Na essência de minha ecleticidade, gosto muito da música e efeitos sonoros orquestrais que embalam alguns desenhos animados, pelo menos os mais bem produzidos,e quero apresentar a vocês um disco muito interessante de um compositor já muito experiente no mundo da música, especialmente do cinema.
Bruce Broughton é um compositor norte-americado nascido em 1945 em Los Angeles. Compôs inúmeras trilhas de filmes, entre elas, Young Sherlock Holmes (O Enigma da Pirâmide, aqui no Brasil de 1985), Baby’s Day Out (Ninguém Segura Esse Bebê de 1994), Moonwalker (Filme com Michael Jackson de 1988). Foi nomeado ao Oscar em 1986 pela composição para o filme Silverado de 1985 e recebeu diversas outras premiações (entre outros, nove prêmios Emmy) e nomeações.
Cartoon Concerto é uma obra difícil de definir. Trata-se de um concerto? Uma trilha sonora? É uma amálgama de melodias em ritmos frenéticos, jazzísticos, melodias burlescas e múltiplas referências que dura cerca de uma hora e quando menos se espera já terminou. Extremamente empolgante!
Mais informações sobre cada uma das faixas vocês podem encontrar neste endereço (texto em espanhol).
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Bruce Broughton: Cartoon Concerto
01. An American Prologue (03:37)
from the short cartoon “Off His Rockers” (Disney, 1992)
02. Carnival Presto (06:35)
from the Roger Rabbit short cartoon “Rollercoaster Rabbit” (Disney, Amblin, Touchstone, 1990)
03. Scherzo Berzerko in 3 Portions (18:35)
score of the Tiny Toon Adventures episode “Journey to the Center of Acme Acres” (Warner Bros., Amblin, 1990)
04. Outdoor Interlude (08:19)
score of the Roger Rabbit short cartoon “Trail Mix-Up” (Disney, Amblin, 1993)
05. Le Grande Finale in 4 Portions (18:39)
score of the Tiny Toon Adventures episode “Hog-Wild Hamton” (Warner Bros., Amblin, 1991)
06. Teeny Tiny Coda (01:04)
theme song of the end credits of Tiny Toon Adventures (Warner Bros., Amblin, 1990-1992)
Que tal uma homenagem ao Hino Nacional Brasileiro feita por um compositor norte-americano?!?!
O compositor, pianista e regente norte-americano Louis Moreau Gottschalk (1829-1869) foi um dos primeiros artistas estrangeiros a empolgar o público brasileiro no tempo de D.Pedro II. Compositor dedicado a diversos gêneros e tendo se apresentado em vários países, inspirou-se notavelmente nos ambientes musicais locais, tendo escrito peças alusivas, entre outras, dedicadas a Cuba e ao Uruguai.
Sua “Grande Fantasia Triunfal com Variações sobre o Hino Nacional Brasileiro”, é de grande sucesso no repertório não só de nossos pianistas, como nos de outros países. A música, baseada no original de Francisco Manoel da Silva, foi dedicada à Condessa d”Eu , a Princesa Isabel, filha de D. Pedro II que, como todos sabem, assinou em 1888, a Lei Áurea, acabando com a escravidão no Brasil.
A estréia da “Grande fantasia Triunfal” ocorreu no Rio de Janeiro em 1869, num “concerto-monstro“, executada por 650 músicos! Segundo carta que escreveu para seus amigos nos Estados Unidos, Gottschalk afirmou :“Os meus concertos no Brasil são um verdadeiro furor… o Imperador, a família Imperial e a Corte não perderam um só dos meus concertos e a minha “Fantasia Triunfal” agradou a D. Pedro II. Cada vez que me apresento, tenho que tocar essa obra… “.
A “Grande Fantasia Triunfal com Variações sobre o Hino Nacional Brasileiro” é uma das mais empolgantes exaltações musicais de brasilidade e tem sido usada com prefixo de um determinado partido político atual no horário de propaganda política da televisão. Foi através dessa composição que o espírito polêmico de Louis Moreau Gottschalk se prolongou até os dias atuais.
Entretanto, em 1973, uma consulta de origem desconhecida à Comissão Nacional de Moral e Civismo, ameaçou por algum tempo de proibição a peça de Gottschalk. O processo rolou por alguns anos até que, graças principalmente ao parecer do musicólogo Alfredo Melo, que esclareceu devidamente a diferença entre “arranjo” e “variação”, e condenou “essa interdição como um “crime de lesa-cultura”, a “Grande fantasia Triunfal”, foi liberada. Finalmente, a 7 de setembro de 1981, junto ao Monumento do Ipiranga, ela foi executada em apoteose para 800 mil pessoas, no melhor estilo “gottschalkiano”.
Texto de Roberto Muggiati.
As Obras
Para quem não sabe, a Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro é aquela música majestosa que inicia as propagandas eleitorais do PDT e que foi utilizada como fundo musical na transmissão do funeral de Tancredo Neves. The Union é uma obra essencialmente marcial baseada em três temas norte-americanos, no Star-Splangled Banner, hino nacional norte-americano; no hino americano não-oficial Hail, Columbia e na canção patriótica Yankee Doodle.
A Marcha Solene Brasileira é uma imponente marcha para grande orquestra com banda militar e canhão, também baseada no Hino Nacional Brasileiro.
A Grande Tarantela, trata-se de uma obra vigorosa, empolgante e muito inventiva baseada nos ritmos da dança tradicional italiana. O primeiro contato, inconsciente, que tive com a obra de Gottschalk foi com essa tarantela. Era a abertura de um programa de música erudita (senão me engano chamava-se “Os Clássicos”) que passava na TV Educativa.
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Gottschalk: Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro
01. Grande Fantasia Nacional sobre o Hino Nacional Brasileiro, op. 69
Arranjo para piano e orquestra: Samuel Adler Orquestra Sinfônica de Berlim
Eugene List, piano e Samuel Adler, regência
02. “The Union” Concerto-Paráfrase sobre Árias Nacionais Norte-Americanas, op. 48
Arranjo para piano e orquestra: Samuel Adler Orquestra da Ópera do Estado de Viena
Eugene List, piano e Igor Buketoff, regência
03. Marcha Solene Brasileira, para orquestra e banda militar com canhão
Revista e orquestrada por: Donald Hunsberger Orquestra Sinfônica de Berlim e Banda
Samuel Adler, regência
04. Grande Tarantela para piano e orquestra
Reconstruída e orquestrada por Hershy Kay Orquestra da Ópera do Estado de Viena
Este é um cd importado cujo encarte não possui simplesmente nenhuma informação além da lista de músicas e compositores, a orquestra e o regente, ou seja, não se trata de uma grande produção, mas muito interessante para quem gosta de música clássica ligeira.
Na gravação a seguir temos oitos aberturas francesas com sete compositores românticos, com destaque para Louis Herold, Daniel Auber, Adolphe Adam, Luigi Cherubini e Etienne Mehul, esse último já postado aqui no blog . Talvez a mais popular dessas aberturas seja Zampa de Herold. Lembro-me de ter ouvido trechinhos de Zampa em alguns desenhos animados como Pica-Pau com o Andy Panda e um antigo da Turma do Mickey Mouse.
Bon appétit, mes amis!
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Grandes Aberturas Francesas
1. Louis Herold – Zampa
2. Daniel Auber – La Muette De Portici
3. Adolphe Adam – La Poupee De Nuremberg
4. Adolphe Adam – Si J’Etais Roi
5. Etienne-Nicolas Mehul – La Chasse Du Jeune Henri
6. Francois Boieldieu – Le Calife De Bagdad
7. Luigi Cherubini – Medea
8. Andre Gretry – La Magnifique
Possuo este CD há bastante tempo e costumo ouvi-lo, pelo menos, duas vezes por mês. Ele é a minha referência de música medieval da melhor qualidade. A partir dessa gravação, passei não só a apreciar um pouco mais a música vocal, como também a música produzida antes do século XVII.
É uma bela amostra do que foi produzido na corte espanhola entre os anos de 1505 e 1520. O álbum traz desde composições anônimas a composições de Enzina e Alonso, entre outros. Você, com certeza, irá impressionar-se com canções como: Rodrigo Martinez, Si abrá en este Baldrés, Levanta Pascual, La Tricotea, Tres morillas m’enamoran, além da espetacular versão instrumental de Todos los bienes del mundo e a famosa Danza Alta.
Uma deliciosa e empolgante seleção interpretada pela Ensemble Accentus, um grupo estabelecido em Viena, especializado em música medieval espanhola, formado por mais de 30 integrantes, entre cantores e instrumentistas, com a direção de Thomas Wimmer.
Boa audição!
