Sergei Prokofiev (1891-1953): Sonata para Piano nº 9, Visions Fugitives, Toccata, Estudos, etc. (Raekallio)

A nona e última sonata para piano de Prokofiev foi composta entre 1945 e 47, poucos anos após as “sonatas de guerra”. Mas é bastante diferente daquelas: mais introspectiva, alternando entre melodias líricas tranquilas e assobiáveis e algumas passagens mais apressadas, ela não tem arroubos de virtuosismo tão impressionantes quanto as sonatas nº 6 e 7. Lembra um pouco as últimas sonatas de Beethoven no sentido de ser uma música mais madura, um pouco difícil de se gostar, mas com muitas recompensas para quem se aventurar. Foi dedicada a Sviatoslav Richter e aparentemente era uma das preferidas dele, que a manteve no seu repertório por muito tempo, junto com as sonatas nº 2, 4, 6, 7 e 8.
Compostas em 1915-1917, as Visões Fugitivas de Prokofiev são peças curtas e poéticas, assim como os Prelúdios de Debussy e os Gitanjali-Hymner de Langgaard, todos eles publicados na mesma década. Mas ao contrário das miniaturas de Debussy e de Langgaard, com títulos poéticos como “A catedral submersa”, “A porta do vinho” ou “Vento sem repouso”, as curtas obras de Prokofiev têm apenas os nomes dos andamentos (“Ridicolosamente”, “Allegretto tranquillo”, “Con una dolce lentezza”…) de forma que elas podem significar o que o pianista e o ouvinte quiserem que elas signifiquem. E a ordem das peças tradicionalmente foi livre: pianistas como V. Sofronitsky, S. Richter, E. Gilels e mais recentemente N. Freire e D. Thai-Son, todos esses selecionaram umas 8 ou 10 dessas peças em seus recitais. Os três primeiros conheceram Prokofiev, então supomos que o compositor aprovava essa seleção que, para alguns puristas, pode parecer estranha.

Sobre os Sarcasmos, op. 17, e os Contos de uma velha avó, op. 31, sejamos sinceros: pouca gente se lembra deles a não ser nesse tipo de integral. Os Estudos são apenas um pouco mais conhecidos. Já a Toccata, op. 11 é uma peça de bravura escolhida por muitos jovens pianistas: V. Horowitz e M. Argerich a gravaram aos 26 e aos 19 anos respectivamente.

Sobre as 10 Peças de Romeu e Julieta, Op. 75, a história é longa e mereceria ser contada em detalhes. Mas vou resumir: essa versão para piano é correlata à 1ª versão do balé, de 1935, jamais encenado por um motivo que chocou o regime soviético: era um Romeu e Julieta alegre e com desfecho positivo em que o casal ia embora dançando, felizes para sempre. Alguém no regime stalinista deve ter achado que o final era uma crítica a fulano ou sicrano… Podemos (ou melhor, não podemos!) imaginar as paranoias que rolavam naquele contexto. Enfim, a obra não foi encenada, o dramaturgo responsável pelo libretto (Adrian Piotrovsky) ficou mal falado e, após outro escândalo com um balé de Shostakovich, foi preso e fuzilado em novembro de 1937. Como dizia o poeta: “Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas.”

Isso para não acharmos que a vida de Prokofiev foi moleza. Mas não esperem aqui uma música pesada e fria como o ar em Moscou: ao contrário de algumas das sinfonias de Prokofiev que expressam uma seriedade maior, aqui o clima é frequentemente saltitante e as interpretações de Raekallio pendem sempre para os andamentos rápidos.

A escrivaninha e demais móveis de Prokofiev nos anos 1940-50

Sergey Prokofiev (1891-1953) – Complete Piano Sonatas, Visions Fugitives, etc. – CDs 3-4 de 4

CD 3
1-4 – Sonata No.9 in C major Op.103: I. Allegretto, II. Allegro strepitoso, III. Andante tranquillo, IV. Allegro con brio, ma non troppo presto
5-8 – 4 Etudes, Op. 2: I. Allegro, II. Moderato, III. Andante Semplice, Presto, IV. Presto Energico
9 – Toccata In D Minor, Op. 11
10-14 – Sarcasms, Op. 17

CD 4
1-20 – Visions Fugitives, Op. 22
21-24 – Old Grandmother’s Tales, Op. 31
25-34 – 10 Pieces From Romeo And Juliet, Op. 75

Matti Raekallio, piano
Original releases: 1988-1999

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Piano Bechstein que pertenceu a Sergey Prokofiev

As fotos nesta postagem são da casa onde Prokofiev viveu de 1947 a 53. Hoje é um museu. Saiba mais em https://www.moscovery.com/sergei-prokofiev-museum/

Pleyel

Jean Sibelius (1865-1957): As Sinfonias Completas + Tapiola & 3 Late Fragments (Mäkelä / Oslo Philharmonic)

Jean Sibelius (1865-1957): As Sinfonias Completas + Tapiola & 3 Late Fragments (Mäkelä / Oslo Philharmonic)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Após quatro anos de busca, a Royal Concertgebouw Orchestra encontrou um novo maestro titular. Conforme anunciado no início da manhã durante uma conferência de imprensa, o escolhido foi o finlandês Klaus Mäkelä (26 anos!!!!), que iniciará o seu novo emprego em Amsterdam a partir de agosto de 2027, por um período de cinco anos. Até lá, ele atuará como consultor artístico do grupo holandês. Mäkelä, que se torna assim o sucessor de Daniele Gatti, estreou com a Concertgebouw Orchestra em 2020 e foi recebido com entusiasmo pelos seus membros, o que influenciou definitivamente a decisão final. Mais tarde, em novembro do ano passado, ele excursionou por Reykjavík e Hamburgo com ela. Até assumir oficialmente a direção da Orquestra Real do Concertgebouw, Mäkelä continuará a liderar os dois grupos que atualmente lidera: a Filarmônica de Oslo e a Orquestra de Paris (neste último, começou a exercer em 2021).

Eu ouvi estes CDs com as Sinfonias de Sibelius e o cara é um monstro mesmo. 26 anos…

René Denon completa, com muito maior brilhantismo e informações:

A gravação deste ciclo de Sinfonias de Jan Sibelius pela Oslo Philharmonic Orchestra, com a regência de seu novo diretor Klaus Mäkelä, estava prevista para ser realizada ao longo de concertos programados entre o outono (do hemisfério norte) de 2020 e a primavera (…) de 2021. Klaus Mäkelä (que nasceu em 1996) havia firmado um contrato exclusivo com o selo DECCA. Apenas mais dois regentes haviam tido tal relação com o selo antes. O último foi Riccardo Chailly, contratado em 1978.

Mas eis que as engrenagens do destino já estavam em movimento e… você sabe o que se abateu sobre o mundo em 2020. A gravação do ciclo então se deu em outras circunstâncias. A orquestra e seu jovem regente puderam imergir no ciclo em condições únicas, devido ao período de isolamento social a que todos nós tivemos que nos submeter.

A orquestra de Oslo não é de forma alguma inexperiente em relação às sinfonias de Sibelius. Quem não se recorda dos discos gravado por ela sob a regência do então também jovem regente que a elevou ao nível das grandes orquestras europeias, o saudoso Mariss Jansons? Como Mäkelä contou em sua entrevista à Gramaphone, esse compromisso focado nas partituras de Sibelius mudou a compreensão que a orquestra tinha delas. “Tocávamos, tocávamos e aí gravávamos”. “Isto nos permitiu ir mais fundo do que teríamos feito em uma situação normal”. Manter a distância de 1,5m entre os músicos também fez com que eles ouvissem uns aos outros mais acuradamente, disse o regente. “Era algo engraçado. As seções de gravação de Sibelius eram as únicas interações sociais que muitos de nós tínhamos, naquele período no qual tudo era proibido”.
Assim, senhores, este ciclo que nos chega ganha esse selo de unicidade, é ímpar devido ao momento em que foi elaborado. Há muitas novidades vindo aí pela batuta deste ainda muito jovem regente, assim como há outros ciclos de Sinfonias de Sibelius que os apreciadores de sua música irão buscar, mas este merece ser destacado por estas tão únicas circunstâncias.

Mette Henriette

Na programação da Oslo PO desta temporada de 2021/22, música de Saariaho, Richard Strauss (Zarathustra) e duas novas obras da saxofonista e compositora Mette Henriette, sem deixar de fora o santo padroeiro Sibelius – Lemminkäinen. Bach, Mozart, Walton, Mahler e Shostakovitch também fazem parte das programações. Portanto, reservem bom pedaço do HD para o que vem por aí e aproveite desde já estas sinfonias que dispomos. Eu começarei pela Segunda…

Here was something truly special: a conductor who revelled in freshly imagining each sound.
THE TIMES, sobre Klaus Mäkelä

Jean Sibelius (1865-1957): As Sinfonias Completas + Tapiola & 3 Late Fragments (Mäkelä / Oslo Philharmonic)

1. Symphony No. 1 in E Minor, Op. 39 – I. Andante, ma non troppo – Allegro energico
2. Symphony No. 1 in E Minor, Op. 39 – II. Andante (ma non troppo lento)
3. Symphony No. 1 in E Minor, Op. 39 – III. Scherzo. Allegro
4. Symphony No. 1 in E Minor, Op. 39 – IV. Finale. Quasi una fantasia

5. Symphony No. 2 in D Major, Op. 43 – I. Allegretto
6. Symphony No. 2 in D Major, Op. 43 – II. Tempo andante, ma rubato
7. Symphony No. 2 in D Major, Op. 43 – III. Vivacissimo
8. Symphony No. 2 in D Major, Op. 43 – IV. Finale. Allegro moderato

9. Symphony No. 3 in C Major, Op. 52 – I. Allegro moderato
10. Symphony No. 3 in C Major, Op. 52 – II. Andantino con moto, quasi allegretto
11. Symphony No. 3 in C Major, Op. 52 – III. Moderato – Allegro ma non tanto

12. Symphony No. 4 in A Minor, Op. 63 – I. Tempo molto moderato, quasi adagio
13. Symphony No. 4 in A Minor, Op. 63 – II. Allegro molto vivace
14. Symphony No. 4 in A Minor, Op. 63 – III. Il tempo largo
15. Symphony No. 4 in A Minor, Op. 63 – IV. Allegro

16. Symphony No. 5 in E-Flat Major, Op. 82 – I. Tempo molto moderato
17. Symphony No. 5 in E-Flat Major, Op. 82 – II. Andante mosso, quasi allegretto
18. Symphony No. 5 in E-Flat Major, Op. 82 – III. Allegro molto

19. Symphony No. 6 in D Minor, Op. 104 – I. Allegro molto moderato
20. Symphony No. 6 in D Minor, Op. 104 – II. Allegretto moderato
21. Symphony No. 6 in D Minor, Op. 104 – III. Poco vivace
22. Symphony No. 6 in D Minor, Op. 104 – IV. Allegro molto

23. Symphony No. 7 in C Major, Op. 105 – I. Adagio –
24. Symphony No. 7 in C Major, Op. 105 – II. Vivacissimo – Adagio –
25. Symphony No. 7 in C Major, Op. 105 – III. Allegro molto moderato –
26. Symphony No. 7 in C Major, Op. 105 – IV. Vivace – Presto – Adagio

27. Tapiola, Op. 112

28. 3 Late Fragments – I. HUL 1325 (Compl. Virtanen)
29. 3 Late Fragments – II. HUL 1326/9 (Compl. Virtanen)
30. 3 Late Fragments – III. Allegro moderato, HUL 1327/2 (Compl. Virtanen)

Oslo Philharmonic Orchestra
Klaus Mäkelä

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PQP

Sergei Prokofiev (1891-1953): Sonatas para Piano, nº 1 a 8 (Raekallio)

Ao contrário de gente como Dutilleux, Berg, Bacewicz ou Shostakovich, que compuseram apenas uma ou duas sonatas para piano, Prokofiev nos deixou nove sonatas. Ouvi-las em sequência nos diz muito sobre sua trajetória musical.

A 1ª sonata (1907-1909) é praticamente uma sonata de Scriabin composta por Prokofiev. O uso nervoso das dissonâncias e do cromatismo, assim como a forma concentrada em um único movimento, lembra muito as últimas sonatas desse compositor russo 20 anos mais velho que Prokofiev, como a 7ª (aqui) ou a 9ª (aqui). É um Prokofiev que não soa exatamente como Prokofiev, mas não deixa de ser fascinante e é uma pena que pouca gente toque essa sonata de juventude.

A 2ª sonata, estreada pelo compositor ao piano em 1914, já tem várias características que costumamos associar a Prokofiev: o sarcasmo e a presença de algumas passagens mecânicas, meio industriais, típicas daquele período em que Villa-Lobos e Honneger tentavam expressar musicalmente o andar de um trem.

