Fryderyk Chopin (1810-1849): Sonatas para Piano – Idil Biret

A música de Chopin sempre me fascinou. Lembro de ouvir um disco com algumas obras dele na casa da minha irmã, eu deveria ter uns 13 ou 14 anos de idade e a intensidade daquela música me envolveu totalmente. A partir de então fui atrás de discos, claro que dentro das condições financeiras de um adolescente, até que me caiu em mãos um daqueles fascículos da Editora Abril, o pianista era Peter Franckl, se não me engano. Ouvi tanto aquele LP que ele acabou riscando.

Enfim, essa pequena introdução serviu para me lembrar que ouço Chopin há uns quarenta e poucos anos, e talvez, com exceção de Brahms e Beethoven, talvez seja o compositor que mais ouvi na minha vida. Seus Concertos, Baladas, Scherzos, sonatas, enfim, frequento esse universo encantado desde minha adolescência.

Esse é o disco que virou a cabeça do jovem FDPBach.

Idel Biret é uma pianista turca, nascida em 1941, e que com meros 7 anos de idade foi estudar em Paris, onde teve professores como Nadia Boulanger e Alfred Cortot. Tem uma extensa discografia, em sua maior parte pelo selo Naxos, e por este selo gravou a obra integral de Chopin. De vez em quando, trazemos algum volume desta série.

Este CD que or vos trago foi gravado em 1995 e ganhou diversos prêmios da crítica especializada. Sugiro a leitura do booklet interno, onde a pianista analisa a obra e a vida de Chopin. Vale a pena.

 

Fryderyk Chopin (1810 – 1849) – Sonatas para Piano – Idil Biret

Piano Sonata No. 1 In C Minor, Op. 4
1 Allegro Maestoso
2 Menuetto
3 Larghetto
4 Finale

Piano Sonata No. 2 In B Flat Minor, Op. 35
1 Grave – Doppio Movimento
2 Scherzo
7. Marche funèbre: Lento
8 Finale: Presto

Piano Sonata No. 3 In B Minor, Op. 58
1 Allegro Maestoso
2 Scherzo: Molto Vivace
3 Largo
4 Finale: Presto, Non Tanto

Idel Biret – Piano

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FDP

Frédéric Chopin (1810-1849): Estudos (Pollini)

Frédéric Chopin (1810-1849): Estudos (Pollini)

Eu não sou apaixonado por Chopin, mas amo Pollini. Como esta gravação é muito famosa, deve ser boa. Então, posto e me voy.

Frédéric Chopin (1810-1849): Etudes (Pollini)

1. 12 Etudes, Op.10 – No. 1. in C 1:57
2. 12 Etudes, Op.10 – No. 2. in A minor “chromatique” 1:26
3. 12 Etudes, Op.10 – No. 3. in E “Tristesse” 3:42
4. 12 Etudes, Op.10 – No. 4. in C sharp minor 2:01
5. 12 Etudes, Op.10 – No. 5. in G flat “Black Keys” 1:38
6. 12 Etudes, Op.10 – No. 6. in E flat minor 3:10
7. 12 Etudes, Op.10 – No. 7. in C 1:30
8. 12 Etudes, Op.10 – No. 8. in F 2:20
9. 12 Etudes, Op.10 – No. 9. in F minor 2:06
10. 12 Etudes, Op.10 – No. 10. in A flat 2:03
11. 12 Etudes, Op.10 – No. 11. in E flat 2:16
12. 12 Etudes, Op.10 – No. 12. in C minor “Revolutionary” 2:40

13. 12 Etudes, Op.25 – No. 1 in A flat “Harp Study” 2:21
14. 12 Etudes, Op.25 – No. 2 in F minor 1:26
15. 12 Etudes, Op.25 – No. 3 in F 1:51
16. 12 Etudes, Op.25 – No. 4 in A minor 1:42
17. 12 Etudes, Op.25 – No. 5 in E minor 2:54
18. 12 Etudes, Op.25 – No. 6 in G sharp minor 2:03
19. 12 Etudes, Op.25 – No. 7 in C sharp minor 4:51
20. 12 Etudes, Op.25 – No. 8 in D flat 1:06
21. 12 Etudes, Op.25 – No. 9 in G flat, “Butterfly Wings” 0:56
22. 12 Etudes, Op.25 – No. 10 in B minor 3:56
23. 12 Etudes, Op.25 – No. 11 in A minor “Winter Wind” 3:33
24. 12 Etudes, Op.25 – No. 12 in C minor 2:31

Maurizio Pollini, piano

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Maurizio Pollini: Retrato de deus quando jovem
Maurizio Pollini: Retrato de deus quando jovem

PQP

In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 11 de 11: Volumes 23, 39 & 41 (Chopin VII, X & XII)

Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicamos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até hoje, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a última das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


Partes:   I   |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII  |   IX   |   X   |   XI

Depois de escrever o maior dos capítulos da história da Música Brasileira, Arthur depôs a pena.

Entre seu primeiro cachê no Theatro da Paz em Belém e o derradeiro recital de “Um Piano pela Estrada”, passaram-se sete décadas. Do Carnegie Hall em Nova York ao coreto de Itapecuru-Mirim, vivera tudo. De Emil Gilels de Odessa a Seu Walter de Casinhas, encontrara todos.

Missão cumprida. Era hora de descansar.

O guerreiro recolheu-se a seu lar, num dos mais belos nacos do litoral brasileiro, e saboreou a vida em família.

Deixou seu repouso para pouquíssimas aparições públicas. Na mais significativa delas, em 5 de abril de 2023, fez-se acompanhar da Sinfônica de Minas Gerais, de cujo Concurso para Jovens Solistas aceitara ser padrinho. O programa era puro sumo de arthurzice: abriu com o Hino do Fluminense, em arranjo de sua lavra; prosseguiu com o Adagio do Concerto K. 488 de Mozart; e concluiu com O Despertar da Montanha, pérola de Eduardo Souto que ele sempre soube transformar em épico.

A escolha do K. 488 foi especialmente significativa, pois fora com ele que Arthurzinho, aos oito anos, vencera seu primeiro concurso de jovem solista, com a Sinfônica Brasileira sob Eleazar de Carvalho, quase setenta e cinco anos antes. Com aquele Adagio, um grande arco se fechava, depois de três quartos de um século a encantar o mundo, de suas grandes salas de concerto até as pracetas de suas mais remotas bibocas.

Seria seu canto de cisne.

Nada mais soube dele até que, em setembro do ano passado, a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro lhe conferiu o título de Doutor Honoris Causa. Durante a cerimônia de outorga, acompanhada remotamente pelo homenageado, desde Florianópolis, o diploma foi recebido por seu neto, o pianista Chico.

Conjurando todas as forças que lhe restavam para emitir cada uma de suas palavras, nosso herói agradeceu com os mesmos modos despretensiosos que permearam sua gloriosa jornada:

A essa altura da vida, não sei se eu sou merecedor dessa homenagem. Deixo a resposta dessa pergunta para aquelas pessoas que ouvirem meus discos”.

Espero que as quarenta e uma pistas que lhes alcancei os ajudem a responder.


Algumas semanas depois, em exatamente um ano antes do instante em que essa postagem foi ao ar, Arthur Moreira Lima Júnior partiu para as esferas. Decerto ao encontro de Frederico e de Ernesto; para reencontrar Dona Dulce e Arthur Pai; rever Lúcia, Marguerite e Rudolf; tocar com Astor e Radamés; e contar as novas a Cláudio, Sérgio e Millôr.

Em meio à comoção ante a infelizmente esperada notícia, as vozes mais audíveis eram unânimes em darem conta do quão grande ele fora e do quanto seu país lhe devia. No velório, enquanto depositava flores ao lado de muitas bandeiras do Fluminense, eu pude assim escutar:

– Um velório tão singelo para um tão grande homem! Por tudo o que ele fez, ele mereceria um funeral de Estado! Ele foi um dos maiores pianistas do mundo…

“… e um dos maiores brasileiros de todos os tempos”, completei mentalmente.

De volta para casa, depois de me despedir de Arthur, corri ao Grand Bazaar da interné e comprei os volumes que me faltavam de seu generoso testamento musical aos brasileiros. Estava desde então decidido a compartilhar a coleção “Meu Piano” com todos que a quisessem conhecer. Sentia que devia isso a Arthur, para que talvez, ainda que tardiamente, o mundo pudesse sentir algo da cratera que sua partida deixara cá em mim. Mais que isso: que os brasileiros algum dia tivessem tanto orgulho desse herói quanto ele teve de amor por eles.

Quero que jamais o esqueçam.

Como lhes prometi já na primeira postagem, essa minha homenagem nada teria de crítico: ela foi tão só carinho e saudade. Deixo a crítica para vocês, enquanto espero que minhas publicações lhes tenham dado alguma ideia do espetáculo que foi a vida desse brasileiro incomparável.

Em seus textos de apresentação aos álbuns de Arthur lançados sob seu selo, Marcus Pereira escreveu espirituosamente:

Conforme sabido e lamentado, Chopin não nasceu no Brasil, mas deveria”,

E também:

Revive também o piano, através de Arthur Moreira Lima, pianista patrício conhecido no mundo inteiro. Afinal (glosando Ferreira Gullar) o piano não foi inventado para humilhar o Brasil.

Não, e não mesmo:

Nenhum piano surrou mais nossa viralatice que o do nosso querido Chopin do Estácio.

Obrigado por tanto, Arthur.

 


Em memória de Arthur Moreira Lima Júnior

Rio de Janeiro, 16 de julho de 1940 – 30 de outubro de 2024, Florianópolis


ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima


VOLUME 23: CHOPIN VI

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)

Polonaises para piano, Op. Póstumo:

1 – Polonaise em Sol Menor
2 – Polonaise em Si bemol maior
3 – Polonaise em Lá bemol maior
4 – Polonaise em Sol sustenido menor
5 – Polonaise em Si bemol menor

Três Polonaises para piano, Op. 71
6 – No. 1 em Ré menor
7 – No. 2 em Si bemol maior
8 – No. 3 em Fá menor

9 – Polonaise em Sol bemol maior

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: American Academy Hall, Nova York, Estados Unidos, 1983.
Produção e engenharia de som: Judith Sherman
Supervisão: Jay K. Hoffman
Piano: Steinway & Sons, Nova York
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima 

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VOLUME 39 – CHOPIN XI – AS SONATAS

Fryderyk CHOPIN

Sonata para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 35
1 – Grave – Agitato
2 – Scherzo
3 – Marche Funèbre: Lento)
4 – Finale: Presto

Sonata para piano no. 3 em Si menor, Op. 58
5 – Allegro maestoso
6 – Scherzo: Molto Vivace
7 – Largo
8 – Finale: Presto non tanto

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: All Saints Church, Tooting, Londres, Reino Unido, 1999
Piano: Steinway and Sons
Engenheiro de som: Peter Nicholls
Direção Musical, produção, edição e masterização por Rosana Martins Moreira Lima, 1999.

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VOLUME 41 – CHOPIN XII

Fryderyk CHOPIN

Quatro Baladas para piano:
1 – No. 1 em Sol menor, Op. 23
2 – No. 2 em Fá maior, Op. 38
3 – No. 3 em Lá bemol maior, Op. 47
4 – No. 4 em Fá menor, Op. 52

Quatro Mazurcas para piano, Op. 33
5 – No. 1 em Sol sustenido menor
6 – No. 2 em Ré maior
7 – No. 3 em Dó maior
8 – No. 4 em Si menor

Trois Nouvelles Études pour le “Méthode des Méthodes” de Moschelles et Fétis:
9 – No. 1 em Fá menor
10 – No. 2 em Ré bemol menor
11 – No. 3 em Lá bemol maior

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: All Saints Church, Tooting, Londres, Reino Unido, 1999
Piano: Steinway and Sons
Engenheiro de som: Peter Nicholls
Direção Musical, produção, edição e masterização por Rosana Martins Moreira Lima, 1999.

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Nossa homenagem a Arthur deve tudo a dois mananciais.

O primeiro é O Piano e a Estrada (2009), livro-reportagem de Marcelo Mazuras, infelizmente fora de catálogo, mas facilmente disponível no Grand Bazaar da Interné. O autor, cuidadosamente, nunca o chamou de biografia, porque Arthur rechaçava o termo, que “no Brasil tem um ar solene, de testamento, de coisa definitiva”, e sua Coluna Prestes pianística ainda teria mais oito anos de estradas e rios pela frente.
Recomendamos fortemente sua aquisição e leitura, nem que seja para estimular sua reedição, talvez ampliada, dando conta dos quinze anos posteriores da jornada de nosso herói entre nós, esses sortudos.

Mazuras, que participou da Caravana Arthurzinho pelo sem-fim do Brasil, também dirigiu o documentário Um Piano para Todos (2022), disponível em várias plataformas de streaming. As imagens do caminhão-teatro sobre balsas a singrar os vastos rios amazônicos devem ter enchido Arthur de orgulho. Dir-se-ia nosso Fitzcarraldo do piano.

O outro manancial, já tantas vezes mencionado ao longo das postagens, foi o do Instituto Piano Brasileiro (IPB), para o qual Arthur generosamente enviou uma grande parte de seu acervo, com muitas gravações inéditas. O IPB digitalizou esses tesouros e os vem publicando em seus diversos canais, dentro do Projeto Arthur Moreira Lima, que visa a disponibilizar pela cyberesfera toda a discografia do gigante em vídeo-partituras. Além disso, nosso herói concedeu ao diretor do IPB, o multitalentoso Alexandre Dias, a mais extensa série de entrevistas de sua longa vida, ao longo de diversas madrugadas pandêmicas (pois Arthur, como já apontamos, sempre viveu no fuso horário de Honolulu). Reunidas em onze episódios e divulgadas no podcast Conversa de Pianista, elas ajudaram a abastecer de fatos e causos nossa homenagem.

O trabalho inestimável do IPB é inteiramente mantido por financiamento coletivo e só é possível graças ao apoio de seus assinantes. Convidamos nossos leitores-ouvintes a se juntarem a esse rol.

Mensagem de Arthur a Alexandre Dias, a agradecer pelo Projeto Arthur Moreira Lima. Que tal homenagear Arthur apoiando o IPB?


“Nesta última parte das entrevistas que Arthur Moreira Lima concedeu a Alexandre Dias em 2020, ele falou sobre a necessidade de um pianista desenvolver cultura geral, e os livros que o marcaram. Falou também sobre sua filosofia como intérprete, e sobre a arte de se montar programas de recitais.”


Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, concluímos o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952 com o maior ídolo de Arthur: Waldir Pereira, o Príncipe Etíope, o mago Didi (1928-2001)

 

 

Glosando Marcus Pereira, eu não sei se o moleque é Arthur – mas deveria.

Vassily

In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 9 de 11: Volumes 24, 28, 38 e 40 (Clássicos Favoritos V, VI, IX & X)

Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a nona das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


Partes:   I   |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII  |   IX   |   X   |   XI

Arthurzinho das massas estava em todas nos anos 80.

O embrião de tal onipresença foi sua participação no Circuito Universitário, iniciativa que desde o começo da década anterior levava grandes nomes da MPB para campi, teatros, ginásios e quaisquer outros espaços em que eles coubessem. Sempre destemido, Arthur foi o primeiro músico de concerto a embarcar  numa turnê do Circuito – e, convenhamos, o único capaz de aceitar um convite desses. Partiu de São Paulo, onde então morava, e prosseguiu de Kombi para Campinas e outras dez cidades do interior do estado. A experiência foi-lhe como um Caminho de Damasco: habitué de tantas paragens mundo afora, conhecedor de cada parada ao longo da Trans-Siberiana, Arthur enfim começava a descobrir seu país e a acolhida que as massas nos ginásios davam àquele pianista de raríssima figura, com cabeleira roqueira, calças de brim e a inseparável jaqueta de couro de alce.

Ó lá ela, a guerreira.

Não que tenha deixado a casaca de lado, como atesta, entre outros, o projeto Bach-Chopin que realizou com  João Carlos Martins. Tampouco deixou de ter preocupações fonográficas: farto da miríade de percalços para que seus discos fossem distribuídos pelas gravadoras e decidido decerto a cultivar mais uma úlcera, fundou o selo L’Art, tendo como sócio Lauro Henrique Alves Pinto, um dos “Filhos da Pauta”. Inda assim, preferia os mocassins e os pés na estrada. Xodó das multidões, para as quais era quase sinônimo de piano brasileiro, desfrutava uma liberdade incomum de escolher onde, como e com quem aparecer: mais que arroz de festa, o rei do rolê aleatório.

Até no gibi.

Se não, vejamos: depois de quase tocar com Elomar no formigueiro humano de Serra Pelada – com direito a transporte em avião da FAB, piano incluso -, acabou na não menor muvuca do Festival de Águas Claras, o “Woodstock” brasileiro, onde dividiu palco com Luiz Gonzaga (“esse cabra é tão bom que toca até Luiz Gonzaga”, foi o veredito do próprio) numa noite encerrada por João Gilberto. Às línguas de trapo que o acusavam de buscar as massas por estar em decadência técnica, respondia dando um tempo às turbas para, numa visita à Polônia, tocar (e gravar) Rachmaninoff desse jeito:

Sossegou? Claro que não: deixou São Paulo e mudou-se para o Rio, o qual voltou a chamar de morada depois de vinte anos. Foi fagocitado quase que de imediato pela boemia e requisitado em cada cantina, restaurante ou boteco onde, entre biritas, se cultivasse a boa prosa. Na confraria conhecida como “Clube do Rio”, aproximou-se de Millôr Fernandes, que prontamente reconheceu o potencial da avis rara e lhe escreveu um show, que também dirigiu – e assim, não mais que de repente, nascia “De Repente”.

Alternando textos de Millôr com bitacos de Arthur e grande música dos dois lados do muro da infâmia entre o dito “erudito” do assim chamado “popular”, o show foi um triunfo. Não demoraria para que o showman chegasse às telinhas, a convite de Adolpho Bloch, fundador da Rede Manchete. Conhecera-o em Moscou, nos seus tempos de Conservatório, mas estreitaram o convívio no Rio, frequentando o mesmo barbeiro, praticando o idioma russo e divertindo-se a falar, sem que ninguém mais compreendesse, bandalheiras impublicáveis.  Conquistado por aquele tipo maravilhoso que parecia pronto para TV, Bloch ofereceu-lhe carta branca para criar um programa semanal. Arthur pediu alto e levou: recebeu duas orquestras, dirigidas por Paulo Moura, que também lhe fazia os arranjos, e a crème de la crème  da música brasileira no rol de convidados. Nascia Um Toque de Classe, carregado daqueles momentos que, ao imaginá-los na TV aberta, fazem-me questionar em que sentido, enfim, roda a fita da civilização:

Arthur, que nunca foi muito afeito ao canto, ficou especialmente impressionado com a voz de Ney Matogrosso, que buscava novos rumos para sua carreira depois do frisson que causou com suas performances no extinto conjunto Secos & Molhados:

Ney, inacreditavelmente, ainda não se convencera de que era cantor. Arthur sugeriu que deixasse de lado a maquiagem e figurinos estrambólicos que até então tinham marcado sua carreira e que, de cara lavada, apostasse em sua rara voz. Não demorou até que o belíssimo contralto de Ney, tratado como afinado instrumento, estivesse a dividir o palco com outros quatro virtuoses.

