Dom Óscar Arnulfo Romero Galdámez (1917-1980) tornou-se arcebispo de San Salvador, capital de El Salvador, em 1977. Nomeado por Roma por seu perfil conservador, Monsenhor Romero, como ficou conhecido, passou a conviver mais de perto com os fiéis e a observar pela ótica deles os abusos do exército salvadorenho, que temia um golpe de estado por parte de guerrilhas esquerdistas.
Com as incômodas denúncias – em suas homilias, à imprensa e a quem quer que fosse – de violação aos direitos humanos, incluindo assassinatos de clérigos, começou a receber ameaças de morte. Em 24 de março de 1980, “finalmente” (pro conforto dos militares), Monsenhor Romero tomou um tiro mortal no coração, de um milico anônimo, durante uma missa numa capela perto da Catedral de San Salvador, e virou mártir de imediato.
A notícia da morte de Monsenhor Romero atraiu milhares de pessoas a seu velório, para insatisfação do exército salvadorenho. Os militares dispersaram a multidão ao custo de 42 outras mortes. Dali, deflagrou-se oficialmente a Guerra Civil de El Salvador, que durou até 1992. Até hoje, o crime não foi solucionado, graças às oligarquias que ainda comandam o país, mas a peregrinação ao túmulo de Monsenhor Romero desde então tem sido a maior da América Central.
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Jorge Antunes – carioca radicado em Brasília, ativista de esquerda, autor do hino do PSol e de um Hino Nacional Alternativo, professor da UNB e um dos mais representativos (e polêmicos) expoentes da vanguarda brasileira – ganhou um prêmio da Sociedade de Música Contemporânea Israelense e viajou para a Terra Santa em 1980, onde passou quatro meses (em Jerusalém e num kibutz), desenvolvendo os rascunhos do tributo que estava concebendo ao arcebispo assassinado.
A referência à cor violeta advém da teoria cromofonética de Jorge Antunes, que relaciona uma cor do espectro solar a cada uma das notas diatônicas. De acordo com essa teoria o violeta equivale à nota mi, que predomina também em Ritual Violeta.
A Elegia violeta para Monsenhor Romero é uma das peças mais impactantes da música clássica nacional. Esta gravação péssima, que me parece ser a única, e o coral não tão bem ensaiado não reduzem a força da obra, desde a simulação do peso do tiro mortal em Monsenhor Romero, no acorde inicial do piano, e os gritos de desespero simulado nas cordas, até a última frase que o coral canta (a do título do CD).
“Não se mata a Justiça!” foi a resposta que o arcebispo deu a um repórter da TV Globo que o entrevistou em San Salvador, o qual perguntou-lhe se não tinha medo de morrer devido às denúncias contundentes que fazia.
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Falo en passant somente da obra mais importante – e, de longe, a mais atrativa – desse CD de Jorge Antunes; para saber sobre as demais, dêem uma olhada no encarte. Muito engenhosa, para se mencionar, é a Cromorfonética, que você pode confundir com uma obra eletroacústica, mas, com uma segunda ouvida, perceberá que é para coro misto.
Estou aqui em Brasília, tentando achar o Café do Rato Preto através do endereço que meu gerente me deu, já que nunca estive na capital federal:
Quadra SHIS Trecho 50 Lote 200
Acontece que o Google Earth acusou “galáxia não localizada” e não sei o que fazer no momento. Acho que daqui mesmo do aeroporto JK vou-me embora pra… Pra não sei onde… Talvez Santa Catarina, talvez Recife, talvez Rio, talvez Buenos Aires…
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Jorge Antunes (1942): ¡No se mata la Justicia!
1. Elegia violeta para Monsenhor Romero (1980), para dois solistas infantis, coro infantil, piano obligato e orquestra de câmara
Coro Infantil do Kibutz Hatzerim e do Conservatório de Música de Beer-Sheva
Solistas: Hagit Shapira e Ruth Halifa
Piano obligato: Mariuga Lisbôa Antunes
The Israel Sinfonietta
Regente: Jorge Antunes
2. Cromorfonética (1969), para coro a capella
Coro Pro-Arte Ensemble Graz
Regente: Karl Emst Hofmann
3. Proudhonia (1972), para coro misto e fita magnética
Coro: Les Douze Solistes des Choeurs de l’ORTF
Regente: Marcel Couraud
Gravação: 16/04/1973, no Festival de La Rochelle 1973 – Rencontres Internationales d’Art Contemporain Salle Oratoire, La Rochelle, France
Rimbaudiannisia MCMXCV (1994), para jovens cantores solistas, coro infanto-juvenil, orquestra de câmara, luzes e máscaras.
4. Rimbaudiannisia MCMXCV – I. Expiation pour Cumiqoh
5. Rimbaudiannisia MCMXCV – II. Voyelles
6. Rimbaudiannisia MCMXCV – III. Ditirambus
Choeur La Maîtrise de Radio France Orchestre Philharmonique de Radio France Regente: Arturo Tamayo
7. Ritual violeta (1999), para saxofone tenor e sons eletrônicos
Sax: Daniel Kientzy