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Cancionero Musical de Palacio – Music of the Spanish Court (1505-1520)
01. Rodrigo Martinez (Anonimo) 2:11
02. Con amores, mi madre (Juan de Anchieta) 2:34
03. Pues que jamás olvidaros (Juan del Enzina) 5:49
04. Si abrá en este baldrés (Juan del Enzina) 1:27
05. Si d’amor pena sentis (Anonimo) 4:40
06. Tir’alla, que non qui (Alonso) 2:49
07. Todo quanto yo serví (Lope de Baena) 2:21
08. Levanta Padcual (Juan del Enzina) 2:53
09. Malos adalides fueron (Badajos) 5:01
10. Todos los bienes del mundo (Juan del Enzina) 3:01
11. Durandarte (Millán) 3:23
12. Fata la parte (Juan del Enzina) 2:00
13. Pedro, i bien te quiero (Juan del Enzina) 3:01
14. Danza Alta (Francisco de la Torre) 1:44
15. Qu’es de ti, desconsolado? (Juan del Enzina) 3:41
16. La tricotea (Alonso) 3:29
17. Ay triste, que vengo (Anonimo)
18. So ell enzina (Anonimo) 1:49
19. Como está sola me vida (Ponce) 2:20
20. O voy (Anonimo) 1:43
21. Tres morillas m’enamoran (Anonimo) 4:54
22. Hoy comamos y bebamos (Juan del Enzina) 4:10
O anúncio de um editor no jornal da Sociedade de Direitos de Execução Britânica em outubro de 1929 disse tudo: “É de ARTHUR W. KETÈLBEY (o maior compositor inglês vivo) uma nova e bela inspiração, A Hora Sagrada”.
Pondo de lado o fato não insignificante de que homens da estatura criativa de Elgar, Vaughan Williams, Holst e Bax viviam ainda nessa época, há uma certa elegância freudiana na própria circunstância de que o próprio editor não deu o nome de Sir Ketèlbey direito! Ele era, realmente, Albert W. Ketèlbey, mas, era o sobrenome, e não o prenome, que normalmente causava problema. A bem da verdade, o público tendia a colocar o acento no lugar errado – fazendo-o na segunda sílaba: Ke-tèl-bey. Quando não, pessoas desavisadas a ele se referiam como Kettleboy ou Kettlebay e diversas outras variações de nomenclatura.
É preciso alertar para o fato, porém, de que, embora tudo isso, ele sempre soube absorver essa confusão. Diz-se surpreendentemente, embora ninguém ainda o tenha dado certeza, que ele teria nascido simplesmente William Aston, todavia, como veio ao mundo em Aston, distrito de Birmingham, é possível que tal nome tenha surgido em razão dessa indistinção! Onde, quando e como ele assumiu tal troca de nomes permanece no mistério, exceto que tenha sido em tempos muito distantes. Chegou-se a buscar o novo nome como ligado a origens dinamarquesas, a teoria sendo calcada a seguinte: “o ke tendo o papel de prefixo ligado ao Ke nos nomes “Kenelm”. “Kesteven”, “K’nut”, “Quebec”, ou seja, Ke-bec, o Que vindo a ser o equivalente do francês Ke“, alguém tendo de ser perdoado por esse retrocesso. Presume-se que o “W” signifique William mas, de novo, inexiste evidência incontestável que confirme isto.
De um modo ou de outro, Albert William Ketèlbey que seja, nasceu, como já afirmou, em Birmingham, no dia 4 de agosto de 1875. Parece haver demonstrado talento para música muito cedo, com aparente aptidão para o piano. Certa tendência para a composição terá se manifestado muito rápido nele, pois, com apenas 11 anos de idade, escreveu uma Sonata para piano que foi executada em um recital havido no recinto da Prefeitura de Worcester, a qual, depois, iria ganhar a admiração de alguém do porte de Sir Edward Elgar. Em Birmingham, seus estudos foram feitos sob as orientações de Alfred Gaul e do Dr. Herbert Wareing, ambos havendo-o preparado para a admissão em um dos colégios de música londrinos. Supôs-se, inicialmente, que ele pudesse ter ingressado no Colégio Real de Música, mas, por qualquer razão, perdeu o prazo para uma bolsa de estudos lá e optou por outra, a Bolsa de Estudos da Rainha Vitória, no Colégio Trinity. Tinha apenas 13 anos, mas, com facilidade, ganhou o primeiro lugar, obtendo muitas notas mais altas que o seu colega concorrente, Gustav Holst, quase um ano mais velho do que ele.
…
Ketèlbey viveu 84 anos e, compreensivelmente, seu ritmo de vida foi diminuindo bastante nos últimos tempos de existência. Com uma criação musical comovente atrás de si, satisfez-se no gozo do tranqüilo ambiente da Ilha de Wight ao lado de sua segunda mulher, Maud. Não tinha família, mas isto parecia não aborrecê-lo. Morreu no dia 26 de novembro de 1959, época em que já se tornara uma espécie de fora-de-moda. Uma nota de obituário absolutamente prosaica no Times de Londres anunciou a sua morte, tendo sido isto o mais favorável que encontraram: “desenvolveu talento para a escrita descritiva… na qual mostrou habilidade para captar sonoridade ambiental”.
As Obras
No Jardim de um Mosteiro (In a Monastery Garden)
Este foi o “intermezzo característico”, publicado em 1915, primeiro responsável pelo deslanchar de Ketèlbey na vanguarda dos compositores de música ligeira. O próprio compositor providenciou descrição para a peça: “O primeiro tema representa o devaneio de um poeta na quietude do jardim de um mosteiro, em meio a um belo arredor – s serena tranquilidade do ambiente -, árvores frondosas e pássaros cantando. O segundo tema, em tom menor, expressa uma nota mais “pessoal” de tristeza, de apelo e de penitência. Nesse momento os monges são ouvidos cantando o “Kyrie Eleison” com fundo de órgão e o sino da capela soando. O primeiro tema é ouvido novamente de modo tranquilo, como se houvesse se tornado mais etéreo e distante; o canto dos monges se faz ouvir outra vez – fica mais forte e insistente, levando a peça a uma conclusão exultante”.
Chal Romano (Jovem Egípcio)
Esta “Abertura Descritiva”, datada de 1924, dá uma boa demonstração da atuação de Ketèlbey naquilo que se pode perceber como estruturas mais “formais”, fora daquelas adotadas em suas miniaturas pictóricas. A invenção melódica é, na verdade, indistinta, embora conduzida com inegável maestria, e revela inteiramente as qualidades de um artista que sabe como tirar o máximo de uma orquestra.
Suíte Romântica (Suite Romantique)
Esta comovente suíte orquestral surgiu, igual a peça antecedente, em 1924, trazendo uma dedicatória a Sir Dan Godfrey (1868-1939), esse incansável campeão dos compositores ingleses, cujo brilhante trabalho com a Orquestra Municipal de Bournemouth muito fez para erguer o padrão de concertos na Inglaterra, e não só ao nível local, mas também, nacional. Cada um dos três movimentos traz um título romântico caracterizante (em francês, naturalmente!).
Capricho Pianístico (Caprice Pianistique)
Uma dentre outras peças compostas para uso próprio, este agradável destaque serve para lembrar-nos a destreza de Ketèlbey como pianista virtuose. Definida como “Piano Novelty” (Novidade para Piano), é uma obra relativamente recente, tendo surgido após a Segunda Grande Guerra, em 1947. Tem acentuação bem definida de “capricho”, oferecendo uma despreocupação onde, ao se buscar aproximação com elementos mais sérios, cede-se lugar a um ânimo galhofeiro.
O Relógio e as Figuras de Porcelana (The Clock and the Dresden Figures)
Publicada em 1930, esta encantadora fantasia foi dedicada a um amigo do compositor, Tenente W. J. Dunn, e, consequentemente, por um toque possível de incongruência, há dela uma versão para piano e banda militar, além desta mais convencional, para piano e orquestra, aqui registrada.
Suíte Cockney (Cockney Suite)
Os cinco movimentos da Suíte Cockney (um Cockney, ao acaso, pode ser definido como alguém nascido ao som do Bow Bells no leste londrino, se não todos da própria área leste da cidade) constituiu outro produto do industrial ano de 1924 e, sob muitos aspectos, serviu de tributo à cidade onde Ketèlbey residiu por inúmeros anos e que contribuiu para a sua fama e fortuna (de uma maneira bem semelhante à retribuição feita por Eric Coates na suíte “Londres”. Os locais por ele escolhidos para inspiração cobrem o spectrum total da sociedade londrina. Aqui podemos apreciar os movimentos de números 5 e 3.
Ao Luar (In the Moonlight)
Esta miniatura é descrita como um “Intermezzo Poético” e foi subtitulada em francês como Sous la Lune, no intuito de se acrescentar apropriada aura romântica. Acima de tudo uma peça de época, tem o mérito de encantar por seu valor melódico. Foi modelada no esquema A B A C A e mais a coda, com C servindo de apaixonado fecho relativo de B. Teve sua estreia relativamente cedo na carreira do compositor no âmbito da música ligeira, em 1919.
Wedgwood Melancólico (Wedgwood Blue)
De modo algum Josiah Wedgwood iria imaginar, quando fundou sua hoje famosa fábrica de cerâmicas em 1759 que, 161 anos depois, seu empreendimento seria homenageado numa dança por Albert W. Ketèlbey. A dança em foco é uma gavota, encerrando uma seção contrastante intermediária da qual se encarregam solos de violoncelo e de violino. Inteiramente despretenciosa, esta peça fascina por sua evocação, há muito desaparecida.
Sinos Através das Campinas (Bells Across the Meadows)
Uma das mais conhecidas composições de Ketèlbey, este fragmento declaradamente sentimental surgiu em 1921. Para as modernas audiências, este trabalho oferece emanação equivalente às pinturas de Myles Birket Foster sobre as cenas do passado – casinhas de teto vegetal com flores entrelaçadas, em meio a jardins repletos de malva – rosas com gracioso regato borbulhando adiante e vacas pastando sossegadamente além.
