Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 5 (Dudamel, Simón Bolívar Youth Orchestra)

Um amigo meu, entendedor de vinhos, costuma dizer que quando uma marca se apresenta como “o vinho mais vendido” do país tal ou do continente tal, ele evita. Porque deve ser um vinho que atende a todos os requisitos mínimos mas, feito em grandes quantidades, não tem uma caráter próprio. A palavra caráter, aqui, não no sentido de “bom” ou “mau caráter” – o que implicaria um julgamento moral – mas com o significado de personalidade, o conjunto de elementos que diferencia uma pessoa ou coisa das outras.

Essas discussões sobre o caráter – nesse sentido não moralista e sim atento aos detalhes da vida – permitem um desvio sobre o entusiasmo dos nossos tempos com a assim chamada “inteligência artificial” (lembro aqui a frase de Groucho Marx sobre  inteligência militar e música militar): creio que a máquina só pensa melhor que a pessoa se a pessoa estiver treinada para pensar como uma máquina. É claro que eu e o Groucho podemos estar errados e a máquina – leia-se: a repetição de comandos, frases feitas, protocolos, hierarquias – correta.

Desviando novamente os argumentos e entrando no assunto principal, chamo atenção para o fato de que Gustav Mahler, em suas sinfonias, sempre tira da cartola frases feitas e truques que sabidamente animam as plateias. Após muitos sucessos como maestro em Budapeste, Hamburgo e Viena (com sinfonias de Beethoven mas sobretudo regendo óperas de Mozart, Wagner e Tchaikovsky), ele conhecia os públicos orquestrais, sabia o que funcionava ao vivo. Ao mesmo tempo, ele criou sinfonias que não são só pedaços remendados e requentados de compositores anteriores: em suas próprias palavras, uma boa sinfonia devia conter o mundo inteiro dentro de si, e a frase pode ser lida também como uma sucessão de variações de escala: mundos dentro de mundos. Pois entre as marcas do caráter de Mahler – ou seja, o seu jeitinho, suas manias – está a alteração não só de humores mas também de momentos de tutti orquestral com momentos camerísticos em que dois ou três instrumentos dialogam e os outros silenciam.

Essas sinfonias são também boas oportunidades para maestros e orquestras mostrarem aspectos do seu caráter: entre os que gravaram ciclos inteiros, não dá pra não mencionar Haitink com a elegância e a tradição mahleriana do Concertgebouw (1962 a 71) e Bernstein extraindo emoções maiúsculas de três grandes orquestras (1974 a 88). E nesta gravação da 5ª de Mahler o venezuelano Gustavo Dudamel, que na época tinha menos de 30 anos, fez definitivamente música muito particular com seus músicos de Caracas. Quero dizer que os jovens músicos e maestro não buscam apenas imitar orquestras mais famosas do continente europeu: ao invés disso, imprimem seu caráter à obra.

Por exemplo no penúltimo movimento, o Adagietto para cordas e harpa, com um colorido orquestral rico em detalhes mas sem exagerar no drama, eles fazem jus à opinião de Mengelberg, maestro que conheceu Mahler e afirmava que este movimento era uma declaração de amor à sua esposa Alma. Assim, a entrada alegre dos metais e madeiras no início do Rondo-Finale, que eu estava acostumado a ouvir como o desabrochar das flores e o surgimento dos animais após um longo inverno, aparece aqui com a simplicidade do canto dos pássaros anunciando o fim de uma noite. Não significa que o Adagietto tenha sido breve: o andamento aqui é quase no mesmo passo de Tilson Thomas ou Haitink, mas o som de serenata noturna das cordas da Orquestra Jovem Simón Bolívar faz tudo soar leve. É verdade que a sinfonia tem também momentos mais pesados, mas nesta gravação eles se concentram nos três primeiros movimentos.

No livreto do CD, Dudamel afirma que a 5ª de Mahler representa um tremendo desafio, ainda mais para aqueles músicos jovens, não só pelas dificuldades técnicas mas também pela sensibilidade necessária para expressar os “extremos de felicidade, tristeza, depressão e esperança desta obra”. Dudamel também conta que ele e os músicos da orquestra aprenderam muito sobre essa sinfonia com o maestro italiano Claudio Abbado (1933 – 2014): ele conduziu a orquestra nesta obra e o jovem maestro venezuelano teve a oportunidade de discuti-la com ele em detalhes.

Gustav Mahler: Sinfonia nº 5 (1901-1902)
I. Trauermarsch
II. Stürmisch bewegt
III. Scherzo
IV. Adagietto
V. Rondo-Finale

Simon Bolivar Youth Orchestra of Venezuela, Gustavo Dudamel
Recorded: 2006, Aula Magna de la Universidad Central, Caracas

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Um café da manhã da família Mahler

Pleyel

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Clavichord — Capriccio Sopra La Lontananza Del Fratello Dilettissimo / 15 Invenções / 4 Duetos / 15 Sinfonias / Ricercare a 3 da Oferenda Musical / Fantasia e Fuga Cromática (András Schiff, Clavicórdio)

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Clavichord — Capriccio Sopra La Lontananza Del Fratello Dilettissimo / 15 Invenções / 4 Duetos / 15 Sinfonias / Ricercare a 3 da Oferenda Musical / Fantasia e Fuga Cromática (András Schiff, Clavicórdio)

Opa, postei sem texto (obs. de 17/05, 19h49). Vou escrever agora, vamos lá!

IM-PER-DÍ-VEL !!!

András Schiff é um cara curioso. Não consigo imaginar nenhum outro pianista de seu calibre indo em direção a um clavicórdio, apenas se por brincadeira. Mas Schiff é diferente. Ele disse que costuma iniciar seu dia tocando Bach num clavicórdio… Bem, e aqui temos este grande artista tocando esplendorosamente o pequeno teclado que precede o pianão. Eu gostei muito do que eu ouvi. A face historicamente informada de Schiff é autêntica e muito bonita. Fiquei muito feliz de ouvir. Como explica o longo artigo do livreto, o clavicórdio era o instrumento favorito de Bach, que supostamente achava que permitia capacidades expressivas não oferecidas pelo cravo. De fato, como Schiff exemplifica nesta gravação, o clavicórdio oferece ao executante tanto sutis mudanças dinâmicas quanto delicado vibrato, feito ao mover a tecla depois de tocada. Schiff toca uma réplica de um clavicórdio Specken de 1743, construído por Joris Potvlieghe em 2003. Se no piano moderno Schiff nos traz Bach em toda a sua majestade, no clavicórdio ele convida o público a escutar o próprio Bach, como se estivesse sentado na mesma sala, ou ‘num oásis tranquilo’, como Schiff coloca em suas anotações. Minha única reclamação é a de que ele torna difícil para mim voltar a ouvir essas obras no piano moderno, ou pelo menos no piano, com qualquer outro músico.

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Clavichord — Capriccio Sopra La Lontananza Del Fratello Dilettissimo / 15 Invenções / 4 Duetos / 15 Sinfonias / Ricercare a 3 da Oferenda Musical / Fantasia e Fuga Cromática (András Schiff, Clavicórdio)

Capriccio Sopra La Lontananza Del Fratello Dilettissimo BWV 992
1-1 Arioso. Adagio – Ist Eine Schmeichelung Der Freunde, Um Denselben Von Der Reise Abzuhalten. = Is A Cajoling By His Friends To Deter Him From His Journey. 1:31
1-2 Ist Eine Vorstellung Unterschiedlicher Casuum, Die Ihm In Der Fremde Könnten Vorfallen. = Is A Representation Of Various Calamities That Might Befall Him In Foreign Parts. 1:12
1-3 Adagiosissimo – Ist Ein Allgemeines Lamento Der Freunde. = Is A General Lament Of His Friends. 2:05
1-4 Allhier Kommen Die Freunde (Weil Sie Doch Sehen, Dass Es Anders Nicht Sein Kann) Und Nehmen Abschied. = Here Come The Friends (As They See That It Cannot Be Otherwise) And Say Farewell To Him. 0:36
1-5 Aria Di Postiglione. Adagio Poco 1:36
1-6 Fuga All’ Imitatione Di Posta 2:27

Inventions BWV 772‎ – 786
1-7 No. 1 In C Major 1:28
1-8 No. 2 In c Minor 1:50
1-9 No. 3 In D Major 1:14
1-10 No. 4 In d Minor 0:45
1-11 No. 5 In E-flat Major 1:24
1-12 No. 6 In E Major 3:24
1-13 No. 7 In e Minor 1:41
1-14 No. 8 In F Major 0:56
1-15 No. 9 In f Minor 1:45
1-16 No. 10 In G Major 0:58
1-17 No. 11 In g Minor 0:59
1-18 No. 12 In A Major 1:12
1-19 No. 13 In a Minor 1:22
1-20 No. 14 In B-flat Major 1:20
1-21 No. 15 In b Minor 1:10

Four Duets BWV 802 ‎– 805
1-22 No. 1 In e Minor 3:02
1-23 No. 2 In F Major 2:58
1-24 No. 3 In G Major 3:08
1-25 No. 4 In a Minor 2:10

1-26 Ricercar À 3 From “Das Musikalische Opfer” BWV 1079 5:50

Sinfonias BWV 787 ‎– 801
2-1 No. 1 In C Major 1:08
2-2 No. 2 In c Minor 2:07
2-3 No. 3 In D Major 1:13
2-4 No. 4 In d Minor 1:45
2-5 No. 5 In E-flat Major 2:07
2-6 No. 6 In E Major 1:20
2-7 No. 7 In e Minor 2:06
2-8 No. 8 In F Major 0:59
2-9 No. 9 In f Minor 3:03
2-10 No. 10 In G Major 1:05
2-11 No. 11 In g Minor 1:55
2-12 No. 12 In A Major 1:29
2-13 No. 13 In a Minor 1:41
2-14 No. 14 In B-flat Major 1:18
2-15 No. 15 In b Minor 1:29

Chromatic Fantasia And Fugue BWV 903
2-16 Fantasia 5:43
2-17 Fugue 5:01

András Schiff, Clavicórdio

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Schiff levando a sério seu belo brinquedinho

PQP

Concurso Tchaikovsky 1962 – O Empate: Vladimir Ashkenazy & John Ogdon

Concurso Tchaikovsky 1962 – O Empate: Vladimir Ashkenazy & John Ogdon

O mundo da música clássica tem uma paixão quase esportiva por concursos, já há muitas e muitas décadas. Jovens músicos foram alçados ao estrelato e carreiras foram feitas a partir de premiações em competições internacionais. Em meio a essa mitologia, um dos mais tradicionais e prestigiosos quando se trata de pianistas é o Concurso Internacional Tchaikovsky, que acontece a cada quatro anos em Moscou e São Petersburgo desde 1958. Depois meses antes de Bellini se tornar o primeiro brasileiro a erguer a Jules Rimet, Van Cliburn arrebatou o prêmio em Moscou, aos 23 anos.

