A música para piano solo de Mozart tem um traço galante, clássico, que pode soar superficial. Muitas peças foram escritas na sua juventude e em vários casos eram dedicadas a seus alunos. Mas, este disco tem um programa bem peculiar, que mostra uma outra dimensão nesse tipo de repertório.
A Sonata em lá menor K. 310 foi escrita sob o impacto da morte de sua mãe, que o acompanhava em uma viagem à Paris. O seu enorme movimento lento, andante cantabile, transcende todos os outros escritos até então. Mas, não espere lacrimosas notas, pois que mesmo na maior das tristezas, o compositor é Wolfgang e sua genialidade e elegância transparecem.
A brilhante marcha que segue após a sonata é uma transcrição feita por Mozart de uma peça orquestral, uma abertura para uma serenata.
A courante e a giga que seguem a marcha refletem o profundo interesse que Mozart teve pela música de Bach e de Handel, com as quais teve contato através do entusiasta por esses mestres, o Barão Gottfried van Swieten.
A próxima peça descrita assim pelo escritor do libreto, Michael Steinberg: O que ouvimos no Rondó em lá menor é tristeza, tristeza que vai além de um possível consolo, vai mesmo além das lágrimas. É a música mais triste que eu conheço que não é de Schubert. Escrito em 1787, reflete o estado de espírito de Wolfgang naqueles dias. Nas cartas escritas nessa época para o amigo Michael Puchberg, colega maçom a quem Mozart recorria em busca de ajuda financeira, e para Constanze, aparecem frases como: ‘uma tristeza constante’ e ‘um vazio que está sempre lá e cresce dia após dia’. O Rondó tem o tipo de tristeza que também está no Quinteto para Cordas K. 516 e na ária de Pamina, ‘Ach, ich fuhl’s’, de A Flauta Mágica. Hã… han, fica a dica, pode ser que você ache essas peças procurando bem, aqui nas páginas do PQP Bach.
Para terminar o disco, outra Sonata para piano K. 533/494, escrita em duas etapas. O último movimento foi escrito em 1786, ano de composição do Fígaro, e que foi posteriormente adaptado para seguir os dois primeiros movimentos da sonata, escritos em 1788.
A Mozart programme such as this, which includes two of the greatest sonatas and the A minor Rondo, leaves absolutely no margin for error or insufficiency, nor indeed for anything at all approximate or generalised. It’s given to very few to play Mozart as well as Richard Goode[…]
It’s quite big playing, and the range of sonority is appropriate to the A minor Sonata, K310, in particular; […] Goode has a characteristic touch of urgency that has nothing to do with impetuosity or agitation of the surface, but rather with carrying the discourse forward and making us curious about what will happen next. In the presto finale, […] Goode is exciting and articulate, wonderfully adept at getting from one thing to another. […] The shorter pieces, enterprisingly chosen, set off the great works admirably. Exceptional sound throughout – like the playing, quite out of the ordinary run. [Gramophone]
Caros seguidores do PQP Bach, o título da postagem remete à literatura de cordel, mas faz referência a um possível único encontro entre estes dois compositores violinistas que foram virtualmente exatos contemporâneos. O encontro ter-se-ia dado em Kassel, em 1728, quando ambos estavam no auge de suas técnicas virtuosísticas. O relato foi feito muitos anos depois pelo bobo da corte, o que dá um toque rocambolesco ao caso, e ficou famoso pela forma expressiva como ele descreveu a atuação de ambos: Este um [Leclair] toca como um anjo e aquele outro [Locatelli] como um demônio.
Estas sonatas são barrocas, mas têm um caráter virtuosístico que as difere da imagem que comumente se têm de peças barrocas – melódicas e belas – como o Adagio de Albinoni ou o Canon de Pachelbel. Aqui a música tem um brilho e faz-se encantar pelas habilidades dos intérpretes, que têm oportunidades inúmeras de mostrar sua técnica. Talvez por isso sejam menos divulgadas e conhecidas, mas o disco é excelente e deve render uma boa hora de ótimo entretenimento. Eu gostei em especial da última sonata, em cinco movimentos.
Jean-Marie Leclair (1697-1764)
Ouvertures and Trio Sonatas, Op. 13, No. 5 in A major
Grave
Allegro
Largo
Allegro assai
Pietro Antonio Locatelli (1695-1764)
10 Sonatas, Op. 8, No. 4 in C Major
Cantabile
Allegro – Adagio
Vivace
Allegro molto
Jean-Marie Leclair (1697-1764)
6 Duos for 2 Violins, Op. 12, No. 6 in B-Flat Major
Allegro
Allegro moderato
Andante
Allegro non presto
Pietro Antonio Locatelli (1695-1764)
10 Sonatas, Op. 8, No. 7 in A Major
Andante
Adagio
Cantabile
Allegro
Jean-Marie Leclair (1697-1764)
12 Sonatas for Violin or Flute and Continuo, Op. 2, No. 1 in E minor
This is music-making of the highest order, from the ideally balanced ensemble interplay to the refined, at times “unearthly” (the central section of Locatelli’s C major sonata) solo performances. Although these pieces demand virtuoso skills equal to any other of the more highly respected works of Bach or Paganini, they have not obtained the favor that they deserve from today’s more accomplished violinists. […] The sound, from Belgium’s Church of Jauchelette, is exemplary.
E aí, anjo ou demônio?
Aproveite!
René Denon
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As postagens neste blog são bastante variadas e não costumam seguir ordens: vocês sabem que é comum ver aqui, depois de uma maratona de concertos barrocos, uma ópera romântica e depois um clássico do jazz… Mas às vezes algumas combinações de álbuns podem soar especialmente felizes e achei importante juntar a música para piano de Komitas (1869-1935) com a do outro compositor de origem armênia que que fez música bastante original, afastada das correntes e modas do século XX. Ouvir Komitas e depois ouvir Hovhaness, especialmente a música para piano do mesmo, nos permite certas constatações do tipo “então é daqui que ele tirou isso!”
Nascido Alan Vaness Chakmakjian, ele usou como nome artístico uma adaptação do seu nome do meio (mais uma semelhança com Komitas, que foi o nome recebido em um tipo de ordenamento religioso, e não de batismo). Fortemente interessado na música da Armênia e da Índia, Hovhaness teve o reconhecimento de instituições e pessoas como o maestro Leopold Stokowski, o compositor John Cage e o pianista Keith Jarret, que gravou o concerto de sonoridade bastante oriental quando o compositor ainda era vivo (aqui).
Nascido perto de Boston, Hovhaness estudou em Tanglewood mas, nas suas próprias palavras, tomou rumos completamente diferentes dos que seus professores aprovariam. Apesar disso, conseguiu alguns sucessos em Nova York a partir dos anos 1940 e, já acom mais de 40 anos, fez viagens para a Índia e o Japão para complementar seu interesse pelas diferentes tradições musicais asiáticas.
temido crítico Virgil Thomson escreveu no New York Herald Tribune em 1947: “A pureza de sua inspiração fica evidente na extrema beleza do material melódico, que é original e não coletado em fontes populares do folclore.” Já o compositor Lou Harrison descreveu assim um outro concerto: “The serialists were all there. And so were the Americanists, both Aaron Copland’s group and Virgil [Thomson]’s. And here was something that had come out of Boston that none of us had ever heard of and was completely different from either. There was nearly a riot in the foyer [during intermission] — everybody shouting. A real whoop-dee-doo.”
