Mendelssohn não está entre os meus 10 ou 15 compositores favoritos. Não só isso: como alguém que ouve muita música para piano, associo o compositor às belas e suaves miniaturas Romances sem palavras, que ele publicou em diferentes momentos da vida e eram populares na Inglaterra vitoriana, entre outros contextos de um certo conservadorismo musical de gente rica. Essa impressão combina ainda com a sua célebre Marcha Nupcial, presente em 9 a cada 10 casamentos, e combina parcialmente com as suas sinfonias.
Enfim, a imagem de um compositor muito competente, especialista em J.S. Bach – de quem ele salvou certas obras do esquecimento na sua época – e, assim como Bach, às vezes menos ousado do que outros contemporâneos seus. Parênteses aqui para lembrar que o grande, imenso Bach evitava temas de amor romântico nas suas obras vocais e uma das poucas obras com pitadas de polêmica é a Cantata do Café. Voltemos a Mendelssohn: algumas obras dos anos 1840, última década do compositor, mostram um estilo tardio em que finalmente o compositor soa mais ousado e se entrega a arroubos de romantismo mais intenso. Também é o período em que ele deixou crescer uma barbade gosto duvidoso para os dias de hoje, mas até nisso ele estava ousando: antes um gosto duvidoso do que a caretice-de-classe-média da Marcha Nupcial, não é mesmo?
Entre essas obras do estilo tardio: o Trio nº 2 (1845) e, em menor medida, já o Trio nº 1 (1839). Também o famoso Concerto para Violino em Mi menor (1844), incomparavelmente mais denso e emocionante do que os tediosos concertinhos para um e para dois pianos dos anos anteriores. E o seu último Quarteto de Cordas (1847), de nº 6, que é a peça que abre esse disco. Uma abertura enérgica, cheia de suspense, como aliás também o são os movimentos iniciais dos Quartetos nº 4 e 5 e dos seus Trios.
O livreto deste álbum explica alguns detalhes dos últimos meses de vida de Mendelssohn, após perder a sua irmã Fanny, vítima de um derrame – hoje em dia mais conhecido como AVC -, mesma causa que levaria à morte de Felix, um caso evidente de predisposição genética na família… A morte de sua irmã mais velha ocorreu quando Felix Mendelssohn já se encontrava exausto com turnês e outras atividades: o inglês Henry Chorley, que o visitou em agosto de 1847, descrevia o compositor como um homem precocemente envelhecido e já prevendo a própria morte ao comentar sobre as obras da Catedral de Köln que haviam reiniciado em 1842: “alguma obra minha ser cantada na inauguração da Catedral, que honra! Mas eu não viverei para ver isso”, teria dito Mendelssohn com uma expressão de cansaço.
Joseph Joachim (1831-1907)
Apesar desse cansaço e pessimismo, Mendelssohn teve forças para completar o seu último quarteto de cordas, o de nº 6, que foi ouvido primeiro em uma audição privada em outubro de 1847 e estreou em público em 1848, quando Mendelssohn já havia falecido. No primeiro violino o jovem Joseph Joachim (1831-1907), pupilo de Mendelssohn que estrearia ainda inúmeras obras como o Concerto de Brahms e a 2ª Sonata para violino de Schumann.
O encarte do álbum diz ainda: nem Schumann, que dedicará a Mendelssohn seus três quartetos op. 41, nem Brahms ousarão tais condessões nos seus quartetos de cordas. Apenas no século seguinte, com a Suíte lírica de Alban Berg e as Cartas íntimas de Janácek, surgirão quartetos tão autobiográficos.
Felix Mendelssohn (1809-1847):
1-4. Quarteto de cordas nº 6, em fá menor
5-8. Quarteto de cordas nº 4, em mi menor
9-12. Quarteto de cordas nº 5, em mi bemol maior
Quatuor Van Kuijk: N. van Kuijk (vln.), S. Favre-Bulle (vln.), E. François (vla.), A. Kondo (cello)
Recorded: 2022, Arsenal de Metz, France
Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a nona das onze partes de nossa eulogia ao gigante.
Arthurzinho das massas estava em todas nos anos 80.
O embrião de tal onipresença foi sua participação no Circuito Universitário, iniciativa que desde o começo da década anterior levava grandes nomes da MPB para campi, teatros, ginásios e quaisquer outros espaços em que eles coubessem. Sempre destemido, Arthur foi o primeiro músico de concerto a embarcar numa turnê do Circuito – e, convenhamos, o único capaz de aceitar um convite desses. Partiu de São Paulo, onde então morava, e prosseguiu de Kombi para Campinas e outras dez cidades do interior do estado. A experiência foi-lhe como um Caminho de Damasco: habitué de tantas paragens mundo afora, conhecedor de cada parada ao longo da Trans-Siberiana, Arthur enfim começava a descobrir seu país e a acolhida que as massas nos ginásios davam àquele pianista de raríssima figura, com cabeleira roqueira, calças de brim e a inseparável jaqueta de couro de alce.
Ó lá ela, a guerreira.
Não que tenha deixado a casaca de lado, como atesta, entre outros, o projeto Bach-Chopin que realizou com João Carlos Martins. Tampouco deixou de ter preocupações fonográficas: farto da miríade de percalços para que seus discos fossem distribuídos pelas gravadoras e decidido decerto a cultivar mais uma úlcera, fundou o selo L’Art, tendo como sócio Lauro Henrique Alves Pinto, um dos “Filhos da Pauta”. Inda assim, preferia os mocassins e os pés na estrada. Xodó das multidões, para as quais era quase sinônimo de piano brasileiro, desfrutava uma liberdade incomum de escolher onde, como e com quem aparecer: mais que arroz de festa, o rei do rolê aleatório.
Até no gibi.
Se não, vejamos: depois de quase tocar com Elomar no formigueiro humano de Serra Pelada – com direito a transporte em avião da FAB, piano incluso -, acabou na não menor muvuca do Festival de Águas Claras, o “Woodstock” brasileiro, onde dividiu palco com Luiz Gonzaga (“esse cabra é tão bom que toca até Luiz Gonzaga”, foi o veredito do próprio) numa noite encerrada por João Gilberto. Às línguas de trapo que o acusavam de buscar as massas por estar em decadência técnica, respondia dando um tempo às turbas para, numa visita à Polônia, tocar (e gravar) Rachmaninoff desse jeito:
Sossegou? Claro que não: deixou São Paulo e mudou-se para o Rio, o qual voltou a chamar de morada depois de vinte anos. Foi fagocitado quase que de imediato pela boemia e requisitado em cada cantina, restaurante ou boteco onde, entre biritas, se cultivasse a boa prosa. Na confraria conhecida como “Clube do Rio”, aproximou-se de Millôr Fernandes, que prontamente reconheceu o potencial da avis rara e lhe escreveu um show, que também dirigiu – e assim, não mais que de repente, nascia “De Repente”.
Alternando textos de Millôr com bitacos de Arthur e grande música dos dois lados do muro da infâmia entre o dito “erudito” do assim chamado “popular”, o show foi um triunfo. Não demoraria para que o showman chegasse às telinhas, a convite de Adolpho Bloch, fundador da Rede Manchete. Conhecera-o em Moscou, nos seus tempos de Conservatório, mas estreitaram o convívio no Rio, frequentando o mesmo barbeiro, praticando o idioma russo e divertindo-se a falar, sem que ninguém mais compreendesse, bandalheiras impublicáveis. Conquistado por aquele tipo maravilhoso que parecia pronto para TV, Bloch ofereceu-lhe carta branca para criar um programa semanal. Arthur pediu alto e levou: recebeu duas orquestras, dirigidas por Paulo Moura, que também lhe fazia os arranjos, e a crème de la crème da música brasileira no rol de convidados. Nascia Um Toque de Classe, carregado daqueles momentos que, ao imaginá-los na TV aberta, fazem-me questionar em que sentido, enfim, roda a fita da civilização:
Arthur, que nunca foi muito afeito ao canto, ficou especialmente impressionado com a voz de Ney Matogrosso, que buscava novos rumos para sua carreira depois do frisson que causou com suas performances no extinto conjunto Secos & Molhados:
Ney, inacreditavelmente, ainda não se convencera de que era cantor. Arthur sugeriu que deixasse de lado a maquiagem e figurinos estrambólicos que até então tinham marcado sua carreira e que, de cara lavada, apostasse em sua rara voz. Não demorou até que o belíssimo contralto de Ney, tratado como afinado instrumento, estivesse a dividir o palco com outros quatro virtuoses.
Assim, na luxuosa companhia de Arthur, Paulo Moura (saxofone), Chacal (percussão) e Raphael Rabello (violão de sete cordas), Ney inaugurou uma nova fase em sua carreira com o show O Pescador de Pérolas. De lambujem, aproximou-se de Rabello, há já muitos anos um dos maiores violonistas do mundo, com quem mais adiante gravaria À Flor da Pele, que, em minha desimportante opinião, é um dos álbuns mais sensacionais que Pindorama deu ao mundo. O Pescador de Pérolas também virou disco, ainda que se lamente que o som do piano de Arthur, aparentemente, tenha sido captado do fundo duma lata de azeite:
Lambuzado de mel pelas massas e com saudades, talvez, de ferroadas, Arthur resolveu atirar-se no vespeiro: instigado por seu guru Darcy Ribeiro, aceitou a nomeação para alguns cargos públicos no Governo do Rio. Sob sua direção, o Theatro Municipal e a Sala Cecília Meireles receberam em seus palcos muita gente que seus habitués não deixariam nem entrar pela porta dos fundos, como a Velha Guarda da Portela. Divertindo-se com o previsível reproche de quem via violados seus espaços exclusivos e sacrossantos. Arthur ligou aquele famoso botão e prosseguiu: tocou em favelas (uma imagem de “Rocinha in Concert”está no cabeçalho dessa postagem) e chamou a Orquestra de Câmara de Moscou para tocar com ele em teatros, ao ar livre e em presídios. Quem o chamava de decadente – nem sempre por méritos artísticos – acabava por ter que deglutir cenas como as do Projeto Aquarius, em que o suposto ex-pianista e a Sinfônica Brasileira tocavam para Fla-Flus de gente:
Sim, 200 mil
Para refrescar-se das saraivadas de tomates, o Rei do Rolê Aleatório foi harmonizar seu piano com uma das vozes mais distintas do Brasil, o barítono de Nelson Gonçalves. Com alguns milhares de canções no repertório, escolher o que iria para o álbum foi por si só uma empreitada. O mais difícil, com sobras, era a incompatibilidade de relógios biológicos: Nelson acordava na hora em que Arthur ia dormir. Ainda assim, com cantor no fuso horário de Bagdá e pianista no de Honolulu, a parceria deu liga e rendeu um dos melhores álbuns de suas imensas discografias, O Boêmio e o Pianista:
Miacabo com Arthur e sua cara de “acordei agora”
Durante a extensa turnê com Nelson por mais de trinta cidades brasileiras, Arthur encantou-se com a tranquilidade e o clima ameno de Florianópolis e resolveu, enfim, lançar nela sua âncora. Trouxe seus pianos para perto do mar e até deve ter contemplado a ideia de sossegar. O sucesso da coleção “Meu Piano”, que vendeu um milhão de CDs a preços módicos em bancas de revistas, mostrou-lhe que o público não queria seu sossego. Pelo contrário: ainda havia muito mais gente a conquistar, nos vastos horizontes brasileiros, a ser buscada em seus últimos recantos, mesmo nas grotas que nunca tinham visto um piano. Assim, o rei das harmonizações improváveis juntou um Steinway com uma caçamba de Scania e partiu, como orgulhoso Camelô da Música (o termo é dele), para a mais épica jornada jamais empreendida por um artista brasileiro.
ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes Idealizada por Arthur Moreira Lima Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima
Volume 24: CLÁSSICOS FAVORITOS V
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Do Pequeno Caderno para Anna Magdalena Bach:
Christian PETZOLD (1677–1733) 1 – No. 2: Minueto em Sol maior, BWV Anh. 114
Johann Sebastian BACH
2 – No. 20: Minueto em Ré menor, BWV Anh. 132
Anton DIABELLI (1781-1858)
Das Sonatinas para piano, Op. 168: 3 – Moderato cantabile
4 – Andantino
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Das Duas Sonatinas para piano, WoO Anh. 5 5 – Sonatina em Sol maior
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Do Álbum para Jovens, Op. 68 6 – O Camponês Alegre
7 – O Cavaleiro Selvagem
8 – Siciliana
9 – Um Pequeno Romance
10 – São Nicolau
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)
Seis DançasPopulares Romenas, Sz. 56 11 – Do Bastão
12 -Do Lenço
13 – Sem Sair Do Lugar
14 – Da Trompa
15 – Polka Romena
16 – Finale: Presto
Heitor VILLA-LOBOS (1887-1959)
Do Guia Prático para Piano, Primeiro Álbum: ,17 – Acordei de Madrugada
18 -A Maré Encheu
19 – A Roseira
20 -Manquinha
21 – Na Corda Da Viola
[as obras de Villa-Lobos não estão disponíveis pelos motivos aqui listados]
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Das Doze Peças para piano, Op. 40: 22 – No. 2: Chanson triste
Enrique GRANADOS Campiña (1867-1916)
Das Doze Danças Espanholas: 23 – No. 5, “Andaluza”
Gravação: St. Philip’s Church, Londres, Reino Unido, 1998-99 Engenharia de som: Peter Nicholls Piano: Steinway & Sons, Hamburgo Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999.
Antônio CARLOS GOMES (1836-1896) Transcrição de Nicolò Celega (1846-1906)
Da ópera Il Guarany: 1 – Protofonia
Carl Maria Friedrich Ernst von WEBER (1786-1826)
2 – Convite à Dança, Op. 65
Franz Peter SCHUBERT (1979-1828)
Dos Quatro Improvisos para piano, D. 899: 3 – No. 4 em Lá bemol maior
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
4 – Rondo Capriccioso, Op. 14
Johannes BRAHMS (1833-1897)
Das Valsas para piano, Op. 39: 5 – No. 1 em Si maior
6 – No. 2 em Mi maior
7 – No. 3 em Sol sustenido menor
8 – No. 6 em Dó sustenido maior
9 – No. 15 em Lá bemol maior
George GERSHWIN (1898-1937)
10 – Rhapsody in Blue
Gravação: St. Philip’s Church, Londres, Reino Unido, 1999 Engenharia de som: Peter Nicholls Piano: Steinway & Sons, Hamburgo Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999.
Volume 38: CLÁSSICOS FAVORITOS IX – TRANSCRIÇÕES CÉLEBRES
Ferenc LISZT (1811-1886)
Dos Doze Lieder de Franz Schubert, S. 558: 1 – No. 9: Ständchen
2 – Miserere du Trovatore de Giuseppe Verdi, S. 433
Do Wagner-Liszt Album:
3 – Isoldes Liebestod
4 – Liebeslied, S. 566 (baseada em Widmung, Op. 25 no. 1 de Robert Schumann)
De Années de Pèlerinage – Deuxième Année: Italie, S. 161:
5 – No. 5: Sonetto 104 del Petrarca
Johannes BRAHMS Transcrição de Percy Grainger (1882-1961)
Das Cinco Canções, Op. 49: 6 – No. 4: Wiegenlied
Aleksandr Porfirevich BORODIN (1833-1887) Transcrição de Felix Blumenfeld (1863-1931)
De Príncipe Igor, ópera em quatro atos: 7 – Dança Polovetsiana no. 17
George GERSHWIN Transcrição de Percy Grainger
8 – The Man I Love
Oscar Lorenzo FERNÁNDEZ (1897-1948) Transcrição de João de Souza Lima (1898-1982)
Da Suíte Reisado do Pastoreio: 9 – No. 3: Batuque
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: All Saints Church, Tooting, Londres, Reino Unido, 1999 Engenharia de som: Peter Nicholls Piano: Steinway & Sons, Hamburgo Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999
Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946) Transcrição do compositor
Do balé El Sombrero de Tres Picos: 12 – Danza del Molinero
Gabriel Urbain FAURÉ (1845-1924) Transcrição de Percy Grainger
Das Três Melodias, Op. 7:
13 – No. 1: Après un Rêve
Ludomir RÓŻYCKI (1883-1953) Transcrição de Grigory Ginzburg (1904-1961)
14 – Valsa da Opereta Casanova
Antônio CARLOS GOMES
15 – Quem Sabe?
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: All Saints Church, Tooting, e Rosslyn Hill Chapel, Londres, Reino Unido, 1999 Engenharia de som: Peter Nicholls Piano: Steinway & Sons, Hamburgo Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999
“9ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele abordou os seguintes tópicos, sobre sua carreira na década de 1990: concertos que tocou no morro da Mangueira e na Rocinha; período em que foi diretor da Sala Cecília Meireles; período em que foi subsecretário de cultura do estado do RJ, encarregado do interior; sua colaboração com o cantor Nelson Gonçalves; o recital que realizou juntamente com Ana Botafogo; seu disco dedicado ao compositor Brasílio Itiberê; a grande coleção de 41 CDs “Meu piano”, lançada pela Caras em 1998; a caixa de 6 CDs “MPB – Piano collection”, dedicada a Dorival Caymmi, Chico Buarque, Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Roberto Carlos; disco dedicado a Astor Piazzolla, com arranjos de Laércio de Freitas”
Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952. Eis o ponta-esquerda Joaquim Albino, o Quincas (1931-2000).
Eu poderia tentar escrever vários adjetivos para a música de Mendelssohn. Mas eu sei que jamais faria isto tão bem quanto outro integrante do PQP Bach: o Carlinus. Ele tem uma sensibilidade enorme para a música e principalmente para a música de Mendelssohn. Ele sabe traduzir os pensamentos e sentimentos em palavras. Pega aquelas impressões fantásticas em que nós pensamos e sentimos enquanto ouvimos música e traduz essas emoções em palavras… E eu considero isso algo muito bonito e difícil de conseguir fazer. Sim, eu tenho sentimentos, e ao ouvir música também me deixo “levar”, mas guardo o que sinto para mim. As sonatas para violoncelo e piano de Mendelssohn são muito legais. Adoro ouvir essas belezas. Meu primeiro contato com elas foi aqui no blog, justamente através do Carlinus. Fiz o pedido, ele demorou um tiquinho, depois respondeu e postou. Fiquei semanas ouvindo e feliz da vida porque fui atendido por ele. Hoje estou aqui para tentar retribuir a atenção que me foi dada presenteando vocês e o nosso amigo Carlinus com estas mesmas sonatas outrora postadas pelo mesmo (esse texto ta parecendo B.O. policial…). Esta versão é sublime, e é muito bem interpretada por Antonio Meneses, na companhia de Gérard Wyss. Espero que vocês gostem.
OBS.: Carlinus, brigado por me ajudar a conhecer a música de Mendelssohn!
Felix Mendelssohn (1809-1847): Música para Violoncelo e Piano (Antonio Meneses e Gérard Wyss)
01. Sonata # 1, Op. 45 – I. Allegreo vivace
02. II. Andante
03. III. Allegro assai
04. Sonata # 2 Op. 58 – I. Allegro assai vivace
05. II. Allegretto scherzando
06. III. Adagio
07. IV. Molto allegro e vivace
08. Variations Concertantes Op. 17
09. Lied ohne Worte, Op.19 #1
10. Lied ohne worte, Op.19 #3 Jägerlied
11. Assai tranquillo
12. Lied ohne Worte, Op.109
13. Lied ohne Worte, Op.19 #6 Venetianisches Gondellied
Há tanta coisa que eu gostaria de compartilhar com os senhores mas infelizmente o tempo hábil para fazer postagens está cada vez mais reduzido, e para piorar a situação, nosso armazenador de arquivos está nos deixando nas mãos, mesmo que paguemos uma boa grana para mantê-los guardados. E para complicar um pouco mais, alguns HDs externos onde guardo meus arquivos também estão querendo me deixar na mão, e é muita coisa. Por exemplo, o HD de onde estou tirando essa belíssima série do Beaux Arts Trio está começando a me preocupar, só nele tenho quase 2 TB de música armazenada, nem sei dizer quantos mil cds tenho armazenados ali. Mas enfim, esse não é um problema dos senhores, apenas meu, e lamentarei muito se perder esse material, como bem podem imaginar.
Muito já falamos deste excepcional trio aqui no PQPBach, talvez o melhor conjunto de câmera nesta formação que já foi formado. Atravessou décadas e deixou uma discografia impecável. Nosso querido e precocemente falecido Antonio Menezes tocou com eles por algum tempo, e seu líder, o pianista já quase centenário Menahen Pressler continuava na ativa até pouco tempo atrás.
Esta série que estou trazendo foi lançada pelo selo Philips em 2003, e traz a produção do grupo gravada entre 1967 – 1974. Temos aqui obras de Schumann e Mendelssohn, até Shostakovich, passando também por Chopin e Smetana e Charles Ives. Romântico inveterado que sou, destaco os registros dos trios de Mendelssohn, obras primas da inventividade e sensibilidade humana. Ouçam o comovente Andante Con Moto Tranquillo do Trio nº1 op. 49 para entenderem o que falo.
Talvez o que mais me chame a atenção deste grupo de músicos tão especiais é sua coerência e coesão musicais. Eles sempre tocam como se fossem um só instrumento, tamanha a cumplicidade que sentimos em sua interpretação. Em nenhum momento podemos destacar este ou aquele instrumento, pois quase que soam como se fossem um só.
Trata-se de uma série de quatro cds, vou trazê-los em duas postagens para melhor poderem ser apreciados, ou melhor, degustados. Nestes dois primeiros, o foco é o romantismo, principalmente Mendelssohn e Schumann e encerrando com Chopin.
Com diria nosso querido Carlinus, uma boa apreciação.
Piano Trio No.1 In D Minor, Op.49
Composed By – Felix Mendelssohn-Bartholdy
1-1 1. Molto Allegro Ed Agitato
1-2 2. Andante Con Moto Tranquillo
1-3 3. Scherzo (Leggiero E Vivace)
1-4 4. Finale (Allegro Assai Appassionato)
Piano Trio No.2 In C Minor, Op.66
Composed By – Felix Mendelssohn-Bartholdy
1-5 1. Allegro Energico E Con Fuoco
1-6 2. Andante Espressivo
1-7 3. Scherzo (Molto Allegro Quasi Presto)
1-8 4. Finale (Allegro Appassionato)
Piano Trio No.3 In G Minor, Op.110
Composed By – Robert Schumann
1-9 1. Bewegt, Doch Nicht Zu Rasch
1-10 2. Ziemlich Langsam
1-11 3. Rasch
1-12 4. Kräftig, Mit Humor
Piano Trio No.1 In D Minor, Op.63
Composed By – Robert Schumann
2-1 1. Mit Energie Und Leidenschaft
2-2 2. Lebhaft, Doch Nicht Zu Rasch
2-3 3. Langsam, Mit Inniger Empfindung
2-4 4. Mit Feuer
Piano Trio No.2 In F, Op.80
Composed By – Robert Schumann
2-5 1. Sehr Lebhaft
2-6 2. Mit Innigem Ausdruck
2-7 3. In Mäßiger Bewegung
2-8 4. Nicht Zu Rasch
Piano Trio In G Minor, Op.17
Composed By – Clara Schumann
2-9 1. Allegro Moderato
2-10 2. Scherzo (Tempo Di Menuetto)
2-11 3. Andante
2-12 4. Allegretto
Beaux Arts Trio:
Menahem Pressler – Piano
Daniel Guillet – Violino (Faixas 1 a 8 do Cd 1)
Isidore Cohen – Violino
Bernard Greenhouse – Violoncelo
Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos (e percebam que nem mencionei seu instrumento!), completaria hoje 85 anos. Para celebrar seu legado extraordinário e honrar sua memória, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de hoje até 30 de outubro, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a primeira das onze partes de nossa eulogia ao gigante.