A 3ª e a 4ª sonata foram finalizadas em 1917, pouco antes da 1ª Sinfonia (“Clássica”), mas se baseiam em melodias antigas, daí o subtítulo “de velhos cadernos”. A 3ª, concentrada em um só movimento, é mais agressiva, enquanto a 4ª é mais calma e neoclássica.

A 5ª, também um pouco introvertida e neoclássica, é uma das raras composições para piano solo do período em que Prokofiev circulava entre Paris e os Estados Unidos, fugindo das guerras revolucionárias do período pós-1917. Nesse período, ele se dedicou mais a obras para os palcos: balés e óperas, além dos brilhantes Concertos para Piano nº 3, 4 e 5.

As chamadas “sonatas de guerra”, nº 6, 7 e 8, foram compostas a partir de 1939 (pouco antes da URSS entrar na 2ª Guerra). Prokofiev já vivia em Moscou desde 1936 e essas obras logo alcançaram um imenso sucesso de público e de crítica, junto com a 5ª sinfonia e o balé Cinderella (ambos de 1944). Na 6ª sonata, a valsa lenta (Tempo di valzer lentissimo) é um dos seus momentos mais sublimes e nesta gravação, Raekallio toca menos lento do que outros, como Pogorelich, mas ele faz a valsa se desenrolar com um tempo rubato, uma respiração muito suave, mesmo que não tão devagar.

A 7ª sonata consegue ser, ao mesmo tempo, intelectualmente estimulante e exibicionista, deixando plateias boquiabertas com as proezas pianísticas, sobretudo no último andamento, “precipitato” em 7/8, com harmonias que lembram também o jazz. A 8ª sonata, mais calma e com melodias muito bonitas, começa “andante dolce”, depois “sognando” e apenas no 3º movimento, “vivace”, temos um pianismo exuberante.

O pianista finlandês Matti Raekallio mostra aspectos novos dessas sonatas: não é uma daquelas gravações integrais em que a música soa meio uniforme e mecânica, pelo contrário, as sonoridades são bem variadas, às vezes pesadas e extravagantes, às vezes com um fraseado sutil que lembra a voz humana.

Sergey Prokofiev (1891-1953) – Complete Piano Sonatas, Visions Fugitives, etc. – CDs 1-2 de 4
CD 1
1 – Sonata No.1 in F minor Op.1 – Allegro
2 – Sonata No.2 in D minor Op.14 – I. Allegro, ma non troppo
3 – II. Scherzo. Allegro marcato
4 – III. Andante
5 – IV. Vivace
6 – Sonata No.3 in A minor Op.28 – Allegro tempestoso
7 – Sonata No.4 in C minor Op.29 – I. Allegro molto sostenuto
8 – II. Andante assai
9 – III. Allegro con brio, ma non leggiero
10 – Sonata No.5 in C major Op.38 – I. Allegro tranquillo
11 – II. Andantino
12 – III. Un poco allegretto

CD 2
1 – Sonata No.6 in A major Op.82 – I. Allegro moderato
2 – II. Allegretto
3 – III. Tempo di valzer lentissimo
4 – IV. Vivace
5 – Sonata No.7 in B-flat major Op.83 – I. Allegro inquieto
6 – II. Andante caloroso
7 – III. Precipitato
8 – Sonata No.8 in B-flat major Op.84 – I. Andante dolce. Allegro moderato
9 – II. Andante sognando
10 – III. Vivace

Matti Raekallio, piano
Original releases: 1988-1999

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Retrato de Prokofiev por Anna Ostroumova – Paris, 1926

Pleyel

Karajan Conducts Tchaikovsky – Ferras, Richter, Rostropovich, Karajan, BPO

Foram vários os pedidos para a repostagem dessa Caixa de 8 CDs da gravadora Deutsche Grammophon que traz os famosos registros do maestro austríaco Herbert von Karajan interpretando obras de Tchaikovsky, entre Sinfonias, Concertos e Balés. A última atualização ocorreu lá em 2015, e na época, os arquivos foram guardados no saudoso servidor pqpshare, já devidamente morto e sepultado no espaço cibernético. E junto com ele, dezenas, quiçá, centenas de arquivos.

Mas o papo aqui é Tchaikovsky / Karajan / Filarmônica de Berlim, então a parada é pesada. Destaque para os Concertos, e uma das melhores gravações que já ouvi da Quinta e da Sexta Sinfonias, que ouço desde que me conheço por gente. Infelizmente tive de me desfazer dos velhos LPs, mas a lembrança ficou. Ah, com relação aos Concertos, temos só peso pesados: o violinista Christian Ferras, o pianista Sviatoslav Richter e o eterno violoncelista Mistslav Rostropovich. Coisa finíssima, lhes garanto.

Ao contrário das antigas postagens, vou postar todos os CDs de uma só vez aqui. Fica mais prático para os senhores baixarem os arquivos, sempre depositados no Onedrive.

Divirtam-se.

CD 1
1 Symphony No.1 in G minor, Op.13 “Winter Reveries” – 1. Dreams Of A Winter Journey (Allegro tranquillo)
2 Symphony No.1 in G minor, Op.13 “Winter Reveries” – 2. Land Of Desolation, Land Of Mists (Andante cantabile ma non tanto)
3 Symphony No.1 in G minor, Op.13 “Winter Reveries” – 3. Scherzo (Allegro scherzando giocoso)
4 Symphony No.1 in G minor, Op.13 “Winter Reveries” – 4. Finale (Andante Lugubre – Allegro moderato – Allegro maestoso – Allegro vivo)
5 Tchaikovsky: Eugene Onegin, Op.24, TH.5 – Polonaise
6 Tchaikovsky: Eugene Onegin, Op.24, TH.5 / Act 2 – Valse
7 Tchaikovsky: Slavonic March, Op.31, TH.45 – Moderato in modo di marcia funebre – Andante molto maestoso – Allegro risoluto

CD 2
8 Symphony No.2 in C minor, Op.17 “Little Russian” – 1. Andante sostenuto – Allegro vivo
9 Symphony No.2 in C minor, Op.17 “Little Russian” – 2. Andantino marziale, quasi moderato
10 Symphony No.2 in C minor, Op.17 “Little Russian” – 3. Scherzo (Allegro molto vivace – Trio. L’istesso tempo)
11 Symphony No.2 in C minor, Op.17 “Little Russian” – 4. Finale (Moderato assai – Allegro vivo – Presto)
12 Tchaikovsky: Overture 1812, Op.49, TH 49 – Largo – Allegro giusto

CD 3
13 Symphony No.3 in D, Op.29 “Polish” – 1. Introduzione e Allegro. Moderato assai (Tempo di marcia funebre)
14 Symphony No.3 in D, Op.29 “Polish” – 2. Alla tedesca. Allegro moderato e semplice
15 Symphony No.3 in D, Op.29 “Polish” – 3. Andante elegiaco
16 Symphony No.3 in D, Op.29 “Polish” 4. Scherzo. Allegro vivo
17 Symphony No.3 in D, Op.29 “Polish” – 5. Finale. Allegro con fuoco (Tempo di Polacca)
18 Tchaikovsky: Capriccio Italien, Op.45, TH.47 – Andante un poco rubato

CD 4
19 Symphony No.4 in F minor, Op.36 – 1. Andante sostenuto – Moderato con anima – Moderato assai, quasi Andante – Allegro vivo
20 Symphony No.4 in F minor, Op.36 – 2. Andantino in modo di canzone
21 Symphony No.4 in F minor, Op.36 – 3. Scherzo. Pizzicato ostinato – Allegro
22 Symphony No.4 in F minor, Op.36 – 4. Finale (Allegro con fuoco)
23 Variations on a Rococo Theme, Op.33 – Moderato assai quasi andante
24 Variations on a Rococo Theme, Op.33 – Tema: Moderato semplice
25 Variations on a Rococo Theme, Op.33 – Variazione I: Tempo del Tema
26 Variations on a Rococo Theme, Op.33 – Variazione II: Tempo del Tema
27 Variations on a Rococo Theme, Op.33 – Variazione III: Andante sostenuto
28 Variations on a Rococo Theme, Op.33 – Variazione IV: Andante grazioso
29 Variations on a Rococo Theme, Op.33 – Variazione V: Allegro moderato
30 Variations on a Rococo Theme, Op.33 – Variazione VI: Andante
31 Variations on a Rococo Theme, Op.33 – Variazione VII e Coda: Allegro vivo

CD 5
32 Symphony No.5 in E minor, Op.64 – 1. Andante – Allegro con anima
33 Symphony No.5 in E minor, Op.64 – 2. Andante cantabile, con alcuna licenza – Moderato con anima
34 Symphony No.5 in E minor, Op.64 – 3. Valse (Allegro moderato)
35 Symphony No.5 in E minor, Op.64 – 4. Finale (Andante maestoso – Allegro vivace)
36 Tchaikovsky: Serenade for Strings in C, Op.48 – 1. Pezzo in forma di sonatina: Andante non troppo – Allegro moderato
37 Tchaikovsky: Serenade for Strings in C, Op.48 – 2. Walzer: Moderato (Tempo di valse)
38 Tchaikovsky: Serenade for Strings in C, Op.48 – 3. Elégie: Larghetto elegiaco
39 Tchaikovsky: Serenade for Strings in C, Op.48 – 4. Finale (Tema russo): Andante – Allegro con spirito

CD 6
40 Symphony No.6 in B minor, Op.74 “Pathétique” – 1. Adagio – Allegro non troppo
41 Symphony No.6 in B minor, Op.74 “Pathétique” – 2. Allegro con grazia
42 Symphony No.6 in B minor, Op.74 “Pathétique” – 3. Allegro molto vivace
43 Symphony No.6 in B minor, Op.74 “Pathétique” – 4. Finale (Adagio lamentoso – Andante)
44 Tchaikovsky: Romeo and Juliet, Fantasy Overture

CD 7
45 Tchaikovsky: The Sleeping Beauty, Suite, Op.66a – Introduction – The Lilac Fairy
46 Tchaikovsky: The Sleeping Beauty, Suite, Op.66a – Pas d’action. Rose Adagio
47 Tchaikovsky: The Sleeping Beauty, Suite, Op.66a – Pas de caractère: Puss In Boots
48 Tchaikovsky: The Sleeping Beauty, Suite, Op.66a – Panorama (andantino)
49 Tchaikovsky: The Sleeping Beauty, Suite, Op.66a – Valse
50 Swan Lake, Op.20 / Suite  – 1. Scene – Swan Theme
51 Swan Lake, Op.20 / Suite – 2. Valse In A
52 Swan Lake, Op.20 / Suite – 3. Danse des petits cygnes
53 Swan Lake, Op.20 / Suite – 4. Scene
54 Swan Lake, Op.20 / Suite – 5. Danse Hongroise (Czardas)
55 Swan Lake, Op.20 / Suite – 6. Scène finale.
56 Nutcracker Suite, Op.71a – 1. Miniature Overture
57 Nutcracker Suite, Op.71a – 2. Danses caractéristiques a. Marche (Tempo di marcia viva)
58 Nutcracker Suite, Op.71a – 2b. Danse de la fée-Dragée (Andante non troppo)
59 Nutcracker Suite, Op.71a – 2c. Danse russe Trépak (Tempo di Trépak, molto vivace)
60 Nutcracker Suite, Op.71a – 2d. Danse arabe (Allegretto)
61 Nutcracker Suite, Op.71a – 2e. Danse chinoise (Allegro moderato)
62 Nutcracker Suite, Op.71a – 2f. Danse des mirlitons (Moderato assai)
63 Nutcracker Suite, Op.71a, TH.35 – 3. Valse des fleurs (Tempo di Valse)

CD 8
64 Piano Concerto No.1 In B Flat Minor, Op.23, TH.55 – 1. Allegro non troppo e molto maestoso – Allegro con spirito
65 Piano Concerto No.1 In B Flat Minor, Op.23, TH.55 – 2. Andantino semplice – Prestissimo – Tempo I
66 Piano Concerto No.1 In B Flat Minor, Op.23, TH.55 – 3. Allegro con fuoco
67 Violin Concerto in D, Op.35 – 1. Allegro moderato
68 Violin Concerto in D, Op.35 – 2. Canzonetta (Andante)
69 Violin Concerto in D, Op.35 – 3. Finale (Allegro vivacissimo)

Christian Ferras – Violin
Sviatoslav Richter – Piano
Mistslav Rostropovich – Cello
Herbert von Karajan – Conductor
Berliner Philharmoniker

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Carl Nielsen (1865-1931): Concertos para Flauta e Clarinete / Quinteto de Sopros (Meyer, Pahud, Berliner Philh., Rattle)

Carl Nielsen (1865-1931): Concertos para Flauta e Clarinete / Quinteto de Sopros (Meyer, Pahud, Berliner Philh., Rattle)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Difícil encontrar um CD melhor do que este. Falo sério. Esplêndidos solistas, repertório pouco usual e do mais alto nível, uma orquestra perfeita. Tudo ficou lindo. Sempre foi o sonho de Emmanuel Pahud — primeiro flautista da BPO — gravar o Concerto para Flauta de Nielsen. Sabine Meyer é também ex-membro da Filarmônica de Berlim e prima donna absoluta do clarinete em âmbito mundial. Ela foi a escolha natural para fazer parceria com Pahud no disco. O resultado, tanto nos Concerto como no espetacular Quinteto, é arrasador. Dito isto, você teria que ser louco para não reconhecer o alto padrão de realização deste disco. É ótimo ver essa música recebendo a atenção que merece fora da Escandinávia. Trata-se de uma bela coleção representativa do amor de Nielsen pela família dos sopros em contextos de câmara e orquestrais (de fato, há passagens no último movimento do quinteto que soam quase orquestrais). Aliás, o Quinteto é uma joia que conheci durante a adolescência, O Minueto, o Tema com Variações (e o resto) são excepcionais! Recomendadíssimo!