Ao centro, a partir da esquerda: Ashkenazy, o premiê soviético Nikita Kruschov e Ogdon

A edição seguinte, em 1962, ficou marcada por um empate entre dois jovens, futuros titãs, mas que já experimentavam ali algum sucesso internacional: o russo Vladimir Ashkenazy, 24 anos, e o inglês John Ogdon, 25. O júri tinha gente do mais alto calibre: além do presidente Emil Gilels, estavam nomes como Nadia Boulanger, Lev Oborin, Yakov Flier e a nossa dame Magdalena Tagliaferro. A Guerra Fria estava, como dizem os jovens hoje em dia, torando – o episódio que ficou conhecido como Crise dos Mísseis, em que o planeta quase foi pro beleléu, estava logo ali na esquina: aconteceu em outubro daquele ano.

Nadia Boulanger e Emil Gilels julgando pacas

Este disco traz as gravações das finais do concurso. Ashkenazy interpreta duas peças do padroeiro do concurso, ele mesmo, Piotr Ilyich Tchaikovsky: o Concerto para Piano nº 1, em si bemol menor, op. 23Dumkaop. 59. Já Ogdon optou por duas peças do húngaro Franz Liszt: O Concerto para Piano nº 1, em mi bemol maior, e a Valsa Mefisto nº 1.

O encarte do disco traz um interessante relato de Ashkenazy, pinçado de sua autobiografia Beyond Frontiers, de 1984, escrita em parceria com o tycoon de agenciamento de artistas eruditos Jasper Parrott:

       “Eu disse [ao Ministro da Cultura] que não queria participar, sobretudo porque não era o meu tipo de música. Eles responderam: ‘Como assim? Como você pode dizer que Tchaikovsky, nosso grande compositor russo, não é o seu tipo de música?’ Então, no fim, eu tive que engolir minhas palavras – simplesmente não havia maneiras de fazê-los entender que um artista pode ser mais adequado para tocar, digamos, Beethoven que Tchaikovsky…

       De todo modo, eu ainda era muito jovem e acostumado a aceitar que na União Soviética você não resiste por muito tempo à pressão que vem de cima se você não quer a sua vida arruinada das mais diferentes formas. Por fim, como esperava-se tanto de mim, foi difícil não aceitar o desafio: ainda que não fosse a competição certa para que eu mostrasse o meu melhor trabalho.

       Mas, ainda que eu não tenha gostado da competição por causa de todas as pressões artificiais e musicais, assim que eu ouvi a maioria dos outros competidores eu realmente senti que tinha mais a dizer. Mas ganhar o primeiro prêmio era outra história. Até porque, no fim, ganhar depende muito de como você toca naquele dia em particular, e com toda a atenção voltada para o concerto em si bemol menor de Tchaikovsky na rodada final, o resultado era especialmente incerto. Para tocar toda aquela bravura, que eu na verdade detestava, você tem que crer de forma apaixonada além de ter o ‘equipamento’. E aquele tipo de tocar oitavado realmente não era o meu negócio – aquilo era pra John Ogdon, Van Cliburn e Horowitz.”

Ogdon realmente esmirilhava nas oitavas, mas era muito mais do que isso: foi um estupendo intérprete de Liszt, e esse disco mostra o brilho incandescente e vigoroso de seu pianismo. Também gravou alguns compositores menos óbvios, como Carl Nielsen e Charles-Valentin Alkan. Discípulo de Egon Petri, Ogdon teve sua carreira e sua vida tragicamente abreviados por uma esquizofrenia aguda, vindo a falecer precocemente em 1989, aos 51 anos.

Senhoras e senhores, sem mais delongas, apertem os cintos, pois vamos voar para Moscou, 1962. счастливого пути!

ps: Se alguém quiser brincar de jurado, a caixa de comentários está aberta e pitacos são muito bem vindos. Quem você premiaria?


1962 International Tchaikovsky Competition – The Draw

Piotr Ilyich Tchaikovsky (1840-93)

Concerto para Piano nº 1, op. 23, em si bemol menor
1. Allegro non troppo e molto maestoso; Allegro con spirito
2. Andantino semplice; Prestissimo
3. Allegro con fuoco

4. Dumka, op. 59 (“Scene from Russian country life”)

Vladimir Ashkenazy, piano
Orquestra Sinfônica Estatal da URSS
Konstantin Ivanov, regência

Franz Liszt (1811-86)

Concerto para Piano nº 1, em mi bemol maior
5. Allegro maestoso
6. Quasi adagio
7. Scherzo
8. Finale: Allegro marciale animato

9. Valsa Mefisto nº 1 (“A dança na estalagem”)

John Ogdon, piano
Orquestra Sinfônica Estatal da URSS
Victor Dubrovsky, regência

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Karlheinz

Mozart, Mendelssohn, Martinů: Trios para Piano (Trio Adorno)

Os trios com piano de Mozart são música em que o piano brilha mais, como personagem protagonista, com o violino tendo seus momentos de destaque e o violoncelo quase sempre lá no fundo, em um papel que remonta ao baixo continuo da música de seus antecessores.

Brendel, Pollini, assim como os mais jovens Lubimov, Uchida e Brautigam… são muitos os grandes pianistas mozartianos que não se aventuraram em gravar esses trios. Entre as exceções, Maria João Pires fez um belo disco já postado aqui.

E entre os trios de Mozart este de K. 442 é ainda menos lembrado: os três movimentos foram compostos em Viena em meados da década de 1780, mas não se tem certeza se o compositor queria juntá-los ou se seriam partes de obras diferentes. Em todo caso, foram publicados juntos pouco após a morte do compositor. No século XIX, o musicólogo von Köchel deu a esse trio o nº K. 442, indicando que é mais ou menos da mesma época dos quartetos “A Caça” (K. 458) e “As Dissonâncias” (K. 465), do quinteto para piano e sopros (K. 452) e da fase de espantosa abundância de concertos para piano, do No. 14 (K. 449) até o nº 24 (K. 491). Ou seja, o período de Mozart já estabelecido em Viena

Os jovens alemães do Trio Adorno fazem um belo trabalho, em excelente qualidade de som, ao chamar atenção para este trio de Mozart e ainda para um trio de Mendelssohn que costuma ficar à sombra de outro mais famoso e para um trio de Martinů bem pouco tocado, aliás como toda a música de câmara do compositor tcheco. Ao contrário do Mozart, nesses outros dois o violoncelista também tem momentos de destaque, com as exigências técnicas mais ou menos igualmente distribuídas entre os três músicos. E nessa gravação os três alemães mostram versatilidade: fazem um Mozart leve e alegre, um Mendelssohn bem romântico e sublinham as esquisitices de Martinů.

Wolfgang Amadeus Mozart:
1-3. Piano Trio in D Minor, K.442 (Trio em ré menor, 1785-1888)
I. Allegro, II. Tempo di Minuetto, III. Allegro
Bohuslav Martinů:
4-6. Piano Trio n. 3 in C Major (Trio em dó maior, 1951)
I. Allegro moderato, II. Andante, III. Allegro
Felix Mendelssohn:
7-10. Piano Trio n. 2 in C Minor Op.66 (Trio em dó menor, 1845)
I. Allegro energico con fuoco, II. Andante espressivo, III. Scherzo molto allegro quasi presto, IV. Finale Allegro appassionato

Trio Adorno: Christoph Callies – violin; Samuel Selle – cello; Lion Hinnrichs – piano
Recorded: Laeiszhalle Hamburg, March 2021

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Trio Adorno em turnê em Nápoles, 2022, após anos sem viagens mais longas

Pleyel

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Concerto Italiano / Abertura Francesa / Duetos / Caprichos (Esfahani)

Mahan Esfahani é um esplêndido e original cravista. Ele não se preocupa em ser o perfeitinho limpinho engomadinho, mas tem uma percepção musical toda própria. Às vezes parece atropelado ou atabalhoado. Em suas declarações públicas, e talvez um pouco mais moderadamente em suas apresentações reais, Esfahani declarou independência de qualquer aplicação puritana ou dogmática da prática histórica da performance. Nesta gravação, dedicada às duas obras-chave do Clavierübung II de Bach – o Concerto Italiano e a Abertura em Estilo Francês – ele explicita ainda mais essa independência, ampliando sobremaneira a capacidade dinâmica e expressiva do cravo. Seu instrumento particular foi feito em 2018 na oficina de Jukka Ollikka em Praga, uma peça de mão dupla com registros de 16 pés e 4 pés para cores extras, bem como uma placa de ressonância composta de fibra de carbono. Produz sonoridades de órgão, especialmente em seus alcances mais baixos, e Esfahani explora toda a sua variedade, incluindo algumas escolhas de registro curiosas e até excêntricas. A faixa dinâmica expandida do instrumento é particularmente bem-vinda nos contrastes solo-conjunto do Concerto italiano e é particularmente eficaz na ilusão de um instrumento de sopro solo do segundo movimento. As possibilidades coloridas expandidas são melhor ouvidas na ampla coleção de danças da Abertura, que explora uma gama de escolhas de registro eficazes. Mas Esfahani não está apenas exibindo um instrumento. Sua ornamentação e articulação são inventivas e envolventes, e enviarão os ouvintes atentos a suas memórias de outros executantes, enquanto o ouvido tenta descobrir exatamente o que ele está fazendo. Esfahani tem um toque nervoso e hiperatento, com figuras rítmicas afiadas e precisas. Pode ser exaustivo, mas o álbum é melhor ouvido trabalho por trabalho, e não como um todo. Mas certifique-se de reservar atenção especial para o Capriccio em si bemol ‘na partida de seu amado irmão’, um trabalho inicial e às vezes descartado como ingênuo e não do melhor Bach. Esfahani o leva a sério. A fuga final é a pièce de résistance, transformando a despedida em uma selvagem declaração de independência de tal forma que a própria gravação se torna não apenas uma coleção de obras de Bach, mas um manifesto do intérprete.