Assim, na luxuosa companhia de Arthur, Paulo Moura (saxofone), Chacal (percussão) e Raphael Rabello (violão de sete cordas), Ney inaugurou uma nova fase em sua carreira com o show O Pescador de Pérolas. De lambujem, aproximou-se de Rabello, há já muitos anos um dos maiores violonistas do mundo, com quem mais adiante gravaria À Flor da Pele, que, em minha desimportante opinião, é um dos álbuns mais sensacionais que Pindorama deu ao mundo. O Pescador de Pérolas também virou disco, ainda que se lamente que o som do piano de Arthur, aparentemente, tenha sido captado do fundo duma lata de azeite:

Lambuzado de mel pelas massas e com saudades, talvez, de ferroadas, Arthur resolveu atirar-se no vespeiro: instigado por seu guru Darcy Ribeiro, aceitou a nomeação para alguns cargos públicos no Governo do Rio. Sob sua direção, o Theatro Municipal e a Sala Cecília Meireles receberam em seus palcos muita gente que seus habitués não deixariam nem entrar pela porta dos fundos, como a Velha Guarda da Portela. Divertindo-se com o previsível reproche de quem via violados seus espaços exclusivos e sacrossantos. Arthur ligou aquele famoso botão e prosseguiu: tocou em favelas (uma imagem de “Rocinha in Concert”está no cabeçalho dessa postagem) e chamou a Orquestra de Câmara de Moscou para tocar com ele em teatros, ao ar livre e em presídios. Quem o chamava de decadente – nem sempre por méritos artísticos – acabava por ter que deglutir cenas como as do Projeto Aquarius, em que o suposto ex-pianista e a Sinfônica Brasileira tocavam para Fla-Flus de gente:

Sim, 200 mil

Para refrescar-se das saraivadas de tomates, o Rei do Rolê Aleatório foi harmonizar seu piano com uma das vozes mais distintas do Brasil, o barítono de Nelson Gonçalves. Com alguns milhares de canções no repertório, escolher o que iria para o álbum foi por si só uma empreitada. O mais difícil, com sobras, era a incompatibilidade de relógios biológicos: Nelson acordava na hora em que Arthur ia dormir. Ainda assim, com cantor no fuso horário de Bagdá e pianista no de Honolulu, a parceria deu liga e rendeu um dos melhores álbuns de suas imensas discografias, O Boêmio e o Pianista:


Miacabo com Arthur e sua cara de “acordei agora”

Durante a extensa turnê com Nelson por mais de trinta cidades brasileiras, Arthur encantou-se com a tranquilidade e o clima ameno de Florianópolis e resolveu, enfim, lançar nela sua âncora. Trouxe seus pianos para perto do mar e até deve ter contemplado a ideia de sossegar. O sucesso da coleção “Meu Piano”, que vendeu um milhão de CDs a preços módicos em bancas de revistas, mostrou-lhe que o público não queria seu sossego. Pelo contrário: ainda havia muito mais gente a conquistar, nos vastos horizontes brasileiros, a ser buscada em seus últimos recantos, mesmo nas grotas que nunca tinham visto um piano. Assim, o rei das harmonizações improváveis juntou um Steinway com uma caçamba de Scania e partiu, como orgulhoso Camelô da Música (o termo é dele), para a mais épica jornada jamais empreendida por um artista brasileiro.


ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima


Volume 24: CLÁSSICOS FAVORITOS V

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Do Pequeno Caderno para Anna Magdalena Bach:

Christian PETZOLD (1677–1733)
1 – No. 2: Minueto em Sol maior, BWV Anh. 114

Johann Sebastian BACH
2 – No. 20: Minueto em Ré menor, BWV Anh. 132

Anton DIABELLI (1781-1858)

Das Sonatinas para piano, Op. 168:
3 – Moderato cantabile
4 – Andantino

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Das Duas Sonatinas para piano, WoO Anh. 5
5 – Sonatina em Sol maior

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Do Álbum para Jovens, Op. 68
6 – O Camponês Alegre
7 – O Cavaleiro Selvagem
8 – Siciliana
9 – Um Pequeno Romance
10 – São Nicolau

Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)

Seis Danças Populares Romenas, Sz. 56
11 – Do Bastão
12 -Do Lenço
13 – Sem Sair Do Lugar
14 – Da Trompa
15 – Polka Romena
16 – Finale: Presto

Heitor VILLA-LOBOS (1887-1959)

Do Guia Prático para Piano, Primeiro Álbum:
,17 – Acordei de Madrugada
18 -A Maré Encheu
19 – A Roseira
20 -Manquinha
21 – Na Corda Da Viola

[as obras de Villa-Lobos não estão disponíveis pelos motivos aqui listados]

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)

Das Doze Peças para piano, Op. 40:
22 – No. 2: Chanson triste

Enrique GRANADOS Campiña (1867-1916)

Das Doze Danças Espanholas:
23 – No. 5, “Andaluza”

Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)

Das Peças Líricas, Op. 43:
24 – No. 6: “À Primavera”

Achille Claude DEBUSSY (1862-1918)

Dos Prelúdios, Primeiro Livro:
25 – No. 8: La fille aux cheveux de lin

Dmitry Dmitryievich SHOSTAKOVICH (1906-1975)

Das Danças das Bonecas, Op. 91:
26 – No. 1: Valsa Lírica
27 – No. 4: Polka
28 – No. 5: Valsa-Scherzo

Scott JOPLIN (1868-1917)
29 – The Entertainer

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: St. Philip’s Church, Londres, Reino Unido, 1998-99
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999.

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Volume 28: CLÁSSICOS FAVORITOS VI

Antônio CARLOS GOMES (1836-1896)
Transcrição de Nicolò Celega (1846-1906)

Da ópera Il Guarany:
1 – Protofonia

Carl Maria Friedrich Ernst von WEBER (1786-1826)

2 – Convite à Dança, Op. 65

Franz Peter SCHUBERT (1979-1828)

Dos Quatro Improvisos para piano, D. 899:
3 – No. 4 em Lá bemol maior

Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
4 – Rondo Capriccioso, Op. 14

Johannes BRAHMS (1833-1897)

Das Valsas para piano, Op. 39:
5 – No. 1 em Si maior
6 – No. 2 em Mi maior
7 – No. 3 em Sol sustenido menor
8 – No. 6 em Dó sustenido maior
9 – No. 15 em Lá bemol maior

George GERSHWIN (1898-1937)

10 – Rhapsody in Blue

Gravação: St. Philip’s Church, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999.

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Volume 38: CLÁSSICOS FAVORITOS IX – TRANSCRIÇÕES CÉLEBRES

Ferenc LISZT (1811-1886)

Dos Doze Lieder de Franz Schubert, S. 558:
1 – No. 9: Ständchen

2 – Miserere du Trovatore de Giuseppe Verdi, S. 433

Do Wagner-Liszt Album:
3 – Isoldes Liebestod

4 – Liebeslied, S. 566 (baseada em Widmung, Op. 25 no. 1 de Robert Schumann)

De Années de Pèlerinage – Deuxième Année: Italie, S. 161:
5 – No. 5: Sonetto 104 del Petrarca

Johannes BRAHMS
Transcrição de Percy Grainger (1882-1961)

Das Cinco Canções, Op. 49:
6 – No. 4: Wiegenlied

Aleksandr Porfirevich BORODIN (1833-1887)
Transcrição de Felix Blumenfeld (1863-1931)

De Príncipe Igor, ópera em quatro atos:
7 – Dança Polovetsiana no. 17

George GERSHWIN
Transcrição de Percy Grainger
8 – The Man I Love

Oscar Lorenzo FERNÁNDEZ (1897-1948)
Transcrição de João de Souza Lima (1898-1982)

Da Suíte Reisado do Pastoreio:
9 – No. 3: Batuque

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: All Saints Church, Tooting, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999

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Volume 40: CLÁSSICOS FAVORITOS X

Charles-François GOUNOD (1818-1893)

1 – Ave Maria (Meditação sobre o Primeiro Prelúdio para piano de Johann Sebastian Bach)

Johann Sebastian BACH

Da Fantasia e Fuga em Dó menor, BVW 906:
2 – Fantasia

Franz SCHUBERT

Três Valsas:
3 – Op. 9 nº 1
4 – Op. 9 nº 2
5 –  Op. 77 nº 10

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)

Dos Doze Estudos para piano, Op. 10:
6 – No. 3 em Mi maior

Ferenc LISZT

Dos Três Estudos de Concerto, S. 144:
7 – No. 3: Un Sospiro

Johannes BRAHMS

Dos Três Intermezzi para piano, Op. 117:
8 – No. 2 em Si bemol menor

Leopold Mordkhelovich GODOWSKY (1870-1938)

9 – Alt-Wien

Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)

De Chants d’Espagne, Op. 232:
10 – No. 1: Prélude (Asturias)

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)

11 – Pavane pour une infante défunte

Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946)
Transcrição do compositor

Do balé El Sombrero de Tres Picos:
12 – Danza del Molinero

Gabriel Urbain FAURÉ (1845-1924)
Transcrição de Percy Grainger

Das Três Melodias, Op. 7:
13 – No. 1: Après un Rêve

Ludomir RÓŻYCKI (1883-1953)
Transcrição de Grigory Ginzburg (1904-1961)

14 – Valsa da Opereta Casanova

Antônio CARLOS GOMES

15 – Quem Sabe?

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: All Saints Church, Tooting, e Rosslyn Hill Chapel, Londres, Reino Unido, 1999
Engenharia de som: Peter Nicholls
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1999

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9ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele abordou os seguintes tópicos, sobre sua carreira na década de 1990: concertos que tocou no morro da Mangueira e na Rocinha; período em que foi diretor da Sala Cecília Meireles; período em que foi subsecretário de cultura do estado do RJ, encarregado do interior; sua colaboração com o cantor Nelson Gonçalves; o recital que realizou juntamente com Ana Botafogo; seu disco dedicado ao compositor Brasílio Itiberê; a grande coleção de 41 CDs “Meu piano”, lançada pela Caras em 1998; a caixa de 6 CDs “MPB – Piano collection”, dedicada a Dorival Caymmi, Chico Buarque, Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Roberto Carlos; disco dedicado a Astor Piazzolla, com arranjos de Laércio de Freitas

Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952. Eis o ponta-esquerda Joaquim Albino, o Quincas (1931-2000).

Vassily

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas (Ashkenazy)

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas (Ashkenazy)

Obviamente, o nome Mazurka deve-se ao grande goleiro uruguaio Ladislao Mazurkiewicz (1945-2013) que jogou principalmente no Peñarol, mas também no Galo Mineiro. Seu apelido? Mazurka. Pois Mazurka jogou 3 Copas do Mundo (1966, 1970 e 1974) e é muito lembrado como o artista coadjuvante de um dos maiores lances da historia do futebol. Na Copa do Mundo de 1970 sofreu um drible sensacional de Pelé, que acabou chutando para fora. Em outro lance do mesmo jogo, cobrou mal um tiro de meta que o mesmo Pelé emendou de bate-pronto, mas o chopiniano arqueiro recuperou-se a tempo e fez boa defesa. Aliás, o extraordinário livro O Drible, de Sérgio Rodrigues, inicia com uma linda descrição do drible de Pelé. Bem, não sou tarado por Chopin, mas minha mãe era. Às vezes, em seus últimos anos, eu botava este disco, que era de meu pai, para tocar. Ela ficava satisfeita. Mas logo Chopin se enredava em meio aos nós das suas sinapses cada vez mais dementes do Alzheimer e ela levantava para fazer qualquer outra coisa. Mas num primeiro momento, de uns 10 minutos, ela parecia flutuar com Chopin. Quando ela faleceu, após o longo percurso da doença, minha irmã pediu uma música para tocar no crematório, mas que eu escolhesse bem! Peguei este, do qual já tinha notado a extraordinária qualidade. Talvez eu não tenha muita propensão à neurose e ao trauma, então consigo ouvir seus incríveis 143 minutos apesar de rever o caixão da Maria Luiza indo naquela esteira em direção ao vazio.

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas (Ashkenazy)

4 Mazurkas, Op.6
I: F Sharp Minor 3:14
II: C Sharp Minor 2:28
III: E Major 1:36
IV: E Flat Minor 0:58
5 Mazurkas, Op.7
I: B Flat Minor 1:47
II: A Minor 3:14
III: F Minor 2:19
IV: A Flat Major 1:06
V: C Major 0:45
4 Mazurkas, Op.17
I: B Flat Major 1:57
II: E Minor 1:57
III: A Flat Major 4:04
IV: A Minor 4:13
4 Mazurkas, Op.24
I: G Minor 2:48
II: C Major 2:03
III: A Flat Major 1:55
IV: B Flat Minor 4:31
4 Mazurkas, Op.30
I: C Minor 1:29
II: B Minor 1:06
III: D Flat Major 2:36
IV: C Sharp Minor 3:38
4 Mazurkas, Op.33
I: G Sharp Minor 1:25
II: D Major 2:03
III: C Major 1:28
IV: B Minor 4:34
4 Mazurkas, Op.41
I: C Sharp Minor 3:30
II: E Minor 2:20
III: B Major 1:07
IV: A Flat Major 1:58
3 Mazurkas, Op.50
I: G Major 1:49
II: A Flat Major 2:50
III: C Sharp Minor 4:57
3 Mazurkas, Op.56
I: B Major 3:53
II: C Major 1:32
III: C Minor 5:55
3 Mazurkas, Op.59
I: A Minor 4:29
II: A Flat Major 2:30
III: F Sharp Minor 3:13
3 Mazurkas, Op.63
I: B Major 1:59
II: F Minor 2:08
III: C Sharp Minor 2:24
4 Mazurkas, Op.67
I: G Major 1:02
II: G Minor 1:55
III: C Major 1:25
IV: A Minor 2:28
4 Mazurkas, Op.68
I: C Major 1:25
II: A Minor 3:09
III: F Major 1:14
IV: F Minor 2:17
Mazurka In A Minor (“À Émile Gaillard”, 1840) 3:05
Mazurka In A Minor (“Notre Temps”, 1840) 3:13
Mazurka In B Flat Major (1826) 1:09
Mazurka In G Minor (1826) 1:43
Mazurka In A Flat Major (1834) 1:16
Mazurka In C Major (1833) 2:20
Mazurka In B Flat Major (For Alexandra Wołowska, 1832) 1:01
Mazurka In D Major (1832) 1:14
Mazurka In D Major (?1820) 1:02
Mazurka In F Minor, Op.68 No.4 (Revised Version) 3:30

Vladimir Ashkenazy, piano

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É bom avisar.

PQP

In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 5 de 11: Volumes 6, 15, 17 & 33 (Chopin II, IV, V & IX)

 

Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a quinta das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


Partes:   I   |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII   |   IX   |   X   |   XI

Nem como o general de pijama que sempre brincava que seria, se tivesse largado a Música e seguido feito um Dodge a partir do Colégio Militar, nem assim Arthur Moreira Lima teria colecionado tantas medalhas – o que se torna no mínimo curioso quando nos apercebemos do quão cético ele, de longe e com sobras o mais laureado pianista brasileiro, era quanto a capacidade da diminuta janela de um concurso mostrar com justiça os horizontes artísticos dos jovens aspirantes que, sob os tomates do júri, passam por sua esteira rolante…

… ou corredor-polonês.

O corredor-polonês de Arthur foi, por óbvio, o VII Concurso Internacional Chopin em Varsóvia, realizado em 1965 durante um inverno de trincar os dentes. Durante os dois anos em que se preparou, sob a supervisão de vários veteranos do concurso e do onipresente mestre Rudolf Kehrer, nosso herói estudou até dez horas por dia e submeteu-se a simulações das etapas da competição, tocando seu programa completo ante auditórios lotados de exigentes plateias moscovitas.  O carioca de Estácio chegou a Varsóvia, em suas próprias palavras, na ponta dos cascos, e já nos teria enchido de orgulho por tão só capitanear a delegação de concorrentes do mítico Conservatório de Moscou naquela competição amplamente dominada por pianistas da sovietosfera até a edição anterior, vencida por um socialista milanês de 18 anos que, nas palavras do jurado Arthur Rubinstein, tocava “mais que qualquer um de nós”.

Ecce puer

Arthur, que sempre estranhou o silêncio de seus compatriotas enquanto estudava em Moscou, foi surpreendido por um convite, a meros dois meses do embarque para Varsóvia, para representar o Brasil no Chopin’65. O jovem até então inscrito, um mineirinho de tenros vinte anos, desistira de participar, e só então se lembraram do mais tricolor dos moscovitas, a quem ofereceram uma ajuda de custo que sumiu no éter tão rapidamente quanto o próprio convite.

Levava jeito, o mineirim.

Especialista no extraordinário, o carismático brasileiro que tocava mais russamente que os próprios russos  tornou-se instantaneamente o favorito das plateias de Varsóvia, tão pouco afeitas a russos quanto prontas a acolher quem honrasse a arte de seu mais célebre gênio. Bem mais que um concurso para jovens músicos, o Concurso Chopin é sobretudo uma festa nacional polonesa, uma celebração de orgulho de uma nação que uma vez mais se reconstruía após agressão estrangeira, e era um cenário ideal para que o rapaz de mãos destemidas e pontiagudo e chopiniano perfil causasse sensação cada vez que pisava o palco.

Arthur toca, Frederico observa.

