Claude Debussy (1862-1918): Nocturnes, La Mer, Images, Jeux, La boîte à joujoux, Épigraphes antiques, Sarabande (Armin Jordan, Orquestras Suisse Romande e de Basel) #DEBUSSY160

Theodor W. Adorno (Frankfurt, 1903–1969) afirma que a música de Debussy é marcada pela desconfiança de que o gesto grandioso usurpa um nível espiritual que depende justamente da ausência de tal gesto.
“A preponderância da sonoridade sensual na assim chamada música impressionista envolve, melancolicamente, dúvidas acerca da inabalável confiança alemã na potência autônoma do espírito.” (Intr. Soc. da Música, p.300)

A obra de Debussy é toda voltada para a contemplação interior, a intimidade, a pureza das frases e o desenrolar das ideias musicais por dez ou vinte minutos, não mais do que isso, em oposição à grandiloquência e exageros da música germânica de Wagner e Bruckner. Assim como muitos colegas de sua geração, ele teve um flerte inicial com as inovações harmônicas de Wagner, mas depois passou a combater a enorme influência wagneriana em toda a Europa do fim do século XIX.

Debussy ao piano no verão de 1893, na casa de campo do seu amigo Chausson, calvo, em pé, virando a página

Ernest Chausson, compositor amigo de Debussy, é outro que passou pelo mesmo processo: no caso dele, a influência de Wagner se faz ainda mais notável em sua música, mas ele escreveu, em 1886: “É preciso de deswagnerizar” (« Il faut se déwagnériser »).

A admiração inicial por Wagner levou os jovens Chausson e Debussy a irem a Bayreuth assistir às óperas do alemão, que faziam enorme sucesso naquela época (ao contrário de Bruckner e Mahler, cujas sinfonias seriam mais celebradas postumamente). E ir a Bayreuth não era, para eles, como ir logo ali na Normandia ou na Bélgica. Hoje o trajeto Paris-Bayreuth dura 8 horas de trem, quase 9 de carro, e certamente os meios de transporte e estradas da época eram bem mais lentos.

Sorte nossa que hoje essas disputas parecem algo muito antigo – enquanto a música soa atual! – de forma que podemos gostar de ambos os lados: ouvir hoje um Fauré e amanhã um Wagner, hoje os prelúdios de Debussy e amanhã as sinfonias gigantescas e devocionais de Bruckner.

Após longos anos de formação e de pouco sucesso, Debussy conseguiu se “deswagnerizar” e teve um primeiro sucesso de público com o Prélude à l’après-midi d’un faune (1894). Em seguida vieram suas duas outras grandes obras-primas orquestrais, Nocturnes (1899, estreias em 1900-1901) e La Mer (1905). Vieram em seguida Images, tendo como peça principal Iberia, certamente inspirada por Albéniz, e finalmente Jeux, partitura para balé que é sua obra mais moderna e de mais difícil apreensão. As outras obras aqui gravadas por Armin Jordan são partituras orquestradas por três pessoas que Debussy conheceu bem. A sarabanda da suíte Pour le piano (1901) foi orquestrada por Ravel. E as duas outras obras, Six épigraphes antiques (Seis epígrafes antigas) e La boîte à joujoux (A caixa de brinquedos), escritas nos últimos anos de vida, Debussy provavelmente tinha a intenção de orquestrar, não sabemos se uma intenção séria interrompida pela doença ou uma intenção assim como quem diz “vou fazer” sem muita convicção. Em todo caso, o que se sabe é que o maestro Ernest Ansermet (1883-1969, fundador da Orchestre de la Suisse Romande) orquestrou as eígrafes, que lembram um pouco as imagens e prelúdios para piano, com referências ao vento, à noite e à chuva. Já o maestro e comporitor André Caplet (1878-1925) orquestrou a caixa de brinquedos, obra de caráter infantil… quem entende um pouco de francês vai entender o diminutivo carinhoso de jouet (brinquedo) comendo a última sílaba, como os franceses o fazem para metrô (métropolitain), dodô (dormir) e restô (restaurant).

Nocturnes é a partitura que Debussy mais retocou após a estreia. Foram vários anos retocando pequenos detalhes aqui e ali, de modo que há mais de uma opção para os maestros escolherem. Quando Ernest Ansermet, em 1917 viu a partitura cheia de mudanças anotadas a caneta e a lápis, ele perguntou ao compositor qual era a versão correta. Debussy respondeu: “Não sei mais, todas são possíveis. Então leve essa partitura e use as que lhe parecerem melhores.” (Fonte: Ernest Ansermet: une vie de musique – Jean-Jacques Langendorf, 2004)

A partitura que a orquestra da Suisse Romande utiliza sob a batuta de Armin Jordan, sem dúvida, é a “versão Ansermet”, ou seja, inclui as mudanças manuscritas que Debussy adicionou nas décadas de 1900 e 1910. O suíço Charles Dutoit, que quando jovem conheceu Ansermet, também parece usar essa mesma versão da partitura em sua gravação com a Orquestra de Montréal. Já outras gravações, como as de Martinon (em Paris), Svetlanov (em Londres) e Haitink (em Amsterdam) utilizam outras versões, mais fiéis à original assinada por Debussy em 1899. Dá pra perceber as diferenças, já desde o clarinete no primeiro compasso do terceiro Noturno, Sirènes (Sereias). Este movimento, ao que parece, foi o que Debussy mais revisou ao longo de vários anos, movido pela enigmática dificuldade de encaixar o som da orquestra e o do coro de mulheres cantando sempre distantes – as sereias na Odisseia, ao contrário da feiticeira Circe e da ninfa Calipso, não encostam em Ulisses, apenas cantam no mar enquanto os gregos navegam.

1897: Debussy em pose relaxada, fumando com Zohra ben Brahim (amante de seu amigo Pierre Louÿs)

Claude Debussy (1862-1918)
1 Nocturnes: No. 1, Nuages (1899)
2 Nocturnes: No. 2, Fêtes (1899)
3 Nocturnes: No. 3, Sirènes (1899)
4 Épigraphes antiques: No. 1, Pour invoquer Pan, dieu du vent d’été (1914) (Orch. Ansermet)
5 Épigraphes antiques: No. 2, Pour un tombeau sans nom (1914) (Orch. Ansermet)
6 Épigraphes antiques: No. 3, Pour que la nuit soit propice (1914) (Orch. Ansermet)
7 Épigraphes antiques: No. 4, Pour la danseuse aux crotales (1914) (Orch. Ansermet)
8 Épigraphes antiques: No. 5, Pour l’Égyptienne (1914) (Orch. Ansermet)
9 Épigraphes antiques: No. 6, Pour remercier la pluie au matin (1914) (Orch. Ansermet)
10 Pour le piano: II. Sarabande (1901) (Orch. Ravel)
11 La boîte à joujoux: I. Prélude. Le sommeil de la boîte (1913) (Orch. Caplet)
12 La boîte à joujoux: II. Le magasin de jouets (1913) (Orch. Caplet)
13 La boîte à joujoux: III. Le champ de ba taille (1913) (Orch. Caplet)
14 La boîte à joujoux: IV. La bergerie à vendre (1913) (Orch. Caplet)
15 La boîte à joujoux: V. Après fortune faite (1913) (Orch. Caplet)
16 La boîte à joujoux: VI. Épilogue (1913) (Orch. Caplet)

Orchestre de la Suisse Romande (1-3)
Sinfonie Orchester Basel (4-16)
Armin Jordan

Claude Debussy (1862-1918)
1 La Mer: I De l’aube à midi sur la mer (1905)
2 La Mer: II. Jeux de vagues (1905)
3 La Mer: III. Dialogue du vent et de la mer (1905)
4 Images pour orchestre, Pt. 1 “Gigues” (1912)
5 Images pour orchestre, Pt. 2 “Ibéria”: I. Par les rues et par les chemins (1912)
6 Images pour orchestre, Pt. 2 “Ibéria”: II. Les Parfums de la nuit (1912)
7 Images pour orchestre, Pt. 2 “Ibéria”: II. Le Matin d’un jour de fête (1912)
8 Images pour orchestre, Pt. 3 “Rondes de printemps” (1912)
9 Jeux (1913)
Orchestre de la Suisse Romande (1-9)
Armin Jordan

BAIXE AQUI – DONWLOAD HERE

As capas dos álbuns originais lançados pela Erato

Pleyel

Hiroshima, ano 77 [Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano no. 1, Op. 15 – Argerich / Dai Fujikura (1977): Concerto para piano no. 4, “Akiko’s Piano” – Hagiwara]

Hiroshima, ano 77 [Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano no. 1, Op. 15 – Argerich / Dai Fujikura (1977): Concerto para piano no. 4, “Akiko’s Piano” – Hagiwara]

O pequeno piano de armário acima, da marca Ellington, foi feito pela Baldwin Piano Company em Cincinatti, nos Estados Unidos. Sua proprietária, uma japonesa de nome Shizuko, emigrou para os Estados Unidos sozinha depois de se formar em uma escola para moças. Isso não era comum no Japão da época, pois a sociedade fortemente patriarcal oferecia poucas oportunidades para que as mulheres pudessem viajar desacompanhadas, quanto mais para um outro país. Shizuko estabeleceu-se na Califórnia e casou-se com Genkichi Kawamoto, um imigrante japonês, em 1922.

Genkichi trabalhava em uma companhia de seguros e tinha o hábito de levar sua esposa, que ele amava muito, em suas viagens pela empresa. O piano foi um presente de Genkichi para ela, e Shizuko logo nele buscou conforto para os longos períodos de solidão e para os desafios de viver numa terra estranha. Em 25 de maio de 1926, algo da solidão dos Kawamoto arrefeceu: nasceu sua primeira filha, no Hospital Japonês de Los Angeles. “Esperamos tanto por ela!”, escreveu Genkichi em seu diário, “Espero que ela seja inteligente. Chamei-a de Akiko”.

O casal Kawamoto haveria de criar a primogênita com muito cuidado, quanto mais num ambiente crescentemente hostil aos japoneses e seus descendentes. Genkichi registrava seu peso e altura a cada poucos dias e anotou todos os sinais de seu crescimento. Em 1929, nasceria seu segundo filho, Nobuhiro. Em 1932, a família retornou ao Japão, que experimentava forte crescimento econômico e, também, vivia sob uma violenta retórica militarista que levara o país, no ano anterior, a invadir a Manchúria e, subsequentemente, a uma expansão imperialista que ocuparia – com muita truculência e a expensas de imenso sofrimento às populações locais – grande parte do Extremo Oriente e do Sudeste Asiático.

Os Kawamoto estabeleceram-se em Hiroshima, onde Akiko começou a frequentar a escola primária. Embora ela tivesse passado seus primeiros anos em um país anglófono, Genkichi e Shizuko fizeram o possível para que sua filha pudesse aprender japonês. Para praticar o idioma, a menina iniciou um diário, que manteria por onze anos e no qual anotaria, entre outras coisas, sua dedicação ao piano Ellington que os pais trouxeram dos Estados Unidos.

Em 1933, a família de Akiko mudou-se para uma casa localizada no Monte Mitaki, a noroeste de Hiroshima. Naquela época, poucas famílias tinham um piano em casa e, porque moravam num lugar remoto, eles pediram ao professor de piano que viesse à casa deles para aulas particulares. Durante a guerra, já nos anos 40, as condições de vida da família pioraram. Os Kawamoto alugaram um cômodo de sua casa para um conhecido, e a falta de espaço e de privacidade tirou-lhes muito da alegria com que celebravam festivais e aniversários. Em 1943, Akiko ingressou no curso de Economia Doméstica da Universidade de Hiroshima, o que a deixou radiante, embora viesse a se aborrecer com o pouco tempo para dedicar-se ao piano: além das exigências acadêmicas, havia aquelas, compulsórias e crescentes, para com os esforços de guerra, que incluíam trabalhar no Hospital do Exército, participar de exercícios antiaéreos e ajudar a cuidar de plantações.


9 de abril de 1944: Papai quer que eu continue meus estudos, mas mamãe, não. Isso me deixa confusa. É trabalho da mulher passar o dia todo preparando comida? Se sim, qual é o propósito da minha vida? Eu não teria tempo para estudar, e isso me deixaria infeliz”


Em 1944, ela começou a se preocupar com a saúde dos pais. Ela passou a tentar comer menos para que seus irmãos pudessem comer mais:


3 de maio de 1944: Minhas medidas do terceiro período: altura 159,1 cm; peso 51,5 kg; busto 73 cm. Estou 0,5 cm mais alta que no ano passado, mas perdi 1,5 kg e meu busto está 3,5 cm menor. Sinto-me mal, mas sou a única a tentar reduzir o arroz”


O trabalho nas plantações consumia todo tempo livre de Akiko, que largou o piano e, também, seu diário, no qual anotou, no final de 1944:


Tenho 19 anos. Sou estudante do segundo ano do Departamento de Economia Doméstica. Um terço ou um quarto da minha vida já passou”


Em 6 de agosto de 1945, o dia tórrido de verão começou como qualquer outra segunda-feira, e a população de Hiroshima, que se deslocava para o trabalho os estudos, pouco se impressionou com as sirenes que anunciaram a chegada de três bombardeiros B-29 sobre aqueles céus sem nuvens. Às 8h15, um clarão como nunca antes fora visto fez-se seguir duma violentíssima explosão, que pulverizou imediatamente vinte mil pessoas, mataria outras quarenta mil nos dias seguintes, e fecharia sua conta macabra em cento e vinte mil mortos nas décadas subsequentes. Akiko estava a poucos quilômetros do hipocentro, trabalhando como estudante mobilizada nos esforços de guerra. Sobreviveu à explosão por estar num prédio que não colapsou, e poucas horas depois começou a voltar a pé para casa. A devastação sem precedentes, que não preservara nem a alicerçagem das construções, deve tê-la impressionado. Como as pontes foram destruídas, ela foi forçada a atravessar o rio a nado. Quando chegou ao sopé do Monte Mitaki e avistou sua casa, sua energia se acabou, e ela não conseguia mais andar.

Shizuko não sabia da situação de Akiko e estava cuidando da casa, que desabou na explosão da bomba atômica. O piano sofrera danos no lado esquerdo e fora cravejado de fragmentos de vidro, mas estava inteiro. Foi quando um vizinho lhe avisou: “Sua filha está ali e não pode se mexer!”. Shizuko então correu para Akiko e a trouxe para casa. A menina parecia ter escapado por pouco da morte, mas logo perdeu a consciência: ela tinha sido exposta a níveis letais da radiação que chovia invisivelmente sobre Hiroshima, enquanto o “cogumelo atômico” gerado pela explosão se dissipava.


