve. Sei lá onde guardei aquilo, mas é muito cômico e bom. No mês passado, em 17 de maio, Satie completou 150 anos de nascimento. As homenagens foram bem modestas, considerando sua popularidade. Olga Scheps dá excelente tratamento a elas neste CD recém lançado e dá um passinho à frente dos outros CDs ao gravar a alegre Cinq Grimaces pour le songe d’une nuit d’été.

Debussy e Satie: provavelmente em conversa sem ritmo.
Debussy e Satie estáticos, como quase sempre.

Erik Satie (1866-1925): Peças para Piano

01. Gnossienne No. 1 Lent
02. Gnossienne No. 2 Avec étonnement
03. Gnossienne No. 3 Lent
04. Gnossienne No. 4 Lent
05. Gnossienne No. 5 Modéré
06. Gnossienne No. 6 Avec conviction et avec une tristesse rigoureuse
07. Cinq Grimaces pour le songe d’une nuit d’été I. Préambule
08. Cinq Grimaces pour le songe d’une nuit d’été II. Coquecigrue
09. Cinq Grimaces pour le songe d’une nuit d’été III. Chasse
10. Cinq Grimaces pour le songe d’une nuit d’été IV. Fanfaronnade
11. Cinq Grimaces pour le songe d’une nuit d’été V. Pour sortir
12. Gymnopédie No. 1 Lent et douloureux
13. Gymnopédie No. 2 Lent et triste
14. Gymnopédie No. 3 Lent et grave
15. Je te veux
16. Sarabande No. 1 in F Minor
17. Sarabande No. 2 in D Minor, à Maurice Ravel
18. Sarabande No. 3 in B-Flat Minor
19. Tendrement – Valse chantée
20. Gentle Threat

Olga Scheps, piano

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Eric Satie: 150 anos no mês passado
Eric Satie: 150 anos no mês passado

PQP

Max Bruch (1838-1920): Concertos para Violino Nros. 2 e 3

Max Bruch (1838-1920): Concertos para Violino Nros. 2 e 3

Este disco vale para conhecer a tremenda violinista russa Lydia Mordkovitch (1944-2014), aluna e assistente de David Oistrakh nos anos 60. Desde 1980, quando mudou-se para Londres e assinou contrato com a Chandos, ela fez 60 CDs de altíssima qualidade. Mas, sabem vocês, ficou sempre em segundo plano, talvez por ser gordinha, baixinha e só se preocupar com música. Lydia Mordkovitch mereceria estar no topo com outros tantos violinistas de primeira linha. Por exemplo, sua gravação dos Concertos de Shostakovich, de 1995, recebeu inúmeros prêmios e é uma referência absoluta. Sua gravação dos Concertos Nº 1 e 2 de Prokofiev é inacreditável. Faleceu sem gravar o Concerto de Tchaikovsky, o qual foi longamente esperado por seus admiradores. Dizia não estar pronta, mas o tocava mais de 3 vezes por ano em concertos. Desde 1995, dava aulas de música russa na Royal Academy of Music. Era procuradíssima.

Max Bruch foi um bom compositor romântico. Só que este disco é inteiramente da intérprete. Aqui, a cantora supera em muito a canção.

Max Bruch (1838-1920): Concertos para Violino Nros. 2 e 3

Violin Concerto No. 2, Op. 44 in D minor
1 I. Adagio ma non troppo 15:04
2 II. Recitative. Allegro moderato 4:32
3 III. Finale. Allegro molto 9:52

Violin Concerto No. 3, Op. 58 in D minor
4 I. Allegro energico 20:27
5 II. Adagio 11:50
6 III. Finale. Allegro molto 9:03

Lydia Mordkovitch
London Symphony Orchestra
Richard Hickox

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Lydia Mordkovitch, tremenda violinista
Lydia Mordkovitch, tremenda violinista

PQP

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Concertos 4 & 5 – Wilhelm Kempff, BPO, Leitner

DGG The Originals - BeethovenEsta é outra daquelas postagens feitas a toque de caixa, pelo simples motivo de falta de tempo: trago hoje uma das grandes gravações do selo alemão Deutsche Grammophon com dois concertos para piano de Beethoven com o imenso Wilhelm Kempff, um dos maiores pianistas do século XX. Trata-se de uma gravação histórica realizada há cinquenta e poucos anos, 1961, para ser mais exato, mas que se mantém no topo da lista das maiores e principais gravações destes concertos. Pode até soar meio antiquada para alguns ouvidos mais apurados, mas não se pode negar sua qualidade. Kempff é referência quando se trata de Beethoven, mesmo passado tanto tempo de sua morte, lembrando que ele viveu quase cem anos, morrendo aos 96 anos de idade.

