J. S. Bach (1685–1750): Concertos de Brandenburgo em transcrições de Max Reger para piano a quatro mãos (Takahashi / Lehmann) #BRANDENBURGAÇO

J. S. Bach (1685–1750): Concertos de Brandenburgo em transcrições de Max Reger para piano a quatro mãos (Takahashi / Lehmann)  #BRANDENBURGAÇO

Que os Concertos de Brandenburgo, em sua forma original, fazem parte de um seleto grupo de criações que representam o que há de mais valoroso na música, todos nós do século XXI já sabemos ! Estas transcrições que o compositor alemão Max Reger (1873-1916) fez para piano a quatro mãos que ora vamos compartilhar com os amigos do blog, são um verdadeiro  delight ! Max foi uma figura fundamental para o renascimento de Bach no início do século XX e as transcrições deste álbum são um ótimo exemplo do seu magnífico trabalho.

As transcrições dos seis concertos de Brandenburgo datam do início de 1900, Max era um talentoso compositor e organista e seu trabalho bastante reconhecido na Alamanha do início do século XX, tinha um profundo conhecimento de contraponto que torna esses arranjos de Brandemburgo tão lindos de ouvir. As transcrições destas obras primas de Bach feitas por Reger, na minha humilde opinião, são ótimas. Porém não são fáceis de tocar, requer também um alto conhecimento de Bach e a dupla deste álbum beira a perfeição são dois grandes intérpretes, a japonesa Norie Takahashi (1978) e o alemão Björn Lehmann (1973) o que mais me impressionou é o entrosamento sobretudo no ritmo, andamentos adequadamente rápidos, o uso mínimo de pedal que ajuda a deixar a música de Bach mais cristalina.

Norie Takahashi e Björn Lehmann na noite de autógrafos no PQPBach Music Center

No que diz respeito às transcrições das peças para órgão, Takahashi e Lehmann nos oferecem duas obras (a onipresente Tocata e Fuga em Ré Menor e o Prelúdio e Fuga de Santa Ana), juntamente com sua versão da poderosa, magnifica, linda, tesuda Passacaglia BWV 582 (adoro com todas as forças esta obra…). Eles fornecem um contraste de bom gosto, um belo “brake” entre Concertos de Brandenburgo.

As interpretações são bastante técnicas, é uma delicia ouvir este álbum: a mais pura e maravilhosa música do divino Bach. Para quem ainda não conhece estas transcrições, Reger conseguiu de maneira perfeita reproduzir as características sonoras da orquestra e do órgão para o piano. Divirtam-se !!!!!

Max Reger (1873-1916)

“Sebastian Bach é para mim o começo e o fim de toda música; sobre ele repousa, e dele se origina o novo! O fato de Bach ter sido mal interpretado por tanto tempo é o maior escândalo para a ‘sabedoria crítica’ dos séculos XVIII e XIX.”

Johann Baptist Joseph Maximilian Reger (1873-1916)

1 – Brandenburg Concerto No. 2 in F Major, BWV 1047: I. Allegro
2 – Brandenburg Concerto No. 2 in F Major, BWV 1047: II. Andante
3 – Brandenburg Concerto No. 2 in F Major, BWV 1047: III. Allegro Assai

4 – Brandenburg Concerto No. 5 in D Major, BWV 1050: I. Allegro
5 – Brandenburg Concerto No. 5 in D Major, BWV 1050: II. Affettuoso
6 – Brandenburg Concerto No. 5 in D Major, BWV 1050: III. Allegro

7 – Brandenburg Concerto No. 1 in F Major, BWV 1046: I. Allegro
8 – Brandenburg Concerto No. 1 in F Major, BWV 1046: II. Adagio
9 – Brandenburg Concerto No. 1 in F Major, BWV 1046: III. Allegro
10 – Brandenburg Concerto No. 1 in F Major, BWV 1046: IV. Menuetto – Trio I – Polacca – Trio II

11 – Passacaglia in C Minor, BWV 582

12 – Toccata and Fugue in D Minor, BWV 565

13 – Brandenburg Concerto No. 4 in G Major, BWV 1049: I. Allegro
14 – Brandenburg Concerto No. 4 in G Major, BWV 1049: II. Andante
15 – Brandenburg Concerto No. 4 in G Major, BWV 1049: III. Presto

16 – Brandenburg Concerto No. 6 in B-Flat Major, BWV 1051: I. Allegro non
17 – Brandenburg Concerto No. 6 in B-Flat Major, BWV 1051: II. Adagio ma non Tanto
18 – Brandenburg Concerto No. 6 in B-Flat Major, BWV 1051: III. Allegro

19 – Brandenburg Concerto No. 3 in G Major, BWV 1048: I. Allegro con spirito – II. Adagio
20 – Brandenburg Concerto No. 3 in G Major, BWV 1048: III.

21 – Prelude and Fugue in E-Flat Major, BWV 552: I. Prelude
22 – Prelude and Fugue in E-Flat Major, BWV 552: II. Fugue

Piano: Norie Takahashi e Björn Lehmann

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Concertos de Brandenburgo, há 300 anos nas paradas de sucesso!

Ammiratore

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Concertos de Brandenburgo (Sigiswald Kuijken, La Petite Bande) #BRANDENBURGAÇO

Neste dia 24 de março os Concertos de Brandenburgo completam 300 anos. A importância destas obras na história da música ocidental é incontestável. Esta espetacular série de Seis Concertos, um totalmente diferente do outro, faz minha alegria há décadas, e com certeza, vai me acompanhar até o final de meus dias.

Estamos fazendo postagens temáticas nos últimos tempos, como foi a bela homenagem a Piazzolla, e agora, temos estes Concertos tão especiais. Novamente, todos os participantes do blog vão contribuir, dentro de suas restrições de tempo e trabalho.

Escolhi esta gravação dos belgas da ‘La Petite Bande’ por vários motivos, e um deles, além da óbvia qualidade dos músicos envolvidos, é a presença do cravista Pierre Hantaï, um dos principais intérpretes de Bach deste século XXI. Tudo o que este rapaz toca vira ouro, e aqui não é diferente.
Então aproveitem este dia do #BRANDENBURGAÇO !!!

CD 1

01. Brandenburgisches Konzert No.1 F-Dur BWV 1046 – I Allegro
02. Brandenburgisches Konzert No.1 F-Dur BWV 1046 – II Adagio
03. Brandenburgisches Konzert No.1 F-Dur BWV 1046 – III Allegro
04. Brandenburgisches Konzert No.1 F-Dur BWV 1046 – IV Menuetto, 2 Trios & Polacca

Horn – Claude Maury, Piet Dombrecht
Oboe – Marcel Ponseele, Taka Kitazato, Ann Vanlancker
Fagotte – Marc Vallon
Violino Piccolo – Sigiswald Kuijken

05. Brandenburgisches Konzert No.2 F-Dur BWV 1047 – I Allegro
06. Brandenburgisches Konzert No.2 F-Dur BWV 1047 – II Andante
07. Brandenburgisches Konzert No.2 G-Dur BWV 1047 – III Allegro Assai

Horn – Claude Mauri
Recorder – Barthold Kuijken
Oboe – Marcel Ponseele
Violin – Sigiswald Kuijken

08. Brandenburgisches Konzert No.3 G-Dur BWV 1048 – I-II Allegro-Adagio
09. Brandenburgisches Konzert No.3 G-Dur BWV 1048 – III Allegro

CD 2

01. Brandenburgisches Konzert Nr.4 – G-Dur BWV 1049 – I Allegro
02. Brandenburgisches Konzert Nr.4 – G-Dur BWV 1049 – II Andante
03. Brandenburgisches Konzert Nr.4 – G-Dur BWV 1049 – III Presto

Violin – Sigiswald Kuijken
Recorder – Barthold Kuijken, Koen Dieltens

04. Brandenburgisches Konzert Nr.5 – D-Dur BWV 1050 – I Allegro
05. Brandenburgisches Konzert Nr.5 – D-Dur BWV 1050 – II Affettuoso
06. Brandenburgisches Konzert Nr.5 – D-Dur BWV 1050 – III Allegro

Violin – Sigiswald Kuijken
Transverse Flute – Barthold Kuijken
Harpsichord – Pierre Hantaï

07. Brandenburgisches Konzert Nr.6 – B-Dur BWV 1051 – I Allegro
08. Brandenburgisches Konzert Nr.6 – B-Dur BWV 1051 – II Adagio ma non tanto
09. Brandenburgisches Konzert Nr.6 – B-Dur BWV 1051 – III Allegro

Viola – Sigiswald Kuijken, Ryo Terakado
Viola da Gamba – Wieland Kuijken, Emmanuel Balssa
Violoncelo – Hidemi Suzuki
Double Bass – James Munro
Harpsichord – Pierre Hantaï

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

#BRANDENBURGAÇO

FDP

J. S. Bach (1685 – 1750): Concertos de Brandenburgo – Hanover Band & Anthony Halstead ֎ #BRANDENBURGAÇO

J. S. Bach (1685 – 1750): Concertos de Brandenburgo – Hanover Band & Anthony Halstead ֎ #BRANDENBURGAÇO

Bach

Concertos de Brandenburgo

Hanover Band

Anthony Halstead

 

Em 1977 duas sondas espaciais, Voyager I e II, foram lançadas no espaço pela NASA com o objetivo de explorar os planetas do sistema solar e usando a força gravitacional dos bitelões serem lançadas no espaço interestelar. Coisa de filme de ficção científica. Clicando aqui você poderá descobrir onde elas estão neste momento.

Uma das missões destas viajantes estelares é levar a quem interessar possa, mensagens do planeta Terra. Nestes terríveis dias em que estamos vivendo, particularmente aqui no Brasil, não creio que algum tipo de vida ‘inteligente’ venha nos pagar uma visitinha, tomar um café. Mas eles terão a oportunidade de ver algumas imagens de como é a vida na Terra ou pelo menos como era em 1977. Isto porque as naves levam um disco com informações do tipo imagens, sons e até músicas e recados dados pelas pessoas que prepararam e lançaram as naves e, portanto, leva a perspectiva deles do que há na Terra. Como tudo foi supervisionado pelo Carl Sagan, podemos esperar, pelo menos boas e bem fundadas intenções.

No topo da lista das músicas gravadas no tal disco de ouro está o primeiro movimento do Concerto de Brandenburgo No. 2, interpretado pelo que na época era o melhor intérprete de Bach – Karl Richter regendo sua Orquestra Bach de Munique.

Christian Ludwig Markgraf von Brandenburg

Como o tempo voa, fosse hoje possivelmente a mensagem não estaria em um disco, mas em um pen drive e poderia levar todos os seis concertos reunidos por Bach para encher os olhos do Margrave de Brandenburgo para que este lhe oferecesse um emprego. Certamente a disputa para ser o escolhido como o melhor intérprete dos Brandenburgos seria muito acirrada. Instrumentos de época, um instrumento apenas para cada parte, escolha do tom e essas coisas dariam panos para mangas.

Halstead

O fato é que neste 24 de março de 2021 a famosa dedicatória lisonjeira escrita por Bach para o Margrave completa 300 anos e como nós aqui do PQP Bach não perdemos a oportunidade de postar as coisas que gostamos, aqui vai mais uma ótima gravação destes seis lindíssimos concertos. A Hanover Band é uma das muitas pioneiras orquestras inglesas que se especializou em interpretar música antiga (barroca, clássica) usando instrumentos e práticas de época. Na verdade, se você observar os nomes dos instrumentistas verá que eles se repetem em várias outras orquestras similares. Mas aqui eles estão, nesta gravação, sob a regência e liderança de Anthony Halstead, que toca cravo em essencialmente todos os concertos, mas toca trompa no primeiro deles.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Concertos de Brandenburgo

CD 1

Concerto No.1 em fá maior, Bwv 1046

  1. [Allegro]
  2. Adagio
  3. Allegro
  4. Minuet -Trio 1 – Minuet 2 – Polonaise – Minuet 3 – Trio 2 – Minuet 4 7

Concerto No.3 em sol maior, Bwv 1048

  1. [Allegro]
  2. Adagio
  3. Allegro

Concerto No.4 em sol maior, Bwv 1049

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Presto

CD 2

Concerto No. 5 em ré maior, BWV 1050

  1. Allegro
  2. Affetuoso
  3. Allegro

Concerto No. 2 em fá maior, BWV 1047

  1. [Allegro]
  2. Andante
  3. Allegro assai

Concerto No. 6 em si bemol maior, BWV 1051

  1. [Allegro]
  2. Adagio ma non tanto
  3. Allegro

Hanover Band

Anthony Halstead

(Os nomes dos músicos em cada um dos concertos se encontram no encarte, junto com os arquivos musicais)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 477 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 300 MB

“The spacecraft will be encountered and the record played only if there are advanced spacefaring civilizations in interstellar space.”

– Carl Sagan

The Hanover Band’s gutsy playing stripped decades of varnish from the score with sound that was full-blooded…”

THE TIMES, EDINBURGH FESTIVAL

Aproveite!

René Denon

PS: Outra gravação porreta dos concertos do Margrave você encontrará aqui:

J. S. Bach (1685-1750): Concertos de Brandenburgo – Concerto Italiano & Rinaldo Alessandrini

J. S. Bach (1685-1750): Os Concertos de Brandenburgo (Freiburger Barockorchester) #BRANDENBURGAÇO

J. S. Bach (1685-1750): Os Concertos de Brandenburgo (Freiburger Barockorchester) #BRANDENBURGAÇO

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Neste 24 de março, os Concertos de Brandenburgo completam 300 anos de VIDA. Durante o dia de hoje, nós postaremos várias versões inéditas em nosso blog destes concertos. Já publicamos umas vinte, sei lá, mas hoje teremos um #BRANDENBURGAÇO

Eu, PQP Bach, escolhi postar a segunda versão da Freiburger Barockorchester, sem dúvida um dos maiores conjuntos barrocos em atividade. A gravação é estupenda! O 3º Concerto está vertiginoso e os restantes belíssimos!

O texto abaixo é a base de uma palestra sobre os Concertos de Brandenburgo que PQP Bach proferiu no StudioClio em 2017.  Divirtam-se. A palestra foi um sucesso. Também, né?, com esse tema…

.oOo.

Há uma série cômica de livros ingleses que nos ensina a como blefar culturalmente, a como falar sobre coisas que absolutamente desconhecemos. A série chama-se Manual do Blefador e divide-se em Literatura, Música, Filosofia, Artes Plásticas, etc. No livrinho de Música, o verbete Bach diz o seguinte: se você quiser impressionar um chefe ou uma potencial futura namorada ou namorado que conheça Bach, jamais tente enganá-los, pois a obra do compositor é muito extensa, há muita coisa de alta qualidade — as pessoas tornam-se fanáticas por ele — e não se pode adivinhar sobre o que fanático vai querer falar aquele dia. Então o jeito é preparar o melhor suspiro possível e dizer dramaticamente “Ah…, Bach!”, indicando que está absolutamente sem palavras. Deixe que o outro fale.

01 johann-sebastian-bach

Pois é surpreendente o porte e o grau de influência de Bach, assim como sua colocação como pedra fundamental de toda a nossa cultura musical. O mundo criado por Bach foi desenvolvido numa época em que não havia plena noção de obra; ou seja, Bach não se colecionava para servir à posteridade como os autores passaram a fazer logo depois. Ele escrevia para si, para seus alunos e contemporâneos. O que se sabe é que ele gostava das coisas bem feitas e era um brigão — passava grande parte de seu tempo solicitando mais e melhores músicos e procurando empregos mais rendosos. Tinha família enorme, conta-se 20 filhos, dos quais dez passaram pela alta mortalidade infantil do início do século XVIII.

À época, procurar empregos mais rendosos poderia ser um grande problema. Os empregadores consideravam traidores quem fazia isso. Por exemplo, quando Bach recebeu uma oferta do Príncipe Leopold, de Köthen – falaremos dele depois – Bach pediu permissão para deixar Weimar, onde trabalhava. Mas o Duque de Weimar não quis perder os serviços de seu brilhante músico e recusou o pedido. Como Bach insistisse, o Duque não teve dúvidas em colocá-lo na prisão, isso sem nenhum processo. Bach passou trinta dias preso.Porém, ao sair da prisão, em dezembro de 1717, partiu imediatamente para Köthen com sua família já de quatro filhos, sendo nomeado mestre de capela da corte do Príncipe Leopold.

Sabe-se pouco a respeito das opiniões e da vida não profissional de Bach, há apenas um episódio pessoal bem conhecido.

Johann_Sebastian_Bach_beer copy

Ele havia feito uma longa viagem de trabalho e ficara dois meses fora. Ao retornar, soube que sua mulher Maria Barbara e dois de seus filhos haviam falecido. Dias depois, Bach limitou-se a escrever no alto de uma partitura uma frase: “Deus, fazei com que seja preservada a alegria que há em mim!”. Pouco tempo depois ele casou de novo, continuou fazendo um filho depois do outro e, como não existiam, na época, equipes de futebol, ele pode criar, em seu próprio seio familiar, uma orquestra de câmara…

Bach costumava ganhar mais que seus colegas, mas nada que fosse espantoso. Ele era respeitado mais como virtuose do que como compositor — Telemann era considerado o maior compositor de sua época. Nosso herói também produzia cerveja em casa, mas este é um tema sobre o qual podemos falar outro dia. Pois ele, com toda esta família e mais alunos, produzia cerveja em enormes quantidades.

Príncipe Leopoldo de Köthen
Príncipe Leopoldo de Köthen

Por falar em quantidade, a perfeição e o número de obras que Bach criava e que era rápida e desatentamente fruída pelos habitantes das cidades onde viveu, era inacreditável. Tentaremos dar dois exemplos: (1) Suas obras completas, presentes na coleção Bach 2000, estão gravadas em 153 CDs. Grosso modo, 153 CDs são 153 horas ou 6 dias e nove horas ininterruptas de música… original.

Mas, como se não bastasse (2), ele parecia divertir-se criando dificuldades adicionais em seus trabalhos. Muitas vezes o número de compassos de uma ária de Cantata ou Paixão, corresponde ao capítulo da Bíblia onde está o texto daquilo que está sendo cantado. Em seus temas também aparecem palavras — pois a notação alemã (não apenas a alemã) é feita com letras. Ou seja, pode-se dizer que ele sobrava…

E imaginem que durante boa parte de sua vida Bach escrevia uma Cantata por semana. Em média, cada uma tem 20 minutos de música. Tal cota, estabelecida por contrato, tornava impossível qualquer “bloqueio criativo”. Pensem que ele tinha que escrever a música, copiar as partes e ainda ensaiar para apresentar domingo, todo domingo.

A capa dos concertos dedicados ao Margrave de Brandenburgo
A capa dos concertos dedicados ao Margrave de Brandenburgo

Poucas obras musicais são tão amadas e interpretadas como os seis Concertos de Brandenburgo. Tais concertos exibem uma face mais leve do gênio de Bach e, na verdade, fizeram parte de um pedido de emprego. Em 1721, aos 36 anos, Bach parecia feliz em Köthen. Ganhava adequadamente, seu patrono não só amava a música como era um músico competente.

