In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 9 de 11: Volumes 24, 28, 38 e 40 (Clássicos Favoritos V, VI, IX & X)

Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a nona das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


Partes:   I   |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII  |   IX   |   X   |   XI

Arthurzinho das massas estava em todas nos anos 80.

O embrião de tal onipresença foi sua participação no Circuito Universitário, iniciativa que desde o começo da década anterior levava grandes nomes da MPB para campi, teatros, ginásios e quaisquer outros espaços em que eles coubessem. Sempre destemido, Arthur foi o primeiro músico de concerto a embarcar  numa turnê do Circuito – e, convenhamos, o único capaz de aceitar um convite desses. Partiu de São Paulo, onde então morava, e prosseguiu de Kombi para Campinas e outras dez cidades do interior do estado. A experiência foi-lhe como um Caminho de Damasco: habitué de tantas paragens mundo afora, conhecedor de cada parada ao longo da Trans-Siberiana, Arthur enfim começava a descobrir seu país e a acolhida que as massas nos ginásios davam àquele pianista de raríssima figura, com cabeleira roqueira, calças de brim e a inseparável jaqueta de couro de alce.

Ó lá ela, a guerreira.

Não que tenha deixado a casaca de lado, como atesta, entre outros, o projeto Bach-Chopin que realizou com  João Carlos Martins. Tampouco deixou de ter preocupações fonográficas: farto da miríade de percalços para que seus discos fossem distribuídos pelas gravadoras e decidido decerto a cultivar mais uma úlcera, fundou o selo L’Art, tendo como sócio Lauro Henrique Alves Pinto, um dos “Filhos da Pauta”. Inda assim, preferia os mocassins e os pés na estrada. Xodó das multidões, para as quais era quase sinônimo de piano brasileiro, desfrutava uma liberdade incomum de escolher onde, como e com quem aparecer: mais que arroz de festa, o rei do rolê aleatório.

Até no gibi.

Se não, vejamos: depois de quase tocar com Elomar no formigueiro humano de Serra Pelada – com direito a transporte em avião da FAB, piano incluso -, acabou na não menor muvuca do Festival de Águas Claras, o “Woodstock” brasileiro, onde dividiu palco com Luiz Gonzaga (“esse cabra é tão bom que toca até Luiz Gonzaga”, foi o veredito do próprio) numa noite encerrada por João Gilberto. Às línguas de trapo que o acusavam de buscar as massas por estar em decadência técnica, respondia dando um tempo às turbas para, numa visita à Polônia, tocar (e gravar) Rachmaninoff desse jeito:

Sossegou? Claro que não: deixou São Paulo e mudou-se para o Rio, o qual voltou a chamar de morada depois de vinte anos. Foi fagocitado quase que de imediato pela boemia e requisitado em cada cantina, restaurante ou boteco onde, entre biritas, se cultivasse a boa prosa. Na confraria conhecida como “Clube do Rio”, aproximou-se de Millôr Fernandes, que prontamente reconheceu o potencial da avis rara e lhe escreveu um show, que também dirigiu – e assim, não mais que de repente, nascia “De Repente”.

Alternando textos de Millôr com bitacos de Arthur e grande música dos dois lados do muro da infâmia entre o dito “erudito” do assim chamado “popular”, o show foi um triunfo. Não demoraria para que o showman chegasse às telinhas, a convite de Adolpho Bloch, fundador da Rede Manchete. Conhecera-o em Moscou, nos seus tempos de Conservatório, mas estreitaram o convívio no Rio, frequentando o mesmo barbeiro, praticando o idioma russo e divertindo-se a falar, sem que ninguém mais compreendesse, bandalheiras impublicáveis.  Conquistado por aquele tipo maravilhoso que parecia pronto para TV, Bloch ofereceu-lhe carta branca para criar um programa semanal. Arthur pediu alto e levou: recebeu duas orquestras, dirigidas por Paulo Moura, que também lhe fazia os arranjos, e a crème de la crème  da música brasileira no rol de convidados. Nascia Um Toque de Classe, carregado daqueles momentos que, ao imaginá-los na TV aberta, fazem-me questionar em que sentido, enfim, roda a fita da civilização:

Arthur, que nunca foi muito afeito ao canto, ficou especialmente impressionado com a voz de Ney Matogrosso, que buscava novos rumos para sua carreira depois do frisson que causou com suas performances no extinto conjunto Secos & Molhados:

Ney, inacreditavelmente, ainda não se convencera de que era cantor. Arthur sugeriu que deixasse de lado a maquiagem e figurinos estrambólicos que até então tinham marcado sua carreira e que, de cara lavada, apostasse em sua rara voz. Não demorou até que o belíssimo contralto de Ney, tratado como afinado instrumento, estivesse a dividir o palco com outros quatro virtuoses.

Assim, na luxuosa companhia de Arthur, Paulo Moura (saxofone), Chacal (percussão) e Raphael Rabello (violão de sete cordas), Ney inaugurou uma nova fase em sua carreira com o show O Pescador de Pérolas. De lambujem, aproximou-se de Rabello, há já muitos anos um dos maiores violonistas do mundo, com quem mais adiante gravaria À Flor da Pele, que, em minha desimportante opinião, é um dos álbuns mais sensacionais que Pindorama deu ao mundo. O Pescador de Pérolas também virou disco, ainda que se lamente que o som do piano de Arthur, aparentemente, tenha sido captado do fundo duma lata de azeite:

Lambuzado de mel pelas massas e com saudades, talvez, de ferroadas, Arthur resolveu atirar-se no vespeiro: instigado por seu guru Darcy Ribeiro, aceitou a nomeação para alguns cargos públicos no Governo do Rio. Sob sua direção, o Theatro Municipal e a Sala Cecília Meireles receberam em seus palcos muita gente que seus habitués não deixariam nem entrar pela porta dos fundos, como a Velha Guarda da Portela. Divertindo-se com o previsível reproche de quem via violados seus espaços exclusivos e sacrossantos. Arthur ligou aquele famoso botão e prosseguiu: tocou em favelas (uma imagem de “Rocinha in Concert”está no cabeçalho dessa postagem) e chamou a Orquestra de Câmara de Moscou para tocar com ele em teatros, ao ar livre e em presídios. Quem o chamava de decadente – nem sempre por méritos artísticos – acabava por ter que deglutir cenas como as do Projeto Aquarius, em que o suposto ex-pianista e a Sinfônica Brasileira tocavam para Fla-Flus de gente:

Sim, 200 mil

Para refrescar-se das saraivadas de tomates, o Rei do Rolê Aleatório foi harmonizar seu piano com uma das vozes mais distintas do Brasil, o barítono de Nelson Gonçalves. Com alguns milhares de canções no repertório, escolher o que iria para o álbum foi por si só uma empreitada. O mais difícil, com sobras, era a incompatibilidade de relógios biológicos: Nelson acordava na hora em que Arthur ia dormir. Ainda assim, com cantor no fuso horário de Bagdá e pianista no de Honolulu, a parceria deu liga e rendeu um dos melhores álbuns de suas imensas discografias, O Boêmio e o Pianista:


Miacabo com Arthur e sua cara de “acordei agora”

Durante a extensa turnê com Nelson por mais de trinta cidades brasileiras, Arthur encantou-se com a tranquilidade e o clima ameno de Florianópolis e resolveu, enfim, lançar nela sua âncora. Trouxe seus pianos para perto do mar e até deve ter contemplado a ideia de sossegar. O sucesso da coleção “Meu Piano”, que vendeu um milhão de CDs a preços módicos em bancas de revistas, mostrou-lhe que o público não queria seu sossego. Pelo contrário: ainda havia muito mais gente a conquistar, nos vastos horizontes brasileiros, a ser buscada em seus últimos recantos, mesmo nas grotas que nunca tinham visto um piano. Assim, o rei das harmonizações improváveis juntou um Steinway com uma caçamba de Scania e partiu, como orgulhoso Camelô da Música (o termo é dele), para a mais épica jornada jamais empreendida por um artista brasileiro.


ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima


Volume 24: CLÁSSICOS FAVORITOS V

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Do Pequeno Caderno para Anna Magdalena Bach:

Christian PETZOLD (1677–1733)
1 – No. 2: Minueto em Sol maior, BWV Anh. 114

Johann Sebastian BACH
2 – No. 20: Minueto em Ré menor, BWV Anh. 132

Anton DIABELLI (1781-1858)

Das Sonatinas para piano, Op. 168:
3 – Moderato cantabile
4 – Andantino

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Das Duas Sonatinas para piano, WoO Anh. 5
5 – Sonatina em Sol maior

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Do Álbum para Jovens, Op. 68
6 – O Camponês Alegre
7 – O Cavaleiro Selvagem
8 – Siciliana
9 – Um Pequeno Romance
10 – São Nicolau

Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)

Seis Danças Populares Romenas, Sz. 56
11 – Do Bastão
12 -Do Lenço
13 – Sem Sair Do Lugar
14 – Da Trompa
15 – Polka Romena
16 – Finale: Presto

Heitor VILLA-LOBOS (1887-1959)

Do Guia Prático para Piano, Primeiro Álbum:
,17 – Acordei de Madrugada
18 -A Maré Encheu
19 – A Roseira
20 -Manquinha
21 – Na Corda Da Viola

[as obras de Villa-Lobos não estão disponíveis pelos motivos aqui listados]

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)

Das Doze Peças para piano, Op. 40:
22 – No. 2: Chanson triste

Enrique GRANADOS Campiña (1867-1916)

Das Doze Danças Espanholas:
23 – No. 5, “Andaluza”

Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)

Das Peças Líricas, Op. 43:
24 – No. 6: “À Primavera”

Achille Claude DEBUSSY (1862-1918)

Dos Prelúdios, Primeiro Livro:
25 – No. 8: La fille aux cheveux de lin

Dmitry Dmitryievich SHOSTAKOVICH (1906-1975)

Das Danças das Bonecas, Op. 91:
26 – No. 1: Valsa Lírica
27 – No. 4: Polka
28 – No. 5: Valsa-Scherzo

Scott JOPLIN (1868-1917)
29 – The Entertainer

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: St. Philip’s Church, Londres, Reino Unido, 1998-99
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999.

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Volume 28: CLÁSSICOS FAVORITOS VI

Antônio CARLOS GOMES (1836-1896)
Transcrição de Nicolò Celega (1846-1906)

Da ópera Il Guarany:
1 – Protofonia

Carl Maria Friedrich Ernst von WEBER (1786-1826)

2 – Convite à Dança, Op. 65

Franz Peter SCHUBERT (1979-1828)

Dos Quatro Improvisos para piano, D. 899:
3 – No. 4 em Lá bemol maior

Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
4 – Rondo Capriccioso, Op. 14

Johannes BRAHMS (1833-1897)

Das Valsas para piano, Op. 39:
5 – No. 1 em Si maior
6 – No. 2 em Mi maior
7 – No. 3 em Sol sustenido menor
8 – No. 6 em Dó sustenido maior
9 – No. 15 em Lá bemol maior

George GERSHWIN (1898-1937)

10 – Rhapsody in Blue

Gravação: St. Philip’s Church, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999.

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Volume 38: CLÁSSICOS FAVORITOS IX – TRANSCRIÇÕES CÉLEBRES

Ferenc LISZT (1811-1886)

Dos Doze Lieder de Franz Schubert, S. 558:
1 – No. 9: Ständchen

2 – Miserere du Trovatore de Giuseppe Verdi, S. 433

Do Wagner-Liszt Album:
3 – Isoldes Liebestod

4 – Liebeslied, S. 566 (baseada em Widmung, Op. 25 no. 1 de Robert Schumann)

De Années de Pèlerinage – Deuxième Année: Italie, S. 161:
5 – No. 5: Sonetto 104 del Petrarca

Johannes BRAHMS
Transcrição de Percy Grainger (1882-1961)

Das Cinco Canções, Op. 49:
6 – No. 4: Wiegenlied

Aleksandr Porfirevich BORODIN (1833-1887)
Transcrição de Felix Blumenfeld (1863-1931)

De Príncipe Igor, ópera em quatro atos:
7 – Dança Polovetsiana no. 17

George GERSHWIN
Transcrição de Percy Grainger
8 – The Man I Love

Oscar Lorenzo FERNÁNDEZ (1897-1948)
Transcrição de João de Souza Lima (1898-1982)

Da Suíte Reisado do Pastoreio:
9 – No. 3: Batuque

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: All Saints Church, Tooting, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999

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Volume 40: CLÁSSICOS FAVORITOS X

Charles-François GOUNOD (1818-1893)

1 – Ave Maria (Meditação sobre o Primeiro Prelúdio para piano de Johann Sebastian Bach)

Johann Sebastian BACH

Da Fantasia e Fuga em Dó menor, BVW 906:
2 – Fantasia

Franz SCHUBERT

Três Valsas:
3 – Op. 9 nº 1
4 – Op. 9 nº 2
5 –  Op. 77 nº 10

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)

Dos Doze Estudos para piano, Op. 10:
6 – No. 3 em Mi maior

Ferenc LISZT

Dos Três Estudos de Concerto, S. 144:
7 – No. 3: Un Sospiro

Johannes BRAHMS

Dos Três Intermezzi para piano, Op. 117:
8 – No. 2 em Si bemol menor

Leopold Mordkhelovich GODOWSKY (1870-1938)

9 – Alt-Wien

Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)

De Chants d’Espagne, Op. 232:
10 – No. 1: Prélude (Asturias)

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)

11 – Pavane pour une infante défunte

Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946)
Transcrição do compositor

Do balé El Sombrero de Tres Picos:
12 – Danza del Molinero

Gabriel Urbain FAURÉ (1845-1924)
Transcrição de Percy Grainger

Das Três Melodias, Op. 7:
13 – No. 1: Après un Rêve

Ludomir RÓŻYCKI (1883-1953)
Transcrição de Grigory Ginzburg (1904-1961)

14 – Valsa da Opereta Casanova

Antônio CARLOS GOMES

15 – Quem Sabe?

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: All Saints Church, Tooting, e Rosslyn Hill Chapel, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999

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9ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele abordou os seguintes tópicos, sobre sua carreira na década de 1990: concertos que tocou no morro da Mangueira e na Rocinha; período em que foi diretor da Sala Cecília Meireles; período em que foi subsecretário de cultura do estado do RJ, encarregado do interior; sua colaboração com o cantor Nelson Gonçalves; o recital que realizou juntamente com Ana Botafogo; seu disco dedicado ao compositor Brasílio Itiberê; a grande coleção de 41 CDs “Meu piano”, lançada pela Caras em 1998; a caixa de 6 CDs “MPB – Piano collection”, dedicada a Dorival Caymmi, Chico Buarque, Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Roberto Carlos; disco dedicado a Astor Piazzolla, com arranjos de Laércio de Freitas

Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952. Eis o ponta-esquerda Joaquim Albino, o Quincas (1931-2000).

Vassily

John Baptist Cramer (1771-1858): Quinteto para piano, Op. 79 e Franz Schubert (1797-1828): Quinteto para piano, Op. 114 (D. 667) – A Truta

John Baptist Cramer (1771-1858): Quinteto para piano, Op. 79 e Franz Schubert (1797-1828): Quinteto para piano, Op. 114 (D. 667) – A Truta

Com instrumentos originais de época, este é um disco muito especial. Tem uma obra de um compositor desconhecido e a justamente célebre Truta de Schubert. Não conhecia a música de John Baptist Cramer. Este compositor nasceu na Alemanha, mas foi levado à Inglaterra quando ainda era criança. Começou a estudar piano muito jovem e conseguiu se estabelecer como um grande pianista. Dizem que chegou a ser respeitado por Beethoven. Foi o editor inglês do Concerto no. 5 para piano e orquestra – “Imperador” – do mesmo Beethoven. Estabeleceu uma amizade gratificante com o autor da Nona Sinfonia. Compôs obras respeitáveis — sonatas para piano, nove concertos para piano e música de câmara. Neste CD que ora posto, surge o Quinteto para Piano, Op. 79, de 1832, para essa formação (piano, violino, viola, violoncelo, contrabaixo) que foi utilizada pela 1ª vez por Johann Nepomuk Hummel, de quem o quinteto pegou emprestado o nome. A outra obra do CD — A PRINCIPAL — é o Quinteto para piano em Lá maior, Op. 114 de Schubert, também conhecido como “A Truta”, pela qual tenho uma grande paixão. Composta em 1819, circulou apenas em manuscritos durante a vida de Schubert e foi publicada um ano após sua morte. Não deixe de ouvir. Boa apreciação!

John Baptist Cramer (1771-1858) – Quinteto para piano in Si bemol maior, Op. 79 (1832)
01. Allegro moderato
02. Adagio cantabile
03. Rondo (allegro)

Franz Schubert (1797-1828) – Quinteto para piano em Lá maior, Op. 114 (D. 667) – A Truta (1819)
04. Allegro vivace
05. Andante
06. Scherzo
07. Theme with variations (andatino-allegretto)
08. Finale (allegro giusto)

Nepomuk Fortepiano Quintet
Jan Insinger, violoncelo
Elisabeth Smalt, viola
Riko Fukuda, pianoforte
Franc Polman, violino
Pieter Smithuijsen, contrabaixo

Recorded: 2007

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Vocês não esperavam um linguado, né?
Vocês não esperavam um linguado, né?