Apesar desses sucessos, sua tendência à esquisitice deve ter impedido um sucesso mais amplo como o de seus contemporâneos Copland e Bernstein. Hovhaness passou boa parte da maturidade em Seattle, cidade distante das grandes orquestras e salas dos EUA, onde ele dava aula e compunha centenas de obras para piano, 67 sinfonias (sim, você não leu errado). A grande prolixidade – característica que une Hovhaness a Milhaud e Villa-Lobos – faz com que até hoje certas obras estejam recebendo primeiras ou segundas gravações em selos pequenos, procurados por fãs seletos mas fiéis. Compostas entre as décadas de 1930 e 1980, em sua maioria elas demandas poucos truques de virtuosismo, com as dificuldades se concentrando mais nas relações entre melodias (normalmente na mão direita) e seções com notas decorativas abusando dos ornamentos, ritmos repetitivos, sons modais e, mais raramente, técnicas expandidas em que se atacam diretamente as cordas do piano
Alan Hovhaness (1911-2000):
Música para piano, por Alan Hovhaness
1. Ghazal No.1, Op.36 No.1
2. Komachi, Op.240
3. Shalimar, Op.177
4. Sonata Prospect Hill, Op.346
5. To Hiroshige’s Cat (1st Mov.), Op.366
6. Love Song Vanishing Into Sounds Of Crickets Op.327
Alan Hovhaness, Yamaha C7 Grand Piano
1. Mystic Flute op. 22 2.00
2. Pastoral n° 1, op. 111 n° 2 5.28
3-5. Suite op. 96
I. Doloroso 2.00 / II. Invocation Jhala 4.08 / III. Mysterious Temple 3.10
6. Dance Ghazal op. 37a 1.56
7. Achtamar op 64 3.51
8. Two Ghazals op. 36 7.01
9-12. Sonata for piano “Cougar Mountain” op. 390
I. 2.53 / II. 3.19 / III. 2.30 / IV. 4.05
13. Consolation op. 419 2.09
14-16. Suite On Greek Tunes
I. Wedding Song 1.29 / II. Grape-yard Song 0.54 / III. Dance in seven Tala 2.14
17. Love Song Vanishing Into Sounds of Crickets op. 327 3.53
18. Slumber Song op 52 2.22
19-20. Macedonian Mountain Dance op. 144 & 144b
Dance n°1 3.01 / Dance n° 2 2.56
21. Dark River and Distant Bell op. 21 4.47
22. Jhala op. 103 5.57
23-25. Three Haikus op. 113
Haiku I 1.14 / Haiku II 1.20 / Haiku III 4.14
François Mardirossian, piano
Recorded: Villethierry, France, 2021
I’m always looking for new elements of sounds, and then there are so many possibilities with what we already have. What I am looking for is a deeper truth, a further penetration into what I have already done. And into what I feel is needed in music. A deeper, more emotional understanding of the universe, a greater oneness with the universe. However, I am certainly always open to new sounds if they are beautiful, but not to the noise of traffic jams – we have had enough of that. (Alan Hovhaness, entrevista em 1971)
Um disco duplo que junta com grande sucesso a música composta no começo do século XX por dois homens cuja vida individual iria se misturar com a carnificina da 1ª Guerra Mundial. As dezenas de páginas do livreto do álbum – lançado em 2024 – trazem um forte resumo do genocídio armênio de 1915, da guerra e fazem uma triste comparação com as igualmente estúpidas carnificinas do nosso tempo, pouco notado à época por se situar ao mesmo tempo da carnificina mais ampla que ocorria principalmente na Europa Ocidental. Mas antes dessas importantes informações biográficas e históricas eu gostaria de deixar a minha opinião sobre este álbum: o jovem Kirill Gerstein (piano), acompanhado de Ruzan Mantashyan (soprano) e mais alguns colegas, escolheram muito bem o programa de obras: não só por misturar Komitas com o mais célebre Debussy, mas também por juntar peças para piano solo, dois pianos, piano e voz. Assim, por exemplo, a transição entre “Chansons de Bilitis” e “Six Épigraphes antiques” faz todo o sentido: em ambas as peças, Debussy tem em mente um mundo imaginário com elementos da antiguidade clássica (sátiros, ninfas, deuses gregos e egípcios…), típicos da obra desse compositor que buscou sempre o exótico, o detalhe do outro que causa estranhamento e nos faz sair da mesmice dos sons, grosso modo, “ocidentais”, seja lá o significado deste último coletivo imaginário. É claro que o exotismo da música de Komitas se encaixa bem nisso tudo. Ou seja: o disco duplo, além de muito prazeroso de se ouvir, foge do padrão atual de se juntar as peças musicais como em uma prateleira de supermercado – aqui a música para dois pianos, lá no outro corredor as obras para piano e voz, e lá no cantinho mal iluminado os “orientais”…
Komitas estudou música em Berlim a partir de 1895 e, antes, em Etchmiadzin – cidade que abriga uma catedral construída no ano 483, o centro religioso da Igreja da Armênia, que por sua vez é uma instituição separada dos dois cristianismos que sucederam ao império romano (o de Roma e o de Constantinopla). Com essa base cultural fundada em uma das mais antigas tradições do cristianismo, e também informado sobre a tradição germânica, Komitas coletou e transcreveu mais de 3 mil peças de música tradicional da Armênia, se interessando também pela música dos Curdos, grupo étnico até hoje imprensado entre a Turquia, o Irã e o Iraque e frequentemente pisoteado pelas maiorias daqueles países. A partir de 1906, Komitas fez turnês pela Europa: Rússia, Itália, Áustria, Suíça, Alemanha e sobretudo foi muito apreciado em Paris, onde alguns colegas armênios já viviam e ajudaram a fazer seu nome. Claude Debussy, entre outros, elogiaram a sua música. Mas com a 1ª Guerra Mundial, a grande catástrofe aconteceu, mas vou parar esse meu resumo por aqui… O texto a seguir junta trechos do livreto, de modo a apresentar esse exótico Komitas Vardapet, mais conhecido pelo primeiro nome, e que para mim não era nem um pouco conhecido.
Artur Avanesov escreveu no livreto: Like Bartók, Komitas was an ethnomusicologist with a passion for the music of his own people. Like Bartók, he understood that to fully comprehend his own tradition, he also had to comprehend the traditions of other nations, and their research often led them in the same direction. Komitas’s music is particularly close to Bartók’s folklore-based miniatures, such as Hungarian Folksongs from Csík, Romanian Christmas Carols, dances from Mikrokosmos, and his music for children. Both composers often build the vertical harmony out of multimodal layers. However, unlike Komitas, Bartók, a true virtuoso, created Hungarian music under the influence of Liszt and left behind a vast number of large-form compositions. In spite of the evidence that Komitas fully mastered the art of instrumentation, none of his mature works features any instrument other than the piano.
As an ethnographer, Komitas had a choice: either to assume the position of an observer describing and archiving the state of traditional music at that moment or, armed with his knowledge and expertise, to re-create the eessence of national music as he perceived it, basing it on his own research, even when this essence was quickly disappearing. He clearly took the second path. There are multiple indications that, even in his time, actual folkloric practice may have been somewhat different than the samples he recorded would lead us to believe. Not an archivist, but a creator by nature, Komitas approached the study and preservation of folklore critically, rejecting everything that would not fit in with his vision of Armenian music, and perhaps sometimes editing on the basis of historical practice to make the reality correspond with logic. The result of Komitas’s efforts is that Armenian folklore as we know it today is largely Komitas’s folklore, the face of the national music that he restored from a half-erased original. It was to this gigantic task that he, indeed, had to sacrifice himself – to silence his own song in order to save the art of an entire nation from a fatal disease leading to oblivion and non-existence.
[depois do genocídio armênio 1915, do qual ele, que estava em Constantinopla/Istanbul, escapou com vida, mas com marcas da tortura e da morte de inúmeros conhecidos…] At first, he tried to work, but going back to his daily routine proved impossible. Besides, he was constantly haunted by paranoid hallucinations and nightmares. In 1916, while conducting his last Easter mass, he started sobbing at the altar as the hymn “Lord, Open the Doors” sounded. He screamed and prayed all night long. His landlord threatened to evict him or non-payment of rent. The same year, he finalized his last edition of the Piano Dances, after which working became unbearable..
CD 1
CLAUDE DEBUSSY (1862–1918)
12 Études (1915) – à la mémoire de Frédéric Chopin
PREMIER LIVRE
1 I. Pour les cinq doigts · d’après Monsieur Czerny
2 II. Pour les tierces
3 III. Pour les quartes
4 IV. Pour les sixtes
5 V. Pour les octaves
6 VI. Pour les huit doigts
DEUXIÈME LIVRE
7 VII. Pour les degrés chromatiques
8 VIII. Pour les agréments
9 IX. Pour les notes répétées
10 X. Pour les sonorités opposées
11 XI. Pour les arpèges composés
12 XII. Pour les accords
KOMITAS VARDAPET (1869–1935)
Armenian Dances (1916)
13 Manushaki of Vagharshapat
14 Yerangi of Yerevan
15 Unabi of Shushi
16 Marali of Shushi
17 Shushiki of Vagharshapat
18 Het u Aradj of Karin
19 Shoror of Karin
Kirill Gerstein, piano
CD 2
CLAUDE DEBUSSY
Chansons de Bilitis (1897-98)
Text: Pierre Louÿs
1 I. La Flûte de Pan
2 II. La Chevelure
3 III. Le Tombeau des naïades
Ruzan Mantashyan, soprano
Kirill Gerstein, piano
6 Épigraphes antiques
pour piano à quatre mains (1914–15)
4 I. Pour invoquer Pan, dieu du vent d’été
5 II. Pour un tombeau sans nom
6 III. Pour que la nuit soit propice
7 IV. Pour la danseuse aux crotales
8 V. Pour l’Égyptienne
9 VI. Pour remercier la pluie au matin
Katia Skanavi and Kirill Gerstein, piano
KOMITAS VARDAPET
Armenian Songs
Text: traditional
10 Tsirani tsar
11 Chinar es
12 Garoun a
13 Le le Yaman
14 Qeler Tsoler
15 Antouni
Ruzan Mantashyan, soprano
Kirill Gerstein, piano
CLAUDE DEBUSSY
Late Pieces
16 Noël des enfants qui n’ont plus de maisons (1915)
Text: Claude Debussy
Ruzan Mantashyan, soprano
Kirill Gerstein, piano
17 Page d’album pour piano pour l’œuvre du « Vêtement du blessé » (1915)
18 Berceuse héroïque – pour rendre hommage à S.M. le roi Albert Ier de Belgique et à ses soldats (1914)
19 Étude retrouvée (1915)
20 Élégie (1915) from Pages inédites – sur la Femme et la Guerre
21 Les Soirs illuminés par l’ardeur du charbon (1917)
Kirill Gerstein, piano
En blanc et noir pour deux pianos (1915)
22 I. À mon ami A. Koussevitzky (Avec emportement)
23 II. Au lieutenant Jacques Charlot tué à l’ennemi en 1915, le 3 mars (Lent. Sombre)
24 III. À mon ami Igor Stravinsky (Scherzando)
Thomas Adès and Kirill Gerstein, piano
Acho que estou passando por um Período Savall. Mas não creio que vocês tenham vontade de reclamar. Este é um disco festivo e luminoso como são a Música Aquática e a Música para os Reais Fogos de Artifício. Savall e sua orquestra dão um banho como o que aconteceu na estreia da Música para os Reais Fogos de Artifício.
A Música Aquática (Water Music) é uma suíte orquestral cuja estreia ocorreu em 17 de julho de 1717, após o rei Jorge I encomendar um concerto para ser executado sobre o rio Tâmisa. O concerto foi interpretado originalmente por cerca de 50 músicos que ficavam sobre uma barca próxima ao barco real, a partir do qual o monarca escutava a peça com sua corte. O rei teria gostando tanto das suítes que pediu a seus músicos, já esgotados, que tocassem-na por três vezes…
No dia 21 de Abril de 1749, contra a vontade do compositor, realizou-se a estreia da Música para os Reais fogos de Artifício. Handel escreveu-a para comemorar a assinatura do tratado de Aix-la-Chapelle, que pôs fim à Guerra da Sucessão da Áustria. A primeira apresentação desta obra, no dia 21 de Abril, foi mais um ensaio público do que uma estreia, pois a estreia estava marcada para o dia 27. No entanto, este ensaio juntou 12.000 pessoas, causando enorme engarrafamento na ponte de Londres. Da estreia propriamente dita, o mínimo que se pode dizer é que foi atribulada. Aconteceu no dia 27 de Abril de 1749 e a emoção não esteve ausente: a estrutura montada especialmente para a ocasião incendiou parcialmente, além de ter chovido durante o concerto, o que apagou os fogos-de-artifício, além de molhar o público.
