Um disco saboroso, com sabor brasileiríssimo. Para apresentá-lo deveria começar falando de coisas bem brasileiras, mas de futebol nada entendo, exceto que a bola é redonda e que deveriam se decidir pra que lado correr, e não ficarem pra lá e pra cá (que não me amaldiçoe o compadre mestre Milton Ribeiro, afeiçoado ao nobre esporte). De café não sou especialista, embora ame café. Só sei que o nosso café brasileiro é inigualável, imbatível. Já me deram cafés de outras plagas e nenhum se compara ao mais modesto dos nossos torrados. Feijoada, mocotó, moqueca e farofa! Meu Santo Onófre! Só mesmo invocando Vinícius na causa:
Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem maior aprouver fazer dieta.
Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.
Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro: dêem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.
Eis tudo. Não dá pra ser vegano diante da sinfonia de sabores de nossa pátria gastronômica; nem dá pra ser Gregoriano com um disco desses.
Houve tempo em que música instrumental tinha guarida num cantinho do gosto popular brasileiro. E que instrumentistas tinham nome e renome, mesmo sendo uma alcunha, como ‘Papudinho’. José Lídio Cordeiro, trompetista pernambucano, 1931-1991. Quem hoje em dia conhece este nome? Alguns bem aventurados, com certeza já ouviram falar dele – e o ouviram. Todavia foi um referencial no trompete brasileiro, com discos solo e inúmeras participações em diversos e ressaltados trabalhos, junto a cantores e grupos orquestrais. Outro nome, e este se inscreve nas estrelas, nosso amadíssimo Hermeto Pascoal, na época ainda não transfigurado em Gandalf, Merlim, mago dos magos. Oriundo de Lagoa da Canoa, Alagoas, 1936. Cujos méritos, gênio e magia não preciso alardear, mesmo porque em postagem anterior já o fiz – a qual recomendo vivamente. Os demais cavaleiros desta tétrade sonora são Azeitona ao contrabaixo e Edilson, bateria. Sob o prosaico e oliváceo apelido de Azeitona, Arnaldo Alves de Lima atuou ao contrabaixo ao longo de três décadas, garantindo os fundamentos harmônicos e o balanço, desde o antológico disco Chega de Saudade do João Gilberto, até os poéticos e etílicos shows de Toquinho e Vinícius pelos palcos do mundo. Sobre o excelente Edilson, não encontrei rastros, exceto que onde estava Azeitona, estava Edilson, em diversos e formidáveis trabalhos instrumentais. Ninguém lamenta mais que eu por esta lacuna, e agradeço a quem trouxer informações sobre este importante músico. O disco é essencialmente jazzístico, tem solos improvisados e outros elementos que caracterizam um período da música instrumental brasileira entre os anos 50 e 60. Jazz, enfim, não é propriamente o que se toca, mas como se toca. Ou, se preferirem os puristas, um disco de ritmos brasileiros com influências jazzísticas; ou sendo ainda mais chato, um evidente ecletismo genérico musical com resultados híbridos. Ufa! PQP!
No repertório, delícias do cardápio ‘cantoral’ brasileiro (esta palavra não existe, exceto como sobrenome de um grande cancioneiro mexicano, mas tá valendo. Só aqui, pessoal, por favor). Perceberemos que apesar de termos 4 integrantes, ouviremos 5. O Trismegístico Hermeto usa de seus poderes e se desdobra entre o piano e a flauta ao mesmo tempo. Milagres não são novidade quando se trata Dele.
Um conselho que deixo aqui aos ouvintes, desfrutem com acompanhamentos: cerveja gelada ou whisky; suquinho para os passarinhos; tripa assada com muita cebola. Batatas fritas com alho ralado e torrado. Tudo isso antes da babilônica macarronada, ou uns dois metros de luzidias costelas de porco assadas, dignas de Nabucodonosor. De sobremesa um vinho do porto, pois que algum sábio latino andou dizendo que “borracho que bebe miel, ay de él!” E, se aprouverem aos céus, maravilhosa, ou maravilhosas companhias. Apreciem sem qualquer moderação. Não engorda, a música que engorda é Rossini, que era também gastrônomo.
CONJUNTO SOM 4 – 1965
Papudinho – Trompete
Hermeto Pascoal – Piano e Flauta
Azeitona – Contrabaixo
Edilson – Bateria
Consolação – Baden Powell e Vinícius de Morais
Samba Novo – Durval Ferreira e Newton Chaves
Minha Namorada – Carlos Lyra e Vinícius de Moraes
Deus Brasileiro – Marcos Vale e Paulo Sérgio Valle
Neste 2020 dedicado à memória de Beethoven, nosso colega Vassily já abordou em detalhes as obras que aparecem neste disco, mas vou me arriscar a tecer mais alguns comentários sobre essas obras programáticas em que, ao contrário da maioria das sinfonias e sonatas, Beethoven expressou para as plateias de seu tempo a sua adesão a uma série de valores do Iluminismo alemão, em resumo: o conhecimento trazendo a luz e libertando da escuridão.
Otto Maria Carpeaux resumiu assim o enredo da única ópera de Beethoven, inicialmente chamada Leonore, depois Fidélio:
No calabouço sombrio de uma fortaleza, o tirânico governador Pizarro mandou encarcerar o nobre Florestan, que ousara manifestar ideias de liberdade. O infeliz parece perdido. Nem o salvariam os heroicos esforços de sua mulher Leonore que, disfarçada em homem, sob o nome suposto de Fidélio, tentava libertar o marido. Só no último momento, quando na escuridão noturna do cárcere já se preparava o assassínio, ressoam longe as cornetas que anunciam a chegada do ministro e a libertação.
Para Carpeaux, a abertura Leonore nº 3 é no fundo uma grandiosa sinfonia, intensamente agitada como a luta pela liberdade, até ressoar o toque de corneta, tocada fora da sala de concerto, iniciando-se o desfecho jubiloso. É uma verdadeira sinfonia de programa, tão grande, que não serve bem para abrir uma noite de ópera.
A abertura Coriolanus se baseia na trágica história de um general romano, transformada em teatro pelo inglês William Shakespeare e pelo austríaco Heinrich Joseph von Collin (1771–1811). Exilado de Roma, Coriolanus organiza os exércitos de seus antigos inimigos para atacar a capital. Às portas de Roma, a mãe e a esposa de Coriolano, usando ao mesmo tempo para a emoção e a argumentação racional, conseguem convencê-lo a desistir de atacar sua cidade natal. Como em Leonore/Fidélio, mais uma vez, as mulheres fogem do tradicional papel de donzelas em busca de um marido.
Como bem lembrou Vassily, apesar de ter recebido o nome de “abertura” (ouverture), Coriolanus é uma peça independente: não há registro sequer da intenção de fazê-la seguir-se de outros números de música incidental, como era a praxe da época. Assim, ao escrever uma obra musical autônoma inspirada por uma outra, literária, Beethoven inaugurava um novo gênero: a abertura de concerto, pedra fundamental da tradição de música programática que, em algumas décadas, ganharia corpo com o trabalho de Schumann, Berlioz, Brahms, dando origem aos poemas sinfônicos de Liszt e Strauss que são outro nome para a mesma coisa.
Escrita para um conjunto orquestral pequeno e notavelmente mais leve que as outras obras para o palco de Beethoven, Prometheus era originalmente um ballet cheio de cenas bucólicas mostrando os primórdios da humanidade livremente inspiradas no mito grego do titã que presenteia a humanidade com o fogo e as “artes da civilização”. A partitura é a única em que Beethoven escreveu para a harpa.
Nesta gravação, Marriner selecionou os pontos mais emblemáticos de Prometheus: a abertura e algumas cenas mais bucólicas onde a harpa e as madeiras brilham sob a batuta deste regente que é sobretudo um grande mozartiano. E, é claro, a dança final, uma contradança reaproveitada de uma composição da juventude e que ressurgiria também nas variações para piano, Op. 35 e no colossal finale da sinfonia Eroica.
Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Prometheus; Aberturas Coriolanus, Leonore 2 e 3
1. Overture Coriolanus, Op. 62
2. Overture Leonore No. 2, Op. 72a
3. Overture Leonore No. 3, Op. 72b
Die Geschopfe des Prometheus (The Creatures of Prometheus), Op. 43:
4. Overture
5. Act I: Allegro vivace
6. Act II: Adagio
7. Act II: Pastorale
8. Act II: Andante
9. Act II: Finale: Allegretto
Orchestra: Stuttgart Radio Symphony Orchestra
Conductor: Sir Neville Marriner
Deixo ainda um bônus: a mais grandiosa, épica e triunfal de todas as gravações da abertura Leonore nº 3, com Sergiu Celibidache e a Filarmônica de Munique:
Dando continuidade as postagens da integral das sinfonias de Joseph Haydn (1732 — 1809) em mais três conjuntos vamos apreciar as sinfonias que vão da quadragésima sexta à quinquagésima quarta. O baixo número de sinfonias nas escalas menores reflete o gosto do público da época que esperavam apenas o entretenimento pouco exigente. Na década de 1770, o quarteto de cordas estava se desenvolvendo de gênero de divertimento informal dos grandes salões para concertos em pequenas reuniões onde se parava para apreciar a música; o concerto, por outro lado, era direcionado para o povão, que não parava para escutar, algo como “música ambiente” dos grandes salões ou ao ar livre. As sinfonias, porém, podem refletir o desejo dos clientes que as encomendavam em incentivar a escuta atenta, objetivos que ajudariam a explicar uma linguagem mais elaborada encontrado nessas obras. As obras em escalas menores provavelmente eram encomendadas para serviços religiosos, ou introspectivos, um teórico de música Joseph Riepel observou que a partir de 1765 “….a maioria dos amantes de música não gosta mais de ouvir coisas tristes, exceto a Igreja….”.
A linda Sinfonia nº 49 intitulada “La Passione” (A Paixão) em seu tom menor e apesar do seu número, é a mais antiga das deste post, datada de 1768 o nome sugere que ela foi destinada à Igreja e composta para o ser tocada no período da Quaresma – provavelmente na própria Sexta-Feira Santa. Esta sinfonia marca algo como um divisor de águas no desenvolvimento sinfônico de Haydn, combinando uma forma relativamente antiquada – a da sonata igreja – com o emocional particularmente moderno no conteúdo. Todos os quatro movimentos de ‘La Passione’ são em Fá menor, o movimento lento da abertura sugere uma visão da “Via Crucis”, enquanto o bonito movimento ‘Allegro di molto’ nos transmite seriedade e após o minuet, o presto, leva ao fim de uma das sinfonias mais sombrias e austeras de Haydn, uma obra de tal paixão que não se pode deixar de sentir a dor explicita escrita em suas páginas. Já a sinfonia 46, escrita em 1772, Haydn volta a usar uma escala raramente usada, si maior. O primeiro movimento é um dos mais legais que este admirador acha, conciso, lindo. O final é um movimento notável: não apenas contém passagens extensas divididas em duas partes nas vozes dos violinos, mas muitas vezes a música para abruptamente, ou desaparece, em pausas dramáticas; depois, no clímax, temas do minuet são lembrados, antes da coda final temas do início do presto são espirituosamente retomados.
Tapete vermelho estendido na Entrada do PQPBach Hall, denominada “Esterházy Palace”
As sinfonias 48 e 50, são trabalhos festivos em Dó maior. Haydn não recorre a meras fórmulas do tipo fanfarra para transmitir o espírito de festa. O primeiro movimento da sinfonia número 48 intitulado “Maria Theresa” é complexo, com uma riqueza de temas diferentes. O final, fornece uma conclusão adequada para um dos mais importantes trabalhos sinfônicos de Haydn. A obra tem o apelido de Maria Theresa, porque se pensava ter sido composta para uma visita da Imperatriz Maria Teresa da Áustria em 1773. Porém anos mais tarde foi encontrada uma cópia desta obra com a data de 1769, mas o apelido pegou. A sinfonia composta, provavelmente, para a visita da imperatriz era a número 50. Apesar de sua proximidade numérica, a quinquagésima datada de 1773 foi composta umas oito ou nove sinfonias após a 48º e combina fórmulas mais antigas contrastando com as mais recentes. Esta sinfonia retorna ao padrão dominado pelas cordas e seu final é um ‘Presto’ sério, finalizado com uma coda no bom estilo positivo que tanto caracterizou as obras do mestre Haydn. A sinfonia nº 52 em dó menor é uma das últimas sinfonias no estilo “Sturm und Drang” ( “tempestade e ímpeto”, movimento ocorrido na Alemanha no final do século XVIII que era marcado por combater a influência francesa na cultura alemã). Foi descrita como “o avô de Quinta Sinfonia de Beethoven”. É possível que, como em outras sinfonias do mestre, esta teria sido encomendada para algum serviço litúrgico, prática comum da época era tocar sinfonias nos eventos da Igreja. Dificilmente se pode imaginar um contraste mais forte entre a Sinfonia nº 52 e a Sinfonia nº 53 em ré maior. O início cerimonioso da sinfonia 53 “L’Imperiable” implica um trabalho mais imponente em contraste com a dramática sinfonia 52, seu caráter não é apressado, com seu lento início ele muda para um bonito vivace. No Andante, ouvimos dois temas encantadores que podem estar relacionado a um tema folclórico. O terceiro movimento, um minuet, transparente e leve. O movimento final termina de uma maneira animada e literalmente marcante, com um solo para o “timpanista”. Esta sinfonia se tornou a mais popular até então.
Os eleitos de Euterpe e Apolo fazendo rodinha.
A belíssima sinfonia que fecha esta postagem é a sinfonia 54, acho notável o avanço na orquestração devido à independência do fagote das outras partes do baixo além da utilização dos instrumentos de sopro que sustentam a harmonias enquanto as cordas se expandem nas melodias. O movimento lento é um dos que este mero ouvinte-blogueiro mais gosta, seja pela calma e principalmente pelo lindo solo de violino. Assim como a sinfonia número 40 esta interpretação do Adam Fischer e a Austro-Hungarian Haydn Orchestra também levou o prêmio de “Melhor do ano” da revista de música inglesa Gramophone. Sem mais delongas, pois vou escrevendo enquanto ouço as magnificas obras, deliciem-se com este mega conjunto lindamente interpretado pelo Adam e sua afinadíssima orquestra dos eleitos de Euterpe e Apolo.