Carlinus / PQP / Pleyel

Schubert (1757 – 1828): Sonatas para Piano em lá maior, D. 664 e em dó menor, D. 958 – Beethoven (1770 – 1828): Variações sobre um tema original, em dó menor, WoO. 80 – Can Çakmur (piano) ֍

Schubert (1757 – 1828): Sonatas para Piano em lá maior, D. 664 e em dó menor, D. 958 – Beethoven (1770 – 1828): Variações sobre um tema original, em dó menor, WoO. 80 – Can Çakmur (piano) ֍
Das três sonatas para piano que Schubert completou em seus últimos meses, a Sonata em dó menor, D. 958, parece lidar mais diretamente com o legado de Beethoven.

Guardem esse nome – Can Çakmur, pianista turco de mão cheia (desculpem o trocadilho…). A primeira vez que vi seu nome foi num disco da série Next Generation, mentorada por Howard Griffiths e que apresenta os concertos de Wolfi Mozart, não apenas os para piano, interpretados por jovens solistas, como Claire Huangci e o próprio Can Çakmur. Ele interpreta o Concerto No. 8, ‘Concerto Lützow’, no primeiro disco da série. Nomes tais como Mélodie Zhao, Jeneba Kanneh-Mason, Aaaror Pilsan, pianistas, além de Johan Dalene, violino, Nicolas Ramez, trompa, e Gabriel Pidoux, oboé, já estão presentes nos outros discos da série.

Mas, a postagem é a propósito de Can Çakmur que tem produzido para a BIS uma série de discos com foco na obra para piano de Franz Schubert. Cada disco da série apresenta peças de Schubert acompanhadas de alguma peça de outro compositor que foi influenciado por ele ou que o tenha influenciado. Eu tenho ouvido esses discos com algum interesse, mas há tantas coisas que chamam a minha atenção no universo da música gravada, que acabei deixando-os na pilha dos que pretendo ouvir mais vezes. No entanto, esse aqui eu achei uma ‘maraviglia’ logo de cara e o ouvi diversas vezes. Tanto gostei que resolvi postá-lo, independentemente de voltar a postar algum outro da série. A Sonata em lá maior é em três movimentos e tem toda a leveza e graciosidade do período clássico. As variações do Ludovico apontam mais para a Sonata em dó menor, D. 958, a primeira das últimas três grandes sonatas, em quatro movimentos. Uma obra prima!

Franz Schubert (1728 – 1828)

Piano Sonata in A Major, D. 664

  1. Allegro moderato
  2. Andante
  3. Allegro

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Variations (32) on an Original Theme in C minor, WoO 80

Franz Schubert (1728 – 1828)

Piano Sonata in C Minor, D. 958

  1. Allegro
  2. Adagio
  3.  Menuetto. Allegro – Trio
  4. Allegro

Can Çakmur, piano

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MP3 | 320 KBPS | 149 MB

Can Çakmur

Trechos da resenha ‘rasga seda’ feita por Patrick Rucker para a Gramophone

Can Çakmur’s ‘Schubert+’ series, begun in 2023 and combining works by Schubert with composers influencing or influenced by him, has now reached its fifth instalment. Here he presents the exquisite A major Sonata of 1819, while Beethoven’s C minor Variations serve as a sort of overture to the first of the three crowning sonata masterpieces of Schubert’s final year.

If the 32 C minor Variations are not Beethoven’s most profound, they nevertheless effectively explore seemingly limitless instrumental textures. […]This is a carefully conceived performance, brilliantly executed.

Schubert’s ‘little’ A major Sonata is only small in comparison to the huge A major Sonata, D959. Here it is given a rhetorically apt, pristine performance of extraordinary beauty and nuance. […]

I don’t know of another performance of D958 that so successfully subordinates Schubert’s occasionally awkward pianistic demands to the grand musical sweep of this monumental work. […]

Finally, one admires most Çakmur’s inerrant kinaesthesia, vibrant, breathtaking, yet somehow always tempered by love for the beauty revealed in his art. Wholeheartedly recommended.

Eu também recomendo!

René Denon

Franz Schubert (1797-1828): Lieder (Auger, Orkis)

Joyce Arleen Auger foi uma cantora especialmente associada ao repertório vienense: Mozart, Haydn e também este álbum de Schubert gravado mais para o fim da sua vida que, infelizmente, não foi muito longa. Tampouco foi longa a vida de Franz Schubert, mas foi povoada por incontáveis melodias. O compositor Aaron Copland, em seu livro What to listen to in music, chama atenção para a gigantesca produção de Schubert como reflexo de sua personalidade como compositor, bastante diferente da de Beethoven. Isso não diminui a grandeza de Schubert, apenas o posiciona historicamente como alguém que vivia o comecinho do que entendemos como Romantismo em música e tinha certas diferenças em relação ao seu contemporâneo Beethoven, embora Schubert tivesse enorme admiração pelo alemão falecido em Viena um ano antes dele:

O tipo que mais tem fascinado a imaginação pública é o do compositor de inspiração espontânea – em outras palavras, o tipo Franz Schubert. Todos os compositores, naturalmente, são inspirados, mas esse tipo é o de inspiração mais fácil. A música parece jorrar de cada um deles. Muitas vezes, eles não são capazes de anotar as ideias na rapidez em que elas lhe ocorrem. Esse tipo de compositor pode ser identificado pela abundância da sua produção. Em certas épocas, Schubert escrevia uma canção por dia …
Invariavelmente, eles trabalham melhor nas formas mais curtas. É muito mais fácil improvisar uma canção do que improvisar uma sinfonia.
Beethoven simboliza o segundo tipo – o tipo construtivo, como se poderia chamar. Beethoven não era absolutamente um compositor ao estilo de Schubert, bem-amado da inspiração; era obrigado a seguir o caminho mais longo, começando com um tema, transformando-o em uma ideia germinal, e construindo em cima disso uma obra completa, em um trabalho diário e exigente. Desde os dias de Beethoven, esse tipo de compositor tem se revelado o mais comum.
(A. Copland, trad. L. P. Horta)

Franz Schubert (1797-1828):
1. Gretchen am Spinnrade, Op. 2, D. 118
2. Heidenröslein, Op. 3.3, D. 257
3. Lieb Minna, D. 222
4. 3 Lieder, Op. 19.3, Ganymed, D. 544
5. Geheimes, Op. 14.2, D. 719
6. Auf dem See, Op. 92.2, D. 543
7. 3 Lieder, Op. 92.1, Der Musensohn, D. 764
8. Suleika I, Op. 14.1 No. 1, D. 720
9. Suleika II, Op. 31, D. 717 “Ach um deine feuchten Schwingen”
10. Daß sie hier gewesen, Op. 59.2, D. 775
11. 3 Lieder, Op. 20.1, Sei mir gegrüßt, D. 741
12. Du bist die Ruh, Op. 59.3, D. 776
13. Lachen und Weinen, Op. 59.4, D. 777
14. Seligkeit, D. 433
15. An die Nachtigall, Op. 98.1, D. 497
16. Wiegenlied (Schlafe, schlafe) D498
17. Am Grabe Anselmo’s, Op. 6.3, D. 504
18. 4 Lieder, Op. 88.4, An die Musik, D. 547
19. Die Forelle, Op. 32, D. 550
20. Auf dem Wasser zu singen, Op. 72, D. 774
21. 2 Lieder, Op. 43.1, Die junge Nonne, D. 828
22. 4 Lieder, Op. 106.4, An Sylvia, D. 891
23. Ständchen, D. 889

Fortepiano: Lambert Orkis
Soprano: Arleen Auger
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Joyce Arleen Auger (1939 – 1993)

Pleyel

Schubert (1797 – 1828): Moments Musicaux & Sonata para Piano em lá maior, D. 959 • Steven Osborne ֎

Schubert (1797 – 1828): Moments Musicaux & Sonata para Piano em lá maior, D. 959 • Steven Osborne ֎
Junto com outras duas sonatas para piano e o sublime Quinteto de Cordas, a Sonata para Piano em Lá maior D959 é uma das quatro obras-primas visionárias que Schubert concluiu em 1828 e que estariam entre as últimas coisas que ele escreveu.    

[trecho do site da Hyperion]

A Sonata para Piano gravada neste disco foi composta com mais outras duas nos últimos meses de vida de Schubert, entre a primavera e o outono de 1828. Essas três obras são espetaculares, produção de um compositor que desenvolveu todos os seus talentos e estava no domínio completo de sua arte. Schubert tinha em alta conta as obras de Haydn e Mozart e veneração pela obra de Beethoven, de quem foi contemporâneo, mas sua obra, especialmente a música de câmara, Lieder e as obra para piano, revelam uma voz distinta, única.

É impressionante como o desenvolvimento de uma personalidade artística toma um próprio tempo para se estabelecer em diferentes artistas e como esses talentos individuais podem revelar-se de maneira proporcional ao tempo biológico de cada um deles.

Basta considerar o exemplo de Schubert, que atingiu essas alturas aos 31 anos, a poucos meses do fim, enquanto Beethoven, aos 31 anos tinha sob seu cinturão a Primeira Sinfonia e estava a um ou dois anos de apresentar a Segunda Sinfonia com grande parte de suas obras ainda por vir. Ou seja, se sua personalidade artística ainda não se revelou, pode ser que você ainda não tenha vivido o suficiente…

Schubert também tinha atenção para a música de compositores menos grandiosos. A coleção de Momentos Musicais segue a tradição de coleção de peças em voga naquelas dias, como os Impromptus de Jan Václav Voříšek. E não são menos adoráveis por isso.

Este disco é mais uma pérola na ótima discografia do pianista Steven Osborne construída na gravadora Hyperion, alguns deles disponíveis e resenhados no seu PQP Bach mais próximo…

Este é para ser ouvido e ouvido de novo, para grande deleite de vossas mercês…

Franz Schubert (1797 – 1828)

 Piano Sonata No. 20 in A Major, D. 959

  1. Allegro
  2. Andantino
  3. Scherzo. Allegro vivace
  4. Rondo. Allegretto

Moments musicaux, D. 780

  1. 1 in C Major. Moderato
  2. 2 in A-Flat Major. Andantino
  3. 3 in F Minor. Allegro moderato
  4. 4 in C-Sharp Minor. Moderato
  5. 5 in F Minor. Allegro vivace
  6. 6 in A-Flat Major. Allegretto

Steven Osborne, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 159 MB

Um papinho com o cara da postagem…

 

‘This is a performance of D959 that was still resonating in my mind long after I’d finished listening: it’s that good. Superb Schubert from Steven Osborne, a new release from Hyperion—it’s my Record of the Week’ (BBC Record Review)

‘The Moments musicaux speak with a morning freshness throughout, each imbued with its own unmistakably individual identity’ (Gramophone)

Aproveite!

René Denon

Steven todo prosa com seu novo disco…

Caso você tenha acesso às plataformas de distribuição de músicas, aqui está uma possibilidade para a audição:

Nagasaki, Ano 80 – A Música dos Gaikokujin [Schnittke – Schafer – Haitzeg – Offermans – Schubert]

9.8.1945 11:02 [Foto do autor]

Abençoada por um clima ameno e uma localização privilegiada, a linda Nagasaki já tinha para contar uma longa história de interação com forasteiros antes de, há exatos oitenta anos, receber de seus céus a mais hedionda das surpresas.

Os primeiros a chegar foram os portugueses, a quem chamaram nanbanjin (“bárbaros do sul”). Depois, os ingleses e neerlandeses foram algo melhor recebidos, decididamente não por sua aparência (que os levou a serem denominados kōmōjin,“gente ruiva”), e sim porque em sua pauta costumava estar só o comércio, e não o proselitismo católico que acompanhava os lusos, reprimido ao longo de vários xogunatos com uma violência que transformou o Japão numa usina de mártires. A reabertura dos portos japoneses, já no século XIX, trouxe ao maravilhoso porto natural de Nagasaki uma variada fauna estrangeira que aquela nação, provavelmente a de maior homogeneidade étnica de todos os tempos, perplexamente denominou ijin (“pessoas diferentes”). Com o tempo, consolidou-se o termo gaijin (“pessoa de fora”), que, aos poucos, ganhou uma conotação pejorativa que o faz ser preterido em conversas educadas em prol do polido gaikokujin (“pessoa de país estrangeiro”).

 

IX – YAIZU

A primeira bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima em 1945, seguida por uma segunda bomba sobre Nagasaki.
Em 1954, uma bomba de hidrogênio explodiu no atol de Bikini. A tripulação do Daigo Fukuryu Maru, um barco de pesca do porto de Yaizu, foi coberta pelas cinzas da morte. Seis meses depois, Kuboyama Aikichi morreu. Os japoneses foram vítimas de armas nucleares três vezes.

[Posfácio, maio de 1983]
Não apenas os japoneses, mas também os micronésios próximos ao atol de Bikini foram atingidos pela precipitação radioativa mortal da bomba de hidrogênio. Toda a ilha foi poluída. Aqueles que fugiram retornaram posteriormente à sua terra natal, Bikini, apenas para desenvolver câncer e leucemia devido à radiação residual. Muitos ainda sofrem.
Yaizu e Bikini — um destino compartilhado.

[1955]

Atacada meros três dias depois de Hiroshima, Nagasaki pareceu sempre tocar segundo violino para sua icônica irmã de desgraça. Hiroshima foi, desde o começo, a primeiríssima da infame lista de alvos escolhidos a dedo pelos perpetradores entre as mui poucas cidades japonesas de algum tamanho que ainda não tinham sido arrasadas por bombardeios incendiários (porque de nada valeria, segundo suas mentes brilhantes, testar o poder de destruição da arma nova onde só houvesse escombros). Já Nagasaki e suas duzentas e cinquenta mil almas não eram sequer o alvo preferencial da alegre trupe do Bockscar naquela quinta-feira de tempo casmurro: a ordem era de atacar a cidade de Kokura (hoje distrito de Kita-Kyushu), mas os céus encobertos fizeram a carga mortífera ser transportada ao alvo alternativo. As nuvens que salvaram Kokura quase repetiram a dose sobre Nagasaki, até que uma infeliz brecha entre elas permitiu o despejo de Fat Man diretamente sobre a Catedral de Urakami, aniquilando imediatamente quarenta mil pessoas e outras tantas nos meses seguintes.

Se Hiroshima, plana como uma panqueca, fora arrasada por completo por um artefato menos poderoso que Fat Man, Nagasaki acabou relativamente poupada pelo relevo montanhoso e pela localização periférica do hipocentro da explosão. Além disso, o ataque, que atingiu em cheio o subúrbio católico de Urakami, fez um número desproporcional de vítimas entre dois grupos tradicionalmente segregados: os supracitados cristãos, e os burakumin, casta associada a profissões consideradas impuras, em especial aquelas ligadas à morte, como coveiros, açougueiros e trabalhadores de curtumes. Assim, com o fardo mais letal caindo sobre lombos já marginalizados, Nagasaki nunca considerou o ataque, ao contrário de Hiroshima, como parte central de sua identidade. “A bomba caiu em Urakami, não em Nagasaki”, dizia-se na época, enquanto os jornais mostravam a catedral destruída, na tentativa de associar a desgraça às suas vítimas cristãs, e alguns praticantes do xintoísmo, então religião oficial do Império, insinuavam que a destruição vinha como castigo pela aceitação da religião agourenta trazida do estrangeiro.


X – PETIÇÃO
Parem a bomba atômica! Parem a bomba de hidrogênio! Parem a guerra!
O apelo das mães do bairro de Suginami, em Tóquio, espalhou-se por todo o Japão. Crianças, mães, pais, idosos e trabalhadores de todos os tipos assinaram a petição.
Pela primeira vez, o clamor abafado do povo foi ouvido, e milhões assinaram a petição pela paz.

[1955]


Takashi Nagai (1908-1951)

Os cristãos de Nagasaki, uma vez mais acuados, não demorariam a encontrar seu ícone em meio às ruínas: Takashi Nagai, um médico que sobreviveu a explosão e, a despeito de seus graves ferimentos, dedicou-se de maneira abnegada a cuidar dos feridos. Ao retornar à sua casa, dias depois do ataque, encontrou, de sua esposa, apenas alguns ossos e o rosário derretido. Católico devoto, tido como santo pelos correligionários, Nagai foi uma figura controversa por afirmar que a destruição da comunidade cristã fora um sacrifício divinamente inspirado que, aceito por Deus, teria posto um fim à guerra – o que, para seus muitos críticos, privava as vítimas do ataque, dentre outros, do direito à ira, à revolta e à busca de reparação. Antes de morrer de leucemia aos quarenta e três anos, certamente em consequência da radiação, publicou suas memórias, intituladas “Os Sinos de Nagasaki”, que foram levadas às telas do cinema num longa-metragem homônimo de grande sucesso. Sua canção-título, Nagasaki no Kane, composta pelo veterano Yuji Koseki em 1949, viria a ser a primeira obra musical a citar o ataque, ainda que de maneira muito tangencial: à sombra da ferrenha censura das forças ocupantes, a canção, discorre sobre os sentimentos de Nagai, enlutado e mortalmente doente, a alentar-se de esperança ao ouvir os sinos da catedral reconstruída – sem que haja qualquer menção ao que a destruiu:


Mesmo olhando para o céu mais brilhante,
sinto dolorosamente a tristeza mais profunda.
No mundo humano sempre ondulante,
sou apenas uma flor silvestre passageira:
Tranquilamente, alegremente, em Nagasaki,
Soam os sinos de Nagasaki.