Georg Friederich Handel: Water Music / Music for the Royal Fireworks
1. Water Music, Ste I: Prld
2. Water Music, Ste I: Menuet I
3. Water Music, Ste I: Menuet II
4. Water Music, Ste I: Rigaudon I
5. Water Music, Ste I: Rigaudon II
6. Water Music, Ste I: Menuet I
7. Water Music, Ste I: Menuet II
8. Water Music, Ste I: Gigue I
9. Water Music, Ste I: Gigue II
10. Water Music, Ste I: Bourree
11. Water Music, Ste I: Lentement
12. Water Music, Ste I: Alla Hornpipe
13. Water Music, Ste II in F: Ov
14. Water Music, Ste II in F: Adagio E Staccato
15. Water Music, Ste II in F: Allegro
16. Water Music, Ste II in F: Andante, Allegro
17. Water Music, Ste II in F: Menuet
18. Water Music, Ste II in F: Air
19. Water Music, Ste II in F: Bourree
20. Water Music, Ste II in F: Hornpipe
21. Water Music, Ste II in F: Aria
22. Water Music, Ste II in F: Menuet
23. Music For The Royal Fireworks, Ov: Adagio
24. Music For The Royal Fireworks: Allegro-Lentement-Allegro
25. Music For The Royal Fireworks: Bourree
26. Music For The Royal Fireworks, La Paix: Largo Alla Siciliana
27. Music For The Royal Fireworks, La Rejouissance: Allegro
28. Music For The Royal Fireworks: Menuet II – Menuet I – Menuet II
Já há algum tempo venho ensaiando a postagem dessa série, uma das melhores gravações que já ouvi dessas obras. Romântico inveterado que sempre fui, tenho a “Sonata Primavera” como a trilha sonora de minha juventude. Hoje, já adentrando na meia idade, a gravação da dupla Henryk Szeryng / Ingrid Haebler ainda soa nos meus ouvidos, trinta e poucos anos depois de ouvi-la pela primeira vez, e que me impactou profundamente, em uma fita cassete que arrebentou de tanto que ouvi. Lembro de ouvi-la no meu walkman caminhando pelas ruas de São Paulo, em finais de tarde tipicamente paulistanos, caóticos e barulhentos, ali no início dos anos 90. Beethoven já embalava meus sonhos e desejos.
Antje Weithaas nasceu em 1966, um ano mais nova que este que este que vos escreve, é uma das melhores violinistas da atualidade, muito discreta, e dedica boa parte de sua vida a dar aulas, porém, de vez em quando, entra na gravadora e sai com uma belíssima gravação. Já devo ter ouvido tudo o que ela gravou, e é difícil dizer que uma gravação é mais fraca que outra. Assim como sua integral dos Concertos de Max Bruch, seu Brahms também tem muita personalidade e se destaca como um dos melhores registros desse Concerto já realizados neste século.
Esta série das Sonatas de Beethoven tem três volumes, e Antje conta com a parceria do pianista Dénes Vájon. E vou trazê-los aos poucos, para serem melhor apreciados.
V0u começar pelo fim, esse é o terceiro volume, que não poderia começar melhor, pois abre com a maravilhosa Sonata Primavera, obra que sempre me emociona, mesmo depois de já ouvi-la dezenas, quiçá centenas de vezes. Weithaas opta por uma leitura mais conservadora e discreta, porém não deixa de nos emocionar com sua sensibilidade.
Longe de querer compará-la com gigantes do passado, como o próprio Szeryng, Antje Weithaas vem escrevendo seu nome com discrição no rol dos grandes solistas da atualidade. Vale a pena conhecê-la.
P.S. Após concluir o texto desta postagem, fui no site da violinista e me deparei com esta notícia:
Antje Weithaas na lista de melhores do German Record Critics’ Prize pela primeira vez: Beethoven Vol. 3 premiado como gravação de referência
Pela primeira vez, Antje Weithaas foi premiada com um lugar na lista dos melhores do Prêmio da Crítica Discográfica Alemã. O PdSK elogiou o Volume 3 da Gravação Completa de Beethoven de Antje Weithaas e Dénes Várjon como uma “gravação de referência que ninguém deve perder”.
Não preciso falar mais nada, né?
1 Violin Sonata No. 5 in F Major, Op. 24 _Spring_ – I. Allegro
2 Violin Sonata No. 5 in F Major, Op. 24 _Spring_ – II. Adagio molto espressivo
3 Violin Sonata No. 5 in F Major, Op. 24 _Spring_ – III. Scherzo. Allegro molto — Trio
4 Violin Sonata No. 5 in F Major, Op. 24 _Spring_ – IV. Rondo. Allegro ma non troppo
5 Violin Sonata No. 6 in A Major, Op. 30 No. 1 – I. Allegro
6 Violin Sonata No. 6 in A Major, Op. 30 No. 1 – II. Adagio molto espressivo
7 Violin Sonata No. 6 in A Major, Op. 30 No. 1 – III. Allegretto con variazioni
8 Violin Sonata No. 1 in D Major, Op. 12, No. 1 – I. Allegro con brio
9 Violin Sonata No. 1 in D Major, Op. 12, No. 1 – II. Tema con variazioni. Andante con moto
10 Violin Sonata No. 1 in D Major, Op. 12, No. 1 – III. Rondo. Allegro
11 Violin Sonata No. 10 in G Major, Op. 96 – I. Allegro moderato
12 Violin Sonata No. 10 in G Major, Op. 96 – II. Adagio espressivo
13 Violin Sonata No. 10 in G Major, Op. 96 – III. Scherzo. Allegro
14 Violin Sonata No. 10 in G Major, Op. 96 – IV. Poco Allegretto
Handel era grande – grandioso! – e opulência uma de suas marcar registradas. Lembremos que escreveu música real. Nascido no mesmo ano que Johann Sebastian Bach e Domenico Scarlatti era também imensamente talentoso, tanto compositor quanto instrumentista. Foi um cidadão do mundo europeu e dominou com maestria os estilos e gêneros então praticados.
Neste interessante disco temos uma mostra de sua produção orquestral. A orquestra ‘from Ghent to the world’ com o provocador nome B’Rock Orchestra usa instrumentos de época e, apesar de não ser muito grande, produz um som à altura do George. A escolha de repertório é para fisgar os que (ainda) não conhecem a música de Handel e para lembrar aos que a conhecem de quanto é boa.
Dois concertos grossi, um de cada coleção, opus 3 e opus 6. Eu simplesmente adoro o Primeiro Concerto do opus 6. Aberturas de algumas óperas completam este delicioso programa que deve render uma boa hora de barroco prazer.
B’Rock Orchestra has the Baroque era at heart. Our intuitive, ambitious and connective approach has made us one of today’s most successful and forward-thinking period orchestras.
Aproveite!
René Denon
Se você gostou desse post, pode querer visitar este aqui…
Gente, este disco antiguinho tinha que ser postado. Sim, ele é à moda antiga, mas com muita competência e sensibilidade, Rilling e sua excelente turminha apresentam aqui ao menos duas das melhores Cantatas de Bach, a BWV 137 e a 78. A primeira ária de ambas — faixas 2 e 12 — já bastariam pela elevar este CD ao Olimpo. Tudo funciona maravilhosamente e, como diz a imagem que acompanha este post, serve para fazer de você um sujeito mais feliz, mesmo com a fumaceira e a devastação que o agro preparou pra nós. (Escrevo este post em 12 de setembro de 2024. Vou agendá-lo e talvez ele chegue para vocês depois do fim do Brasil.)
J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 137, 129 e 78 (Rilling)
O que você faz naquele momento de grande atribulação? Como lidar com os dias nos quais seu coração se enche de dúvidas e angústias? Como beber daquele amargo copo? Hoje, eu danço…
Esse disco do pianista italiano Alessio Bax, radicado em Nova Iorque, oferece música que foi inspirada em danças. Dançar é uma das manifestações artísticas mais primitivas e definitivamente afeta a todos, mesmo aos mais desajeitados. Eu parafraseio o adágio antigo dizendo: quem dança, seus males espantam!
O disco começa com Suíte Inglesa No. 2 de Bach, que é uma sequência de danças: allemanda, courante, sarabanda, bourrées e gigue, precedidas por um dançante prelúdio. Um salto no tempo e no estilo nos leva à outra suíte de danças, agora composta por Bartók. O contraste não poderia ser mais forte. A modernidade da suíte de Bartók se deve muito à inspiração folclórica, de natureza mais primitiva do que as danças cortesãs de Bach.
Em seguida o mistério e a sensualidade das danças espanholas estão presentes em peças mais curtas, mas absolutamente características. Manuel de Falla e Isaac Albeniz são os culpados desses pequenos pecados em forma de música para dançar.
Valsas não poderiam faltar e Liszt, assim como o elegantíssimo Ravel proveem essa demanda. E para fechar o recital, duas pequenas e virtuosísticas peças: uma transcrição para piano de uma gavota de Bach, feita por Rachmaninov, e uma dança húngara, de Brahms, num arranjo de outro grande virtuose do piano, György Cziffra.