Disc: 13 (Recorded June 1995 (#46-48))
1. Symphony No. 46 (1772) in B major, H. 1/46: Vivace
2. Symphony No. 46 (1772) in B major, H. 1/46: Poco adagio
3. Symphony No. 46 (1772) in B major, H. 1/46: Menuet & trio, allegretto
4. Symphony No. 46 (1772) in B major, H. 1/46: Finale, presto e scherzando
5. Symphony No. 47 (1772) in G major (‘The Palindrome’/’Letter L’), H. 1/47: Allegro
6. Symphony No. 47 (1772) in G major (‘The Palindrome’/’Letter L’), H. 1/47: Un poco adagio, cantabile
7. Symphony No. 47 (1772) in G major (‘The Palindrome’/’Letter L’), H. 1/47: Menuet & trio
8. Symphony No. 47 (1772) in G major (‘The Palindrome’/’Letter L’), H. 1/47: Finale, presto assai
9. Symphony No. 48 (1769) in C major (‘Maria Theresia’), H. 1/48: Allegro
10. Symphony No. 48 (1769) in C major (‘Maria Theresia’), H. 1/48: Adagio
11. Symphony No. 48 (1769) in C major (‘Maria Theresia’), H. 1/48: Menuet & trio, allegretto
12. Symphony No. 48 (1769) in C major (‘Maria Theresia’), H. 1/48: Finale, allegro
Disc: 14 (Recorded June 1994 (#51) and June 1995 (#49 & 50))
1. Symphony No. 49 (1768) in F minor (‘La passione’), H. 1/49: Adagio
2. Symphony No. 49 (1768) in F minor (‘La passione’), H. 1/49: Allegro di molto
3. Symphony No. 49 (1768) in F minor (‘La passione’), H. 1/49: Menuet & trio
4. Symphony No. 49 (1768) in F minor (‘La passione’), H. 1/49: Finale, presto
5. Symphony No. 50 (1773) in C major, H. 1/50: Adagio e maestoso – allegro di molto
6. Symphony No. 50 (1773) in C major, H. 1/50: Andante moderato
7. Symphony No. 50 (1773) in C major, H. 1/50: Menuet & trio
8. Symphony No. 50 (1773) in C major, H. 1/50: Finale, presto
9. Symphony No. 51 (1774) in B flat major, H. 1/51: Vivace
10. Symphony No. 51 (1774) in B flat major, H. 1/51: Adagio
11. Symphony No. 51 (1774) in B flat major, H. 1/51: Menuetto-trio I-trio II
12. Symphony No. 51 (1774) in B flat major, H. 1/51: Finale, allegro
Disc: 15 (CD15 Recorded June 1994 (#52) and June 1995 (#53 & 54))
1. Symphony No. 52 (1774) in C minor, H. 1/52: Allegro assai con brio
2. Symphony No. 52 (1774) in C minor, H. 1/52: Andante
3. Symphony No. 52 (1774) in C minor, H. 1/52: Menuetto & trio, allegretto
4. Symphony No. 52 (1774) in C minor, H. 1/52: Finale, presto
5. Symphony No. 53 (1778) in D major (‘L’Impériale’/’Festino’), H. 1/53: Largo maestoso-vivace
6. Symphony No. 53 (1778) in D major (‘L’Impériale’/’Festino’), H. 1/53: Andante
7. Symphony No. 53 (1778) in D major (‘L’Impériale’/’Festino’), H. 1/53: Menuetto & trio
8. Symphony No. 53 (1778) in D major (‘L’Impériale’/’Festino’), H. 1/53: Finale-Capriccio, presto
9. Symphony No. 54 (1774) in G major, H. 1/54: Adagio maestoso-presto
10. Symphony No. 54 (1774) in G major, H. 1/54: Adagio assai
11. Symphony No. 54 (1774) in G major, H. 1/54: Menuet & trio, allegretto
12. Symphony No. 54 (1774) in G major, H. 1/54: Finale, presto
Rainer Küchl, violin
Wolfgang Herzer, cello
Gerhard Turetschek, oboe
Michael Werba, bassoon
Austro-Hungarian Haydn Orchestra
Conductor: Adam Fischer
Poderia classificar esta gravação como pertencendo ao fim de uma era, o fim de uma era de gigantes, quando os dinossauros andavam sobre a Terra. Mas não farei isso exatamente em respeito à estes dois grandes músicos, Emil Gilels e Antal Dorati, que durante décadas encantaram multidões com seu talento. Os dois ainda frequentaram os palcos por alguns anos, Gilels faleceu em 1985, enquanto que Dorati veio a falecer em 1988.
Antal Dorati era húngaro, mas se naturalizou norte americano, era dez anos mais velho que Gilels, e provavelmente foi um dos músicos que mais gravaram discos na história, principalmente ali entre os anos 50 e 60, quando realizou gravações históricas, principalmente com a então Minneapolis Symphony Orchestra, hoje conhecida com Minesotta Orchestra.
Este registro que ora vos trago foi realizado ao vivo em 1976, na cidade suíça de Lausanne, e nos apresenta dois músicos muito experientes, tocando uma das maiores obras já compostas na história. Minha sugestão é que os senhores, principalmente se estão aqui no sul do país enfrentando esta onda de frio, com direito a neve, enfim, que os senhores abram uma garrafa de um bom vinho, sentem em suas melhores poltronas e deixem-se embalar pelo talento destes dois excepcionais músicos.
01 Piano Concerto No. 5 in E-Flat Major Op. 73 Emperor I. Allegro (Live Recording Lausanne 1976)
02 Piano Concerto No. 5 in E-Flat Major Op. 73 Emperor II. Adagio un poco mosso (Live Recording Lausanne 1976)
03 Piano Concerto No. 5 in E-Flat Major Op. 73 Emperor III. Rondo. Allegro ma non troppo (Live Recording Lausanne 1976)
Emil Gilels – Piano
Orchestre National de France
Antal Dorati – Conductor
Dando continuidade a esta que é a oitava parte da mini biografia do maestro Leopold Stokowski (1882-1977) que se estende no período entre 1954 até 1961. Lá nos idos de 1954, a Houston Symphony estava procurando um novo diretor musical. Quando o presidente do conselho Ima Hogg entrou em contato com o gerente de Stokowski, Andrew Schulhof, este lhe disse que “o hómi” estava pronto para assumir a responsabilidade. Em poucos dias, Stokowski, então com 73 primaveras, assinou um contrato de três anos como Diretor Musical da Orquestra Sinfônica de Houston, começando na temporada de 1955-1956. Porém esta relação havia algo como uma desconexão cultural desde o começo, e apesar da falta de empatia entre as partes, Stokowski trouxe alguns concertos célebres e bastante exposição na televisão, além de um extenso programa de gravação para esta orquestra. Em seu concerto de abertura da temporada, o seu primeiro em Houston, em outubro de 1955, Stokowski conduziu a estreia da “Symphony no 2 Mysterious Mountain” , de Alan Hovhaness (1911-2000), transmitido nacionalmente pela NBC. Quando seu contrato inicial de três anos terminou em 1958, Stokowski e a Houston Symphony concordaram em uma série de contratos anuais. No entanto, Stokowski passou cada vez menos tempo em Houston e, em 1961, terminou seu trabalho em Houston.
Em 1959, se amigo Eugene Ormandy sugeriu que Leopold Stokowski voltasse a conduzir a Orquestra da Filadélfia. Os concertos resultantes de fevereiro de 1960 foram os primeiros de Stokowski com a Orquestra da Filadélfia desde 3 de abril de 1941. Estes concertos foram construídos com a programação inspirada de Stokowski, e foram entusiasticamente recebidos pelo público e pelos críticos.
Leopold Stokowski com Franco Corelli, no ensaio de Turandot
Stokowski e a ópera: Embora o maestro tenha realizado uma série de óperas em forma de concerto, e mesmo semi-encenado, ele não teve a experiência de diretor musical da ópera. Dimitri Mitropoulos teve uma súbita morte em novembro de 1960, aos 59 anos, ele estava programado para conduzir o “Turandot” de Puccini no Metropolitan Opera de fevereiro a abril de 1961 então para substitui-lo Stokowski foi convidado por Rudolf Bing para conduzir a ópera que prontamente aceitou e preparou-se. Ele detectou alguns não conformes na partitura impressa do trabalho de Puccini, envolveu-se na iluminação e figurinos, e ensaiava separadamente cantores e coros. Na noite de abertura, o público deu ao elenco e ao maestro Stokowski uma ovação prolongada. No entanto, as reações posteriores foram menos favoráveis. Alguns críticos apreciaram a sonoridade e o brilho da orquestra, mas outros criticaram duramente a falta de cuidado de Stokowski para os cantores e a ação de palco.
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Charles Edward Ives
Vamos compartilhar com os amigos do blog obras do compositor Charles Ives , na íntegra Charles Edward Ives , (nascido em 20 de outubro de 1874, Danbury , Connecticut , EUA e falecido em 19 de maio de 1954 em Nova York). A Sinfonia nº 4 apesar de ter o seu período de composição registrado entre 1910 e 1925 foi tocada na íntegra pela primeira vez só em 26 de abril de 1965, no Carnegie Hall de Nova York, com Leopold Stokowski dirigindo a American Symphony Orchestra e o Schola Cantorum, com dois outros maestros, José Serebrier e David Katz. Até hoje os críticos afirmam que “nenhum outro maestro foi capaz de expressar com grande eloquência o espírito geral de uma obra de arte tão brilhante e enigmática como esta quarta sinfonia de Ives”. Eu em minha modestíssima opinião acho que o toque mágico de Stokowski permaneceu intacto no final da sua vida quando realizou o projeto de trazer pela primeira vez esta difícil obra-prima de Ives há muito negligenciada ao público, o maestro tinha 83 anos quando fez esta empreitada, esta gravação de estreia mundial ainda transborda de emoção. Ainda neste disco dedicado a Ives, temos o poema sinfônico com grandes dissonâncias “Robert Browning”e mias quatro músicas corais acompanhadas de orquestra. Pouco mais de uma hora de música difícil, porém gratificante, deliciem-se com a estranha e selvagem imagem da América transcendental e mística de Ives na batuta do grande Leopold.
Charles Ives: Sinfonia No. 4 / Robert Browning Overture / Songs Majority / Songs They Are There / Songs An Election / Songs Lincoln
01 Symphony No. 4 I. Prelude, Maestoso
02 Symphony No. 4 II. Comedy, Allegretto
03 Symphony No. 4 III. Fugue, Andante moderato con moto
04 Symphony No. 4 IV Finale, Largo maestoso
Members of the Schola Cantorum of New York
The American Symphony Orchestra
Recorded in Manhattan Center, New York City, April 29 & 30, 1965
05 Robert Browning Overture
The American Symphony Orchestra
Recorded in Manhattan Center, New York City, December 21, 1966
06 Songs Majority (or The Masses)
07 Songs They Are There (A War Song March)
08 Songs An Election (It Strikes Me That)
09 Songs Lincoln, the Great Commoner
The Gregg Smith Singers / Ithaca College Concert Choir
The American Symphony Orchestra
Recorded in Manhattan Center, New York City, October 18, 1967
José Serebrier and David Katz assisting conductors
Leopol Stokowski
Nesta quarta postagem das belíssimas sinfonias do mestre de Joseph Haydn (1732 — 1809) teremos o prazer de compartilhar mais três Cds que compreendem as sinfonias de número 38 até a de número 45. No CD 10 encontraremos as sinfonias 38, 39 e as Sinfonias “A” e “B”. As sinfonias “A” e “B” , provavelmente foram escritas para a orquestra do conde Mozin entre 1757 e 1760. Não está no esquema de numeração usual das sinfonias, porque foi originalmente considerado como sendo quarteto de cordas (Op. 1/5) por estudiosos do século XIX. A sinfonia 38 também conhecida como “Echo” devido ao uso de motivos de imitação (ou eco) no fraseado da cadencia do segundo movimento. O efeito de eco é criado marcando a linha principal para os primeiros violinos não silenciados e a resposta dos segundos violinos silenciados. Essa inovação na pontuação expande uma prática barroca comum anterior de repetição de frases. A linda sinfonia 39 (“Tempesta di mare”) escrita em sol menor influenciou a sinfonia 25 de Mozart, um verdadeiro espetáculo! No CD 11 a sinfonia 42 representa o período intermediário de Haydn um trabalho colorido em ré maior, ele revela o seu poder sinfônico, essas qualidades são exibidas no lindo primeiro movimento ‘moderato e maestoso‘. O movimento lento é mais expansivo, permitindo a elaboração gradual de seus dois temas principais. O minuet é notável pela simplicidade, enquanto o final representa um dos primeiros movimentos em que o rondo aparece completo, os quais Haydn logo se tornaria conhecido. Para a adorável sinfonia número 40, a presente gravação do Adam Fischer e orquestra fizeram uma interpretação que levou o prêmio de “Melhor do ano” da revista de música inglesa Gramophone, tá bom ou querem mais?
