A antítese da Quinta é a Sexta, sinfonia que começa nos mesmos moldes, mas que não termina na resolução dos conflitos propostos, conservando as tensões harmônicas até o final, sendo por isso, conhecida como Sinfonia Trágica. Mahler a escreveu em 1905, quando descobriu que era portador de uma doença genética no coração, e que iria matá-lo em breve. Poucas obras musicais revelam com tamanha perfeição o conflito pessoal que o sufocava, tomando consciência de maneira bastante dura e irrevogável de sua condição humana, e, portanto, mortal. É uma sinfonia pesada, de orquestração maciça, harmonias fortes, mas também não sem encantos, sendo seu Andante uma das páginas mais apaixonadas de Mahler. De qualquer modo, não é uma sinfonia facilmente digerível; o clima angustiante de um herói às voltas com seu próprio limite permeia toda a sinfonia, incessantemente. Ao terminá-la, apesar de estar passando por um período relativamente tranqüilo de vida, viu expurgados anseios íntimos, antigas preocupações lhe afloraram.
FDP Bach escreveu:
Gosto muito desta sinfonia, principalmente de seu primeiro movimento, de caráter marcial. Nas mãos de Bernstein torna-se ainda mais incrível.
Ah, existe uma pequena controvérsia referente ao Scherzo e ao andante, melhor detalhada aqui. A opção de Bernstein será a primeira adotada por Mahler, a saber, primeiro o Scherzo, depois o andante. Outros regentes, farão a inversão dos movimentos, como Abbado.
Com relação ao tempo de duração, esta gravação tem 1h e 27 min. Ou seja, não caberia em apenas 1 cd, algo que outros regentes já conseguiram fazer, como o próprio Bernstein, em seu registro de 1967 com a Filarmônica de New York. Só para efeito de comentário, nesta versão que ora posto, o último movimento dura 33:16, enquanto que na versão anterior dura 28m:38s. É uma diferença considerável… mas, enfim, são detalhes referentes às escolhas que são feitas pelos regentes e seus produtores, e sobre isso já fiz outra comparação, que se vai encontrar nos comentários da postagem da sinfonia nº 5.
Estranho, acho o segundo movimento muito superior… Coisas!
Os cinco Kindertotenlieder de Mahler formam o primeiro verdadeiro ciclo de canções com acompanhamento orquestral da História da Música. São poemas de Rückert, inspirados pela morte de seus filhos.
Sobre os Kindertotenlieder, Jorge Forbes escreveu:
O casal Mahler (Gustav e Alma Mahler) teve duas filhas, Maria (1902-1907) e Anna (1904 -1988). Maria faleceu de difteria em 1907. No mesmo ano Mahler descobriu que sofria de endocardite.
Deprimida com a morte de sua filha, Alma escreveu em seu diário: “nada foi frutificado em mim, nem minha beleza, nem meu espírito, nem meu talento.” Perde o desejo de viver. Mahler escapava do sofrimento afastando-se de Alma e, na sua tristeza, lembrava-se de outra cena:de sua infância sofrida, de seus oito irmãos mortos e da imensa tristeza de sua mãe. Compôs nessa época em homenagem póstuma as “Canções das Crianças Mortas” (Kindertotenlieder). Disse Mahler delas: não gosto de escrevê-las e não gosto que o mundo tenha que ouvi-las algum dia. São tão tristes!
Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 6 e Kindertotenlieder (CDs 8 e 9 de 16)
CD1
Symphonie No. 6
01. I. Allegro energico, ma non troppo. Heftig, aber markig
02. II. Scherzo. Wuchtig
03. III. Andante moderato
CD2
01. Symphony No. 6 – IV. Finale Allegro moderato – Allegro energico
Wiener Philharmoniker
Leonard Bernstein
Kindertotenlieder
02. Kindertotenlieder – I. Nun will die Sonn’ so hell aufgehn
03. Kindertotenlieder – II. Nun seh’ ich wohl, warum so dunkle Flammen
04. Kindertotenlieder – III. Wenn dein Mütterlein
05. Kindertotenlieder – IV. Oft denk’ ich, sie sind nur ausgegangen
06. Kindertotenlieder – V. In diesem Wetter, in diesem Braus
Thomas Hampson: baritone
Wiener Philharmoniker
Leonard Bernstein
A sinfonia Mathis der Maler (Mathias, o pintor) foi estreada em 12 de março de 1934, em Berlim, sob a direção de Wilhelm Furtwängler. De caráter descritivo, o primeiro movimento (Concerto de anjos) é o prelúdio ao primeiro ato da ópera que inicia de forma lenta e calma seguido do canto popular Es sungen drei Engel ein süsses Lied (Três anjos cantavam uma doce melodia) enunciado pelos trombones e retomado pelos sopros; o segundo tema aparece com as cordas, de caráter lírico, com dois motivos que se unem em forma fugato. O segundo movimento, Grablegung (Descida ao túmulo) é um interlúdio entre duas cenas do sétimo ato da ópera. É uma lamentação fúnebre na qual um oboé e depois uma flauta descrevem sua infinita tristeza. O terceiro movimento Versuchung des heiligen Antonius (Tentação de Santo Antonio) inspira-se no sexto ato da ópera, com uma cena onírica na qual Mathias se vê sob as feições de Santo Antonio atormentado pelos demônios. Um grande recitativo dramático antecede uma entrada furiosa do coro dos demônios em um contraste surpreendente. As cordas será finalmente dominada pelas madeiras expressando sob a forma de hino o coral Lauda, Sion, Salvatorem. É com toda a potência dos metais que, com o Alleluia final, virá o final da obra.
Nobilissima Visione continua o espírito metafísico de Matias. Sua bela Passacaglia final é uma comovida oração para que o nobre Adriano Menezes e Albuquerque não venha mais ao blogue. Sério!
As Metamorfoses Sinfônicas sobre Temas de Carl Maria von Weber, escritas no exílio americano do compositor, têm humor e fantasia que não penetram em meu coração, apesar do Scherzo que — tá, tudo bem — é legalzinho.
Paul Hindemith (1895 – 1963): Sinfonia Mathias, o pintor / Nobilissima Visione / Metamorfoses Sinfônicas (Decker, New Zealand SO)
Mathis der Maler Symphony 1. Engelkonzert: Ruhig bewegt – Ziemlich lebhafte Halbe 00:08:44
2. Grablegung: Sehr langsam 00:04:38
3. Versuchung des heiligen Antonius: Sehr langsam, frei im Zeitmass – Sehr lebhaft 00:13:02
Nobilissima Visione: Tanzlegende 4. Einleitung und Rondo 00:08:24
5. Marsch und Pastorale 00:08:00
6. Passacaglia 00:05:33
Symphonic Metamorphosis on Themes of Carl Maria von Weber 7. Allegro 00:04:18
8. Turandot: Scherzo 00:08:10
9. Andantino 00:03:39
10. Marsch 00:04:20
Estas duas sinfonias de Mahler, colocadas nesta coleção na ordem inversa — primeiro a terceira e depois e segunda — são o que mais gosto em sua obra, logo após A Canção da Terra. São sinfonias com programas que depois foram rejeitados por Mahler, mas suas audições não enganam: dando razão à Adorno, são músicas que funcionam como romances. E bem longos. A terceira sinfonia abre com o maior movimento de todas as sinfonias. É um portento de 34 minutos e com uma estrutura onde cabe tudo: música de câmara, sinfônica, bandas militares, melodias sublimes e intencionalmente vulgares. É ciclotímica, a cada cinco minutos muda de comportamento. Parece um pot-pourri cuja comunicação é muito tênue. É uma verdadeira revolução que é mantida pelas duas sinfonias, mas que é mais clara aqui. O terceiro movimento da sinfonia nº 2 é aquele mesmo utilizado por inteiro na Sinfonia de Berio, talvez a maior homenagem que um compositor tenha feito a outro em todos os tempos. Como escreveu Marc Vignal no calhamaço “História da Música Ocidental” de Jean e Brigitte Massin, nestas sinfonias Mahler não hesita em momento nenhum de se fazer cúmplice do caos. Não parece haver nenhuma autocensura nestas obras mastodônticas e que provocaram o futuro de forma que ele não pôde nunca mais ser o mesmo.
A seguir, textos retirados da Wikipedia sobre estas sinfonias.
Sinfonia Nº 2
A Sinfonia no 2, em Dó Menor (termina em Mi Bemol Maior) por Gustav Mahler foi escrita entre 1888 e 1894. Ela foi publicada em 1897 (Leipzig, Hofmeistere) e passou por uma revisão em 1910. Ela também é conhecida como Sinfonia da Ressurreição porque faz referências à citada crença cristã.
Histórico
Mahler compôs o primeiro movimento em 10 de setembro de 1888. Em 1893 completou o Andante e o Scherzo.
Em fevereiro de 1894, durante os funerais do pianista e regente Hans von Büllow, Mahler ouviu um coro de meninos cantarem o hino Auferstehen (Ressurreição), da autoria de Friedrich Klopstock. O hino impressionou tanto Mahler que ele resolveu incorporá-lo ao Finale da sinfonia que estava em preparação. Ao mesmo tempo decidiu que a Ressurreição seria o tema principal da obra.
Características
A Segunda Sinfonia é a primeira sinfonia em que Mahler usa a voz humana. Ela aparece na última parte da obra, no clímax, tal qual a Sinfonia no 9 de Beethoven. Além da influência de Beethoven, percebe-se traços de Bruckner e Wagner na composição.
Apesar da origem judia, Mahler sentia fascínio pela liturgia cristã, principalmente pela crença na Ressurreição e Redenção. A Segunda Sinfonia propõe responder à pergunta: “Por que se vive?”. Simbolicamente ela narra a derrota da morte e a redenção final do ser humano, após este ter passado por uma período de incertezas e agrúrias.