Convocada por Deus, minha esposa
Voltou para o céu, me deixando só neste mundo.
Quando olho para o rosário que deixou de lembrança,
Só encontro os traços das minhas lágrimas:
Tranquilamente, alegremente, em Nagasaki,
Soam os sinos de Nagasaki”

[traduzido livremente pelo autor]


Nagai também publicou vários poemas que foram postos em música. Seu principal parceiro foi o hibakusha Fumio Kino, um músico amador que, como ele, perdera a casa e a família no ataque. Uma das composições da dupla, Ano ko (“Aquela criança”, 1949), homenageia os trezentos alunos da Escola Primária Yamasato incinerados pela explosão, ao contemplar os vestígios deixados por um deles:


Os rabiscos permanecem na parede,
O nome daquela criança,
rabiscado em letras infantis.

Grito em voz baixa e
me esforço para ouvir:

Ah, se aquela criança ainda estivesse viva…

[traduzido livremente pelo autor]


A escola foi reconstruída, e Ano Ko é anualmente cantada por seus alunos nas cerimônias de 9 de agosto em Nagasaki, assim como outra composição de Kino, Kora no mitama yo (“As Almas das Crianças”), homenagem à Escola Primária Shiroyama e suas quatrocentas vítimas, também honradas em coro por seus colegas de hoje em dia.


XI – MÃE E UMA CRIANÇA

Pais foram forçados a abandonar filhos presos sob casas destruídas, filhos abandonaram pais, maridos abandonaram esposas e esposas abandonaram maridos, todos em fuga frenética do incêndio. Essa era a realidade na época da bomba atômica.
Ainda assim, em meio a tudo isso, muitos testemunharam a visão milagrosa de crianças que sobreviveram, seguras firmemente nos braços de suas mães mortas.

[1959]


Afora esses tributos pequenos, ainda que muito célebres, houve poucas outras contribuições de compositores japoneses em honra às vítimas do ataque a Nagasaki. A mais significativa delas viria quase trinta anos depois de Fat Man: em 1974, a cidade encomendou um poema sinfônico com seu nome a Ikuma Dan, que regeu a estreia e, aparentemente, perdeu sua partitura. Nagasaki passou cinquenta anos sem reapresentações até ser reconstruído e novamente executado ano passado, vinte e três anos após a morte do compositor. Outra contribuição, muito singela, é a canção Senbazuru (“Mil Grous”), composta por Michiru Ōshima com letra da hibakusha Kanae Yokoyama. Nascida em Nagasaki, Ōshima estreou-a na cerimônia do quinquagésimo aniversário do ataque à sua cidade, dedicando-a à menina Sadako Sasaki. Exposta à radiação em Hiroshima e desenganada pela leucemia, Sadako acreditava poder salvar-se se completasse mil tsuru (grous, símbolos tradicionais de convalescência e longevidade) em origami, a arte japonesa de dobraduras em papel. Sadako faleceu ao completar 646, e seus colegas providenciaram para seu funeral os tsuru que faltavam. Desde então, centenas de milhares de tsuru são anualmente enviados ao memorial consagrado a Sadako em sua cidade por gente do mundo todo – inclusive este escriba.


Reafirmando o compromisso com a paz,
Nós dobramos grous escarlates.

Almas de coração puro,
Nós dobramos grous brancos.

Em emoções ardentes,
Nós dobramos grous vermelhos.


Como puderam perceber, a indignação e as evocações cataclísmicas tão prevalentes nas composições japonesas inspiradas pelo ataque a Hiroshima estão virtualmente ausentes naquelas alusivas a Nagasaki. “Hiroshima se enfurece, Nagasaki reza”, diz-se no Japão. E parece mesmo que sim: ao reconstruir-se como a cidade aberta ao mundo que sempre almejou ser, Nagasaki tentou dar de ombros para as lembranças dolorosas da guerra. Seus visitantes de hoje em dia, diferentemente de quem vai a Hiroshima, só encontram indícios dos horrores de 9 de agosto de 1945 se os buscarem muito ativamente. Por isso, talvez, a maior parte dos tributos musicais que lhe foram prestados não veio de compositores japoneses, e sim de dedicados gaikokujin.

O primeiro entre eles (e, por muito tempo, também o único) foi o enfant terrible Alfred Schnittke, que apresentou seu oratório Nagasaki (1958) como peça de formatura aos catedráticos de composição do Conservatório de Moscou. Levou tomates, como sempre, e foi acusado de formalismo – o que lhe deve ter inspirado gargalhadas histéricas pelo resto de sua vida, cada vez que imaginava como a sisuda banca examinadora reagiria ao poliestilismo que marcaria seu estilo maduro. Mais ainda: foi obrigado a aguar as tintas sonoras com que descreveu a explosão e suas consequências, o que descaracterizou tanto a obra que o levou a renegá-la e esquecê-la. O oratório só voltaria a ser apresentado na forma original quarenta e oito anos após sua estreia, em sua primeira apresentação pública, na magnífica Cidade do Cabo. Felizmente para nós outros, a sorte resolveu sorrir um pouco para Schnittke depois de sua morte, e hoje há em sua Rússia natal tanto um Instituto Musical como uma orquestra e um coro que levam seu nome, e são eles que lhes trarão Nagasaki na gravação que ofereço, exatamente como seu autor a concebeu.

Hic iacet Alfredus

Ao contrário daquela peça homônima mais célebre (baixe-a aqui), escrita por Penderecki num exercício de abstração e dedicada à vítimas de Hiroshima somente a posteriori,  o canadense R. Murray Schafer (autor do interessantíssimo livretinho A Nova Paisagem Sonora) tinha em mente os gritos, queimaduras e ventos nucleares que assolaram Nagasaki ao compor sua Trenodia (1970). Nas palavras do autor:

Os textos lidos pelos jovens narradores em ‘Trenodia’ são relatos de crianças testemunhando o bombardeio atômico de Nagasaki em 9 de agosto de 1945. A orquestra e os coros ilustram essa cena aterrorizante. Recebi a encomenda de uma peça para a Orquestra Sinfônica Júnior de Vancouver logo após chegar para lecionar na Universidade Simon Fraser.

Eu queria escrever uma peça para aqueles jovens intérpretes que os fizesse refletir sobre questões sociais. A Guerra Fria estava a todo vapor em 1967, e os estoques de armas nucleares estavam crescendo rapidamente. Eu sabia que esses relatos extremamente explícitos de sofrimento e morte afetariam tanto os intérpretes quanto seus pais, forçando-os a considerar seriamente as consequências de uma guerra nuclear. Como havia inúmeras passagens em que os intérpretes eram obrigados a criar sua própria música para acompanhar textos específicos, eles tinham um papel mais sério a desempenhar do que se tivessem simplesmente herdado uma expressão pronta do compositor. Houve lágrimas após a apresentação.

Mas também me lembro de um homem que se aproximou de mim, desafiador, e disse: ‘Vamos lançar de novo!’. Remoí por meses que uma obra dedicada à causa da paz tenha provocado sentimentos tão raivosos. Mas, graças a Deus, nenhuma bomba atômica foi lançada desde então“.


XII – LANTERNAS FLUTUANTES
Em 6 de agosto, os sete rios de Hiroshima enchem-se de lanternas flutuantes, com os nomes de pais, mães e irmãs gravados.
A maré muda antes que as lanternas cheguem ao mar, e elas são levadas de volta para a cidade pelas ondas. Agora apagadas, a massa de lanternas amassadas flutua nas correntes escuras do rio.
Naquele dia, no passado, esses mesmos rios fluíam densos de cadáveres.

[1968]



Igualmente inventiva é a composição Vozes de Nagasaki, do flautista neerlandês Wil Offermans, que faz parte da Suíte Dejima, criada por Offermans em conjunto com o Templo Kofuku-ji em Nagasaki para celebrar os 400 anos de relações entre os Países Baixos e o Japão. Inspirada pela longa tradição de interações culturais da cidade, a peça descreve sua beleza e a da natureza circundante. As “vozes aleatórias” humanas previstas na partitura representam vozes do passado e, por isso, são expressões de alegria, de medo, de amor e da existência humana em geral. Para a apresentação, as várias partes de flauta também podem ser duplicadas, com um grupo maior, de preferência o público, assumindo as “vozes aleatórias”. O resultado é encantador.


XIII – MORTE DO PRISIONEIRO DE GUERRA

Cerca de trezentos mil japoneses morreram devido às bombas atômicas que vocês lançaram. Mas suas bombas atômicas também mataram 23 jovens do seu próprio país. Americanos que haviam saltado de paraquedas em ataques aéreos antes do bombardeio de Hiroshima foram mantidos lá como prisioneiros de guerra. Alguns disseram que também havia mulheres prisioneiras de guerra.
Nós nos perguntamos como elas eram quando morreram, que roupas, que sapatos usavam.
Fomos a Hiroshima e ficamos chocados com o que descobrimos. Como os prisioneiros de guerra americanos estavam mantidos em abrigos subterrâneos perto do centro da explosão, eles provavelmente teriam morrido em pouco tempo. Ou, talvez, alguns pudessem ter sobrevivido. Mas, antes que seu destino pudesse ser conhecido, os japoneses os massacraram, soubemos.
Tremíamos enquanto pintávamos a morte dos prisioneiros de guerra americanos.
[1971]


A obra mais significativa em cinco décadas a se inspirar em Nagasaki veio a público ano passado. Encomendada pela Orquestra Sinfônica de Saint Paul, capital do estado norte-americano de Minnesota e cidade-irmã de Nagasaki desde 1955, Green Hope after Black Rain (“Esperança Verde após Chuva Negra”) foi composta por Steve Heitzeg em tributo não só às vítimas dos ataques ao Japão, mas também aos japoneses e seus descendentes que foram confinados em campos de concentração nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra. Seu título faz referência às imensas canforeiras do santuário Sannō de Nagasaki, que, arrancadas e calcinadas pela explosão, foram dadas como mortas até que lhe surgissem brotos. Replantadas no seu lugar original, servem desde então de símbolo da reconstrução da cidade e da esperança de seus moradores em que da devastação, por fim, algum dia ressurgiria a vida. Nas palavras de seu compositor:

Compus ‘Esperança Verde Após a Chuva Negra’ (Sinfonia para os Sobreviventes de Manzanar, Hiroshima e Nagasaki) em homenagem aos sobreviventes dos campos de concentração nipo-americanos (o maior dos quais foi Manzanar, no estado da Califórnia] e às pessoas e árvores bombardeadas em Hiroshima e Nagasaki.

A sinfonia é um apelo à paz e um protesto contra a injustiça, a bomba atômica e outras armas de destruição em massa, e a insanidade da guerra.

A partitura inclui vários instrumentos de percussão natural, como galhos, folhas, flores de cerejeira secas e vagens de sementes de ginkgo biloba, eucalipto, cânfora e cerejeiras de Hiroshima e Nagasaki, um tambor taiko, pedras do campo de concentração nipo-americano de Manzanar e de Hiroshima, um sino de templo e guirlandas de tsuru de origami.”

A gravação que compartilho foi feita a partir da transmissão por rádio da estreia mundial da obra, dada pela orquestra de Saint Paul no ano passado. Para minha grata surpresa, quando esta postagem já estava no prelo, soube que a première japonesa aconteceu há algumas semanas, quando as Orquestras de Saint Paul e de Nagasaki tocaram juntas no Japão. Melhor ainda: ela foi gravada em vídeo e está disponível na cyberesfera:

Minha homenagem às vítimas de Nagasaki encerra-se com a mais improvável das contribuições. Afinal, enquanto o garoto Franz Schubert escrevia Heidenröslein em 1815, aos dezoito anos, o Japão vivia o isolamento do período Edo, samurais singravam seu território a serviço de senhores feudais, e tanto aeronaves quanto a fissão nuclear estavam ainda muito distantes dos céus japoneses. Na segunda metade daquele século, a abertura dos portos às nações estrangeiras levaria a organização política e a sociedade do país a rápidas transformações. A música europeia tomou de assalto os salões recém-formados, e a educação musical foi incorporada ao currículo das escolas. A urgência em criar e expandir um repertório para os conjuntos vocais escolares levou não só a arranjos de canções tradicionais, como também a versões japonesas de canções europeias – entre elas, a da pequena rosa baldia imaginada por Goethe, transformada em japonês numa rosa selvagem (Nobara), que se tornou imensamente popular entre as crianças do Japão, muitas das quais sequer imaginam que a música foi composta por um genial gaikokujin.

Os leitores-ouvintes que assistiram a Rapsódia em Agosto (1991), o penúltimo filme do demiurgo Akira Kurosawa, talvez tenham reconhecido nele a melodia da rosa baldia, cantada pelas crianças que visitam a avó hibakusha em Nagasaki e ouvem da anciã suas reminiscências de luto e ressentimento. Talvez também tenham, como eu, achado a primeira hora e tanto do filme algo simplória e esquemática, e assim mordido a isca deixada pelo velho Kurosawa, mestre consumado do movimento e da manipulação, só para serem conduzidos àquela cena final que…

Bem, que nunca mais lhes permitirá escutar Nobara sem que ela lhes rasgue os corações.

XIV – CORVOS

Japoneses e coreanos se parecem. Como distinguir um rosto impiedosamente queimado do outro?
‘Após a bomba, os últimos cadáveres a serem eliminados foram os coreanos. Muitos japoneses sobreviveram à bomba, mas pouquíssimos coreanos. Não havia nada que pudéssemos fazer. Corvos vieram voando, muitos deles. Os corvos vieram e comeram os globos oculares dos cadáveres coreanos. Eles comeram os globos oculares.’ (Dos escritos de Ishimure Michiko.)
Os coreanos foram discriminados até mesmo na morte. Os japoneses discriminaram até mesmo os cadáveres. Ambos foram vítimas asiáticas da bomba.
Lindos chima-jeogori [traje nacional coreano], voem de volta para a Coreia, para o céu sobre a pátria. Humildemente oferecemos esta pintura. Rezamos.
Cerca de cinco mil coreanos morreram em massa em Nagasaki, para onde foram levados como trabalho forçado para os estaleiros da Mitsubishi. Há histórias semelhantes sobre coreanos em Hiroshima.
Somente na Coreia do Sul, quase quinze mil hibakusha vivem hoje sem reconhecimento oficial de seu status como sobreviventes da bomba atômica.
[1972]

 

NAGASAKI, ANO 80

Yūji KOSEKI (1909-1989)
Letra de Hachirō Satō

1 – Nagasaki no Kane (“Os Sinos de Nagasaki”)

Yumi Aikawa, contralto
Meisterbrass Quartett


Fumio KINO (1907-1970)
Poemas de Takashi Nagai (1908-1951)

2 – Ano ko (“Aquela Criança”)
3 – Shirayuri otome (“Virgens como os Lírios Brancos”)

Ensemble Vocal Ephémère

Fumio KINO
Poema de Hachirō Shimauchi

4 – Kora no mitama yo (“As Almas das Crianças”)

Coro dos alunos da Escola Municipal Shiroyama de Nagasaki


Alfred Garrievich SCHNITTKE (1934-1998)

Nagasaki, oratório para coro misto, mezzo-soprano, orquestra sinfônica e órgão, Op. 19

5 – “Nagasaki, cidade da dor” (poema de Anatoly Sofronov )
6 – “A Manhã” (poema de Tōson Shimazaki )
7 – “Naquele dia fatídico” (poema de A. Sofronov)
8 – “Nas Cinzas” (poema de Eisaku Yoneda)
9 – “O Sol da Paz” (poema de Georgy Fere)

Ksenia Vyaznikova, mezzo-soprano
Evgenia Krivitskaya, órgão
Coro e Orquestra Sinfônica do Instituto Estatal de Música “Schnittke” de Moscou
Igor Gromov, regência


Raymond Murray SCHAFER (1933-2021)

10 – Threnody (“Trenodia”), para coro e orquestra de jovens, cinco narradores e música eletrônica (1970)

Carole Hoskins, Elizabeth Luther, Ellen Procunier, Eric Mah e Marg Turl, narradores
Lawrence Park Collegiate Choir
Lawrence Park Collegiate Orchestra
North Toronto Collegiate Orchestra
John P. Barron, regência


Steve HEITZEG (1959)

Green Hope After Black Rain (“Esperança Verde após Chuva Negra), Sinfonia para os sobreviventes de Manzanar, Hiroshima e Nagasaki (2024)