O príncipe Leopoldo de Köthen, parte do Sacro Império Romano Germânico, gastava boa parte de sua renda para manter uma orquestra privada de 18 membros e convidava artistas viajantes para tocar com eles. A orquestra era excelente, com alguns dos melhores músicos daquela parte da atual Alemanha. Como calvinista, o Príncipe Leopoldo utilizava pouca música religiosa, liberando Bach para compor e ensaiar música instrumental. No entanto, o relacionamento pode ter azedado quando Bach solicitou a compra de um órgão. O pedido foi rejeitado. E vocês sabem como Bach era brigão.

O Margrave de Brandenburgo Christian Ludwig
O Margrave de Brandenburgo Christian Ludwig

Então, em 1721, Bach apresentou-se ao Margrave (comandante militar) Christian Ludwig de Brandenburgo. Ele foi com um manuscrito encadernado contendo seis concertos para orquestra de câmara com base nos Concertos Grossos italianos. Não há registro de que o Margrave tenha sequer agradecido a Bach pelo trabalho. Ele jamais imaginaria que aquele caderno — mais tarde chamado de Concertos de Brandenburgo — se tornaria uma referência da música barroca e ainda teria o poder de mover as pessoas quase três séculos mais tarde.

Em outras palavras, Bach escreveu os Brandenburgo como uma espécie de demonstração de suas qualidades, um currículo para um novo emprego. A tentativa deu errado. O Margrave de Brandenburgo nunca respondeu ao compositor e as peças foram abandonadas, sendo vendidas por uma ninharia após sua morte. Mesmo rejeitados, os Concertos de Brandenburgo sobreviveram em seus manuscritos originais, aqueles mesmos que tinham sido enviados para o Margrave de Brandenburgo no final de março de 1721. O título que Bach lhes dera era o de: “Seis Concertos para diversos instrumentos”).

Como foram encontrados? Ora, no inventário do Margrave dentro de um lote maior de 177 concertos de “obras mais importantes” de Valentini, Venturini e Brescianello.

Logo após a morte de Bach, sua música instrumental foi esquecida. Só sua música religiosa permaneceu, ainda que pouco interpretada.

Os Concertos de Brandenburgo são destaques de um dos períodos mais felizes e mais produtivos da vida de Bach. É provável que o próprio Bach tenha dirigido as primeiras apresentações em Köthen. O nome pelo qual a obra é hoje conhecida só apareceu 150 anos mais tarde, quando o biógrafo de Bach, Philipp Spitta, chamou-os assim pela primeira vez. O nome pegou.

Bach pensava nos concertos como um conjunto separado de peças. Cada um dos seis requer uma combinação diferente de instrumentos, assim como solistas altamente qualificados. O Margrave tinha sua própria orquestra em Berlim, mas era um grupo de executantes em sua maioria medíocre. Todas as evidências sugerem que estes concertos adequavam-se mais aos talentos dos músicos de Köthen.

Joshua Rifkin oferece uma explicação para que os Brandenburgo fosse ignorados por quem os recebera: “Como iria acontecer tantas vezes em sua vida, o gênio de Bach criava obras acima das capacidades dos músicos comuns e por isso eram esquecidas. Só mesmo em Coethen poderiam ser interpretadas!”. Com efeito, os Concertos permaneceram desconhecidos por meia dúzia de gerações, até que foram finalmente publicados em 1850, em comemoração ao centenário da morte de Bach. Mesmo assim, sua popularidade teria de esperar pelos toca-discos.

Os Concertos de Brandenburgo talvez sejam um dos maiores exemplos do pensamento criativo de Bach, pois compreende estilo contrapontístico, variedade de instrumentação, complexa estrutura interna e enorme profundidade. Eles não se destinavam a deslumbrar teóricos ou a desafiar intelectuais, mas sim causar puro prazer a músicos e ouvintes.

Manuscrito do terceiro Concerto de Brandeburgo de Bach
Manuscrito do terceiro Concerto de Brandeburgo de Bach

O concerto era a forma mais popular de música instrumental durante o barroco tardio, o principal veículo de expressão para os sentimentos, papel depois assumido pela sinfonia. Cada Brandenburgo segue a convenção do concerto grosso, em que dois ou mais instrumentos solo são destacados de um conjunto orquestral. Os concertos também observam a convenção de três movimentos, rápido-lento-rápido.

O único Concerto em quatro movimentos é o primeiro, ao qual foi adicionada uma dança final. Sua orquestração é incomum, podendo quase ser chamado de uma sinfonia. Talvez Bach quisesse dar um começo forte e rústico, destinado a alguém preguiçoso que fosse julgar o conjunto apenas por sua abertura.

Como dissemos, a inventividade de Bach também reside nas curiosas combinações instrumentais: no quarto concerto, por exemplo, o grupo habitual de cordas e contínuo acompanham o violino solo e duas flautas em um discurso musical brilhante. No quinto, Bach faz uso de uma flauta transversal, de violino e do cravo, mas o que resulta parece ser um antecessor dos grandes concertos para teclado. Ouçam, para exemplo, sua elaboradíssima cadenza do primeiro movimento.

Os outros concertos – a partir do N 2 – estão mais próximos do modelo de concerto grosso padrão. Para o meu gosto, apesar de suas qualidades, o Concerto Nº 1 é o patinho feio da coleção.

É a partir do segundo — para violino, flauta, oboé e trompete — que a leveza, a ousadia e a invenção tomam conta do conjunto, indo até o final. O concerto Nº 3 for escrito para 3 violinos, 3 violas, 3 violoncelos e contínuo, formado normalmente por cravo e contrabaixo. O Nº 4 foi escrito para violino e duas flautas. O 5º para flauta transversa, violino e cravo. O 6º é uma festa para as violas. Nem tem violinos.

Sem prejuízo dos outros concertos do ciclo, faço uma menção àquele que me trouxe para “dentro” da música erudita: o terceiro, que foi projetado para três grupos instrumentais que consistem em três violinos, três violas e três violoncelos, mais baixo contínuo. Escrito em três movimentos, com o segundo sendo um passeio no campo da improvisação, tem no primeiro e terceiro movimentos fascinantes e alegres temas e contrapontos, verdadeira exposição do virtuosismo de Bach como compositor. Para mim, ele é “o concerto barroco por excelência”.

(Sim, eu estava no banheiro quando meu pai colocou a agulha do toca-discos no começo do Concerto Nº 3. Saí de lá aos gritos, perguntando o que era aquilo. Nunca me recuperei).

(Em minha cabeça, esses concertos são das peças mais tocadas. Muitas vezes caminho pelas ruas assobiando-as. E tenho a melhor das convivências com elas).

J. S. Bach (1685-1750): Os Concertos de Brandenburgo (Freiburger Barockorchester)

Concerto No.1 In F Major BWV 1046
1-1 I. [Ohne Satzbezeichnung] 3:52
1-2 II. Adagio 3:40
1-3 III. Allegro 3:51
1-4 IV. Menuet – Trio I – Polonaise – Trio II 6:31

Concerto No.6 In B Flat Major BWV 1051
1-5 I. [Ohne Satzbezeichnung] 5:31
1-6 II. Adagio Ma Non Tanto 4:05
1-7 III. Allegro 5:38

Concerto No.2 In F Major BWV 1047
1-8 I. [Ohne Satzbezeichnung] 4:49
1-9 II. Andante 4:04
1-10 III. Allegro assai 2:37

Concerto No.3 In G Major BWV 1048
2-1 I. [Ohne Satzbezeichnung] – II. Adagio 5:37
2-2 III. Allegro 4:41

Concerto No.5 In D Major BWV 1050
2-3 I. Allegro 9:26
2-4 II. Affettuoso 5:44
2-5 III. Allegro 5:10

Concerto No.4 In G Major BWV 1049
2-6 I. Allegro 6:42
2-7 II. Andante 3:39
2-8 III. Presto 4:24

Freiburger Barockorchester

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

A Freiburger Barockorchester ao chegar na recepção da PQP Bach Corp. a fim de suplicar que postássemos logo este CD.

PQP

C.P.E. Bach (1714-1788): Integral dos Concertos para Flauta e Orquestra

C.P.E. Bach (1714-1788): Integral dos Concertos para Flauta e Orquestra

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Sou apaixonado por vários destes concertos em que mano CPE se esmera a fim de dar boa música para o iluminista Frederico II. A propósito, vocês deveriam ler Uma Noite no Palácio da Razão, onde é narrado o encontro de J.S. Bach com Frederico, o Grande. O encontro, como vocês devem saber, foi patrocinado por Carl Philipp Emanuel. A obra é de James R. Gaines.

Este CD é extraordinário. Embora empregado por mais de 25 anos pelo mais poderoso de todos os flautistas, Frederico II, Carl Philipp Emanuel Bach escreveu apenas uma vez um concerto especificamente para flauta. Mas, como seu pai, ele às vezes transcrevia a mesma obra para diferentes solistas. Ele fez versões para flauta de vários concertos para teclado (três também têm versões para violoncelo) com tal habilidade que nem por um momento parecem arranjos. O estilo de CPE não tem nada de convencional. Ele é exclamativo e fragmentário, muito diferente de tudo o que foi feito antes ou depois. É também altamente expressivo e lírico, difícil de descrever em palavras.

Patrick Gallois, flauta principal da Orquestra Nacional da França, é um instrumentista preciso e de belo fraseado, à altura das exigências técnicas da música. Ele toca a sonata solo de um modo bastante improvisado. Kevin Mallon dirige o Toronto Camerata com muito espírito. Mas acho que esses concertos soariam melhor com instrumentos de época.

C.P.E. Bach (1714-1788): Integral dos Concertos para Flauta e Orquestra

Disc 1:

Flute Concerto in A minor, Wq. 26, H. 430
I. Allegro assai 00:09:15
II. Andante 00:06:48
III. Allegro assai 00:07:15

Flute Concerto in B flat major, Wq. 167, H. 435
I. Allegretto 00:07:58
II. Adagio 00:07:32
III. Allegro assai 00:05:55

Sonata in A minor for Solo Flute, Wq. 132, H. 562
I. Poco adagio 00:03:19
II. Allegro 00:04:47
III. Allegro 00:04:19

Disc 2:

Flute Concerto in A major, Wq. 168, H. 438
I. Allegro 00:05:43
II. Largo con sordini, mesto 00:09:00
III. Allegro assai 00:05:13

Flute Concerto in G major, Wq. 169, H. 445
I. Allegro di molto 00:11:09
II. Largo 00:08:01
III. Presto 00:05:20

Flute Concerto in D minor, Wq. 22, H. 484/1
I. Allegro 00:08:42
II. Un poco andante 00:08:47
III. Allegro di molto 00:06:53

Patrick Gallois, flute
Toronto Chamber Orchestra
Kevon Mallon, Conductor

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Patrick Gallois em tons de cinza

PQP

O Mestre Esquecido, capítulo XIII (Grieg: – Sonata no. 3 para Violino e Piano – Ravel: Habanera – Sonata para Violino e Piano – Wanda Wiłkomirska e Antonio Guedes Barbosa)

Esse disco ficou por último porque foi, a princípio, o mais difícil de conseguir: o LP que consegui por vias convolutas tinha o lado de Ravel em boas condições, e o de Grieg praticamente talhado de borda ao centro. Consegui, depois, o que faltava numa cópia de fita cassete (que era isso, djóvens) sofrivelmente audível. Ao retomar as publicações, mandaram-me uma ripagem em 192 Kbps e eu estava achando tudo muito bom, até que outro leitor-ouvinte me mandasse primeiramente uma digitalização impecável de um LP, depois uma cópia dum CD japonês, e, por fim, o próprio CD – uma gentileza inacreditável, pela qual publicamente agradeço o benfeitor que preferiu manter-se anônimo.

A espera valeu a pena. Antonio e Wanda entendem-se muito bem na bonita sonata de Grieg, talvez a melhor de suas peças de câmara, numa leitura que equilibra os muitos frêmitos apaixonados sob o lirismo tão típico do autor. Do outro lado do LP, um mundo completamente diferente: Ravel, o século XX, e o fascínio do pireneu tanto pela música da Espanha quanto por aquela que ebulia no caldeirão cultural dos Estados Unidos. A primeira é representada por uma interpretação etérea da Habanera, que Wilkomirska faz cantar mui expressivamente, e a segunda, pela sonata sui generis,  embriagada de jazz e blues. Ravel insistia que piano e violino eram tão incongruentes quanto seus mecanismos e técnicas, e seu desafio de combiná-los, que culminou na sensacional Tzigane, passou por essa curiosa sonata em que os instrumentos parecem autônomos, mesmo imiscíveis. Os músicos, cientes dessa estranheza, fingem dar as costas um para o outro, capricham no colorido de seus solilóquios e levam a sonata – e sua própria parceria musical – a um epílogo muito assertivo.

Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)

Sonata para violino e piano no. 3 em Dó menor, Op. 45
1 – Allegro molto ed appassionato
2 – Allegretto espressivo alla romanza
3 – Allegro animato

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)

Vocalise-étude en forme de habanera (arranjo para violino e piano)
4 – Presque lent et avec indolence

Sonata para violino e piano
5 – Allegretto
6 – Moderato (Blues)
7 – Allegro (perpetuum mobile)

Wanda Wiłkomirska, violino
Antonio Guedes Barbosa, piano

LP da Connoisseur Society, lançado em 1971 nos Estados Unidos:
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

CD da Connoisseur Society, lançado em 1986:
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Nenhum deles – como já devem ter adivinhado – teve qualquer lançamento no Brasil


Gravação ao vivo de Antonio solando o Concerto para piano e orquestra de Ronaldo Miranda (1948), acompanhado pela Orquestra Sinfônica Brasileira regida por Miltíades Carides, em 19/6/1985 – mais uma das preciosidades da cornucópia do Instituto Piano Brasileiro, diariamente abastecida por Alexandre Dias, seu incansável diretor, cujo trabalho eu fortemente recomendo conhecer e, acima de tudo, apoiar.

Vassily

J. S. Bach (1685-1750): As Seis Suítes para Violoncelo (Truls Mørk)

J. S. Bach (1685-1750): As Seis Suítes para Violoncelo (Truls Mørk)

Passei um tempo pensando por onde começar. Acho muito importante iniciar um trabalho que você curte fazer com o pé direito. Minha dúvida era: “qual compositor?”. Acabei por fazer a escolha mais óbvia. As Seis Suítes para Violoncelo de J. S. Bach é minha obra favorita. Tenho muitas versões destas suítes. Escolhi esta por ser a que mais estudo, escuto, admiro e gosto. Existem centenas de composições para violoncelo.  Algumas boas, outras nem tanto. Sempre encontro algum movimento meio chato ou desnecessário em obras de outros compositores. Mas com Bach é diferente. Afinal, Bach é Bach. Todas as seis suítes são maravilhosas. A primeira é fantástica. A segunda também. A terceira… E assim por diante! Nada aqui é ruim. E isso é muito raro de se encontrar em outras obras. Truls Mørk  é o violoncelista responsável por mudar minhas convicções! Por muito tempo considerei a versão do mestre Anner Bylsma como a versão definitiva. Então, Steven Isserlis apareceu e me fez ficar dividido. Truls Mørk apareceu e me fez não abandonar Isserlis e Bylsma , mas os colocar em segundo e terceiro lugar, respectivamente.  Por quê? Ora, tudo, absolutamente tudo o que o violoncelista norueguês faz aqui é extremamente barroco. É a música de Bach. E ela flui com perfeição! Para mim, esta é a MELHOR versão das suítes para violoncelo de Bach! Duvida? Baixe e prove – me o contrário! ^^

Obs.: Para mais informações sobre Truls Mørk , clique aqui.

J. S. Bach (1685-1750): As Seis Suítes para Violoncelo (Truls Mørk)

CD 01
1. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Prélude (Moderato)
2. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Allemande (Molto moderato)
3. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Courante (Allegro non troppo)
4. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Sarabande (Lento)
5. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Menuett I & II (Allegro moderato)
6. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Gigue (Vivace)

7. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Préludium
8. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Allemande
9. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Courante
10. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Sarabande
11. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Menuett I & II
12. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Gigue

13. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Préludium
14. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Allemande
15. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Courante
16. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Sarabande
17. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Bourrées I & II
18. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Gigue

CD 02
1. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Prélude (allegro maestoso)
2. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Allemande (Allegro moderato)
3. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Courante (Allegro non troppo)
4. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Sarabande (Lento)
5. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Bourrée I & II
6. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Gigue (Vivace)

7. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Prélude (Adagio – Allegro moderato)
8. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Allemande (Molto moderato)
9. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Courante (Allegro non troppo)
10. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Sarabande (Lento)
11. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Gavotte I & II
12. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Gigue (Allegretto)

13. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Prélude (Allegro moderato)
14. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Allemande (Quasi adagio)
15. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Courante (Allegro non troppo)
16. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Sarabande (Lento)
17. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Gavotte I & II (Allegro moderato)
18. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Gigue (Vivace)

Cello – Truls Mørk

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Truls Mørk na masmorra heterossexual do PQP Bach. Lá, são oferecida(o)s virgens do sexo oposto aos presos, os homens recebem mulheres, as mulheres, homens, 10 por noite, às 10 da noite.

Alfred Schnittke (1934-1998): Peças para Violino e Piano (Hope / Botvinov)

Alfred Schnittke (1934-1998): Peças para Violino e Piano (Hope / Botvinov)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Eu gosto muito da música de Schnittke. Seu estilo altamente culto e poliestilístico me agradam muito. A gente está ouvindo uma obra moderna quando entra um tango, um Mozart ou algo burlesco. Ele sempre foi muito bem humorado, porém, em 1985, sofreu o primeiro de vários AVCs. À medida que sua saúde se deteriorava, o compositor foi abandonando a extroversão do poliestilismo, adotando um estilo mais introspectivo e sombrio.

Este disco é muito eclético. Hope disse em entrevistas que refletiu muito sobre as peças do mesmo, mas o resultado parece desorganizado. A Suíte no Estilo Antigo é colocada em primeiro lugar, e a Sonata Nº 1 é cercada por um grupo de cinco peças avulsas. É estranho que a Segunda Sonata não esteja incluída, especialmente porque é a única grande obra de câmara para violino de Schnittke que Hope ainda não gravou. Presumivelmente, isso reflete uma preocupação de que a Segunda Sonata possa ofuscar a Primeira, que é claramente o objeto principal das afeições de Hope aqui. Mas o programa variado tem a vantagem de incluir muitos aspectos da produção de Schnittke, a precoce e a tardia, a séria e a irreverente.

A Noite Feliz dele é… Bem, ouçam! Vale a pena! E esplêndida a Sonata Nº 1 que termina com La Cucaracha? E a sentida homenagem a Kagan?