Arthur venceu com facilidade a primeira etapa, que selecionou 36 candidatos, e classificou-se em segunda posição na segunda, ao fim da qual restaram doze candidatos. A terceira etapa, que previa a execução da peça de confronto, obrigatória a todos os candidatos (o Noturno em Mi bemol maior, Op. 55 no. 2), e de uma Sonata a escolher, foi um triunfo. Enquanto todos os concorrentes preferiram a brilhante Sonata em Si menor, Arthur foi o único a tocar a doída Sonata em Si bemol menor. A Marcha Fúnebre e o Finale, com as frenéticas figurações em oitavas paralelas, causaram frenesi no público, cujos aplausos chamaram o Chopinzinho de volta ao palco quatorze vezes. Nosso homem em Varsóvia venceu a etapa, o prêmio especial do júri pela melhor interpretação de uma sonata, e qualquer resistência que ainda pudesse haver a ele na imprensa polonesa:

Interpretou [a Sonata] de maneira extremamente bela, dir-se-ia fantástica”
“Não foram ouvidos [no Concurso] concentração e silêncio iguais (…) ao decorrer de sua execução da Marcha Fúnebre da Sonata em Si bemol menor”
“Tocou o Noturno de maneira formidável, e a Sonata (…) ultrapassou todas as previsões”
“Incomparável (…) o som parecia sair acima do piano, sem toques ao teclado”
“Foi o herói principal de ontem”
“… em sua interpretação da ‘Sonata em Si bemol menor’ somos forçados a usar a palavra ‘genial'”

Chegou favoritíssimo entre os seis finalistas e, para a prova final com orquestra, também fez uma escolha muito pessoal: em lugar do Concerto em Mi menor, algo mais brilhante, tocado por nove entre dez finalistas do Concurso, preferiu o Concerto em Fá menor, camerístico e intimista, e seu favorito desde que o estudara sob sua mestra em Paris, Marguerite Long. Arthur não foi nada mal, mas cometeu alguns erros, e seu piano, engolido pela orquestra, não brilhou como nas etapas anteriores. Classificou-se em quinto na final e conquistou o segundo lugar geral. Entre 2100 pontos possíveis, ficou apenas meio ponto atrás da vencedora, uma argentina que era um verdadeiro huracán e, a despeito duma preparação tumultuada após maternidade, divórcio, disputas pela guarda da filha e alguns anos longe do piano, era uma máquina de acertar e, como muitos já sabiam, uma das maiores pianistas de todos os tempos.

“¿Qué mirás, bobo?”

Ficar com a prata e apenas meio ponto atrás duma figura tão genial em nada chateou Arthur. Ao final do corredor-polonês, viu-se catapultado, juntamente com a guapísima bonaerense, para a fama mundial. Qualquer ressaca que restasse após vinte e três dias de tanta tensão e concentração teria sido liquidificada pela turnê pós-concurso, em que, aliviado pelo dever cumprido, deu com imensa alegria dez recitais, todos abarrotados de poloneses ansiosos para ver e ouvir o brazylijski Szopen. O retrogosto deixado por aqueles quase dois meses em Varsóvia renderia numerosos retornos ao país para concertos e recitais, uma das mais estupendas gravação do Rach 3 em todos os tempos (que já publicamos aqui) e outras duas participações no Concurso Chopin. Na primeira delas, em 1975, deu um recital como pianista convidado – e façam um favor a si mesmos e escutem esse noturno, que nunca ouvi mais lindo em minha vida:

Na outra, em 2021, participou como jurado, substituindo Martha Argerich e Nelson Freire. Sua ex-concorrente, de quem se tornara amigo, estava no Rio para cuidar de Nelson no que infelizmente seriam as últimas semanas de vida do mestre brasileiro, e indicou Arthur para as cadeiras que deixaram no júri.

Jurado em ação

De sua participação sensacional na sétima edição do Concurso Chopin conheciam-se, por muito tempo, apenas as gravações publicadas na coleção da Caras em 1999, que encontrarão no final dessa postagem. Posteriormente, o Instituto Nacional Fryderyk Chopin de Varsóvia (NIFC) traria a conta-gotas algumas outras, incluindo o lançamento comercial da eletrizante prova final do duelo portenho-carioca, que lhes ofereço aqui. Os ouvidos do mundo precisaram aguardar sessenta anos para que a integral das provas de Arthur viesse à tona, numa parceria entre o NIFC e – sempre ele – o Instituto Piano Brasileiro, do inestimável Alexandre Dias:


O “Chopin Brasileiro” também brilharia no Concurso Internacional de Leeds em 1969. Muito mais descontraído que suas disputadas contrapartes no Leste Europeu (Arthur sempre se lembrava dum jurado que dizia aos concorrentes que tivessem calma, porque a vida era bem mais que tão só tocar piano), o Concurso adolescente recém chegava a sua terceira edição. Cheio de idiossincrasias, em especial pelo fato dos concertos na final não serem tocados na íntegra, acabou marcado por uma decisão controversa: em lugar dos três finalistas previstos no regulamento, a última etapa incluiu cinco participantes. Virada de mesa ou marmelada? Deixo para vocês decidirem. Apenas lhes digo que ela aconteceu por pressão dos patronos do Concurso para corrigir o que consideraram um erro crasso dos jurados, que eliminaram um jovem pianista romeno que era o favorito do público e, no final, sairia vencedor:

Nunca dissemos que a vida de Arthur foi fácil em concursos…

Nosso herói, que estava entre os três finalistas originais, escolheu tocar uma vez mais o fatídico Fá menor de Chopin, e classificou-se em terceiro lugar. Não conhecemos qualquer gravação das provas, mas parte do repertório do Concurso foi gravado pelos laureados em estúdio logo após a premiação, e veio à tona graças a – cornucópia de tesouros do (de quem mais?) Instituto Piano Brasileiro. Amo as interpretações de Arthur, mas são os Improvisos de Schubert sob o mago Lupu – seu amigo e colega no Conservatório de Moscou – que me assombram e me fazem quase assinar embaixo da virada de mesa. É ouvir para crer:


A glória final de Arthurzinho, o Concurseiro, dar-se-ia em território muito familiar: a Grande Sala do Conservatório Tchaikovsky de Moscou, onde ele – para usar um dos termos futebolísticos que lhe eram tão caros – “jogaria em casa” no Concurso com o nome de Pyotr Ilyich, que chegava à sua quarta edição em 1970. Com trinta anos e já no limite superior da idade para esse tipo de evento, ele participou da equipe do Conservatório, capitaneada por Vladimir Krainev, que acabaria por dividir o primeiro prêmio com o britânico John Lill. Não obstante, fez bonito num repertório que tocaria de olhos vendados, e conquistou o terceiro lugar. De sua participação conservaram-se gravações de duas etapas – incluindo a final, uma supermaratona pianística com o Concerto no. 1 de Tchaikovsky e o no. 3 de Rachmaninov tocados em sequência, e que nos foi trazida pelo – surpresa, surpresa – Instituto Piano Brasileiro:

IV Concurso Internacional Tchaikovsky – Primeira Etapa (e eu miacabo com a expressão de Rudolf Kehrer)

IV Concurso Internacional Tchaikovsky – Terceira etapa (final)


Ingresso para a primeira etapa do Concurso Internacional Chopin de 1965
Capa do livro de candidatos do Concurso Internacional Chopin de 1965


Biografia de Arthur Moreira Lima no livro de candidatos do Concurso Internacional Chopin de 1965, com o programa de sua participação.
Diploma de Arthur Moreira Lima como vencedor do Segundo Prêmio do Concurso Internacional Chopin de 1965. Essa imagem, bem como todas as outras que envolvem Arthur nessa postagem, foi fornecida pelo próprio artista ao Instituto Piano Brasileiro, que gentilmente autorizou sua divulgação.

ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima


Volume 6: CHOPIN II

Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)

Grande Valsa Brilhante para piano em Mi bemol maior, Op. 18
1 – Vivo

Grandes Valsas Brilhantes para piano, Op. 34
2 – No. 1 em Lá bemol maior
3 – No. 2 em Lá menor
4 – No. 3 em Fá maior

Grande Valsa para piano em Lá bemol maior, Op. 42
5 – Vivace

Três Valsas para piano, Op. 64
6 – No. 1 em Ré bemol maior
7 – No. 2 em Dó sustenido menor
8 – No. 3 em Lá bemol maior

Duas Valsas para piano, Op. 69
9 – No. 1 em Lá bemol maior
10 – No. 2 em Si menor

Três Valsas para piano, Op. 70
11 – No. 1 em Sol bemol maior
12 – No. 2 em Fá menor
13 – No. 3 em Ré bemol maior

Valsas para piano, Opus póstumo
14 – Em Mi menor, Op. Posth., B. 56
15 – Em Mi maior, B. 44
16 – Em Lá bemol maior, B. 21
17 – Em Mi bemol maior, B. 46
18 – Em Mi bemol maior, B. 133
19 – Em Lá menor, B. 150

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: American Academy Hall, Nova York, Estados Unidos, 1982
Produção e engenharia de som: Judith Sherman
Supervisão: Jay K. Hoffman
Piano: Steinway & Sons, Nova York
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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Volume 15: CHOPIN IV

Fryderyk CHOPIN

Dos Três Noturnos para piano, Op. 9:
1 – No. 2 em Mi bemol maior
2 – No. 3 em Si maior

Dos Três Noturnos para piano, Op. 15:
3 – No. 2 em Fá sustenido maior

Dois Noturnos para piano, Op. 27
4 – No. 1 em Dó sustenido menor
5 – NO. 2 em Ré bemol maior

Dos Dois Noturnos para piano, Op. 48:
6 – No. 1 em Dó menor

Dois Noturnos para piano, Op. 55
7 – No. 1 em Fá menor
8 – No. 2 em Mi bemol maior

Dos Dois Noturnos para piano, Op. 62:
9 – No. 1 em Si maior

Noturno para piano em Dó sustenido menor, Op. Póstumo
10 – Lento con gran espressione

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Hampstead, Londres, Reino Unido, 1998
Engenheiro de som: Peter Nicholls
Idealização e direção musical: Arthur Moreira Lima
Idealização, direção musical, produção e edição: Rosana Martins Moreira Lima
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima

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Volume 17: CHOPIN V

Fryderyk CHOPIN

Duas Polonaises para piano, Op. 26
1 – No. 1 em Dó sustenido menor
2 – No. 2 em Mi bemol menor

Duas Polonaises para piano, Op. 40
3 – No. 1 em Lá maior, “Militar”
4 – No. 2 em Dó menor, “Fúnebre”

Polonaise para piano em Fá sustenido menor, Op. 44
5 – Moderato

Polonaise para piano em Lá bemol maior, Op. 53, “Heroica”
6 – Maestoso

Polonaise-Fantaisie para piano em Lá bemol maior, Op. 61
7 – Allegro maestoso

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: American Academy Hall, Nova York, Estados Unidos, 1983
Produção e engenharia de som: Judith Sherman
Supervisão: Jay K. Hoffman
Piano: Steinway & Sons, Nova York
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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Volume 33: CHOPIN IX

Fryderyk CHOPIN

Dos Doze Estudos para piano, Op. 10:
1 – No. 8 em Fá maior
2 – No. 12 em Dó menor, “Revolucionário”

DosDoze Estudos para piano, Op. 25:
3 – No. 5 em Mi menor
4 – No. 10 em Si menor

Sonata para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 35
5 – Grave – Doppio movimento
6 – Scherzo
7 – Marche funèbre: Lento
8 – Finale: Presto

Dos Vinte e quatro Prelúdios para piano, Op. 28:
9 – No. 21 em Si bemol maior
10 – No. 22 em Sol menor
11 – No. 23 em Fá maior

Scherzo para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 31
12 – Presto

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação ao vivo no VII Concurso Internacional Fryderyk Chopin, na Grande Sala da Filarmônica de Varsóvia, Polônia, entre fevereiro e março de 1965.
Remasterização: Carlos Freitas (1998)

Das Quatro Mazurcas para piano, Op. 17:
13 – No. 4 em Lá menor

Das Quatro Mazurcas para piano, Op. 30:
14 – No. 4 em Dó sustenido menor

Das Quatro Mazurcas para piano, Op. 68:
15 – No. 4 em Fá menor

Das Quatro Mazurcas para piano, Op. 41:
16 – No. 1 em Dó sustenido menor

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Moscou, União Soviética, 1971
Remasterização: Carlos Freitas, 1999

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“5ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele falou sobre como foi participar de grandes concursos de piano entre 1965 e 1970, e sobre sua histórica premiação no IV Concurso Tchaikovsky, em Moscou, Rússia, em que tocou na final o 1º Concerto de Tchaikovsky e o 3º Concerto de Rachmaninoff, sendo aclamado pelo público. Falou sobre o efeito que isto teve sua carreira, abrindo novas oportunidades para tocar na URSS e na Europa, e comentou algumas importantes gravações que realizou no início da década de 1970, incluindo o Concerto No.1 de Villa-Lobos. Além disso, mencionou alguns recitais de grandes pianistas a que assistiu na época, como por exemplo Rubinstein e Michelangeli, e falou um pouco sobre sua própria filosofia como intérprete. Comentou sobre sua mudança para Viena, Áustria, tendo tocado inclusive no Musikverein. Por fim, falou sobre a gravação antológica que realizou em 1975 de músicas de Ernesto Nazareth para a gravadora Marcus Pereira, mudando a história deste compositor, do piano brasileiro, e de sua própria carreira, devido aos novos caminhos que lhe foram abertos. Arthur comentou sobre como foi o processo de gravação em Londres, a escolha de repertório com a colaboração do pesquisador Mozart de Araújo e do próprio Marcus Pereira, e a repercussão que os discos causaram no Brasil.”

 

Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952. Na imagem, o meia Edson Caires de Souza, o Edson Pão Duro.

Vassily

Fréderic Chopin (1810-1849): 4 Ballades – Barcarolle – Fantaisie – Berceuse (Lubimov)

Fréderic Chopin (1810-1849): 4 Ballades – Barcarolle – Fantaisie – Berceuse (Lubimov)

Vamos a mais uma postagem com conteúdo chopiniano. Selecionei alguns CDs para postar. Entre eles destaco uma box com treze CDs com a música de Chopin, sendo interpretada por Vladimir Ashkenazy. Fiquei a pensar se deveria postar Arrau (box com 7 CDs) ou Biret (box com 17 CDs).  Optei por Ashkenazy, que é um bom pianista. Por isso, esperem uma bombardeio com material do músico polaco. Há ainda um material com compositores avulsos. Vamos a um deles: ficamos agora com o pianista russo Alexei Borisovich Lubimov, que tem uma forte ligação com a música ocidental. Nos tempos da União Soviética chegou até a ser repreendido por causa desse fato. É um extraordinário CD. Não deixe de ouvir o trabalho de Lubimov. Boa degustação!

Fréderic Chopin (1810-1849) – 4 Ballades – Barcarolle – Fantaisie – Berceuse

01. Ballade #1 in g-min, op.23
02. Ballade #2 in F-maj, op.38
03. Ballade #3 in A-flat-maj, op.47
04. Ballade #4 in f-min, op.52
05. Barcarolle in F#-maj, op.60
06. Fantasie in f-min, op.49
07. Berceuse in D-flat-maj, op.57

Alexei Lubimov, piano

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Lubimov: já postamos homens mais belos
Lubimov: já postamos homens mais atraentes

Carlinus (2014)

P.S. de Pleyel ao respostar – existem os especialistas em Chopin, conhecidos por vocês: Artur Rubinstein, Guiomar Novaes, Maurizio Pollini, Dang Thai Son… além dos já citados acima pelo Carlinus. E existem discos um tanto surpreendentes com a música de Chopin gravada por pianistas não tão associados a ele. É o caso deste álbum em que Lubimov demonstra uma profunda sabedoria tanto sobre a música de Chopin como sobre o pianoforte Érard de 1837.

In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 2 de 11: Volumes 2, 11, 19 e 25 (Chopin I, III, VI & VIII)


Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a segunda das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


Partes:   I   |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII   |   IX   |   X   |   XI

Arthur, desde o começo, foi Arthurzinho – não só por ser notável prodígio antes mesmo que suas perninhas em calças curtas alcançassem os pedais do piano, mas também por ter recebido o nome do pai e isso tornar de mister um diminutivo para que em sua casa não se confundissem os Arthures.

Arthurzinho, ou Juninho?

Arthurzinho tinha três anos quando, desgraçadamente, perdeu Arthur. A tristeza da orfandade marcaria seus primeiros anos de vida, nos quais mambembou entre cidades e casas de familiares, e esse turbilhão de inconstância o propeliu, desde muito cedo, a buscar um melhor futuro. Sua dedicação encarniçada aos estudos – primeiro como bolsista no Liceu Francês, e depois no Colégio Militar do Rio de Janeiro – sempre o manteve entre os mais condecorados estudantes. Vislumbrava, até graduar-se, um horizonte como engenheiro militar do Instituto Técnico da Aeronáutica, e provavelmente teria tomado esse rumo, não fosse o chamado daquela irresistível intercorrência que tanto amamos, a Música.

Depois de muito ouvir três gerações de mulheres – sua avó Lulu, a mãe Dulce e a irmã Luiza – a tocarem o piano alemão da matriarca, estreou na grande Arte em ainda maior estilo: pedindo para tocá-lo ele mesmo e, do mais puro nada, sair de seus dedinhos de seis anos a peça que a mãe estudava. Recobrando-se do pasmo, as parentes fizeram o possível para instrui-lo no teclado. O moleque, no entanto, era mais rápido, e já tinha esgotado os recursos pedagógicos das pianistas da família quando tocou o primeiro recital solo, aos oito anos. Em seguida, tornou-se aluno da grande professora Lúcia Branco. Sob essa orientadora formidável, Arthurzinho começou a dar de ombros a suas aspirações engenheiras e sua carreira seguiu, como costumava dizer, feito um Dodge: aos nove anos, deu seu primeiro recital profissional, no Theatro da Paz de Belém, e venceu o Concurso Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica Brasileira, feito que repetiria aos doze; aos dezesseis, ganhou uma bolsa de estudos em Paris, após vencer o concurso da Rádio Ministério da Educação, que postergou para concluir seus estudos no Colégio Militar; e aos dezessete, após chegar às finais do Primeiro Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, um novo convite para Paris veio da maneira mais irrecusável, ao partir da mítica Marguerite Long, membra do júri e muito impressionada com o jovem aluno-tenente.

– Est-ce que vous parlez de moi?