Carl Nielsen (1865-1931): Concertos para Flauta e Clarinete / Quinteto de Sopros (Meyer, Pahud, Berliner Philh., Rattle)

Flute Concerto FS119 (19:32)
1 Allegro Moderato 11:57
2 Allegretto-Adagio Ma Non Troppo- Allegretto- Tempo Di Marcia 7:35

Clarinet Concerto Op.57 FS129 (23:29)
3 Allegretto Un Poco 7:45
4 Poco Adagio 5:01
5 Allegro Non Troppo 6:39
6 Allegro Vivace 4:03

Wind Quintet Op.43 FS100 (26:01)
7 Allegro Ben Moderato 8:34
8 Menuet 4:51
9 Praeludium: Adagio 2:14
10 Tema Con Variazoni: Un Poco Andantino 10:21

Bassoon – Stefan Schweigert (tracks: 7 to 10)
Clarinet – Sabine Meyer (tracks: 3 to 10)
Conductor – Sir Simon Rattle (tracks: 1 to 6)
Cor Anglais – Jonathan Kelly (3) (tracks: 7 to 10)
Flute – Emmanuel Pahud (tracks: 1, 2, 7 to 10)
French Horn – Radek Baborák (tracks: 7 to 10)
Oboe – Jonathan Kelly (3) (tracks: 7 to 10)
Orchestra – Berliner Philharmoniker (tracks: 1 to 6)

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Abaixo, uma sessão de fotos de Carl Nielsen. Não sei de sua circunstância, mas gosto de pensar que haveria alguma relação com sua Sinfonia The Four Temperaments. Sei lá, deve ser imaginação minha. Descubram.

 

PQP

Grażyna Bacewicz (1909-69): Sonata, Sonatina, Estudos, etc. (Ewa Kupiec, piano)

Grażyna Bacewicz (1909-69) nasceu em Łódź, cidade de onde também vieram Artur Rubinstein e Roman Polanski. Ela foi aluna de Nadia Boulanger em Paris e muito admirada por seu colega polonês Witold Lutosławski (1913-1994).

Bacewicz tocava piano e principalmente violino: foi spalla na Orquestra da Rádio Polonesa de 1936 a 1938. Depois, passou a se dedicar mais à composição: sua obra inclui sete concertos para violino (os cinco primeiros, com ela como solista na estreia), sete quartetos de cordas, dois quintetos com piano… e obras para piano solo, normalmente estreadas pela própria compositora como pianista, exceto as últimas obras (10 Estudos; Pequeno Tríptico), de um período em que sua saúde precocemenete piorou após um acidente de carro em 1954. Após o acidente ela tocou bem menos violino e piano, mas continuou compondo. Suas obras para piano recentemente foram gravadas em um álbum muito elogiado pela crítica:

Ela creditou sua produtividade a ter um ‘motorek’, ou motorzinho, que a mantevinha em atividade. Ela era rápida, enérgica, focada. E embora haja um risco em confundir biografia e música, é difícil não ouvir esse impulso propulsor nos Dez Estudos, executados com convicção pelo pianista sueco Peter Jablonski.
Ele faz parte de uma série de pianistas que deram a devida atenção a Bacewicz, incluindo a gravação de 2011 de Krystian Zimerman, e discos recentes de Ewa Kupiec, Morta Grigaliūnaitė e Joanna Sochacka. (BBC Music, abril de 2022)

Os Estudos aqui gravados lidam com uma variedade de desafios técnicos frequentemente encontrados na música para piano da primeira metade do século XX. Jablonski é sensível ao caráter expressivo inato de cada estudo, destacando a coloração sutil e a vitalidade rítmica.
Bacewicz se expressa de forma sucinta, e Jablonski elucida suas estruturas tensas com clareza e precisão. (Gramophone, 2022)

Ouvi o disco de Jablonski e também ouvi o da pianista polonesa Ewa Kupiec. Gostei dos dois, mas alguns dos elogios dos críticos ingleses (“sensível ao caráter expressivo inato de cada estudo”…) me parecem se aplicar mais ainda à gravação realizada na Alemanha no ano 2000 por Ewa Kupiec.

De fato, Bacewicz tem uma tendência às construções sucintas e a curta Sonatina (1955), gravada por Kupiec (e que não aparece no álbum de Jablonski) é uma das obras que mais me encantam aqui, junto com os Estudos (1955-57) e a Sonata nº 2 (1953). Essa última já apareceu neste blog na interpretação do também polonês Krystian Zimerman, mais majestosa e grandiosa, enquanto Ewa Kupiec acentua mais as dissonâncias. Se vocês quiserem explorar mais a discografia de Ewa Kupiec, saibam que ela gravou os Concertos de Chopin com o maestro Stanislaw Skrowaczewski (1923-2017), teve um duo por muito tempo com a violinista Isabelle Faust e gravou (com Faust e também com orquestras) muita gente do século XX, incluindo Schnittke, Lutosławski, Janáček… Muita música para sairmos daquele arroz com feijão de sempre.

Grażyna Bacewicz (1909-1969): Obras para Piano
1-3 Sonata No. 2 (1953)
4 Scherzo. Vivace (1934)
5 Rondino (1953)
6-8 Sonatina (1955)
9-16 Children’s Suite (1933)
17-19 Drei Burlesken (1935)
20-21 2 Etüden (1955)
22-24 Kleines Triptychon (1965)
25-34 10 Etüden (1956-1957)

Ewa Kupiec, piano
Recording: SWR Kammermusikstudio, Germany, 2000

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Bacewicz com seu outro instrumento favorito. Um charme no olhar e um penteado típico da época…

Pleyel

Boris Tishchenko (1939-2010): Concerto para Piano e Concerto para Harpa (Tishchenko / Blazhkov / Donskaya-Tishchenko / Serov)

Boris Tishchenko (1939-2010): Concerto para Piano e Concerto para Harpa (Tishchenko / Blazhkov / Donskaya-Tishchenko / Serov)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

(refiro-me, principalmente, ao Concerto para Harpa)

Como a aceitação tem sido positiva com relação a Sinfonia Nº 7 de Boris Tishchenko, trago aqui mais um grande disco desse excelente compositor. A primeira obra é um concerto para piano escrito em 1962, quando o jovem Boris acabava sua graduação. A estrutura do concerto tem a tradicional forma em três movimentos, mas ela é bem peculiar no desenvolvimento dos temas. O segundo movimento começa com uma fuga que é um brincadeira entre a orquestra e o piano. Obra interessante, o registro não tem um som muito bom (gravação de 1966), mas vale pela interpretação ao piano do próprio compositor. Já no concerto para harpa, a segunda peça desse disco, escrita em 1977, o compositor tinha atingido o ápice de sua criatividade e linguagem. A estrutura em cinco movimentos, bem típica do compositor, começa, assim como a sinfonia n.7, de maneira contemplativa e sinistra. A harpa às vezes soa como um cravo, e o diálogo com a orquestra é de uma precisão incrível. Mas a impressão é de que o primeiro movimento é um prelúdio para o segundo movimento, que começa com os instrumento de sopro dando a direção do diálogo, depois os instrumentos de cordas e logo em seguida a percussão. A harpa vai percorrendo e ligando cada seção da orquestra até reinar absoluta. A impressão da harpa ser um instrumento delicado e com serventia apenas ao lirismo é totalmente corrigida neste movimento. No quarto movimento, uma soprano surge de maneira bem suave, enriquecendo o clima nostálgico e íntimo. O quinto e último movimento é um andante que retoma alguns dos temas inicias dos outros movimentos, num tom triste e pessimista.

P.S. de PQP Bach: são lindas as citações de Mussorgsky durante o Concerto para Harpa.

Boris Tishchenko (1939-2010): Concerto para Piano e Concerto para Harpa (Tishchenko / Blazhkov / Donskaya-Tischenko / Serov)

1. Piano Concerto: Allegro moderato
2. Piano Concerto: Allegretto tranquillo. Allegro vivo

Leningrad Philharmonic Orchestra
Conductor: Igor Blazhkov
Piano: Boris Tishchenko

3. Harp Concerto: Moderato
4. Harp Concerto: Allegro con molto
5. Harp Concerto: Moderato
6. Harp Concerto: Intermezzo
7. Harp Concerto: Andante

Leningrad Philharmonic Orchestra
Conductor: Edward Serov
Harp: Irinia Donskaya-Tishchenko

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Compositor mais luminoso do que a foto, credo

cdf

Almeida Prado (1943-2010): Concertos e Aurora para Piano e Orquestra; Cartas Celestes I (Rubinsky/OFMG; Scopel)

No panorama de obras para piano do século XX que tenho trazido ao blog, depois dos nomes de Villa-Lobos (proibido aqui no blog até que sua música chegue ao domínio público), de Nazareth (com várias postagens recentes: aqui, aqui, aqui) e de Mignone, logo me veio à mente o de Almeida Prado, que andava sumido aqui do blog há uns anos… Então preparei logo uma dobradinha: sua obra mais famosa, Cartas Celestes nº I, e uma série de obras para piano e orquestra recentemente gravadas.

Nascido em Santos/SP, Almeida Prado é um desses compositores que apresentam exigências imensas a todos os músicos da orquestra, ou quase todos. Além, é claro, do que ele exige aqui da pianista Sonia Rubinsky que, após gravar pela Naxos todo o piano solo de Villa-Lobos, aumenta com este álbum sua discografia pela mesma gravadora.

Assim como nas Cartas Celestes, no Concerto para Piano nº 1 (escrito em 1983 por encomenda de Antonio Guedes Barbosa) o compositor não parece preocupado com o suor que os músicos passarão para criar os mundos musicais que ele imagina, e isso é talvez um dos motivos para este concerto ser tão pouco tocado: é muito comum que, ao escolherem música contemporânea para sua programação, as orquestras dêem preferência a concertos mais fáceis ou para formações menores.

A gravação de Sonia Rubinsky com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, portanto, estreou as obras em disco, brilhando solitária e nos mostrando os vários motivos para outras orquestras e solistas não terem coragem de se aventurar: Rubinsky tira do piano incontáveis sons que exigem uma longa dedicação à exploração dos timbres do seu instrumento. E a orquestra, como já falamos, não leva o acompanhamento na flauta, pelo contrário.

As Cartas Celestes I já foram gravadas por outros grandes pianistas como Roberto Szidon, mas a gravação ao vivo do então jovem pianista Aleyson Scopel em 2008 é tão boa que depois ele seria convidado pela Naxos para gravar a integral das Cartas Celestes para piano. A gravação que trazemos aqui é a primeira, ao vivo. O próprio Almeida Prado descreveu assim a interpretação dessa obra por Scopel: “Saíram diretamente do Céu! Chuvas de meteoros, radiantes constelações, nebulosas resplandecentes, e um vigor transcendental marcaram a genial interpretação deste imenso pianista. Maravilhoso!”

Deixo o compositor seguir na sua descrição da obra:

“Cartas Celestes é das minhas obras a mais tocada, e a mais comunicativa para o público. Composta em 1974, para o Planetário Municipal de São Paulo, foi posteriormente re-escrita. Utilizei 24 acordes diferentes como as 24 letras do alfabeto grego, e com isso os relacionai às estrelas que formam as constelações. Nesta obra procuro retratar o céu do Brasil na Primavera. Para confecção sonora deste grande mural celeste, utilizei os recursos mais extravagantes possíveis e inusitados.
O piano é uma máquina que fabrica as mais variadas cores para os meteoros, as constelações, os aglomerados, as nebulosas, e o êxtase solar final, onde o piano parece explodir de tal intensidade e vertiginosa velocidade no agudo.”