Alfred Schnittke (1934-1998): Peças para Violino e Piano

Suite In The Old Style
01 I. Pastorale 2:59
02 II. Ballet 2:15
03 III. Minuet 3:07
04 IV. Fugue 2:40
05 V. Pantomime 4:05

06 Polka 1:47

07 Tango 3:01

Sonata No. 1
08 I. Andante 2:47
09 II. Allegretto 4:56
10 III. Largo 5:17
11 IV. Allegretto Scherzando 4:53

12 Madrigal In Memoriam Oleg Kagan 9:13

13 Congratulatory Rondo 7:24

14 Silent Night 4:46

Daniel Hope, violino
Alexey Botvinov, piano

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Schnittke

PQP

Marshall / Bryars / Pärt: Out of the Darkness (Pappenheim)

Marshall / Bryars / Pärt: Out of the Darkness (Pappenheim)

Um bom disco que vale a pena pela peça de Julian Marshall e pela de Arvo Pärt.

Out of the Darkness, de Marshall, é uma cantata, mas talvez fosse melhor descrita como uma linda sequência de canções. Spiegel im Spiegel, de Pärt, dispensa comentários. E achei The Island Chapel , de Bryars, meio chatinha.

Out of the Darkness é uma cantata secular para mezzo-soprano, dois violoncelos e oito vozes. A inspiração para a peça é o poema Aus dem Dunkel (Out of the Darkness), de Gertrud Kolmar. Kolmar viveu em Berlim por grande parte de sua vida, mas foi transportada para Auschwitz em 1943, onde morreu. Sua poesia é surpreendentemente cheia de vida Aus dem Dunkel, é certamente uma das mais belas. Escrito em 1937, o poema evoca o desmoronamento e a decadência – servindo como uma predição assustadora da onda iminente de horror prestes a atingir o mundo.

Spiegel im Spiegel pode significar literalmente tanto “espelho no espelho” quanto “espelhos no espelho”, referindo-se a um espelho infinito , que produz uma infinidade de imagens refletidas por espelhos planos paralelos. A peça foi escrita originalmente para um violino e piano e violino — embora o violino tenha sido frequentemente substituído por um violoncelo — como no caso deste CD —  ou uma viola . Também existem versões para contrabaixo, clarinete, trompa, flugelhorn, flauta, oboé, fagote, trombone e percussão.

The Island Chapel foi escrita para ser apresentada na Capela de St. Nicholas, St. Ives, bem no sudoeste da Inglaterra, na Cornualha. A capela é um edifício simples e minúsculo, isolado e com vista para o mar por três lados. Então a “Ilha” é estritamente uma península (para James Joyce, “a disappointed island”) e no quarto lado ela olha para trás em direção à cidade e à Tate Gallery.

Marshall / Bryars / Pärt: Out of the Darkness (Pappenheim)

Marshall, Julian: Out of the Darkness

1 Prologue 3:46
2 One 5:49
3 Two 4:50
4 Three 4:30
5 Four 4:06
6 The River 6:22
7 Six 6:00

Melanie Pappenheim (mezzo-soprano)
Sophie Harris (cello)
Lucy Railton (cello)
School House 6 Ensemble
Howard Moody

8 Bryars, Gavin: The Island Chapel 17:06

Melanie Pappenheim (mezzo-soprano)
Sophie Harris (cello)
Ian Belton (keyboards)

9 Pärt, Arvo: Spiegel im Spiegel 8:23

Sophie Harris (cello)
Ian Belton (piano)

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Melanie Pappenheim não apenas canta esplendidamente como costuma pifar os atacantes de seu time

PQP

.: interlúdio, pero no mucho :. Pat Metheny: Road to the Sun (2021)

.: interlúdio, pero no mucho :. Pat Metheny: Road to the Sun (2021)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

A carreira de quase 50 anos de Pat Metheny sempre equilibrou a tensão entre dois polos de desenvolvimento: (1) o refinamento e a expansão do alcance técnico e estético de sua “voz” virtuosa e exuberantemente romântica e (2) a construção de uma linguagem composicional ampla e em constante evolução que combina sofisticação harmônica e rítmica com acessibilidade. Road to the Sun é uma obra-prima e é o primeiro mergulho do violonista na composição de música clássica para violão.

O conjunto é composto primeiramente por duas longas suítes. A primeira metade do CD é dedicada aos quatro movimentos Four Paths of Light, escrita e interpretada pela sensação do violão clássico Jason Vieaux, cujas gravações abraçam o cânone do violão clássico, mas também o expandem para incluir modernistas como Astor Piazzolla, Baden Powell e Ernst Mahle. (Em 2005, Vieaux lançou Images of Metheny , no qual ele recriou as composições do jazzista para violão clássico solo). Como um todo, Four Paths of Light não lembra muito… Metheny. O primeiro e o quarto movimentos, altamente arpejados, cruzam o flamenco, o choro, o samba e os estudos clássicos pós-românticos, sem nunca revelar uma forma dominante. O segundo movimento lânguido é mais esparso e, bem, aqui parece o Metheny de New Chautauqua, de 1979 .

A suíte título em seis movimentos é composta para e executada pelo Los Angeles Guitar Quartet, formado por John Dearman , William Kanengiser , Scott Tennant e Matthew Greif. A estilo deles é o crossover. Seus shows e gravações envolvem de tudo, desde clássico e flamenco até o bluegrass, o rockabilly e o death metal. Road to the Sun une o impressionismo clássico de Debussy e Ravel a Django Reinhard. Os elementos de chamada e resposta são fundamentais no primeiro movimento, ao mesmo tempo hipnótico e sedutor. Reflete a influência de compositores clássicos canônicos como Francisco Tárrega. Depois, temos um familiar estilo “brasileiro”. Dá para pensar na obra César Guerra-Peixe. A parte quatro é construída de glissandi dos violões antes que a percussão dos mesmos nos dê uma sensação de desorientação e deslocamento. No quinto movimento, o dedilhar veloz de Metheny se junta ao do quarteto. Seu toque é inconfundível.

O CD é finalizado por uma leitura solo da peça para piano Für Alina de Arvo Pärt, tocada por Metheny no violão Pikasso I de 42 cordas e múltiplos braços. Road to the Sun apresenta as marcas musicais de Metheny, mas com um toque de coragem que vou lhes contar. E ele se sai brilhantemente na empreitada, revelando novas maneiras de confundir as fronteiras entre os gêneros.

O guitarrista e compositor Pat Metheny ganhou 20 prêmios Grammy em 12 categorias diferentes, incluindo Melhor Rock Instrumental, Melhor Gravação de Jazz Contemporâneo, Melhor Solo Instrumental de Jazz e Melhor Composição Instrumental. O Pat Metheny Group ganhou sete Grammys consecutivos em sete álbuns consecutivos. Sim, não é mole.

Pat Metheny: Road to the Sun (2021)

1. Jason Vieaux – Pat Metheny: Four Paths of Light, Pt. 1
2. Jason Vieaux – Pat Metheny: Four Paths of Light, Pt. 2
3. Jason Vieaux – Pat Metheny: Four Paths of Light, Pt. 3
4. Jason Vieaux – Pat Metheny: Four Paths of Light, Pt. 4

5. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 1
6. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 2
7. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 3
8. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 4
9. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 5
10. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 6

11. Pat Metheny – Arvo Pärt: Für Alina (arr. Pat Metheny for 42 string guitar)

Los Angeles Guitar Quartet
Pat Metheny
Jason Vieaux

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

A Pikasso I foi criada e feita à mão pela luthier canadense Linda Manzer, a qual demorou dois anos para fabricá-la. Este violão acústico de 42 cordas e três braços foi popularizada por Pat Metheny.

PQP

Bach (1685-1750): Variações Goldberg, BWV 988 – Maggie Cole, cravo ֎

Bach (1685-1750): Variações Goldberg, BWV 988 – Maggie Cole, cravo ֎

 

Bach

Variações Goldberg

Maggie Cole, cravo

 

 

Depois de tanto tempo sentado diante de suas anotações cheias de diagramas e fórmulas, o homem começou a pestanejar, entrando em um estado de torpor. A luz tremula vinda das chamas da lareira ajudava a fazer com que as fórmulas e esquemas começassem lentamente a se mover, primeiro no papel, depois pairando sobre a atulhada mesa de trabalho, girando numa estranha dança.

Havia já bastante tempo que ele buscava uma representação para a descoberta que satisfizesse os axiomas da teoria, mas era um terrível quebra-cabeça que sempre terminava com alguma peça sobrando ou faltando. Tantas vezes percorrera aquelas sendas e caminhos em seus pensamentos que só mesmo com muita persistência continuava tentando descobrir a solução do desafio.

August Kekulé

Foi então que entre as fórmulas que lhe dançavam diante dos olhos percebeu algo de novo, uma cobra que se enrolava, se enroscava e finalmente, abocanhava o próprio rabo. Ele acordou subitamente e num estalo fechou a questão. A cobra engolindo seu próprio rabo é um símbolo que lhe indicou a solução para o problema que tanto lhe desafiara – uma estrutura cíclica – um anel acomodando os seis átomos de carbono, cada um com quatro ligações, e mais seis átomos de hidrogênio com uma ligação cada – a molécula de benzeno! Quem contou esta história foi o próprio cientista, o químico Friedrich August Kekulé, que em 1865, aos 36 anos resolveu com um insight o problema de encontrar o modelo da estrutura da molécula de benzeno, inspirado no famoso símbolo da cobra engolindo o próprio rabo – ouroboros – que lhe ocorrera em um sonho.

A sensação de fazer uma descoberta como esta é inebriante e é uma das razões pelas quais muitas pessoas dedicam seu tempo e energia e talentos buscando ampliar o que já conhecemos. Mesmo modestas, pequenas descobertas ou até a resolução de um pequeno problema já indica como isto pode ser atraente e fascinante.

Eu lembrei desta história, de uma estrutura circular, quando estava a caça de uma boa gravação das Variações Goldberg, parte da minha busca de gravações das obras para teclado de João Sebastião Ribeiro interpretadas ao cravo. Eu sempre me esforço para poder ouvir a obra toda, o ciclo que se fecha na repetição da ária, ouroboros!

Maggie Cole

Dois critérios são importantes para minhas escolhas nestas postagens com música interpretada ao cravo. A qualidade do som e o andamento usado pelo intérprete, itens essenciais, na minha opinião. Meus candidatos para a postagem envolviam, além da escolhida Maggie Cole, Kenneth Gilbert no selo harmonia mundi e Pierre Hantaï, na primeira de suas gravações, no selo Opus 111. Hantaï é o queridinho de vários de nossos blogueiros e não é por pouca coisa, o cara é um bamba. Portanto, sua gravação já foi postada aqui. Assim, fiquei ouvindo Maggie, depois Kenneth, Kenneth de novo, depois Maggie, que acabou ganhando por pequeniníssimos detalhes. A gravação dela tem as repetições, por exemplo. O disco tem uma capa muito bonita e o selo Virgin Classics deixou saudades. De qualquer forma, para os dias com menos tempo para música, Kenneth Gilbert will fill the bill, nicely!

A música, bem, o que dizer? Que é uma das mais lindas que o grande João compôs? Que o Quodlieb e a Pérola Negra são as coisas mais lindas que você já ouviu? Que quando a ária é tocada pela primeira vez e ao seu final, ao passar para a primeira das variações, meu coração se enche de alegria? Bom, a tudo isto acrescento que quando a ária retorna, fechando o ciclo, sinto grande satisfação e tenho que me conter para não recomeçar tudo de novo.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Variações Goldberg

Maggie Cole, cravo

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 514 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 180 MB

“A graceful, vital musician with an elegant technique and a razor-sharp feeling for phrasing and accent.”

New York Times

“Maggie Cole’s spirited, poetic and disciplined playing illuminates each and every one of Bach’s Goldberg Variations on her Virgin Classics recording.”

Gramophone

“Cole’s recording of the Goldberg Variations is a wonderful surprise musically and acoustically. She glides across the keyboard with great grace, and in the technically demanding passages, Bach’s intricate music is displayed to awesome effect.”

Billboard

Está esperando o que?

Aproveite!

René Denon

Maggie Cole nos jardins do Palacete PQP Bach no Cosme Velho, explicando como consegue aquelas perfeitas cruzadas de mãos para o atônito comitê do PQP Bach local…

Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893): Concertos para Piano Nº 1 e 2 (Matsuev / Gergiev)

Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893): Concertos para Piano Nº 1 e 2 (Matsuev / Gergiev)

Os dois concertos para piano de Tchaikovsky (que cabem convenientemente em um CD) exibem suas melodias exuberantes, às vezes folclóricas e abraçando o nacionalismo russo, mas mostrando sua capacidade de elevar a música além do rótulo nacionalista. Embora a história tenha um pano de fundo especial para essas obras, elas são apreciadas por suas qualidades musicais, pois são ousadas, virtuosas e resistiram ao teste do tempo. O segundo concerto menos conhecido é igualmente melódico, inovador e emocionante por si só. Eu não sou um apaixonado pelo Concerto Nº 1, mas pelo segundo. Porém, em ambos os concertos, é difícil não gostar da execução de Denis Matsuev e da Orquestra Mariinsky de Valery Gergiev. São registros entusiasmados e com momentos empolgantes. Mesmo nas passagens altamente elaboradas do Nº 2 — ele toca a revisão do Concerto do próprio Tchaikovsky –, Matsuev aparece tocando com enorme e verdadeiro prazer, enquanto também há muito refinamento no movimento lento com seus solos de violino e violoncelo, o que faz com que ele praticamente se torne um concerto triplo. Um bom disco!

Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893): Concertos para Piano Nº 1 e 2 (Matsuev / Gergiev)

Piano Concerto No. 1
1 l. Allego Non Troppo E Molto Maestoso Allegro con Spirito 22:02
2 ll. Andantino Semplice – Prestissimo 6:35
3 lll. Allegro Con Fuoco 6:50

Piano Concerto No. 2
4 l. Allegro Brillante E Molto Vivace 21:21
5 ll. Andante Non Troppo 14:32
6 lll. Allegro Con Fuoco 7:12

Denis Matsuev
Orchestra Of The Mariinsky Theatre
Valery Gergiev

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Matsuev e Gergiev agradecem seu aplauso

PQP

A Obra Completa de Béla Bartók (1881-1945): Obras para Violino e Piano (Ehnes / Armstrong) #BRTK140

A Obra Completa de Béla Bartók (1881-1945): Obras para Violino e Piano (Ehnes / Armstrong) #BRTK140

A Voz do Dono

O ideal seria que todos os violinos desta cidade e de cada aldeia fossem cortados em dois. Depois, seriam pendurados em salgueiros, e os violinistas que tocam as danças seriam pendurados pelas pernas ao lado deles.

De uma publicação religiosa húngara de 1681

Nos filmes de Kusturica são ciganos. Quando estão pedindo no metrô, são romenos. Quando vivem em casas, são “ex-ciganos.” Quando muito pobres, são ladrões. Quando têm bons carros, também são ladrões. A imagem negativa é a do pobre nômade pedinte e sem lei. A positiva é a ser rebelde orgulhoso, livre e… músico, quase sempre violinista.

A música para violino da Hungria, Romênia, Moldávia e adjacências é conhecida em todo o mundo por sua paixão e virtuosismo e, para os não nativos, tal música é sinônimo de fogueira, estrada e ciganos. A música para violino húngara é música cigana? Sim, pois, no mínimo, ela foi muito influenciada. No entanto, dentro do país você encontrará um ressentimento considerável em relação a esse estereótipo e, embora haja muito apreço pela habilidade dos violinistas ciganos, ela é considerada música húngara, não música cigana. Mas a polêmica ainda é quente.

O húngaro Franz Liszt deu o tiro de abertura ao publicar seu livro Os ciganos e sua música na Hungria em 1859. Ele já era conhecido por apreciar a música cigana e pela publicação, em 1853, de suas Rapsódias Húngaras. O que causou ira entre seus conterrâneos foi sua afirmação de que, embora a música tradicional de aldeia na Hungria seja “modesta e imperfeita” e digna de pouco respeito, a música instrumental das orquestras ciganas húngaras é “capaz de competir com qualquer coisa em sua sublimidade e na ousadia de emoção, além da perfeição de sua forma”. Este não era um assunto a ser tratado levianamente. Dificilmente haverá um país tão intensamente patriótico do que a Hungria, e os meados do século XIX foi um período de grande nacionalismo, pois o país tentava, sem sucesso, libertar-se do Império Habsburgo. A música tornou-se o foco deste florescimento do nacionalismo só que, desde os anos 1760, a música húngara esteve em grande parte nas mãos de orquestras ciganas. O que Liszt afirmava era que sem os ciganos, a música húngara seria insignificante, enquanto seus detratores afirmavam que, embora ninguém duvidasse ou deixasse de valorizar a contribuição dos “novos húngaros” — como eram eufemisticamente conhecidos os ciganos –, o que eles tocavam era fundamentalmente música húngara.

Pondo lenha na fogueira, Kodaly escreveu em 1960: A música folclórica húngara não é de forma alguma uma criação dos ciganos, como ainda é frequentemente afirmado como resultado do erro monumental de Franz Liszt. Os anti-Liszt, por assim dizer, acusavam o compositor de nem ter aprendido húngaro em sua vida, de ter passado a maior parte de sua vida no exterior e de, portanto, não estar bem posicionado para comentar com precisão o que compreendia da música folclórica húngara. Faltaria a ele o tal lugar de fala.

Os ciganos viviam na Hungria desde o século XV. Um rei lhes deu liberdade de movimentos em 1423. O século XVII viu a partida dos turcos e a abertura do país às influências ocidentais e da igreja — o que foi particularmente importante para a introdução do conceito de harmonia. Para os músicos nativos de aldeias húngaras, a Reforma da igreja, como em muitas partes da Europa Ocidental, foi sentida como um endurecimento das atitudes em relação à música, dança e prazer pecaminoso geral.

No século XX, com a sofisticação crescente do repertório urbano, um grande abismo começava a se abrir entre este e o repertório rural mais simples, terreno e rústico. Inevitavelmente, alguns intelectuais começaram a considerar o repertório urbano muito longínquo de sua fonte. Foi assim que Bartók, ainda muito jovem e impressionado ao ouvir uma empregada da vizinhança cantando em linda melodia que a maçã vermelha caiu na lama, começou a desenvolver um fascínio pessoal pela música primitiva do interior da Hungria, e iniciou uma busca para coletar o máximo que pudesse. “Nos chamados círculos urbanos de cultura” observou Bartók, “o tesouro inacreditavelmente rico da música folclórica era inteiramente desconhecido. Ninguém sequer suspeitou que esse tipo de música existisse”. Usando uma máquina de gravação cilíndrica Edison, ele começou em 1906 uma série de expedições, gravando e transcrevendo um total impressionante de 10.000 músicas. Muitas delas foram coletadas nas áreas de língua húngara além das fronteiras atuais, como a Transilvânia da atual Romênia. Bartók, junto com seu colega e compositor Kodály, incorporou muitos dos temas, formas e modalidades em suas composições, criando com sucesso uma música que era ao mesmo tempo muito moderna e repleta do que era visto como o verdadeiro espírito da Hungria antiga. Eles trabalharam em conjunto, dividindo sistematicamente entre si as regiões do país e outras regiões de língua húngara para pesquisa e estudo.