A Sinfonia no 2 foi escrita para uma orquestra com as seguintes composição: 4 flautas (todas alternando com 4 piccolos), 4 oboés (2 alternando com corne-inglês), 3 clarinetes (Sib, La, Do – um alternando com clarone), 2 clarinetes em Mib, 3 fagotes, 1 contrafagote, 10 trompas em fá (4 usadas fora do palco, menos no final), 8-10 trompetes em fá e dó (4 a 6 usados fora do palco, menos no final), 4 trombones, 1 tuba contrabaixo, 7 tímpanos (um fora do palco), 2 pares de pratos (um fora do palco), 2 triângulos (um fora do palco), Caixa clara, Glockenspiel, 3 sinos (Glocken, sem afinação), 2 bombos (um fora do palco), 2 tam-tams (alto e baixo), 2 harpas, órgão,quinteto de Cordas (violinos I, II, violas, cellos e baixos com corda Dó grave). Há ainda: Soprano Solo, Contralto Solo e um Coro Misto.
Os movimentos
Na sua forma final a sinfonia, cuja duração aproximada é de 80 minutos, é formada por cinco movimentos distribuídos da seguinte forma:
1. ‘Totenfeier’: Allegro maestoso. Mit durchaus ernstem und feierlichem Ausdruck (~23 minutos)
2. Andante moderato. Sehr gemächlich. Nicht eilen (~10 minutos)
3. In ruhig fliessender Bewegung (~10 minutos)
4. ‘Urlicht’ . Sehr feierlich, aber schlicht (~5 minutos)
5. Im Tempo des Scherzos. Wild herausfahrend (’Aufersteh’n’) (~35 minutos)
A sinfonia narra a queda e morte do herói sinfônico, as suas dúvidas, fé e ressurreição no Dia do Juízo Final.
O primeiro movimento é sobre a morte, no segundo a vida é relembrada e o terceiro apresenta as dúvidas quanto à existência e ao destino. No quarto movimento o herói readquire a sua fé e a esperança. No quinto e último movimento ocorre a Ressurreição, na forma imaginada por Mahler.
FDP Bach escreveu acerca da Sinfonia Nº 2:
“The earth quakes, the graves burst open, the dead arise and stream on in endless procession….. The trumpets of the apocalypse ring out… And behold, it is no judgement…. There is no punishment and no reward. An overwhelming love illuminates our being. We know and are.” (From Mahler’s 1894 description of the symphony.)”
Era assim que o próprio Mahler definia sua Sinfonia nº 2. Gosto muito dela, principalmente de seus dois primeiros movimentos. É uma obra de fôlego, pesada, que realmente nos esgota. Não recomendaria como uma primeira audição mahleriana. Mas, uma vez passado o temor, nunca cansamos de ouví-la.
Li alguns comentários muito interessantes na postagem da “Titã”, com os quais me identifiquei. Principalmente aqueles que falavam da dificuldade de se assimilar uma obra tão complexa. Confesso que demorei a ouvir Mahler, e ainda o temo, mesmo passados alguns anos do primeiro contato com a sua obra. E o meu primeiro contato foi, como para muitos, com a Sinfonia nº5, o a do famoso adagieto, utilizado com maestria no filme do Visconti. Mas trata-se de uma questão de educação dos ouvidos. Uma vez assimilada a forma com que a sinfonia se estrutura fica mais fácil sua compreensão. E isso vale para qualquer música. Será um pouco difícil gostar em uma primeira audição, mas com o tempo, se acostuma. Se não se acostumar, bem, que podemos fazer?
Bernstein, como sempre, está a vontade regendo Mahler. E se os senhores tiverem oportunidade, sugiro a aquisição da série de DVDs que o trazem regendo estas sinfonias. Ver Bernstein regendo é um espetáculo à parte. Ele se joga com tal ímpeto na condução da obra que, no final, está totalmente esgotado. Os DVDs foram lançados pela Deutsche Grammophon, e são dirigidos pelo grande Humphrey Burton, que faz uma edição primorosa da apresentação.
E como sempre, a gravação é recheada de estrelas de primeira grandeza: a maravilhosa contralto wagneriana Christa Ludwig, e a então jovem soprano americana, Barbara Hendricks.
Creio que será uma bela forma de se passar a tarde de sábado, pois a obra tem mais de 80 minutos de duração.
Jorge de Sena, em 1967, escreveu o seguinte poema sobre esta música:
MAHLER: SINFONIA DA RESSURREIÇÃO
Ante este ímpeto de sons e silêncio,
ante tais gritos de furiosa paz,
ante o furor tamanho de existir-se eterno,
há Portas no Infinito que resistam?
Há infinito que resista a não ter portas
para serem forçadas? Há um paraíso
que não deseje ser verdade? E que Paraíso
pode sonhar-se a si mesmo mais real que este?
Sinfonia Nº 3, copiado da Wikipedia
A sinfonia Nº3 em ré menor, de Gustav Mahler foi composta entre 1893 e 1896. É uma obra bastante longa (a maior sinfonia de Mahler), a mais longa do reportório romântico, aproximadamente cem minutos de música.
Estrutura
A sinfonia está dividida em seis andamentos:
1. Kräftig entschieden (forte e decisivo) (36 minutos)
2. Tempo di Menuetto (Tempo de minueto) (10 minutos)
3. Comodo (Scherzando) (confortável, como um scherzo) (18 minutos)
4. Sehr langsam–Misterioso (muito lento, misteriosamente) (10 minutos)
5. Lustig im Tempo und keck im Ausdruck (Alegre em tempo e atrevido em expressão) (4 minutos)
6. Langsam–Ruhevoll–Empfunden (lento, tranquilo, profundo) (26 minutos)
Em cada uma das primeiras quatro sinfonias de Gustav Mahler, o próprio criou uma explicação da narrativa destas sinfonias. Na terceira, a explicação de cada andamento, é a seguinte:
1. “Chega o Verão”
2. “O que me dizem as flores do campo”
3. “O que me dizem os animais da floresta”
4. “O que me dizem os homens”
5. “O que me dizem os homens”
6. “O que me diz o amor”
Todos estes títulos foram publicados em 1898.
Originalmente a Sinfonia possuía um sétimo andamento, “O que me dizem as crianças”, porém este foi colocado na Sinfonia No.4, no último andamento.
Análise
Esta obra está composta em seis andamentos, divididos em duas partes: A primeira compreende o primeiro andamento, muito longo. A segunda agrupa os restantes andamentos. No quarto andamento a parte do contralto é um texto de “Assim falou Zaratustra” do Friedrich Nietzsche. No andamento seguinte, o coro das crianças canta um tema de “Das Knaben Wunderhorn” (A trompa mágica do rapaz). O andamento final é um hino ao amor, que conclui a sinfonia com um adagio que faz meditar.
Kräftig entschieden
O monumental primeiro andamento da terceira sinfonia, um dos mais longos escritos por Mahler (entre 30 a 35 minutos de música), importa-nos imediatamente para um universo mineral, uma ruptura completa com o quotidiano da vida. O andamento, todo ele muito bem estruturado quase parece uma sinfonia de Mozart, tendo um carácter monumental. O desenvolvimento temático, descritivo e filosófico, dá uma grande possibilidade de interpretação ao ouvinte, possibilidade essa com que Mahler descreve na explicação do andamento: “Chega o Verão”.
FDP Bach escreveu acerca da Sinfonia Nº 3:
Chegamos à Sinfonia nº 3. E que sinfonia… e que orquestra (FIlarmônica de Nova York)… e que coral… e que solista…(novamente A divina Christa Ludwig), e Bernstein em seu domínio…
A seguir, uma análise mais apurada, tirada da Wikipedia.
“The symphony, though atypical due to the extensive number of movements and their marked differences in character and construction, is a unique work. The opening movement, grotesque in its conception (much like the symphony itself), roughly takes the shape of sonata form, insofar as there is an alternating presentation of two theme groups; however, the themes are varied and developed with each presentation, and the typical harmonic logic of the sonata form movement–particularly the tonic statement of second theme group material in the recapitulation–is replaced here by something new. The slow opening can seem to evoke the primordial sleep of nature, slowly gathering itself into a rousing orchestral march. A solo tenor trombone passage states a bold melody that is developed and transformed in its recurrences. Innovation is present everywhere in this movement, including its apparent length. At the apparent conclusion of the development, several solo snare drums “in a high gallery” play a rhythmic passage lasting about thirty seconds and the opening passage by eight horns is repeated almost exactly.
The third movement quotes extensively from Mahler’s early song “Ablösung im Sommer”(Relief in Summer). The fourth is a setting of Friedrich Nietzsche’s “Midnight Song” from Also sprach Zarathustra, while the fifth, “Es sungen drei Engel”, is one of Mahler’s Des Knaben Wunderhorn songs.
It is in the finale, however, that Mahler reveals his true genius for stirring the soul. The construction of it is masterful, and the interplay of a developing chromatic harmony and sonorous string melody, developed and re-orchestrated with perfect grace and poise builds to a conclusion that, though seemingly overblown when heard in isolation, is, in the wider context of the symphony, both musically justified and emotionally overwhelming. The symphony ends with repeated D major chords and timpani statements before one final long chord.”