A Melodia Fantasma (The Phantom Melody)
Este é um trabalho que proporcionou a Ketèlbey um prêmio de 50 libras no concurso organizado por August Van Biene e que atraiu o interesse do compositor para a música ligeira. Nesta versão orquetral, os violinos tomam o lugar originalmente entregue ao violoncelo solista. O próprio Biene havia ganho fama em 1893 com uma peça intitulada The Broker Melody (A Melodia Partida) e é bem possível que Ketèlbey haja escolhido este tipo e título em homenagem ao criador do concurso. Mais tarde, uma canção foi adaptada desta obra, com o título de I Loved You More Than I Knew.
Em um Mercado Persa (In a Persian Market)
Sem dúvida a mais, mundialmente, popular de todas as suas composições. Esta é uma das peças que, ouvindo-a, as pessoas já dizem “é assim que ela se chama!?”. É um tema que muita gente conhece há anos. Designada como “Intermezzo-Scene” pelo próprio compositor e publicada em 1920, ela descreve o seguinte cenário: “Cameleiros se aproximam gradualmente do mercado; gritos de mendigos por ‘Back-shees’, são ouvidos entre o alvoroço. (O lamento todo é “Back-sheesh, Allah, empshi, ‘empsi’, sabemos, significa ‘vá embora!’). Sua fama mundial se deve, principalmente, ao fato de ter sido gravada uma versão pop do seu intermezzo, pela cantora Della Reese, intitulada “Take My Heart”.
De vez em quando acontecem esses momentos musicais que são como eclipses. E este é daqueles raros, seculares; talvez o melhor disco de música instrumental feito no Brasil em todos os tempos.
Viveu pouco, porém forte, o Quarteto Novo. Que nasceu Trio Novo em 1966, meio punhado de músicos para acompanhar Geraldo Vandré num programa de tevê patrocinado pela farmacêutica Rhodia. Que no ano seguinte não renovaria seus contratos publicitários, deixando o grupo à sorte. Sorte mesmo: pois que quando um flautista chamado Hermeto Paschoal juntou-se, em 1967, à Theo de Barros, Heraldo do Monte e Airto Moreira, Vandré resolveu bancar do próprio bolso ensaios e turnês do grupo. Que durou apenas mais dois anos, e deixou apenas um disco, que saiu pela Odeon; e que disco é, caros amigos. Tivesse feito mais um ou dois desses e hoje o mundo seria diferente. O brazilian northeastern jazzseria nosso principal produto de exportação e influência musical. Não que tenha passado despercebido, longe disso. Diga “Quarteto Novo” a qualquer expert internacional do jazz e presencie uma cascata de elogios maior do que sou capaz de reproduzir. (Última reedição é da Blue Note, inclusive.)
Patriotismo (que não me pertence) à parte, puxa vida: se fosse sempre possível elevar dessa forma nossas mais brazucas expressões musicais. Como toda junção de estilos bem feita, não se trata de uma soma simples; é um caldo cozido a fogo lento e onde os sabores se entranham uns nos outros. A linguagem do jazz se adapta tanto à marcação de samba quanto ao 2/4 do baião; as linhas de flauta substituem os trompetes tradicionais (e a voz — lembrem que era 1967 e a bossa nova mandava e desmandava); a guitarra vai dar norte a Pat Metheny e, quando sai de lado para a viola ou violão de 12 cordas, se ouve tudo que Duofel vai fazer nos próximos 40 anos. O álbum flutua no mapa e vai do sertão (Algodão) à Nova York (mas) (Vim de Sant’ana) voando numa nuvem. Às vezes é Lampião de terno, batendo triângulo com Dolphy num bar de Chicago; noutras é Wes Montgomery comendo torresmo e tocando com o dedão engraxado. Imaginário à parte, a sofisticação dos arranjos; coisa fina como pouco se vê fazerem aqui, e já há tanto. Também o fato de uma banda que parece saber telepatia musical; Barros usando com a mesma sabedoria tanto contrabaixo elétrico como double bass, Airto Moreira simplesmente assinando um contrato com o futuro, na primeira linha do jazz internacional pro resto da vida. E a flauta-abraço de Hermeto, com sua performance singular e seu toque de Midas na alma: impossível ouvir Hermeto sem brotar um sorriso na cara.
Quarteto Nôvo – 1967: Quarteto Nôvo (320 kbps)
Theo de Barros: violão, contrabaixo
Heraldo do Monte: guitarra, viola caipira
Airto Moreira: bateria, percussão
Hermeto Pascoal: flauta, piano, arranjos.
01 O Ôvo (Vandré/Pascoal)
02 Fica Mal com Deus (Vandré)
03 Canto Geral (Vandré/Pascoal)
04 Algodão (Gonzaga/Dantas)
05 Canta Maria (Vandré)
06 Síntese (Monte)
07 Misturada (Moreira/Vandré)
08 Vim de Sant’Ana (Barros)
Faixas-bônus da reedição de 1993
09 Ponteio (Lobo)
10 O Cantador (Caymmi/Motta)
Tudo o que se poderia dizer de Chet Baker já foi dito. De bom e de ruim. De ruim o seu ‘biófago’ James Gavin no livro “No Fundo de um Sonho – a Longa Noite de Chet Baker”, tratou de consumar. Um livro instigante, contudo, especialmente para os fãs do genialíssimo cantor trompetista – ou vice-versa. Gavin, um desprezível réptil, apesar de ter passado com vontade o pente fino na vida do artista – expondo tudo por baixo dos tapetes – não logrou primar no melhor: nas considerações musicais, o que o aponta como um escritor oportunista, montado na fama do biografado e nos seus revezes para lucrar o máximo possível. Deixemo-lo aos abutres e falemos de música. Não é invencionice que Charlie Parker escolheu a Baker para acompanha-lo nas suas apresentações quando de sua passagem pelo Oklahoma – terra natal de Chet. A primeira gravação de Chesney Henry (nome real de Baker, nascido em 1929) foi ao lado do grande Bird, ao vivo. Bird devasta, Chet faz o que pode, verde, porém promissor. Ao chegar a NY Bird diria a Gillespie e Miles que um carinha branco do Oklahoma iria devora-los. Bem, não era da natureza de Chet, aparentemente, devorar ninguém neste sentido, embora Bird tivesse uma visão clara das coisas no tocante à música. Baker sempre guardou a mais profunda admiração e reverência pelos reais donos daquele idioma musical, o Jazz. As vezes nas quais procurou dialogar com Miles foi rechaçado com insultos. Davis guardava muita mágoa, pois quando despontou na carreira, também acolhido por Bird, sofreu muitas críticas. Já Baker, como é usual especialmente na música Norte Americana, foi exaltado como a grande ‘estrela branca’; nesse caso, do Jazz. Os empresários da música Norte Americana e também muitos artistas brancos sempre tentaram usurpar as coroas dos artistas negros; foi essa uma das origens dos Beatles, importados da Inglaterra porque em território americano não havia quem peitasse o sucesso do Rythm and Blues negro. Inventaram Elvis – que aprendeu a dançar com Forrest Gump, se bem lembram. Mas falando de Baker, recentemente foi filmada uma película biográfica, “Born to the blues”, com Ethan Hawk no papel de Baker. Claro, não convence, como poderia? O filme beira uma pegada Rock Balboa; concentra-se no episódio no qual Baker perde mais alguns dentes numa briga. Baker sempre fora banguela mas tocava como o diabo, só que dessa vez a coisa ficou crítica. Ainda tentando falar de sua música, Baker é um dos mais originais artistas da história, especialmente dentro do Jazz, com uma concepção sonora e melódica que são pessoalíssimas e… irresistíveis.
Dizia o saudoso Paulo Francis, que ouvia Baker por horas a fio. Acredito. Baker é hipnótico, nos captura com uma só nota e nos ‘injeta’ (acho o termo apropriado) algo que nos rouba a alma. Chet Baker é altamente ‘viciante’, seus discos deveriam vir com uma tarja informativa sobre isso. Sua abordagem ao trompete vai totalmente de encontro à natureza tradicional do instrumento: heráldica, brio, marcialidade. Também contrariando a maior influência trompetística do Jazz, Louis Armstrong, divindade suprema do gênero, cuja influência marcou e continua a marcar todos os trompetistas. O trompete de Baker em seu intimismo poderia ser remetido ao estilo do ancestral Bix Beiderbecke. Este, poderíamos dizer, um profeta do Cool Jazz, com seus melódicos e delicados solos entre as massas dançantes da orquestra de Paul Whitman. Também poderíamos tecer um paralelo entre o estilo de Baker e a abordagem suave e melódica do grande Lester Young, embora saxofonista. Que Baker era apaixonado declaradamente por Miles Davis é sabido e inquestionável, mesmo sendo por ele cumulado de diatribes. Miles é outro cujo estilo é altamente contagioso. Baker é um supremo criador de melodias. Sendo eu trompetista e tendo transcrito inúmeros solos seus, posso asseverar sua supremacia nesta área. Seus últimos anos, mesmo limitado tecnicamente pela prótese que colava às vezes com um chiclete ou porque estava ‘descompensado quimicamente’ – se me entendem – não lhe tirou os efeitos do gênio. Ainda assim, em certas gravações, ele prima em virtuosismo, a exemplo de sua grande apresentação em Tokyo, um ano antes de morrer em Amsterdam (um dos episódios mais misteriosos e comentados da história do Jazz). Mesmo em 1988, meses antes de ter caído pela janela do hotel na citada localidade, ele brilha em seu último concerto com a Radio Orchestra Hannover; NDR Big Band, dois CDs magníficos. O disco Diane é de 1985, gravado na Dinamarca. A faixa que intitula o presente disco se remete à namorada de Chet na época, Diane Vavra. Alguns consideram este o melhor disco de Baker, talvez seja, é muito difícil dizer isso de um artista que produziu tanto e com tal qualidade. A formação em dueto neste disco, com o pianista Paul Bley, acentua mais ainda o intimismo. Chet que em seus últimos anos gravou muito em trio, sem bateria. Lembrando seus brilhantes registros junto a Gerry Mulligan, no quarteto sem piano, apenas com o contrabaixo e uma percussão suave. Segundo o pianista Bley, Diane seria um álbum perfeito para se ouvir no carro, à noite, percorrendo as ruas de alguma cidade desconhecida. Chet nos captura em seu elemento, uma intraduzível atmosfera de melancolia e beleza; uma hipnótica aura sonora que nos inebria e emociona e que nos aponta – sabendo o que sabemos sobre Chet – para o grande enigma da arte. Sempre haverá algo a se dizer sobre Chet Baker, enfim.