Eles também reabriram a controvérsia Liszt, rejeitando a ideia de que a música cigana e a húngara estivessem inextricavelmente ligadas. Ao colecionar melodias, procuravam sempre selecionar materiais que não tivessem sido “contaminados” pela influência cigana. Para citar Sarosi; “Aos olhos de Bartók e Kodaly, o grave pecado dos músicos ciganos desde o final do século XVIII foi servir à moda e ao entretenimento de quem os pagava, intrometendo um decadente repertório urbano mais recente na autêntica cultura popular. ” Essa visão ainda é controversa, até porque no passado a aristocracia húngara patrocinava ciganos e sua música de verbunkos e csardas. Sugerir que o coração da cultura húngara não estava com eles, mas com os camponeses iletrados, é uma ideia estranha, bem polêmica.

Não vamos resolver a questão aqui, é claro. A nobreza europeia, especialmente em países como Rússia, Romênia e Hungria, há muito tem um fascínio pelo romance, pelo mistério e pelo exotismo dos ciganos e têm sido patrocinadores voluntários deles. No século XIX, a Hungria, a maioria da nobreza rural mantinha sua própria orquestra cigana. Não existe um estilo de música cigano único. Pensem na extensão coberta pelo flamenco, pelo jazz cigano de Django Reinhardt, pelo hard jazz / rock romeno de Ivo Popozov, pela música crua de Taraf de Haiduks, por Goran Bregovic, etc.

O que é comum a todos é a grande aptidão dos músicos, adotando sistematicamente a postura de aprender os repertórios locais e, geralmente, aprimorando-os através do virtuosismo, da improvisação e do fato de serem showmen. Como viajantes periódicos, os ciganos têm sido uma força importante na polinização musical, pois além de dominarem o repertório local, podem introduzir técnicas e sabores que parecem misteriosos e exóticos.

Resumido e (muito) adaptado a partir deste texto de Chris Haigh.

.oOo.

James Ehnes tem uma notável noção de conteúdo musical. Faz música russa com sotaque russo, faz bartók com sotaque, bem, local… É um violinista maior, sem dúvida, alguém de vasta cultura musical. O que ele faz sempre corre o risco de tornar-se a nova lei.  Neste CD duplo, há, por baixo, quatro obras-primas: as Sonatas Nº 1 e 2, a Sonata para Violino Solo e as Danças Folclóricas Romenas.

A Sonata para Violino Solo Sz. 117, BB 124, foi estreada por Yehudi Menuhin, a quem foi dedicada, em Nova York em 26 de novembro de 1944. Menuhin encomendara um trabalho para violino solo em novembro de 1943. Ele foi escrito em Nova York e em Asheville, Carolina do Norte, onde Bartók fazia tratamento para leucemia. Bartók terminou de compor a peça em março de 1944. Ele escreveu cartas a Menuhin em abril e junho de 1944 para concordar com pequenas alterações para tornar a Sonata mais fácil de tocar. A Sonata Solo apresenta muitas dificuldades aos violinistas e utiliza toda uma gama de técnicas — várias notas tocadas simultaneamente, pizzicato para a mão esquerda executado simultaneamente com uma melodia tocada com o arco, etc.

A primeira sonata de Bartok para violino e piano foi escrita em 1903 — CD 2, faixas de 5 a 7 — e friamente recebida por Leopold Auer e outros membros do júri do Prix Rubinstein em Paris em 1905. A primeira sonata numerada e publicada, a Sonata para Violino No.1, em três movimentos, foi escrita nos últimos três meses de 1921 e dedicada à violinista húngara Jelly d’Aranyi, sobrinha-neta de Joachim, que estreou a obra com Bartók em Londres no dia 24 de março de 1922, seguida de uma performance em Paris. Entre julho e novembro do mesmo ano, ele escreveu uma segunda sonata para Jelly d’Aranyi, que ela executou pela primeira vez com o compositor em Londres em 7 de maio de 1923. Ambas as sonatas são altamente originais e muitas vezes adstringentes, mostrando evidente influência húngara na figuração rítmica, na escolha de certos intervalos melódicos e no humor. Foi também para Jelly d’Aranyi que Ravel, um compositor também fascinado pelos problemas de combinar o timbre das cordas com as qualidades percussivas do piano, escreveu sua Tzigane.

As Danças Folclóricas Romenas formam uma suíte de seis peças curtas para piano compostas por Béla Bartók em 1915. Mais tarde, ele as orquestrou para duos e pequeno conjunto. É baseada em sete canções romenas da Transilvânia, originalmente tocadas com violino ou flauta de pastor.

Béla Bartók (1881-1945): Obras Completas para Violino e Piano (Ehnes / Armstrong) #BRTK140


CD 1

Rhapsody No. 1, BB 94a (Folk Dances) (1928) (10:25)
1 I. (‘Lassú’.) Moderato – 4:32
2 II. (‘Friss’.) Allegretto Moderato – 3:47
3 [Agitato] 2:06

Sonata No. 2, BB 85 (In C Major) (1921) (20:07)
4 I. Molto Moderato – 8:29
5 II. Allegretto 11:36
Rhapsody No. 2, BB 96a (Folk Dances) (10:33)
6 I. (‘Lassú’.) Moderato – 4:20
7 II. (‘Friss’.) Allegretto Moderato – 6:11

Sonata No. 1, BB 84 (In C Sharp Minor) (1921) (33:35)
8 I. Allegro Appassionato 12:23
9 II. Adagio 11:23
10 III. Allegro 9:47

11 Andante, BB 26b In A Major Compiled By [Edited By] – László Somfai 4:00

Alternative Ending For Part II Of Rhapsody No. 1
12 Accelerando – A Tempo ♩ = 168 0:24
13 [Agitato] 1:23

CD 2

Sonata, BB 124 (1944) (25:43)
1 Tempo Di Ciaccona 9:06
2 Fuga 4:18
3 Melodia 7:13
4 Presto 5:05

Sonata, BB 28 (1903) (30:05)
5 Allegro Moderato (molto Rubato) – Maestoso – Meno Mosso (Moderato) – Più Vivo – Meno Mosso – Quieto – Più Vivo – Moderato – Quieto, Rubato – Moderato – Quieto Molto 9:39
6 Andante – Più Vivo – Poco Maestoso – Quieto – Tempo I 10:52
7 Vivace – Vivace Molto – Presto 9:31

Hungarian Folksongs, BB 109 (1931) Transcriptions Of Nine Pieces From For Children, BB 53 (9:14)
8 Book II No. 34. Andante – Un Poco Più Lento – 1:30
9 Book II No. 36. Allegretto – 0:28
10 Book I No. 17. Lento, Ma Non Troppo – 1:17
11 Book II No. 31. Allegro 0:59
12 Book I No. 16. Lento, Poco Rubato – 1:35
13 Book I No. 14. Allegretto – 0:26
14 Book I No. 19. Allegretto Scherzando – 0:34
15 Book I No. 8. Sostenuto – Allegro – Adagio – Sostenuto – Allegro – Adagio – Sostenuto – Allegro – Adagio – 1:18
16 Book I No. 21. Allegro Robusto – Sostenuto – Tempo I – Un Poco Sostenuto – Tempo I – Sostenuto – Tempo I – Sostenuto – Tempo I 0:59

Hungarian Folk Tunes (1926 – 27), Transcriptions Of Seven Pieces From For Children, BB 53 (7:41)
17 Book II No. 28. Parlando – 1:05
18 Book I No. 18. Andante Non Molto – 0:54
19 Book II No. 42. Allegro Vivace 1:33
20 Book II No. 33. Andante Sostenuto – 1:32
21 Book I No. 6. Allegro – 0:40
22 Book I No. 13. Andante – 0:54
23 Book II No. 38. Poco Vivace 0:56

Romanian Folk Dances (1915 – 16), Transcriptions For Violin And Piano Of Romanian Folk Dances, BB 68 (5:23)
24 (Joc Cu Bâtă (Stick Dance].) Allegro Moderato 1:13
25 (Brâul.) Allegro – 0:26
26 (Pe Loc [In One Spot].) Andante 0:58
27 (Buciumeana [Dance Of Bucium].) Molto Moderato 1:17
28 (Poargă Românească [Romanian Polka].) Allegro – 0:30
29 (Mărunţel [Fast Dance].) Allegro – Più Allegro 0:55

James Ehnes – Violin
Andrew Armstrong – Piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PQP

Giuseppe Verdi (1813-1901): Giovanna d’Arco (Caballé, Domingo, Milnes, Levine)

Giuseppe Verdi (1813-1901): Giovanna d’Arco (Caballé, Domingo, Milnes, Levine)

NOVE – GIOVANNA D’ARCO” MA SENZA ROGO

Pode ser que algumas obras de Verdi não originem hoje as emoções, não provoquem o delírio que despertavam naquela época atribulada na Itália; nem por isso deixaram de prosseguir seus caminhos. Compostas, orquestradas para o público contemporâneo, por estes foram escutadas, preferidas, festejadas. Naquela temporada de 1844-45 Roma era um barril de pólvora, os Estados Papais e os Estados de Bourbon foram testemunhas de ações revolucionárias promovidas por partidários de Giuseppe Mazzini (os Mazzinianos extremistas, organizaram um movimento político chamado Jovem Itália. O lema era “Deus e o povo” e o seu objetivo era a união dos estados italianos numa única república). Tinham começado em Savigno Bolognese e Imola, com resultados muito graves para os insurgentes, detenções e muitas mortes.

Giuseppe Mazzini (1805-1872)

Verdi aparentemente não participou de nada além do trabalho para o teatro. Após as positivas apresentações de “Idue Foscari”, em Roma, o maestro voltou a Milão. Lá ele era aguardado com alegria pelos amigos Toccagni, Tito Ricordi, Pedroni (também amigo de Donizetti) e pelo irreprimível “Calimero” Pasetti. No dia seguinte a sua chegada, almoçaram juntos e brindaram com vinhos franceses. Foram eles os únicos a lhe fazer companhia, além de Muzio, naquele outono e inverno milaneses que, generosamente, distribuía frio e neve em grandes quantidades.

Una prova al teatro alla Scala secondo un dipinto del Focosi

Em dezembro, a composição da então “Joana d’Arc” começou, quase imediatamente interrompida pelos ensaios e preparação de “I Lombardi” que ocorreria em 26 de dezembro no La Scala. Os ensaios (I Lombardi ) deram muito trabalho ao compositor e, mesmo que trabalhasse com determinação e fúria, não ficou satisfeito; na verdade, ele nem mesmo compareceu às primeiras apresentações no teatro tal o desapontamento com a falta de recursos disponibilizados pela gerência na montagem. Conta-se que o maestro durante os ensaios dos lombardos tivesse decidido não mais compor para o Scala.

O biógrafo milanês Carlo Gatti (1876-1965) nos conta que “A tendência das apresentações musicais no La Scala tornaram-se insuportáveis. A festa de vaidades e arrogância que imperava entre as “estrelas” dominavam: são duas ou três, pagas com abundância pelo empresário, que gasta até o que não tem, contando com este poder das “estrelas” para atrair o público, e é obrigado a economizar em todo o restante. A orquestra insuficiente em termos de instrumentistas e mal distribuída. Os coros são desajeitados na movimentação e na organização. Os cenários e as roupas muitas vezes antigos e remendados. Contra este mau hábito surge o vigor de Verdi, chama para si a responsabilidade de melhorar as apresentações do La Scala. Ele se prepara para reconstruir a orquestra, para equilibrá-la, para completá-la nas várias famílias de instrumentos. Em seguida, ele se volta para melhorar o desenho dos cenários, as luzes, a disposição das salas; ele espera dos cantores uma participação mais próxima e calorosa na representação das histórias dramáticas. O compositor pula no palco, estala os dedos, marca o tempo com os pés como se quisesse tirar dele um lampejo de chama. Em muitas outras montagens pelos palcos que atuou ele se entregará com a mesma energia. Essa energia, esbanjada em cada momento de sua atividade e em cada problema, fez com que superasse com excelentes resultados, muitas vezes extraordinários, o altíssimo número de produções teatrais montadas depois de 1842: “De Nabucco em diante não tive, pode se dizer, uma hora de calmaria. Foram dezesseis anos de trabalho ininterrupto! “, ele escreveu a Maffei em maio de 1858.”

L’interno di un palco di quinta fila del Teatro alla Scala 1844

As cartas que Muzio escrevia a Barezzi (ou Barezzone, como os amigos o chamavam) deste tumultuado dezembro de 1844 são interessantes: “Vou aos ensaios com o Maestro e lamento vê-lo cansado; grita que parece desesperado; bate o pé tanto que parece tocar órgão com pedaleira; transpira tanto que cai na partitura. O Maestro não assistiu às primeiras apresentações do “I Lombardi”… se ele estivesse lá teriam corrido bem, pois nos ensaios a música estava melhor do que nas apresentações. Falei isso para o Maestro, de que quando ele está lá um simples olhar, um sinal dele e os cantores, os coros e a orquestra parecem ser tocados por uma faísca elétrica, e então vão muito bem… ”

Após alterações dos censores a ópera muda de nome para “Giovanna d’Arco” que é um “dramma” lirico dividido em um prólogo e três atos, o maestro havia sugerido ao empresário Merelli que Temistocle Solera fosse contratado como o libretista. Solera foi devidamente contratado e – com típico exagero – destacou o fato de que seu libreto sobre a vida de Joana d’Arc era “original”, não devendo nada a Shakespeare ou a Schiller. Podemos afirmar então que o libreto de Solera foi inspirado apenas “vagamente” na peça “Die Jungfrau von Orleans” de Friedrich von Schiller (1759-1805). Ela é a sétima ópera de Verdi. Verdade seja dita que a obra reflete, apenas em parte, a história de Joana d’Arc. Verdi retoma, assim, a veia épica religioso-popular e faz da famosa história uma lenda, uma carta sagrada que deriva não só do libreto, mas da música.

Schiller (1759-1805) – il tuo libretto ricorda “vagamente” la mia storia, va bene Temistocle, va bene.

A Sinfonia, dividida em três partes, coloca na primeira uma atmosfera de tragedia tempestuosa, em que o motivo pastoral que se segue evoca a vida pacífica dos suíços, como em “Guilherme Tell” de Rossini, retratando a feliz menina do campo Giovanna. Mas o final “Allegro”, que assume o clima de uma grande tragédia, acolhe o tema do triunfo militar, o coro do povo, na abertura do prólogo, sente a força esmagadora do opressor. Embora inspirado nos grandes coros patrióticos de obras anteriores, tem a angústia, a força dobrada da “pátria oprimida”. As injúrias contra os estrangeiros são sensacionais, os gritos das mulheres são igualmente comoventes.

A partitura foi escrita durante o outono e inverno de 1844-45. Sua primeira apresentação no La Scala em 15 de fevereiro de 1845 foi um grande sucesso de público, apesar de que os críticos foram bastante desdenhosos com a ópera. Porém naquela temporada foi um “êxtase recebido” pelo público e foram dadas respeitáveis 17 performances. Porém ao final, pelo fato do envolvimento exaustivo do maestro em todas as fases da montagem, como dissemos, os padrões de produção estavam muito abaixo das suas expectativas e causaram uma rixa entre ele e Merelli que resultou em anos sem estreias das obras de Verdi no La Scala: a Giovanna original era Erminia Frezzolini, que já havia estreado “I Lombardi alla prima crociata”, dois anos antes. O próprio Verdi estimava seu trabalho, mas estava descontente com a forma como ela havia sido imposta para o papel pelo teatro, caracterizando as normas da deterioração das produções de Merelli. Além disso, devido a subterfúgios nas negociações de Merelli para adquirir os direitos de pontuação junto a editora Ricordi, o compositor jurou nunca mais lidar com o empresário, e nem a pisar no palco do La Scala. Na verdade, o teatro teria que esperar por 36 anos para outra estréia da obra de Verdi, que seria a versão revisada do “Simon Boccanegra”.

Frontespizio d’epoca di Giovanna d’Arco

Giovanna, uma sagrada guerreira, incomodou os apáticos habitantes do teatro milanês durante os ensaios da ópera a ela dedicada. Na verdade, também parecia contrastar outras produções em andamento, como se o arcanjo da confusão tivesse entrado nas “dependências” do La Scala. As fieis descrições que Muzio fazia para Barezzi contava a vida no teatro: “Giovanna está sempre sendo representada às quartas, quintas, sábados e domingos; e estes dias o teatro fica lotado como nas primeiras noites … se não fosse essa ópera o negócio da companhia ia mal. Merelli ainda queria contratar o Sr. Maestro para mais algumas temporadas por qualquer valor po ele estipulado, mas o Maestro não quer mais escrever para o La Scala; nem encenar ou dirigir nenhuma de suas obras; e ele diz que não vai pisar naquele palco novamente.” E como que para reforçar a ameaça dessas nuvens negras e raios, ele conta sobre um infortúnio acontecido naqueles dias nas dependências do grande teatro: “No La Scala também temos um grande baile, do qual gostamos muito, é decorado com um luxo de surpreender, em dado momento o palco se transforma no Grande Teatro Fenice iluminado para festa; com um surpreendente e variado número de máscaras, uma delícia. Ontem à noite despencou um dos cenários enquanto se fazia o baile, a madeira que a sustenta estava rachada há muito tempo e ontem ela quebrou e caiu em cima de quatro pessoas nos ombros, foi uma confusão; a vida era temida; a cortina caiu; as senhoras que estavam no baile ficaram com muito medo; e dizem que uma chegou a dar à luz (uma menina). Foi muito assustador.”

Giovanna d’Arco

Mas além do “mau-olhado”, como Giovanna se saiu ? Muzio sugeriu um resultado muito bom; basicamente a música de Giovanna deu certo e em abril já se ouviam na rua: “Já temos a música da Giovanna nos órgãos que funcionam e as bandas sempre tocam”, confirma Muzio. A ópera não foi um triunfo. As falhas de Giovanna recaíam principalmente no libreto, e Donizetti também defendeu isso ao escrever ao cunhado Antonio Vasselli: “Você viu que a música de Verdi foi muito bem em Milão. Dizem que ele escreveu boa música para um libreto infame”. Solera guardou as inexatidões históricas esquecendo a visão poética, e procurando antes o sensacionalismo teatral reduzindo a três as personagens principais: Giovanna e o Delfim de França (Carlo VII) protagonistas de um amor amaldiçoado e Giacomo, o pai de Giovanna, que surge como denunciante da própria filha a qual, além de práticas de bruxaria, acredita ter uma ligação amorosa com o Delfim, os críticos não perdoaram. Mas, enfatizamos, Verdi estava na crista da onda e dificilmente teria caido dela; uma recepção fria não era suficiente para mortificá-lo: em suas obras o público agora reconhecia uma grande parte de si mesmo, de suas esperanças, afetos e sofrimentos. Até os grandes da ópera o reconheciam com mérito, e o próprio

Rossini (1792-1868) – scusa, ma non sono andato all’opera per il mio punto di ebollizione, sai com’è giusto Giuseppe?