Mamãe, eu quero um tomate vermelho…


… implorou Akiko, em suas últimas palavras antes de morrer na manhã seguinte, depois de viver apenas “um terço de sua vida”.

ooOoo

Havia, na época, muitos tomates vermelhos no jardim dos Kawamoto, e, a cada verão depois do de 1945, até o final de seus 103 anos de vida, Shizuko cultivou tomates vermelhos, próximos ao imenso caquizeiro sob o qual sepultou as cinzas de Akiko.

O piano, que perdera aquela que mais o amou, passou grande parte dos sessenta anos seguintes em silêncio.  De vez em quando algumas crianças da vizinhança visitavam Shizuko e o tocavam, mas aos poucos algumas das teclas foram perdendo seu movimento e, por fim, seu som.

Uma menina e um piano, ambos nascidos nos Estados Unidos. Uma perdeu a vida; o outro perdeu o som.

O silêncio do piano Ellington durou até 2005, quando Tomie Futakuchi decidiu restaurá-lo. Ela foi vizinha dos Kawamoto e, quando criança, costumava visitá-los e receber o carinho de Shizuko, que lhe contava histórias sobre Akiko e seu amado amigo musical. Quando a casa da família foi demolida, em 2004, muitas lembranças da jovem, guardadas como tesouros por Shizuko, foram doadas ao Memorial da Paz de Hiroshima. O piano foi legado a Tomie, que, na esperança de que as crianças de Hiroshima pudessem transmitir uma mensagem de paz através do precioso instrumento, chamou o restaurador Hiroshi Sakaibara.

Tomie, Hiroshi e o Ellington, em 2005

O piano foi restaurado com todas as peças originais, e mantido nas condições em que estava imediatamente após o ataque a Hiroshima – incluindo os danos em seu lado esquerdo e os incontáveis pedaços de vidro que nele se incrustaram. Em 6 de agosto de 2005, no sexagésimo aniversário da desgraça, ele foi tocado em público pela primeira vez, e desde então encontra-se em exibição num salão do Parque Memorial da Paz.

A pianista Mami Hagiwara e a Sra. Futakuchi com o piano de Akiko, em seu local de exibição permanente, no Parque Memorial da Paz.

Martha Argerich, nossa Rainha, adora o Japão e não deve ter hesitado sequer um instante para aceitar o convite que a Orquestra Sinfônica de Hiroshima lhe fez para tocar na icônica cidade em 5 de agosto de 2015 – véspera do 70º aniversário do criminoso ataque à sua população. A apresentação da deusa do piano, que incluiu seu tradicional cavalo de batalha – aquele primeiro concerto de Ludwig que ela toca desde sempre -, foi o esperado sucesso, e ela permaneceu na cidade para a sentidas cerimônias do dia seguinte, que culminaram com a tradicional procissão das velas flutuantes que os cidadãos de Hiroshima e os visitantes largam ao sabor da corrente do rio Motoyasu, em memória das vítimas.

A procissão das velas flutuantes passa em frente ao Domo da Bomba Atômica – que abrigava a Exposição Comercial da Prefeitura de Hiroshima e foi o prédio mais próximo do hipocentro a permanecer de pé (foto do autor)

Durante as cerimônias, Martha foi apresentada a Tomie Futakuchi, que lhe contou a história de Akiko e de seu piano, e nossa Rainha, num arroubo de sua impetuosidade tão típica, decidiu fazer uma visita surpresa ao Memorial da Paz no dia seguinte, 7 de agosto, para conhecer e tocar o instrumento.

Martha não sabia disso, mas estava a tocar o piano de Akiko na hora e no dia exatos em que a menina falecera, setenta anos antes.


O encontro entre a estrela mundial do piano e o inestimável instrumento calou fundo no compositor Dai Fujikura, que se pôs imediatamente a compor um concerto, que foi oferecido a Martha e à memória de Akiko. A Rainha ficou muito lisonjeada com a dedicatória e, uma vez mais, aceitou sem titubear um novo convite para tocar em Hiroshima, dessa feita para estrear o concerto de Fujikura com a sinfônica local em agosto de 2020, por ocasião do septuagésimo quinto aniversário da morte de Akiko.

Nas palavras do compositor,


Este concerto muito especial para piano e orquestra, chamado “O Piano de Akiko”, foi escrito e dedicado à Embaixadora da Paz e da Música da Orquestra Sinfônica de Hiroshima, Martha Argerich.
(…)
Embora naturalmente este concerto tenha a ‘música para a paz’ como mensagem principal, eu, como compositor, gosto de concentrar nos pontos de vista pessoais. Sinto que essa visão microscópica, para a partir daí contar sobre assuntos universais, deve ser o caminho a percorrer em minhas composições: a visão de Akiko, uma garota comum de 19 anos que não tinha nenhum poder sobre a política (…) Deve haver histórias semelhantes à dessa garota de 19 anos em todas as guerras da história e em todos os países do mundo. Toda guerra deve ter uma Akiko.
(…)
Neste concerto, faço uso de dois pianos: um é o piano de cauda principal, e outro, o Piano de Akiko, o piano que sobreviveu à bomba atômica, tocado na cadenza do final, ambos pelo solista.

Para expressar um tema tão universal quanto a  ‘música para a paz’, a peça deve retratar o ponto de vista mais pessoal. Acho que esse é o caminho mais poderoso, e só através da Música se pode segui-lo.”


Em agosto de 2020, a pandemia impediu Martha de viajar o Japão. De sua casa na Suíça, ela gravou o vídeo seguinte, em inglês, no qual expressa seus sentimentos acerca da obra que lhe foi dedicada, do honroso convite que lhe foi feito, e de sua desolação por não poder honrá-lo:

O concerto de Fujikura foi, então, estreado na data prevista pela pianista Mami Hagiwara, juntamente com obras de J. S. Bach, Beethoven, Mahler e Penderecki – e a integral de sua première, incluindo a cadenza tocada no piano de Akiko, vocês podem conferir a seguir:

Todos os principais envolvidos na celebração da memória de Akiko Kawamoto – Martha Argerich, Dai Fujikura, Mami Hagiwara e os músicos da Orquestra Sinfônica de Hiroshima – autorizaram generosamente a publicação das gravações dos concertos supracitados em dois álbuns, cuja venda em linha, por período limitado, viu sua renda integralmente revertida para a preservação dos memoriais de Hiroshima e do piano de Akiko. E são essas as gravações, que adquiri na ocasião, que ora compartilho com nossos leitores-ouvintes, no septuagésimo sétimo aniversário do criminoso ataque a Hiroshima, em memória de suas dezenas de milhares de vítimas inocentes.


Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Dó maior, Op. 15
1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondó: Allegro scherzando

Martha Argerich, piano
Hiroshima Symphony Orchestra
Kazuyoshi Akiyama, regência


BIS:
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Das Fantasiestücke para piano, Op. 12
4 – No. 7: Traumes Wirren

Martha Argerich, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Gravado ao vivo na Hiroshima Bunka Gakuen Hall, Hiroshima, Japão, em 5 de agosto de 2015


Dai FUJIKURA (1977)
1 – Concerto para piano e orquestra no. 4, “Akiko’s Piano” (estreia mundial)

Mami Hagiwara, pianos: Steinway & Sons, Hamburgo; e Baldwin, Cincinatti (cadenza, a partir de 16:45)

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Do Quarteto de cordas no. 13 em Si bemol maior, Op. 130
2 – Cavatina: Adagio molto espressivo (arranjo para orquestra de cordas)

Gustav MAHLER (1860-1911)
Kindertotenlieder, para voz e orquestra (1904)
3 –
Nun will die Sonn’ so hell aufgeh’n
4 –
Nun seh’ ich wohl, warum so dunkle Flammen
5 –
Wenn dein Mutterlein
6 –
Oft denk’ ich, sie sind nur ausgegangen!
7 –
In diesem Wetter!

Mihoko Fujimura, mezzo-soprano

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Orquestração de Hideo Saito (1902-1974)
Da Partita no. 2 em Ré menor para violino solo, BWV 1004
8 – Ciaccona

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FAIXA-BÔNUS (não consta no CD original, e foi extraída da transmissão radiofônica do concerto):

Krzysztof Eugeniusz PENDERECKI (1933-2020)
Do Réquiem Polonês (Polskie Requiem):
1 – Ciaccona

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Hiroshima Symphony Orchestra
Tatsuya Shimono, regência

Gravado ao vivo na Hiroshima Bunka Gakuen Hall, Hiroshima, Japão, em 5 e 6 de agosto de 2020


 

Vassily

Chausson (1855-1899): Viviane, Poemas para soprano e para violino / Lekeu (1870-1894): Fantasia, Adagio para cordas / Dukas (1865-1935): Aprendiz de feiticeiro / Debussy (1862-1918): Fantasia para piano, Rapsódia para clarinete, Prélude à l’après-midi d’un faune (Armin Jordan, Orquestras Suisse Romande e Monte-Carlo) #DEBUSSY160

As obras desta e da minha próxima postagem, em gravações por orquestras de países francófonos – Suíça, França, Mônaco – são todas do período que em francês costumam chamar Belle Époque (Bela época). Um período entre a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) e as terríveis duas Guerras Mundiais (a partir de 1914), que retrospectivamente – para as gerações que viveram essas guerras, sem falar na crise de 29 – foi visto como uma era de ouro por gente como Marcel Proust (1871-1922): “os verdadeiros paraísos são os paraísos perdidos”, disse ele, ou seja, a gente só dá valor depois que perde.

Aqui um parêntesis: o economista Thomas Piketty afirma que “todas as sociedades europeias na Belle Époque se caracterizam por uma fortíssima concentração dos patrimônios.” Ou seja, foi uma bela época sobretudo para uma minúscula fração de pessoas que viviam de renda e podiam passar a semana entre várias soirées, salões, óperas e concertos. O 1% mais rico da sociedade detinha 60% do patrimônio na França e quase 70% na Inglaterra, concentração maior do que em meados do século XIX. As bombas da 1ª Guerra e as falências de 1929, entre outros fatores político-econômicos, significariam uma grande destruição de patrimônios dos ricos, com uma redução na concentração de renda ao longo do século XX e a emergência das classes médias, porém a tendência é de novo aumento nessa concentração no nosso século XXI. Se vocês querem saber os motivos, terão de ler as 900 pgs. do livro que Pikkety publicou em 2013: O Capital no Século XXI.

Em todo caso, em termos musicais, a Belle Époque é o período em que surgem grandes obras francesas que até hoje estão no repertório clássico: a Sinfonia com órgão e os concertos de Saint-Saëns, a Sonata para violino de Franck e suas Variações Sinfônicas, o Réquiem de Fauré e seus Quartetos e Quintetos com piano, quase todas as obras de Debussy e as primeiras de Ravel. Além de outros compositores com uma ou duas obras ainda lembradas, como Chausson, Chabrier, Dukas, d’Indy, Boulanger…

Sempre fico feliz quando ouço algum regente que gravou a Fantasia para piano e orquestra de Debussy. Grandes maestros como Haitink, Ansermet, Boulez e Karajan não a gravaram. O próprio Debussy desprezou a obra – na estreia, quando ele ainda era um compositor bem pouco famoso, queriam tocar só um dos três movimentos, de forma que ele se irritou e enfiou a partitura na gaveta – e ela só foi estreada de fato por Alfred Cortot em 1919, um ano após a morte do compositor. Felizmente outros gigantes como Jean Martinon (com Ciccolini) e Ivan Fischer (com Kocsis) gravaram essa obra. Mais recentemente, Barenboim e Argerich. Faço questão de citar esses maestros porque na minha irrelevante opinião essa partitura de 1890 tem, cronologicamente, a primeira das primorosas orquestrações de Debussy, um pouco abaixo do Fauno, de La Mer e Nocturnes, mas no mesmo nível de Jeux, Images e das Danças para harpa e orquestra.

Nesta gravação com Jordan, a Fantasia para piano e orquestra (assim como a Rapsódia para orquestra com clarinete) são muito bem defendidas pela Orquestra da Ópera de Monte-Carlo (Mônaco), orquestra tradicional, que estreou obras de Honegger e de Fauré e foi fundada em 1856 no principado famoso pelas corridas de F1. No Fauno de Debussy, ele está em Genebra com a Orquestra da Suisse Romande (que significa a parte da Suíça que fala francês), orquestra fundada em 1918 pelo maestro Ernest Ansermet, que a dirigiu até 1967. Ansermet conheceu Debussy e suas gravações provavelmente estão entre as mais próximas de como o compositor queria que as obras soassem. E a orquestra Suisse Romande, claro, manteve após Ansermet uma profunda ligação com a obra de Debussy.

Já no poema sinfônico Aprendiz de Feiticeiro (1897), one-hit-wonder de Dukas, Jordan está em Paris com a Nova Orquestra Filarmônica da Radio France. É esse percurso entre Paris, lagos da Suíça e sul da França que Jordan fez quase toda a vida. Nascido em Lausanne (Suíça) em 1932, ele não precisou ir morar nos EUA como dezenas de grandes maestros das duas gerações anteriores (Szell, Reiner, Munch, Toscanini, Monteux). Morreu em 2006, cinco dias após um mal súbito que teve enquanto regia a ópera O Amor das Três Laranjas, de Prokofiev, em Basel (Basileia, Suíça).

Também sempre fico feliz quando encontro alguma gravação de Lekeu, compositor de morte muito precoce, que deixou para a posteridade uma grande sonata para violino, algumas obras orquestrais e  mais alguns esboços. No Adagio para cordas ele mostra sua voz muito característica e melancólica, que conheço bem da sua sonata para violino, estreada por Ysaye em 1893, mesmo ano em que Lekeu contraiu a febre tifóide que o vitimaria no começo do ano seguinte. Na Fantasia sobre temas da região de Angers, no oeste da França, Lekeu começa com fanfarras alegres, mas lá pelo 4º minuto se inicia novamente a melancolia romântica que o aproxima de românticos tardios como Tchaikovsky e Wagner. Ao mesmo tempo que sua personalidade musical é notável, também fica aquele ar de mistério: o que exatamente ele queria dizer, que caminhos tomaria se vivesse mais algumas décadas?

