
Mais uma babada nossa? Sim, inda outra: postamos os dois primeiros concertos de Lud Van com a deusa Martha e Giuseppe Sinopoli, sem percebermos que FDP Bach já os tinha publicado antes. Enquanto pagamos nossas impublicáveis penitências, tento me redimir em duas prestações, com novíssimas gravações da nossa rainha na companhia de seu amigo e colaborador de longuíssima data, Seiji Ozawa.
Enfim, concertos para piano – e Ludwig deve ter pensado o mesmo quando publicou seus dois primeiros, em 1801. Ele já os vinha tocando havia algum tempo em seu afã de consolidar-se em Viena como um compositor-virtuose, seguindo a vereda do jovem Mozart, cujos extraordinários concertos para piano pairavam, intimidadores, sobre qualquer desgraçado que se aventurasse pelo gênero. Era fundamental que um postulante ao panteão do teclado tivesse seus cavalos de batalha, e por isso Lud Van pariu cuidadosamente os seus, após longa e insegura gestação. Percebam que eu não os numero no título, enquanto lhes explico: além de nenhum deles ter sido o primeiro concerto escrito por Beethoven – distinção que cabe a um concerto em Mi bemol (WoO 4), composto ainda na adolescência e do qual restou apenas a parte para piano -, o primeiro a ser publicado foi o segundo a ser estreado, e vice-versa. Assim, o concerto Op. 15, composto em 1795, foi estreado nove meses depois do Op. 19, que marcou a estreia pública de Beethoven como pianista em Viena e já vinha sendo esboçado desde os tempos de Bonn. Embora baseiem-se firmemente em modelos de Haydn e Mozart, há amplos toques beethovenianos nas modulações inesperadas e mudanças bruscas de humor, e na escrita pianística, tão brilhante quanto a que se esperaria duma obra composta para pavonear sua capacidade ao teclado. O compositor legou-nos suas próprias cadências para as obras, que são as utilizadas na presente gravação e nos dão um sabor de seu talento improvisatório – que, junto com a prestidigitação pianística, era o que mais incensava a fama do rapaz antes de se firmar como compositor.
Cada vez que escuto Martha Argerich tocar esses concertos, fico pensando o quanto o Beethoven garotão não se reconheceria temperamento artístico sanguíneo e nas execuções exuberantes da deusa portenha do piano. Suas interpretações lideram minha preferência, ainda que reconheça suas idiossincrasias, e muito embora prefira suas gravações com Abbado, já publicadas aqui. Ela os executa praticamente desde o ovo, como poderão testemunhar pelo vídeo mais abaixo, de modo que não lhe poderiam ser mais naturais. Nessa gravação, feita ao vivo com a orquestra de câmara do centro cultural Art Tower da cidade japonesa de Mito, ela é acompanhada por Seiji Ozawa, um notável regente com um tremendo talento para a sobrevivência: mesmo gravemente doente, ele mantém-se admiravelmente ativo. É incrível a eletricidade que eles trazem para esta gravação, que nada sugere a avançada idade em que graciosamente entram. Ozawa sai-se bem, mas é Marthinha, como sempre, quem vale o download.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sinfonia no. 1 em Dó maior, Op. 21
Composta entre 1795-1800
Publicada em 1801
Dedicada ao barão Gottfried van Zwieten
1 – Adagio molto – Allegro con brio
2 – Andante cantabile con moto
3 – Menuetto: Allegro molto e vivace
4 – Adagio – Allegro molto e vivace
Mito Chamber Orchestra
Seiji Ozawa, regência
Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15
(cadências de Beethoven)
Composto em 1795
Publicado em 1801
Dedicado à princesa Anna Louise Barbara Odescalchi
5 – Allegro con brio
6 – Largo
7 – Rondo. Allegro scherzando
Martha Argerich, piano
Mito Chamber Orchestra
Seiji Ozawa, regência
Marthita, nossa deusa, toca estes concertos desde que se conhece por gente: ei-la, aos oito anos, interpretando o concerto no. 1 com Alberto Castellanos.

Vassily
[restaurado por Vassily em 5/6/2021, em homenagem aos oitenta anos da Rainha!]








Em mais uma babada minha, publiquei dois discos sem saber que, quase doze anos antes, nosso patrono 








Mais uma falha nossa, que corrigimos restaurando a 



Ludwig – sempre o descabelado inquieto em notável evolução! À guisa dos enormes saltos estilísticos entre as sonatas para piano Op. 2 para a “Grande” Op. 7, e aquele, maior ainda, desta para as sonatas Op. 10, quem ouve estes trios do Op. 9 depois das primeiras tentativas de Beethoven no gênero se impressiona com seus progressos. Aqui, num claro ensaio para os quartetos de cordas vindouros, que o fariam abandonar para sempre os trios, há muitos dos gestos que ficariam familiares a nós outros nas décadas seguintes: a elaboração sinfônica de obras para conjuntos de câmara; a criatividade dentro do uso estrito da sonata-forma; a alternância de movimentos cheios de verve com expressivos adagios. Eles são especialmente prevalentes no primeiro trio da trinca, enquanto no terceiro nosso renano favorito esbalda-se em sua tonalidade-assinatura, a de dó menor, trabalhando habilmente a constrição e a angústia por ela inspiradas rumo a um afirmativo final em tonalidade maior. Numa tentativa, talvez, de fazer justiça às suas provavelmente nada queridas memórias como violista na corte de Bonn, Beethoven dá à viola várias passagens elaboradas, deixando-a quase em pé de igualdade com seus parceiros menos molestados por bullying instrumental. E a radiante interpretação do Leopold Trio só nos consegue deixar a viva impressão de que as sessões de gravação devam ter sido pura delícia.



O trio de cordas evoluiu da formação inicialmente em voga – dois violinos e violoncelo, no feitio das trio-sonatas – para a de violino, viola e violoncelo por influência de Boccherini e, principalmente, de Haydn, que foi por pouco tempo tutor de Beethoven e, sem dúvidas, o mais influente compositor daquele finalzinho de século XVIII. Outras tantas obras para esta formação mais moderna foram compostas por Johann Albrechtsberger – organista da Stephansdom e autor, entre tantas outras, das 











NOSTRA MAXIMA CVLPA:








Encerramos nosso “Festival Schumann” com sua composição de mais largo escopo, a mais ambiciosa e talvez – mesmo imperfeita e desigual como é – sua obra-prima.




Missa em Dó menor para solistas, coro e orquestra, Op. 148
Requiem em Ré bemol maior para solistas, coro e orquestra, Op. 148










Já tinham visto Schumann menino?