P.S. Prestem atenção para as cadenzas, elas foram escritas pelo próprio Kempff.

01. Klavierkonzert Nr.4 op.58 – 1. Allegro moderato
02. Klavierkonzert Nr.4 op.58 – 2. Andante con moto
03. Klavierkonzert Nr.4 op.58 – 3. Rondo Vivace
04. Klavierkonzert Nr.5 op.73 – 1. Allegro
05. Klavierkonzert Nr.5 op.73 – 2. Adagio un poco mosso
06. BEETHOVEN – Klavierkonzert Nr.5 op.73 – 3. Rondo Allegro

Wilhelm Kempff – Piano
Berliner Philharmoniker
Ferdinand Leitner – Conductor

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Mason Bates (1977): Works for Orchestra (The B-Sides, Liquid Interface e Alternative Energy)

Mason Bates (1977): Works for Orchestra (The B-Sides, Liquid Interface e Alternative Energy)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Apesar de não ter chegado ainda aos 40 anos. Mason Bates é o segundo compositor erudito vivo mais executado de nosso planeta. Creio que vocês sabem quem é o primeiro. Sua obra recém está começando a ser criada, mas ela já funde inovadoras escritas orquestrais, formas narrativas originais, harmonias do jazz, ritmos de techno e foi a primeira música sinfônica que recebeu ampla aceitação e integração de sons eletrônicos, muitas vezes pilotados pelo compositor. Maestros como Riccardo Muti, Michael Tilson Thomas e Leonard Slatkin já o descobriram o têm em seus catálogos. Gostei de conhecê-lo. Sua música olha para o futuro. Ele não escreve para o passado. Divirtam-se. Conheçam.

Mason Bates estará como compositor visitante da Osesp em 9 (amanhã!), 10 e 11 de junho deste ano. Vai tocar… laptop. Mas não pense em loucuras eletrônicas. Quando você mantiver contato com este disco, ouvirá tudo super integrado, elegante e… acústico.

Mason Bates (1977): Works for Orchestra

The B-Sides
1 Broom of the System 4:12
2 Aerosol Melody (Hanalei) 4:01
3 Gemini in the Solar Wind 5:32
4 Temescal Noir 3:14
5 Warehouse Medicine 4:45

Liquid Interface
6 Glaciers Calving 6:47
7 Scherzo Liquido 3:54
8 Crescent City 8:24
9 On the Wannsee 4:29

Alternative Energy
10 Ford’s Farm, 1896 7:07
11 Chicago, 2012 5:53
12 Xinjiang Province, 2112 8:06
13 Reykjavik, 2222 4:55

San Francisco Symphony
Michael Tilson Thomas

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Mason Bates com a Orquestra de São Francisco na estreia de The B-Sides
Mason Bates com a Orquestra de São Francisco na estreia de The B-Sides

PQP

Mark Isham & Charlélie Couture: The Moderns – original soundtrack

Mark Isham & Charlélie Couture: The Moderns – original soundtrack

Pense no seu prato favorito, aquele com o qual você sonha, dormindo e desperto. Esta trilha é tão deliciosa quanto um prato favorito. Temos aqui uma Nouvelle Cuisine, à qual se aplicaria perfeitamente a velha sentença dos pequenos frascos com os melhores perfumes, pois que é uma trilha breve, porém rica e deliciosa; de um filme hoje infelizmente raro: The Moderns, de Alan Rudolph, 1988. Existiu em VHS, que eu saiba jamais saiu em DVD e se alguém souber, por caridade, me avise. O filme se passa na Paris de 1926, após a primeira catástrofe mundial, numa pausa entre as duas tempestades. Artistas plásticos, literatos e poetas, desocupados – flâneurs; damas do dia e da noite, modelos, provocadores dadaísta, nouveau riches, nobres arruinados e embusteiros; punguistas, pianistas e pianeiros, amontoados nos cafés toldados pela fumaça dos cigarros, cachimbos e charutos. As estéticas em metamorfose, à maneira de um magnífico piano Art Nouveau arremessado abaixo numa escadaria cubista.