Viviane, de 1882, é uma das primeiras obras de Chausson, muito influenciada por Wagner. A orquestração do Poema do amor e do mar é um pouco mais distante da sonoridade de Wagner, e mais próxima do estilo orquestral de Debussy e de Fauré. O Requiem de Fauré (1988) já tinha sido estreado e o Fauno de Debussy seria estreado no ano seguinte, em 1894. Mas sabendo que Chausson era então amigo de Debussy (depois eles brigariam por causa de uma das várias mulheres por quem Debussy se apaixonou perdidamente) e frequentador dos mesmos salões, podemos imaginar que Chausson tenha ouvido uma versão preliminar do Fauno enquanto ele próprio orquestrava seu Poema em 1893. Há uma versão para tenor e uma para soprano. Aqui, quem canta é a diva Jessye Norman, aos 36 anos de idade. E nas melodias vocais, bem como às vezes na orquestra nos momentos dominados pelas cordas, Chausson retoma com força a sonoridade wagneriana. No Poema para violino e orquestra (1896), ela também alterna entre as polaridades francesa e alemã. É como se Wagner fosse um vício para esses franceses como Chausson, Fauré e Debussy: fugiam dele mas depois voltavam com evidente prazer.

As fotos acima são capas dos discos originais dos anos 1980 e 90. A gravadora francesa Erato, sumida desde 2001, ressurgiu em 2013 como um braço da Warner e lançou esta caixa de Armin Jordan em 2016, caixa da qual selecionamos apenas alguns CDs. Talvez voltemos algum dia com outras raridades de Jordan/Erato: Chabrier, Fauré, Franck…

O jovem Guillaume Lekeu

Ernest Chausson (1855-1899); Guillaume Lekeu (1870-1894)
1 Chausson: Viviane Op. 5 (1882)
2 Chausson: Poème de l’amour et de la mer Op. 19 : I. La fleur des eaux (1893)
3 Chausson: Poème de l’amour et de la mer Op. 19 : II. Interlude (1893)
4 Chausson: Poème de l’amour et de la mer Op. 19 : III. La mort de l’amour (1893)
5 Chausson: Poème pour violon et orchestre Op. 25 (1896)
6 Lekeu: Fantaisie sur deux airs populaires angevins (1892)
7 Lekeu: Adagio pour quatuor d’orchestre, Op. 3 (1891)
Jessye Norman, soprano (2-4)
Jean Moulière, violin (5)
Sinfonieorchester Basel (1)
Orchestre Philharmonique de Monte-Carlo (2-7)
Armin Jordan

Paul Dukas (1865-1935), Claude Debussy (1862-1918)
1 Dukas: L’apprenti sorcier (1897)
2 La procession nocturne, Op. 6 (1910)
3 Debussy: Fantaisie pour piano et orchestre: I. Andante – Allegro (1890)
4 Debussy: Fantaisie pour piano et orchestre: II. Lento e molto espressivo (1890)
5 Debussy: Fantaisie pour piano et orchestre: III. Allegro molto (1890)
6 Debussy: Première rapsodie pour clarinette (1911)
7 Debussy: Prélude a l’après-midi d’un faune (1894)
Anne Queffélec, piano (3-5)
Antony Morf, clarinette (6)
Nouvel Orchestre Philharmonique de Radio France (1)
Orchestre Philharmonique de Monte-Carlo (2-6)
Orchestre de la Suisse Romande (7)
Armin Jordan

DOWNLOAD HERE – BAIXE AQUI

O auditório exclusivo da PQP Corp. em Monaco, que de vez em quando emprestamos para a Orquestra de Monte-Carlo

Pleyel

W. A. Mozart (1756-1791): Apollo et Hyacinthus, K. 38 (Pommer)

W. A. Mozart (1756-1791): Apollo et Hyacinthus, K. 38 (Pommer)

Apollo et Hyacinthus é uma ópera em latim, composta por Wolfgang Amadeus Mozart entre 1766 e 1767 com base no texto de R. Widl. Isto é, ele começou a escrevê-la aos 10 anos de idade e finalizou-a aos 11… Leva o número K. 38. É uma música escrita por um gênio, mas também por uma criança. Ou seja, é apenas bonitinha e sem grandes voos. Ouvi com a atenção e é uma ópera toda perfeitinha e sem graça, certamente retocada por papai — e explorador do filho? — Leopold. Surgiu a pedido da Universidade de Salzburgo, como complemento musical a uma tragédia que seria representada ao final de um curso. Sua estreia foi em 13 de maio de 1767 na Aula Magna da mesma Universidade. É um intermezzo musical dentro do estilo do barroco italiano. É a primeira ópera de Mozart. Tem três atos. Como sugere o nome, é baseada no mito grego de Jacinto e Apolo, contado pelo poeta romano Ovídio em suas Metamorfoses. Rufinus Widl escreveu o libreto em latim.

W. A. Mozart (1756-1791): Apollo et Hyacinthus, K. 38 (Pommer) — Ein Lateinisches Intermedium In Drei Akten Zu Dem Schuldrama “Clementia Croesi”

Actus 1
1 Intrada 2:56
2 Recitativo: Amice! Iam Parata Sunt Omnia 3:20
3 No. 1 Chorus: Numen O Latonium/O Apollo 5:38
4 Recitativo: Heu Me! Periimus 1:45
5 No. 2 Aria: Saepe Terrent Numina 9:02
6 Recitativo: Ah Nate! Vera Poqueris 3:27
7 No. 3 Aria: Iam Pastor Apollo 3:28

Actus 2
8 Recitativo: Amare Numquid Filia 2:20
9 No. 4 Aria: Laetari, Iocari 6:34
10 Recitativo: Rex! De Salute Filii 6:01
11 No. 5 Aria: En! Duos Conspicis 3:11
2-1 Recitativo. Heu! Numen! Ecce! 2:16
2-2 No. 6. Duetto. Discede Crudelis! 7:10

Actus 3
2-3 Recitativo. Non Est – Quis Ergo 2:56
2-4 Aria. Ut Navis In Aequore Luxuriante 7:49
2-5 Recitativo. Quocumque Me Converto 3:07
2-6 No. 8. Duetto. Natus Cadit, Atque Deus 6:07
2-7 Recitativo. Rex! Me Redire Cogit 5:43
2-8 Terzetto. Tandem Post Purbida Fulmina 2:52

Alto Vocals [Apollo, Friend Staying With Oebalus] – Ralf Popken
Alto Vocals [Zephyrus, Confidant Of Hyacinthus] – Axel Köhler
Chorus – Rundfunkchor Leipzig
Conductor – Max Pommer
Lyrics By [Text] – P. Rufinus Widl
Orchestra – Rundfunk-Sinfonieorchester Leipzig*
Soprano Vocals [Melia, His Daughter] – Venceslava Hruba-Freiberger*
Tenor Vocals [Oebalus, King Of Lacedemonia] – John Dickie
Vocals [Discantus] [Hyacinthus, His Son] – Arno Raunig

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Mozart aos oito anos de idade segurando um ninho de pássaro (ele sempre gostou muito de aves), por Johannes Josephus Zaufallij (1733-1810), 1764/65

PQP

César Franck (1822–1890) & Alfred Cortot (1877–1962) – Música para Piano e Arranjos Diversos – He Yue, piano (CD1) & Domenico Codispoti, piano (CD2) ֍

César Franck (1822–1890) & Alfred Cortot (1877–1962) – Música para Piano e Arranjos Diversos – He Yue, piano (CD1) & Domenico Codispoti, piano (CD2) ֍

Os três homens não poderiam ser mais diferentes, nos aspectos e temperamentos… Apesar de cada um ter já um nome firmado como solista de seu próprio instrumento, quando se reuniam formavam um conjunto notável, pela maneira como se completavam musicalmente, recriando com rara espontaneidade as obras para trio com piano. Tanto que seu exemplo ajudou a firmar este tipo de conjunto. Esse famoso trio costumava reunir-se com regularidade para ensaiar, estudar novas peças, mas também para falar de literatura, pintura, dança e, é claro, música. Mas eis que em certa ocasião, lá se foi o violoncelista para sua natal Catalunha por uns tempos, deixando o pianista e o violinista às voltas com sonatas, incluindo a famosa Sonata de César Franck. Pois foi assim, num destes dias, o pianista chegou mais cedo e o violinista atrasou mais do que o costume. O pianista, para não se entediar, começou, de brincadeira, a tocar a sonata TODA. Isso mesmo, não apenas a pouco trivial parte do piano, mas, assim cantando com o teclado, ia incluindo também a parte do violino. Bom, o pianista era um bamba e quando o violinista ouviu um trecho, foi logo prometendo nunca mais se atrasar – pois que senão você fará o recital sozinho, disse ele.

P. Casals, J. Thibaud e A. Cortot

Confesso ter imaginado isso tudo, mas que a história é plausível, ah, isso é. O trio a que me refiro era formado por Alfred Cortot (piano), Jacques Thibaud (violino) e Pablo Casals (violoncelo). O trio foi formado em 1905 e esteve ativo por décadas. Há registros dos três e, também, de Cortot e Thibaud tocando a tal Sonata de César Franck. Mas a postagem de hoje trata principalmente do pianista, regente e arranjador Alfred Cortot.

Como geralmente faço, estava revirando umas pilhas de discos que temos acumulados aqui no vault do PQP Bach Coop. em busca de coisas que goste ou de que possa vir a gostar. Acabei encontrando um disco que apesar de bem interessante, não chegou à postagem. Teve, no entanto, o mérito de indicar este arranjo – transcrição – da Sonata para Violino de César Franck para piano solo, feito por Alfred Cortot. Sai em busca de outras gravações e encontrei mais três discos com a peça. Depois de trocentas audições, dois deles acabaram entrando para a postagem. Eu nem sou assim um ouvinte assíduo das peças de Franck, acho que sua Sinfonia fica muito tempo taxiando antes de decolar e tal. Mas a Sonata para Violino, essa merece lugar de destaque. Minha gravação referência é a feita por Kyung-Wha Chung (violino) e Radu Lupu (piano), mas há muitas outras, excelentes.

No primeiro disco escolhido para a postagem, interpretados pelo ótimo pianista He Yue, encontramos um punhado de transcrições para piano de obras de diversos compositores, feitas por Cortot. As escolhas das fontes revelam dois aspectos das atividades ligadas ao piano. A de professor, que se preocupava com o aspecto técnico. Para ele, a música da Bach era muito importante na formação de um pianista. Esse aspecto está aqui na forma de uma transcrição da Toccata e Fuga em ré menor BWV 565. Imagino se o Capitão Nemo conhecia essa…

Mas Cortot também tinha um olho na audiência. Veja quais dois maravilhosos Lieder ele escolheu para transcrever: Wiegenlied, uma canção de ninar, de Brahms, e Heidenröslein, um dos maiores sucessos de Schubert. O Largo do Concerto em fá menor de Bach também tem uma dessas marcantes melodias, que gruda na memória da gente. Há também os desafios para qualquer pianista, dar conta sozinho de música que foi concebida para conjuntos maiores, como a Suíte Dolly, de Gabriel Fauré, escrita para duo de piano, o Largo da Sonata para Violoncelo de Chopin e a Sonata de César Franck, que completa o disco e foi a motivação para a postagem.

O segundo disco oferece música escrita originalmente apenas por César Franck, incluindo a tal transcrição para piano solo da Sonata para violino e piano feita por Cortot. Aqui uma interpretação um pouco diferente, talvez mais contida do que o virtuosismo do He Yue, mas o som produzido por Domenico Codispoti é muito bonito e não lhe falta virtuosismo e brilho quando chega a hora disso. A outra peça é uma transcrição para piano de um Prelúdio, Fuga e Variações escrito para órgão, feita por Harold Bauer. Bauer é também um ótimo personagem para se descobrir, mas hoje a postagem é do Cortot. Fechando o disco, uma outra peça notável de Franck, o Prelúdio Coral e Fuga, escrito para piano. Esta peça é figurinha carimbada nos álbuns de vários grandes pianistas, como Stephen Hough, Murray Perahia ou Evgeny Kissin. (Não perca, em breve, no seu PQP Bach mais próximo…)

Disco 1

Música transcrita para piano por

Alfred Cortot (1877 – 1962)

escrita originalmente por:

Gabriel Fauré (1893 – 1897)

Suíte Dolly, Op. 56

  1. Berceuse
  2. Mi-a-ou: Allegro vivo
  3. Le jardin de Dolly: Andantino
  4. Kitty-valse: Tempo di valse
  5. Tendresse: Andante
  6. Le pas espagnol: Allegro

Johann Sebastian Bach (1685 -1750)

  1. Toccata e Fugue em ré menor, BWV565

Johannes Brahms (1833 – 1897)

  1. Wiegenlied, Op. 49 No. 4 (Lullaby)

Johann Sebastian Bach (1685 -1750)

Concerto para Cravo em fá menor, BWV 1056:

  1. Largo

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

Sonata para violoncelo em sol menor, Op. 65

  1. Largo

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Heidenröslein, D257

César Franck (1822 – 1890)

Sonata para violino em lá maior

  1. Allegretto ben moderato
  2. Allegro
  3. Recitativo – Fantasia: Ben moderato – molto lento
  4. Allegretto poco mosso

He Yue, piano

Gravação: 27, 28 de outubro de 2012

Music Hall, Gu Lang Yu Piano School, Central Music Conservatory, Xiamen City, China

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC |214 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 143 MB

Legendary pianist Alfred Cortot’s distinguished reputation as an educator is demonstrated in these magnificent arrangements of chamber music for solo piano. They cover every aspect of technique and expression, from Bach’s demanding Toccata and Fugue in D minor to Fauré’s delectable Dolly Suite and the grand scale of Franck’s Violin Sonata. Award-winning pianist He Yue is a young and rising star of the Chinese musical firmament.

Disco 2

César Franck (1822 – 1890)

Sonata para violino em lá maior (Arranjo de Alfred Cortot)

  1. Allegretto ben moderato
  2. Allegro
  3. Recitativo – Fantasia: Ben moderato – molto lento
  4. Allegretto poco mosso

Prelúdio, Fuga e Variações Op. 18 (Arranjo de Harold Bauer)

  1. Prelúdio
  2. Fuga
  3. Variações

Prelúdio, Coral e Fuga

  1. Prelúdio
  2. Coral
  3. Fuga

Domenico Codispoti, piano

Gravação: outubro de 2012

I Musicanti Studio, Roma

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC |201 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 149 MB

This CD contains the CD premiere of the transcription for piano solo of the Franck violin sonata, made by Alfred Cortot, a fascinating pianistic tour de force, the new pianistic textures giving a special sonority to the unique harmonies of this master piece. The Prélude, fugue et variation is originally an organ work, and is transcribed for piano by the famous pianist Harold Bauer. The Prélude, chorale et fugue is Franck’s pianistic pièce de résistance, although also here the influence of Franck the organist is never far away. An excellent new recording by Italian pianist Domenico Codispoti, playing with a beautiful blend of grandeur and intimacy, and a wonderful transparency (listen to the canonic 4-th movement of the violin sonata!).

