Extraordinária gravação em que Evgeni Mravinski conduz a Orquestra Filarmônica de Leningrado no balé Agon, de Stravinski (gravação de 1965), e na 15ª Sinfonia de Dmitri Shostakovich (gravação de 1976).
Agon é de 1957, quando Stravinski tinha 75 anos. A música, aqui, prescinde do balé – que alívio, não? -, mas não me causa nenhum entusiasmo. Já o Shostakovich… A Sinfonia Nº 15 é a última do compositor e, em 1976, Mravinski iniciou a temporada de sua orquestra dedicando nada menos do que quatro concertos a seu amigo. A gravação postada traz um registro deste extraordinário evento.
Sem dúvida, a Sinfonia Nº 15 é uma de minhas preferidas no gênero. É difícil estabelecer-se um conteúdo programático para ela. Trata-se de uma música muito viva, com colorido orquestral atraente, temas facilmente assimiláveis e nada triviais, clímax e pausas meditativas que empolgam e mantém o ouvinte permanentemente atento. E com os contrastes inesperados característicos de Shostakovich. Parece um roteiro de Shakespeare passado à música, trazendo o trágico ao festivo, empurrando a reflexão para junto da zombaria. Bom, já viram que sou um apaixonado desta sinfonia.
O primeiro movimento (Allegretto) é uma curiosidade por manter sempre ativo o motivo da cavalgada da abertura Guilherme Tell, de Rossini, e pela participação incessante da percussão. O segundo movimento (Adagio) é circunspecto. Os metais trazem uma melodia sombria, para depois o violoncelo completá-la com um solo dilacerante, a cujas cores será acrescida, mais adiante, a ressonância do contrabaixo. Um novo Alegretto surge repentinamente do Adagio, retomando o clima do primeiro movimento, mas desta vez somos levados pelos solos do fagote, violino, clarinete e flautim. O movimento final, outro adagio, é enigmático. A simbologia está presente com a apresentação de imediato do Prenúncio da Morte, composto por Wagner para a Tetralogia do Anel. O ouvinte wagneriano fica desconcertado ao escutar de imediato esta música conhecida, parece tratar-se de um equívoco, de um erro de partitura. Ao pesado motivo de Wagner são contrapostos temas executados pelo setor leve da orquestra, porém, a todo instante, o sinistro aviso retorna e, mais adiante, os metais refletirão uma angustiada exasperação… A sinfonia esvai-se em delicados sons de percussão, deixando um desconcertante ponto de interrogação no ar. O significado do Prenúncio da Morte é óbvio, porém, o que significam a percussão, a orquestração e as melodias jocosas que o cercam? Uma simples experiência sinfônica? Impossível. O desejo de felicidade de alguém cuja vida se encerra? Ou, voltando a Shakespeare, que a vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, que nada significa (*)? Porém, a significação, a intenção exata de uma obra instrumental é tão importante? Ou seria mais inteligente fazer como fez Shostakovich, levando-nos bem próximo ao irrespondível para nos abandonar por lá?
(*) Macbeth, William Shakespeare.
STRAVINSKY Agon (40mb)
1. Pas de quatre 1:48
2. Double Pas de quatre 1:36
3. Triple Pas de quatre 1:09
4. Prelude 0:57
5. First Pas de trios Saraband Step 1:18
6. Gaillarde 1:19
7. Coda 1:28
8. Interlude 0:55
9. Second Pas de trios Bransle simple 0:59
10. Bransle gay 0:53
11. Bransle double 1:27
12. Interlude 0:56
13. Pas de deux Adagio – variation – refrain 4:16
14. Coda 1:35
15. Four Duos 0:32
16. Four Trios 0:39
17. Coda 1:53
SHOSTAKOVICH Symphony No.15 (70mb)
18. Allegretto 7:42
19. Adagio, Largo 14:28
20. Allegretto 3:38
21. Adagio,Allegretto 13:50
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