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Concerto Italiano / Abertura Francesa / Duetos / Caprichos (Esfahani)

Concerto nach Italienischen Gusto ‘Italian Concerto’ BWV971[12’42]
1 [untitled][4’05]
2 Andante[5’01]
3 Presto[3’36]

Ouvertüre nach Französischer Art ‘French Overture’ BWV831[33’44]
4 Ouverture[12’53]
5 Courante[2’06]
6 Gavotte I[1’15]
7 Gavotte II[1’13]
8 Gavotte I da capo[0’42]
9 Passepied I[1’02]
10 Passepied II[0’47]
11 Passepied I da capo[0’35]
12 Sarabande[3’55]
13 Bourrée I[1’07]
14 Bourrée II[1’23]
15 Bourrée I da capo[0’45]
16 Gigue[3’01]
17 Echo[3’00]

18 Duet in E minor BWV802[2’43]

19 Duet in F major BWV803[3’04]

20 Duet in G major BWV804[2’37]

21 Duet in A minor BWV805[2’38]

Capriccio in B flat major ‘on the departure of his beloved brother’ BWV992[10’09]
22 Ist eine Schmeichelung der Freunde, um denselben von seiner Reise abzuhalten: Arioso (Adagio)[2’08]
23 Ist eine Vorstellung unterschiedlicher Casuum, die ihm in der Fremde könnten vorfallen[1’23]
24 Ist ein allgemeines Lamento der Freunde: Adagissimo[2’26]
25 Allhier kommen die Freunde (weil sie doch sehen, dass es anders nicht sein kann) und nehmen Abschied[0’42]
26 Aria di postiglione: Allegro poco[1’03]
27 Fuga all’imitazione della cornetta di postiglione[2’27]

28 Capriccio in E major ‘in honorem Johann Christoph Bachii Ohrdrufiensis’ BWV993[6’07]

Mahan Esfahani, cravo

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Esfahani dando um rolê pelo centro de Morungava

PQP

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Requiem (Peter Schreier)

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Requiem (Peter Schreier)

SHOW DE BOLA !!

Hoje acordei com um instinto blockbuster: só querendo os famosos!
Saquei de minhas posses esta primorosa versão do Requiem de Wolfgang Amadeus Mozart, sob a condução de Peter Schreier. Não que eu conheça “trocentas” execuções diferentes dessa peça, mas ela em agrada imensamente aos ouvidos: os solistas são de primeira linha, com destaque para a doçura encarnada na voz de Margaret Price e as notas decididas do baixo Theo Adam, aqui desenvolvendo bem até as notas mais agudas de seus solos, quase um barítono. A condução de Schreier, ainda que não o faça ante uma orquestra com instrumentos de época, é muito sensível ao que as músicas devem exprimir: o Kyrie é pesado, o Dies Irae é (meu Deus!) decididamente irado, a Lacrimosa é de partir o coração e o Santus é portentoso, glorioso! Nem preciso falar muito… É muito bom!

Há mais duas versões do Requiem, ambas de cair o queixo, aqui e aqui no P.Q.P.Bach. Ouça todas. Compare. Deleite-se.

Obra para ter na prateleira ou, pelo menos, no seu HD. Ouça e torne sua semana mais completa!

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
Réquiem – completado por Franz Xaver Süssmayr (1766-1803)

01. Introitus: Requiem
02. Kyrie
03. Sequentia: I. Dies irae
04. Sequentia: II. Tuba mirum
05. Sequentia: III. Rex tremendae
06. Sequentia: IV. Recordare
07. Sequentia: V. Confutatis
08. Sequentia: VI. Lacrimosa
09. Offertorium: Domine Jesu
10. Offertorium: Hostias
11. Sanctus
12. Benedictus
13. Agnus Dei
14. Lux aeterna

Margaret Price, Soprano
Theo Adam, Bass
Trudeliese Schmidt, Alto
Francisco Araiza, Tenor
Leipzig Radio Chorus
Dresden Staatskapelle
Peter Schreier, regente

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (121Mb)

LINK ALTERNATIVO

Partituras e outros que tais? Clique aqui

Ouça! Deleite-se! … E não se esqueça de nos escrever umas letrinhas amigas…

Peter Schreier (1935-2019)

Bisnaga

Anton Bruckner (1824 – 1896): Sinfonia No. 6 (Para Conjunto de Câmara) – Camerata RCO & Rolf Verbeek ֍

Anton Bruckner (1824 – 1896): Sinfonia No. 6 (Para Conjunto de Câmara) – Camerata RCO & Rolf Verbeek ֍

Bruckner

Sinfonia No. 6

Camerata RCO

Rolf Verbeek

 

Assim que ouvi este disco não pude evitar de parafrasear uma famosa propaganda de margarina: You can’t believe it is not orchestra!

Reduzir para um grupo de câmera a Quarta Sinfonia de Mahler, por exemplo, é plausível. Gustav escrevia para grandes, enormes orquestras, mas sempre conseguindo fazer com que a música soasse como se estivesse sendo executada por um grupo menor de instrumentos.

No caso de Bruckner, a grandiosidade da orquestra parece ser parte essencial do todo, a música com seus enormes crescendo e a importância dos momentos cataclísmicos.

Mas ainda assim, aqui estamos com uma das sinfonias de Bruckner apresentada por um conjunto de 10 músicos. Se bem que esses músicos são membros da RCO, que é a sigla para Royal Concertgebouw Orchestra, uma das melhores. Nas suas próprias palavras: We enjoy playing in the orchestra tremendously. However, we like to expand this joy by playing together in a small ensemble as well. It is refreshing to get to know our colleagues in the orchestra better while performing together as Camerata RCO. We are completely free to choose the repertoire we play, where we play it and with whom. With Camerata RCO we like to be in close contact with our audience. The energy that results from these concerts is what inspires us most. Ou seja, eles adoram tocar na orquestra, mas também gostam de tocar em grupos pequenos. Isso permite que eles se conheçam melhor e a energia desses concertos é muito inspiradora.

Há poucos dias o PQP Bach postou um lindo disco no qual esse grupo interpreta exatamente a Sinfonia No. 4 de Mahler. Neste caso, eles estão na companhia da cantora Barbara Hannigan.

Voltando ao Bruckner, a Sexta Sinfonia não é entre as suas sinfonias aquela que eu mais ouço, mas este disco certamente contribuiu para que dela eu tivesse uma nova perspectiva. Voltarei a ouvir um disco que postei aqui no blog há algum tempo e que naqueles dias muito me agradou. Você também poderá desfrutá-lo acessando este link aqui.

Depois de ouvir isso tudo, mande-me suas impressões. Estou curioso. Afinal, o próprio Anton sentenciou: Die Sechste, die keckste.

Anton Bruckner (1824 – 1896)

Sinfonia No. 6

(Arranjo para Conjunto de 10 Instrumentos)

  1. Majestoso
  2. Adagio: Sehr Feierlich (Sehr Feierlich)
  3. Scherzo: Nicht Schnell – Trio: langsam (Nicht Schnell – Trio : Langsam)
  4. Finale (Doch Nicht Zu Schnell)

Camerata RCO

Rolf Verbeek

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 218 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 124 MB

Rolf Verbeek

CAMERATA RCO

Camerata RCO is a unique ensemble. We are all members of the Royal Concertgebouw Orchestra in Amsterdam and we enjoy playing in the orchestra tremendously. However, we like to expand this joy by playing together in a small ensemble as well.

A Camerata RCO a caminho do Grand Hall do PQP Bach Corp. em Belford Roxo

Aproveite!

René Denon

Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sinfonia Nº 8, Op. 65 (Berliner Philharmoniker & Kirill Petrenko)

Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sinfonia Nº 8, Op. 65 (Berliner Philharmoniker & Kirill Petrenko)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Com alguma justiça, convencionou-se dizer que a Orquestra Filarmônica de Berlim é a campeã das orquestras. Isso desde antes do polêmico Karajan, na verdade desde o século XIX, com Hans von Bülow, entrando no século XX com Nikisch, Furtwängler e outros. Depois de HvK, tivemos os nomes lendários de Abbado e Rattle, chegando a 2018 com Kirill Petrenko. O russo ainda tem poucas gravações, mas já demonstra que tem tudo para seguir a estirpe. Esta versão da Sinfonia Nº 8 de Shostakovich é maravilhosa, dando aquela impressão de não somente ser definitiva como de estarmos ouvindo uma orquestra segura e infalível numa obra cheia de dificuldades. Trata-se de uma performance vívida, respirando convicção em cada momento. Não é apenas o alcance emocional da música que é destacado, há muito caráter também, especialmente em alguns dos solos. Kirill Petrenko nos lembra que Shostakovich poderia evocar emoções cruas com a urgência e acuidade de Mahler ou Tchaikovsky. Afinal, a Oitava é quase um drama psicológico, não?

Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sinfonia Nº 8, Op. 65 (Berliner Philharmoniker & Kirill Petrenko)

1 Shostakovich: Symphony No. 8 in C Minor, Op. 65: I. Adagio – Allegro non troppo 25:12
2 Shostakovich: Symphony No. 8 in C Minor, Op. 65: II. Allegretto 06:10
3 Shostakovich: Symphony No. 8 in C Minor, Op. 65: III. Allegro non troppo 06:00
4 Shostakovich: Symphony No. 8 in C Minor, Op. 65: IV. Largo 09:55
5 Shostakovich: Symphony No. 8 in C Minor, Op. 65: V. Allegretto 13:39

Berliner Philharmoniker
Kirill Petrenko

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Petrenko: apenas magnífico!

PQP

Richard Wagner (1813-1883) – Overtures & Orchestral music (Oslo Philharmonic Orchestra, Mariss Jansons)

Richard Wagner (1813-1883) – Overtures & Orchestral music (Oslo Philharmonic Orchestra, Mariss Jansons)

Um pequeno grande disco lançado em 1992, época em que a parceria artística entre o maestro letão Mariss Jansons (1943-2019) e a Orquestra Filarmônica de Oslo vivia alguns de seus tempos mais frutíferos. Jansons ficou à frente do grupo por 23 anos, entre 1979 e 2002, sucedendo Okko Kamu.

Embora seja mais comumente lembrado e associado por seu trabalho junto à Sinfônica da Rádio Bávara, em Munique, e à Royal Concertgebouw, em Amsterdã, outros dois conjuntos estelares que dirigiu por longos períodos, Jansons fez também um belíssimo trabalho dirigindo a orquestra norueguesa. Foi ali que sua carreira se consolidou, levando aos postos de principal regente convidado da Filarmônica de Londres, em 1992, e diretor musical da Sinfônica de Pittsburgh, em 1997.

Um jovem Jansons na época em que era aluno de Herbert von Karajan em Salzburgo

O álbum que trazemos hoje, com uma seleção de aberturas e trechos orquestrais de óperas de Richard Wagner (1813-1883), compositor com imensa influência sobre os rumos que a música tomou a partir de sua passagem por este planetinha azul. Wagner tem a peculiaridade, mais do que a maioria dos outros compositores, de ter sua obra apreciada em dois tipos de situação um tanto distintas: ou nas extensas versões integrais de suas óperas, ou com trechos instrumentais dessas óperas (aberturas, prelúdios, interlúdios) apresentados como peças de concerto. Esse disco é um legítimo representante desta segunda forma de relacionar-se com a obra wagneriana.