Chet Baker & Paul Bley – Diane
“If I Should Lose You” (Ralph Rainger, Leo Robin) – 7:16
“You Go to My Head” ( Fred Coots, Haven Gillespie) – 7:03
“How Deep Is the Ocean?” (Irving Berlin) – 5:17
“Pent-Up House” (Sonny Rollins) – 3:55
“Ev’ry Time We Say Goodbye” (Cole Porter) – 7:52
“Diane” (Lew Pollack, Ernö Rapée) – 5:31
“Skidadidlin'” (Chet Baker) – 4:16
“Little Girl Blue” (Lorenz Hart, Richard Rodgers) – 5:27
Chet Baker – Trompete e vocal na faixa 2
Paul Bley – Piano
Um CD curioso. Shostakovich recebendo arranjos de um excelente oboísta russo, certamente desesperado para aumentar seu repertório. O disco não é nenhuma obra-prima, mas mostra a força do repertório leve de Shosta, pois, além das grandes e pesadas sinfonias, quartetos, concertos, etc., o compositor possui vários ballets e peças de circunstância de alto nível. Tudo coisa para ser deglutida sem maiores problemas. Eu curti moderadamente.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Preludes & Ballet Suite
1 Elegy in F Sharp Minor (transcription for oboe and strings) [04:06]
Ten Preludes, op. 34 (arranged for oboe and strings)
2 Prelude №1 in C Major [01:33]
3 Prelude №16 in B Flat Minor [01:05]
4 Prelude №3 in G Major [02:07]
5 Prelude №8 in F Sharp Minor [01:03]
6 Prelude №11 in B Major [00:51]
7 Prelude №17 in A Flat Major [02:04]
8 Prelude №18 in F Minor [01:06]
9 Prelude №19 in E Flat Major [01:44]
10 Prelude №21 in B Flat Major [09:54]
11 Prelude №22 in G Minor [02:45]
Prelude and Fugue in C Minor, op. 87 (arranged for oboe, cello and piano)
12 Prelude [03:56]
13 Fugue [05:32]
Prelude and Fugue in B Major, op. 87 (arranged for oboe, cello and piano)
14 Prelude [01:26]
15 Fugue [02:32]
Ballet Suite for Flute, Oboe, Strings and Percussion.
Compiled and arranged by Mikhail Utkin from the ballets The Limpid Stream [Svetly ruchey], The Bolt [Bolt], The Golden Age [Zolotoy vek]
16 Andante (Dance of The Negro) [00:51]
17 Allegro (Soviet Dance) [02:20]
18 Pantomima (Kozelkov’s Scene) [03:12]
19 Variation (Dance of The Drayman) [01:59]
20 Polka (Bureaucrat) [02:28]
21 Intermezzo (Saboteurs) [03:36]
22 Duet (Jealous Zina) [01:51]
23 Russian Dance (Lubok) [01:45]
24 Adagio (Zina and Pyotr) [06:18]
25 Pizzicato (Ballerina’s Variation) [01:02]
26 Waltz (Dance of The Ballerina) [03:06]
27 Galop (Coda) [01:56]
28 Adagio [05:05]
Alexei Utkin solo oboe (1 – 24; 26 – 28)
Mikhail Utkin solo cello (12 – 15); cello (24)
Maria Chepurina solo flute (17 – 24; 26 – 27)
Este é o CD Nº 36 desta tremenda coleção de 60 CDs da Philips. É que PQP está apaixonado pelos Trios de Mendelssohn, fazer o quê? O maior dos trios de todos os tempos, o Beaux Arts, interpreta notavelmente um repertório inteiramente dentro de sua especialidade. O que fazem Menahem Pressler (piano, fundador do Beaux Arts em 1955 e que até hoje mantém o grupo), Isidore Cohen (violino, entrou na segunda geração), Bernard Greenhouse (violoncelo, fundador) não é normal. E nem é uma questão de virtuosismo, mas dos caras serem realmente um trio. Para completar, são fantasticamente dirigidos por Pressler. Vamos combinar uma coisa? Jamais deixe de ouvir um CD do Beaux Arts, tá?
Mendelssohn: Piano Trio In D Minor, Op. 49
1 Allegro Molto Ed Agitato 8:45
2.Andante Con Moto Tranquillo 6:15
3 Scherzo (Leggiero E Vivace) 3:19
4 Finale (Allegro Assai Appassionato) 8:20
Mendelssohn: Piano Trio In C Minor, Op. 66
5 Allegro Energico E Con Fuoco 10:21
6 Andante Espressivo 6:26
7 Scherzo (Molto Allegro Quasi Presto) 3:15
8 Finale (Allegro Appassionato) 7:07
Schumann: Piano Trio No.2 in F, Op.80
9 Sehr lebhaft 7:19
10 Mit innigem Ausdruck 7:40
11 In mässiger Bewegung 5:45
12 Nicht zu rasch 5:40
Dizem que a primeira engenhoca eletrônica produtora de sons para fins musicais a usar o nome “sintetizador” foi a criada pela RCA em 1957 – mas foi Robert Moog, em 1964, quem criou o primeiro sintetizador utilizável de modo relativamente prático. E a primeira pessoa a gravar um disco de sucesso executado inteiramente com o Moog foi Wendy Carlos, com seu Switched-on Bach, em 1968.
Foi um trabalho de estúdio exaustivo: embora sintetizasse timbres nunca antes imaginados, o aparelho o fazia para uma nota de cada vez. Quer dizer: Wendy gravou voz por voz, separadamente, suas espantosas interpretações de Bach.
O outro pioneiro no uso do Moog foi o tecladista Keith Emerson, que se foi agora em 2016: em 1970 a banda Emerson, Lake and Palmer começou a levar o Moog para o palco, e em 1973 estrearia o Moog polifônico em Brain Salad Surgery.
Ao mesmo tempo (1970), Wendy propunha a Stanley Kubrick o uso de sua composição original Timesteps na trilha do filme A Laranja Mecânica, e saía feliz da vida com a encomenda de produzir toda a trilha do filme, inclusive recriações eletrônicas de Beethoven, Rossini e Purcell.
Não foi pequena, então, a decepção de Wendy em 1971: Kubrick havia usado no filme apenas fragmentos do seu trabalho, junto com versões orquestrais convencionais das obras de Beethoven e Rossini – e o LP oficial da trilha também continha só esses fragmentos.
P da vida – se me permitem -, em 1972 Wendy lançou outro disco, com a íntegra da sua produção destinada ao filme – ou quase a íntegra: as faixas 08 e 09 que vocês ouvirão só foram lançadas em 2000, na versão em CD.
Mais uma vez pioneira, o que Wendy introduziu desta vez foi o vocorder – simulador eletrônico de sons vocais – e o fez em nada menos que diversos solos e trechos corais da Nona de Beethoven (faixa 02), além de citações do hino gregoriano Dies Irae e de Singin’ in the Rain em sua própria composição Country Lane (faixa 10 – minha preferida).
Nos anos 70 este disco esteve entre os mais queridos do monge Ranulfus – mas só hoje, em 2016, graças ao trabalho de garimpagem de seu amigo Daniel the Prophet, o monge veio a ouvir as faixas 08 e 09. Notou sem surpresa que a última (Biblical Daydreams) parece construída a partir de hinos protestantes estadunidenses, mas na anterior (Orange Minuet) teve uma surpresa curiosa: o monge tem certeza de ter ouvido na obra do brasileiro Elomar Figueira de Melo a melodia usada na parte central do tal minueto! Terá Wendy ouvido Elomar, ou terão os dois se baseado em alguma fonte anterior, quer no próprio Nordeste brasileiro, quer no campo ibérico-provençal?
Termino confessando que muitas vezes pensei que o trabalho de Wendy Carlos ficaria pra trás como uma curiosidade datada – mas passado quase meio século a impressão se inverte: começo a pensar que a criatividade, sensibilidade e ousadia dessa mulher poderão ficar na história como emblemáticas do último terço do século XX – na história tanto da música quanto geral, pela ousadia, paralela à musical, de ter-se assumido como a mulher que desde a primeira infância sentia ser, mesmo pondo em risco a fama mundial já conquistada sob o nome masculino com que havia sido registrada ao nascer.