Austro-Hungarian Haydn Orchestra in the Haydnsaal
Nada menos que dezessete sinfonias datam do início da década de 1770, anos em que a forma “sinfonia” verdadeiramente atingiu a maturidade em suas mãos. Foi também o período em que uma nova tendência entre as artes contemporâneas influenciou a sua música. Embora muitas vezes vinculado ao movimento “Sturm und Drang” na literatura, essas atividades foram efetivamente as primeiras do movimento romântico que dominariam o empreendimento artístico no século seguinte. Junto com maior aceitação da emoção na expressão artística, encorajados pelos ideais humanistas da Era do Iluminismo, foi a grande influência nesses primeiros romances da nova literatura tendo como um dos expoentes Goethe. Esse novo movimento intelectual alemão mal tocou os círculos literários austríacos e Haydn, com presença de espírito, já os colocava na sua música. Neste período alegres sinfonias se encontram ao lado de suas obras mais abertamente “introspectivas” ou “trágicas”. A maioria dessas características está presente na incrivelmente bela sinfonia 44 do CD 12 conhecida como “Trauersinfonie” ou “Luto Symphony”, diz a lenda que Haydn solicitou que o movimento lento deveria ser tocado em seu funeral. Não há tentativa de marcha fúnebre como o luto transmite é mais o sentimento de perda e contemplação silenciosa. O tenso movimento de abertura resume o “Sturm” de Haydn com seus contrastes ferozes de dinâmica, uma breve passagem combinando contraponto com cromatismo. O contraponto está novamente em destaque no minuet um humor mais brilhante do trio prepara o caminho para o sublime adagio, um movimento que fornece a contemplação calma contrastando com o primeiro movimento. O final é um dos mais notáveis de Haydn, um movimento repleto de energia tremendamente bem escrito e lindamente interpretado pela turma do Fischer. A fonte do apelido “Mercury” da sinfonia 43 permanece desconhecido. Pode se referir ao seu uso como música incidental de alguma peça. Esta sinfonia é marcada por uma figura unificadora que une o material temático dos movimentos da mesma maneira que Beethoven fez com o motivo de sua quinta sinfonia. O tema é ouvido pela primeira vez na abertura do alegro, esta ideia principal é repetida no adagio, e, finalmente, repetido no minuet, apenas o final não utiliza, sendo a sinfonia elegantemente encerrada.
O verão já acabou! Como vou explicar lá em casa?
A divertida história de como a sinfonia 45 “Farewell” foi composta foi contada por Haydn na sua velhice aos biógrafos Albert Christoph Dies e Georg August Griesinger. “….naquela época, o patrono de Haydn, o príncipe Eszterházy era residente, junto com todos os seus músicos e comitiva, em seu palácio de verão em Eszterháza, na zona rural da Hungria. Naquela temporada a estadia foi mais longa do que o esperado, foi-se o verão e já estavam nas primeiras semanas do outono, e a maioria dos músicos foi forçado a adiar o retorno para casa, deixando as esposas e família que os estavam esperando revoltadas, sabemos que isso é um perigo!!! Além disso o palácio ficava a um dia de viagem do vilarejo aonde as famílias dos músicos moravam. Desejando voltar, os músicos pediram ajuda ao Kapellmeister. O diplomático e incrivelmente criativo Haydn, em vez de fazer um apelo direto, colocou seu pedido na música da sinfonia: durante o adágio final, cada músico suavemente para de tocar, apaga a vela da sua estante de partitura e sai um por vez, até que no final restariam apenas dois violinos (interpretados pelo próprio Haydn e seu mestre do concerto, Luigi Tomasini)”. Eszterházy parece ter entendido a mensagem subliminar do final da obra: de bom humor parece ter dito ‘…se eles todos estão indo, nós também devemos ir…”. Então a comitiva de músicos pode retornar a Eisenstadt no dia seguinte à apresentação.
Papa Haydn
Temos ai o “porque” dos músicos da orquestra do castelo de Esterházy tinham o hábito de chamar “Pai” a seu Kapellmeister, numa demonstração de carinho e respeito. Com a mesma admiração profissional e pessoal, Mozart se dirigia ao veterano, fundador da sinfonia e do quarteto de cordas clássicos, como “Papa Haydn”. Seus contemporâneos descreveram seu caráter como amigável, informal, engraçado e modesto. Ele era, além disso, bom homem de negócios, econômico, patriótico, religioso, aplicado e organizado. Apesar de, em suas últimas duas décadas de vida, haver sido cumulado de honrarias, adulado por imperadores, reis, príncipes e outras personalidades importantes, jamais se deixou impressionar. “Não quero intimidades com essas pessoas”, escreveu certa vez, “prefiro estar com a gente de minha classe.” Deliciem-se com mais esta mega postagem das sinfonias do querido Kapellmeister Franz Joseph Haydn, nas belíssimas interpretações de Adam Fischer e sua afinadíssima Austro-Hungarian Haydn Orchestra !
Disc: 10 (Recorded June 2000 (“A” & “B”) and May 2001 (#38 & 39))
1. Symphony No. 38 (1769) in C major, H. 1/38: Allegro di molto
2. Symphony No. 38 (1769) in C major, H. 1/38: Andante molto
3. Symphony No. 38 (1769) in C major, H. 1/38: Menuet & trio, allegro
4. Symphony No. 38 (1769) in C major, H. 1/38: Finale, allegro di molto
5. Symphony No. 39 (1770) in G minor (‘The Fist’), H. 1/39: Allegro assai
6. Symphony No. 39 (1770) in G minor (‘The Fist’), H. 1/39: Andante
7. Symphony No. 39 (1770) in G minor (‘The Fist’), H. 1/39: Menuet & trio
8. Symphony No. 39 (1770) in G minor (‘The Fist’), H. 1/39: Finale, allegro di molto
9. Symphony No. 107 (1762) in B flat major (‘Letter A’), H. 1/107: Allegro
10. Symphony No. 107 (1762) in B flat major (‘Letter A’), H. 1/107: Andante
11. Symphony No. 107 (1762) in B flat major (‘Letter A’), H. 1/107: Allegro molto
12. Symphony No. 108 (1765) in B flat major, H. 1/108: Allegro molto
13. Symphony No. 108 (1765) in B flat major, H. 1/108: Menuetto & trio, allegretto
14. Symphony No. 108 (1765) in B flat major, H. 1/108: Andante
15. Symphony No. 108 (1765) in B flat major, H. 1/108: Finale, presto
Disc: 11 (Recorded May 1991 (#40), June 1994 (#42) and June 1995 (#41))
1. Symphony No. 40 (1763) in F major, H. 1/40: Allegro
2. Symphony No. 40 (1763) in F major, H. 1/40: Andante piu tosto allegretto
3. Symphony No. 40 (1763) in F major, H. 1/40: Menuet & trio
4. Symphony No. 40 (1763) in F major, H. 1/40: Finale-fuga, allegro
5. Symphony No. 41 (1770) in C major, H. 1/41: Allegro con spirito
6. Symphony No. 41 (1770) in C major, H. 1/41: Un poco andante
7. Symphony No. 41 (1770) in C major, H. 1/41: Menuet & trio
8. Symphony No. 41 (1770) in C major, H. 1/41: Finale, presto
9. Symphony No. 42 (1771) in D major, H. 1/42: Moderato e maestoso
10. Symphony No. 42 (1771) in D major, H. 1/42: Andantino e cantabile
11. Symphony No. 42 (1771) in D major, H. 1/42: Menuet & trio, allegretto
12. Symphony No. 42 (1771) in D major, H. 1/42: Finale, scherzando e presto
Disc: 12 (Recorded September 1988 (#45) and June 1994 (#43 & 44))
1. Symphony No. 43 (1772) in E flat major (‘Mercury’), H. 1/43: Allegro
2. Symphony No. 43 (1772) in E flat major (‘Mercury’), H. 1/43: Menuetto & trio, allegretto
3. Symphony No. 43 (1772) in E flat major (‘Mercury’), H. 1/43: Adagio
4. Symphony No. 43 (1772) in E flat major (‘Mercury’), H. 1/43: Finale, presto
5. Symphony No. 44 (1772) in E minor (‘Trauer’ /’Funeral’/’Letter E’), H. 1/44: Allegro con brio
6. Symphony No. 44 (1772) in E minor (‘Trauer’ /’Funeral’/’Letter E’), H. 1/44: Menuetto & trio, allegretto
7. Symphony No. 44 (1772) in E minor (‘Trauer’ /’Funeral’/’Letter E’), H. 1/44: Adagio
8. Symphony No. 44 (1772) in E minor (‘Trauer’ /’Funeral’/’Letter E’), H. 1/44: Finale, presto
9. Symphony No. 45 (1772) in F sharp minor (‘Farewell’/’Candle’/’Letter B’), H. 1/45: Allegro assai
10. Symphony No. 45 (1772) in F sharp minor (‘Farewell’/’Candle’/’Letter B’), H. 1/45: Adagio
11. Symphony No. 45 (1772) in F sharp minor (‘Farewell’/’Candle’/’Letter B’), H. 1/45: Menuet & trio, allegretto
12. Symphony No. 45 (1772) in F sharp minor (‘Farewell’/’Candle’/’Letter B’), H. 1/45: Finale, presto-adagio
Rainer Küchl, violin
Wolfgang Herzer, cello
Gerhard Turetschek, oboe
Michael Werba, bassoon
Austro-Hungarian Haydn Orchestra
Conductor: Adam Fischer
Nosso amado Concerto para Violoncelo de Dvorák volta ao PQPBach em muito boas mãos neste lançamento do selo Deutsche Grammophon, uma gravação muito elogiada pela imprensa.
Kian Soltani é um jovem violoncelista iraniano, nascido em 1992, vinte e oito anos de idade, mas já tem uma vasta experiência internacional. É o primeiro violoncelista da West-Eastern Divan Orchestra, do mesmo Daniel Baremboim, e vem se apresentando como solista nos últimos anos, gravando CDs inclusive, e ganhando prêmios ao redor do mundo.
Quando lembramos deste concerto os nomes de Rostropovich, Janos Starker e Pierre Fournier nos vem a cabeça imediatamente, e fico feliz de ouvir um músico tão jovem escrevendo seu nome ao lado destes grandes mestres do passado. Com certeza ele tem um futuro promissor pela frente. Vou acompanhar atentamente.
O concerto é acompanhado no álbum por 5 arranjos para violoncelo solo e conjunto de violoncelo (seis violoncelistas da Staatskapelle Berlin) de peças únicas conhecidas de várias obras maiores de Dvořák. Três deles foram arranjados pelo próprio Kian Soltani. O rapaz tem talento, com certeza. Vale a pena conhecer. Se os senhores gostarem, trago outro CD dele, também gravado com o mesmo Baremboim.
Antonin Dvořák – Concerto para Violoncelo
01 Cello Concerto in B Minor Op. 104 B. 191 I. Allegro
02 Cello Concerto in B Minor Op. 104 B. 191 II. Adagio ma non troppo
03 Cello Concerto in B Minor Op. 104 B. 191 III. Finale. Allegro moderato
04 4 Lieder Op. 82 B. 157 I. Lasst mich allein. Andante (Arr. Soltani For Solo Cello and Cello Ensemble)
05 Symphony No. 9 in E Minor Op. 95 B. 178 From the New World IV. Largo. Goin’ Home (Arr. Koncz For Solo Cello and Cello Ensemble)
06 Gypsy Melodies Op. 55 B. 104 IV. Songs My Mother Taught Me (Arr. Soltani For Solo Cello and Cello Ensemble)
07 4 Romantic Pieces Op. 75 B. 150 I. Allegro moderato (Arr. Soltani For Solo Cello and Cello Ensemble)
08 From the Bohemian Forest Op. 68 B. 133 V. Silent Woods (Arr. Niefind & Ribke For Solo Cello and Cello Ensemble)
Kian Soltani – Cello
Staatskapelle Berlin
Daniel Baremboim – Conductor
Os concertos compostos por Handel faziam parte dos espetáculos que ele promovia, apresentando-os nos intervalos de suas obras corais, as odes e os oratórios. Esses concertos certamente ajudavam atrair a audiência, mas por isso tinham um caráter ligeiramente diferente dos concertos normalmente compostos por outros compositores. Sem explorar o brilho ou virtuosismo de um dado instrumento, eles estavam mais próximos dos chamados Concertos Grossos (Grandes), como os compostos por Corelli. Assim surgiram os Concerti Grossi Op. 3, Op. 6 e também os inovadores Concerto para Órgão.
Banda militar com instrumentos de sopros
Estes três Concerti a due cori foram compostos e arranjados para acompanhar as apresentações corais no Covent Garden, nos anos 1747 e 1748 e levaram muitas novidades ao público. Handel fez ‘transcrições’ para orquestra de trechos famosos de suas obras corais. Além disso, como muitas bandas militares foram desfeitas em Londres a partir de 1745 e havia um bom número de músicos de instrumentos de sopros desempregados. Com essa oferta, ele pode usar na orquestração destes concertos diversos oboés, fagotes e trompas, além das tradicionais cordas, criando espetaculares efeitos sonoros. Assim, os concertos ficaram totalmente adequados para as apresentações ao lado das outras obras corais.
Nesta postagem temos uma gravação bastante recente feita por uma das melhores orquestras de música barroca em atividade. Além disso, a divisão da orquestra em dois grupos é um convite para brilharem os dois principais líderes da orquestra, Gottfried von der Goltz e Petra Müllejans.
Uma festa para os amantes da música barroca e uma bela oportunidade para aqueles ouvintes que estão se interessando por este tipo de música agora.
George Frideric Handel (1685 – 1759)
Concerti a due cori HWV 332, HWV 333, HWV 334
Concerto a due cori em fá maior, HWV 334
1. Ouverture
2. Allegro
3. Allegro ma non troppo
4. Adagio
5. Andante larghetto
6. Allegro
Concerto a due cori em si bemol maior, HWV 332
7. Ouverture
8. Allegro ma non troppo
9. Allegro
10. Largo
11. A tempo ordinario
12. Alle breve moderato
13. Minuet
Concerto a due cori em fá maior, HWV 333
14. Pomposo
15. Allegro
16. A tempo giusto
17. Largo
18. Allegro ma non troppo
19. A tempo ordinario
Freiburger Barockorchester
Gottfried von der Goltz & Petra Müllejans
Distanciamento social… mesmo nos studios do PQP Bach Coop.