Rossini, ao enviar-lhe votos de felicidades para Giovanna a partir do final de janeiro, escrevera-lhe de maneira familiar, com estima, o aposentado maestro o agradece por ter gentilmente escrito para seu amigo, o tenor Nicola Ivanoff, um novo Finale da segunda parte de Ernani. O tenor a cantou em Parma com grande satisfação, e deve-se acrescentar que Verdi também gostou. Além disso, Rossini pagou generosamente a Verdi pela inserção da área, e informou que tinha ouvido falar da “fúria” causada em Florença pelo “Due Foscari” e pediu desculpas por não ter respondido antes devido a uma espinha que tinha “pernas e braços comprometidos e sem falar da dor que sentia”. Reza a lenda quando um Rossini vem falar com você sobre seus furúnculos, significa que você está “dentro” de sua estima sincera. E isso significa que é hora de ir em frente sem desacelerar. “Tampe seus ouvidos à crítica (nenhum crítico jamais foi capaz de determinar as escolhas de um músico), cerrar os dentes e pronto”. Verdi então se declarou satisfeito com o trabalho realizado, amou Giovanna com amor convicto.

Frontespizio del libretto di Orietta di Lesbo titolo imposto della censura papalitina alla Giovanna d’Arco

Para a primeira produção da ópera em Roma, três meses após a estréia de Milão, a trama teve de ser alterada sem qualquer conotação religiosa por ordem do censor papal. O título foi alterado para “Orietta di Lesbo”, a ação foi deslocada para a ilha grega da heroína, agora de origem genovesa, que tornou-se uma líder contra os turcos. Performances deste título foram também dada em Palermo, em 1848. Para os próximos 20 anos, Giovanna d’Arco teve sucesso contínuo na Itália, aparecendo em Florença, Lucca, e Senigallia, em 1845, Turim e Veneza, em 1846, Mantua, em 1848, o Milão novamente mais três vezes em 1851, 1858 e 1865.

 

O Enredo
Dramma lirico em um prólogo e três atos de giuseppe Verdi para um libreto de Temistocle Solera, baseado “só de leve” na peça “Die Jungfrau von Orleans” de Friedrich von Schiller; Milão, Teatro alla Scala, 15 de fevereiro de 1845.

Local: Dom-Rémy, Reims e perto de Rouen em 1429

Como dissemos a bela abertura está dividida em três movimentos. O primeiro é tempestuoso e incerto; o segundo é um Andante pastorale com flauta solo, oboé e clarinete (com os tons da abertura “Guillaume Tell” de Rossini); o último retorna ao tempestuoso menor, mas termina em um triunfante e belicoso maior. Não chega a ser uma obra-prima, mas ocasionalmente é apresentado nas salas de concertos.
O prólogo, dividido em duas seções, é repleto de eventos.

Prólogo.
Cena 1 – Um grande salão em Dom-Rémy
O Prólogo passa-se em Dom-Rémy, terra natal de Giovanna d’Arco, onde os habitantes se inquietam com as notícias da guerra trazidas pelos oficiais do exército francês que dizem que o país está a ser destruído por bárbaros ingleses, e que Orleans está sitiada devendo sucumbir a qualquer momento. A cena de abertura é uma cavatina convencional para o tenor, embora com intervenções corais invulgarmente importantes (Verdi e Solera sem dúvida desejavam manter sua imagem com os milaneses depois de Nabucco e eu Lombardi). Mesmo antes de o tenor entrar, o coro uníssono condena o triste destino da França em “Maledetti cui spinge rea voglia”, e as forças corais são novamente proeminentes nos movimentos líricos do solista, particularmente em um tempo di mezzo excepcionalmente longo. O rei Carlo VII, após admitir a derrota, narra um sonho (“Sotto una quercia”, faixa 04). Ele diz que uma imagem da Virgem que encontrara num altar na floresta lhe dera ordem para entregar as armas. Pela descrição que faz do local, os aldeões dizem tratar-se duma região assombrada habitada por espíritos malignos. Mas o Delfim ri-se dessa superstição popular, e dirige-se para o local da floresta onde está o altar com a imagem da Virgem para aí depor a sua espada e o seu elmo dizendo ser seu desejo de libertar-se do peso da coroa.

Cena 2 – Uma floresta
Giacomo aparece para uma breve cena, expressando temores de que sua filha Giovanna possa estar aliada ao diabo. Em um andante beliniano altamente ornamentado (“Sempre all’alba ed alla sera”, faixa 09), ela ora por armas na batalha que se aproxima. No interior da floresta, junto do altar, Giovanna reza revelando à Virgem o estranho pressentimento que a persegue e que lhe diz ter sido incumbida duma missão. Faz então um pedido: “uma espada e um elmo para ir combater o invasor”. E continua a repetir “uma espada e um elmo” até adormecer. Quando ela adormece, um coro de demônios (recomendando alegremente os pecados da carne) e de anjos (prometendo sua glória como salvadora de seu país) brigam por sua atenção. Chega então o Delfim que vem cumprir o prometido, e coloca aos pés da imagem da Virgem as suas armas. Enquanto isso acontece Giovanna continua a sonhar: espíritos malignos dizem-lhe para reparar no jovem que a observa com olhar apaixonado, enquanto visões celestiais a aconselham a abdicar do amor carnal, e a entregar-se à missão de libertar a França em nome de Deus. A esta exortação Giovanna responde estar pronta. O Delfim ouve o grito da jovem e aproxima-se. Giovanna reconhece-o, e devolve-lhe a espada e o elmo que encontrara junto do altar, suplicando-lhe que não abandone o combate, e dizendo que irá estar ao seu lado comandando os seus exércitos. Impressionado com o tom profético do apelo da jovem o Delfim cede. Eles se unem em uma cabaleta animada e sincopada, durante a qual Giacomo os vê juntos e conclui que sua filha enfeitiçou de alguma forma o rei originada pela influência dos espíritos malignos. Profere então uma maldição contra a filha. (a belíssima faixa 12, o Placidão, Milnes e Caballé estão excelentes! ).

Bozzetti di Giuseppe Bertoja

Ato 1
Cena 1 – Um lugar remoto espalhado por pedras no acampamento inglês perto de Reims
A música gloriosa que inicia o ato é a peça coral “Ai, lari … Alla pátria” (faixa 13 – ela foi posteriormente “reciclada” no “Requiem”).Os soldados ingleses foram derrotados e lamentam os seus mortos dizendo que a derrota se deveu a poderes sobrenaturais que protegem os franceses desde o aparecimento do novo comandante dos exércitos, uma camponesa de Dom-rémy. Mas o comandante Talbot discorda, diz que é tudo imaginação originada pelo medo. . Giacomo chega para anunciar que a mulher que inspira as forças francesas pode ser sua prisioneira naquela noite. Num sostenuto Andante, “Franco son io” (faixa 15), ele vem oferecer-se para lhe entregar a filha que acredita ter desonrado o seu nome ao ligar-se a Carlos VII; a cabaleta seguinte, “So che per via di triboli” (faixa 16), explora os sentimentos ternos de um pai. A progressão usual do lacrimoso Andante para a cabaleta energética é então revertida, o que permite uma cabaleta Donizettiana de ritmo moderado e incomumente comovente, totalmente carente do impulso rítmico Verdiano característico.

Cena 2 – Nos jardins da corte em Reims
Giovanna diz sentir-se feliz por se ver livre do elmo e da espada, e por poder descansar em trajes de mulher sem ser importunada pelos clamores da multidão Mas não está disposta a deixar Carlos e a corte: as vozes demoníacas ainda a atormentam. Ela canta sobre sua casa na floresta simples em “O fatidica foresta” (faixa 18) outro exemplo delicioso de pastoral Verdiana. Particularmente notável e lindíssimo é o adagio “T’arretri e palpiti!” (faixa 20), Carlos VII oscila entre o desconforto com o comportamento dela e as tentativas de acalmá-la com expressões de amor. Num instante de fraqueza Giovanna responde que também o ama. Mas as vozes celestiais voltam a manifestar-se dizendo-lhe que deve resistir a todos os desejos terrenos. O Delfim não ouve as vozes, e não entende a reação da jovem que inexplicavelmente recusa o seu amor. Chega então um oficial que diz que o povo está junto da catedral para assistir à cerimônia da coroação. O Delfim diz a Giovanna que será ela quem o irá coroar e que só aceitará a coroa se for posta pelas suas mãos. Enquanto os dois seguem juntos para a catedral ouvem-se as vozes dos espíritos malignos que rejubilam por aquela que julgam ser a sua vitória sobre a inocência de Giovanna. “Vieni al tempio” (faixa 22).

Bozzetti di Giuseppe Bertoja

Ato 2
Uma praça em Reims junto da catedral
Uma “grande marcha triunfal” em louvor de Giovanna e Carlo VII e da sua vitória sobre o invasor. A procissão entra na catedral. Giacomo entra também: ele pretende denunciar a filha publicamente. É assim que, depois da coroação, quando o Delfim proclama Giovanna padroeira da França, Giacomo observa, dando vazão ao seu zelo religioso em uma romanza menor-maior, “Speme al vecchio era una figlia” (faixa 24), denuncia sua filha sai de entre a multidão acusando-a de blasfêmia, e dizendo que a filha foi buscar os seus poderes nas práticas de bruxaria. O movimento mais interessante é o Andante, “No! forme d’angelo” (faixa 27): fragmentos de duetos desacompanhados de Carlos VII e Giacomo são justapostos com um cantabile estendido para Giovanna; ai Verdi encontra espaço para dar asas à sua sensívell personalidade musical. O Delfim não acredita, defende Giovanna com veemência, mas a jovem fizera um voto de silêncio e nada declara em sua defesa se recusa três vezes a negar as acusações de sacrilégio de Giacomo. Esse silêncio é interpretado por todos como uma confissão de culpa, e o Delfim vê-se obrigado a entregá-la aos ingleses que lhe reservam o destino da fogueira, o dramático e grandioso fim do ato, “Ti descolpa” (faixa 28).

Ato 3
Dentro de uma fortaleza inglesa junto do campo de batalha
Giovanna está presa por correntes a um banco, observa enquanto os ingleses e franceses lutam, notando com consternação que Carlos VII foi cercado e ao ouvir as sentinelas falar da batalha implora que a soltem para poder ir combater. Chega Giacomo, seu pai. Ele acredita que Giovanna continua a pensar no amante, mas acaba por compreender que ela reza e que as suas orações se dirigem a Deus, portanto ela é inocente daquilo que ele a acusara. As fervorosas orações de Giovanna alertam Giacomo para o erro da acusação, e eles se unem em um dueto de explicação e reconciliação, cuja seção mais impressionante é o lento movimento lírico, “Amai, ma un solo istante” (faixa 30), no qual uma sucessão comovente de as ideias melódicas sustentam a aceitação gradual do pai da pureza da filha. Decide então libertá-la, e abençoa-a.

Depois de aceitar a benção do pai, Giovanna corre para ajudar os franceses, pega a sua espada e parte para o campo de batalha. É pela voz de Giacomo que ouvimos a descrição da batalha, que com a ajuda de sua filha a balança pendeu decisivamente contra os ingleses. Carlos VII sai vitorioso, perdoa Giacomo, mas fica sabendo que Giovanna foi gravemente ferida. Na romanza “Quale più fido amico” (faixa 35), delicadamente composta para trompa inglesa solo e violoncelo, ele lamenta sua perda. Giovanna é levada ao ritmo de uma marcha fúnebre e tem força suficiente para saudar o pai e o rei e aguardar as boas-vindas no céu. Ela lidera o conjunto final com um solo elaboradamente ornamentado acompanhado por violoncelo de obbligato antes de um longo tema, a donzela, cujo rosto parece iluminado por uma aura misteriosa, ouve uma última vez as vozes celestiais antes de morrer.

Cai o pano
——————————

O libretto de Solera é bem distante dos fatos históricos e pode deixar a desejar, mas a música é de Verdi, o jovem gênio de 31 anos que mostra muitas dicas emocionantes do que está por vir. Uma das coisas mais interessantes que este obscuro admirador percebeu ao elaborar os textos e performances destas primeiras óperas de seus “anos de galera” é ouvir os pré-ecos das obras-primas do futuro. Verdade que não há uma única melodia famosa na bela Giovanna d’Arco, mas eu adorei cada momento. É como ir ao “Cirque du Soleil” e voltar para casa com imagens vagas das maravilhas da vida na Terra. Os fãs de Verdi, assim como os que não o conhecem, vão se deliciar com esta ópera! É mais uma bela jóia Verdiana negligenciada. Então aí está, vale a pena sim a audição. Que subam as cortinas e se inicie o estpetáculo !!!!!

Giuseppe Verdi – Giovanna d’Arco
Personagens e Intérpretes

Vamos compartilhar com os amigos do blog esta clássica gravação feita em 1972 que dificilmente acusa sua idade. Esta gravação da ópera merece ser ouvida por seus ritmos enérgicos, instrumentação de metal, melodias folclóricas e lirismo, além de ser bem curtinha (quase duas horas). É uma bela obra de Vedi mas com ecos de Donizetti, cada personagem recebe uma parte justa de árias solo, assim como eram as ópera sérias dos tempos passados, as cabalettas voam, permitindo amplo espaço para interpolação e exibição de notas altas. A Giovanna de Caballe tem a maior parte da glória da interpolação, e aqui está ela, flutuando sua marca registrada o pianissimi

Placidão fazendo uma massagem para a Montserrat relaxar.

em peças como “O fatidica foresta” (faixa 18), a peça mais lírica da obra, e último trio “Che mia fu” (faixa 37). Caballe lida facilmente com a coloratura do papel-título. A voz da Montserrat nesta gravação, para este admirador, é um pote de ouro puro 18k, e seu envolvimento e entrega por si só valeria o download, eu posso entender claramente porque ela tem tantos fãs. O jovem Plácido Domingo em seu auge vocal inicial, estava com 31 anos nesta gravação, no qual a voz está em seu estado mais doce e totalmente impassível. A nota alta no final da cabaleta de “Pondo e latal, martiro” (faixa 06) raramente é ouvida nas produções de Domingo em seus anos mais maduros me lembra “di quella pira”. Esses foram os primeiros anos de sua carreira e o estímulo da crítica ainda não havia impulsionado o cantor a expandir os centros para emular a sensualidade carusiana. Domingo mostra-se totalmente à vontade e também sempre foi um excelente intérprete, capaz de explorar da melhor forma a beleza do timbre para fins amorosos, com um sotaque nobre e eloquente . A excelente dicção faz o resto. Faço um discurso semelhante para Milnes. A voz extensa era usada com frequência em papéis dramáticos de barítono, seus melhores momentos foram os líricos, e de fato no papel deste Giacomo consegue encontrar-se perfeitamente à vontade tanto no erro como na dor do pai. Robert Lloyd também em ótima forma oferece um belo canto em seu poderoso baixo.

A qualidade do som é excelente e o então promissor maestro de 29 anos, James Levine, faz um trabalho maravilhoso, começando com a abertura deliciosa, até os refrões finais. Levine tem uma afinidade especial por esse repertório. Sua energia irresistível, até atrevida, mantém as atenções presas, uma explêndida execução. O coro ambrosiano e a The London Symphony Orchestra são excelentes como sempre. Esta gravação eu recomento fortemente, muito bem feita.

Giovanna – Montserrat Caballé
Carlo VII – Placido Domingo
Giacomo – Sherrill Milnes
Delil – Keith Erwen
Talbot – Robert Lloyd

The Ambrosian Opera Chorus – Chorus Master – John McCarthy
The London Symphony Orchestra
James Levine
Recorded: 01 sep 1972

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Milnes, Montserrat, Levine e Placido acertando os últimos detalhes para uma canja no PQPBach Ópera House – sede Itatiaia-RJ

Ammiratore

A Obra Completa de Béla Bartók (1881-1945) – Quarteto de cordas no. 6 [Bartók – 6 String Quartets – Tákacs Quartet] #BRTK140

 

Meu sepultamento deve ser o mais simples possível. Se, depois de minha morte, quiserem dar meu nome a uma rua, ou erigir um memorial a mim num local público, então minha vontade é a seguinte: enquanto as anteriormente chamadas Oktogon-Ter e Körönd em Budapest tiverem os nomes daqueles que agora lhes dão nome e, mais ainda, enquanto houver na Hungria qualquer praça ou rua com o nome daqueles dois, então nenhuma praça, nem rua, nem prédio público na Hungria deve ganhar meu nome, e nenhuma placa com ele deve ser instalada num lugar público”

Béla Bartók odiava o fascismo, os fascistas o odiavam, e ele queria que esse sentimento recíproco ficasse claro até depois de sua morte. O ano, no entanto, era 1939, e “aqueles dois” (Mussolini e Hitler, respectivamente) faziam os últimos preparativos para que começasse a guerra na Europa. Hitler anexara a Áustria no ano anterior, e todas as instituições austríacas estavam nazificadas – incluindo a editora Universal, de Viena, que publicava as obras de Bartók e de Kodály e que lhes enviou um questionário a lhes perguntar, entre outras coisas, se eles eram de origem alemã ou não-ariana.

Naturalmente, nem eu, nem Kodály o preenchemos; em nossa opinião, esses inquéritos são contrários à lei e à justiça. Por outro lado, isso é ruim, porque poderíamos fazer boas piadas ao responder; por exemplo, poderíamos dizer que nós somos não-arianos – porque, em última análise (e isso eu aprendi no dicionário), ‘ariano’ significa ‘indo-europeu’; nós, magiares, entretanto, somos fino-úgricos, sim, e ainda por cima, talvez, racialmente turcos do norte, consequentemente nada indo-europeus, e portanto não-arianos. Outra pergunta era assim: ‘onde e quando foi ferido?’. Resposta: ‘Viena, março de 1938’ [mês em que a Áustria foi anexada ao Reich]

Nem tudo, claro, era bom humor. Desde a ascensão de Hitler ao poder, em 1933, Bartók deixara de dar concertos na Alemanha, onde fizera turnês por três décadas, e todas os convites para atuar academicamente – fosse como palestrante ou como professor convidado – eram recusados, por um motivo ou outro, se viessem do Reich. Era natural que os alemães vissem as desfeitas com desconfiança, mas isso não chegou a ser problema para o compositor, além da eventual necessidade de refutar as insinuações de que era judeu. Suas maiores dificuldades começaram quando a Hungria, liderada ditatorialmente por Miklós Horthy – um ex-almirante da armada austro-húngara que assumira o curioso posto de regente dum reino sem trono -, assinou um pacto de não agressão com o Reich, implantou leis antissemitas afins às de Nürnberg e começou a perseguir dissidentes e intelectuais, para profundo desgosto do compositor:

Há o perigo iminente de que a Hungria também se renda a esse sistema de roubo e assassinato. Como eu continuaria a viver e trabalhar num país desses me é inconcebível.

