Alfred Schnittke (1934-1998): Symphonies No. 0 “Nagasaki” & 9 — The Ten Symphonies

coverO fim, meus caros, nada mais é do que um retorno ao início.

Não sejam tão afoitos, com isso não quis sugerir que a nona sinfonia de Schnittke é semelhante ou igual à de número zero, na verdade elas são completamente diferentes.

A sinfonia “Nagasaki”, numerada vulgarmente como No. 0, nos surpreende por nada ter do Schnittke com quem estamos habitualmente acostumados. Parece ser uma espécie de neoclássico que bebe um pouco de Shostakovich. Não é possível dizer ao certo as intenções do jovem Schnittke ao compor essa obra. Tendo ela sido completada nos anos 50, a referência histórica de seu nome é clara. Apesar disso, as forças históricas e sociais que iriam dilacerar os paradigmas acadêmicos de composição do jovem compositor e leva-lo a compor obras como a sua Primeira Sinfonia ainda estavam longe.

Sua Nona Sinfonia aparentemente começou a ser escrita dois anos antes da morte de Schnittke, e não se sabe ao certo se foi completada ou não, já que Schnittke não a publicou. Dela sobraram esboços que foram reunidos e “decifrados” a pedido de Irina Schnittke, mulher do compositor. Quem teve a árdua tarefa de decifrar os manuscritos dos garranchos de Schnittke foi o jovem compositor Alexander Raskatov, que também de embalo fez uma obra em homenagem ao compositor.

A Nona Sinfonia é divida em três movimentos, sendo um lento, um moderado e um rápido. Ela têm um sentimento muito tênue e belo, que nos passa uma sensação de algo etéreo. Como diz William C. White:

Dennis Russell Davies comments that this is “a testament by someone who knows he’s dying,” I have a different view: I think this is music of someone who is already dead — as Schnittke had been, having been pronounced clinically dead on several occasions during his strokes.  Much of the music sounds like the exploratory wanderings of a ghost during his first encounter with a new, otherworldly universe.”

Ou seja, Schnittke se perde, acaba por atingir um estado como o de uma assombração ambulante numa velha mansão.

É assim que termina a saga sinfônica desse grande compositor, mas não sejamos tristes. Schnittke deu exemplo fantástico de sua criatividade em outras obras, principalmente naquelas de cunho “sacro”, pois parecia tentar ali se encontrar como qualquer indivíduo socialmente anômico precisa se ancorar em algum “paradigma cultural”. Mais pra frente eu trarei esses belos exemplos de sua maestria.

Schnittke: The Ten Symphonies

CD 6

Alfred Schnittke (1934-1998):

Symphony No. 0 “Nagasaki”
01 I. Allegro ma non tropo
02 II. Allegro vivace
03 III. Andante
04 IV. Allegro

Cape Philharmonic Orchestra
Owain Arwel Hughes, conductor

Symphony No. 9 (Copyist, Researcher) [Reconstruction of the Original Manuscript] – Alexander Raskatov
05 I. [Andante]
06 II. Moderato
07 III. Presto

Cape Philharmonic Orchestra
Owain Arwel Hughes, conductor

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Os Sofrimentos do jovem Schnittke. [Gray, Reginald; Alfred Schnittke (1934-1998); Royal College of Music; http://www.artuk.org/artworks/alfred-schnittke-19341998-215843]
Os Sofrimentos do jovem Schnittke.
[Gray, Reginald; Alfred Schnittke (1934-1998); Royal College of Music;]
Luke

3 comments / Add your comment below

  1. Ouvi todas as sinfonias de Schnittke graças a estas excelentes postagens. Gostei especialmente da número 3. Nunca imaginei que um dia me encantaria pela música dita “pós-moderna”. Confesso que já houve tempo em que achava a música de Mahler “moderna” demais. Não conseguia passar de Brahms… Hoje tenho a música do século XX como de minha mais alta estima.
    Mas devo ser sincero, Schnittke pareceu-me mais um romântico “perdido” no final do século XX do que propriamente um “pós-moderno” ou contemporâneo.
    Apesar de ele mesmo tentar negar, em muitas ocasiões, sua ascendência russa, dizendo que sua música seria uma síntese da história musical vienense, não há como não perceber a nítida herança eslava! Se Shostakovich é herdeiro direto de Tchaikovsky (me perdoem os que não concordam), Schnittke começa de onde Shostakovich parou. Os dois últimos avançam com um pé pelo século XX, mas o outro mantém-se bem firme no XIX.
    Muito obrigado pelas postagens!

    1. Fico feliz que você tenha começado a apreciar mais a música “pós-moderna”, pretendo trazer outros compositores não tanto pós-modernos, mas contemporâneos. A Sinfonia de número 3 também é uma que eu gosto bastante.
      Concordo com você que Schnittke possa parecer romântico, isso ele puxa um pouco na dramatização e orquestração de suas obras, mas é aquele “romântico” no estilo de Shostakovich… e além deste. Ele se perde, mas se perde na própria tentativa de, perdido, se encontrar.
      O pós-moderno nos é contemporâneo, ou seja, é do nosso tempo, ainda é produzida hoje em dia, muitos compositores e artistas de várias espécies seguem essa “tendência”. Portanto Schnittke com certeza nos é contemporâneo, já pós-moderno pode ser questionado, muito embora eu acredite ser adequado chama-lo assim pois o pós-modernismo cultural rompe com as tradições modernas e clássicas de composição, rejeitando todas elas ou tentando misturar todas, é isso que Schnittke faz, por isso eu, Alex Ross e Tom Service chamam ele assim.

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