Outras gravações costumam acrescentar outras obras a este repertório, uma vez que o disco é relativamente breve para os padrões atuais. Mas isto não é uma grande preocupação para quem vai desfrutar de 45 minutos de música excelente com maravilhosos intérpretes. E tudo muito bem gravado!
Continuando nossa saga, nesta terceira postagem da integral das sinfonias de Joseph Haydn (1732 — 1809), vamos compartilhar mais doze sinfonias com os amigos do blog, da vigésima quinta a trigésima sétima. A época destas sinfonias o príncipe Eszterházy havia construído, em seu suntuoso castelo em Eisenstadt, um ‘prédio exclusivo para os músicos’, em que os instrumentistas, cantores e o próprio Haydn viviam durante os movimentados meses de verão. O Kapellmeister trabalhou duro para manter seus músicos abastecidos de sinfonias originais, óperas e música de câmara seja para eventos cerimoniais ou sociais. Devido ao contrato inédito na Europa e com a moral em alta, sua reputação como compositor logo conseguiu alcançar centros musicais em outras partes do Velho Continente, provavelmente através da influência dos visitantes nas performances em Eisenstadt.
O suntuoso castelo em Eisenstadt
Nesta postagem, algumas sinfonias se destacam e no CD 07 temos a sinfonia 25 que é uma sinfonia “híbrida”, com uma introdução lenta no estilo sonata de igreja. A sinfonia 26 é a primeira escrita pelo mestre em tonalidade menor (ré menor), intitulada “Lamentação”, tem a estrutura de três movimentos. O agitado início com sua emocionante sincopação do começo até o lamento apaixonado do minueto, este trabalho atinge uma nota de sofrimento e desespero. Estas duas sinfonias mostram bem como Haydn foi capaz de assumir e usar as formas antigas, mesmo arcaicas, que ele herdara, enquanto as transformava com sua própria criatividade. O CD 08 começa com a linda sinfonia número 30 conhecida como “Alleluja”, o primeiro movimento lembra muito a principal linha melódica do final da sinfonia número 41 de Mozart. A sinfonia 31 é uma das maiores sinfonias que Haydn escreveu, inventiva e encantadora, nesta obra ele dá chance a cada grupo de instrumentistas a mostrar o seu talento, muito bacana. Essa era, supostamente, a maneira de Haydn sugerir ao seu patrono, o príncipe Eszterházy, que seus músicos mereciam seu apoio. No CD 09 inicia com a segunda sinfonia em tom menor escrita pelo mestre, o adagio de abertura da sinfonia 34 adota o plano de movimento lento-rápido-lento-rápido da sonata barroca, um movimento de notável beleza. A número 35 é um trabalho
Adam rindo da piada que o René Denon fez no PQPBach’s Caffé
mais leve. Seu movimento lento, nos lembra um dos movimentos de concerto de Mozart. Já a sinfonia número 37 é daquelas em que a numeração é completamente enganosa, uma cópia desta partitura encontrada é datada de 1758. Pode-se presumir que foi escrita para a orquestra do conde Morzin, na qual Haydn foi empregado até fevereiro de 1761. Essa sinfonia é candidata à primeira que ele deve ter escrito. Divirtam-se com mais este conjunto de sinfonias, sempre com o maestro Adam Fischer à frente da ótima Austro-Hungarian Haydn Orchestra.
Disc: 7 (Recorded June 1989 (#27), September 1990 (#25) and June 2000 (#26 & 28))
1. Symphony No. 25 in C major, H. 1/25: Adagio-allegro molto
2. Symphony No. 25 in C major, H. 1/25: Menuet & trio
3. Symphony No. 25 in C major, H. 1/25: Presto
4. Symphony No. 26 in D minor (‘Lamentatione’), H. 1/26: Allegro assai con spirito
5. Symphony No. 26 in D minor (‘Lamentatione’), H. 1/26: Adagio
6. Symphony No. 26 in D minor (‘Lamentatione’), H. 1/26: Menuet & trio
7. Symphony No. 27 in G major (‘Brukenthal’), H. 1/27: Allegro molto
8. Symphony No. 27 in G major (‘Brukenthal’), H. 1/27: Andante: siciliano
9. Symphony No. 27 in G major (‘Brukenthal’), H. 1/27: Finale, presto
10. Symphony No. 28 in A major, H. 1/28: Allegro di molto
11. Symphony No. 28 in A major, H. 1/28: Poco adagio
12. Symphony No. 28 in A major, H. 1/28: Menuet & trio, allegro molto
13. Symphony No. 28 in A major, H. 1/28: Presto assai
14. Symphony No. 29 in E major, H. 1/29: Allegro ma non troppo
15. Symphony No. 29 in E major, H. 1/29: Andante
16. Symphony No. 29 in E major, H. 1/29: Menuet & trio, allegretto
17. Symphony No. 29 in E major, H. 1/29: Finale, presto
Disc: 8 (Recorded April 2001 (#30-32) and May 2001 (#33))
1. Symphony No. 30 in C major (‘Alleluja’), H. 1/30: Allegro
2. Symphony No. 30 in C major (‘Alleluja’), H. 1/30: Andante
3. Symphony No. 30 in C major (‘Alleluja’), H. 1/30: Finale, tempo di menuet, piu tosto allegretto
4. Symphony No. 31 in D major (‘Hornsignal’), H. 1/31: Allegro
5. Symphony No. 31 in D major (‘Hornsignal’), H. 1/31: Adagio
6. Symphony No. 31 in D major (‘Hornsignal’), H. 1/31: Menuet & trio
7. Symphony No. 31 in D major (‘Hornsignal’), H. 1/31: Finale, moderato molto-presto
8. Symphony No. 32 in C major, H. 1/32: Allegro molto
9. Symphony No. 32 in C major, H. 1/32: Menuet & trio
10. Symphony No. 32 in C major, H. 1/32: Adagio, ma non troppo
11. Symphony No. 32 in C major, H. 1/32: Finale, presto
12. Symphony No. 33 in C major, H. 1/33: Vivace
13. Symphony No. 33 in C major, H. 1/33: Andante
14. Symphony No. 33 in C major, H. 1/33: Menuet & trio
15. Symphony No. 33 in C major, H. 1/33: Finale, allegro
Disc: 9 (Recorded May 2001)
1. Symphony No. 34 in D minor/D major, H. 1/34: Adagio
2. Symphony No. 34 in D minor/D major, H. 1/34: Allegro
3. Symphony No. 34 in D minor/D major, H. 1/34: Menuet & trio, moderato
4. Symphony No. 34 in D minor/D major, H. 1/34: Presto assai
5. Symphony No. 35 in B flat major, H. 1/35: Allegro di molto
6. Symphony No. 35 in B flat major, H. 1/35: Andante
7. Symphony No. 35 in B flat major, H. 1/35: Menuet & trio, un poco allegretto
8. Symphony No. 35 in B flat major, H. 1/35: Finale, presto
9. Symphony No. 36 in E flat major, H. 1/36: Vivace
10. Symphony No. 36 in E flat major, H. 1/36: Adagio
11. Symphony No. 36 in E flat major, H. 1/36: Menuetto & trio
12. Symphony No. 36 in E flat major, H. 1/36: Allegro
13. Symphony No. 37 in C major, H. 1/37: Presto
14. Symphony No. 37 in C major, H. 1/37: Menuet & trio
15. Symphony No. 37 in C major, H. 1/37: Andante
16. Symphony No. 37 in C major, H. 1/37: Presto
Rainer Küchl, violin
Wolfgang Herzer, cello
Gerhard Turetschek, oboe
Michael Werba, bassoon
Austro-Hungarian Haydn Orchestra
Conductor: Adam Fischer
Mas que danado de CD bonito, meus queridos… que dupla!!! Provavelmente uma das melhores gravações destas obras…
Dia destes o colega René Denon apresentou uma outra gravação da Primeira Sonata de Gabriel Fauré, mas essa obra é tão linda que me dá a liberdade de trazer para para os senhores uma outra possibilidade de leitura, mais antiga, mas com os então tão jovens Shlomo Mintz e Yefim Bronfman. Por algum motivo inexplicável me veio a cabeça estes versos daquela belíssima canção do Johnny Alf, imortalizada na voz de João Gilberto:
“Ah, se a juventude que essa brisa canta
Ficasse aqui comigo mais um pouco
Eu poderia esquecer a dor
De ser tão só
Pra ser um sonho”
Sim, porque o que sinto ouvindo esse CD é uma brisa soprando, empurrando a dor e o lamento para longe, ainda mais nestes tão tristes tempos em que estamos vivendo.
Gabriel Fauré viveu em um período de transformações sociais intenso, quando nasceu Chopin ainda era vivo, e quando morreu, aos 79 anos de idade, o mundo já conhecia o atonalismo e o Jazz, e recém passara por uma violentíssima Grande Guerra, que ceifou milhões de vidas. Além de compositor, Fauré foi educador e influenciou toda uma geração de músicos e compositores, vindo inclusive a receber um prêmio das mãos do Presidente francês pela sua importância na história da cultura francesa.
Então vamos deixar que estes dois excepcionais músicos nos apresentem estas belíssimas obras e nos ajudem a encarar a nossa triste realidade com um pouco mais de luz e esperança.
01. Violin Sonata op.13 – I. Allegro molto
02. Violin Sonata op.13 – II. Andante
03. Violin Sonata op.13 – III. Allegro vivo
04. Violin Sonata op.13 – IV. Allegro quasi presto
05. Violin Sonata op.108 – I. Allegro non troppo
06. Violin Sonata op.108 – II. Andante
07. Violin Sonata op.108 – III. Final. Allegro non troppo
Pessoal, depois de um tempão novamente volto a postar algumas das grandes gravações do imenso maestro que foi Leopold Stokowski (1882 – 1977). Esta que é a sétima parte da mini biografia do “hómi” se estende no período de 1940 até 1954. O contrato de Stokowski com a Philadelphia Orchestra expirou na virada de 1940. Então, ele anunciou a criação de uma nova orquestra a All-American Youth Orchestra. Stokowski fez um teste com cerca de 1000 jovens músicos já pré-selecionados de todas as partes dos Estados Unidos, selecionando 90 jovens. Stokowski ainda mesclou músicos experientes da Orquestra da Filadélfia. Nesta postagem AQUInós descrevemos as peripécias de Leopold e sua jovem orquestra na América do Sul em 1940. As performances de Stokowski em 1940 com esta orquestra eram geralmente novas e excitantes e bem recebidas pelos críticos.
Com a renúcia de Toscanini, Leopold Stokowski subiu ao posto da NBC Symphony para realizar a temporada de 1941-1942. Esta nomeação de Stokowski foi salutar para os concertos da NBC Symphony, não só por causa de suas grandes habilidades de condução, mas também por sua programação tipicamente inovadora, Stokowski fez a estréia americana da cantata sinfônica de Prokofiev, “Alexander Nevsky” , trechos da ópera de Prokofiev, “The Love for Three Oranges” , com apenas duas décadas, a suíte “Firebird” de Stravinsky, o balé de “Ramuntcho” de Deems Taylor, “The Planets” de Gustav Holst, várias orquestrações de Bach e Chopin. Muitas dessas performances também foram gravadas pela RCA Victor. O Departamento do Tesouro dos EUA pediu ao maestro para conduzir uma série de concertos beneficentes de guerra Stokowski então realizou uma série de concertos entre 1943 e 1944, incluindo 25 transmitidos por ondas curtas para entreter as tropas.
Em 1944, o prefeito da cidade de Nova York, Fiorello La Guardia, convidou Leopold Stokowski para formar e conduzir a Sinfônica de Nova York, que seria baseada em um Templo Muçulmano, que se tornara propriedade da cidade de Nova York devido ao não pagamento de impostos. Uma orquestra popular com preços de entrada muito baixos era o que naquele momento queria Stokowski. Seus concertos foram realizados geralmente com lotação total. Mas em pouco tempo o conflito entre a Diretoria da orquestra buscando cortar gastos e Stokowski buscando expandir o tamanho e a atividade da orquestra,resultou em ruptura na qual Stokowski renunciou. Leonard Bernstein, no início de sua carreira como diretor, assumiu a Sinfônica de Nova York.
Em 1946, Arthur Judson, o gerente da New York Philharmonic e presidente da Columbia Artists Management (gerente de vários maestros e solistas famosos) convidou Stokowski para se tornar o principal regente convidado da Filarmônica de Nova York. O primeiro concerto de Stokowski na Filarmônica foi em 26 de dezembro de 1946. Stokowski e a Filarmônica também gravaram Mozart – Symphony no 35 “Haffner”. Curiosamente esta foi a única gravação de Stokowski de uma sinfonia de Mozart, além da gravação acústica de 9 de maio de 1919 do terceiro movimento do Symphony no 40 K550.
Com a introdução do disco 33 1/3 RPM de longa duração pela Columbia em 1948, Stokowski fez uma série de LPs bem recebidos com a New York Philharmonic, demonstrando mais uma vez sua capacidade de vender seu amplo repertório. Em 1950 Stokowski e a Orquestra Filarmônica de Nova York também apresentaram uma performance monumental da oitava sinfonia de Mahler. Após a decisão da Filarmônica de Nova York de nomear Mitropoulos como diretor de música, Stokowski cortou suas relações com a orquestra para a temporada seguinte e partiu para a Europa durante o verão de 1950. Durante 1951-1954, Stokowski era maestro convidado de orquestras na Europa.
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A gravação que ora compartilho com os amigos do novo blog eu gosto bastante, sobretudo da interpretação da sinfonia número sete do gênio renano. Leopold está com nada menos que 93 aninhos, é uma interpretação com muita intensidade e impacto dramático, existem poucos exageros “Stokowskianos” na execução da sinfonia, no geral, é uma leitura de imensa vitalidade rítmica e o conjunto é formidável ! Apreciem sem moderação !
To be continued…..