11 – Peregrinação ao Campo de Internação de Manzanar (um conjunto de variações contra a injustiça, dedicado à memória de Sue Kunitomi Embrey): “Remoção Forçada” – “Na Entrada do Campo de Internação de Manzanar” – “Ireito (Torre de Consolação da Alma)” – “No Túmulo do Bebê Toshiro ‘Jerry’ Ogata” – “Relembrando Manzanar (Nidoto Nai Yoni: ‘Que isso não aconteça novamente.’)” – “Os fantasmas de Manzanar”
12 – Vento sem Retorno (para os hibakusha – o povo bombardeado), dedicado a Setsuko Thurlow: “Sombras Nucleares” – “Guirlandas de tsuru de Papel de Origami” – “Rumo a Mil tsuru de Origami”
13 – Sementes da Paz (para as hibakujumoku — as árvores bombardeadas de Hiroshima e Nagasaki), dedicada a Nassrine Azimi e Tomoko Watanabe: “Dança das Sementes” — “Entre Árvores Sagradas” — “Testemunha das Árvores” — “As Cerejeiras de Kayoko” (21 notas para os 21 dias de busca de Tsue Hayashi por sua filha Kayoko) — “A Cura das Folhas”

The Saint Paul Civic Symphony Orchestra
Jeffrey Stirling, regência

Gravação da estreia mundial


Wil OFFERMANS (1959)

14 – Voices of Nagasaki (“Vozes de Nagasaki”) para conjunto de flautas

Conjunto de Flautas de Zagreb


Ikuma DAN (1924-2001)

15 – Nagasaki, Poema Sinfônico para coro misto e orquestra (1974)

Coro da Federação Coral de Nagasaki
Orquestra Sinfônica de Kyushu
Ikuma Dan, regência

Gravação da estreia mundial


Michiru ŌSHIMA (1961)
Letra de Kanae Yokoyama

16 – Senbazuru (“Mil Grous”)

Coro da Federação Coral de Nagasaki
Orquestra Sinfônica de Nagasaki
Masanori Mikawa, regência

17 – Senbazuru

Amane Machida, soprano


Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Poema de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), traduzido por Sakufu Kondo (1880-1915)
Arranjo de Shin’ichirō Ikebe (1943) para a trilha sonora do filme Hachigatsu no Kyōshikyoku (“Rapsódia em Agosto”) de Akira Kurosawa (1991)

18 – Nobara (“Rosa Selvagem”), versão japonesa de Heidenröslein, D. 257

Coro Infantil Hibari (Hibari Jido Gasshodan)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE


XV – NAGASAKI
A cidade-alvo de Kokura estava coberta por nuvens espessas, e os dois B-29 voaram para o alvo alternativo, o porto de Nagasaki. A visibilidade também era ruim, então a bomba atômica foi lançada sobre a siderúrgica Mitsubishi, nos arredores da cidade.
A bomba explodiu diretamente acima da catedral católica em Urakami, matando os padres e aqueles que ali se reuniam para o culto. Os mortos foram espalhados em círculos concêntricos infinitos, com a catedral no centro.
A bomba de Nagasaki era feita de plutônio e era mais poderosa que a bomba de Hiroshima. Mais uma bomba atômica. Nagasaki foi devastada. Cento e quarenta mil pessoas morreram.

[1982]

 

As pinturas e legendas que ilustram esta postagem são parte da série de quinze Painéis de Hiroshima, realizada entre 1950 e 1982 pelo casal  Iri e Toshi Maruki, e que se encontra em exibição permanente na Galeria Maruki, em Saitama, Japão (exceto o último painel, intitulado Nagasaki, doado ao Museu da Bomba Atômica daquela cidade). Convido os leitores-ouvintes uma vez mais a me acompanharem numa doação em prol da preservação dessas inestimáveis obras de arte, bem como em outra para apoiar a ICAN (Campanha Internacional para Abolição das Armas Nucleares), recipiente do Prêmio Nobel da Paz de 2017, e ajudar a manter, entre outras iniciativas, seu Memorial às 38 mil crianças mortas nos ataques.


Publicado no 80° aniversário do ataque criminoso a Nagasaki e dedicado à memória de suas dezenas de milhares de vítimas inocentes.

Nunca as esqueceremos.

Vassily

In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 1 de 11: Volumes 1, 3 & 12 (Clássicos Favoritos I, II & III)

Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos (e percebam que nem mencionei seu instrumento!), completaria hoje 85 anos. Para celebrar seu legado extraordinário e honrar sua memória, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de hoje até 30 de outubro, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a primeira das onze partes de nossa eulogia ao gigante.

Partes:     |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII   |   IX   |   X   |   XI


Se me perguntassem qual minha primeira memória de Arthur Moreira Lima, eu provavelmente lhes diria que ela é tão remota quanto a que eu tenho de um pianista. Nasci sob o Terror e cresci entre os ventos da Abertura que traziam de volta quem partira em rabos de foguete. Em minha casa ouvia-se muita música – nenhuma que atraísse cassetetes, e quase sempre daquela prevalente em elevadores e consultórios odontológicos. Ainda assim, era música bastante para que a aparição de um pianista na tela da TV, daquelas de antenas finamente ajustadas com palha de aço, não fosse sumariamente rechaçada por uma mudança de canal para a novela da vez. E o pianista, bem, ele era sempre o mesmo: aquele tipo de perfil pontiagudo, olhos a um só tempo alheios e dardejantes, de postura algo gibosa ao teclado e a drapejar sua cabeleira enquanto debulhava com os dedos coisas que eu não imaginava possíveis a mim, menino telespectador. Ele tocava de tudo, e em todo lugar, e ante centenas, milhares, dezenas de milhares de pessoas, e sozinho, e com orquestras, e em toda e qualquer companhia. No programa que teve na TV aberta, inimaginável nesses nossos tristes tempos de Tigrinho, dividiu a ribalta com chorões e roqueiros, seresteiros e jazzistas; mostrou-me Ney Matogrosso pela primeira vez de cara limpa e apresentou-me o semideus Raphael Rabello, que toca, como Gardel canta para os argentinos, cada dia melhor. Entre um número e outro, com o maroto sotaque que nunca renegou seu berço, entrevistava seus convidados com muita descontração – tanta que promoveu o seguinte diálogo entre meus genitores:

– Esse é aquele pianista?
– É.
– Bem informal, hein?
– Sim.
– Nem parece pianista…

O programa saiu do ar sem-cerimoniosamente, e eu, exceto por um LP e outro que encontrava em briques, fiquei sem saber do madeixudo carismático, até o dia em que, exaurido por um plantão no pronto-socorro e disposto a tudo para ver algo que não fosse sangue ou pus, encontrei um palco montado no meio do maior parque de minha Dogville natal. Sobre ele, um piano, e ante este – sim, adivinharam! – o pianista que nem parecia pianista, e que, contrariando tudo o que se dizia dele – que não estudava, que não se levava a sério, que estava decadente – despachava com segurança os arpejos do Estudo Op. 10 no. 1 de Chopin sob o olhar tietante duns gatos-pingados aos quais me juntei, lá na fila do gargarejo. Emendou, em seguida, o “Revolucionário“, o “Tristesse“, o das teclas pretas, e foi esgotando o Op. 10, estudo a estudo, inteiros ou em parte, até que faltou somente…

– O número 2, Arthur.
– Hein?
– Faltou o número 2.
– Cê me odeia, né? – gargalhava – Mas certamente não tanto quanto eu odeio o número 2.

E atacou o temido Op. 10 no. 2, com aquelas escalas rapidíssimas todinhas com os dedos fracos da mão direita, enquanto resmungava das tendinites que ele lhe trouxera.

– Que mais cês querem?
– …
– Digam logo, que daqui a pouco vão me levar à força pro camarim.
– Piazzolla, então!

E nos deu um Adiós Nonino com a mesma eletricidade que pôs suas madeixas em riste na memorável capa do álbum que dedicou a Astor. Ao terminar, com o produtor já a olhar com ganas de arrancá-lo do palco, um dos gatos-pingados lhe alcançou um número de telefone:

– Volto hoje para o Rio – explicava-se, enquanto guardava o papelucho na casaca – mas não deixo de te ligar.
– A costela está assando desde que saí de casa. Eu e ela te aguardamos.
– E a cerveja?
– Ela também. Mais gelada que em Moscou.

E foi arrastado para as coxias, de onde voltou para tocar um Tchaikovsky furioso com a Sinfônica de Dogville. Nunca soube se ele, enfim, telefonou para o churrasqueiro. Imagino que sim. Afinal, aquele ex-menino prodígio, de nobre arte forjada no Brasil e burilada na França e na União Soviética, capaz de dialogar com bolcheviques e mencheviques, maragatos e chimangos, cronópios e famas, sempre foi também um perfeito exemplo do que em minha terra se chama de “pau de enchente” –  aquele tipo que, como os galhos de árvores levados pelas enxurradas, vai parando aqui e ali – e nunca perdeu qualquer oportunidade de falar, de ouvir e de aprender.

– Decadente.
– Quê?
– Sim. Olha aí: tá vendendo disco na Caras!
– Eita…

O brasileiro não é gentil com seus heróis, e desancaram o heroico Sr. Pau de Enchente quando ele lançou sua antologia pianística a preços módicos e acessível em qualquer banca de revistas. Onde outros viam dinheirismo e decadência, eu, seu desde sempre tiete, só via generosidade – a mesma que o fez tocar para aquelas centenas, aqueles milhares, aquelas dezenas de milhares de gentes, a brilhar na TV e matar de inveja tantos colegas de ofício, a implodir o Muro da Vergonha entre os assim chamados “erudito” e “popular’, e que o levaria, em seu caminhão-teatro feito Caravana Rolidei, a tocar para compatriotas que nunca tinham visto um piano na vida.

Eu nunca consegui lhe agradecer, que se dirá o bastante – se é que haveria gratidão suficiente para tanta dedicação aos ouvidos de seu país! Até tive oportunidades: afinal, tanto eu quanto Sr. De Enchente escolhemos a mesma ilha para passar nossos últimos anos. Por algum tempo, inclusive, compartimos a mesma praia em que, vez que outra, nossos percursos se cruzavam. Numa delas, ele jogava bola com uma criança que, com um pontapé somado ao vigor do Vento Sul, mandou a redondinha na minha direção. Eu, que tenho dois pés esquerdos, devolvi-a com uma vergonhosa rosca para os devidos donos. Já me conformava com a ideia de ir buscá-la ainda mais longe, quando, antes mesmo dela quicar no chão, aquele torcedor doente do Fluminense Football Club aparou a pelota com um golpe seco que orgulharia o Príncipe Etíope e, com um toque de letra digno de Super Ézio, devolveu-a à remetente.

– Valeu, meu bom!

Craque com as mãos e com os pés, o Pelé e o Garrincha do Piano Brasileiro, gênio da raça: também tocas cada dia melhor! Venero-te tanto que jamais te conseguirei ser crítico. Se os leitores-ouvintes o quiserem, que assim sejam – mas minha homenagem aqui, ela terá só carinho e saudade ❤️.

Em memória de Fluminense Moreira Lima (16 de julho de 1940, Rio de Janeiro – Florianópolis, 30 de outubro de 2024) em seu 85º aniversário.


 

ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima

Volume 1: CLÁSSICOS FAVORITOS I

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Myra Hess (1890-1965)
Da Cantata “Herz und Mund und Tat und Leben“, BWV 147:
1 – Coral: Jesus bleibet meine Freude

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Da Sonata para piano no. 11 em Lá maior, K. 331:
2 –  Alla Turca: Allegretto

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Bagatela em Lá menor, WoO 59, “Für Elise”
3 – Poco moto

Carl Maria Friedrich Ernst Freiherr von WEBER (1786-1826)
Da Sonata para piano no. 1 em Dó maior, Op. 24:
4 – Rondo: Presto (“Perpetuum mobile“)

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Das Fantasiestücke, Op. 12:
5 – No. 3: “Warum?”

Ferenc LISZT (1810-1886)
Dos Grandes Estudos de Paganini, S. 141:
6 – No. 3: La Campanella

Jules Émile Frédéric MASSENET (1842-1912)
De Thaïs, ópera em três atos:
7 – Méditation (transcrição do compositor)

Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Da Música Incidental para Ein Sommernachtstraum (“Sonho de uma Noite de Verão”), de William Shakespeare, Op. 61:
8 – No. 9: Marcha nupcial (transcrição do compositor)

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Das Dezoito Peças para piano, Op. 72:
9 – No. 2: Berceuse

Sergei Vasilievich RACHMANINOFF (1873-1943)
Dos Morceaux de Fantaisie, Op. 3:
10 – No. 2: Prelúdio em Dó sustenido menor

Anton Grigorevich RUBINSTEIN (1829-1894)
Das Duas Melodias, Op. 3:
11 – No. 1: Melodia em Fá maior

Alexander Nikolayevich SCRIABIN (1872-1915)
Dos Doze Estudos, Op. 8:
12 – No. 12 em Ré sustenido menor, “Patético”

Achille Claude DEBUSSY (1862-1918)
Da Suite Bergamasque, L. 75:
13 – No. 3: Clair de Lune

Manuel DE FALLA y Matheu (1876-1946)
De El Amor Brujo, balé em um ato:
14 – Dança Ritual do Fogo (transcrição do compositor)

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Volume 3: CLÁSSICOS FAVORITOS II

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Ferruccio Busoni (1866-1924)

Da Toccata e Fuga em Ré menor para órgão, BWV 565:
1 – Toccata

Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
2 – Sonata em Mi Maior, L. 23 (K. 380)

Carl Philipp Emanuel BACH (1714-1788)
3 – Solfeggietto em Dó menor, H 220, Wq. 117:2

Georg Friedrich HÄNDEL
Da Suíte para Teclado no. 5 em Mi maior, HWV 430:
4 – No. 4: Ária com Variações, “The Harmonious Blacksmith”

Ludwig van BEETHOVEN
5 – Seis Escocesas, WoO 83

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
6 – Fantasia-Improviso em Dó sustenido menor, Op. 66

Gioachino Antonio ROSSINI (1792-1868)
Das Soirées Musicales:
7 – No. 8: La Danza (Tarantella Napolitana)

Felix MENDELSSOHN
Das Canções sem Palavras:
8 – Allegro non troppo (Op. 53 no. 2) – Allegretto grazioso (Op. 62 no. 6, Frühlingslied) – Presto (Op. 67 no. 4, La Fileuse)

Ferenc LISZT
Dos Liebesträume, Noturnos para piano, S. 541:
9 – No. 3 em Lá bemol maior

Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)
Do Peças Líricas, Livro III, Op. 43:
10 – No. 1: Papillon

Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
Das Oito Humoresques, Op. 101:
11 – No. 7 em Sol bemol maior

Pyotr TCHAIKOVSKY
Das Estações, Op. 37a:
12 – No. 11: Novembro (Troika)

Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Das Dez Peças para piano, Op. 12:
13 – No. 2: Gavota em Sol menor

Claude DEBUSSY
14 – La Plus que Lente, L. 121

Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Da Suíte Espanhola no. 1, Op. 47:
15 – No. 3: Sevilla

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Volume 12: CLÁSSICOS FAVORITOS III

Johann Sebastian BACH
Concerto em Ré menor, BWV 974 (transcrição do Concerto para oboé de Alessandro Marcello):
1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Allegro

Ludwig van BEETHOVEN
Transcrição de Ferenc Liszt (S. 464)
Da Sinfonia no. 5 em Dó menor, Op. 67:
4 – Allegro con brio

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Dos Improvisos para piano, Op. 90 (D. 899):
5 – No. 2 em Mi bemol maior

Robert SCHUMANN
6 – Arabeske em Dó maior, Op. 18

Ferenc LISZT
Das Soirées de Vienne d’après Schubert, S. 427:
7 – No. 6: Valse-caprice

Claude DEBUSSY
Das Deux Arabesques, L. 66:
8 – No. 1 em Mi maior

Christian August SINDING (1856-1941)
Das Seis Peças, Op. 32:
9 – No. 3: Frühlingsrauschen

Manuel de FALLA
De La Vida Breve, ópera em dois atos:
10 – Dança Espanhola no. 1 (arranjo do compositor)

Pyotr TCHAIKOVSKY
Das Estações, Op. 37:
11 – No. 6: Junho (Barcarola)

Sergei RACHMANINOFF
Dos Études-Tableaux, Op. 39:
12 – No. 9 em Ré maior

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Arthur Moreira Lima, piano

Gravações realizadas na Saint Philip’s Church em Londres, Reino Unido, em 1998
Piano Steinway and Sons
Engenheiro de som: Peter Nichols
Direção Musical, produção, edição e masterização por Rosana Martins Moreira Lima



Fãs de Arthur encontram-se doravante INTIMADOS a ouvir o podcast “Conversa de Pianista”, do Instituto Piano Brasileiro, em que nosso ídolo conversa com o incrível Alexandre Dias, e que foi ao ar em 2020:

“1ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele falou sobre como o piano começou em sua vida, suas primeiras aulas em família, seus primeiros recitais quando criança prodígio, e suas aulas com a grande professora Lúcia Branco, que o levou a participar do I Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro do 1957. Também comentou sobre grandes pianistas a que assistiu nas décadas de 1940 e 1950. Foram mencionados alguns dos assuntos que serão conversados nos próximos episódios, com especial atenção para sua rica discografia, e também sua premiação em importantes concursos internacionais de piano, como o Concurso Chopin (1965), Concurso de Leeds (1969) e o Concurso Tchaikovsky (1970). Nossa homenagem e agradecimento ao grande pianista Arthur Moreira Lima, que em 2020 completa 80 anos”.

