.: interlúdio :. Buena Vista Social Club: At Carnegie Hall (1998)

Buena Vista Social Club at Carnegie Hall

Quem era vivo na década de 1990 vai se lembrar desse grupo de músicos cubanos, muitos deles com mais de 70 ou mesmo 80 anos de idade, que de repente ficaram famosos a partir de um documentário. Fizeram um belíssimo disco de estúdio, ganharam Grammy, mas o disco que apresento aqui é o segundo, gravado ao vivo em Nova York quando estavam na crista da onda.

É um caso raro de músicos que fizeram carreiras mais ou menos discretas por décadas, tocando em cassinos, casas noturnas e coisas do tipo, alguns deles desde antes da Revolução Cubana de 1959… e de repente alcançaram um estrelato mundial, coisa que naqueles tempos pré-Youtube e pré-redes-sociais ainda passava necessariamente pelo controle de gravadoras e outras empresas com poder de distribuição internacional. Os músicos se conheciam há anos, mas não formavam exatamente uma banda, de modo que temos um tipo de jazz caribenho em que os arranjos são bastante fluidos, às vezes o trompete tem destaque, às vezes o piano (Rubén González, 1919-2003), às vezes a voz masculina e às vezes a voz feminina (Omara Portuondo, nasc. 1930 e ainda não se aposentou!). Eu insisto em chamar esse tipo de música de jazz, o que é uma certa alfinetada na concepção segundo a qual esse estilo estaria restrito às fronteiras de um certo país anglófono. É bastante curioso que antes de 1959 as músicas de Cuba e dos EUA eram bem entrelaçadas e logo depois os laços se cortaram por motivos políticos, com esses músicos – muitos deles já falecidos em 2025 – representando uma memória viva de fluxos culturais típicos de tempos idos.

Buena Vista Social Club At Carnegie Hall:
Chan Chan 4:46
De Camino A la Vereda 4:59
El Cuarto de Tula 8:01
La Engañadora 2:44
Buena Vista Social Club 5:59
Dos Gardenias 4:24
Quizás, Quizás 3:48
Veinte Años 4:07
Orgullecida 3:23
¿Y Tú Qúe Has Hecho? 3:33
Siboney 2:33
Mandinga 5:30
Almendra 5:49
El Carretero 5:39
Candela 7:00
Silencio 5:25

Rubén González – Piano

Hugo Garzón – Vocals
Ibrahim Ferrer – Vocals
Manuel ‘Puntillita’ Licea – Vocals
Omara Portuondo – Vocals
Pío Leyva – Vocals

Barbarito Torres – Laúd
Benito Suárez Magana – Guitar
Compay Segundo – Guitar, Vocals
Ry Cooder – Guitar, Producer
Eliades Ochoa – Guitar, Vocals

Jesús ‘Agauje’ Ramos – Trombone
Manuel ‘Guajiro’ Mirabal – Trumpet
Octavio Calderón – Trumpet

Orlando ‘Cachaíto’ López – Double Bass
Salvador Repilado – Double Bass

Alberto ‘Virgilio’ Valdés – Maracas, Backing Vocals
Amadito Valdés – Timbales
Angel ‘Terry’ Domech – Congas
Joachim Cooder – Drums, Percussion
Roberto García – Bongos, Cowbell, Guiro
Juan De Marcos González – Leader, Backing Vocals, Guiro

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Compay Segundo (1907-2003), autor da famosíssima canção que abre o álbum

Pleyel

 

Antonio Vivaldi (1678-1741): Concertos para órgão (Bussi, Kraemer, Musica Ad Rhenum, Wentz)

Antonio Vivaldi (1678-1741): Concertos para órgão (Bussi, Kraemer, Musica Ad Rhenum, Wentz)

É um bom disco raro de um repertório raríssimo. A gravadora deste CD é realmente obscura, mas os intérpretes são animados e de excelente nível. Vivaldi é às vezes é espetacular, mas nunca é ruim. Este fica bem acima da média e dificilmente alguma discoteca terá este CD. Os destaques são o concerto RV 335 e a surpreendente sonoridade do RV 779. Ambos me fizeram parar de trabalhar para dar-lhes atenção. Chutando um pouquinho, aposto que muitos destes concertos para órgão foram originalmente concebidos para outros instrumentos (como o violino ou o oboé) e depois adaptados ou transcritos para órgão. Isso eu acho, sei lá.

Antonio Vivaldi (1678-1741): Concertos para órgão (Bussi, Kraemer, Musica Ad Rhenum, Wentz)

01 – Concerto in D minor for violin, organ + strings RV541, 1 Allegro.mp3
02 – Concerto in D minor for violin, organ + strings RV541, 2 Grave.mp3
03 – Concerto in D minor for violin, organ + strings RV541, 3 Allegro.mp3

04 – Concerto in C major for violin, cello, organ + strings RV544a, 1 Allegro.mp3
05 – Concerto in C major for violin, cello, organ + strings RV544a, 2 Andante.mp3
06 – Concerto in C major for violin, cello, organ + strings RV544a, 3 Allegro.mp3

07 – Concerto in A major, Il Rossignuolo, for violin, organ + strings RV335, 1 Allegro.mp3
08 – Concerto in A major, Il Rossignuolo, for violin, organ + strings RV335, 2 Largo.mp3
09 – Concerto in A major, Il Rossignuolo, for violin, organ + strings RV335, 3 Allegro.mp3

10 – Concerto in F major for traverso, organ + strings RV767, 1 Alla breve.mp3
11 – Concerto in F major for traverso, organ + strings RV767, 2 Larghetto.mp3
12 – Concerto in F major for traverso, organ + strings RV767, 3 Allegro.mp3

13 – Concerto in C minor for violin, organ + strings RV766, 1 Allegro.mp3
14 – Concerto in C minor for violin, organ + strings RV766, 2 Largo.mp3
15 – Concerto in C minor for violin, organ + strings RV766, 3 Allegro.mp3

16 – Concerto in C major for violin, traverso + organ RV779, 1 Andante.mp3
17 – Concerto in C major for violin, traverso + organ RV779, 2 Allegro.mp3
18 – Concerto in C major for violin, traverso + organ RV779, 3 Largo e cantabile.mp3
19 – Concerto in C major for violin, traverso + organ RV779, 4 Allegro.mp3

20 – Concerto in F major for violin, organ + strings RV542, 1 Allegro.mp3
21 – Concerto in F major for violin, organ + strings RV542, 2 Alla franchese.mp3
22 – Concerto in F major for violin, organ + strings RV542, 3 Allegro.mp3

Marcelo Bussi, órgão
Manfred Kraemer, violino
Balázs Máté, violoncelo
Jed Wentz, flauta transversa
Musica Ad Rhenum

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Johannes Brahms (1833-1897)

PQP

Piotr Illich Tchaikovsky (1840-1893): Piano Concerto Nº 1, Op. 23 / Serguei Rachmaninov (1873-1943): Concerto para Piano Nº 3, Op. 30 (Argerich, Chailly, Kondrashin)

Piotr Illich Tchaikovsky (1840-1893): Piano Concerto Nº 1, Op. 23 / Serguei Rachmaninov (1873-1943): Concerto para Piano Nº 3, Op. 30 (Argerich, Chailly, Kondrashin)

“So go ahead: live dangerously.”

Martha Argerich está impressionante nesta versão do Concerto nº 3 de Rachmaninov. Sai fogo dos seus dedos, e o piano parece que vai explodir a qualquer momento. Ricardo Chailly sofre para acompanhá-la. Com certeza uma das mais fortes e expressivas interpretações deste concerto, e, sem dúvida, uma das melhores gravações já feitas deste concerto. Como é ao vivo, experimentem ouvir com fone de ouvido, para captar os ruídos externos, tosses, ranger de cadeiras… é uma experiência muito interessante, e que dá um toque de realismo a esta gravação.

Isto é loucura em ação. A Terceira de Rachmaninoff, com Martha Argerich, é a mais rápida e fisicamente emocionante que você já ouviu. Ela foi gravada ao vivo, e os equilíbrios são um pouco estranhos. Também dá para perceber que Riccardo Chailly e sua orquestra estão se esforçando muito para acompanhá-la, enquanto antecipam o que ela fará em seguida — mas e daí? Isto é o mais perto que se pode chegar de uma experiência de combustão espontânea e sobreviver. A de Tchaikovsky é, se possível, ainda mais selvagem, com algumas notas perdidas. Mas com uma artista como Argerich, você simplesmente não pode julgar a execução nota por nota. Então, vá em frente: viva perigosamente. — David Hurwitz

Juntamente com o Rach 3 o cd também traz o belo Concerto nº 1 para Piano de Tchaikovsky, um dos favoritos deste que vos escreve. Já conhecia esta gravação do tempo do vinil, na verdade, ainda tenho esse LP. E sempre tive muito carinho por ele. O grande Kiril Kondrashin, já em seus últimos anos de vida, acompanha toda a impetuosidade de Martha Argerich.

Serguei Rachmaninov (1873-1943) – Piano Concerto nº3, in D Minor, op. 30

1. Piano Concerto No.3 in D minor, Op.30 – 1. Allegro ma non tanto
2. Piano Concerto No.3 in D minor, Op.30 – 2. Intermezzo (Adagio)
3. Piano Concerto No.3 in D minor, Op.30 – 3. Finale (Alla breve)

Martha Argerich – Piano
Riccardo Chailly – Conductor
Berlin Radio Symphony Orchestra

Piotr Illich Tchaikovsky (1840-1893) – Piano Concerto nº1, in B Flat Minor, op. 23

4. Piano Concerto No.1 in B flat minor, Op.23 – 1. Allegro non troppo e molto maestoso – Allegro con spirito
5. Piano Concerto No.1 in B flat minor, Op.23 – 2. Andantino semplice – Prestissimo
6. Piano Concerto No.1 in B flat minor, Op.23 – 3. Allegro con fuoco

Martha Argerich – Piano
Kiril Kondrashin – Conductor
Bavarian Radio Symphony Orchestra

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

A Rainha Martha

FDP

Brahms: Concerto para Piano e Orq. No 2 & Mozart: Concerto para Piano e Orq. No 23 (Rubinstein, Krips, Wallenstein)

Brahms: Concerto para Piano e Orq. No 2 & Mozart:  Concerto para Piano e Orq. No 23 (Rubinstein, Krips, Wallenstein)

O maestro Josef Krips gostava de fish and chips, mas só lhe davam crips. Chips são batatas fritas, um lanche clássico. É provavelmente o termo que você mais viu ou ouviu em filmes ou programas de TV. Contrariamente a Krips, eu sou das poucas pessoas do mundo que não acha batatas fritas uma iguaria de revirar os olhos. Como, é óbvio, mas jamais peço em bares e restaurantes. Já os crips… Crips é aquele biscoito crocante com manteiga, aquela coisa nojenta que nos faz felizes, nos torna gordos e por fim nos mata. Os Crips também são gangues de rua afro-americanas, com origem em Los Angeles. Eles são conhecidos por atividades criminosas como assassinatos, roubos e tráfico de drogas, e por vestirem roupas azuis, como os gremistas. Com toda esta informação, desejo-lhe uma boa audição deste CD gravado no mês passado.

Brahms: Concerto para Piano e Orq. No 2 & Mozart: Concerto para Piano e Orq. No 23 (Rubinstein, Krips, Wallenstein)

Concerto No. 2 In B-Flat, Op. 83
Composed By – Johannes Brahms

Conductor – Josef Krips
Piano – Arthur Rubinstein
Orchestra – RCA Symphony Orchestra*
1 Allegro Non Troppo
2 Allegro Appassionato
3 Andante
4 Allegretto Grazioso

Concerto No. 23 In A, K. 488
Composed By – Wolfgang Amadeus Mozart

Conductor – Alfred Wallenstein
Piano – Arthur Rubinstein
Orchestra – RCA Victor Symphony Orchestra
5 1. Allegro
6 2. Adagio
7 3. Allegro assai

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

PQP

Dmitri Shostakovich (1906-1975): The Two Piano Trios, Op. 8 & Op. 67 / Cello Sonata Op. 40 (Guarneri Trio Prague)

Dmitri Shostakovich (1906-1975): The Two Piano Trios, Op. 8 & Op. 67 / Cello Sonata Op. 40 (Guarneri Trio Prague)

O Trio para Piano Nº 1, Op. 8, é uma das primeiras composições de câmara de Dmitri Shostakovich. Foi tocado privadamente no início de 1924, mas só foi publicado na década de 1980. Vinte anos depois, o compositor escreveu o mais conhecido Trio para Piano nº 2, Op. 67. Originalmente intitulada Poème, o Trio Nº 1 foi composto em 1923, quando o compositor tinha dezesseis anos e estava no Conservatório de Leningrado há três. Quando a partitura estava sendo preparada para publicação, seis décadas depois, os últimos 22 compassos da parte para piano haviam sido perdidos, tendo sido completados pelo aluno de Shostakovich, Boris Tishchenko. Depois vem o Trio nº 2, uma obra bastante sombria. Escrita em 1942, ela reflete tanto os horrores da guerra quanto a morte de alguns amigos próximos. O Trio Guarneri responde com aguda sensibilidade às oscilações de humor da música, às vezes assustadoramente soturna, opressiva e ameaçadora. A execução do finale é profundamente comovente, oscilando entre a paixão feroz e a desolação absoluta. A Sonata para Violoncelo, Op. 40, foi composta em 1934, no período em que Shostakovitch apaixonara-se por uma jovem estudante, o que ocasionou um efêmero divórcio de sua esposa Nina. O compositor dedicou esta sonata ao violoncelista Victor Lubatski e ambos a estrearam em Moscou, no dia 25 de dezembro de 1934. O primeiro movimento (Allegro non troppo) é escrito em forma sonata. O primeiro tema, bastante extenso, é apresentado pelo violoncelo, acompanhado por arpeggios do piano e depois desenvolvido por este até seu clímax; o segundo tema, muito mais delicado, é, contrariamente, apresentado pelo piano e imitado pelo violoncelo. Durante o desenvolvimento o primeiro tema ganha motivos rítmicos, mas logo o afetuoso segundo tema reaparece. Tudo parece em ordem, encaminhando-se para o final do movimento, mas Shostakovitch nos surpreende ao inserir alguns acordes em staccato do piano, acompanhados por notas sustentadas pelo violoncelo, o que faz com que a música torne-se quase estática. É uma estranha preparação para o que se ouvirá no segundo movimento (Allegro) o qual é um scherzo típico de Shostakovitch. Trata-se de um frenético ostinato que é interrompido por um tema apresentado pelo piano que, apesar de mais tranquilo, é também muito pouco contemplativo. O terceiro movimento (Largo) faz-lhe intenso contraste, pois é uma melodia tranquila e vocal, acompanhada pelo piano de forma introspectiva, dissonante e um tanto fúnebre. O Allegro final é um rondó bastante irônico no qual o tema principal é apresentado três vezes, ligados, a cada intervalo, por estranhas e vertiginosas cadenzas.

Dmitri Shostakovich (1906-1975): The Two Piano Trios, Op. 8 & Op. 67 / Cello Sonata Op. 40 (Guarneri Trio Prague)

1 Piano Trio No. 1, In C Minor, Op. 8 12:21

Piano Trio No. 2, In E Minor, Op. 67 (25:18)
2 I. Andante – Moderato – Più Mosso 6:53
3 II. Allegro Con Brio 3:06
4 III. Largo 5:20
5 IV. Allegretto – Pesante – Adagio 9:51

Sonata In D Minor, Op. 40, For Violoncello And Piano (26:15)
6 I. Allegro Non Troppo – Largo – Poco Con Moto 11:36
7 II. Allegro 3:04
8 III. Largo 7:06
9 IV Allegro – Risoluto 4:16

Cello – Marek Jerie
Ensemble – Guarneri Trio Prague
Piano – Ivan Klánský
Violin – Čeněk Pavlík

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Trio Guarneri de Praga finalizando uma obra e aguardando seu aplauso. Sim, falei contigo mesmo, meu!

PQP

György Ligeti (1923-2006): Clear or Cloudy (CDs 3 e 4, de 4) — 28/05/2023 — 100 anos de Ligeti!

György Ligeti (1923-2006): Clear or Cloudy (CDs 3 e 4, de 4)  — 28/05/2023 — 100 anos de Ligeti!

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Mais Ligeti aqui.

Intrigante, surpreendente, engraçada, Ligeti é a música do final do século XX e além. Os trabalhos incluem peças para instrumentos solo (órgão, piano), para conjuntos de câmara desde quartetos até orquestras de câmara, mais obras para coral, concertos instrumentais e para grande orquestra. Os vários conjuntos — Ensemble Intercontemporain, Orquestra de Câmara da Europa, London Sinfonietta, Orquestra Filarmônica de Viena, Coro da Rádio Alemã de Hamburgo, Quarteto Hagen, Vienna Brass Soloists, irmãos Kontarsky, Quarteto LaSalle e vários outros solistas excepcionais — , estão sob a direção de luminares como Claudio Abbado, David Atherton, e Pierre Boulez. E quem não rir com as Aventures é mulher do padre ou come uma freira feia sob pagamento (módico, com dinheiro dos crentes). Destaques também para os ESPLÊNDIDOS Concertos para Piano e para Violino.

György Ligeti (1923-2006): Clear or Cloudy (CDs 3 e 4, de 4)

CD 3:

1. Aventures for 3 singers and 7 instrumentalists (1962) [12:01]
Nouvelles Aventures for 3 singers and 7 instrumentalists
2. 1. Sostenuto [6:17]
3. 2. Agitato molto [5:12]

Cello Concerto (1966)
4. 1. Quarter = 40: Attacca [6:55]
5. 2. (Lo stesso tempo) [8:14]
Jean-Guihen Queyras
Ensemble Intercontemporain, Pierre Boulez

Chamber Concerto for 13 instrumentalists
6. 1. Corrente (Fliessend) [5:03]
7. 2. Calmo, sostenuto [5:48]
8. 3. Movimento preciso e meccanico [3:51]
9. 4. Presto [3:32]
Ensemble Intercontemporain, Pierre Boulez

Mysteries of the Macabre for Trumpet and Piano
10. Arr. Elgar Howarth [6:52]
arr. Elgar Howarth
Håkan Hardenberger, Roland Pöntinen

Double Concerto for flute, oboe & orchestra
11. 1. Calmo, con tenerezza [8:08]
12. 2. Allegro corrente [7:51]
Jacques Zoon & Douglas Boyd
Chamber Orchestra of Europe, Claudio Abbado

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

CD 4:
1. Die große Schildkröten-Fanfare vom Südchinesischen Meer [0:37]
Håkan Hardenberger

Three Pieces for two Pianos
2. 1. Monument [4:15]
3. 2. Selbstportrait [7:08]
4. 3. Bewegung [4:56]
Aloys Kontarsky, Alfons Kontarsky

Études pour piano (1985)
Premier livre
5. Étude 2: Cordes à vide [3:36]
6. Étude4: Fanfares [3:24]
Gianluca Cascioli

Piano Concerto (1985-88)
7. 1. Vivace molto ritmico e preciso – attacca subito: [3:54]
8. 2. Lento e deserto [7:01]
9. 3. Vivace cantabile [4:24]
10. 4. Allegro risoluto, molto ritmico – attacca subito: [4:48]
11. 5. Presto luminoso: fluido, costante, sempre molto ritmico [3:17]
Pierre-Laurent Aimard
Ensemble Intercontemporain, Pierre Boulez

Violin Concerto (1992)
12. 1. Praeludium: Vivacissimo luminoso – attacca: [4:23]
13. 2. Aria, Hoquetus, Choral: Andante con moto – attacca: [8:11]
14. 3. Intermezzo: Presto fluido [2:44]
15. 4. Passacaglia: Lento intenso [5:55]
16. 5. Appassionato: Agitato molto [7:12]
Saschko Gawriloff
Ensemble Intercontemporain, Pierre Boulez

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Ma che...
Ma che…

PQP

Nagasaki, Ano 80 – A Música dos Gaikokujin [Schnittke – Schafer – Haitzeg – Offermans – Schubert]

9.8.1945 11:02 [Foto do autor]

Abençoada por um clima ameno e uma localização privilegiada, a linda Nagasaki já tinha para contar uma longa história de interação com forasteiros antes de, há exatos oitenta anos, receber de seus céus a mais hedionda das surpresas.

Os primeiros a chegar foram os portugueses, a quem chamaram nanbanjin (“bárbaros do sul”). Depois, os ingleses e neerlandeses foram algo melhor recebidos, decididamente não por sua aparência (que os levou a serem denominados kōmōjin,“gente ruiva”), e sim porque em sua pauta costumava estar só o comércio, e não o proselitismo católico que acompanhava os lusos, reprimido ao longo de vários xogunatos com uma violência que transformou o Japão numa usina de mártires. A reabertura dos portos japoneses, já no século XIX, trouxe ao maravilhoso porto natural de Nagasaki uma variada fauna estrangeira que aquela nação, provavelmente a de maior homogeneidade étnica de todos os tempos, perplexamente denominou ijin (“pessoas diferentes”). Com o tempo, consolidou-se o termo gaijin (“pessoa de fora”), que, aos poucos, ganhou uma conotação pejorativa que o faz ser preterido em conversas educadas em prol do polido gaikokujin (“pessoa de país estrangeiro”).