Aproveite!

René Denon

Alfred testando um piano Pleyel da coleção do PQP Bach…

Claude Debussy (1862-1918): Sonata em Sol menor para Violino e Piano, Sonata em Ré Menor para cello e Piano, Syrinx para flauta solo e Sonata para Flauta, Viola e Harpa (Grumiaux, Gendron, Bourdin) #DEBUSSY160

Este é um CD para ninguém botar defeito – até mesmo para o anti-debussyanos. É um daqueles CDs que fazem bem à alma e à mente. Debussy é sempre bem-vindo em todas as ocasiões. Temos 3 sonatas maravilhosas – bem ao estilo debussyano. As três sonatas são um trabalho de um Debussy já maduro. Elas foram compostas entre os anos de 1915 e 1917 – no período da Primeira Guerra. “Também as três sonatas do seu período final foram construídas segundo princípios inteiramente diversos da sonata clássica vienense, mas por outros motivos. Foram compostas no período da guerra, e Debussy, nacionalista intransigente, rejeitou os princípios da sonata clássica vienense para recuperar a forma cíclica da sonata francesa. As três sonatas (1915-1917), parte de um ciclo que ficou incompleto, para instrumentos diversos, das quais a mais importante é a Sonata para piano e violino, são obras avançadas, com asperezas inéditas em sua música anterior”. Aparecem ainda Syrinx, uma composição para flauta escrita em 1913, de uma beleza sóbria, de uma profundidade comovente. Aprecie sem moderação!

Claude Debussy (1862-1918) – Três Sonatas e Syrinx

Arthur Grumiaux (1921-1986)

Sonata em Sol menor para violino e piano
1. I. Allegro Vivo
2. II. Intermède (Fantasque et Léger)
3. III. Finale (Très Animé)

Sonata em Ré menor para cello e piano
4. I. Prologue (Lent)
5. II. Sérénade (Modérément Animé)
6. III. Finale (Animé)

Syrinx, para flauta
7 . Syrinx

Sonata para flauta, viola e harpa
8. I. Pastorale (Lento, Dolce Rubato)
9. II. Interlude (Tempo di Menuetto)
10. III. Finale (Allegro Moderato ma Resoluto)

Cello – Maurice Gendron (tracks: 4 to 6)
Flauta – Roger Bourdin (tracks: 7 to 10)
Harpa – Annie Challan (tracks: 8 to 10)
Piano – István Hajdu (tracks: 1 to 3) , Jean Françaix (tracks: 4 to 6)
Viola – Colette Lequien (tracks: 8 to 10)
Violino – Arthur Grumiaux (tracks: 1 to 3)
Recorded: 1962 (1-3), 1964 (4-6), 1966 (7-10)

BAIXAR AQUI – DOWNLOAD HERE (mp3 320kbps)

Apoie os bons artistas, compre suas músicas.
Apesar de raramente respondidos, os comentários dos leitores e ouvintes são apreciadíssimos. São nosso combustível.
Comente a postagem!

Carlinus (2010)

Breve P.S. de Pleyel (2022): Doente com câncer, Debussy – ao contrário de Ravel – não se alistou como combatente na guerra em 1914. Mas ele também esteve imerso no clima de nacionalismo do momento, aliás já era muito anterior o seu desprezo pela música de Wagner e de Mahler (ele e seus amigos saíram no meio de uma apresentação da 2ª sinfonia de Mahler, dizendo tratar-se de música de anúncio de pneus). Em 1915, Debussy começou a escrever uma sonata para violoncelo e piano, que deveria ser a primeira de uma série de seis sonatas reunindo diferentes instrumentos. Ele escolheu um título que revela muito bem suas intenções: “Seis Sonatas / para diversos instrumentos / Compostas por Claude Debussy / Músico Francês”.

A sonata para flauta, viola e harpa, também de 1915, foi estreada em 1916 em Boston, EUA, por músicos norte-americanos, e pouco depois em uma reunião privada em Paris na casa de Durand, editor de Debussy. Também foi tocada em Londres em 1917. Durante a guerra era inviável juntar os músicos de uma orquestra, mas a música de câmara seguia acontecendo. (A 2ª Sonata para violino de Fauré e a História do Soldado de Stravinsky são do mesmo ano.)

A sonata para violino e piano, composta em 1917, foi estreada com Gaston Poulet no violino e Claude Debussy no piano. Foi a última vez que ele tocou em público. E as outras três sonatas previstas? Não deu tempo. Debussy faleceu em Paris, 25 de março de 1918 e a guerra ainda não tinha acabado.

Debussy e sua filha em 1915

Exotisme, sonorités pittoresques – Peças para Piano – Ludmilla Guilmault & Jean-Noël Dubois ֍

Exotisme, sonorités pittoresques – Peças para Piano – Ludmilla Guilmault & Jean-Noël Dubois ֍

Diversos Compositores

Peças para Piano a duas ou

a quatro mãos

Ludmilla Guilmault

Jean-Noël Dubois

 

Este disco está a um passo de ser um disco de gatinhos. Para quem teve o privilégio de viver o suficiente sabe que havia discos de (capas com) gatinhos, recheados com os melhores movimentos de música ‘clássica’, retirados do acervo (monumental) da gravadora Philips.

É claro que o resultado costumava ser uma coleção, uma antologia com os melhores momentos, mas que assim reunidos poderia resultar de uma Dança do Sabre, de Katchaturian, surgir após a Ária da Suíte Orquestral No. 3, de Bach… e ainda, a tal endiabrada dança dos furiosos guerreiros anteceder o (possivelmente) mais famoso movimento de uma Suíte Francesa – Clair de Lune, de Debussy. Mas os discos de gatinhos vendiam muito bem e levaram as sementes da música clássica para muitos futuros apreciadores.

Aqui temos assim uma coleção de ‘melhores momentos’, mas com um repertório que guarda uma maior afinidade, girando em torno de peças de música francesa ou próxima, para piano a duas ou a quatro mãos. Os dois intérpretes, Ludmilla Guilmault e Jean-Noël Dubois intercalam-se nos solos e eventualmente se juntam em algumas das faixas.

Este disco reúne peças de compositores de grande renome com peças brilhantes de compositores menos conhecidos e me surpreendeu pela sua contagiante amabilidade e alegria. Minha simpatia foi totalmente conquistada pelas duas peças de Séverac, que ocupam as faixas dois e três. Essas duas peças interpretadas a quatro mãos revelam lindas sonoridades e um frescor contagiante.

Assim, sem qualquer pudor de esbanjar alegria, o disco desfila peças de Debussy – alguns prelúdios, a já mencionada Clair de lune e dois irresistíveis movimentos da Petit Suite. A escolha entre os muitos prelúdios é bem interessante e diversa. O disco começa calmamente com Voiles, depois haverá poesia de Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir, as brincadeiras da Serenata interrompida e completará com as pirotecnias de Feux d’artifice.

Há duas nobres e sentimentais valsas de Ravel, assim como os tristes pássaros e dois deliciosos números da Suíte da Mamães Gansa.

Não poderia faltar alguma coisa bem-humorada da música de Camille Saint-Saëns, dois movimentos do Carnaval dos Animais: os contrastantes Hémiones e Aquarium. Fauré inaugura o clima fandango espanhol com o espetacular Le pas espagnol, da Suíte Dolly, e o clima continua com duas peças de Manuel de Falla – uma dança espanhola (de La Vida Breve) e a Dança Ritual do Fogo (de El Amor Brujo).

Para fechar o cortejo, em clima de bis, a Marcha Turca de Mozart, que em certos trechos ganha um reforço sonoro…

Um disco para ser ouvido pelo prazer das lindas peças e que para algumas pessoas pode servir para despertar o interesse por este tipo de música, assim como no passado fizeram os discos de gatinhos.

Claude Debussy (1862 – 1918)

Préludes, Livre 1, L. 117
  1. Voiles

Ludmilla Guilmault, piano

Déodat de Séverac (1872 – 1921)

En Vacances, Vol. 1
  1. Où l’on entend une vieille boîte à musique
  2. Valse romantique

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Maurice Ravel (1875 – 1937)

Valses nobles et sentimentales, M. 61
  1. Assez lent, avec une expression intense
  2. Vif

Ludmilla Guilmault, piano

Claude Debussy (1862 – 1918)

Préludes, Livre 1, L. 117
  1. Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir

Ludmilla Guilmault, piano

Gabriel Fauré (1845 – 1924)

Dolly, Op. 56
  1. Le pas espagnol

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Camille Saint-Saëns (1835 – 1921)

Le Carnaval des Animaux, R. 125
  1. Hémiones
  2. Aquarium

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Claude Debussy (1862 – 1918)

Préludes, Livre 1, L. 117
  1. La Sérénade interrompue

Ludmilla Guilmault, piano

Suite Bergamesque, L. 75
  1. Clair de lune

Jean-Noël Dubois, piano

Maurice Ravel (1875 – 1937)

Miroirs, M. 43
  1. Oiseaux tristes

Ludmilla Guilmault, piano

Claude Debussy (1862 – 1918)

Petite Suite, L. 65
  1. En Bateau
  2. Ballet

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Maurice Ravel (1875 – 1937)

Ma Mère l’Oye, M. 60
  1. Laideronette, Impératrice des Pagodes
  2. Les entretiens de la Belle et la Bête

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Manuel de Falla (1876 – 1946)

La Vida Breve, G. 35
  1. Spanish Dance No. 1

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Claude Debussy (1865 – 1918)

Préludes, Livre 2, L. 123
  1. Feux d’artifice

Jean-Noël Dubois, piano

Manuel de Falla (1876 – 1946)

El Amor Brujo
  1. Danza Ritual del Fuego

Ludmilla Guilmault, piano

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Piano Sonata No. 11 in A Major, K. 331
  1. Alla Turca (Allegretto)

Jean-Noël Dubois, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 163 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 145 MB

Plus d’infos sur le ”Exotisme, Sonorités pittoresques” Concert-spectacle pour piano solo et à 4 mains par le Duo Cziffra à Paris

Dans ce choix de répertoire que j’ai choisie de Debussy, ravel, Fauré, Saint-Säens, séverac, De Falla, Mozart sont des compositeurs qui nous font voyager par leur couleur locale de leur nouveaux timbres pianistiques avec notamment ce prélude les Sons et les Parfums de Debussy, des accords qui habillent des harmonies voluptueuses au rythme impressionnisme.

L’odeur hispanisante.

Exotisme exprime pour moi une harmonie du soir, propice à l’évocation d’un lointain passé.

Exotisme, des images qui semblent solliciter, l’ouïe, la vue, le toucher, l’odorat, établissant en musique ces correspondances ténues que Baudelaire, le premier devina en poésie.

Des sensations de couleurs d’exotisme.

Des odeurs d’oeuillet et d’arguardiente, une atmosphère de castagnettes avec la Sérénade Interrompue de Claude Debussy.

Ces pièces orientales de Ravel, Laideronette, impératrice des pagodes pour piano à 4 mains nous évoque ces pays lointains, ce dépaysement par le recours au patrimoine musical de chaque compositeur.

Falla tient à faire son miel des fleurs du folklore.

Falla, c’est l’Andalousie et son flamenco, des voluptueux jardins andalous, des Nuits à l’âpre.

Séverac, possède une sonorité charnue, couleur en taches plus vives, en pâte plus épaisse, ce goût des échelles modales. Il nous conte les paysages traversés, inspiration de sa chère Méditerranée.

Site web : http://www.ludmilla-guilmault.com

Aproveite!

René Denon

G. F. Handel (1685-1759): Concerti Grossi, Op. 3 / Concerto Doppio (Silete Venti! Ensemble / Rovaris)

G. F. Handel (1685-1759): Concerti Grossi, Op. 3 / Concerto Doppio (Silete Venti! Ensemble / Rovaris)

Um excelente CD, muito bem interpretado, com perfeito senso de estilo. O Concerto Doppio para fagote e oboé — seja  autêntico ou não –, é absolutamente maravilhoso e esta é sua primeira gravação. Ele complementa perfeitamente e é um belo bônus para a gravação do merecidamente conhecido Op.3, que fazem lamentar que Handel não tenha deixado mais música para violoncelo. O desempenho do Silete Venti! em  todas as obras é enérgico e emocionante, no melhor estilo da música historicamente informada. A gravação é clara e equilibrada para que todos os instrumentos sejam ouvidos facilmente. Soa italiano? Claro! Bem, jamais esqueçam que Handel andou bastante pela Itália. Já ouviram as belíssimas Cantatas que estou linkando pra vocês aí? Ouçam!

G. F. Handel (1685-1759): Concerti Grossi, Op. 3 / Concerto Doppio (Silete Venti! Ensemble / Rovaris)

1 Concerto Doppio In Sol Minore Per Oboe E Fagotto – Adagio
2 Concerto Doppio In Sol Minore Per Oboe E Fagotto – Allegro
3 Concerto Doppio In Sol Minore Per Oboe E Fagotto – Adagio (Affettuoso)
4 Concerto Doppio In Sol Minore Per Oboe E Fagotto – Tempo Di Minuetto

5 Concerto Grosso Op.3 N.1 – Allegro
6 Concerto Grosso Op.3 N.1 – Largo
7 Concerto Grosso Op.3 N.1 – Allegro

8 Concerto Grosso Op.3 N.2 – Vivace
9 Concerto Grosso Op.3 N.2 – Largo
10 Concerto Grosso Op.3 N.2 – Allegro
11 Concerto Grosso Op.3 N.2 – Adagio
12 Concerto Grosso Op.3 N.2 – Allegro

13 Concerto Grosso Op.3 N.3 – Largo E Staccato
14 Concerto Grosso Op.3 N.3 – Allegro
15 Concerto Grosso Op.3 N.3 – Adagio
16 Concerto Grosso Op.3 N.3 – Allegro

17 Concerto Grosso Op.3 N.4 – Ouverture
18 Concerto Grosso Op.3 N.4 – Andante
19 Concerto Grosso Op.3 N.4 – Allegro
20 Concerto Grosso Op.3 N.4 – Minuetto

21 Concerto Grosso Op.3 N.5 – Ouverture
22 Concerto Grosso Op.3 N.5 – Fuga (Allegro)
23 Concerto Grosso Op.3 N.5 – Adagio
24 Concerto Grosso Op.3 N.5 – Allegro Ma Non Troppo
25 Concerto Grosso Op.3 N.5 – Allegro

26 Concerto Grosso Op.3 N.6 – Vivace
27 Concerto Grosso Op.3 N.6 – Cadenza
28 Concerto Grosso Op.3 N.6 – Allegro

Simone Toni, Oboe
Laurent Le Chenadec, Bassoon
Silete Venti!
dir. Corrado Rovaris

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Retrato de Händel durente sua temporada italiana

PQP

.: interlúdio :. Etta James: 2 horas para celebrar 73 anos bem cantados

.: interlúdio :. Etta James: 2 horas para celebrar 73 anos bem cantados

Post de 22 de dezembro de 2012.