Você não precisa sair rodopiando ao ouvir o disco, mas se você nem batucar os dedos ou mexer com os pés, precisa rápida terapia de dança…
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
English Suite No. 2 in A minor, BWV807
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Bourrée I – VI. Bourrée II
Gigue
Belá Bartók (1881-1945)
Tanz-Suite, Sz. 77, BB 86b (Version for Piano)
Moderato
Allegro molto
Allegro vivace
Molto tranquillo
Comodo
Finale. Allegro
Manuel de Falla (1876-1946)
El sombrero de tres picos: Danza del molinero (Farruca)
[Version for Piano, with introduction transcribed by Alessio Bax]
Danza
Isaac Albéniz (1860–1909)
Tango (No. 2 from Espana, Op. 165)
Danza
Manuel de Falla
El amor brujo: Danza ritual del fuego, para ahuyentar los malos espíritus
Danza
Franz Liszt (1811-1886)
Valses oubliées, S. 215: No. 1
Valse
Maurice Ravel (1875–1937)
La Valse
Valse
Johann Sebastian Bach
Violin Partita No. 3 in E Major, BWV 1006 [Arr. Rachmaninov]
Gavotte en rondeau
Johannes Brahms (1833–1897)
Hungarian Dance No. 6 in D flat major [Arr. György Cziffra]
His ninth solo album on Signum Records, Alessio Bax combines exceptional lyricism and insight with consummate technique and is without a doubt “among the most remarkable young pianists now before the public” (Gramophone). Here he presents an album of works for dancing, including tangos and waltzes spanning three centuries. — [Página da gravadora]
How does Bax achieve such a powerful crescendo at the Bartók Dance Suite’s outset without the least banging …As for Falla’s Ritual Fire Dance, you rarely hear the music soar from the ground up, where booming bass lines ignite genuine right-hand fireworks: a wonderful performance. — [Gramophone Magazine, October 2024]
Ligeti é um dos meus compositores favoritos, assim como Bartók. Este disco é excelente. Como uma compilação de três excelentes obras importantes de Ligeti (o concerto para violoncelo é ótimo; os concertos para piano e violino são obras-primas), é uma excelente introdução ao mundo único e vanguardista de Ligeti. Por causa das excelentes performances (Pierre Boulez conduzindo seu Ensemble Intercontemporain, com virtuoses nos instrumentos solo apresentados), este disco deveria ser conhecido por todos os amantes de Ligeti. As orquestrações do húngaro parecem concebidas de forma sobrenatural. O Concerto para Piano é um turbilhão de fantasias ritmicamente conduzidas, de pulsos quase mecânicos, colidindo, e melodias distorcidas e alegres. O Concerto para Violino é peculiar e chocante, selvagem e apaixonado. Todas as composições do disco demonstram um uso incrivelmente eficaz do virtuosismo a serviço absoluto da visão artística.
György Ligeti (1923-2006): Concertos para Piano, Violoncelo e Violino (Boulez, Queyras, Gawriloff, Aimard, Ensemble InterContemporain)
Concerto For Piano And Orchestra (Piano – Pierre-Laurent Aimard)
1 1. Vivace Molto Ritmico E Preciso – Attacca Subito: 3:55
2 2. Lento E Deserto 7:01
3 3. Vivace Cantabile 4:23
4 4. Allegro Risoluto, Molto Ritmico – Attacca Subito: 4:48
5 5. Presto Luminoso: Fluido, Costante, Sempre Molto Ritmico 3:15
Concerto For Violoncello And Orchestra (Violoncello – Jean-Guihen Queyras)
6 1. ♩= 40 – Attacca: 6:54
7 2. (Lo Stesso Tempo) ♩= 40 8:14
Concerto For Violin And Orchestra (Violin – Saschko Gawriloff)
8 1. Praeludium: Vivacissimo Luminoso – Attacca: 4:18
9 2. Aria Hoquetus, Choral: Andante Con Moto – Attacca: 8:15
10 3. Intermezzo / Presto Fluido 2:44
11 4. Passacaglia: Lento Intenso 5:55
12 5. Appassionato: Agitato Molto 7:13
Composed By – György Ligeti
Conductor – Pierre Boulez
Ensemble – Ensemble InterContemporain
Arrumação dos CDs nas prateleiras faz parte do rol das inúteis coisas que fazemos para nosso próprio prazer. Organizar por ordem alfabética de nomes de compositores pode fazer Alkan morar próximo de Albinoni, o que me parece um disparate. Ordem cronológica dos compositores coloca ombro a ombro gentes como Bach, Handel e Scarlatti – para saber a sequência correta é preciso descobrir os horóscopos de cada um deles. Mas, onde colocar os discos com músicas de dois ou mais compositores? Bem, digam-me lá como fazem vocês… organizar pela cor das lombadas?
Estava eu em mais uma dessas arrumações quando dei com este despretensioso disco, alocado com os discos-encartes de banca. Quem é visto, é lembrado… e lá foi ele para o DVD player que por ora uso nessas situações. A proposta do disco é explorar o gênero musical noturno, no qual o maioral é Chopin, é claro, mas nem só de peças de Chopin ele é composto. Temos três peças do compositor irlandês John Field, intercaladas nas seis primeiras faixas, com três de Chopin. Quão interessante é essa parte do disco. Por mais charmosas e brilhantes que sejam as peças de Field, as obras de Chopin se sobressaem. O mais charmoso dos noturnos de Field, para mim, é o de número 6. Depois temos mais alguns noturnos de Chopin. E como é lindo Noturno em sol maior op. 37/ 2! (Quizz PQP Bach – em qual propaganda esse noturno foi usado?)
Não sei como a produção do disco não escolheu algumas peças de Fauré, outro compositor de noturnos, mas acho que aí entrou o dedo (seria melhor dizer ‘os dedos’?) do intérprete Melvyn Tan. Debussy tem uma conexão bem forte com a Chopin, apesar das imensas diferenças. De qualquer forma, fiquei assim conhecendo o Noturno para piano de Debussy, que compôs também noturnos para orquestra, e me deliciei com a sequência de Prelúdios escolhida para completar o disco.
Devo dizer que esse disco foi gravado no apagar das luzes do século passado e naqueles dias Melvyn era mais conhecido como intérprete de pianoforte, membro ativo do uso de instrumentos de época. Tenho escutado o disco agora várias vezes, sempre com bastante gosto, especialmente a parte inicial. Tanto que vou dar uma busca nas gravações dos intérpretes de John Field, tais como o também irlandês John O’Conor ou Benjamin Frith…
JOHN FIELD (1782 – 1837)
Noturno No.4 em lá maior
FRÉDÉRIC CHOPIN (1810–1849)
Noturno em fá maior, Op. 15/1
JOHN FIELD
Noturno No. 5 em si bemol maior
FRÉDÉRIC CHOPIN
Noturno em sol menor, Op. 15/3
JOHN FIELD
Noturno No. 6 em fá maior
FRÉDÉRIC CHOPIN
Noturno em sol menor, Op. 37/1
Noturno em sol maior, Op.37/2
Noturno em mi menor, Op. 72/1
Noturno em mi maior, Op. 62/2
Noturno em si maior, Op. 9/3
CLAUDE DEBUSSY (1862 – 1918)
Noturno
Prelúdio: La Fille Au Cheveux De Lin
Prelúdio: Brouillards
Prelúdio: Feuilles Mortes
Prelúdio: Les Sons Et Les Parfums Tournent Dans L’air Du Soir
Prelúdio: La Terrasse Des Audiences Du Clair De Lune
Os historicamente informados venceram e o sinal está fechado para nossos pais. Vindo da obscura gravadora Astree Auvidis, o CD que ora lhes apresento é superior ao de nossa última postagem. Sim, aquele era da Philips, tão cheirando a brilho e a cobre, etc., mas inferior. Fazer o quê? Acontece que este aqui é um registro com instrumentos originais e este que vos escreve se acostumou com a sonoridade dos instrumentos de época. Pode parecer que estou brincado, mas não é nada disso. A gente se acostuma ao que é bom e depois vá voltar àquele som sem transparência, vá. Belo disco. Confiram!
Antonio Vivaldi (1678-1741): 7 Concertos para Oboé, Fagote e Cordas (Bernardini, Borras)
Concerto Pour Hautbois En Fa Majeur RV 455
1 Allegro 3:37
2 Largo 2:28
3 Allegro 2:31
Concerto Pour Basson, Cordes Et Basse Continue En La Mineur RV 498
4 Allegro 4:07
5 Larghetto 3:17
6 Allegro 2:31
Concerto Pour Hautbois, Cordes Et Basse Continue En Ré Majeur RV 453
7 Allegro 3:33
8 Largo 1:58
9 Allegro 2:57
Concerto Pour Hautbois, Basson, Cordes Et Basse Continue En Sol Majeur RV 545
10 Andante Molto 3:45
11 Largo 2:42
12 Allegro Molto 3:02
Concerto Pour Basson, Cordes Et Basse Continue
13 Allegro 3:45
14 Largo 3:39
15 Allegro 3:30
Concerto Pour Hautbois, Cordes Et Basse Continue En La Mineur RV 463
16 Allegro 3:27
17 Largo 3:27
18 Allegro 2:53
Concerto Pour Basson, Cordes Et Basse Continue En Fa Majeur RV 488
19 Allegro Non Molto 3:08
20 Largo 3:13
21 Allegro 2:05
Alfredo Bernardini, oboe & dir.
Josep Borras, basson
L’Armonia et l’Inventione
Serei culpado de heresia, mas falemos sério. Esse CD, quando comparado com as gravações historicamente informadas, é inferior. Não é que seja ruim, longe disso, é que a transparência dos instrumentos originais é imbatível. Eu tenho este disco em vinil — o Ranulfus e o FDP devem ter também. Holliger em seu auge e o I Musici no mesmo nível, mas, para ouvidos atualizados, apesar do notável equilíbrio obtido pelo excelente Holliger e do perfeito senso de estilo, não funciona mais. O próximo CD que vou postar é também de Concertos de Vivaldi para Oboé — outro repertório — e é melhor. Aguardem!