Esses temores, como sabemos, viriam a concretizar-se da pior maneira possível. Hitler invadiria a Polônia em setembro e, embora a Hungria lograsse inicialmente manter sua autonomia em relação ao Reich – e mais notavelmente na recusa de Horthy em permitir que tropas alemãs atravessassem território húngaro para invadirem a Polônia, invocando a ancestral amizade entre húngaros e poloneses -, as mãos de ferro do regime passaram a desossar qualquer oposição. Bartók, que não media palavras para expressar seu nojo ao fascismo, seria um alvo natural de represálias, e toda proteção conferida por seu status de mais notável músico ativo em seu país de nada lhe valeria, se os alemães interviessem. Um amigo lhe disse que, se a Gestapo chegasse, o primeiro de seus tiros lhe estava reservado – e ele, provavelmente, tinha razão.

ooOoo

Além da perseguição do governo autocrático, que o atacava tanto como antifascista quanto como músico acusado de “formalismo”, um drama familiar mergulhava Béla, enquanto compunha seu sexto e derradeiro quarteto, em angústias sem paralelo nos seus cinquenta e sete anos de vida. Paula, sua idolatrada mãe – uma professora de música que não medira esforços para garantir sua educação musical após a morte prematura do pai, e a quem se manteve muito apegado por toda a vida -, estava mortalmente enferma. Com tanta opressão e insegurança, não surpreende que o quarteto que lhe brotou da pena seja uma das obras mais constritas do século XX.

Não é à toa, tampouco, que a indicação “Mesto” (“triste”, em italiano) abra cada um dos movimentos – que parecem, pela primeira vez na série, ser os tradicionais quatro, mas que enfim são sete, pois a pesarosa introdução Mesto repete-se três vezes, à guisa de prelúdio, antes de movimentos completamente diferentes. O primeiro desses está numa, assim digamos, sonata-forma bartokiana, complexa em contraponto e rica em inversões temáticas e entrecruzamentos de vozes. O segundo é uma marcha que parece parodiar a aproximação dos agressores fascistas e tem, como trio central, uma bizarra seção que parece uma dança folclórica, com cimbalom e tudo, passada por um filtro onírico – talvez, na visão de Béla, uma Hungria a se esfacelar. O terceiro é intitulado Burletta – que pode ter tanto o significado de “brincadeira” ou “piada”, como o dos entreatos jocosos que, como La Serva Padrona de Pergolesi, eram executados no meio de óperas sérias. Bartók, aqui, pega pesado na palhaçada, e chega a pedir para um dos violinos tocar em quartos de tom, como se desafinado estivesse. No último, chamado tão somente Mesto, o tema devastado retorna e, como se rejeitado nos movimentos anteriores e enfim estivesse a vencer as resistências, adona-se completamente do movimento, servindo de base para transformações que, com muito vagar, parecem desembocar no vazio.

Esse quarteto extraordinário seria a última obra que Béla completaria em seu país. Iniciou-o em agosto de 1939, e, no mês seguinte, a Alemanha invadir a Polônia; terminou-o em novembro, e em dezembro lhe morreria a mãe, o único motivo que lhe restava para permanecer na Hungria. Perdera, quase ao mesmo tempo, a amada mãe e a querida pátria. Nada mais o prendia a seu chão: em outubro do ano seguinte,  partiria para os Estados Unidos para nunca mais retornar.

ooOoo

Nossa promessa de apresentar-lhes os quartetos pares de Bártok somente em leituras com sotaque húngaro cumpre-se, aqui, com duas gravações do notável quarteto Takács, fundado em Budapest e radicado, desde os anos 80, nos Estados Unidos. Na dúvida sobre qual das duas lhes apresentar, fiquem, pois, com as duas:

 

Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)

Quarteto de cordas no. 1, Op. 7, Sz 40 (1908-1909)

1 – Lento – Attacca:
2 – Allegretto
3 – Introduzione. Allegro – Attacca:
4 – Allegro vivace

Quarteto de cordas no. 2, Op. 17, Sz 67 (1915-1917)

5 – Moderato
6 – Allegro molto capriccioso
7 – Lento

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Quarteto de cordas no. 3, Sz 85 (1927)

1 – Prima Parte. Moderato – Attacca:
2 – Seconda Parte. Allegro – Attacca:
3 – Ricapitulazione della Prima Parte. Moderato
4 – Coda. Allegro molto

Quarteto de cordas no. 4, Sz 91 (1928)

5 – Allegro
6 – Prestissimo, con sordino
7 – Non troppo lento
8 – Allegretto pizzicato
9 – Allegro molto

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Quarteto de cordas no. 5, Sz 102 (1934)

1 – Allegro
2– Adagio molto
3 – Scherzo: Alla bulgarese
4– Andante
5 – Finale: Allegro vivace

Quarteto de cordas no. 6, Sz 114 (1939)

6 – Mesto – Più mosso, pesante – Vivace
7 – Mesto – Marcia
8 – Mesto – Burletta
9 – Mesto

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Takács Kvartett:
Gábor Takács-Nagy e Károly Schranz, violinos
Gábor Ormai,
viola
András Fejér,
violoncelo

Gravado em 1984


Quarteto de cordas no. 1, Op. 7, Sz 40 (1908-1909)

1 – Lento – Attacca:
2 – Poco a poco accelerando al’allegretto – Introduzione. Allegro – Attacca:
3 – Allegro vivace

Quarteto de cordas no. 3, Sz 85 (1927)

4 – Prima Parte. Moderato – Attacca:
5 – Seconda Parte. Allegro – Attacca:
6 – Ricapitulazione della Prima Parte. Moderato
7 – Coda. Allegro molto

Quarteto de cordas no. 5, Sz 102 (1934)

8 – Allegro
9 – Adagio molto
10 – Scherzo: Alla bulgarese
11 – Andante
12 – Finale: Allegro vivace

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Quarteto de cordas no. 2, Op. 17, Sz 67 (1915-1917)

1 – Moderato
2 – Allegro molto capriccioso
3 – Lento

Quarteto de cordas no. 4, Sz 91 (1928)

4 – Allegro
5 – Prestissimo, con sordino
6 – Non troppo lento
7 – Allegretto pizzicato
8 – Allegro molto

Quarteto de cordas no. 6, Sz 114 (1939)

9 – Mesto – Più mosso, pesante – Vivace
10 – Mesto – Marcia
11 – Mesto – Burletta
12 – Mesto

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Tákacs Quartet:
Edward Dusinberre e Károly Schranz, violinos
Roger Tapping,
viola
András Fejér,
violoncelo

Gravado em 1997

Béla e família, num momento menos difícil – e na primeira foto em que o vi a sorrir

 

Vassily

Obrigado, Julio!

Obrigado, Julio!

Não que queiramos nos gabar ou provocar inveja em ninguém — até porque não é do nosso feitio –, mas ontem postamos justas e copiosamente homenagens a Astor Piazzolla.

Pois bem, e recebemos este comentário desde Buenos Aires:

Espero que a algún bloguero argentino se le ocurra hacer un homenaje a Ástor tan bueno como el de ustedes.
Un abrazo emocionado,

Juliowolfgang desde Buenos Aires (a diez cuadras del Abasto, donde vivió Gardel).

Tão chato ser gostoso.

(O pessoal da  PQP Bach Corp. agradece igualmente emocionada).

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Escalandrum ‎– Piazzolla Plays Piazzolla #Piazzolla100

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Escalandrum ‎– Piazzolla Plays Piazzolla #Piazzolla100

Um bom disco de Piazzolla para fechar o dia dos 100 anos de Piazzolla. Escalandrum é um dos conjuntos musicais de tango e jazz mais bem-sucedidos da Argentina, liderado por Daniel “Pipi” Piazzolla, baterista e compositor multipremiado e neto do mestre do tango Astor Piazzolla. O repertório de Escalandrum inclui uma ampla gama de composições de tango de Astor Piazzolla, bem como a própria música da banda, que se baseia muito mais no jazz contemporâneo e reúne o melhor desses dois mundos. Curiosamente, Escalandrum não inclui bandoneonista nem vocalista.

Bem, poucas figuras na história da música argentina levaram o conceito de vanguarda tão a sério quanto Piazzolla. Traidor do tango para alguns, renovador do tango para outros, é inegável sua contribuição para que o ritmo portenho por excelência rompesse com uma certa rigidez do compasso de dois por quatro e voasse mais livre, como só o jazz pode ser. Aqui, temos um grupo competentíssimo comprovando isso.

Escalandrum ‎– Piazzolla Plays Piazzolla

1 Lunfardo 6:27
2 Buenos Aires Hora Cero 5:17
3 Vayamos Al Diablo 3:41
4 Oblivion 4:56
5 Tanguedia 1 4:37
6 Fuga 9 5:04
7 Escualo 4:00
8 Romance Del Diablo 5:37
9 Adios Nonino 8:52
10 Libertango 8:25

Alto Saxophone, Soprano Saxophone – Gustavo Musso
Bass Clarinet, Baritone Saxophone – Martin Pantyrer
Double Bass – Mariano Sivori
Drums – Daniel “Pipi” Piazzolla
Piano, Arranged By – Nicolás Guerschberg
Tenor Saxophone – Damián Fogiel

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

A alegria contagiante do Escacandrum durante a festa de inauguração da sede portenha do PQP Bach.

PQP

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Piazzolla ‘78 #Piazzolla100

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Piazzolla ‘78 #Piazzolla100

11 de março de 2021 – ‘Astor faz Cem Anos’- poderia ser título de um filme de Saura, ele que nos deu o magnífico ‘Tango’. Enfim, aos grandes, a grandeza. E Astor, como seu nome bem o denota, andava neste mundo desviando a fronte das tramas estelares, donde vez por outra colhia melodias sem igual. Despertei essa manhã com a súbita consciência de que sendo um Piazzóllatra apaixonado não poderia cometer o desatino de não homenageá-lo com uma postagem. Sem qualquer receio de jazer datado, quero dizer que na noite ontem, dia 6 de março, no Teatro Colón, se deu o segundo concerto da série de 13 dedicados ao mestre, transmitidos ao vivo pelas rádios de Buenos Aires. Que noite, amigos! Que música, que músicos, que arranjos, que emoções! Foi revivido o seu octeto eletrônico com o repertório dos tempos de Libertango; mais a presença da monumental Amelita Baltar cantando os seus lapidares sucessos junto a Astor. A mais plena glória concedida ao que muitos chamaram de “assassino do tango”. Consideremos, Astor era pirracento e costumava lançar um balde de gasolina nesse fogaréu, falando por exemplo que La Cumparsita seria o pior dos tangos que já tocara ou criticando antigos mestres e estilos nos quais sua própria obra encontrava raízes. Peço perdão se esse texto sai engessado, carente de graça ou leveza. Nesse momento, sob um mundo adoecido e a cidade em estado de lei seca, devo poupar os últimos quatro dedos de whisky para o terceiro concerto logo mais às 17 horas. Caminhemos, como diria Herivelto Martins.

Esse disco, também lançado como ‘Mundial 78’ na época, foi um trabalho ligado a um campeonato de futebol. Seus títulos se remetem ao nobre esporte. Sou a pessoa menos indicada do mundo para falar de futebol, tarefa que deveria, pelo maior zelo da justiça, caber ao compadre mestre Milton Ribeiro. Todavia, na infância, em casa dos meus avós e pais, testemunhava a emoção que efervescia nas Copas do Mundo. Lembro de momentos verdadeiramente mágicos, onde via nomes como Garrincha, Pelé, Rivelino, Tostão, um filosófico e etílico Dr. Sócrates; e nomes estranhos como Cafuringa e Beto Fuscão. Sei que eram verdadeiros deuses, voavam, para eles não existiria limites de gravidade e inércia. A bola os obedecia. Eram magos, certamente. Hoje não sei se isso ainda existe. Astor não foi ligado ao futebol até se encantar com o magnífico Maradona. Preferia pescar tubarões, conforme nos conta a excelente biografia de Maria Susana Azzi, que tive a grande sorte de conseguir. Que livro, uma obra definitiva sobre Piazzolla. No presente disco, cada faixa se remete a elementos do futebol, como poderemos ler abaixo. É um disco pequeno, porém concentrado. Um pequeno frasco com matéria radioativa. Toda beleza e intensidade da música de Astor se encontra nessa miniatura. Seu estilo, diríamos, melodinâmico, que evoca pelejas de facas e amores lancinantes, emoções intensas e melodias inebriantes, se adapta perfeitamente à ideia da peleja esportiva, com suas tensões, disputas, anseios, suor e esforços, tropeços, faltas, pênaltis, gols, fracassos, esperanças, vitórias por vezes amargas…

Sintonizo agora a rádio La 2×4 de Buenos Aires, já vai começar o terceiro concerto em honra ao grande Piazzolla. Não perderei nenhum. Encerro esse texto mal engendrado com um breve trecho do filósofo romeno Emil Cioran, como prece e reflexão nesses tempos enfermos. E que as emoções e a beleza da obra de Astor nos fortaleçam, encorajem e abençoem.

“Que o entusiasmo irrompa na existência e que a alegria se assemelhe aos grandes êxtases, e que nosso desejo de ser seja tão universal quanto a tristeza de ser. Em sua luta, que o desejo de ser encha de paixão as trevas das tristezas e que nossa sede de absoluto sacie sua infinitude na obscuridade.”

Astor Piazzolla: Piazzolla ‘78

1 Mundial 78
2 Marcación
3 Penal
4 Gambeta
5 Golazo
6 Wing
7 Corner
8 Campeón

Astor Piazzolla – Bandoneón, arranjos e direção
Arnaldo Ciato – Piano
Giani Zilioli – Órgão
Sergio Farina – Guitarra
Gigi Cappellotto, Giorgio Azzolini – Eletric Bass
Tullio de Piscopo – Drums
Sergio Almagano – Violino
Elsa Parravicini – Sax Alto
Hugo Heredia, Sergio Rigon, Giuseppe Parmigiani – Flautas
Paulo Salvi – Cello

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Astor faz 100 Anos

Wellbach

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Luna #Piazzolla100

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Luna #Piazzolla100

Este incrível álbum é um dos poucos documentos registrados do sex-tet e que representa a última fase da carreira de Astor Pantaleón Piazzolla (1921-1992). A música é extremamente apaixonante e intensa. Este CD apresenta sete faixas extraídos de um concerto ao vivo em Amsterdam gravado em junho de 1989, as notas do álbum afirmam que foi o último concerto de Piazzolla com o seu sex-tet. Inclui clássicos do repertório como “Hora Cero” (originalmente intitulada “Buenos Aires Hora Cero”), “Milonga del Angel” e “Preludio y Fuga”. As outras quatro composições são geralmente menos conhecidas e pertencem ao período mais inovador do compositor, ou seja, quando a sua música se afastou mais do que nunca do ritmo estruturado do tango ao encontro do jazz do clássico moderno, influenciado por Bartók.

As faixas evoluem e o sex-tet toca mais como um apoio ao gênio de Piazzolla, sem solos prolongados de violino ou piano. Além disso, são usados dois bandoneons em vez de um, o violoncello substitui o violino e as partes do piano e da guitarra reforçam os tempos rítmicos juntamente com o uso de um contrabaixo. A interpretação soberba e a gravação excelente.

Apesar das inúmeras gravações feitas por este gigante do Bandoeon, esta gravação é uma das que mais gosto. Nas mãos de Astor e do sex-tet, a expressão da música é elevada, as modulações, dissonâncias, mudanças dinâmicas conferem a este álbum um dos melhores do mestre.

As faixas maravilhosas seriam “Hora Cero”, “Tanguedia”, a impressionante atuação de “Milonga del Angel”, o mestre está em ótima forma, o que dizer do duelo com o piano de Gerardo Gandini em “Camorra 3” com virtuosismo quase violento, e a maravilhosa “Luna” que encerra o álbum – pode ser esta versão a mais rica e sublime das inúmeras atuações feitas por este músico da poesia – nos transportam ao núcleo deste sensual, misterioso e fascinante universo de sombras, parcialmente iluminado onde a desilusão e a fragmentação se fundem para conformar uma espécie de tragédia noturna delirante.

Divirtam-se com a grande viagem pelo maravilhoso álbum “Luna”, como concerto final do mestre, gravado ao vivo em Amsterdam, a 26 de junho de 1989.

Astor Piazzolla – LUNA

1-Hora Cero
2-Tanguedia
3-Milonga del Angel
4-Camorra 3
5-Preludio y Fuga
6-Sex-Tet
7-Luna

Astor Piazzolla New Tango Sex-Tet
Astor Piazzolla – Bandoneon
Daniel Binelli – Bandoneon
Horacio Malvicino – Guitar
Gerardo Gandini – Piano
José Bragato – Violoncello
Hector Console – Double Bass

Amsterdam, a 26 de junho de 1989

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Ammiratore

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Complete Tango! – Isabelle van Keulen Ensemble #Piazzolla100

Como definir um gênio? Difícil, não acham? Um músico do porte de Astor Piazzolla nasce a cada 100 anos, e olha lá. Nesta data, dia 11 de março, há exatos 100 anos nascia este imenso compositor e bandoneonista, Ástor Piazzolla, que revolucionou o tango, e consequentemente, a música do Século XX.

O PQPBach não podia deixar esta data passar despercebida, então, em um esforço coletivo, e com poucos dias disponíveis, encaramos este desafio em fazer uma homenagem que faça jus à genialidade do aniversariante.

Infelizmente não poderei postar o meu disco favorito dele, que tenho apenas em LP, e no momento não tenho condições de converter para o formato digital. Trata-se do clássico álbum que a grande intérprete de Piazzolla, a cantora Amelita Baltar, gravou com canções do próprio e de seu fiel companheiro, Horacio Ferrer, onde ela faz o melhor registro que já ouvi da ‘Balada de un Loco’. Para quem não conhece, coloquei um link do Youtube aí embaixo parar conhecerem. Coisa de gênio …

Já venho postando cds do mestre argentino desde os primórdios do PQPBach, e nunca deixei de realçar suas qualidades, tanto quanto compositor quanto intérprete. O que estou trazendo para os senhores hoje são três cds que a violinista Isabelle van Keylen gravou em homenagem à ele, tendo para isso montado um conjunto que intitulou ‘Isabelle van Keulen Essemble’, um quarteto com um contrabaixo acústico, piano, o bandoneon e o violino de van Keulen. Alguém pode reclamar, ‘mas o que os holandeses entendem de tango?’, pode até ser que não entendam nada, mas entendem a importância da obra, e por isso fazem uma homenagem à altura. com o perdão da redundância. Aplicaria a mesma questão a três outros excepcionais músicos que também dedicaram álbuns a Piazzolla, gravando com ele, inclusive, com o saxofonista norte americano Gerry Mulligan, o violinista lituano Gidon Kremer ou o acordeonista francês Richard Galliano. O que importa é que entenderam as ideias, os conceitos, e conseguiram nos proporcionar grandes e prazerosos momentos de audição para nós, meros mortais, apreciadores da bela arte.

Não quero me estender muito mais, pois quase todos os atuais membros do PQPBach toparam participar da empreitada. então, vamos ao que viemos.