É preciso celebrar os 73 anos de vida, encerrados anteontem (em 20/01/2012), de uma das cantoras de mais intensidade expressiva que os meus 50 e tantos me deram o privilégio de conhecer: ETTA JAMES.

Não, a capa acima não é a da coletânea que estou postando aqui. Não sei que amigo me passou um dia uma pasta com essas 35 faixas não numeradas, de modo que a aleatoridade organizou o show pela ordem alfabética dos títulos. Faltaram só 6 minutos para inteirar duas horas de um panorama fascinante, que alterna das canções mais conhecidas, besuntadas daqueles violinos de produtor, até faixas que vibram de uma tensão áspera do que poderia ser chamado “partido alto do blues” – coisa que eu inicialmente nem sabia que ela tinha gravado.

Um leitor me informou que a presente coletânea seria “Etta James Gold”, lançada em 2007 – mas fui checar e há um considerável número de faixas que não coincidem. Além disso, gosto da ordem que o alfabeto conferiu às faixas aqui, de modo que proponho “oficializiar” uma nova coletânea, “ABC de Etta James”.

Uma sugestão adicional para a celebração: o filme Cadillac Records. Já se disse que ele não é historicamente fiel em muitos detalhes, inclusive quanto ao relacionamento entre o produtor da gravadora e a nossa cantora. Mas acho que, uma vez sabendo disso, não faz mal nenhum entregar-se ao prazer de assistir: é um panorama poderoso de uma certa época e de uma certa cena artística também poderosa, a Chicago do cair dos anos 40 ao alvorecer dos 60. E Beyoncé no papel de Etta James surpreende: ganhou de mim um respeito que a produção plastificante atual não me havia facilitado encontrar.

Enfim: senhoras e senhores, aí vai:

[as 35 faixas do panorama informal de Etta James]

. . . . . . . BAIXE AQUI – download here

Ranulfus

Franz-Joseph Haydn (1732-1809): 11 Sonatas para Piano – Alfred Brendel (Parte 2 de 2)

Franz-Joseph Haydn (1732-1809): 11 Sonatas para Piano – Alfred Brendel (Parte 2 de 2)

5183vyeJwbLComplementamos a postagem dessa caixa essencial de Haydn, na leitura de Alfred Brendel, com seus dois últimos CDs.

O Franz de Haydn é o nome de santo de Haydn (batizado Franciscus Josephus Haydn), e que era dado, conforme costume da época, em homenagem ao santo celebrado no dia de seu batismo (São Francisco de Paula, 2 de abril). Esse prenome quase nunca usado pelo próprio compositor, que invariavelmente se assinava “Joseph” ou “Giuseppe Haydn”. Um leitor apontou isso num comentário à postagem original e eu, que não fazia a menor ideia do assunto, resolvi aceder. Assim, mantemos a coerência com a prática que nos leva a chamar a pessoa batizada Johannes Chrysostomus Wolfgangus Teophilus Mozart, nascida no dia de São João Crisóstomo (27 de dezembro), de Wolfgang Amadeus Mozart.

Vassily

POSTAGEM ORIGINAL DE FDP BACH EM 18/2/2010

Eis então os dois CDs que faltavam para essa série do grande pianista Alfred Brendel interpretando Haydn. Trata-se de uma série conceituadíssima, que não pode faltar na discoteca dos amantes da obra do mestre austríaco.

Enfim, para tornar mais agradável este feriadão eis os dois últimos cds desta excelente série da Philips.

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Franz-Joseph Haydn (1732-1809): 11 Piano Sonatas – Alfred Brendel (Parte 2 de 2)
Alfred Brendel, piano

CD 3
01 – Sonata in C, Hob. XVI_48 – 1. Andante con espressione
01 – Sonata in C, Hob. XVI_48 – 2. Rondo (Presto)
02 – Sonata in D, Hob. XVI_51 – 1. Andante
03 – Sonata in D, Hob. XVI_51 – 2. Finale (Presto)
04 – Sonata in C, Hob. XVI_50 – 1. Allegro
05 – Sonata in C, Hob. XVI_50 – 2. Adagio
06 – Sonata in C, Hob. XVI_50 – 3. Allegro molto

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

CD 4
01 – Sonata in E flat, Hob. XVI_52 – 1. Allegro
02 – Sonata in E flat, Hob. XVI_52 – 2. Adagio
03 – Sonata in E flat, Hob. XVI_52 – 3. Finale (Presto)
04 – Sonata in G, Hob. XVI_40 – 1. Allegretto e innocente
05 – Sonata in G, Hob. XVI_40 – 2. Presto
06 – Sonata in D, Hob. XVI_37 – 1. Allegro con brio
07 – Sonata in D, Hob. XVI_37 – 2. Largo e sostenuto
08 – Sonata in D, Hob. XVI_37 – 3. Finale (Presto, ma non troppo)
09 – Andante con variazioni in F minor, Hob. XVII_6

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

LINK ALTERNATIVO COM TODOS OS CDs DESTE POST

Brendel com Minnie

FDPBach

Franz-Joseph Haydn (1732-1809): 11 Sonatas para Piano – Alfred Brendel (Parte 1 de 2)

Franz-Joseph Haydn (1732-1809): 11 Sonatas para Piano – Alfred Brendel (Parte 1 de 2)

5183vyeJwbLDia desses alguém pediu ao nosso SAC a repostagem desta excelente gravação de Brendel. Atendemos prontamente, pois acreditamos que ela não possa faltar em qualquer discografia.

Vassily

Postagem original de FDP Bach:

Minha vida anda muito corrida, e com esse calor que fez nos últimos dias não tenho vontade de fazer nada, desculpem, nem respondo meus emails. Aliado à isso, estou com problemas de saúde na família, então, a vontade de responder se resume a nenhuma.

Essa série do Brendel tocando Haydn já está no rapidshare há algum tempo. São quatro cds, estou postando dois, e outra hora coloco os outros dois.

Material de primeira linha, poderia classificá-lo facilmente como IM-PER-Dí-VEL.  Divirtam-se.

Franz-Joseph Haydn – 11 Piano Sonatas (Parte 1 de 2)
Alfred Brendel, piano

CD 1:
1. Keyboard Sonata in C minor, H. 16/20: 1. Moderato
2. Keyboard Sonata in C minor, H. 16/20: 2. Andante con moto
3. Keyboard Sonata in C minor, H. 16/20: 3. Finale. Allegro

4. Keyboard Sonata in E flat major, H. 16/49: 1. Allegro
5. Keyboard Sonata in E flat major, H. 16/49: 2. Adagio e cantabile
6. Keyboard Sonata in E flat major, H. 16/49: 3. Finale. Tempo di minuetto

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

CD 2:
1. Keyboard Sonata in E minor, H. 16/34: 1. Presto
2. Keyboard Sonata in E minor, H. 16/34: 2. Adagio
3. Keyboard Sonata in E minor, H. 16/34: 3. Vivace molto, innocentemente

4. Keyboard Sonata in B minor, H. 16/32: 1. Allegro moderato
5. Keyboard Sonata in B minor, H. 16/32: 2. Menuet. Tempo di menuet
6. Keyboard Sonata in B minor, H. 16/32: 3. Finale. Presto

7. Keyboard Sonata in D major, H. 16/42: 1. Andante con espressione
8. Keyboard Sonata in D major, H. 16/42: 2. Vivace assai

9. Fantasia (Capriccio) for piano in C major, H. 17/4

10. Adagio for keyboard in F major, H. 17/9

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

LINK ALTERNATIVO COM TODOS OS CDs DESTE POST

Brendel com Minnie

FDP Bach

Beethoven · Ravel · Bartók · Say: Violin Sonatas (Kopatchinskaja / Say)

Beethoven · Ravel · Bartók · Say: Violin Sonatas (Kopatchinskaja / Say)

Isto aqui está longe de ser apenas mais uma gravação da Sonata Kreutzer. Patricia Kopatchinskaja e Fazil Say compartilham uma abordagem radical, realizando cada nota da maneira mais vívida possível, deixando a suavidade em segundo plano. É inegavelmente emocionante, especialmente o primeiro movimento da Kreutzer, que, afinal, é bastante selvagem, mas mesmo aqui fiquei perturbado com a brevidade exagerada de muitas notas em staccato. Já o Bartók é uma mistura mais questionável, mas não podemos esquecer que a moça nasceu na Moldávia. E que Say é turco… No Ravel, ela(es) dá(ão) um banho. O espírito do movimento Blues é capturado totalmente, com alguns sons incomuns do piano e um toque violinístico espetacular. Não surpreende que a Sonata de Say também seja lindamente tocada. Escritos de forma imaginativa para os dois instrumentos e adotando um estilo direto e descomplicado, os cinco movimentos curtos traçam uma progressão da melancolia romântica para uma paisagem vazia e sombria. Ousado e altamente individual – este é um CD que vale a pena conhecer.

Beethoven · Ravel · Bartók · Say: Violin Sonatas (Kopatchinskaja / Say)

Violin Sonata No. 9 in A Major, Op. 47, “à Kreutzer”
Composed By – Ludwig van Beethoven
1 Adagio Sostenuto – Presto 10:15
2 Andante con Variazioni 13:17
3 Finale: Presto 6:29

Violin Sonata in G Major
Composed By – Maurice Ravel
4 Allegretto 8:19
5 Blues 6:17
6 Allegro – Perpetuum Mobile 3:41

Romanian Folk Dances Sz. 56
Composed By – Béla Bartók
Transcription By – Zoltàn Szèkely*
7 Allegro Moderato (Staff Dance from Voiniceni) 1:16
8 Allegro (Sash Dance from Egres) 0:31
9 Andante (Stamping Dance from Egres) 1:21
10 Molto Moderato (Dance from Bucium) 1:15
11 Allegro (Romanian Polka from Belenyes) 0:29
12 Allegro (Quick Dance from Belenyes & Nyegra) 0:54

Violin Sonata Opus 7
Composed By – Fazıl Say
13 I. Melancholy 3:21
14 II. Grotesque 2:07
15 III. Perpetuum Mobile 1:44
16 IV. Anonymous 3:09
17 V. Melancholy 3:07

Patricia Kopatchinskaja, violino
Fazil Say, piano

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Patricia Kopatchinskaja & Fazil Say: radicais

PQP

Béla Bartók (1881-1945): Piano Concertos Nos. 1 & 2 – Two Portraits (Pollini, Mintz, Abbado, CSO, LSO)

Béla Bartók (1881-1945): Piano Concertos Nos. 1 & 2 – Two Portraits (Pollini, Mintz, Abbado, CSO, LSO)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Se há um disco que me formou como ouvinte, foi este. Quando adolescente, eu ouvia de tudo um pouco, com enorme ênfase em papai Bach. Porém, quando foi lançado este vinil (ver capa abaixo) com os dois primeiros Concertos para Piano de Béla Bartók, meu modo de ouvir música recebeu um alongamento digno de um espacato feito subitamente por um sedentário. E que foi muito prazeroso. A abordagem contundente de Maurizio Pollini funciona muito bem. Os músicos de Chicago circulam o pianista como uma gangue de rua empenhada em resolver seus problemas e a corrida sem fôlego do primeiro movimento é extraordinariamente emocionante. A valse macabra percussiva (meu termo, não de Bartok) que fica no coração do segundo movimento é hipnótica, de enorme tensão. Pollini é um dos meus pianistas vivos favoritos e há muitos aspectos impressionantes de sua performance, principalmente sua entrega incrivelmente hábil do Presto central do segundo movimento do Concerto Nº 2. Essas performances de concerto ganharam o prêmio The Gramophone’s Concerto em 1979, e não é difícil saber por quê.

Bartók escreveu esses dois concertos para ele mesmo tocar, ao contrário do terceiro, que escreveu como um legado para sua esposa quando soube que estava morrendo. Esses dois primeiros datam do apogeu de seu período mais dissonante e desafiador. O mais feroz dos dois é o primeiro. Nele, lembramos da observação do compositor “o piano é um instrumento de percussão” e há um uso implacável disso. A percussão orquestral também desempenha um papel importante, e Bartók fornece instruções meticulosas sobre como obter os sons que deseja. O segundo concerto pode parecer similar, mas não é. É igualmente dissonante, mas desta vez é mais brincalhão do que raivoso, embora brincalhão da maneira como um tigre pode ser. Sua estrutura é incomum. No primeiro movimento as cordas ficam completamente silenciosas. O piano toca quase o tempo todo e também tem uma grande cadência. O segundo movimento tem duas seções lentas encerrando um meio rápido. Nas seções lentas há um diálogo entre acordes serenos nas cordas e súplicas melancólicas do piano; o ouvinte se lembrará do movimento lento do quarto concerto para piano de Beethoven. A seção do meio é bem diferente: é um scherzo arisco, com um turbilhão de notas de piano apoiando interjeições semelhantes a Prokofiev das madeiras.

Pollini traz seu virtuosismo costumeiro para essas obras, deleitando-se com a dissonância e a energia delas. Abbado fornece suporte seguro, com a Orquestra Sinfônica de Chicago exibindo seus pontos fortes habituais nos sopros e metais. Em vez do terceiro concerto, temos os Two Portraits. Este é um trabalho inicial, que foi montado a partir de duas outras peças. O primeiro movimento é mais ou menos o primeiro movimento do descartado Primeiro Concerto para Violino de Bartók, cuja partitura ele deu ao seu amor da época, a violinista Stefi Geyer, mas que ela nunca tocou e que veio à tona somente após sua morte. O segundo movimento é uma orquestração da Bagatelle Op. 6 No 14. Ele também deu legendas aos dois movimentos: um ideal e um grotesco. O sonhador primeiro retrato é seguido por uma paródia irônica do mesmo.