WENDY CARLOS’S CLOCKWORK ORANGE (1972)
Gravações de estúdio de Wendy Carlos com o sintetizador Moog (1972)
Versão em CD lançada em 2000
01 Timesteps – 13:47 (W.Carlos – na integra)
02 March from A Clockwork Orange
(Beethoven: Nona Sinfonia: Quarto Movimento, condensado) – 7:02
03 Title Music from A Clockwork Orange
(da Music for the Funeral of Queen Mary, de Purcell) – 2:23
04 La Gazza Ladra ouverture (Rossini, condensado) – 6:00
05 Theme from A Clockwork Orange
(‘Beethoviana’, variação sobre 03) – 1:48
06 Nona Sinfonia: Segundo Movimento: Scherzo (Beethoven) – 4:52
07 William Tell ouverture (Rossini, condensado) – 1:18
08 Orange Minuet (W.Carlos) – 2:35
09 Biblical Daydreams (W.Carlos) – 2:06
10 Country Lane (W.Carlos – versão aperfeiçoada) – 4:56
(citações: Dies Irae; Singing in the Rain)
Depois da música erudita, o hip-hop é meu gênero musical favorito. A forma como a música é construída de forma poética para expressar política não se iguala, até onde eu sei, em nenhum outro gênero, e por isso eu gosto tanto. Mas o exemplo de hip-hop que os trago hoje não é tão político, mas muito mais livremente musical. A dupla de rappers Black Knights do Wu-Tang Clan (grupo de hip-hop nova iorquino que congrega vários rappers da costa leste) junto com o ex guitarrista John Frusciante produziram aquele que pra mim foi o melhor álbum que ouvi em 2014.
A primeira faixa do álbum já é um “baque”. Ouvimos um solo de violino com samples de armas de fogo, “typewriters”, entre outras coisas, até que um grave em crescendo tome conte da situação e dê espaço para o ritmo e a poesia da dupla de rappers.
Claro que podemos (e devemos) atribuir boa parte da qualidade da obra a John Frusciante (o produtor do álbum), que soube construir uma música que fuja dos clichês tão comuns no meio do hip-hop. Pra quem já ouviu muita música atonal, ficar ouvindo um refrão 5 vezes é extremamente entediante, mas neste álbum são poucos os momentos entediantes, para não dizer que não há nenhum. Toda a construção do “beat” feito por John que dá base ao rap da dupla consegue dialogar com eles, e combina tudo muito perfeitamente. Desde uma fala de algo que parece um filme estadunidense imbricado no meio de uma música entre um rap e outro, até um “sample” do começo da quarta sinfonia da Brahms misturado com sons de vitrola. É uma “brisa” maluca que dá deliciosamente certo.
Black Knights: Medieval Chamber
01 Drawbridge
02 The Joust
03 Medieval Times
04 Trickfingers Playhouse
05 Sword In Stone
06 Knighthood
07 Deja Vu
08 Roundtable
09 Keys To The Chastity Belt
10 Camelot
Black Knights are:
Crisis Tha Sharpshooter
Rugged Monk
Vir trabalho caminhando pelas ruas de Porto Alegre com Henry Purcell nos ouvidos nesta manhã, foi muito emocionante. Quase chorei. E olha que costumo ter coração duro. Como Scholl compreendeu bem estas maravilhosas canções! Que pessoa culta deve ser, que grande respeito e conhecimento de arte, que senso de estilo!
Esta é a primeira gravação de Scholl da música de Purcell. Sua voz é perfeita para as melodias do compositor Inglês. O álbum inclui peças escritas para o palco, a igreja e para saraus, algumas das quais Andreas Scholl têm cantado por muitos anos em recitais. Como grandíssimas árias, destaco Strike The Viol, Touch The Lute, What Power Art Thou?, o célebre lamento de Dido, When I Am Laid In Earth, Here The Deities Approve e Music For A While.
Colaboradora de longa data de Andreas Scholl, a Accademia Bizantina contribui com peças orquestrais.
Henry Purcell (1659-1695): O Solitude (árias e canções)
1. If Music Be The Food Of Love 2:15
2. Come Ye Sons Of Art – Sound The Trumpet 3:00
3. Come, Ye Sons Of Art, Away (1694) Ode For The Birthday Of Queen Mary II – Strike The Viol, Touch The Lute 4:18
4. Purcell: Chacony, Z628 3:37
5. King Arthur, Or The British Worthy (1691) / Act 5 – Fairest Isle 4:55
6. King Arthur, Or The British Worthy (1691) / Act 3 – What Power Art Thou? 3:09
7. Chacony In G Minor Z730 4:07
8. Purcell: The Fairy Queen / Act 2 – One Charming Night 2:24
9. Pausanius, The Betrayer Of His Country. (1695), Z585 – Original Version – Sweeter Than Roses 3:17
10. Dido And Aeneas / Act 3 – When I Am Laid In Earth – Dido’s Lament) 4:05
11. Purcell: The Gordian Knot Untied – Music For The Gordian Knot Unty’d 10:47
12. Ode For St. Cecilia’s Day, ”Welcome To All The Pleasures”, Z339 – Original Version – Here The Deities Approve 4:36
13. Purcell: Oedipus – Music For A While, Z583 4:14
14. O Dive Custos Auriacae Domus, Z504 6:59
15. O Solitude, My Sweetest Choice, Z406 5:32
16. Pavan In G Minor, Z752 4:49
17. An Evening Hymn, Z193 4:34
Andreas Scholl, contratenor
Accademia Bizantina
Stefano Montanari
Ouvimos um poderoso grave constante que é como o nada, ao mesmo tempo em que é tudo. Aos poucos ouvimos crescer uma massa disforme de sons que parece nascer desse grave absoluto; dessa massa podemos identificar estilos, timbres, cores e sabores diferentes. Num crescendo envolvente protagonizado por um metal, é como se desprendesse a primeira das “forças elementais” dessa obra. Outras duas “forças” se desprendem, e assim começa a sinfonia.
A terceira sinfonia é quase uma gênese, ou um “Big Bang”. É certamente o exemplo mais completo do poliestilismo de Schnittke que ouvi até agora. Não há absolutamente nenhuma citação direta à obra outros compositores, mesmo assim podemos perceber a mescla de estilos, desde o barroco (ou mesmo antes, pois notei alguma coisa de medieval em algum momento que não me lembro) até o serialismo. A obra é inteiramente instrumental.
Já a sétima sinfonia sinfonia começa com o lirismo de um belo solo de viola que ao fim dá espaço para o tão característico aspecto sombrio da música de Schnittke. No terceiro e último movimento dessa sinfonia, um tema que tem algo de clássico e de barroco vai surgindo e ao mesmo tempo desmorona o otimismo do tema em um leve mas certeiro pessimismo, o que é exatamente o que devemos sempre esperar de Schnittke.
Schnittke: The Ten Symphonies
CD 3
Alfred Schnittke (1934-1998):
Symphony No. 3
01 I. Einleitung
02 II. Sonatensatz. Allegro
03 III. Scherzo. Allegretto
04 IV. Finale. Adagio
Royal Stockholm Philharmonic Orchestra
Eri Klas, conductor
Symphony No. 7
05 I. Andante
06 II. Largo
07 III. Allegro
BBC National Orchestra of Wales
Tadaaki Otaka, conductor
Neste álbum fica bem fácil identificar a influência de Shotakovich sobre a obra de Schnittke. Primeiro, estamos falando de dois russos. Segundo, de dois russos do século XX. Terceiro, de dois russos do século XX que aderem à uma “escola” mais progressista na música. Schnittke, claro, mais que Shostakovich, mas ambos igualmente modernos aos nossos ouvidos, deliciosamente modernos.
Recomendo também ouvir a orquestração desse trio de Schnittke… ou, se você só ouviu a orquestração, ouça agora em um arranjo para trio de piano, violino e cello.
Li opiniões contraditórias sobre as interpretações do Kempf Trio. Pessoalmente adorei a interpretação do Piano Trio No. 2 de Shosta, talvez até mais que uma que o PQP postou não faz tanto tempo.
Dmitry Shostakovich (1906-1975):
Piano Trio No. 2 in E minor Op.67
01 I. Andante – Moderato – Poco più mosso
02 II. Allegro non tropo
03 III. Largo
04 IV. Allegretto
05 Piano Trio No.1 in C minor Op. 8
Alfred Schnittke (1934-1998):
Piano trio (1992)´[Arrangement from his String Trio]
06 I. Moderato
07 II. Adagio
Kempf Trio:
Freddy Kempf, piano
Pierre Bensaid, violin
Alexander Chaushian, cello
Ferenc Fricsay (1914-1963) foi um maestro genial, grande intérprete de Beethoven e Mozart, assim como dos húngaros Bartók e Kodály. Mas tudo o que tocava virava ouro. Estudou piano, violino, clarinete, trombone, percussão, composição e regência. Viveu pouquíssimo, 48 anos para ser exato. Estudou música com Béla Bartók, Zoltán Kodály, Ernst von Dohnányi e Leo Weiner. Fricsay fez sua primeira aparição como maestro aos quinze anos de idade. Ele se tornou diretor musical da recém formada Orquestra Sinfônica RIAS na Alemanha em 1949. Também foi maestro titular da Orquestra Sinfônica de Houston em 1954. De 1956 até 1958 ele ocupou o mesmo cargo na Ópera do Estado Bávaro, da Ópera Alemã de Berlim e na Filarmônica de Berlim. Do início da década de 1950 até sua morte ele fez inúmeras gravações com a Deutsche Grammophon. Seu último concerto aconteceu no dia 7 de Dezembro de 1961 em Londres, onde conduziu a Filarmônica de Londres da Sinfonia Nº 7 de Beethoven. Faleceu de um vulgar câncer no estômago.
