Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concertos para Piano Nº 4 e 5 (Schoonderwoerd, Cristofori)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Não me matem. Eu sou a outra pessoa no mundo que acha o Concerto Nº 5, Imperador, um modelo de breguice. Mas não confesso isso com meu nome civil, só com o de PQP. Tenho medo. A outra pessoa é a grande Karen Blixen, antigamente conhecida por Isak Dinesen. Quando o piano começa aquelas ornamentações no começo do Imperador, sempre tenho vontade de rir. Perdoem-me, por favor. Falo do primeiro movimento, é claro. Ele é bombástico e prolixo. EXAGERADO. O Imperador vale pelo movimento lento, uma das coisas mais maravilhosas já inventadas pelo homem, mas que não tem muita relação — nem tonal! — com o que o precede. Aquele primeiro movimento, olha…

Mas este é um disco fascinante, que por várias razões funciona de uma forma complementar. A leitura visa trazer autenticidade para estas partituras conhecidas, presumivelmente com a intenção de serem ouvidas sob uma nova luz. Esta abordagem certamente revela detalhes de uma forma raramente ouvidos. As notas que acompanham o CD são muito detalhadas, abrangendo, entre outros títulos, “Viena sob o feitiço de Napoleão”, “A influência de Erard na fabricação de piano vienense”, “Beethoven e o arquiduque Rudolph” e “Pesquisa de prática de desempenho”. Há também um longo ensaio analisando a pintura da capa (uma boa ideia). Ah, claro, Schoonderwoerd toca um pianoforte vienense de Johann Fritz por volta de 1807–1810. 

Interessante que na seção intitulada “Pesquisa de Prática de Performance”, muito espaço é dedicado ao fato de que o volume que as orquestras da época criavam era muito maior do que ouvimos hoje, apesar de seu tamanho consideravelmente menor — isso por causa das dimensões severamente reduzidas das salas onde as obras eram executadas. Isso, possivelmente, explicaria a proximidade da gravação exibida por este disco. Um choque e tanto no primeiro encontro, leva algum tempo para se acostumar, pois certamente há uma contradição entre as forças de câmara e a experiência sonora direta que resulta disso. Uma vez que o ouvido esteja ajustado, a performance pode ser avaliada de forma mais completa. O Quarto Concerto inicialmente tem problemas para estabelecer uma intimidade, mesmo com o ajuste de ouvido mencionado acima — mas o tutti que se segue realmente soa bem alegre e nos aquece. A presença do contínuo no teclado é talvez outra surpresa.

Bem, este disco não tem nenhuma chance de destituir qualquer versão que você prefira — há tantas para escolher, há Pollini / Bohm no Nº 4 — mas é bom conhecê-lo. Divirta-se.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concertos para Piano Nº 4 e 5 (Schoonderwoerd, Cristofori)

Concerto Pour Pianoforte En Sol Majeur, Nº4 Op.58 (1806)
1 Allegro Moderato 16:18
2 Andante Con Moto 3:56
3 Rondo. Vivace 10:41

Concerto Pour Pianoforte En Mi Bémol Majeur, Nº5 Op.73, “Empereur” (1810)
4 Allegro 21:12
5 Adagio Un Poco Moto 6:42
6 Rondo. Allegro, Ma Non Troppo 10:46

Bassoon [1st] – Javier Zafra
Bassoon [2nd] – Eyal Streett
Clarinet [1st] – Eric Hoeprich
Clarinet [2nd] – Toni Salar Verdu*
Contrabass – David Sinclair (9)
Ensemble, Orchestra – Cristofori*
Flute [Traverso Flute] [1st] – Wilbert Hazelzet
Flute [Traverso Flute] [2nd] – Marion Moonen
Fortepiano [Johann Fritz] – Arthur Schoonderwoerd
Horn [1st] – Erwin Wieringa
Horn [2nd] – Karen Libischewski
Oboe [1st] – Peter Frankenberg
Oboe [2nd] – Anna Starr
Timbales – Maarten Van Der Valk
Trumpet [1st] – Will Wroth
Trumpet [2nd] – Geerten Rooze
Viola [1st] – Anfisa Kalininia*
Viola [2nd] – Martin Boeken*
Violin [1st] – Corrado Bolsi
Violin [2nd] – Atilio Motzo*
Violoncello [1st] – Clare Tunney
Violoncello [2nd] – Thomas Luks

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O autor da pintura da capa deste CD da Alpha, Jacques-Louis David, era admirador de Napô. Ou era pago para sê-lo.

PQP

5 comments / Add your comment below

  1. Para mim, é impossível ouvir o primeiro movimento do Imperador sem ter vontade de invadir o Império Austro-Húngaro. Já o segundo movimento é uma das provas de que Deus existe – e olha que sou ateu!

    1. Um eurodeputado da Áustria, no parlamento europeu, ao ver todos os colegas colados à TV, assistindo a um jogo de futebol, pergunta:
      – Que jogo estão a ver?
      – Áustria Hungria.
      E pergunta ele:
      – Contra quem?

  2. A escadaria elíptica de piano do primeiro movimento é o que me levou a amar a música clássica/erudita/enfim… Meu primeiro LP do gênero que comprei, quando criança, foi dessa peça, de modos que se tornou, por questão afetiva, minha obra preferida do Beethoven. Nunca tinha ouvido falar que ela pudesse ser “brega”. Talvez a sexta sinfonia se enquadrasse melhor ao termo (foi Stravinsky que disse que algo tão belo não poderia mais ser comportado na música do século XX?)_ e eu amo a sexta da mesma forma. Obrigado por esse álbum.

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