Antonio Vivaldi (1678-1741): 5 Concertos para oboé e um para oboé e fagote (Holliger, Thunemann, I Musici)
Concerto RV 452 In C For Oboe, Strings And Continuo (6:17)
A1 Allegro
A2 Adagio
A3 Allegro
Concerto RV 454 In D minor For Oboe, Strings, And Continuo (8:11)
A4 Allegro
A5 Largo
A6 Allegro
Concerto RV 545 In G For Oboe, Bassoon, Strings, And Continuo (9:56)
B1 Andante Molto
B2 Largo
B3 Allegro Molto
Concerto RV 446 In C For Oboe, Strings, And Continuo (8:38)
B4 Allegro
B5 Adagio
B6 Allegro
Bassoon – Klaus Thunemann (tracks: B1 to B3)
Composed By – Antonio Vivaldi
Oboe – Heinz Holliger
Orchestra – I Musici
Painting – Antonio Canaletto*
Mais um belo lançamento do selo Alpha, com um Mozart impecavelmente interpretado, e historicamente informado. A sonoridade da orquestra nos surpreende primeiramente, mas depois nos acostumamos, e o som amadeirado da flauta de François Lazarevitch ajuda a emoldurar em um belo quadro estas obras primas do repertório para a Flauta.
Já trouxe outras gravações para os senhores destes mesmos concertos, e cada uma delas tem seus méritos, sem exceção. Fã incondicional que sou de Jean Pierre Rampal, ainda considero suas gravações as mais importantes, já históricas, por que não dizer, assim como a de Aurèle Nicolet, todas presentes e com os links ativos para os senhores apreciarem.
O que posso destacar destes registros que ora vos trago é sua atualidade, não apenas pelo fato de ser um CD recém lançado, mas também pela questão de interpretação mesmo. François Lazarevitch é um flautista muito seguro e competente, lembrando que ele também tem de dirigir a orquestra. As cadenzas são de sua própria autoria, e não posso deixar de citar o comentário do próprio solista falando sobre elas, que por sua vez cita um musicólogo do século XVIII, Daniel Gottlob Türk, livremente traduzido por este que vos escreve ( texto incluído no booklet):
“Pode não ser inapropriado comparar uma cadência a um sonho. Muitas vezes sonhamos no espaço de alguns minutos sobre eventos reais que vivenciamos nos termos mais vívidos e marcantes, mas sem coerência ou consciência clara. O mesmo vale para uma cadência: graças às suas mudanças repentinas e às surpresas que cultiva, a cadência é como o sonho do movimento ao qual está ligada”.
Que mais poderia acrescentar a esta belíssima passagem? Espero que apreciem. Como comentei, trata-se de um lançamento muito recente do sempre ótimo selo Alpha.
CONCERTO POUR FLÛTE EN RÉ MAJEUR, KV 314
1 I. Allegro aperto 2 II. Adagio ma non troppo 5’52
3 III. Rondeau. Allegro
CONCERTO POUR FLÛTE ET HARPE EN DO MAJEUR, KV 299
4 I. Allegro
5 II. Andantino
6 III. Rondeau. Allegro
CONCERTO POUR FLÛTE EN SOL MAJEUR, KV 313
7 I. Allegro maestoso
8 II. Adagio ma non troppo
9 III. Rondo. Tempo di Menuetto
François Lazarevitch – Flûte & Direction
Sandrine Chatron – Harpe
Les Musicien de Saint-Julien
FDP Bach resolveu voltar ao século XX em suas próximas postagens. Teremos Bártok, Prokofiev, Stravinsky e talvez Strauss no pacote. Vamos começar com Bela Bártok. FDP tem um carinho especial para com esta coleção da integral das obras para piano e orquestra do genial pianista, compositor e pesquisador húngaro. Não sabe o por quê… Zoltan Kocsys é um intérprete que captura muito bem o espírito da obra, talvez pelo fato de também ser húngaro, e a direção de Ivan Fischer é sempre correta e segura. Enfim, uma gravação de excelência.
Béla Bartók (1881-1945): The Works for Piano & Orchestra (Kocsis, Fischer)
Piano Concerto No. 1
1-1 Allegro Moderato 8:40
1-2 Andante 6:47
1-3 Allegro Molto 6:37
Music For Strings, Percussion, And Celesta
1-4 Andante Tranquillo 7:22
1-5 Allegro 7:30
1-6 Adagio 7:24
1-7 Allegro Molto 7:01
Piano Concerto No. 2
2-1 Allegro 9:17
2-2 Adagio – Piu Adagio – Presto 12:51
2-3 Allegro Molto 6:00
Rhapsody For Piano And Orchestra, Op. 1
2-4 Adagio Molto 13:56
2-5 Poco Allegretto 9:55
Scherzo For Piano And Orchestra
3-4 Introduzione (Adagio Ma Non Troppo) 6:51
3-5 Allegro Vivace – Scherzo (Allegro) 9:46
3-6 Trio (Andante) 5:09
3-7 Scherzo Da Capo (Allegro Vivace) 8:15
Conductor – Ivan Fischer
Orchestra – Budapest Festival Orchestra
Piano – Zoltán Kocsis
A maioria de vocês talvez não conheça o Ensemble Renaissance, mas posso começar dizendo que ele foi o primeiro conjunto a dedicar-se à música antiga (pré-barroca) no Sul da Europa, em 1968. Os caras são de Belgrado. Os fundadores do Ensemble são Ristic Miomir, Dimitrijevic Ljubomir, Dragan Mladjenovic, Dusica Obradovic e Iskra Uzelac e deram seu primeiro concerto em 1970 em Belgrado. Hoje, já são mais de 3000 concertos em toda a Europa e eu concordo com o entusiasmo dos críticos pelo grupo. Este CD, por exemplo, é notável. Você pode não ouvir ainda aqui a alegria da música atual da Sérvia nem da Bósnia, mas toda a influência cigana já estava entranhada bem ali, ao lado da atual Itália. Curioso.
Roots of the Balkan: Music & Songs from Old Serbia (Ensemble Renaissance)
Eastern Serbia • Istočna Srbija
1 Igra I Pesma »Sitan Biber« (Svadbarska) 2:40
2 Noćna Putnička Melodija 2:55
3 Putnička Pesma »Visoko Drvo, Lad Nema« 3:44
4 Tri Igre: Ostroljanka, Polomka, Cigančica 3:53
Songs From Kossovo And Metochia
5 »Marijo, Deli, Bela Kumrijo« 3:19
6 »Crna Zemljo, Sestro« 3:16
7 »Oj, Jabuko, Zeleniko« 3:56
8 »Izvor Voda Izviraše« 2:22
9 »Soko Bira, Gde Će Naći Mira« 2:58
10 »Oj, Mori Vrbo, Zelena« 2:24
11 »Svu Noć Mi Sanak Ne Dodje« 5:01
12 »Kiša Pada, Trava Raste« 2:08
13 »Gusta Mi Magla Padnala« 2:22
Central Serbia • Centralna Srbija
14 Četiri Igre: Stara Šetnja, Zavrzlama, Šiljčići, Poljanka 4:13
15 Tri Igre: Cigančica, Stara Vranjanka, Zavrzlama 2:46
16 Dve Igre: Gajdica, Šareno Oro 2:30
17 Sedam Igara Iz Levča: Prolomka, Sekuričanka, Sitniš, Ostroljanka, Resavka, Šarićevo Kolo, Poljanka 6:34
South Serbia • Južna Srbija
18 Pesma »Sadila Moma Lojze« 3:12
19 Kasapsko Kolo 2:47
20 Skomraška Igra 2:15
21 Devojačko Kolo 2:31
Uma gravação de As Quatro Estações melhor do que esta de Carmignola + Marcon vai ser difícil…. Dia destes postei Haydn, com seu magnífico oratório “As Estações”, em homenagem à mudança de estação. Como ainda estamos vivenciando essa mudança de estação resolvi trazer essa gravação que particularmente é a minha favorita dentre as tantas existentes no mercado atualmente. Carmignola é um dos grandes violinistas da atualidade, e um dos maiores especialistas no violino barroco, e contando com a cumplicidade de Andrea Marcon e a excelente Venice Baroque Orquestra, dá um show de talento, versatilidade e técnica. Tudo bem, ele comete algumas liberdades que podem assustar alguns fãs mais fanáticos de Vivaldi, mas adoro esse CD em seu conjunto.