Mahler – Sinfonias Nº 2 e Nº 3
CD2 Gustav Mahler – Leonard Bernstein – Symphonie no. 3
Sinfonia Nº 3
01. Symphony #3 – Kraftig. Entschieden
02. Symphony #3 – Tempo di Menuetto. Sehr massig
03. Symphony #3 – Comodo. Scherzando. Ohne Hast
New York Philarmonic
Leonard Bernstein
CD3
Gustav Mahler – Leonard Bernstein – Symphonie no. 3 & 2
01. Symphony #3 – Sehr langsam. Misterioso. Durchaus ppp
02. Symphony #3 – Lustig im Tempo und keck im Ausdruck
03. Symphony #3 – Langsam. Ruhevoll. Empfunden
Christa Ludwig : mezzo-soprano
New York Choral Artists
Brooklyn Boys Chorus
New York Philarmonic
Leonard Bernstein
CD4
Gustav Mahler – Mahler The Complete Symphonies & Orchestral Songs
01. Symphony No.2 in C minor Resurrection – 2. Andante moderato
02. Symphony No.2 in C minor Resurrection – 3. [Scherzo], In ruhig fliessenttaca
03. Symphony No.2 in C minor Resurrection – 4. Ulrich, Sehr feierlich, aber
04. Symphony No.2 in C minor Resurrection – 5. Im Tempo Des Scherzo, Wild H
Barbara Hendricks : soprano
Christa Ludwig : mezzo-soprano
Westminster Choir
New York Philarmonic
Leonard Bernstein
Bernstein, faltou o quê? A Filarmônica de Viena? O Fischer-Dieskau? Faltou o quê, hein? Leonard Bernstein, um maestro que tinha especialíssima vinculação e compreensão de Mahler, gravou duas vezes A Canção da Terra (Das Lied von der Erde): em Viena (1966) para a Decca e em Israel (1972) para a CBS. Da primeira vez foi absolutamente sublime, da segunda… sei lá. Meus ouvidos dizem que a gravação de 1966 é BEM superior. Não que esta seja ruim, é que o nome do cara é Lenny e a gente sempre espera dele o melhor. Ouçam aí e me digam.
Gustav Mahler (1860-1911): A Canção da Terra (Bernstein, Israel Phil)
1. Gustav Mahler: Das Trinklied vom Jammer der Erde
2. Gustav Mahler: Der Einsame im Herbst
3. Gustav Mahler: Von der Jugend
4. Gustav Mahler: Von der Schonheit
5. Gustav Mahler: Der Trunkene im Fruhling
6. Gustav Mahler: Der Abschied
Christa Ludwig
Rene Kollo
Israel Philharmonic Orchestra
Leonard Bernstein
Não amei de paixão esta versão de Lorin Maazel. Aliás, Maazel nunca é das primeiras escolhas de PQP. Mas é uma obra-prima, é grande música de Mahler. Meus colegas de trabalho gostaram muito, mas um deles está passando por uma fase severamente mahleriana e adorou a gravação desde aquele longo zumbido que abre a sinfonia. Se fosse você, daria uma conferida. Ruim não é.
Gustav Mahler (1860-1901): Symphony No. 1 (Maazel, Wiener Phil)
1. Symphony No. 1 (D Major): I – Langsam. Schleppend.
2. Symphony No. 1 (D Major): Immer Sehr Gemachlich
3. Symphony No. 1 (D Major): II – Kraftig Bewegt, Doch Nicht Zu Schnell.
4. Symphony No. 1 (D Major): Trio: Recht Gemachlich.
5. Symphony No. 1 (D Major): Tempo Primo
6. Symphony No. 1 (D Major): III – Feierlich Und Gemessen, Ohne Zu Schleppen
7. Symphony No. 1 (D Major): Sehr Einfach Und Schlicht Wie Eine Volksweise
8. Symphony No. 1 (D Major): Wieder Etwas Bewegter, Wie Im Anfang
9. Symphony No. 1 (D Major): IV – Sturmisch Bewegt-Energisch
Aqui estão quatro sinfonias e quatro concertos, todos habilmente tocados pela excelente Amsterdam Baroque Orchestra, dirigida por Ton Koopman, que também toca cravo em dois dos concertos para teclado duplo de CPE Bach. Os dois concertos para flauta são elegantemente executados por Konrad Hünteler. Mas o principal interesse aqui provavelmente são as sinfonias e o Concerto para 2 cravos, belíssimo. Este grupo de quatro sinfonias contém alguns dos melhores esforços orquestrais do compositor. Não são obras alegres, cheias de suspense como as escritas apenas para cordas (H. 657-62) escritas em 1773, mas um grupo orquestrado mais luxuosamente (com pares de flautas, oboés, fagotes e trompas) composto cerca de cinco anos depois. Todas são típicas do estilo Mannheim que rivalizavam com as de Haydn naquela época. Koopman e sua ABO realmente capturam a inquietação nervosa e a imprevisibilidade da música com efeito soberbo. Koopman é especialmente competente em administrar as frequentes mudanças de tempo e os grandes contrastes dinâmicos de Bach, e o uso de instrumentos de época (os sopros particularmente) empresta um tremendo caráter e verve a estas obras. Koopman é acompanhado por Tini Mathot no concerto para cravo duplo (H 408) e no raramente ouvido concerto para cravo e pianoforte. Novamente, as performances são excelentes.
C. P. E. Bach (1714-1788): 4 Sinfonias / 4 Concertos (Koopman, Amsterdam Baroque)
Symphony In E Flat Major H.664, W.183/2
1-1 Allegro Di Molto 4:01
1-2 Larghetto 1:21
1-3 Allegretto 3:39
Symphony In F Major H.665, W.183/3
1-4 Allegro di Molto 5:22
1-5 Larghetto 2:31
1-6 Presto 2:55
Symphony In G Major H.666, W.183/4
1-7 Allegro Assai 3:19
1-8 Poco Andante 4:33
1-9 Presto 3:34
Symphony in D Major H.663, W.183/1
1-10 Allegro Di Molto 6:16
1-11 Largo 2:04
1-12 Presto 2:44
Concerto For Harpsichord And Fortepiano In E Flat Major H.479, W.47
Fortepiano – Tini Mathot
Harpsichord – Ton Koopman
1-13 Allegro Di Molto 7:02
1-14 Larghetto 6:00
1-15 Presto 4:50
Flute Concerto In G Major H.445, W.169
Flute – Konrad Hünteler
2-1 Allegro Di Molto 10:54
2-2 Largo 7:31
2-3 Presto 5:48
Flute Concerto In A Minor H.431, W.166
Flute – Konrad Hünteler
2-4 Allegro Assai 9:22
2-5 Andante 6:07
2-6 Allegro Assai 7:21
Concerto For Two Harpsichords In F Major H.408, W.46
Harpsichord – Tini Mathot, Ton Koopman
2-7 Allegro 9:43
2-8 Largo 9:23
2-9 Allegro Assai 5:39
Directed By – Ton Koopman
Orchestra – The Amsterdam Baroque Orchestra
Mais uma postagem com Järvi regendo Strauss. Desta vez, o que temos é o belo Don Quixote, minha obra favorita do compositor. Já ouvi esta obra com Antonio Meneses, Yo-Yo Ma, Fournier, Rostropovich, todas interpretações excelentes, mas resolvi mudar um pouco e trazer uma versão pouco conhecida, mas que tem suas qualidades. Estou bem satisfeito com os números do download destas obras de Strauss com o Järvi. Outra hora trago uma outra gravação. Uma curiosidade: neste CD temos a primeira gravação do “Romanze for Cello & Orchestra”, ou seja, até então, uma obra inédita.
Ah, sim, declaro encerrado meu exílio. A correria chegou ao fim. Tentarei, na medida do possível, colaborar com mais frequência com o blog.
Richard Strauss (1864-1949): Don Quixote, Romanze for Cello & Orchestra, Two Songs (Neeme Järvi, R. Wallfisch, Lott)
01 – Don Quixote. Introduction
02 – Don Quixote. Variation I – Das Abenteuer mit den Windmühlen
03 – Don Quixote. Variation II – Der Kampf gegen die Hammelherde
04 – Don Quixote. Variation III – Gespräche zwischen Ritter und Knappe
05 – Don Quixote. Variation IV – Das Abenteuer mit der Prozession von Büßern
06 – Don Quixote. Variation V – Don Quixotes Wacht in der Sommernacht
07 – Don Quixote. Variation VI – Die verzauberte Dulzinea
08 – Don Quixote. Variation VII – Die Ritt durch die Luft
09 – Don Quixote. Variation VIII – Die Fahrt auf dem verzauberten Nachen
10 – Don Quixote. Variation IX – Der Kampf gegen die vermeintlichen Zauberer
11 – Don Quixote. Variation X – Zweikampf mit dem Ritter vom blanken Monde
12 – Don Quixote. Finale – Don Quixotes Tod
13 – Romanze for Cello and Orchestra in F major
14 – Ruhe, Meine Seele!
15 – Gesang der Appolopriesterin
Raphael Wallfisch – Cello
Felicity Lott – Soprano
Royal Scottish National Orchestra
Neeme Järvi – Conductor
Eis uma falha do blog que nunca deverá ser perdoada. Um leitor alertou que não encontrou nenhuma gravação do Concerto para Violino de Beethoven, o famoso op. 61. Em minha cabeça, eu tinha certeza de que havia postado alguma versão, ainda no início do blog, mas para minha surpresa, nem com Heifetz, nem com o Stern, nem com o Oistrakh, enfim,nenhuma. Nem da parte de meus colegas, talvez Clara Schumann tenha postado alguma versão, mas não lembro, e quando ela se retirou do blog, apagou todas as suas postagens.
Para compensar esta tremenda falha, estarei nos próximos dias estarei postando as minhas versões favoritas, desde as mais antigas, até as mais atuais.
Para começar, trago duas versões. Uma é a recentemente lançada pela Janine Jansen, uma jovem holandesa, que já nos deixou embevecidos com sua beleza graças a uma postagem do mano PQP, em sua redenção à obra de Tchaikovsky.
A outra gravação que trago aqui agora é a celebrada versão de Itzhak Perlmann com o Giulini, creio que gravada em 1980.
Não quero fazer comparações, apenas demonstrar de que forma esta obra vem sendo interpretada no correr dos anos. Não posso comparar gigantes em seu apogeu, como Oistrakh ou Heifetz com a própria Jansen, ou Hahn, jovens que tem uma vida inteira pela frente.
PQP se mete na história: vitória de Janine.