O Wagner aqui apresentado reluz algumas das características mais marcantes da música que Jansons e os noruegueses produziram ao longo das décadas de trabalho conjunto: um som muito claro e límpido, frases bem delineadas e profundamente melódicas, grande precisão dinâmica e uma capacidade ímpar de criação de texturas sonoras. Jansons tinha uma maneira de reger muito elegante e sutil, algo difícil de se colocar em palavras, mas que de alguma forma parece transparecer em suas gravações, sobretudo com essas orquestras com quem manteve longevas parcerias.

Meus destaques pessoais do álbum, puramente subjetivos: A abertura de Tannhäuser e o prelúdio para o terceiro ato de Lohengrin. 

Richard Wagner – Overtures & Orchestral Music

  1. Die Meistersinger von Nürnberg – Prelude to Act I
  2. Tristan und Isolde – Prelude to Act 1
  3. Tristan und Isolde – Liebestod
  4. Tannhäuser – Overture
  5. Gotterdämerung – Trauermarsch (Funeral March)
  6. Die Walküre –The Ride Of The Valkyries
  7. Lohengrin – Prelude to Act 3
  8. Rienzi – Overture: Molto sostenuto e maestoso
  9. Rienzi – Allegro energico

Oslo Philharmonic Orchestra
Mariss Jansons, regência

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Karlheinz

Sergei Prokofiev (1891-1953): Pedro e o Lobo, op. 67 (Rita Lee, Orquestra Nova Sinfonieta, Roberto Tibiriçá)

Sergei Prokofiev (1891-1953): Pedro e o Lobo, op. 67 (Rita Lee, Orquestra Nova Sinfonieta, Roberto Tibiriçá)

Ontem o Brasil perdeu uma de suas maiores artistas: Rita Lee Jones de Carvalho (1947-2023), ou simplesmente Rita Lee, para todos os milhões de pessoas que a temos, eternamente, como rainha. Sequer vou tentar colocar em palavras aqui o que ela representa; tudo soaria pequeno, banal, clichê, e de ontem pra hoje uma boa turma fez isso muito melhor do que eu faria.

Minha pequena homenagem vai na forma de trazer pra vocês este pequeno disco que foi muito, mas muito, mas muito importante na minha vida. Foi seguramente a fita K7 que mais escutei nessa minha caminhada nesse planetinha azul. O clique para a música clássica viria um pouco mais tarde, aos 12 anos, por obra de meu irmão e um par de discos de Vladimir Horowitz e Glenn Gould que ele trouxera de uma viagem aos Estados Unidos.

Mas as sementes foram lançadas com aquela fitinha K7 que trazia Rita Lee narrando Pedro e o Lobo, op. 67, de Sergei Prokofiev, junto com a Orquestra Nova Sinfonieta regida por Roberto Tibiriçá. O fascínio, o estímulo à imaginação e à fantasia, a crença no poder mágico dos sons organizados em forma de música: estava tudo ali. Era o começo de uma jornada de vida inteira pelas maravilhas do som e dos instrumentos.

Por isso, e por mais um tantão de coisa: obrigado, Rita! Que a volta aí pras estrelas seja bacana…

 

Sergei Prokofiev (1891-1953)
Pedro e o Lobo, op. 67
fábula sinfônica para crianças

Rita Lee, narração
Orquestra Nova Sinfonieta
Roberto Tibiriçá, regência

BAIXE AQUI/DOWNLOAD HERE

Karlheinz

Franz Schubert (1797-1828): Complete Violin Sonatas (Neudauer, Brunner)

Franz Schubert (1797-1828): Complete Violin Sonatas (Neudauer, Brunner)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma Schubertiade ou, aportuguesando, uma Schubertíada é um evento realizado para celebrar a música de Franz Schubert. À princípio era um evento privado, de salão. As Schubertíadas modernas também incluem séries de concertos e festivais. Durante a vida de Schubert, esses eventos eram geralmente reuniões informais e não anunciadas, realizadas em residências particulares. As Schubertiades na Viena do início do século 19 eram tipicamente patrocinadas por amigos ricos e aficionados da música de Schubert. Numerosos recitais foram organizados a partir de 1815 no grande apartamento do jurista e patrono austríaco Ignaz von Sonnleithner. Um amigo de Schubert, Leopold Kupelwieser, afirmou que os mantinha porque “Eu me mimo com uma Schubertiade de vez em quando”. Até aí tudo bem. Mas… Vocês não acham que Schubert escreveu apenas sinfonias para seguir Beethoven e o restante de suas obras para as Schubertíadas? Por que ele escreveu apenas sinfonias e música de câmara, muita música de câmara, onde realmente metia a cara e avaliava o impacto sobre os ouvintes? Cadê os concertos de Schubert? Ah, quero mais schubertíadas na minha vida. Este CD é sublime. E mais não digo.

Franz Schubert (1797-1828): Complete Violin Sonatas (Neudauer, Brunner)

Sonata In G Minor D 408, Nº 3, Op. 137 (16:16)
1 Allegro Giusto 5:02
2 Andante 4:30
3 Menuetto 2:38
4 Allegro Moderato 4:06

Sonata In D Minor D 384, Nº 1, Op. 137 (12:27)
5 Allegro Molto 4:54
6 Andante 4:27
7 Allegro Vivace 4:06

Sonata In Minor D 385, Nº 2, Op. 137 (20:20)
8 Allegro Moderato 6:28
9 Andante 6:52
10 Menuetto. Allegro 2:25
11 Allegro 4:35

Sonata In A Major D 574, Nº 4, Op. 162 (22:09)
12 Allegro Modereato 8:59
13 Scherzo. Presto 4:06
14 Andantino 3:53
15 Allegro Vivace 5:11

Fortepiano – Wolfgang Brunner
Violin – Lena Neudauer

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Uma schubertíada com o próprio

PQP

.:interlúdio:. Keith Jarrett: My Song

.:interlúdio:. Keith Jarrett: My Song

51uwG9Y508L._SL500_AA280_ (1) – Postagem original de 2013. Reativada por Pleyel em homenagem aos 78 anos de Keith Jarrett (nasc. 8/maio/1945) –

Não tenho bem certeza desde quando que tenho esse cd do Keith Jarrett, mas tenho certeza de que é meu favorito com essa formação do quarteto europeu. Jan Garbarek dá um show em faixas clássicas como “Questar, “My Song” e a última faixa do cd, “The Journey Home”. Keith Jarrett, como sempre, um gênio do piano, com solos pontuais, curiosamente não muito extensos, porém certeiros. A cozinha com o baixista Palle Danielsson e o baterista Jon Christensen fornece a base perfeita para os solos de Jarrett e Garbarek.

Em outras palavras, um primor de CD, facilmente classificável como “IM-PER-DÍ-VEL” para os fãs do jazz.

Keith Jarrett Quartet – My Song (1978)

1 – Questar
2 – My Song
3 – Tabarka
4 – Country
5 – Mandala
6 – The Journey Home

Keith Jarrett – Piano
Jan Garbarek – Tenor and Soprano Saxophones
Palle Danielsson – Bass
John Christensen – Drums

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320kbps

Jarrett, Garbarek, Danielsson, Christensen: o supergrupo “escandinavo” em ação

FDPBach/Pleyel

.: interlúdio :. Marshall Allen, Hüseyin Ertunç & KonstruKt: Vibrations of the Day (2010)

Nascido em 25 de maio de 1924 nos EUA, o saxofonista Marshall Allen é provavelmente o músico de jazz mais velho em atividade hoje. Membro do grupo de Sun Ra (1914-1993) desde 1955 até a morte do pianista, ele continuou tocando com a Sun Ra Arkestra desde então e liderando o grupo desde 1995. Sempre no sax alto, enquanto John Gilmore (1931-1995) era o sax tenor do grupo, ambos estiveram presentes na criação coletiva de muitas das inovações que seriam associadas ao free jazz e outras correntes de vanguarda, embora os créditos tenham ido principalmente para os mais famosos Ornette Coleman (1930-2015) e John Coltrane (1926-1967). De todos esses músicos citados acima, o único nascido antes de Marshall Allen era Sun Ra. Estes dois últimos, portanto, embora a uma certa distância dos holofotes, estiveram envolvidos em todas as idas e vindas do jazz da costa leste norte-americana desde os anos 1950: hard bop, sheets of sound, free jazz, fusion, afrofuturismo, tudo isso eles fizeram e em muitos casos fizeram antes que jornalistas e gravadoras inventassem esses nomes para as práticas.

O percussionista brasileiro Elson Nascimento no surdo e Marshall Allen no sax (2022)

Em breve com 99 anos, Marshall Allen continua tocando e gravando até hoje com outros músicos, como é o caso desse álbum de 2010 com o grupo turco Konstrukt, com Allen de convidado. Outro convidado de peso é o percussionista turco Hüseyin Ertunç, importante na cena de jazz turca pelo menos desde os anos 1970. O grupo que gravou neste disco é composto de dois pares e um trio: temos dois saxofones (sax alto de Allen no canal esquerdo, sax tenor e raramente soprano de Futaci no canal direito), duas guitarras e três percussionistas/bateristas. As percussões raramente trabalham com ritmos constantes e as guitarras raramente solam: todos esses instrumentos fazem uma cama altamente original, inconstante e predominantemente aguda (porque sem baixo) para os dois saxofonistas brilharem.

Marshall Allen, Hüseyin Ertunç & KonstruKt: Vibrations of the Day
1 Through The Asteroids 6:31
2 Space Jungle 8:47
3 Milkyway 7:03
4 March Of The Aliens 11:01
5 Supernova 7:01
6 The Emperor 3:52
7 Sunflower 8:58
8 Neptune 10:13
9 Spirits 7:54

Marshall Allen – alto saxophone (left channel)
Korhan Futacı – tenor and soprano Saxophones, Voice (right channel)
Umut Çağlar – guitar, guitar synth
Barlas Tan Özemek – guitar
Hüseyin Ertunç – percussion, drums, vibraphone, flute
Özün Usta – percussion, drums, vibraphones
Korhan Argüden – drums

Recorded: Istanbul, 30/09/2010

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Marshall Allen em 2019, quando tinha só tinha 95 anos

Pleyel

Schubert (1797 – 1828): Sonata para Piano em lá maior, D. 959 – 3 Minuetos – Arcadi Volodos ֍

Schubert (1797 – 1828): Sonata para Piano em lá maior, D. 959 – 3 Minuetos – Arcadi Volodos ֍

Schubert

Sonata para Piano No. 20, D. 959

3 Minuetos

Arcadi Volodos

 

Volodos has everything – imagination, passion and a phenomenal technique – to carry out his ideas on the piano. His limitless virtuosity, combined with a unique sense of rhythm, color and poetry, makes Volodos the narrator of intense stories and infinite worlds!