Beethoven (1770-1827): Sinfonia No. 7 / Egmont
01 – Beethoven – ‘Egmont’ Overture, op.84
02 – Beethoven – Symphony No.7 in A major, op.92, I. Poco sostenuto–Vivace
03 – Beethoven – Symphony No.7 in A major, op.92, II. Allegretto
04 – Beethoven – Symphony No.7 in A major, op.92, III. Presto
05 – Beethoven – Symphony No.7 in A major, op.92, IV. Allegro con brio
“Egmont” – New Philharmonia Orchestra, Kingsway Hall, January 1973
“Symphony No 7” – New Philharmonia Orchestra, Kingsway Hall, 16 June 1975
Nesta segunda postagem da integral das 104 sinfonias do Mestre austríaco Franz Joseph Haydn (1732 — 1809) vamos trazer aos amigos do blog as sinfonias de número 13 até a de número 24. Em meados do século XVIII, os Eszterházy eram a família mais rica e poderosa da aristocracia húngara e também estavam entre os mais influentes culturalmente, com Haydn trabalhando e sendo o ponto central de uma infraestrutura musical altamente desenvolvida, apresentando regularmente concertos de orquestra e também eventos especiais como a semana dedicada a ópera. Por volta de 1766, o príncipe Paul Anton foi sucedido por Nikolaus, que se tornou conhecido como um dos os patronos mais culturalmente esclarecidos do final do século XVIII. Ele logo começou uma reorganização completa da infraestrutura musical da corte, aumentando principalmente a orquestra e empregando muitos dos maiores instrumentistas da época. Aqui, mesmo na ausência do príncipe, concertos de orquestra eram realizados toda terça e sábado exigindo de Haydn um fluxo constante de novas sinfonias e outras obras. É notável que, ao compor mais de cem sinfonias durante um período de trinta e seis anos, Haydn nunca tomou o caminho mais fácil, recorrendo a fórmulas fáceis ou a prática barroca de emprestar música de outras fontes. Assim, Haydn constantemente procurava novas soluções originais de forma sinfônica e deliberadamente tornando cada nova sinfonia diferente da última.
Prince Nikolaus Esterházy I, “O Magnífico” (1714 – 1790 )
O grande salão do palácio em Eisenstadt era amplo e tinha ótima acústica, algo que Haydn levou em conta nas suas vinte e tantas sinfonias escritas ali entre 1761 e 1765. Isso é notável no primeiro movimento da sinfonia n° 13, cujos acordes sustentados, como os de órgãos, contrabalançam e apoiam as vigorosas repetições rítmicas do tema uníssono de cordas de arpejo que domina o primeiro movimento. Apesar de sua numeração, as quatro sinfonias do CD 04 não foram escritas consecutivamente. É mais provável que sua ordem de composição seja o inverso de 16, 15, 14, 13. Estas sinfonias já mostram a propensão de Haydn para movimentos sinfônicos monotemáticos. Deste conjunto eu achei, em minha humilde opinião, a Sinfonia nº 15 uma das obras mais interessantes desse período. Seu primeiro movimento é invulgarmente no estilo de uma abertura francesa, extensas seções do adagio emoldurando um animado presto. O segundo movimento também possui um caráter francês, principalmente nos ritmos pontilhados da seção principal do minueto.
No CD 04 estão mais cinco sinfonias. Seguindo a confusão cronológica das primeiras composições elas provavelmente foram escritas na seguinte ordem: 18, 19, 20, 17 e 21, durante um período possivelmente de até sete anos e com um bom número de outras sinfonias se intercalaram entre elas. A interessante sinfonia número 18 é uma das obras com estrutura mais antiquadas de termos de forma com três movimentos. O aspecto mais característico desta forma é o movimento lento de abertura, simpaticíssima obra, contém um tema de abertura no qual Haydn parece aludir às origens barrocas. A de número 17 Haydn aproveita mais os instrumentos de sopro porém eles ainda são usados amplamente como suporte harmônico e na duplicação das linhas dos violinos, enquanto entre as próprias cordas o tema está concentrado nos primeiros violinos.
A Competente Austro-Hungarian Haydn Orchestra posando para os amigos do PQPBach
No Cd 06 encontramos talvez a primeira sinfonia datada no manuscrito original sobrevivente, a de número 21 com data de 1764. Da mesma forma que a sinfonia número 18, essa sinfonia novamente volta na forma sonata de igreja, embora Haydn mantenha os quatro movimentos completos na estrutura. O presto final apresenta algumas formas alternadas bem bacanas entre os violinos. A linda sinfonia 22 denominada “Der Philosoph”, tem um primeiro movimento que é praticamente um prelúdio de coral orquestral e seu andamento lento e muito bonito nos conduz a natureza pensativa da a sinfonia também se distingue por sua bela orquestração. A sinfonia 23 tem um incrível finale com um movimento de sonata, com a característica favorita de Haydn das primeiras sinfonias, ritmos acelerados em um verdadeiro “perpetuum mobile”, e um belo exemplo do compositor nos mostrando na surpreendentemente conclusão fazendo com que a música acabe num coral pianissimo pizzicato. Já na sinfonia 24 o movimento de abertura do é um dos mais dramáticos compostos no primeiro período das sinfonias de Haydn. Dispensando a sutilezas de crescendos e diminuendos, a pontuação está cheia de alternâncias frequentes das marcações de piano e forte, enquanto o desenvolvimento se torna uma sucessão de fortíssimos. Haydn gostava de prestigiar os instrumentistas mais talentosos com trechos em sinfonias feito para eles brilharem o movimento lento desta sinfonia ele introduz um magnífico solo de flauta provavelmente um teste já que levaria alguns anos até que o instrumento encontrasse um lugar permanente na orquestra sinfônica de Haydn. As sinfonias 22 a 24 podem ser datadas com precisão de manuscritos que sobreviveram até hoje. Divirtam-se com mais estes três CD’s !
Disc: 4 (Recorded April 1991)
1. Symphony No. 13 (1763) in D major, H. 1/13: Allegro molto
2. Symphony No. 13 (1763) in D major, H. 1/13: Adagio cantabile
3. Symphony No. 13 (1763) in D major, H. 1/13: Menuet & trio
4. Symphony No. 13 (1763) in D major, H. 1/13: Finale, allegro molto
5. Symphony No. 14 (1764) in A major, H. 1/14: Allegro molto
6. Symphony No. 14 (1764) in A major, H. 1/14: Andante
7. Symphony No. 14 (1764) in A major, H. 1/14: Menuetto & trio, allegretto
8. Symphony No. 14 (1764) in A major, H. 1/14: Finale, allegro
9. Symphony No. 15 (1764) in D major, H. 1/15: Adagio-presto-adagio
10. Symphony No. 15 (1764) in D major, H. 1/15: Menuet & trio
11. Symphony No. 15 (1764) in D major, H. 1/15: Andante
12. Symphony No. 15 (1764) in D major, H. 1/15: Finale, presto
13. Symphony No. 16 (1766) in B flat major, H. 1/16: Allegro
14. Symphony No. 16 (1766) in B flat major, H. 1/16: Andante
15. Symphony No. 16 (1766) in B flat major, H. 1/16: Finale, presto
Disc: 5 (Recorded April 1991 (#17 & 18) and May 1991 (#19 & 20))
1. Symphony No. 17 (1765) in F major, H. 1/17: Allegro
2. Symphony No. 17 (1765) in F major, H. 1/17: Andante, ma non troppo
3. Symphony No. 17 (1765) in F major, H. 1/17: Finale, allegro molto
4. Symphony No. 18 (1766) in G major, H. 1/18: Andante moderato
5. Symphony No. 18 (1766) in G major, H. 1/18: Allegro molto
6. Symphony No. 18 (1766) in G major, H. 1/18: Tempo di menuet
7. Symphony No. 19 (1766) in D major, H. 1/19: Allegro molto
8. Symphony No. 19 (1766) in D major, H. 1/19: Andante
9. Symphony No. 19 (1766) in D major, H. 1/19: Presto
10. Symphony No. 20 (1766) in C major, H. 1/20: Allegro molto
11. Symphony No. 20 (1766) in C major, H. 1/20: Andante cantabile
12. Symphony No. 20 (1766) in C major, H. 1/20: Menuet & trio
13. Symphony No. 20 (1766) in C major, H. 1/20: Presto
Disc: 6 (Recorded April 1989 (#22 & 24) and June 2000 (#21 & 23))
1. Symphony No. 21 (1764) in A major, H. 1/21: Adagio
2. Symphony No. 21 (1764) in A major, H. 1/21: Presto
3. Symphony No. 21 (1764) in A major, H. 1/21: Menuet & trio
4. Symphony No. 21 (1764) in A major, H. 1/21: Finale, allegro molto
5. Symphony No. 22 (1764) in E flat major (‘Philosopher’), H. 1/22: Adagio
6. Symphony No. 22 (1764) in E flat major (‘Philosopher’), H. 1/22: Presto
7. Symphony No. 22 (1764) in E flat major (‘Philosopher’), H. 1/22: Menuetto & trio
8. Symphony No. 22 (1764) in E flat major (‘Philosopher’), H. 1/22: Finale, presto
9. Symphony No. 23 (1764) in G major, H. 1/23: Allegro
10. Symphony No. 23 (1764) in G major, H. 1/23: Andante
11. Symphony No. 23 (1764) in G major, H. 1/23: Menuet & trio
12. Symphony No. 23 (1764) in G major, H. 1/23: Finale, presto assai
13. Symphony No. 24 (1764) in D major, H. 1/24: Allegro
14. Symphony No. 24 (1764) in D major, H. 1/24: Adagio
15. Symphony No. 24 (1764) in D major, H. 1/24: Menuet & trio
16. Symphony No. 24 (1764) in D major, H. 1/24: Finale, allegro
Rainer Küchl, violin
Wolfgang Herzer, cello
Gerhard Turetschek, oboe
Michael Werba, bassoon
Austro-Hungarian Haydn Orchestra
Conductor: Adam Fischer
Eu tomava o bondinho da St. Charles Avenue quase no ponto final, próximo à St. Clairborne Avenue e fazia uma adorável viagem de uns quarenta minutos, em direção ao French Quarter. Depois de uma curva de noventa graus, o bondinho seguia em um trajeto que parece um arco, por uma região lindíssima. Eu preferia sentar à esquerda, para avistar as margens do Mississipi. Passávamos o Audubon Park com suas magníficas árvores, pelo Uptown com suas grandes mansões, seguindo justamente a St. Charles Avenue até o cruzamento com a Jackson Avenue, onde normalmente descia do bondinho.
Audubon Park
À direita, o rio Mississipi, em frente, o velho mercado, e à esquerda um emaranhado de ruas e avenidas repletas de cultura, belezas, sons e sabores. New Orleans é uma das cidades mais belas dos Estados Unidos da América. Certamente é uma das mais ricas em cultura. O melting pot, Big Easy. Os nomes das avenidas e dos lugares revelam as diferentes culturas que por lá passaram e deixaram suas marcas e costumes, num rico caldo cultural. Jefferson Avenue, Napoleon Avenue, Tchoupitoulas, Calle Real ou Royal Street.
Cafe Du Monde, French Quarter , New Orleans
Depois de tomar um café com beignets no Café Du Monde, uma paradinha na La Madeleine, um passeio pelas lindas lojas de antiguidades, você chega à Jackson Square. Um pouco de preguiça, espiar a fauna do lugar, música nas ruas. Aí, você enfia pela St. Peter street para ir a um lugar que não se pode deixar de ir – Preservation Hall.
Este disco me fez lembrar disso tudo, com saudade, mas saudade boa, daquela que conforta, que revigora a gente.
É verdade, este disco foi gravado uns trinta anos antes de que eu andasse por lá, mas é ainda mais autêntico por isso.
O Preservation Hall foi criado em 1961 e o disco gravado em 1963, you do your math…
A criação do Preservation Hall foi fundamental para (perdão pelo trocadilho, mas a ideia é exata) preservar a autêntica cultura musical, o jazz como havia nascido por lá. Nos comentários que estão na contracapa do disco pode-se entender a importância desta instituição. ‘Tocar no Preservation Hall tirou a demanda comercial, a pressão artificial da Banda do Barbarin e também de sua seleção (de músicas): nada do tradicional atacar de The Saints, nada de acelerar o tempo da música. A música de Barbarin, The Second Line, surge com uma inocência e simplicidade que mostra o trompete de Cagnolatti e o clarinete de Cottrell, ao lado do suave dedilhar de Sayles, no que eles têm de melhor’.
O disco é composto de duas sessões. Uma ocupada pela banda de Paul Barbarin e a outra pela turma do “Punch” Miller. Eles eram tão autênticos músicos de New Orleans quanto pode haver.
Vamos começar mais uma incrível e inédita série no novo PQPBach, que agora está hospedado em outro domínio: as 104 sinfonias do mestre austríaco Franz Joseph Haydn (1732 — 1809) que foi um dos expoentes máximos do período clássico na história da música. Tendo vivido entre o finzinho do período Barroco até o início do Romantismo. Nasceu em 31 de março de 1732, na aldeia de Rohrau, na fronteira entre a Áustria e a Hungria, um entre 12 irmãos. Foi reverenciado por toda a Europa, amado por Mozart e Beethoven, poucos compositores desenvolveram um crescimento profissional tão notável quanto Haydn, despretensiosamente pretendemos mostrar nesta série a sua evolução através das suas belíssimas sinfonias. Nas primeiras sinfonias (1-21), vemos experimentos sinfônicos do material que era contemporâneo. Nas sinfonias 22-80, vemos um novo desenvolvimento, a criação de um estilo próprio. Quando Haydn escreveu as Sinfonias de Paris na década de 1780, ele já mostrava uma grande maturidade. E quando escreveu as Sinfonias de Londres na década de 1790, ele finalmente aperfeiçoara a sinfonia como uma forma. Não era mais um estilo que introduzia a ópera barroca ou uma série de interlúdios instrumentais, mas agora era uma importante forma musical, que Beethoven continuaria a aperfeiçoar no início do século XIX. Para quem ainda não teve a oportunidade de ouvir as 104 sinfonias de Haydn na sequência, esta série vai deixar claro a gostosa evolução do Mestre em belíssimas composições, aliás uma mais bela que a outra. Vale muuuito a pena. A música de Haydn nunca envelhece e é sempre uma delícia! Os textos serão baseados nos encartes dos 33 CDs assinados pelo maestro Adam Fischer, são anotações muito informativas, a cereja do bolo (em tradução livre deste que vos escreve).