Se esses seus primeiros anos pianísticos foram muito calcados no repertório do classicismo vienense, tanto pelas preferências de Dona Lúcia quanto pelos ditames dos concursos da época, as estrelas do Alto Romantismo haveriam de prover-lhe todo repertório, se assim o deixassem – e Chopin, seu favorito, era a Alfa dessa constelação. Desde os Noturnos, que tocou praticamente desde o marco zero de sua trajetória como artista, até a participação histórica no Concurso que leva o nome do gênio de Żelazowa Wola, Arthurzinho sempre foi fortemente associado à música de Chopin, veículo apropriado a seu pianismo sempre temperamental e destemido. Além de seu grande intérprete, o mestre de São Sebastião do Rio de Janeiro também foi notório sósia de Frederico, não só pelas semelhanças entre seus perfis pontiagudos, prontamente percebidas pelo público de Varsóvia, de quem era o candidato favorito, mas também pelas mãos, como descobriu, quase em epifania, quando uma das suas encaixou-se exatamente ao molde da do polonês. O que há de Chopin na discografia de Arthur está entre o melhor que ele nos deixou, e é parte dessa beleza que, com muito gosto, lhes ofereço a seguir.

Arthurzinho – ou Frederico?


ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima

 

Volume 2: CHOPIN I

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)

Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
1 – Allegro maestoso
2 – Romanze: Larghetto
3 – Rondo – Vivace

Krakowiak, Grande Rondó em Fá maior para piano e orquestra, Op. 14
4 – Introduzione: Andantino quasi Allegretto – Rondo: Allegro non troppo – poco meno mosso

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Filarmônica de Sofia
Dimitar Manolov, regência

Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986
Idealização: Aleksandr Yossifov
Engenheiro de som: Georgi Harizanov
Produção: Nikola Mirchev
Piano Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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Volume 11: CHOPIN III

Fryderyk CHOPIN

Concerto no. 2 para piano e orquestra em Fá menor, Op. 21
1 – Maestoso
2 – Larghetto
3 – Allegro vivace

Variações em Si bemol maior sobre “Là Ci Darem La Mano”, da ópera “Don Giovanni” de Mozart, para piano e orquestra, Op. 2
4 – Introduction: Largo—Poco piu mosso –  Thema: Allegretto – Variation 1: Brillante – Variation 2: Veloce, ma accuratamente – Variation 3: Sempre sostenuto – Variation 4: Con bravura – Variation 5: Adagio
– Coda: Alla Polacca

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Filarmônica de Sofia
Dimitar Manolov, regência

Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986
Idealização: Aleksandr Yossifov
Engenheiro de som: Georgi Harizanov
Produção: Nikola Mirchev
Piano Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

Barcarola em Fá sustenido maior para piano, Op. 60
5 – Allegretto

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Pomona College, Califórnia, Estados Unidos, 1981
Engenheiro de som: Mitch Tannenbaum
Produção: Heiner Stadler
Piano: Blüthner, Leipzig
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1999)

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Volume 19: CHOPIN VI

Fryderyk CHOPIN

Vinte e quatro Prelúdios para piano, Op. 28
1 – Prelúdio em Dó maior
2 – Prelúdio em Lá menor
3 – Prelúdio em Sol maior
4 – Prelúdio em Mi menor
5 – Prelúdio em Ré maior
6 – Prelúdio em Si menor
7 – Prelúdio em Lá maior
8 – Prelúdio em Fá sustenido menor
9 – Prelúdio em Mi maior
10 – Prelúdio em Dó sustenido menor
11 – Prelúdio em Si maior
12 – Prelúdio em Sol sustenido menor
13 – Prelúdio em Fá sustenido maior
14 – Prelúdio em Mi bemol menor
15 – Prelúdio em Ré bemol maior
16 – Prelúdio em Si bemol maior
17 – Prelúdio em Lá bemol maior
18 – Prelúdio em Fá menor
19 – Prelúdio em Mi bemol maior
20 – Prelúdio em Dó menor
21 – Prelúdio em Si bemol maior
22 – Prelúdio em Sol menor
23 – Prelúdio em Fá maior
24 – Prelúdio em Ré Menor

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Pomona College, Califórnia, Estados Unidos, 1981
Engenheiro de som: Mitch Tannenbaum
Produção: Heiner Stadler
Piano: Blüthner, Leipzig
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1999)

Grande Fantasia em Lá maior sobre Canções Polonesas, para piano e orquestra, Op. 13
25 – Largo non troppo – Andantino – Allegretto – Lento quasi adagio – Molto più mosso – Vivace

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Filarmônica de Sofia
Dimitar Manolov, regência

Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986
Idealização: Aleksandr Yossifov
Engenheiro de som: Georgi Harizanov
Produção: Nikola Mirchev
Piano Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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Volume 25: CHOPIN VII

Fryderyk CHOPIN

Quatro Scherzi para piano:

1 – No. 1 em Si menor, Op. 20
2 – No. 2 em Si bemol menor, Op. 31
3 – No. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39
4 – No. 4 em Mi maior, Op. 54

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Pomona College, Califórnia, Estados Unidos, 1981
Engenheiro de som: Mitch Tannenbaum
Produção: Heiner Stadler
Piano: Blüthner, Leipzig
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1999)

Andante Spianato e Grande Polonaise Brilhante para piano e orquestra, Op. 22
5 – Andante spianato em Sol maior
6 – Grande Polonaise Brilhante em Mi bemol maior

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Filarmônica de Sofia
Dimitar Manolov, regência

Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986
Idealização: Aleksandr Yossifov
Engenheiro de som: Georgi Harizanov
Produção: Nikola Mirchev
Piano Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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BÔNUS (?)

Eu não tinha nem um mês como chapeiro-júnior nesse blogue quando, movido pela admiração à arte de Arthur, ripei os álbuns que lhes apresentarei a seguir. Pretendia que eles estivessem entre as minhas primeiras postagens, no que fracassei retumbantemente, tragado por um pendor pelo ecletismo que marcou meu primeiro surto de atividade por aqui. O título da coleção alinha-se com o projeto do saudoso mestre, iniciado ainda nos anos 70, de gravar a integral do que Frederico nos deixou. Concluiu o torso da empreitada até o final da década de 80, adicionando a ele algumas obras com as gravações que fez especialmente para a coleção lançada pela Editora Caras, e que seriam as últimas de sua carreira. A qualidade dessas ripagens é, bem, tanto um tributo à tortura que era ouvir CDs nacionais por boa parte da década de 90 – tua máxima culpa, Movieplay – quanto à qualidade da remasterização feita por Rosana Martins (então também Moreira Lima), que nos permitiu ouvir essas mesmas gravações com a qualidade que merecem, nos links que postamos mais acima. O simples fato de trazê-las à tona, entretanto, depois de dez anos de tanta doideira, convulsão e cacofonia, atira-me num estranho pufe com cheiro de missão cumprida que me faz até me emocionar com esse sonzinho safado que parece vindo do fundo dum balde.

Julguem-me.


CHOPIN – OBRA COMPLETA PARA PIANO E ORQUESTRA

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Filarmônica de Sofia
Dimitar Manolov, regência


Volume I

Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11

Allegro maestoso
Romanze: Larghetto
Rondo – Vivace

 


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Volume II

Concerto no. 2 para piano e orquestra em Fá menor, Op. 21

Maestoso
Larghetto
Allegro vivace

Krakowiak, Grande Rondó em Fá maior para piano e orquestra, Op. 14

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Volume III

Variações em Si bemol maior sobre “Là Ci Darem La Mano”, da ópera “Don Giovanni” de Mozart, para piano e orquestra, Op. 2

Andante Spianato e Grande Polonaise Brilhante para piano e orquestra, Op. 22

Grande Fantasia em Lá maior sobre Canções Polonesas, para piano e orquestra, Op. 13


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Para Arthur, os mestres foram-lhe tudo. Em homenagem à sua primeira mestra, dona Lúcia Branco (1903-1973), publicamos sua única gravação conhecida, em que ela toca em sua residência o Scherzo no. 3 de Chopin. Essa preciosidade, mais uma da cornucópia do Instituto Piano Brasileiro, atesta claramente que Lúcia, aluna de Arthur De Greef (1862-1940) – por sua vez, aluno de Liszt -, foi uma das maiores pianistas que Pindorama deu ao mundo:


Segue vigente a intimação aos fãs de Arthur para escutarem sua participação no podcast “Conversa de Pianista”, do Instituto Piano Brasileiro, comandado por Alexandre Dias e que foi ao ar em 2020:

“2ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele trouxe mais memórias sobre sua professora Lúcia Branco, e sobre o conjunto de bailes que ele integrava quando adolescente, chamado “Os filhos da pauta”. Depois falou como foi sua transição para Paris, onde passou a ter aulas com Marguerite Long e Jean Doyen, vindo a vencer o Concurso Long–Thibaud. Também mencionou sua participação em outros concursos de piano como a 1ª edição do Concurso Van Cliburn, 1º Concurso Nacional de Piano da Bahia, e 3º Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, mencionando grandes personalidades que conheceu. Por fim, mencionou sua mudança para a Rússia no começo da década de 1960, onde viria a estudar com Rudolf Kehrer no Conservatório Tchaikovsky de Moscou, fato que transformaria sua vida para sempre.”

 

Frederico – ou Arthurzinho?

Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, estamos a lhe oferecer um álbum de figurinhas com os heróis da final da Copa Rio de 1952, que certamente fizeram o moleque Arthurzinho chorar de alegria. Eis o lateral-direito Píndaro Possidonti Marconi, o Píndaro (1925-2008), capitão do escrete tricolor.

 

Vassily

In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 1 de 11: Volumes 1, 3 & 12 (Clássicos Favoritos I, II & III)

Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos (e percebam que nem mencionei seu instrumento!), completaria hoje 85 anos. Para celebrar seu legado extraordinário e honrar sua memória, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de hoje até 30 de outubro, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a primeira das onze partes de nossa eulogia ao gigante.

Partes:     |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII   |   IX   |   X   |   XI


Se me perguntassem qual minha primeira memória de Arthur Moreira Lima, eu provavelmente lhes diria que ela é tão remota quanto a que eu tenho de um pianista. Nasci sob o Terror e cresci entre os ventos da Abertura que traziam de volta quem partira em rabos de foguete. Em minha casa ouvia-se muita música – nenhuma que atraísse cassetetes, e quase sempre daquela prevalente em elevadores e consultórios odontológicos. Ainda assim, era música bastante para que a aparição de um pianista na tela da TV, daquelas de antenas finamente ajustadas com palha de aço, não fosse sumariamente rechaçada por uma mudança de canal para a novela da vez. E o pianista, bem, ele era sempre o mesmo: aquele tipo de perfil pontiagudo, olhos a um só tempo alheios e dardejantes, de postura algo gibosa ao teclado e a drapejar sua cabeleira enquanto debulhava com os dedos coisas que eu não imaginava possíveis a mim, menino telespectador. Ele tocava de tudo, e em todo lugar, e ante centenas, milhares, dezenas de milhares de pessoas, e sozinho, e com orquestras, e em toda e qualquer companhia. No programa que teve na TV aberta, inimaginável nesses nossos tristes tempos de Tigrinho, dividiu a ribalta com chorões e roqueiros, seresteiros e jazzistas; mostrou-me Ney Matogrosso pela primeira vez de cara limpa e apresentou-me o semideus Raphael Rabello, que toca, como Gardel canta para os argentinos, cada dia melhor. Entre um número e outro, com o maroto sotaque que nunca renegou seu berço, entrevistava seus convidados com muita descontração – tanta que promoveu o seguinte diálogo entre meus genitores:

– Esse é aquele pianista?
– É.
– Bem informal, hein?
– Sim.
– Nem parece pianista…

O programa saiu do ar sem-cerimoniosamente, e eu, exceto por um LP e outro que encontrava em briques, fiquei sem saber do madeixudo carismático, até o dia em que, exaurido por um plantão no pronto-socorro e disposto a tudo para ver algo que não fosse sangue ou pus, encontrei um palco montado no meio do maior parque de minha Dogville natal. Sobre ele, um piano, e ante este – sim, adivinharam! – o pianista que nem parecia pianista, e que, contrariando tudo o que se dizia dele – que não estudava, que não se levava a sério, que estava decadente – despachava com segurança os arpejos do Estudo Op. 10 no. 1 de Chopin sob o olhar tietante duns gatos-pingados aos quais me juntei, lá na fila do gargarejo. Emendou, em seguida, o “Revolucionário“, o “Tristesse“, o das teclas pretas, e foi esgotando o Op. 10, estudo a estudo, inteiros ou em parte, até que faltou somente…

– O número 2, Arthur.
– Hein?
– Faltou o número 2.
– Cê me odeia, né? – gargalhava – Mas certamente não tanto quanto eu odeio o número 2.

E atacou o temido Op. 10 no. 2, com aquelas escalas rapidíssimas todinhas com os dedos fracos da mão direita, enquanto resmungava das tendinites que ele lhe trouxera.

– Que mais cês querem?
– …
– Digam logo, que daqui a pouco vão me levar à força pro camarim.
– Piazzolla, então!

E nos deu um Adiós Nonino com a mesma eletricidade que pôs suas madeixas em riste na memorável capa do álbum que dedicou a Astor. Ao terminar, com o produtor já a olhar com ganas de arrancá-lo do palco, um dos gatos-pingados lhe alcançou um número de telefone:

– Volto hoje para o Rio – explicava-se, enquanto guardava o papelucho na casaca – mas não deixo de te ligar.
– A costela está assando desde que saí de casa. Eu e ela te aguardamos.
– E a cerveja?
– Ela também. Mais gelada que em Moscou.

E foi arrastado para as coxias, de onde voltou para tocar um Tchaikovsky furioso com a Sinfônica de Dogville. Nunca soube se ele, enfim, telefonou para o churrasqueiro. Imagino que sim. Afinal, aquele ex-menino prodígio, de nobre arte forjada no Brasil e burilada na França e na União Soviética, capaz de dialogar com bolcheviques e mencheviques, maragatos e chimangos, cronópios e famas, sempre foi também um perfeito exemplo do que em minha terra se chama de “pau de enchente” –  aquele tipo que, como os galhos de árvores levados pelas enxurradas, vai parando aqui e ali – e nunca perdeu qualquer oportunidade de falar, de ouvir e de aprender.

– Decadente.
– Quê?
– Sim. Olha aí: tá vendendo disco na Caras!
– Eita…

O brasileiro não é gentil com seus heróis, e desancaram o heroico Sr. Pau de Enchente quando ele lançou sua antologia pianística a preços módicos e acessível em qualquer banca de revistas. Onde outros viam dinheirismo e decadência, eu, seu desde sempre tiete, só via generosidade – a mesma que o fez tocar para aquelas centenas, aqueles milhares, aquelas dezenas de milhares de gentes, a brilhar na TV e matar de inveja tantos colegas de ofício, a implodir o Muro da Vergonha entre os assim chamados “erudito” e “popular’, e que o levaria, em seu caminhão-teatro feito Caravana Rolidei, a tocar para compatriotas que nunca tinham visto um piano na vida.

Eu nunca consegui lhe agradecer, que se dirá o bastante – se é que haveria gratidão suficiente para tanta dedicação aos ouvidos de seu país! Até tive oportunidades: afinal, tanto eu quanto Sr. De Enchente escolhemos a mesma ilha para passar nossos últimos anos. Por algum tempo, inclusive, compartimos a mesma praia em que, vez que outra, nossos percursos se cruzavam. Numa delas, ele jogava bola com uma criança que, com um pontapé somado ao vigor do Vento Sul, mandou a redondinha na minha direção. Eu, que tenho dois pés esquerdos, devolvi-a com uma vergonhosa rosca para os devidos donos. Já me conformava com a ideia de ir buscá-la ainda mais longe, quando, antes mesmo dela quicar no chão, aquele torcedor doente do Fluminense Football Club aparou a pelota com um golpe seco que orgulharia o Príncipe Etíope e, com um toque de letra digno de Super Ézio, devolveu-a à remetente.

– Valeu, meu bom!

Craque com as mãos e com os pés, o Pelé e o Garrincha do Piano Brasileiro, gênio da raça: também tocas cada dia melhor! Venero-te tanto que jamais te conseguirei ser crítico. Se os leitores-ouvintes o quiserem, que assim sejam – mas minha homenagem aqui, ela terá só carinho e saudade ❤️.

Em memória de Fluminense Moreira Lima (16 de julho de 1940, Rio de Janeiro – Florianópolis, 30 de outubro de 2024) em seu 85º aniversário.


 

ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima

Volume 1: CLÁSSICOS FAVORITOS I

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Myra Hess (1890-1965)
Da Cantata “Herz und Mund und Tat und Leben“, BWV 147:
1 – Coral: Jesus bleibet meine Freude

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Da Sonata para piano no. 11 em Lá maior, K. 331:
2 –  Alla Turca: Allegretto

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Bagatela em Lá menor, WoO 59, “Für Elise”
3 – Poco moto

Carl Maria Friedrich Ernst Freiherr von WEBER (1786-1826)
Da Sonata para piano no. 1 em Dó maior, Op. 24:
4 – Rondo: Presto (“Perpetuum mobile“)

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Das Fantasiestücke, Op. 12:
5 – No. 3: “Warum?”