Quem apreciar a entrevista encontra-se também intimado a apoiar o Instituto Piano Brasileiro, desde o Brasil ou do Exterior.

Em mais uma homenagem a Fluminense Moreira Lima, oferecer-lhe-emos um álbum de figurinhas com os heróis da final da Copa Rio de 1952, que certamente fizeram Arthurzinho chorar de alegria. Eis o arqueiro Carlos José Castilho, o Castilho (1927-1987).

Vassily

¡Que viva la Reina! – Martha Argerich, 84 anos [Rendez-vous with Martha Argerich, vol. 3]

Mais um outono para a Rainha, e desta feita ela nos presenteia com gravações novas – tão novas, claro, quanto podem ser as de alguém tão avessa aos estúdios e afeita a dividir a ribalta com jovens colegas e os parceiros de sempre. Estas que ora lhes apresento foram feitas algumas semanas depois do seu octagésimo aniversário, em junho de 2021, no festival que Martha vem consolidando em Hamburgo e no qual desfruta do privilégio de selecionar a pinça o tradicional petit comité que tem garantido muito de sua longeva alegria em pisar palcos.

No que tange a Sua Majestade, o melhor que ela nos oferece nesses volumes são a leitura da sonata Op. 30 no. 3 de Beethoven, com Renaud Capuçon – seu mais frequente e afiado parceiro ao arco, nos últimos anos -, um ebuliente Segundo Concerto de Ludwig, e o belíssimo Trio de Mendelssohn, ao lado de Mischa Maisky e da über-diva Anne-Sophie Mutter. A família Margulis – Jura, Alissa e Natalia – traz um azeitadíssimo Trio “Fantasma” e um mui tocante “Canto dos Pássaros”, joia folclórica catalã posta em pauta por Pau Casals. O variado cardápio também inclui as “Canções e Danças da Morte” de Mussorgsky, com o ótimo baixo Michael Volle, e uma Sonata para dois pianos e percussão de Bartók para a qual a Rainha, que tanto a tocou com nosso Nelson Freire, convidou seu outro Nelson favorito, o compatriota Goerner. O melhor retrogosto, entretanto, não foi o que veio de dedos hermanos, e sim das diminutas mãos de Maria João em Schubert – que maravilhosos, os dois improvisos! – e da última apresentação pública de Nicholas Angelich, um brahmsiano que sempre honrou o grande hamburguense e fez da Segunda Sonata para viola e piano seu canto de cisne.

ooOoo

Uma breve nota: a partir de hoje, mudarei a maneira de compartilhar música com os leitores-ouvintes. Cansei de ver a pedra rolar tantas vezes morro abaixo. Não farei mais comentários. Que venham os tomates.

Disco 1

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sete Variações para violoncelo e piano sobre “Bei Männern, welche Liebe fühlen”, da ópera “Die Zauberflöte” de Wolfgang Amadeus Mozart, WoO 46
1 – Thema. Andante
2 – Variation I
3 – Variation II
4 – Variation III
5 – Variation IV
6 – Variation V: Si prenda il tempo un poco più vivace
7 – Variation VI. Adagio
8 – Variation VII. Allegro ma non troppo

Mischa Maisky, violoncelo
Martha Argerich,
piano

Das Três Sonatas para violino e piano, Op. 30:
Sonata no. 3 em Sol maior
9 – Allegro assai
10 – Tempo di Minuetto, ma molto moderato e grazioso
11 – Allegro vivace

Renaud Capuçon,
violino
Martha Argerich,
piano

Dos Dois Trios para piano, violino e violoncelo, Op. 70:
No. 1 em Ré maior, “Fantasma”
12 – Allegro vivace e con brio
13 – Largo assai ed espressivo
14 – Presto

Alissa Margulis, violino
Natalia Margulis, violoncelo
Jura Margulis, piano


Disco 2

Ludwig van BEETHOVEN

Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro

Martha Argerich, piano
Symphoniker Hamburg
Sylvain Cambreling
, regência

Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN-Bartholdy (1809-1847)

Trio para piano, violino e violoncelo no. 1 em Ré menor, Op. 49
4 – Molto allegro agitato
5 – Andante con moto tranquillo
6 – Scherzo: Leggiero e vivace
7 – Finale: Allegro assai appassionato

Anne-Sophie Mutter, violino
Mischa Maisky
, violoncelo
Martha Argerich
, piano

Johannes BRAHMS (1833-1897)

Das Duas Sonatas para clarinete e piano, Op. 120 (transcritas para viola e piano pelo compositor):
Sonata no. 2 em Mi bemol maior
8 – Allegro amabile
9 – Allegro appassionato
10 – Andante con moto – Allegro – Più tranquillo

Gérard Caussé, viola
Nicholas Angelich,
piano


Disco 3

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)

Dos Improvisos para piano, D. 935 (Op. Posth. 142):
No. 2 em Lá bemol maior
1 – Allegretto
No. 3 em Si bemol maior, “Rosamunde”
2 – Andante

Sonata para piano em Lá maior, D. 664
3 – Allegro moderato
4 – Andante
5 – Allegro

Maria João Pires, piano

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)

Sonata para piano a quatro mãos em Dó maior, K. 521
6 – Allegro
7 – Andante
8 – Allegretto

Martha Argerich e Maria João Pires, piano


Disco 4

Pau CASALS i Defilló (1876-1973)

1 – El Cant dels Ocells, para violino, violoncelo e piano

Alissa Margulis, violino
Natalia Margulis,
violoncelo
Jura Margulis,
piano

Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946)

Suite Popular Espanhola, para violino e piano
2 – El Paño Moruno
3 – Nana
4 – Canción
5 – Polo
6 – Asturiana
7 – Jota

Tedi Papavrami, violino
Maki Okada, piano

César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890)

Quinteto em Fá menor para dois violinos, viola, violoncelo e piano
8 – Molto moderato quasi lento – Allegro
9 – Lento, con molto sentimento
10 – Allegro non troppo ma con fuoco

Akiko Suwanai e Tedi Papavrami, violinos
Lyda Chen, viola
Alexander Kniazev, violoncelo
Evgeni Bozhanov, piano


Disco 5

Astor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)

1 – Le Grand Tango

Gidon Kremer, violino
Georgijs Osokins, piano

Leonard BERNSTEIN (1918-1990)

Danças Sinfônicas de West Side Story, para dois pianos
2 – Prologue
3 – Somewhere
4 – Scherzo
5 – Mambo
6 – Cha-cha
7 – Meeting Scen
8 – Cool Fugue
9 – Rumble Track
10 – Finale

Anton Gerzenberg e Daniel Gerzenberg, pianos

Astor PIAZZOLLA

[Las] Estaciones Porteñas,para violino, violoncelo e piano
11 – Invierno Porteño
12 – Verano Porteño
13 – Otoño Porteño
14 – Primavera Porteña

Tedi Papavrami, violino
Eugene Lifschitz, violoncelo
Alexander Gurning, piano


Disco 6

Modest Petrovich MUSSORGSKY (1839-1881)

“Canções e Danças da Morte”
1 – Kolybel’naya [“Acalanto”]
2 – Serenada [Serenata]
3 – Trepak
4 – Polkovodets [“O Marechal de Campo”]

Michael Volle, baixo-barítono
Daniel Gerzenberg, piano

Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)

Sonata para dois pianos e percussão, Sz 110
5 – Assai lento
6 – Lento, ma non troppo
7 – Allegro non troppo

Martha Argerich e Nelson Goerner, pianos
Alexej Gerassimez e Lukas Böhm, percussão

Arno Harutyuni BABAJANYAN (1921-1983)

Trio em Fá sustenido menor para violino, violoncelo e piano
8 – Largo – Allegro espressivo – Maestoso
9 – Andante
10 – Allegro vivace

Michael Guttman, violino
Jing Zhao, violoncelo
Elena Lisitsian, piano

Disco 7

Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975)

Sonata em Ré menor para violoncelo e piano, Op. 40
1 – Allegro non troppo
2 – Allegro
3 – Largo
4 – Allegro

Mischa Maisky, violoncelo
Martha Argerich, piano

Sergei Sergeiyevich PROKOFIEV (1891-1953)

Sonata em Ré maior para flauta e piano, Op. 94
5 – Moderato
6 – Presto – poco meno mosso
7 – Andante
8 – Allegro con brio – poco meno mosso

Susanne Barner, flauta
Martha Argerich, piano

Dmitri SHOSTAKOVICH

9 – Concertino em Lá menor para dois pianos, Op. 94

Martha Argerich e Lilya Zilberstein, pianos

Mieczysław WEINBERG (1919-1996)

Doze Miniaturas para flauta e piano, Op. 29
10 – Improvisação
11 – Arietta
12 – Burlesque
13 – Capriccio
14 – Noturno
15 – Valsa
16 – Ode
17 – Duo
18 – Étude
19  – Intermezzo
20 – Pastorale

Susanne Barner, flauta
Akane Sakai, piano

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Vassily

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Horowitz in Moscow: Scarlatti, Mozart, Rachmaninov, Scriabin, Schubert, Liszt, Schumann, Chopin, Moszkowski

Horowitz in Moscow: Scarlatti, Mozart, Rachmaninov, Scriabin, Schubert, Liszt, Schumann, Chopin, Moszkowski

Foi com grande surpresa que me dei conta de que esse disco não constava no acervo de mais de 8 mil posts da casa. Horowitz in Moscow documenta nada menos que o retorno do colossal pianista Vladimir Horowitz à União Soviética, sua terra natal, depois de 61 anos. 61 anos! Uma vida…

O recital aconteceu no dia 20 de abril de 1986, na Grande Sala do Conservatório Tchaikovsky, em Moscou, mesmo palco onde Horowitz havia se apresentado pela última vez na URSS, em 1925. O mestre, agora, tinha 82 anos e queria ver sua pátria-mãe Rússia mais uma vez antes de morrer.

O encarte do disco, lançado com o selo amarelo da Deutsche Grammophon, reproduz um texto de Charles Kuralt para a CBS News que capta um pouco da atmosfera em torno do recital:

“Um simples pôster apareceu numa manhã de primavera na parede amarelo-pálido do Conservatório de Música de Moscou. Ele dizia que um recital de piano seria dado por “Vladimir Horowitz (USA). Apenas um pôster, mas que disparou uma descarga elétrica de surpresa e alegria pela capital soviética. Aqueles que viram o pôster, ou que ouviram dizer sobre ele, sabiam que era um concerto para ser lembrado eternamente. E foi. 

Ah, você tinha que ter estado lá! Mas como? Menos de 400 ingressos foram colocados à venda para o público, e uma longa fila de russos amantes da música passaram a noite toda em pé para conseguí-los assim que a bilheteria abrisse. O resto dos 1800 lugares da bela Grande Sala do Conservatório estavam reservados para funcionários do governo e membros de corpos diplomáticos.

Chovia quando chegou a hora do concerto. 20 de abril de 1984, 4 da tarde, hora de Moscou. Centenas de pessoas se aglomeraram sob guarda-chuvas na rua do lado de fora do auditório. Eles sabiam que não iam conseguir escutar uma única nota; queriam apenas poder dizer que estavam presentes nesse dia. (…)”

 

“Na tarde da sexta-feira que antecedeu o concerto, Horowitz veio até a sala para ensaiar, em frente a uma platéia lotada de estudantes e professores de música. Ele checou meticulosamente a luz e o posicionamento do piano no palco, e brincou um pouco com os fotógrafos. Então, sensível à expectativa dos estudantes, começou a tocar seriamente. Um silêncio profundo se instalou na sala. O ensaio então virou um concerto, prelúdio para o recital formal. Muitos estudantes fecharam os olhos para se concentrar no que estavam ouvindo. Um membro da entourage de Horowitz, radiante, disse que aquele ensaio foi uma das melhores performances do pianista que ele ouviu na vida, um presságio maravilhoso para o concerto de domingo, que seria televisionado para a Europa e os Estados Unidos. Os alunos aplaudiram Horowitz por longos minutos e o seguiram até o pátio do Conservatório, cercando seu carro em uma explosão de amor e admiração. Apesar dos esforços de um cordão policial, a limusine levou quase meia hora para andar os cerca de 15 metros até a rua. Mesmo após o carro ter escapado da multidão, os estudantes permaneceram ali em pequenos grupos, discutindo maravilhados o que haviam escutado.

Na tarde do concerto oficial, dois dias mais tarde, muitos daqueles estudantes voltaram querendo mais. Sem ingressos, eles burlaram a segurança disposta ao redor do prédio e conseguiram escapulir até as galerias superiores, no início do concerto. O barulho que você consegue escutar no início da primeira sonata de Scarlatti é o som da polícia soviética tentando, em vão, retirar os estudantes do terraço. Eles, no entanto, permaneceram firmes, a polícia recuou e o concerto prosseguiu — com um grande número de estudantes ‘bicões’ presentes.

Horowitz e a esposa Wanda dando uma conferidinha num manuscrito de um certo Piotr Ilitch Tchaikovsky

O repertório é uma daquelas maravilhosas viagens horowitzianas, prestando reverência a mestres que habitaram as máximas alturas da literatura pianística, com uma inevitável queda para aquele pedaço do planeta que o viu nascer: Scarlatti, Mozart, Rachmaninov, Scriabin, Liszt (incluindo um d’après Schubert), Chopin, Schumann e Moszkowski.

Senhoras e senhores, sem mais delongas, o histórico retorno de Vladimir Horowitz a Moscou, em 1986. Веселитесь!

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Horowitz in Moscow

Domenico Scarlatti (1685-1757)

1 – Sonata in E major, K. 380 (L. 23)

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)

Piano Sonata in C major, K. (330) (300 h)
2 – I. Allegro moderato
3 – II. Andante cantabile
4 – III. Allegreto

Sergei Rachmaninov (1873-1943)

5 – Prelude in G major, op. 32 nº 5
6 – Prelude in G sharp minor, op. 32 nº 12

Alexander Scriabin (1872-1915)

7 – Etude in C sharp minor, op. 2 nº 1
8 – Etude in D sharp minor, op. 8 nº 12

Franz Liszt (1811-1886)
d’après Franz Schubert (1797-1828)

9 – Soirées de Vienne – Valse-Caprice nº 6

Franz Liszt (1811-1886)

10 – Sonetto 104 del Petrarca

Frédéric Chopin (1810-1849)

11 – Mazurca in C sharp minor, op. 30 nº 4
12 – Mazurka in F minor, op. 7 nº 3

Robert Schumann (1810-1856)

13 – Träumerei (from Kinderszenen)

Moritz Moszkowski (1854-1925)

14 – Étincelles, op. 36 nº 6

Sergei Rachmaninov (1873-1943)

15 – Polka de W.R.

Vladimir Horowitz, piano
Gravado ao vivo na Grande Sala do Conservatório de Música de Moscou em 20 de abril de 1986.

PS: Você pode assistir ao concerto, com um filme mostrando os preparativos e o clima, aqui:

PPS: Você também pode ouvir uma digitalização de uma fita cassete mexicana do concerto aqui, uma daquelas coisas insólitas que só o Internet Archive faz por você.

Ganhando flores de ninguém menos que uma sobrinha-neta de Tchaikovsky

Karlheinz

Franz Schubert (1797-1828): Pequenos ciclos para voz e piano (M. Schäfer, Z. Meniker)

Como eu já falei aqui e aqui, para os meus ouvidos o som mais intimista dos instrumentos de época combina com o espírito romântico de Schubert… esse tipo de romantismo contido, sem exageros nem de alegria nem de melancolia.

Neste álbum gravado nos Países Baixos em 2018, os intérpretes escolheram gravar alguns dos pequenos ciclos de canções publicados por Schubert, por isso mesmo com números de Opus (enquanto os números “D” foram atribuídos depois por pesquisadores). São muito comuns as gravações de canções avulsas, e não há nada de errado nisso, pois no século XIX também era comum cantarem obras avulsas e não necessariamente o ciclo inteiro. Mas aqui Markus e Zvi buscaram apresentar os ciclos na ordem que foi decidida por Schubert em conjunto com os editores de suas partituras. O encarte do álbum explica:

That these have remained for a long time totally unknown can be explained by the decisions and choices made by nineteenth-century music publishers. In the Old Schubert Edition, publication of the Lieder was based on their chronological order, whilst in the complete Peters edition the order was determined by the popularity of the works. The smaller song cycles arranged by Schubert himself were thus broken up completely. Only in the Neue Schubert-Ausgabe, edited by Walther Dürr, were the songs published according to the opus numbers.