Se me perguntassem qual minha primeira memória de Arthur Moreira Lima, eu provavelmente lhes diria que ela é tão remota quanto a que eu tenho de um pianista. Nasci sob o Terror e cresci entre os ventos da Abertura que traziam de volta quem partira em rabos de foguete. Em minha casa ouvia-se muita música – nenhuma que atraísse cassetetes, e quase sempre daquela prevalente em elevadores e consultórios odontológicos. Ainda assim, era música bastante para que a aparição de um pianista na tela da TV, daquelas de antenas finamente ajustadas com palha de aço, não fosse sumariamente rechaçada por uma mudança de canal para a novela da vez. E o pianista, bem, ele era sempre o mesmo: aquele tipo de perfil pontiagudo, olhos a um só tempo alheios e dardejantes, de postura algo gibosa ao teclado e a drapejar sua cabeleira enquanto debulhava com os dedos coisas que eu não imaginava possíveis a mim, menino telespectador. Ele tocava de tudo, e em todo lugar, e ante centenas, milhares, dezenas de milhares de pessoas, e sozinho, e com orquestras, e em toda e qualquer companhia. No programa que teve na TV aberta, inimaginável nesses nossos tristes tempos de Tigrinho, dividiu a ribalta com chorões e roqueiros, seresteiros e jazzistas; mostrou-me Ney Matogrosso pela primeira vez de cara limpa e apresentou-me o semideus Raphael Rabello, que toca, como Gardel canta para os argentinos, cada dia melhor. Entre um número e outro, com o maroto sotaque que nunca renegou seu berço, entrevistava seus convidados com muita descontração – tanta que promoveu o seguinte diálogo entre meus genitores:
– Esse é aquele pianista?
– É.
– Bem informal, hein?
– Sim.
– Nem parece pianista…
O programa saiu do ar sem-cerimoniosamente, e eu, exceto por um LP e outro que encontrava em briques, fiquei sem saber do madeixudo carismático, até o dia em que, exaurido por um plantão no pronto-socorro e disposto a tudo para ver algo que não fosse sangue ou pus, encontrei um palco montado no meio do maior parque de minha Dogville natal. Sobre ele, um piano, e ante este – sim, adivinharam! – o pianista que nem parecia pianista, e que, contrariando tudo o que se dizia dele – que não estudava, que não se levava a sério, que estava decadente – despachava com segurança os arpejos do Estudo Op. 10 no. 1 de Chopin sob o olhar tietante duns gatos-pingados aos quais me juntei, lá na fila do gargarejo. Emendou, em seguida, o “Revolucionário“, o “Tristesse“, o das teclas pretas, e foi esgotando o Op. 10, estudo a estudo, inteiros ou em parte, até que faltou somente…
– O número 2, Arthur.
– Hein?
– Faltou o número 2.
– Cê me odeia, né? – gargalhava – Mas certamente não tanto quanto eu odeio o número 2.
E atacou o temido Op. 10 no. 2, com aquelas escalas rapidíssimas todinhas com os dedos fracos da mão direita, enquanto resmungava das tendinites que ele lhe trouxera.
– Que mais cês querem?
– …
– Digam logo, que daqui a pouco vão me levar à força pro camarim.
– Piazzolla, então!
E nos deu um Adiós Nonino com a mesma eletricidade que pôs suas madeixas em riste na memorável capa do álbum que dedicou a Astor. Ao terminar, com o produtor já a olhar com ganas de arrancá-lo do palco, um dos gatos-pingados lhe alcançou um número de telefone:
– Volto hoje para o Rio – explicava-se, enquanto guardava o papelucho na casaca – mas não deixo de te ligar.
– A costela está assando desde que saí de casa. Eu e ela te aguardamos.
– E a cerveja?
– Ela também. Mais gelada que em Moscou.
E foi arrastado para as coxias, de onde voltou para tocar um Tchaikovsky furioso com a Sinfônica de Dogville. Nunca soube se ele, enfim, telefonou para o churrasqueiro. Imagino que sim. Afinal, aquele ex-menino prodígio, de nobre arte forjada no Brasil e burilada na França e na União Soviética, capaz de dialogar com bolcheviques e mencheviques, maragatos e chimangos, cronópios e famas, sempre foi também um perfeito exemplo do que em minha terra se chama de “pau de enchente” – aquele tipo que, como os galhos de árvores levados pelas enxurradas, vai parando aqui e ali – e nunca perdeu qualquer oportunidade de falar, de ouvir e de aprender.
– Decadente.
– Quê?
– Sim. Olha aí: tá vendendo disco na Caras!
– Eita…
O brasileiro não é gentil com seus heróis, e desancaram o heroico Sr. Pau de Enchente quando ele lançou sua antologia pianística a preços módicos e acessível em qualquer banca de revistas. Onde outros viam dinheirismo e decadência, eu, seu desde sempre tiete, só via generosidade – a mesma que o fez tocar para aquelas centenas, aqueles milhares, aquelas dezenas de milhares de gentes, a brilhar na TV e matar de inveja tantos colegas de ofício, a implodir o Muro da Vergonha entre os assim chamados “erudito” e “popular’, e que o levaria, em seu caminhão-teatro feito Caravana Rolidei, a tocar para compatriotas que nunca tinham visto um piano na vida.
Eu nunca consegui lhe agradecer, que se dirá o bastante – se é que haveria gratidão suficiente para tanta dedicação aos ouvidos de seu país! Até tive oportunidades: afinal, tanto eu quanto Sr. De Enchente escolhemos a mesma ilha para passar nossos últimos anos. Por algum tempo, inclusive, compartimos a mesma praia em que, vez que outra, nossos percursos se cruzavam. Numa delas, ele jogava bola com uma criança que, com um pontapé somado ao vigor do Vento Sul, mandou a redondinha na minha direção. Eu, que tenho dois pés esquerdos, devolvi-a com uma vergonhosa rosca para os devidos donos. Já me conformava com a ideia de ir buscá-la ainda mais longe, quando, antes mesmo dela quicar no chão, aquele torcedor doente do Fluminense Football Club aparou a pelota com um golpe seco que orgulharia o Príncipe Etíope e, com um toque de letra digno de Super Ézio, devolveu-a à remetente.
– Valeu, meu bom!
Craque com as mãos e com os pés, o Pelé e o Garrincha do Piano Brasileiro, gênio da raça: também tocas cada dia melhor! Venero-te tanto que jamais te conseguirei ser crítico. Se os leitores-ouvintes o quiserem, que assim sejam – mas minha homenagem aqui, ela terá só carinho e saudade ❤️.
Em memória de Fluminense Moreira Lima (16 de julho de 1940, Rio de Janeiro – Florianópolis, 30 de outubro de 2024) em seu 85º aniversário.
ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes Idealizada por Arthur Moreira Lima Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima
Volume 1: CLÁSSICOS FAVORITOS I
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Myra Hess (1890-1965)
Da Cantata “Herz und Mund und Tat und Leben“, BWV 147: 1 – Coral: Jesus bleibet meine Freude
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Da Sonata para piano no. 11 em Lá maior, K. 331: 2 – Alla Turca: Allegretto
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Bagatela em Lá menor, WoO 59, “Für Elise” 3 – Poco moto
Carl Maria Friedrich Ernst Freiherr von WEBER (1786-1826)
Da Sonata para piano no. 1 em Dó maior, Op. 24: 4 – Rondo: Presto (“Perpetuum mobile“)
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Das Fantasiestücke, Op. 12: 5 – No. 3: “Warum?”
Ferenc LISZT (1810-1886)
Dos Grandes Estudos de Paganini, S. 141:
6 – No. 3: La Campanella
Jules Émile Frédéric MASSENET (1842-1912)
De Thaïs, ópera em três atos:
7 – Méditation (transcrição do compositor)
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Da Música Incidental para Ein Sommernachtstraum (“Sonho de uma Noite de Verão”), de William Shakespeare, Op. 61:
8 – No. 9: Marcha nupcial (transcrição do compositor)
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Das Dezoito Peças para piano, Op. 72:
9 – No. 2: Berceuse
Sergei Vasilievich RACHMANINOFF (1873-1943)
Dos Morceaux de Fantaisie, Op. 3: 10 – No. 2: Prelúdio em Dó sustenido menor
Anton Grigorevich RUBINSTEIN (1829-1894)
Das Duas Melodias, Op. 3: 11 – No. 1: Melodia em Fá maior
Alexander Nikolayevich SCRIABIN (1872-1915)
Dos Doze Estudos, Op. 8: 12 – No. 12 em Ré sustenido menor, “Patético”
Achille Claude DEBUSSY (1862-1918)
Da Suite Bergamasque, L. 75: 13 – No. 3: Clair de Lune
Manuel DE FALLA y Matheu (1876-1946)
De El Amor Brujo, balé em um ato: 14 – Dança Ritual do Fogo (transcrição do compositor) BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Volume 3: CLÁSSICOS FAVORITOS II
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Ferruccio Busoni (1866-1924)
Da Toccata e Fuga em Ré menor para órgão, BWV 565:
1 – Toccata
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
2 – Sonata em Mi Maior, L. 23 (K. 380)
Carl Philipp Emanuel BACH (1714-1788)
3 – Solfeggietto em Dó menor, H 220, Wq. 117:2
Georg Friedrich HÄNDEL Da Suíte para Teclado no. 5 em Mi maior, HWV 430: 4 – No. 4: Ária com Variações, “The Harmonious Blacksmith”
Ludwig van BEETHOVEN
5 – Seis Escocesas, WoO 83
Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
6 – Fantasia-Improviso em Dó sustenido menor, Op. 66
Gioachino Antonio ROSSINI (1792-1868)
Das Soirées Musicales: 7 – No. 8: La Danza (Tarantella Napolitana)
Felix MENDELSSOHN Das Canções sem Palavras: 8 – Allegro non troppo (Op. 53 no. 2) – Allegretto grazioso (Op. 62 no. 6, Frühlingslied) – Presto (Op. 67 no. 4, La Fileuse)
Ferenc LISZT Dos Liebesträume, Noturnos para piano, S. 541: 9 – No. 3 em Lá bemol maior
Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)
Do Peças Líricas, Livro III, Op. 43: 10 – No. 1: Papillon
Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
Das Oito Humoresques, Op. 101: 11 – No. 7 em Sol bemol maior
Pyotr TCHAIKOVSKY
Das Estações, Op. 37a: 12 – No. 11: Novembro (Troika)
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Das Dez Peças para piano, Op. 12: 13 – No. 2: Gavota em Sol menor
Claude DEBUSSY
14 – La Plus que Lente, L. 121
Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Da Suíte Espanhola no. 1, Op. 47:
15 – No. 3: Sevilla
Gravações realizadas na Saint Philip’s Church em Londres, Reino Unido, em 1998 Piano Steinway and Sons Engenheiro de som: Peter Nichols Direção Musical, produção, edição e masterização por Rosana Martins Moreira Lima
Fãs de Arthur encontram-se doravante INTIMADOS a ouvir o podcast “Conversa de Pianista”, do Instituto Piano Brasileiro, em que nosso ídolo conversa com o incrível Alexandre Dias, e que foi ao ar em 2020:
“1ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele falou sobre como o piano começou em sua vida, suas primeiras aulas em família, seus primeiros recitais quando criança prodígio, e suas aulas com a grande professora Lúcia Branco, que o levou a participar do I Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro do 1957. Também comentou sobre grandes pianistas a que assistiu nas décadas de 1940 e 1950. Foram mencionados alguns dos assuntos que serão conversados nos próximos episódios, com especial atenção para sua rica discografia, e também sua premiação em importantes concursos internacionais de piano, como o Concurso Chopin (1965), Concurso de Leeds (1969) e o Concurso Tchaikovsky (1970). Nossa homenagem e agradecimento ao grande pianista Arthur Moreira Lima, que em 2020 completa 80 anos”.
