#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856) – Concerto para violoncelo, Op. 129 – Antonín Dvořák (1841-1904): Concerto para violoncelo, Op. 104 – Pyotr Tchaikovsky (1840-1893) – Pezzo capriccioso, Op. 62 – Rostropovich – Britten – Svetlanov

Há muito queria alcançar esse disco a vocês, mas ora me faltava a oportunidade, ora completamente o elã. Essa celebração do aniversário de Schumann, que já está na terceira semana, deu-me o pretexto que faltava. Ei-lo!

Imenso músico, cidadão do mundo, incrível figura humana: difícil falar mal de Mstislav Rostropovich, a quem a família e as multidões chamavam de Slava. Isso, claro, se tu não dessem ouvidos ao Politburo soviético, sempre reticente em permitir as turnês do grande homem pelo Exterior, onde encontrava-se abertamente com dissidentes do regime e nunca deixava de expressar sua opinião em prol da abertura de seu país.

Nunca lhe faltaram amigos, e estes lhe foram essenciais no início de seu exílio, depois que – muito por conta de suas ações cada vez mais francas de apoio à dissidência, que incluíram acolher em sua casa o desgraçado escritor Aleksandr Solzhenitsyn – teve que fugir da União Soviética com a roupa do corpo e buscar guarida nos Estados Unidos. Um de seus mais leais colaboradores no Ocidente era Benjamin Britten, que não só lhe dedicou o considerável conjunto de uma sonata para violoncelo e piano, três suítes para violoncelo solo e uma sinfonia para violoncelo e orquestra, como também o acompanhou ao piano e na regência em muitas de suas apresentações. Nesta gravação, os dois juntam forças numa apaixonada leitura do concerto de Schumann e numa breve peça de Tchaikovsky que, apesar do título caprichoso, conjura suas dores pela perda de um amigo. Apesar da qualidade da gravação deixar bastante a desejar – são, afinal, registros de rádio e televisão, coletados e lançados pela BBC -, o “som Rostropovich” e a afinação de sua parceria com Britten valem a audição.

Parceiros no palco…
… amigos na vida

A gravação mais notável do disco – e uma das mais eletrizantes de todos os tempos – é a do concerto de Dvořák, uma obra-prima apreciada mesmo por quem detesta o compositor. Realizada ao vivo em Londres durante o festival The BBC Proms em 21 de agosto de 1968, tornou-se notória por acontecer exatamente no dia em que as forças do Pacto de Varsóvia, lideradas pela União Soviética, invadiram a Tchecoslováquia para esmagar os movimentos de reforma liderados por Alexander Dubček, conhecidos pela posteridade como a Primavera de Praga. Rostropovich, que amava a magnífica capital da Boêmia – onde tocava com frequência, tinha muitos amigos e, o mais especial para ele, conhecera Galina, sua esposa – ouviu impotente as notícias da invasão, enquanto colocava-se na terrível situação de a um só tempo desejar alcançar apoio e solidariedade aos tchecoslovacos enquanto personificava, como cidadão soviético, o detestado agressor ante o engajado público londrino. A ironia de estar escalado para tocar exatamente uma obra do compositor mais célebre do país invadido não colaborou para melhorar o clima da acolhida, e protestos muito pervasivos ocorreram dentro e fora do Royal Albert Hall, tanto de quem pretendia impedir os soviéticos de tocarem, quanto daqueles que defendiam seu direito de escutá-los. Slava, enfim, decidiu tocar. A Orquestra Sinfônica Estatal da União Soviética foi recebida no palco com muita hostilidade, que só aumentou quando solista e regente – o legendário Evgeny Svetlanov – entraram em cena. Os protestos continuaram – ouvem-se gritos e apupos logo no começo da gravação – e, não obstante, o concerto continuou. O que aconteceu em seguida as senhoras e os senhores poderão bem ouvir, se não quiserem em minhas palavras fúteis: uma interpretação elétrica, emocionada, incomparável da obra-prima. Conta-se que Rostropovich chorava a terminar o Adagio e que passou o resto da peça a morder os lábios. Quando terminou e veio a chuva de aplausos, Slava ergueu sobre a cabeça uma partitura com o nome do compositor, dando uma demonstração clara de sua solidariedade aos tchecoslovacos e de seu amor pelo país e por sua cultura. Mesmo temendo pelos entes que estavam na União Soviética e pela própria segurança, ele – um corajoso inimigo da injustiça – não poderia deixar de se posicionar. Fê-lo com o gesto, fê-lo com a música – e esse registro do concerto de Dvořák, especialmente seu Adagio, nunca deixará de me emocionar como uma das mais incríveis gravações jamais realizadas.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Concerto em Lá menor para violoncelo e orquestra, Op. 129

1 – Nicht zu schnell
2 – Langsam
3 – Sehr lebhaft

Mstislav Rostropovich, violoncelo
London Symphony Orchestra
Benjamin Britten, regência

Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)

Concerto em Si menor para violoncelo e orquestra, Op. 104

4 – Allegro
5 – Adagio, ma non troppo
6 – Finale: Allegro moderato — Andante — Allegro vivo

Mstislav Rostropovich, violoncelo
Orquestra Sinfônica Estatal da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Evgeny Svetlanov, regência

 

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)

Pezzo capriccioso em Si menor para violoncelo e orquestra, Op. 62

07 – Andante con moto

Mstislav Rostropovich, violoncelo
English Chamber Orchestra
Benjamin Britten, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

 

21-8-1968

Vassily

 

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