Enfim, vamos ao que interessa:
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para Violino, Op. 61 (Perlman / Giulini)
1 Allegro ma non troppo
2 Larghetto
3 Rondo – Allegro
Itzhak Perlman – Violin
Philharmonia Orchestra
Carlo Maria Giulini
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para Violino, Op. 61 / Benjamin Britten (1913-1976): Concerto para Violino, Op. 15 (Jansen / Järvi)
Violin Concerto In D Major, Op. 61 • Ré Majeur • D-Dur
1 I Allegro Ma Non Troppo 22:56
2 II Larghetto — 8:20
3 III Rondo: Allegro 9:25
Cadenza [Cadenzas] – Fritz Kreisler
Composed By – Ludwig van Beethoven
Violin – Janine Jansen
Orchestra – Die Deutsche Kammerphilharmonie Bremen*
Conductor – Paavo Järvi
E um brinde espetacular! Amo este Concerto de Britten!
Violin Concerto, Op. 15
4 I Moderato Con Moto 9:31
5 II Vivace — Cadenza — 8:35
6 III Passacaglia: Andante Lento 14:29
Composed By – Benjamin Britten
Violin – Janine Jansen
Orchestra – London Symphony Orchestra*
Conductor – Paavo Järvi
Essa Sinfonia, na verdade sua 2ª Sinfonia, me era desconhecida até ter acesso a este CD, e fiquei surpreso com sua beleza. Richard Strauss escreveu esta sinfonia quando tinha pouco mais de 20 anos, e ela já traz alguns elementos que mostram as influências wagnerianas e brahmsianas. Esta sinfonia impressionou gente do porte de Hans von Bülow, que contratou o jovem Richard para ser seu assistente e deu-lhe a incumbência de reger a própria sinfonia em sua estréia. Maiores detalhes sobre a obra podem ser lidos no encarte que acompanha esta edição.
Hoje é domingo e pretendo aproveitá-lo, sabendo que não ficarei como um doido tendo de preparar aula. O sol brilha lá fora, bate uma leve brisa prenunciando o outono que se aproxima, e ouço um CD magnífico de Vivaldi que pretendo postar por aqui logo, logo.
Richard Strauss (1864-1949): Symphony in F minor, Sechs Lieder (Neeme Järvi / Hulse)
01 – Symphony in F minor. I – Allegro ma non troppo, un poco maestoso
02 – Symphony in F minor. II – Scherzo. Presto
03 – Symphony in F minor. III – Andante cantabile
04 – Symphony in F minor. IV – Finale. Allegro assai, molto appassionato
05 – Sechs Lieder. I – An die Nacht
06 – Sechs Lieder. II – Ich wollt ein Sträußlein binden
07 – Sechs Lieder. III – Säusle, liebe Myrthe
08 – Sechs Lieder. IV – Als mir dein Lied erklang
09 – Sechs Lieder. V – Amor
10 – Sechs Lieder. VI – Lied der Frauen
Eilenn Hulse – Soprano
Royal Scottish National Orchestra
Neeme Järvi – Conductor
FDP escreveu na primeira postagem que fizemos desta obra:
Eis então que chegamos à Sinfonia nº 7, que fo escrita entre 1904 e 1906, e por alguns chamada de “Lied der Nacht”, ou “Canção da Noite”, apesar de que Mahler não autorizava este “apelido”.
Entre sua conclusão e sua estréia, uma tragédia se abateu sobre o compositor, quando perdeu sua filha mais nova, além de descobrir que ele mesmo sofria de uma doença do coração, da qual viria a falecer alguns anos depois. Além disso, neste meio tempo, também veio a perder o posto de regente da Vienna State Opera. Maiores informações sobre a sinfonia pode ser encontrada aqui.
Leonard Bernstein nesta gravação rege sua orquestra favorita para esta obra, a Filarmônica de New York. Segundo sua biografia, a relação entre os dois (maestro e orquestra) quando se tratava desta sinfonia era de absoluta harmonia, ele comenta com certo músico que aqueles músicos conheciam tão bem a obra que ele nem precisava fazer muito esforço na sua condução, apesar de seu tamanho (80 minutos, em média).
Tenho uma relação curiosa, quiçá absurda com esta música: costumo ouvi-la do segundo ao quarto movimento, deixando de fora o primeiro e o último (também ouço muitas vezes as sinfonias de Haydn sem os minuetos, mas este é outro problema). O problema aqui é que simplesmente não gosto dos movimentos “pauleira” da sétima e os deixo de fora. Fico apenas com as duas ma-ra-vi-lho-sas “Músicas da Noite” e com o Scherzo, particularmente sedutor a este obsessivo ouvinte.
Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 7 e Rückert Lieder (CDs 10 e 11 de 16)
CD1
Symphonie No. 7 (New York Philarmonic feat. Leonard Bernstein)
01. I. Langsam (Adagio) – Allegro risoluto, ma non troppo
02. II. Nachtmusik. Allegro moderato
03. III. Scherzo. Schattenhaft
04. IV. Nachtmusik. Andante amoroso
CD2
Symphonie No. 7
01. Symphony No. 7 E-moll – V. Rondo-Finale Tempo I (Allegro ordinario)
Rückert Lieder
02. Rückert Lieder No. 1 – Liebst du um Schönheit
03. Rückert Lieder No. 3 – Blicke mir nicht in die Lieder
04. Rückert Lieder No. 2 – Ich atmet’ ein linden Duft
05. Rückert Lieder No. 4 – Um Mitternacht
06. Rückert Lieder No. 5 – Ich bin der Welt abhanden gekommen
Existem algumas gravações que ficam na nossa cabeça para sempre. Já cansamos de dar exemplos aqui no blog, mas creio que o Concierto de Aranjuez seja a obra que mais cedo compreendi, e seu Adágio do segundo movimento a mais bela melodia que ouvi em minha vida. E creio que também seja para muita gente. Seu lirismo melancólico nos comove, e as mais variadas imagens nos vem à mente. Para uns, pode significar a dor da perda de um ente querido, para outros, a lembrança de uma paixão antiga, ou não correspondida. Para mim, lembra minha infância, quando, pela primeira vez, tive acesso ao velho LP com a foto de um jovem John Williams, ao lado do já velhinho Eugene Ormandy. Esta gravação ganha em qualidade por dois motivos principais, em minha concepção: de todas as gravações que Williams já fez deste concerto, esta é a melhor (conheço 3). E além disso, Ormandy sempre foi um eterno apaixonado. Você sente uma emoção pulsante, extraída das cordas da sua Orquestra da Filadélfia, ele extrai da melodia toda a paixão nela contida. Um grande maestro, com uma orquestra moldada ao seu gosto. E um grande violonista, que se estabelecia como um grande mestre.
Em seguida, Williams nos brinda com a “Fantasia para un Gentilhombre”, também de Rodrigo, composta para Andrés Segovia, versão já postada aqui no blog. Williams novamente nos brinda com uma excepcional interpretação, dando a impressão de ser espanhol, e não australiano, pois, assim como no caso do Concierto de Aranjuez, dá-se a impressão de uma total incorporação da alma espanhola. O disco é concluído com outros dois pesos pesados do repertório violonístico, um concerto de Giuliani, e outro de Vivaldi. Mas, mesmo sendo John Williams um especialista em Giuliani, o que se destaca aqui é Rodrigo, sem dúvida.
Em meu velho LP, o outro concerto, presente no Lado B do disco, era o de Castelnuovo-Tedesco. Infelizmente, não consegui encontrar a versão em CD com o Ormandy, mas tenho outra gravação do mesmo Williams, mas acompanhado de outra orquestra. Posso postar este cd em outra ocasião.
Joaquin Rodrigo (1901-1999): Concierto de Aranjuez, Fantasia para un Gentilhombre / Mauro Giuliani (1781-1829): Concierto para guitar and strings, Op. 30 / Antonio Vivaldi (1678-1741): Concerto for Guitar and Orchestra, RV. 93 (John Williams)
1. Concierto de Aranjuez: I. Allegro con spririto
2. Concierto de Aranjuez: II. Adagio
3. Concierto de Aranjuez: III. Allegro gentile
John Williams – Guitar
Eugene Ormandy – Conductor
Philadelphia Orchestra
4. Fantasia para un gentilhombre: Villano y ricercar. adagietto-andante moderato
5. Fantasia para un gentilhombre: Espanoleta y Fanfare de la caballeria de Napoles. Adagio – Allegretto
6. Fantasia para un gentilhombre: Danza de las hachas. Allegro con brio
7. Fantasia para un gentilhombre: Canario. Allegro ma non troppo
English Chamber Orchestra
Charles Grove – Conductor
Mauro Giuliani – Concerto For Guitar And String Orchestra In A Major
8. Concerto For Guitar And String Orchestra In A Major: I. Allegro maestoso
9. Concerto For Guitar And String Orchestra In A Major: II. Siciliana. Andantino
10. Concerto For Guitar And String Orchestra In A Major: III. Polonaise. Allegretto
Concerto For Guitar And String Orchestra In D Major
11. Concerto For Guitar And String Orchestra In D Major: I. Allegro giusto
12. Concerto For Guitar And String Orchestra In D Major: II. Largo
13. Concerto For Guitar And String Orchestra In D Major: III. Allegro
English Chamber Orchestra
Colin Tilney – Cembalo
John Williams – Guitar & Conductor
Falar do talento de Yulianna Avdeeva é quase como chover no molhado. Ainda mais quando ela lança um CD apenas com obras de Chopin, repertório no qual ela é craque. Para quem não sabe, essa pianista russa venceu o prestigioso Concurso Chopin, em Varsóvia, lá em 2010, e desde então vem construindo uma sólida carreira. Já trouxe outros cds dela, procurem aí que irão encontrar.
O que temos aqui nesta postagem é mais uma amostra do imenso talento de Avdeeva, que nos traz um repertório belíssimo, com a imensa Sonata nº 3 e da Polonaise – Fantasie. O CD abre com dois Noturnos, os de op. 62 e conclui-se com as três últimas Mazurkas que Chopin compôs, de op. 59. Entre essas obras, temos os dois petardos citados acima, duas obras primas incontestes do compositor polonês.