Em mais uma homenagem a Fluminense Moreira Lima, oferecer-lhe-emos um álbum de figurinhas com os heróis da final da Copa Rio de 1952, que certamente fizeram Arthurzinho chorar de alegria. Eis o arqueiro Carlos José Castilho, o Castilho (1927-1987).
Mais um outono para a Rainha, e desta feita ela nos presenteia com gravações novas – tão novas, claro, quanto podem ser as de alguém tão avessa aos estúdios e afeita a dividir a ribalta com jovens colegas e os parceiros de sempre. Estas que ora lhes apresento foram feitas algumas semanas depois do seu octagésimo aniversário, em junho de 2021, no festival que Martha vem consolidando em Hamburgo e no qual desfruta do privilégio de selecionar a pinça o tradicional petit comité que tem garantido muito de sua longeva alegria em pisar palcos.
No que tange a Sua Majestade, o melhor que ela nos oferece nesses volumes são a leitura da sonata Op. 30 no. 3 de Beethoven, com Renaud Capuçon – seu mais frequente e afiado parceiro ao arco, nos últimos anos -, um ebuliente Segundo Concerto de Ludwig, e o belíssimo Trio de Mendelssohn, ao lado de Mischa Maisky e da über-diva Anne-Sophie Mutter. A família Margulis – Jura, Alissa e Natalia – traz um azeitadíssimo Trio “Fantasma” e um mui tocante “Canto dos Pássaros”, joia folclórica catalã posta em pauta por Pau Casals. O variado cardápio também inclui as “Canções e Danças da Morte” de Mussorgsky, com o ótimo baixo Michael Volle, e uma Sonata para dois pianos e percussão de Bartók para a qual a Rainha, que tanto a tocou com nosso Nelson Freire, convidou seu outro Nelson favorito, o compatriota Goerner. O melhor retrogosto, entretanto, não foi o que veio de dedos hermanos, e sim das diminutas mãos de Maria João em Schubert – que maravilhosos, os dois improvisos! – e da última apresentação pública de Nicholas Angelich, um brahmsiano que sempre honrou o grande hamburguense e fez da Segunda Sonata para viola e piano seu canto de cisne.
ooOoo
Uma breve nota: a partir de hoje, mudarei a maneira de compartilhar música com os leitores-ouvintes. Cansei de ver a pedra rolar tantas vezes morro abaixo. Não farei mais comentários. Que venham os tomates.
Disco 1
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sete Variações para violoncelo e piano sobre “Bei Männern, welche Liebe fühlen”, da ópera “Die Zauberflöte” de Wolfgang Amadeus Mozart, WoO 46 1 – Thema. Andante
2 – Variation I
3 – Variation II
4 – Variation III
5 – Variation IV
6 – Variation V: Si prenda il tempo un poco più vivace
7 – Variation VI. Adagio
8 – Variation VII. Allegro ma non troppo
Mischa Maisky, violoncelo
Martha Argerich, piano
Das Três Sonatas para violino e piano, Op. 30:
Sonata no. 3 em Sol maior 9 – Allegro assai
10 – Tempo di Minuetto, ma molto moderato e grazioso
11 – Allegro vivace
Renaud Capuçon, violino
Martha Argerich, piano
Dos Dois Trios para piano, violino e violoncelo, Op. 70:
No. 1 em Ré maior, “Fantasma” 12 – Allegro vivace e con brio
13 – Largo assai ed espressivo
14 – Presto
Alissa Margulis, violino Natalia Margulis, violoncelo Jura Margulis, piano
Disco 2
Ludwig van BEETHOVEN
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro
Martha Argerich, piano
Symphoniker Hamburg
Sylvain Cambreling, regência
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN-Bartholdy (1809-1847)
Trio para piano, violino e violoncelo no. 1 em Ré menor, Op. 49
4 – Molto allegro agitato
5 – Andante con moto tranquillo
6 – Scherzo: Leggiero e vivace
7 – Finale: Allegro assai appassionato
Anne-Sophie Mutter, violino
Mischa Maisky, violoncelo
Martha Argerich, piano
Johannes BRAHMS (1833-1897)
Das Duas Sonatas para clarinete e piano, Op. 120 (transcritas para viola e piano pelo compositor):
Sonata no. 2 em Mi bemol maior 8 – Allegro amabile
9 – Allegro appassionato
10 – Andante con moto – Allegro – Più tranquillo
Gérard Caussé, viola
Nicholas Angelich, piano
Disco 3
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Dos Improvisos para piano, D. 935 (Op. Posth. 142): No. 2 em Lá bemol maior
1 – Allegretto
No. 3 em Si bemol maior, “Rosamunde” 2 – Andante
Sonata para piano em Lá maior, D. 664
3 – Allegro moderato
4 – Andante
5 – Allegro
Maria João Pires, piano
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Sonata para piano a quatro mãos em Dó maior, K. 521
6 – Allegro
7 – Andante
8 – Allegretto
Martha Argerich e Maria João Pires, piano
Disco 4
Pau CASALS i Defilló (1876-1973)
1 – El Cant dels Ocells, para violino, violoncelo e piano
Alissa Margulis, violino
Natalia Margulis, violoncelo
Jura Margulis, piano
Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946)
Suite Popular Espanhola, para violino e piano
2 – El Paño Moruno
3 – Nana
4 – Canción
5 – Polo
6 – Asturiana
7 – Jota
Quinteto em Fá menor para dois violinos, viola, violoncelo e piano
8 – Molto moderato quasi lento – Allegro
9 – Lento, con molto sentimento
10 – Allegro non troppo ma con fuoco
Akiko Suwanai e Tedi Papavrami, violinos Lyda Chen, viola Alexander Kniazev, violoncelo Evgeni Bozhanov, piano
Disco 5
Astor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)
1 – Le Grand Tango
Gidon Kremer, violino Georgijs Osokins, piano
Leonard BERNSTEIN (1918-1990)
Danças Sinfônicas de West Side Story, para dois pianos
2 – Prologue
3 – Somewhere
4 – Scherzo
5 – Mambo
6 – Cha-cha
7 – Meeting Scen
8 – Cool Fugue
9 – Rumble Track
10 – Finale
Os dois trios com piano de Mendelssohn foram compostos no início do romantismo, mas ainda têm raízes no período clássico. Mais ainda o primeiro, em ré menor, composto em 1839, do que o segundo, em dó menor, composto seis anos depois. O segundo tem cores mais sóbrias, parece mais ‘serioso’ do que o primeiro.
Nesta gravação, que reúne três expoentes de cada um de seus instrumentos, temos como bônus uma versão alternativa, original, do andante do primeiro trio.
A propósito de termos um conjunto de solistas atuando numa formação de câmara, é preciso ter um certo cuidado, uma vez que as individualidades podem causar danos ao conjunto. Mas não se preocupe, pois isso não é o caso aqui. Esses três excelentes músicos têm atuado como camaristas em muitas ocasiões e assim temos aqui o melhor dos dois lados. Grandes músicos atuando como um excelente conjunto.
Confabulationes
Sobre a faixa adicional, veja um resumo da explicação que os músicos deram em uma ótima entrevista que você poderá ver na íntegra aqui:
A nova gravação acrescenta mais insights ao processo composicional de Mendelssohn com a adição de uma versão inicial do segundo movimento do Trio em Ré menor, Andante con moto tranquilo. É como ouvir um rascunho da obra finalizada — fascinante, mas faltando algo.
Isserlis persuadiu seus colegas do valor de incluir o movimento no disco. Bell poderou que “isso poderia dar a impressão de que achamos que a versão original é de alguma forma melhor, quando na verdade ele realmente a melhorou. A versão original é historicamente muito interessante.
“Estou feliz que fizemos isso. É fascinante ver como ele começou e então se torna menos convencional conforme ele revisa”, acrescenta Bell.
They’re in excellent sympathy, yet each has individual qualities to bring to the musical table. Denk is supremely fiery at the piano. Bell offsets him with wonderfully consistent, bright and focused sound, while Isserlis’s duskier tone is full of character, able to growl, glide and take risks at the high jump. [BBC Music Magazine]
Most strikingly, these performances are marked by an impressive spirit of exchange. The three players have different temperaments – and it’s clear, as you listen, that they’ve not erased their personalities. [Gramophone]
What is clear throughout these performances is that this is real chamber music; there’s never any sense of one player trying to dominate his colleagues or to hog the limelight. [The Guardian]
Aproveite!
René Denon
O trio dando uma palhinha para o pessoal do PQP Bach no dia da entrevista…
Ainda dentro das comemorações dos 200 anos de nascimento de Mendelssohn, estarei postando várias outras obras dele, como prometido há alguns dias atrás. Vou começar com seus Quartetos de Cordas, até agora meio que esquecidos no blog. A interpretação desta integral estará a cargo do Melos Quartet em gravação 5 estrelas. Vou postar os três volumes de uma só vez, para dar-lhes a satisfação de poderem acompanhar a evolução de Mendelssohn como compositor.
A primeira vez que ouvi um destes quartetos foi ainda na minha adolescência, quando tinha uns 12 anos de idade, através de uma rádio de Curitiba que só tocava música clássica, não me lembro o nome dela, só lembro que era em ondas médias. Eu tinha um radinho de pilha para poder ouvir os jogos do Coritiba, e foi esta rádio a primeira que me “iniciou” neste mundo da música chamada “clássica”. Não me lembro qual era o nome da obra que tocou, mas ela me fascinou. Passados alguns anos, consegui comprar um velho LP que trazia alguns destes quartetos, e definitivamente Mendelssohn se tornou um de meus compositores favoritos.
O Quarteto de nº6, Op, 80, ou e que está presente no primeiro CD, em minha opinião, é uma das maiores obras compostas para esta formação, e a atuação do Melos Quartet é impecável.
Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847): Os Quartetos de Cordas (Melos)
CD 1
01 String Quartet in Eb o.Op -I- Allegro moderato
02 String Quartet in Eb o.Op -II- Adagio non troppo
03 String Quartet in Eb o.Op -I- Minuetto – Trio – Minuetto
04 String Quartet in Eb o.Op -IV- Fuga
05 String Quartet in Eb Op.12 -I- Adagio non troppo – Allegro non tardante
06 String Quartet in Eb Op.12 -II- Canzonetta. Allegretto – piщ mosso
07 String Quartet in Eb Op.12 -III- Andante expressivo – attacca_
08 String Quartet in Eb Op.12 -IV- Molto allegro e vivace
09 String Quartet in F minor Op.80 -I- Allegro assai – Presto
10 String Quartet in F minor Op.80 -II- Allegro assai
11 String Quartet in F minor Op.80 -III- Adagio
12 String Quartet in F minor Op.80 -IV- Finale_ Allegro molto
cd 2
1 String Quartet in A minor Op.13 -I- Adagio – Allegro vivace
2 String Quartet in A minor Op.13 -II- Adagio non lento
3 String Quartet in A minor Op.13 -III- Intermezzo. Allegretto con moto – Alleg…
4 String Quartet in A minor Op.13 -IV- Presto – Adagio non lento
5 String Quartet in Eb Op.44 No.3 -I- Allegro vivace
6 String Quartet in Eb Op.44 No.3 -II- Scherzo. Assai leggiero vivace
7 String Quartet in Eb Op.44 No.3 -III- Adagio non troppo
8 String Quartet in Eb Op.44 No.3 -IV- Molto Allegro con fuoco
cd 3
01 3 1 D Op44 1 Molto Allegro vivace
02 3 2 D Op44 1 Menuetto Un poco Allegro
03 3 3 D Op44 1 Andante expressivo ma con moto
04 3 4 D Op44 1 Presto con brio
05 4 1 Em Op44 2 Allegro assai appassionato
06 4 2 Em Op44 2 Scherzo Allegro di molto
07 4 3 Em Op44 2 Andante attacca
08 4 4 Em Op44 2 Presto agitato
09 Pieces for String Quartet Op81 1 E Andante Un poco piu animato Presto Andante…
10 Pieces for String Quartet Op81 2 Am Scherzo Allegro leggiero
11 Pieces for String Quartet Op81 3 Em Capriccio Andante con moto Allegro fugato…
12 Pieces for String Quartet Op81 4 E Fuga A tempo ordinario
Melos Quartet:
Wilhelm Melcher – 1º Violino
Gerhard Voss – 2º Violino
Hermann Voss – Viola
Peter Buck – Violoncelo
Se o disco de Anne Sophie Mutter que apresentamos ontem (isto é uma repostagem, gente) era uma merda, este é magnífico, sua audição soa exatamente como a violinista aparece na capa: linda, coleante, azul. Seu Concerto Op. 64 é absolutamente impecável e da mesma forma é o esplêndido Trio Nº 1, com seus dois belíssimos movimentos iniciais. O nível cai um pouco na Sonata, mas não por culpa da deusa — é que a Sonata é mais fraquinha mesmo. Mesmo com as 5000 gravações existentes do Op. 64 é difícil bater o registro destes dois monstros — Mutter e Masur. Baixe agora.
Mendelssohn (1809-1847): Concerto para Violino, Op. 64 / Piano Trio No.1 / Sonata para Violino e Piano (Mutter, Masur, Previn, Harrell)
Violin Concerto in E minor, Op. 64
01. 1. Allegro molto appassionato [12:19]
02. 2. Andante [7:15]
03. 3. Allegretto non troppo – Allegro molto vivace [6:15]
Anne-Sophie Mutter, violino
Gewandhausorchester Leipzig
Kurt Masur
Piano Trio No.1 in D minor, Op.49
04. 1. Molto allegro agitato [9:01]
05. 2. Andante con moto tranquillo [6:52]
06. 3. Scherzo (Leggiero e vivace) [3:38]
07. 4. Finale (Allegro assai appassionato) [8:10]
Anne-Sophie Mutter, violino
André Previn, piano
Lynn Harrell, violoncelo
Sonata para Violino e Piano in F major (1838) (without opus number)
08. 1. Allegro vivace [11:25]
09. 2. Adagio [7:14]
10. 3. Assai vivace [5:23]
Anne-Sophie Mutter, violino
André Previn, piano
Daniel Hope tem a habilidade camaleônica de transformar seu estilo a fim de se adequar a cada nova obra. Muitas vezes ele se torna revelador, como em seu Shostakovich, outras vezes apresenta um duvidoso toque intervencionista, como em seus concertos de Bach. Mas nunca é maçante. Sua versão para o Concerto de Mendelssohn — seu primeiro lançamento na DG — é revigorante. A versão de 1844, que Hope apresenta aqui, foi o resultado de uma gestação de sete anos, com o compositor fazendo ainda mais alterações em 1845 para criar a edição que conhecemos hoje. Esta é uma gravação muito colaborativa. O violino não é indevidamente destacado e a execução orquestral é quente, com sopros envolventes, tímpano sutil, todos vitais. O Octeto está em um nível igualmente elevado, com Hope sendo o guia de seus colegas da COE. De fato, é a ênfase em mostrar o funcionamento interno que torna esta performance tão esclarecedora. Uma joia.
F. Mendelssohn (1809-1847): Violin Concerto | Octet | Songs (Daniel Hope, Chamber Orchestra Of Europe, Thomas Hengelbrock)
Concerto For Violin And Orchestra In E Minor, Op. 64 = Konzert Für Violine Und Orchester E-moll = Concerto Pour Violon Et Orchestre En Mi Mineur (Original 1844 Version • World-Premiere Recording)
Conductor – Thomas Hengelbrock
Orchestra – Chamber Orchestra Of Europe*
Violin – Daniel Hope
(25:57)
1 Allegro Con Fuoco – 11:43
2 Andante – Allegretto Non Troppo 8:31
3 Allegro Molto Vivace 5:43
Octet For Strings In E Flat Major, Op. 20 = Streichoktett Es-dur = Octuor À Cordes En Mi Bémol Majeur (Critically Revised Edition 1832 • World-Premiere Recording)
Cello [Cello 1] – William Conway
Cello [Cello 2] – Kate Gould
Orchestra – Soloists Of The Chamber Orchestra Of Europe*
Viola [Viola 1] – Pascal Siffert
Viola [Viola 2] – Stewart Eaton
Violin [Violin 1] – Daniel Hope
Violin [Violin 2] – Lucy Gould
Violin [Violin 3] – Sophie Besançon*
Violin [Violin 4] – Christian Eisenberger
(30:54)
4 1. Allegro Moderato Ma Con Fuoco 13:49
5 2. Andante 6:56
6 3. Scherzo: Allegro Leggierissimo 4:19
7 4. Presto 5:50
3 Lieder (Arr. For Violin And Piano)
Piano – Sebastian Knauer
Violin – Daniel Hope
8 Hexenlied Op. 8, No. 8 = Witches’ Song = Chant Des Sorcières 2:12
9 Suleika Op. 34, No. 4 2:45
10 Auf Flügeln Des Gesanges Op. 34, No. 2 = On Wings Of Song = Sur Les Ailes Du Chant 2:52
Daniel Hope, violin
Chamber Orchestra Of Europe
Thomas Hengelbrock
Gosto muito de Mendelssohn. Melodista de mão cheia, amava as estruturas (e também o melodismo) de Bach. Escreveu sinfonias que são um verdadeiro acinte de tão perfeitas — refiro-me especialmente à terceira, quarta e quinta. E este CD é igualmente é um acinte de tão agradável. Esse Octeto merece uma palavra que não gosto, mas que aqui tem sua mais gloriosa acepção: é adorável. O quinteto vai pela mesma via. Apesar da capa um tanto nublada, estamos frente a um CD luminoso e bastante alegre. A interpretação de Iona Brown e seus pupilos é impecável.
Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847):
Octeto, Op. 20 / Quinteto Nº 2, Op. 87
1. Octet in E flat, Op.20 – 1. Allegro moderato, ma con fuoco 13:56
2. Octet in E flat, Op.20 – 2. Andante 7:25
3. Octet in E flat, Op.20 – 3. Scherzo (Allegro leggierissimo) 4:25
4. Octet in E flat, Op.20 – 4. Presto 6:18
5. String Quintet No.2 in B flat, Op.87 – 1. Allegro vivace 10:42
6. String Quintet No.2 in B flat, Op.87 – 2. Andante scherzando 4:20
7. String Quintet No.2 in B flat, Op.87 – 3. Adagio e lento 9:58
8. String Quintet No.2 in B flat, Op.87 – 4. Allegro molto vivace 6:07
Um CD para o qual os adjetivos são insuficientes. Quem já teve a oportunidade de ler as palavras bambas e pobres que já redigi em outros posts de Mendelssohn, pôde perceber a minha profunda admiração pela música do alemão. Mendelssohn foi um indivíduo especial, dotado de uma gama de qualidades únicas. Todas as vezes que penso nele me vem à mente a ideia de um sujeito bem-afortunado. Foi alguém de uma alma profundamente cândida, delicada. Angélica. Acredito que não teve aperreios, mesmo nos últimos anos de vida, período em que a enfermidade lhe foi furtando as forças. Acredito que quem nunca ouviu o compositor e escutasse este CD que ora posto, ficaria com a melhor das impressões. Faria o julgamento de que Mendelssohn foi um sujeito singular. E, de fato, acertaria no julgamento. O CD traz aquelas peças que se tornaram imortais para a história da música. O concerto para violino e orquestra é de uma pureza e uma leveza arrebatadores. Este concerto se estabelece como um dos meus preferidos entre todos os que já foram compostos. A Sinfonia No. 4 é a minha preferida entre as cinco que ele compôs. É uma representação do seu estilo – alegria, festa, celebração e a admiração pela natureza. O tema inicial de As Hébridas possui um encanto arrebatador. Acredito que poucas peças tenham uma abertura de forma tão poderosa. Em suma: Mendelssohn e sua música são motivos para que pensemos em coisas grandes, enormes. Boa apreciação!
Felix Mendelssohn (1809-1847) – Concerto para Violino, Op. 64, Sinfonia No. 4, Athalie, incidental music, Op. 74 e The Hebrides, overture (‘Fingal’s Cave,’ 4 versions), Op. 26 Concerto para violino e orquestra em Mi menor, Op. 64
01. Allegro molto appassionato
02. Andante
03. Allegretto non troppo
Sinfonia No. 4 em A menor, Op. 90 – “Italiana” 04. Allegro vivace
05. Andante con moto
06. Con moto moderato
07. Saltarello
Athalie, incidental music, Op. 74- Kriegsmarsch der Priester
08. Athalie, incidental music, Op. 74- Kriegsmarsch der Priester
The Hebrides, overture (‘Fingal’s Cave,’ 4 versions), Op. 26
09. The Hebrides, overture (‘Fingal’s Cave,’ 4 versions), Op. 26
New York Philharmonic
Leonard Bernstein, regente
Pinchas Zukerman, violino
O post de hoje traz um disquinho para você mandar para aquele bonitão, aquela bonitona que diz que hoje em dia nada mais presta, que as coisas não são mais como eram, que não se fazem mais grandes músicos como antigamente e pipipi popopó. Nascido em Kyoto, no Japão, em 1994, Wataru Hisasue começou a tocar piano aos 5 anos de idade — e que bom que começou, porque olha, como toca esse rapaz… Wataru estudou na Alemanha — ele atualmente reside em Berlim — e na França e desde então vem colecionando prêmios: Aoyama (Japão), Massarosa (Itália), Lyon (França) e o da emissora ARD, na Alemanha. Os mais recentes dessa lista foram o Prêmio Liszt-Bartok e o Prêmio Beethoven da editora G. Henle Verlag, durante o 16º Concurso Géza Anda, em Zurique, na Suíça. Vem se apresentando, como solista e recitalista, pelo Japão e pela Europa. A participação dele, no primeiro dia de competição, pode ser vista a partir de +- 1h13m:
E num recital no Bechstein Centrum, na capital alemã, em 2022:
Esse disco, lançado em 2021, foi a estreia discográfica de Wataru (outros títulos devem aparecer aqui pelo blog no futuro). Eu particularmente gosto muito do arco formado pelo repertório, que passa por Domenico Scarlatti (1685-1757), Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847), Maurice Ravel (1875-1937) e Olivier Messiaen (1908-1992). Um disco para se ouvir alto, de janelas abertas, num cair da tarde de sol preguiçoso, e se maravilhar com essa proeza da aventura humana no planeta que é a existência deste maravilhoso instrumento chamado piano.