Estas são gravações ao vivo. O som é bom, mas não é aquela coisa translúcida. Já a interpretação, a concepção que Fricsay tinha da música… Isto está completinho.
Dukas / Kodály / Shostakovich / Hindemith / Johann Strauss / Beethoven / Mozart:
Obras regidas pelo grande Ferenc Fricsay
CD 1:
01. Dukas- The Sorcerer’s Apprentice
02. Kodaly- Dances of Galanta
03. Shostakovich- Symphony No 9- I. Allegro
04. Shostakovich- Symphony No 9- II. Moderato
05. Shostakovich- Symphony No 9- III. Presto
06. Shostakovich- Symphony No 9- IV. Largo
07. Shostakovich- Symphony No 9- V. Allegretto
08. Hindemith- Symphonic Metamorphosis- I. Allegro
09. Hindemith- Symphonic Metamorphosis- II. Moderato
10. Hindemith- Symphonic Metamorphosis- III. Andantino
11. Hindemith- Symphonic Metamorphosis- IV. Marsch
12. Strauss, Johann- Kunstlerleben
CD 2:
01. Beethoven- Leonore Overture No 3
02. Beethoven- Symphony No 3- I. Allegro con brio
03. Beethoven- Symphony No 3- II. Marcia funebre. Allegro assai
04. Beethoven- Symphony No 3- III. Scherzo. Allegro vivace
05. Beethoven- Symphony No 3- IV. Finale. Allegro molto
06. Mozart- Overture to Cosi fan tuttte
RIAS-Symphonie-Orchester
Berlin Radio-Symphonie-Orchester
Berlin Wiener Philharmoniker
Ferenc Fricsay
Na página não parecia… Nada! O princípio simples, quase cômico. Só uma pulsação. Trompas… fagotes… como uma sanfona enferrujada. E depois, subitamente… lá bem no alto… um oboé. Uma única nota, ali pendurada, decidida. Até que um clarinete a substitui, adoçando-a numa frase de tal voluptuosidade… Isto não era uma composição de um macaco amestrado. Era música como eu nunca tinha ouvido.
Este texto é brilhantemente dito por F. Murray Abraham — que ganhou o Oscar de Melhor Ator — em Amadeus (1984), de Milos Forman. Ele está descrevendo o Adágio da Serenata para 13 Instrumentos de Sopro, K. 361, mais conhecida como “Gran Partita“.
Não sei de preciso escrever mais. Talvez deva dizer que Trevor Pinnock pegou um grupo bem jovem e talentoso para fazer este CD muitíssimo bom. E que novamente me deu certa vontade de chorar ouvindo o tal Adágio que não foi escrito por um macaco amestrado e sim por um dos topos da evolução da espécie humana: Mozart.
Serenade in B flat major, K. 361, ‘Gran Partita’, de W. A. Mozart
1. I. Largo – Allegro Molto
2. II. Menuetto
3. III. Adagio
4. IV. Menuetto: Allegretto
5. V. Romance: Adagio
6. VI. Tema Con Variazioni
7. VII. Finale: Allegro Molto
Notturno No. 8 in G major, Hob. II:27, de F. J. Haydn
8. I. Largo – Allegro
9. II. Adagio
10. III. Finale: Vivace Assai
Royal Academy of Music Soloists Ensemble
Trevor Pinnock, regente
O mundo hoje é um turbilhão sem fim de pluralidades, especialmente na música. A quantidade de estilos, gêneros, subgêneros, escolas e tendências é desafio para qualquer artista, seja na música popular ou erudita.
Pensando de um ponto de vista que olha a história em suas transformações, nada mais previsível do que num tempo onde não existe nada como paradigma de um campo artístico, que surja alguém que tente abraçar todas essas correntes ao mesmo tempo. Pois bem, esse alguém surgiu e, mesmo não sendo o único, com certeza foi o mais bem sucedido, criando um estilo que, assimilando-se ao ideal mahleriano do fazer sinfônico, “quer ser um mundo, quer conter tudo”.
Aqui, diferentemente da primeira sinfonia, não há nada daquela vulgaridade da técnica de colagem, ou seja, mesclas diretas de temas de obras de outros compositores. Podemos sentir um ar romântico e clássico ali, outro barroco ali, mas nada que fosse já conhecido. Ou seja, o próprio compositor cria aspectos nestes diferentes estilos e insere em sua obra. É o nascimento de algo belo, vindo de algo tão tragicômico como foi a primeira sinfonia.
Mas o foco aqui não poliestilismo, que encontrará melhores exemplos em obras futuras. O foco acredito estar na fascinação que Schnittke tem pela música sacra, e esta sinfonia é um dos melhores exemplos desta fascinação. Escrita em 1979, foi feita em homenagem de Anton Bruckner, que foi enterrado abaixo do órgão do Monastério de St. Florian próximo a Lins. Segundo a Wikipedia, numa visita ao monastério, Schnittke teria ouvido uma “missa invisível” e teria se fascinado por isso, surgindo daí a ideia de sua segunda sinfonia, cujo título alternativo é “Missa Invisível”.
O conteúdo sacro da “missa” que é executada na sinfonia é constantemente subvertida pelo tom tenso e pessimista da orquestra. O resultado disso é uma tensão que ora desemboca em explosões de dissonâncias, ora em uma calmaria “cristã”. Isso é engraçado pois é o oposto da primeira sinfonia, que desembocava no caos e vulgaridade em momentos de tensão. O caos ainda está presente, mas de forma muito mais sutil, talvez pelo próprio conteúdo cristão da obra.
Schnittke: The Ten Symphonies
CD 2
Alfred Schnittke (1934-1998):
Symphony No. 2 “St. Florian”
01 I. Rezitando (Kyrie)
02 II. Maestoso (Gloria)
03 III. Moderato (Credo)
04 IV. Peasante (Crucifixus)
05 [IV.] Coda: Agitato (Et resurrexit) – Maestoso
06 Introduction to V. Andante (Sanctus)
07 V. Andante
08 VI. Andante (Agnus Dei)
Royal Stockholm Philharmonic Orchestra
Leif Segerstam, conductor
Mikaeli Chamber Choir
Anders Eby, chorus conductor
Malena Ernman, alto (3)
Torkel Borelius, bass (3,5)
Mikael Bellini, countertenor (3,5)
Göran Eliasson, tenor (3,5)
Amandine Beyer é uma gênia. Por exemplo, não vejo gravação melhor do que a dela para as Sonatas e Partitas para Violino Solo de Bach. Aqui, ela ataca com um compositor bastante negligenciado. O que conhecemos de Pachelbel? Ora, seu famoso Cânon e só! Então vem Amandine, uma musicista da terceira geração historicamente informada, e nos mostra um monte de coisas interessantes que não têm nada a ver com o Cânon. E finaliza com o Cânon, claro. E PQP fica feliz, pois tem alguns antigos vinis que demonstram que Pachelbel não era nada trouxa e falava sozinho que o cara era tri. O título destas peças é Musikalische Ergotzung, algo como “prazer musical”. O que ouvimos é o próprio hedonismo da época. Basta relaxar e deixar o Gli incogniti, o tenor Hans-Jorg Mammel, liderados pelo violino de Amandine Beyer, dando uma exibição de raro conhecimento barroco.
Gli incogniti, nem tanto assim (vocêm sabem o que significa? Gli incogniti é “Os desconhecidos”)
Johann Pachelbel (1653-1706): Un orage d’avril: Suites, Canon & Songs
Partie V in C major, P374
01. Sonata (01:20)
02. Aria (01:14)
03. Treza (00:30)
04. Ciacona (03:15)
05. Wie nichtig? Ach! Wie flüchtig, P500 (08:07)
Partie II in C minor, P371
06. Sonata (01:30)
07. Gavotte (01:32)
08. Treza (00:31)
09. Aria (01:08)
10. Saraband (01:40)
11. Gigue (01:07)
12. Das Gewitter im Aprilen, P75 (03:21)
Partie VI in B flat major, P375
13. Sonata [Adagio] (01:08)
14. Aria (00:47)
15. Courante (01:07)
16. Gavotte (01:29)
17. Saraband (01:37)
18. Gigue (02:25)
Partie a 4 in G major, P450
19. Sonatina (01:46)
20. Allemand (01:23)
21. Gavott (00:41)
22. Courant (01:01)
23. Aria (00:39)
24. Saraband (01:33)
25. Gigue (01:25)
26. Finale adagio (00:54)
27. Mein Leben, dessen Creutz für mich, P360 (05:19)
Partie III in E flat major, P372
28. Sonata [Allegro] (01:09)
29. Allemand (01:29)
30. Courant (01:01)
31. Gavotte (00:45)
32. Saraband (01:49)
33. Gigue (00:59)
Partie IV in E minor, P373
34. Sonata (01:26)
35. Aria (02:21)
36. Courant (01:00)
37. Aria (00:48)
38. Ciacona (02:35)
39. Guter Walther unser Raths, P180 (01:39)
Partie I in F major, P370a
40. Sonata [Allegro] (00:52)
41. Allemand (01:46)
42. Courant (01:01)
43. Ballet (00:58)
44. Saraband (01:38)
45. Gigue (01:08)
46. O großes Musenliecht, P391 (01:40)
47. Canon & Gigue P37 – Canon a 3 Violinis con Basso c. (03:34)
48. Canon & Gigue P37 – Gigue (01:21)
Hans Jörg Mammel, tenor
Gli incogniti
Amandine Beyer, leader & violin
Vamos combinar uma coisa? Ignorem a capa do CD, OK? Muito feia e convencional quando comparada com o conteúdo. Nascido nos arredores de Helsinque, em Espoo, Paavali Jumppanen é mais um finlandês de altíssima categoria no mundo da música erudita. Ele está gravando seu ciclo de Sonatas para Piano de Beethoven, terreno encravado de lendários pianistas e cujo campeão é, provavelmente, Maurizio Pollini. Este CD duplo — segundo volume de uma integral ainda incompleta — é uma joia. Traz seis sonatas para piano: três iniciais do Op. 10 (publicado em 1798) e três sonatas escritas entre 1804-1806 (Op. 53, 54 e 57). A Op. 53, “Waldstein”, concluída após a 3ª Sinfonia, é uma sinfonia heroica para piano e uma das melhores obras já escrita por um filho de mulher. A Op. 57, “Appassionata” é um trabalho mais agressivo, algo como o Inferno de Dante ou Macbeth de Shakespeare. Vale muito a audição.