Catedral St. Stephan Vienna
Haydn não foi exceção à sua época: de família modesta, passou por dificuldades na juventude. Em 1749, aos 17 anos, ele trabalhava no coral da Escola da Catedral de St. Stephan, em Viena, quando sua voz de adolescente começou a mudar ele acabou por ser demitido, sua voz parecia que não estava correspondendo em qualidade e seu mestre de coro tentou convencê-lo a seguir uma carreira como “castrato”. Não rolou, e o jovem Franz decidido a seguir carreira de músico partiu e começou a se virar, no início ensinava cravo (com pouca recompensa financeira) durante o dia, enquanto à noite tocava em festas de serenata (um passatempo popular durante o verão vienense) e se entregava à sua vontade quase fanática de compor. Escreveu em suas memórias: “…eu tive que passar oito anos inteiros, dando lições para as crianças, muitos músicos talentosos ganham seu pão dessa maneira, quase miserável, sofrem com a falta de tempo para estudar e se aperfeiçoar. Essa foi a minha primeira experiência e eu nunca teria feito tanto progresso se não tivesse perseguido meu zelo pela composição e estudo durante a noite.”
Diz a tradição que Haydn era o “pai” do quarteto de cordas e da sinfonia. Enquanto o primeiro certamente alcançou sua forma definitiva em suas mãos, no caso da sinfonia, Haydn estava trabalhando em com um modelo já existente, o modelo vienense, ainda que relativamente embrionário da primeira metade do século XVIII, era uma combinação de vários gêneros instrumentais, entre eles o concerto grosso barroco, a “sonata da igreja” e a abertura de ópera italiana (ou “Sinfonia avanti”). Foi na ópera a fonte da qual a sinfonia ganhou seu nome e a forma de três movimentos, rápida – lenta – rápida.
Propriedade em Lukavec do Conde Morzin
Lentamente, e de forma consistente, Haydn foi ficando conhecido pela aristocracia e por volta de 1757, ele foi contratado como mestre de música da família do barão von Furnberg, em cuja casa de verão perto de Melk, no Danúbio, Haydn compôs seus primeiros quartetos de cordas para as festas dos membros da casa do barão. O mais importante, porém, para que ele pudesse compor sinfonias, foi a recomendação do seu patrão para que ele pudesse ser nomeado Kapellmeister e Kammercompositeur no castelo de Lukavec do Conde Morzin na Boêmia. O conde tinha uma orquestra de sopro, para a qual Haydn compunha suítes para apresentações ao ar livre, e também uma pequena orquestra de cordas. Haydn enxergou uma oportunidade: porque não juntar as duas orquestras? Foi para essa orquestra ampliada, por volta de 1759, que ele compôs suas primeiras sinfonias – certamente da primeira a quinta.
Como acontece com quase todos os compositores desta época a numeração convencional das primeiras obras são bastante confusas, em termos de cronologia, geralmente dá pouca indicação da época real em que foram compostas. As primeiras sinfonias seguem a tradição de sua cidade natal, Viena. Suas cinco primeiras sinfonias mostram-no experimentando uma variedade de formas. As de números 1, 2 e 4 seguem o padrão de três movimentos, derivado da abertura italiana, enquanto a quinta tem o modelo da “sonata de igreja” (primeiro movimento lento). A terceira sinfonia já é um trabalho de quatro movimentos completo com minueto.
Prince Paul Anton [Pál Antal] (1711–1762)Porém, o primeiro emprego permanente do jovem músico durou pouco: o conde Morzin teve dificuldades financeiras e dissolveu a orquestra. Por sorte, o príncipe Paul Anton Esterhazy, um grande admirador da música, assistiu a um dos concertos no castelo de verão de Morzin, no qual Haydn provavelmente conduziu sua sinfonia nº 1. O príncipe ficou impressionado com a qualidade da música do jovem compositor e ao saber que o conde estava falido ofereceu a Haydn o cargo de Kapellmeister na sua corte de Eisenstadt, no Burgenland, ao sul de Viena. E assim, com o contrato assinado em 1º de maio de 1761, Haydn então com 29 anos de idade, iniciou um dos mais notáveis e longevos casos de patrocínio musical já registrados na história, um período que durou quase trinta anos.
Desde o início, Haydn pode de forma livre moldar a orquestra com um corpo de músicos completo (cordas, sopros e percussão) sendo a orquestra mais original da época, instigando a criatividade experimental do jovem mestre austríaco. Com recursos disponíveis e com liberdade como chefe de orquestra, praticamente isolado do mundo sem ninguém para o azucrinar ou fazer o jovem a duvidar de sua própria capacidade inventiva, se tornou um compositor original. Pode experimentar, observar as nuances orquestrais o que funcionou ou o que ficou fora do esperado, e assim, poderia melhorar, expandir, cortar, correr riscos. O príncipe gostava dos concertos no estilo italiano, sobretudo de Vivaldi e Corelli, solicitando ao seu novo compositor a seguir por este estilo mais para o barroco, porém em vez de concertos, Haydn escolheu a forma sinfônica, embora dominada por elementos do concerto barroco e do concerto italiano. As três sinfonias resultantes dos seus primeiros esforços na corte foram as sinfonias 6, 7 e 8. Foi a chance de mostrar a nova orquestra e, em particular sem esquecer dos violinos carregados de influência italiana. O movimento lento da sinfonia número 7 introduz duas flautas pela primeira vez na sinfonia. A sinfonia número 9, de 1762, pode muito bem ter suas origens na abertura de óperas, uma vez que não possui final convencional, terminando com um minueto. Sempre experimentando, Haydn mostra sua originalidade aqui alterando novamente a estrutura orquestral, expande para dois oboés, duas trompas, adiciona um par de flautas e fagote solo além de dobrar os instrumentos de cordas. Já na sinfonia número 10 Haydn mostra um grau de desenvolvimento do gênero no papel mais independente dado aos instrumentos de sopro. A sinfonia número 12, de 1763, é um de seus trabalhos sinfônicos mais curtos, embora Haydn evite o padrão de movimento característico de seus primeiros trabalhos, é uma sinfonia alegre e seu final é inebriante.
Adam Fischer e a Orquestra, posando entre as colunas de sustentação do PQPBach Hall
Divirtam-se com estas doze primeiras sinfonias do mestre Franz Joseph Haydn, a apresentação da Orquestra Austro-Húngara Haydn é sensacional, lindamente sintonizada pela leveza das obras. Em suma, não se poderia pedir uma orquestra melhor para empreender esse imenso projeto que durou 14 anos para ser realizado. O ótimo maestro Adam Fischer usa instrumentos modernos combinados com um estilo de tocar de época, achei a combinação muito bonita de ouvir. Esta coleção que ora vamos compartilhar com os amigos do blog é impressionante e merece ser ouvida por todos os que amam a música de Josef Haydn. As performances são excelentes, as gravações impecáveis. Originalmente gravado entre 1987 e 2001 no “Haydnsaal of the Esterházy Palace” na Hungria (no mesmo salão em que Haydn executava seus concertos como “Kapellmeister”), os músicos escolhidos a dedo para a formação da “Austro-Hungarian Haydn Orchestra” para as gravações são os músicos da “Vienna Philharmonic”, “Vienna Symphony” e “Hungarian State Symphony Orchestras” o resultado é sublieme!
Haydnsaal of the Esterházy Palace
Interpretações transparentes, presumivelmente da maneira com a qual Haydn esperava que sua música fosse tocada – sem uma pitada de romantismo ou exageros modernos. Fischer e sua orquestra tem momentos em que o entusiasmo é muito perceptíve, um imenso trabalho! São gravações lindas. Eu experimentei e gostei muito de ouvir todas as sinfonias em sucessão, é diversão garantida do começo ao fim, a música de Haydn é muito leve, feliz e alegre, que é a marca infalível desse mestre de que tanto gostamos!
Disc: 1 (Recorded June 1990)
1. Symphony No. 1 (1759) in D major, H. 1/1: Presto
2. Symphony No. 1 (1759) in D major, H. 1/1: Andante
3. Symphony No. 1 (1759) in D major, H. 1/1: Presto
4. Symphony No. 2 (1764) in C major, H. 1/2: Allegro
5. Symphony No. 2 (1764) in C major, H. 1/2: Andante
6. Symphony No. 2 (1764) in C major, H. 1/2: Finale, presto
7. Symphony No. 3 (1762) in G major, H. 1/3: Allegro
8. Symphony No. 3 (1762) in G major, H. 1/3: Andante moderato
9. Symphony No. 3 (1762) in G major, H. 1/3: Menuet & Trio
10. Symphony No. 3 (1762) in G major, H. 1/3: Finale, alla breve, allegro
11. Symphony No. 4 (1762) in D major, H. 1/4: Presto
12. Symphony No. 4 (1762) in D major, H. 1/4: Andante
13. Symphony No. 4 (1762) in D major, H. 1/4: Finale, tempo di menuetto
14. Symphony No. 5 (1762) in A major, H. 1/5: Adagio, ma non troppo
15. Symphony No. 5 (1762) in A major, H. 1/5: Allegro
16. Symphony No. 5 (1762) in A major, H. 1/5: Minuet & trio
17. Symphony No. 5 (1762) in A major, H. 1/5: Finale, presto
Disc: 2 (Recorded April 1989)
1. Symphony No. 6 (1761) in D major (‘Le Matin’), H. 1/6: Adagio-allegro
2. Symphony No. 6 (1761) in D major (‘Le Matin’), H. 1/6: Adagio-andante-adagio
3. Symphony No. 6 (1761) in D major (‘Le Matin’), H. 1/6: Menuet & trio
4. Symphony No. 6 (1761) in D major (‘Le Matin’), H. 1/6: Finale, allegro
5. Symphony No. 7 (1761) in C major (‘Le midi’), H. 1/7: Adagio-allegro
6. Symphony No. 7 (1761) in C major (‘Le midi’), H. 1/7: Recitativo: adagio
7. Symphony No. 7 (1761) in C major (‘Le midi’), H. 1/7: Menuetto & trio
8. Symphony No. 7 (1761) in C major (‘Le midi’), H. 1/7: Finale, allegro
9. Symphony No. 8 (1761) in G major (‘Le soir’), H. 1/8: Allegro molto
10. Symphony No. 8 (1761) in G major (‘Le soir’), H. 1/8: Andante
11. Symphony No. 8 (1761) in G major (‘Le soir’), H. 1/8: Menuetto & trio
12. Symphony No. 8 (1761) in G major (‘Le soir’), H. 1/8: La Tempesta, presto
Disc: 3 (Recorded June 1990)
1. Symphony No. 9 (1762) in C major, H. 1/9: Allegro molto
2. Symphony No. 9 (1762) in C major, H. 1/9: Andante
3. Symphony No. 9 (1762) in C major, H. 1/9: Finale-menuetto & trio
4. Symphony No. 10 (1766) in D major, H. 1/10: Allegro
5. Symphony No. 10 (1766) in D major, H. 1/10: Andante
6. Symphony No. 10 (1766) in D major, H. 1/10: Finale, presto
7. Symphony No. 11 (1769) in E flat major, H. 1/11: Adagio cantabile
8. Symphony No. 11 (1769) in E flat major, H. 1/11: Allegro
9. Symphony No. 11 (1769) in E flat major, H. 1/11: Minuet & trio
10. Symphony No. 11 (1769) in E flat major, H. 1/11: Finale, presto
11. Symphony No. 12 (1763) in E major, H. 1/12: Allegro
12. Symphony No. 12 (1763) in E major, H. 1/12: Adagio
13. Symphony No. 12 (1763) in E major, H. 1/12: Finale, presto
Rainer Küchl, violin
Wolfgang Herzer, cello
Gerhard Turetschek, oboe
Michael Werba, bassoon
Austro-Hungarian Haydn Orchestra
Conductor: Adam Fischer
A Nona Sinfonia faz parte de nossa cultura artística de tal forma que é praticamente impossível abordá-la como se fosse uma novidade. E é uma obra tão respeitada que não suportaríamos grandes audácias de quem quer que fosse. Este CD é algo realmente especial. Ele é uma tremenda demonstração de competência e segurança da Orquestra Sinfônica Simón Bolívar da Venezuela. É uma gravação que tornou-se referencial em razão da grandiosidade, da emoção envolvida e de vários acertos em termos de abordagem. As forças de Dudamel nos chegam incrivelmente precisas e polidas, produzindo linhas esplêndidas de belos sons. Dudamel também demonstra um agudo senso de drama, respeitando pausas que parecem eternidades para depois catapultar a orquestra com magníficas explosões. Tudo muito perfeito, respeitoso e enérgico,. Os corais e vocais também estão impecáveis. É ouvir e se apaixonar.
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonia Nº 9 (Dudamel)
1. Beethoven: Symphony No. 9 in D Major: I, Allegro ma non troppo
2. Beethoven: Symphony No. 9 in D Major: II, Scherzo, Multo vivace
3. Beethoven: Symphony No. 9 in D Major: III, Adagio molto e cantabile
4. Beethoven: Symphony No. 9 in D Major: IV, Finale Part I
4. Beethoven: Symphony No. 9 in D Major: IV, Finale Part II
Simón Bolívar Symphony Orchestra of Venezuela
Gustavo Dudamel
Se levarmos em conta apenas a imagem estabelecida pelos retratos de Johann Sebastian Bach chegamos a acreditar que ele já nasceu enrugado, com peruca e cara de quem está sofrendo de gota. Uma espécie assim de Benjamin Button da música.