A felicidade de quem consegue tocar o “Gaspard de la nuit”
Enfim, nem vou ficar aqui gastando muito o verbo, recomendo é que baixem o disco e se deliciem com o toque refinado e cálido, com o volume de som, com o olhar para o detalhe sem perder a pulsação do todo. Apesar de joven, Wataru toca com a maturidade e a verdade de alguém que viu os séculos e os milênios, profundamente humano. Meu xodó nesse disco é o Gaspard de la nuit, uma das coisas mais belas, incandescentes e geniais escritas para essa floresta de lã e aço. Wataru é um tremendo pianista, e que bom é saber que sua carreira está apenas em seus primeiros raios de sol.
Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847) Fantasie in F-Sharp Minor, Op. 28, MWV u 92 “Sonate écossaise” 1- I. Con moto agitato
2 – II. Allegro con moto
3 – III. Presto
Domenico Scarlatti (1685-1757)
4 – Sonata in A-Flat Major, Kk. 172 5 – Sonata in G Major, Kk. 169 6 – Sonata in F Minor, Kk. 481
Olivier Messiaen (1908-1992) 20 regards sur l’enfant-Jésus, I/27 (excerpts)
7 – No. 5, Regard du Fils sur le Fils
8 – No. 8, Regard des hauteurs
Maurice Ravel (1875-1937)
Gaspard de la Nuit, M. 55 9 – I. Ondine
10 – II. Le gibet
11 – III. Scarbo
Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847) Lieder ohne Worte, Book 4, Op. 53 12 – No. 1 in A-Flat Major, MWV U 154
Lieder ohne Worte, Book 5, Op. 62
13 – No. 6 in A Major, MWV U 161 “Frühlingslied”
Os Concertos são magníficos, o violinista é fantástico, a orquestra idem. Importante notar que esta gravação é de 1993: Vengerov tinha 19 anos!
O Concerto para violino Nº 1 em sol menor de Max Bruch é um dos concertos para violino mais populares do repertório de violino solo e, junto com a Fantasia Escocesa , a obra mais famosa do compositor. O concerto foi concluído pela primeira vez em 1866 e a primeira apresentação foi realizada em 1866 por Otto von Königslow , com Bruch regendo. O concerto foi então consideravelmente revisado com a ajuda do célebre violinista Joseph Joachim e concluído em sua forma atual em 1867. A estreia do concerto revisado foi dada por Joachim em Bremen em 1868.
Depois de assumir o cargo de principal diretor da orquestra do Gewandhaus de Leipzig em 1835, Mendelssohn nomeou seu amigo de infância, Ferdinand David, um ilustre violinista, como spalla da orquestra. O Concerto para violino, Op. 64, surgiu como uma colaboração entre ambos. Em carta de julho de 1838, Mendelssohn disse a David: “Eu gostaria de escrever um concerto para violino para você no próximo inverno. Já tenho uma ideia para um em mi menor, cuja abertura não deixa minha cabeça descansar”. Passaram-se seis anos para que a obra fosse completada. Foram aventadas várias hipóteses para justificar a demora: dúvidas do autor, a criação neste intervalo de uma sinfonia, e uma indesejada temporada em Berlim por ordem do rei Frederico Guilherme IV da Prússia. Neste período Mendelssohn e David mantiveram uma correspondência regular, mostrando o compositor a buscar aconselhamento técnico e estético, uma prática que depois se tornou habitual para outros compositores. Notem que esta gravação é com a mesma orquestra com que Mendelssohn estreou a obra. Os músicos já estavam com mais de 200 anos, mas muitos lembravam da estreia.
Ao final deste arquivo, veio uma obra a mais que creio ser a rápsódia Taras Bulba, de Leoš Janáček, mas só deus sabe se acertei.
Max Bruch (1838–1920) / Felix Mendelssohn (1809-1847): Violin Concertos (Vengerov / Masur)
MAX BRUCH
Violin Concerto No. 1 in G minor, Op. 26
I Vorspiel. Allegro moderato 08:10
II Adagio 08:11
III Finale. Allegro energico 07:40
FELIX MENDELSSOHN
Violin Concerto in E minor, Op. 64
I Allegro molto appassionato 12:57
II Andante 07:57
III Allegretto non troppo – Allegro molto vivace 06:34
Maxim Vengerov (violin)
Gewandhausorchester Leipzig
Kurt Masur (conductor)
Nem com a maior boa vontade do mundo, alguém poderia classificar o Concerto Para Violino de Schumann como sendo um dos principais do gênero. Só em 1937 é que ele foi acrescentado à lista dos seus Concertos, uma vez que a sua viúva, Clara, juntamente com Brahms e Joachim, se recusaram a incluí-la entre as obras do compositor. Aqui, o esplêndido Renaud Capucon, com a excelente Orquestra de Câmara Mahler dirigida por Daniel Harding, pretende converter-nos a esta obra negligenciada. O primeiro movimento é pouco convincente, o segundo é ótimo, sublime até, conduzindo a um final que, novamente não é bem sucedido. Experimente, você vai ficar surpreso às vezes negativamente, mas ainda é a música de uma alma romântica que ainda tinha muito dentro de si. Lembrem-se de que Schumann ficou louco — como se dizia na época.
O Concerto de Mendelssohn, seguramente o mais gravado de todos os tempos, recebe outra execução linda que não chafurda nunca — refiro-me ao movimento lento onde certos executantes fazem algo bem brega. Aqui não, Capuçon vai direto ao ponto. Ela é uma música para sentar e fruir, o som é nítido e a orquestra toca demais.
Então você tem dois Concertos: um é um hit de todos os tempos, o outro é uma despedida.
Mendessohn / Schumann: Concertos para Violino (Capuçon / Harding)
Violin Concerto in E minor = E-moll = En Mi Mineur Op. 64
l Allegro Molto Appassionato 12:47
ll Andante – Allegretto Non Troppo 8:22
lll Allegro Molto Vivace 6:04
Violin Concerto In D Minor = D-moll = En Ré Mineur
l. In Kräftigem, Nicht Zu Schnellem Tempo 14:52
ll Langsam 6:16
lll Lebhaft, Doch Nicht Schnell 10:01
Um baita CD, que venho ouvindo já há alguns anos e que me agrada muito. Dois excelentes conjuntos de Câmara tchecos unem forças para encararem o genial Octeto para cordas de Mendelssohn. Coerência, eu diria, é a palavra chave para esta gravação do Octeto. Oito pessoas tocando juntas requer muito domínio, e principalmente, confiança e companheirismo. Uma derrapada de um pode atrapalhar o outro.
O Sexteto com Piano é outro peso pesado do repertório de Mendelssohn. Infelizmente, é pouco interpretado.
Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847): Octeto para Cordas, Op. 20, Sexteto para Piano, Op. 110 (Prazak Quartet, Kocian Quartet)
01 – 1. Octuor A Cordes En Mi Bémol Majeur, Opus 20 _ Allegro Moderato
02 – 2. Octuor A Cordes En Mi Bémol Majeur, Opus 20 _ Andante
03 – 3. Octuor A Cordes En Mi Bémol Majeur, Opus 20 _ Scherzo, Allegro Leggierissimo
04 – 4. Octuor A Cordes En Mi Bémol Majeur, Opus 20 _ Presto
05 – 5. Sextuor En Ré Majeur, Opus 110 _ Allegro, Vivace
06 – 6. Sextuor En Ré Majeur, Opus 110 _ Adagio
07 – 7. Sextuor En Ré Majeur, Opus 110 _ Minuetto
08 – 8. Sextuor En Ré Majeur, Opus 110 _ Allegro Vivace
Muita gente já ouviu o Concerto de Grieg sem saber: o seu começo grandioso foi muito usado (ou imitado?) em trilhas sonoras e semelhantes. Grieg esboçou um outro concerto para piano mas nunca conseguiu terminá-lo. Se ele não chega a ser um one-hit-wonder, pois tem peças orquestrais que fazem parte do repertório usual até hoje, é verdade que para muita gente, inclusive este que aqui escreve, seu nome é quase sinônimo desse concerto que dá início a um romantismo exagerado para piano e orquestra que seria retomado por gente como Rachmaninoff e Addinsel.
Grieg, além de compositor, era pianista de concerto. Entre suas obras para piano solo, destacam-se as Peças Líricas, publicadas em vários grupos separados. Além de meia dúzia de gravações integrais, algumas peças avulsas dessa coleção eram parte dos recitais de grandes nomes como Emil Gilels e Nelson Freire (aqui em uma de suas últimas apresentações no Brasil). Há também, para piano, uma bela Balada op. 24, um pouco mais longa que as Peças Líricas e estruturada na forma de tema e variações. Mas não tem jeito: seu carro-chefe pianístico é o concerto em lá menor, que trago aqui com um grande pianista, falecido há poucos meses, e que merece uma homenagem colada com essa do aniversário do compositor norueguês.
Nascido Max Jakob Pressler em Magdeburg (Alemanha) em 16/12/1923, o pianista era filho de um casal judeu que teve sua loja de roupas destruída na Kristallnacht em 1938. Fugiram dos nazistas em 1939 e Max mudou seu primeiro nome para Menahem, sem dúvida para fugir da sonoridade alemã. Seus avós e tios morreram em campos de concentração.
O primeiro sucesso de Pressler foi ao vencer um Concurso Debussy de piano em San Francisco em 1946. No ano seguinte, tocaria o Concerto de Schumann no Carnegie Hall com Eugene Ormandy. Em 1955, participou de um festival com o violinista Daniel Guilet e o violoncelista Bernard Greenhouse. Chamados para gravar trios de Mozart, eles adotaram o nome Beaux Arts Trio: com um início modesto, o grupo foi ganhando o respeito do público e foi extremamente longevo, durando até 2008 (Pressler foi o único membro que não mudou).
O jovem Pressler com o maestro E. Ormandy em 1947
Terminado esse período de mais de 50 anos com o trio, Pressler não se aposentou: gravou Debussy e Ravel pela DG (e recebeu o prestigioso selo de IMPERDÍVEL de PQP Bach), se apresentou em grandes salas sozinho e ainda acompanhou o cantor Mathias Goerne. Vejamos a crítica de um recital de Lieder de Schumann por Pressler/Goerne em 2015 no Wigmore Hall, Londres:
Não é muito comum ver subir no palco um artista de 91 anos. (…) Menahem Pressler não é um acompanhador qualquer, evidentemente. É só ele colocar as mãos sobre o teclado que somos inundados pela emoção, a emoção que sai sai de seus dedos para instantaneamente invadir toda a sala. Seu toque é entrelaçado por uma multidão de intenções musicais, variadas, sutis, revelando uma inventividade e uma inspiração sem fim. Sentimos a malícia em Pressler, uma vontade mais forte que tudo de tocar, mas sobretudo uma sensibilidade enorme, perceptível em tudo, seu fraseado, sua concentração, seu olhar muito vivo e rápido.
Nas gravações do CD de hoje, feitas em Viena quando Pressler era relativamente jovem (cerca de 40 anos), ele mostra algumas dessas qualidades que iriam maturar com as décadas, especialmente um fraseado com intenções sutis, sem clamar por atenção mas povoando a música de Grieg de discretas invenções aqui e ali, o que ele também fez em suas dezenas de gravações de música de câmara. E o concerto de Mendelssohn? Prefiro nem comentar muito, mas acho sem graça, sem as belas melodias das suas Canções sem palavras nem a orquestração mais interessante da Sinfonia Italiana ou Sonho de uma noite de verão.
