Musica Antiqua Bohemica – Jan Křtitel Vaňhal (1739-1813): Sonatas para viola – Špelina – Hála

61gvLv85bLL._SS280Gostei dessa estratégia de postagens em série, pois ajuda este colecionador compulsivo a orientar-se em meio à sua Babilônia de gravações e deixa alguns de vocês (calculo que uns três ou quatro) na expectativa sobre o que mais virá.

Ao longo dessa semana, postaremos obras de compositores tchecos, alguns muito pouco conhecidos. Aliás, antes que perguntem: “tcheco” deriva de “Čech”, que quer dizer “boêmio” – o natural da Boêmia, uma das três regiões históricas que formam a atual República Tcheca, correspondendo aproximadamente às terras do antigo Reino da Boêmia que, desde sempre, foi centrado em Praga (as outras regiões são a Morávia, centrada em Brno, e a parte tcheca da Silésia, centrada em Ostrava).

Um dos incontáveis prazeres de se viver em Praga (o que fiz por sete meses, em tempos imemoriais) é desfrutar da grande música feita por excelentes músicos, e na maioria das vezes em joias arquitetônicas de extraordinária acústica. De quebra, ainda se encontram gravações baratíssimas (menos que um lanche lá naquele palácio da gordura trans e dos arcos dourados), em CD e vinil, do ótimo selo Supraphon, cujo catálogo parece um poço sem fundo donde não para de se encontrar coisa boa.

Uma das séries do Supraphon, “Musica Antiqua Bohemica” (da qual já postamos, na semana passada, a gravação com as sonatas para harpa solo de Krumpholz), aborda justamente tesouros pouco tocados, ou recém redescobertos, da música daquela região. É impressionante a quantidade de bons compositores cujas obras volumosas jazem nas bibliotecas da Boêmia. Os músicos daquela época não se enxergavam como gênios que compunham para eras vindouras, mas sim como artífices que trabalhavam para cumprirem seus deveres laborais. Dessa feita, eles compunham obras para alguma ocasião ou intérprete e, uma vez executadas, elas perdiam sua razão de ser e acabavam, muitas vezes vendidas pelo preço de papel velho, nalguma estante poenta.

Jan Křtitel Vaňhal, também conhecido como Johann Baptist Wanhal – a versão alemã, com menos diacríticos e muito mais amistosa de seu nome – já estreou no PQP numa postagem de nosso patrão. O que trago hoje para vocês é uma gotícula no verdadeiro manancial que é a sua obra: sonatas escritas para a viola com acompanhamento de cravo e piano. A essas cinco sonatas juntar-se-ão pelo menos outras oito, redescobertas e reconstruídas por uma querida violista e musicóloga de Brno que pretende fazer sua primeira gravação tocando-as ela mesma, com acompanhamento deste que vos fala.

Já pensaram? Uma estreia mundial, aqui neste eudaimônico blogue? Se o improvável encontro for gravado, e se talvez eu beber MUITO – quiçá uns Keep Coolers a mais no Ano Novo -, prometo postar a gravação aqui no PQP!

VAŇHAL – SONATAS FOR VIOLA AND HARPSICHORD (PIANO)

Jan Křtitel VAŇHAL (1739-1813)

Quatro Sonatas para viola e cravo, com baixo ad libitum, Op. 5

Sonata no. 4 em Dó maior
01 – Allegro moderato
02 – Adagio
03 – Finale con variazioni

Sonata no. 2 em Ré maior
04 – Allegretto moderato
05 – Arieta
06 – Finale. Andante

Sonata no. 3 em Fá maior
07 – Allegreto moderato
08 – Adagio
09 – Allegreto

Sonata no. 1 em Dó maior
10 – Allegro moderato
11 – Minuetto
12 – Rondo. Allegro.

Karel Špelina, viola
Josef Hála, cravo
Ladislav Pospíšil, violoncelo

Sonata em Mi bemol maior para viola e piano
13 – Allegro vivace
14 – Poco adagio
15 – Rondo. Allegretto.

Karel Špelina, viola
Josef Hála,
piano

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Vassily Genrikhovich

Agulhas em palheiros: a biblioteca do Clementinum de Praga (foto do autor)
Agulhas em palheiros: a biblioteca do Clementinum de Praga (foto do autor)

6 comments / Add your comment below

    1. Eu tampouco. Mas é incrível, mesmo. Conheci Praga antes que ela fosse avassalada pelo turismo, então minhas memórias da biblioteca do Clementinum não são de asiáticos barulhentos e borrachos de bermudas (categorias nas quais, claro, me incluía), mas de habitués que pareciam tão velhos quanto o tempo, bibliotecários de monóculos, e a quota compulsória de top models locais.

  1. Prezado Vassili,

    Muito boa essa sua decisão de, ao longo desta semana, só postar compositores tchecos.
    Tomo a liberdade de lembrar um deles, pouco conhecido, a não ser por uma ópera, “Schwanda Dudak” (“Schwanda, o Gaiteiro”). Trata-se de Jaromír Weinberger. Tempos atrás, ao pesquisar o catálogo da Naxos, fiquei surpreso ao saber que compôs diversas sinfonias. Quem sabe seu excepcional blog poderia postar algumas delas?

    Outro ponto que você destaca no texto sobre as Sonatas de Wanhal diz respeito à qualidade das gravações da Supraphon. Tenho algumas, ainda em vinil, com especial destaque para “Catulli Carmina” e “Trionfo Di Afrodite”, ambas obras de Carl Orff, com a Orquestra Filarmônica de Praga, Coro da Filarmônica Tcheca e regência de Vaclav Smetacek. Portanto, é mais uma sugestão, além da “Carmina Burana”, com os mesmos artistas (e solistas) e que é, para mim, uma das melhores gravações da referida cantata de Orff (baixei a mesma em MP3, via um blog holandês).

    Muito obrigado pela atenção,

    Nilton Maia

    1. Salve, Nilton!

      Weinberger é, de fato, muito interessante. Tenho tanto o “Švanda dudák” completo em tcheco e em alemão quanto um disco com a Sinfonia Lincoln e algumas peças orquestrais, incluindo a célebre “Polca e Fuga” do Schwanda. Deverei fazer em breve um ciclo com compositores tchecos dos séculos XIX e XX e, certamente então, atender sua sugestão.
      Quanto às gravações da Supraphon, são excelentes tanto artisticamente quanto na qualidade de som. Tenho todas as obras de Orff que você divulgou, bem como muita coisa do excelente violinista Josef Suk. Com o tempo deverão todas aparecer por aqui.
      Obrigado pela contribuição! Volte sempre!

      1. Prezado Vassili,

        Muito obrigado pela atenção dispensada ao meu comentário. Vou aguardar, e com ansiedade, o ciclo de compositores tchecos dos séculos XIX e XX que você irá postar. Desnecessário dizer que será Música da melhor qualidade, como, aliás, tudo o que você e os demais “PQP Bachistas” vêm sempre nos propiciando.

        Aproveito a oportunidade para falar da minha grande gratidão por você ter, tempos atrás, postado as Sinfonias de Beethoven com o Bruno Walter (coisa maravilhosa!). Não fosse o PQP Bach, dificilmente teria ouvido tal ciclo com esse regente.

        Um grande e fraterno abraço,

        Nilton Maia

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