Ferenc LISZT (1810-1886)
Dos Grandes Estudos de Paganini, S. 141:
6 – No. 3: La Campanella

Jules Émile Frédéric MASSENET (1842-1912)
De Thaïs, ópera em três atos:
7 – Méditation (transcrição do compositor)

Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Da Música Incidental para Ein Sommernachtstraum (“Sonho de uma Noite de Verão”), de William Shakespeare, Op. 61:
8 – No. 9: Marcha nupcial (transcrição do compositor)

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Das Dezoito Peças para piano, Op. 72:
9 – No. 2: Berceuse

Sergei Vasilievich RACHMANINOFF (1873-1943)
Dos Morceaux de Fantaisie, Op. 3:
10 – No. 2: Prelúdio em Dó sustenido menor

Anton Grigorevich RUBINSTEIN (1829-1894)
Das Duas Melodias, Op. 3:
11 – No. 1: Melodia em Fá maior

Alexander Nikolayevich SCRIABIN (1872-1915)
Dos Doze Estudos, Op. 8:
12 – No. 12 em Ré sustenido menor, “Patético”

Achille Claude DEBUSSY (1862-1918)
Da Suite Bergamasque, L. 75:
13 – No. 3: Clair de Lune

Manuel DE FALLA y Matheu (1876-1946)
De El Amor Brujo, balé em um ato:
14 – Dança Ritual do Fogo (transcrição do compositor)

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Volume 3: CLÁSSICOS FAVORITOS II

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Ferruccio Busoni (1866-1924)

Da Toccata e Fuga em Ré menor para órgão, BWV 565:
1 – Toccata

Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
2 – Sonata em Mi Maior, L. 23 (K. 380)

Carl Philipp Emanuel BACH (1714-1788)
3 – Solfeggietto em Dó menor, H 220, Wq. 117:2

Georg Friedrich HÄNDEL
Da Suíte para Teclado no. 5 em Mi maior, HWV 430:
4 – No. 4: Ária com Variações, “The Harmonious Blacksmith”

Ludwig van BEETHOVEN
5 – Seis Escocesas, WoO 83

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
6 – Fantasia-Improviso em Dó sustenido menor, Op. 66

Gioachino Antonio ROSSINI (1792-1868)
Das Soirées Musicales:
7 – No. 8: La Danza (Tarantella Napolitana)

Felix MENDELSSOHN
Das Canções sem Palavras:
8 – Allegro non troppo (Op. 53 no. 2) – Allegretto grazioso (Op. 62 no. 6, Frühlingslied) – Presto (Op. 67 no. 4, La Fileuse)

Ferenc LISZT
Dos Liebesträume, Noturnos para piano, S. 541:
9 – No. 3 em Lá bemol maior

Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)
Do Peças Líricas, Livro III, Op. 43:
10 – No. 1: Papillon

Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
Das Oito Humoresques, Op. 101:
11 – No. 7 em Sol bemol maior

Pyotr TCHAIKOVSKY
Das Estações, Op. 37a:
12 – No. 11: Novembro (Troika)

Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Das Dez Peças para piano, Op. 12:
13 – No. 2: Gavota em Sol menor

Claude DEBUSSY
14 – La Plus que Lente, L. 121

Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Da Suíte Espanhola no. 1, Op. 47:
15 – No. 3: Sevilla

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Volume 12: CLÁSSICOS FAVORITOS III

Johann Sebastian BACH
Concerto em Ré menor, BWV 974 (transcrição do Concerto para oboé de Alessandro Marcello):
1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Allegro

Ludwig van BEETHOVEN
Transcrição de Ferenc Liszt (S. 464)
Da Sinfonia no. 5 em Dó menor, Op. 67:
4 – Allegro con brio

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Dos Improvisos para piano, Op. 90 (D. 899):
5 – No. 2 em Mi bemol maior

Robert SCHUMANN
6 – Arabeske em Dó maior, Op. 18

Ferenc LISZT
Das Soirées de Vienne d’après Schubert, S. 427:
7 – No. 6: Valse-caprice

Claude DEBUSSY
Das Deux Arabesques, L. 66:
8 – No. 1 em Mi maior

Christian August SINDING (1856-1941)
Das Seis Peças, Op. 32:
9 – No. 3: Frühlingsrauschen

Manuel de FALLA
De La Vida Breve, ópera em dois atos:
10 – Dança Espanhola no. 1 (arranjo do compositor)

Pyotr TCHAIKOVSKY
Das Estações, Op. 37:
11 – No. 6: Junho (Barcarola)

Sergei RACHMANINOFF
Dos Études-Tableaux, Op. 39:
12 – No. 9 em Ré maior

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Arthur Moreira Lima, piano

Gravações realizadas na Saint Philip’s Church em Londres, Reino Unido, em 1998
Piano Steinway and Sons
Engenheiro de som: Peter Nichols
Direção Musical, produção, edição e masterização por Rosana Martins Moreira Lima



Fãs de Arthur encontram-se doravante INTIMADOS a ouvir o podcast “Conversa de Pianista”, do Instituto Piano Brasileiro, em que nosso ídolo conversa com o incrível Alexandre Dias, e que foi ao ar em 2020:

“1ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele falou sobre como o piano começou em sua vida, suas primeiras aulas em família, seus primeiros recitais quando criança prodígio, e suas aulas com a grande professora Lúcia Branco, que o levou a participar do I Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro do 1957. Também comentou sobre grandes pianistas a que assistiu nas décadas de 1940 e 1950. Foram mencionados alguns dos assuntos que serão conversados nos próximos episódios, com especial atenção para sua rica discografia, e também sua premiação em importantes concursos internacionais de piano, como o Concurso Chopin (1965), Concurso de Leeds (1969) e o Concurso Tchaikovsky (1970). Nossa homenagem e agradecimento ao grande pianista Arthur Moreira Lima, que em 2020 completa 80 anos”.

Quem apreciar a entrevista encontra-se também intimado a apoiar o Instituto Piano Brasileiro, desde o Brasil ou do Exterior.

Em mais uma homenagem a Fluminense Moreira Lima, oferecer-lhe-emos um álbum de figurinhas com os heróis da final da Copa Rio de 1952, que certamente fizeram Arthurzinho chorar de alegria. Eis o arqueiro Carlos José Castilho, o Castilho (1927-1987).

Vassily

Chopin (1810 – 1849): Concertos para Piano • Sonatas para Piano Nos. 2 & 3 • Benjamin Grosvenor (piano) • Royal Scottish National Orchestra • Elim Chan ֍

Chopin (1810 – 1849): Concertos para Piano • Sonatas para Piano Nos. 2 & 3 • Benjamin Grosvenor (piano) • Royal Scottish National Orchestra • Elim Chan ֍
‘When Benjamin Grosvenor finally makes his first entrance, it proves well worth the wait, and his playing beguiles from the off; as the dynamics sink, his lines are full of poetry but they unfold with utter naturalness.’

[Gramophone, sobre o disco com os concertos]

A música de Chopin pode ser bem mal compreendida. Algumas de suas peças sofrem de superexposição – todos os pianistas, profissionais e (especialmente) amadores, experimentam nela as suas mãos, nem sempre com bons resultados. Assisti a um documentário sobre o que já não mais lembro (perdoem-me, isso definitivamente foi no século passado) no qual a trilha sonora eram valsas de Chopin, tão maltratadas, que precisei dar uma voltinha até o filme principal começar.

Um dos riscos é a banalização, como foi o caso a que me referi, ou pode ser o excesso de ‘interpretação’, derramamento de doçuras ou romantismo desmesurado. Mesmo assim, a lista de gravações dos concertos para piano, como poderia dizer Leporello, ‘ma in CDs son già mille tre!’. Eu mesmo tive em CD apenas uma gravação, Perahia / Orquestra de Israel / Mehta.

O Noturno em mi bemol maior, Op. 9, 2 foi tanto usado em comerciais que se fosse um sapato estaria em estado lastimável.

Mesmo assim, com todos esses riscos, sou fã da música de Chopin de carteirinha e investigo sempre as novas gravações de suas peças. O primeiro disco de suas peças que ouvi à exaustão foi gravação de Arturo Benedetti Michelangeli com algumas mazurcas, um prelúdio, a Balada que eu mais gosto e o segundo Scherzo.

Ouvi tantas coisas boas sobre a gravação dos concertos pelo Benjamim Grosvenor, o primeiro dos discos da postagem, que acabei ouvindo-o um bom número de vezes. Se não o havia postado antes, não foi por falta de insistência do pessoal da repartição. Há aqui quem ame essas obras de paixão. Quando me deparei com esse outro recente disco, com as duas sonatas e mais algumas coisas, inclusive a balada que eu amo, entendi que a hora havia chegado. Assim, aqui está um pacote de Chopin para ninguém botar defeito. Como diria o Alf…

“Seu” Chopin, não vá ficar

Zangado e ressentido

Pela divertida união

Que fiz de… desses dois discos.

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

Piano Concerto No. 1 in E minor, Op. 11
  1. Allegro maestoso
  2. Romance. Larghetto
  3. Rondo. Vivace
Piano Concerto No. 2 in F minor, Op. 21
  1. Maestoso
  2. Larghetto
  3. Allegro vivace

Benjamin Grosvenor (piano)

Royal Scottish National Orchestra

Elim Chan

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MP3 | 320 KBPS | 161 MB

Caso você tenha acesso às plataformas de distribuição de músicas, aqui está uma possibilidade para a audição:

Tidal

[Grosvenor’s] lines are full of poetry but they unfold with utter naturalness. Chan follows his every gesture unerringly – there’s no doubting the musical chemistry at play here…Grosvenor has also been blessed with a very fine instrument and a fabulous recording. It’s the kind of disc that makes you rethink these works and appreciate them all over again. And let’s hope that this is the start of a wonderful recording partnership with Elim Chan.                   Gramophone 2020

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

Piano Sonata No. 2 in B flat minor, Op. 35 ‘Marche funèbre’
  1. Grave – Doppio movimento
  2. Scherzo – Più lento
  3. Marche funèbre. Lento
  4. Finale. Presto
Berceuse in D flat major, Op. 57
  1. Berceuse
Ballade No. 1 in G minor, Op. 23
  1. Ballade
Nocturne No. 15 in F minor, Op. 55 No. 1
  1. Nocturne
Nocturne No. 16 in E flat major, Op. 55 No. 2
  1. Nocturne
Piano Sonata No. 3 in B minor, Op. 58
  1. Allegro maestoso
  2. Scherzo. Molto vivace
  3. Largo
  4. Finale. Presto non tanto

Benjamin Grosvenor (piano)

Recorded: 2024-09-26

Recording Venue: Lady Stringer Studio, Garsington Opera, Buckinghamshire

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MP3 | 320 KBPS | 174 MB

Caso você tenha acesso às plataformas de distribuição de músicas, aqui está uma possibilidade para a audição:

Tidal

Benjamin Grosvenor explores the depths of Chopin with new album featuring Piano sonatas 2 & 3. Benjamin’s ninth album for Decca classics features two of Chopin’s most profound and contrasting works. Written nearly a decade apart, these masterpieces showcase the range of Chopin’s emotional and musical brilliance. Alongside the sonatas are three shorter works: the dramatic Ballade No.1, the peaceful lullaby Berceuse, and two Nocturnes.

Benjamin Grosvenor explora as profundezas de Chopin em um novo álbum com as sonatas para piano 2 e 3. O nono álbum de Benjamin para clássicos da Decca apresenta duas das obras mais profundas e contrastantes de Chopin. Escritas com quase uma década de diferença, essas obras-primas demonstram a amplitude do brilhantismo emocional e musical de Chopin. Além das sonatas, há três obras mais curtas: a dramática Balada nº 1, a serena canção de ninar Berceuse e dois Noturnos.

Aproveite!

René Denon

 

Grieg (1843-1907): Concerto para piano / Falla (1876-1946): Noches en los jardines de España / Chopin (1810-1849): 1º Concerto, Scherzi, etc – The Romantic Novaes

No mínimo uma crítica negativa pode ser feita a Guiomar Novaes: seu repertório praticamente parou no romantismo. Se no piano solo ela até tocava alguns brasileiros contemporâneos a ela (Villa-Lobos, Mignone…), com orquestra não creio que ela tenha tocado os concertos de Ravel, Prokofiev, Scriabin ou Gershwin.

Ou seja, mais uma razão para você parar o que está fazendo e baixar esse CD. Aqui, Guiomar toca os ultrarromânticos concertos de Grieg e de Chopin e dois Scherzos do polonês, que apesar do nome têm pouco de alegre: “Como se vestirão suas obras graves, se a piada já está sob véus negros?”, escreveu Schumann sobre esse 1º Scherzo, publicado com o subtítulo O Banquete Infernal.

Mas deixemos o romantismo de lado, a raridade aqui é Guiomar interpretando a música espanhola de Falla, mais influenciada por Debussy e Ravel do que pela estética romântica. As impressões sinfônicas Noches en los jardines de España foram compostas em 1915 quando Guiomar já tinha 21 anos. A obra, inspirada pela região Andaluzia, tem grandes variações de timbre e dinâmica tanto para a orquestra como para o piano, permitindo à brasileira usar bem todo o seu talento, com afeto e sem afetação, como diz o monge Ranulfus.

Assunto para um artigo: Estereótipos femininos nas capas de Guiomar
Assunto para um artigo: Estereótipos femininos nas capas de Guiomar

CD 1

Edvard Grieg
Piano Concerto in A Minor, Op. 16
1. I. Allegro molto moderato
2. II. Adagio
3. III. Allegro molto moderato e marcato

Manuel de Falla
Noches en los jardines de España
4. I. En el Generalife
5. II. Danza lejana; III. En los jardines de la Sierra de Córdoba

Frédéric Chopin
6. Scherzo No. 1 In B Minor, Op. 20
7. Scherzo No. 3 in C-Sharp Minor, Op. 39

Trois nouvelles études
8. No. 1 in F Minor
9. No. 2 in A-Flat Major
10. No. 3 in D-Flat Major

CD 2
Frédéric Chopin
Piano Concerto No. 1 in E Minor, Op. 11

1. I. Allegro maestoso
2. II. Romanze
3. III. Rondo vivace

Piano Sonata No. 3 in B Minor, Op. 58
4. I. Allegro maestoso
5. II. Scherzo
6. III. Largo
7. IV. Finale: Presto non tanto

8. Berceuse in D-Flat Major, Op. 57
9. Impromptu in F-Sharp Major, Op. 36

Guiomar Novaes: Piano
Vienna Symphony Orchestra & Hans Swarowsky (CD 1, 1-5)
Bamberg Symphony Orchestra & Jonel Perlea (CD 2, 1-3)

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Link alternativo

Os americanos gostaram. E você? Comente!
Os americanos gostaram. E você? Comente!

Pleyel (postagem original de 2017)

Horowitz in Moscow: Scarlatti, Mozart, Rachmaninov, Scriabin, Schubert, Liszt, Schumann, Chopin, Moszkowski

Horowitz in Moscow: Scarlatti, Mozart, Rachmaninov, Scriabin, Schubert, Liszt, Schumann, Chopin, Moszkowski

Foi com grande surpresa que me dei conta de que esse disco não constava no acervo de mais de 8 mil posts da casa. Horowitz in Moscow documenta nada menos que o retorno do colossal pianista Vladimir Horowitz à União Soviética, sua terra natal, depois de 61 anos. 61 anos! Uma vida…

O recital aconteceu no dia 20 de abril de 1986, na Grande Sala do Conservatório Tchaikovsky, em Moscou, mesmo palco onde Horowitz havia se apresentado pela última vez na URSS, em 1925. O mestre, agora, tinha 82 anos e queria ver sua pátria-mãe Rússia mais uma vez antes de morrer.

O encarte do disco, lançado com o selo amarelo da Deutsche Grammophon, reproduz um texto de Charles Kuralt para a CBS News que capta um pouco da atmosfera em torno do recital:

“Um simples pôster apareceu numa manhã de primavera na parede amarelo-pálido do Conservatório de Música de Moscou. Ele dizia que um recital de piano seria dado por “Vladimir Horowitz (USA). Apenas um pôster, mas que disparou uma descarga elétrica de surpresa e alegria pela capital soviética. Aqueles que viram o pôster, ou que ouviram dizer sobre ele, sabiam que era um concerto para ser lembrado eternamente. E foi. 

Ah, você tinha que ter estado lá! Mas como? Menos de 400 ingressos foram colocados à venda para o público, e uma longa fila de russos amantes da música passaram a noite toda em pé para conseguí-los assim que a bilheteria abrisse. O resto dos 1800 lugares da bela Grande Sala do Conservatório estavam reservados para funcionários do governo e membros de corpos diplomáticos.

Chovia quando chegou a hora do concerto. 20 de abril de 1984, 4 da tarde, hora de Moscou. Centenas de pessoas se aglomeraram sob guarda-chuvas na rua do lado de fora do auditório. Eles sabiam que não iam conseguir escutar uma única nota; queriam apenas poder dizer que estavam presentes nesse dia. (…)”

 

“Na tarde da sexta-feira que antecedeu o concerto, Horowitz veio até a sala para ensaiar, em frente a uma platéia lotada de estudantes e professores de música. Ele checou meticulosamente a luz e o posicionamento do piano no palco, e brincou um pouco com os fotógrafos. Então, sensível à expectativa dos estudantes, começou a tocar seriamente. Um silêncio profundo se instalou na sala. O ensaio então virou um concerto, prelúdio para o recital formal. Muitos estudantes fecharam os olhos para se concentrar no que estavam ouvindo. Um membro da entourage de Horowitz, radiante, disse que aquele ensaio foi uma das melhores performances do pianista que ele ouviu na vida, um presságio maravilhoso para o concerto de domingo, que seria televisionado para a Europa e os Estados Unidos. Os alunos aplaudiram Horowitz por longos minutos e o seguiram até o pátio do Conservatório, cercando seu carro em uma explosão de amor e admiração. Apesar dos esforços de um cordão policial, a limusine levou quase meia hora para andar os cerca de 15 metros até a rua. Mesmo após o carro ter escapado da multidão, os estudantes permaneceram ali em pequenos grupos, discutindo maravilhados o que haviam escutado.

Na tarde do concerto oficial, dois dias mais tarde, muitos daqueles estudantes voltaram querendo mais. Sem ingressos, eles burlaram a segurança disposta ao redor do prédio e conseguiram escapulir até as galerias superiores, no início do concerto. O barulho que você consegue escutar no início da primeira sonata de Scarlatti é o som da polícia soviética tentando, em vão, retirar os estudantes do terraço. Eles, no entanto, permaneceram firmes, a polícia recuou e o concerto prosseguiu — com um grande número de estudantes ‘bicões’ presentes.

Horowitz e a esposa Wanda dando uma conferidinha num manuscrito de um certo Piotr Ilitch Tchaikovsky

O repertório é uma daquelas maravilhosas viagens horowitzianas, prestando reverência a mestres que habitaram as máximas alturas da literatura pianística, com uma inevitável queda para aquele pedaço do planeta que o viu nascer: Scarlatti, Mozart, Rachmaninov, Scriabin, Liszt (incluindo um d’après Schubert), Chopin, Schumann e Moszkowski.

Senhoras e senhores, sem mais delongas, o histórico retorno de Vladimir Horowitz a Moscou, em 1986. Веселитесь!

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Horowitz in Moscow

Domenico Scarlatti (1685-1757)

1 – Sonata in E major, K. 380 (L. 23)

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)

Piano Sonata in C major, K. (330) (300 h)
2 – I. Allegro moderato
3 – II. Andante cantabile
4 – III. Allegreto

Sergei Rachmaninov (1873-1943)

5 – Prelude in G major, op. 32 nº 5
6 – Prelude in G sharp minor, op. 32 nº 12

Alexander Scriabin (1872-1915)

7 – Etude in C sharp minor, op. 2 nº 1
8 – Etude in D sharp minor, op. 8 nº 12

Franz Liszt (1811-1886)
d’après Franz Schubert (1797-1828)

9 – Soirées de Vienne – Valse-Caprice nº 6

Franz Liszt (1811-1886)

10 – Sonetto 104 del Petrarca

Frédéric Chopin (1810-1849)

11 – Mazurca in C sharp minor, op. 30 nº 4
12 – Mazurka in F minor, op. 7 nº 3

Robert Schumann (1810-1856)

13 – Träumerei (from Kinderszenen)

Moritz Moszkowski (1854-1925)

14 – Étincelles, op. 36 nº 6

Sergei Rachmaninov (1873-1943)

15 – Polka de W.R.