Como comentei acima, Avdeeva encara as peças com muita propriedade e segurança. Assim a pianista descreve sua relação com a música de Chopin (texto retirado do livreto, que segue anexo):
“The music of Chopin has a unique place in my soul. For me, it captures the subtlest nuances of the human experience; just like a leaf on a tree appears plain green at first, yet reveals a spectrum of hues when touched by the wind, Chopin’s compositions unveil layers of emotion and meaning with the unfolding of each note.”
Acredito que cada um de nós, ao ouvirmos a música de Chopin, sentimos um turbilhão de emoções, é difícil inclusive sair do transe em que entramos. Lembro da primeira vez que ouvi a Balada nº1, eu era ainda um adolescente, naquela fase de descobertas dos sentimentos e das emoções, e aquela música me impressionou muito. E ainda me impressiona, mesmo depois de passados tantos anos e de ter tido tantas experiências de vida. Chopin tem essa incrível capacidade de nos abalar emocionalmente. Depois de ouvirem esse CD creio que muitos que ainda não tiveram essa experiência, a terão.
P.S. Uma curiosidade sobre o piano que Avdeeva utiliza nesta gravação: era o piano pessoal de Wladimir Horowitz. Maiores detalhes no livreto.
2 Nocturnes, Op. 62
1 No. 1 in B Major. Andante
2 No. 2 in E Major. Lento
3 Polonaise-Fantaisie, Op. 61 4 Barcarolle, Op. 60
Sonata No. 3 in B Minor, Op. 58
5 I. Allegro maestoso
6 II. Scherzo. Molto vivace
7 III. Largo
8 IV. Finale. Presto non tanto
3 Mazurkas, Op. 59
9 No. 1 in A Minor. Moderato
10 No. 2 in A-Flat Major. Allegretto
11 No. 3 in F-Sharp Minor. Vivace
Domingo fui visitar meu velho tio Antoine Denon, em sua enorme casa, aquela que lembra a mansão da Família Addams. Depois de colocarmos o papo em dia, regado naturalmente a chá mate e biscoitinhos, tio Antoine escorregou em sua poltrona preferida, deixou cair uma de suas pantufas e mergulhou no seu natural estado letárgico. Eu aproveitei a deixa e me esgueirei escada acima até seu ‘laboratório’, que meu tio sempre foi dado a inventos amalucados. Encontrei assim sua empoeirada máquina do tempo, da qual ele sempre se vangloriava, de frente para a estante com seus livros de física, sobre buracos negros e teoria quântica. É claro que não acreditava muito nisso tudo, pois que eu desconfiei da facilidade de chegar ao Lab, a porta ficara entreaberta e meu tio é conhecido por adorar uma traquinagem. De qualquer forma, resolvi viajar na brincadeira e acertei os ponteiros da máquina para que me levasse para o Palácio Lobkowitz, casa do Príncipe Lobkowitz em Viena, nas primeiras horas do dia 9 do lindo mês de maio de 1804. Pois levei um susto quando a máquina se pôs a trepidar e lentamente começar a girar… Ainda bem que que estava com meus fones de ouvido e acionei meu Suíço Celular, que toca os arquivos de música com os quais estou lidando.
Não é que estava na vez do arquivo desta postagem – uma recriação da primeira audição (com ensaios e tudo) da Sinfonia Eroica, composta pelo tal Ludovico, amigão do Príncipe, que para a ocasião desembolsou o pagamento de uns 22 músicos, incluindo uma terceira trompa, pedido especial do compositor para sua nova sinfonia. Podemos dizer que essa gravação, feita em 2003, buscava levar o nível de compromisso com os ideais de HIP ao seu mais alto nível – instrumentos de época, tamanho da orquestra original, no local exato. Por isso a minha viagem no tempo.
Essa é uma gravação no mínimo desafiadora, com tempos rápidos, que nos dá um sensação de impetuosidade, de novidade, como deve ter sido realmente o que a obra causou naquele dia.
[…] Relying on the relatively new Barenreiter Edition, Ensemble28’s rendition is among the fastest I have heard. It is also a unique recording due to its sparse instrumentation; young German conductor Daniel Grossman does an admirable job emphasizing the textural richness of Beethoven’s score. I doubt I have heard a more exciting account of the opening first movement (Allegro con brio) that is as memorable from a period instrument perspective, and indeed, one that compares favorably to those from the likes of Harnoncourt, Abbado and Haitink, among others in recordings dating from the early 1990s. The same can be said for the following three: Marcia funebre: Adagio assai; Scherzo: Allegro vivace; and Finale: Allegro molto. Grossman’s riveting account merely emphasizes the truly revolutionary nature of Beethoven’s work […]
[…] Usando a relativamente nova edição Barenreiter, a versão do Ensemble28 está entre as mais rápidas que já ouvi. É também uma gravação única devido à sua instrumentação esparsa; o jovem maestro alemão Daniel Grossman faz um trabalho admirável ao enfatizar a riqueza da textura da partitura de Beethoven. Duvido ter ouvido uma interpretaçã mais emocionante do primeiro movimento (Allegro con brio) e que seja tão memorável do ponto de vista dos instrumentos de época e, de fato, que se compare favoravelmente com aqueles de nomes como Harnoncourt, Abbado e Haitink, entre outros. O mesmo pode ser dito dos três movimentos seguintes: Marcia funebre: Adagio assai; Scherzo: Allegro vivace; e Final: Allegro molto. A fascinante interpretação de Grossman apenas enfatiza a natureza verdadeiramente revolucionária da obra de Beethoven […] [crítica na Amazon]
Aqui pertinho de casa, numa esquina, junto a uma pracinha, mas ainda em frente ao muro de uma casa, há um remanescente do passado, estoico, arcaico, um orelhão. Creio que este remanescente foi deixado lá para que os avós o mostrem aos netos, em seus passeios matinais – foi de um desses que eu convidei sua avó para sair, pela primeira vez…
Imagino que foi de um desses jurássicos objetos que Miles (Miles Kendig, o aposentado espião que ama a música de Mozart, você deve saber) me ligou, dia desses.
MK: Hey, René, how are ya?
RD: Kendig! What an unexpected pleasure.
MK: May I have it, please?
RD: Have what?
MK: It has been half an eternity since you posted some Mozart, specially piano concertos. Oh c’mon, this is ultageous!
RD: Well, it is good that you brought that… I’ve just spotted a great disc with three wonderful piano concertos, including the Jeunehomme. I know you have a soft spot for it.
MK: So, don’t delay it any further, get it done. And talk with that cranky boss of yours to get it posted as soon as possible. I don’t wanna wait months for it to surface!
RD: I’ll let him know. And you, now, don’t be a stranger, keep in touch…
MK: I will! Take care!
Pois assim, a pedidos do Selim Gidnek, como ele às vezes gosta de ser chamado, vamos a postagem do dia… Mozart, Concertos para piano. Este é um disco com três concertos. O primeiro foi composto quando ele ainda estava em Salzburg, mas os outros dois já fazem parte dos primeiros a serem compostos para suas apresentações em Viena. O Concerto ‘Jeunehomme’ pensava-se ter sido composto para uma pianista francesa, Mademoiselle Jeunehomme, que teria visitado Salzburgo em 1777. Em suas cartas Mozart tratava de uma certa Jenomé. Agora acredita-se que o concerto foi escrito para Louise-Victoire Jenamy, filha de um famoso dançarino francês, amigo de Mozart. A obra é um passo a frente dos típicos concertos no estilo galante, com um movimento lento que revela o grande compositor de óperas que foi Mozart.
Os Concertos Nos. 12 e 14 (assim como o irmão do meio, No. 13) foram compostos no primeiro ano de Mozart em Viena e podem parecer até um passo atrás, comparados com o Concerto No. 9, pois que são simples em escopo, podendo ser interpretados apenas com piano e quarteto de cordas. Mas não se deixe iludir por essa aparente simplicidade, pois que ambos concertos reservam belezuras para quem os ouvir com atenção, especialmente em uma interpretação assim como a da postagem.
Edna Stern é uma pianista já bem conhecida aqui do pessoal do blog, onde já se apresentou acompanhando a violinista Amandine Beyer e também em um disco tocando peças de Bach. Ela é especialmente talentosa e teve formação primorosa, estudando com grandes nomes, como Martha Argerich, Krystian Zimerman e Leon Fleisher.
Ela tem fortes ideias sobre como devem ser produzidas suas gravações, evitando ao máximo o exercício de ‘cut and paste’, e a Orchestre d’Auverne colaborou com ela buscando cumprir a risca esse princípio. É ouvir o disco para conferir. Depois, me conte!
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Piano Concerto No. 9 in E-flat major, K271 “Jeunehomme”
Seção ‘The Book is on the Table’: Stern’s performances are all about intimacy: intimacy of sound, manifested in a close, dry (and sometimes rather unlovely) recording offering sharp textural clarity and emphasising the tightness for the Orchestre d’Auvergne’s ensemble-playing; and intimacy of thought, for this is an artist with a delicate touch who likes to shape every detail of phrasing and articulation as if polishing a tiny gem.
[Gramophone, May 2011]
Stern’s instrument is modern, though her dry attack and clarity suggest time spent with a period piano. Even so there’s an ease to phrasing and touch in the Jeunehomme concerto…Sparkling music-making
Para acomodar as melancias, diria que Bartók é o maior compositor da primeira metade do século XX e Messiaen o melhor da segunda, apesar de terem nascido no intervalo de 19 anos… pouco tempo, né? Espero que Strava não fique muito triste e mesmo eu, um admirador do grande Shosta, dou lugar ao enorme talento deste católico francês. Pensando do século XX pra cá, eu acho quase inaceitável que uma pessoa seja religiosa. Mas há verdadeiros gênios que foram profundamente religiosos. Talvez os maiores deles tenham sido o cineasta Andrei Tarkovski e o compositor Olivier Messiaen. Estou ouvindo os Vingt Regards sur l’Enfant-Jésus (“Vinte Contemplações sobre o Menino Jesus”), de Messiaen, para piano solo, que tem a duração de 2h12 (!). A música não me sugere em nada acreditar no Menino Jesus, mas é algo muito meditativo e concentrado, que me atrai demais. O pianista norueguês Håkon Austbø (pronuncia-se Rpsnggsgschnelllas) nunca tenta impressionar ou se exibir, deixa a música — incrivelmente original e inspirada — falar por si, adicionando profundidade e delicadeza.