 

IX – YAIZU

A primeira bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima em 1945, seguida por uma segunda bomba sobre Nagasaki.
Em 1954, uma bomba de hidrogênio explodiu no atol de Bikini. A tripulação do Daigo Fukuryu Maru, um barco de pesca do porto de Yaizu, foi coberta pelas cinzas da morte. Seis meses depois, Kuboyama Aikichi morreu. Os japoneses foram vítimas de armas nucleares três vezes.

[Posfácio, maio de 1983]
Não apenas os japoneses, mas também os micronésios próximos ao atol de Bikini foram atingidos pela precipitação radioativa mortal da bomba de hidrogênio. Toda a ilha foi poluída. Aqueles que fugiram retornaram posteriormente à sua terra natal, Bikini, apenas para desenvolver câncer e leucemia devido à radiação residual. Muitos ainda sofrem.
Yaizu e Bikini — um destino compartilhado.

[1955]

Atacada meros três dias depois de Hiroshima, Nagasaki pareceu sempre tocar segundo violino para sua icônica irmã de desgraça. Hiroshima foi, desde o começo, a primeiríssima da infame lista de alvos escolhidos a dedo pelos perpetradores entre as mui poucas cidades japonesas de algum tamanho que ainda não tinham sido arrasadas por bombardeios incendiários (porque de nada valeria, segundo suas mentes brilhantes, testar o poder de destruição da arma nova onde só houvesse escombros). Já Nagasaki e suas duzentas e cinquenta mil almas não eram sequer o alvo preferencial da alegre trupe do Bockscar naquela quinta-feira de tempo casmurro: a ordem era de atacar a cidade de Kokura (hoje distrito de Kita-Kyushu), mas os céus encobertos fizeram a carga mortífera ser transportada ao alvo alternativo. As nuvens que salvaram Kokura quase repetiram a dose sobre Nagasaki, até que uma infeliz brecha entre elas permitiu o despejo de Fat Man diretamente sobre a Catedral de Urakami, aniquilando imediatamente quarenta mil pessoas e outras tantas nos meses seguintes.

Se Hiroshima, plana como uma panqueca, fora arrasada por completo por um artefato menos poderoso que Fat Man, Nagasaki acabou relativamente poupada pelo relevo montanhoso e pela localização periférica do hipocentro da explosão. Além disso, o ataque, que atingiu em cheio o subúrbio católico de Urakami, fez um número desproporcional de vítimas entre dois grupos tradicionalmente segregados: os supracitados cristãos, e os burakumin, casta associada a profissões consideradas impuras, em especial aquelas ligadas à morte, como coveiros, açougueiros e trabalhadores de curtumes. Assim, com o fardo mais letal caindo sobre lombos já marginalizados, Nagasaki nunca considerou o ataque, ao contrário de Hiroshima, como parte central de sua identidade. “A bomba caiu em Urakami, não em Nagasaki”, dizia-se na época, enquanto os jornais mostravam a catedral destruída, na tentativa de associar a desgraça às suas vítimas cristãs, e alguns praticantes do xintoísmo, então religião oficial do Império, insinuavam que a destruição vinha como castigo pela aceitação da religião agourenta trazida do estrangeiro.


X – PETIÇÃO
Parem a bomba atômica! Parem a bomba de hidrogênio! Parem a guerra!
O apelo das mães do bairro de Suginami, em Tóquio, espalhou-se por todo o Japão. Crianças, mães, pais, idosos e trabalhadores de todos os tipos assinaram a petição.
Pela primeira vez, o clamor abafado do povo foi ouvido, e milhões assinaram a petição pela paz.

[1955]


Takashi Nagai (1908-1951)

Os cristãos de Nagasaki, uma vez mais acuados, não demorariam a encontrar seu ícone em meio às ruínas: Takashi Nagai, um médico que sobreviveu a explosão e, a despeito de seus graves ferimentos, dedicou-se de maneira abnegada a cuidar dos feridos. Ao retornar à sua casa, dias depois do ataque, encontrou, de sua esposa, apenas alguns ossos e o rosário derretido. Católico devoto, tido como santo pelos correligionários, Nagai foi uma figura controversa por afirmar que a destruição da comunidade cristã fora um sacrifício divinamente inspirado que, aceito por Deus, teria posto um fim à guerra – o que, para seus muitos críticos, privava as vítimas do ataque, dentre outros, do direito à ira, à revolta e à busca de reparação. Antes de morrer de leucemia aos quarenta e três anos, certamente em consequência da radiação, publicou suas memórias, intituladas “Os Sinos de Nagasaki”, que foram levadas às telas do cinema num longa-metragem homônimo de grande sucesso. Sua canção-título, Nagasaki no Kane, composta pelo veterano Yuji Koseki em 1949, viria a ser a primeira obra musical a citar o ataque, ainda que de maneira muito tangencial: à sombra da ferrenha censura das forças ocupantes, a canção, discorre sobre os sentimentos de Nagai, enlutado e mortalmente doente, a alentar-se de esperança ao ouvir os sinos da catedral reconstruída – sem que haja qualquer menção ao que a destruiu:


Mesmo olhando para o céu mais brilhante,
sinto dolorosamente a tristeza mais profunda.
No mundo humano sempre ondulante,
sou apenas uma flor silvestre passageira:
Tranquilamente, alegremente, em Nagasaki,
Soam os sinos de Nagasaki.

Convocada por Deus, minha esposa
Voltou para o céu, me deixando só neste mundo.
Quando olho para o rosário que deixou de lembrança,
Só encontro os traços das minhas lágrimas:
Tranquilamente, alegremente, em Nagasaki,
Soam os sinos de Nagasaki”

[traduzido livremente pelo autor]


Nagai também publicou vários poemas que foram postos em música. Seu principal parceiro foi o hibakusha Fumio Kino, um músico amador que, como ele, perdera a casa e a família no ataque. Uma das composições da dupla, Ano ko (“Aquela criança”, 1949), homenageia os trezentos alunos da Escola Primária Yamasato incinerados pela explosão, ao contemplar os vestígios deixados por um deles:


Os rabiscos permanecem na parede,
O nome daquela criança,
rabiscado em letras infantis.

Grito em voz baixa e
me esforço para ouvir:

Ah, se aquela criança ainda estivesse viva…

[traduzido livremente pelo autor]


A escola foi reconstruída, e Ano Ko é anualmente cantada por seus alunos nas cerimônias de 9 de agosto em Nagasaki, assim como outra composição de Kino, Kora no mitama yo (“As Almas das Crianças”), homenagem à Escola Primária Shiroyama e suas quatrocentas vítimas, também honradas em coro por seus colegas de hoje em dia.


XI – MÃE E UMA CRIANÇA

Pais foram forçados a abandonar filhos presos sob casas destruídas, filhos abandonaram pais, maridos abandonaram esposas e esposas abandonaram maridos, todos em fuga frenética do incêndio. Essa era a realidade na época da bomba atômica.
Ainda assim, em meio a tudo isso, muitos testemunharam a visão milagrosa de crianças que sobreviveram, seguras firmemente nos braços de suas mães mortas.

[1959]


Afora esses tributos pequenos, ainda que muito célebres, houve poucas outras contribuições de compositores japoneses em honra às vítimas do ataque a Nagasaki. A mais significativa delas viria quase trinta anos depois de Fat Man: em 1974, a cidade encomendou um poema sinfônico com seu nome a Ikuma Dan, que regeu a estreia e, aparentemente, perdeu sua partitura. Nagasaki passou cinquenta anos sem reapresentações até ser reconstruído e novamente executado ano passado, vinte e três anos após a morte do compositor. Outra contribuição, muito singela, é a canção Senbazuru (“Mil Grous”), composta por Michiru Ōshima com letra da hibakusha Kanae Yokoyama. Nascida em Nagasaki, Ōshima estreou-a na cerimônia do quinquagésimo aniversário do ataque à sua cidade, dedicando-a à menina Sadako Sasaki. Exposta à radiação em Hiroshima e desenganada pela leucemia, Sadako acreditava poder salvar-se se completasse mil tsuru (grous, símbolos tradicionais de convalescência e longevidade) em origami, a arte japonesa de dobraduras em papel. Sadako faleceu ao completar 646, e seus colegas providenciaram para seu funeral os tsuru que faltavam. Desde então, centenas de milhares de tsuru são anualmente enviados ao memorial consagrado a Sadako em sua cidade por gente do mundo todo – inclusive este escriba.


Reafirmando o compromisso com a paz,
Nós dobramos grous escarlates.

Almas de coração puro,
Nós dobramos grous brancos.

Em emoções ardentes,
Nós dobramos grous vermelhos.


Como puderam perceber, a indignação e as evocações cataclísmicas tão prevalentes nas composições japonesas inspiradas pelo ataque a Hiroshima estão virtualmente ausentes naquelas alusivas a Nagasaki. “Hiroshima se enfurece, Nagasaki reza”, diz-se no Japão. E parece mesmo que sim: ao reconstruir-se como a cidade aberta ao mundo que sempre almejou ser, Nagasaki tentou dar de ombros para as lembranças dolorosas da guerra. Seus visitantes de hoje em dia, diferentemente de quem vai a Hiroshima, só encontram indícios dos horrores de 9 de agosto de 1945 se os buscarem muito ativamente. Por isso, talvez, a maior parte dos tributos musicais que lhe foram prestados não veio de compositores japoneses, e sim de dedicados gaikokujin.

O primeiro entre eles (e, por muito tempo, também o único) foi o enfant terrible Alfred Schnittke, que apresentou seu oratório Nagasaki (1958) como peça de formatura aos catedráticos de composição do Conservatório de Moscou. Levou tomates, como sempre, e foi acusado de formalismo – o que lhe deve ter inspirado gargalhadas histéricas pelo resto de sua vida, cada vez que imaginava como a sisuda banca examinadora reagiria ao poliestilismo que marcaria seu estilo maduro. Mais ainda: foi obrigado a aguar as tintas sonoras com que descreveu a explosão e suas consequências, o que descaracterizou tanto a obra que o levou a renegá-la e esquecê-la. O oratório só voltaria a ser apresentado na forma original quarenta e oito anos após sua estreia, em sua primeira apresentação pública, na magnífica Cidade do Cabo. Felizmente para nós outros, a sorte resolveu sorrir um pouco para Schnittke depois de sua morte, e hoje há em sua Rússia natal tanto um Instituto Musical como uma orquestra e um coro que levam seu nome, e são eles que lhes trarão Nagasaki na gravação que ofereço, exatamente como seu autor a concebeu.

Hic iacet Alfredus

Ao contrário daquela peça homônima mais célebre (baixe-a aqui), escrita por Penderecki num exercício de abstração e dedicada à vítimas de Hiroshima somente a posteriori,  o canadense R. Murray Schafer (autor do interessantíssimo livretinho A Nova Paisagem Sonora) tinha em mente os gritos, queimaduras e ventos nucleares que assolaram Nagasaki ao compor sua Trenodia (1970). Nas palavras do autor:

Os textos lidos pelos jovens narradores em ‘Trenodia’ são relatos de crianças testemunhando o bombardeio atômico de Nagasaki em 9 de agosto de 1945. A orquestra e os coros ilustram essa cena aterrorizante. Recebi a encomenda de uma peça para a Orquestra Sinfônica Júnior de Vancouver logo após chegar para lecionar na Universidade Simon Fraser.

Eu queria escrever uma peça para aqueles jovens intérpretes que os fizesse refletir sobre questões sociais. A Guerra Fria estava a todo vapor em 1967, e os estoques de armas nucleares estavam crescendo rapidamente. Eu sabia que esses relatos extremamente explícitos de sofrimento e morte afetariam tanto os intérpretes quanto seus pais, forçando-os a considerar seriamente as consequências de uma guerra nuclear. Como havia inúmeras passagens em que os intérpretes eram obrigados a criar sua própria música para acompanhar textos específicos, eles tinham um papel mais sério a desempenhar do que se tivessem simplesmente herdado uma expressão pronta do compositor. Houve lágrimas após a apresentação.

Mas também me lembro de um homem que se aproximou de mim, desafiador, e disse: ‘Vamos lançar de novo!’. Remoí por meses que uma obra dedicada à causa da paz tenha provocado sentimentos tão raivosos. Mas, graças a Deus, nenhuma bomba atômica foi lançada desde então“.


XII – LANTERNAS FLUTUANTES
Em 6 de agosto, os sete rios de Hiroshima enchem-se de lanternas flutuantes, com os nomes de pais, mães e irmãs gravados.
A maré muda antes que as lanternas cheguem ao mar, e elas são levadas de volta para a cidade pelas ondas. Agora apagadas, a massa de lanternas amassadas flutua nas correntes escuras do rio.
Naquele dia, no passado, esses mesmos rios fluíam densos de cadáveres.

[1968]



Igualmente inventiva é a composição Vozes de Nagasaki, do flautista neerlandês Wil Offermans, que faz parte da Suíte Dejima, criada por Offermans em conjunto com o Templo Kofuku-ji em Nagasaki para celebrar os 400 anos de relações entre os Países Baixos e o Japão. Inspirada pela longa tradição de interações culturais da cidade, a peça descreve sua beleza e a da natureza circundante. As “vozes aleatórias” humanas previstas na partitura representam vozes do passado e, por isso, são expressões de alegria, de medo, de amor e da existência humana em geral. Para a apresentação, as várias partes de flauta também podem ser duplicadas, com um grupo maior, de preferência o público, assumindo as “vozes aleatórias”. O resultado é encantador.


XIII – MORTE DO PRISIONEIRO DE GUERRA

Cerca de trezentos mil japoneses morreram devido às bombas atômicas que vocês lançaram. Mas suas bombas atômicas também mataram 23 jovens do seu próprio país. Americanos que haviam saltado de paraquedas em ataques aéreos antes do bombardeio de Hiroshima foram mantidos lá como prisioneiros de guerra. Alguns disseram que também havia mulheres prisioneiras de guerra.
Nós nos perguntamos como elas eram quando morreram, que roupas, que sapatos usavam.
Fomos a Hiroshima e ficamos chocados com o que descobrimos. Como os prisioneiros de guerra americanos estavam mantidos em abrigos subterrâneos perto do centro da explosão, eles provavelmente teriam morrido em pouco tempo. Ou, talvez, alguns pudessem ter sobrevivido. Mas, antes que seu destino pudesse ser conhecido, os japoneses os massacraram, soubemos.
Tremíamos enquanto pintávamos a morte dos prisioneiros de guerra americanos.
[1971]


A obra mais significativa em cinco décadas a se inspirar em Nagasaki veio a público ano passado. Encomendada pela Orquestra Sinfônica de Saint Paul, capital do estado norte-americano de Minnesota e cidade-irmã de Nagasaki desde 1955, Green Hope after Black Rain (“Esperança Verde após Chuva Negra”) foi composta por Steve Heitzeg em tributo não só às vítimas dos ataques ao Japão, mas também aos japoneses e seus descendentes que foram confinados em campos de concentração nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra. Seu título faz referência às imensas canforeiras do santuário Sannō de Nagasaki, que, arrancadas e calcinadas pela explosão, foram dadas como mortas até que lhe surgissem brotos. Replantadas no seu lugar original, servem desde então de símbolo da reconstrução da cidade e da esperança de seus moradores em que da devastação, por fim, algum dia ressurgiria a vida. Nas palavras de seu compositor:

Compus ‘Esperança Verde Após a Chuva Negra’ (Sinfonia para os Sobreviventes de Manzanar, Hiroshima e Nagasaki) em homenagem aos sobreviventes dos campos de concentração nipo-americanos (o maior dos quais foi Manzanar, no estado da Califórnia] e às pessoas e árvores bombardeadas em Hiroshima e Nagasaki.

A sinfonia é um apelo à paz e um protesto contra a injustiça, a bomba atômica e outras armas de destruição em massa, e a insanidade da guerra.

A partitura inclui vários instrumentos de percussão natural, como galhos, folhas, flores de cerejeira secas e vagens de sementes de ginkgo biloba, eucalipto, cânfora e cerejeiras de Hiroshima e Nagasaki, um tambor taiko, pedras do campo de concentração nipo-americano de Manzanar e de Hiroshima, um sino de templo e guirlandas de tsuru de origami.”

A gravação que compartilho foi feita a partir da transmissão por rádio da estreia mundial da obra, dada pela orquestra de Saint Paul no ano passado. Para minha grata surpresa, quando esta postagem já estava no prelo, soube que a première japonesa aconteceu há algumas semanas, quando as Orquestras de Saint Paul e de Nagasaki tocaram juntas no Japão. Melhor ainda: ela foi gravada em vídeo e está disponível na cyberesfera:

Minha homenagem às vítimas de Nagasaki encerra-se com a mais improvável das contribuições. Afinal, enquanto o garoto Franz Schubert escrevia Heidenröslein em 1815, aos dezoito anos, o Japão vivia o isolamento do período Edo, samurais singravam seu território a serviço de senhores feudais, e tanto aeronaves quanto a fissão nuclear estavam ainda muito distantes dos céus japoneses. Na segunda metade daquele século, a abertura dos portos às nações estrangeiras levaria a organização política e a sociedade do país a rápidas transformações. A música europeia tomou de assalto os salões recém-formados, e a educação musical foi incorporada ao currículo das escolas. A urgência em criar e expandir um repertório para os conjuntos vocais escolares levou não só a arranjos de canções tradicionais, como também a versões japonesas de canções europeias – entre elas, a da pequena rosa baldia imaginada por Goethe, transformada em japonês numa rosa selvagem (Nobara), que se tornou imensamente popular entre as crianças do Japão, muitas das quais sequer imaginam que a música foi composta por um genial gaikokujin.

Os leitores-ouvintes que assistiram a Rapsódia em Agosto (1991), o penúltimo filme do demiurgo Akira Kurosawa, talvez tenham reconhecido nele a melodia da rosa baldia, cantada pelas crianças que visitam a avó hibakusha em Nagasaki e ouvem da anciã suas reminiscências de luto e ressentimento. Talvez também tenham, como eu, achado a primeira hora e tanto do filme algo simplória e esquemática, e assim mordido a isca deixada pelo velho Kurosawa, mestre consumado do movimento e da manipulação, só para serem conduzidos àquela cena final que…

Bem, que nunca mais lhes permitirá escutar Nobara sem que ela lhes rasgue os corações.