Vladimir Horowitz, piano
Gravado ao vivo na Grande Sala do Conservatório de Música de Moscou em 20 de abril de 1986.

PS: Você pode assistir ao concerto, com um filme mostrando os preparativos e o clima, aqui:

PPS: Você também pode ouvir uma digitalização de uma fita cassete mexicana do concerto aqui, uma daquelas coisas insólitas que só o Internet Archive faz por você.

Ganhando flores de ninguém menos que uma sobrinha-neta de Tchaikovsky

Karlheinz

Chopin (1810 – 1849): Études – Yunchan Lim (piano) ֎

Chopin (1810 – 1849): Études – Yunchan Lim (piano) ֎

“Chopin é o maior de todos, pois apenas com o piano ele descobriu tudo.”
Claude Debussy

Domingo calorento e preguiçoso aqui e continuo adiando a preparação das provas para amanhã. Integração por partes, como diria Jack…

A vitrola acabou de tocar Bruckner#9 e ainda estou sob os efeitos do imenso adágio. Então, para variar, um disco diferente – Estudos de Chopin. Eu gosto de Chopin e se você tem ideias pré-concebidas do romântico compositor – a imagem de um pianista revirando os olhos sobre uma doce melodia, prepare-se para uma ‘revolucionária’ mudança. Nada de bibelôs neste disco, que tem seus momentos mais lânguidos, faz parte.

O pianista Yunchan Lim é espetacular, tem técnica de sobra para mais uns dois ou três virtuosos. Foi o mais jovem músico a ganhar a medalha de ouro no Concurso Van Cliburn e o disco com os endiabrados Estudos Transcendentais, de Liszt, gravado ao vivo durante o concurso, é prova disso. Mas, calma, um disco só de Liszt é demais para mim, tive que esperar esse novo disco para apreciar as habilidades do Yunchan Lim. Se bem que há uma gravação do Concerto Imperador, também ao vivo, que é flamejante.

Em junho de 2022, Yunchan Lim se tornou a pessoa mais jovem a ganhar ouro no Concurso Internacional de Piano Van Cliburn; suas performances ao longo do tempo mostraram uma “habilidade mágica” e uma “qualidade natural e instintiva” (La Scena) que surpreendeu os ouvintes ao redor do mundo. Como o presidente do júri Marin Alsop expressou: “Yunchan é aquele artista raro que reúne musicalidade profunda e técnica prodigiosa organicamente.” A profundidade de sua arte e conexão com os ouvintes também lhe garantiram o Prêmio do Público e Melhor Performance de uma Nova Obra. A performance surpreendente de Lim dos Estudos Transcendentais completos de Liszt da rodada semifinal do Concurso Van Cliburn está disponível em seu álbum de estreia Steinway & Sons.

Hoje já estou na segunda audição deste disco, intercalando-o com outras favoritas gravações – Abbey Simon, Boris Berzovski, por exemplo. Até essa postagem chegar até você, já terei ouvido uma boa meia dúzia de vezes.

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

Études (12), Op. 10

  1. 1 in C Major “Waterfall”
  2. 2 in A Minor “Chromatique”
  3. 3 in E Major “Tristesse”
  4. 4 in C-Sharp Minor “Torrent”
  5. 5 in G-Flat Major “Black Keys”
  6. 6 in E-Flat Minor “Lament”
  7. 7 in C Major “Toccata”
  8. 8 in F Major “Sunshine”
  9. 9 in F Minor
  10. 10 in A-Flat Major
  11. 11 in E-Flat Major “Arpeggio”
  12. 12 in C Minor “Revolutionary”

Chopin: Études (12), Op. 25

  1. 1 in A-Flat Major “Aeolian Harp”
  2. 2 in F Minor “The Bees”
  3. 3 in F Major “The Horseman”
  4. 4 in A Minor “Paganini”
  5. 5 in E Minor “Wrong Note”
  6. 6 in G-Sharp Minor “Thirds”
  7. 7 in C-Sharp Minor “Cello”
  8. 8 in D-Flat Major “Sixths”
  9. 9 in G-Flat Major “Butterfly Wings”
  10. 10 in B Minor “Octave”
  11. 11 in A Minor “Winter Wind”
  12. 12 in C Minor “Ocean”

Yunchan Lim (piano)

Recorded: 2023-12-20
Recording Venue: Henry Wood Hall, London

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MP3 | 320 KBPS | 143 MB

Yunchan Lim

Some extremely daring speeds guarantee excitement, pushing the technical limits in what are, of course, despite their generic title (Études , or Studies), so much more than technical exercises, yet he also finds great poetry…some of Yunchan Lim’s interpretations may be too subjective for everyone’s taste, yet this is a remarkable feat that demands to be heard.                                                                       BBC Music Magazine

His Chopin is as flexible and feather-light as it is fluent and fiery, as compelling in its sense of structure as in its relishing of detail. The whole experience radiates joyful, youthful exuberance.               Gramophone

These are thrilling performances of Chopin’s studies, the technique dazzlingly immaculate and the musical impulses propelling it often startlingly original.                                                                       The Guardian

Aproveite!

René Denon

Chopin – Voyages – Yulianna Avdeeva

Falar do talento de Yulianna Avdeeva é quase como chover no molhado. Ainda mais quando ela lança um CD apenas com obras de Chopin, repertório no qual ela é craque. Para quem não sabe, essa pianista russa venceu o prestigioso Concurso Chopin, em Varsóvia, lá em 2010, e desde então vem construindo uma sólida carreira. Já trouxe outros cds dela, procurem aí que irão encontrar.

O que temos aqui nesta postagem é mais uma amostra do imenso talento de Avdeeva, que nos traz um repertório belíssimo, com a imensa Sonata nº 3 e da Polonaise – Fantasie. O CD abre com dois Noturnos, os de op. 62 e conclui-se com as três últimas Mazurkas que Chopin compôs, de op. 59. Entre essas obras, temos os dois petardos citados acima, duas obras primas incontestes do compositor polonês.

Como comentei acima, Avdeeva encara as peças com muita propriedade e segurança. Assim a pianista descreve sua relação com a música de Chopin (texto retirado do livreto, que segue anexo):

“The music of Chopin has a unique place in my soul. For me, it captures the subtlest nuances of the human experience; just like a leaf on a tree appears plain green at first, yet reveals a spectrum of hues when touched by the wind, Chopin’s compositions unveil layers of emotion and meaning with the unfolding of each note.”

Acredito que cada um de nós, ao ouvirmos a música de Chopin, sentimos um turbilhão de emoções, é difícil inclusive sair do transe em que entramos. Lembro da primeira vez que ouvi a Balada nº1, eu era ainda um adolescente, naquela fase de descobertas dos sentimentos e das emoções, e aquela música me impressionou muito. E ainda me impressiona, mesmo depois de passados tantos anos e de ter tido tantas experiências de vida. Chopin tem essa incrível capacidade de nos abalar emocionalmente. Depois de ouvirem esse CD creio que muitos que ainda não tiveram essa experiência, a terão.

P.S. Uma curiosidade sobre o piano que Avdeeva utiliza nesta gravação: era o piano pessoal de Wladimir Horowitz. Maiores detalhes no livreto.

2 Nocturnes, Op. 62
1 No. 1 in B Major. Andante
2 No. 2 in E Major. Lento
3 Polonaise-Fantaisie, Op. 61
4 Barcarolle, Op. 60

Sonata No. 3 in B Minor, Op. 58
5 I. Allegro maestoso
6 II. Scherzo. Molto vivace
7 III. Largo
8 IV. Finale. Presto non tanto

3 Mazurkas, Op. 59
9 No. 1 in A Minor. Moderato
10 No. 2 in A-Flat Major. Allegretto
11 No. 3 in F-Sharp Minor. Vivace

Yulliana Avdeeva – Piano

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Chopin (1810 – 1849): Noturnos, com o Deus do piano (Maurizio Pollini)

A Fundação para a Divulgação e Inevitável Imortalização do Guia Genial dos Pianistas Maurizio Pollini fundada por Lais Vogel e P.Q.P Bach apresenta:

Olha, com Pollini eu engulo até Chopin! Não é aquela coisa romântica chatinha e devaneante que as pessoas confundem com poesia e sentimento… Como diz Bergman em Sonata de Outono, Chopin não é música para maricas, não é música toda desmanchada como um sorvete quente, é música máscula, música para ser tocada com certo espírito de volante de contenção pelo mais hábil dos pianistas para atingir nosso coração e cérebro. Abaixo os pianistas mela-cuecas!

Aqui temos técnica, sabedoria, musicalidade e sentimento, não temos um lacrimoso deprimido fingindo-se de apaixonado com a bunda colada na frente do piano. E tenho dito!

Chopin: Noturnos

1. Op. 9 No. 1 in B lfat minor. Larghetto
2. Op. 9 No. 2 in E flat major. Andante
3. Op. 9 No. 3 in B major. Allegretto
4. Op. 15 No. 1 in F major. Andante cantabile
5. Op. 15 No. 2 in F sharp major. Larghetto
6. Op. 15 No. 3 in G minor. Lento
7. Op. 27 No. 1 in C sharp minor. Larghetto
8. Op. 27 No. 2 in D flat major. Lento sostenuto
9. Op. 32 No. 1 in B major. Andante sostenuto
10. Op. 32 No. 2 in A flat major. Lento
11. Op. 37 No. 1 in G minor. Andante sostenuto
12. Op. 37 No. 2 in G major. Andantino
13. Op. 48 No. 1 in C minor. Lento
14. Op. 48 No. 2 in F sharp minor. Andantino
15. Op. 55 No. 1 in F minor. Andante
16. Op. 55 No. 2 in E flat major. Lento sostenuto
17. Op. 62 No. 1 in B major. Andante
18. Op. 62 No. 2 in E major. Lento
19. Op. posth. 72 No. 1 in E minor. Andante

Maurizio Pollini, piano
Recorded: Munich, Herkulessaal, 6/2005

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Maurizio Pollini: não adianta criticá-lo. Sou fã e e fã não discute, apenas ama.

PQP (2009, revalidado por Pleyel, 2024)

Chopin (1810 – 1849): Noturnos / Villa-Lobos (1887 – 1959): Cirandas (Arthur Moreira Lima, piano)

Arthur Moreira Lima Jr. (Rio de Janeiro, 16 de julho de 1940 – Florianópolis, 30 de outubro de 2024) por suas próprias palavras:

I. Em entrevista na edição de 14/10/1974 do jornal carioca O Pasquim:

“Acho jogadores assim como o Gérson, Didi, maravilhosos. Como certos pianistas. Didi pra mim é o Gulda. Ele podia errar tudo, mas de repente tinha aquele momento de gênio que neguinho pode estudar a vida inteira que não vai conseguir fazer igual.”
O PASQUIM – Tem algum grande pianista hoje como Didi?
ARTHUR – Sei lá, os grandes pianistas atuais tendem mais para Pelé do que pra Didi. São perfeitos demais. Tem o Rubinstein, né? Esse ainda faz uns troços que dão aquela ereção, entende?”
(…)
O PASQUIM – Qual é o autor brasileiro que você executa com mais receptividade lá fora?
ARTHUR – Bem, eu só tenho tocado Villa-Lobos. Que, aliás, tem uma receptividade muito maior lá fora do que no Brasil. Ele é considerado o maior compositor das Américas. E com toda razão. Tem neguinho aí que perto dele não pega nem juvenil. Eu gosto muito do Ernesto Nazareth também. Mas é um compositor muito mais difícil de ser entendido no estrangeiro. Aliás, eu vou gravar um disco em Moscou só com músicas brasileiras e é claro que vou incluir Nazareth.”
(Obs: após a publicação da entrevista, em 1975 Arthur foi convidado a gravar um vinil duplo dedicado somente a Nazareth, no Brasil mesmo, seguido de outro, totalizando quatro LPs que estão entre seus legados mais preciosos e você pode encontrá-los aqui)

II. Em 1981, quando lançou os Noturnos em gravação feita na Califórnia/USA e escreveu o texto do encarte do disco, traduzido para o inglês e re-traduzido aqui:

“A palavra nocturne foi utilizada pelo pianista e compositor irlandês John Field (1782-1832) para designar um tipo de composição lenta (calma e sonhadora), que tinha como principal característica a imitação do bel canto. Chopin gostava de tocar os noturnos de Field, adicionando floreios improvisados no estilo de sua época.

A declamação pianística (principal característica dos noturnos) é a chave do estilo de Chopin e da sua filosofia artística. Não é surpreendente, então, que Chopin tivesse uma especial predileção pelos seus noturnos. Ele os tocava frequentemente para os seus alunos e amigos, em salões e em concertos públicos. Em termos de pedagogia, o Mestre atribuía a eles uma importância comparável à dos Estudos.

Os noturnos exemplificam notavelmente a ousadia musical de Chopin e seus revolucionários modos de abordar o instrumento. Ouvindo eles todos, podemos apreciar o caminho artístico atravessado por Chopin – com cerca de 17 anos, as primeiras tentativas no gênero (Noturnos Póstumos nº 19, 20 e 21); com 36, a transcendência, a perfeição da forma musical, alargada no seu conteúdo emocional, rica em invenção harmônica e de contrapondo, como evidenciado na obra mais tardia (nº 18).”

III. Em 1988 No encarte de sua coleção de 3 LP dedicados a Villa-Lobos, um deles você pode ouvir no link mais abaixo:

“Impregnadas de sentimento brasileiro, as peças não fogem à linha geral de sua obra, filosoficamente assentada no nacionalismo, baseada em ritmos e melodias do nosso riquíssimo folclore e realizada tecnicamente sob a influência de compositores europeus como Stravinsky, Bartók e Debussy, influência essa que apenas orientou seu talento genial, sem impedir que em momento algum deixassem de vir à tona seu autodidatismo e sua marcante personalidade.

Fiel às suas raízes populares, o piano do Villa-Lobos é brilhante, marcando os ritmos por vezes como se fosse um instrumento de percussão, indo do mais terno ao mais agressivo, sem nunca perder uma grande presença de som, que lhe é característica.”

IV. O pianista, que tocou muitas vezes tanto em Moscou como em Kiev, lamentou em 2022:

“Tanto os russos como os ucranianos são muito simpáticos. Fico muito triste com esse conflito. Não estou do lado de nenhum governante. Minha preocupação é com o povo, a população. A Polônia está recebendo os refugiados ucranianos e nesses grupos há músicos. Nossa missão é lutar pela paz.” (aqui)

Frédéric Chopin (1810 – 1849):
21 Noturnos

Arthur Moreira Lima, Blüthner Piano
Recorded in Little Bridges Auditorium, Pomona College, CA, USA, 1981
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320 kbps

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Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) – Cirandas:
A Condessa
Senhora Dona Sancha
O Cravo brigou com a Rosa
Pobre Cega (Toada da Rede)
Passa, Passa, Gavião
Xô, Xô Passarinho
Vamos Atras da Serra, Calunga
Xô, Xô Passarinho
Vamos Atrás da Serra, Calunga
Fui no Tororó
O Pintor de Cannahy
Nesta Rua, Nesta Rua
Olha o Passarinho, Dominé
À Procura de uma Agulha
A Canoa Virou
Que Lindos Olhos!
Có, Có, Có

Arthur Moreira Lima, Steinway Piano
Recorded: Rio de Janeiro, 1988

OUÇA AQUI – Spotify

Obs: Villa-Lobos, só no streaming. Reclamações, enviem por favor aos herdeiros do compositor.

(A foto que abre esta postagem é do Instituto Piano Brasileiro, também responsável por compartilhar várias outras preciosidades de Arthur Moreira Lima no Youtube (aqui) e, aqui, o mapa com todas as cidades onde ele tocou no seu projeto “Um Piano na Estrada”)
Pleyel

Chopin (1810 – 1849) • Field (1770 – 1827) • Debussy (1862 – 1918): Noturnos (e Prelúdios) • Melvyn Tan (piano) ֍

Chopin (1810 – 1849) • Field (1770 – 1827) • Debussy (1862 – 1918): Noturnos (e Prelúdios) • Melvyn Tan (piano) ֍

Noturnos

Melvyn Tan – 标记为

Arrumação dos CDs nas prateleiras faz parte do rol das inúteis coisas que fazemos para nosso próprio prazer. Organizar por ordem alfabética de nomes de compositores pode fazer Alkan morar próximo de Albinoni, o que me parece um disparate. Ordem cronológica dos compositores coloca ombro a ombro gentes como Bach, Handel e Scarlatti – para saber a sequência correta é preciso descobrir os horóscopos de cada um deles. Mas, onde colocar os discos com músicas de dois ou mais compositores? Bem, digam-me lá como fazem vocês… organizar pela cor das lombadas?

A alegria do Melvyn quando soube que o disco seria postado…

Estava eu em mais uma dessas arrumações quando dei com este despretensioso disco, alocado com os discos-encartes de banca. Quem é visto, é lembrado… e lá foi ele para o DVD player que por ora uso nessas situações. A proposta do disco é explorar o gênero musical noturno, no qual o maioral é Chopin, é claro, mas nem só de peças de Chopin ele é composto. Temos três peças do compositor irlandês John Field, intercaladas nas seis primeiras faixas, com três de Chopin. Quão interessante é essa parte do disco. Por mais charmosas e brilhantes que sejam as peças de Field, as obras de Chopin se sobressaem. O mais charmoso dos noturnos de Field, para mim, é o de número 6. Depois temos mais alguns noturnos de Chopin. E como é lindo Noturno em sol maior op. 37/ 2! (Quizz PQP Bach – em qual propaganda esse noturno foi usado?)

Não sei como a produção do disco não escolheu algumas peças de Fauré, outro compositor de noturnos, mas acho que aí entrou o dedo (seria melhor dizer ‘os dedos’?) do intérprete Melvyn Tan. Debussy tem uma conexão bem forte com a Chopin, apesar das imensas diferenças. De qualquer forma, fiquei assim conhecendo o Noturno para piano de Debussy, que compôs também noturnos para orquestra, e me deliciei com a sequência de Prelúdios escolhida para completar o disco.