Eu ouço música o tempo todo. Enquanto dirijo, quando vou caminhar, sempre que posso no trabalho. Por conta disso, tenho diversas formas de ouvir música: do sistema principal no escritório, na sala de casa, desde o computador ou usando até um velho DVD Player…

O telefone está sempre recheado de coisas que quero ouvir, uma verdadeira caixa de desejos guardados. Mesmo que fique preso em algum elevador, o tédio não me alcançaria, pelo menos não tão rapidamente. Assim, nas noites insones, você sabe, no lugar de contar carneirinhos, ouço música. Mas, à noite, especialmente mais tarde na noite, as coisas ganham outras dimensões. Por exemplo, nada de espelhos! Borges que o diga.

Pois estava eu noite destas, tentando ouvir algo interessante pelo headphone, quando meu desastrado dedo confundiu o aplicativo e alcançou um arquivo que estava adormecido na pasta com as músicas e ouvi, assim às cegas, o andantino desta gravação da Sonata em lá maior de Schubert. Meu Deus, o que foi isso? Começa assim, agarrando a gente pelos ouvidos e vai nos enredando até a irrupção do episódio central, uma erupção de som. Fiquei mesmerizado e, bom, ouvi tudo de novo, agora desde o enorme começo.

Volodos não é um pianista convencional e seus discos são sempre muito interessantes, mesmo que sejam, digamos assim, bastante impregnados de sua personalidade. Ou seja, nada de apagar os arquivos com outras gravações da Sonata, nem pensar em passar adiante os CDs do Pollini ou Kempff ou Brendel, só para mencionar alguns. Mas esse disco é realmente muito especial e se você ainda não ficou convencido das maravilhas que Schubert nos deixou, tente este aqui. Assim, sem mais delongas, vá em frente!

Franz Schubert (1757 – 1828)

Sonata para Piano No. 20 em lá maior, D. 959

  1. Allegro
  2. Andantino
  3. Allegro Vivace
  4. Allegretto

3 Minuetos

  1. Minueto em lá maior, D 334
  2. Minueto em mi maior, D 335
  3. Minueto dó sustenido menor, D 600 com Trio em mi maior, D 610

Arcadi Volodos, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 128 MB

Every time Arcadi Volodos brings out a new record we are in for a treat. This time he tackles Schubert’s sonata D959, a piece he has been perfecting for years and it shows. The playing is wonderfully intimate, the recording quality superb. The second movement (andante) might be one of the best interpretations I have ever heard. The three minuets (D334, D335 D600) are true gems. The only criticism I have is the short duration. Less than an hour but apart from that 5 stars. [Philip Blackmarr]

Volodos, with his devotion to the work and the subtlety of his phrasing, turns my favorite late Schubert sonata into a magical musical experience, eclipsing even Krystian Zimerman’s wonderful recording.

I wouldn’t go that far, but he may have a point!

Aproveite!

René Denon

O órgão essencial de Franck, para começar (e o piano também) – REVALIDADO

Links revalidados por Pleyel em 2023 com uma saudosa memória:

Estive com o Ralf (Ranulfus) naquele que provavelmente foi o último recital de piano que ele assistiu ao vivo, em dezembro de 2022. Meu companheiro Willian tocou a Sonata de Liszt e Ralf afirmaria, horas depois:
“Não sou particularmente fã de Liszt, mas ver um amigo fazendo essa travessia épica, não tem como não emocionar!”

Pois bem, depois dessa travessia épica a gente conversava em um grupo pequeno e o nosso inesquecível Ranulfus não perdeu a oportunidade de falar naquele que sempre foi um de seus preferidos:

– Você toca algo de Franck?

Perguntou ele ao pianista. Havia um amigo violinista perto: essa pergunta costuma deixar bem atiçados os violinistas. Mas o pianista não tinha nada do franco-belga no seu repertório, de modo que Ralf acabou emendando em memórias de seus tempos de conservatório no sul, quando assistiu a uma master-class de Madame Magdalena Tagliaferro lhe contando seus segredos sobre César Franck. E sobre esses segredos, nos calaremos para não tornar a introdução maior do que a postagem original. Um sábio como Ranulfus certamente levou consigo alguns segredos desse tipo, tendo compartilhado muitos outros aqui conosco.

Senhoras e senhores: precisamente dois anos atrás, em 27.04.2010, o monge Ranulfus começava sua carreira neste blog – carreira um bocado irregular como tudo mais em sua vida nem tão monacal assim… – e a começava precisamente com este post. Talvez por isso lhe ficou sendo um post especialmente querido, que ele não gostaria de ver como grão chocho, sem link válido. Espero que vocês achem o mesmo!

. . . . . . .
Caríssimos co-freqüentadores, talvez alguns lembrem que há semanas eu vinha clamando e golpeando os portões do templo com os punhos: “Precisamos de Franck! Precisamos de Franck!”

Pois vocês não vão acreditar, mas aconteceu: de repente uma voz trovejou dos céus “então posta logo você mesmo esse Franck, e pára de pentelhar, porra!” No mesmo instante deu-se um clarão e eu me vi transportado a uma bolha transparente pousada sobre um píncaro gelado, e lá dentro, quem vejo? A equipe toda do blog – sim, Avicenna, Strava, Carlinus, CVL, FDP, Bluedog, CDF, todos diante do trono de Bach Pai, que tinha assentado à sua direita Carl Phillip, e à esquerda vocês já sabem quem: com sua voz de trovão, o próprio PQP!

E então… então me furaram o dedo e eu tive que assinar com o próprio sangue o juramento de jamais revelar os detalhes da orgi… da organização… mas por outro lado fui autorizado a oficiar os ritos de São César Franck – e ainda outros mais! – em nome de PQP Bach. E então, sentindo-me honrado além de todo merecimento, com profunda reverência e uma baita ressaca… eis-me aqui!

E já começo com um rápido jogo de corpo: suspeito que fui guindado aos céus justo pela minha proposta de postar a nova concepção de “obra organística completa de Franck”, gravada em 2006 em seis CDs (e não apenas nos dois usuais) por Hans-Eberhard Ross… mas depois que acordei percebi: apesar de toda a pompa da produção, a agógica de Ross, sua “declamação”, está longe de satisfatória: com freqüência a trama complexa de vozes cantantes, que fazem a grandeza de Franck, desaparece numa pasta de timbres belos mas informes.

E aí eu pensei: a moçada precisa ouvir outro Franck antes desse; um que dê pra entender! Além disso, que tal conhecer bem os pontos altos da obra (especialmente os 3 Corais e o Prelúdio, Fuga e Variação) antes de se meter com a infinidade de micro-peças litúrgicas gravadas por Ross?

E aí recorri à gravação de André Isoir, de 1977, feita num instrumento de Cavaillé-Coll, aquele sujeito que teve a sorte de passar à posteridade como “o organeiro de César Franck”.

É a melhor? Confesso que ainda não achei “a melhor”. Confesso mais: as gravações “feitas em casa” por Thomas Fürstberger, um professor de Ensino Médio alemão que toca órgão nas horas vagas, me tocam mais. Com freqüência acho que as execuções de amadores têm mais verdade, mesmo se com alguns esbarrões aqui e ali; chegam mais perto da alma do compositor – quem sabe justamente pelo sentido original da palavra “amador”. Mas pra quê postar aqui as gravações de Fürstberger se ele mesmo as oferece no seu site? Então vai o link do site dele, junto com o de download.

Isso é tudo, por hoje? Nããão! Acontece que junto ao clamor pelo órgão do Franck (epa!) eu também berrava: “E o Prelúdio, Coral e Fuga para piano! E o Prelúdio, Coral e Fuga!” – e aí encontrei um exemplar pra lá de interessante desse animal: a gravação de Alfred Cortot, de 1932, hoje em domínio público. Vale inclusive pra ver que, ao contrário de alguns outros famosos, Cortot não é apenas nome. O fato de haver uma ou outra esbarrada (como nas gravações de amadores) só faz suspeitar que as gravações perfeitas que compramos hoje não passam de “photoshop sonoro”. Pois a interpretação desse mestre de tantos pianistas se mostra ao mesmo tempo sóbria, intensa e transparente, fazendo cantar cada uma das vozes internas – uma interpretação digna de, digamos, um Alfred Cortot!

E agora vai lá. Espero que vocês tenham tanto prazer quanto eu!

César Franck por André Isoir, órgão (1977)
01 Prélude, fugue et variation op.18 (~1860)
02 Choral n°1 en mi majeur op.38 (1890)
03 Choral n°2 en si mineur op.39 (1890)
04 Choral n°3 en la mineur op.40 (1890)
05 Pièce heroïque (1878)
06 Final op.21 (~1860)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Brinde:
Prelúdio, Coral e Fuga (1884) por Alfred Cortot (piano) em 1932

01 Prelude
02 Choral
03 Fugue

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Alternativa:
Os 3 Corais + o Prelúdio, Fuga e Variação por um amador competente

Página de Thomas Fürstberger: ACESSE AQUI

Ranulfus

Claudio Santoro (1919-1989): Obra Completa para Violino e Piano (Baldini / Santoro)

Claudio Santoro (1919-1989): Obra Completa para Violino e Piano (Baldini / Santoro)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Claudio Santoro foi um grande, um imenso compositor brasileiro. Além de talentoso, era alguém posicionado politicamente. Por exemplo, quando era jovem, teve seu visto recusado para estudar nos EUA por ser filiado ao PCB. Coerentemente, suas obras não são meras abstrações. Ou seja, ele foi um ser humano e um artista inteiro, se me entendem. No caso que exemplifiquei, o de seus estudos, a segunda opção era Paris… E ele foi estudar com Nádia Boulanger!

Santoro escreveu quatorze sinfonias, uma ópera (Alma), inúmeras obras orquestrais, concertos, quartetos e peças de câmara, tudo da melhor qualidade. Também foi professor fundador do Departamento de Música da Universidade de Brasília. Em 1979, fundou a Orquestra do Teatro Nacional de Brasília, atualmente Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, da qual foi regente titular até sua morte em março de 1989. 

Em nosso tempo, Emmanuele Baldini vem fazendo um notável trabalho de registro da música de concerto brasileira. E aqui ele está com o filho de Santoro, Alessandro, excelente pianista (e cravista) formado no conservatório de Moscou e responsável pelo acervo de seu pai. Desde os primeiros minutos de audição percebe-se que Baldini está encharcado de Santoro até os ossos. Com efeito, ele me escreveu dizendo que estudou tanto estas obras que teve a impressão de conhecer pessoalmente o compositor. E completo dizendo que esta impressão deveria ser maior por estar ao lado de seu filho. Isso é audível, a atenção de Baldini a Santoro não foi e nem poderia ser residual. Claudio Santoro merece este cuidado. É um compositor único. Tem um lirismo muito particular e forte, que conseguimos ver transposto e referindo realidades. O resultado é estupendo. Baldini e Alessandro Santoro dão um espetáculo de senso de estilo e competência neste excelente e, infelizmente, pouco conhecido repertório.

