Eu amo a música moderna, principalmente aquela mais destrutiva. Varèse não é difícil se você já conhece e ama certo Messiaen. Em parte e em determinado período de suas vidas, ambos adotaram o vocabulário de Stravinsky de A Sagração da Primavera e o levaram para um território novo e altamente pessoal. Mas o número de ouvintes que querem pisar nesta selva é diminuto — as pessoas querem a beleza… Ora, vivemos num país horrível, com um governo que estimula a violência e a feiura. Gosto do belo, mas acho que o caos deve ter sua representação. Principalmente o caos erudito. Bem, Boulez entra no mundo sonoro de Varèse com o colorido de Strava em mente. Eu passei anos evitando Varèse, achando seus ataques massivos muito exaustivos. Mas o amor óbvio de Boulez por essa música e suas performances me convenceram. Varèse, eu agora concordo, é um original que precisa ser atendido em seus próprios termos, que incluem melodias e ritmos de dança — jamais ficamos totalmente inundados de ruído, apesar da notória sirene de incêndio em Amériques e Ionisation (na verdade, essa sirene é um instrumento musical eficaz, produzindo urgência, urgência!). Amériques é sensacional, mas as mais delicadas Déserts e Ionisation, talvez sejam pontos melhores para se entrar no mundo de Varèse. A gravação de DG é clara e tem muito impacto, mas fica aquém do espetacular retrato sonoro de Chailly para a Decca.
Edgard Varèse (1883-1965): Boulez Conducts Varèse
1 Amériques 25:12
2 Arcana 19:42
3 Déserts 17:11
4 Ionisation 5:51
Chicago Symphony Orchestra
Pierre Boulez
PQP