Devo dizer que esse disco foi gravado no apagar das luzes do século passado e naqueles dias Melvyn era mais conhecido como intérprete de pianoforte, membro ativo do uso de instrumentos de época. Tenho escutado o disco agora várias vezes, sempre com bastante gosto, especialmente a parte inicial. Tanto que vou dar uma busca nas gravações dos intérpretes de John Field, tais como o também irlandês John O’Conor ou Benjamin Frith…

JOHN FIELD (1782 – 1837)

  1. Noturno No.4 em lá maior

FRÉDÉRIC CHOPIN (1810–1849)

  1. Noturno em fá maior, Op. 15/1

JOHN FIELD

  1. Noturno No. 5 em si bemol maior

FRÉDÉRIC CHOPIN

  1. Noturno em sol menor, Op. 15/3

JOHN FIELD

  1. Noturno No. 6 em fá maior

FRÉDÉRIC CHOPIN

  1. Noturno em sol menor, Op. 37/1
  2. Noturno em sol maior, Op.37/2
  3. Noturno em mi menor, Op. 72/1
  4. Noturno em mi maior, Op. 62/2
  5. Noturno em si maior, Op. 9/3

CLAUDE DEBUSSY (1862 – 1918)

  1. Noturno
  2. Prelúdio: La Fille Au Cheveux De Lin
  3. Prelúdio: Brouillards
  4. Prelúdio: Feuilles Mortes
  5. Prelúdio: Les Sons Et Les Parfums Tournent Dans L’air Du Soir
  6. Prelúdio: La Terrasse Des Audiences Du Clair De Lune
  7. Prelúdio: Ondine

Melvyn Tan (Piano)

Gravado em outubro de 1998

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MP3 | 320 KBPS | 108 MB

Melvyn Tan é um pianista clássico britânico, nascido em Singapura em 13 de outubro de 1956.

Aproveite!

René Denon

Veja na postagem a seguir uma gravação (posterior) de Melvyn Tan interpretando os Prelúdios de Debussy.

Debussy (1862 – 1918): Préludes – Steven Osborne – Michel Beroff – Ivan Ilic – Pierre-Laurent Aimard – Melvyn Tan – Yukio Yokoyama ֍ #DEBUSSY160

Chopin (1810 – 1849): Sonata para Piano No. 2 • Beethoven (1770 – 1827): Sonata para Piano No. 29 ‘Hammerklavier’ • Beatrice Rana (piano) ֍

Chopin (1810 – 1849): Sonata para Piano No. 2 • Beethoven (1770 – 1827): Sonata para Piano No. 29 ‘Hammerklavier’ • Beatrice Rana (piano) ֍

CHPN & BTHVN

Sonatas para Piano

Beatrice Rana

Beatrice Rana brilhou para o mundo da música ao ganhar o Concurso Musical Internacional de Montreal, em 2011, e novamente, ao ganhar a Medalha de Prata no 14º. Van Cliburn International Piano Competition, dois anos depois. O disco do Concurso de Montreal tem os Prelúdios de Chopin e uma sonata para piano de Scriabin. O disco do Concurso Van Cliburn tem os Estudos Sinfônicos de Schumann, Gaspard de la nuit, de Ravel e Out of Doors, de Bartók, apenas…

A jovem pianista já se apresentou aqui nos palcos do PQP Bach interpretando Bach, Chopin e Ravel, sempre com sucesso de crítica e público. Encorajado por esse retrospecto e verdadeiramente mesmerizado por esse novo disco, nada mais certo do que a trazer novamente para essas páginas.

Esse disco reúne pela primeira vez (talvez) duas sonatas para piano que são emblemáticas da obra de cada um dos compositores. Ela mesma explicou as razões dessas escolhas em uma entrevista para Jeremy Nicholas, que poderá ser lida na íntegra no livreto que acompanha os arquivos musicais da postagem. Aqui está um resumo.

Sobre a Hammerklavier, ela disse que teve tempo de estuda-la bastante durante a pandemia: Eu realmente encontrei uma conexão profunda com essa música, especialmente por causa da época em que aprendi a Sonata: o isolamento, estar trancada longe do resto do mundo. O terceiro movimento fala muito sobre solidão, sobre ir fundo em si mesmo, um espelho completo do que eu estava vivenciando. Ao mesmo tempo, o quarto movimento, com sua grande fuga, me mostrou que também havia uma chance de escapar dessa condição. É uma peça que afirma muito a vida, apesar do fato de que também refletia muito do que estava acontecendo em nosso mundo naquela época.

Sobre a Sonata de Chopin: Eu absolutamente adoro esse período intermediário de Chopin em particular, quando a Sonata foi escrita: uma época em que ele estava experimentando com som, harmonias e estrutura. Eu acho isso tão visionário. […] É muito mais aventureiro do que em suas composições finais, que são muito clássicas de certa forma. Então a Segunda Sonata, mesmo agora, é incrível. Quando você pensa no quarto movimento, é tão moderno, tão experimental. Sim, a Sonata de Beethoven é uma sonata muito humana, mas a Sonata de Chopin é humana de uma forma muito diferente. O trio no meio da marcha fúnebre [terceiro movimento] é meio que übermenschlich – como um filósofo pode descrever a superação de si mesmo de uma forma transcendental.

Sobre a reunião das duas peças em um só disco: Essas duas sonatas em si bemol transcendem a condição humana de maneiras muito diferentes — mas não totalmente diferentes, porque ambas têm muito a ver com o medo da morte, com o medo da solidão. Cada uma encontra uma solução de maneira diferente. Acho que isso tornou a junção dessas duas peças muito interessante. Mas também, embora esses compositores fossem próximos cronologicamente, eles parecem totalmente separados. E de certa forma, a Sonata de Chopin é muito Beethoveniana porque sua estrutura — a do primeiro movimento especialmente — é muito compacta. Há tanta linearidade na arquitetura. Ela está sempre avançando — não é um ciclo, é uma única história que se está contando. Tecnicamente, os dois compositores não têm muito em comum, mas ambos estão experimentando. Acho que quando você olha para os últimos movimentos das duas sonatas, ambos são experimentos — experimentos no mais alto nível e de maneiras completamente diferentes.

FRÉDÉRIC CHOPIN (1810–1849)

Piano Sonata No.2 in B flat minor Op.35 “Funeral March”
  1. Grave – Doppio movimento
  2. Scherzo
  3. Marche funèbre: Lento
  4. Finale: Presto

LUDWIG VAN BEETHOVEN 1770–1827

Piano Sonata No.29 in B flat Op.106 “Hammerklavier”
  1. Allegro
  2. Scherzo: Assai vivace
  3. Adagio sostenuto
  4. Introduzione: Largo – Allegro
  5. Fuga: Allegro risoluto

BEATRICE RANA piano

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MP3 | 320 KBPS | 173 MB

“Beatrice Rana possesses a old soul that belies under her twenty years, and more than a touch of genius.”    Gramophone

Aproveite!

René Denon

Chopin (1810-1849): Scherzos, etc – Michelangeli, Richter

Postagem de 2021, links reativados em 2024

Centro e noventa anos atrás,  no dia 8 de setembro de 1831, os russos capturaram Varsóvia após a rebelião ocorrida na Polônia em meio a outras balbúrdias que sacudiram a Europa desde 1830. Chopin, ligado ao grupo que defendia a independência polonesa, jamais voltaria à sua terra natal. Ele estava em uma curta viagem pela Alemanha e, poucos dias depois, ainda em setembro, chegaria a Paris. “Coloco minha tristeza no piano”, escreveu ele em seu diário. Nesses primeiros meses de exílio ele escreveu seu primeiro Scherzo. A palavra italiana, que significa brincadeira, tem aqui um sentido enigmático, talvez de humor doentio e sarcástico, porque são as composições de Chopin mais ligadas ao que Nietzsche nomeia como estado de alma trágico. O Scherzo nº 1, em si menor, começa com acordes pesados, passa por um breve momento de paz com uma citação da canção natalina polonesa “Lulajże Jezuniu” (Dorme Jesus), canção brutalmente interrompida pelos acordes trágicos. Hoje trago dois pianistas da época do vinil, que considero até hoje os maiores intérpretes desse Scherzo.
A gravação dos quatro Scherzi por Richer era uma grande referência do Penguin Guide e outras enciclopédias musicais que deixaram de existir com a internet. Richter era um pianista de múltiplos talentos, mas provavelmente sua maior vocação era para a música mais “séria”, com uma certa solenidade, não era um homem de piadas e brincadeiras (para voltarmos à palavra italiana scherzo). Por isso ele é considerado um grande intérprete das últimas sonatas de Beethoven e de Schubert, bem como do Cravo Bem Temperado de Bach. A exceção que confirma a regra é o Concerto de Gerswhin, que surpreendeu o conselho consultivo do PQPBach por seu swing e leveza. Os Scherzi, gravados em 1977, recebem nessa edição em CD uma boa companhia com a série de miniaturas de Schumann. Aliás, Schumann era um grande admirador de Chopin e escreveu, sobre o primeiro scherzo: “Como se vestirão suas obras graves, se a piada já está sob véus negros?”

F. Chopin (1810-1849):
1. Scherzo No. 1 In B Minor, Op.20
2. Scherzo No. 3 in B-flat Minor, Op.31
3. Scherzo No. 3 in C-Sharp Minor, Op.39
4. Scherzo No. 4, E major, Op.54

R. Schumann (1810–1856):
5-18. Bunte Blätter, Op. 99 (Colorful Leaves – Folhas Coloridas)

Sviatoslav Richter, piano

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Chopin, por Eugène Delacroix

Depois da referência, a obscura gravação ao vivo. Michelangeli se notabilizou pela sua interpretação de um pequeno número de obras de Chopin: a Balada nº 1, a Sonata nº 2 “Marcha Fúnebre” e mais algumas. Perfeccionista, ele lapidava como diamantes as poucas obras de seu repertório. Era um frequente parceiro do maestro Sergiu Celibidache e compartilhava com ele o perfeccionismo e outras manias. Após as mortes dos dois ( Michelangeli em 1995, Celibidache em 1996), foram aparecendo gravações ao vivo disputadas pelos fãs, incluindo algumas dos dois juntos nos concertos de Ravel, Schumann e Beethoven.

Entre elas, essas gravações de Chopin, em recitais ao vivo entre 1962 e 1990. No Scherzo nº 1, a sonoridade de Michelangeli é aquela que os fãs conhecem: meticulosamente planejada, nada é por acaso: mesmo nos acordes mais fortes e intensos, cada nota é necessária para recriar a atmosfera sombria e trágica que passava pela cabeça de Chopin. O andamento bastante lento escolhido por Michelangeli faz parte dessa exposição transparente de todos os momentos, nada fica escondido, e nisso também, na lentidão, podemos lembrar de Celibidache.

Na Fantasia em Fá menor, obra que alterna entre momentos trágicos e outros de bravura virtuosística, Michelangeli mostra que sua técnica é realmente prodigiosa. Nas valsas e mazurkas que completam o álbum, Michelangeli tem concepções interessantes mas bastante excêntricas. Não temos aqui o ritmo dançante das mazurkas de Barbosa, de Novaes ou de Freire – esses pianistas brasileiros que parecem ter nascido para tocar esse Chopin mais dançante, onde o aspecto trágico também está presente mas apenas nas entrelinhas, mascarado pela dança.

1. Scherzo No. 1 in B Minor Op. 20 13:10
2. Fantaisie in F Minor Op. 49 14:30
3. Valse in A Minor Op. 34.2 7:23
4. Valse in A Flat Major Op. 34.1 5:40
5. Valse in A Flat Major Op. 69.1 4:18
6. Mazurka in A Minor Op. 68.2 3:07
7. Mazurka in F Minor Op. 68.4 3:41
8. Mazurka in A Flat Major Op. 41.4 1:45
9. Mazurka in G Sharp Minor Op. 33.1 2:50
10. Mazurka in D Flat Major Op. 30.3 2:58
11. Mazurka in G Minor Op. 67.2 2:34
12. Mazurka in B Minor Op. 33.4 8:06
Arturo Benedetti Michelangeli, piano

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Richter e Michelangeli em 1964

“Quanto precisou sofrer este povo para poder tornar-se tão belo! Agora,
porém, acompanha-me à tragédia e sacrifica comigo no templo de ambas as divindades!”
(Nietzsche – O Nascimento da Tragédia)

Pleyel

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas Completas (Rubinstein)

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas Completas (Rubinstein)

Como já avisou inúmeras vezes meu irmão PQPBach, nosso SAC é uma porcaria como os demais. Acontece que a diretoria do blog não está nem aí com as solicitações de seus leitores. Mas não somos tão cruéis. Quando podemos, atendemos. Se temos em nosso acervo, o que custa? Por exemplo, o leitor Carlos Eduardo Amaral solicitou valsas e outras obras de Strauss. PQP disse que não tinha, mas felizmente possuo uma gravação que irá satisfazer ao nosso leitor, e que deverá estar sendo postada nos próximos dias.

Mas por enquanto, irei atender ao nosso leitor do outro lado do mundo, diretamente da Nova Zelândia, que pediu Chopin, espeficicamente as Mazurkas. Aqui estão elas. Um aviso: antes que comecem as intermináveis discussões dos que irão defender Arrau, Horowitz, Ashkenazy, Pires, Polllini, sempre estarei postando Chopin com meu intérprete favorito, Arthur Rubinstein. E sei que terei a Laís Vogel para me defender, pois ela também é fã do bom velhinho. Talvez seja culpa de minha mãe, que já colocava os discos de Chopin sempre interpretados por ele, ou então, do programa “Concertos para a Juventude”, que a Globo transmitia nos idos dos anos 70, aos domingos de manhã. Quem é de minha geração ou mais velho, há de se lembrar deste programa. Rubinsten, Karajan, Böhm, Amadeus Quartet eram frequentadores assíduos do programa. Não me lembro se tinha um apresentador, acho que o Karabitchevisky apresentou durante um período. Enfim, foi o programa que apresentou a tal da música clássica para minha geração. Enfim, falei deste programa porque foi ali que ouvi as Polonaises e as Baladas de Chopin, e ali me fascinei por aquele velhinho empertigado sobre um Steinway, tocando divinamente. Sempre me chamou a atenção sua postura, coluna ereta, olhos fechados, total concentração, e no final um sorriso discreto, de saber que tinha cumprido seu dever.

A Mazurka é originária do folclore polonês, e Chopin compôs 57. É um monte, mesmo. Mas são peças relativamente curtas, 3 minutos em média de duração. É isso aí.

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas Completas (Rubinstein)

4 Mazurkas, Op. 6
1-1 No. 1 In F-Sharp Minor 2:38
1-2 No. 2 In C-Sharp Minor 2:42
1-3 No. 3 In E Major (Vivace) 2:05
1-4 No. 4 In E-Flat Minor (Presto Ma Non Troppo) 0:41

5 Mazurkas, Op. 7
1-5 No. 1 In B-Flat Major (Vivace) 2:35
1-6 No. 2 In A Minor (Vivo Ma Non Troppo) 3:30
1-7 No. 3 In F Minor 2:52
1-8 No. 4 In A-Flat Major (Presto Ma Non Troppo) 1:06
1-9 No. 5 In C Major (Vivo) 0:36

4 Mazurkas, Op. 17
1-10 No. 1 In B-Flat Major (Vivo E Resoluto) 2:29
1-11 No. 2 In E Minor (Lento Ma Non Troppo) 1:59
1-12 No. 3 In A-Flat Major (Legato Assai) 4:21
1-13 No. 4 In A Minor (Lento Ma Non Troppo) 4:33

4 Mazurkas, Op. 24
1-14 No. 1 In G Minor (Lento) 2:49
1-15 No. 2 In C Major (Allegro Non Troppo) 2:15
1-16 No. 3 In A-Flat Major (Moderato) 2:08
1-17 No. 4 In B-Flat Minor (Moderato) 5:06

4 Mazurkas, Op. 30
1-18 No. 1 In C Minor (Allegretto Non Tanto) 1:38
1-19 No. 2 In B Minor (Vivace) 1:28
1-20 No. 3 In D-Flat Major (Allegro Non Troppo) 2:53
1-21 No. 4 In C-Sharp Minor (Allegretto) 3:43

4 Mazurkas, Op. 33
1-22 No. 1 In G-Sharp Minor (Mesto) 1:37
1-23 No. 2 In D Major (Vivace) 2:46
1-24 No. 3 In C Major (Semplice) 1:36
1-25 No. 4 In B Minor 5:33

4 Mazurkas, Op. 41
1-26 No. 1 In C-Sharp Minor (Maestoso) 3:30
2-1 No. 2 In E Minor (Andantino) 2:12
2-1 No. 3 In B Major (Animato) 1:11
2-3 No. 4 In A-Flat Major (Allegretto) 2:11

3 Mazurkas, Op. 50
2-4 No. 1 In G Major (Vivace) 2:31
2-5 No. 2 In A-Flat Major (Allegretto) 3:08
2-6 No. 3 In C-Sharp Minor (Moderato) 5:21

3 Mazurkas, Op. 56
2-7 No. 1 In B Major (Allegro Non Tanto) 4:22
2-8 No. 2 In C Major (Vivace) 1:44
2-9 No. 3 In C Minor (Moderato) 5:47

3 Mazurkas, Op. 59
2-10 No. 1 In A Minor (Moderato) 3:51
2-11 No. 2 In A-Flat Major (Allegretto) 2:36
2-12 No. 3 In F-Sharp Minor (Vivace) 3:40

3 Mazurkas, Op. 63
2-13 No. 1 In B Major (Vivace) 2:17
2-14 No. 2 In F Minor (Lento) 1:45
2-15 No. 3 In C-Sharp Minor (Allegretto) 2:18

2-16 Mazurka In A Minor, Op. Post. “A Emile Gaillard” 2:33

2-17 Mazurka In A Minor, Op. Post. “Notre Temps” 3:17

4 Mazurkas, Op. Posth. 67
2-18 No. 1 In G Major (Vivace) 1:10
2-18 No. 2 In G Minor (Cantabile) 1:59
2-20 No. 3 In C Major (Allegretto) 1:37
2-21 No. 4 In A Minor (Allegretto) 3:05

4 Mazurkas, Op. Posth. 68
2-22 No. 1 In C Major (Vivace) 1:41
2-23 No. 2 In A Minor (Lento) 2:47
2-24 No. 3 In F Major (Allegro Ma Non Troppo) 1:27
2-25 No. 4 In F Minor (Andantino) 3:14

Arthur Rubinstein – Piano

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Rubinstein: a elegância ao piano

FDP

Del barroco y del romanticismo ao siglo XXI (Carlos Prieto / Edison Quintana / Juan Luis Prieto)

Del barroco y del romanticismo ao siglo XXI (Carlos Prieto / Edison Quintana / Juan Luis Prieto)

Faz muito tempo que não é postado um CD com obras para violoncelo e piano aqui no blog. Aí vai um, com o maior violoncelista mexicano da atualidade, Carlos Prieto. Algumas dentre as primeiras peças são transcrições, mas a maioria é original. O cello de Prieto tá meio fraquinho (detesto cello que canta “pra dentro”), porém, assim como no post da semana passada, vale pela peça de Marlos Nobre – e também pela de Ernst Mahle, pela de Mignone, pela do mexicano Eugenio Toussaint e pela do americano Lukas Foss.