Stepan Simonian
Mas como todos os outros mortais, Bach passou todas as fases da vida, incluindo uma adolescência sob os cuidados dos irmãos mais velhos. Na juventude foi impetuoso e cabeçudo. No libreto as palavras em inglês usadas para explicar essa fase incluem hothead, brawl e rows (with the employers). Houve até uns dias em uma cadeia.
A música deste álbum é deste tempo de juventude.
O termo toccata é do italiano toccare, assim como o nosso tocar. Tocar qualquer tipo de instrumento de teclado. Estas peças são obras que foram compostas por Johann Sebastian antes 1708, período de formação e afirmação de sua linguagem pessoal. Assim como os prelúdios e fantasias, as toccatas são peças que emergiram da prática de improvisação, comuns para os músicos especialistas em instrumentos de tecla, como o cravo ou o órgão.
Estas sete peças de Bach diferem das outras quatro toccatas escritas para órgão no sentido de terem sido compostas para instrumento de tecla sem pedais. Nas partituras das obras para órgão há uma extra pauta para os pedais. Mesmo assim estas sete toccatas também visavam o treinamento de candidatos a organistas, que não tinham a sua disposição muitos instrumentos para isso. Mesmo os cravos não eram assim abundantes e clavicórdios também eram comumente usados. Para saber mais sobre a diferença entre estes instrumentos você pode acessar este link aqui.
Aqui temos uma gravação feita usando o piano moderno por um artista de origem e formação russa. Ele estudou com Pavel Nersessian e Evgeni Koroliov. A gravação feita pelo selo Genuin é de ótima qualidade técnica e a interpretação do Stepan esbanja beleza e virtuosismo. No entanto é preciso dizer que o setor de artes visuais e capas ainda está em desenvolvimento. Se você tem arroubos puristas e quer comparar com uma gravação feita ao cravo, pode gostar desta postagem aqui. Uma outra gravação interessante, feita por uma pianista muito bem estabelecida nas interpretações das obras de Bach ao piano, pode ser ouvida acessando esta postagem aqui.
Stepan contando as cordas do Grand Piano do lounge do PQP Bach Corp.
Para uma reflexão sobre o tema de qual tipo de instrumento usar na interpretação da música do passado, temos aqui um link para um texto curto, mas excelente, escrito por Rosalyn Tureck.
Para terminar, nosso momento Babel (sem merchandising…).
Crítica escrita por José E. Pérez Díaz, atribuindo 5 estrelas para o disco da postagem.
★ ★ ★ ★ ★
Bach al piano. una versión estupenda.
Reviewed in Spain on 27 November 2018
Un muy buen sonido y un pianista que toca con dominio absoluto. Las obras suenan como lo que son: luminosos y profundos alardes de maestría y musicalidad. Parece que cada vez más pianistas se deciden a acercarse a Bach sin complejos ni fundamentalismos. No es un Bach “romántico”, sino maravillosamente bien tocado.
Oficialmente, esta é a minha primeira postagem no novo PQPBach, que está hospedado em outro domínio, mais livre, leve e solto.
Nestes tempos sombrios em que vivemos, nada como a música de Haydn para nos ajudar a superar estes momentos de incertezas. Uma Missa de Haydn tem um poder único de nos envolver em uma espécie de áurea mística, barrando algum mal que deseje nos atingir. Para os incrédulos, isso pode soar ingênuo, respeito sua opinião, portanto respeitem a nossa. Lhes garanto que não sou nenhum beato, ao contrário, apenas aprecio o belo em suas mais diversas manifestações.
Obra da juventude de Haydn, essa Missa foi composta logo após o compositor assumir como Kappelmaister do Príncipe Nikolaus Esterházy, a “Missa Cellensis in honorem Beatissimæ Virginis Mariæ, Hob. XXII:5” é extensa, mais de uma hora de duração e exige muito da orquestra, dos músicos e dos solistas. Mas nos traz uma satisfação muito grande, uma grande paz de espírito, ao menos em mim causou essa impressão. Amo os corais de Haydn, já declarei em outras postagens que fiz com obras deste genial compositor. A interpretação da obra está a cargo da sempre eficiente Akademie für Alte Musik Berlin, que acompanha outro excepcional conjunto, o “RIAS Kammerchor”, um dos melhores conjuntos corais alemães, todos dirigidos pelo jovem maestro Justin Doyle, que tem a sua disposição um excelente grupo de solistas. O booklet em anexo traz todas as principais informações que os senhores precisam, incluindo o libreto da Missa, traduzido em três idiomas. A gravadora Harmonia Mundi nos brinda mais uma vez com uma excelente gravação. Admirador confesso que sou do grande compositor austríaco, principalmente de suas missas e sinfonias. Espero que apreciem.
JOSEPH HAYDN (1732-1809) Missa Cellensis in honorem Beatissimæ Virginis Mariæ, Hob. XXII:5
1. Kyrie eleison I – Chor
2 Christe eleison – Chor
3 Kyrie eleison II – Chor
4 Gloria in excelsis Deo – Chor
5 Laudamus te – Soprano
6 Gratias agimus tibi – Chor
7 Domine Deus – Alto, Tenor ,Bass
8 Qui tollis peccata mundi Chor – Soprano, Alto
9 Quoniam tu solus Sanctus – Soprano
10 Cum Sancto Spiritu – Chor
11Credo in unum Deum Chor – Soprano
12 Et incarnatus est Alto, Tenor – Bass
13 Et resurrexit Chor,Soprano – Tenor
14 Sanctus – Chor
15 Benedictus – Chor
16 Agnus Dei – Bass
17 Dona nobis pacem – Chor
Johanna Winkel, soprano (S) Sophie Harmsen, alto (A) Benjamin Bruns, tenor (T) Wolf Matthias Friedrich, bass (B) RIAS Kammerchor Akademie für Alte Musik Berlin Justin Doyle, Direction
Antes de Google e Wikipedia, valíamos de enciclopédias e publicações desta sorte para escavar informações sobre compositores e suas obras. Mas as informações sobre Dario Castello não eram abundantes. E o advento de tanta tecnologia não acrescentou muita coisa.
As poucas evidências de sua existência se devem às duas publicações de suas obras, assim como reedições das mesmas. Em 1621 temos Sonate concertate in stil moderno, que nos conta que ele era Capo di Compagnia de Musichi d’Instrumenti da fiato, em Veneza – piffari!
Em 1624 ele constava como sonador di violino no grupo liderado por Claudio Monteverdi.
Sua segunda publicação, de 1929, música que preenche este álbum, diz que era Musico della Serenissima Signoria di Venetia, em San Marco e Capo di Compagnia de Instrumenti.
Roland escolhendo o instrumento adequado para a Duodécima Sonata do Dario…
Encontrei o trabalho de Eleanor Selfridge-Field, do qual pude ler a apenas primeira página, com o sugestivo título ‘Dario Castello: A Non-Existent Biography’. Uma biografia não-existente! Além das evidências de suas publicações, há apenas confirmações duvidosas de sua existência. Isto é tanto surpreendente quando consideramos a qualidade, a popularidade e a dificuldade de suas obras, que são instrumentais, nos dias em que a música predominante era a música vocal.
Há registros de dois outros nomes com o sobrenome Castello. Um Francesco e outro Giovanni Battista. O Francesco foi contratado como trombonista em San Marco em 1624 e mais tarde no mesmo ano, Giovanni Battista como violinista e posteriormente como fagotista.
Um Francesco Castello, que seria o melhor violinista de Veneza, foi contratado por Heinrich Schütz para a Orquestra da Corte de Dresden em 1627 e teria morrido lá em 1631. O nome Giovanni Battista era muito comum na época (Viva São João!!!!) e pode ser que Dario e Giovanni tenham sido a mesma pessoa, talvez apenas uma mudança de nome.
Parte da turma da Musica Fiata…
Uma possibilidade é que ele teria morrido em 1630 de peste bubônica. Batendo três vezes na madeira, espero que tenha ocorrido outra possibilidade, pela qual ele teria vivido até os anos de 1650. De qualquer forma, uma nota em uma reedição de 1658 de suas sonatas sugere que então ele já havia morrido.
A importância da obra de Castello é ter levado a maturidade a música instrumental em um período no qual prevalecia a música coral. O livreto que acompanha os arquivos musicais nos diz que nestas revolucionárias sonatas, seus conceitos são tão consumados que permaneceram como modelo básico para os próximos cinquenta anos e mais.
No prefácio de sua publicação de 1629 Castello expressou seu desejo de que, assim como os pais desejam uma vida feliz para seus filhos, os ‘filhos’ de seu intelecto, concebidos com árduo trabalho, tivessem uma longa vida. Seu desejo realizou-se, uma vez que suas obras não só tiveram uma longa vida pelo século XVII como também têm experimentado vida nova em nossos dias.
Roland fazendo teste para o papel de Teo, em Amacord. Como o papel acabou ficando com o Ciccio Ingrassia, Roland dedicou-se só a música…
A música vocal do inovador Claudio Monteverdi, como os duetos que observamos nas Vésperas da Virgem, certamente influenciaram a obra de Dario Castello. Veja lá e depois me conte…
Apesar do que esta coleção gravada sugere, poucas obras instrumentais de Vivaldi têm títulos programáticos. Il Riposo e L’amoroso são exemplos dessas exceções e foram escritos no reluzente tom mi maior. O caso de Il Grosso Mogul é mais estranho. Parece não haver ligação conhecida entre Vivaldi e a corte indiana do Grand Mughal, Akbar. O extremo virtuosismo exigido pelo solista nos movimentos externos, bem como as longas e complexas cadências, sugerem uma função teatral. Talvez Vivaldi o tenha apresentado como um “concerto de teatro” como parte de uma trama de ópera ambientada na Índia.
Esta versão de As Quatro Estações de Rachel Podger foi gravada em 2018, quando ela completou 50 anos, acompanhada por seu supergrupo Brecon Baroque. A fluência virtuosa e serena de Podger, maravilhosamente apoiada por seus colegas — falo especialmente dos violinistas Johannes Pramsohler e Sabine Stoffer –, é algo. Mas é uma versão muito inglesa e particular. Também é uma bela gravação, cheia de originalidade e classe, mas ainda fico fácil fácil com o melhor: Carmignola.
Antonio Vivaldi (1678-1741): As Quatro Estações / Il Grosso Mogul / Il Riposo / L’Amoroso (Podger)
Le Quattro Stagioni
Concerto No. 1 La Primavera – Spring Op. 8 No. 1 RV 269
1 Allegro 3:18
2 Largo E Pianissimo 2:41
3 Allegro 3:40
Concerto No. 2 L’Estate – Summer Op. 8 No. 2 RV 315
4 Allegro Mà Non Molto 5:11
5 Adagio 2:00
6 Presto 2:43
Um disco quase todo russo! Rimsky-Korsakov faz as honras da composição contribuindo com três obras largamente conhecidas: o Capricho Espanhol, a Abertura ‘A Grande Páscoa Russa’ e a suíte orquestral ‘Scheherazade’. O regente também é russo – Vasily Petrenko. Bom, pelo menos nascido, que agora o cara anda lá pela Inglaterra e outras paragens também. Tem sido diretor da orquestra da gravação, a Oslo Philharmonic Orchestra, até este difícil ano de 2020. A orquestra não é russa, é norueguesa, mas tornou-se uma das melhores do mundo pelas mãos do grande Mariss Jansons. Assim, é norueguesa, mas sabe falar russo também.
Prepare-se para um disco com sonoridades exóticas e maravilhosas, que Rimsky-Korsakov era o cara da orquestração. Fez escola e entre seus alunos mais ilustres ninguém menos do que Igor Stravinsky. Rimsky-Korsakov dedicou seis anos de sua vida à Marinha Russa, como cadete naval. Três destes anos passou viajando e visitando os portos do mundo afora. Mas já sabia que dedicar-se-ia à música. Assim, depois disto, retornou à Mãe-Rússia para não sair mais.
Eu adoro estas peças, especialmente o Capricho e a Abertura. Esta última está entre uma das primeiras peças musicais que ouvi. Vejam o disco aí, numa foto gentilmente cedida pelo nosso colaborador Ammiratore. Grazie mille, commendatore!!
Portanto, aproveitem para mergulhar neste mundo de contos de fadas, de encantamentos sonoros, com lindos solos de violino, belíssimas melodias. Este disco é para quem gosta de música e não tem vergonha de ser feliz!!
Nikolay Rimsky-Korsakov (1844 – 1908)
Capricho Espanhol
Alborada
Variazioni
Alborada
Scena e canto gitano. Allegretto & Fandango asturiano
Vejam como são lisonjeiras as palavras desta crítica sobre o álbum da postagem: ‘The playing from the Oslo Philharmonic is flawless. All the solos are played with sophisticated levels of expression; phrasing throughout is architectural, but not predictable. String tones are varied and percussion timbres are nicely chosen, adding something distinctive to Petrenko’s vision‘.
Um CD arrasta-corações! Tem muita música aqui, apesar da capa genérica da Lawo! Este disco de Nils Anders Mortensen e do Engegård Quartet é dedicado ao quarteto e quinteto de Schumann para piano e cordas, sem dúvida duas das mais belas obras de Bob. Robert Schumann produziu um grande número de obras de música de câmara em 1842, entre elas o Quinteto Op. 44 e o Quarteto Op. 47, ambos na mesma tonalidade. Os trabalhos foram compostos ao mesmo tempo, lado a lado, e o vocês poderão ouvir semelhanças claras entre eles, tanto na estrutura quanto no humor.
Ambas as obras contêm movimentos externos vigorosos e expressivos, nos quais a vitalidade de Mozart e o contraponto de Bach são combinados à imaginação de Schumann em trechos sonhadores e dramáticos. Os scherzi dos dois trabalhos são virtuosos, com seções intermediárias nitidamente contrastantes. Mas o quinteto contém um célebre movimento, in modo d’una marcia, que tanto é suficientemente solene para ser uma marcha fúnebre, como tem de natureza poética e ardente. Este movimento foi maravilhosamente bem utilizado por Ingmar Bergman em Fanny e Alexander. Quanto ao quarteto, possui um movimento cantabile com uma melodia imortal levada pelo violoncelo. Um CD arrasta-corações.