CVL

Dando prosseguimento às gravações de Karl Richter com sua Münchener Bach Orchestra, FDP Bach traz mais uma joia de sua coroa: o concerto para Flauta, Harpa e Orquestra de Mozart.
Uma excelente gravação da esplêndida Sinfonia Nº 7 vem desde um primeiro movimento colossal, passa através de dois movimentos Nachtmusik em ambos os lados de um scherzo. São esses três movimentos centrais que deram origem à obra sendo às vezes conhecida como ‘Canção da Noite’, que não é um apelido de Mahler. Dito isso, não é um apelido injustificado, pois até mesmo o primeiro movimento tem um sentimento noturno em sua abertura e em muitos de seus episódios. É apenas no final que finalmente emergimos para a luz do dia. A primeira Nachtmusik, após os chamamentos de trompas e a evocação de cantos de pássaros, traz novamente a marcha, no que parece a evocação de um caminhar pelo mistério da noite. A ambientação noturna reaparece no Scherzo, mas desta vez através das lembranças algo fantasmagóricas da valsa vienense. Antes de atingir o brilho, no último movimento, a obra atravessa a segunda Nachtmusik: lirismo, transparência, orquestra reduzida – nos metais, apenas as trompas –, mas com a acréscimo do bandolim para essa verdadeira serenata noturna. No Rondo – Finale, a explosão de luz e a energia do tema inicial têm efeito arrebatador. Uma vez mais, o compositor estabelece o diálogo com a tradição – desta vez, com o tema de Os Mestres Cantores, de Wagner. A alternância com seções transparentes, as transformações do tema principal e até a reminiscência do tema que abre o primeiro movimento conduzem a Sinfonia a um final luminoso. Se atentarmos para a diversidade temática da Sétima e mesmo para a expressão particular de cada um de seus movimentos, estaremos diante de uma riqueza de expressões humanas em que não faltam a dor, a nostalgia, a desesperança, mas também a ironia, a raiva, o amor e o encantamento diante da natureza.



IM-PER-DÍ-VEL !!!






Mais um excelente CD trazendo o soprano Miriam Feuersinger, aquela cujo sobrenome diz tudo. Na enorme obra de cantatas de Johann Sebastian Bach, as “cantatas de diálogo” ocupam uma posição muito especial: como se em um diálogo pessoal, a ‘alma cristã’ (soprano) e ‘Cristo’ (baixo) entram em diálogo, quase como em uma ópera. Bach se refere às palavras de Martinho Lutero, segundo as quais “a fé une a alma a Cristo como uma noiva ao seu noivo”, e assim se vincula à ideia medieval do misticismo nupcial. Esse diálogo se torna um “dueto de amor” espiritual, por assim dizer, que Miriam Feuersinger e Klaus Mertens — ambos estão entre os grandes intérpretes de Bach do nosso tempo — interpretam aqui da maneira mais íntima. As duas cantatas “Ich geh und suche mit Verlangen” BWV 49 e “Liebster Jesu, mein Verlangen” BWV 32 são complementadas pelo Concerto para Oboé em Dó maior GWV 302 de Christoph Graupner, interpretado pela oboísta Elisabeth Grümmer.
A cultura não é meramente conhecimento, não é algum tipo de realização artística, mas sim um modo de vida.