2jbp0s4Um filme raro com raros artistas. Keith Carradine (irmão de David – Kung Fu e Bill de Tarantino – ambos filhos do prístino vampirão John Carradine). Talvez alguns lembrem dele em Os amores de Maria, o violeiro que seduz a bela Natassja Kinski. Keith interpreta Nick Hart, um pintor e desenhista norte americano de seus quarante ans, flanando pelos cafés parisienses e compondo o quadro que tentei pintar acima. A bela do filme – e põe bela nisso – é Linda (linda) Fiorentino, antiga esposa de Hart, que sumira e agora aparece ao lado de um misterioso oriental de passado sombrio, milionário no comércio dos então modernos preservativos de borracha; aluno de Houdini em ‘artes de fuga’. Este oriental é vivido pelo também raro e ótimo ator John Lone – sim, Pu Yi, O Último Imperador; que ignora totalmente o passado de sua ‘propriedade’, digo, de sua amante. Sobre isso nem preciso dizer mais nada. Emoldurando estes protagonistas temos figuras fictícias, históricas e semi-históricas. No papel de fiel parceiro de Nick Hart temos o próprio Hemingway! Vivido por Kevin J. O’Connor. Hem, acorrentado ao balcão do bar e em constante banho maria etílico, mistura realidade com ficção, nomes reais com os de seus personagens. Em meio a esta glamourosa fauna transita a insuportável Gertrude Stein e sua escudeira, a não menos insuportável Alice B. Toklas. Em certo momento, numa festa de intelectuais, Miss Stein diz pra Hem: “Hemingway, lembre-se: o sol também se põe!”; ao que Hem responde: “Sim, bem sobre o seu grande traseiro”. Geraldine Chaplin interpreta uma ricaça espertinha, abandonada pelo marido que fugira com uma dançarina apache. Tenta passar a perna em Hart lhe encomendando três obras falsas – no que Hart é especialista – porém sem a menor intenção de pagar por elas. São elas um Matisse, um Modigliani e um Cezanne. Obras que emblematizariam a chamada modernidade. Em certo momento de fúria o truculento oriental irá destruir os originais pensando que são falsos. As cópias de Hart irão para os museus do mundo e serão aclamadas como obras únicas, inefáveis, irreproduzíveis! Mas estou falando demais do filme, que espero, todos possam algum dia conhecer. Falemos da música.

Apesar da trilha se configurar uma galeria de estilos, autores e intérpretes, quem a assina é o trompetista americano Mark Isham, que a divide com o cantor francês Charlélie Couture. E apesar de Isham ser trompetista, é o violino quem praticamente lidera a trilha, na participação do violinista americano Sid Page. Numa galeria de atmosferas, encontramos o grande Sidney Bechet na faixa 4 – Really the Blues, irresistível, com seu intenso vibrato e generosidade melódica. Quem viu a abertura do também delicioso ‘Meia noite em Paris’ de Woody Allen sabe do que estou falando. Esta presença de Bechet não somente é oportuna por enriquecer a trilha, como também está de acordo com a acolhida que a França deu ao jazz e aos jazzistas americanos no início do século XX. A faixa 7 traz a versão original da famosíssima canção francesa Parlez moi d’amour, com Lucienne Boyer, 1930; canção que, por incrível que pareça e por alguma razão, faltou no repertório da mais famosa das divas do canto francesas, Edith Piaf. A faixa de abertura com o tema chefe do filme, será, acredito, inesquecível. Quem não conheceu o filme ainda, poderia ouvi-la assistindo a antigas filmagens da Paris de princípios do século XX ou contemplando antigas fotografias daquele contexto. Quem o fizer se concederá, garanto, um grande prazer. A sexta faixa, cantada por Charlélie Couture que aparece no filme como pianista dos cafés e cabarés, é uma curiosa peça que sabe a dadaísmo, um toque de caricatura musical típica do grande Erik Satie – Dada Je suis

25jv51xSeparei este parágrafo para destacar a faixa 8, La Valse Moderne. É que da primeira vez que estive no MASP (que os céus protejam este lugar da barbárie que impera), estava precisamente a ouvir em um aparelhinho de mp3 essa faixa quando fiquei de frente com um dos mais encantadores modiglianis: Renée. A música naquele instante deu vida ao quadro e os olhos daquela musa de Modi brilharam de verdade. Fiquei longo tempo verdadeiramente apaixonado por Renée, que travou comigo o mais profundo e romântico diálogo tácito e estético. Quem baixar esta trilha e estiver em São Paulo tente o mesmo. Não terei ciúmes, juro.