Para se ouvir em uma manhã como a de hoje, tipicamente de outono: temperatura agradável, sol ainda não tão forte e um ventinho frio, que nos deixa com vontade de voltar para a cama.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Le quattro stagioni + 3 Concerti (Carmignola, Venice Baroque Orchestra, Marcon)
La Primavera • Spring • Der Frühling • Le Printemps – Concerto No. 1 In E Major, Op. 8, No. 1, RV 269 (E-Dur / En Mi Majeur / In Mi Maggiore)
I. Allegro 3:19
II. Largo 2:18
III. Allegro 3:36
L’Estate • Summer • Der Sommer • L’Été – Concerto No. 2 In G Minor, Op. 8, No. 2, RV 315 (G-Moll / En Sol Mineur / In Sol Minore)
I. Allegro Non Molto 4:57
II. Adagio 2:18
III. Presto 2:15
L’Autunno • Autumn • Der Herbst • L’Automne – Concerto No. 3 In F Major, Op. 8, No. 3, RV 293 (F-Dur / En Fa Majeur / In Fa Maggiore)
I. Allegro 4:34
II. Allegro Molto 3:21
III. Allegro 2:49
L’Inverno • Winter • Der Winter • L’Hiver – Concerto No. 4 In F Minor, Op. 8, No. 4, RV 297 (F-Moll / En Fa Mineur / In Fa Minore)
I. Allegro Non Molto 3:04
II. Largo 1:47
III. Allegro 2:39
3 Violin Concertos (Premiere Recording):
Concerto In E-Flat Major, RV 257 (Es-Dur / En Mi Bémol Majeur / In Mi Bemolle Maggiore)
I. Andante Molto E Quasi Allegro 4:25
II. Adagio 2:32
III. Allegro 2:58
Concerto In B-Flat Major, RV 376 (B-Dur / En Si Bémol Majeur / In Si Bemolle Maggiore)
I. Larghetto. Andante 4:25
II. Andante 2:24
III. Allegro 2:56
Concerto In D Major, RV 211 (D-Dur / En Ré Majeur / In Re Maggiore)
I. Allegro Non Molto 5:15
II. Larghetto 3:22
III. Allegro 5:29
Giuliano Carmignola – Baroque Violin
Andrea Marcon – Harpsichord, Organ & Conductor
Venice Baroque Orquestra
O horror, o horror… Para nostálgicos — detesto-os! — que negam-se a reciclar as versões que ouviram no passado: exato, a gravação de Richter. Meu colega Ciço Villa-Lobos me presenteou com a gravação através da qual tomei meu primeiro contato com O Messias, lá no começo dos anos 70. Karl Richter era a maior das maravilhas. Esta gravação e a da Missa em Si Menor de Bach que ele fez com a Orquestra Bach de Munique eram referências absolutas e imbatíveis. Porém, nada envelheceu tanto quando os registros de música barroca daqueles anos e dos anteriores. Suas sonoridades são encorpadas demais, modernas demais, potentes demais. Com o passar dos anos, a música historicamente informada, com suas belas sonoridades rarefeitas, tomaram conta do mundo e de meu cérebro. Mas há quem ainda goste desses monstros jurássicos. Eu fora!
Georg Friedrich Händel (1685-1759): O Messias (Karl Richter)
Disc: 1
1. Symphony (Grave-Allegro Moderato)
2. Accompagnato (Tenor): Comfort Ye My People
3. Aria (Tenor): Ev’ry Valley Shall Be Exalted
4. Chorus: And The Glory Of The Lord Shall Be Revealed
5. Accompagnato (Bass): Thus Saith The Lord Of Hosts
6. Aria (Bass): But Who May Abide The Day Of His Coming
7. Chorus: And He Shall Purify
8. Recitative (Contralto): Behold, A Virgin Shall Conceive/Aria (Contralto): O Thou That Tellest Good
9. Chorus: O AThou That Tellest Good Tidings
10. Accompagnato (Bass): For Behold, Darkness Shall Cover
11. Aria (Bass): The People That Walked In Darkness
12. Chorus: For Unto Us A Child Is Born
13. Pifa (Pastoral Symphony)
14. Recitative (Soprano): There Were Shepherds Abiding In The Fields
15. Chorus: Glory To God In The Highest
16. Aria (Soprano): Rejoice Greatly, O Daughter Of Zion
17. Recitative (Contralto): Then Shall The Eyes Of The Blind /Duet: (Contralto, Soprano): He Shall Feed
18. Chorus: His Yoke Is Easy, His Burthen Is Light
19. Chorus: Behold The Lamb Of God
20. Aria (Contralto): He Was Despised
21. Chorus: Surely, He Hath Borne Our Griefs
Disc: 2
1. Chorus: And With His Stripes We Are Healed
2. Chorus: All We Like Sheep Have Gone Astray
3. Accompagnato (Tenor): All They That See Him
4. Chorus: He Trusted In God
5. Accompagnato (Tenor): Thy Rebuke Hath Broken His Heart
6. Arioso (Tenor): Behold, And See If There Be Any Sorrow
7. Accompagnato (Tenor): He Was Cut Off Out Of The Land/ Aria (Tenor): But Thou Didst Not leave His So
8. Chorus: Lift Up Your Heads, O Ye Gates
9. Recitative (Tenor): Unto Which Of The Angels/Chorus: Let All The Angels Of God Worship Him
10. Aria (Contralto): Thou Are Gone Up On High
11. Chorus: The Lord Gave The Word
12. Aria (Soprano): How Beautiful Are The Feet
13. Arioso (Tenor): Their Sound Is Gone Out
14. Aria (Bass): Why Do The Nations So Furiously Rage
15. Chorus: Let Us Break Their Bonds Asunder
16. Recitative (Tenor): He That Dwelleth In Heaven/Aria (Tenor): Thou Shalt Break Them
17. Chorus: Hallelujah
18. Chorus: Since By Man Came Death
19. Accompagnato (Bass): Behold, I Tell You A Mystery/Aria (Bass): The Trumpet Shall Sound
20. Recitative (Contralto): Then Shall Be Brought To Pass/Duet (Contralto, Tenor): O Death, Where Is Th
21. Aria (Soprano): If God Be For Us
22. Chorus: Worthy Is The Lamb That Was Slain
23. Chorus: Amen
Anna Reynolds
Donald McIntyre
Edgar Krapp
Helen Donath
Gordon Webb
Stuart Burrows
Hedwig Bilgram, órgão
London Philharmonic Orchestra
Karl Richter
Em 1703, em Arnstadt, aos 18 anos, meu pai, o imenso Johann Sebastian Bach, tomou posse do cargo de organista da igreja de St. Boniface. Durante sua gestão, fez uma viagem a Lübeck (uma jornada de 300 Km que fez a pé) para ouvir e receber conselhos do grande organista Dietrich Buxtehude. Era para ficar quatro meses com Bux, mas meu pai ficou cinco… Tal descumprimento o fêz perder o emprego e ele foi obrigado procurar outro, encontrando-o em Mülhausen, em 1706. Neste ano ele casou-se com sua prima, Maria Bárbara, que não cheguei a conhecer, tendo apenas tomado contato com Anna Magdalena, sua segunda esposa, mas essa é outra história. (Obs.: há uma correção nos comentários escrita pela filha de titio Bux.)
Buxtehude foi reconhecido principalmente como organista, mas foi bem mais do que isto. Em 1658, Buxtehude assume a função de seu pai, também organista, na igreja em Hälsingburg em 1658 e, em 1660 vai para Helsingor, e, posteriormente, para Lübeck, na Alemanha, onde é nomeado Werkmeister e organista da Marienkirche em 11 de abril de 1668, após concorrido concurso. Casa-se, em agosto desse ano, com Anna Margarethe Tunder, filha de Franz Tunder, seu antecessor nesta igreja. Esse era o costume da época, no qual o sucessor do organista da igreja deveria se casar com a filha do seu antecessor. A partir daí, e nos próximos 40 anos, Buxtehude entraria na parte mais prolífica de sua carreira, principalmente considerando que sua obra era praticamente nula até então.
Buxtehude ganha prestígio com a retomada da tradição dos Abendmusik, que eram saraus vespertinos organizados na igreja, idealizados por seu antecessor inicialmente apenas como entretenimento para os homens de negócios da cidade, previstos para ocorrerem em cinco domingos por ano, precedendo o Natal. Mas Buxtehude ampliou grandemente o escopo destes saraus e para eles compôs algumas de suas melhores obras, em forma de cantata, das quais se preservam cerca de 120 em manuscrito, com textos retirados da Bíblia, dos corais da tradição Protestante e mesmo da poesia secular. Também dedicou-se a outros gêneros, como solos para órgão (variações corais, canzonas, toccatas, prelúdios e fugas) e os concertos sacros. Todos os oratórios se perderam, mas guardam-se os registros de que existiram. Sem esquecer de Bach, em diversas ocasiões, foi visitado por compositores promissores da época, como Haendel e Mattheson, que o procuravam principalmente quanto à sua fama de organista.
Buxtehude é um compositor fundamental do barroco alemão. Foi uma espécie de pai espiritual de Bach. As obras deste CD são uma prova disso. Não pensem que as 30 Variações das Goldberg mais as duas árias não tenham nada a ver com as 32 variações da La Capricciosa. Ouçam esta obra e depois voltem às Goldberg. Está lá o agradecimento de meu pai ao grande Bux.
Dietrich Buxtehude (1637-1707): Obras para Cravo (Glen Wilson)
Beatrice Rana brilhou para o mundo da música ao ganhar o Concurso Musical Internacional de Montreal, em 2011, e novamente, ao ganhar a Medalha de Prata no 14º. Van Cliburn International Piano Competition, dois anos depois. O disco do Concurso de Montreal tem os Prelúdios de Chopin e uma sonata para piano de Scriabin. O disco do Concurso Van Cliburn tem os Estudos Sinfônicos de Schumann, Gaspard de la nuit, de Ravel e Out of Doors, de Bartók, apenas…
A jovem pianista já se apresentou aqui nos palcos do PQP Bach interpretando Bach, Chopin e Ravel, sempre com sucesso de crítica e público. Encorajado por esse retrospecto e verdadeiramente mesmerizado por esse novo disco, nada mais certo do que a trazer novamente para essas páginas.
Esse disco reúne pela primeira vez (talvez) duas sonatas para piano que são emblemáticas da obra de cada um dos compositores. Ela mesma explicou as razões dessas escolhas em uma entrevista para Jeremy Nicholas, que poderá ser lida na íntegra no livreto que acompanha os arquivos musicais da postagem. Aqui está um resumo.
Sobre a Hammerklavier, ela disse que teve tempo de estuda-la bastante durante a pandemia: Eu realmente encontrei uma conexão profunda com essa música, especialmente por causa da época em que aprendi a Sonata: o isolamento, estar trancada longe do resto do mundo. O terceiro movimento fala muito sobre solidão, sobre ir fundo em si mesmo, um espelho completo do que eu estava vivenciando. Ao mesmo tempo, o quarto movimento, com sua grande fuga, me mostrou que também havia uma chance de escapar dessa condição. É uma peça que afirma muito a vida, apesar do fato de que também refletia muito do que estava acontecendo em nosso mundo naquela época.