“Ao fazer uma obra, você não pode dizer assim: ‘eu vou compor uma obra-prima’. A obra-prima não é uma coisa premeditada. Ela acontece independente da sua vontade. Por exemplo, As Cartas Celestes número um, que considero a minha obra-prima, aconteceu por acidente. Foi uma encomenda do José Luiz Paes Nunes, em 1974, que impunha condições de rapidez. Me inspirei no livro do Rogério Mourão e fiz uma música de fundo para ser descartável. E a obra ficou. É a mais tocada das minhas peças e a mais celebrada. Eu não tive culpa.” (Almeida Prado)

O pianista José Eduardo Martins, que conheceu bem o compositor e estreou mais de uma obra dele, nos dá mais algumas pistas:
“Esse debruçar maior em França deu-se sob a orientação de Nadia Boulanger e de Oliver Messiaem, dois ícones na música no século XX. Em Darmstadt soube apreender conteúdos de György Ligeti e Lukas Foss. Seria todavia Messiaen o compositor que mais fortemente marcaria a escrita de Almeida Prado, assim como acentuaria no músico santista o olhar místico, pois parte considerável da obra de nosso pranteado autor tem forte conotação religiosa. A inclinação ao sagrado está traduzida nos vários gêneros musicais, orquestra e câmara. Seria entretanto nas criações para coro e sobretudo na vasta produção para piano – seu instrumento eleito – que Almeida Prado revelaria por inteiro esse olhar místico, que perduraria durante décadas até os dias finais.”
Fonte: O blog de José Eduardo Martins.

José Antônio de Almeida Prado (1943-2010):

Piano Concerto no. 1 (1982-83)
1 Apelo I –
2 I. Heróico, épico (variações) –
3 Monólogo (cadência) –
4 Interlúdio –
5 II. Transparente floral
6 III. Granítico, intenso (tocata)
7 Interlúdio: Onírico, entre a realidade e a fantasia –
8 Memorial
9 Apelo II

10. Aurora (1975)

Concerto Fribourgeois (1985)
11 Introduzioni –
12 Recitativo I
13 Passacaglia –
14 Recitativo II –
15 Toccata furiosa
16 Recitativo III
17 Arioso
18 Moto perpetuo

Sonia Rubinsky, piano
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais – Fabio Mechetti
Recorded: May 2019, Sala Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil
World Premiere Recordings

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Sonia Rubinsky fazendo a clássica pose de pianista (mão no rosto)

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Almeida Prado: Cartas Celestes I (1974)

1. Pórtico do Crepúsculo
2. Via Láctea
3. Pórtico da Aurora

Aleyson Scopel ao vivo na Sala Cecília Meireles – Rio de Janeiro
9 de novembro de 2008

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Almeida Prado nos anos 1970 (Jornal do Brasil)

Pleyel

Anton Stepanovich Arensky (1861-1906) – Symphony No. 2 in A major, Op. 22, Suite No. 3 ‘Variations’, Op. 33 e Overture to ‘Un songe sur le Volga’, Op. 16 etc

Anton Arensky é um compositor russo bastante interessante pelas proezas realizadas em sua curta vida, o que o coloca dentro dos principais eventos e cenários da música do seu país. O disco que ora é apresentado não possui nada de especial, mas nos fornece uma boa percepção de sua música. Arensky desde muito jovem estabeleceu contato com a música e com bons professores. Um dos casos mais significativos foram as aulas de orquestração com Rinsky-Korsakov.

Como professor, o compositor teve entre os seus pupilos brilhantes, os nomes de Rachmaninov, Scriabin e Glière. Mais tarde, estabeleceu amizade com Tchaikovsky. Essa amizade rendeu importantes frutos para o compositor, pois Tchaikovsky tomou a decisão de ser o seu mentor.

Arensky foi um indivíduo de alma impulsiva. Após ter saído de sua Novgorod e ter ido para a grandiosa e efervescente São Petersburgo, o compositor assimilou algumas das características dos jovens ricos. Era talentoso. Possuía um potencial inquestionável, mas era conduzido por hábitos irreprimíveis. Viciado em jogos de azar, Arensky não conseguia abandonar o vício em álcool. Após conduzir uma vida de exageros, Arensky acabou morrendo ainda muito jovem – com apenas 46 anos de idade.

Enquanto compositor, conseguiu construir uma estilo em que ficam evidentes sua influência dos compositores europeus, principalmente os nomes dos compositores românticos como Mendelssohn e Chopin. Suas composições são permeadas pela presença de temas russos, todavia padrões de fluência composicional e um aguçado senso estético e rítmico, o que transforma em um compositor bastante sofisticado.

O presente disco apresenta algumas de suas composições, sendo as mais relevantes a Suíte nº 3 e a Sinfonia nº 2. A Sinfonia é um trabalho curto – de apenas 22 minutos – composta no ano de 1889. Seu início marcante denota a confiança, o entusiasmo que, talvez, inundava sua alma que experimentava inúmeras novidades. Revela o lado criativo e inteligente do compositor. O que fica de sua música é o charme melódico, a clareza da linguagem rítmica e das texturas agradáveis. Uma boa apreciação!

Anton Stepanovich Arensky (1861-1906) –

01. Overture to ‘Un songe sur le Volga’, Op. 16
02. Introduction to ‘Nal and Damayanti’, Op. 47

Suite No. 3 ‘Variations’, Op. 33
03. Theme. Andante con moto
04. I. Dialogue. Andante sostenuto
05. II. Valse. Allegro
06. III. Marche triomphale. Maestoso
07. IV. Menuet (XVIIIème siècle)
08. V. Gavotte. Allegro
09. VI. Scherzo. Presto
10. VII. Marche funèbre. Adagio non troppo
11. VIII. Nocturne. Andantino
12. IX. Polonaise. Allegro moderato
13. Intermezzo for Orchestra, Op. 13

Symphony No. 2 in A major, Op. 22
14. I. Allegro giocoso
15. II. Romance. Adagio ma non troppo
16. III. Intermezzo. Allegretto
17. IV. Finale. Allegro giocoso e poi fuga

BBC Philharmonic Orchestra

Vassily Sinaisky, regente

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Arensky numa pose performática para a equipe do PQP Bach

Francisco Mignone (1897-1986): 12 Valsas de esquina (Arthur Moreira Lima, piano)

Os pais eram imigrantes da Itália e ele que ajudava a família. Ele começou a trabalhar com dez anos de idade tocando nas ruas para sobreviver.
[…] da composição ele não ganhava dinheiro. O Mignone escrevia pelo prazer de compor, ele não tinha aquele jeito social de levar a música dele para tocar em recital. Ele sentia um grande vazio quando não compunha.

(M.J.Mignone, viúva do compositor, entrevista a Fernando Reis, 2010)

Compostas entre 1938 e 1943, as Valsas de Esquina de Mignone homenageiam as serestas, choros e concertos noturnos improvisados nas esquinas brasileiras. Homenagem que nunca soa nacionalista no sentido da grandiloquência ingênua, pelo contrário, as influências populares passam para dentro da escrita de Mignone com um ar de simplicidade que não é fácil de ser alcançado. Como nos conta o próprio compositor: “essas Valsas de Esquina, que parecem escritas de um jato só, algumas levaram meses até eu conseguir elaborar e tornar simples, sem parecer uma coisa vazia. Foi muito difícil.”

Vejamos também o que Mignone disse sobre as várias interpretações possíveis das suas valsas. O maestro Roberto Duarte relata que uma vez…

cheguei cedo e fiquei a tocar uma valsa dele ao piano, a Oitava Valsa. Ele chegou por trás de mim, não falou nada e, quando acabei, ele bateu no meu ombro: “Bravo! Bravo! Muito bem!” Alguns meses depois, eu chego atrasado e ele estava tocando a mesma Oitava Valsa, completamente diferente da que eu havia tocado. Disse-lhe: “Maestro, noutro dia eu estava tocando essa valsa, o senhor me elogiou, e disse ‘Muito bem. Você tocou muito bem, meu filho’, mas o senhor toca completamente diferente!” E ele disse: “Mas eu sou outra pessoa. Não quero que minhas composições sejam executadas de uma única maneira. Cada um é um intérprete. Se eu quisesse que minhas composições fossem executadas de uma só maneira, teria gravado todas elas e jogado as partituras fora.” Esse era Mignone.

Entre as principais gravações dessas obras, há algumas valsas avulsas por Arnaldo Estrella com um cantabile que ninguém imita. Há também a gravação pelo próprio Mignone, em 1957 pelo selo Festa, LP que recomendamos fortemente que vocês garimpem nos sebos e similares, pois a digitalização hoje disponível no Spotify não foi bem feita. E, finalmente, a gravação das doze valsas por Arthur Moreira Lima: junto com os discos dedicados pelo pianista a Nazareth, aqui fica clara a fluência de Moreira Lima neste idioma muito brasileiro. Abaixo, temos as notas escritas por Luiz Paulo Horta no primeiro lançamento do disco de Moreira Lima em 1982:

A valsa chegou ao Brasil nos tempos de D. Pedro I pelas mãos de um compositor austríaco, Sigismund Neukomm, professor do Imperador (que também compôs as suas valsas); e saiu da Corte para os salões, espalhando-se por todas as camadas da população. Tanto se podia ver um Carlos Gomes escrever uma Valsa de Bravura, para concerto, como um anônimo, certamente mineiro, rabiscar a Saudades de Ouro Preto.

Lá pelo fim do século, a valsa já estava completamente abrasileirada, sentindo a influência do choro e puxando, por sua vez, a modinha para o compasso 3/4. Nas mãos de Nazareth, ela se torna um delicadíssimo retrato da nossa belle époque – música de salão transformada por um artista genial. Nazareth punha um ouvido em Chopin e outro no que estavam fazendo os chorões. E em Nazareth, o Mignone que Manuel Bandeira chamaria “o rei da valsa” encontrou uma de suas primeiras (e constantes) inspirações.

Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro (Marc Ferrez, ca.1890)

Mignone tinha 16 anos quando foi premiado em concurso de composição com uma valsa: Manon. Mais ou menos nessa época pôde ver Nazareth numa loja de música, onde o grande artista, que ninguém imaginava ser um gênio, lia à primeira vista as músicas para piano em que os fregueses pudessem estar interessados – isto é, fazia o papel que pertence hoje ao toca-discos. Um pouco mais tarde, Mignone seguiria para a Europa, onde a sua veia italiana ia ser reforçada por anos de estudo em Milão.

Mas antes disso ele foi seresteiro – e assim é que começaram a nascer as Valsas de Esquina. “Como flautista – contou a sua primeira mulher – ele ia pelas ruas da capital paulista, altas horas da noite, tocando chorinhos acompanhado pelos violões e cavaquinhos dos demais companheiros. Isso influiu para que ele, mais tarde, compusesse uma série de valsas, denominadas ‘de esquina’, em que a maneira popular transparece lindamente expressa”.

Vendedor de vassouras em rua do centro da cidade de São Paulo (Vincenzo Pastore, ca.1910)

Mignone dá a sua própria versão: o nome dessas valsas, segundo ele, foi dado por Mário de Andrade, pois “lembram aquelas valsas que, à noite, debaixo dos bruxoleantes lampiões a gás das esquinas, os chorões tocavam em suas serenatas às amadas que, atrás das venezianas ou cortinas, ficavam ouvindo. As esquinas serviam de refúgio, caso aparecesse um parente na rua para afugentar os boêmios perturbadores do silêncio noturno”…

Mignone aproveitou, nessas valsas, modelos da época, e até mesmo a sua experiência de músico popular – quando compunha sob o pseudônimo de Chico Bororó. Mas já na primeira valsa, em dó menor, ele mostra que tinha chegado a um estilo novo, que combina a simplicidade do popular com a sofisticação do clássico. O canto começa na mão esquerda – como nos bordões do violão – o que produz um efeito meio sério, meio brincalhão. Mignone libertava-se da sua fase internacionalista, de todas as paisagens estrangeiras, e voltava a ser um poeta perambulando pelas esquinas.

As doze Valsas de Esquina, compostas nos doze tons menores, são ao mesmo tempo simples e misteriosas. A melodia é simples; mas a harmonia é sutilmente construída.

