Gabriel Fauré (1845-1924): Requiem, Ballade, Pelléas et Mélisande, Pavane (Orch. Suisse Romande, Armin Jordan)

É melhor admitir logo ao invés de tapar o sol com a peneira: o Réquiem de Fauré ocupa um espaço acima do resto da sua obra orquestral. Isso aparece aqui: apesar das muito competentes interpretações dos músicos da orquestra suíça com o maestro também suíço Armin Jordan (1932-2006), o Réquiem paira no alto, elevado a uma distância das outras peças mais comuns, nas quais às vezes as repetições de Fauré podem cansar.

O Réquiem de Fauré, assim como as Sinfonias de Bruckner, teve mais de uma versão assinada pelo compositor. A primeira versão, sem violinos e sem madeiras, tinha como destaques, além das vozes do coro, as cordas graves. Não sem precedentes: já em J.S. Bach a ausência de violinos era um procedimento usado em certas obras de temas ligados à morte, com nas Cantatas BWV 106 (apelidada “Actus Tragicus”), BWV 18 e em vários movimentos de outras obras. Também no Barroco francês a viola da gamba tinha um papel proeminente em obras de Marais, Rameau, entre outros. O editor das obras de Fauré, em Paris, porém, não gostou: sugeriu a publicação de uma outra versão para orquestra sinfônica completa, sugestão acatada pelo compositor. Essa versão final, estreada em 1894, foi publicada com todas as partes para orquestra apenas em 1901, treze anos depois da primeira audição da obra em 1888 na igreja La Madeleine, em Paris.

O Réquiem alcançou grande popularidade ainda durante a (longa) vida do compositor e há registros de que Fauré, ao ser perguntado a respeito, disse que queria fugir do convencional e expressar a morte como “uma aspiração à felicidade do além, mais do que uma passagem dolorosa”. A versão gravada aqui é a final, com um naipe de cordas completo com os violinos.

Gabriel Fauré (1845-1924):
1. Ballade, pour piano & orchestre, op. 19
2 – 5. Pelléas et Mélisande, op. 80
6. Pavane, op. 50
7 – 13. Requiem, op. 48

Gilles Cachemaille, barítono / Mathias Usbcek, soprano
Orchestre de la Suisse Romande (Requiem) / Orchestre de Chambre de Lausanne (1-6) / Jean Hubeau, piano (1)
Armin Jordan, maestro

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Paris, 1871. Ao fundo, La Madeleine, igreja onde Fauré foi organista e onde estreou o Réquiem

Pleyel

Gabriel Fauré (1845-1924): "Messe de Requiem”, Op.48 / “Messe des pêcheurs de Villerville” (Herreweghe)

Gabriel Fauré (1845-1924): "Messe de Requiem”, Op.48 / “Messe des pêcheurs de Villerville” (Herreweghe)

Dr. Cravinhos nos envia uma excelente versão do belíssimo Réquiem de Gabriel Fauré, sob responsabilidade de Philippe Herreweghe, acompanhada da reconstrução da “Messe des pêcheurs de Villerville” — outra obra de Fauré — realizada por André Messager. FDP postou recentemente o Réquiem, mas achei interessante postar outra obra análoga de Fauré. Fauré era um melodista algo melancólico, foi aluno de Saint-Saëns, o qual mostrou-lhe o caminho da verdade: Johann Sebastian Bach. É um compositor antiquado, que ouvia mas recusava Wagner. Viveu até 1924, mas sua música parece a do marido da Clara, Robert Schumann, outro refinado e melancólico melodista.

Faure escreveu este Requiem “simplesmente por prazer, não para qualquer evento”. Nele, Fauré reflete uma relação pessoal com a morte, “como uma libertação feliz”.

O registro de Herreweghe é absolutamente notável. Êta homem compreensivo (*)! Como parece ser uma gravação de 2001 [é de 1988, ver ressalva abaixo], é da atual fase ateia de Herreweghe. É como sempre digo, nada como um bom ateu para compreender (olha ele aí de novo!) as coisas da religiosidade…

(*) No sentido de que compreende a todos.

Gabriel Fauré (1845 – 1924) “Messe de REQUIEM” op.48, Version 1893
01 Fauré: Requiem, Op. 48 – 1. Introit & Kyrie
02 Fauré: Requiem, Op. 48 – 2. Offertory
03 Fauré: Requiem, Op. 48 – 3. Sanctus
04 Fauré: Requiem, Op. 48 – 4. Pie Jesu
05 Fauré: Requiem, Op. 48 – 5. Agnus Dei
06 Fauré: Requiem, Op. 48 – 6. Libera Me
07 Fauré: Requiem, Op. 48 – 7. In Paradisum

Gabriel Fauré & André Messager “Messe des pêcheurs de Villerville”
08 Fauré/Messager: Messe Des pêcheurs De Villerville – Kyrie
09 Fauré/Messager: Messe Des pêcheurs De Villerville – Gloria
10 Fauré/Messager: Messe Des pêcheurs De Villerville – Sanctus
11 Fauré/Messager: Messe Des pêcheurs De Villerville – O Salutaris
12 Fauré/Messager: Messe Des pêcheurs De Villerville – Agnus Dei