Béla Bartók (1881-1945): Piano Concertos Nos. 1 & 2 – Two Portraits (Pollini, Mintz, Abbado, CSO, LSO)

Concerto For Piano And Orchestra No. 1
1 Allegro Moderato – Allegro
2 Andante – Allegro – Attacca
3 Allegro Molto

Concerto For Piano And Orchestra No. 2
4 Allegro
5 Adagio – Presto – Adagio
6 Allegro Molto – Presto

Two Portraits Op. 5
7 One Ideal
8 One Grotesque

Conductor – Claudio Abbado
Orchestra – The Chicago Symphony Orchestra (tracks: 1 to 6), The London Symphony Orchestra (tracks: 7, 8)
Piano – Maurizio Pollini (tracks: 1 to 6)
Violin – Shlomo Mintz (tracks: 7, 8)

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

PQP

.: interlúdio :. John Coltrane: Olé Coltrane, Ballads

A música de John Coltrane’s é um grito de revolta contra a frieza do nosso mundo.” (Willie Gschwedner, resenha de um concerto em 27/11/1962)

Aqui, dois álbuns de Coltrane que, apesar de muito diferentes, foram gravados a poucos meses de distância. Ele e seus parceiros deram uma no cravo e outra na ferradura. Em Olé Coltrane temos jazz bastante inovador, em um formato maior do que o seu habitual quarteto, expandido aqui com dois músicos nos sopros: Eric Dolphy (flauta e sax) e Freddie Hubbard (trompete). E igualmente importante: aqui temos dois baixos, um de cada lado da gravação em stereo. Olé, faixa que ocupava todo o lado A do LP, utiliza harmonias que acenam para a música espanhola, como havia feito Miles Davis um ano antes (Sketches of Spain). E com um amplo protagonismo para os dois baixistas (Reggie Workman e Art Davis), que têm tempo para mostrar uma ampla gama de sonoridades, tanto usando os dedos como também com arco. No lado B – ao contrário dos discos pop – a sonoridade é mais familiar, com melodias assobiáveis como a de Aisha, melodia introduzida pelo sax alto de Eric Dolphy, enquanto Coltrane explora camadas mais subterrâneas, aqui no sax tenor (que ele usa no lado B, enquanto no lado A era o sax soprano).

Os baixistas Reggie Workman (foto) e Art Davis tocam escandalosamente bem na faixa-título de Olé

Olé Coltrane (1961)
1. Olé (John Coltrane) – 18:13
2. Dahomey Dance (John Coltrane) – 10:49
3. Aisha (McCoy Tyner) – 7:37

John Coltrane — soprano saxophone on “Olé”; tenor saxophone on “Dahomey Dance” and “Aisha”
Freddie Hubbard — trumpet
Eric Dolphy — flute on “Olé”; alto saxophone on “Dahomey Dance” and “Aisha”
McCoy Tyner — piano
Reggie Workman — bass
Art Davis — bass on “Olé” and “Dahomey Dance”
Elvin Jones — drums
Recorded May 25, 1961, New York City

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – FLAC

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320kbps

Já em Ballads, Coltrane e seu grupo acenaram para um público que apreciava musicais da Broadway e filmes de Hollywood, o que eles já haviam feito em My Favorite Things. Esse álbum me lembra o tipo de jazz que vinha à minha cabeça quando muito jovem, combinando com vinhos tintos ou um pesado whisky sem gelo, em reunião de pessoas de classe média alta com uma bela vista para as montanhas ou para o mar. Não por acaso, todos os standards gravados em Ballads são de compositores brancos (tipo de análise mais comum hoje em dia do que nos anos 1960, quando isso poderia passar batido num álbum de jazz gravado por músicos negros. Hoje não passa mais como detalhe.)

Com o baixo e a bateria aqui bastante “quadradinhos” fazendo o ritmo – ao contrário de Olé Coltrane em que o ritmo é tudo menos previsível – quem brilha nos arranjos é o pianista McCoy Tyner, com sua chance de tocar de forma mais suave, menos percussiva do que na maioria dos álbuns que ele gravou. Quando o sax está fazendo as melodias que podemos facilmente cantarolar (“Too young to go steady…”), o piano vai enchendo os espaços vazios com blue notes e outras intervenções de extremo bom gosto e, como já dito acima, sem chocar os ouvidos mais conservadores. Se a música de John Coltrane e de seus fiéis escudeiros passou por mudanças, jornadas em busca de novos sons e expressões, e é claro que passou por muito disso, também devemos lembrar que o olhar estritamente evolucionista é uma apreensão rasa: assim, entre o John Coltrane de Olé (1961) e o de A Love Supreme (1964), temos o de Ballads.

Ballads (1963)
1. Say It (Over and Over Again)”(Jimmy McHugh) – 4:18
2. You Don’t Know What Love Is (Gene DePaul) – 5:15
3. Too Young to Go Steady (Jimmy McHugh) – 4:23
4. All or Nothing at All (Arthur Altman) – 3:39
5. I Wish I Knew (Harry Warren) – 4:54
6. What’s New? (Bob Haggart) – 3:47
7. It’s Easy to Remember (Richard Rodgers) – 2:49
8. Nancy (With the Laughing Face) (Jimmy Van Heusen) – 3:10

John Coltrane – tenor saxophone
McCoy Tyner – piano
Jimmy Garrison (#1-6, 8), Reggie Workman (#7) – bass
Elvin Jones – drums
Recorded December 21, 1961; September 18 and November 13, 1962

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320kbps

McCoy Tyner e John Coltrane em 1963

Pleyel

Bedřich Smetana (1824-1884): Peças para Piano (Čechová)

Bedřich Smetana (1824-1884): Peças para Piano (Čechová)

Este é um disco do romantismo do leste europeu do século XIX. Quem me contou isto foram meus ouvidos. E mais eles não disseram. Não identifico o que há de tcheco na música trazida pela extraordinária Jitka Čechová. Não sei se os temas vêm das danças do povo às margens do Moldava ou se vêm dos salões do império austro-húngaro. Só sei que o CD me agradou muito! E também que Smetana é considerado o pai da música escola musical tcheca, que Dvořák foi seu sucessor e que Smetana foi, juntamente com Beethoven e Fauré, um dos compositores que escreveram música em total surdez. Ah, e que morreu num manicômio, acometido de problemas neurológicos decorrentes de sífilis.

Bedřich Smetana (1824-1884): Peças para Piano (Čechová)

Dreams (Reves.Six morceaux caracteristiques)
1. Vanished Happiness (Le Bonheur eteint) [4:22]
2. Consolation (La consolation) [4:30]
3. In Bohemia (En Boheme) [4:55]
4. In the Saloon (Au salon) [4:00]
5. In front of the Castle (Pres du chateau) [5:33]
6. Harvest Festival (La fete des paysans bohemiens) [5:01]

Album Leaves (Stammbuchblätter)
7. in B flat major [1:29]
8. in B minor [0:57]
9. Toccatina in B flat major [1:46]
10. in G major [0:52]
11. in G minor [0:50]
12. in E flat minor [3:16]
13. in B flat minor [1:11]
14. Andante in E flat major [2:16]

Polkas
15. Polka in E major [2:50]
16. Polka G minor [5:16]
17. Polka in A major [5:19]
18. Polka in F minor [2:16]

Wedding Scenes´ (Hochzeitsszenen)
19. Wedding Procession (Tempo di marcia) (Der Hochzeitszuk) [3:13]
20. Bridegroom and Bride (Duo. Allegretto ma non troppo) (Das Brautpaar) [2:57]
21. Wedding Festivity – Dance (Allegro vivo) (Das Hochzeitsfest – Der Tanz) [5:27]

Jitka Čechová, piano

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Smetana

PQP

Sibelius / Prokofiev / Glazunov: Concertos para Violino (Heifetz)

Sibelius / Prokofiev / Glazunov: Concertos para Violino (Heifetz)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Jascha Heifetz, alguma dúvida? Aqui ele toca o espetacular e ultra-solado Concerto de Sibelius, o bom Concerto de Prokofiev com seus esplêndidos segundo e terceiro movimentos e outro bem ruinzinho de Glazunov, autor cujo maior mérito foi o ter sido professor de Shostakovich, que não o suportava nem como compositor e muito menos como autor. BAITA DISCO!

Jean Sibelius (1865-1957)

Violin concerto in D minor, op. 47
Chicago Symphony Orchestra
Walter Hendl

Sergei Prokofiev (1891-1953)
Violin concerto No. 2 in G minor, op. 63
Boston Symphony Orchestra
Charles Munch

Alexander Glazunov (1865-1936)
Violin concerto in A minor, op. 82
RCA Victor Symphony Orchestra
Walter Hendl

Jascha Heifetz, violin

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Heifetz: esse tocava

PQP

Serguei Prokofiev (1891-1953): Quartetos de Cordas Nº 1 e 2 / Sonata para 2 Violinos (Emerson)

Serguei Prokofiev (1891-1953): Quartetos de Cordas Nº 1 e 2 / Sonata para 2 Violinos (Emerson)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Prokofiev, com outros artistas soviéticos, foi evacuado das principais cidades quando os nazistas quebraram seu pacto de não agressão e invadiram a União Soviética em 1941. Em 8 de agosto de 1941, Prokofiev viajou para Nalchik com outros artistas, entre eles seu amigo Nikolai Myaskovsky, atores como a viúva de Anton Tchékhov e outros. Prokofiev ficou na cidade de Nalchik, na região de Kabardino-Balkar, no Cáucaso do Norte, cerca de 1.400 quilômetros ao sul de Moscou (próximo da fronteira com a Turquia e os mares Negro e Cáspio).

Durante esta estadia, Prokofiev foi instruído por um funcionário do governo a escrever um quarteto usando temas folclóricos de Kabardino-Balkar e escreveu este Quarteto de Cordas Nª 2, com temas baseados em melodias, ritmos e texturas folclóricas. O caráter da música folclórica é evidenciado pela imitação de instrumentos orientais dedilhados e de percussão, combinados com o uso engenhoso de efeitos sonoros. O acompanhamento de fundo no segundo movimento tenta imitar a execução de um instrumento de cordas do Cáucaso, o kjamantchi. Este Quarteto é belíssimo!

O Quarteto de Cordas Nº 1 foi encomendado pela Biblioteca do Congresso estadunidense. O Quarteto foi apresentado pela primeira vez em Washington em 25 de abril de 1931 pelo Quarteto Brosa e em Moscou em 9 de outubro de 1931 pelo Quarteto Roth.

A Sonata para Dois Violinos foi compostas em 1932 durante as férias perto de St. Tropez, Foi uma encomenda para concluir o concerto inaugural da Triton, uma sociedade sediada em Paris dedicada à apresentação da nova música de câmara. Esse concerto foi realizado em 16 de dezembro de 1932. No entanto, com a permissão do compositor, a sonata foi executada pela primeira vez três semanas antes em Moscou, em 27 de novembro de 1932. Baita música.

Este CD vale pelo Quarteto Nº 2 e pela Sonata.

Sergei Prokofiev (1891-1953) – String Quartet No. 1 in B minor, Op. 50, Sonata for 2 violins in C major, Op. 56 e String Quartet No. 2 in F major (‘Kabardinian’), Op. 92

String Quartet No. 1 in B minor, Op. 50
01. 1. Allegro
02. 2. Andante molto – Vivace
03. 3. Andante

Sonata for 2 violins in C major, Op. 56
04. 1. Andante cantabile
05. 2. Allegro
06. 3. Commodo (quasi Allegretto)
07. 4. Allegro con brio

String Quartet No. 2 in F major (‘Kabardinian’), Op. 92
08. 1. Allegro sostenuto
09. 2. Adagio
10. 3. Allegro – Andante molto – Quasi Allegro 1, ma non poco più tranquillo

Emerson String Quartet

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

O Emerson tomando café na datchazinha da PQP Bach Corp, na beira do Mar Cáspio

PQP

Franz Berwald (1796-1868): Sinfonie Sérieuse / Overtures / Tone Poems (Swedish Radio Symph Orch, Ehrling)

Este não é um grande disco. Ehrling e a Orquestra Sinfônica da Rádio da Suécia fazem um belo trabalho, o problema é o repertório apenas médio. Berwald tem excelentes obras, mas as quentes são as Sinfonias 3 e 4, o Septeto e o Concerto para Piano (aqui também temos as Sinfonias citadas em sua melhor versão), todos presentes no PQP Bach. Aliás, o maestro e pianista sueco Sixten Ehrling foi o grande divulgador de Berwald dentro e fora da Escandinávia. Foi por anos o regente titular da Royal Swedish Opera e da Detroit Symphony Orchestra, entre outras. Ehrling foi um dos últimos regentes a conhecer tanto Stravinsky quanto Sibelius pessoalmente. Imaginem que ele descobriu erros em suas partituras, que foram imediatamente corrigidos.

Franz Berwald (1796-1868): Sinfonie Sérieuse / Overtures / Tone Poems (Swedish Radio Symph Orch, Ehrling)

Symphony No. 1 In G Minor ‘Sinfonie Sérieuse’
1 I. Allegro Con Energia
2 II. Adagio Maestoso
3 III. Stretto
4 IV. Finale: Adagio – Allegro Molto – Un Poco Meno Allegro – [Allegro Molto] – Un Poco Meno Allegro – Tempo I [Allegro Molto] – Meno Allegro – [Allegro Molto]

5 Estrella de Soria: Overture

6 Bayaderen-Fest

7 Drottningen Av Golconda (The Queen Of Golconda): Overture

8 Erinnerung An Die Norwegischen Alpen (Memory Of The Norwegian Alps)

9 Elfenspiel

Swedish Radio Symphony Orchestra
Sixten Ehrling

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Sixten Ehrling (1918-2005)

PQP

Vivaldi (1678 – 1741): Concerti con molti istromenti – The King’s Consort & Robert King ֎

Vivaldi (1678 – 1741): Concerti con molti istromenti – The King’s Consort & Robert King ֎

Vivaldi

Concertos

The King’s Consort

Robert King

 

Essa noite tive um sonho no qual il Petre Rosso reclamava da ausência de suas músicas nas postagens do blog – sono stato abbandonato…

Concerto no Ospedalle della Pietà

E olha que ele me parecia preparado para participar de um enorme concerto, cercado que estava de músicos com trompetes, trompas da caccia, e vários oboés, caramelas e coisas do gênero. Estou preparando uns concertos que chamarei concerti com molti instromenti, para encurtar os nomes, segredou-me o padre compositor. Posso me dar ao luxo de esbanjar imaginação na combinação de tantos instrumentos, pois tenho muitas alunas talentosas no Ospedalle della Pietà, que são maestras em toda a sorte de instrumento musical. Aquela Anna Maria, por exemplo, toca violino principalmente, mas também toca cravo, violoncelo, viola d’amore, alaúde e todos os instrumentos de pinicar… Entenda bem, nada de penicos!