***

Del barroco y del romanticismo ao siglo XXI (Carlos Prieto / Edison Quintana / Juan Luis Prieto)

1 Passacaglla (para violín y violonchelo)
Adapted By – Johan Halvorsen
Composed By – Georg Friedrich Händel
7:09
2 Pezzo capriccioso Op. 62 (para violonchelo y piano)
Composed By – Pyotr Ilyich Tchaikovsky
6:09
3 Vocalise, op. 34, Nº 14 (para violonchelo y piano)
Composed By – Sergei Vasilyevich Rachmaninoff
5:52
4 Introduction et Polonaise Brillante Op. 3 (para violonchelo y piano)
Adapted By – Emanuel Feuermann
Composed By – Frédéric Chopin
8:40
5 Capriccio (para violonchelo y piano)
Composed By – Lukas Foss
6:05
6 Modinha (para violonchelo y piano)
Composed By – Francisco Mignone
3:38
7 Ocho Duos Modales (para dos violonchelos). 1. Allegro alla marcia. Lidio – menor
Composed By – Ernst Mahle
2:29
8 Ocho Duos Modales (para dos violonchelos). 2. Moderato. Lidio – mixolidio
Composed By – Ernst Mahle
2:29
9 Ocho Duos Modales (para dos violonchelos). 3. Allegro moderato. Frigio – dórico
Composed By – Ernst Mahle
1:22
10 Ocho Duos Modales (para dos violonchelos). 4. Un poco vivo. Tonos enteros
Composed By – Ernst Mahle
1:37
11 Ocho Duos Modales (para dos violonchelos). 5. Allegro. Lidio – gitano
Composed By – Ernst Mahle
2:07
12 Ocho Duos Modales (para dos violonchelos). 6. Con moto. Tono octotónico
Composed By – Ernst Mahle
2:12
13 Ocho Duos Modales (para dos violonchelos). 7. Andante. Frigio – mayor
Composed By – Ernst Mahle
1:59
14 Ocho Duos Modales (para dos violonchelos). 8. Andantino. Frigio – gitano
Composed By – Ernst Mahle
2:27
15 Partita Latina (2001 – Estreno mundial, para violonchelo y piano). I. Lento. Estático
Composed By – Marlos Nobre
6:14
16 Partita Latina (2001 – Estreno Mundial, Para Violonchelo y Piano). II. Appassionato
Composed By – Marlos Nobre
1:03
17 Partita Latina (2001 – Estreno Mundial, Para Violonchelo y Piano). III. Scherzando (Poco Vivo)
Composed By – Marlos Nobre
1:56
18 Partita Latina (2001 – Estreno Mundial, Para Violonchelo y Piano). IV. Calmo
Composed By – Marlos Nobre
2:34
19 Partita Latina (2001 – Estreno Mundial, Para Violonchelo y Piano). V. Profundo. Molto Lento
Composed By – Marlos Nobre
2:46
20 Partita Latina (2001 – Estreno Mundial, Para Violonchelo y Piano). VI. Vivo
Composed By – Marlos Nobre
1:10
21 Partita Latina (2001 – Estreno Mundial, Para Violonchelo y Piano). VII. Grave
Composed By – Marlos Nobre
2:51
22 Pour Les Enfants (2001 – Estreno Mundial, Para Violonchelo y Piano)
Composed By – Eugenio Toussaint
6:46

Piano – Edison Quintana (tracks: 2, 3, 4, 5, 6,15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22)
Violin – Juan Luis Prieto (tracks: 1)
Violoncello – Carlos Prieto, Juan Hermida (3) (tracks: 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14)

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Carlos Brianco

CVL

Frédéric Chopin (1810-1849): Nocturnes, Nos. 1–10 (Castro)

Frédéric Chopin (1810-1849): Nocturnes, Nos. 1–10 (Castro)

Meu amor pela música clássica floresceu junto com meus tímidos, preguiçosos e sonhadores estudos de piano, aos doze anos. Penso que essas duas coisas são intimamente ligadas no meu íntimo; de uma forma ou de outra, tanto meu sentir quanto meu pensar a música passam pelas oitenta e oito teclas deste instrumento. Assim fui forjado, moldado e aprendi a ouvir o mundo, ou ao menos esse mundo de sons organizados a que damos o nome de “música”.

Faço este pequeno preâmbulo para tentar dar um pouco da dimensão do meu amor pelos Noturnos deste genial polonês, responsável por alguns dos voos mais belos do repertório pianístico: Frédéric François Chopin (1810-1849). Em meio ao rico tesouro que é sua obra, repleta de mazurcas, polcas, valsas, baladas, estudos, prelúdios e tantas outras formas, os noturnos talvez sejam os que mais se aproximam de canções: profundamente líricos, curtos, tripartites (exposição, desenvolvimento, conclusão) e algo lentos (lentoandantinoandante). Cada noturno contém em si uma vida, um mundo, uma alma.

O baiano Ricardo Castro, filho de Vitória da Conquista — terra do menestrel Elomar —, um dos grandes pianistas que esta república federativa deu ao mundo e fundador e diretor artístico do fantástico projeto NEOJIBA,  faz uma belíssima viagem pelos noturnos, que evidencia esse aspecto de imensidão de cada uma dessas miniaturas. Ao mesmo tempo em que há uma unidade, um fio que une essas reluzentes jóias, cada noturno é um universo que nos toca de uma forma única. O álbum, lançado em 1995, traz os primeiros dez noturnos, de opus 9, 15, 27 e 32. Um disco ao qual eu regresso constantemente, e sempre renova meu encantamento.

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F. Chopin — Nocturnes, vol. 1 — Nos. 1–10

  1. Nocturne Op. 9/1, em si bemol menor
  2. Nocturne Op. 9/2, em mi bemol maior
  3. Nocturne Op. 9/3, em si maior
  4. Nocturne Op. 15/1, em fá maior
  5. Nocturne Op. 15/2, em fá sustenido maior
  6. Nocturne Op. 15/3, em sol menor
  7. Nocturne Op. 27/1, em dó sustenido menor
  8. Nocturne Op. 27/2, em ré sustenido maior
  9. Nocturne Op. 32/1, em si maior
  10. Nocturne Op. 32/2, em lá sustenido maior

Ricardo Castro, piano

Karlheinz

Mozart (1756-1791): Concertos para piano Nos. 23 & 19 – Maurizio Pollini (piano) – Wiener Philharmoniker & Karl Böhm & Frédéric Chopin (1810 – 1849): Estudos, op. 10 & 25 – Maurizio Pollini (piano) ֍

Mozart (1756-1791): Concertos para piano Nos. 23 & 19 – Maurizio Pollini (piano) – Wiener Philharmoniker & Karl Böhm & Frédéric Chopin (1810 – 1849): Estudos, op. 10 & 25 – Maurizio Pollini (piano) ֍

Homenagem ao grande pianista

Maurizio Pollini (1942 – 2024)

A notícia surgiu logo de manhã, no grupo de WhatsApp, e depois se confirmou ao longo do dia nas mídias sociais e jornais on line: Maurizio Pollini è morto.

Maurizio Pollini, pianist who defined modernism, dies at 82

Eu não consigo deixar de lembrar o punch line da anedota sobre o político: Pois sim, morreu para você, filho ingrato! É assim que nos sentimos, na morte de certos artistas. Apesar de tudo, a arte e seus efeitos sobre nós continuarão, por mais algum tempo.

O pianista Maurizio Pollini, através de suas gravações, especialmente aquelas das décadas de 1970, 80 e 90, tem feito parte de meu universo musical desde o início e suas interpretações certamente ajudaram a moldar minhas preferências musicais.

O disco mencionado na postagem, dos concertos de Mozart, é de 1976, quando comecei a comprar meus primeiros LPs. Aqui está minha lista de joias, que levaria para aquela ilha deserta:

Estudos de Chopin (1972); Prelúdios de Chopin (1975); Últimas Sonatas para Piano de Beethoven (1976); Concertos de Mozart (1976) e Imperador, de Beethoven (1979), ambos com Böhm regendo a Filarmônica de Viena; Concertos para piano Nos. 1 e 2, de Bartók (1979), com Abbado regendo a Sinfônica de Chicago, o Quinteto com piano de Brahms (1980), com o Quarteto Italiano, as Sonatas para piano Nos. 2 e 3, de Chopin (1986); Últimas Sonatas para piano de Schubert (1989) e um disco no qual Pollini gravou ao vivo algumas Sonatas para piano de Beethoven, especialmente a Waldstein (1998). Os discos de Chopin ainda tenho em uma caixota, que tem também as Polonaises, feitos pela Microservice, Disco é Cultura.

Veja o que foi lembrado sobre o Pollini (nunca consegui chamá-lo Maurizio…) neste dia:

Harris Goldsmith, a critic who made a specialty of writing about the piano, called Mr. Pollini’s playing “almost entirely geometric” and said he was “a musical counterpart of Mondrian.” Harris Goldsmith, um crítico que se especializou em escrever sobre piano, chamou a interpretação de Pollini de “quase inteiramente geométrica” e disse que ele era “uma contraparte musical de Mondrian”.

Conductor and composer Boulez tried to describe Mr. Pollini for the New York Times in 1993. “He does not say very much, but he thinks quite a lot,” Boulez said. “I find him very concentrated on what he is doing. He goes into depth in the music, and is not superficial, and his attitude as a musician is exactly his attitude as a man. He is as interesting as anyone could be.” O maestro e compositor Boulez tentou descrever Pollini para o New York Times em 1993. “Ele não diz muito, mas pensa bastante”, disse Boulez. “Acho ele muito concentrado no que está fazendo. Ele se aprofunda na música, e não é superficial, e sua atitude como músico é exatamente sua atitude como homem. Ele é tão interessante quanto qualquer um poderia ser.”

Pollini não tocava música de Bach ao piano por razões intelectuais, uma vez que o compositor não as havia escrito para piano. Mas, para nossa fortuna, ele reconsiderou isso posteriormente.

“The important thing with him was the structure, the idea, and not so much the sound or the instrument,” Mr. Pollini told Newsday. “And Bach himself made many, many transcriptions of his work, taking it from one instrument and giving it to another. And so I finally decided that the piano was all right.” “O importante com ele era a estrutura, a ideia, e não tanto o som ou o instrumento”, disse Pollini ao Newsday. “E o próprio Bach fez muitas, muitas transcrições de sua obra, pegando-a de um instrumento e dando-a a outro. E então finalmente decidi que o piano estava bem.”

Graças a essa mudança de atitude temos uma gravação feita em 2009 do Primeiro Livro do Cravo Bem Temperado.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Concerto para Piano No. 23 em lá maior, K 488

  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Allegro assai

Concerto para Piano No. 19 em fá maior, K 459

  1. Allegro vivace
  2. Allegretto
  3. Allegro assai

Maurizio Pollini, piano

Wiener Philharmoniker

Karl Böhm

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FLAC | 228 MB

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MP3 | 320 KBPS | 126 MB

O disco com os Estudos de Chopin foi gravado em setembro de 1960 pela EMI, no famoso Studio No. 1, Abbey Road, Londres, mas não chegou a ser lançado na época. O produtor foi Peter Andry e o disco foi lançado em 2011 pelo selo Testament, em homenagem a Andry. Vale a pena a comparação com a agora consagrada gravação feita posteriormente, para o selo Deutsche Grammophon.

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

Études, op. 10 & 25

Maurizio Pollini, piano

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MP3 | 320 KBPS | 163 MB

Além de grande artista, ele também esteve atento aos movimentos políticos, chegando a se filiar ao Partido Comunista Italiano por um tempo. “Corre-se o risco de estar em um compartimento fechado como um pianista de concerto”, disse Pollini em 1975. “Acho que um artista deve manter os olhos abertos para o que está acontecendo ao seu redor.”

Definitivamente, uma ótima sugestão para artistas e amantes das artes em geral.

René Denon

Maurizio Pollini (1942 – 2024)

Frédéric Chopin (1810-1849): Ballades, Fantaisie Op. 49, Prélude no. 25 (Pollini)

Frédéric Chopin (1810-1849): Ballades, Fantaisie Op. 49, Prélude no. 25 (Pollini)

Tive um colega no saudoso Jornal da Tarde que costumava dizer: “escrever sobre quem a gente admira é a coisa mais fácil do mundo; escrever sobre quem a gente ama e idolatra é a coisa mais difícil”. Sentado na frente do computador para tentar botar pra fora algo sobre Maurizio Pollini (1942-2024), que nos deixou ontem, só posso concordar contigo, meu caro Eduardo. Pollini sempre esteve lá, desde o começo, meu big bang particular, quando o tempo e o universo nasceram. Se a chama da música foi acesa na minha vida por dois outros pianistas, Vladimir Horowitz e Glenn Gould, em um par de CDs que meu irmão trouxe de uma viagem a Nova York, Pollini foi o primeiro amor, o primeiro herói, um símbolo daquilo de mais belo e precioso que a humanidade produziu nesse rochedo que vaga pelo Sistema Solar. Se comecei a entender o que era o mundo pelas doces vozes de meus pais e irmãos me acalentando, foi com os discos de Pollini que comecei a entender o que era a música, esse Mistério de beleza e verdade que expressa aquilo que não se pode colocar em palavras (e, muitas vezes, também aquilo que se pode).

E, puxa, que sorte imensa poder passar o resto da vida navegando e mergulhando no oceano de gravações que maestro Pollini deixou, num arco que perfaz uns bons quatrocentos anos de música — grande artista que é — eu ia escrever “foi”, mas a verdade é que um ser iluminado como Pollini sempre “é”, nunca deixará de “ser” —, explorou um universo que foi do barroco a compositores do nosso tempo.

Claudio Abbado, Luigi Nono e Maurizio Pollini: che trio!

Uma vida e uma carreira marcadas por integridade artística, respeito aos compositores, generosidade para com os colegas e, dando corpo a tudo isso, uma humildade de alguém que compreendeu que a arte é aquilo que nos salva da barbárie, que nos dá asas e nos torna imortais. Quando Pollini tocava, não era sobre ele, era sobre a música. Uma lição tão essencial, tão básica, e também tão esquecida nesses tempos de likes, engajamentos e que tais.

Sem querer escorregar e fazer desse texto um detestável “eubituário”, conto que tive a sorte de vê-lo algumas vezes, em diferentes salas na capital alemã, ao longo de nove anos. Sempre, em todas elas, me pegava olhando em volta, para a Philharmonie enchendo aos pouquinhos, ou sentindo o cheiro das novíssimas poltronas das Pierre Boulez Saal, e pensando: cacete, vou ver o Pollini! Era sempre um sonho virando realidade. E foi sempre absolutamente excepcional.

Pollini na Pierre Boulez Saal, em Berlim, 2019. Foto deste blogueiro

Dito tudo isto, que gravação escolher para homenageá-lo? É quase como se perguntar “qual tijolo escolho para mostrar a beleza e a grandiosidade da Muralha da China” ou qualquer coisa que o valha. Resolvi seguir o coração e trazer as Quatro Baladas do mestre polonês. Se de alguma forma Chopin personifica em sua obra o que é o piano, a beleza e as possibilidades desse maravilhoso instrumento, Pollini também o faz com o estupendo repertório de gravações que deixou. Não existe maior testemunho do que se pode fazer com essas 88 teclas do que o legado fonográfico de Maurizio Pollini.

E aqui Pollini voa pelas harmonias chopinianas como um condor cruzando a Cordilheira dos Andes! Que maravilha são essas baladas, que coisa assombrosa é o pianismo desse homem, e quanta beleza, quanta poesia… Pollini mostra que a dicotomia entre técnica e sensibilidade é uma falácia, é um dilema que simplesmente não existe quando se trata dos grandes mestres. Sua técnica é um negócio de outro planeta, mas nada soa como virtuosismo superficial.  A arquitetura de uma sonata de Beethoven, de uma Mazurka de Chopin ou de um Klavierstück de Stockhausen ganha, em suas mãos, uma expressão límpida e viva, prenhe de sentido e de verdade. Se existe aquilo que chamam de Deus, é com certeza Pollini que ele(a) escuta quando chega do trabalho e se senta em sua nuvem preferida para ouvir algo belo e esquecer que deu merda com essa tal de humanidade.

Grazie, maestro!

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Frédéric Chopin (1810-1849)

1.  Ballade No. 1 in G minor, Op. 23
2. Ballade No. 2 in F major, Op. 38
3. Ballade No. 3 in A flat major, Op. 47
4. Ballade No. 4 in F minor, Op. 52
5. Prelude Op. 45 in C sharp minor, No. 25
6. Fantasia in F minor, Op. 49

Maurizio Pollini, piano

Pollini em Varsóvia, logo após vencer o VI Concurso Internacional de Piano Chopin, em 1960

Karlheinz

Chopin (1810-1849): Sonatas Nº 2 e 3 (Perahia)

Eu nunca entendi quem gosta de Chopin. Eu acho um saco. Aí, vi este disco de Murray Perahia… Amo Perahia e tive a certeza de que ele me convenceria de meu erro! Olha, não prendeu minha atenção nem por um minuto. Ouvi (?) tudo, inteirinho. Um fracasso. Logo, eu já estava revisando mentalmente minha agenda, pensando em como pedir a Eva Green em namoro, na forte possibilidade de uma 3ª Guerra Mundial, em futebol e na familícia. Mas sei de gente que reside no topo da cadeia auditiva que ama Chopin. O errado sou eu, claro. Mas ao menos eu posso ficar com ele nos ouvidos por um tempo. Já Rachmaninov… Bah, que russo insuportável!

Chopin (1810-1849): Sonatas Nº 2 e 3 (Perahia)

Sonata No. 2 In B-flat Minor, Op. 35
A1 I – Grave; II – Scherzo 13:40
A2 III – Marche Funèbre; IV – Finale: Presto 9:34

Sonata No. 3 In B Minor, Op. 58
B1 I – Allegro Maestoso 9:06
B2 II – Scherzo: Molto Vivace; III – Largo 12:24
B3 IV – Finale: Presto, Ma Non Tanto 5:17

Murray Perahia, piano

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Perahia quando ainda era tecladista dos Beatles

PQP