Oliver Messiaen (1900-1992): Vingt regards sur l`enfant Jésus (Austbø)
Disc 1
1. I. Regard du Pere 00:08:09
2. II. Regard de I’etoile 00:03:10
3. III. L’echange 00:03:25
4. IV. Regard de la Vierge 00:05:21
5. V. Regard du Fils suer le Fils 00:08:15
6. VI. Par lui tout a ete fait 00:10:50
7. VII. Regard de la Croix 00:04:21
8. VIII. Regard des hauteurs 00:02:23
9. IX. Regard du temps 00:02:45
10. X. Regard de I’Esprit de joie 00:08:50
Disc 2
1. XI. Premiere communion de la Vierge 00:07:38
2. XII. La parole toute – puissante 00:02:32
3. XIII. Noel 00:04:22
4. XIV. Regard des Anges 00:05:09
5. XV. Le baiser de I’enfant Jesus 00:14:07
6. XVI. Regard des prophetes des bergers et des mages 00:03:10
7. XVII. Regard du silence 00:05:36
8. XVIII. Regard de I’onction terrible 00:07:04
9. XIX. Je dors, mais mon coeur veille 00:11:01
10. XX. Regard de I’Eglise d’amour 00:14:35
Ainda dentro das comemorações dos 200 anos de nascimento de Mendelssohn, estarei postando várias outras obras dele, como prometido há alguns dias atrás. Vou começar com seus Quartetos de Cordas, até agora meio que esquecidos no blog. A interpretação desta integral estará a cargo do Melos Quartet em gravação 5 estrelas. Vou postar os três volumes de uma só vez, para dar-lhes a satisfação de poderem acompanhar a evolução de Mendelssohn como compositor.
A primeira vez que ouvi um destes quartetos foi ainda na minha adolescência, quando tinha uns 12 anos de idade, através de uma rádio de Curitiba que só tocava música clássica, não me lembro o nome dela, só lembro que era em ondas médias. Eu tinha um radinho de pilha para poder ouvir os jogos do Coritiba, e foi esta rádio a primeira que me “iniciou” neste mundo da música chamada “clássica”. Não me lembro qual era o nome da obra que tocou, mas ela me fascinou. Passados alguns anos, consegui comprar um velho LP que trazia alguns destes quartetos, e definitivamente Mendelssohn se tornou um de meus compositores favoritos.
O Quarteto de nº6, Op, 80, ou e que está presente no primeiro CD, em minha opinião, é uma das maiores obras compostas para esta formação, e a atuação do Melos Quartet é impecável.
Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847): Os Quartetos de Cordas (Melos)
CD 1
01 String Quartet in Eb o.Op -I- Allegro moderato
02 String Quartet in Eb o.Op -II- Adagio non troppo
03 String Quartet in Eb o.Op -I- Minuetto – Trio – Minuetto
04 String Quartet in Eb o.Op -IV- Fuga
05 String Quartet in Eb Op.12 -I- Adagio non troppo – Allegro non tardante
06 String Quartet in Eb Op.12 -II- Canzonetta. Allegretto – piщ mosso
07 String Quartet in Eb Op.12 -III- Andante expressivo – attacca_
08 String Quartet in Eb Op.12 -IV- Molto allegro e vivace
09 String Quartet in F minor Op.80 -I- Allegro assai – Presto
10 String Quartet in F minor Op.80 -II- Allegro assai
11 String Quartet in F minor Op.80 -III- Adagio
12 String Quartet in F minor Op.80 -IV- Finale_ Allegro molto
cd 2
1 String Quartet in A minor Op.13 -I- Adagio – Allegro vivace
2 String Quartet in A minor Op.13 -II- Adagio non lento
3 String Quartet in A minor Op.13 -III- Intermezzo. Allegretto con moto – Alleg…
4 String Quartet in A minor Op.13 -IV- Presto – Adagio non lento
5 String Quartet in Eb Op.44 No.3 -I- Allegro vivace
6 String Quartet in Eb Op.44 No.3 -II- Scherzo. Assai leggiero vivace
7 String Quartet in Eb Op.44 No.3 -III- Adagio non troppo
8 String Quartet in Eb Op.44 No.3 -IV- Molto Allegro con fuoco
cd 3
01 3 1 D Op44 1 Molto Allegro vivace
02 3 2 D Op44 1 Menuetto Un poco Allegro
03 3 3 D Op44 1 Andante expressivo ma con moto
04 3 4 D Op44 1 Presto con brio
05 4 1 Em Op44 2 Allegro assai appassionato
06 4 2 Em Op44 2 Scherzo Allegro di molto
07 4 3 Em Op44 2 Andante attacca
08 4 4 Em Op44 2 Presto agitato
09 Pieces for String Quartet Op81 1 E Andante Un poco piu animato Presto Andante…
10 Pieces for String Quartet Op81 2 Am Scherzo Allegro leggiero
11 Pieces for String Quartet Op81 3 Em Capriccio Andante con moto Allegro fugato…
12 Pieces for String Quartet Op81 4 E Fuga A tempo ordinario
Melos Quartet:
Wilhelm Melcher – 1º Violino
Gerhard Voss – 2º Violino
Hermann Voss – Viola
Peter Buck – Violoncelo
O grande Dr. Cravinhos nos envia este CD de Músicas para Crianças do genial Béla Bartók. Ficamos muito gratos. Não é todo dia que recebemos um presente desses. E ele ainda nos manda texto sobre a música, etc. Como acredito que quase todo mundo aqui lê inglês, copio aqui o texto que foi enviado a nós:
Bartók for Children, written in 1908 & 1909 and originally including 85 pieces based on Hungarian & Slovakian folk tunes, was first published in four volumes. Some of the pieces were revised by the composer in the 1930’s and he made a complete revision of the whole work in 1943, writing thirteen new pieces and reducing to total number to 79, to be published postumously in 1947 in two volumes although Bartók had been able to correct the proposed new edition in 1944. The pieces are described as little pieces for beginners, without stretches of an octave. They are a direct reflection of Bartók’s interest in folk music. The melodies, in various modes, are never forced into the traditional strait-jacket of academic harmony but set off by simple accompaniments that preserve their original character. For Children, as with Mikrokosmos and his forty-four Violin Duets, they offer a much wider view of music than was once and perhaps is still usual in teaching material confined entirely to the major and minor scales and harmonies of common practice.
Há grandes admiradores desta Missa, mas não é uma obra que eu aprecie demais. Isto importa? Claro que não! Sempre li que as gravações da Missa Solemnis eram categorizadas sem meio termo. Há as ótimas e as outras — de alguma forma falhas. Agora, haveria talvez uma dúzia de ótimas. Fala-se que o campeão seria David Zinman e que esta versão de Kenneth Schermerhorn estaria também lá no topo, o que é sensacional. O que seria o “ótimo”? Ora, que seja uma gravação estimulante, inspiradora, abastecida com alto talento musical e precisão. As forças de Nashville estão à altura das temíveis demandas da obra e, para elas e Schermerhorn (discípulo de Bernstein e maestro da orquestra por 20 anos), a gravação poderia ser considerada uma conquista. Certamente, uma das características mais satisfatórias da performance se enquadra na escolha dos andamentos e dos fraseados. Ouvi verdadeiro virtuosismo nas passagens com ritmos intrincados, como a fuga “Et vitam venturi”, onde a composição de Beethoven dança com total audácia. Os solistas também estão à altura das gravações europeias mais estreladas. Recomendo.
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Missa Solemnis (Schermerhorn, Nashville Symphony Orchestra, Phillips, Redmon, Taylor, Baylon)
1 Kyrie eleison 05:01
2 Gloria: Gloria in excelsis Deo 05:01
3 Gloria: Qui tollis peccata mundi 05:17
4 Gloria: Quoniam tu solus sanctus 06:37
5 Credo: Credo in unum Deum 04:18
6 Credo: Et incarnatus est 05:06
7 Credo: Et resurrexit tertia die 09:12
8 Sanctus 05:38
9 Sanctus: Benedictus 10:23
10 Agnus Dei 05:53
11 Agnus Dei: Dona nobis pacem 09:27
Bass-Baritone Vocals – Jay Baylon
Chorus – Nashville Symphony Chorus
Conductor – Kenneth Schermerhorn
Mezzo-soprano Vocals – Robynne Redmon
Orchestra – Nashville Symphony Orchestra
Soprano Vocals – Lori Phillips (2)
Tenor Vocals – James Taylor (5)
Violin – Mary Kathryn Van Osdale* (tracks: 9)
E hoje é o Dia de Santa Cecília, a padroeira da música. Também é o Dia do Músico! Hail! Bright Cecilia ( Z. 328), também conhecida como Ode a Santa Cecília, foi composta por Henry Purcell para um texto do irlandês Nicholas Brady em 1692 em homenagem à festa de Santa Cecília, padroeira dos músicos. As celebrações anuais da festa desta santa — sempre em 22 de novembro — começaram em 1683, organizadas pela Sociedade Musical de Londres , um grupo de músicos e amantes da música. A primeira apresentação ocorreu em 22 de setembro de 1692 no Stationers’ Hall. Foi um grande sucesso e recebeu bis. Melhor dizendo, foi tocada duas vezes. Também pudera, a música é muito inventiva e boa.
