Bohuslav Martinu (1890-1959): Missa de Campo / Concerto Duplo / Afrescos de Piero della Francesca (Mackerras)

Bohuslav Martinu (1890-1959): Missa de Campo / Concerto Duplo / Afrescos de Piero della Francesca (Mackerras)

O Villalobiano aproveitou o espaço aberto para mandar três CDs legais, que irão ao ar dia 01 de maio. Quando ele disse depois que gostaria de postar Martinu, deixei de lado a exigência de repertório brasileiro, pedi que se mexesse, porque o tcheco era mais que aguardado aqui no PQP Bach, e decidi apresentar o Villalobiano logo hoje a vocês.

Próximo fim de semana, o Marcelo Stravinsky estará de volta.

CVL

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O tcheco Bohuslav Martinu é um dos mais criativos e encantadores compositores do século 20 – e um dos menos reconhecidos como tal. De fato, a reputação de Martinu não se beneficiou com seu eterno exílio: de início, Paris; depois, EUA; no final, Suíça e Itália. Tal andança tornou a música de Martinu mais cosmopolita e bem-comportada que a de Janácek, por exemplo, suavizando em grande parte o “aroma tcheco” tão fácil de perceber em seus compatriotas. Isso, somado a um relativo conservadorismo de linguagem, tornou Martinu um “meio-termo” de difícil digestão para boa parte do público.

Que bom que a situação está mudando. O difícil crítico Norman Lebrecht recentemente defendeu Martinu, e as gravações, antes só tchecas, estão se tornando mais comuns. E que música bonita Martinu compôs! É um dos estilos mais pessoais do século 20, posso assegurar: alguns segundos já são suficientes para que a identidade do compositor se imponha totalmente ao ouvinte.

Quando o Ciço Villa-Lobos me convidou para postar sobre Martinu – “escolha um disco legal”, ele disse – senti um misto de alegria com terror. Eu não sou fã do formato de álbum, uma herança da limitação física dos antigos meios de distribuição de música. Pensei um bocado para achar um disco que se adequasse a uma boa visão introdutória de Martinu. Sonhei com o álbum ideal, com as Sinfonias nos. 3 e 6, mais a Toccata e Due Canzoni. Mas esse álbum não existe…

Então encontrei este álbum que comento agora. Charles Mackerras é um regente australiano muito famoso por sua defesa apaixonada de Janácek e da música tcheca em geral. Pois sua interpretação de Martinu é magnífica e a escolha de repertório também. O disco inclui três obras-primas das duas principais fases de Martinu: a fase da guerra, com a Missa de campo e o Concerto para duas orquestras de cordas, piano e tímpano; e a fase impressionista, do final da vida, com Afrescos de Piero della Francesca.

A fase da guerra é impressionante. Quem gosta da Música para cordas, percussão e celesta de Bartók vai se identificar prontamente com o Concerto duplo. A obra foi inclusive escrita para Paul Sacher, o mesmo encomendante da obra-prima de Bartók. A Missa de campo é composta para barítono, coro masculino e uma orquestra pequena só com sopros, percussão, piano e harmônio (um contingente possível no contexto de campo de batalha, certo?). Mistura o óbvio terror da guerra que estava iniciando com uma mistura muito complexa de sentimentos – há trechos pastorais, nostálgicos, dramáticos…

A fase impressionista, devo confessar, é a minha predileta. Ela suaviza bastante o mecanicismo neoclássico em que às vezes Martinu cai, adicionando uma refinada paleta de cores instrumentais à sua inspiração melódica toda pessoal. A forma também se esfumaça – antes rigorosa, agora etérea, vaga, em que os temas quase não se repetem. É música de sonho. Afrescos de Piero della Francesca expressa as impressões gerais de Martinu à obra do grande pintor italiano.

É isso. Fiquem com Martinu. E convençam o Ciço a ampliarmos o espaço dedicado a ele cá neste blog. Estou com uma coceira danada de postar as sinfonias – ciclo para mim superior ao de Prokofiev, por exemplo. Agora joguem as pedras.

Bohuslav Martinu (1890-1959): Missa de Campo / Concerto Duplo / Afrescos de Piero della Francesca (Mackerras)

1. Missa de campo, cantata para barítono, coro masculino e orquestra (1939)

Vaclav Zitek, barítono
Orquestra Filarmônica Tcheca
Charles Mackerras, regente

Concerto para duas orquestras de cordas, piano e tímpano (1939)
2. Poco allegro
3. Largo
4. Allegro

Jan Bouse, tímpano
Josek Ruzick, piano
Orquestra Sinfônica da Rádio de Praga
Charles Mackerras, regente

Afrescos de Piero della Francesca (1955)
5. Andante poco moderato
6. Adagio
7. Poco allegro

Orquestra Sinfônica da Rádio de Praga
Charles Mackerras, regente

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Martinu com um amigo

Villalobiano