Ninguém pediu a Sonatina de Krieger, mas vou empurrá-la pra vocês assim mesmo, já que Santa Catarina está me inspirando e me rendendo bons lucros. É uma das obras para piano mais queridas – senão a mais – de compositores brasileiros vivos e a mais conhecida de todo o catálogo do célebre compositor catarinense.
Segue o texto do encarte do CD com a Sonatina e outras peças pianísticas importantes de Krieger.
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Edino Krieger
Nascido em Brusque, Santa Catarina, a 17 de março de 1928, aos 7 anos iniciou estudos de violino com seu pai, Aldo Krieger, violinista e compositor. Aos 14 anos ingressou no Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro. Iniciou em 1944 estudos de composição com H.J. Koellreuter, ingressando no ano seguinte no Grupo Música Viva. Em 1948 obtém o 1º lugar em concurso do Berkshire Music Center, EUA, onde estudou sob a orientação de Aaron Copland. Em seguida, consegue bolsa de estudos para Julliard School, onde estudou com Peter Menin. Em 1955, estuda em Londres com Lennox Berkeley e nesse mesmo ano é premiado no Festival Internacional de Varsóvia. Em 1959 conquista o 1º prêmio do I Concurso Nacional de Composição do MEC, com o Divertimento para Cordas. Em 1965 suas Variações Elementares foram estreadas no Festival Interamericano de Música de Washington, e no ano seguinte seu Ludus Symphonicus recebia sua estréia mundial pela Orquestra de Filadélfia, em Caracas. Em 1967 e 1968 obtém Medalha de ouro nos Festivais Internacionais da Canção do Rio de Janeiro.
Paralelamente à sua atividade criadora, tem exercido diversas funções públicas, entre as quais as de diretor musical da Rádio MEC, organizador e regente assistente da Orquestra Sinfônica Nacional, criador e diretor dos festivais de música da Guanabara de 1969 a 1970, e idealizador das Bienais de Música Contemporânea. Obteve ainda em 1969 o prêmio Golfinho de Ouro, conferido pelo Museu da Imagem e do Som. Dirige a Divisão de Música da Rádio Jornal do Brasil e exerceu a crítica musical no Jornal do Brasil. Em 1979 criou o projeto Memória Musical Brasileira — FUNARTE — do Ministério da Educação e Cultura (atualmente Ministério da Cultura). Em 1981 assumiu a direção do instituto Nacional de Música da FUNARTE.
As Composições
As composições de Edino Krieger incluídas nesta gravação datam dos anos 50 e pertencem a um período caracterizado pela busca de uma expressão voltada para as raízes de sua própria experiência musical. Com efeito, enquanto suas peças anteriores, de 1945 a 1952, mostram um interesse pela pesquisa de novas formas e de nova linguagem, partindo do impressionismo do Improviso para flauta só até o dodecafonismo dos Epigramas, das Miniaturas para piano e da Música 1952 para Cordas, sua produção, a partir do Choro para Flauta e Cordas, de 1952, aponta para uma linha neo-clássica, com a predominância de formas e estruturas mais tradicionais e, paralelamente, de uma linguagem mais tonal e uma substância musical fortemente impregnada de sabor brasileiro. Essas composições parecem mergulhar no mundo sonoro de sua infância, marcado pelo ambiente musical da família, dos ensaios de carnaval na alfaiataria de seu avô, nos anos 30 e 40, onde os blocos se reuniam em torno do “Jazz Band América”, formado exclusivamente pela família, para aprender e ensaiar o repertório carnavalesco de cada ano; ou das retretas da Banda Musical Concórdia, que seu pai integrou e depois dirigiu, como sucessor do mestre Humberto Matioli; ou, ainda, das serestas que seu pai e seus tios promoviam todos os fins de semana, noite a dentre e que terminavam, invariavelmente, no portão da sua casa, onde às vezes se estreava uma nova valsa nascida ao longo da madrugada…
Acrescente-se a isso uma preocupação de caráter didático, que se inicia com as 20 Rondas Infantis, de 1952, e se manifesta no Prelúdio e Fuga, de 54, no Choro Manhoso e no Estudo Seresteiro, de 56 e na Sonatina, de 57.
A Sonatina, que abre este disco, recebe agora a segunda gravação pelo pianista Miguel Proença, que a lançou em seu primeiro LP, em 1982, tornando-a uma página particularmente conhecida do estudante de piano.
O Prelúdio (cantilena) e Fuga (marcha-rancho) nasceu como um exercício de fuga, sem maiores pretensões. Ao ler a Fuga, recém-concluída, a pianista Anna Stella Schic sugeriu estrear a peça numa próxima ocasião. Um Prelúdio foi então acrescentado, à guisa de introdução ao exercício, e a composição, já agora com sua forma barroca de Prelúdio e Fuga, e com sua substância brasileira de cantilena e marcha-rancho — à maneira das Bachianas de Villa-Lobos — foi dedicada à pianista, e depois incorporada à Suíte para Cordas, composição de caráter didático dessa mesma época, e mais adiante, em 1967, transcrita para coro a 8 partes pelo próprio autor, transformou-se na Fuga e Anti-Fuga. Com letra de Vinícius de Moraes.
O Choro Manhoso e o Estudo Seresteiro foram compostos em Brusque, em 1956, num dos períodos de férias que o autor passava em sua cidade natal.
Ilmar Carvalho
Krieger e as Sonatas para piano
As Sonatas para Piano, de Edino Krieger — que recebem neste LP o seu primeiro registro fonográfico — foram compostas na década 50, época em que o compositor produziu também o Quarteto para Cordas nº1 e a Brasiliana (para viola e cordas).