Edvard Grieg: Piano Concerto in A Minor (1868)
I. Allegro molto moderato
II. Adagio
III. Allegro moderato molto e marcato – Quasi presto – Andante maestoso
Felix Mendelssohn Bartholdy: Piano Concerto in G Minor (1831)
I. Molto Allegro Con Fuoco
II. Andante
III. Presto – Molto Allegro Vivace
Menahem Pressler, piano
Wiener Festspielorchester – Jean-Marie Auberson, conductor (Grieg)
Orchestra Of The Vienna State Opera – Hans Swarowsky, conductor (Mendelssohn)
Original LP releases: 1964 (Mendelssohn), 1965 (Grieg)
Os trios com piano de Mozart são música em que o piano brilha mais, como personagem protagonista, com o violino tendo seus momentos de destaque e o violoncelo quase sempre lá no fundo, em um papel que remonta ao baixo continuo da música de seus antecessores.
Brendel, Pollini, assim como os mais jovens Lubimov, Uchida e Brautigam… são muitos os grandes pianistas mozartianos que não se aventuraram em gravar esses trios. Entre as exceções, Maria João Pires fez um belo disco já postado aqui.
E entre os trios de Mozart este de K. 442 é ainda menos lembrado: os três movimentos foram compostos em Viena em meados da década de 1780, mas não se tem certeza se o compositor queria juntá-los ou se seriam partes de obras diferentes. Em todo caso, foram publicados juntos pouco após a morte do compositor. No século XIX, o musicólogo von Köchel deu a esse trio o nº K. 442, indicando que é mais ou menos da mesma época dos quartetos “A Caça” (K. 458) e “As Dissonâncias” (K. 465), do quinteto para piano e sopros (K. 452) e da fase de espantosa abundância de concertos para piano, do No. 14 (K. 449) até o nº 24 (K. 491). Ou seja, o período de Mozart já estabelecido em Viena
Os jovens alemães do Trio Adorno fazem um belo trabalho, em excelente qualidade de som, ao chamar atenção para este trio de Mozart e ainda para um trio de Mendelssohn que costuma ficar à sombra de outro mais famoso e para um trio de Martinů bem pouco tocado, aliás como toda a música de câmara do compositor tcheco. Ao contrário do Mozart, nesses outros dois o violoncelista também tem momentos de destaque, com as exigências técnicas mais ou menos igualmente distribuídas entre os três músicos. E nessa gravação os três alemães mostram versatilidade: fazem um Mozart leve e alegre, um Mendelssohn bem romântico e sublinham as esquisitices de Martinů.
Wolfgang Amadeus Mozart:
1-3. Piano Trio in D Minor, K.442 (Trio em ré menor, 1785-1888)
I. Allegro, II. Tempo di Minuetto, III. Allegro Bohuslav Martinů:
4-6. Piano Trio n. 3 in C Major (Trio em dó maior, 1951)
I. Allegro moderato, II. Andante, III. Allegro Felix Mendelssohn:
7-10. Piano Trio n. 2 in C Minor Op.66 (Trio em dó menor, 1845)
I. Allegro energico con fuoco, II. Andante espressivo, III. Scherzo molto allegro quasi presto, IV. Finale Allegro appassionato
Trio Adorno: Christoph Callies – violin; Samuel Selle – cello; Lion Hinnrichs – piano
Recorded: Laeiszhalle Hamburg, March 2021
Neste mês dedicado a Sergei Rachmaninoff, compositor romântico tardio e também grande virtuose do piano, recordaremos alguns outros pianistas do século passado que, de uma maneira ou de outra, cruzaram suas trajetórias com as do homenageado. O pianista de hoje é Shura Cherkassky (1909 – 1995): embora mais de 30 anos mais jovem que Sergei, eles têm em comum o fato de terem saído da Rússia na década de 1910 em meio às turbulências da 1ª Guerra e da Revolução. O corpo dos dois saiu da Rússia, mas a alma continuou profundamente russa, fazendo um tipo de música característica das expressões do romantismo tardio na Europa Oriental, como veremos a seguir.
A mãe de Shura, Lydia Cherkassky, era uma pianista conhecida em São Petersburgo, tendo tocado para Tchaikovsky, que aliás era um compositor importante no repertório de Shura, não só com seu famoso concertos mas também com peças para piano solo pouco tocadas por outros pianistas. Cherkassky foi, portanto, o continuador de uma certa tradição pianística da Europa Oriental, não só por suas origens russas mas também como aluno do polonês Josef Hofmann (1876-1957). Hofmann foi um dos pianistas mais célebres do mundo na virada do século XIX para o XX, embora por volta de 1930 sua prodigiosa técnica já não fosse a mesma devido ao alcoolismo, o que significa que poucas gravações fazem jus ao seu talento. Em 1909, Rachmaninoff dedicou seu 3º Concerto – o mais difícil dos quatro – para Hofmann. Anos depois, constatando o declínio do polonês, Rach afirmou: “Hofmann ainda é um grande … o maior pianista vivo se ele estiver sóbrio e em forma. Se não for o caso, é impossível reconhecer o antigo Hofmann.” O polonês, por sua vez, foi aluno de Anton Grigoryevich Rubinstein (1829-1894), pianista russo que foi frequentemente considerado o maior do mundo em sua época, além de compor cinco concertos para piano quase esquecidos hoje em dia. Anton Rubinstein, aliás, não era parente de Arthur Rubinstein, embora ambos tivessem origens judaicas. (Para um comentário sobre a “escola” dos alunos de Anton Rubinstein, confira o interessantíssima postagem do colega Alex aqui).
A partir de várias resenhas em jornais e outros textos do século XIX, o crítico Harold C. Schonberg, no livro The Great Pianists (1963), resume que Anton Rubinstein tocava com “extraordinária amplitude, vitalidade e virilidade, imensa sonoridade e grandiosidade”. Características também do romantismo tardio de Rachmaninoff, e que tinham como tradição mais ou menos rival o pianismo francês de compositores como Debussy, Fauré, Saint-Saëns e Ravel. Estes últimos evitavam as sonoridades exageradamente barulhentas – notem a quantidade de expressões masculinas na descrição de Harold Schonberg, muitas delas caberiam em um anúncio daquele remédio que os Generais brasileiros adoram – e se associaram a grandes intérpretes do início do século como Alfred Cortot, Ricardo Viñes, o próprio Saint-Saëns e muitas mulheres, incluindo Guiomar Novaes, Marguerite Long e Clara Haskil.
Mas o pianista do dia, de certa forma herdeiro daquela tradição romântica russa/polonesa, é Cherkassky, que foi um grande intérprete das obras de Rach (aqui) e também de uma pequena fantasia chamada Caleidoscópio, composta por Hofmann:
O que mais me interessa neste disco de hoje, registro de um recital de Cherkassky em Lugano (Suíça), é a sua reinvenção da sonata de um outro compositor romântico, Robert Schumann. Embora Shura também seja impecável em seu Debussy, Berg e Stravinsky – ou seja, ele não se limita como apenas um pianista romântico – o que me impressiona mesmo é a diversidade de emoções que ele extrai da 1ª Sonata de Schumann, já iniciando pelo sarcasmo das primeiras notas, seguido por alternâncias típicas de Schumann entre seriedade, melancolia e humor.
Robert Schumann foi um grande estudioso das obras de Bach e Beethoven mas, ao contrário deste último, ele não compôs sonatas para piano de grande invenção contrapontística em um estilo “maduro” no fim de sua vida. Se quisermos ouvir o Schumann maduro é melhor buscarmos outras obras como o o muito original concerto para violoncelo.
Talvez por isso, as três sonatas para piano de Schumann raramente (pra não dizer: nunca) são tocadas em bloco em um único recital ao vivo: ao contrário das sonatas de Beethoven, que mostram as mudanças no percurso do compositor, as de Schumann ficam nessa alternância de humores e sabores tipicamente românticos, sem apontar para uma evolução estilística. Se isso pode ser considerado um defeito, por outro lado é uma qualidade, sobretudo em nossos tempos já calejados quanto a essas ideias sobre evolução e progresso como o objetivo da humanidade, não é mesmo? Quando o progresso se mostra violento e sujo, sentimentos românticos parecem reaparecer com toda a força hipnotizante do som do piano de Cherkassky. Uma última observação: assim como Sviatoslav Richter (1915-1997), Cherkassky parecia detestar as gravações em estúdio, talvez porque sua arte – como a dos pianistas mais velhos Anton Rubinstein, Hofmann e Rach – tivesse esse aspecto tão importante da atração hipnótica sobre uma plateia presente.
Shura Cherkassky – Lugano, 1963 Felix Mendelssohn: Rondo Capriccioso in E major op. 14 Robert Schumann: Sonata no. 1 in F-sharp minor op. 11
I. Introduzione (Un poco adagio) – Allegro vivace; II. Andante cantabile; III. Scherzo e Intermezzo (Allegrissimo); IV. Finale (Allegro un poco maestoso) Alban Berg: Sonata op. 1 Claude Debussy: L’Isle joyeuse Igor Stravinsky: Trois mouvements de Petrouchka
I. Danses russes; II. Chez Petrouchka; III. La Semaine grasse Francis Poulenc: Toccata
Shura Cherkassky – piano
Recorded at Auditorio Radiotelevisione della Svizzera italiana, Lugano, 5/12/1963
Belíssimo CD com os igualmente belíssimos Trios para Piano de Mendelssohn, um CD que estava guardado em um cantinho e reencontrá-lo e ouvi-lo novamente depois de algum tempo foi um prazer único. Quando foi ‘lançado’ Schumann comentou que era o melhor trio lançado em sua época, ao lado de dois outros de Beethoven e um de Schubert. A parte os exageros estilíscos de Schumann, comuns mas geralmente acertados, não há como negar a grandeza das obras. O de op. 49 nos propicia desde os primeiros acordes do violoncelo uma das mais belas páginas da história da música. E Mendelssohn, com estas obras, se estabeleceu em definitivo como o grande compositor que já era. Muitas vezes é difícil entendermos tal riqueza harmônica e contrapontística em uma obra para apenas três instrumentos. Apenas gênios conseguem isso.
Essa primorosa edição foi lançada em 2005, e a qualidade permanece. Sempre é um prazer imenso ouvir Mendelssohn, sua obra tem um quê de melancolia e tristeza juntas e misturadas. Escrevo este texto em um final de tarde de sábado, e entendo que é com chave de ouro que encerro essa semana que tirei de férias, segunda feira volto a rotina estressante, mas feliz.
Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847): Trios Para Piano – The Nash Ensemble
01. Piano Trio No. 1 in D minor, Op. 49 I. Molto allegro ed agitato
02. Piano Trio No. 1 in D minor, Op. 49 II. Andante con moto tranquillo
03. Piano Trio No. 1 in D minor, Op. 49 III. Scherzo. Leggiero e vivace
04. Piano Trio No. 1 in D minor, Op. 49 IV. Allegro assai appassionato
05. Piano Trio No. 2 in C minor, Op. 66 I. Allegro energico e con fuoco
06. Piano Trio No. 2 in C minor, Op. 66 II. Andante espressivo
07. Piano Trio No. 2 in C minor, Op. 66 III. Scherzo. Molto allegro – quasi presto
08. Piano Trio No. 2 in C minor, Op. 66 IV. Finale. Allegro appassionato
09. Variations concertantes, for cello & piano in D major, Op. 17
The Nash Ensemble
Marianne Thorsen – Violin
Paul Watkins – Cello
Ian Brown – Piano
Não se pode ter tudo neste mundo, mas aqueles que nascem em berço de ouro e fazem bom uso de seus talentos e oportunidades, conseguem ir bem mais longe.
Pois este foi o caso de Felix Mendelssohn, que nasceu talentoso e numa família rica. Mendelssohn foi compositor, pianista, regente, músico completo, além de bom desenhista e aquarelista. Estas últimas habilidades ele usou para retratar os lugares que visitou, como a Escócia e a Itália. Bem, fez isto também com a música. E qual pessoa neste mundo não reconhece, desde as primeiras notas e em qualquer arranjo que se apresente, a marcha nupcial que ele escreveu, parte da música incidental para a peça de William Shakespeare, Sonho de Uma Noite de Verão?