XIV – CORVOS

Japoneses e coreanos se parecem. Como distinguir um rosto impiedosamente queimado do outro?
‘Após a bomba, os últimos cadáveres a serem eliminados foram os coreanos. Muitos japoneses sobreviveram à bomba, mas pouquíssimos coreanos. Não havia nada que pudéssemos fazer. Corvos vieram voando, muitos deles. Os corvos vieram e comeram os globos oculares dos cadáveres coreanos. Eles comeram os globos oculares.’ (Dos escritos de Ishimure Michiko.)
Os coreanos foram discriminados até mesmo na morte. Os japoneses discriminaram até mesmo os cadáveres. Ambos foram vítimas asiáticas da bomba.
Lindos chima-jeogori [traje nacional coreano], voem de volta para a Coreia, para o céu sobre a pátria. Humildemente oferecemos esta pintura. Rezamos.
Cerca de cinco mil coreanos morreram em massa em Nagasaki, para onde foram levados como trabalho forçado para os estaleiros da Mitsubishi. Há histórias semelhantes sobre coreanos em Hiroshima.
Somente na Coreia do Sul, quase quinze mil hibakusha vivem hoje sem reconhecimento oficial de seu status como sobreviventes da bomba atômica.
[1972]

 

NAGASAKI, ANO 80

Yūji KOSEKI (1909-1989)
Letra de Hachirō Satō

1 – Nagasaki no Kane (“Os Sinos de Nagasaki”)

Yumi Aikawa, contralto
Meisterbrass Quartett


Fumio KINO (1907-1970)
Poemas de Takashi Nagai (1908-1951)

2 – Ano ko (“Aquela Criança”)
3 – Shirayuri otome (“Virgens como os Lírios Brancos”)

Ensemble Vocal Ephémère

Fumio KINO
Poema de Hachirō Shimauchi

4 – Kora no mitama yo (“As Almas das Crianças”)

Coro dos alunos da Escola Municipal Shiroyama de Nagasaki


Alfred Garrievich SCHNITTKE (1934-1998)

Nagasaki, oratório para coro misto, mezzo-soprano, orquestra sinfônica e órgão, Op. 19

5 – “Nagasaki, cidade da dor” (poema de Anatoly Sofronov )
6 – “A Manhã” (poema de Tōson Shimazaki )
7 – “Naquele dia fatídico” (poema de A. Sofronov)
8 – “Nas Cinzas” (poema de Eisaku Yoneda)
9 – “O Sol da Paz” (poema de Georgy Fere)

Ksenia Vyaznikova, mezzo-soprano
Evgenia Krivitskaya, órgão
Coro e Orquestra Sinfônica do Instituto Estatal de Música “Schnittke” de Moscou
Igor Gromov, regência


Raymond Murray SCHAFER (1933-2021)

10 – Threnody (“Trenodia”), para coro e orquestra de jovens, cinco narradores e música eletrônica (1970)

Carole Hoskins, Elizabeth Luther, Ellen Procunier, Eric Mah e Marg Turl, narradores
Lawrence Park Collegiate Choir
Lawrence Park Collegiate Orchestra
North Toronto Collegiate Orchestra
John P. Barron, regência


Steve HEITZEG (1959)

Green Hope After Black Rain (“Esperança Verde após Chuva Negra), Sinfonia para os sobreviventes de Manzanar, Hiroshima e Nagasaki (2024)

11 – Peregrinação ao Campo de Internação de Manzanar (um conjunto de variações contra a injustiça, dedicado à memória de Sue Kunitomi Embrey): “Remoção Forçada” – “Na Entrada do Campo de Internação de Manzanar” – “Ireito (Torre de Consolação da Alma)” – “No Túmulo do Bebê Toshiro ‘Jerry’ Ogata” – “Relembrando Manzanar (Nidoto Nai Yoni: ‘Que isso não aconteça novamente.’)” – “Os fantasmas de Manzanar”
12 – Vento sem Retorno (para os hibakusha – o povo bombardeado), dedicado a Setsuko Thurlow: “Sombras Nucleares” – “Guirlandas de tsuru de Papel de Origami” – “Rumo a Mil tsuru de Origami”
13 – Sementes da Paz (para as hibakujumoku — as árvores bombardeadas de Hiroshima e Nagasaki), dedicada a Nassrine Azimi e Tomoko Watanabe: “Dança das Sementes” — “Entre Árvores Sagradas” — “Testemunha das Árvores” — “As Cerejeiras de Kayoko” (21 notas para os 21 dias de busca de Tsue Hayashi por sua filha Kayoko) — “A Cura das Folhas”

The Saint Paul Civic Symphony Orchestra
Jeffrey Stirling, regência

Gravação da estreia mundial


Wil OFFERMANS (1959)

14 – Voices of Nagasaki (“Vozes de Nagasaki”) para conjunto de flautas

Conjunto de Flautas de Zagreb


Ikuma DAN (1924-2001)

15 – Nagasaki, Poema Sinfônico para coro misto e orquestra (1974)

Coro da Federação Coral de Nagasaki
Orquestra Sinfônica de Kyushu
Ikuma Dan, regência

Gravação da estreia mundial


Michiru ŌSHIMA (1961)
Letra de Kanae Yokoyama

16 – Senbazuru (“Mil Grous”)

Coro da Federação Coral de Nagasaki
Orquestra Sinfônica de Nagasaki
Masanori Mikawa, regência

17 – Senbazuru

Amane Machida, soprano


Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Poema de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), traduzido por Sakufu Kondo (1880-1915)
Arranjo de Shin’ichirō Ikebe (1943) para a trilha sonora do filme Hachigatsu no Kyōshikyoku (“Rapsódia em Agosto”) de Akira Kurosawa (1991)

18 – Nobara (“Rosa Selvagem”), versão japonesa de Heidenröslein, D. 257

Coro Infantil Hibari (Hibari Jido Gasshodan)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE


XV – NAGASAKI
A cidade-alvo de Kokura estava coberta por nuvens espessas, e os dois B-29 voaram para o alvo alternativo, o porto de Nagasaki. A visibilidade também era ruim, então a bomba atômica foi lançada sobre a siderúrgica Mitsubishi, nos arredores da cidade.
A bomba explodiu diretamente acima da catedral católica em Urakami, matando os padres e aqueles que ali se reuniam para o culto. Os mortos foram espalhados em círculos concêntricos infinitos, com a catedral no centro.
A bomba de Nagasaki era feita de plutônio e era mais poderosa que a bomba de Hiroshima. Mais uma bomba atômica. Nagasaki foi devastada. Cento e quarenta mil pessoas morreram.

[1982]

 

As pinturas e legendas que ilustram esta postagem são parte da série de quinze Painéis de Hiroshima, realizada entre 1950 e 1982 pelo casal  Iri e Toshi Maruki, e que se encontra em exibição permanente na Galeria Maruki, em Saitama, Japão (exceto o último painel, intitulado Nagasaki, doado ao Museu da Bomba Atômica daquela cidade). Convido os leitores-ouvintes uma vez mais a me acompanharem numa doação em prol da preservação dessas inestimáveis obras de arte, bem como em outra para apoiar a ICAN (Campanha Internacional para Abolição das Armas Nucleares), recipiente do Prêmio Nobel da Paz de 2017, e ajudar a manter, entre outras iniciativas, seu Memorial às 38 mil crianças mortas nos ataques.


Publicado no 80° aniversário do ataque criminoso a Nagasaki e dedicado à memória de suas dezenas de milhares de vítimas inocentes.

Nunca as esqueceremos.

Vassily

György Ligeti (1923-2006): Clear or Cloudy (CDs 1 e 2, de 4) — 28/05/2023 — 100 anos de Ligeti!

György Ligeti (1923-2006): Clear or Cloudy (CDs 1 e 2, de 4) — 28/05/2023 — 100 anos de Ligeti!

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Mais Ligeti aqui.

Devo iniciar declarando meu amor. Pois a verdade, caríssimos pequepianos, é que amo Ligeti. Assim como o imenso Bartók, Ligeti foi um compositor húngaro, um dos mais notáveis do século XX. Este álbum quádruplo da DG é maravilhoso. Vejam só quem toca, não há second choices: só dá Boulez, Abbado, Hagen Quartett, Orquestra Filarmônica de Viena… Neste dois primeiros CDs já estão Lontano, Atmosphères, Luz aeterna, Volumina, o Quarteto Nº 1, a Sonata para Cello Solo, ou seja, muitas obras-primas. Ligeti se tornou conhecido por ter sido fartamente utilizado por um grande fã seu, o cineasta Stanley Kubrick, que usou suas músicas em filmes como 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001) e De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut). É preciso que se esclareça que Ligeti não compôs tais músicas como trilhas desses filmes, mas elas foram utilizadas por Stanley Kubrick pela extrema adequação entre suas linguagens. Não, não é pouca coisa.

György Ligeti (1923-2006): Clear or Cloudy (CDs 1 e 2, de 4)

CD 1:
György Ligeti (1923 – 2006)
Sonata for Solo Cello
1. 1. Dialogo: Adagio, rubato, cantabile [4:55]
2. 2. Capriccio: Presto con slancio [3:47]
Matt Haimovitz

Six Bagatelles for Wind Quintet (1953)
3. 1. Allegro con spirito [1:14]
4. 2. Rubato. Lamentoso [3:04]
5. 3. Allegro grazioso -attacca subito [2:43]
6. 4. Presto ruvido [0:58]
7. 5. Adagio. Mesto [2:27]
8. 6. Molto vivace. Capriccioso [1:21]
Jacques Zoon, Douglas Boyd, Richard Hosford, James Sommerville, Matthew Wilkie, Claudio Abbado

String Quartet No. 1 (Métamorphoses nocturnes)
9. Allegro grazioso [1:31]
10. Vivace, capriccioso [0:34]
11. A tempo [1:20]
12. Adagio, mesto [2:10]
13. Presto [2:11]
14. […] molto sostenuto – Andante tranquillo [1:34]
15. Più mosso [2:00]
16. Tempo di Valse, moderato, con eleganza, un poco capriccioso [0:55]
17. Subito prestissimo [0:43]
18. Subito: molto sostenuto [0:45]
19. Allegretto, un poco gioviale [0:54]
20. Allarg. Poco più mosso 0:001:03
21. Subito allegro con moto, string. poco a poco sin al prestissimo [0:34]
22. Prestissimo [1:05}
23. Allegro comodo, gioviale [0:13]
24. sostenuto, accelerando [1:46]
25. Lento [0:42]
Hagen Quartett

Ten Pieces for Wind Quintet
26. 1. Molto sostenuto e calmo [2:05]
27. 2. Prestissimo minaccioso e burlesco [0:43]
28. 3. Lento [1:48]
29. 4. Prestissimo leggiero e virtuoso [0:49]
30. 5. Presto staccatissimo e leggiero [0:31]
31. 6. Preso staccatissimo e leggiero [1:12]
32. 7. Vivo, energico [1:08]
33. 8. Allegro con delicatezza [2:32]
34. 9. Sostenuto, stridente [1:03]
35. 10. Presto bizzarro e rubato, so schnell wie möglich [1:01]
Wiener Bläsersolisten

String Quartet no.2 (1967-68)
36. Allegro nervoso [5:13]
37. Sostenuto, molto calmo [4:56]
38. Come un meccanismo di precisione [3:09]
39. Presto furioso, brutale, tumultuoso [2:01]
40. Allegro con delicatezza – stets sehr mild [5:38]
LaSalle Quartet

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

CD 2:
1. Atmosphères [9:05]
Vienna Philharmonic Orchestra, Claudio Abbado

2. Volumina [17:28]

3. Lux aeterna (1966) [7:59]
Helmut Franz
Chor des Norddeutschen Rundfunks

4. Organ Study no.1 “Harmonies” [9:04]
Gerd Zacher

5. Lontano (1967) (for large orchestra) [12:44]
Vienna Philharmonic Orchestra, Claudio Abbado

6. Ramifications for string orchestra or 12 solo strings (1968-69) [8:28]
Ensemble Intercontemporain, Pierre Boulez

7. Melodien for Orchestra [13:07]
London Sinfonietta, David Atherton

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Ligeti: sorria, você está sendo fotografado!
Ligeti: sorria, você está sendo fotografado!

PQP

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 7 (Neumann, Leipzig)

Este blog tem atualmente seis colaboradores fixos e mais alguns de rara aparição. A palavra é usada aqui no sentido de colaboração mesmo, e não aquele jargão horrível para funcionários, até porque o blog não gera dinheiro. Faço esse preâmbulo para dizer que fui eu, Pleyel, o responsável pela “chuva de Mahler” nas últimas semanas: primeiro completando o ciclo com Svetlanov e sua orquestra russa e depois repostando o jovem Gustavo Dudamel com sua orquestra venezuelana. Dudamel é provavelmente o maestro vivo com mais íntima afinidade com a música de Mahler, ao lado do veterano Tilson Thomas (que fez uma Sétima elogiadíssima por PQP Bach).
Agora voltemos à velha guarda: trago hoje um Mahler com sotaque da Europa Central, com o maestro Václav Neumann (1920-1995), maestro tcheco nascido em Praga que rege aqui a tradicional orquestra do Gewandhaus de Leipzig na então Alemanha Oriental. Foi quando residia em Leipzig, aliás, após um tempo morando em Praga, que Mahler compôs sua primeira sinfonia por volta de 1888: ele era maestro no Neues Stadttheater, a casa de ópera destruída na 2ª Guerra, e tinha o posto de maestro substituto da Gewandhausorchester. Já a sétima sinfonia ele iria compor mais de 15 anos depois, quando residia em Viena, mas sua estreia ocorreu em Praga em 1908.

Depois disso, os tchecos mantiveram uma tradição de interpretação de Mahler mesmo quando suas obras eram menos lembradas lá por 1930, 1940… e Vaclav Neumann fez parte da geração de maestros – junto com Lenny Bernstein, Rafael Kubelík, Bernard Haitink e, um pouco depois, Claudio Abbado e Evgeny Svetlanov – que, pouco após a 2ª Guerra, foram responsáveis por inúmeros sucessos de público e de crítica que colocaram as sinfonias de Mahler definitivamente nos programas orquestras em todo o mundo.

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 7
1. 1. Langsam Allegro risoluto, ma non troppo
2. 2. Nachtmusik. Allegro moderato
3. 3. Scherzo. SchattenhafT
4. 4. Nachtmusik. Andante amoroso
5. 5. Rondo-Finale. Allegro ordinario
Vaclav Neumann, Gewandhausorchester Leipzig
Recording: 1968

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Václav Neumann (1920-1995)

Pleyel

Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonia Nº 8 (Edição especial em comemoração aos 120 anos da RCO)

Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonia Nº 8 (Edição especial em comemoração aos 120 anos da RCO)
Anton Bruckner: o genial e acanhado foi o único compositor presente na grande festa

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Este disco, pelo que pude apurar, não teve venda comercial. Foi uma edição especial de 2008, comemorativa aos 120 anos da Orquestra do Concertgebouw de Amsterdam. É uma esplêndida e gravação ao vivo — realizada em 2005 e transmitida pelo rádio (sim há rádios cultas de verdade na Holanda) — com, obviamente, o imortal Bernard Haitink na regência. Ouvi disco agora e, olha, só de pensar já fico arrepiado. É música de gente grande, tocada por uns sujeitos enormes. Haitink gravou a Oitava de Bruckner só várias vezes. Vejamos quantas  foram:

  • Concertgebouw Orchestra (1969) Philips
  • Concertgebouw Orchestra (1970) World Music Express
  • Concertgebouw Orchestra (1979) SunJay Classics
  • Concertgebouw Orchestra (1981) Philips
  • European Youth Orchestra (1989) Digital Co.
  • Bayerische Rundfunk Sinfoniorchester (1993) SunJay Classics
  • Wiener Philharmoniker (1995) Philips
  • Boston Symphony Orchestra (1998) Karna Musik
  • Staatskapelle Dresden (2002) Hänssler
  • Royal Concertgebouw Orchestra (feb. 2005) RCO <—- o CD que ora postamos
  • Royal Concertgebouw Orchestra (may. 2005) Karna Musik

E olha, ele aprendeu DIREITINHO!

Bruckner – Sinfonía Nº 8 – Haitink (RCO 120 años)

1. Symphony No. 8: I. Allegro moderato 16:40
2. Symphony No. 8: II. Scherzo: Allegro moderato 16:11
3. Symphony No. 8 III. Adagio: Feierlich langsam; doch nicht schleppend 28:03
4. Symphony No. 8: Finale : Feierlich, nicht schnell 24:34

Royal Concertgebouw Orchestra
Bernard Haitink

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

PQP

Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Variações Goldberg – Gustav Leonhardt

Curiosamente, em quase dezoito anos de PQPBach, nunca postamos as Variações Goldberg com o mítico Gustav Leonhardt. O lendário cravista liderou a ofensiva das interpretações historicamente informadas, ao lado de Nikolaus Harnoncourt, ainda lá nos anos 50 e até o final de sua vida foi um dos grandes nomes deste estilo de interpretação. Para os senhores terem uma idéia de quanto Leonhardt era dedicado a esta obra, o primeiro registro que realizou foi em 1953, quando tinha meros 25 anos de idade.

Esta gravação que ora vos trago foi realizada em 1978, e pra muitos críticos é um de seus melhores registros.  Mas alguém pode perguntar: com nomes atuais como Jean Roundeau, Pierre Hantäi (meu favorito), Víkingur Ólafsson e Mahan Esfahani realizando registros brilhantes destas peças tão peculiares, quase míticas, ouvir Leonhardt ainda é necessário? Me utilizo da famosa expressão ‘Sentado no ombro de Gigantes’ para responder a esta pergunta. Os nomes citados acima, além de dezenas de outros intérpretes, com certeza se inspiraram nas ‘escolhas’ que o velho mestre fez e nas descobertas de novas possibilidades que ele explorou em sua longa carreira. Então, para mim, um teimoso melômano que sou, respondo que sim, é necessário. Não sei precisar quantas vezes e versões já ouvi destas peças em meus 60 anos de vida, desde o velho LP de Ralf Kirkpatrick que sempre esteve na pequena coleção de discos que tínhamos em casa, e que ainda possuo, e levarei comigo até o final de meus dias.

Gustav Leonhardt é mais que atual em pleno 2025. Não teve medo de ousar e desafiar os cânones de seu tempo, assim como seu contemporâneo Glenn Gould o fez, lá em 1955. Dois revolucionários, eu diria, cada um defendendo sua bandeira, com brilhantismo.

Mas vamos ao que viemos. Bach com um dos seus principais intérpretes, Gustav Leonhardt, em registro de 1978.

1 Aria
2 Variatio 1, A 1 Clav.
3 Variatio 2, A 1 Clav.
4 Variatio 3, A 1 Clav. Canone All’Unisono
5 Variatio 4, A 1 Clav.
6 Variatio 5, A 1 Ovvero 2 Clav.
7 Variatio 6, A 1 Clav. Canone Alla Seconda
8 Variatio 7, A 1 Ovvero 2 Clav. Al Tempo Di Giga
9 Variatio 8, A 2 Clav.
10 Variatio 9, A 1 Clav. Canone Alla Terza
11 Variatio 10, A 1 Clav. Fughetta
12 Variatio 11, A 2 Clav.
13 Variatio 12, Canone Alla Quarta
14 Variatio 13, A 2 Clav.
15 Variatio 14, A 2 Clav.
16 Variatio 15, A 1 Clav. Canone Alla Quinta, Andante
17 Variatio 16, A 1 Clav. Ouverture
18 Variatio 17, A 2 Clav.
19 Variatio 18, A 1 Clav. Canone Alla Sesta
20 Variatio 19, A 1 Clav.
21 Variatio 20, A 2 Clav.
22 Variatio 21, Canone Alla Settima
23 Variatio 22, A 1 Clav. Alla Breve
24 Variatio 23, A 2 Clav.
25 Variatio 24, A 1 Clav. Canone All’Ottava
26 Variatio 25, A 2 Clav. Adagio
27 Variatio 26, A 2 Clav.
28 Variatio 27, A 2 Clav. Canone Alla Nona
29 Variatio 28, A 2 Clav.
30 Variatio 29, A 1 Ovvero 2 Clav.
31 Variatio 30, A 1 Clav. Quodlibet
32 Aria Da Capo

Gustav Leonhardt – Harpsichord

BAIXE AQUI DOWNLOAD HERE

Hiroshima, Ano 80 – A Música dos Hibakusha [Dan – Hayashi – Hosokawa – Kawasaki – Kōjiba – Ōki – Takemitsu – Yamamoto]

Hiroshima, Ano 80 – A Música dos Hibakusha [Dan – Hayashi – Hosokawa – Kawasaki – Kōjiba – Ōki – Takemitsu – Yamamoto]
6.8.1945
8:15
[Foto do autor]

No dia em que lembramos os oitenta anos da estreia da mais avassaladora obra-prima da psicopatia humana, não tentarei evocar a hecatombe daquela manhã de verão em Hiroshima. Minha voz jamais voaria tão alto e, ademais, duvido de que haverá um humano sequer, de qualquer ofício, capaz de pintar com total acurácia o variado buffet servido pela Morte em 6 de agosto de 1945. Dito isso, e enquanto me equilibro entre o dever doloroso de recordar a miséria sem precedentes trazida pelo ataque criminoso e o anseio por que ela nunca mais se repita, chamarei a atenção dos leitores-ouvintes para algumas obras dedicadas a seus sobreviventes por compositores japoneses.


I – FANTASMAS
Era uma procissão de fantasmas.
Roupas queimadas num instante. Mãos, rostos e peitos incharam; bolhas roxas logo estouravam e a pele pendia como trapos.
Uma procissão de fantasmas, com as mãos estendidas à frente. Arrastando a pele dilacerada, caíram exaustos, amontoando-se uns sobre os outros, gemendo e morrendo.
No centro da explosão, a temperatura atingiu 6.000 graus. Uma sombra humana foi gravada em degraus de pedra. O corpo daquela pessoa vaporizou? Foi levado pelo vento? Ninguém nos conta como era perto do hipocentro.
Não havia como distinguir um rosto carbonizado e cheio de bolhas do outro. As vozes ficaram ressecadas e roucas. Amigos diziam seus nomes, mas ainda não se reconheciam.
Um bebê solitário dormia inocentemente, com uma pele linda. Talvez tenha sobrevivido, abrigado pelo seio da mãe. Esperamos que pelo menos esta criança desperte para continuar vivendo.
[1950]

Chamadas em japonês de hibakusha, essas centenas de milhares de pessoas carregariam pelo que lhes restou das vidas não só as escaras físicas do calor e da radiação de Little Boy, como também a culpa dos sobreviventes – o remorso de serem as gotas vivas no meio dum mar de mortos – e um sem-fim de estigmas: aos olhos dos preconceituosos, seriam radioativos e malditos, contagiosos e letais. Isso tudo, somado à rigorosa censura imposta pela potência vitoriosa – antes bombardeante, depois ocupante -, manteve por muitos anos sob mordaça a voz dos hibakusha. As primeiras cerimônias em memória às vítimas eram feitas em silêncio quase total, interrompido brevemente por orações apenas balbuciadas. Com o tempo, e enquanto se recriavam as popularíssimas associações corais que tomaram de assalto o Japão a partir da abertura de seus portos na metade do século XIX, esses eventos passaram também a incluir canto, ainda que simbolicamente amordaçado –  como na letra da “Canção da Paz de Hiroshima”, que parece falar de qualquer coisa, menos duma desgraça infligida pelo homem a humanos:


Onde nuvens brancas flutuam –
Até os confins do céu, de leste a oeste
Ecoa no alto o som do Sino da Paz.
Pois agora nos levantamos bravamente
E aqui construímos nosso futuro próspero.
De onde crescem ondas azuis
Até os confins do mar, de sul a norte,
Ecoamos nossas preces por toda parte
Ao som do Sino da Paz.
Pois agora superamos nossas dificuldades
E daqui olhamos para o futuro
Onde os ventos frescos e brilhantes sopram
Até os confins do Japão e para nossos amigos no exterior
Ecoamos nossa vontade fervorosa
Ao som do Sino da Paz
Pois aqui cantamos em harmonia
E agora estendemos nossas mãos”

[traduzido livremente pelo autor]


II – FOGO
“‘Pikah!’ [onomatopeia japonesa para ‘clarão’] Um forte clarão azul-esbranquiçado. A explosão, a pressão, a tempestade de fogo — nunca na Terra ou no Céu a Humanidade havia experimentado tal explosão. Chamas irromperam no instante seguinte e saltaram para o céu. Quebrando o silêncio sobre as ruínas sem limites, o fogo rugiu.
Alguns jaziam inconscientes, presos por vigas caídas. Outros, recuperando os sentidos, tentavam se libertar, apenas para serem envolvidos pelas chamas carmesim.
Cacos de vidro perfuravam barrigas, braços eram torcidos, pernas se dobravam, pessoas caíam e eram queimadas vivas.
Abraçando seu filho, uma mulher lutava para se libertar de debaixo de um poste caído.
‘Depressa! Depressa!’, gritou alguém. ‘É tarde demais.’ ‘Então nos entreguem a criança.’ ‘Não, corra você. Eu vou morrer com minha filha. Ela ficaria vagando só pelas ruas.’
A mulher empurrou as mãos que a ajudavam e foi consumida pelas chamas.”
[1950]

Foi somente com o final da ocupação estrangeira, em 1952, que a mordaça foi afrouxada. As memórias dos hibakusha começaram, por fim, a vir à tona com a dor e a indignação devidas – dentro, por óbvio, das proporções possíveis a uma cultura que promove tanto o estoicismo quando o asco pela derrota. Enquanto as cerimônias em memória às vítimas passavam a lembrar do ataque e seus horrores, alguns hibakusha saíam reticentemente do ostracismo para compartilhar suas experiências com audiências a cada ano maiores, mais jovens e, por isso, mais alijadas de suas memórias do ataque a Hiroshima. Cada vez maiores, também, eram os grupos convidados a cantar nas cerimônias, e esse contexto levou, naturalmente, a que a música coral predominasse entre as primeiras composições dedicadas à memória do 6 de agosto.