Sobre a Sonata de Chopin: Eu absolutamente adoro esse período intermediário de Chopin em particular, quando a Sonata foi escrita: uma época em que ele estava experimentando com som, harmonias e estrutura. Eu acho isso tão visionário. […] É muito mais aventureiro do que em suas composições finais, que são muito clássicas de certa forma. Então a Segunda Sonata, mesmo agora, é incrível. Quando você pensa no quarto movimento, é tão moderno, tão experimental. Sim, a Sonata de Beethoven é uma sonata muito humana, mas a Sonata de Chopin é humana de uma forma muito diferente. O trio no meio da marcha fúnebre [terceiro movimento] é meio que übermenschlich – como um filósofo pode descrever a superação de si mesmo de uma forma transcendental.
Sobre a reunião das duas peças em um só disco: Essas duas sonatas em si bemol transcendem a condição humana de maneiras muito diferentes — mas não totalmente diferentes, porque ambas têm muito a ver com o medo da morte, com o medo da solidão. Cada uma encontra uma solução de maneira diferente. Acho que isso tornou a junção dessas duas peças muito interessante. Mas também, embora esses compositores fossem próximos cronologicamente, eles parecem totalmente separados. E de certa forma, a Sonata de Chopin é muito Beethoveniana porque sua estrutura — a do primeiro movimento especialmente — é muito compacta. Há tanta linearidade na arquitetura. Ela está sempre avançando — não é um ciclo, é uma única história que se está contando. Tecnicamente, os dois compositores não têm muito em comum, mas ambos estão experimentando. Acho que quando você olha para os últimos movimentos das duas sonatas, ambos são experimentos — experimentos no mais alto nível e de maneiras completamente diferentes.
FRÉDÉRIC CHOPIN (1810–1849)
Piano Sonata No.2 in B flat minor Op.35 “Funeral March”
Grave – Doppio movimento
Scherzo
Marche funèbre: Lento
Finale: Presto
LUDWIG VAN BEETHOVEN 1770–1827
Piano Sonata No.29 in B flat Op.106 “Hammerklavier”
O dia foi alucinante, hético! Logo pela manhã recebemos a notícia que três CDs da coleção do Sumo Sacerdote estavam corrompidos, pálidos, translúcidos, desprovidos de suas seivas musicais, inaudíveis! Toda a equipe da casa colocou-se prontamente em alerta, havíamos de reconstruir, mesmo que virtualmente, digitalmente, os tais desmemorizados CDs. Parecia que eles haviam sido abatidos por um dementador que lhes havia sugado todo o teor musical, para sempre…
Pois a equipe passou o dia dando buscas em arquivos, até mesmos arcaicos HDs foram vasculhados em busca das faixas perdidas. Pelo fim da tarde virtualmente todas haviam sido resgatadas, com exceção de duas delas: BWV 582 e BWV 590.
É claro que nossos bem informados leitores devem ter percebido de cara, os discos eram da coleção de obras de Bach, naquelas caixotas prateadas da Archiv Produktion, com a foto quadradinha do santo padroeiro do blog na frente. Isso é o que tornava nossa urgência, urgentíssima!
Mas, uma miríade de outras coisinhas miúdas, tarefas nossas outras, bem mais mundanas, nos pegaram, pois que a equipe do PQP Bach além de seus momentos de heróis, tem muitas horas para serem apenas Clark Kents e Bruce Waynes. No cair da noite, quando começou a resenha do dia com os colegas foi que me dei conta – BWV 590 é uma Pastorale e havia uma gravação da danadinha em uma de minhas postagens, porém com outro competente organista – Simon Preston! E não é que a BWV 582 é a poderosa Passacaglia! Essa peça também está em um dos discos do Simon Preston, mas esse eu ainda não havia postado. Daí, lembrei-me que iniciei o projeto de postar toda a sua série, mas interrompi o processo na postagem que fiz na época em que ele, Simon Preston, foi tocar instrumentos mais celestiais…
Pois quem está atento aos sinais que o destino nos aponta, deve escutá-los e agir. Assim, aqui está, mais um disco do Simon Preston, este com os maravilhosos ”Schübler Chorales” e encerrando com a Passacaglia e tem outras coisas mais, que deixo para você mesmo descobrir…
Ah, essas duas peças foram também localizadas e em breve seguirão para os HDs do Sumo Sacerdote, ufa, que dia…
Espero que você passe bons momentos desfrutando esse disco e que seu interesse pela obra de Bach para órgão aumente… pois há mais ainda por vir! Agora, me desculpem, mas ainda há um peça interpretada por Trevor Pinnock ao cravo que queremos localizar e ninguém quer deixar o boss desapontado, não é?
O que primeiro chama a atenção nesse lançamento é como parece jovem esse regente! Tarmo Peltokoski é finlandês e desde muito jovem decidiu por se tornar regente. Nascido em 2000, já é reconhecido como um “um talento de um século” (Tagesspiegel). Seu conhecimento e versatilidade permitem que ele se apresente em concertos e em óperas – ele conduziu seu primeiro ciclo completo do Anel aos 22 anos – em um repertório que varia do clássico ao contemporâneo. No espaço de apenas dois anos, ele foi nomeado Diretor Musical Designado da Orchestre National du Capitole de Toulouse, Diretor Musical e Artístico da Orquestra Sinfônica Nacional da Letônia e Maestro Convidado Principal da Orquestra Filarmônica de Roterdã, bem como da Deutsche Kammerphilharmonie Bremen. Tarmo sentiu-se atraído para a regência muito cedo, ao assistir no YouTube um trecho da obra de Wagner.
No entanto, em seu primeiro disco, três sinfonias (maravilhosas) de Mozart! O que dizer? Eu digo: gostei do disco! Esse é sempre o critério para que eu escolha um disco para postar. A interpretação é bastante contemporânea, digamos assim. A orquestra usa instrumentos modernos, mas adota uma postura atenta às práticas de instrumentos de época, com pouco vibrato e com tímpanos bem presentes (até demais, poderiam dizer alguns).
Como se fosse um bônus, entre as sinfonias você poderá ouvir o jovem maestro Tarmo exibir seus talentos como pianista, improvisando sobre temas das sinfonias. Eu não sei se ouviria essas improvisações todas as vezes que ouvisse o disco, mas certamente ouvirei as sinfonias mais vezes.
Sobre as obras, eu diria que as sinfonias de Mozart não ocupam em sua obra o mesmo espaço que as óperas e os concertos para piano, mas as seis últimas são obras primas. As primeiras, compostas na infância e juventude são brilhantes e bem-acabadas, mas superficiais. Entre as que foram compostas no período mediano destacam-se as Sinfonias No. 25 em sol menor e No. 29 em lá maior, na minha opinião. Todas essas obras foram compostas no período em que Mozart vivia em Salzburgo, apesar de suas muitas viagens.
A Sinfonia No. 35 é a primeira da série de seis últimas e foi composta em 1782 quando Wolfgang já morava em Viena, mas foi resultado de uma encomenda que viera de Salzburgo, da família Haffner, enviado pelo papá Leopold. O pedido veio na forma de uma serenata, como uma que já havia sido composta quando Wolfie ainda morava lá. Mozart estava atolado de trabalho, aulas, cuidando de terminar o Rapto do Serralho, sem contar as coisas mundanas como casamento, mudanças, essas coisas. Mesmo assim, um a um os movimentos da nova serenata seguiam para Salzburgo, apesar de provavelmente não ter cumprido o prazo. Pois ao fim de tudo, não é que a música ficou supimpa… tanto que ele resolveu adaptá-la na forma de uma sinfonia, que assim tornou-se a Sinfonia No. 35 – ‘Haffner’.
Algum tempo depois, em 1783, Mozart estava de volta de uma visita a Salzburgo, acompanhado da patroa, Sra. Constanze, e decidiu fazer uma parada em Linz, para visitar um velho amigo da família, o Conde de Thun. O conde queria uma apresentação de Mozart com a orquestra local, mas nenhuma partitura de sinfonia estava à mão. Isso não era um problema para o gênio criativo que em apenas três dias compôs um primor de sinfonia, esta belezura que conhecemos como Sinfonia No. 36, propriamente apelidada ‘Linz’.
Mozart ainda comporia quatro mais sinfonias, uma em Praga, em 1786, e as três últimas no verão de 1788. Apenas a Sinfonia No. 40 é em tom menor e é justamente famosa por sua profundidade e intensidade emocional, refletindo um lado mais sombrio e turbulento da personalidade musical de Mozart. Este período foi marcado por dificuldades pessoais e financeiras, o que pode ter influenciado o tom sombrio da peça.
Summing up his relationship with his players and the works on this album, Peltokoski says, “It’s a luxury to perform Mozart with The Deutsche Kammerphilharmonie Bremen, and to put these three symphonies on record is a dream come true.”
Estive ouvindo novamente esse disco, depois de muito tempo, se dizer mais de trinta anos talvez não esteja exagerando. E ao fuçar nos arquivos das antigas postagens encontrei esse texto escrito pelo saudoso Monge Ranulfus, que nos deixou há alguns anos, e provavelmente está trocando idéias com o mesmo Naná Vasconcelos, que homenageia no começo de seu texto. Ou seja, o ano era 2016.
Então aproveito o texto, e apenas atualizo o link, não podemos deixar de oferecer um disco desses no nosso PQPBach, como comentou o próprio Monge, “um dos discos mais importantes do último terço do século 20, independente de categorias.”
Que temporada de perdas na música… Dois dias depois de Harnoncourt, quem nos deixou, anteontem, foi o pernambucano Naná Vasconcelos, um dos mais refinados e reconhecidos percussionistas do mundo. Em lembrança e homenagem, atualizamos esta postagem feita originalmente em 11.06.2010 – sem alterações além deste parágrafo e da foto abaixo.
Isto é música popular? Experimente tocar ali na quermesse.