Agnès Mellon (soprano solo, faixa 4)
Peter Kooy (barítono solo, faixas 2 e 6)
Jean-Philippe Audoli (violino, faixa 11)
La Chapelle Royale
Les Petits Chanteurs de Saint-Louis
Ensemble Musique Oblique
Philippe Herreweghe (regente)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Gabriel Fauré e seus longos bigodes brancos (1907)

PQP (post original de 2012)
Pleyel (repostagem em 2024) faz a seguinte ressalva: gravação de 1988, lançada no mesmo ano pela Harmonia Mundi

Lili Boulanger: Salmos, Gabriel Fauré: Requiem (Boulanger, BBC SO)

coverEm 2018, muito se falou do centenário da morte do genial, inovador e sempre moderno Debussy. Pouco se falou, contudo, de Lili Boulanger, que morreu dez dias antes de Debussy.

Lili Boulanger teve uma carreira meteórica:
– aos seis anos de idade, antes de saber ler, já decifrava partituras. Gabriel Fauré se impressionou com seu ouvido absoluto e lhe deu as primeiras aulas de piano

– em 1913 foi a 1ª mulher a ganhar o cobiçado Prix de Rome, vencido por nomes como Berlioz, Debussy e Dutilleux, e que dava ao vencedor uma temporada de estudos em Roma. Note-se a concepção, desde o Renascimento, de que um grande artista devia conhecer a Itália e a capital do antigo Império. Lili passou pouco tempo em Roma, por causa de sua saúde delicada e da 1ª guerra mundial

– de 1914 a 1917, compôs sua obra-prima para solistas, coro, orquestra e órgão, baseada no Salmo 130, De Profundis (Du fond de l’abîme – Do fundo do abismo)

No começo de Do fundo do Abismo, é com sons agudos – e não com sonoridades graves e pesadas – que a orquestra introduz a oração desesperada que em seguida as vozes vão cantar (…).
O sentimento da solidão humana frente a uma onipotência, é esta a fonte de inspiração de Lili Boulanger, nos Salmos assim como no Pie Jesu, de uma linha melódica pura e com poucos ornamentos.
(Artigo de Joseph Baruzi no Ménestrel, 1923)

Nadia Boulanger, irmã de Lili, também compôs quando jovem e depois parou: dizia que suas obras não eram ruins, mas eram inúteis. Entre as décadas de 1910 e 1970, dedicou-se a ensinar, a reger e a divulgar a música de sua irmã pelo mundo. Nadia foi amiga de Stravinsky e professora de boa parte dos grandes compositores do século XX, de Piazzolla a Philip Glass. No Brasil, Almeida Prado e Egberto Gismonti, entre outros, foram a Paris estudar com ela.

Este disco foi gravado ao vivo em 1968, em um concerto em homenagem aos 50 anos de morte de Lili. Nadia regeu também o Requiem de Gabriel Fauré, que ela estreou na Inglaterra em 1936, quando foi a primeira mulher a reger a Royal Philharmonic de Londres. Também foi a primeira à frente da Filarmônica de Nova York, das Sinfônicas de Boston e da Filadélfia. Na sua estreia em Boston, em 1938, quando um repórter perguntou como ela se sentia ao ser a primeira mulher a reger a Boston Symphony, ela deu uma resposta ácida:

“Já faz um pouco mais de 50 ans que sou mulher, já superei o meu espanto inicial.”

Em décadas mais recentes esse Requiem de Fauré tem tido muito mais gravações na Inglaterra do que em qualquer outro lugar: London Symphony Orchestra & Tenebrae, Philharmonia Orchestra & Ambrosian Singers, Bournemouth Sinfonietta & Winchester Cathedral Choir, Choir of St John’s College & Academy of St Martin in the Fields, New Philharmonia Orchestra & Choir of King’s College, Cambridge… Mas Mademoiselle Nadia Boulanger foi a pioneira. Ouçam.

Lili Boulanger (1893-1918)
01. Psalm 24 ‘La terre appartient à l’Éternel’
02. Pie Jesu
03. Psalm 130 ‘Du fond de l’Abîme’

Gabriel Fauré (1845-1924)
Requiem, Op. 48
04. Introit et Kyrie
05. Offertoire
06. Sanctus
07. Pie Jesu
08. Agnis Dei
09. Libera me
10. In paradisum

Janet Price, soprano
Bernadette Greevy, contralto
Ian Partridge, tenor
John Carol Case, baritone
Simon Preston, organ
BBC Chorus, BBC Symphony Orchestra
Nadia Boulanger
Live at Fairfields Hall, London, England, 1968

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (mp3 320kbps)

Nadia Boulanger, cheffesse (maestrina em francês)
Nadia Boulanger, cheffesse (maestrina em francês)

Pleyel (postagem original de 2018, link consertado em 2024)