The view held by Markus Schäfer and Zvi Meniker about these cycles is that “they were not planned on purpose, like Die schöne Müllerin or Winterreise, but were mostly songs that he wrote at different times and then found connections between them. He always composed according to his mood, without planning in advance. Not like Mozart, who worked on commission or with the prospect of a performance, or like Beethoven with an eye on publishing, but simply by inspiration. Schubert got the spark, and then he wrote. Therefore, every song, no matter how short, is a gem. Hence the many unpublished songs; and he often grouped the songs together quite a long time after their composition, just for publication. There is a clear development in each cycle, each one has a direction, a beginning and an end. Each cycle has a theme, even if it’s a bit hidden sometimes.” That said, there are a number of opera which were conceived as cycles from the outset, for example the Drei Gesänge des Harfners (Op. 12), with texts drawn from Goethe’s novel Wilhelm Meisters Lehrjahre. This is also the case of the Refrainlieder (Op. 95), which were probably composed in June 1828 and were published on August 13 in the same year.

A good number of these smaller song cycles were developed by Schubert around a particular subject. For example, the Op. 5 set consists of five songs to poems by Goethe whose central theme is love. Whilst this opus was put together in 1821 for the publishers Cappi and Diabelli, the Lieder which make it up were composed in 1815 and 1816.

Franz Schubert (1797-1828):
1-5. Fünf Lieder op. 5 (1821), sobre poemas de Johann Wolfgang von Goethe
6-8. Drei Lieder op. 12 (1822), Drei Gesänge des Harfners aus “Wilhelm Meister”, sobre poemas de Johann Wolfgang von Goethe
9-12. Vier Lieder op. 59 (1826), sobre poemas de August von Platen e Friedrich Rückert
13-15. Drei Lieder op. 65 (1826), sobre poemas de Johann Mayrhofer e Friedrich von Schlegel
16-18. Drei Lieder op. 80 (1827), sobre poemas de Johann Gabriel Seidl
19-22. Vier Refrain-Lieder op. 95 (1828), sobre poemas de Johann Gabriel Seidl

MARKUS SCHÄFER tenor
ZVI MENIKER fortepiano after Conrad Graf, Vienna 1819, by Paul McNulty, Divisov 2012

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Retrato de Schubert por Anton Depauly (circa 1827)

Pleyel

Schubert (1797-1828): Die schöne Müllerin D. 795 – Julian Prégardien (tenor) – Kristian Bezuidenhout (fortepiano) ֎

Schubert (1797-1828): Die schöne Müllerin D. 795 – Julian Prégardien (tenor) – Kristian Bezuidenhout (fortepiano) ֎

Der Apfel fällt nicht weit vom Apfelstamm

Quando ouvi este disco lembrei-me do ditado ‘The apple does not fall far from the apple tree’. Uma versão mais tropicalista seria: ‘A banana não cai longe da bananeira’. Mas, não ficou como eu queria, bananas dão em cachos e não caem tão facilmente das bananeiras. Além disso, o adágio me ocorreu devido a um caso de pai e filho. Assim, escolho definitivo: ‘O mamão não cai longe do mamoeiro’!

JP

O cantor Julian Prégardien é filho de Christoph Prégardien, um tenor que se destacou nas gravações de música barroca com grupos de instrumentos e práticas de época. Foi evangelista para metade das gravações das Paixões no auge de sua carreira. Metade talvez seja exagero, mas quem é do ramo entende o que estou falando. Numa outra frente de atuação, se destacou como cantor de Lieder – suas gravações dos ciclos de Schubert, por exemplo, são reconhecidas como basilares.

A Bela Moleira…

O ciclo da Bela (e ingrata) Moleira ele gravou duas vezes, acompanhado ao piano moderno e também acompanhado ao pianoforte, com o famoso Andreas Staier. Mas, como queremos novidades e um disco de Lieder por vez é suficiente, vamos de Julian, que faz uma interpretação ousada, que achei bonita e instigante. A voz é bela, ele canta como se tudo fosse fácil e o acompanhamento, aos cuidados de Kristian Bezuidenhout, é espetacular. O instrumento é ‘de época’, uma cópia de um pianoforte Graf, de 1825 e que soa maravilhosamente. Além disso, ao ouvir o disco do pai, com o acompanhamento de Staier, gravado em 1991, nos damos conta de como as técnicas de gravação evoluíram.

Resumindo, se você já conhece o ciclo da Bela (e malvada) Moleira, vai gostar de ouvir uma nova interpretação. Se você ainda não conhece e pretende ganhar mais familiaridade com este gênero musical, esse disco é uma excelente porta de entrada.


FRANZ SCHUBERT (1797-1828)

Die schöne Müllerin D. 795

A Bela Moleira

1 | Das Wandern 2’23
2 | Wohin? 2’19
3 | Halt! 1’26
4 | Danksagung an den Bach 2’26
5 | Am Feierabend 2’42
6 | Der Neugierige 3’58
7 | Ungeduld 2’42
8 | Morgengruß 4’55
9 | Des Müllers Blumen 3’50
10 | Tränenregen 4’18
11 | Mein! 2’16
12 | Pause 5’13
13 | Mit dem grünen Lautenbande 2’00
14 | Der Jäger 1’05
15 | Eifersucht und Stolz 1’27
16 | Die liebe Farbe 4’04
17 | Die böse Farbe 2’01
18 | Trockne Blumen 4’10
19 | Der Müller und der Bach 4’33
20 | Des Baches Wiegenlied 7’43

Julian Prégardien, tenor

Kristian Bezuidenhout, fortepiano

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MP3 | 320 KBPS | 151 MB

À data da sua morte prematura aos 31 anos, em 1828, Franz Schubert havia já produzido um legado de cerca de 600 Lieder – genero do romantismo alemão que une, intrinsecamente, poesia e música. A Bela Moleira, o primeiro grande ciclo do compositor austríaco, reúne poesia de Wilhelm Müller (poeta, filologista e historiador) e proporciona uma viagem bucólica que oscila entre um otimismo naïve e a angústia e o desespero perante um amor não correspondido.

Trechos de uma resenha que pode ser lida na íntegra aqui: Perhaps what really stands out in this performance for me is the deep range of emotions that are brought about between songs; Prégardien’s voice can get soft and demure then can rise beyond the expectations for dynamics and several times almost switches to speaking the text. His range of vocal style I think is so well done to convey the emotional material in the songs. That combined with slowing things down before rallying the tempo up again are such welcome surprises. […] Among my favorite songs are Mein! and Der Jäger. Both do not disappoint under Prégardien and Bezuidenhout. It’s still hard for be to believe Schubert’s ability as a composer of these songs at the young age of twenty-six. […]
For me, this new recording forced me to hear these songs as if they were new. […] The quiet intensity in Die Liebe Farbe is hauntingly well done. And yes—I think Julian has outdone his own father, the lyric tenor Christoph Prégardien (who partnered with Andreas Staier) in this new recording.

Aproveite!

René Denon

Uma palhinha, mas o acompanhamento é outro…

O pessoal do Departamento de Artes do PQP Bach Coorp, prestativo como sempre, encontrou essa ilustração da Bela Moleira…

Franz Schubert (1797-1828): Sonatas (Sonatinas) para Violino e Piano (Kang, Devoyon)

Franz Schubert (1797-1828): Sonatas (Sonatinas) para Violino e Piano (Kang, Devoyon)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Um CD maravilhoso com a música de Schubert. Embora composições para violino e piano não sejam geralmente consideradas como parte das obras-primas de Schubert, elas são imensamente agradáveis ​​e lindamente tocadas aqui por Don-Suk Kung e Pascal Devoyon. Embora essas obras tenham sido gravadas antes por luminares como Isaac Stern, Arthur Grumiaux, Gidon Kremer et al., esta gravação é tão boa quanto. Ouvi este CD 3 vezes de enfiada. Tenho o original, claro. As duas últimas faixas apareceram com problemas no meu CD Player, mas o restante do CD é tão bom que não tô nem aí. Pode pular à vontade. Não sei o que aconteceu na conversão para mp3, mas às vezes os problemas somem.

Franz Schubert (1797-1828): Sonatas (Sonatinas) para Violino e Piano (Kang, Devoyon)

Fantasy in C Major, D. 934
1 Fantasy in C Major, D. 934 24:12

Violin Sonata (Sonatina) in D Major, Op. 137, No. 1, D. 384
2 I. Allegro molto 04:12
3 II. Andante 04:14
4 III. Allegro vivace 04:09

Violin Sonata (Sonatina) in A Minor, Op. 137, No. 2, D. 385
5 I. Allegro moderato 06:39
6 II. Andante 06:27
7 III. Menuetto: Allegro 02:26
8 IV. Allegro 05:05

Violin Sonata (Sonatina) in G Minor, D. 408
9 I. Allegro giusto 05:07
10 II. Andante 04:47
11 III. Menuetto 02:35
12 IV. Allegro moderato 04:00

Total Playing Time: 01:13:53

Devoyon, Pascal: Piano
Kang, Dong-Suk: Violino

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Retrato a óleo de Schubert | De Gabor Melegh (1827)

PQP

Franz Schubert (1797-1828): Quartetos de Cordas Nº 14 & 12 (Kodály)

Franz Schubert (1797-1828): Quartetos de Cordas Nº 14 & 12 (Kodály)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Um grande disco! Os últimos anos da vida de Schubert foram toldados por problemas de saúde e a ideia de morte era familiar. Afinal, sua mãe tinha tido quatorze filhos, dos quais apenas cinco sobreviveram, uma proporção estatística nada incomum na época. Seu Quarteto de Cordas “A Morte e a Donzela” foi escrito em março de 1824, antes de um verão feliz, passado novamente em Zseliz como tutor das filhas do Conde Johann Karl Esterhazy. Este é, no entanto, um momento na vida de Schubert em que a doença e os pensamentos de morte ocupariam sua mente. O Quarteto traz a morte em seu coração. A peça é chamada de “A Morte e a Donzela” porque foi baseada em um poema alemão de mesmo título retratando uma jovem caminhando inocentemente enquanto a Morte paira sobre ela. O Quarteto Kodály, com seu belo som e concepção, arrasa.

Franz Schubert (1797-1828): Quartetos de Cordas Nº 14 & 12 (Kodály)

String Quartet No. 14 in D Minor, D. 810, “Death and the Maiden”
1 I. Allegro 17:08
2 II. Andante con moto 15:52
3 III. Scherzo: (Allegro molto) 04:07
4 IV. Presto 09:54

String Quartet No. 12 in C Minor, D. 703, “Quartettsatz”
5 Allegro assai 10:20

Kodály Quartet

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Este é o Quarteto Kodály em foto super natural, nada posada

PQP

Franz Schubert (1797-1828): Arpeggione Sonata, 3 Sonatines, op. 137 (P. Wispelwey, P. Giacometti)

Ah, essa Sonata “Arpergionne” de Schubert é uma delícia. Não há como não nos emocionarmos com ela. A beleza das melodias é única, como diria nosso colega PQPBach, provavelmente Schubert foi um dos maiores dos melodistas da história da música.

A dupla Wispelwey / Giacometti faz aqui neste cd uma leitura mais contida, não tão romantizada da “Arpeggione”, como as que estamos acostumados a ouvir. Talvez seja a sonoridade do pianoforte de Giacometti que contenha o excelente violoncelista holandês, o fato é que a dupla funciona muito bem, e explora com maestria os meandros dessa obra prima do repertório do violoncelo.

No cd eles também tocam as Sonatinas, op. 137, que originalmente foram escritas para violino, e que já trouxemos aqui mesmo no blog. A transcrição foi feita pelo próprio Wispelwey.

Franz Schubert (1797-1828): Arpeggione Sonata, 3 Sonatines, op. 137 (P. Wispelwey, P. Giacometti)

01 Sonata in a minor D 821 Arpeggione – I. Allegro moderato
02 Sonata in a minor D 821 Arpeggione – II. Adagio
03 Sonata in a minor D 821 Arpeggione – III. Allegretto

04 Sonatina in D major D 384 Opuis 137 No 1 – I. Allegro molto
05 Sonatina in D major D 384 Opuis 137 No 1 – II. Andante
06 Sonatina in D major D 384 Opuis 137 No 1 – III. Allegro vivace

07 Sonatina in a minor D 385 Opus 137 No 2 – I. Allegro moderato
08 Sonatina in a minor D 385 Opus 137 No 2 – II. Andante
09 Sonatina in a minor D 385 Opus 137 No 2 – III. Menuetto and Trio
10 Sonatina in a minor D 385 Opus 137 No 2 – IV. Allegro

11 Sonatina in g minor D 408 Opus 137 No 3 – I. Allegro giusto
12 Sonatina in g minor D 408 Opus 137 No 3 – II. Andante
13 Sonatina in g minor D 408 Opus 137 No 3 – III. Menuetto and Trio
14 Sonatina in g minor D 408 Opus 137 No 3 – IV. Allegro moderato

Pieter Wispelwey – Cello (Bohemian, 19th century)
Paolo Giacometti – Pianoforte (Salvatore Lagrassa, vienese school, circa 1815)
Recording: Deventer, Doop. Kerk, 1996

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Schubert ao Piano – pintura de Gustav Klimt, 1899

FDP (2015), revalidado por Pleyel (2024)

Franz Schubert (1797-1828): Quinteto para Cordas D 956 (Orpheus Quartet, P. Wispelwey)

Entre os melômanos mais dedicados existe um quase consenso de que a música de câmara permite aos compositores uma atenção aos detalhes – e aos ouvintes a audição transparente desses detalhes na voz de cada um dos instrumentos que se combinam – que fica impossibilitada nas obras para grande orquestra. Cada instrumento, em um trio ou quarteto, tem sua voz autônoma e elas ao mesmo tempo dialogam entre si, isso fica muito evidente desde as Trio Sonatas que surgem por volta do ano 1700, primeiro na Itália e logo depois na Alemanha de Händel e J.S. Bach. No classicismo vienense, o quarteto de cordas se torna o veículo principal para esse tipo de música, não sem relação com um certo ideal de equilíbrio entre as sonoridades dos instrumentos, equilíbrio que é justamente um dos fundamentos para a música da corrente iniciada por Haydn ser chamada classicismo – pois, para além do uso banal do tipo “são clássicos imortais”, o clássico na cultura ocidental envolve certas ideias de simetria, harmonia, ordem etc. que os românticos (e depois os modernistas) vão denunciar como uma ordem autoritária que atrapalha as fantasias e sonhos.

Eu gosto enormemente desse quinteto de Schubert, mais do que dos seus quartetos: não é um gosto racional, é uma daquelas obras que simplesmente tocam mais fundo em alguns de nós, mas, tentando interpretar esse gosto em termos racionais, diria que o quinteto mantém em certos momentos o diálogo transparente da música de câmara e em outros momentos dá uns passos em outra direção. Nessa obra, uma das últimas de Schubert, a transparência já não é completa: cinco instrumentos já estão bem no limite das nossas capacidades de acompanhar as melodias individuais, mas além disso os dois violinos e os dois violoncelos às vezes se fundem no agudo e no grave. Também gosto bastante, claro, do quinteto com piano e contrabaixo “A Truta”, mas aqui neste quinteto mais tardio em dó maior parece que essa mistura das vozes dá um toque diferente que também faz parte da transição entre o classicsmo vienense e a sensibilidade romântica. Sem falar em tantas melodias belíssimas, mas isso é chover no molhado em se tratando de Schubert.

Orpheus Quartet e P. Wispelwey fazem aqui uma interpretação mais contida do que outras que se ouve por aí. Esse quarteto teve uma carreira meteórica, encerrada após a morte precoce do seu primeiro violinista.

Franz Schubert (1797-1828): Quinteto para Cordas D. 956
I. Allegro ma non troppo
II. Adagio
III. Scherzo: Presto – Trio – Andante sostenuto
IV. Allegretto
Orpheus Quartet e Pieter Wispelwey
Recorded: Dutch Reformed Church, Kortenhoef, NL, june 1994

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Pieter Wispelwey

Pleyel

Franz Schubert (1797-1828): Symphonie No. 9 · Rosamunde: Ouvertüre (Die Zauberharfe) (The Chamber Orchestra Of Europe · Claudio Abbado)

Franz Schubert (1797-1828): Symphonie No. 9 · Rosamunde: Ouvertüre (Die Zauberharfe) (The Chamber Orchestra Of Europe · Claudio Abbado)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Hoje é o aniversário de… PQP Bach. Aniversário não do blog ou do personagem, mas do ser humano que há, dizem, por trás. Por isso, vou postar duas obras-primas neste 19 de agosto. Esta é a segunda.

Um CD eletrizante! Esta gravação de Schubert é uma sobre a qual não é realmente necessário dizer muito. É, provavelmente, a melhor performance da Nona que me lembro de ter ouvido e a direção de Abbado é magistral. Seu ritmo para cada movimento parece ser o ideal e ele frequentemente molda a música com sutis modificações de andamento da maneira que um maestro como Furtwängler teria feito. Abbado, nesta gravação de 1987, é um grande músico continuando a explorar a música e a renovar sua abordagem para obras que ele deve ter conduzido muitas vezes. Há também uma determinação em manter os mais altos padrões possíveis de musicalidade, trabalhando com músicos de primeira linha. Ele regravou a Nona em 2011, mas nunca ouvi a gravação.