A mais célebre entre elas, e merecidamente, é a suíte Genbaku Shokei (“Cenas da Bomba Atômica”), composta pelo toquiota Hikaru Hayashi em três movimentos em 1958 e concluída, com a adição do quarto movimento, apenas em 2001. Pondo em música poemas da coletânea homônima do hibakusha Tamiki Hara (1905-1951), que vagou por dias pela cidade devastada, essas “Cenas” são especialmente tocantes na simplicidade crua de seu primeiro movimento, Mizu o kudasai (“Me dá água”), que evoca as cenas dantescas de moribundos, com a pele esfarrapada, arrastando-se até os sete rios de Hiroshima para tentar saciar sua sede mortal. O texto, escrito em japonês fragmentário e com o silabário katakana, reservado a telegramas e palavras estrangeiras, faz suarem até os mais secos dos olhos:


Me dá água
Ah, me dá água
Me deixa beber
Morrer seria melhor
Morrer seria
Aaah
Ajuda ajuda
Água…
Água
Alguma
Alguém
Oh oh oh oh oh
Oh oh oh oh oh

O céu partiu ao meio
A cidade sumiu
O rio
Está correndo…

[traduzido livremente pelo autor]


III – ÁGUA
“Havia montanhas de cadáveres, com cabeças empilhadas no centro do monte. Estavam empilhados de forma que seus olhos, bocas e narizes pudessem ser vistos o mínimo possível.
Em um monte ainda não cremado, o globo ocular de um homem se movia e observava. Ele ainda estaria vivo? Ou um verme teria mexido em seu olho morto?
Água! Água! Pessoas vagavam por ali, procurando água. Fugindo das chamas, clamando por água para molhar seus lábios moribundos. Uma mãe ferida com seu filho fugiu para a margem do rio. Ela escorregou em águas profundas, se arrastou pelas águas rasas. Correndo enquanto o fogo violento engolfava o rio, parando de vez em quando para molhar o rosto, ela continuou correndo até finalmente chegar a este local. Ela ofereceu um seio ao filho, apenas para descobrir que ele havia dado seu último suspiro.
A imagem do século XX de Nossa Senhora e o Filho: uma mãe ferida embalando seu bebê morto. Não é uma imagem de desespero? Mãe e filho devem ser, devem ser, um símbolo de esperança.”
[1950]

Numa escala muito maior, as composições de Masao Ōki usam vastos recursos corais e orquestrais para responder à inspiração trazida pelos artistas hibakusha. Sua imensa cantata Ningen o kaese (“Devolvam-nos a Humanidade”), em duas partes, faz jus aos indignados versos do poeta Sankichi Tōge (1917-1953), um ativista que nunca mediu palavras para descrever tanto as consequências macabras do ataque quanto seu ódio profundo por seus perpetradores:

Vocês, meninas,
chorando mesmo sem ter de onde virem as lágrimas;
gritando mesmo sem ter lábios para formar palavras;
lutando mesmo sem ter pele nos dedos para agarrar
qualquer coisa dentro de vocês, meninas.
Seus membros se contraem, escorrendo sangue, suor gorduroso e linfa;
seus olhos, fendas inchadas, rebrilham brancos;
apenas os elásticos de suas calcinhas seguram suas barrigas inchadas;
vocês estão completamente além da vergonha,
mesmo com suas vergonhas expostas:
quem poderia imaginar que há pouco tempo todas vocês eram lindas colegiais?
Emergindo das chamas que tremulavam sombriamente na Hiroshima queimada,
não mais vocês mesmas,
vocês correram para fora,
rastejaram uma após a outra,
lutaram para chegar até este descampado,
em agonia deitaram suas cabeças,
carecas, exceto por alguns fios de cabelo, no chão.
Por que vocês devem sofrer assim?
Por que vocês devem sofrer assim?
Por qual motivo?
Por qual motivo?
Vocês, meninas, não sabem o quão desesperadora é a sua condição,
o quanto vocês se transfiguraram em relação ao humano.
Vocês estão simplesmente pensando,
pensando naqueles que até esta manhã
foram seus pais, mães, irmãos, irmãs
(algum deles as reconheceria agora?)
e nas casas em que vocês dormiram, acordaram, comeram
(naquele instante, as flores da cerca viva foram arrancadas;
agora nem mesmo suas cinzas foram encontradas),
pensando, pensando
enquanto estão deitadas ali entre amigas que,
uma após a outra,
param de se mover,
pensando em quando vocês eram, meninas,
seres humanos.

[traduzido livremente pelo autor]


IV – ARCO-ÍRIS
“Um soldado nu estava de pé, apenas com suas botas e espada. Jovens soldados com braços quebrados e pernas esmagadas. Os feridos corriam sem rumo, com a pele esfarrapada coberta por cobertores.
Não havia som algum, apenas um silêncio mortal. Então, um soldado enlouquecido apontou para o céu e gritou repetidamente: ‘Um avião! Um B-29!’. Não havia sombra de avião à vista. Cavalos feridos, cavalos frenéticos, corriam descontroladamente.
Aviadores americanos, que vieram bombardear o Japão, haviam sido capturados e colocados em um quartel em Hiroshima. A bomba atômica matou amigos e inimigos. Dois soldados jaziam encolhidos na estrada perto do domo, com os pulsos ainda algemados.
A fumaça e a poeira sopradas para o alto formaram uma nuvem, e logo grandes gotas de chuva caíram do céu, que antes estava limpo. Um arco-íris arqueava-se sobre este domo enegrecido. O arco-íris de sete cores brilhava intensamente.”
[1951]

Nascido dez anos depois do ataque, Toshio Hosokawa teve educação musical esmerada em seu país e na Alemanha. Quando retornou ao Japão, no trigésimo aniversário do bombardeio, chocou-se com a teimosa, envergonhada relutância de sua família e de seu país em tocarem no assunto. Em resposta a essa opressão do silêncio, produziu dois réquiens para quebrar o silêncio em seu derredor: o Réquiem de Hiroshima (1989-92) e o oratório Koe Nakigoe (“A Voz dos Sem Voz”, 1989-2001), em homenagem aos hibakusha perpetuamente degredados à mordaça em sua cidade natal.


V – MENINOS E MENINAS
“Elas jaziam mortas em montes ao longo da margem do rio, com as cabeças apontando para a água que procuravam. Ao chegarem ao rio, a água permaneceu fora de alcance, abaixo da margem íngreme, e elas morreram sem saciar a sede. Crianças em idade escolar foram mobilizadas para ajudar a construir aceiros. Muitas turmas foram completamente aniquiladas. Duas irmãs seguravam as figuras transformadas uma da outra. Outras meninas morreram sem um único arranhão no corpo. Quando viu esta pintura, um carpinteiro que havia sido exposto à bomba nos disse: ‘Minha filha é a única sobrevivente de sua turma. Mas seus dedos foram torcidos e queimados, seu rosto se fundiu à garganta e ela não consegue andar. Seu corpo não cresceu desde então, quando ela tinha treze anos.’
[1951]

Com a reconstrução de Hiroshima e o restabelecimento de suas casas de concerto e seus conjuntos orquestrais, a música instrumental também passou a prestar tributos aos hibakusha. Masaru Kawasaki tinha 21 anos quando a sorridente tripulação do Enola Gay pulverizou sua cidade. Apesar de estar a menos de dois quilômetros do hipocentro da explosão, ele sobreviveu, com sequelas que trataria até o final da vida. Dedicou-se principalmente ao repertório para banda sinfônica e foi o primeiro compositor hibakusha a ver sua obra popularizada: um triunfo considerável sobre o estigma e o preconceito. Sua série mais conhecida, Inori no kyoku dai (“Música de Oração”), é bastante executada no Japão, e sua primeira peça, “Dirge”, composta em 1975 e estreada no trigésimo aniversário do ataque, tem feito parte de todas as cerimônias de 6 de agosto desde então.


VI – DESERTO ATÔMICO
“Nada para comer, nenhum remédio. Nenhum abrigo contra a chuva. Sem eletricidade, sem jornais, sem rádio, sem médicos. Larvas se reproduziam em cadáveres e feridos, nuvens de moscas zumbiam e enxameavam. O cheiro de cadáveres pairava no vento.
As pessoas não estavam apenas feridas fisicamente, seus espíritos também estavam profundamente feridos.
Uma mulher, sem se importar em cobrir sua pele esfarrapada, procurou seu filho. Ela vagou por dias a fio.
Ainda hoje, ossos humanos são às vezes desenterrados em Hiroshima.”
[1952]

Entre todas as obras que ora lhes apresento, compiladas ao longo de quase três décadas e resgatadas de meios tão diferentes quanto cassetes, rolos, CD-Rs e DVDs, aquelas da hiroshimense Tomiko Kōjiba estão as que mais me agradam. Sua Trilogia de Hiroshima, composta pelo Réquiem de Hiroshima, pela suíte Sete Perfis Intocados (expressão de sua vontade de retratar o caráter dos hibakusha duma maneira que resistisse à erosão do esquecimento) e por O Futuro a 4000 ºC (referência à temperatura sob o hipocentro nos primeiros segundos após a explosão) atestam sua fascinante originalidade, cujos frutos, infelizmente, não nos chegam tão frequentemente aqui nestes rincões tão tristes.


VII – BAMBUZAL
“Muitos se abrigaram em um bambuzal. — Não foi um terremoto, mas o que foi? — Poderia ter sido um conjunto de bombas incendiárias? — Foi uma bomba, não, um raio da morte. — De qualquer forma, houve um clarão — pikah! — e depois um trovão estrondoso — don! — Não. Em Hiroshima, não ouvimos nenhum trovão. Foi tão grande que houve apenas um clarão.
Eles continuaram falando sobre aquele momento. Havia muitos bambuzais nos arredores de Hiroshima, e a bomba atômica queimou o bambu de um lado. Os moradores de rua se abrigaram nos bambuzais. E um por um, deram seu último suspiro.
As pessoas nos chamavam por socorro, mas não tínhamos coragem de ir até elas. Não havia mais espaço para os feridos em nossa casa.
Sob a Ponte Mitaki, havia uma pilha de cadáveres. Uma pessoa agachada ali parecia estar viva, mas não conseguimos determinar sua idade ou sexo. Na manhã de 26 de agosto, a cabeça da pessoa caiu para a frente e ela morreu. A bomba foi lançada em 6 de agosto, então essa pessoa suportou em silêncio por vinte dias. Não havia ninguém para se livrar desses corpos, e eles não foram removidos até que um tufão os arrastou para o mar em setembro.””
[1954]

Muito mais projeção tem a obra de Ikuma Dan, compositor de origem aristocrática, descendente duma longa linhagem de samurais, que viveu uma grande parte de sua vida na China, onde viria a falecer. Dan gravou a integral de suas sinfonias com orquestras europeias, e a sexta delas, intitulada Sinfonia Hiroshima, combina elementos composicionais europeus e japoneses, alguns mesmo em tom de pastiche, e incorpora dois  instrumentos tradicionais – o nōkan e o shinobue, respectivamente um flautim e uma flauta de bambu – a uma grande massa orquestral da qual, sublimemente, emerge também a voz duma soprano.


VIII – RESGATE
“Os incêndios queimavam sem parar.
Pessoas do campo vieram em busca de parentes e os levaram para fora da cidade. Muitos morreram no caminho.
Longas filas se formaram para receber rações. Uma menina morreu perto, ainda segurando sua porção de biscoito.
Cacos de vidro estavam incrustados nos corpos dos pais do marido da nossa irmã. Seus tornozelos incharam tanto quanto suas coxas. Eles haviam se refugiado em nossa casa, e decidimos levá-los para o filho mais velho. Colocamos os dois em uma carroça e a puxamos até Kaita, passando pelo centro da explosão. Uma chuva fina caía.
Depois da bomba, choveu com frequência em Hiroshima. Mesmo sendo agosto, um dia frio se seguiu ao outro.
Alguém nos disse em meio a soluços: ‘Abandonei minha mãe. Gritei: ‘Perdoem-me!” No esforço frenético para escapar, esposas e maridos tiveram que se abandonar, pais tiveram que abandonar seus filhos.
Muitos dias se passaram antes que a ajuda humanitária fosse organizada.”
[1954]

Concluo meu tributo aos hibakusha com outra obra de Masao Ōki: sua Quinta Sinfonia, intitulada Genbaku (“Bomba Atômica”) e conhecida mais simples e amplamente como Hiroshima, foi inspirada nos oito primeiros Painéis de Hiroshima – exatamente as pinturas que ilustram essa publicação. Ōki também foi um prolífico compositor de trilhas sonoras para filmes, atendendo tanto à demanda por romances escapistas quanto a épicos sobre samurais, passando ao largo de temas nucleares. A censura das forças de ocupação e a complicada relação da sociedade japonesa com o legado da guerra explica o pequeno número de produções do país dedicadas aos hibakusha. A mais importante delas, surgida quarenta e cinco anos depois do ataque, foi sem dúvidas Kuroi Ame (“Chuva Negra“, 1989), de Shōhei Imamura (não confundir com a tolice homônima lançada no mesmo ano, estrelada por Michael Douglas), para cuja trilha sonora o mestre Tōru Takemitsu forneceu duas peças baseadas em seu Réquiem para Cordas (1957), e que acabou por lhe inspirar uma peça original, que recebeu o nome do filme e encerra esta nossa homenagem.


HIROSHIMA, ANO 80

Minoru YAMAMOTO (1912-1996)
Poema de Yoshio Shigezono

1 – Canção da Paz de Hiroshima

Coral e Banda Sinfônica da Cidade de Hiroshima


Hikaru HAYASHI (1931-2012)
Poemas de Tamiki Hara (1905-1951)

Cenas da Bomba Atômica
(1958-2001), para coro
2 – Me dá água
3 – Crepúsculo
4 – Noite
5 – Verde perene

Ensemble PVD
Hiroki Fujii, regência


Masao ŌKI (1901-1971)
Poemas de Sankichi Tōge (1917-1953)

“Devolvam-nos a Humanidade”, cantata para solistas, coro e orquestra

6 – Parte I (1961) – Prólogo: “Devolva-nos a nossa humanidade” – Capítulo 1: 6 de agosto; Morte – Capítulo 2: Na estação de curativos – Capítulo 3: Olhos – Capítulo 4: A criança pequena – Capítulo 5: Uma chamada  –  Final: “Devolva-nos a nossa humanidade”

Mieko Takizawa, soprano
Echiko Narita, contralto
Akio Amano, tenor
Koichi Tajima, baixo
Coro da Associação Musical Ro-on de Tokyo
Orquestra Sinfônica de Tóquio
Kikuo Sato, regência

7 – Parte II (1963): “Declaração” – “Lápide” – “Manhã” – “Passos”

Kiyoshi Oda, barítono
Coral Infantil da Associação de Música dos Trabalhadores de Tóquio
Orquestra Sinfônica de Tóquio
Hitoshi Ueda, regência


Toshio HOSOKAWA (1955)

8 – Réquiem de Hiroshima, para vozes, coro infantil e adulto, orquestra e fita pré-gravada (1989)

Ryo Akiyama, Miyuki Katayama e Jon Brokering, vozes
The Tokyo Little Singers
Coros da OMP e da NHK
Orquestra Sinfônica Japonesa
Kazuyoshi Akiyama, regência

De “A Voz dos Sem Voz”, oratório para solistas, coro e orquestra (1989-2000):

9 – Finale: A Voz dos Sinos do Templo

Chor- und Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks
Sylvain Cambreling,
regência


 

Masaru KAWASAKI (1924-2018)

Da série “Música de Oração”:

10 – No. 1, “Dirge“, para banda sinfônica

Orquestra de Sopros de Hiroshima
Yoshihiro Kimura, regência

11 – No. 2, “Elegia”, para banda sinfônica

Orquestra de Sopros Tokyo Kosei
Kazuyoshi Akiyama, regência

12 – No. 3, “Canção de Hiroshima”, para banda sinfônica

Clube de Música Instrumental da Escola  Motomachi de Hiroshima
Akira Doi, regência

13 – No. 4, “Prece”, para viola solo

Margareth Miller, viola

14 – No. 5, “Matinas”, para flauta e piano

Nancy Brown, flauta
Yumiko Womack, piano


Tomiko KŌJIBA (1952)

15 – Réquiem de Hiroshima, para orquestra de cordas (1979)

Orquestra Sinfônica de Hiroshima
Kazuyoshi Akiyama, regência

16 – Sete Perfis Intocados, para piano (2005)

Kōhei Fujimoto, piano

17 – “Futuro a 4000 °C”, para orquestra (2005)

Orquestra Sinfônica de Hiroshima
Kazuyoshi Akiyama, regência


Ikuma DAN (1924-2001)

Sinfonia no. 6, para soprano e orquestra, “Hiroshima” (1985)

18 – Andante ma non troppo. Quasi andante sostenuto
19 – Allegro ritmico
20 – Andante sostenuto e funebre

Anna Pusar, soprano
Michiko Akao, nōkan e shinobue
Wiener Symphoniker
Ikuma Dan, regência


Masao ŌKI

Sinfonia no. 5, “Hiroshima” (1953)

21 – Prelúdio
22 – Fantasmas
23 – Fogo
24 – Água
25 – Arco-íris
26 – Meninos e meninas
27 – Deserto Atômico
28 – Elegia

Nova Orquestra Filarmônica do Japão
Takuo Yuasa,
regência


Tōru TAKEMITSU (1930-1996)

Da Trilha sonora para o filmeChuva Negra“, de Shōhei Imamura (1989):
29 – Morte e Ressurreição
30 – Música Fúnebre

I Fiamminghi
Rudolf Werthen, regência

31 – Chuva Negra, para orquestra de cordas (1989)

Orquestra Metropolitana de Tokyo
Tōru Takemitsu, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE 


As pinturas e legendas que ilustram esta postagem são parte da série de quinze Painéis de Hiroshima, realizada entre 1950 e 1982 pelo casal  Iri e Toshi Maruki, e que se encontra em exibição permanente na Galeria Maruki, em Saitama, Japão. Convido os leitores-ouvintes a me acompanharem numa doação em prol da preservação dessas inestimáveis obras de arte, bem como em outra para apoiar a ICAN (Campanha Internacional para Abolição das Armas Nucleares), recipiente do Prêmio Nobel da Paz de 2017, e ajudar a manter, entre outras iniciativas, seu Memorial às 38 mil crianças mortas nos ataques.


Publicado no 80° aniversário do ataque criminoso a Hiroshima e dedicado à memória de suas dezenas de milhares de vítimas inocentes.

Vassily

 


 

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 1 e Canções de um Viandante (CD 1 de 16) (Bernstein)

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 1 e Canções de um Viandante (CD 1 de 16) (Bernstein)

Como meu coração é mesmo grande, nele cabem muitos compositores que adoro com igual paixão. Mahler é um deles e já estava na hora de voltar a ele. FDP Bach já postou anteriormente a integral de suas sinfonias, mas vou refazê-la por um simples motivo: tenho a integral das sinfonias em 320 Kbps e sabemos: Mahler tem de ser ouvido em detalhes, com os pianissimi quase inaudíveis e os fortissimi de fazer as janelas gemerem, senão perde a graça. Mais: seus principais ciclos de canções — including A Canção da Terra — estão nesta coleção de 16 CDs da DG. O regente escolhido é o mesmo que FDP escolheu. Por que mudaria se concordo com ele?