Claudio Santoro (1919-1989): Obra Completa para Violino e Piano (Baldini / Santoro)

CD1

01. Sonata No. 1 para Violino e Piano: Andante
02. Sonata No. 1 para Violino e Piano: Allegro

03. Sonata No. 2 para Violino e Piano: Allegro
04. Sonata No. 2 para Violino e Piano: Andante
05. Sonata No. 2 para Violino e Piano: Allegro Molto

06. Sonata No. 3 para Violino e Piano: Bien Rythmé
07. Sonata No. 3 para Violino e Piano: Allegro Moderato
08. Sonata No. 3 para Violino e Piano: Allegro Energico
09. Sonata No. 3 para Violino e Piano: Epílogo

10. Sonata No. 4 para Violino e Piano: Allegro
11. Sonata No. 4 para Violino e Piano: Lento
12. Sonata No. 4 para Violino e Piano: Allegro

13. Sonata No. 5 para Violino e Piano: Allegro
14. Sonata No. 5 para Violino e Piano: Lento
15. Sonata No. 5 para Violino e Piano: Vivo-molto
16. Sonata No. 5 para Violino e Piano: Allegro Molto

CD2

01. Sicilienne Op.1 para Violino e Piano

02. Op.4 para Violino e Piano

03. Sonata 1939 para Violino e Piano: I. Allegro
04. Sonata 1939 para Violino e Piano: II. Andante

05. Na Serra da Mantiqueira

06. Elegia No. 1 para Violino e Piano
07. Elegia No. 2 para Violino e Piano: Romance
08. Elegia No. 3 para Violino e Piano: Andante

Emmanuele Baldini, violino
Alessandro Santoro, piano

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Baldini e Santoro no resort de inverno da PQP Bach Corp.

PQP

Hans Werner Henze (1926-2012): Requiem, Nine Sacred Concertos For Piano Solo, Trumpet Concertante And Chamber Orchestra (Metzmacher)

Hans Werner Henze (1926-2012): Requiem, Nine Sacred Concertos For Piano Solo, Trumpet Concertante And Chamber Orchestra (Metzmacher)

Este é um Réquiem diferente. Um Réquiem sem solistas vocais nem coro. Um Réquiem instrumental. Com suas imagens de guerra e terror, angústia e esperança, é tentador ver neste ciclo de nove concertos de Henze um memorial para aquele capítulo da história alemã que se encerrou com a queda do Muro de Berlim. É preciso resistir à tentação: o compositor refutou categoricamente essa interpretação, pois a inspiração era pessoal, decorrente da morte de seu amigo, o Diretor Artístico da Sinfonietta de Londres, Michael Vyner, em 1989 e mais amplo do que a história de qualquer nação. Composto entre 1990 e 1992, o Réquiem  instrumental e não litúrgico foi estreado em 1993 em Colônia pelo grupo acima. Os grandes estouros do Dies irae e do Rex tremendae, provocados pelos acontecimentos da Guerra do Golfo em 1991, são conduzidos pela orquestra com a mesma segurança com que a delicadeza e a quietude exigidas no Lux aeterna e no Agnus dei. Para quem não conhece, Hans Werner Henze foi um compositor alemão residente na Itália, conhecido por suas opiniões políticas marxistas que influenciam na sua obra. Trocou a Alemanha pela Itália em 1953, em razão da intolerância as suas posições políticas e a sua homossexualidade.

Requiem, Nine Sacred Concertos For Piano Solo, Trumpet Concertante And Chamber Orchestra

1 I. Introitus: Requiem 4:03
2 Il. Dies Irae 7:19
3 Ill. Ave Verum 7:16
4 IV. Lux Aeterna 7:50
5 V. Rex Tremendae 7:20
6 Vl. Agnus Dei 7:57
7 Vll. Tuba Mirum 6:49
8 VIll. Lacrimosa 6:55
9 IX. Sanctus 7:29

Conductor – Ingo Metzmacher
Ensemble – Ensemble Modern
Piano – Ueli Wiget
Trumpet – Håkan Hardenberger

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Henze, este foi grande!

PQP

Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908): As Sinfonias / A Grande Páscoa Russa / Capricho Espanhol (Neeme Järvi)

Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908): As Sinfonias /  A Grande Páscoa Russa / Capricho Espanhol (Neeme Järvi)

Inspirado pela postagem do mano PQPBach, resolvi trazer estas obras pouco conhecidas e executadas de Rimsky-Korsakov. Gosto muito desse compositor, desde a primeira vez em que ouvi seu Capricho Espanhol, e lá se vão mais de três décadas. Na verdade, sou fá da música russa, então Tchaikovsky, Korsakov, entre outros são compositores russos que sempre estiveram entre meus favoritos.

Não tenho lembranças de quando nem como consegui este belo CD duplo da DG que traz as sinfonias (para mim até então desconhecidas) do russo. Já devo tê-lo há pelo menos uns dois ou três anos. E ainda mais com um de meus regentes favoritos da atualidade, Neeme Järvi. O bom e prolífico velhinho gravou excelentes CDs com esta orquestra sueca, a Gothenburg Symphony Orchestra.

Tudo bem, suas sinfonias não têm o mesmo impacto das sinfonias de Tchaikovsky, seu contemporâneo e amigo, mas são bem escritas e a orquestração é bem trabalhada. Järvi, na verdade, em alguns momentos consegue tirar leite de pedra, e o que poderia soar tedioso, graças à sua regência segura, consegue me satisfazer. Enfim, não sejamos tão críticos. Respeitemos o compositor da genial “Sherazade” e do fantástico “Vôo do Besouro”.

O CD se completa com a conhecidíssima Abertura do Festival da Páscoa, e talvez sua obra mais conhecida, o Capricho Espanhol.

Um belo CD, sem dúvida, e raro. Desconheço outras gravações destas sinfonias, devem até existir, mas fica o mérito do grande Järvi trazer a tona obras tão pouco interpretadas.

Pitaco de PQP: adorei este CD duplo. As sinfonias são surpreendentes, estranhas e muito bonitas, com destaque para as orquestrações sempre lindas de RK. Sobre os extras, nem preciso falar — são espetaculares. Neeme Järvi é um mestre. Faz jus às citadas e notáveis orquestrações do compositor. Não erra nunca, com sua sensibilidade e compreensão fazendo a GSO render o máximo. Aliás, ele é Maestro Emérito vitalício da orquestra que hoje tem Dudamel como titular.

Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908): As Sinfonias / A Grande Páscoa Russa? / Capricho Espanhol (Jarvi)

CD 1
01. Symphony no.1 in E minor op.1 I. Largo assai – Allegro
02. Symphony no.1 in E minor op.1 II. Andante tranquillo
03. Symphony no.1 in E minor op.1 III. Scherzo. Vivace – Trio
04. Symphony no.1 in E minor op.1 IV. Allegro assai

05. Symphony no.2 op.9 (Antar) I. Largo – Allegro – Largo – Allegretto – Adagio
06. Symphony no.2 op.9 (Antar) II. Allegro
07. Symphony no.2 op.9 (Antar) III. Allegro risoluto
08. Symphony no.2 op.9 (Antar) IV. Adagio

CD 2
01. Symphony no.3 in C major, op.32 I. Moderato assai – Allegro
02. Symphony no.3 in C major, op.32 II. Scherzo. Vivo – Moderato – Tempo I
03. Symphony no.3 in C major, op.32 III. Andante – Animato assai – Tempo I – att
04. Symphony no.3 in C major, op.32 IV. Allegro con spirito – Animato

05. Russian Easter Festival Overture (A Grande Páscoa Russa), op.36

06. Capriccio Espagnol, op.34 Alborada. Vivo e strepitoso – attacca
07. Capriccio Espagnol, op.34 Variazioni. Andante con moto – attacca
08. Capriccio Espagnol, op.34 Alborada. Vivo e strepitoso – attacca
09. Capriccio Espagnol, op.34 Scena e canto gitano. Allegretto – attacca
10. Capriccio Espagnol, op.34 Fandango asturiano

Gothenburg Symphony Orchestra
Neeme Järvi – Conductor

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Neeme Järvi no Festival de Verão do PQP Bach, o PQPaloosa.

FDPBach

W. A. Mozart (1756-1791): Quintetos de Cordas K. 515 & 516 (Ébène + Tamestit)

W. A. Mozart (1756-1791): Quintetos de Cordas K. 515 & 516 (Ébène + Tamestit)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Eu, PQP Bach, amo estes dois Quintetos escritos por Mozart em sua fase final. O K. 515 e 516 são dois “quintetos de violas” na medida em que foram escritos para quarteto de cordas e uma viola extra (dois violinos , duas violas e violoncelo), contrariamente ao comum, que é dobrar o violoncelo. O K. 515, em dó maior, foi finalizado em 19 de abril de 1787, menos de um mês antes da conclusão do tempestuoso Quinteto em sol menor, K. 516. Esta não seria a última vez que um grande par de obras em dó maior / sol menor seriam publicadas em estreita proximidade e receberiam números Köchel consecutivos. No ano seguinte, as sinfonias 40 (sol menor) e 41 (dó maior) seriam concluídas com algumas semanas de diferença. Dizem que Mozart compôs estes dois quintetos de cordas só para mostrar ao recém-empossado rei Frederico Guilherme II da Prússia que era tão bom ou melhor do que Luigi Boccherini no formato que celebrizou o italiano… Frederico Guilherme, que sucedeu a Frederico o Grande, era ótimo violoncelista. Fez isso porque teria chegado a seus ouvidos que Boccherini era candidato ao posto de diretor da música na corte da Prússia. Nesta gravação, o Ébène convida o amigo e violista Antoine Tamestit para tocar estas duas obras lindas e contrastantes. Os movimentos lentos estão de cortar os pulsos, mas com alegria…

W. A. Mozart (1756-1791): Quintetos de Cordas K. 515 & 516 (Ébène + Tamestit)

String Quintet No.3 In C, K.515
1 Allegro
2 Menuetto (Allegretto)
3 Andante
4 Allegro

String Quintet No.4 In G Minor, K. 516
4 Allegro
5 Menuetto (Allegretto)
6 Adagio Ma Non Troppo
7 Adagio-Allegro

Cello – Raphaël Merlin
Ensemble – Quatuor Ebène
Viola – Antoine Tamestit, Marie Chilemme
Violin – Gabriel Le Magadure, Pierre Colombet

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Acima, o Ébéne posando sem Tamestit.