Esses concertos faziam muito sucesso e atraiam os visitantes e turistas em Veneza para os concertos no Ospedalle e, como as órfãs ficavam escondidas, ocultas do público, suas inusitadas sonoridades causavam muitas surpresas. Os concertos com muitos instrumentos também faziam sucesso nos festivais promovidos por instituições religiosas como o convento de São Lourenço e a igreja Santa Maria Celeste, que aplicavam boa grana contratando orquestras que atraiam muitas pessoas.

Faziam também sucesso além da Sereníssima República de San Marco, chegando em terras germânicas, como na corte de Dresden, onde atuava Pisandel, amigo e antigo aluno de Don Antônio.

Aproveite para embarcar nesta viagem pelo mundo barroco e ouça este ótimo disco, bem inglês, desde o selo até os músicos, mas bastante afinado com as práticas do maestro Vivaldi. Eles já andaram por aqui apresentando seus discos com música sacra do padre…

Antonio Vivaldi (1678 – 1741)

Concerto em fá maior,  RV574

Elizabeth Wallfisch (violino), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Alastair Mitchell (fagote), Andrew Clark (trompa), Roger Montgomery (trompa)

  1. Allegro
  2. Grave
  3. [Allegro]
Concerto funebre em si bemol maior, RV579

Katharina Spreckelsen (oboé), Colin Lawson (chalumeau), Elizabeth Wallfisch (violino), Katherine McGillivray (viola all’inglese), Jane Norman (viola all’inglese), Jane Coe (viola all’inglese)

  1. Largo – Allegro poco poco – Adagio
  2. Allegro
Concerto em ré maior, RV562

Elizabeth Wallfisch (violino), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Andrew Clark (trompa), Roger Montgomery (trompa)

  1. Andante – Allegro
  2. Grave
  3. Allegro
Concerto em fá maior, RV97

Katherine McGillivray (viola d’amore), Andrew Clark (trompa), Roger Montgomery (trompa), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Alastair Mitchell (fagote)

  1. Largo – Allegro
  2. [Largo]
  3. Allegro
Concerto em ré maior, RV781

Crispian Steele-Perkins (trompete), James Ghigi (trompete)

  1. Allegro
  2. Grave

Elizabeth Wallfisch (violino)

  1. Allegro
Concerto em dó maior, RV555

Rebecca Miles (flauta doce), Emma Murphy (flauta doce), Katharina Spreckelsen (oboé), Colin Lawson (chalumeau), Elizabeth Wallfisch (violino), Katherine McGillivray (viola all’inglese), Jane Norman (viola all’inglese), James O’Donnell (cravo), James Johnstone (cravo)

  1. Allegro
  2. Largo
  3. Allegro

Lucy Howard (violino), Walter Reiter (violino em tromba marina)

Concerto em ré menor, RV566

Rebecca Miles (flauta doce), Emma Murphy (flauta doce), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Alastair Mitchell (fagote), Elizabeth Wallfisch (violino), Walter Reiter (violino)

  1. Allegro assai
  2. Largo
  3. Allegro

The King’s Consort

Robert King

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 354 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 176 MB

O pessoal que escreve crítica gostou do disco: ‘Why mince words? This collection is one of the best Vivaldi records I have heard since I began reviewing records 40 years ago. Every movement is sheer delight’ (American Record Guide)

‘A fascinating collection of unusually-scored concerti’ (Classic CD)

E você, vai deixar passar essa chance?

Aproveite!

René Denon

PS: Se você gostou desta música, vai querer visitar também esta postagem aqui:

Antonio Vivaldi (1678-1741): Concerti con Molti Instrumenti – Ensemble Matheus & Jean-Christophe Spinosi

Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonia Nº 9 (BPO, Rattle)

Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonia Nº 9 (BPO, Rattle)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Dizem por aí que Anton Bruckner tinha o ar tolo de uma criança grande. Não vou discutir, mas se você continuar achando que o homem não tem profundidade após ouvir esta Sinfonia, vai me deixar nervoso. A Nona de Bruckner tem três movimentos pelo simples fato do compositor ter morrido durante o desenvolvimento da obra. Esta gravação de Rattle e dos filarmônicos berlinenses traz o quarto movimento. É uma reconstrução de musicólogo, com todos aqueles riscos e abusos esperados. Na boa, a Nona é a minha sinfonia preferida de Bruckner, mas o quarto movimento não funcionou muito bem. Boa tentativa, meninos.

A gravação vale — E MUITO, DEMAIS MESMO — é pelo sublime Bruckner autêntico.

Anton Bruckner: Sinfonia Nº 9

1. Symphony No.9: I. Feierlich: Misterioso 23:58
2. Symphony No.9: II. Scherzo: Bewegt, lebhaft 10:56
3. Symphony No.9: III. Adagio: Langsam 24:33
4. Symphony No.9: IV. Finale: Misterioso, nicht schell 22:41

Orquestra Filarmônica de Berlim
Simon Rattle

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Anton Bruckner
Anton Bruckner: inteligência infantil? Arrã.

PQP

Franz Berwald (1796-1868): Sinfonia Nº 3 “Singular”, Nº 4 “Naive” (Ehrling)

Franz Berwald (1796-1868): Sinfonia Nº 3 “Singular”, Nº 4 “Naive” (Ehrling)

Um dia, estava dirigindo para o trabalho e a Sinfonia Singular começou a tocar na rádio da UFRGS. Cheguei a meu destino ao final do primeiro movimento e não consegui sair de dentro do carro até o final. Eu simplesmente TINHA que saber o que era aquilo. Era 1989. Então, o locutor anunciou Franz Berwald? Berwald? Who the fuck is Berwald? Importei um vinil alemão e pude comprovar meu amor pela Sinfonia. Berwald eé uma raridade. Você conhece outro compositor sueco? São raros, né? Franz Adolf Berwald foi praticamente ignorado enquanto era vivo. Por isso, teve que procurar uma outra ocupação. Berwald trabalhou como cirurgião ortopédico, e posteriormente administrou uma serraria e uma fundição de vidro. Hoje, ele é considerado o compositor sueco mais importante de seu século. Em 1976, a nova sala de concertos da Sveriges Radio recebeu o nome de Berwaldhallen. Berwald morreu em Estocolmo em 1868 de pneumonia. O segundo movimento da Sinfonia Nº 1 foi tocado em seu funeral. Dez anos após a morte de Berwald, sua Sinfonia nº 4 em mi bemol maior, “Naïve”, foi estreada (a estreia originalmente planejada em 1848 em Paris foi cancelada por causa da agitação política da época). Essa lacuna entre a composição e a primeira execução foi relativamente curta, em comparação com o que aconteceu com a Sinfonia Nº 2 em ré maior, ” Capricieuse ” e a Sinfonia Nº 3 em dó maior, “Singulière”. Essas duas peças não foram estreadas somente em 1914 e 1905, respectivamente… Em 1866, Berwald recebeu a Ordem Sueca da Estrela Polar, em reconhecimento à sua música. No ano seguinte, o Conselho da Academia Real de Música nomeou Berwald professor de composição no Conservatório de Estocolmo, mas o Conselho da instituição reverteu a decisão alguns dias depois, nomeando outro. A família real interveio e Berwald conseguiu o cargo. Por volta desta época, ele também recebeu muitas encomendas importantes, mas não viveu para honrá-las todas.

Franz Berwald (1796-1868): Sinfonia Nº 3 “Singular”, Nº 4 “Naive” (Ehrling)

Sinfonie Nº 3, Singulière
1 Allegro Fuocoso 11:09
2 Adagio-Scherzo: Allegro Assai – Adagio 9:26
3 Presto 8:14

Symphony Nº 4 “Naive” In E Flat
4 Allegro Risoluto 8:51
5 Adagio-Scherzo: Allegro Molto 12:05
6 Allegro Vivace 6:29

Conductor – Sixten Ehrling
Orchestra – The London Symphony Orchestra

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Berwald: um topete em bronze

PQP

Peteris Vasks (1946): Obras para Piano (R. Zarins)

Minimalismo: uma palavra de significado meio vago, que encaixa com muitos fenômenos musicais diferentes, mas é a palavra que temos para descrever boa parte da música de concerto das últimas décadas. O bom inimigo do ótimo. A palavra tem sido usado para compositores bastante diferentes entre si, como:

– O hippie californiano Terry Riley, com sua inspiração no improviso do jazz e das ragas hindus e na sonoridade dos sintetizadores;
– O também norte-americano Philip Glass, grande compositor de trilhas sonoras;
– O polonês Henryk Górecki, que na década de 1970 adotou um estilo mais simples e teve um sucesso estrondoso com sua 3ª Sinfonia, que vendeu milhões de cópias;
– O estoniano Arvo Pärt, estudioso do cantochão medieval e famoso por suas obras corais com repetições modais e hipnóticas que parecem andar em círculos;

E também Pēteris Vasks, nascido na Letônia, país vizinho à Estônia de Pärt. Ambos têm em comum a religiosidade cristã, que foi abafada durante o período soviético. E como vocês sabem, o que é proibido é mais gostoso. Um pouco mais jovem que esses outros citados, Vasks aparece nesse disco recente com uma obra de juventude, uma mais recente e uma novíssima, composta durante o período da pandemia de COVID-19.

Na obra de juventude, Cycle, em quatro partes, Vasks apresenta um tema em cada movimento e depois não se preocupa muito em desenvolvê-lo, tampouco faz repetições infinitas como Riley ou Glass. O que ele faz é dissecar a melodia em suas partes, usando para isso não só o teclado do piano, mas também ataques nas cordas do instrumento, técnica que surgiu por volta de 1920 com o norte-americano Henry Cowell e depois muito utilizada por John Cage. Graves assustadores, agudos brilhantes, temos um amplo espectro sonoro sustentado sobre ideias melódicas mais ou menos simples.

Seguindo a cronologia do compositor, a obra intermediária, estreada aos poucos entre 1980 e 2008, reflete as quatro estações, do ponto de vista de um habitante de terras muito mais frias do que a Itália de Vivaldi. Lendo as palavras do compositor no encarte do álbum, ficamos sabendo, por exemplo, que a primavera inclui ainda alguns momentos de neve alternando com o nascer do sol na floresta… E que no fim do último movimento (outono), temos também as primeiras neves que antecedem o inverno. A vida é assim na Letônia: três estações com neve, uma sem.

E a primeira obra do álbum, cronologicamente a mais recente, também está ligada ao mundo animal e vegetal: “A voz do Cuco – Elegia de Primavera”. Nas notas do álbum, ficamos sabendo inclusive que Vasks continuou a composição dessa peça enquanto estava se recuperando da COVID-19, ainda antes das vacinas chegarem… Felizmente Vasks conseguiu atravessar esses mares revoltos e terminar sua composição, que ele resume assim: “Em Amatciems, onde temos nossa casa de campo, há muitos cucos. Um pássaro maravilhoso.”

PĒTERIS VASKS (b. 1946): Piano Works
1. Cuckoo’s Voice. Spring Elegy (Dzeguzes balss. Pavasara elēģija) (2021)*
2-5. Cycle (Zyklus) (1976)*
I. Prologue 3:21
II. Nocturne 3:59
III. Drama 3:11
IV. Epilogue 5:24
6-9. The Seasons (Gadalaiki)
I. White Scenery (Baltā ainava) (1980)
II. Spring Music (Pavasara mūzika) (1995)
III. Green Scenery (Zaļā ainava) (2008)
IV. Autumn Music (Rudens mūzika) (1981)
*World première recordings
Reinis Zariņš, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (mp3 320kbps)

O compositor e o pianista

Pleyel

Francis Poulenc (1899-1963): Melodias para Piano – Gabriel Tacchino ֎

Francis Poulenc (1899-1963): Melodias para Piano – Gabriel Tacchino ֎

 

POULENC

Mélodies pour piano

Gabriel Tacchino, piano

 

Imagine você como  um jovem pianista dando um recital no qual comparece o compositor de algumas das peças a serem tocadas e, naquele trecho que você ensaiou trocentas vezes, tropeça? Bem, na verdade, a única pessoa no auditório que poderia notar sua escorregadela seria o próprio compositor. Mais tarde, logo depois do concerto, você tem a oportunidade de conversar com o compositor: E aí, o que achou? Gostou de minhas interpretações, a despeito da escorregada na Pastorella? Isso é tudo o que consegue tartamudear diante do autor, mas é surpreendido por uma sonora gargalhada… Mais surpreso por ouvir que ele gostou é por descobrir que ele mesmo havia, certa vez, tropeçado no mesmo trecho.

Foi assim que nasceu uma forte colaboração artística entre o compositor Francis Poulenc e o então jovem pianista Gabriel Tacchino, colaboração esta que durou por alguns anos.

Gabriel Tacchino tornou-se uma referência para a obra para piano de Poulenc. Na entrevista que você poderá ler no livreto ele afirma que a música para piano de Poulenc busca a simplicidade e é sensível e perspicaz, assim como o próprio compositor. Sua música tem um caráter lírico, uma elegância despretensiosa e uma distinta linguagem harmônica, que a torna imediatamente reconhecível.

Estas características todas podem ser vistas ao longo das faixas deste disco, uma coletânea feita por Gabriel Tacchino dentre a obra toda gravada por ele, acrescida de uma ou outra faixa gravada para a ocasião. Como ele mencionou na entrevista, com este lançamento pretendia popularizar esta obra, buscando um equilíbrio entre a frivolidade e seriedade que fazem parte dela.

Os três movimentos perpétuos, que aparecem um pouco no início do disco, não foram as primeiras peças para piano de Poulenc que eu ouvi, mas foram as primeiras nas quais eu identifiquei como sendo dele, com as características que tornam suas peças tão distintas e especiais. Não deixe de ouvi-las também neste recital de música francesa de Rubinstein.

Eu já postei dois discos só com música para piano de Poulenc, mas este, devido ao arranjo do programa, é bem especial.