Henry Purcell (1659-1695): Hail! Bright Cecilia, Ode On St. Cecilia’s Day 1692 (Taverner Choir · Taverner Players, Taverner Consort, Parrott)
Hail! Bright Cecilia, Ode On St. Cecilia’s Day 1692 Z. 328
1 Symphony
2 Hail! Bright Cecilia
3 Hark! Hark! Each Tree
4 ‘Tis Nature’s Voice
5 Soul Of The World!
6 Thou Tun’st This World Below
7 With That Sublime Celestial Lay
8 Voluntary (in D Minor)
9 Wonderous Machine!
10 The Airy Violin
11 In Vain The Am’rous Flute
12 The Fife And All The Harmony Of War
13 Let These Amongst Themselves Contest
14 Hail! Bright Cecilia
Choir – Taverner Choir
Composed By – Henry Purcell
Ensemble – Taverner Players
Written By [Poem] – Nicholas Brady
Hoje é o dia da morte de Henry Purcell. Então, fazemos uma homenagem trazendo este belíssimo disco. Uma ária mais extraordinária que a outra. Here The Deities Approve é uma joia incomparável, por exemplo. E o que dizer de Come Ye Sons Of Art, Sound the Trumpet? E da Marcha para os Funerais da Rainha Mary, utilizada em A Laranja Mecânica por Stanley Kubrick? Mary morreu quase um ano antes de Purcell em dezembro de 1694, mas seu funeral apenas ocorreu em março de 1695. Os funerais reais com música de Purcell deviam ser supimpas! Andrew Parrott e seu grupo dão enorme vida a este repertório sensacional.
Henry Purcell (1659-1695): Odes And Funeral Music (Taverner Consort, Choir & Players, Parrott)
Welcome To All The Pleasures z339 (Ode For St Cecilia’s Day 1683)
1-1 Symphony 1:59
1-2 Welcome To All The Pleasures 1:49
1-3 Here The Deities Approve – While Joys Celestial 5:01
1-4 Then Lift Up Your Voices 1:43
1-5 Beauty, Thou Scene Of Love 2:31
1-6 In A Consort Of Voices 1:21
Funeral Sentences
1-7 Man That Is Born Of A Woman z27 2:37
1-8 In The Midst Of Life z17a 4:08
1-9 Thou Knowest, Lord z58b 3:33
Come Ye Sons Of Art Away z323 (Birthday Song For Queen Mary 1694)
1-10 Symphony [Adagio – Allegro] – Adagio 3:44
1-11 Come Ye Sons Of Art 1:45
1-12 Sound The Trumpet 2:29
1-13 Come Ye Sons Of Art 1:13
1-14 Strike The Viol 4:23
1-15 The Day That Such A Blessing Gave 2:45
1-16 Bid The Virtues 3:01
1-17 These Are The Sacred Charms 1:33
1-18 See, Nature, Rejoicing 2:48
Funeral Music For Queen Mary
1-19 March z660.i 1:44
1-20 Thou Knowest, Lord z58c 2:10
1-21 Canzona z860.ii 2:11
Bass Vocals – David Thomas (9), Michael George (3), Richard Wistreich, Simon Grant (4)
Countertenor Vocals – Kevin Smith (11), Michael Chance
Music Director [Direction] – Andrew Parrott
Organ – Roger Woolley*
Soprano Vocals – Emma Kirkby
Tenor Vocals – Andrew King (5), Charles Daniels (2), Neil Jenkins, Paul Elliott, Rogers Covey-Crump
Se o disco de Anne Sophie Mutter que apresentamos ontem (isto é uma repostagem, gente) era uma merda, este é magnífico, sua audição soa exatamente como a violinista aparece na capa: linda, coleante, azul. Seu Concerto Op. 64 é absolutamente impecável e da mesma forma é o esplêndido Trio Nº 1, com seus dois belíssimos movimentos iniciais. O nível cai um pouco na Sonata, mas não por culpa da deusa — é que a Sonata é mais fraquinha mesmo. Mesmo com as 5000 gravações existentes do Op. 64 é difícil bater o registro destes dois monstros — Mutter e Masur. Baixe agora.
Mendelssohn (1809-1847): Concerto para Violino, Op. 64 / Piano Trio No.1 / Sonata para Violino e Piano (Mutter, Masur, Previn, Harrell)
Violin Concerto in E minor, Op. 64
01. 1. Allegro molto appassionato [12:19]
02. 2. Andante [7:15]
03. 3. Allegretto non troppo – Allegro molto vivace [6:15]
Anne-Sophie Mutter, violino
Gewandhausorchester Leipzig
Kurt Masur
Piano Trio No.1 in D minor, Op.49
04. 1. Molto allegro agitato [9:01]
05. 2. Andante con moto tranquillo [6:52]
06. 3. Scherzo (Leggiero e vivace) [3:38]
07. 4. Finale (Allegro assai appassionato) [8:10]
Anne-Sophie Mutter, violino
André Previn, piano
Lynn Harrell, violoncelo
Sonata para Violino e Piano in F major (1838) (without opus number)
08. 1. Allegro vivace [11:25]
09. 2. Adagio [7:14]
10. 3. Assai vivace [5:23]
Anne-Sophie Mutter, violino
André Previn, piano
A última ópera de Mozart foi um dos grandes sucessos de público de sua carreira, talvez o maior de todos, com a marca de 100 apresentações sendo batida em pouco mais de um ano, quando o compositor já havia passado desta pra melhor. O que explica esse sucesso? A comoção com a morte do gênio pesa um pouco, claro, mas também as primeiras performances – das quais a primeira, em setembro de 1791, teve Mozart como regente – já haviam sido sucessos gigantes. Tenho uma teoria: nesta ópera, como em pouquíssimas obras, ele conseguiu formar uma unanimidade ao agradar a públicos muito diversos: quem gosta de árias difíceis tem aqui aquela que é talvez a mais famosa, virtuosa e atlética ária para uma voz feminina em toda a música europeia, a 2ª da Rainha da Noite, mas A Flauta Mágica também traz cenas cômicas, um par romântico, alusões à maçonaria, vários tipos de ouvinte encontram aquilo que lhes agrada.
Essa multiplicidade de estilos e histórias em uma só obra me faz até pensar naquelas novelas das nove, antes das oito, que tinham essa ambição de agradar a todo o conjunto da população, neste caso a do Brasil do século XXI e, naquele caso o povo do Império Austro-Húngaro (em Praga a Ópera logo foi um sucesso pouco depois da estreia em Viena, chegando depois à Alemanha). Não é apenas uma comparação superficial: também nas novelas da TV as várias tramas se entrecruzam com relativa independência e não é raro que um casal inicialmente protagonista (como Pamina e Tamino) acabe ganhando menos simpatia do público do que personagens supostamente menores (como Papageno e a Rainha da Noite). Vocês se lembram daquela novela na Índia em que a heroína foi casada à força pela família? Com o carisma do marido – inicialmente um quase-vilão – ganhando o público, o par inicial da heroína – que, no enredo planejado, iria recuperar sua amada do injusto casamento de conveniência – terminou como um coadjuvante secundário.
Temos aqui, então, um tipo de arte que se ajusta aos anseios das massas e, como por um milagre, o grande artista consegue fazê-lo sem rebaixar o nível da música, sem demagogias populistas e usando os lugares-comuns com criatividade. Em todo caso, por mais genial que seja, por esse caráter popular é uma obra que expressa mais uma coletividade do que a interioridade de Wolfgnang Amadeus Mozart: para isso, mais vale ouvir trechos do Requiem ou dos Concertos para Piano. No Concerto nº 20, por exemplo, temos o Mozart misterioso e noturno, nos Concertos nº 25 e 26 o Mozart grandioso, no nº 17 uma alegria mais jovial e no nº 27 uma certa maturidade que evita os excessos. Cada um desses traz, então, algo como retratos da alma do compositor – que era também pianista – enquanto na Flauta Mágica ele escreve mais distanciado, o conceito de personalidade, de individualidade do compositor cabe menos aqui, Mozart torna-se bem maior do que ele próprio e passam por ele os temperamentos dos seus contemporâneos, assim como resquícios musicais dos grandes autores de obras vocais seculares do seu século 18, quase todos italianos (como A. Scarlatti, Vivaldi e vários outros em Veneza) ou tendo vivido na Itália (Händel e Hasse). Por exemplo as melodias de Sarastro soam próximas dos baixos profundos dos italianos (aqui) e poucos seriam momentos semelhantes nas óperas do século XIX, quando os barítonos com voz não tão grave reinariam.
Por esse aspecto que vai além de Mozart tanto em termos de indivíduo quanto de tempo, acho bastante razoável amar essa gravação de Otto Klemperer, maestro que eu dificilmente consideraria uma das primeiras opções para as Sinfonias ou Concertos: nestes últimos, prefiro o Mozart mais leve das gerações mais recentes (Savall, os pianistas Brautigam e Lubimov…) ou nem tão recentes (Brendel/Marriner, Pires/Abbado…) Nessa Flauta Mágica, porém, após a solene abertura – aqui mais solene – Klemperer e Philharmonia Orchestra fazem um acompanhamento sem qualquer exagero ou maneirismo ruim. E os cantores são o que me faz realmente amar, fazem o coração bater mais forte: a Rainha da Noite por Lucia Popp, o Papageno por Walter Berry, o Sarastro por Gottlob Frick alcançam, juntos, um carisma e um nível técnico absurdo e que dificilmente alguma outra gravação alcançaria.
Mozart (1756-1791): A Flauta Mágica (Die Zauberflöte), K. 620
Philharmonia Orchestra, Otto Klemperer (conductor), Wilhelm Pitz (chorus master)
Lucia Popp, Walter Berry, Gottlob Frick, Nicolai Gedda, Gundula Janowitz, Ruth-Margret Pütz, Elisabeth Schwarzkopf, Christa Ludwig, Marga Höffgen
Recording: Kingsway Hall, London 1964 BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320kbps
Olha, ninguém vai pirar com este CD do inglês Whitlock, mas sua música sacra tem méritos, discretos méritos. Ele é uma mistura de Vaughan Williams, Delius e Elgar, ou seja, nada muito espetacular. Sua música é certinha e até gostei de ouvi-la no início da tarde de ontem, sabem? O coitado morreu cedo de tuberculose e virtualmente desapareceu, sendo recuperado nesta década. Confiram aí.