PQP

Edward Elgar (1857-1937): Cello Concerto in E Minor, op 85 / Samuel Barber (1910-1981): Cello Concerto, op 22 (Gastinel)

Edward Elgar (1857-1937): Cello Concerto in E Minor, op 85 / Samuel Barber (1910-1981): Cello Concerto, op 22 (Gastinel)

Comentei agora há pouco com PQPBach que ia trazer este CD da Gastinel tocando Elgar e Barber e ele comentou que não conhecia o Concerto para Violoncelo de Barber. Pois bem, caro PQP, aqui está o dito cujo.

Serei sincero neste primeiro momento: Anne Gastinel é uma excelente cellista, com uma excelente gravação das suítes de Bach, entre outros compositores, mas neste Concerto para Violoncelo de Elgar sinto faltar o impeto, e a paixão que Jacqueline Du Pré imprimiu em sua interpretação deste mesmo concerto. A comparação é inevitável, pois ambas foram crianças prodígios, com enorme talento, e já na adolescência ganhavam os principais prêmios concedidos aos intérpretes do instrumento.

Com relação ao concerto de Barber, confesso que conheço pouco essa obra, sem maiores referências para as devidas comparações. Mas digamos que no conjunto da obra, é um cd de primeira qualidade, ideal para ser ouvido numa tarde lamurienta de sábado, com uma garoa fina e chata caindo. De preferência, acompanhado de um bom livro.

Espero que apreciem.

Sir Edward Elgar (1857-1937) – Cello Concerto in E Minor, op 85 – Samuel Barber (1910-1981) – Cello Concerto, op 22 (Gastinel)

01. Elgar – Concerto for Cello in E minor, Op. 85 – I. Adagio-moderato
02. II. Lento-Alegro molto
03. III. Adagio
04. IV. Allegro

05. Barber – Concerto for Cello in E minor, Op. 85 – I. Allegro moderato
06. II. Andante sostenuto
07. III. Molto allegro e appassionato

Anne Gastinel – Cello
City of Birmingham Symphony Orchestra
Justin Brown – Conductor

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

É uma pena, mas todos nós envelhecemos. Basta ver a capa do CD e esta. Mas és uma bela senhora Gastinel!

FDPBach

César Franck (1822-1890) – Sinfonia em ré menor / Camille Saint-Saëns (1835-1921) – Le Rouet d’Omphale, op. 31 – Orquestra Nacional da França, Leonard Bernstein

César Franck (1822-1890) – Sinfonia em ré menor / Camille Saint-Saëns (1835-1921) – Le Rouet d’Omphale, op. 31 – Orquestra Nacional da França, Leonard Bernstein

Peço licença ao mestre e colega PQP Bach para usar, sob minha pessoal e intransferível responsabilidade, o seu selo de distinção, pois esse disco merece: IM-PER-DÍ-VEL!!!

Este precioso registro ao vivo de um concerto no Théâtre des Champs-Elysées, em Paris, é simplesmente uma das mais poderosas gravações desta belíssima sinfonia, a única escrita pelo francês-nascido-na-Bélgica-mas-que-na-época-não-era-Bélgica César-Auguste Jean-Guillaume Hubert Franck, ele mesmo, César Franck (1822-1890).

É um disco que, no meu pequeno altar de devoção pessoal, ocupa um lugar especial tanto por ser uma das minhas gravações favoritas dessa belíssima sinfonia (Furtwängler, Dutoit, Sanderling e Munch são outras que vêm à mente) como também uma das minhas gravações favoritas de mister Leonard Bernstein, que leva a Orquestra Nacional da França às “máximas alturas” do poema de Augusto dos Anjos. Sei que estou soando superlativo, e a idéia é essa mesmo.

Sinfonia em ré menor foi a última das grandes obras compostas por Franck, escrita entre 1886 e 1888 (ele morreria pouco depois, em 1890). É a culminação de um arco criativo que reúne suas obras mais belas e interessantes: o Quinteto para piano em fá menor (1879), o Prelúdio, coral e fuga para piano solo (1884) e a estupenda Sonata para violino e piano em lá maior (1886).

Tudo é tão radiante e tão bem construído que é difícil destacar alguma coisa nessa gravação, já que meio que tudo é digno de nota. Seriam os cintilantes fraseados? A beleza dos timbres? A forma como Bernstein e os franceses encontram um balanço perfeito entre a rica delicadeza artesanal dos detalhes e a opulência grandiosa do todo? Estejam desde já convidados a dividir seus pensamentos e emoções aqui na caixinha de comentários. Sinto que tudo que se possa dizer soa algo banal frente a tamanha façanha artística, mas não seria essa justamente uma das delícias de se escutar música assim, tão finamente tecida?

Das notas do encarte do disco, de Petra Weber-Bockholdt, em tradução livre deste escriba:

“Composta em 1868-1888, a ‘Sinfonia em ré menor’ de Franck é uma obra tardia que o músico concluiu aos 66 anos, dois anos antes de sua morte. Essa sinfonia pode ser descrita como uma das principais obras de sua época, pois reúne características essenciais da música composta naquele período. Ela se baseia na chamada forma cíclica, um método de ligação temática que, embora não tenha sido ‘inventado’ por Franck, deve a ele impulsos essenciais como princípio composicional.

No decorrer da sinfonia, os temas dos vários movimentos se mostram relacionados ou, pelo menos, semelhantes, de modo que podem ser unidos ou – soando simultaneamente – combinados uns com os outros. Essa ligação direta ocorre nessa sinfonia, bem como em muitas outras obras que seguem esse princípio de organização. No Finale, Franck analisa todos os temas da sinfonia com mais ou menos detalhes.

A concentração em determinadas formas temáticas é acompanhada pelo esforço de processá-las artisticamente, de ‘realizá-las’. Ambos são um legado da tradição musical alemã. Em contraste, a obra revela sua origem francesa por meio da mudança frequente de humores e atitudes musicais, que, ao se sucederem, dão a impressão de episódios diferentes. Essa característica está relacionada ao caráter pictórico da música francesa, que é moldada por ideias gestuais.”

Completa o saudoso lado b do disco um pequeno poema sinfônico de Camille Saint-Saëns, Le Rouet d’Omphale, de engenhosa orquestração. Uma daquelas pequenas peças de programa, que antecedem o concerto e, depois do intervalo, uma sinfonia. (arquivos corrigidos, com a inestimável ajuda do nosso querido René Denon!)

Em suma, um discaço, senhoras e senhores!

César Franck (1822-1900)
Sinfonia em ré menor

1.  I – Lento
2. II – Allegretto – attacca
3. III. Allegro non troppo

Camille Saint-Saëns (1835-1921)
Le Rouet d’Omphale, op. 31

4. Andantino – Allegro – Tranquilo e scherzando

Orchestre National de France
Leonard Bernstein, regência

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Quer fazer os naipes da sua orquestra brilharem? Ask Lenny

Karlheinz

C.P.E. Bach (1714-1789): Sinfonias, Concertos para violoncelo (lá menor) e para cravo (dó maior) – Bruns, Alpermann AAM Berlin

P.Q.P. Bach tem se dedicado a ouvir e difundir a música do seu irmão que deixou o mais importante legado: C.P.E. Bach, o terceiro de um total de vinte crianças. Só nos últimos doze meses foram nove postagens, entre obras para teclado, sonatas para cravo e violino, concertos e um oratório.

C.P.E. Bach foi ofuscado pelas gerações seguintes de excepcionais compositores que nasceriam naquele mesmo século no mundo austro-germânico: Haydn, Mozart, Beethoven e Schubert. Mas todos esses tinham em alta conta as suas obras. Aliás, no início do século XIX, tempos de Chopin e Schumann, o conhecimento das obras de J.S. Bach e C.P.E. Bach era um dos elementos que diferenciava, por toda a Europa, os compositores respeitados e sérios de outros que faziam apenas entretenimento em teatros e salões. Por volta de 1850, as obras de Bach pai deixariam de ser coisa de especialistas, professores e ratos de bibliotecas, com suas obras corais voltando a ser apresentadas em igrejas e as de câmara também: os manuscritos dos concertos de Brandenburgo, por exemplo, dormiram em gavetas até 1849, quando foram redescobertos e publicados no ano seguinte.

Mas Carl Philipp Emmanuel Bach não teve esse reencontro com os grandes públicos ou, se teve, é bastante recente. Intérpretes jovens como Danny Driver (aqui e aqui) têm mostrado como sua música é instigante, cheia de mudanças de emoções que antecipam já certos aspectos do piano romântico. É o caso também do Concerto para violoncelo em lá menor que aparece neste disco gravado pela Akademie für Alte Musik Berlin, orquestra surgida no então lado leste (socialista) da cidade na década de 1980.

C.P.E. Bach compôs três concertos para violoncelo (aqui os 3 em uma gravação pioneira dos já falecidos A. Bylsma e G. Leonhardt). Dos três, apenas um é em tom menor, este gravado aqui pelo alemão Peter Bruns. Sendo em tom menor, há nele algo de mais trágico e misterioso, como bem sabe quem conhece os concertos em tom menor de Mozart e de Beethoven. E, ao contrário da simetria e ordem presente nos vários concertos compostos por J.S. Bach e por Vivaldi, aqui temos as mudanças e irregularidades típicas de C.P.E., como afirmam as notas do disco da Harmonia Mundi: “se, no concerto barroco, a sucessão dos tutti e dos solos era regrada por sua repartição em blocos distintos de peso igual, encontramos em Emanuel Bach uma rede extremamente entrelaçada e irregular de partes solistas e orquestrais, rede que liga mais intimamente os interlocutores e os faz se corresponder de modo mais ativo.”

As sinfonias gravadas aqui pelos músicos de Berlim não fazem feio, claro: sempre em três movimentos curtos, elas exigem grandes peripécias do conjunto orquestral. Também aqui, as mudanças de clima e de andamento parecem indicar uma refinada arte de enganar as expectativas do público. Como naqueles falsos fade-outs que seriam usados, séculos depois, na mixagem de álbuns de artistas como Beatles e Radiohead, dando a impressão de que a música acabou quando não acabou. Mas o que fica mais na memória, cada vez que termino de ouvir o disco, é o concerto para violoncelo em lá menor.