CD1

1 Escualo
2 Verano Porteño
3 Invierno Porteño
4 Tristezas de un Doble A
5 Michelangelo ’70
6 Contrabajísimo
7 Oblivion
8 Libertango
9 Tangata
10 Tanti anni prima
11 Concierto para Quinteto

CD 2

1 Bando
2 Otoño porteño
3 Le grand tango (arr. Christian Gerber)
4 Soledad
5 Tres minutos con la realidad
6 Kicho
7 Primavera porteña
8 Adiós nonino
9 Tango para una ciudad

CD 3

1 Allegro tangabile
2 La Camorra I
3 Romance del diablo
4 Vayamos al diablo
5 Tango del diablo
6 Poema valseado
7 Fuga y misterio
8 Introducción al ángel
9 Milonga del ángel
10 Muerte del ángel
11 Resurrección del ángel

Isabelle van Keulen Ensemble
Isabelle van Keulen Violin
Christian Gerber bandoneon
Ulrike Payer piano
Rüdiger Ludwig double bass

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Piazzolla (1921-1992) por Piazzolla — mais 4 CDs, resultado de pedidos carinhosamente atendidos por nossa consultoria #Piazzolla100

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Piazzolla (1921-1992) por Piazzolla — mais 4 CDs, resultado de pedidos carinhosamente atendidos por nossa consultoria #Piazzolla100

Nosso consultor ignora o funcionamento do SAC do PQP. Aqui, os pedidos raramente são atendidos e a gente costuma dar gostosas gargalhadas com as repetidas súplicas. “O link deixou de funcionar”, “Quero este CD”, “Preciso ouvir isso, disso depende minha vida”, tsc, tsc, tsc. Mas ele, o consultor, contrariamente a nós, revelou ter bom coração e resolveu, imaginem, atender alguns pedidos desesperados. Acabo de ouvir o quarteto de discos que ele nos enviou e ele é novamente portentoso, não tanto quanto este quinteto, mas mesmo assim portentoso, repito. É Piazzolla.

Abaixo, antes da relação de discos, obras e links, faço uma singela homenagem a meu pai, que amava especialmente a canção Los Paraguas de Buenos Aires, colocada no início do lado B de algum disco de Piazzolla-Baltar. Como ele sabia bem mais espanhol do que eu — costumava ouvir rádios de Buenos Aires na infância e na adolescência, talvez em busca de um mundo mais culto do que o de nossa triste província — , certamente entendia de ouvido a bela poesia que Horacio Ferrer escreveu para a música e que coloco agora para os pequepianos. Hoje sei que orillas não são orelhas e sim calçadas ou beiradas ou margens, que paraguas não são paraguaios e sim guarda-chuva, que fruteros devem ser pomares, etc.

Los Paraguas de Buenos Aires

Voz de Amelita Baltar
Letra de Horacio Ferrer
Música de Astor Piazzolla

Está lloviendo en Buenos Aires, llueve
Y en los que vuelven a sus casas pienso
Y en la función de los teatritos pobres
Y en los fruteros que a las rubias besan
Pensando en quienes ni paraguas tienen
Siento que el mío para arriba tira
“No ha sido el viento si no hay viento”, digo
Cuando de pronto mi paraguas vuela
“No ha sido el viento si no hay viento”, digo
Cuando de pronto mi paraguas vuela
Vuela…

Y cruza lluvias de hace mucho tiempo
La que al final mojó tu cara triste
La que alegró el primer abrazo nuestro
La que llovió sin conocernos antes
Y desandamos tanta lluvia, tantas
Que el agua esta recién nacida, vamos
Que está lloviendo para arriba, llueve
Y con los dos nuestro paraguas sube
Que está lloviendo para arriba, llueve
Y con los dos nuestro paraguas sube
Sube…

A tanta altura va querido mío
Camino de un desaforado cielo
Donde la lluvia a sus orillas tiene
Y está el principio de los días claros
Tan alta el agua nos disuelve juntos
Y nos convierte en uno solo uno
Y solo uno para siempre, siempre
En uno solo, solo, solo, pienso
Y solo uno para siempre, siempre
En uno solo, solo, solo, pienso
Pienso…

Pienso en quien vuelve hacia su casa
Y en la alegría del frutero
Y en fin, lloviendo en Buenos Aires sigue
Yo no he traido ni paraguas, llueve
Y en fin, lloviendo en Buenos Aires sigue
Yo no he traido ni paraguas, llueve
Llueve…

.oOo.

1965
CONCIERTO EN EL PHILARMONIC HALL DE NEW YORK (Quinteto)
Polydor 27136 L.P. Grabado en estudios en Buenos Aires.
TANGO DIABLO.
ROMANCE DEL DIABLO.
VAYAMOS AL DIABLO.
CANTO DE OCTUBRE.
MAR DEL PLATA ’70.
TODO BUENOS AIRES.
MILONGA DEL ANGEL.
RESURRECCION DEL ANGEL.
LA MUFA.
(Todos temas de A.Piazzolla).
Formación: Astor Piazzolla (bandoneón), Jaime Gosis (piano), Antonio Agri (violín), Kicho Díaz
(contrabajo), Oscar López Ruiz (guitarra).

ANOS 70
CON AMELITA BALTAR
PRELUDIO PARA EL AÑO 3001 (A.Piazzolla – H.Ferrer).
BALADA PARA MI MUERTE (A.Piazzolla – H.Ferrer).
BALADA PARA UN LOCO (A.Piazzolla – H.Ferrer).
VAMOS NINA (A.Piazzolla – H.Ferrer).
LAS CIUDADES (A.Piazzolla – H.Ferrer).
LOS PARAGUAS DE BUENOS AIRES (A.Piazzolla – H.Ferrer).
LA PRIMERA PALABRA (A.Piazzolla – H.Ferrer).
NO QUIERO OTRO (A.Piazzolla – H.Ferrer).
PEQUEÑA CANCION PARA MATILDE (A.Piazzolla – P.Neruda).
VIOLETAS POPULARES (A.Piazzolla – M.Trejo).
Várias formações

1985
MILVA – PIAZZOLLA (Quinteto)
Polydor 825 125-1-B L.P. Grabado en vivo en París en el teatro Bouffes du Nord.
BALADA PARA MI MUERTE (A.Piazzolla – H.Ferrer).
LOS PAJAROS PERDIDOS (A.Piazzolla – M.Trejo).
DECARISIMO (A.Piazzolla).
AÑOS DE SOLEDAD (A.Piazzolla – M.Le Forestier).
BALADA PARA UN LOCO (A.Piazzolla – H.Ferrer).
VAMOS NINA (A.Piazzolla – H.Ferrer).
YO OLVIDO (A.Piazzolla – D.McNeil).
CHE TANGO CHE (A.Piazzolla – J.C. Carriere).
PRELUDIO PARA EL AÑO 3001 (A.Piazzolla – H.Ferrer).
FINALE ENTRE BRECHT ET BREL (A.Piazzolla – C.Lemesle).
FORMACION:
Astor Piazzolla (bandoneón), Pablo Ziegler (piano), Fernando Suárez Paz (violín), Oscar López Ruiz
(guitarra), Héctor Console (contrabajo).

1986
HORA ZERO (Quinteto)
American Clave CD AMCL 1013. Grabado en EE.UU.
TANGUEDIA III.
MILONGA DEL ANGEL.
CONCIERTO PARA QUINTETO.
MILONGA LOCA.
MICHELANGELO ’70.
CONTRABAJISIMO.
MUMUKI.
(Todos temas de A.Piazzolla).
FORMACION:
Astor Piazzolla (bandoneón), Pablo Ziegler (piano), Fernando Suárez Paz (violín, Horacio Malvicino
(guitarra), Héctor Console (contrabajo).

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

tango

PQP

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Piazzolla (1921-1992) por Piazzolla — 5 CDs criteriosamente escolhidos por nossa consultoria #Piazzolla100

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Piazzolla (1921-1992) por Piazzolla — 5 CDs criteriosamente escolhidos por nossa consultoria #Piazzolla100

IM-PER-DÍ-VEL !!!!

Foda. Sim, PQP Bach é foda. Um de nossos consultores entrou em contato conosco através do Facebook declarando possuir 60 LPs e 20 CDs de Astor. Em outras palavras, ele tem a atual discografia completa.

Algumas palavras de nosso consultor:

Posso colaborar com Piazzollas se precisar. Tenho tudo. // tens algum disco em mente? // passo pra mp3 e te mando // ou posso escolher? // vamos homenagear o velho // vou te mandar 4 (Mandou 5)  // dois novos e 2 com 10 anos de diferença // é que subir os 80 discos fica meio complicado // hehehe // mas tenho só Piazzolla por Piazzolla // nada de interpretações de outros // todos com ele tocando // não gosto muito de outras interpretações, perdem muito da violência intrínseca // que me (nos) gusta // para quem viu o velho tocando bem de perto … // ah sim, vi 3 vezes aqui (vi uma) // vou até ver se acho os ingressos para postar // acho que tenho ainda // essa minha mania de guardar coisas // hehehe // to pensando num disco bem antigo pra subir // não decidi ainda, só sei que não será dos de 78 rpm // um com interpretações bem diferentes // vou lá ver enquanto sobe aqui // coloquei tudo em 192 KBPs, acho é bom // vou subir depois o Piazzolla 1960, de vinil, no original, só vou tirar uns clicks.

Pedi-lhe la crème de la crème e abaixo está o resultado. Tchê, estou ouvindo o último disco. Cara, SÃO DEMAIS. Grandes discos, estou muito feliz.

Fonte das informações abaixo: aqui. Mais leitura aqui.

-=-=-=-=-=-

PIAZZOLLA INTERPRETA A PIAZZOLLA (Quinteto) — 1961
RCA Victor AVL 3383 L.P.

ADIOS NONINO
BERRETIN
CONTRABAJEANDO (A.Piazzolla – A.Troilo)
TANGUISIMO
DECARISIMO
LO QUE VENDRA
LA CALLE 92
CALAMBRE
LOS POSEIDOS
NONINO.

Todos os temas são de Piazzolla, menos os indicados.

Astor Piazzolla (bandoneón), Jaime Gosis (piano), Simón Bajour (violin), Kicho Díaz (contrabajo), Horacio Malvicino (guitarra).

-=-=-=-=-=-

PULSACION (Orquesta) — 1970
Trova ST 5038 L.P.

PULSACION 1
PULSACION 2
PULSACION 4
PULSACION 5
FUGA Y MISTERIO
CONTRAMILONGA A LA FUNERALA
ALLEGRO TANGABILE
TOCATA REA
TANGATA DEL ALBA.

Todos os temas são de Piazzolla.

Astor Piazzolla (bandoneón), Jaime Gosis (piano), Antonio Agri, Hugo Baralis (violines), Víctor Pontino (cello), Néstor Panik (viola), Kicho Díaz (contrabajo), Cacho Tirao (guitarra), Arturo Schneider (flauta y saxo), José Corriale (percusión), Tito Bisio (vibrafón, xilofón , campanelli). En los temas de Pulsación, Dante Amicarelli (piano) por Jaime Gosis, Simón Zlotnik (viola) por Néstor Panik y José Bragato (cello) por Victor Pontino.

-=-=-=-=-=-

PIAZZOLLA 77 (Orquesta) — 1977
Trova DA 5011 L.P. Grabado en Italia. Sello Original: Carosello. Productor: Aldo Pagani.

CIUDAD TANGO
PLA-SOL-LA-SOL
LARGO TANGABILE
PERSECUTA
WINDY
MODERATO TANGABILE
CANTO Y FUGA.

Todos os temas são de Piazzolla.

-=-=-=-=-=-

TANGO APASIONADO — 1988
American Clave Nº 1019. Grabado en EE.UU.

PROLOGUE TANGO APASIONADO
MILONGA FOR THREE
STREET TANGO
MILONGA PICARESQUE
KNIFE FIGHT
LEONORA’S SONG
PRELUDE TO THE CYCLICAL NIGHT
BUTCHER’S DEATH
LEIJIA’S GAME
MILONGA REPRISE
BAILONGO
LEONORA’S LOVE
FINALE TANGO APASIONADO
PRELUDE TO THE CYCLICAL NIGHT (Part Two).

Todos os temas são de Piazzolla.

FORMACION:
Astor Piazzolla (bandoneón). Pablo Zinger (piano; no hay error se trata de otro pianista; Zinger suele colaborar con Paquito D’ Rivera), Fernando Suárez Paz (violín). Paquito D’Rivera (saxo alto). Andy González (bajo). Rodolfo Alchourrón (guitarra).

-=-=-=-=-=-

LA CAMORRA (Quinteto) — 1989
American Clave Nº 1021. Grabado en EE.UU.

SOLEDAD
LA CAMORRA I
LA CAMORRA II
LA CAMORRA III
FUGATA
SUR – LOS SUEÑOS
REGRESO AL AMOR.

Todos os temas são de Piazzolla.
Histórico: es la última grabación del Quinteto.

FORMACION:
Astor Piazzolla (bandoneón), Pablo Ziegler (piano), Fernando Suárez Paz (violín), Horacio Malvicino (guitarra), Héctor Console (contrabajo).

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Ainda bem que abriste os botões da camisa, Astor
Ainda bem que abriste os botões da camisa, Astor

PQP

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Concierto para bandoneón – Tres tangos – Piazzolla – Schifrin #Piazzolla100

De Ástor não lhes falarei – meus colegas falarão mais, e melhor. Limitar-me-ei a contribuir, na justa homenagem a seu centenário, com uma entre as tantas gravações desse gênio multifacetado que esparramou criatividade para todos os gêneros, como se prisma fosse, a partir de suas firmes fundações tanguísticas.

Se escolhi este disco entre tantos, claro, não foi sem bons motivos. Afinal, um dos mimimis mais consistentes durante a carreira de Piazzolla foi o dos que protestavam contra as audições de sua  música nos sacrossantos palcos em que, criam eles, só se deveria ouvir música de concerto. Hoje, quase três décadas depois de sua morte, tantos são os grandes concertistas a levarem suas obras no repertório a todos os palcos do mundo que nos fica difícil imaginar possível um reproche desses. No entanto, muitos tomates zuniam sobre Piazzolla a cada tentativa, usualmente magistral, de integrar as tradições da música de concerto, do tango e do jazz, e dá-las ao mundo através de seu Nuevo Tango. Imagino, assim, que sua vontade de provocar os detratores e ganhar uma tomatina privê fosse a maior de sua vida ao compor, em 1979, seu concerto para bandoneon e orquestra.

Ainda que composto na tradicional forma de três movimentos, sendo um lento flanqueado por dois rápidos, o concerto mostra de quem é criatura logo nos primeiros, vigorosos compassos, com a entrada imediata do solista num assertivo tango, acompanhado por uma orquestra que, claramente, é tão só um disfarce camerístico para o tradicional quinteto piazzolliano. A notável adição à turma de cordas, piano e percussão é a harpa, de participação marcante no primeiro movimento e convidada de honra do bandoneon no belo dueto do segundo. O finale, claramente inspirado em La Muerte del Ángel, cita um tango composto para a trilha sonora de Con alma y vida – escolha que, como Ástor nos contou, também,não foi à toa:

Não sabia como o terminar. Então disse a mim mesmo: vou-lhes dar um tango, de modo que os eruditos saibam que, quando quero, eu posso compor como eles, e que quando eu quero eu faço as coisas do meu jeito”

Se os “eruditos” tivessem qualquer dúvida disso, bastar-lhes-ia acompanhar a engenhosa transformação da seção assinalada como Melancolico final na erupção rítmica que arremata o concerto: coisa de consumado mestre, cujo legado viverá muito mais que o desses pobres-diabos.

 

Ástor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)

Concierto para Bandoneón y Orquesta

1 – Allegro marcato
2 – Moderato
3 – Presto – Melancolico final

Tres Tangos para Bandoneón y Orquesta

4 – Allegro tranquillo
5 – Moderato místico
6 – Allegro molto marcato

Ástor Piazzolla, bandoneón
Orchestra of St. Luke’s
Lalo Schifrin, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

 

“Diminuto bandoneonista argentino”: anúncio da estreia profissional de Piazzolla na Argentina, em 1936, depois de voltar com sua família dos Estados Unidos, onde viveram.
O “disminuto bandoneinista” Ástor, como menino-jornaleiro, e seu ídolo Carlos Gardel no filme “El día que me quieras” (1935). O filme foi rodado em “Nueva York”, onde os Piazzollas viviam, e o astro afeiçoou-se ao jovem músico, convidando-o para fazer essa ponta. Fez-lhe também o convite para se juntar à turnê de seu conjunto, mas o pai do moleque não permitiu. Essa recusa salvaria a vida de Ástor: Gardel e seus músicos morreriam num desastre aéreo em Medellín, no ano em que o filme foi lançado. Mais tarde, superado o trauma colossal da morte de “Carlitos”, Piazzolla comentaria jocosamente que, se tivesse desobedecido seu pai e acompanhado Gardel, ele estaria “tocando harpa, e não bandoneón”

Vassily

P. S.: Para completar a homenagem a Ástor, restaurei dois links quebrados:

Astor Piazzolla (1921-1992): Five Tango Sensations com Piazzolla e o Kronos Quartet – LINK REVALIDADO

.: interlúdio :. Astor Piazzolla (1921-1992) — Los Tangueros (com Pablo Ziegler e Emanuel Ax)

Astor Piazzolla: os 100 anos do combativ(d)o vanguardista

Essa semana a gente deveria ser arrogante como um portenho. Deveria ser literariamente perfeito como um portenho. Deveria só beber té con leche. E deveria manter profundo respeito pela música deles. Afinal, dia 11 comemora-se os 100 anos de nascimento de Astor Pantaleón Piazzolla (1921-1992).

O homem no centro da cena do filme abaixo é o argentino, uruguaio ou francês Carlos Gardel (1890-1935). E o menino de 13 anos que faz o papel de um jornaleiro e que está à esquerda na cena de El día que me quieras chamava-se Astor Piazzolla e era o filho único dos imigrantes italianos Vicente Piazzolla e Asunta Manetti que, anos depois, revolucionaria o tango argentino. Desnecessário dizer que esta cena possui um poderoso valor emblemático na história do tango. El día que me quieras foi filmado no ano de morte de Gardel e ali casualmente aparecia, ainda menino, aquele que, anos depois, viraria o tango de cabeça para baixo. Por que justamente o menino Astor foi figurante na película? Ora, o filme foi rodado em Nova Iorque, naquela época a família de Piazzolla morava na cidade, conhecia Gardel e, bem, o garoto estava disponível.

É claro que a maioria de nós não tem a mesma imagem do tango que os argentinos têm. Para nós, Piazzolla é a estrela internacional que é gravado tanto por pequenos grupos de tangueiros como por grandes orquestras sinfônicas ou de câmara, pois sua música efetivamente abarca o popular e o erudito, como tentaremos comprovar abaixo. Aos estrangeiros como nós surpreende ler, sempre associada a seu nome, a palavra Revolução. Por exemplo, a página oficial de Astor Piazzolla na Internet, onde consta sua biografia, começa com letras garrafais: Astor Piazzolla: Cronología de una Revolución, ou seja, a briga com os tangueiros tradicionais não foi esquecida e, quando lemos que os deuses de Piazzolla eram Bach, Stravinsky, Bartók e o jazzista Stan Kenton e, mais, que ele estudou com Nadia Boulanger na Paris dos anos 50, começamos a entender alguma coisa. Ele bebeu de tantas fontes que sua criação haveria de ser muito diversa do habitual.