(Depois do Allegro con brio e do Adagio molto da Waldstein, quando entra o Allegretto moderato, isto, é, quando diminui aquela tensão toda, é impossível não procurar uma posição mais confortável na cadeira).
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Piano Sonatas Opp. 10, 53, “Waldstein”, 54 e 57, “Appassionata”
Disc 1
Piano Sonata No. 5 in C Minor, Op. 10, No. 1
1.I. Molto allegro e con brio 5:19
2.II. Adagio molto 7:51
3.III. Finale: Prestissimo 3:44
Piano Sonata No. 6 in F Major, Op. 10, No. 2
4.I. Allegro 8:34
5.II. Allegretto 3:58
6.III. Finale: Presto 3:24
Piano Sonata No. 7 in D Major, Op. 10, No. 3
7.I. Presto 6:30
8.II. Largo e mesto 10:10
9.III. Menuetto – Trio – Menuetto: Allegro 2:54
10.IV. Rondo: Allegro 3:36
Disc 2
Piano Sonata No. 21 in C Major, Op. 53, “Waldstein”
1.I. Allegro con brio 10:39
2.II. Introduzione: Adagio molto 4:22
3.III. Rondo: Allegretto moderato 7:40
4.IV. Prestissimo 1:53
Piano Sonata No. 22 in F Major, Op. 54
5.I. In tempo d’un minuetto 5:08
6.II. Allegretto – Piu allegro 5:31
Piano Sonata No. 23 in F Minor, Op. 57, “Appassionata”
7.I. Allegro assai 9:51
8.II. Andante con moto 6:28
9.III. Allegro ma non troppo – Presto 7:37
Não há nada de doloroso neste álbum, pelo contrário, só de delicioso. Primeiro temos a Sinfonia para Câmara de Shostakovich, que nada mais é do que uma transcrição do Quarteto No. 8 feita por Rudolf Barshai. Uma ótima ideia de Barshai pois deixou a coisa toda surpreendentemente mais gostosa.
Ao final do álbum temos outra transcrição: a sonata para trio de violino, viola e cello de Schnittke, transcrita também para orquestra de câmara, essa feita por Yuri Bashmet. Novamente uma ótima ideia.
Mas o destaque do álbum fica pra Musica Dolorosa de Peteris Vasks, compositor que estreia hoje no blog. Nascido na Letônia, parece utilizar vários métodos contemporâneos de composição. Sua obra neste álbum me pareceu uma mistura de dor e fúria, coisa que adoro sentir na obra de um compositor. Não sei se sou sádico, acredito que não, mas me deliciei com as “dores” desta música.
Aliás, o álbum inteiro parece conter um clima semelhante; certamente uma ótima compilação.
Shostakovich, Vasks, Schnittke: Dolorosa
Dmitry Shostakovich (1906-1975)
Chamber Symphony Op. 110a (orchestration by Rudolf Barshai)
01 I. Largo
02 II. Allegro molto
03 III. Allegretto
04 IV. Largo
05 V. Largo
Peteris Vasks (1946)
06 Musica Dolorosa
Alfred Schnittke (1934-1998)
Trio Sonata (orchestration by Yuri Bashmet)
07 Moderato
08 Adagio
Stuttgarter Kammerorchester
Dennis Russell Davies, conductor
Definitivamente este é um cd do cacete, com o perdão da expressão. Max Bruch e Salvatore Accardo nasceram um para o outro. Gould-Bach, Karajan-Beethoven, Kempff-Schubert, Rubinstein-Chopin, enfim, todos estes instrumentistas tinham uma cara metade, e posso perfeitamente colocar Accardo-Bruch neste panteão, apesar de ter verdadeira admiração pelo Paganini do próprio Accardo, mas o que temos aqui é o supra sumo das gravações do concertos para violino de Bruch, incluíndo aí, é claro, sua serenata e sua Scottish Fantasy. Já ouvi diversas gravações destas obras. Heifetz, Oistrakh, Perlman, Mullova, todos eles fizeram um trabalho memorável, mas Accardo está com o capeta aqui. Alternando os momentos escancaradamente românticos, com os escancaradamente técnicos, ele consegue imprimir uma sonoridade única em seu Stradivarius 1718, nos emocionando até o último fio de cabelo. Claro que ele conta com a cumplicidade de Kurt Masur e a extraordinária Leipzig Gewandhaus Orchestra, mas o que conta é o feeling e o timing perfeitos de Accardo. As cinco estrelas dadas pelos clientes da amazon são mais que merecidas.
Max Christian Friedrich Bruch –
The Complete Violin Concertos – Scottish Fantasy –
Accardo – Masur
CD 1
Violin Concerto No.1 in G minor, Op.26
Venue: Gewandhaus,Leipzig – June 1977
1.01 I. Vorspiel. Allegro moderato
1.02 II. Adagio
1.03 III. Finale. Allegro energico
Violin Concerto No.2 in D minor, Op.44
Venue: Gewandhaus,Leipzig – June 1977
1.04 I. Adagio non troppo
1.05 II. Recitativo. Allegro moderato – Allegro – Andante sostenuto
1.06 II. Finale. Allegro molto
Serenade, for violin and orchestra in A minor, Op.75
Venue: Gewandhaus,Leipzig – April 1978
1.07 I. Andante con moto
1.08 II. Allegro moderato, alle marcia
1.09 III. Notturno
Violin Concerto No.3 in D minor, Op.58
Venue: Gewandhaus,Leipzig – March 1978
2.01 IV. Allegro energico e vivace
2.02 I. Allegro energico
2.03 II. Adagio
2.04 III. Finale. Allegro molto
Scottish Fantasy, for violin & orchestra, Op.46
Venue: Gewandhaus,Leipzig – June 1977
2.05 Einleitung. Grave
2.06 I. Adagio cantabile
2.07 IIa. Scherzo. Allegro
2.08 IIb. Adagio
2.09 III. Andante sostenuto
2.10 IV. Finale. Allegro guerriero
Salvatore Accardo, Violin
Gewandhausorchester Leipzig
Kurt Masur, Director
Em 19.08.1961 a revista Cash Box, editada em Nova York, tratava como “um dos lançamentos mais importantes do ano” o Volume 1 de Cantos e Danças da Renascença, série de LPs produzidos pelo carioca Roberto de Regina com o conjunto vocal e instrumental que vinha desenvolvendo havia dez anos.
Infelizmente não tenho os discos originais, só uma espécie de compacto feito pela CBS em 1976 em um só LP – em lugar de reeditar inteira essa que devia ser considerada umas glórias da realização musical basileira.
Exagero? Bem, o grupo tinha sido absoluto pioneiro no repertório renascentista no Brasil. Verdade que em Belo Horizonte um grupo já usava o nome “madrigal renascentista”, mas não só seu repertório não era exclusivamente renascentista, como sequer se tratava de um madrigal e sim de um coral em moldes de épocas posteriores; seu trabalho estava longe de significar uma revivência minimamente autêntica de como essa música devia ter soado.
Mas a coisa da autenticidade é mais sutil: Roberto de Regina também poderia ser acusado (como foi) de não ser autêntico por, na falta de instrumentos de época, usar oboés e fagotes modernos (só por exemplo). No entanto suas interpretações absolutamente não soavam como algo modernizado – e sobretudo tinham como que um encanto, um mel: não eram de hoje, mas soavam como música viva, fluente como a feita ali no boteco da esquina, e não em um laboratório acadêmico. Enfim, talvez se possa dizer, muito de acordo com a época, que tinham BOSSA.
Talvez o que mais ajude nesse sentido seja as vozes usarem uma impostação muito discreta, sem nenhum cacoete operístico – e além disso se permitirem um discreta nasalidade, uma malemolência… como quem realmente não pretende negar que a música está sendo feita por brasileiros (ato comparável, talvez, ou de lermos Fernando Pessoa com qualquer um dos nossos sotaques, e não como ele ‘ouviu’ a poesia quando a escreveu).
De resto, alinho algumas observações que, acredito, podem ajudar na apreciação. A primeira é me desculpar que em alguns vários pontos pontos os agudos parecem sujos ou estourados – mas não foi falha na digitalização: creio que esse vinil foi abusado com agulhas rombudas em alguma época da sua vida.