Francisco Mignone (1897-1986): 12 Valsas de esquina
Valsa Nº 1 em dó menor: Soturno e seresteiro
Valsa Nº 2 em mi bemol menor: Lento e mavioso
Valsa Nº 3 em lá menor: Com entusiasmo
Valsa Nº 4 em si bemol menor: Vagaroso e seresteiro
Valsa Nº 5 em mi menor: Cantando, e com naturalidade
Valsa Nº 6 em fá sustenido menor: Tempo de valsa movimentada
Valsa Nº 7 em sol menor: Moderadamente
Valsa Nº 8 em dó sustenido menor: Tempo de valsa caipira
Valsa Nº 9 em lá bemol menor: Andantino mosso
Valsa Nº 10 em si menor: Lento, romântico e contemplativo
Valsa Nº 11 em ré menor: Moderato
Valsa Nº 12 em fá menor: Moderato – Vivo
Arthur Moreira Lima, piano

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Francisco Mignone, circa 1957

Pleyel

.: interlúdio :. Keith Jarrett – Mysteries / Shades {Remaster 2011}

.: interlúdio :. Keith Jarrett – Mysteries / Shades {Remaster 2011}

Ótimo e quase esquecido material da Impulse Records. São 2 LPs de Keith Jarrett transformados em um CD. A gente esquece deles porque a maioria das pessoas se concentra nas gravações de Jarrett para a ECM. Mysteries é um trabalho sombrio e melancólico de Keith Jarrett – um álbum que se baseia fortemente em seu sentimento de conjunto dos anos Impulse, mas que também parece carregar um pouco da vibração introspectiva que ele estava construindo em algumas de suas gravações solo mais despojadas. O grupo é ótimo aqui – com Dewey Redman, Charlie Haden, Paul Motian e Guilhermo Franco – e as músicas, embora longas e um tanto livres, ainda mostram o ótimo ouvido de Jarrett para uma melodia lírica – levada maravilhosamente sem clichês, e ainda com arestas mais afiadas do que você poderia esperar. Os títulos incluem “Rotation”, “Everything That Lives Laments”, “Flame” e “Mysteries”. Mas eu prefiro mil vezes Shades, que é outra joia perdida do período — uma sessão em quinteto de meados dos anos 70, gravada com o mesmo grupo. Há aqui uma boa sensação de descanso. Shades Of Jazz, Southern Smiles e Diatribe são extraordinárias! Ou seja, quase todo o LP.

Keith Jarrett – Mysteries / Shades {Remaster 2011}

tracklist:

Mysteries
01. Rotation
02. Everything That Lives Laments
03. Flame
04. Mysteries

Shades
05. Shades Of Jazz
06. Southern Smiles
07. Rose Petals
08. Diatribe

Personnel:
Keith Jarrett – piano, Pakistani flute, wood drums, percussion
Dewey Redman – tenor saxophone, maracas, tambourine, Chinese musette
Charlie Haden – bass
Paul Motian – drums, percussion
Guilherme Franco – percussion

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Keith Jarret na primeira metade dos anos 70, decidindo se vai mesmo para a ECM

PQP

Orlando Gibbons (1583-1625): Choral and Organ Music

Orlando Gibbons (1583-1625): Choral and Organ Music

A cristandade católica celebra o dia de Corpus Christi (Corpo de Cristo). A data sempre acontece numa quinta-feira. A instauração da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta o século XIII. A Igreja sentiu a necessidade de realçar a presença real do “Cristo presente” no pão consagrado na Eucaristia. A Festa foi instituída pelo papa Urbano IV com a Bula “Transiturus” de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. “O Papa Urbano IV foi o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège na Bélgica, que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana, Juliana de Mont Cornillon, que exigiam uma festa da Eucaristia no Ano Litúrgico. Conta a história que um sacerdote chamado Pedro de Praga, de costumes irrepreensíveis, vivia angustiado por dúvidas sobre a presença de Cristo na Eucaristia. Decidiu então ir em peregrinação ao túmulo dos apóstolos Pedro e Paulo em Roma, para pedir o Dom da fé. Ao passar por Bolsena (Itália), enquanto celebrava a Santa Missa, foi novamente acometido da dúvida. Na hora da Consagração veio-lhe a resposta em forma de milagre: a Hóstia branca transformou-se em carne viva, respingando sangue, manchando o corporal, os sangüíneos e as toalhas do altar sem no entanto manchar as mãos do sacerdote, pois, a parte da Hóstia que estava entre seus dedos, conservou as características de pão ázimo. Por solicitação do Papa Urbano IV, que na época governava a igreja, os objetos milagrosos foram para Orviedo em grande procissão, sendo recebidos solenemente por sua santidade e levados para a Catedral de Santa Prisca. Esta foi a primeira procissão do Corporal Eucarístico. A 11 de agosto de 1264, o Papa lançou de Orviedo para o mundo católico através da bula Transiturus do Mundo o preceito de uma festa com extraordinária solenidade em honra do Corpo do Senhor. A festa de Corpus Christi foi decretada em 1264. O decreto de Urbano IV teve pouca repercussão, porque o Papa morreu em seguida. Mas se propagou por algumas igrejas, como na diocese de Colônia na Alemanha, onde Corpus Christi é celebrada desde antes de 1270. A procissão surgiu em Colônia e difundiu-se primeiro na Alemanha, depois na França e na Itália. Em Roma é encontrada desde 1350. A Eucaristia é um dos sete sacramentos e foi instituído na Última Ceia, quando Jesus disse: ‘Este é o meu corpo…isto é o meu sangue… fazei isto em memória de mim’. Porque a Eucaristia foi celebrada pela 1ª vez na Quinta-Feira Santa, Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade. Corpus Christi é celebrado 60 dias ápos a páscoa”. O aspecto solene e místico da religião é algo que sempre me impressionou. Desagrada-me o dualismo existente na religião, que desemboca consequentemente num enfeiamento da vida. A religião cria uma metafísica do carrasco. Pune tudo aquilo que se aproxime do natural, por fugir em sentido platônico do mundo físico, o mundo das aparências. Estar no mundo é uma tarefa malquista pelo religioso, que ver na na realidade contingente, imperfeição, feiúra e um halo de pecado envolvendo todas as coisas. Não precisamos morrer para viver, pois morre-se muitas vezes enquanto se vive. A arte tira a alma do homem do caos. Sentença nietzschiniana: “Na arte, o ser humano frui a si mesmo enquanto perfeição”. Boa apreciação desse belíssimo CD repleto de mística, poética e sentidos de vida, de Orlando Gibbons.

P.S. O texto é uma mescla de palavras minhas e da Wikipédia. Informações AQUI sobre o compositor.

Orlnando Gibbons (1583-1625) – Choral and Organ Music

01. O clap your hands
02. Great Lord of Lords
03. Hosanna to the son of David
04. Prelude in G Major
05. Out of the deep
06. See, see, the word is incarnate
07. Prelude in D minor
08. Lift up your heads
09. Almighty and everlasting God
10. Magnificat ( 2nd Service)
11. Nunc dimittis (2nd Service)
12. Fantazia of four parts
13. Magnificat (Short Service)
14. Nunc dimittis (Short Service)
15. O God, the king of glory
16. O Lord, in thy wrath

Oxford Camerata
Jeremy Summerly, condutor
Laurence Cummings, órgão

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Não precisamos de legenda na data de hoje
Não precisamos de legenda na data de hoje

Carlinus

Dmitri Shostakovich (1906-1975) & Lera Auerbach (1973): Música para Violino e Piano (Gluzman / Yoffe)

Dmitri Shostakovich (1906-1975) & Lera Auerbach (1973): Música para Violino e Piano (Gluzman / Yoffe)

Vadim Gluzman e Angela Yoffe são marido e mulher que se entendem. Eles nos dão uma poderosa versão da Sonata de Shostakovich de 1968. Esta performance atende à quaisquer exigências, com o Allegretto central projetando uma atmosfera de estimulante ferocidade. A Jazz Suite No 1 de 1934 leva a um Shostakovich muito diferente: o humor pode ser sarcástico, mas o clima é alegre e otimista. A Sonata de Auerbach, sua resposta aos eventos de 11 de setembro, tem gestos largos e até melodramáticos. É uma peça bem feita, imaginativamente moldada para os dois instrumentos e com alguns momentos lindos e inspiradores.

Dmitri Shostakovich (1906-1975) & Lera Auerbach (1973): Música para Violino e Piano (Gluzman / Yoffe)

Shosta:
Sonata For Violin And Piano, Op. 134 (1968)
1 I. Andante 11:05
2 II. Allegretto 6:51
3 III. Largo – Andante 14:30

Jazz Suite No. 1 For Violin And Piano (1934/2005)
4 I. Waltz 2:26
5 II. Polka 1:42
6 III. Foxtrot 3:45

Auerbach:
Lonely Suite (Ballet For A Lonely Violinist), Op. 70 (2002)
7 I. Dancing With Oneself. Andante 2:09
8 II. Boredom. Moderato 1:15
9 III. Nos Escape. Allegro 1:23
10 IV. Imaginary Dialogue. Andantino 3:12
11 V. Worrisome Thought. Moderato 1:05
12 VI. Question. [Ad Lib.] 0:56

13 Sonata No.2 For Violin And Piano (September 11), Op. 63 (2001) [In One Movement] 14:39

Vadim Gluzman, violino
Angela Yoffe, piano

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Lera Auerbach escrevendo uma cartinha para René Denon. “Ouça minha música, Rê”, pede ela.

PQP

Schubert (1797–1828): Música para Violino e Piano – Suyoen Kim & Dong-Hyek Lim ֎

Schubert (1797–1828): Música para Violino e Piano – Suyoen Kim & Dong-Hyek Lim ֎

Schubert

Sonata para Violino D. 574

Rondó D. 895

Fantasia D. 934

Suyeon Kim, violino

Dong-Hyek Lim, piano

Aqui em casa adoramos os encontros e desencontros do Chefe Hong e da Senhora Dentista – Hong Du-sik, o faz tudo de Gongjin, cidade costeira da Coréia do Sul e Yoon Hye-jin, dentista que se transferiu para a pequena cidade. O resto do elenco é muito divertido. Mi-seon é a ‘miga’ de Hye-jin e faz com o policial Choi Eun-chul um par à la Papagena-Papageno, mas aqui é a Mi-seon a líder da dupla, pois o policial Eun-chul é a pessoa mais tímida na face da terra.

A Papagena-Mi-seon e seu par…
A simpática Senhora Gam-ri

A terceira idade também está presente, como a sábia e simpática Senhora Kim Gam-ri, que tem a figura de avó-funcional do Tamino da série, o faz-tudo Du-sik.

 

Mas por que estou mencionando isto tudo nesta postagem de Schubert? Bem, por nada… é que eu gostei do disco e gosto bastante da K-série, que assisto com minha querida, que ao ver a capa do disco no painel multimídia do carro em nossa última viagem, quis logo saber se Suyoen Kim e Dong-Hyek Lim seriam os protagonistas de alguma nova K-série…

Suyoen Kim

Suyoen Kim é coreana, mas nasceu em Münster, na Alemanha. Começou a tocar violino muito cedo e tornou-se a mais jovem estudante em uma escola de música alemã ao ser admitida como aluna externa na Detmold Musikhochschule. Aos 16 anos já dava concertos com famosas orquestras e participava de competições internacionais.

Ela já fez uma visita aqui ao PQP Bach ao acompanhar Sumi Jo em umas árias de Bach.

Dong-Hyek Lim

O pianista Dong-Hyek Lim também estudou na Alemanha, na Hochschule für Musik de Hanover e aperfeiçoou-se na Julliard School com Emanuel Ax. Dong-Hyek Lim é um dos muitos pianistas que receberam atenção e apoio no início de suas carreiras da especialíssima Martha Argerich. Esta é a primeira aparição dele aqui no blog, mas esperamos recebe-lo com mais frequência de agora em diante.

Enquanto isso, aproveitem este disco com música para violino e piano no mestre Schubert, pois que esse repertório não é muito vasto e relativamente pouco explorado.

A Sonata foi composta em 1828, junto com outras três sonatinas, enquanto o Rondó e a Fantasia são do último período de Schubert. Ele as compôs para o violinista Josef Slavík e pianista Carl Maria von Bocklet, que as interpretaram em 1827 ou 1828, mas antes da morte de Schubert.

Franz Schubert (1797 – 1828)

Sonata para Violino e Piano em lá maior, D.574
  1. Allegro Moderato
  2. Scherzo (Presto)
  3. Andantino
  4. Allegro Vivace
Rondo em si menor, D. 895, Op. 70
  1. Andante
  2. Allegro
Fantasia em dó maior, para Violino e Piano D.934
  1. Andante Molto
  2. Allegretto
  3. Andantino
  4. Allegro Vivace – Allegretto – Presto

Dong-Hyek Lim, piano

Suyoen Kim, violino

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Sobre a Fantasia: Harriet Smith compares recordings of Schubert’s Fantasie for Violin & Piano in C major, D934. It’s a piece which baffled its audience when it was premiered in 1828, because it was much longer and more complexly structured than the conservative Viennese audience was used to. Despite using a recognisable melody of one of Schubert’s own songs in its central variation movement, a contemporary review remarked that the piece took rather more time and concentration than “a Viennese is prepared to devote to pleasures of the mind.” Great virtuosity is required from both violin & piano, so which duo of performers will come out on top?

Veja o que disse Dong-Hyek Lim sobre a música de Schubert, a propósito de outro de seus discos: I feel privileged that I can now present my thoughts and ideas about Schubert.

Aproveite!