Vista de Florença – Aquarela de Mendelssohn
Este disco contém estas peças, a Abertura, que foi escrita antes, e as demais, além da ensolarada Sinfonia Italiana.
A gravação reúne a ótima Orchestra of the Age of Enlightenment, que usa instrumentos e práticas típicas da época em que as peças foram compostas, com a regência do experiente Sir Charles Mackerras. Tudo isto com a produção excelente do selo Virgin Veritas.
Sir Charles Mackerras regendo a Orquestra de Câmara PQP Bach de Pelotas…
I recommend this disc with all possible enthusiasm not only because of the superb playing, phrasing and sense of enjoyment, very characteristic of the intelligent conducting of Sir Charles Mackerras, but also because of the surprising benefits of listening to Mendelssohn on period instruments.
This 1988 recording is reproduced in clear and sparkling sound. (Meu Deus, já se passaram tantos anos…)
You should avoid it only if you absolutely cannot stand the sound of period instruments – but by all means hear it first. (Good advice!) Flyinginkpot
Mackerras directs fresh, resiliente, ‘authentic’-style performances of both the Symphony and the Midsummer Night’s Dream music. […] It is particularly good to have aa ophicleide instead of a tuba for Bottom’s music in the Overture, and the boxwood flute in the Scherzo is a delight. (This is what says the Penguin Guide to CDs. So, pay attention!)
Aproveite!
René Denon
Membros da OAE em foto mais recente
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Dando continuidade às homenagens a Bernard Haitink, temos hoje três grandes concertos românticos para violino com Arthur Grumiaux (1921-1986). As gravações, dos primeiros anos da tecnologia stereo, já podem ser chamadas de jurássicas, mas há algumas coisas ali, um vibrato controlado, sem exageros, uma expressividade sem choradeira, que a tornam menos datada do que outras da mesma época. Posso estar enganado, aliás violino não é meu pão de cada dia e eu não conheço tão bem as gravações de Heifetz, Perlman, Ferras… Mas vejam o que disse a Gramophone ao incluir essa gravação entre as de referência para o Concerto de Mendelssohn:
Arthur Grumiaux, em sua gravação de 1960 com a Orquestra do Concertgebouw e Bernard Haitink, merece uma menção por ter uma das aberturas com o ritmo mais vivo
(As for Arthur Grumiaux, his 1960 recording with the Concertgebouw Orchestra and Bernard Haitink deserves a mention for having one of the most crisply rhythmic openings)
O Concerto de Tchaikovsky, para mim, é o que tem a mais bela orquestração entre esses três. Enquanto o pau quebra para o solista, as cordas e madeiras do Concertgebouw acompanham com aquele som brilhante e suave que também podemos ouvir nas gravações de Debussy que Haitink e sua orquestra fizeram nos anos 1970.
Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840–1893): Concerto para Violino em Ré maior, Op.35
01. I. Allegro moderato
02. II. Canzonetta: Andante
03. III. Finale: Allegro vivacissimo Felix Mendelssohn (1809-1847): Concerto para Violino em Mi menor, Op.64
04. I. Allegro molto appassionato
05. II. Andante
06. III. Allegretto non troppo – Allegro molto vivace Max Bruch (1838-1920): Concerto para Violino No.1 em Sol menor, Op.26
07. I. Vorspiel (Allegro moderato)
08. II. Adagio
09. III. Finale (Allegro energico)
Arthur Grumiaux – Violino
Concertgebouworkest, Amsterdam
Bernard Haitink
Que disco bom! A interpretação de Jansen + Chailly + Gewandhausorchester para os concertos de Bruch e Mendelssohn é esplêndida. Fiquei realmente feliz com a audição dos dois concertos. Acho que o Mendelssohn de Jansen é efetivamente dos melhores registros que pode se encontrar por aí. A pureza de seu som de seu violino acompanha com precisão uma refinada dinâmica. A regência de Chailly e a herança mendelssohniana da Gewandhausorchester ajuda a solista a desenvolver nessas apresentações ao vivo as tensões essenciais e o impulso emocional. Pela primeira vez, no primeiro movimento do Bruch, denominado Vorspiel (Introdução), a marcação do andamento do Allegro moderato não parece deslocada, enquanto o movimento lento é comovente e suave, levado a um Andante fluente. Da mesma forma, no Concerto de Mendelssohn a performance de Jansen no Andante é contida, com resultado doce e terno, desta vez em um ritmo relativamente moderado, enquanto Chailly traz um sabor húngaro ao Finale, bastante comparável ao do Concerto para Violino de Brahms. Um disco sensacional!
Bruch / Mendelssohn / Vieuxtemps: Concertos para Violino (Jansen / Chailly)
Max Bruch (1838-1920)
Violin Concerto In E Minor, Op. 64
1 Allegro Molto Appassionato 13:00
2 Andante 8:01
3 Allegro Molto Vivace 5:53
4 Romance In F Major For Viola And Orchestra, Op. 85 8:27
Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847)
Violin Concerto No. 1 In G Minor, Op. 26
5 Vorspiel: Allegro Moderato 8:00
6 Adagio 8:22
7 Finale: Allegro Energico 7:16
Janine Jansen sensualizando na sala de espera da PQP Bach Corp. Infelizmente, PQP fê-la esperar, pois estava ocupado analisando estupefato os mil pedidos de Bernardo Baethgen. Pobre Janine. Só de raiva, por ter feito a deusa perder seu tempo, PQP negou todos os pedidos de BB, pôs-se na ponta dos pés e foi ao encontro dela.
Escrevo este textinho em 12 de junho, Dia dos Namorados, mas ele está programado para ir ao ar lá em 5 de julho, data em que está marcada a segunda dose de minha amada AstraZeneca, além de ser a dia de aniversário de minha mãe — ela faria 94 anos — e daquela pessoa que posso chamar de meu melhor amigo. Todas datas especiais, portanto. O disco do esplêndido Murray Perahia não tem nada a ver com isso. Mas é um bom disco, um disco, antes de tudo, inteligente. Ele explora os vários pontos fortes de Perahia. Estas peças exigem acima de tudo a capacidade de projetar e sustentar uma linha de canto, de moldar e dar forma a um som belo e cheio de nuances e de evocar a atmosfera de cada inspiração poética. Em suma, eles exigem um pianista com a sensibilidade e o temperamento de Perahia. Os Prelúdios Corais de Bach/Busoni são tocados com andamentos inteiramente naturais, não tão fúnebres como Nikolai Demidenko, mas nunca permitindo que os acompanhamentos, por mais floreados que sejam, soem apressados ou agitados. Na seleção de canções de Mendelssohn, Perahia jamais chafurda nas peças mais lentas — um pecado comum em pianistas que as interpretam. Ele consegue trazer um sorriso ao nosso rosto com o final espirituoso. De todas essas riquezas, no entanto, eu estava mais interessado nas transcrições das canções de Schubert/Liszt. Perahia, um schubertiano natural e pianista de calor e pureza lírica, parece-me um candidato óbvio para esses arranjos maravilhosos e os resultados são sempre envolventes. A poesia pura deste disco é algo para se alegrar e a arte de Perahia brilha em cada compasso.
Bach/Busoni, Mendelssohn, Schubert/Liszt: Canções sem Palavras (Songs Without Words — Perahia)
Johann Sebastian Bach / Ferruccio Busoni
1 “Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme,” BWV 645 3:24
2 “Nun Komm, Der Heiden Heiland,” BWV 659 4:14
3 “Nun Freut Euch, Lieben Christen,” BWV 734 2:03
4 “Ich Ruf’ Zu Dir, Herr Jesu Christ,” BWV 639 3:04
Felix Mendelssohn
Lieder Ohne Worte
5 Opus 19, No. 3 2:07
6 Opus 67, No. 2 1:57
7 Opus 30, No. 4 2:27
8 Opus 19, No. 1 3:14
9 Opus 19, No. 5 2:13
10 Opus 30, No. 6 2:54
11 Opus 38, No. 3 2:13
12 Opus 102, No. 5 1:12
13 Opus 38, No. 2 1:58
14 Opus 30, No. 2 1:57
15 Opus 67, No. 1 2:02
16 Opus 38, No. 6 3:08
17 Opus 67, No. 4 1:43
18 Opus 53, No. 4 2:25
19 Opus 62, No. 2 1:47
Franz Schubert / Franz Liszt
20 “Auf Dem Wasser Zu Singen” 3:52
21 “In Der Ferne” 6:35
22 “Ständchen” 5:17
23 “Erlkönig” 4:28
Eu achava que se houvesse um pedacinho da cozinha do céu aqui na terra, esse seria o Bar das Freiras, que fazia o melhor queijo quente com banana do planeta. Ao lado da lanchonete das freirinhas, cuja féria vai toda para a caridade, fica o elevador que era pilotado pela Chica, a ascensorista com o maior sorriso que eu conheci e que morava em Niterói. Isto tudo aconteceu na minha outra vida, antes que eu soubesse que também moraria em Niterói.
Numa daquelas tardes, tive que correr para pegar o elevador: Chica, Chica, péra-aí! A porta já quase fechava e eu estava atrasado para o Seminário de Topologia. Acomodei-me e ataquei de assobio o tema do último movimento do Concerto para Violino que naqueles dias não saia da minha vitrola – fá, fá-fá-fi-fáá… Afinal, havia comprado na famosa Modern Sound aquele cobiçado LP do Heifetz e não ouvia outra coisa. Foi então que ouvi a pergunta vinda do senhor professor: Mendelssohn ou Tchaikovsky? Olhei-o com alguma surpresa, afinal, não imaginava que professores de física se interessassem por música. Deve ser um destes concertos românticos, acrescentou ele. Eu ri e disse que era o tema do último movimento do Concerto de Brahms. Não muito fora da marca, riu ele, faz tempo que não ouço meus discos. Ficamos amigos e falávamos com frequência sobre nossas audições, sempre no vai-e-vem do elevador, cada um para o seu respectivo andar.
Lembrei-me dessas coisas ouvindo este disco da postagem com dois dos grandes concertos românticos para violino: Mendelssohn e Tchaikovsky! Quais outros? Bem, tem o pai de todos, o Concerto de Beethoven, o já mencionado Concerto de Brahms, já são quatro. Eu acrescentaria ‘o’ Concerto de Bruch, de Sibelius (certamente) e, talvez, Glazunov? Na verdade, basta olhar as gravações de Heifetz…
Na gravação deste disco a solista Akiko Suwanai usa o violino Dolphin Stradivarius, um violino feito em 1714 pelo famoso Antonio Stradivari e que também pertenceu ao Jascha Heifetz.
Atualmente a moça toca outro instrumento, mas nesta gravação temos uma feliz coincidência, afinal deve ser o mesmo instrumento ouvido nas gravações de Heifetz. E para acrescentar muita qualidade ao disco, temos a ótima Orquestra Filarmônica Tcheca, regida por Vladimir Ashkenazy, com gravações feitas no excelente Dvořák Hall – Rudolfinum -, em Praga.
Momento ‘Sol Nascente’: メンデルスゾーンとチャイコフスキーのヴァイオリン協奏曲どちらも大好きですが、諏訪内晶子さんの演奏も素敵な魅力を感じました。
Eu amo os concertos para violino de Mendelssohn e Tchaikovsky, mas a performance de Akiko Suwanai também foi fascinante. (Tradutor do Google)
E também: Akiko Suwanai’s Tchaikovsky is one of the most musical renditions of the Tchaikovsky violin concerto. Just listen to around 1:00 of the first track, where she introduces the main theme. It is so beautiful and moving, not like any version I listened to.