Franz Schubert (1797-1828): Symphonie No. 9 · Rosamunde: Ouvertüre (Die Zauberharfe) (The Chamber Orchestra Of Europe · Claudio Abbado)

Sinfonia Nr. 9, D 944, “A Grande”
1 1. Andante – Allegro Ma Non Troppo 16:46
2 2. Andante Con Moto 15:26
3 3. Scherzo. Allegro Vivace 14:02
4 4. Allegro Vivace – Trio 15:29

5 Rosamunde: Ouverture (“Die Zauberharfe” D. 644) 10:12

Conductor – Claudio Abbado
Orchestra – The Chamber Orchestra Of Europe

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Edward Sorel – Caricatura de Franz Schubert – 1967

PQP

Franz Schubert (1797-1828): Impromptus D. 899 e D. 935 (András Schiff)

Retrato do artista quando jovem: Schiff tem, até hoje, uma forte afinidade com a música de Schubert, tendo gravado pela Decca, Teldec (aqui) e ECM suas obras de câmara e para piano solo, inclusive mais recentemente em pianos do século XIX. Aqui neste álbum gravado no Japão em 1978 e lançado apenas naquele país, temos o jovem András Schiff com interpretações cheias de um certo fogo juvenil sem exageros românticos, como convém quando se trata de Schubert.

O livreto do CD diz: シューベルトの D. 899 と D. 935… o que, traduzido, significa mais ou menos:

Schubert escreveu dois grupos de “impromptus” em sua vida, D. 899 e D. 935. Ambos, até onde se sabe, datam do fim de 1827, embora alguns possam datar do ano seguinte, o último de vida de Schubert. Mas o próprio nome “impromptus” não foi dado pelo compositor, assim como as peças D. 780 e D. 946 tiveram os nomes “Moments musicaux” e “Klavierstücke” (peças para piano) dados pelos editores. As peças do D. 899 foram publicadas por Tobias Haslinger como Op. 90, com o nome Impromptus anotado a lápis. E na verdade apenas as duas primeiras peças do Op. 90 foram publicadas durante a vida de Schubert. As duas outras, que seriam lançadas em 1828, ficaram na gaveta de Haslinger e seriam publicadas por seu filho só em 1857. Schubert aparentemente gostou do nome “impromptus” dado pelo editor.

Em uma carta de 21 de fevereiro de 1828, Schubert listou suas publicações futuras, que incluíam o Trio em Mi bemol maior, os Quartetos em Sol maior e Ré menor, além de quatro Impromptus para piano. Com isso, muitos biógrafos e comentadores entendem que os dois grupos de Impromptus foram concebidos por Schubert como grupos de quatro peças, mais do que como miniaturas avulsas.

Em outra carta, de 2 de outubro de 1828, Schubert menciona como prontos para publicação “os quatro Impromptus e o Quinteto para vozes masculinas. Por favor me responda logo, eu gostaria de publicar essas obras assim que possível.” É possível, a partir dessas cartas, concluir que o compositor – ele viveria apenas até novembro – tinha em alta conta esses impromptus.

Franz Schubert (1797-1828):
4 Impromptus D. 899
4 Impromptus D. 935
András Schiff, piano
Recorded june 1978 – Arakawa Public Hall, Tokyo, Japan

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Schubert em 1827 (quadro de Gabor Melegh)

Ple2yel

Franz Schubert (1797-1828): As Últimas Sonatas (Pollini)

Franz Schubert (1797-1828): As Últimas Sonatas (Pollini)

O grande René Denon postou estes CDs em 2019 com muito mais categoria. Bem aqui, ó. Reposto-os aqui neste cantinho só para não perder os muitos comentários.

Sei que não somente “aqueles comentaristas habituais” hostilizarão esta gravação colocada entre as melhores da DG (obrigado pela lembrança dos Originals, Lais; minha gravação é pré-Originals), como nossa comparsa Clara Schumann deverá apresentar chiliques em defesa de seu amado Alfred Brendel que, segundo ela, acarinha melhor o compositor que ela mais ama.

(Nunca entendi esta senhora que casa com um, tem Brahms por amante, mas gosta mesmo é de Schubert. A mente masculina é mais simples e burra, graças a Deus, e interessa-se por todas, prova de seu amor à humanidade.)

Schubert é o compositor que mais lamento. Apenas 31 anos! Onde ele chegaria se tivesse vivido, por exemplo, os 57 anos de Beethoven? É difícil de responder, ainda mais ouvindo suas últimas obras, amadurecidas a fórceps pelo sofrimento causado pela doença. Este criador de melodias irresistíveis trabalhava (muito) pela manhã, caminhava à tarde e bebia à noite. O bafômetro o pegaria na volta, certamente. Seria um recordista de multas. Não morreu da sífilis e sim de tifo, após ingerir um vulgar peixe contaminado. Ou seja, uma droga de um peixe podre nos tirou anos de muitas obras, certamente. Espero que, se o inferno existir, este peixe esteja lá queimando. Desgraçado, bicho ruim!

A interpretação de Pollini é completamente despida de exageros ou de virtuosismo. Ele respeita inteiramente Schubert, compositor melodista e destituído de virtuosismo pessoal ao piano, pero… nada de sentimentalismos, meus amigos. Pollini é um realista. E, com efeito, as sonatas finais desfazem o mito do Schubert fofinho, mundano e feliz. Era um indivíduo profundo e o trágico não lhe era estranho.

Minha sonata preferida é a D. 960, com seu imenso e emocionante primeiro movimento. Quando o ouço de surpresa, penso que virão o que não me vêm há anos: lágrimas. O que segue é-lhe digno, com destaque especial para o zombeteiro movimento final. O D. 959 também é extraordinário, principalmente o lindíssimo e nobre Andantino e o lied do Rondó. Também tenho indesmentível amor pela contrastante primeira peça das Drei Klavierstucke.

A Fundação Maurizio Pollini, desta vez patrocinada por PQP Bach, agradece todos os apoios recebidos e declara-se ofendida pela nefasta ironia perpetrada pelo provocador Kaissor (ou foi o Exigente?) ao querer estigmatizar nosso ídalo por ser mais divulgado em razão do perfil marcadamente “comercial” de sua gravadora. Com todo o respeito, respondemos a ele que Pollini é a Verdade e o Absoluto. Dou a Schnabel um lugar no pódio e ele que fique quieto. “O homem que inventou Beethoven”??? Arrã. Acho que foi reinventado… :¬)))

Franz Schubert (1797-1828): As Últimas Sonatas (Pollini)

CD 1

1. Piano Sonata No. 19, D.958 – Allegro
2. Piano Sonata No. 19, D.958 – Adagio
3. Piano Sonata No. 19, D.958 – Menuetto: Allegro
4. Piano Sonata No. 19, D.958 – Allegro

5. Piano Sonata No. 20 In A D.959 – Allegro
6. Piano Sonata No. 20, D.959 – Andantino
7. Piano Sonata No. 20, D.959 – Scherzo: Allegro
8. Piano Sonata No. 20, D.959 – Rondo: Allegretto

CD 2

1. Piano Sonata No. 21, D.960 – Molto Moderato
2. Piano Sonata No. 21, D.960 – Andante Sostenuto
3. Piano Sonata No. 21, D.960 – Scherzo: Allegro
4. Piano Sonata No. 21, D.960 – Allegro Ma Non Troppo

5. Allegretto In C Minor D.915

6. 3 Klavierstucke, D.946 – No. 1 In E Flat Minor – Allegro Assai
7. 3 Klavierstucke, D.946 – No.2 In E Flat – Allegretto
8. 3 Klavierstucke, D.946 – No. 3 In C – Allegro

Maurizio Pollini (Piano)

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Um Schubert engomadinho pra vocês.

PQP

Franz Schubert (1797-1928) – Quarteto para Cordas “A Morte e a Donzela” (arranjo Gustav Mahler, Sonata Arpegione – Michal Kánka, Pavel Hüla

Até ter acesso a esse CD, eu não conhecia esse arranjo para orquestra de cordas que Mahler fez da obra prima de Schubert, o Quarteto para Cordas “A Morte e a Donzela”. Ainda não tenho uma opinião formada na verdade, precisaria ouvir mais vezes para absorver, tão acostumado que estou com a versão para Quarteto para Cordas. Em se tratando de uma obra dessa envergadura, provavelmente umas das maiores composições já escritas para o gênero, a empreitada é um tanto arriscada.

 

Ao mesmo tempo, o nome de Mahler, um mestre em se tratando de composições para orquestras de grande porte, lembramos imediatamente de seu magnífico Quarteto para Cordas, e o que dizer do Adagietto de sua Quinta Sinfonia? Obras de rara sensibilidade para um compositor acostumado compor para grandes conjuntos orquestrais, como comentei acima.  Em minha humilde opinião, entendo que a interpretação da excelente “Praga Camerata” está um pouco acelerada para o meu gosto, já no primeiro movimento entendo que devia ser mais cadenciado, como podemos ouvir na ótima gravação do “Orlando Quartet”, que postei há pouco tempo. Não sei quais as recomendações de Mahler para o arranjo, e se o maestro foi fiel a essas recomendações. Mas enfim, à parte a estranheza que esses arranjos podem causar em um primeiro momento para aqueles apaixonados pela obra, Schubert está presente, com certeza, com toda a sua carga emotiva e sentimental.

A Sonata “Arpegione’ também mantém-se fiel ao original, porém lhes garanto que a estranheza permanece, mas nada que venha a comprometer o resultado. Afinal, apesar de tudo, é Schubert.

Vale a pena conferir.

01. String Quartet No. 14 in D Minor, D. 810 “Death and the Maiden” (Arr. for String Orchestra by Gustav Mahler): I. Allegro moderato
02. String Quartet No. 14 in D Minor, D. 810 “Death and the Maiden” (Arr. for String Orchestra by Gustav Mahler): II. Andante con moto
03. String Quartet No. 14 in D Minor, D. 810 “Death and the Maiden” (Arr. for String Orchestra by Gustav Mahler): III. Scherzo. Allegro moderato
04. String Quartet No. 14 in D Minor, D. 810 “Death and the Maiden” (Arr. for String Orchestra by Gustav Mahler): IV. Presto
05. Arpeggione Sonata in A Minor, D. 821 (Arr. for Cello and Strings by Michal Kaňka): I. Allegro moderato
06. Arpeggione Sonata in A Minor, D. 821 (Arr. for Cello and Strings by Michal Kaňka): II. Adagio
07. Arpeggione Sonata in A Minor, D. 821 (Arr. for Cello and Strings by Michal Kaňka): III. Allegretto

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FDP

Franz Schubert (1797-1828): Os Trios Completos (Trio Wanderer)

Franz Schubert (1797-1828): Os Trios Completos (Trio Wanderer)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Esta é uma gravação absolutamente notável do Trio Wanderer, na época desta gravação (ano 2000) um grupo de três jovens franceses que começavam a repetir a competência e o sucesso dos veteranos do Beaux Arts. Outro destaque extraordinário é a qualidade do som do CD áudio original. Pelos intérpretes e pela qualidade da música, vale o investimento. Além de gênio absoluto, poucos compositores deixam os musicólogos mais felizes. Sua obra é a maior confusão. Schubert deixou uma montanha de manuscritos incompletos por razões ignoradas. Começava trabalhos e deixava-os pela metade; finalizava trabalhos e não apresentava em publicava. Por exemplo, a Sinfonia Nº 8 é a Inacabada, mas a Nº 9 está completa. Nestes belíssimos trios, há o detalhe de Schubert ter escrito primeiro o Nº 2 e depois o Nº 1; além disto, há dois movimentos avulsos que fariam parte de futuros trios nunca compostos. Um deles, o Noturno que está no primeiro CD, é música de primeiríssima linha que devia estar esperando companhia musical adequada… A interpretação do Wanderer é antológica, com destaque para o famoso Andante con Moto do Trio Nº 2. E para todo o resto…

A não perder!

Franz Schubert (1797-1828): Os Trios Completos (Trio Wanderer)

Piano Trio No. 1 Op. 99 D.898 In B Flat Major
1-1 Allegro Moderato 15:02
1-2 Andante Un Poco Mosso 9:47
1-3 Scherzo (Allegro) 6:36
1-4 Rondo (Allegro Vivace) 8:57

1-5 Notturno In E Flat Major D.897 8:53

Piano Trio No. 2 Op. 100 D.929 In E Flat Major
2-1 Allegro 12:14
2-2 Andante Con Moto 9:42
2-3 Scherzando (Allegro Moderato) 6:44
2-4 Allegro Moderato 13:20

2-5 Sonatensatz In B Flat Major D.28 (Allegro) 7:22

Trio Wanderer:
Cello – Raphaël Pidoux
Piano – Vincent Coq
Violin – Jean-Marc Phillips-Varjabédian

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Schubert com sua mesa até que mais ou menos arrumadinha.

PQP

 

Schubert (1797 – 1828): Quinteto com Piano D. 677 (A Truta) – Trios de Cordas D. 581 & D. 471 – Paul Lewis (piano) – Leopold String Trio – Graham Mitchell (contrabaixo) ֎

Schubert (1797 – 1828): Quinteto com Piano D. 677 (A Truta) – Trios de Cordas D. 581 & D. 471 – Paul Lewis (piano) – Leopold String Trio – Graham Mitchell (contrabaixo) ֎

SCHUBERT

Quinteto “A Truta”

Trios de Cordas D. 581 & D. 471

Paul Lewis, piano

Leopold String Trio

Graham Mitchell, contrabaixo

Uma coisa pode-se dizer de Schubert: era um bom amigo! Cultivou amizades com poetas, pintores, músicos. As Schubertiades, reuniões onde música e poesia embalavam o alegre convívio desses amigos eram importantes momentos na vida do músico, onde apresentava suas mais novas obras.

von Schober

Nos fins de 1816 Schubert desistiu de se tornar professor como seu pai e foi morar em outra parte de Viena com seu amigo poeta Franz von Schober. Foi esse amigo que provocou o encontro do compositor com o barítono Johann Michael Vogl, em 1817. Schubert admirava o cantor desde 1813, mas sua notória timidez o impedira de uma aproximação. Schober pressentiu que o interesse do cantor, no fim de sua carreira, pelas lindas canções de Schubert seria de ótimo proveito para ambos. Além disso frutificou uma grande amizade, apesar da diferença de idade. Vogl era 30 anos mais velho do que Schubert e ainda assim viveu mais 12 anos após a morte do amigo. Vogl certamente contribuiu para uma maior divulgação das canções de Schubert e um ano antes de morrer fez uma última apresentação do grande ciclo de canções, o Winterreise.

Mas a história da principal peça deste disco começa com uma viagem de férias na qual Vogl foi passear em sua cidade natal, Steyr, onde morava um mecenas da música e ótimo violoncelista amador, Sylvester Paumgartner. Vogl levou Schubert com ele, garantido a melhor música que poderia ter…

Paumgartner adorava as canções de Schubert e gostava em particular da canção sobre a truta que acaba sendo fisgada. Daí para o pedido de uma peça de câmara com o tema da canção foi um pulo – que tal os instrumentos do quinteto do bom Hummel, que além do piano tinha violino, viola, violoncelo e contrabaixo? Schubert iniciou a composição do quinteto que terminou no outono, quando já estava de volta em Viena. O lindo quinteto foi despachado para Paumgartner assim que ficou pronto e revelou toda a alegria e contentamento dos dias passados em Steyr.

Trio Leopoldo

Há muitas gravações desse quinteto, peça que atrai tanto pianistas como grupos de câmara, quartetos de cordas, que precisam convidar um amigo contrabaixista, variando um pouquinho a formação. Algumas gravações notórias: Clifford Curzon e membros do Octeto de Viena, Emil Gilels, membros do Quarteto Amadeus, Rudolf Serkin e amigos, membros do Alban Berg Quartet, Elisabeth Leonskaja e Georg Hortnagel, membros do Hagen Quartet, András Schiff e Alois Posch. Eu gosto muito do disco com o Domus Quartet, gravado quando o grupo estava em seus primeiros anos, acompanhados por Chi-chi Nwanoku, com a produção impecável de Andrew Keener. Um dos pianistas expert em Schubert, Alfred Brendel, fez duas gravações para a Philips. A gravação que escolhi para a postagem também traz um pianista que tem feito maravilhosas gravações de música de Haydn, Mozart, Beethoven e Schubert e foi aluno de Brendel – Paul Lewis.