René Denon

A cara que o Dong-Hyek fez quando lhe perguntamos se ele assiste as K-séries…

Rued Langgaard (1893-1952): Gitanjali-Hymner, Fantasi-Sonate e outras obras para piano

Nascido em Copenhagen e filho de dois pianistas, Rued Langgaard foi um compositor solitário, idealista, que não pertenceu a nenhum grupo como por exemplo os seus contemporâneos franceses “Les Six” ou os que se juntaram em Viena ao redor de Schoenberg. Langgaard teve lições de contraponto com o compositor Carl Nielsen (1865-1931) por cerca de um mês, mas aparentemente os dois não se entenderam bem e seus caminhos não se cruzariam mais.

Langgaard em Ribe (1951); Abaixo, o órgão da catedral

Aos 18 anos, foi organista assistente em uma igreja em Copenhage e, apenas aos 46, conseguiu um emprego fixo em uma importante e antiga catedral, mas em uma cidade pequena do interior da Dinamarca, onde ele era considerado um músico excêntrico, introvertido, com roupas estranhas e descabelado.

Não que ele necessariamente tenha se importado com o que os dinamarqueses achavam dele. Sua música foi razoavelmente bem recebida na Alemanha, com várias apresentações em Berlim e Karlshue. A principal influência na música para piano de Langgaard parece ser o também alemão Robert Schumann (1810-1856), especialmente em aspectos rítmicos e nas obras compostas de várias miniaturas pianísticas em sequência.

Harmonicamente, porém, a linguagem tonal expandida de Langgaard está mais próxima daquela que utilizavam, no início do século XX, os grandes pianistas-compositores Alexander Scriabin (1872-1915) e Ferruccio Busoni (1866-1924). Ainda assim, a influência do piano de Schumann parece predominar, e falo aqui apenas da música para piano, pois Langgaard compôs 16 sinfonias que pouca gente ouviu, e ainda uma “Música das Esferas” para coro e orquestra. Esta última (Sfærernes Musik), estreada na Alemanha em 1921 e esquecida pouco depois, foi redescoberta em 1968 pelo compositor György Ligeti, então no auge de sua fama como vanguardista inovador. Impressionado com o fato de que várias técnicas da sua própria música microtonal tinham sido utilizadas por Langgaard 50 anos antes, Ligeti disse: “Então, sou um seguidor de Langgaard”. E foi assim que, 16 anos depois de sua morte, o organista da pequena cidade de Ribe (8 mil habitantes) tornou-se um dos grandes compositores dinamarqueses, talvez hoje o segundo mais famoso depois de Carl Nielsen.

Assim como o fazia Schumann, Langgaard nomeou suas obras para piano com títulos poéticos e bastante românticos, como Vanvidsfantasi (Imaginação insana) ou Hél-Sfærernes Musik (Música das esferas do inferno, composta 30 anos após a outra obra orquestral que seria apreciada por Ligeti).

No caso dos Gitanjali-Hymner, Gitanjali – que em Bengali significa “Oferenda Lírica” – é uma coleção de poemas publicados em 1910 pelo poeta indiano Rabindranath Tagore, Prêmio Nobel de Literatura de 1913. Também foi Tagore quem deu a Gandhi o apelido Mahatma (“grande alma” em sânscrito), que muitos hoje supõem ter sido seu nome de batismo. Os títulos dos movimentos dessa obra de Langgaard, como “canção distante” e “silêncio de verão”, são inspirados no poeta indiano.

Rued Langgaard (1893-1952): Gitanjali-Hymner, Fantasi-Sonate, etc.

1-10. Gitanjali-Hymner, efter Tagore [Hinos de Gitanjali, por Tagore] (1918-1920)
I. Din Musiks Glands [Luz da música]
II. Himlen sukker [Estrondos do céu]
III. Den fjerne Sang [Canção Distante]
IV. Sejlfærd [Navegando à vela]
V. Sommerhvisken [Silêncio de verão]
VI. Himmel-Ensomhed [Solidão do céu]
VII. Den hvileløse Vind [Vento sem repouso]
VIII. Tavshedens Hav [O Mar do Silêncio]
IX. Regnfulde Blade [Chuva de folhas]
X. Gyldne Strømme [Córregos Dourados]

11. Fantasi-Sonate [Sonata-Fantasia] (1916)
Molto agitato e con passione

Langgaard tocou órgão desde jovem

12. Nat paa Sundet [Noite sobre o som] (1907)

13. Hél-Sfærernes Musik [Música das esferas do inferno] (1948) Mouvement unique : Efterhaanden vanvittigt Tempo

14-16. Vanvidsfantasi [Fantasia insana] (1914-16, rev. 1947-49)
I. Vanvidsefteraarsnat, II.Efteraarsengel, III. Vanvidsgang

Berit Johansen Tange, piano

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Catedral de Ribe, edifício medieval e provavelmente o mais alto da cidade

Pleyel

Boris Tishchenko (1939-2010): Sinfonia Nº 7 (Yablonsky / Moscow Philharmonic)

Boris Tishchenko (1939-2010): Sinfonia Nº 7 (Yablonsky / Moscow Philharmonic)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

(impossível ouvir o segundo e o quinto movimentos sem sorrir)

Boris Tishchenko morreu recentemente (2010). Conhecido e respeitado na Rússia, mas basicamente desconhecido no resto do mundo. Ele foi muito requisitado no ocidente para falar sobre seu mestre Dmitri Shostakovich, com que teve uma relação pai-filho. Além disso, a música de Boris Tishchenko não soa muito distante do mundo shostakovichiano: som tonal, militarizado e muitas vezes prolixo. Numa audição superficial, a música de Boris Tishchenko não atrai. Talvez por isso, no primeiro momento, não concentrei toda minha atenção em sua música, ouvia as suas imensas sinfonias enquanto lia algum livro. Hábito que não costumo ter. Mas, de repente, um milagre aconteceu.

Eu era um leitor voraz de romances, prática que ultimamente não me agrada tanto. Talvez pelo fato de ficar muito mais impressionado com a realidade das biografias e dos livros de história. Mas claro que quando eu me pergunto “por que este homem fez isso?”, a chave quase sempre é dada por um bom romancista. Por isso a leitura de Berlin Alexanderplatz de Doblin era crucial para entender o homem alemão dos anos 1920. Claro que o livro é muito mais que isso, mas não vou seguir adiante em questões literárias…Minha principal surpresa, além de vivenciar os descaminhos da personagem principal, foi ter conhecido a sinfonia n.7 de Boris Tishchenko enquanto lia esse livro. Essa sinfonia é a trilha sonora perfeita, pois todo o ambiente, personagens e fatos narrados no livro ganharam muito mais viço. Minha recomendação é que todos pudessem vivenciar esta experiência emocionante, mas é óbvio que a música sobrevive sem o livro.

Boris Tishchenko (1939-2010): Sinfonia 7 (Yablonsky / Moscow Philharmonic)

1. Symphony No. 7, Op. 119: Movement I
2. Symphony No. 7, Op. 119: Movement II
3. Symphony No. 7, Op. 119: Movement III
4. Symphony No. 7, Op. 119: Movement IV
5. Symphony No. 7, Op. 119: Movement V

Moscow Philharmonic Orchestra
Conduzido por Dmitry Yablonsky

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Boris Tishchenko: sexy sem ser vulgar.

cdf

Haydn (1732-1809) • Beethoven (1770-1828) • Mozart (1756-1791): Sonatas para Piano – Rafal Blechacz ֎

Haydn (1732-1809) • Beethoven (1770-1828) • Mozart (1756-1791): Sonatas para Piano – Rafal Blechacz ֎

Haydn • Beethoven

Mozart

Sonatas para Piano

Rafal Blechacz, piano

 

O disco desta postagem já apareceu PQP Bach em 27 de fevereiro de 2013. Foram duas as postagens feitas naquele dia, segundo palavras do Presidente-Diretor, o próprio PQP Bach, autor da postagem de então. Ele gostou do disco, confiram lá!

Rafal Blechacz, pianista do dia…

De qualquer forma, os links não estão mais ativos, há muito sumidos com o vanished rapidshare. Como gostei bastante, tratei de dedicar-lhe nova postagem, que aqui vai.

Ele reúne três sonatas para piano de três compositores clássicos, que viveram partes de suas vidas em Viena e, de certa forma, se conheceram bem uns aos outros, apesar de Beethoven e Mozart terem se encontrado pessoalmente muito brevemente.

As sonatas são representantes do gênero clássico e trazem características deste período, mas as similaridades acabam por aqui. Elas foram compostas em momentos totalmente diferentes nas carreiras de cada um deles e cada uma delas revela em parte as personalidades de seus criadores, que não poderiam ser mais diferentes.

A Sonata em mi bemol maior, Hob. XVI: 52 (Hoboken), também conhecida pela numeração L. 62 (Landon), é a última sonata para piano composta por Haydn, em 1794, no seu último período criativo. Ele estava no auge da fama, já aposentado dos serviços à família Esterházy, viajando para Londres a convite do empresário J.P. Salomon. A sonata foi dedicada à pianista inglesa Therese Jansen, de quem foi padrinho de casamento e a quem dedicou os Trios com Piano Hob. XV: 27-29.

Esta é possivelmente a sonata mais conhecida de Haydn e merece a fama. As características de bom humor e ótimo gosto estão presentes e eu fiquei muito impressionado com a transição do segundo (Adagio) para o terceiro movimento (Presto) nesta interpretação do Rafal Blechacz, em geral mais identificado com o repertório romântico, como a música de Chopin.

A Sonata em lá maior, op. 2, 2 faz parte do primeiro grupo de sonatas para piano que Beethoven publicou e foi dedicada a Haydn, de quem Beethoven foi ‘aluno’. Apesar do baixo número de opus, ela foi composta em 1796, quando Beethoven tinha 26 anos e algumas sonatas para piano em seu portfólio. É bom lembrar também que Beethoven oscilou, no início de sua carreira, entre intérprete e compositor. Naqueles dias sua fama recaia principalmente em seus talentos como improvisador. A sua sonata já se distingue das demais no disco por ter quatro movimentos, sonata grande, com um brincalhão scherzo seguindo o Largo appassionato, Beethoven sempre quebrando o clima, e é arrematada por um gracioso rondó.

A última sonata do disco é a mais antiga delas, Sonata em ré maior, K. 311, composta por Mozart em 1777 em sua estada em Augsburg e Mannheim, no caminho de Paris. Ela foi publicada lá, em conjunto com as Sonatas K. 309 e 310 e são de um período intermediário do compositor. O primeiro movimento é o que eu considero um exemplo de música líquida, devido à sua fluidez, especialmente na interpretação de Rafal Blechacz. Com sua elusiva simplicidade, é uma típica obra de Mozart – que nos conquista sem que saibamos por que, basta ouvir e sorrir.

Joseph Haydn (1732 – 1809)

Sonata para Piano em mi bemol maior, Hob. XVI:52
  1. Allegro (Moderato)
  2. Adagio
  3. Presto

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Sonata para Piano em lá maior, Op. 2 No. 2
  1. Allegro vivace
  2. Largo appassionato
  3. Allegretto
  4. Grazioso

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Sonata para Piano em ré maior, K. 311
  1. Allegro con spirito
  2. Andantino con espressione
  3. Allegro

Rafal Blechacz, piano

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MP3 | 320 KBPS | 139 MB

Rafał Blechacz has been named the 2014 PQP Bach Artist…

Textural transparency, expressive economy, creative inspiration, high humour and strategically placed silences characterise these three Haydn, Beethoven and Mozart sonatas, as well as Rafal Blechacz’s splendid, beautifully recorded interpretations. […] . In short, Blechacz’s third solo release (his second for DG) is by far his strongest yet.

Aproveite!

René Denon

PS: Se você gostou desta postagem, poderá se interessar por estas outras.

Aqui, sonatas de Beethoven intercaladas com sonatas de Beethoven…

Haydn (1732-1809) & Beethoven (1770-1827): Sonatas para Piano – Olivier Cavé #BTHVN250

Aqui, uma excelente opção para as três sonatas do Opus 2 de Beethoven:

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Três sonatas para piano, Op. 2 – Perahia

Nas duas a seguir, Sonatas de Haydn, incluindo as três últimas:

Joseph Haydn (1732 – 1809): Sonatas para Piano – Paul Lewis, piano (2021) ֍

Haydn (1732-1809): Sonatas para Piano – Paul Lewis

Para arrematar, uma opção interessante para algumas sonatas de Mozart (parte de um integral) incluindo as Sonatas K. 309-311:

Mozart (1756 – 1791): Sonatas para Piano – Klára Würtz – 2/3 ֎

.: interlúdio :. Tigran Hamasyan + Areni Agbabian

Não gosto de começar uma resenha de música pelas credenciais do protagonista; parece um apelo à autoridade, um canetaço ineficaz (adianta carteirinha de virtuose se a obra não fala por si?), e um habeas corpus preventivo da resenhista em questão. Mas vejam bem, por favor me permitam notar, que o pequeno Tigran tocou piano em um palco pela primeira vez aos TRÊS ANOS de idade. Não, não sei qual palco, nem de que tamanho, nem se tocou Mozart ou a versão local de Atirei o pau no gato; não especificaram. De toda forma, em 2006 ele conquistou o 1º lugar no prêmio do Thelonious Monk Institute of Jazz, então taí a prova de que aquele talento infantil floresceu e se concretizou. (Se é que prêmio prova alguma coisa. Não, não sei se o instituto de jazz é quente, mas sob o nome do Monk, vale botar fé; ainda que confusamente tenha sido renomeado pra Herbie Hancock Institute of Jazz em 2019. Achei deselegante. Nada contra o Hancock, mas… enfim, essa é outra conversa.)