A Sinfonia Nº 1 era originalmente um poema sinfônico baseado na péssima novela “Titan”, de Jean Paul. Depois, tornou-se Sinfonia Titan. O primeiro movimento é pura expectativa e energia. Bernstein o trata de modo estranho, cheio de maneirismos pouco comuns em outros regentes. Após este início, a coisa entra nos eixos. E como! O terceiro movimento é curiosamente uma variação em tom menor da canção Frère Jacques e descreve o enterro de um caçador, promovido pelos animais que ele costumava matar. Abaixo, deixo para vocês o texto da Wikipedia a respeito:

Histórico

A estréia da sinfonia ocorreu no dia 20 de Novembro de 1889, em Budapeste, sob a regência do próprio Mahler. Na ocasião, a sinfonia não foi bem recebida pelo público.

A Sinfonia 1 em Ré Maior é escrita para uma orquestra composta pelos seguintes instrumentos: 4 flautas (2 piccolos), 4 oboés (um corne inglês), 4 clarinetes, 3 fagotes (um contrafagote), 7 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, 4 tímpanos, pratos, triângulo, tam-tam, bombo, 1 harpa, 1 quinteto de cordas formado por: violinos, violas, cellos e baixos.

Um caso de amor do compositor durante sua juventude provavelmente serviu de inspiração para a criação da sinfonia. Contudo, ela é mais do que isso conforme explica o próprio Mahler numa carta para Max Marschalk, em 26 de Março de 1896: Gostaria que ficasse enfatizado ser a sinfonia maior do que o caso de amor que se baseia, ou melhor, que a precedeu, no que se refere à vida emocional do criador. O caso real tornou-se razão para a obra, mas não em absoluto, o significado real da mesma. (…) Assim como considero uma vulgaridade inventar música para se ajustar a um programa, também acho estéril dar um program para uma obra completa. O fato de a inspiração ou base de uma composição ser uma experiência de seu autor não altera as coisas.

Originalmente ela foi concebida para ser um grande poema sinfônico.

Mahler escreveu um programa para a sinfonia, após as primeiras apresentações, embora dissesse em várias ocasiões que acreditava que a música deveria falar por si mesma, sem a necessidade do apoio de um texto explicativo.

Características

Como costumava fazer com outras obras suas, Mahler revisou a Sinfonia 1, entre os anos de 1893 e 1896. A mudança mais significativa foi retirada de um movimento andante chamado “Blumine”, sobra de uma música incidental que Mahler tinha escrito para Der Trompeter von Säkkingen (1884). Em 1894, depois de três apresentações, Mahler descartou o movimento e só permaneceram as referências a ele no segundo motivo do finale.

O movimento “Blumine” só foi redescoberto em 1966, por Donald Mitchell. Benjamin Britten conduziu a primeira apresentação da Sinfonia 1 com o movimento “Blumine”, desde que ele tinha sido executado pela última vez por Mahler em Aldeburgh. As maiorias das apresentações modernas da sinfonia não incluem o “Blumine”, ainda que seja possível não raramente se deparar com execuções do movimento em separado. De forma análoga, poucas gravações da sinfonia 1 incluem o movimento.

A obra inclui vários temas de um ciclo de canções composto por Mahler entre 1883 e final de 1884 chamado: Lieder Eines fahrenden Gesellen (Canções de um Viajante). Existem influências também de Das klagend Lied (A Canção da Lamentação), completada por Mahler em 1 de Novembro de 1880 para participar de um concurso de 1881 conhecido como Prêmio Beethoven.

A Sinfonia 1 de Mahler é uma sinfonia primaveril, semelhante em alguns aspectos com a Sinfonia 1 de Robert Schumman. Ela não é contudo uma simples descrição visual da natureza. Ela reflete uma natureza sob os inocentes olhos de uma criança, que ao mesmo tempo toma consciência da fragilidade e da morbidez inerentes à condição humana.

Os movimentos

Na sua forma final a sinfonia, cuja duração aproximada é de 55 minutos, é formada por quatro movimentos distribuídos da seguinte forma:

1. Langsam, schleppend – Devagar, arrastando (~ 16 minutos)
2. Scherzo, Kraeftig bewegt – Poderosamente agitado (~ 8 minutos)
3. Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen – Solene e moderado, sem se arrastar (~ 11 minutos)
4. Stuermisch bewegt – Agitado (~ 20 minutos)

A sinfonia inicia de forma misteriosa no primeiro movimento. Sons do cuco e de outros pássaros, representados musicalmente, anunciam o despertar da natureza e dão fim à tensão e às dúvidas. Um tema lírico segue.

O segundo movimento é um Landler-scherzo, parecido com os landlers de Anton Bruckner e de Haydn.

O terceiro movimento causou uma certa polêmica na época devido a sua aparente bizarrice. Adaptada como marcha fúnebre, é usada de forma paródica uma melodia infantil bastante conhecida, chamada em alguns países de Frère Jacques e em outros de Bruder Martin. A seu respeito Mahler escreveu no programa para os concertos em 1893 e 1894:

A idéia dessa peça veio ao autor por intermédio de uma gravura paródica conhecida por qualquer criança da Alemanha do Sul e intitulada “Os funerais do caçador”. Os animais da floresta acompanham o caixão do caçador morto; lebres empunham uma bandeira; à frente uma trupe de músicos boêmios acompanhados por instrumentistas gatos, corujas e corvos… Cervos, corças e outros habitantes da floresta, de pêlo ou pena, seguem o cortejo com fisionomias afetadas. A peça, com uma atmosfera ora ironicamente alegre, ora inquientante, é seguida de imediato pelo último movimento “d’all Inferno al Paradiso”, expressão súbita de um coração ferido no mais profundo de si…

O silêncio do terceiro movimento é abruptamente interrompido, de forma histérica, pela orquestra no quarto movimento. Conta-se que durante uma das primeiras apresentações da Sinfonia 1, uma senhora espantou-se e derrubou todos os objetos que carregava na mão.

Após alguns minutos a fúria inicial do último movimento é contida e cede lugar a uma melodia lírica. Os temas dos movimentos anteriores são lembrados. Perto do final, ocorre uma nova tempestade sonora, porém, ao contrário do início, que lembrava uma “luta”, agora o sentimento é de “triunfo”. Nesta parte Mahler pede para que os trompetistas da orquestra toquem de pé.

Na primeira postagem que fizemos da Sinfonia Nº 1, FDP Bach escreveu:

As opções de gravações das sinfonias de Mahler são inúmeras. Regentes como Bernstein chegaram a gravá-la duas vezes, enquanto outros não encaravam a totalidade, preferiam se concentrar em apenas algumas das sinfonias. Portanto, sei que muitos irão dizer que a “Titan” do Bernstein é superior à do Chailly, ou que a versão do Haitink é insuperável, ou que o atual menino de ouro da Filarmónica de Berlim, Simon Rattle é o cara, , ou que até mesmo a 9ª do Karajan, postada aqui há apenas alguns dias atrás é imbatível. Acatarei todas as opiniões, mas a versão que prevalecerá até o final é a do Bernstein, da DG. Os motivos que me levaram a escolhê-la são pessoais, mas baseados em diversas críticas altamente favoráveis, lidas nas mais variadas fontes. Até me dei ao trabalho de procurar uma biografia de Mahler entre as publicações brasileiras, mas infelizmente está tudo esgotado, até mesmo a autobiografia da Alma Mahler, publicada pela editora Martins Fontes nos anos 80, ou até mesmo a do Michael Kennedy, publicada pela Jorge Zahar Editor, também na mesma época. Em inglês as opções são múltiplas, basta fazer uma pesquisa no site da Livraria Cultura.

Esta introdução é necessária para alertá-los do tamanho da brincadeira a que estou me dedicando. Terei de conciliá-la com os estudos para um Concurso Público, para o qual estou me dedicando com total empenho. Portanto, se forem demorados os intervalos entre as postagens, peço para que considerem a situação a que os deixei cientes aí acima.

As gravadoras são pão-duras. Nas chamadas integrais destas sinfonias, as mesmas são divididas entre os cds. Exemplo: na versão do Chailly lançada pela DECCA, no final do cd em que se tem a primeira sinfonia, o espaço restante do cd é aproveitado para se colocar o primeiro movimento da 2ª, e assim por diante. Imagine como são os casos das sinfonias mais longas, como a 3ª, 6, 7, ou a 8ª… É uma confusão tremenda. E isso também acontece na gravação do Bernstein que irei postar.. Mas estou me dando ao trabalho de dividi-las devidamente (e viva o Sony Sound Forge). ´Seria sacanagem deixá-los esperando pela continuação num próximo cd. mas vamos ao que interessa.

CD1

Gustav Mahler – Sinfonia Nº 1 e Canções de um Viandante

Symphonie no. 1
01. Symphonie no. 1 – Langsam. Schleppend. Wie ein Naturlaut – Im Anfang sehr gemächlich
02. Kräftig bewegt, doch nicht zu schnell – Trio. Recht gemächlich
03. Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen
04. Stürmisch bewegt

Concertgebouw Orchestra
Leonard Bernstein

Lieder eines fahrenden Gesellen (Canções de um Viandante)
05. Wenn mein Schatz Hochzeit macht
06. Ging heut morgen übers Feld
07. Ich hab ein glühend Messer
08. Die zwei blauen Augen

Thomas Hampson: baritone
Wiener Philarmoniker
Leonard Bernstein

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Viram como eu sou bom pra caraglio?
Viram como eu sou bom pra caraglio?

PQP

Giuseppe Tartini (1692-1770): A Sonata do Diabo (“Il Trillo del diavolo”, “O Trinado do Diabo”) e outras peças (Manze)

Giuseppe Tartini (1692-1770): A Sonata do Diabo (“Il Trillo del diavolo”, “O Trinado do Diabo”) e outras peças (Manze)
Version 1.0.0

IM-PER-DÍ-VEL !!!

“Uma noite sonhei que tinha feito um pacto com o diabo, o qual se dispôs a me obedecer, em troca de minha alma. Meu novo servo antecipava meus desejos e os satisfazia. Tive a ideia de entregar-lhe meu violino para ver se ele sabia tocá-lo. Qual não foi meu espanto ao ouvir uma Sonata tão bela e insuperável, executada com tanta arte. Senti-me extasiado, transportado, encantado; a respiração falhou-me e despertei. Tomando meu violino, tentei reproduzir os sons que ouvira, mas foi tudo em vão. Pus-me então a compor uma peça – Il Trillo del Diavolo – que, embora seja a melhor que jamais escrevi, é muito inferior à que ouvi no sonho”.

Giuseppe Tartini

Este é um dos CDs mais loucos que você vai ouvir. Mas é uma loucura inspirada. Andrew Manze, seguindo uma sugestão que está em uma das cartas de Tartini, livra-se de qualquer acompanhante e toca estas peças — normalmente executadas no mínimo com cravo contínuo — no violino solo. E Manze se utiliza de grande liberdade, improvisando, afastando-se do texto e voltando à partitura original. É um belo pesadelo e uma grande performance, altamente barroca. Se é “autêntica” ou não, eu não tenho a menor ideia. Manze não parece preocupado com isso. São execuções fluidas e livres, de bela sonoridade. Um CD inesquecível.

A vida de Tartini foi um tanto louca. Mesmo proibido pela família, casou-se secretamente com Elisabetta Premazzone, sobrinha de um cardeal que se opôs ao casamento. O feito rendeu-lhe uma ordem de prisão, o que levou Tartini a fugir para Assis, onde, disfarçado de Frade, se exilou no mosteiro da cidade.

Em Assis, Tartini se entregou ao estudo do violino, pesquisando novas metodologias e possibilidades sonoras do instrumento. Ali ele fez a descoberta do “Terzo Suono”, o terceiro som, um “fantasma sonoro” que pode ser percebido quando dois sons são intensos o suficiente para chegarem simultaneamente ao ouvido e gerar um terceiro som.

É um efeito semelhante ao dos sons binaurais. No violino, é comum executar este som, basta que o violinista toque notas duplas, se seu ouvido for sensível o suficiente ele ouvirá um terceiro tom, também conhecido como “Tons de Tartini”. Foi em seu livro Tratado de música segundo a verdadeira ciência da harmonia, que Tartini tornou o tema público.

Passados dois anos, Tartini foi perdoado e voltou imediatamente à companhia da esposa. Neste período, Tartini deu início a carreira de concertista.

Os três últimos parágrafos foram roubados daqui.

Giuseppe Tartini (1692-1770): A Sonata do Diabo e outras peças

“La Sonata Del Diavolo” En Sol Mineur
1 [Largo] 6:36
2 Allegro 6:06
3 Andante – Allegro – Adagio 6:18

De “L’Arte Del Arco” (14 Variations Sur La Gavotte De L’op. 5 n 10 De Corelli)
4 Theme Et Variation 1 1:00
5 Variations 2 Et 4 1:09
6 Variations 9, 15 Et 12 1:28
7 Variations 10 Et 20 1:52
8 Variations 29 0:46
9 Variations 30 0:38
10 Variations 33 2:04
11 Variations 34 1:11
12 Variations 23 0:53
13 Variations 38 1:11

Sonate En La Mineur
14 Cantabile 1:56
15 Allegro 1:57
16 [Andante] 4:50
17 Giga 2:33
18 Aria [Avec Vatiations] 1:40
19 Variations I 1:18
20 Variations II 3:52
21 Variations III 1:32
22 Variations IV 2:43
23 Variations V 1:19

“Pastorale” Pour Violon Scordatura
24 Grave 5:00
25 Allegro 3:30
26 Largo – Presto – Andante 4:59

Andrew Manze, violino

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Exemplo de execução da Sonata "Il Trillo del diavolo"
Exemplo de execução da Sonata “Il Trillo del diavolo”

PQP

Johannes Brahms (1833-1897): Os Quartetos para Piano (completo) (Leopold / Hamelin)

Johannes Brahms (1833-1897): Os Quartetos para Piano (completo) (Leopold / Hamelin)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Já que todos aqui estão depondo suas melhores pérolas para os visitantes, não serei eu a destoar de meus comparsas. Hoje é o dia em que nosso poeta Alessandro Reiffer vai enlouquecer de vez. Pois estes quartetos para piano absolutamente perfeitos estão numa gravação que — perdoe-me, FDP — bate o ex-campeão Beaux Arts Trio. O mundo é assim: quando achamos que ouvimos o absolutamente perfeito, vem uns malucos e fazem ainda melhor.

Gente, li tudo o que vocês escreveram sobre Brahms e concordo com muitas coisas, mas o principal não foi dito, penso: Brahms é denso pra caralho. Brahms explora um tema como papai fazia. Ele é bachiano até a raiz dos cabelos. Aliás, meus cinco compositores prediletos são Bach, Beethoven, Brahms, Bruckner, Bartók, Mahler e Shostakovich, todos com mania de repetição, sendo que Mahler devia ser também maníaco-depressivo. Vamos a um TEXTO MAIS ORGANIZADINHO E BONITINHO sobre Brahms? Nosso colaborador eventual Milton Ribeiro o escreve.

Como se não bastasse o trocadilho infame que o nome Brahms sugere a nós, brasileiros, ele era filho de um contrabaixista de Hamburgo que tocava em cervejarias. E, a partir dos dez anos de idade, o pequeno Johannes passou a trabalhar como pianista com seu pai, nas tabernas. Não sabemos se estas atividades foram nocivas à saúde do menino, sabemos apenas que ele, mais tarde, fez bom uso de seu conhecimento sobre o repertório popular alemão. Brahms teve apenas dois professores, ambos durante a infância e adolescência. Estava pronto após estudar Bach, Mozart e Beethoven.

Começou a compor cedo e, antes de completar 20 anos, seu Scherzo opus 4 já tinha entusiasmado e revelado afinidades com Schumann, a quem Brahms ainda desconhecia. Foi visitar Schumann e então os fatos são mais conhecidos: primeiro, Schumann escreve em seu diário “Visita de Brahms, um gênio!”, depois publica artigo altamente elogioso ao compositor, fazendo com que o jovem Brahms tivesse a melhor publicidade que um artista pudesse desejar. Schumann o considerava um filho espiritual e a esposa de Schumann, Clara, chamava-o de seu “deus loiro”. Muitas hipóteses são possíveis sobre a relação entre Clara e Brahms, mas só uma coisa é certa: eles destruíram a maior parte das cartas que dizia respeito a ela. Porém, a versão de que houve um forte componente amoroso na relação dos dois tem tudo para estar próxima da verdade.

O Quarteto para Piano é uma formação que envolve um piano e três outros instrumentos. Durante o período clássico, usualmente os outros instrumentos eram um trio de cordas –- violino, viola e violoncelo. Para esta formação, Mozart, Schumann, Brahms, Mendelssohn, Schubert, Dvorak, Berwald e Fauré, entre outros, escreveram obras. Mais modernamente, Mahler e Messiaen utilizaram a mesma formação, sendo que o Quarteto para o Fim dos Tempos de Messiaen envolve piano, violino, cello e um clarinete em lugar da viola.

Brahms compôs três quartetos para piano. Curiosamente, o último foi o primeiro a ser escrito, nos anos de 1855-1856, quando o compositor tinha 22-23 anos e estava hospedado na casa dos Schumann. Só que ele foi revisado e estreado apenas trinta anos depois, em 1875. O segundo a ser escrito e primeiro a ser estreado é o que recebeu o Nº1, Op. 25 (escrito em 1861 – Brahms com 28 anos) e o terceiro é o Nº 2, Op. 26 (1862 – Brahms com 29 anos).

Brahms é compositor originalíssimo. Suas obras representam uma tentativa única de fusão entre a expressividade romântica e as preocupações formais clássicas. O resultado é uma música de grande densidade e intensidade. Foi, em sua época, adotado pelos conservadores. Ele colaborou bastante com esta adoção ao assinar um manifesto contra a chamada escola neo-alemã de Liszt e Wagner. Teve tal estigma imerecido até o famoso ensaio de Schoenberg: “Brahms, o Progressista”.

Em seus últimos anos de vida, Brahms afirmava que suas maiores obras de câmara teriam sido as da juventude e citava nominalmente o Sexteto, Op. 18, e os Quartetos para Piano, Op. 25 e 26, como as suas preferidas.

Então, fica a pergunta: teria ele comido Clara Schumann?

Johannes Brahms (1833-1897): Os Quartetos para Piano (completo) (Leopold / Hamelin)

Piano Quartet No. 1 in G minor, Op. 25 (39:08)
1. Allegro
2. Intermezzo: Allegro Ma Non Troppo – Trio: Animato
3. Andante Con Moto
4. Rondo Alla Zingarese: Presto

Piano Quartet No. 3 in C minor (“Werther”), Op. 60 (35:06)
5. Allegro Non Troppo
6. Scherzo: Allegro
7. Andante
8. Finale: Allegro Comodo

Piano Quartet No. 2 in A major, Op. 26 (50:12)
1. Allegro Non Troppo
2. Poco Adagio
3. Scherzo: Poco Allegro – Trio
4. Finale: Allegro

Intermezzi (3) for piano solo, Op. 117 (16:16)
5. Andante Moderato
6. Andante Non Troppo E Con Molto Espressione
7. Andante Con Moto

Leopold String Trio
Marc-André Hamelin, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

O Leopold String Trio sem Hamelin
O Leopold String Trio sem Hamelin

PQP

Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893): Concerto para Violino, Serenade melancolique, Souvenir d’un lieu cher (Honda, Clark)

Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893): Concerto para Violino, Serenade melancolique, Souvenir d’un lieu cher (Honda, Clark)

Um belo disco, com belas interpretações. Preciso comentar o Concerto para Violino de Tchai? Pois é. Vou pensar. Afinal, Mariko Honda toca de forma excelente, sem fogos de artifício. Mas onde este CD ganha muitos pontos extras é na entrada da  “Sérénade mélancolique” e do “Souvenir d’un lieu cher” no repertório. A Serenata é a primeira obra de Tchaikovsky para violino e orquestra. Também temos no CD a linda “Souvenir d’un lieu cher” na versão orquestrada por Glazunov. Minha mulher — que é russa e violinista da Ospa — toca maravilhosamente o original de “Souvenir” para violino e piano. Não, não, ela está comigo.

Em 1877, aos 37 anos de idade, Tchaikovsky fugia para o balneário suíço de Clarens, à beira do Lago de Genebra. Após uma união desastrada com sua ex-aluna Antonina Miliukova, ele precisava se recuperar do colapso nervoso causado por um casamento que durara apenas seis semanas. Vocês sabem, ele só se interessava por música… A estada em Clarens fez-lhe muito bem. Foi lá que ele compôs seu único Concerto para Violino. O Concerto foi influenciado pela Sinfonia Espanhola de Édouard Lalo e foi composto com a ajuda do aluno de Tchaikovsky e provável ex-amante, o violinista Iosif Kotek. Apesar da intenção original de Tchaikovsky de dedicar a obra a Kotek, ele a dedicou a Leopold Auer devido a pressões sociais. Auer, no entanto, recusou-se a executá-la, e a estreia foi dada por Adolph Brodsky em 1881. Mais tarde, a peça foi rededicada a Brodsky e tornou-se um pilar do repertório para violino. É muito bonito mesmo!

Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893): Concerto para Violino, Serenade melancolique, Souvenir d’un lieu cher (Honda, Clark)

Violin Concerto in D Major, Op. 35
1 I. Allegro moderato 20:01
2 II. Canzonetta: Andante 07:20
3 III. Finale: Allegro vivacissimo 11:46

Serenade melancolique, Op. 26
4 Serenade melancolique, Op. 26 09:59

Souvenir d’un lieu cher, Op. 42 (arr. A.K. Glazunov for violin and orchestra)
5 I. Meditation 10:56
6 II. Scherzo 04:53
7 III. Melodie 04:27

Slovak Philharmonic Orchestra
Slovak Radio Symphony Orchestra
Keith Clark

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Tchai em 1875

PQP

Diversos Compositores: Iberia y Francia • Imogen Cooper (piano) ֍

Diversos Compositores: Iberia y Francia • Imogen Cooper (piano) ֍

Meu pai era engenheiro ferroviário de nacionalidade francesa, e minha mãe era basca, de Saint-Jean-de-Luz, mas provavelmente de origem espanhola. Ela costumava me embalar para dormir cantando guajiras. Talvez seja por causa dessa ligação que me sinto tão atraído pela Espanha e sua música.

Maurice Ravel (ao repórter que o entrevistou em sua primeira visita à Madri)

Imogen Cooper é uma pianista inglesa conhecida por suas interpretações de Schubert e Schumann, apresenta-nos um disco com repertório mais associado a nomes como Alicia de Larrocha, Rafael Orozco, Joaquín Achúcarro ou, mais recentemente, Luis López. Mas, Imogen Cooper tem parte de sua formação musical na França, que tem pronta conexão com este universo Ibérico. Basta pensar em nomes como Aldo Ciccolini, que nasceu em Nápolis, mas tornou-se francês, e mais anteriormente, o pianista espanhol Ricardo Viñes, que foi o intérprete por excelência de peças como as deste disco.

Eu simplesmente adoro esse repertório e me deliciei (e continuo a desfrutar) do disco, que tem som e produção excelentes. A conexão França – Ibéria está viva neste disco e a boa novidade são as obras de Mompou, que eu conhecia menos e deixaram um ótimo gostinho de quero mais…

Faz tempo que os franceses descobriram a Ibéria…

Iberia y Francia

RAVEL

Pavane pour une infante défunte

Alborada del gracioso

FALLA

Homenaje: pièce de guitare écrite pour ‘Le Tombeau de Claude Debussy’

DEBUSSY

La Soirée dans Grenade

La puerta del Vino

La Sérénade interrompue

ALBENIZ

El Albaicín

Évocation

El puerto

Fête-Dieu à Séville

MOMPOU

Canción y Danza No.1

DEBUSSY

L’Isle joyeuse

ALBENIZ

Rumores de la Caleta

MOMPOU

Canción y Danza No.6

Imogen Cooper, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 178 MB

Caso você tenha acesso às plataformas de distribuição de músicas, aqui está uma possibilidade para a audição:

“Iberia y Francia”, de Imogen Cooper, é um álbum para piano que explora as conexões musicais entre a França e a Espanha. O álbum apresenta obras de compositores franceses como Claude Debussy e Maurice Ravel, além de compositores espanhóis como Isaac Albéniz, Manuel de Falla e Federico Mompou. A interpretação de Cooper dessas peças demonstra seu virtuosismo e suas habilidades líricas, reconhecidas internacionalmente.

Para uma experiência incrível de tocar piano e programar algo que incendeie a imaginação, sugiro que você defina seu padrão interno como “luxe, calme et volupté” e se prepare para a partida. Uma jornada maravilhosa o aguarda.

Aproveite!

René Denon

Se você gostou dessa postagem, não deixe de visitar essas aqui:

https://pqpbach.ars.blog.br/2023/06/01/albeniz-1860-1909-espana-granados-1867-1916-allegro-de-concierto-mompou-1893-1987-canciones-y-danzas-falla-1876-1946-noches-ciccolini-piano/

Stephen Hough’s Spanish Album – Peças de A. Soler, E. Granados, I. Albeniz, F. Mompou, F. Longas, C. Debussy, M. Ravel, F. X. Scharwenka, W. Niemann e S. Hough

Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993): Vinte estudos para piano (Moyer)

Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993): Vinte estudos para piano (Moyer)

Já faz um tempinho que deixei de postar coisas de minha própria discoteca em prol de ótimos CDs sugeridos e solicitados. Este post vai ser a última sugestão alheia durante os próximos meses.

Os vinte estudos guarnierianos para piano podem não ser tão conhecidos quanto os Ponteios, postados meses atrás, mas estão no mesmo patamar de beleza destes e são de um virtuosismo mais acentuado (justamente por serem estudos).

Agora só fica faltando eu postar os concertos para piano n° 4 e 5 – do primeiro ao terceiro vocês já podem baixar aqui no blog (o sexto concerto não foi gravado até hoje).

***

Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993): Vinte estudos para piano (Moyer)

No. 1 (1949) Deciso
No. 2 (1949) Brilhante
No. 3 (1949) Appassionato
No. 4 (1954) Animato
No. 5 (1950) Con moto
No. 6 (1962) Impetuoso, marcatissimo
No. 7 (1962) Sem pressa
No. 8 (1962) Comodo
No. 9 (1962) Furioso
No. 10 (1962) Movido
No. 11 (1968) Brilhante
No. 12 (1968) Dengoso
No. 13 (1969) “Homenagem a Claude Debussy”
No. 14 (1969) Sem pressa
No. 15 (1970) Maneiroso
No. 16 (1984) Caprichoso
No. 17 (1985) Sem pressa
No. 18 (1988) “Ondeante”
No. 19 (1981) (For the left hand alone) – Dramatico e Triste
No. 20 (1982) “Saramba

Piano: Frederick Moyer

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Camargo Guarnieri

CVL

Gioacchino Rossini (1792-1868): Petite Messe Solennelle (Pequena Missa Solene) — Ricciarelli, Zimmermann, Carreras, Ramey, The Ambrosian Singers, Scimone

Gioacchino Rossini (1792-1868): Petite Messe Solennelle (Pequena Missa Solene) — Ricciarelli, Zimmermann, Carreras, Ramey, The Ambrosian Singers, Scimone

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Tenho várias versões desta obra-prima de Rossini, mas creio que esta é a melhor. Scimone e um baita time de cantores dão um banho de bola. Pois é, a Pequena Missa Solene (Petite Messe Solennelle) é uma das obras sacras mais fascinantes e contraditórias do repertório musical do século XIX. Escrita em 1863, quase 30 anos após Rossini ter se aposentado da composição de óperas, a peça é uma síntese irrepetível de devoção, ironia e maestria musical. Rossini, famoso por óperas como O Barbeiro de Sevilha e Guilherme Tell, passou suas últimas décadas longe do teatro — não aguentava mais a convivência com os insuportáveis cantores e cantoras –, dedicando-se a composições privadas — às quais chamava de “pecados da velhice” — e à culinária, arte em que era um campeão. A missa foi encomendada pelo conde Alexis Pillet-Will para sua esposa, Louise, e foi estreada em 1864 na capela particular do casal em Paris. O título “Pequena Missa Solene” é irônico: a obra dura cerca de 90 minutos e exige um coro, solistas e um acompanhamento peculiar (dois pianos e um harmônio). A “Pequena Missa” faz altas exigências aos solistas, ou seja, a missinha exige solistas de alto nível (especialmente o tenor no “Crucifixus” e o contralto no “Agnus Dei”), além de um coro habilidoso de primeira linha. Não é mole, não.

Rossini, uma figuraça, escreveu no manuscrito:

“Querido Deus, aqui está terminada esta pobre missa. Fiz música sacra ou música maldita? Nasci para a ópera buffa, como bem sabes. Pouca ciência, um pouco de coração, é tudo. Seja louvado e conceda-me o Paraíso.”

A versão original usa dois pianos e harmônio – como nesta gravação –, criando uma sonoridade íntima e quase camarística. Em 1867, Rossini orquestrou a missa para evitar que outros o fizessem após sua morte. Não ficou uma bosta, mas grande parte da originalidade foi-se embora. A obra une o sagrado e o profano: há trechos de intensa espiritualidade ao lado de passagens que lembram ópera cômica. Críticos da época acharam-na pouco ortodoxa, mas hoje é reconhecida como uma obra-prima do repertório sacro romântico. A Pequena Missa Solene é realmente algo fascinante, cheia de nuances e contradições — assim como o próprio Rossini, que conseguiu unir o sagrado e o profano como ninguém. Se um dia tiver a chance de ouvi-la ao vivo, saiba, é uma experiência única. Tive a sorte de vê-la duas vezes, uma delas em Paris. Te mete!

Gioacchino Rossini (1792-1868): Petite Messe Solennelle (Pequena Missa Solene) — Ricciarelli, Zimmermann, Carreras, Ramey, The Ambrosian Singers, Scimone

Petite Messe Solennelle
1 -1 I. Kyrie 7:02
1-2 II. Gloria 32:33
2-1 III. Credo 16:00
2-2 IV. Prélude Religieux Pendant L’Offertoire 7:20
2-3 V. Ritournelle Pour Le Sanctus – Sanctus 3:16
2-4 VI. O Salutaris Hostia 5:12
2-5 VII. Agnus Dei 8:00

Baritone Vocals – Samuel Ramey (faixas: 1-1 to 2-5)
Choir – The Ambrosian Singers (faixas: 1-1 to 2-5)
Chorus Master – John McCarthy
Conductor – Claudio Scimone
Harmonium – Richard Nunn (faixas: 1-1 to 2-5)
Mezzo-soprano Vocals – Margarita Zimmermann (faixas: 1-1 to 2-5)
Soprano Vocals – Katia Ricciarelli (faixas: 1-1 to 2-5)
Tenor Vocals – José Carreras (faixas: 1-1 to 2-5)

Mosé In Egitto, Act 3
2-6 Preghiera: Dal Tuo Stellato Soglio

Bass Vocals – Ruggero Raimondi
Mezzo-soprano Vocals – Sandra Browne (2)
Orchestra – Philharmonia Orchestra
Soprano Vocals – June Anderson
Tenor Vocals – Salvatore Fisichella

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

PQP

Leonard Bernstein (1918-1990): Missa (Nagano)

Leonard Bernstein (1918-1990): Missa (Nagano)

ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!

Eu poderia escrever 10 páginas sobre a deslumbrante Missa de Bernstein, mas vou tratar de resumir, até porque tempo é tudo o que não há em minha vida atualmente. A Missa foi uma encomenda da família Kennedy para ser apresentada na inauguração do John F. Kennedy Center de Washington, em 1971. Encomendaram qualquer peça; não estava previsto se seria uma Sonata para Piano ou uma peça gigantesca que envolvesse orquestra, cantores e dançarinos… O tema também era livre. E Bernstein utilizou a liberdade que lhe foi dada… Quando soube-se que o compositor estava escrevendo uma Missa sobre textos da Missa católica, houve grande alegria por parte dos organizadores do evento, pois John Kennedy foi o primeiro presidente católico dos EUA e Bernstein fora sensível ao fato.

Mal sabiam eles que no que estavam se metendo. Bernstein fez ressucitar um certo trope, que seriam inserções ou comentários à missa que entravam a qualquer momento. Isto existe desde a Idade Média e são peças vocais que servem para explicar o latinório da Missa. Só que estávamos em 1971, eram tempos muito controversos e Lenny mostrou-se um perfeito ateu ao tecer comentários demolidores em seus tropes que misturam blues, rock e marchas militares. Alguns versos:

I believe in God,
But does God believe in me?
I’ll believe in any god
If any god there be.

I believe in one God,
But then I believe in three.
I’ll believe in twenty gods
If they`ll believe in me.

What I need I don’t have
What I have I don’t own
What I own I don’t want
What I want, Lord, I don’t know.

What I say I don’t feel
What I feel I don’t show
What I show isn’t real
What is real, Lord-I don’t know,
No, no, no-I don’t know.

O texto da Missa é do próprio Bernstein e de Stephen Schwarz. O trope Half of the People foi escrito por Paul Simon. Ao final da primeira apresentação, a platéia permaneceu três minutos em silêncio — uma eternidade certamente causada pelo pasmo frente a notável provocação de Lenny –, mas depois prorrompeu em aplausos de quase trinta minutos.

Ah, como não faz sentido ouvir sem saber o que está sendo cantado, coloco abaixo a letra completa da Missa.

Leonard Bernstein – Missa (Uma peça de teatro para cantores, músicos e dançarinos)

I. Devotions Before Mass
Antiphon: “Kyrie Eleison” 2:28
Hymn And Psalm: A Simple Song 3:46
Responsory: “Alleluia” 1:07

II. First Introit (Rondo)
Prefatory Prayers 5:06
Thrice – Triple Canon: Dominum Vobiscum 0:42

III. Second Introit
In Nomine Patris 2:03
Prayer For The Congregation (Chorale: “Almighty Father”) 1:39
Epiphany 0:56

IV. Confession
Confiteor 2:11
Trope: “I Don’t Know” 1:30
Trope: “Easy” 4:42

V. Meditation No.1 6:11
VI. Gloria
Gloria Tibi 1:38
Gloria In Excelsis 1:17
Trope: “Half Of The People” 0:59
Trope: “Thank You” 2:42

VII. Meditation No.2 3:37
VIII. Epistle “The Word Of Lord” 5:53
IX. Gospel-Sermon “God Said” 4:28
X Credo
Credo In Unum Deum 1:10
Trope: “Non Credo” 2:17
Trope: “Hurry” 1:22
World Without End 1:34
Trope: “I Believe In God” 1:58

XI. Meditation (De Profundis, Part 1) 2:44
XII. Offertory (De Profundis, Part 2) 2:02
XIII. The Lord’s Prayer
“Our Father…” 2:07
Trope: “I Go On” 2:34

XIV. Sanctus “Holy! Holy! Holy!…” 5:19
XV. Agnus Dei 5:38
XVI. Fraction 14:19
XVII. Pax: Communion 9:43

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

William Elliott,
Maeretha Stewart,
Kimberly Keeton,
Tom Carpender,
Nile Norton,
Kate Berenson,
John Manno,
Angela Doctor,
Michael Timm,
Lark Coryell,
Katy Stephan,
Bryan Matheson,
Isabelle Vosskuhler,
Charles Magruder,
Julian Frischling,
Doug Boyd,
John Stenzel,
June Magruder,
Frazier Stevenson,
Marie-Louise Modersohn,
Jim Hale,
Larry Rose,
Adrienne Albert,
Kathie Longinotti,
Eric Freeman,
Tobias Lehmann,
John Paddock,
Sigurd Brauns,
Benjamin Scott,
Benjamin Grant,
Marc Accornero,
Rene Vosskuhler,
Eric Lipsitt,
Jerry Hadley, celebrante

Sigurd Brauns, órgão

Pacific Mozart Ensemble, Richard Grant e Lynne Morrow
Rundfunkchor Berlin, Simon Halsey
Sttats- um Domchor Berlin, Kai-Uwe Jirka
Deutsches Symphonie-Orchester
Kent Nagano

.oOo.

Letra completa:

Text from the Liturgy of the Roman Mass
Additional Texts by
Stephen Schwartz and Leonard Bernstein

I. DEVOTIONS BEFORE THE MASS

1. Antiphon: Kyrie eleison

Soprano
Kyrie eleison!
Lord, have mercy!

Bass
Kyrie eleison!
Lord, have mercy!

Soprano and Alto
Christe eleison!
Christ, have mercy!

Tenor and Baritone
Christe eleison!
Christ, have mercy!

2. Hymn and Psalm: “A Simple Song”

Celebrant
Sing God a simple song
Lauda, Laude…
Make it up as you go along
Laude, Laude…
Sing like you like to sing
God loves all simple things
For God is the simplest of all.

I will sing the Lord a new song
To praise Him, to bless Him, to bless the Lord.
I will sing His praises while I live
All of days.

Blessed is the man who loves the Lord,
Blessed is the man who praises Him.
Lauda, Lauda, Laude…
And walks in His ways.

I will life up my eyes
To the hills from whence comes my help.
I will lift up my voice to the Lord
Singing Lauda, Laude.

For the Lord is my shade,
Is the shade upon my right hand
And the sun shall not smite me by day
Nor the moon by night…
Blessed is the man who loves the Lord –

Lauda, Lauda, Laude –
And walks in His ways.

Lauda, Lauda, Laude
Lauda, Lauda di da di day…
All of my days.

3. Responsory: Alleluia

Six Solo Voices
Du bing, du bang, du bong, etc.

Alleluia!
Alleluia! etc.

II. FIRST INTROIT (Rondo)

1. Prefatory Prayers

Street Chorus
Kyrie eleison!
Christe eleison!
Lord have mercy!
Christ have mercy!

Gloria Patri et Filio,
Et Spiritui Sancto!
Glory be to the Father, and to
the Son, and to the Holy Spirit!

Sicut erat in principio
Et nunc et semper,
Et in saecula saeculorum. Amen
As it was in the beginning,
Is now and ever shall be,
World without end. Amen.

Basses
Introibo ad altare Dei.
I will go up to the alter of God.

Tutti
Ad Deum qui laetificat
juventutem meam.
To God, who gives joy to my youth.

Women
Asperges me, Domine,
Hyssopo, et mundabor.
Thou shalt sprinkle me with hyssop,
O Lord, and I shall be cleansed.

Two Sopranos
Emitte lucem tuam,
Et veritatem tuam.
Send forth Thy light,
and Thy truth.

Altos
Ostende nobis, Domine
Show us, Lord

Basses
Domine!
Lord!

Altos
Ostende nobis
Misericordiam tuam.
Show us
Thy mercy.

Soprano
Vidi aquam egredientem
De templo latere dextro
Et omnes ad quos pervenit
Aqua ista salvi facti sunt,
Et dicent:
I saw the water issuing from
the right side of the temple
And all those to whom it comes
Are saved by that very water
And say:

Tutti
Alleluia, alleleluiaia! etc.
Alleluia, alleleluiaia! etc.

Boys’ Choir
Kyrie eleison!
Lord, have mercy!

Chorus
Christe eleison!
Christ, have mercy!

Boy (solo)
Here I go up to the altar of God.
In I go, up I go
To God who made me young
To God who made me happy
To God who makes me happy to be young.

Street Chorus and Boys’ Choir
Alleluia!

2. Thrice-Triple Canon: Dominus vobiscum

Celebrant
Dominus vobiscum.
The Lord be with you.

Boys’ Choir
Et cum spiritu tuo.
And with thy spirit.

All
Dominus vobiscum.
Et cum spiritu tuo.
The Lord be with you.
And with thy spirit.

III. SECOND INTROIT

1. In nomine Patris

Celebrant
In the name of the Father, and of
the Son, and of the Holy Spirit

Tape
In nomine Patris, et Filii, et
Spiritus Sancti, Amen.

Celebrant
Let us rise and pray.

Celebrant
Let us rise and pray.

Celebrant
Almighty Father, bless this house. And bless and protect all who are assembled in it.

2. Prayer for the Congregation (Chorale: “Almighty Father”)

Choir
Almighty Father, incline Thine ear:
Bless us and all those who have gathered here
Thine angel send us
Who shall defend us all
And fill with grace
All who dwell in this place.
Amen.

3. Epiphany

IV. CONFESSION

Celebrant
I confess to Almighty God, to blessed Mary ever Virgin,
to blessed Michael the archangel, to blessed
John the Baptist, to the holy apostles, Peter and Paul…

1. Confiteor

Confiteor Deo omnipotenti,
Beatae Mariae, semper Virgini,
Beato Michaeli archangelo,
Beato Joanni Baptistae,
Sanctis Apostolis Petro
et Paulo,
Omnibus sanctis,
Et vobis, fratres:
Quia peccavi nimis cogitatione,
verbo et opere:
Mea culpa, mea culpa,
mea maxima culpa.
Ideo precor beatam Mariam
semper Virginem,
Beatum Michaelem Archangelum,
beatum Joannem Baptistam,
Sanctos Apostolos Petrum
et Paulum,
Omnes sanctos, et vos, fratres,
Orare pro me
Ad Dominum Deum nostrum.
I confess Almighty God,
To blessed Mary ever Virgin,
To blessed Michael the archangel,
To blessed John the Baptist,
To the holy apostles Peter
and Paul,
To all the saints,
And to you, brothers:
That I have sinned exceedingly in
Thought, word and deed:
Through my fault, through
my own most grievous fault.
Therefore I beseech the Blessed
Mary ever Virgin,
Blessed Michael the archangel,
Blessed John the Baptist,
The holy apostles Peter
and Paul,
All the saints, and you, brothers,
To pray for me
To the Lord our God.

2. Trope: “I Don’t Know”

Male Street Chorus
Confiteor, Confiteor…

First Rock Singer
Lord, I could go confess
Good and loud, nice and slow
Get this load off my chest
Yes, but why, Lord-I don’t know.

I don’t know why every time
I find a new love I wound up destroying it.
I don’t know why I’m
So crazy-minded, I keep on kind of enjoying it-
Why I drift off to sleep
With pledges of deep resolve again,
Then along comes the day
And suddenly they dissolve again-
I don’t know…

(with Descant)

What I say I don’t feel
What I feel I don’t show
What I show isn’t real
What is real, Lord-I don’t know,
No, no, no-I don’t know.