Outra, que a série original vinha dividida em discos para a França, para a Espanha, para os franco-flamengos, os vasc… – ops, perdão! – o que de certa ‘conversa’ com a minha postagem anterior (Música da Renascença para alaúdes, vielas e bandurra). Só que aqui temos uma amostragem um tanto desequilibrada: um lado inteiro em francês, outro quase inteiro para a Espanha, e três faixas divididas por três outros países.
O francês usado é quase compreensível para quem tem noção razoável dessa língua se apenas se levar em conta que oi ou oy não vêm pronunciados ‘uá’ e sim ‘oê’. E assim fica compreensível o verso que termina as estrofes de Perdre le sens devant vous (‘perder o senso diante de ti…’), para mim uma das interpretações mais encantadoras do disco: ditte le mois, ditte le mois, je vous pris (‘dize-me, dize-me, eu te suplico’).
Notabilíssima a peça ‘Os gritos de Paris’ (Les cris de Paris) de Jannequin, que pretende descrever a agitação da feira ou mercado, com os vendedores apregoando uma delirante variedade de produtos… Aqui vale comparar com a leitura mais tradicionalmente coral de Klaus-Dieter Wolf à frente do Madrigal Ars Viva de Santos, que postei há não muito – e lá vocês encontram o texto de Les cris de Paris no encarte!
Roberto executa Mit ganczen Willen, do organista cego alemão Conrad Paumann (1410-1473), num dos cravos que ele mesmo construía. A seguir o Pater Noster de Obrecht também me parece um ponto alto de interpretação. Mas logo vêm os espanhóis, que comparecem com duas peças que devem ter sido selecionadas só como amostras da sua polifonia mas, honestamente, me parecem muito chatas (Dezilde al caballero e Falai meus ollos – esta em galaico-português), uma de extraordinário lirismo (Ay luna que reluces, do Cancioneiro de Upsala – coleção de música espanhola que tem esse nome pois a única cópia conhecida foi encontrada na Universidade de Upsala, na Suécia), e três de puro espírito farrista: ao fim de cada repetição do estribilho Dale si le das uma cantora começa a dizer uma palavra que, pela rima, seria obscena, e outra a interrompe ‘consertando a coisa’. Em Besad me y abrazad me uma mulher incita o marido a agir em termos como ‘pára de fingir que está dormindo!’. E Hoy comamos y bebamos, que termina o disco, joga no lixo qualquer hipocrisia e assume ‘Vamos comer e beber, cantar e folgar, que amanhã é dia de jejum. E não vamos perder bocado, pois [para comer mais] iremos vomitando’.
Dá pra fazer uma tal música com pedantismo acadêmico? Pode-se questionar o rigor musicológico de Roberto de Regina aqui e ali, mas fez música viva – e no meu sentir isso é precisamente o melhor que se pode dizer de um musicista.
25 anos do Conjunto Roberto de Regina
LP CBS de 1976. Digitado por Ranulfus, ago. 2010
FRANÇA
A1 Bon jour, bon moys (Dufay)
A2 Je ne vis oncques la pareille (Dufay)
A3 Petite camusette (Josquin des Prez)
A4 Ou mettra l’on ung baiser favorable? (Janequin)
A5 Les cris de Paris (Janequin)
A6 Ce sont gallans (Janequin)
A7 Que vaut Catin? (Costeley)
A8 En ung chasteau (Roland de Lassus)
A9 Perdre le sens devant vous (Claude le Jeune)
ALEMANHA
B1 Mit ganczen Willen (Paumann)
FLANDRES
B2 Pater Noster (Obrecht)
ITÁLIA
B3 Due villotte dei Fiori(Azzaiollo)
ESPANHA
B4 Besad me e abraçad me (n.n., Cancioneiro de Upsala)
B5 Dezilde al caballero (N.Gombert, Cancioneiro de Upsala)
B6 Falai meus ollos (n.n., Cancioneiro de Upsala)
B7 Dale si le das (n.n., Cancioneiro del Palacio)
B8 Ay luna que reluzes (n.n., Cancioneiro de Upsala)
B9 Hoy comamos y bebamos (Juan Encina)
MO-NU-MEN-TAL! . É o mínimo que se pode dizer sobre esta sinfonia. Schnittke quando a compôs estava em progressão geométrica em direção ao seu auge. Ainda não havia atingido a perfeição de seu poliestilismo, mas já tinha mais do que o necessário para chocar.
Barroco, romântico, clássico. E até algumas tendências modernas contemporâneas como aleatoriedade na música e minimalismo. Todas esses estilos são encontrados nessa sinfonia, só para citar alguns. Alex Ross, em um texto maravilhoso sobre Schnittke, chama o compositor de “conhecedor do caos”. É a melhor alcunha possível para um louco que cria uma sinfonia de tamanha magnitude.
Primeiro pela sua duração “mahleriana”, como diz Tom Service. Segundo pelo teatro embutido em sua execução: na partitura é indicado um momento para que os músicos deixem e voltem ao palco, talvez fazendo uma crítica ao ritual tradicional das salas de orquestra? Terceiro pela fusão imensa de referências diretas e indiretas, além da mescla de diferentes estilos como jazz, dodecafonismo e música aleatória.
Mais do que ouvir essa música, ela é preciso ser pensada. Existem dezenas de outras obras de Schnittke cujo material musical é muito mais agradável. Se você espera escutar isso como se escuta uma sonata de Beethoven, caia fora. Aqui devemos pensar! O que ele quer dizer com esses metais pesadíssimos? E essas palmas no meio da sinfonia? E esse tema? Etc. Puxem o filósofo de dentro de vocês.
Uma coisa que me vem à mente ao ouvir essa sinfonia é pensar como que a partir de tantas referências (Beethoven, Haydn, Tchaikovsky, Strauss, Chopin, Bach, etc.) Schnittke mistura toda a tradição clássica da música até então e, ao fazer isso, anuncia o pós-modernismo. É como se o compositor se visse sem saída, e então, para criar uma, junta todas as saídas que haviam tomado até então. Mas pensar a história da música daquele momento como sem uma nova saída, é nada mais que consequência da ideologia pós-moderna de fim da história, ou seja, como se a história do homem não tivesse mais para onde ir além de repetir mais do mesmo.
Schnittke não foi o único que padeceu desse mal. Se olharmos para as primeiras composições de Arvo Pärt, perceberemos a mesma incerteza. Mas independentemente do niilismo do homem moderno acerca de se a história acabou ou não, as sociedades continuam e continuarão a mudar enquanto existir a espécie humana. Não é a toa que Schnittke se reencontra no final da vida numa certa “espiritualidade” musical, embora conservando elementos de seu poliestilismo. Arvo Pärt faz a mesma coisa. Todo homem nas artes, na política ou na ciência que se encontrar na mesma encruzilhada, não poderá resistir ao movimento contínuo da história. Mostrarei isso à vocês em todo o movimento… digamos, dialético (em transformação) das sinfonias de Schnittke.
Royal Stockholm Philharmonic Orchestra
Leif Segerstam, conductor
Åke Lännerholm, trombone
Carl-Axel Dominique, piano (jazz improvisation)
Ben Kallenberg, violin (jazz improvisation)
Um tremendo disco desta tremenda cantora cega que vê muito mais do que a esmagadora maioria de nós. Enquanto alguns vocalistas escolhem entre o lucro e o jazz, Schuur leva ambas as carreiras com competência. Ela está constantemente entre as salas de concertos e os pequenos clubes. Seu estilo incorpora tanto a interpretação do jazz sutil quanto o rhythm and blues. Neste recente CD, Diane Schuur dá um banho ao homenagear Mr. Getz (clonado pelo saxofonista Joel Frahm) e o um certo crooner de sobrenome Sinatra. Sua voz parece estar cada vez mais linda. As novas roupagens da músicas são do caraglio, e o bicho pega, principalmente quando Schuur se solta e improvisa.
Diane Schuur: I Remember You: With Love To Stan And Frank (2014)
01. S’ Wonderful (3:32)
02. Nice N Easy (4:11)
03. Watch What Happens (5:09)
04. I’ve Got You Under My Skin (5:21)
05. How Insensitive (5:09)
06. Here’s That Rainy Day (6:42)
07. Didn’t We (5:52)
08. I Remember You (3:02)
09. I Get Along Without You – Don’t Worry ‘Bout Me (5:01)
10. The Second Time Around (4:58)
11. For Once In My Life (2:56)
Diane Schuur: vocals;
Alan Broadbent: arrangements, piano;
Roni Ben-Hur and Romero Lubambo: guitars,
Joel Frahm: saxophone,
Ben Wolfe: bass;
Ulysses Owens Jr.: drums.
A seguir, algumas informações extraídas da wikipédia: “Samuel Osborne Barber (Westchester, 9 de Março de 1910 — Nova Iorque, 23 de Janeiro de 1981) foi um compositor norte-americano de música erudita, mais conhecido pela obra “Adagio for Strings”. Começou a compor com sete anos de idade; os seus estudos formais foram feitos no “Instituto de Música Curtis”, em Philadelphia. Aos 25 anos tornou-se membro da Academia Americana em Roma. Compôs um conhecido “Concerto para Violino” e a obra “Music for a Scene from Shelley”, Opus 7, esta última baseada num poema de Percy Bysshe Shelley. É o autor de um Concerto para Piano e Orquestra e de uma Sonata para Piano. Sua ópera “Vanessa” (1957), ganhou o Prêmio Pulitzer.