A derradeira faixa e das mais deliciosas é uma versão ‘moderna’ do Parlez moi d’amour. Algo inebriante, muito bonito e de grande elegância. O trompetista introduz reflexos de Miles Davis em seu fraseado. Esta música acompanha os créditos do filme, nos quais se vêm cortinas de seda que esvoaçam suavemente. Uma imagem que deixo para os que ouvirem esta trilha, que casa elementos impressionistas e modernos com perfeição; num indubitável exemplo de finíssimo gosto musical.

Mark Isham & Charlélie Couture: The Moderns – original soundtrack

1 Les Modernes
2 Café Selavy
3 Paris La Nuit /Selavy
4 Really the Blues
5 Madame Valentin
6 Dada Je Suis
7 Parlez moi d’amour (Retro)
8 La Valse Moderne
9 Les Peintres
10 Death of Irving Fagelman
11 Je ne veux pas des tes chocolats
12 Parlez moi d’amour (Moderne)

L’Orchestre Moderne
Sid Page – violin
Peter Maunu – violin, mandolin, electric guitar
Ed Mann – vibraphone, marimba, snare drum
Dave Stone – acoustic bass
Charlélie Couture – piano, vocals
Rich Ruttenberg – piano
Patrick O’Hearn – electrid and acoustic bass
Michael Barsimanto – drum machine
Suzy Katayama – cello
Mark Isham – trumpet

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'Charlélie' Je Suis...
‘Charlélie’ Je Suis…

Wellbach

Antonio Vivaldi (1678-1741): Concerti da Camera

Antonio Vivaldi (1678-1741): Concerti da Camera

“Sentado numa rocha, na ilha de Ogígia, com a barba enterrada entre as mãos, de onde desaparecera a aspereza calosa e tisnada das armas e dos remos, Ulisses, o mais subtil dos homens, considerava, numa escura e pesada tristeza, o mar muito azul que, mansa e harmoniosamente, rolava sobre a areia muito branca. Uma túnica bordada de flores escarlates cobria, em pregas moles, o seu corpo poderoso, que engordara. Nas correias das sandálias, que lhe calçavam os pés amaciados e perfumados de essências, reluziam esmeraldas do Egipto. E o seu bastão era um maravilhoso galho de coral, rematado em pinha de pérolas, como os que usam os Deuses marinhos.” Este suntuoso parágrafo abre o conto “A Perfeição”, de Eça de Queiroz, no qual o genial escritor português narra o tédio, a inquietação e descontentamento de Odisseu, por sete anos preso à ilha (e ao leito) da ninfa Calípso. Paraíso no qual tudo é perfeição, onde os mortais e as flores jamais fenecem: “A divina ilha, com os seus rochedos de alabastro, os bosques de cedros e tuias odoríferas, as messes eternas dourando os vales, a frescura das roseiras revestindo os outeiros suaves, resplandecia, adormecida na moleza da sesta, toda envolta em mar resplandecente. Nem um sopro dos Zéfiros curiosos, que brincam e correm por sobre o Arquipélago, desmanchava a serenidade do luminoso ar, mais doce que o vinho mais doce, todo repassado pelo fino aroma dos prados de violetas. No silêncio, embebido de calor afável, eram duma harmonia mais embaladora os murmúrios de arroios e fontes, o arrulhar das pombas voando dos ciprestes aos plátanos e o lento rolar e quebrar da onda mansa sobre a areia macia.” Odisseu, farto de tanta perfeição, anseia por atirar-se ao confronto das ondas e perigos, em busca de sua perdida Ítaca, onde lhe aguardam Penélope com seu já gasto tear e o seu filho Telêmaco.