Robert Schumann (1810-1856): Quarteto para Piano, Op. 47 e Quinteto para Piano, Op. 44
01. Piano Quintet, Op. 44 I. Allegro brillante
02. Piano Quintet, Op. 44 II. In modo d’una Marcia. Un poco largamente
03. Piano Quintet, Op. 44 III. Scherzo. Molto vivace
04. Piano Quintet, Op. 44 IV. Finale. Allegro, ma non troppo
05. Piano Quartet, Op. 47 I. Sostenuto assai. Allegro, ma non troppo
06. Piano Quartet, Op. 47 II. Scherzo. Molto vivace
07. Piano Quartet, Op. 47 III. Andante cantabile
08. Piano Quartet, Op. 47 IV. Finale. Vivace
Uma gravação de altíssimo nível artístico de Suzuki e do Bach Collegium Japan. Fazia tempo que não ouvia algo com tanto senso de estilo e sensibilidade ao barroco quanto isto. Os concertos existentes de Johann Sebastian Bach para um cravo e cordas foram todos compostos antes de 1738, o que os torna alguns dos primeiros, se não os primeiros, concertos para teclado (o Primeiro não seria o Concerto Nº 5 de Brandenburgo?) — um gênero destinado a se tornar um dos mais populares na música clássica. Com toda a probabilidade, Bach os escreveu para seu próprio uso (ou o de seus filhos talentosos, tais como eu) – provavelmente para ser apresentado no Collegium Musicum de Leipzig, do qual ele assumiu o cargo de diretor em 1729. O persona exuberante que se encontra nos concertos parece refletir o quanto Bach aproveitou a oportunidade de se envolver com seus colegas músicos. Mas grande parte da música em si não era nova, muitos dos concertos de cravo de Bach são quase certamente transcrições de trabalhos anteriores escritos para outros instrumentos.
J.S. Bach (1685-1750): Concertos para Cravo Vol. 1
Harpsichord Concerto No. 1 in D Minor, BWV 1052 21’40
01 I. Allegro 7’23
02 II. Adagio 6’20
03 III. Allegro 7’57
Harpsichord Concerto No. 5 in F minor, BWV 1056 9’25
04 I. Allegro 3’11
05 II. Adagio 2’33
06 III. Presto 3’41
Harpsichord Concerto No. 8 in D minor, BWV 1059 R (reconstruction by M. Suzuki) 15’54
07 I. Allegro 6’17
08 II. (Siciliano) 6’05
09 III. Presto 3’32
Harpsichord Concerto No. 2 in E Major, BWV 1053 19’29
10 I. (Allegro) 8’04
11 II. Siciliano 4’31
12 III. Allegro 6’54
Masato Suzuki, cravo
Bach Collegium Japan
Masato Suzuki, regência
“Música Clássica para Leigos” (“Classical Music For Dummies”) é uma série de lançamentos projetados pela Deutsche Grammophon para oferecer aos leigos recém-chegados uma introdução perfeita ao mundo da música clássica.
A série é composta por 50 CDs de música clássica dedicados a diferentes compositores, maestros, pianistas, violinistas e cantores, a maioria contratados ou ex-contratados pela gravadora.
Rachmaninoff – The Essencials
Sergei Vasilievich Rachmaninoff (Semyonovo, 1 de abril de 1873 — Beverly Hills, 28 de março de 1943) foi um compositor, pianista e maestro russo, um dos últimos grandes expoentes do estilo Romântico na música erudita ocidental.
Rachmaninoff é tido como um dos pianistas mais influentes do Século XX. Seus trejeitos técnicos e rítmicos são lendários, e suas mãos largas eram capazes de cobrir um intervalo de uma 13ª no teclado (um palmo esticado de cerca de 30 centímetros). Especula-se se ele era ou não portador da Síndrome de Marfan, já que se pode dizer que o tamanho de suas mãos correspondia à sua estatura, algo entre 1,91 e 1,98 m. Ele também possuía a habilidade de executar composições complexas à primeira audição. Muitas gravações foram feitas pela Victor Talking Machine Company, com Rachmaninoff executando composições próprias ou de repertórios populares.
Sua reputação como compositor, por outro lado, tem gerado controvérsia desde sua morte. A edição de 1954 do Grove Dictionary of Music and Musicians notoriamente desprezou sua música como “monótona em textura… consistindo principalmente de melodias artificiais e feias” e previu seu sucesso como “não duradouro”. Harold C. Schonberg, em seu livro A Vida dos Grandes Compositores, considerou que a referência “figura entre as mais esnobes e estúpidas jamais encontradas em um livro que supostamente deve ser objetivo”. De fato, não apenas os trabalhos de Rachmaninoff tornaram-se parte do repertório padrão, mas sua popularidade tanto entre músicos quanto entre ouvintes vem, no mínimo, crescendo desde a segunda metade do Século XX, com algumas de suas sinfonias e trabalhos orquestrais, canções e músicas de coral sendo reconhecidas como obras-primas ao lado dos trabalhos para piano, mais populares.
Suas composições incluem, dentre várias outras: quatro concertos para piano; a famosa Rapsódia sobre um tema de Paganini; três sinfonias; duas sonatas para piano; três óperas; uma sinfonia para coral (The Bells, ou Os Sinos, baseado no poema de Edgar Allan Poe); vinte e quatro prelúdios(incluindo o famoso Prelúdio em Dó Sustenido Menor); dezessete études; muitas canções, sendo as mais famosas a V molchanyi nochi taynoi (No Silêncio da Noite), Lilacs e a sem-letra Vocalise; e o último de seus trabalhos, as Danças Sinfônicas. A maioria de suas peças é carregada de melancolia, um estilo romântico tardio lembrando Tchaikovsky, embora apareçam fortes influências de Chopin e Liszt. Inspirações posteriores incluem a música de Balakirev, Mussorgsky, Medtner e Henselt.
Rachmaninoff – The Essencials 01. Mischa Maisky – Vocalise, Op. 34, No. 14 – Version For Cello And Piano 02. Lilya Zilberstein – 13 Preludes, Op. 32 : No. 12 in G-Sharp Minor: Allegro 03. Lilya Zilberstein – 13 Preludes, Op. 32 : No. 4 in E Minor: Allegro con brio 04. Lilya Zilberstein – 13 Preludes, Op. 32 : No. 5 in G Major: Moderato 05. Lilya Zilberstein – 13 Preludes, Op. 32 : No. 2 in B-Flat Minor: Allegretto 06. Tamás Vásáry – Rhapsody On A Theme Of Paganini, Op.43 : Introduction, Variation 1, 2, 3, 4, 5, 6 07. Tamás Vásáry – Rhapsody on a Theme of Paganini, Op. 43 : Variation 16 und 17 08. Tamás Vásáry – Rhapsody on a Theme of Paganini, Op. 43 : Variation 18 09. Sergej Larin – The Bells, Op. 35 : 1. Allegro ma non tanto (Silver Bells) 10. Sviatoslav Richter – Piano Concerto No. 2 in C Minor, Op. 18 : 1. Moderato 11. Sviatoslav Richter – Piano Concerto No. 2 in C Minor, Op. 18 : 2. Adagio sostenuto 12. Sviatoslav Richter – Piano Concerto No. 2 in C Minor, Op. 18 : 3. Allegro scherzando 13. Sviatoslav Richter – 10 Preludes, Op. 23 : No. 5 Alla marcia in G Minor 14. Galina Vishnevskaya – 15 Romances, Op.26 : No. 12 Noch′ pechal′na 15. Galina Vishnevskaya – 6 Romances, Op.4 : No. 4 Ne poy, krasavitsa, pri mne 16. Galina Vishnevskaya – 14 Romances, Op. 34 : No. 8 Muzyka 17. Galina Vishnevskaya – 12 Romances, Op. 14 : No. 11 Vesenniye vody 18. Berliner Philharmoniker – Symphony No. 1 in D Minor, Op. 13 : 2. Allegro animato 19. Berliner Philharmoniker – Symphonic Dances, Op. 45 : I. Non allegro 20. Berliner Philharmoniker – Symphonic Dances, Op. 45 : II. Andante con moto (Tempo di valse) 21. Berliner Philharmoniker – Symphonic Dances, Op. 45 : 3. Lento assai – Allegro vivace 22. Tamás Vásáry – Piano Concerto No. 3 in D Minor, Op. 30 : 1. Allegro ma non tanto 23. Berliner Philharmoniker – Symphony No. 2 in E Minor, Op. 27 : 3. Adagio 24. Berliner Philharmoniker – The Isle Of The Dead, Op. 29 25. Berliner Philharmoniker – The Rock, Op. 7
Palhinha –08. Tamás Vásáry – Rhapsody on a Theme of Paganini, Op. 43 : Variation 18.
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Um bonito disco de peças francesas do século XVIII para cravo. Luc Beauséjour é um músico muito elogiado não apenas por seu virtuosismo e pela sutileza de sua execução, mas porque nunca deixa de ter ideias quando se trata de oferecer programas cheios de originalidade. Para este álbum, Le rappel des oiseaux, o cravista propõe uma seleção de obras de compositores barrocos franceses, incluindo Rameau, Couperin, d’Agincourt e Daquin, inspiradas em pássaros. Muito mais do que exercícios técnicos para imitar o cantar de algumas belas criaturas emplumadas, o programa apresenta peças que oferecem tanto lindas melodias quanto sofisticados comentários musicais. Esses curtos retratos de aves — cucos, rouxinóis, galinhas, etc. — escritos por compositores franceses da primeira metade da década de 1700, são pequenas joias.
Rameau e vários outros compositores franceses: ‘Le Rappel des Oiseaux’ e outras peças (Luc Beauséjour)
1 Jean-Philippe Rameau – Le Rappel des Oiseaux
2 François D’Agincour – Les Tourterelles
3 Louis-Claude Daquin – Le Coucou
4 François Couperin – Le Rossignol-en-amour
5 François Couperin – La Linote-éfarouchée
6 François Couperin – Les Fauvétes Plaintives
7 François Couperin – Le Rossignol-Vainqueur
8 Antoine Dornel – Les Tourterelles
9 Louis-Claude Daquin – L’Hirondelle
10 Jacques Duphly – Les Colombes
11 François D’Agincour – La Fauvette
12 François Couperin – Les Coucous Bénévoles
13 Antoine Dornel – Le Chant de l’Alloüette
14 Antoine Dornel – Le Petit Ramage
15 Jean-François Dandrieu – Le Concert des Oiseaux
16 François Couperin – Le Gazoüillement
17 Pierre Février – Les Tendres Tourterelles
18 Jean-Philippe Rameau – La Poule
Este é um dos mais extraordinários discos do jazz. Tentarei dizer porquê. Não basta ser belo. Os bastidores do belo envolvem um infinito – e deflagram também um infinito em cada um que o contempla. Imagine-se de repente desperto num planeta no qual tudo é novo, você caiu ali de paraquedas e precisa sobreviver, em meio aos inquietos e intensos habitantes. Você quer interagir, encontrar seu lugar naquele contexto – não tem escolha. Você quer ser aceito e luta por conhecer as regras da casa. Para, olha, escuta, fala, segue e não quer ser atropelado nem pisar em falso. Próximo vê uma flor no chão da esquina, acolá uma avalanche! Corre! Quem são aqueles? Quem sou eu aqui? Procura entender e ser entendido. Parece que caiu num livro do Ray Bradbury (ou Kafka!). Pois bem. Neste disco o fabuloso saxofonista Stan Getz se vê diante de desafios semelhantes. O compositor Eddie Sauter (discípulo de Bartok) elaborou uma suíte, uma estupenda orquestração de cordas, uma floresta de timbres, uma metrópole de harmonias, onde o intrépido improvisador é atirado sem qualquer linha melódica definida. Ele poderá contar se muito com algumas cifras harmônicas, como ventoinhas para se guiar conforme as brisas e tempestades sonoras. A orquestra é um Golias, ele um Davi. Precisa lutar, algumas vezes para não profanar a delicada textura orquestral que o envolve, outras vezes para não ser engolido, esmagado, tolhido pela dinâmica endiabrada da orquestra; pela variedade de situações harmônicas e rítmicas. A orquestra o provoca, o seduz, por vezes cobra sedução. Em certo momento se vê numa verdadeira arena, diante da bateria infernal de Roy Haines. Briga, dialoga, sobrevive, como o Superman na vasta Metrópolis. Mas chega de delongas. Ouçamos esta maravilha jazzística na qual o jazz reside precisamente no improvisador. Todo o resto é escrito com rigor ‘erudito’. Este é certamente um dos melhores e bem-sucedidos experimentos neste sentido. Ouçam, abandonem-se aos sons. Como disse algum poeta do qual me foge o nome, “a confiança no apoio invisível confere ao pássaro a coragem de se atirar no vazio”. Lamento que o compositor não tenha intentado regravar sua orquestração com diversos artistas, numa série de discos. Seria um tesouro inestimável para a música. Este breve texto, agradeço ao Black & White, que me permitiu produzi-lo de improviso – diríamos, jazzisticamente. Confesso que o cachorrinho branco do rótulo me incomoda. Vou pintá-lo de azul, assim fica ‘Black n Blues’.
FOCUS – STAN GETZ & EDDIE SAUTER
I’m Late, I’m Late
Her
Pan
I Remember When
Night Rider
Once Upon a Time
A Summer Afternoon
I’m Late, I’m Late – Bonus track
I Remember When – Bonus track
Stan Getz – Sax Tenor
Steve Kuhn – Piano
John Neves – Bass
Roy Haynes – Drums
Alan Martin, Norman Carr, Gerald Tarack – Violins
Jacob Glick – Viola
Bruce Roger – Cello
Eddie Sauter – Arranger
Hershy Kay – Conductor