Aqui ele é acompanhado do Trio Leopold e de Graham Mitchel, numa ótima produção da Hyperion…

Following their splendid collaboration in the Mozart quartets… Paul Lewis and the Leopold Trio (with Graham Mitchell) are equally impressive in the Trout. High spirits and poetry are given equal attention… Each ‘Trout’ variation is strongly characterised – if the theme seems a little lethargic, the first three variations, each more animated than the last, put this into perspective.    – Gramophone – May 2006

Franz Schubert (1797 – 1828)

String Trio in B flat major, D471

  1. Trio

Piano Quintet in A major, D667 ‘The Trout’

  1. Allegro vivace
  2. Andante
  3. Scherzo: Presto
  4. Thema: Andantino – Variations 1-5 – Allegretto
  5. Finale: Allegro giusto

String Trio in B flat major, D581

  1. Allegro moderato
  2. Andante
  3. Minuetto: Allegretto
  4. Rondo: Allegretto

Paul Lewis, piano

Leopold String Trio

Graham Mitchell, contrabaixo

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FLAC | 249 MB

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MP3 | 320 KBPS | 184 MB

Paul Lewis

‘The Trout is played with sweetness and lyricism … the Leopold and friends allow very few clouds in this sunniest of pieces … it makes for thoroughly enjoyable listening’ (American Record Guide)

Aproveite!

René Denon

Franz Schubert (1797-1828): Sinfonia No. 5 & Música Incidental para ‘Rosamunde’ – WDR Sinfonieorchester Köln & Günter Wand ֎

Franz Schubert (1797-1828): Sinfonia No. 5 & Música Incidental para ‘Rosamunde’ – WDR Sinfonieorchester Köln & Günter Wand ֎

 

SCHUBERT

Sinfonia No. 5

‘Rosamunde’ – Música Incidental

 

J’adore a música de Schubert! Mestre absoluto da melodia, compositor de enorme fluência e verve. A retórica de Schubert é da persistência e repetições que se recolocam com pequenas alterações entre tantas outras coisas. Mas, como perigosamente me aproximo das especulações, vamos ao disco.

A música orquestral de Schubert é pequena se colocarmos em proporção ao resto de sua obra, mas isso reflete as reais possibilidades de execução no momento da criação. As suas cinco primeiras sinfonias, compostas entre 1813 e 1816, foram criadas para apresentações por orquestras amadoras.

A Sinfonia No. 1 foi apresentada pela orquestra formada por seus colegas de escola. As outras quatro sinfonias foram sendo apresentadas pela orquestra que surgiu dos encontros de músicos na casa de seus pais, cresceu e seu desenvolveu tornando-se uma ótima orquestra amadora. Essas sinfonias de juventude refletem o interesse e a admiração que Schubert tinha pelo compositores importantes de seu tempo, como Haydn e Beethoven, por quem tinha uma enorme admiração. Mas, a Sinfonia desse disco foi inspirada em uma obra de outro compositor por quem ele tinha grande admiração, a Sinfonia No. 40 de Mozart. Eu tenho especial admiração pelas duas sinfonias, a de Mozart e a de Schubert. Até na escolha dos instrumentos ele seguiu o mestre e criou uma peça com um maravilhoso Andante con moto, que aqui se estende por bons dez minutos e é antecipado por um radiante Allegro. Toda obra, com certeza daria muito prazer a Wolfie. Uma sinfonia com ares vienenses, com leveza, elegância e espirituosidade, muito bem realçadas por essa gravação, com a Orquestra da Rádio Alemã em Köln, regida pelo venerando Günter Wand. E olha que a gravação foi feita há já mais do que 40 anos.

Para completar o programa temos a música composta para o drama ‘Rosamunde’, escrita por Helmina von Chézy, que também escreveu o libreto de ‘Euryanthe’, musicado por Carl Maria von Weber. A peça teatral estreou em 20 de dezembro de 1823, foi apresentada mais uma vez e tornou-se um retumbante fracasso. Mas, temos a música cujo tema foi usado novamente por Schubert em um quarteto de cordas composto no ano seguinte e herdou o nome da peça: Rosamunde.

Ah, quase ia me esquecendo! O tema da Rosamunde foi mais uma vez usado em um dos Impromptus. Veja a faixa bônus.

Franz Schubert (1797 – 1828)

Symphony No. 5 in B flat major, D485

  1. Allegro
  2. Andante con moto
  3. Menuetto. Allegro molto – Trio
  4. Allegro vivace

Incidental music to Rosamunde, D797

  1. Entr’acte No. III in B-Flat Major
  2. Ballet Music No. 1
  3. Ballet Music No. 2

WDR Sinfonieorchester Köln

Günter Wand

Faixa Bônus

  1. Impromptu em si bemol maior, Op. 142, 3 ‘Rosamunde’

Klara Würtz, piano

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FLAC | 245 MB

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MP3 | 320 KBPS | 162 MB

Herr Wand und Orchester

Esse disco faz parte da coleção com todas as sinfonias de Schubert gravadas por Günter Wand regendo a orquestra da Rádio Alemã em Colônia, mas acho que esse disco pode (e talvez deva) ser apreciado assim, devagar e isolado de seus irmão, especialmente os que trazem as enormes sinfonias…

Aproveite!

René Denon

Beethoven (1770-1827): Algumas Sonatas para Piano – Rachmaninov (1873 – 1943): Concerto para Piano No. 1 – Richard Strauss (1864 – 1949): Burleske – Byron Janis (piano) ֎

Beethoven (1770-1827): Algumas Sonatas para Piano – Rachmaninov (1873 – 1943): Concerto para Piano No. 1 – Richard Strauss (1864 – 1949): Burleske – Byron Janis (piano) ֎

 

Homenagem ao pianista Byron JANIS (1928 – 2024)

Imagine ser um pianista virtuose no período no qual reinavam nomes como Gilels, Horowitz, Rubinstein, Richter. O pelotão de frente era espetacular, estelar… Pois isso foi o que viveu profissionalmente Byron Janis, que faleceu há alguns dias, em 14 de março de 2024, pouco antes de completar 96 anos.

Viver 96 anos é um feito reservado a poucos, ainda mais se pensarmos que esses anos decorreram entre 1928 e 2024, podemos imaginar quantas mudanças ele testemunhou.

Nascido na Pensilvânia, estreou como pianista aos 15 anos com a orquestra do maestro Toscanini e aos 18 anos tornou-se o mais novo aluno de Horowitz. Também nessa idade tornou-se o mais novo pianista a ser contratado pela RCA Victor.

Em 1960 foi o primeiro artista americano a participar de um pioneiro Intercâmbio Cultural entre os Estados Unidos e a então União Soviética.

A partir dos anos 1970 passou a sofrer de um tipo de artrite que lhe causava muitas dores, mesmo assim prosseguiu na carreira e essa condição só se tornou pública em 1985, quando deu um concerto na Casa Branca, na era Reagan. Desde então passou a ser o porta voz da Arthritis Foundation e também seu Embaixador para as Artes.

Eu conhecia suas gravações dos enormes concertos para piano, como os ultra-românticos Rach #2 e #3 e o espetacular Prkfv #3, originalmente gravados pelo selo Mercury, mas para essa postagem escolhi algumas gravações mais antigas, talvez menos conhecidas, mas de maneira alguma desinteressantes.

As Sonatas para piano de Beethoven estão supimpas e há de bônus um impromptu de Schubert que está delicioso.

Para representar sua arte como pianista com orquestra escolhi um disco com o primeiro concerto de Rachmaninov, que esbanja juventude e impetuosidade, acompanhado da Burleske, de Strauss, uma peça intrigante e aqui muito bem apresentada. Para garantir que tudo fosse nos trinques, essas peças veem acompanhadas pela Orquestra Sinfônica de Chicago regida pelo seu tiranossauro mor, Fritz Reiner!

Ludwig van Beethoven (1770 – 1828 )

Piano Sonata No. 17 in D minor, Op. 31 No. 2 ‘Tempest’

  1. Largo – Allegro
  2. Adagio
  3. Allegretto

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Impromptu in E flat major, D899 No. 2

Byron Janis (piano)

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Ludwig van Beethoven (1770 – 1828 )

Piano Sonata No. 21 in C major, Op. 53 ‘Waldstein’

  1. Allegro con brio
  2. Introduzione – Adagio molto
  3. Rondo – Allegro comodo

Piano Sonata No. 30 in E major, Op. 109

  1. Vivace, ma non troppo
  2. Prestissimo
  3. Andante molto cantabile ed espressivo

Byron Janis (piano)

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Sergey Vassilievich Rachmaninov (1873-1943)

Piano Concerto No. 1 in F sharp minor, Op. 1

  1. Vivace
  2. Andante cantabile
  3. Allegro vivace

Richard Strauss (1864–1949)

Burleske for Piano and orchestra in D minor, AV85

  1. Burleske

Byron Janis (piano)

Chicago Symphony Orchestra

Fritz Reiner

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MP3 | 320 KBPS | 116 MB

Maestro Reiner com o jovem Byron nos ensaios para a gravação do disco
Postagem com selo Jurássico!

In 1967, Janis accidentally discovered two previously unknown manuscripts of Chopin waltzes in France and later found two others while teaching at Yale University.

“In spite of adverse physical challenges throughout his career, he overcame them, and it did not diminish his artistry,” Maria Cooper Janis, 86, wrote. “Music is Byron’s soul, not a ticket to stardom, and his passion for and love of creating music informed every day of his life of 95 years.

Foi um bamba do teclado…

Aproveite!

René Denon

 

Schubert (1797-1828): Schwanengesang – Andrè Schuen & Daniel Heide ֎

Schubert (1797-1828): Schwanengesang – Andrè Schuen & Daniel Heide ֎

FRANZ SCHUBERT

Schwanengesang, D. 957

Andrè Schuen, barítono

Daniel Heide, piano

 

É domingo e há uma clara ameaça de tempestade. São as águas de março…

Ultimamente tenho ouvido música no meu estúdio onde passo a maior parte de meu tempo produtivo. O computador está conectado a um DAC (digital audio converter) que por sua vez está conectado ao amplificador, um receiver Yamaha, provavelmente fabricado na China. O Yamaha já passou por uma intervenção eletrônica, possivelmente resultado de oxidação (zinabre para todos os lados), morar perto da praia tem seus custos. Ele está ligado a um par de caixas de som Bose, do tipo shelf, e mais nada, no subwoofer.

Isso é tudo que preciso para ouvir esse maravilhoso disco, Schubert, Schwanengesang.

Eu tenho uma certa birra com esse título, o Canto do Cisne, faça-me o favor. A despeito de minhas restrições pessoais, o título foi aposto numa coleção de canções, reunidas para a publicação pelo editor Tobias Haslinger, em 1829, depois da morte de Schubert. Claro que ele tinha em vista o sucesso dos dois ciclos de canções, Die schöne Müllerin (1824) e Winterreise (1828), publicados anteriormente. A diferença está no fato que os dois primeiros ciclos são sobre poemas do mesmo poeta, Wilhelm Müller, escritos como um ciclo de poemas. No caso de Schwanengesang temos 14 canções escritas no fim da vida de Schubert sobre poemas de três diferentes poetas,  não tratam de um único tema, nem tem uma sequência narrativa, como os ciclos anteriores. Apesar disso, o conjunto funciona maravilhosamente como um programa de um recital, no qual a densidade e a profundidade de algumas canções, especialmente aquelas com letra de Heinrich Heine, faz contraponto com as canções mais leves e brilhantes, algumas com letras de Ludwig Rellstab e aquela de Johann Gabriel Seidl, que como poeta não parece ter a mesma dimensão que Heine. Aliás, Heine (1797 – 1856) foi contemporâneo de Schubert (1797 – 1828), sendo que este teve vida mais breve. Os poemas de Heine também inspiraram outras compositores de Lied, especialmente Schumann, mas isso é outra postagem.

Os sete poemas de Rellstab, que se tornaram as sete primeiras canções do Schwanengesang, foram enviadas para serem musicadas por Beethoven, mas acabaram nas mãos de Schubert, encaminhadas pelo assistente-secretário-biógrafo-faz-tudo Anton Schindler. Não consigo deixar de pensar nas palavras ‘lista de Schindler’.

As gravações do ciclo são inúmeras, parece haver mais cantores de Lieder do que apreciadores. Na era dos CDs passou-se a acrescentar mais algumas canções ao disco, para engordar o tempo, mas antes disso, os LPs costumavam trazer apenas as tais 14 canções, assim como neste disco, pós CDs. Eu ouvi centenas de vezes um LP da gravadora de selo amarelo com o barítono Hermann Prey, que foi para Dietrich Fischer-Dieskau o equivalente ao que Roger Moore foi para Sean Connery, se é que você me permite essa liberdade… Desde então, não me canso de ouvir essas canções.

Mas chega de lero, vamos aos disco, que é maravilhoso. Não se deixe irritar pela capa, compare com aquela do disco do HP e verá como o departamento de arte da DG tem evoluído. O que conta é o conteúdo do pacote.

A dupla dando palhinha para a turma do PQP Bach logo depois da entrevista para a postagem…

A voz do Andrè Schuen é espetacular, muito bonita mesmo e ele está em excelente sintonia com o pianista que o acompanha já há um bom tempo, Daniel Heide.

Segue trechos da crítica que pode ser lida na íntegra aqui , na tradução feita com a ajuda do Chat PQP: […] O barítono ítalo-tirolês Andrè Schuen é uma figura cada vez mais destacada no mundo do Lieder. Schwanengesang não desperta sua forte imaginação interpretativa e não deveria. As tentativas de impor uma linha direta a este ciclo têm sido desastrosamente redutoras. Em vez disso, aprecia-se a voz de barítono fresca e lindamente contornada de Schuen, plena de controle de respiração que lhe permite navegar em longas linhas vocais com um senso iluminador de direção musical de longo prazo, além de uma articulação reveladora do texto. […] Da mesma forma, o pianista Daniel Heide leva em consideração a imagem completa de qualquer canção […] 

Franz Schubert (1797 – 1828)

Schwanengesang, D. 957

  1. Liebesbotschaft
  2. Kriegers Ahnung
  3. Frühlingssehnsucht
  4. Ständchen
  5. Aufenthalt
  6. In der Ferne
  7. Abschied
  8. Der Atlas
  9. Ihr Bild
  10. Das Fischermädchen
  11. Die Stadt
  12. Am Meer
  13. Der Doppelgänger
  14. Die Taubenpost, D. 965a

Andrè Schuen, barítono

Daniel Heide, piano

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Andrè Schuen

Trecho do site da DG: Schubert’s enigmatic final collection of songs, Schwanengesang, is the subject of baritone Andrè Schuen and his longstanding accompanist Daniel Heide’s second release for DG. Baritone Andrè Schuen calls Schwanengesang “my greatest love among the Schubert lieder. Especially the Heine settings; they move me the most!” His admiration for the cycle dates back to a time before he had even become a professional singer: “It’s one of the first lied compositions I got to know. I remember a recording with Dietrich Fischer-Dieskau that I played over and over again.”

Escolha seu 007 preferido…

Da série ‘fortune cookie’: As comparações são odiosas!

Aproveite!

René Denon

Franz Schubert (1797-1828): Sonata D. 960 / Fantasia Wanderer D. 760 (Brendel)

Franz Schubert (1797-1828): Sonata D. 960 / Fantasia Wanderer D. 760 (Brendel)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Schubert, com certeza, jamais foi negligenciado por Alfred Brendel. Mas suas sonatas para piano, com algumas exceções, foram e são. No ensaio de Brendel de 2015, A Lifetime of Recordings, ficamos sabendo com incredulidade que Otto Erich Deutsch, que catalogou a obra de Schubert, ouviu pela primeira vez a Sonata D. 958 — hoje considerada a primeira parte de uma trilogia de despedida — quando o próprio Brendel a tocou em Viena na década de 1960. Diz-se que Rachmaninoff nem sabia que existiam sonatas para piano de Schubert. Embora eu seja um habitué de recitais de piano, nunca ouvi uma Sonata de Schubert ao vivo. Como sublinha Brendel, a descoberta tardia destas obras é em função da sua originalidade desconcertante: comparadas com as sonatas clássicas de Haydn, Mozart e Beethoven, ou com as sonatas românticas de Chopin, Schumann e Brahms, elas são inclassificáveis. Charles Rosen (outro notável pianista-autor) joga a toalha em seu deslumbrante The Classical Style, cujo penúltimo parágrafo conclui que Schubert “se destaca como um exemplo da resistência às generalizações”. Um dos projetos indispensáveis de Brendel tem sido o de promover as Sonatas para piano de Schubert. Ele gravou e regravou essas obras. E o fez da forma mais sublime que se possa imaginar.

E o que dizer da Wanderer? Que obra espetacular! A Fantasia Wanderer é uma obra para piano em quatro movimentos composta por em novembro de 1822. Esta fantasia é considerada como a composição de Schubert para piano mais exigente tecnicamente, e uma das poucas a exigir virtuosismo. Schubert disse mesmo Das Zeug soll der Teufel spielen (O diabo devia tocar isto), fazendo referência à sua própria incapacidade de executá-la.

Franz Schubert (1797-1828): Sonata D. 960 / Fantasia Wanderer D. 760 (Brendel)

Sonata In B Flat Major, D. 960
1 1. Molto Moderato 14:38
2 2. Andante Sostenuto 8:54
3 3. Scherzo (Allegro Vivace Con Delicatezza) 3:57
4 4. Allegro, Ma Non Troppo 8:30

5 Fantasia In C Major, Op. 15 D. 760 “Wanderer Fantasy” 21:04

Alfred Brendel, piano

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Brendel faz uma pose de goleiro pra nóis tudo

PQP