Hamasyan foi pra escola de jazz aos 9, e continuou os estudos de música na adolescência, quando sua família se mudou para a Califórnia. Mais tarde, retornou à Armênia, e fixou residência em Yerevan. Esse movimento é claro em sua música, que não somente tem influência do jazz west coast americano (e do prog rock), mas também da tradição do folk armênio, incorporando suas escalas e tonalidades. Da mais de dezena de álbuns lançados desde 2006, Shadow Theater, seu segundo para a Verve, é o que mais permanece comigo; em especial pela faixa abaixo, “The Poet”, uma deliciosa e sensível jornada de sofisticado jazz-pop que gruda no ouvido e narra melancolicamente noites tristes e solitárias.

Mas não fica por isso; Tigran demonstra um vocabulário bastante variado, que vai de momentos jazz-trio tradicional e baladas neoclássicas a composições sincopadas que remetem ao zeuhl, como “Alternative Universe”, também nesse álbum. Mas é só dar uma pesquisada no youtube pra perceber que, enquanto bom jazzista, o bicho brilha mesmo é ao vivo — como nessa versão de solos empolgantes da faixa acima, e que bate nos 20 minutos. Outro ponto forte desse álbum é a banda que lhe acompanha, e chama a atenção imediatamente o etéreo canto feminino que divide os vocais.

Não fui só eu que notei; depois de gravar e fazer tournées com Hamasyan, e lançar um disco independente, a sempre antenada ECM foi lá e pescou Areni Agbabian. A americana, que segue a carreira de seu pai, um folclorista armênio, desenvolve sua música calcada na linguagem musical de seus ancestrais, também tomando o piano como instrumento principal, complementando sua voz. O resultado surgiu em Bloom, de 2019; um álbum de canções leves, esparsas, de qualidade quase espectral. “Sereno e surreal na mesma medida“, como bem definiu a AllAboutJazz. Tendo a seu lado um percussionista, que se mantém respeitosamente tímido e, de forma brilhante, se contenta em meramente pontuar e acentuar os devaneios sonoros de Areni, o disco se revela frágil, intimista, e definitivamente belo. Mas não apenas; entre as canções, pequenas vinhetas visitam o avant-garde e trazem experimentações cinemáticas e desconcertantes, demonstrando a curiosidade e as pretensões da jovem artista.

Tigran Hamasyan – Shadow Theater (2013). Aqui.
Areni Agbabian – Bloom (2019). Aqui.

— Blue Dog
bjinos pro Caxo pela dica do Tigran~

J. S. Bach (1685-1750): Transcrições – Gordon Fergus-Thompson, piano ֎

J. S. Bach (1685-1750): Transcrições – Gordon Fergus-Thompson, piano ֎

 

Bach

Transcrições

Gordon Fergus-Thompson

 

 

Traduttore – traditore, diria Umberto Eco, um autor largamente traduzido e um tradutor extremamente prolífico. Quando alguém traduz, precisa inventar, recriar, e, portanto, trair. Mas não fossem as traduções, quantas obras-primas ficariam restritas aos seus espaços culturais de origem? Não resisto a fazer um paralelo entre a literatura e a música e, guardadas as devidas proporções, o mesmo ocorreu com Johann Sebastian Bach.

Fico imaginando a avidez com que ele deve ter devorado as partituras de músicas italianas e francesas – Vivaldi e tantos outros – levadas pelo príncipe Johann Ernst, sobrinho do Duque de Saxe-Weimar, para esta corte, em sua visita por lá, por volta de 1713, após viajar pela Bélgica e Holanda.

Bach e seu amigo Telemann seguiam o conceito de imitatio e aemulatio,o princípio da imitação inicial, passando então a um estágio de desenvolvimento que buscava superar a imitação – vide o Concerto Italiano.

Bach começou a copiar as obras italianas e ao mesmo tempo passou a arranja-las, transcrevê-las para os seus próprios instrumentos – o cravo e o órgão.

Isso certamente legitima todos os compositores, maiores e menores, que se debruçaram sobre suas obras e as estudaram e as transcreveram, relendo-as segundo suas próprias perspectivas artísticas e seus próprios talentos. Com isso, as tornaram ainda mais acessíveis e as disponibilizaram para um público maior.

Algumas peças de Bach – a Chaconne da Partita em ré menor para violino eu conheci primeiro na transcrição feita por Ferruccio Busoni, para piano, peça que abre este disco. Algumas transcrições são mais traidoras, assim como esta Chaconne de Busoni, que parece maior, mais tonitruante, do que a peça original, para violino solo. Mas, quem sabe se essa mesma não seria uma transcrição de uma peça ainda mais anterior, para órgão?

Capitão Nemo verificando se a afinação do órgão estava adequada…

Outras guardam mais a singeleza do original, como ocorre nas transcrições feitas por Dame Myra Hess (Jesus, Alegria dos Homens…) e pelo incansável Wilhelm Kempff (Siciliano). Se o seu coração não se derreter com As Ovelhinhas Podem em Segurança Pastar, transcrição de Christopher Le Fleming, pode ir correndo fazer um exame no cardiologista mais próximo, pois que ele se transmutou em pedra.

A Suíte de Rachamaninov, arranjada de três peças da Partita em mi maior, vai surpreender muita gente, que associa este compositor aos arroubos românticos e acordes inalcançáveis.

E para arrematar, imagine o Capitão Nemo, tendo que ficar alguns dias em um porto, sem poder se deliciar com os sons do órgão, esperando uma completa revisão no Nautilus. É claro, ele alugaria um flat com um piano e atacaria a Toccata e Fuga em ré menor, na transgressão de Ferruccio Busoni, assim como está na peça que arremata o disco.

Este é um entre muitos discos com transcrições das obras de Bach para piano que tenho ouvido. Pretendo postar alguns mais, acrescentando mais insultos à esta injúria… O pianista da vez é inglês e bem conhecido por suas gravações das obras de Ravel, Debussy e Scriabin. Ele é atualmente professor do Royal College of Music de Londres.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Transcrições:

Ferruccio Busoni (1866 – 1924)

  1. Chaconne da Partita em ré menor para violino, BWV 1004
  2. Prelúdio Coral BWV645 ‘Wachet auf, ruft uns die Stimme’
  3. Prelúdio Coral BWV659 ‘Nun komm, der Heiden Heiland’
  4. Prelúdio Coral BWV734 ‘Nun freut euch, lieben Christen gmein’
  5. Prelúdio Coral BWV639 ‘Ich ruf’ zu dir, Herr Jesu Christ’

Franz Liszt (1811 – 1886)

Prelúdio e Fuga em lá menor, BWV543
  1. Prelúdio
  2. Fuga

Lord Berners (1883 – 1950)

  1. In Dulci Jubilo, BWV 729

Dame Myra Hess (1890 – 1965)

Cantata BWV147 ‘Herz und Mund und Tat und Leben’
  1. Jesus, Alegria dos Homens

Wilhelm Kempff (1895 – 1991)

Sonata para flauta em mi bemol maior, BWV1031
  1. Siciliano
Christopher Le Fleming chegou atrasado para a foto e o DP de Arte do PQP Bach atacou de Christopher Lee…

Christopher Le Fleming (1908 – 1985)

  1. As Ovelhinhas Podem em Segurança Pastar, da Cantata BWV208

Sergei Rachmaninov (1873 – 1943)

Suíte da Partita em mi maior para violino, BWV1006
  1. Preludio
  2. Gavotte
  3. Gigue

Ferruccio Busoni

Toccata e Fuga em ré menor, BWV565
  1. Toccata e Fuga

Gordon Fergus-Thompson, piano

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Gordon Fergus-Thompson no Salão de Pianos do PQP Bach
Lord Berners mostrando para a equipe do PQP Bach o piano no qual fez sua transcrição…

De todos os transcritores deste disco, de longe, o mais impressionante, não por sua obra, mas por sua excentricidade, é Lord Berners. Como não sou de dar spoiler, espero que você faça o dever de casa e descubra por você mesmo…

Aproveite!

René Denon

Alexander Scriabin (1871-1915): Prelúdios, Poemas, Polonaise (Lisitsa, piano)

No release de imprensa da pianista ucraniana consta o seguinte: Valentina Lisitsa é não só a primeira “Youtube Star” da música clássica; sobretudo, ela é a primeira artista clássica que converteu seu sucesso na internet em uma carreira de concertista nas principais salas da Europa, América do Norte e do Sul e Ásia.

Seu repertório é imenso: já gravou todas as sonatas de Beethoven, todos os concertos de Rachmaninoff, toda a obra de Tchaikovsky para piano… E neste ano de 2022 ela já lançou, por sua nova gravadora, três discos: Scriabin, Ravel/Rach, Chopin.

Neste disco dedicado a Scriabin, Lisitsa passou longe das obras mais conhecidas: nenhuma sonata e nenhum estudo. Ao invés disso, ela escolheu os Prelúdios e Poemas, mas mesmo o poema mais famoso (Op.32 nº 1, favorito de Horowitz e Freire), ela não tocou. Ou seja, um programa raro, cheio de surpresas.

O Scriabin de Lisitsa tem um certo peso, densidade emocional e andamentos pendendo para o lento, o que a coloca em uma tradição de intérpretes russos como Sokolov, Richter, Gilels… Nos prelúdios, por exemplo, esses andamentos se traduzem em uma música muito diferente da de Gieseking (aqui), que gravou os Prelúdios opus 11 com um pianismo suave, apressado e despreocupado, com resultados excepcionais. Aqui com Lisitsa é um Scriabin mais próximo dos acordes de Rachmaninof: batendo como poderosos sinos de igreja.

E aqui – ao contrário de suas gravações completas de Beethoven e Tchaikovsky – Valentina Lisitsa não faz todos os prelúdios, ela cria seu recital escolhendo a dedo os prelúdios e poemas que lhe interessam, como também o faziam Sofronitsky (genro de Scriabin), Horowitz e provavelmente a maioria dos pianistas da época do compositor. Basta lembrarmos que os Prelúdios de Debussy foram sendo estreados em grupos de quatro ou três… (Livro I: Nº 1, 2, 10, 11 por Debussy, 25/5/1910. Nº 5, 8, 9 por Ricardo Viñes, 14/1/1911. Nº 3, 4, 6, 12 por Debussy, 29/3/1911)

Alexander Scriabin (1871-1915): Prelúdios, Poemas, Polonaise

1. 3 Pieces, Op. 2: Prelude No. 2 in B Major 1:06
2. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 2 in A Minor 2:24
3. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 4 in E Minor 2:32
4. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 5 in D Major 1:37
5. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 10 in C-Sharp Minor 1:18
6. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 14 in E-Flat Minor 0:49
7. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 15 in D-Flat Major 2:38
8. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 16 in B-Flat Minor 2:02
9. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 20 in C Minor 1:14
10. 4 Preludes, Op. 22: Prelude No. 1 in G-Sharp Minor 1:44
11. 2 Preludes, Op. 27: Prelude No. 1 in G Minor 1:54
12. 3 Preludes, Op. 35: Prelude No. 2 in B-Flat Major 3:40
13. Poème satanique, Op. 36 4:44
14. Prelude and Nocturne for the Left Hand, Op. 9: No. 1, Prelude 3:32
15. Poème, Op. 41 4:23
16. Polonaise in B-Flat Minor, Op. 21 5:59
17. 2 Dances, Op. 73: Flammes sombres 1:53
18. Poème tragique, Op. 34 2:54

Valentina Lisitsa, piano

PS: normalmente gosto de inserir a data da gravação. Neste caso, tenho minhas dúvidas se a gravação é posterior a seu contrato com a Naïve ou se remonta a 2015, quando Lisitsa tocou e gravou muito Scriabin quando do seu centenário de morte. Talvez tenha ficado na gaveta.
PS2: cuidado com a ordem das faixas 15 e 16, em alguns sites o Poema op.41 foi listado como Polonaise e vice-versa.