Astor Piazzolla | Foto: Carlos Ebert

Piazzolla nasceu em 11 de março de 1921 em Mar Del Plata e, quando tinha 4 anos, sua família mudou-se para Nova Iorque. Residiram nos EUA entre 1925 e 1936. Foi lá que, aos 8 anos de idade, ele ganhou de seu pai o primeiro bandoneón — , comprado numa loja de penhores por 19 dólares. Estudou o instrumento por um ano com Andrés DÁquila e aos 10 anos de idade, em 1931, realizou sua primeira gravação, Marionete Spagnol, um acetato não comercial resultado de uma participação radiofônica numa rádio de Nova Iorque. Em 1933, começou a ter aulas de piano com o húngaro Bela Wilda, discípulo de Rachmaninov, e sobre o qual Piazzolla diria mais tarde “Com ele, comecei a amar Bach”.

Retornou em 1936 com sua família para Mar del Plata, onde fez sua segunda grande descoberta, bem longe do barroco tardio de Bach. Ouviu no rádio o sexteto de Elvino Vardaro. A forma diferente que o sexteto tinha de interpretar tangos impressionou Piazzolla profundamente e levou-o a Buenos Aires em 1938. Tinha apenas 17 anos. Tudo foi muito rápido. No ano seguinte, já estava entrando como bandeonista na orquestra de Anibal “Pichuco” Troilo.

Troilo e Piazzolla

Sentindo a necessidade de avançar musicalmente — mesmo já sendo o arranjador da orquestra Troilo — , em 1941 tornou-se aluno do compositor erudito Alberto Ginastera e depois estudou piano com Raúl Spivak. Seus arranjos e obras tornaram-se avançados demais para Troilo, que obrigava-se a cortes e mais cortes de modo a não assustar os bailarinos na pista…

Em 1943, Piazzolla começou a escrever composições de caráter “erudito”, como a Suite para cordas, harpa e orquestra, e decidiu abandonar orquestra de Troilo a fim de participar de outra: a que acompanhava o cantor Francisco Fiorentino. Ficou nela até 1946, quando criou sua primeira orquestra. Ela tinha formação semelhante às outras orquestras da época, porém as composições e orquestrações tinham cada vez maiores complexidades harmônicas. Datam desta época as primeiras rusgas com os tangueiros tradicionais.

Em 1949, Piazzolla dissolveu a orquestra e voltou a estudar. Desta vez, seu foco era Bartók e Stravinsky. Estudou regência com o extraordinário maestro Hermann Scherchen e passou a ouvir a montanhas de disco de jazz. Torna-se obsessão a busca por um novo estilo, por um novo tango. Tinha 28 anos.

Entre 1950 e 1954 cria um grupo de obras inteiramente fora da concepção de tango da época e onde começa a definir seu estilo: Para lucirse, Tanguango, Prepárense, Contrabajeando, Triunfal, Lo que vendrá. Em 1953, inscreve Buenos Aires (Tres movimientos Sinfónicos) — trabalho de 1951 — no concurso Fabien Sevitzky. Vence o concurso e a obra é mostrada na Faculdade de Direito de Buenos Aires pela Orquestra Sinfônica da Rádio do Estado com a adição de dois bandoneóns, tudo sob a direção do próprio Sevitzky. Foi um enorme escândalo: o setor “culto” da plateia indignou-se em razão da presença de dois instrumentos estranhos e populares com a sinfônica.

Nadia Boulanger e Astor Piazzolla em Paris no ano de 1955

Outro dos prêmios que Piazzolla ganhou neste concurso foi uma bolsa do governo francês para estudar em Paris com Nadia Boulanger, considerada na época como a melhor educadora do mundo da música. De início, Piazzolla tentou esconder seu passado tangueiro no bandeonón, pensando em tornar-se um compositor erudito. Mas a velha mestra descobriu seu tango Triunfal, ouviu-o, e fez a histórica recomendação: “Astor, suas peças clássicas são bem escritas, mas o Piazzolla está nisto que me mostraste”.

Convencido, Piazzolla retorna ao tango e a seu instrumento, o bandoneón. O que antes era música erudita ou tango, agora será música erudita e tango, ou melhor dizendo, música erudita sob a paixão do tango, ou o contrário… Em Paris, ele compõe e grava uma série de tangos com uma orquestra de cordas e passa a tocar o bandoneón em pé, com uma perna sobre uma cadeira, algo que iria caracterizá-lo para sempre e será mais uma incomodação para os tradicionalistas que o queriam sentado.

Quando Piazzolla retornou à Argentina em 1955 retomou a orquestra de cordas e também formou outro grupo, o Octeto Buenos Aires, que marca efetivamente o início da era do tango contemporâneo. Com dois bandonéons, dois violinos, baixo, violoncelo, piano e guitarra elétrica, produziu obras inovadoras e interpretações que produziram uma ruptura com o tango tradicional. Era uma música que fugia ao modelo clássico da orquestra de tango e onde não tinha espaço para o cantor. Começava sua revolução solitária e a inimizade eterna para com o pessoal do tango ortodoxo, despertando contra si as críticas mais impiedosas. As gravadoras e as rádios organizaram um boicote contra sua música, admirada apenas pelos vanguardistas.

Enquanto os eruditos foram rapidamente dobrados pela qualidade de sua música, os tradicionalistas criaram um problema de estado. Estavam mexendo no tango. Piazzolla não colaborava muito para a paz, mantendo sua postura e respondendo com ironias.

Cansado, em 1958, Astor “no es tango” Piazzolla dissolveu o octeto e a orquestra a fim de viajar para Nova York. Trabalharia como arranjador e viveria com maior conforto. Na Argentina, a controvérsia sobre se sua música seria tango ou não seguiu seu curso, mas agora seu sucesso no exterior começava a gerar intensa inveja entre a comunidade tangueira, o que não melhorava em nada o ambiente. Ele acenou com a possibilidade de paz chamado sua música de “música contemporânea da cidade de Buenos Aires”, mas continuava provocando com sua vestimenta informal e sua pose de tocar o bandoneón em pé (por que não senta?) e com suas respostas nada reverentes.

Entre 1958 e 1960, trabalhou nos EUA. Lá, escreveu Adiós Nonino, homenagem a seu pai que morrera. Ao retornar, forma o primeiro de seus grandes quintetos, o Nuevo Tango (bandoneon, violino, piano, baixo e guitarra). A partir de então, o quinteto seria o formato preferencial — era a síntese que melhor expressava suas ideias.

Jorge Luis Borges e Astor Piazzolla em 1965

É de 1963 a peça Três Tangos Sinfónicos e de 1965 a gravação de dois de seus discos mais importantes: Piazzolla en el Philarmonic Hall de Nova York e El Tango, resultado de uma parceria com Jorge Luis Borges.

Em 1968, compõe a “pequena ópera” María de Buenos Aires e, pela primeira vez chega ao tango canción. Não é casual que isto ocorresse durante seu namoro com a cantora Amelita Baltar. No ano seguinte, compõe com Horacio Ferrer Balada para un loco, canção de alta temperatura emocional apresentada no Primeiro Festival da Canção da América Latina, onde foi premiada com um muito polêmico segundo lugar. Foi seu primeiro grande sucesso popular. Amelita Baltar costumava cantar a canção tendo o próprio Piazzolla com regente de orquestra.

Mais um ano e é a vez do oratório El Pueblo Joven, cuja estreia acontece em Saarbruck (Alemanha) em 1971. Nesse mesmo ano, ele formou o Conjunto 9, atuando em Buenos Aires e na Itália, onde gravou vários programas para a RAI. Este grupo foi como um sonho para Piazzolla: o grupo de câmara que ele sempre quis ter e para o qual produziu sua música mais elaborada. Porém era muito caro e Piazzolla não conseguiu mantê-lo.

Em 1972, seu tango chegou ao Teatro Colón em Buenos Aires, mas junto com o tango tradicional. No ano seguinte, após um período de grande produtividade como compositor, teve um ataque cardíaco que o obrigou a reduzir suas atividades artísticas.

Reduziu, pero no mucho. Naquele mesmo ano, decidiu mudar-se para a Itália, onde empreendeu inacreditável série de gravações. Foram 5 anos. Libertango, seu disco mais famoso, é desta época e serviu como carta de apresentação para o público europeu, que nunca mais o largaria.



Durante esses anos, forma o Conjunto Electrónico: um octeto formado por bandoneón, piano elétrico ou acústico, guitarra, órgão, baixo elétrico, bateria, sintetizador e violino, mais tarde substituído por flauta ou saxofone. Era algo muito original e alguns falam em jazz-rock. Mas Piazzolla negava: “Aí está minha música, muito tango e nada de rock”.

Em 1974, separou-se de Baltar. Naquele mesmo ano, gravou com o saxofonista Gerry Mulligan um outro grande disco: Summit, com uma orquestra italiana. A música que Piazzolla compôs para este disco revela profundo respeito pela forma. São melodias para bandoneón e sax barítono sobre uma base rítmica, obra feita por ele e um gigante do jazz, Mulligan. Um esforço muito bem sucedido.

Os dez anos seguintes são de colheita. Ele intensifica seus shows em todo o mundo: Europa, América do Sul, Japão e Estados Unidos. A série de concertos é feita em sua maioria com o quinteto ou como solista de orquestras de câmara. Existem inúmeras gravações ao vivo desses concertos, em CD. Na época, dizia-se que a música de Piazzolla não existia sem ele, o que hoje é apenas uma piada.

Em 1982, escreve Le Grand Tango para Violoncelo e Piano, dedicado ao violoncelista russo Mtislav Rostropovich e, fi-nal-men-te,  em 1983, o Teatro Colón de Buenos Aires, o local da música clássica na Argentina, convida-o para um concerto inteiramente dedicado a sua música. Para a ocasião, ele reúne o Conjunto 9 e sola em seu célebre Concerto para bandoneón e orquestra. Vencera os argentinos. Ou contornara os tradicionalistas.

No final da década de 80, Piazzolla lança mais uma extraordinária série de discos, desta vez nos EUA de sua infância: Tango Zero Hour, Tango Apasionado, La Camorra, Five Tango Sensations (com o Kronos Quartet), Piazzolla con Gary Burton, etc.

Em 1988, poucos meses após a gravação do que seria o último registro com o quinteto La Camorra, recebe quatro pontes de safena. Seguem os concertos até 4 de agosto de 1990, em Paris, onde sofre um acidente vascular cerebral. Morre em Buenos Aires em 4 de julho de 1992.

Hoje, basta caminhar pelas ruas de Buenos Aires para ouvir Piazzolla. Pode não ser uma música de sua autoria, mas sentimos sua presença. A notável forma como os músicos eruditos adotaram sua obra é também digna de nota, mas ela também influencia músicos populares como os japoneses do mama!milk…

eruditos brasileiros…

o multinacional nascido em Paris Gotan Project…

E os argentinos do Escalandrum, sensacional grupo do neto Daniel Piazzolla (baterista).

Com contribuições do site http://www.piazzolla.org/, de onde alguns trechos foram simplesmente traduzidos, e de muitas outras fontes que não saberia precisar.

A Obra Completa de Béla Bartók (1881-1945) – Quarteto de cordas Nº 5 [Bartók – 6 String Quartets – Belcea Quartet] #BRTK140

A Obra Completa de Béla Bartók (1881-1945) – Quarteto de cordas Nº 5 [Bartók – 6 String Quartets – Belcea Quartet] #BRTK140

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Erico Verissimo amava esses quartetos, porém, durante a Guerra do Vietnam, disse que não conseguia mais ouvi-los pois eles lhe evocavam um mundo rumando para a destruição. Imaginem se ele estivesse vivo, vendo o descaso de algumas pessoas em relação às mudanças climáticas e à ciência. Imaginem Erico e Bolsonaro…

Bem, não nos deprimamos. Os seis quartetos de Bartók podem ser misteriosos, íntimos, inovadores, transcendentes, francos ou terrenos e suas infinitas sutilezas mereces estudos e louvores de uma vida bem aproveitada. O Belcea Quartet tocou todos os quartetos de Bartók no Wigmore Hall. Lá, a primeiro violino Corina Belcea-Fisher comentou: “Quanto mais nos envolvemos nessas obras, mais beleza e riqueza descobrimos nelas e esperamos que esse apelo ainda aumente no futuro. porque definitivamente consideramos esses quartetos as maiores obras-primas do século passado”. Concordo.

O 1º Quarteto é o mais romântico em espírito e na verdade abriga uma história de amor. Ele marca uma retirada afetuosa de um fin-de-siécle romântico tardio. O 2º (1915-1917) leva-nos de alguma maneira em direção ao Bartók corajoso e contundente do meio da década de 1920. O 3º Quarteto de Bartók parece imitar uma rapsódia húngara (a alternância de música rápida e lenta), enquanto vai montando pequenas células temáticas, transformando-as em locais de fervilhante de atividade musical. Os próximos dois quartetos de Bartók são escritos de maneira não convencional em cinco movimentos e em desenho simétrico. O 4º (1928) tem em seu centro um exemplo evocativo, embora austero, da “música noturna” de Bartók que se abre com um solo de violoncelo, que imita o canto dos pássaros. O 2º e 4º movimentos deste quarteto são scherzi. O 5º Quarteto (1934) é construído em uma escala muito maior. Bartók modifica a forma do arco colocando um scherzo no centro, um movimento de dança que parece algo nordestino, cercado de dois movimentos lentos (2º e 4º) usando sequências de acordes semelhantes. O ar de tristeza infindável que paira sobre o último quarteto de Bartók (1938) reflete não apenas uma Europa doente, mas também uma tragédia pessoal: a jornada de sua mãe rumo à morte terminaria em dezembro de 1939. Todos os quatro movimentos se abrem com um mesto. Nunca um ciclo de quartetos terminou tão inequivocamente ou fez soou um aviso mais verdadeiro. Era o ano de 1938.

O Belcea, liderado pela romena Corina Belcea-Fisher, calibra muito bem os momentos de lirismo e selvageria destes quartetos. Gosto demais da versão deles dos quartetos. Mas nosso foco agora é o quinto.

O penúltimo quarteto de Bartók foi composto em 1934 por encomenda de Elizabeth Sprague Coolidge, na época a patrona musical mais proeminente dos EUA. Ele representa uma leve suavização do idioma de Bartók, os sons são menos dissonantes do que em seus quartetos anteriores, apesar da aspereza presente aqui e ali. Como gostava de fazer, Bartók usa uma forma de “arco” em 5 movimentos, há um scherzo central cercado por dois movimentos lentos, que por sua vez são limitados dois por movimentos rápidos e enérgicos. Ou seja, o Quarteto de Cordas nº 5 de Bartók é composto por cinco movimentos em uma grande estrutura na forma de um palíndromo.

O movimento de abertura inicia freneticamente com um tema todo quebrado. A coisa é vigorosa. Com seus motivos rítmicos batendo fortemente, há uma muito clara ideia de espelho. O primeiro movimento já em si é um palíndromo, pois os três temas da exposição são reafirmados na recapitulação na ordem inversa e, bem, de cabeça para baixo! Essas técnicas são mais aparentes no papel do que para o ouvinte. Para nós, fica a ideia de um belíssimo, complexo e robusto movimento de abertura, algo quase impossível de ser reproduzido por nossa imaginação.

Depois vem um delicado segundo movimento, cheios de frases curtas e hesitantes sobre harmonias suaves. É como se estivéssemos no Adágio do Quintetão de Schubert. É um exemplo hipnótico da música noturna de Bartok. Aqui e no quarto movimento, aparecem sons realmente da noite, tais como insetos, pássaros e talvez sapos.

E então chegamos a um Scherzo dito em “estilo búlgaro”, mas que parece nordestino. Muito nordestino. Eu me transporto para o sertão ali depois de 1min45 de música. Mas desde o começo também. Confiram!

O quarto movimento, como o segundo, apresenta harmonias quase amorosas quando os violinos tocam acordes delicados com intervenções da viola.

O final é furioso, com momentos zombeteiros e atrevidos. Perto do final, onde esperaríamos um clímax, a música parece ser um carrossel fora de sintonia. Entra uma melodia evidentemente bobinha, com o quarteto sendo orientados a tocar “com indiferença”. Uma obra-prima!

O Belcea Quartet

Béla Bartók (1881-1945): Os Quartetos de Cordas 1-6

CD1:
1. String Quartet No. 1 in A minor, Sz. 40, BB 52 (Op. 7): 1. Lento
2. String Quartet No. 1 in A minor, Sz. 40, BB 52 (Op. 7): 2. Allegretto
3. String Quartet No. 1 in A minor, Sz. 40, BB 52 (Op. 7): 3. Introduzione (Allegro) – Allegro vivace

4. String Quartet No. 3 in C sharp major, Sz. 85, BB 93: 1. Prima parte: Moderato
5. String Quartet No. 3 in C sharp major, Sz. 85, BB 93: 2. Seconda parte: Allegro
6. String Quartet No. 3 in C sharp major, Sz. 85, BB 93: 3. Ricapitolazione dell prima parte: Moderato – Coda: Allegro molto

7. String Quartet No. 5 in B flat major, Sz. 102, BB 110: 1. Allegro
8. String Quartet No. 5 in B flat major, Sz. 102, BB 110: 2. Adagio molto
9. String Quartet No. 5 in B flat major, Sz. 102, BB 110: 3. Scherzo (Alla bulgarese) – Trio
10. String Quartet No. 5 in B flat major, Sz. 102, BB 110: 4. Andante
11. String Quartet No. 5 in B flat major, Sz. 102, BB 110: 5. Finale (Allegro vivace)

CD2:
1. String Quartet No. 2 in A minor, Sz. 67, BB 75 (Op. 17): 1. Moderato
2. String Quartet No. 2 in A minor, Sz. 67, BB 75 (Op. 17): 2. Allegro molto capriccioso
3. String Quartet No. 2 in A minor, Sz. 67, BB 75 (Op. 17): 3. Lento

4. String Quartet No. 4 in C major, Sz. 91, BB 95: 1. Allegro
5. String Quartet No. 4 in C major, Sz. 91, BB 95: 2. Prestissimo, con sordino
6. String Quartet No. 4 in C major, Sz. 91, BB 95: 3. Non troppo lento
7. String Quartet No. 4 in C major, Sz. 91, BB 95: 4. Allegretto pizzicato
8. String Quartet No. 4 in C major, Sz. 91, BB 95: 5. Allegro molto

9. String Quartet No. 6 in D major, Sz. 114, BB 119: 1. Mesto – Vivace
10. String Quartet No. 6 in D major, Sz. 114, BB 119: 2. Mesto – Marcia
11. String Quartet No. 6 in D major, Sz. 114, BB 119: 3. Mesto – Burletta (Moderato)
12. String Quartet No. 6 in D major, Sz. 114, BB 119: 4. Mesto

Belcea Quartet:
Corina Belcea-Fisher, violino
Laura Samuel, violino
Krzysztof Chorzelski, viola
Antoine Lederlin, violoncelo

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Quem seria?

PQP