Yvonne Printemps

Há dois aspectos da música para piano de Poulenc que gostaria de realçar com a ajuda do disco. Sua música reflete seu amor pelas canções populares de seu tempo, criando uma maior proximidade entre a música popular e a música (digamos) erudita. Isso fica evidente nas duas primeiras faixas: Les chemins de l’amour (título que dispensa tradução) e uma Hommage à Edith Piaf. Esta última peça traz a mistura de sentimentos e sensualidade que ele admirava nela. Quanto a valsa cantada, Les chemins de l’amour é uma canção que ele compôs para Yvonne Printemps em 1940. Como disse Gabriel Tacchino, Poulenc dobrou a melodia vocal no piano, para dar à voz ainda mais apoio e, por isso, este pequeno milagre pode ser apresentado como uma peça para piano solo, sem nenhuma perda. Esta é uma das faixas gravadas especialmente para a coleção.

Volodia adorou a anedota…

Outra coisa que era fundamental para Poulenc com respeito à interpretação de suas músicas diz respeito ao tempo. Eu prefiro um punhado de notas erradas, mas nunca acelerar ou retardar o tempo! A propósito disso, Tacchino uma vez questionou as marcas do metrônomo dadas por Poulenc para sua Toccata, que era terrivelmente difícil manter-se estritamente naquele tempo, muito rápido, como indicado na partitura. Poulenc então perguntou-lhe: “Você ouviu a gravação feita por Horowitz? Não? Bem, você deve ouvi-la e posso lhe dizer que ELE toca no tempo que eu determinei”. Depois disso, Poulenc teria pedido a Gabriel que lhe trouxesse sua partitura da peça e nela escreveu: “Para meu querido Tacchino, que tocará a Toccata alla Volodia

A propósito, a Toccata é a última faixa do disco!

Francis Poulenc (1899 – 1963)

  1. Léocadia, FP 106 I. Les chemins de l’amour
  2. 15 Improvisations, No. 15 em dó menor ‘Hommage à Edith Piaf’
  3. Mélancolie

Trois Mouvements perpétuels

  1. Assez modéré
  2. Très modéré
  3. Alerte
  4. Novelette No. 3 em mi menor, sur un thème de Manuel de Falla
  5. 15 Improvisations, No. 12 em mi bemol maior ‘hommage à Schubert’
  6. Les Soirées de Nazelles – Variação II. Le coeur sur la main
  7. Suite française (d’après Claude Gervaise), FP80
  8. Pastourelle em si bemol maior, de “L’Éventail de Jeanne”, FP 45b
  9. Presto em si bemol maior

8 Nocturnes

  1. Sans traîner
  2. Assez allant
  3. Improvisations, No. 13 em lá menor

Suite française (d’après Claude Gervaise), FP80

  1. Bransle de Champagne. Modéré mais sans lenteur
  2. Sicilienne. Très doucement
  3. Valsa em dó maior
  4. 2 Novelettes, FP 47: I. Modéré sans lenteur
  5. Suite française d’après Claude Gervaise, FP 80b: I. Bransle de Bourgogne. Gai mais sans hâte

Villageoises

  1. Valse tyrolienne. Gai
  2. Staccato. Pas vite
  3. Polka. Sans hâte
  4. 8 Nocturnes, FP 56: IV. Bal fantôme. Lent, très las et piano

10 Improvisations, FP 63

  1. 7 em dó maior (Modéré sans lenteur)
  2. 2 em lá bemol maior (Assez animé)

Bourrée, au Pavillon d’Auvergne

  1. Thème varié
  2. Variation III – Pastorale
  3. Variation VI – Ironique
  4. Suíte para Piano em dó maior, FP 19: I. Presto
  5. 5 Impromptus, FP 21: III. Très modéré
  6. Novelettes, FP 47: II. Très rapide et rythmé
  7. Sonata para piano a quatro mãos, FP 8: II. Rustique
  8. 3 Pièces (1953 Version), FP 48: III. Toccata

Gabriel Tacchino, piano

Emmanuelle Stephan, piano (Faixa 33)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 222 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 162 MB

Críticas da Amazon podem ser tendenciosas, mas achei esta aqui bastante razoável: If you discovered the music of Francis Poulenc during the 60s or 70s, it is most likely that you had an LP of Maestro Tacchino playing. After decades, I still remember those EMI/Angel records, the discovery and the pleasure of listening to such melodic richness, without an ounce of sugary excess. No wonder, Gabriel Tacchino was the only pupil Poulenc had, studying also under the tutelage of the great Jacques Fevrier. More authentic it cannot be! […] By the end of this disc I was literally elated. As if I was sitting at a beautiful parisian Café, enjoying patisserie with coffee, and watching people go by. A listening ride worth having.

Aproveite!

René Denon

Gabriel Tacchino experimentando um dos grandes pianos do PQP Bach…

Esta é de outro compositor terrivelmente francês:

 

Maurice Ravel – Valses nobles et sentimentales, M. 61, Jeux d’eau, M. 30, Piano Concerto, etc. – Cécile Ousset, Simon Rattle, CBSO

A estréia de Cécile Ousset aqui no PQPBach vai ser em grande estilo, em um pacotaço com obras de Ravel. Estas gravações foram realizadas em 1990 pelo saudoso selo EMI, e foi acompanhada nos Concertos pelo então jovem Simon Rattle. Fui então atrás de maiores informações sobre ela e encontrei o seguinte:

Nasceu em Tarbes, na França, em 1936. Criança prodígio, já aos cinco anos de idade encantava a todos em seu primeiro recital, indo mais tarde estudar no Conservatório de Paris. Ganhou diversos prêmios em Concursos, gravou com os mais renomados maestros e orquestras ao redor do mundo, e gravou muitos discos. Também lecionou em diversas Escolas de Música ao redor do planeta. Em 2006 retirou-se dos palcos por dores nas costas.

A obra pianística de Ravel já apareceu por aqui diversas vezes, com os mais diversos intérpretes. Trago Cécile Ousset para os senhores conhecerem por trazer dois elementos que considero essenciais: a sensibilidade feminina e o sotaque francês, tão importante nessas peças. Clientes da amazon foram unânimes em darem cinco estrelas para as gravações das ‘ Valses nobles et sentimentales’, e tenho de concordar com eles. O que ouvimos aqui é uma intérprete madura, e profunda conhecedora dos meandros e armadilhas dessas obras. Espero que apreciem.

01 – Valses nobles et sentimentales, M. 61_ No. 1, Modéré
02 – Valses nobles et sentimentales, M. 61_ No. 2, Assez lent
03 – Valses nobles et sentimentales, M. 61_ No. 3, Modéré
04 – Valses nobles et sentimentales, M. 61_ No. 4, Assez animé
05 – Valses nobles et sentimentales, M. 61_ No. 5, Presque lent
06 – Valses nobles et sentimentales, M. 61_ No. 6, Vif
07 – Valses nobles et sentimentales, M. 61_ No. 7, Moins vif
08 – Valses nobles et sentimentales, M. 61_ No. 8, Épilogue. Lent
09 – Jeux d’eau, M. 30
10 – Menuet sur le nom de Haydn, M. 58
11 – Sonatine, M. 40_ I. Modéré
12 – Sonatine, M. 40_ II. Mouvement de menuet
13 – Sonatine, M. 40_ III. Animé
14 – Pavane pour une infante défunte, M. 19
14 – Pavane pour une infante défunte, M. 19
15 – Miroirs, M. 43_ I. Noctuelles
16 – Miroirs, M. 43_ II. Oiseaux tristes
17 – Miroirs, M. 43_ III. Une barque sur l’océan
18 – Miroirs, M. 43_ IV. Alborada del gracioso
19 – Miroirs, M. 43_ V. La vallée des cloches
20 – Piano Concerto in G Major, M. 83_ I. Allegramente
21 – Piano Concerto in G Major, M. 83_ II. Adagio assai
22 – Piano Concerto in G Major, M. 83_ III. Presto
23 – Le Tombeau de Couperin, M. 68_ I. Prélude
24 – Le Tombeau de Couperin, M. 68_ II. Fugue
25 – Le Tombeau de Couperin, M. 68_ III. Forlane
26 – Le Tombeau de Couperin, M. 68_ IV. Rigaudon
27 – Le Tombeau de Couperin, M. 68_ V. Menuet
28 – Le Tombeau de Couperin, M. 68_ VI. Toccata
29 – Piano Concerto for the Left Hand in D Major, M. 82_ I. Lento
30 – Piano Concerto for the Left Hand in D Major, M. 82_ II. Allegro
31 – Piano Concerto for the Left Hand in D Major, M. 82_ III. Tempo primo

Cécile Ousset – Piano
City of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle – Conductor

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas (Cor de Groot) / Variações “Là ci darem la mano”, Op. 2 (Moreira Lima)

A mazurka é um tipo de dança folclórica polonesa de compasso ternário. Nesta gravação das Mazurkas, Cor de Groot utiliza um piano Pleyel, que era a marca preferida por Chopin. Para casa de campo de George Sand em Nohant, por exemplo, foram encomendados dois instrumentos Pleyel: um piano de cauda para Chopin e um piano de armário para Sand e sua filha Solange. Entre os convidados em Nohant estava o pintor Eugène Delacroix, que descreveu em uma carta:

« Par instants, il vous arrive, par la fenêtre ouverte sur le jardin, des bouffées de musique de Chopin, (…) qui se mêlent au chant des rossignols et au parfum des roses. » Auprès de son ami Pierret, Delacroix se félicitait de sa vie de couvent: «Nous attendions Balzac qui n’est pas venu, et je n’en suis pas fâché. C’est un bavard (…). J’ai des tête-à-tête à perte de vue avec Chopin que j’aime beaucoup et qui est homme d’une distinction rare. »

“De vez em quando, pela janela que dá para o jardim, nos chegam sopros de música de Chopin, (…) que se misturam com o canto dos rouxinóis e o perfume das rosas.” Com seu amigo Pierret, Delacroix felicitou-se por seu isolamento: “Estávamos esperando por Balzac que não veio, e não lamento. Ele é um falador (…). Tenho incontáveis encontros a dois com Chopin, de quem gosto muito e que é um homem de rara distinção.”

Frédéric Chopin por Eugène Delacroix

Como vocês sabem, a escritora George Sand teve uma ligação apaixonada e tumultuosa com Chopin por cerca de dez anos. Gosto de imaginar essas mazurkas na casa de George Sand, seja essa casa de campo ou sua casa em Paris, a poucos minutos a pé de Montmartre e do Moulin Rouge (mas o famoso cabaré só abriria em 1889). Com companhias como Delacroix e Balzac… (mas talvez o genial autor das Ilusões Perdidas, viciado em café e fã de Beethoven, não tivesse a calma suficiente para apreciar essas obras.) É nesse tipo de ambiente que as mazurkas de Chopin soam bem, e não em salas de concerto imensas. O que foi dito nesta postagem sobre as obras de Brahms para piano a quatro mãos vale também aqui: o piano Pleyel do século XIX combina perfeitamente com o caráter íntimo das mazurkas, com seu gosto agridoce feito de alegrias suaves e de dores inconfessáveis.

O holandês Cor de Groot (1914-1993) mostra aqui que, entre os charmes das mazurkas, estão os ornamentos: trinados, mordentes e outros tipos de alternância entre notas próximas, que no timbre muito característico do piano Pleyel chegam a lembrar de longe o som dos ornamentos no cravo de Bach ou Scarlatti. É música para se ouvir com amigos, familiares e outras pessoas queridas, não combina com os grandes palcos.

Esses dois discos fazem parte de uma daquelas caixas de vários CDs, neste caso, da gravadora Brilliant Classics, famosa por comprar e relançar gravações de outros selos. Assim, por um desses acasos, as 41 mazurkas gravadas por Cor de Groot (ele não gravou as últimas, op.67 e 68, sabe-se lá por quê) são seguidas por uma obra de juventude de Chopin. As Variações sobre “Là ci darem la mano”, para piano e orquestra (opus 2) foram escritas ainda na Polônia, em 1827, sobre um tema da ópera Don Giovanni de Mozart.

A interpretação dessa obra tão pouco tocada fica a cargo do pianista brasileiro Arthur Moreira Lima e da Orquestra Filarmônica de Sofia, na Bulgária. Enquanto a orquestração é leve e mozartiana, Moreira Lima faz uma leitura intensa, não hesitando em levar ao pé da letra as marcações do compositor como “con forza e prestissimo” ou “risoluto“. Nada poderia ser mais diferente do caráter íntimo, familiar, ao pé do ouvido, das mazurkas por Cor de Groot. Essa escolha da Brilliant Classics de juntar esses dois repertórios é ao mesmo tempo estranha, contraditória e interessante. Após o Chopin sofisticado, tocando para amigos da alta sociedade parisiense como Sand e Delacroix e mais algumas condessas e marquesas, o Chopin jovem virtuose dos palcos – um Chopin raro, pois foram poucas as suas apresentações em grandes teatros, ao contrário de Liszt ou Mozart que tocaram concertos com orquestras até perder a conta.

No diário de Clara Wieck (futura Clara Schumann) em 1831 ela anotou: “As Variações op. 2 de Chopin, que aprendi em oito dias, são a peça mais difícil que já vi ou toquei até agora.” Robert Schumann, seu futuro marido, escreveu, no mesmo ano e sobre a mesma obra: “Tirem os chapéus, cavalheiros: um gênio!”

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas quase completas / Variações “Là ci darem la mano”, Op. 2

41 Mazurkas: Op. 6, Op. 7, Op. 17, Op. 24, Op. 30, Op. 33, Op. 41, Op. 50, Op. 56, Op. 59, Op. 63
Cor de Groot – Grand Piano Pleyel 1847

Variations On “La Ci Darem La Mano” From Mozart’s Don Giovanni, In B Flat Major Op. 2 For Piano And Orchestra
Arthur Moreira Lima – Piano; Orquestra Filarmônica de Sofia, Dimitri Manolov

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Piano Pleyel (1843) que Chopin tocava na casa da Condessa Natalia Obreskoff. Entre os pertences da condessa, se encontram manuscritos de duas mazurkas assinados pelo compositor

Outra excelente gravação de Chopin em piano de época: este álbum de Lubimov tocando um piano Erard (1837). E no aniversário de Moreira Lima, não deixem de ouvi-lo nas Valsas de Esquina recém-postadas…

E vamos às curiosidade inúteis das cenas da vida parisiense: assim como o Moulin Rouge, a loja da Pleyel, 20, rue Rochechouart, fica a menos de 15 minutos a pé da casa parisiense de George Sand. Esta casa, aliás, hoje é o “Museu da Vida Romântica” – Musée de la Vie Romantique

Hoje é aniversário de 82 anos de Arthur Moreira Lima. Parabéns!

Pleyel