É jazz? Bem, é evidente que recebeu influência, mas quem no século 20 não recebeu? E nos trechos em piano solo também é evidente a influência de Chopin.
É clássico? O site da Amazon diz que sim. Mas conheço gente que certamente torceria o nariz diante dessa afirmação.
Afinal, o que é que faz determinada música ser “clássica” ou “erudita”? Evidentemente não pode ser a ausência de melodias cantáveis, a ausência de texto, a ausência ou pouca importância da percussão ou de determinadas instrumentações, e até mesmo ausência de vulgaridade ou banalidade… pois cada uma dessas “ausências” é contradita por abundância de presenças no repertório estabelecido.
Para muitos, “clássico” equivale, mesmo que sem consciência disso, a “em formas, escalas e instrumentações de origem européia”. Donde considerarem clássicas, p.ex., as valsas dos dois Johann Strauss, quando para mim são evidentemente música popular em arranjos para poderosos.
Não estou dizendo que são inferiores por serem populares, nem que não caibam num blog como este. As danças compostas e/ou publicadas pelo Pretorius, do século 16, também são música popular em bons arranjos, e seria uma pena não tê-las aqui!
Para mim, o “clássico” ou “erudito” se refere ao grau de complexidade da elaboração na dimensão “forma”, e/ou de libertação em relação às duas fontes primárias da música (a dança e a declamação expressiva) na direção de uma música-pela-música. E nesse sentido encontramos “clássico” em muitas tradições totalmente autônomas da européia: chinesa, indiana, mandê (da qual postei aqui o lindo exemplo que é TOUMANI DIABATÉ), e também em outras que recebem maior ou menor medida de influxo da tradição européia, mas o incorporam em formas produzidas com total autonomia em relação a essa tradição.
O Brasil talvez seja a maior usina mundial da produção deste último tipo de música – mas não me refiro a nenhum dos nossos compositores normalmente identificados como “clássicos” ou “eruditos”: nem a Villa-Lobos, nem a Camargo Guarnieri, nem a Almeida Prado, ninguém desses: todos eles trabalham fundamentalmente com a herança das matrizes formais européias. O que não os desqualifica, não se trata disso!
Trata-se, ao contrário, de qualificar música que às vezes é tida como de segunda, quando é de primeiríssima. E é nesse sentido que já postei aqui o balé “Z” de GILBERTO GIL, que recomendo com ênfase o pouco postado e o muito por postar de MARLUI MIRANDA e do grupo UAKTI… e que posto agora este outro, que foi um dos discos de maior impacto no mundo em 1977-78.
Pra deixar claro o que não quero dizer, acho pretensioso e chato a maior parte do que o Egberto fez depois. Com exceção de momentos geniais em Nó Caipira e em Sol do Meio Dia, quase tudo em que ele meteu orquestra se afastou do conceito de “clássico” que estou usando aqui. Estereotipou. E portanto banalizou.
Mas Dança das Cabeças não tem nada de esterotipado: Dança das Cabeças foi fundador. Se você já ouviu coisa parecida, veio depois, e bebeu daí. Para mim, um dos discos mais importantes do último terço do século 20, independente de categorias.
Ou seja: um clássico.
Egberto Gismonti: Dança das Cabeças – gravado em Oslo em nov. 1976 Egberto Gismonti: violão de 8 cordas, piano, flautas e outras madeiras étnicas, voz Naná Vasconcelos: berimbau, percussão instrumental e corporal, voz
01 Part I 25:15
– Quarto Mundo #1 (E. Gismonti)
– Dança das Cabeças (E. Gismonti)
– Águas Luminosas (D. Bressane)
– Celebração de Núpcias (E. Gismonti)
– Porta Encantada (E. Gismonti)
– Quarto Mundo #2 (E. Gismonti)
02 Part II 24:30
– Tango (E. Gismonti/G.E.Carneiro)
– Bambuzal (E. Gismonti)
– Fé Cega, Faca Amolada (M.Nascimento/R.Bastos)
– Dança Solitária
Handel escreveu vários sambas-enredo. Há Messias, por exemplo, onde ele fantasia coisas sobre um personagem ficcional, e há muitas daquelas coisas que chamamos de óperas que são empolados sambas-enredos. A Ode para Santa Cecília — porta-bandeira da música — é uma tremenda obra que deixará os pequepianos boquiabertos. Os sambas são fenomenais. Cuidem a dolência de What passion cannot Music raise. É espetacular, perfeito. Ouçam os corais como estão afinados ao puxador de samba, sem atravessar nunca. Tudo isto é uma Cantata escrita por John Dryden. O tema é menos fantasioso do que os dos sambas-enredo habituais: trata da teoria de Pitágoras da Harmonia Mundi, onde a música era uma força central na criação da Terra. Tudo bem, né? Fazer o quê?
CD da Naxos. (Além de perfeito para um domingo de Carnaval).
Georg Friederich Händel (1685-1759): Ode for St. Cecilia’s Day (Mields, Wilde, Helbich)
1. Overture 00:03:35
2. Interlude 00:01:23
3. Recitative: From harmony, from heav’nly harmony 00:03:20
4. Chorus: From harmony 00:03:27
5. Air: What passion cannot Music raise 00:08:19
6. Air and chorus: The trumpet’s loud clangour 00:03:25
7. March 00:02:02
8. Air: The soft complaining flute 00:05:08
9. Air: Sharp violins proclaim 00:04:10
10. Air: But oh! what art can teach 00:04:15
11. Air: Orpheus could lead the savage race 00:01:46
12. Recitative: But bright Cecilia 00:00:42
13. Air and chorus: As from the powers of sacred lays 00:07:11
Total Playing Time: 00:48:43
Dorothee Mields
Mark Wilde
Alsfelder Vocal Ensemble
Concerto Polacco
Wolfgang Helbich
Há várias ótimas gravações das sinfonias de Schumann, tais como Sawallisch regendo a orquestra Staatskapelle Dresden ou Leonard Bernstein, regendo a Wiener Philharmoniker, ambas bigbands… Seria injusto não notar a gravação do então comportado John Eliot Gardiner regendo a Orchestre Révolutionnaire et Romantique, uma orquestra com instrumentos e práticas de época, nos idos 1998. O chamuscado e temperamental Gardiner gravou essas sinfonias mais recentemente regendo uma orquestra moderna, a London Symphony Orchestra. Parece que o segredo de uma boa interpretação dessas obras tão lindas consiste em permitir que a orquestração (criticada e incompreendida) de Schumann se apresente de maneira translúcida, leve, mas ainda assim, forte e a tempo.
Foi isso que eu ouvi nesses dois discos lançados recentemente – uma ótima orquestra com tradição e ao mesmo tempo um ouvido para as práticas de época e um regente que tem uma combinação de precisão, ótima dinâmica, mas sem se tornar distante e frio.
A Stavanger Symphony Orchestra tem sede em Stavanger (!), na Noruega, e além de ter ótimas instalações, tem um programa de Música Antiga, que teve entre seus diretores nomes como Frans Bruggen, Philippe Herreweghe e Fabio Biondi. Como nosso informado leitor sabe, esses nomes são ligados ao movimento de música antiga.
O regente Jan Willem de Vriend tem uma enorme discografia que inclui um ótimo ciclo de sinfonias de Beethoven e assim como um ciclo das sinfonias de Schubert. Você poderá ouvi-lo regendo os Concerti Grossi de Handel, se acessar essa postagem aqui.
A primeira das sinfonias de Schumann que eu conheci foi a Terceira, que tem apelido “Renana”, certamente uma das mais bonitas. A Primeira também tem apelido, “Primavera”, e faz jus a ele. A Segunda ocupa um ótimo lugar no ranking das sinfonias e foi composta durante um período difícil da vida de Robert. Veja a tradução de um trecho do comentário de Kenneth Woods que pode ser lido na íntegra aqui.
Não se engane: em 1844, Robert Schumann adoeceu, quase mortalmente doente, tanto quanto se tivesse desenvolvido câncer. O fato de ele ter se recuperado dessa doença para escrever sua maior obra-prima mostra uma força de vontade quase sobre-humana e grande coragem pessoal, não fraqueza. No auge de sua doença, Schumann não conseguia ouvir ou trabalhar com música, torturado como estava por alucinações auditivas. Ao começar sua recuperação, ele se voltou para um intenso estudo pessoal da música de JS Bach. Inspirado por Bach, Schumann começou a trabalhar em sua obra-prima enquanto ainda estava doente e compôs seu caminho de volta à saúde. Ao longo da obra, Bach parece ficar em segundo plano, ao lado de Haydn e Beethoven como um trio de anjos da guarda, guiando Schumann de volta à sua musa.
É claro que a Quarta é o patinho feio das sinfonias, mas eu gosto muito dela também. Ouça essa gravação estalando de nova e descubra se é mesmo assim como eu disse… e depois me conte.
The second and final instalment in Jan de Vriend’s survey of Robert Schumann’s symphonies. De Vriend conducts the wonderful Stavanger Symphony Orchestra and they both enjoy the fantastic acoustic of the Fartein Valen hall, considered one of the best in the world. [Do site da gravadora]
“Such accomplished, high-class music-making makes the imminent follow-up with the Rhenish and Fourth Symphony en enticing prospect.” – Gramophone – UK (on CC 72958 – Symphonies nos. 1 & 2).
“de Vriend strives for a balance between a magnificent orchestral sound and a transparent polyphony that also seeks to illuminate the complex inner life of Schumann’s orchestral sound with brisk tempi.” – Rondo – DE (on CC 72958 – Symphonies nos. 1 & 2)
“Swagger and elegance.” – BBC Record Review (on CC 72958 – Symphonies nos. 1 & 2)
“…the sound of this new release is excellent: Every section of the orchestra is placed nicely in the soundstage, and it puts the listener in an ideal position to revel in the clarity and power of the orchestra. “ [Fanfare Magazine, 01-7-2024]