Percy Whitlock (1903-1946): The Choral Music
1. Sing praise to God who reigns above 3:46
2. Jesu grant me this I pray 5:14
3. Solemn Te Deum 7:17
4. O living bread, who once did die 3:48
5. Here, O my Lord, I see Thee face to face 3:13
6. Be still, my soul 4:31
7. The siant whose praise today we sing 3:16
8. Communion Service in G: Kyrie 1:27
9. Communion Service in G: Credo 5:04
10. Communion Service in G: Sanctus 1:18
11. Communion Service in G: Benedictus 0:41
12. Communion Service in G: Agnus Dei 2:11
13. Communion Service in G: Gloria 2:51
14. Glorious in heaven 3:48
15. Magnificat and Nunc Dimittis in G: Magnificat 3:28
16. Magnificat and Nunc Dimittis in G: Nunc Dimittis 2:08
17. O gentle presence 3:09
18. Come, let us join our cheerful songs 2:44
19. O gladsome light 2:59
20. Magnificat and Nunc Dimittis (Fauxboudons): Magnificat 4:05
21. Magnificat and Nunc Dimittis (Fauxboudons): Nunc Dimittis 2:39
The Choir of Rochester Cathedral
Roger Sayer, regência
William Whitehead, órgão
Para utilizar um termo técnico, eu diria que este CD é do caraglio. O grande Anner Bylsma dá uma verdadeira aula de como tocar um cello barroco e, aqui sim, as composições são extraordinárias. Ouvi várias vezes este disco que traz em si, incrustada, a definição do termo barroco: pérola irregular a assimétrica. Nada aqui é regular ou certinho. É tudo humano e perfeito. Bylsma vem acompanhado de um esplêndido grupo.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Sonatas for Violoncello & Basso Continuo
1. Sonata No. 1 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 47/I. Largo 3:45
2. Sonata No. 1 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 47/II. Allegro 3:26
3. Sonata No. 1 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 47/III. Largo 2:34
4. Sonata No. 1 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 47/IV. Allegro 1:53
5. Sonata No. 2 in F Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 41/I. Largo 2:29
6. Sonata No. 2 in F Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 41/II. Allegro 2:49
7. Sonata No. 2 in F Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 41/III. Largo 3:56
8. Sonata No. 2 in F Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 41/IV. Allegro 2:20
9. Sonata No. 3 in A minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 43/I. Largo 3:38
10. Sonata No. 3 in A minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 43/II. Allegro 3:41
11. Sonata No. 3 in A minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 43/III. Largo 4:20
12. Sonata No. 3 in A minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 43/IV. Allegro 3:07
13. Sonata No. 4 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 45/I. Largo 3:37
14. Sonata No. 4 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 45/II. Allegro 2:48
15. Sonata No. 4 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 45/III. Largo 4:09
16. Sonata No. 4 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 45/IV. Allegro 2:53
17. Sonata No. 5 in E minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 40/I. Largo 3:09
18. Sonata No. 5 in E minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 40/II. Allegro 3:00
19. Sonata No. 5 in E minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 40/III. Largo 3:15
20. Sonata No. 5 in E minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 40/IV. Allegro 2:04
21. Sonata No. 6 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 46/I. Largo 2:31
22. Sonata No. 6 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 46/II. Allegro 2:46
23. Sonata No. 6 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 46/III. Largo 2:02
24. Sonata No. 6 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 46/IV. Allegro 2:25
Anner Bylsma, Violoncello – Matteo Goffriller, Venezia, 1693
Francesco Galligioni, Violoncello – Anonymous, Italy, 1700
Ivano Zanenghi, Archlute – Stephen Murphy after Martin Hoffmann, Germany, mid-17th century
Alessandro Sbrogiò, Violone – Anonymous, Germany, late 17th century
Andrea Marcon, Harpsichord & Organ – Harpsichord by William Horn, Brescia after Giusti, Italy, 17th century, Organ by Francesco Zanin, Codroipo Udine
Não sei vocês, mas eu acompanhei com certa distância as eleições nos EUA, assim como os filmes de Hollywood eu não assisto tanto assim e, quando assisto, não é raro o espanto com certos clichês de gosto duvidoso. Mas enxergo uma importante contribuição dos americanos do norte em termos culturais ali no pós 2ª guerra, período em que houve rápida melhoria nas gravações (estéreo a partir dos anos 1950) e surgimento de instrumentos como o sintetizador, a guitarra e o baixo elétrico. Isso tudo seria relevante apenas nos textos sobre técnicas de gravação e construção de instrumentos, se não tivessem surgido junto cenas musicais enormemente interessantes.
Mas ainda no tema das tecnologias à época recentes: era um período e lugar de bonança econômica que permitiram a existência de músicos gravando em dezenas de estúdios e LPs fabricados aos montes, permitindo assim a profissionalização não só de uma meia dúzia de artistas famosos, mas de cenas de jazz com público reduzido porém fiel, com pequenas gravadoras lançando álbuns de variados estilos como o free jazz de Ornette Coleman, Don Cherry e etc., o jazz com percussões latino-americanas e caribenhas, até chegar ao jazz bastante popular de Miles Davis e de Louis Armstrong, que gravavam, ambos, pela Columbia, gravadora de grandes nomes como Lenny Bernstein e Bob Dylan.
Falando em Dylan, ele foi um dos que alcançaram um público bastante amplo com um tipo de persona pública do artista preocupado com questões sociais, com canções de letras longas e sérias, cheias de uma ironia e de uma (falsa ou verdadeira) inteligência que muitos tentariam imitar. Também o Frank Zappa, já no seu primeiro álbum, Freak Out! (1966), tinha um grande foco em letras de crítica social com chutes no saco e cusparadas voltadas para as famílias norte-americanas defensoras dos bons costumes e do “american dream”.
O pianista e band leader Sun Ra, na sua extensa discografia (e a prolixidade de registros em estúdio e ao vivo é uma característica em comum com Zappa), além de dar entrevistas enigmáticas sobre o sonho americano e o racismo, também teve álbuns com música cantada, com letras de crítica social, por exemplo aqui. Neste “The Heliocentric Worlds of Sun Ra vol II” (1966), não temos a cantora June Tyson, que entraria na Arkestra de Sun Ra poucos anos depois. Também não temos aqui uma banda gigante cheia de sopros: apenas cinco músicos entre saxofones, trompete, clarinete baixo e flauta, o que é pouco em comparação com discos dos anos 1970 e 80 em que a Arkestra era uma big band maior. Aqui, então, temos um total de oito músicos incluindo Sun Ra (piano e clavioline, um tipo de sintetizador). Ele tira do instrumento eletrônico sons muito mais grotescos e imprevisíveis do que os sons elegantes do piano elétrico Fender Rhodes, que aliás tanto Ra quanto Zappa usariam na década seguinte. Aqui, curiosamente, os sons eletrônicos de Sun Ra lembram um pouco a sonoridade do saxofone, mais do que a de um piano. O outro destaque maior de “Heliocentric Worlds Vol. II” é o contrabaixista Ronnie Boykins (1935 – 1980) que, como também os saxofonistas, estava próximo do que havia de mais atonal nas sonoridades do jazz dos anos 60.
Sun Ra usou teclados elétricos anos antes de quase todo mundo, sendo um dos pioneiros desses instrumentos no jazz junto com Joe Zawinul e poucos outros, uns cinco a dez anos antes de se falar em jazz fusion. Sun Ra se comportava à parte dessas classificações e terminologias, misturando big band com free jazz, roupas coloridas com solos atonais, liderando improvisos instrumentais mas também dando entrevistas com declarações sérias como as de Dylan e Zappa… Ou seja, era brabo na música e brabo no gogó, com as roupas esquisitas dando-lhe um certo passaporte para falar coisas sérias, afinal, como disse seu contemporâneo Thelonious Monk, às vezes é até bom que as pessoas te considerem louco (“Sometimes it’s to your advantage for people to think you’re crazy”).
Sem aderirem totalmente às modas de cada momento, porque ambos era esquisitos demais para aderir a qualquer moda, Frank Zappa e Sun Ra as tangenciaram às vezes. Aqui, nesses dois discos de 1966, enquanto Zappa faz colagens e distorções de sons – aliás, algo que ele aprendeu ouvindo discos de Edgar Varèse nos anos 1950 (aqui ele fala a respeito).
Mais um detalhe: esta postagem traz o som ripado do LP original de Zappa, no qual a contracapa trazia textos excêntricos e enigmáticos do próprio Zappa. Também o disco de Sun Ra trazia na contracapa trazia um poema do líder da Arkestra. Mais uma semelhança entre esses dois discos de 1966.
The Heliocentric Worlds of Sun Ra, Vol. Two (1966)
1. The Sun Myth (17:20)
2. A House Of Beauty (5:10)
3. Cosmic Chaos (14:15)
Sun Ra – piano, tuned bongos, clavioline, compositions and arrangements
Marshall Allen – alto saxophone, piccolo, flute, percussion
Pat Patrick – baritone saxophone, percussion
Walter Miller – trumpet
John Gilmore – tenor saxophone, percussion
Robert Cummings – bass clarinet, percussion
Ronnie Boykins – bass
Roger Blank – percussion
The Mothers of Invention – Freak Out! [single vinyl rip] (1966)
A1 Hungry freaks, daddy
A2 I ain’t got no heart
A3 Who are the Brain Police?
A4 Motherly love
A5 Wowie Zowie
A6 You didn’t try to call me
A7 I’m not satisfied
A8 You’re probably wondering why I’m here
B1 Trouble comin’ every day
B2 Help, I’m a rock / It can’t happen here
B3 The Return of the son of monster magnet (Unfinished Ballet in Two Tableaux)
all selections arranged, orchestrated and conducted by Frank Zappa