C.P.E. Bach (1714-1789):
Symphony for 2 oboes, 2 horns, strings & continuo in E flat major, Wq. 179 (10:54)
1 Prestissimo
2 Larghetto
3 Presto
Concerto for harpsichord, strings & continuo in C major, Wq. 20 (24:15)
4 (Ohne Satzbezeichnung)
5 Adagio ma non troppo
6 Allegro assai
Symphony for 2 flutes, 2 oboes, 2 horns, strings & continuo in E minor, Wq. 178 (10:58)
7 Allegro assai
8 Andante moderato
9 Allegro
Concerto for cello, strings & continuo (“No. 1”) in A minor, Wq. 170 (24:26)
10 Allegro assai
11 Andante
12 Allegro assai
Symphony for strings & continuo in G major, Wq. 173 (8:09)
13 Allegro assai
14 Andante
15 Allegretto

Cello – Peter Bruns
Harpsichord – Raphael Alpermann
Ensemble – Akademie Für Alte Musik Berlin
Recorded At – Jesus-Christus-Kirche, Berlin (2000)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Akademie Für Alte Musik Berlin

Pleyel

Robert Schumann (1810 – 1856), Clara Schumann (1819 – 1896), Johannes Brahms (1833 – 1897): Peças para Piano – Benjamin Grosvenor ֎

Schumann & Brahms

Kreisleriana, Op. 16

Variações, Op. 20

Intermezzi, Op. 117

Outras Peças

Benjamin Grosvenor

 

É interessante poder acompanhar o desenvolvimento de um artista, como é o caso do pianista Benjamin Grosvenor, mesmo que seja sob a perspectiva de seus discos.

Ele sempre fica assim quando isso é mencionado…

Nascido em 1992, foi o mais jovem pianista britânico a assinar contrato com o selo DECCA em 2011. Fazia quase 60 anos que o selo não contratava qualquer pianista britânico.

Já postei dois álbuns dele aqui no blog – o primeiro a ser lançado pela DECCA, no qual ele exibe um repertório de pérolas para o piano, compostas por campeões do teclado: Chopin, Liszt e Ravel. O outro, um álbum temático, Dances, onde o pianista nos brinda com uma coleção de peças de vários compositores inspirados por diferentes tipos de danças.

No álbum desta postagem, lançado há bem pouco tempo, temos uma coleção de peças de três compositores que foram muito, muito próximos. Robert e Clara Schumann, que acolheram o jovem Brahms no início de sua carreira como compositor. Havia muita afinidade musical entre eles, assim como grande admiração pelos seus talentos musicais. Com o agravamento das condições de saúde de Robert, Johannes e Clara conviveram com muita proximidade. Certamente havia amor além de amizade entre eles, mas essa relação não foi avante, após a morte de Robert.

Além da admiração de cada um deles pela obra dos outros, a atuação de Clara, que era uma renomada pianista, na divulgação da obra de ambos, foi importante para a divulgação de suas composições. Ela fez muito para estabelecer o reconhecimento das obras de seus dois compositores preferidos.

No programa, obras de Robert Schumann ocupam o maior espaço, começando com uma primorosa interpretação da coleção de peças inspiradas pela novela de E.T.A. Hoffmann, que tem por personagem um violinista maníaco-depressivo chamado Kreisler. Essa obra é bem típica de Schumann, com contrastes entre o impulsivo Florestan e o sonhador Eusebius.

Mais algumas peças de Robert, entre elas um movimento da Sonata No. 3 para piano, umas quasi variazoni, provavelmente para fazer eco às Variações sobre um tema de Robert Schumann, compostas por Clara, que além de pianista foi ótima compositora. Provavelmente sua obra não é maior devido à sua atividade como intérprete, sem esquecer seu casamento com Robert, com oito filhos (!?!), dos quais quatro sobreviveram a ela.

Nos últimos 15 minutos do disco, 3 Intermezzi da coleção de peças publicadas como o Opus 117, já bem no fim da vida de Johannes Brahms, quase quarenta anos após a morte de Robert.

Robert Schumann (1810 – 1856)

[1-8] – Kreisleriana, Op. 16

[9] – Romance em fá sustenido maior, Op. 28 No. 2

[10] – Blumenstück, Op. 19

[11-15] – Piano Sonata No. 3 in F minor, Op. 14: Quasi variazoni

[16] – Abendlied (arr. Grosvenor)

Clara Schumann (1819 – 1896)

[17-24] – Variações sobre um tema de Robert Schumann, Op. 20

Johannes Brahms (1833 – 1897)

[25-27] – Intermezzi (3), Op. 117

Bejamin Grosvenor, piano

Data da gravação: 24/04/2022

Local da gravação: Potton Hall, Suffolk

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 249 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 201 MB

Trecho final da resenha sobre o disco na Gramophone: The engineering brings out all the colour and nuance of the playing. All in all, this is an album that reaffirms Grosvenor’s status as one of the most accomplished pianists around.

Benjamin Grosvenor impressionado com a última aquisição para a coleção de grand pianos para o acervo do PQP Bach…

Outras gravações de Kreisleriana, de Robert Schumann, podem ser encontradas nas postagens indicadas:

Schumann (1810-1856): Peças para Piano – Radu Lupu

R. Schumann (1810–1856): Kreisleriana ; F. Chopin (1810-1849): 2 Noturnos, Scherzo nº 3, Fantasia (Linda Bustani)

Robert Schumann (1810-1856): Einsam – Peças para Piano – Nino Gvetadze ֎

Aproveite!

René Denon

Marc-André Hamelin interpreta pianistas-compositores (Alkan, Busoni, Feinberg, Godowsky, Hamelin, Medtner, Rachmaninov, Scriabin, Sorabji)

Marc-André Hamelin interpreta pianistas-compositores (Alkan, Busoni, Feinberg, Godowsky, Hamelin, Medtner, Rachmaninov, Scriabin, Sorabji)

Neste interessante CD, Marc-André Hamelin interpreta gente como ele, ou seja, compositores-pianistas. OK, quase todos são, mas Hamelin se dedica aos grandíssimos virtuoses que, de vez em quando, achatam suas bundas numa cadeira para compor. O resultado é uma série de obras onde, em sua maioria, são exigidas habilidades demoníacas dos pianistas, o que não é problema para Hamelin, um pianista que parece ter e controlar uns 36 dedos sem se confundir. Há umas coisas decididamente bobas, outras lindas e outras em que a gente fica pensando: como ele consegue tocar essa coisa? Bem coloquemos as coisas em seus devidos lugares: o pianista canadense Marc-Andre Hamelin é um fenômeno, tendo uma série de gravações de tirar o fôlego. Ele se estabeleceu mais ou menos como o maior virtuose do planeta, e este disco só irá aumentar essa reputação — isto não significa que ele seja o melhor, claro. Hamelin faz parte de uma longa linhagem de compositores-pianistas. Alguns compuseram obras de dificuldade sobre-humana para exibir suas próprias proezas e fazer seus colegas se acovardarem, outros o fizeram para se apresentaram em público, ou seja, por razões financeiras (Rachmaninov e Medtner são bons exemplos). Este disco contém uma amostra representativa destes trabalhos, muitos dos quais não foram gravados anteriormente ou pelo menos são difíceis de encontrar. O CD também traz músicas de dois “gênios reclusos”: Charles-Valentin Alkan e Kaikhosru Shapurji Sorabji, ambos homens que produziram obras de desafios técnicos diabólicos enquanto se isolavam de quase todo contato humano e musical.

Marc-André Hamelin interpreta pianistas-compositores (Alkan, Busoni, Feinberg, Godowsky, Hamelin, Medtner, Rachmaninov, Scriabin, Sorabji)

1 Toccata In G Flat Major Op 13
Composed By – Leopold Godowsky
3:18

2 Poème Tragique Op 34
Composed By – Alexander Scriabin*
3:13

3 Etude No 9 (D’après Rossini)
Composed By – Marc-André Hamelin
3:48

4 Etude No 10 (D’après Chopin) (‘Pour Les Idées Noires’) 2:01

5 Schübler Chorale No 6 (transcription)
Composed By – Bach*
Transcription By – Samuel Feinberg*
3:29

6 Andante From Symphony No 94 (transcription)
Composed By – Haydn*
Transcription By – Charles-Valentin Alkan
5:48
Esquisses Op 63
Composed By – Charles-Valentin Alkan
7 No 46: Le Premier Billet Doux 1:05
8 No 47: Scherzetto 2:11

9 Fantasia Nach J S Bach
Composed By – Ferruccio Busoni
13:37

10 Moment Musical In E Flat Minor Op 16 No 2 (Revised Version 1940)
Composed By – Sergei Rachmaninov*
2:45

11 Etude-Tableau In E Flat Op 33 No 4 (Originally No 7)
Composed By – Sergei Rachmaninov*
1:37
Deux Poèmes Op 71
Composed By – Alexander Scriabin*
12 No 1: Fantastique 1:18
13 No 2: En Rêvant, Avec Une Grande Douceur 1:51

14 Berceuse Op 19a
Composed By – Samuel Feinberg*
4:53

15 Improvisation No 1 In B Flat Minor Op 31 No 1
Composed By – Nikolai Medtner
7:02

16 Pastiche On The Hindu Merchant’s Song From ‘Sadko’ By Rimsky-Korsakov
Composed By – Kaikhosru Shapurji Sorabji
4:05

17 Prelude And Fugue (Etude No 12)
Composed By – Marc-André Hamelin

Marc-André Hamelin, piano

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Hamelin aqui na Livraria Bamboletras. Quem dera…

PQP

Béla Bartók (1881-1945): Quartetos de Cordas Nº 1, 2 e 3 (Quatuor Ébène)

Béla Bartók (1881-1945): Quartetos de Cordas Nº 1, 2 e 3 (Quatuor Ébène)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Este é um CD de 2007. Então, aqui o extraordinário Quarteto Ébène ainda tinha sua primeira formação, com Pierre Colombet, 1º violino; Gabriel Le Magadure, 2º violino; Mathieu Herzog, viola e Raphaël Merlin, violoncelo. O quarteto, que já era fantástico, só se tornou melhor com o ingresso da violista Marie Chilemme no lugar de Herzog em 2017. Falar sobre o repertório é ocioso, basta você visitar este link que você terá a obra completa de Bartók e mais uns 130 CDs dele. Ah, e quando apresentamos a obra completa, descrevemos dedicadamente cada um dos quartetos em várias versões. Vai lá! Sobre a interpretação, só posso dizer que o Ébène compreende muito bem o húngaro. Suas interpretações são excelentes!

Béla Bartók (1881-1945): Quartetos de Cordas Nº 1, 2 e 3 (Quatuor Ébène)

Quatuor à Cordes No 1 Opus 7 Sz. 40
1 Lento
2 Allegretto
3 Introduzione: Allegro – Allegro Vivace

Quatuor à Cordes No 2 Opus 17 Sz. 67
4 Moderato
5 Allegro Molto Cappriccioso
6 Lento

Quatuor à Cordes No 3 Opus 3 Sz. 85
7 Prima Parte: Moderato
8 Seconda Parte: Allego
9 Ricapitulazione Della Prima Parte: Moderato
10 Coda: Allegro Molto

Quatuor Ébène

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

O fotógrafo deles em 2007 devia gostar muito do rock inglês.

PQP