Impregnadas de atmosfera modal, quanto à sua essência melódico-harmônica, essas obras trazem reminiscências do período em que Krieger viveu nos Estados Unidos (1948-49), estudando com Aaron Copland (no Festival de Tanglewood) e Peter Menin (na Juilliard School of Music, de Nova Iorque). Pertencem a uma fase marcada pela presença de elementos temáticos de caráter nativista, dentro de um traçado formal tradicionalista. No período anterior, predominavam técnicas e linguagem vanguardistas, e um culto sistemático das formas sintéticas e miniaturistas.
A Sonata nº1 foi escrita no Rio de Janeiro, entre dezembro de 1953 e maio de 1954. Já no primeiro movimento — Andante – Allegro energico — desponta o clima modal da partitura, ao lado do emprego constante de quartas e quintas justas e dos desenhos uníssonos em dobramentos de oitava. Poulenc, Prokofiev e o próprio Aaron Copland podem ser apontados como fontes de influência para o discurso musical do autor.
O segundo tempo — Seresta — já existia antes como peça isolada, trazendo no subtítulo a menção “Homenagem a Villa-Lobos”. Trata-se de um texto em que convivem simplicidade melódica e vigor pianístico, mesclando-se a ambientação modal com características mais determinantes da música brasileira de caráter urbano.
O movimento final — Variações e Presto — inicia-se com um tema lento e expressivo, exposto em linguagem transparente. A 1ª variação (Moderato) tem caráter rítmico: o autor propõe uma nova figuração para o desenho temático (melodicamente um terço acima), usando com abundância pausas e deslocamentos de acentos. A 2ª variação (Andantino) fixa-se no aspecto melódico, começando pela exposição do tema em movimento contrário. A 3ª variação apresenta o motivo central com os valores ampliados, em contraponto com belos comentários de sabor seresteiro. A quarta — e última — variação é um Allegro scherzando de feição rítmica e virtuosística.
O Presto conclusivo fecha a Sonata em atmosfera burlesca, tipicamente brasileira: o desenho principal sugere com nitidez um frevo nordestino.
É importante ressaltar que a Sonata nº1 foi, 1959, adaptada pelo autor para orquestra de cordas, recebendo, na nova versão, o título de Divertimento para Cordas, obra que obteve o 1º Prêmio no concurso “Música e Músicos do Brasil” da Rádio MEC.
Estreada no Rio, em 1959, pelo pianista Homero Magalhães, a Sonata nº2 foi composta três anos antes, em abril de 1956, quando Krieger se aperfeiçoava em Londres, com Lennox Berkeley. A obra mantém o clima melódico-harmônico da sonata anterior, desenvolvendo-se igualmente em três movimentos.
O primeiro movimento — Allegro — apresenta a célula temática inicial em oitavas dobradas, prosseguindo em seguida na textura modal peculiar e impregnando o discurso pianístico de cristalinos trinados, procedimento que — um ano mais tarde — o autor conservaria em sua conhecida Sonatina.
O segundo movimento — Andantino — traz sugestões nordestinas com sutil tratamento harmônico, remetendo-nos ao despojamento e ao savoir-faire dos Andantes de Guarnieri. O texto caminha para um adensamento da linguagem pianística, retornando em seguida à amena beleza do clima inicial.
O tempo final — Vivace molto e com spirito — tem o caráter de uma Tocata, alternando células de acordes de quinta justas com sinuosos desenhos de oitavas dobradas. A conclusão é brilhante e virtuosística.
Primeira obra dessa série, a Sonata para Piano a Quatro Mãos foi criada em 1953, surgindo inicialmente como um Rondon-Fantasia, dedicado a Jeanette e Heitor Alimonda. Krieger posteriormente ampliou a partitura e rebatizou-a de Sonata, tornando o final pianisticamente mais eloqüente.
O autor conservou, porém, a estrutura de um único movimento de caráter monotemático: o expressivo motivo principal aparece variado no decorrer da peça, com as características essenciais do décor modal, límpidos trinados e transparentes texturas.
Em 1971, a Sonata para Piano a Quatro Mãos foi editada pela Peer International (Nova Iorque/Hamburgo).
Ronaldo Miranda
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01 – Sonatina – I. Moderato
02 – Sonatina – II. Allegro
03 – Prelúdio e Fuga – I. Prelúdio (Cantilena)
04 – Prelúdio e Fuga – II. Fuga (Marcha-rancho)
05 – Choro Manhoso
06 – Estudo Seresteiro
07 – Sonata nº1 – I. Andante
08 – Sonata nº1 – II. Seresta (Homenagem a Villa-Lobos)
09 – Sonata nº1 – III. Variações e Presto
10 – Sonata nº 2 – I. Allegro
11 – Sonata nº 2 – II. Andantino, moderato e con motto
12 – Sonata nº 2 – III. Vivace molto e con spirito
13 – Sonata a 4 Mãos – Moderato
Miguel Proença e Laís de Souza Brasil (vide no encarte quem toca o quê)
BAIXE AQUI (Os arquivos estão em extensão .mpc)
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Mando de brinde os três Estudos Intervalares, compostos em 2000. O estudo “das quartas” é outra obra que descobri que utiliza o tema de Nozani-Ná, recolhido por Roquette Pinto e incorporado nos Choros 3, 7 e 12 do Villa, em Moacaretá de Sérgio de Vasconcellos Corrêa e noutra obra que não me lembro.
I. Das segundas
II. Das terças
III. Das quartas
Piano: Alexandre Dossin.
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CVL