Claude Debussy (1862-1918): Suite bergamasque, Pour le piano, L’Isle joyeuse, Children’s corner, La plus que lente, 4 Prelúdios, 4 Estudos, etc

Prosadores: Flaubert, Edgar Allan Poe
Poeta: Baudelaire
Pintores e músicos: Botticelli, Gustave Moreau, Palestrina, Bach, Wagner
Comida e bebida: culinária russa, café
Aversões: diletantes, mulheres belas demais
Para qual falha tens mais indulgência: falhas de harmonia

Questionário respondido por Debussy em 1889

Em 1889 dois eventos importantes acontecem: Debussy vai a Bayreuth pela segunda e última vez, admirando ainda a música de Wagner, mas já começando a se opor à estética grandiloquente do romantismo tardio alemão. E, em Paris, acontece a Exposição Universal (para a qual a torre Eiffel foi criada) onde Debussy passou muitas horas atento às melodias não ocidentais e à polirritmia percussiva da música do extremo-oriente.

Instrumentos de Java (atual Indonésia) que deixaram Debussy louquinho
Instrumentos de Java (atual Indonésia) que deixaram Debussy louquinho

As primeiras obras importantes de Debussy foram compostas a partir de 1889. Hoje trago dois grandes pianistas do século passado, tocando obras que vão das primeiras relevantes de Debussy (Arabesques, 1890-91, Suite Bergamasque, 1890-1905) até alguns dos Estudos (1915) que representam a última fase de Debussy, a mais revolucionária de todas.

Achei necessário juntar o alemão Walter Gieseking (1895–1956) e o francês Samson François (1924–1970) para dar uma ideia da diversidade de interpretações possíveis. Samson François foi aluno de Alfred Cortot, Marguerite Long e Yvonne Lefébure em Paris, se inscrevendo na tradição francesa de piano, que considerava o trabalho sobre a sonoridade mais importante do que a perfeição técnica. Algo impensável nos concursos de piano atuais, é claro. Assim como Cortot, François usava alguns rubatos em Chopin que hoje em dia seriam considerados errados pelos especialistas de plantão*. Seu Debussy também tem bastante rubato em alguns momentos mais expansivos, como na suíte Pour le Piano. A valsa La plus que lente, por exemplo, tem a indicação de tempo: Lent (Molto rubato con morbidezza) – Lento (Muito rubato com suavidade). Comparar as gravações dessa obra por Gieseking e Samson François é comparar dois tipos de rubato e duas visões de mundo.

O CD que finalmente trouxe à era digital o Debussy de Samson ganhou o Preis der deutschen Schallplattenkritik (Prêmio da crítica discográfica alemã). O encarte do CD diz: “As gravações de 1961 são dominadas por uma Isle Joyeuse deslumbrante, como iluminada pelo sol de meio-dia, e por uma versão dionisíaca de Pour le piano, mostrando como o toque de Samson renova consideravelmente a visão impressionista unanimemente praticada desde as justamente lendárias gravações de Walter Gieseking. Com essas gravações podemos sentir como o Debussy de Samson era ao mesmo tempo pessoal e natural. Nada parece calculado.” Samson François gravou mais Debussy entre 1968 e 1970: as Imagens, os Prelúdios, mas nessas gravações já se escuta o declínio do artista que viria a morrer jovem.

Gieseking era daqueles pianistas com uma memória sobrehumana: tocava todas as sonatas de Beethoven e de Mozart, muito Scriabin, todo o piano de Ravel e Debussy, e é por esse último que ele é mais lembrado até hoje. Para a Gramophone:

Em primeiro lugar, há a sonoridade de Gieseking, de tal delicadeza e variedade que pode complementar o desejo espirituoso e irônico de Debussy de escrever música “para um instrumento sem martelos”

Ninguém (nem mesmo Cortot) capturou em Children’s Corner o sentido de uma terra perdida e encantada, da infância revivida através de lágrimas e risos adultos.

*Neuhaus, russo, professor de Richter e Gilels, dizia: “Rubare é o italiano para roubar e se você roubar o tempo sem devolvê-lo logo depois, você é um ladrão”. Cortot discordava: “Rubato não significa ‘emprestado’. O roubo está implícito”.

Debussy: Shorter Piano Works (Walter Gieseking) (1951-54)

Suite Bergamasque (1890-1905)
1. Prélude (Moderato, tempo rubato)
2. II. Menuet (Andantino)
3. III. Clair de lune (Andante très expressif)
4. IV. Passepied (Allegretto non troppo)
5. Rêverie (1890)
6. Arabesque No. 1: Andantino con moto (1890-91)
7. Arabesque No. 2: Allegretto scherzando (1890-91)
Children’s Corner (1906-1908)
8. I. Doctor Gradus ad Parnassum
9. II. Jimbo’s Lullaby
10. III. Serenade for the Doll
11. IV. The Snow is Dancing
12. V. The Little Shepherd
13. VI. Golliwogg’s Cake Walk
14. La plus que lente (valse, molto rubato con morbidezza) (1910)
15. L’Isle joyeuse (1904)

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Dizem que Samson François morreu no hospital com um cigarro na boca e um whisky debaixo da cama...
Samson François

Samson François toca Debussy  (1956-61)

1. L’Isle joyeuse (1904)
2. Préludes Livre I: No.8 La fille aux cheveux de lin (1910)
3. Préludes Livre I: No.10 La cathédrale engloutie (1910)
4. Préludes Livre I: No.11 La danse de Puck (1910)
5. Préludes Livre I: No.12 Minstrels (1910)
6. La plus que lente (valse) (1910)
7. Pour le piano: Prélude (1894-1901)
8. Pour le piano: Sarabande(1894-1901)
9. Pour le piano: Toccata  (1894-1901)
10. Étude: Pour les arpèges composés (1915)
11. Suite bergamasque: Clair de lune (1890-1905)
12. Suite bergamasque: Passepied (1890-1905)
13. Étude: Pour les agréments (1915)
14. Étude: Pour les sonorités opposées (1915)
15. Étude: Pour les accords (1915)

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Debussy ao piano, 1893
Debussy ao piano, 1893

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