Trago uma pequena colaboração à série de posts que o patrão PQP Bach tem feito com o resgate da monumental obra de J. S. Bach pelas mãos de um dos maiores pianistas de todos os tempos, o canadense Glenn Gould (1932-1982). Essa aqui é uma gravação curiosa e pouco conhecida da obra que definiu os rumos de sua carreira, as Variações Goldberg, BWV 988, e que não é nem a pioneira de 1955, que o alçou ao estrelato, nem o seu canto do cisne gravado em 1981.


Post publicado originalmente em 1º de janeiro de 2012
Um absurdo de bom este Hamilton de Holanda. Tudo é bom neste CD ao vivo. As interpretações, as composições — das 8 faixas, 4 são de Hamilton — e, vocês sabem, quando é Milton é bom. Hamilton tem uma longa discografia seja suas próprias composições ou homenagens a alguns de seus ídolos. Ele lançou suas gravações em sua própria gravadora independente, Brasilianos, ou em parceiros mundiais como Universal, ECM, MPS, Adventure Music. Ele entende que a indústria musical precisa de definições de categorias para a música que toca, como por exemplo Jazz, Brazilian Jazz, Brazilian Popular Music; mas para ele a inspiração transcende os rótulos, é algo que cresce livremente sem a necessidade de ser definido. Gosta de se explicar como um explorador musical em busca de beleza e espontaneidade. Dividiu o palco ou gravou com Wynton Marsalis, Chick Corea, The Dave Mathews Band, Paulinho da Costa, Chucho Valdes, Egberto Gismonti, Ivan Lins, Milton Nascimento, Joshua Redman, Hermeto Pascoal, Gilberto Gil, Richard Galliano, John Paul Jones, Bela Fleck, Stefano Bollani entre muitos outros.
Não sei de onde saiu este CD. Não sei de quem ganhei. Não conheço o All your gardening needs, não sei é uma pessoa ou um grupo. É algo super pirata, bastante bom e divertido, que veio num CD vagabundo da MultiLaser. Mas o conteúdo não é nada vagabundo. (Vagabundo é Bolsonaro). São trabalhos bastante ousados sobre canções e falas de Adoniran Barbosa (1910-1982). Um Adoniran elétrico, computadorizado, um pogréssio, enfim. Creio que eu não precise dizer quem foi Adoniran. O brasileiro que veio aqui e desconhece este gênio está convidado a sair deste blog. Imediatamente! O brasileiro que não conhece “Trem das Onze”, “Tiro Ao Álvaro”, “Saudosa Maloca”, “Prova de Carinho” e “Samba do Arnesto” não merece o ar que respira.



Nada como terminar a semana com uma grande obra-prima numa clássica interpretação que já recebeu três capas diferentes da EMI. Quem não se arrepiar no Kyrie inicial ou não gosta de música ou acabou de deixar de gostar. CD obrigatório, com Leppard em perfeita forma e Kiri nem se fala. Esta nasceu para cantar Mozart. A orquestra é enorme, mas Leppard (1927-2019) era um sujeito que sabia dosar as coisas. Ele não economiza nos tutti, mas aqui eles têm função. A 




IM-PER-DÍ-VEL !!!
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Sim, um Heifetz, mas não chega a ser uma coisa de louco. Eu não roubaria nem mataria por estas gravações do grande violinista. Gravação jurássica pisando a linha do suportável, não obstante o inigualável talento de Jascha Heifetz. Para quem chegou anteontem de Marte, o lituano Heifetz (1901-1987) foi um dos maiores virtuosos da história do violino, famoso por suas interpretações de Paganini, Beethoven, Brahms, Tchaikovsky, Saint-Saëns, Sibelius e de todos os que passaram por suas mãos. É considerado por muitos o melhor violinista do século XX. Descobri que esta gravação do Concerto de Mozart é dos anos 40 e, bem, era difícil de recuperá-la com um som decente.

IM-PER-DÍ-VEL !!!

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