3. Trope: “Easy”

First Blues Singer
Well, I went to the holy man and I confessed…
Look, I can beat my breast
With the best.
And I’ll say almost anything that gets me blessed
Upon request…

It’s easy to shake the blame for any crime
By trotting out that ‘mea culpa’ pantomime:
‘Yes, yes, I’m sad, I sinned, I’m bad.’
Then go out and do it one more time.

Second Rock Singer
I don’t know where to start
There’s so much I could show
If I opened my heart
But how far, Lord, but how far can I go?
I don’t know.

Second Blues Singer
If you asked me to join you in some real good vice
Now that might be nice
Once or twice
But don’t look for sacraments or sacrifice
They’re not worth the price

It’s easy to have yourself a fine affair
Your body’s always ready, but your soul’s not there
Don’t count on trust
Come love, come lust,
It’s so easy when you just don’t care.

Third Rock Singer
What I need I don’t have
What I have I don’t own
What I own I don’t want
What I want Lord, I don’t know.

Third Blues Singer
If you ask me to sing you verse that’s versatile
I’ll be glad to beguile you
For a while
But don’t look for content beneath the style
Sit back and smile

It’s easy for you to dig my jim-jam jive,
And, baby, please observe how neatly I survive.
And what could give
More positive
Plain proof that living is easy when you’re half alive.

All Three Rock Singers
Lord, I could go confess…

All Three Blues Singers
Easy…

All Three Rock Singers
Good and loud, nice and slow…

All Three Blues Singers
Easy…

Choir
Beatam Mariam semper Virginem (Ideo precor)
Beatum Michaelem Archangleum, beatum Joannem Baptistam,
Sanctos Apostolos Petrum et Paulum,
Omnes sanctos, et vos, fratres,
Orate pro me
Ad Dominum Deum nostrum.

All Six Soloists
What I say I don’t feel
What I feel I don’t show
What I show isn’t real
What is real, Lord-I don’t know,
No, no, no-I don’t know.

First Rock Singer
Come on, Lord, if you’re so great
Show me how, where to go
Show me now-I can’t wait
Maybe it’s too late,
Lord,
I don’t know…

First Blues Singer
Confiteor….

Celebrant (speaking)
God forgive you.

All (speaking)
God forgive us all.

Celebrant
The Lord be with you.

All
And with your spirit.

Celebrant
Let us pray.

V. MEDITATION NO. 1

VI. GLORIA

1. Gloria tibi

Celebrant
Gloria tibi, Gloria tibi,
Gloria!
Glory to You, Glory to You
Glory!

Boys’ Choir
Gloria tibi, Gloria tibi,
Gloria!
Glory to You, Glory to You
Glory!

Celebrant and Boys’ Choir
Gloria Patri,
Gloria Filio,
Et Spiritui Sancto.
Laudamus te,
Adoramus te,
Glorificamus te,
Benedicimus te.
Glory to the Father,
Glory to the Son,
And the Holy Spirit.
We praise You,
We adore You,
We glorify You,
We bless You.

Gloria Patri
Gloria Filio
Et Spiritui Sancto.
Gloria!
Glory to the Father,
Glory to the Son,
And the Holy Spirit.
Glory

Celebrant
Glory to God in the Highest and Peace on Earth to Men of Good Will!

2. Gloria in excelsis

Choir
Gloria in excelsis Deo,
et in terra pax hominibus
bonae voluntatis.
Laudamus te,
Adoramus te,
Benedicimus te.
Glorificamus te.
Gratias agimus tibi propter
magnam gloriam tuam:
Domine Deus, Rex caelestis.
Deus Pater omnipotens.
Domine Fili unigenite,
Jesu Christe;
Domine Deus, Agnus Dei,
Filius Patris;
Qui tollis peccata
mundi,
miserere nobis;
suscipe deprecationem nostram;
Qui sedes ad dexteram Patris,
miserere nobis.
Quoniam tu solis Sanctus,
Tu solus Dominus,
Tu solus Altissimus:
Jesu Christe,
Cum Sancto Spiritu: in gloria
Dei Patris, Amen.
Glory to God in the highest
And on earth peace to men of
good will.
We praise Thee,
We adore Thee,
We bless Thee,
We glorify Thee.
We give Thee thanks for Thy
great Glory:
Lord God, heavenly King,
God the Almighty Father.
Lord Jesus Christ, only-begotten
Son;
Lord God, Lamb of God, Son of
the Father:
Who takest away the sins of the
world,
have mercy upon us;
Receive our prayer;
Thou who sittest at the right hand
of the Father, have mercy upon us.
For Thou alone art the Holy One,
Thou alone art Lord,
Thou, Jesus Christ, alone art the
Most High,
With the Holy Spirit, in the glory
of God the Father. Amen.

3. Trope: “Half of the People”

Street Chorus and Band
Amen!
*Half of the people are stoned
And the other half are waiting for the next election.
Half the people are drowned
and the other half are swimming in the wrong direction.

* this quatrain was a Christmas present from Paul Simon. Gratias, L.B.

They call it Glorious Living
They call it Glorious Living
And baby where does that leave you,
You and your kind-

Choir
…miserere nobis, suscipe
deprecationem nostram…

Street Chorus and Band
—you and your youth and your mind?
Nowhere, Nowhere, Nowhere.

Half of the people are stoned
And the other half are waiting for the next election-

4. Trope: “Thank You.”

Soprano Solo
There once were days so bright
And nights when every cricket call seemed right
And I sang Gloria
Then I sang Gratias Deo
I knew a glorious feeling
of thank you and…
Thank you…

The bend of a willow
A friend and a pillow
A lover whose eyes
Could mirror my cries of Gloria…

And now, it’s strange
Somehow, though nothing much has really changed
I miss the Gloria
I don’t sing Gratias Deo
I can’t say quite when it happened
But gone is the…
…thank you…

Street Chorus
Half the people are drowned, and the other half
Are swimming in the wrong direction.

Celebrant
Let us pray.

VII. MEDITATION NO. 2 (orchestra)

VIII. EPISTLE: “The Word of the Lord”

Celebrant
Brothers: This is the gospel I preach; and in its service I have suffered hardships like a criminal; yea, even unto imprisonment; but there is no imprisoning the Word of God…

A Young Man
Dearly Beloved: Do not be surprised if the world hates you. We who love our brothers have crossed over to life, but they who do not love, abide in death. Everyone who hates his brother is a murderer.

Another Young Man
Dear Mom and Dad… Do not feel badly or worry about me. Nothing will make me change. Try to understand: I am now a man.

Celebrant
You can lock up the bold men
Go and lock up your bold men
And hold men in tow,
You can stifle all adventure
For a century or so.
Smother hope before it’s risen
Watch it wizen like a gourd,
But you cannot imprison
The Word of the Lord.

Celebrant and Chorus
No, you cannot imprison
The Word of the Lord.

Celebrant
For the Word
For the Word was at the birth of the beginning
It made the heavens and the earth and set them spinning,
And for several million years
It’s withstood all our forums and fine ideas.
It’s been rough
It’s been rough but it appears to be winning!

There are people who doubt it
There are people who doubt it and shout it out loud,
Oh, they bellow and they bluster ‘til they muster up a crowd.
They can fashion a rebuttal that’s as subtle as a sword,
But they’re never gonna scuttle the Word of the Lord.

Celebrant and Chorus
No, they’re never gonna scuttle the Word of the Lord!

An Older Man
Dear Brothers: …I think that God has made us apostles the most abject of mankind. We hunger and thirst, we are naked, we are roughly handled, and we have no fixed abode…They curse us and we bless. They persecute us and we suffer it…They treat us as the scum of the earth, the dregs of humanity, to this very day.

A Young Girl
Dear Folks: Jim looked very well on my first visit. With his head clean-shaven, he looked about 19 years old. He says the prison food is very good. For the first few days he’s not allowed any books except his Bible. When I hugged him he smelled so good, a smell of clean plain soap; like a child when you put him to bed.

Celebrant
All you big men of merit,
all you big men of merit
who ferret out flaws,
you rely on our compliance
with your science and your laws.

Find a freedom to demolish
while you polish some award,
but you cannot abolish the Word of the Lord.

Celebrant and Chorus
No, you cannot abolish
the Word of the Lord.

Celebrant
For the Word,
for the Word created mud and got it going
It filled our empty brains with blood and set it flowing
And for thousands of regimes
It’s endured all our follies and fancy schemes.
It’s been tough,
It’s been tough, and yet it seems to be growing!

O you people of power,
O you people of power, your hour is now.
You may plan to rule forever, but you never do somehow.

So we wait in silent treason until reason is restored
and we wait for the season of the Word of the Lord.
We await the season of the Word of the Lord.
We wait…we wait for the Word of the Lord…

IX. GOSPEL-SERMON: “God Said”

Preacher
God said: Let there be light.
And there was light.

Chorus
God said: Let there be night.
And there was night.

Preacher
God said: Let there be day.
And there was day…

Chorus
…day to follow the night.

Preacher
And it was good, brother

All
And it was good, brother

Preacher
And it was good, brother

All
And it was goddam good.

Preacher
God said: Let there be storms
Storms to bring life…

Chorus
…life in all of its forms,
Forms such as herds…

Preacher
…herds and gaggles and swarms
Swarms that have names…

Chorus
…names and numbers and norms.

Preacher
And it was good, brother

All
And it was good, brother

Preacher
And it was good, brother

All
And it was goddam good!

Preacher
God said: Let there be gnats
Let there be sprats…

Chorus
…sprats to gobble the gnats
So that the sprats…

Preacher
…sprats may nourish the rats,
Making them fat…

Chorus
…fat, fine food for the cats.

Preacher
And they grew fat, brother

All
And the grew fat, brother

Preacher
All but the gnats, brother

All
They all grew fearful fat.

Preacher
And God saw it was good

Chorus
God made it be good

Preacher
Created it good

Chorus
Created the gnats…

Preacher
…gnats to nourish the sprats…

Chorus
…sprats to nurture the rats

Preacher
And all for us big fat cats.

All
Us cats!

Chorus
And it was good, and it was good,
And it was good, and it was good.

First Solo
God said it’s good to be poor,
Good men must not be secure;
So if we steal from you,
It’s just to help you stay pure.

All
And it was good!

Chorus
And it was good! (etc.)

Second Solo (antiphonally with Chorus)
God said take charge of my zoo
I made these creatures for you;
So he won’t mind if we
Wipe out a species or two.

All
And it was good!

Chorus
And it was good! (etc.)

Third Solo
God said to spread His commands
To folks in faraway lands;
They may not want us there,
But man it’s out of our hands.

All
And it was good!

Chorus
And it was good! (etc.)

Fourth Solo
God said that sex should repulse
Unless it leads to results;
And so we crowd the world
Full of consenting adults.

All
And it was good!

Chorus
And it was good! (etc.)

Fifth Solo
God said it’s good to be meek
And so we are once a week;
It may not mean a lot
But oh, it’s terribly chic.

All
And it was good!

Chorus
And it was good! (etc.)

Preacher
God made us the boss
God gave us the cross
We turned it into a sword
To spread the Word of the Lord
We use His holy decrees
To do whatever we please

Chorus
Yeah!

Preacher
And it was good!

Chorus
Yeah!

All
And it was good, Yeah!
And it was goddam good!

Preacher
God said: Let there be light.
And there was light.

Chorus
God said: Let there be night.
And there was night.

Preacher
God said: Let there be day.
And there was day…

Chorus
…day to follow the night.

Preacher
And it was good, brother!

Chorus
And it was good, brother!

Preacher
And it was good brother!

All
And it was…

X. CREDO

Celebrant
I believe in one God, the Father Almighty, maker of heaven and earth, and of all things visible and invisible. And in one Lord…(etc.)

1. Credo in unum Deum

Chorus and percussion on Quadraphonic tape
Credo in unum Deum,
Patrem omnipotentem,
Factorem caeli et terrae,
Visibilium omnium et
invisibilum.
Et in unum Dominum Jesum
Christum, Filium Dei unigenitum.
Et ex Patre natum ante omnia saecula.
Deum de Deo, lumen de lumine,
Deum verum de Deo vero.
Genitum, non factum,
consubstantialem Patri:
Per quem omnia
facta sunt.
Qui propter nos homines et
propter nostram salutem
descendit de caelis.
Et incarnatus est de Spiritu
Sancto
Ex Maria Virgine: et homo
factus est.
I believe in one God,
the Father Almighty,
Maker of heaven and earth,
And of all things visible
and invisible.
And in one Lord Jesus Christ, the
only-begotten Son of God.
Born of the Father before all
ages.
God of God, light of light,
true God of true God;
Begotten, not made, of one
essence with the Father:
Through whom all things were made.
Who for us men, and for our
salvation, came down from
heaven.
And was incarnate by the Holy
Spirit
Of the Virgin Mary: and was
made man.

2. Trope: Non Credo

First Solo
Et homo factus est
And was made man…

And you became a man
You, God, chose to become a man
To pay the earth a small social call
I tell you, sir, you never were
A man at all
Why?
You had the choice
when to live
When
To die
And then
Become a god again

Group
And was made man…

Solo
And then a plaster god like you
Has the gall to tell me what to do
To become a man
To show my respect on my knees
Go genuflect, but don’t expect guarantees
Oh
Just play it dumb
Play it blind
But when
I go
Then
Will I become a god again?

Group
Possibly yes, probably no…

Solo
Yes, probably no

Give me a choice
I never had a choice
Or I would have been a simple tree
A barnacle in a silent sea
Anything but what I must be
A man
A man
A man!

Group
Possibly yes, probably no…

Solo
You knew what you had to do
You knew why you had to die
You chose to die, and then revive again
You chose, you rose
Alive again
But I
I don’t know why
I should live
If only to die
Well, I’m not gonna buy it!

Group
Possibly yes, probably no…

Solo
I’ll never say credo.
How can anybody say credo?
I want to say cr…

Tape
Crucifixus etiam pro nobis
sub Pontio Pilato,
Passus, et sepultus est.
Et resurrexit tertia die,
secundum Scripturas.
Et ascendit in caelum:
Sedet ad dexteram Patris.
Et iterum venturus est
cum gloria
judicare vivos et mortuos.
He was also crucified for our sake
under Pontius Pilate,
suffered, and was buried.
And the third day He rose again
according to the Scriptures.
And He ascended into heaven:
And is seated at the right hand of
the Father. And He will come again
with glory
to judge the living and the dead.

3. Trope: “Hurry”

Second Solo
You said you’d come again
When?
When things got really rough
So you made us all suffer
While they got a bit rougher
Tougher and tougher
Well, things are tough enough.

So when’s your next appearance on the scene?
I’m ready
Hurry
Went to church for clearance and I’m clean
And steady
Hurry
While I’m waiting I can get my bags packed
Flags flown
Shoes blacked
Wings sewn
On…

Oh don’t you worry –
I could even learn to play the harp
You know it
Show it
Hurry
Hurry and come again.

Tape
Sedet ad dexteram
Patris.
Et iterum venturus est cum gloria
judicare vivos et mortuos:
Cujus regni non erit finis-
He is seated at the right hand of
the Father.
He will come again with glory
to judge the living and the dead:
Whose reign will be without end-

4. Trope: “World Without End”

Street Chorus
Non erit finis…
World without end…

Third Solo
Whispers of living, echoes of warning
Phantoms of laughter on the edges of morning
World without end spins endlessly on
Only the men who lived here are gone
Gone on a permanent vacation
Gone to await the next creation

World without end at the end of the world
Lord, don’t you know it’s the end of the world?
Lord, don’t you care if it all ends today?
Sometimes I’d swear that you planned it this way…

Dark are the cities, dead is the ocean
Silent and sickly are the remnants of motion
World without end turns mindlessly round
Never a sentry, never a sound
No one to prophesy disaster
No one to help it happen faster
No one to expedite the fall
On one to soil the breeze
No one to oil the seas
No one to anything
No one to anything
No one to anything at all…

Tape
Et in spiritum Sanctum, Dominum
et vivificantem:
Qui ex Patre Filio que
procedit.
Qui cum Patre, et Filio simul
adoratur, et conglorificatur:
Qui locutus est per Prophetas.
Et unam sanctam catholicam et
apostolicam Ecclesiam.
Confiteor unum baptisma in
remissionem peccatorum.
Et exspecto resurrectionem
mortuorum,
Et vitam venturi saeculi.
Amen.
I believe also in the Holy Spirit,
Lord and life-giver:
Who proceeds from the Father
and the Son.
Who together with the Father,
and the Son is adored, and glorified:
Who spoke through the prophets.
And I believe in one holy, catholic
and apostolic Church.
I acknowledge one baptism for
the remission of sins.
And I await the resurrection of
the dead,
And the life in the world to come.
Amen.

First Solo
You chose…You rose…
A man!…A man!…You chose!…You rose!

Second Solo
Hurry and come again…
Bags packed, wings sewn, Hurry!…Hurry!…

Third Solo
World without end, end of the world!
End of the world! Lord, don’t you care?
Lord, don’t you care?

5. Trope: “I Believe in God”

Fourth Solo
Amen! Amen! Amen!

Solo
I believe in God,
But does God believe in me?
I’ll believe in any god
If any god there be.
That’s a pact. Shake on that. No taking back.

I believe in one God,
But then I believe in three.
I’ll believe in twenty gods
If they’ll believe in me.
That’s a pact. Shake on that. No taking back.

Who created my life?
Made it come to be?
Who accepts this awful
Responsibility?

Is there someone out there?
If there is, then who?

Are you listening to this song
I’m singing just for you?

I believe my singing.
Do you believe it too?
I believe each note I sing
But is it getting through?

I believe in F sharp.
I believe in G.
But does it mean a thing to you
Or should I change my key?

How do you like A-flat?
Do you believe in C? –

Choir
Crucifixus etiam pro nobis –

Solo
Do you believe in anything
That has to do with me?

Street Chorus
I believe in God,
But does God believe in me?
I’ll believe in thirty gods
If they’ll believe in me.
That’s a pact. Shake on that. No taking back.

Solo
I’ll believe in sugar and spice,
I’ll believe in everything nice;
I’ll believe in you and you and you
And who…
Who’ll believe in me?

Celebrant
Let us pray.
LET US PRAY!

XI. MEDITATION NO. 3 (De Profundis, part 1)

Choir
De profundis clamavi ad te,
Domine;
Domine, audi vocem meam!
Fiant aures tuae intentae
Ad vocem obsecrationis meae.
Si delictorum memoriam
servaveris,
Domine, Domine, quis sustinebit?
Sed penes te est peccatorum
venia,
Ut cum reverentia serviatur
tibi.
Spero in Dominum;
Sperat anima mea in verbum eius.
Spero! Sperat!
From the depths I cried to you,
O Lord;
Lord, hear my voice!
Let your ears attend
The voice of my supplication.
If you, O Lord, remember only
our iniquities,
Lord, Lord, who can survive it?
But in your hands is the forgiveness
of sins,
That you may be served in
reverence.
I trust in the Lord;
My soul trusts in His word.

Celebrant
Memento, Domine – Remember, O Lord, Thy servants and handmaids…[ad lib. names of cast members]…and all here present, whose faith is known to Thee, and for whom we offer up this sacrifice. We beseech Thee in the fellowship of communion, graciously to accept it and to grant peace to our days.

XII. OFFERTORY (De Profundis, part 2)

Boys’ Choir
Exspectat anima mea Dominum
Magis quam custodes
auroram
Exspectet Israel Dominum,
Quia penes Dominum
Misericordia et copiosa penes
eum redemptio:
Et ipse redimet Israel ex
omnibus iniquitatibus eius.
Gloria Patri.
My soul waits for the Lord
More than they who wait for the
morning-
Let Israel wait for the Lord,
For with the Lord is compassion
And with Him is plentiful
redemption:
And He will redeem Israel from all
its iniquities.
Glory to the Father.

XIII. THE LORD’S PRAYER

1. Our Father…

Celebrant
Our Father, who art in heaven
Hallowed by Thy name.
Thy kingdom come
Thy will be done, on earth as it is in heaven.
Give us this day our daily bread
And forgive us our trespasses
As we forgive those who trespass against us. And lead us not into temptation
But deliver us from evil. Amen.

2. Trope: “I Go On”

When the thunder rumbles
Now the Age of Gold is dead
And the dreams we’ve clung to dying to stay young
Have left us parched and old instead…
When my courage crumbles
When I feel confused and frail
When my spirit falters on decaying altars
And my illusions fail,

I go on right then.
I go on again.
I go on to say
I will celebrate another day…
I go on…

If tomorrow tumbles
And everything I love is gone
I will face regret
All my days, and yet
I will still go on… on…
Lauda, Lauda, Laude
Lauda, Laude di da di day…

XIV. SANCTUS

Celebrant
Holy!
Holy!
Holy is the Lord God of Hosts! Heaven and earth are full of Thy glory!

Boys’ Choir (calling from side to side)
Sanctus, Sanctus, Sanctus
Dominus Deus Sabaoth.
Holy, Holy, Holy
Lord God of Hosts.

Pleni sunt coeli et terra
Gloria tua.
Heaven and earth are full of
Thy glory.

Osanna, Osanna, Osanna!
Hosanna, Hosanna, Hosanna!

Boys’ Choir
Benedictus qui venit in
nomine Domini.
Blessed is he who comes in the
name of the Lord.

Osanna, Osanna, Osanna in
excelsis!
Osanna in excelsis!
Hosanna, Hosanna, Hosanna in
the highest!
Hosanna in the Highest!