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Alexander Scriabin por Leonid Osipovic Pasternak (1909)

O autor do Poema do Êxtase não deve nada à escola nacionalista russa, aos “Cinco” [grupo que incluía Mussorgsky e Rimsky-Korsakov]; ele aparece à primeira vista, por seu vocabulário sonoro, como um europeu. É a falha percebida por alguns críticos, que buscam exositmo. Ora, exótico ele é, mas em um outro plano: este europeu refinado ataca as próprias bases da cultura estética ocidental. O “extatismo”, a exaltação mística, o entusiasmo heróico dessa alma bêbada são a negação mesma do espírito realista, do espírito de ordem, de medida e de compromisso ao qual se aspira em Europa…
(trecho de artigo de 1925 do escritor Boris Schlœzer, russo emigrado para a França)

Pleyel

Janacek (1854-1928), Haas (1899-1944), Szymanowski (1882-1937): Quartetos de Cordas arranjados para Orquestra de Câmara (Australian Chamber Orch / Tognetti)

Janacek (1854-1928), Haas (1899-1944), Szymanowski (1882-1937): Quartetos de Cordas arranjados para Orquestra de Câmara (Australian Chamber Orch / Tognetti)

O que liga Tolstói, Beethoven, um violinista virtuoso e uma mulher checa jovem, linda e casada? Ora, a inspiração para os quartetos de cordas do idoso Janacek. Este é um bonito disco do pessoal da Australian Chamber Orchestra. Tenho especialíssima predileção pelo Quarteto Nº 1 de Janacek e o arranjo para orquestra de câmara me satisfaz inteiramente. Menos conhecido, o Sr. Pavel Haas apresenta excelente e nada tímida música. Haas foi assassinado durante o Holocausto judeu da Segunda Guerra. E daí chega Szymanowski com, na minha humilde opinião, a peça mais fraca do disco. Ou será que a expressividade extrema de Janacek e Haas não teriam me preparado para a classe de mestre Szy, a qual normalmente aprecio? Fica a pergunta.

String Quartets arranged for String Orchestra

Leos Janacek (1854-1928)
String Quartet No. 1 ‘Kreutzer Sonata’ 19:19
1 I Adagio 4:07
2 II Con moto 4:36
3 III Con moto 4:34
4 IV Adagio con moto 5:49

Pavel Haas (1899-1944)
String Quartet No. 2, Op. 7 ‘From the Monkey Mountains’ 32:48
5 I Landscape 10:19
6 II Cart, Driver and Horse 4:53
7 III The Moon and I 8:50
8 IV A Wild Night 8:29

Karol Maciej Szymanowski (1882-1937)
String Quartet No. 2, Op. 56 19:17
9 I Moderato, dolce e tranquillo 8:27
10 II Vivace, scherzando 4:54
11 III Lento 5:48

Australian Chamber Orchestra
Richard Tognetti

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Olha aí o pessoal da Australian Chamber Orchestra
Olha aí o pessoal da Australian Chamber Orchestra

PQP

W. A. Mozart (1756-1791) – Concertos para Clarinete e Oboé (Hogwood, Pay, Piguet)

Essa postagem é lá de 2007, nos primórdios do PQPBach, quinze anos se passaram, muita água passou por baixo da ponte, estamos mais velhos, com cabelos brancos já quase dominando nossas cabeças,  mas continuamos firmes e fortes com o propósito de trazer boa música para os senhores.

Esse disco traz uma das melhores gravações já realizadas do maravilhoso Concerto para Clarinete de Mozart, nas mãos competentíssimas de Antony Pay, acompanhado pela excelente orquestra dirigida por Christopher Hogwood, lá no seu auge, em meados da década de 80, a Academy of Ancient Music.  De quebra ainda temos outra obra prima mozartiana, o Concerto para Oboé, que tem como solista Miguel Piguet. Lembro que sempre que saía um disco dessa série do Hoogwood me desdobrava para conseguir o dinheiro para comprar. Não era fácil. Tinhamos duas excelentes lojas de disco em Florianópolis na época, e quando lá chegávamos o gerente, que já nos conhecia, vinha mostrar as novidades. Bons tempos. Vacas magras, é verdade. Minha mãe brigava comigo pois gastava o dinheiro que ganhava comprando discos e livros.

Mas vamos de Mozart novamente, nunca é demais, não concordam?

1. Clarinet Concerto In A Major, K622: I Allegro
2. Clarinet Concerto In A Major, K622: II Adagio
3. Clarinet Concerto In A Major, K622: III Rondo: Allegro

Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Academy of Ancient Music (UK)
with Antony Pay
Conducted by Christopher Hogwood

4. Oboe Concerto In C Major, K314: I Allegro aperto
5. Oboe Concerto In C Major, K314: II Adagio non troppo
6. Oboe Concerto In C Major, K314: III Rondo: Allegretto

Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Academy of Ancient Music (UK)
with Michel Piguet
Conducted by Christopher Hogwood

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FDP

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Concertos nº4, op. 58 e op. 61a – Nino Gvetadze, Phion, Orchestra of Gelderland & Overijssel, Benjamin Levy

Graças a internet temos acesso a CDs que nos apresentam instrumentistas que raramente entram no mainstream tradicional. É para se ouvir com atenção a performance de Nino Gvetadze encarando Beethoven. Podemos identificar uma instrumentista madura, focada e muito concentrada.
A moça foi ousada no repertório de CD interpretando duas obras de fôlego de Beethoven, além do Quarto Concerto também temos a versão para piano do op. 61, o maravilhoso Concerto para Violino, transcrito pelo próprio Beethoven para Piano, apesar de ser uma obra que soe meio estranha, acostumados que estamos com a obra para violino, principalmente sua bizarra cadenza com tímpanos. Maiores informações sobre essa obra aqui. 

O belíssimo Concerto de nº 4 é meio que desprezado no repertório tradicional, o que é uma pena. Além de belíssimo também é altamente revolucionário em sua estrutura. Lembro que demorei para ter uma gravação dele, nem lembro qual foi a primeira, provavelmente Arthur Rubinstein em uma fita cassete.

Não é a estréia de Nino Gvetadze aqui no PQPBach. Ela já apareceu aqui, em postagem do colega René Denon, que está sempre em busca de novidades.

Em seu site oficial encontramos estes dois comentários da imprensa européia:

Gvetadze makes her grand piano whisper and sing and let the rich colorite of the music shine beautifully. With her refined touch, she manages to touch the nocturnal, dreamy atmosphere” Het Parool, The Netherlands

It is clear: Nino Gvetadze is a pianist to discover!” Radio Klara, Belgium

Abaixo, algumas informações sobre a solista, tiradas de seu próprio site:

Born and raised in Tbilisi, Georgian pianist Nino Gvetadze leads an active international music life as a soloist and a chamber musician. Her performances have been praised by many critics throughout the Europe and Asia. Nino received various awards, the most important were the Second Prize, Press Prize and Audience Award at the International Franz Liszt Piano Competition 2008. She became the winner of prestigious Borletti-Buitoni Trust Award in 2010.
Nino Gvetadze has performed with many outstanding conductors such as Michel Plasson, Yannick Nézet-Séguin, Michel Tabachnik, John Axelrod and Jaap van Zweden and with orchestras such as the Rotterdam, Brussels, Warsaw, Seoul and Netherlands Philharmonic, Bergische and the Rheinische Philharmonie, Münchner Symphoniker, North Netherlands  and Residentie  Orchestra amongst others. She toured with the Mahler Chamber Orchestra, Kammerakademie Potsdam, Netherlands Youth Orchestra and Amsterdam Sinfonietta.”

Belíssimo currículo, não acham?

Com relação a Orquestra, por mim também desconhecida, encontrei estas informações:

“Phion, Orchestra of Gelderland & Overijssel, is the product of a merger in 2019 between The Arnhem Philharmonic Orchestra and the Netherlands Symphony Orchestra. The Arnhem Philharmonic Orchestra has roots dating back to 1889. Over recent decades, the orchestra was led by chief conductors Roberto Benzi, Lawrence Renes, Martin Sieghart and Antonello Manacorda. Under conductors including Martin Sieghart and Antonello Manacorda, it recorded several CDs with works by Mahler, Schubert and Brahms, among other composers.”

O maestro aqui é Benjamin Levy, que administra a performance com eficiência e competência. Espero que apreciem, afinal de contas temos obras de Beethoven por aqui, ora bolas, e lembro que o compositor tinha laços familiares na Holanda. Então ele praticamente está em casa.

01. Piano Concerto No. 4, Op. 58- I. Allegro moderato
02. Piano Concerto No. 4, Op. 58- II. Andante con moto
03. Piano Concerto No. 4, Op. 58- III. Rondo. Vivace
04. Piano Concerto, Op. 61a- I. Allegro ma non troppo
05. Piano Concerto, Op. 61a- II. Larghetto
06. Piano Concerto, Op. 61a- III. Rondo

Nino Gvetadze – Piano

Phion, Orchestra of Gelderland & Overijssel

Benjamin Levy – Conductor

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Peggy Glanville-Hicks (1912-1990) e Alan Hovhaness (1911-2000): Concertos para piano (Keith Jarrett)

Este é um daqueles álbuns em que o intérprete é mais famoso do que os compositores. Keith Jarrett foi campeão de vendas desde os anos 1970 com seus álbuns de jazz, tanto os improvisos sozinho ao piano como os álbuns com seu trio americano e seu quarteto europeu. Mas ele também gravou Bach, Mozart, Shostakovich e estes dois concertos compostos em meados do século XX.

Glanville-Hicks

Peggy Glanville-Hicks (29 de dezembro de 1912 – 25 de junho de 1990) foi uma compositora australiana. Também foi crítica musical do New York Herald Tribune. Sua ópera Sappho, composta em 1963 para a Ópera de São Francisco, teria Maria Callas cantando o papel-título da poetisa lésbica grega, mas os empresários rejeitaram o projeto de última hora (em nome da moral e bons costumes?)

Seu “Concerto Etrusco”, para piano e orquestra de câmara (1956), para os meus ouvidos alterna entre momentos interessantes e outros que se parecem com trilha sonora de Hollywood, ou seja, meio previsível… Deu mais vontade de ouvir a ópera Sappho, que finalmente foi gravada em 2012, ano do centenário da compositora.

Hovhaness

Muito menos previsível é o Concerto “Lousadzak” (1944) de Hovhaness, nascido em Massachusetts, EUA, em uma família de origem Armênia. A música Armênia e de outras tradições asiáticas é muito iportante na obra de Hovhaness, como se nota já desde o início orquestral do concerto. O piano demora um pouco para entrar e tem vários momentos tocando sozinho com frases repetitivas e hipnóticas, o que Jarrett tira de letra. A harmonia não segue progressões de acordes: são vários trechos modais sobre a mesma base harmônica, mas sempre com novidades.

20th Century concertos (Jarrett, Davies)
Peggy Glanville-Hicks:
Etruscan Concerto
1. Promenade
2. Meditation
3. Scherzo
Keith Jarrett (p) Dennis Russell Davies (dir) Brooklyn Philharmonic, 1992

Alan Hovhaness:
4. Lousadzak (Coming of Light), op. 48
Keith Jarrett (p) Dennis Russell Davies (dir) American Composers Orchestra, 1989

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Keith Jarrett ficou emocionado, e não foi só ele

Pleyel

Johannes Brahms (1833-1897) e Carl Maria von Weber (1786-1826): Clarinet Quintets

Johannes Brahms (1833-1897) e Carl Maria von Weber (1786-1826): Clarinet Quintets


IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma das maiores obras de câmara compostas por um dos maiores compositores de música de câmara de todos os tempos, o Quinteto para Clarinete de Brahms é uma obra que tem repercussão inclusive na literatura brasileira. A autobiografia de Erico Verissimo chama-se Solo de Clarineta por quê? Bem, é óbvio.

A versão de Richard Stoltzman e do Tokyo String Quartet não é para puristas, mas deve ser conhecida, principalmente para quem desconhece esta peça de Brahms.

Weber? Weber era um bom restaurante ao qual minha família costumava ir em Tramandaí nos anos 60 e 70. Minhas papilas gustativas ainda sentem saudades da casquinha de siri perfeita dos caras. (Tá bom, o jocoso minueto do Quinteto do Weber é irresistível…)

Johannes Brahms – Clarinet Quintet in B minor, Op. 115 

1 Allegro
2 Adagio
3 Andantino… Presto non assai, ma con sentimento
4 Con moto

Carl Maria von Weber – Quintet for clarinet & strings in B flat major, J. 182 (Op. 34)
5 No. 1, Allegro
6 No. 2, Fantasia. Adagio
7 No. 3, Menuetto
8 No. 4, Rondo. Allegro giojoso

Richard Stoltzman
Tokyo String Quartet

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Richard Stoltzman: boa abordagem a Brahms
Richard Stoltzman: boa abordagem a Brahms

PQP