dzcasMas existiria, fora dos domínios dos deuses, tal perfeição? Talvez a exuberância destes textos nos dê uma pista. Sim, na arte encontramos tal perfeição e para além de escritos dessa estirpe, a encontramos nos domínios da música. A arte por excelência das Musas, conforme a tradição mitológica grega. O que temos aqui, nesta postagem, é um exemplo de tal perfeição. Imaginemos que, hóspedes de Calípso, sonhamos com uma orquestra de deuses a interpretar as mais divinas peças: eis aqui a realização de um sonho assim. A flautista dinamarquesa Michala Petri – já em si uma divindade em talento e beleza, a maior flautista-block da história; ao seu lado, Felix Ayo – violinista veterano do I Musici; o exímio oboísta Heinz Holliger, capaz de inebriar com seu instrumento todas as cabeças da Hidra de Lerna; mais o incomparável fagotista Klaus Thunemann! Que dizer? Ao cravo, Christiane Jacottet, tecendo sobre as cifras do contínuo uma teia de ouro, digna das mais caprichosas criações de Hefestos. Completando a constelação, Pasquale Pellegrino, também ao violino; Thomas Demenga ao violoncelo e Jonathan Rubin, na Teorba. Estes fabulosos músicos, em total comprometimento com seu repertório e imersos em evidente paixão pelo mesmo, nos trazem a perfeição. Todas estas palavras escritas até agora também servem para dizer que Vivaldi é de lascar. Sim, o Padre Ruivo é estupendo, um artista que jamais sonegou beleza; dono de uma cornucópia de beleza musical inesgotável. Um dos ápices do que para alguns – eu, pelo menos – foi o mais extraordinário período da música (opinião pessoalíssima). O reverendo veneziano que ensinou ao mestre maior, J. S. Bach, os sensos de proporção, discurso instrumental e equilíbrio; o próprio mestre declarou isso em carta, após ter tido acesso a concertos da série do L’Estro Armonico de Vivaldi, os quais transcreveu para o cravo e o órgão. A gravação é de 1983. Há muitos anos tive este espetáculo fonográfico em vinil. Esperei séculos para que aparecesse em CDs. Eis que os bons e misericordiosos deuses vieram a me recompensar a longa espera. Agora tenho o sincero prazer e honra de partilhá-lo com vocês. Esta suprema beleza e perfeição, que se existisse na ilha de Calípso, eu sendo Ulisses, esqueceria Ítaca e por lá iria ficando. Na foto acima, noite em Veneza. Sob a Ponte dos Suspiros correm as fétidas águas que nos legaram tanta beleza.

14kfw3nNão poderia escrever o que quer que fosse sobre Vivaldi sem que caísse em certo arrebatamento, efeito de sua música sobre nós. Entre estes concertos temos uma de suas criações mais ricas e impressionantes: a Sonata em lá menor RV 86. Há muitos anos me correspondia com a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, com o setor de partituras. Era atendido por gentilíssimas senhoras, que me forneciam sob ínfimo preço partituras diversas. Entre elas, alguns desses concertos e a citada Sonata. Atualmente, infelizmente, o setor decaiu e aquelas senhoras, pelo que soube, já não lá se encontram – evidente reflexo da decadência cultural em curso nos últimos anos em nosso desventurado país. Não vivemos na ilha de Calípso, enfim, mas a música nos traz a perfeição que nos inspira a olhar para melhores horizontes.

Disco I

Concerto RV 94 in D-dur
1 Allegro
2 Largo
3 Allegro

Concerto RV 103 in g-moll
4 Allegro ma cantabile
5 Largo
6 Allegro non molto

Concerto RV 87 in C-dur
7 Adagio – Allegro
8 Largo
9 Allegro assai

Sonata RV 86 in a-moll
10 Largo
11 Allegro
12 Largo, cantabile
13 Allegro molto

Disco II

Concerto RV 101 in G-dur
1 Allegro
2 Largo
3 Allegro

Concerto RV 108 in a-moll
4 Allegro
5 Largo
6 Allegro

Concerto “La Pastorella” RV 95 in D-dur
7 Allegro
8 Largo
9 Allegro

Concerto RV 105 in g-moll
10 Allegro
11 Largo
12 Allegro molto

Concerto RV 92 in D-dur
13 Allegro
14 Larghetto
15 Allegro

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Michala Petri, em todo seu poder e glória
Michala Petri, em todo seu poder e glória

Wellbach