Celebrant
Mi… Mi…
Mi alone is only mi.
But mi with sol
Me with soul
Mi sol
Means a song is beginning
Is beginning to grow
Take wing, and rise up singing
From me and my soul.
Kadosh! Kadosh! Kadosh!
Holy! Holy! Holy!

Choir
Kadosh, Kadosh, Kadosh
Adonai ts’va-ot
M’Lo chol ha-aretz k’vodo
Holy! Holy! Holy!
Lord God of Hosts.
All the heavens and earth are full
of His glory.

(With Street Chorus)
Singing: Holy, Holy, Holy
Lord God of Hosts.
All the heavens and earth
Are full of His glory.

Choir
Kadosh, Kadosh, Kadosh
Adonai ts’va-ot
M’Lo chol ha-aretz k’vodo
Baruch ha’ba
B’shem Adonai
B’shem Adonai!
Holy, Holy, Holy
Lord God of Hosts.
All the heavens and earth are full
of His glory.
Blessed is he who comes
In the name of the Lord
In the name of the Lord!

All Voices
Sanctus!
Sanctus!
Holy!
Holy!

XV. AGNUS DEI

Male Soloists
Agnus Dei,
Agnus Dei, qui tollis peccata
mundi,
Agnus Dei;
Agnus Dei, qui tollis peccata
mundi
Miserere, miserere nobis!
Miserere, miserere nobis!
Lamb of God,
Lamb of God, who takest
away the sins of the world
Lamb of God;
Lamb of God, who takest
away the sins of the world
Have mercy, have mercy on us!
Have mercy, have mercy on us!

Male and Female Soloists
Agnus Dei,
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
Agnus Dei;
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi
Miserere, Miserere nobis!
Miserere, Miserere nobis!

All Soloists and Street Chorus
Agnus Dei,
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi;
Dona nobis pacem!
Dona nobis pacem!
Pacem! Pacem!
Give us peace!
Give us peace!
Peace! Peace!

Celebrant (speaking)
Hoc est enim corpus meum!
This is my Body!

Chorus (Men)
Dona…nobis…pacem…

Celebrant (grasping the Chalice)
Hic est enim Calix Sanguinis Mei!
This is the Chalice of My Blood!

Chorus
Dona… nobis… pacem…

Celebrant
Hostiam puram
Pure offering!

Chorus (Women)
Dona nobis pacem-

Celebrant
Hostiam sanctam…
Holy offering…

Chorus (Women)
Dona nobis pacem –

Celebrant
Hostiam immaculatam…
Immaculate offering…

Chorus (Men)
Dona nobis pacem –

Chorus (Women)
Pacem –

Full Chorus
Pacem! Pacem!

Street Chorus plus Choir
Agnus Dei,
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi
Dona nobis pacem!
Dona nobis pacem!
Pacem! Pacem!

Celebrant
LET US PRAY!

Choir (Women)
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi

Choir (Men)
Miserere nobis.

Celebrant
Non sum dignus, Domine.
I am not worthy, Lord.

Choir (Women)
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi

Choir (Men)
Miserere nobis!

Celebrant
I am not worthy, Lord.

Choir (Women)
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi!

Choir (Men)
Dona nobis pacem!

Celebrant
Corpus!
Body!

Choir
Pacem!

Celebrant
Calix!
Chalice!

Choir
Pacem! Pacem!
Dona nobis pacem!

Celebrant
PANEM!
BREAD!

Choir
Dona pacem! Pacem!
Dona nobis pacem!

Choir (the music turning imperceptibly into Blues-stanzas)
Dona nobis, nobis pacem,
Pacem dona, dona nobis,
Nobis pacem, pacem dona
Dona nobis, nobis pacem,
Pacem dona, dona nobis…

Nobis pacem, pacem dona,
Dona nobis, nobis pacem,
Pacem dona, dona nobis,
Nobis pacem, pacem dona,
Dona nobis, nobis pacem.

Tenor Solo (gradually joined by five other male soloists)
We’re not down on our knees,
We’re not praying,
We’re not asking you please,
We’re just saying:
Give us peace now and peace to hold on to
And God give us some reason to want to
Dona nobis, Dona nobis,

Men (and a few Women)
You worked six days and rested on Sunday.
We can tear the whole mess down in one day.
Give us peace now and we don’t mean later.
Don’t forget you were once our creator!
Dona nobis, Dona nobis.

Men
We’ve got quarrels and qualms and such questions,
Give us answers, not psalms and suggestions.
Give us peace that we don’t keep on breaking,
Give us something or we’ll just start taking!
Dona nobis, Dona nobis.

All
We’re fed up with your heavenly silence,
And we only get action with violence,
So if we can’t have the world we desire,
Lord, we’ll have to set this one on fire!
Dona nobis, Dona nobis.

XVI. FRACTION: “Things Get Broken”

Celebrant
PA…CEM!
PA…CEM!!
PA…CEM!!!

Celebrant
Look…Isn’t that – odd…
Red wine – isn’t red – at all…
It’s sort of – brown…brown and blue…
I never noticed that.
What are you staring at?
Haven’t you ever seen an accident before?

Look…Isn’t that – odd…
Glass shines – brighter –
When it’s – broken…
I never noticed that.

How easily things get broken.
How easily things get broken.
Glass – and brown wine –
Thick – like blood…
Rich – like honey and blood…

Hey – don’t you find that funny?
I mean, it’s supposed to be blood…
I mean, it is blood…His…
It was…
How easily things get broken…

What are you staring at?
Haven’t you ever seen an accident before?

Come on, come on, admit it,
Confess it was fun –
Wasn’t it?
You know it was exciting
To see what I’ve done.

Come on, you know you loved it.
You’re dying for more.
Wasn’t it smashing
To see it all come crashing
Right down to the floor!

Right!
You were right, little brothers,
You were right all along.
Little brothers and sisters,
It was I who was wrong –
So earnest, so solemn,
As stiff as a column,

“Lauda, Lauda, Laude.”
Little brothers and sisters,
You were right all along!
It’s got to be exciting,
It’s got to be strong.

Come on! Come on and join me,
Come join in the fun:

Shatter and splatter
Pitcher and platter
What do we care?
We won’t be there!
What does it matter?
What does it…
…matter…

Our Father, who art in Heaven,
Haven’t you ever seen an accident before?

Listen…Isn’t that – odd…
We can – be – so still…
so still and – numb…
How easily things get quiet.

Quiet… God is very ill…
We must… all be very still…
His voice… has grown so small,
Almost… not there at all…
Don’t you cry…
Lullaby…
Sleep…
Sleep…

Shh…
Shh…
Pray, pray… you sons of men
Don’t let… him die again

Stay, oh stay…
Domine…
Stay…

Why are you waiting?
Just go on without me
Stop waiting
What is there about me
That you’ve been respecting
And what have you all been
Expecting to see?

Take a look, there is nothing
But me under this,
There is nothing you’ll miss!
Put it on, and you’ll see
Any one of you can be
Any one of me!

What?
Are you still waiting?
Still waiting for me,
Me alone,
To sing you into heaven?
Well, you’re on your own.

Come on, say it,
What has happened to
All of your vocal powers?
Sing it, pray it.
Where’s that mumbo and jumbo
I’ve heard for hours?

Praying and pouting,
Braying and shouting litanies,
Chanting epistles,
Bouncing your missals
On your knees…

Go on whining,
Pining, moaning, intoning,
Groaning obscenities!
Why have you stopped praying?
Stopped your Kyrieing?
Where is your crying and complaining?
Where is your lying and profaning?
Where is your agony?
Where is your malady?
Where is your parody
Of God – said –
Let there be and there was
God said:
Let there Beatam Mariam semper Virginem,
Beatam miss the Gloria,

I don’t sing Gratias
Agimus tibi propter magnam
Gloriam tu – am – en…
Amen. Amen.

I’m in a hurry –
And come again.
When?
You said you’d come…

Come love, come lust,
It’s so easy if you just
Don’t care-

Lord, don’t you care…

…if it all ends today…

…profundis clamavi
Clamavi ad te,
Domine, ad Dominum,
Ad Dom…

…A-donai – don’t know –
I don’t no – bis…
Miserere nobis…

Mi-se…mi…
Mi alone is only me…
But mi with so…
Me with s…mi…

Oh, I suddenly feel every step I’ve ever taken,
And my legs are lead
And I suddenly see every hand I’ve ever shaken,
And my arms are dead
I feel every psalm that I’ve ever sung
Turn to wormwood on my tongue.
And I wonder,
Oh, I wonder,
Was I ever really young?

It’s odd how all my body trembles,
Like all this mass
Of glass on the floor.
How fine it would be to rest my head,
And lay me down,
Down in the wine,
Which never was really red.
But sort of – brown…
And let not – another word –
Be spoken…

…Oh…

…How easily things get broken.

XVII. PAX: COMMUNION (“Secret Songs”)

Boy Soprano
Sing God a secret song
Lauda, Laude…
Lauda, Lauda, Laude.
Lauda, Lauda, Laudate.
Laude Deum,
Laudate Eum.
Praise, praise …
Praise God,
Praise Him.

Bass Solo
Lauda, Laude,
Lauda, Laude,
Laude Deum,
Laude Eum…

Bass Solo and Boy Soprano
Lauda, Lauda, Laudate…

First Couple
Lauda, Laude…

Lauda, Lauda, Lauda, Laude.
Lauda, Lauda, Laudate Deum.
Lauda, Lauda, Laudate Eum.
Laude Deum, Laudate Eum.

All
Pax tecum!
Peace be with you!

Boy Soprano and Celebrant
Lauda, etc.

All Voices, Including Stage Instrumentalists
Almighty Father, incline thine ear:
Bless us and all those who have gathered here –
thine angel send us –
Who shall defend us all;
And fill with grace
All who dwell in this place. Amen.

Voice On Tape
The Mass is ended; go in Peace.

Bernstein na estreia de sua Missa, em 1971

PQP

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 7 (Dudamel)

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 7 (Dudamel)

Talvez eu seja um ouvinte peculiar. Gosto de todas as sinfonias de Mahler, mas torço o nariz para a 8ª e a 9ª. Também acontece com Shosta. Das 15 sinfonias, detesto 3, a 2ª, 3ª e 12ª. A 7ª de Mahler, objeto deste post, é melodiosíssima e lindíssima. A estrutura é simétrica, são cinco movimentos: uma paulada no começo, outra no final; duas músicas da noite no segundo e quarto movimentos, com direito a bandolim no quarto; e uma fantástica valsa bem no coração da sinfonia. A interpretação de Dudamel é excelente, mas ainda fico com meu querido Bernstein. A maturidade dos guris da Simón Bolívar Symphony Orchestra é de abobar. Eles deveriam fazer mais concursos a fim de aportarem aos magotes no Brasil. Eu os receberia de braços abertos! (Assim como a quaisquer imigrantes, refugiados ou não).

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 7 (Dudamel)

1. 1. Langsam Allegro risoluto, ma non troppo
2. 2. Nachtmusik. Allegro moderato
3. 3. Scherzo. SchattenhafT
4. 4. Nachtmusik. Andante amoroso
5. 5. Rondo-Finale. Allegro ordinario

Simón Bolívar Symphony Orchestra of Venezuela
Gustavo Dudamel

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Ai, cansei!
Ai, cansei, sabe?

PQP (2015)

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para Violino, op. 61 em Ré Maior – Benedetti, Aurora Orchestra, Nicholas Collon

Desde que ouvi esse concerto para violino de Beethoven, ainda adolescente, em uma gravação de David Oistrakh, ele se tornou meu favorito. Sua longa abertura, antes da entrada do violino solista, sempre me encantou, eu tinha sempre certeza de que o que viria depois da longa introdução seria algo muito especial. Felizmente nunca me decepcionou, e nunca irei me decepcionar, ou cansar dele, depois de tantos anos ouvindo. Não tenho mais aquela gravação do Oistrakh, até hoje imbatível nesse concerto, era uma gravação do selo soviético Melodya, que ganhei de meu irmão, e que ele pegou de volta depois de alguns anos.

Longe de querer comparar Oistrakh com a jovem e brilhante violinista escocesa Nicola Benedetti, a essência da música de Beethoven sempre estará presente, mesmo quando interpretadas por conjuntos musicais menores, e intérpretes de novas gerações. Essa música é atemporal, tenho certeza de que mesmo daqui a 1000 anos ainda será interpretada, não sei de que forma, e continuará cativando novos ouvintes.

Para esta gravação,  Benedetti optou por escolher a incrível cadenza escrita pelo próprio Beethoven, revolucionária em sua construção e concepção:

No primeiro movimento, a música é baseada na cadência que Beethoven escreveu para seu próprio arranjo deste Concerto para Violino como Concerto para Piano. Beethoven a abordou de uma forma verdadeiramente revolucionária, incorporando uma parte de tímpanos à textura, transformando sua cadência em um diálogo entre o pianista e o timpanista. (Livremente traduzido, texto retirado da apresentação do disco no site da própria orquestra).”

Também de acordo com o texto do site da orquestra, a violinista não se utilizou de partituras, apenas da memória, de tantas vezes que estudou essa obra. Isso lhe permitiu improvisar, e o resultado soa muito interessante, principalmente no Rondo final.

01. Beethoven- Violin Concerto in D Major, Op. 61- I. Allegro ma non troppo (Cadenza- Benedetti & Limonov)
02. Beethoven- Violin Concerto in D Major, Op. 61- II. Larghetto
03. Beethoven- Violin Concerto in D Major, Op. 61- III. Rondo. Allegro (Cadenza- Benedetti & Limonov)

Nicola Benedetti – Violino
Aurora Orchestra
Nicholas Collon – Diretor

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

 

The Salieri Album, com Cecilia Bartoli

The Salieri Album, com Cecilia Bartoli
1.90.3-7E7XAL5M3AOA6PKUKJNEPYOORA.0.1-3

Antonio Salieri (1750 – 1825) não era Mozart, mas também não era um perna-de-pau como, por exemplo, Kannemann. Vale a pena conhecer a música deste rival vienense de Wolfgang. Por outro lado, as interpretações da espevitada e espetacular Cecilia Bartoli são capazes de valorizar mesmo as mais bobas árias, o que aqui não é o caso. A romana Bartoli, possuidora de uma rara autoironia num meio em que as cantoras costumam portar-se como se gozassem de precedência divina. Diz que já nasceu cacarejando… Eu, P.Q.P. Bach, aprecio tanto sua voz e musicalidade que nem noto suas caretas em cena. Quem repara diz que são horríveis. Neste CD, ela faz uma seleção de árias das óperas de Salieri.

The Salieri Album, com Cecilia Bartoli
1. Questo guajo mancava…Son qual lacera tartana (La secchia rapita)
2. Che dunque!…Or ei con Ernestina…Ah sia gia (La Scuola dei gelosi)
3. Vi sono sposa e amante (La Fiera di Venezia)
4. Voi Lusingate invano lo smarito cor mio…Misera abbandonata (Palmira, Regina di Persia)
5. E void a buon marito…Non vo gla che vi suonino (La Cifra)
6. Alfin son sola…Sola e mesta (La Cifra)
7. Dopo pranzo addormentata (Il Ricco d’un glorno)
8. No, non cacillera…Suelle mi temple (La secchia rapita)
9. Lungi da me sen vada quella veste fatal…Dunque anche il cielo…Contro un’alma sventurata (Palmira, Regina di Persia)
10. Se lo dovessi vendere (La Finta scema)
11. Eccomi piu che mai…Amor pletoso Amore (Il Ricco d’un Glorno)
12. La ra la (La Grotta di Trofonio)
13. E non degg’io seguirla!…Forse chi sa…Vieni a me sull’ali d’oro (Armida)

Composed by Antonio Salieri
Performed by Orchestra of the Age of Enlightenment [members of]
with Cecilia Bartoli, Claudio Osele
Conducted by Adam Fischer

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Essa nasceu cacarejando.. Quem disse foi ela, não eu.

PQP

Mahler (1860 – 1911): Canções da Coleção ‘Des Knaben Wunderhorn’ – Christiane Oelze (soprano) • Michael Volle (barítono) • Gürzenich-Orchester Köln & Markus Stenz / Brigitte Fassbaender (mezzo-soprano) • Dietrich Fischer-Dieskau (barítono) • Rundfunk-Sinfonieorchester Saarbrücken & Hans Zender ֍

Mahler (1860 – 1911): Canções da Coleção ‘Des Knaben Wunderhorn’ – Christiane Oelze (soprano) • Michael Volle (barítono) • Gürzenich-Orchester Köln & Markus Stenz / Brigitte Fassbaender (mezzo-soprano) • Dietrich Fischer-Dieskau (barítono) • Rundfunk-Sinfonieorchester Saarbrücken & Hans Zender ֍

Blocos de granito – não estátuas de mármore!

Gustav Mahler sobre os textos reunidos em Des Knaben Wunderhorn

Mahler explicou: Os textos reunidos no Wunderhorn, por exemplo, não são poemas magistrais, mas blocos de granito dos quais quem quiser poderá formar o que bem desejar. Foi assim que Mahler preparou os textos retirados dessa coleção para compor suas canções, os encurtou, acrescentou repetições, reorganizou, reunindo mais do que um poema em uma só canção, acrescentou versos e com isso deu a certos textos novos sentidos.

Meu primeiro contato com a música de Mahler foi o disco ‘Mahler para Milhões’, uma antologia de trechos da Integral das Sinfonias gravada por Rafael Kubelik. Duas faixas desse disco são canções compostas sobre textos encontrados na coleção de poemas folclóricos reunidos na coletânea intitulada Des Knaben Wunderhorn editada por Clemens Brentano e Archim von Arnim entre 1805 e 1808. Essas poesias rústicas inspiraram vários compositores como Mendelssohn, Schumann, Brahms e outros, mas com Mahler foi um pouco diferente. Ao longo de 14 anos, entre 1887 e 1901, ele compôs 24 canções com letras construídas de textos dessa coleção. Um percurso memorável que transcendeu a canção e permeou seu universo sinfônico.

Vamos à postagem. Como adoro essas canções, venho colecionando diversas gravações, tanto das 12 canções que foram orquestradas, ou 15, se levarmos em conta mais três que estão incorporadas às sinfonias e das 9 primeiras que ficaram na forma voz acompanhada por piano. Digo ficaram porque as canções do Wunderhorn foram sempre compostas originalmente para voz e piano e de um ponto em diante Mahler passou a escrever uma versão orquestral para o acompanhamento. De qualquer forma, esse conjunto foi sendo publicado, mas Mahler não teve a intensão de que formassem um ciclo, como o Dichterliebe de Schumann ou o Winterreise de Schubert.

Hoje vamos ouvir (postar) duas gravações nas quais as canções são interpretadas com duas vozes acompanhadas por orquestra. Há gravações de todos os jeitos, inclusive uma só voz e acompanhamento de piano. Hoje ficaremos no conjunto daquelas cujo acompanhamento é feito por orquestra.

Nas duas gravações escolhidas as orquestras são de rádios alemãs, uma delas com dois cantores que podemos chamar de lendas do Lieder: Dietrich Fischer-Dieskau e Brigitte Fassbaender. Eles são acompanhados pela Rundfunk-Sinfonieorchester Saarbrücken regida por Hans Zender, numa gravação feita em abril de 1979. Eles cantam 11 canções ao longo de 45 minutos intensos. Do ‘canone´das 12 Wunderhorn com acompanhamento de orquestra só ficou de fora uma cançãozinha intitulada Verlor’ne Muh’. O regente é Hans Zender, também compositor, arranjou o Winterreise para voz e orquestra e foi bem identificado com música contemporânea. Este é o segundo disco de um álbum duplo, parte de uma coleção de CDs lançada em sua homenagem, reunindo música de compositores clássicos e contemporâneos. O outro disco traz a Nona Sinfonia de Mahler, mas hoje é dia de Knaben Wunderhorn.

Michael Volle

O outro disco da postagem tem cantores menos estelares, mas não menos maravilhosos, diferentes. Temos as 12 canções usualmente listadas como o ‘ciclo’ Wunderhorn e mais duas das que habitam o universo sinfônico: Urlicht, da Segunda Sinfonia, e Das himmelische Leben, movimento final da Quarta Sinfonia. Esse generoso disco traz também um excelente texto no libreto. Aqui a orquestra é mais conhecida, pelo menos eu acho, a Gürzenich-Orchester Köln, regida por Markus Stenz. Eles gravaram um ciclo das Sinfonias de Mahler. Eu não ouvi os discos, mas deve ter pelo menos boas gravações, contando com o que eu ouvi aqui e com a tradição e experiência do conjunto.

Se você já tem alguma experiência com a música de Mahler e, em particular, com as canções do Wunderhorn, sabe que vai encontrar um universo sonoro cheio de trechos de fanfarras e marchas militares, tão significativas para o compositor, e personagens fantásticas. Soldados, fantasmas, crianças famintas, animais, santos e pecadores. Esse clima de lendas e mensagens subliminares merece audição cuidadosa e um certo esforço para entender a trama de cada um desses microuniversos pode render mais prazer na audição.

Eu gosto muito de canções como Des Antonius von Padua Fischpredigt que conta como os ‘peixes’ prestam muita atenção ao sermão do santo, mas ao fim do mesmo retornam às suas mesmas práticas e rotinas, assim como nós mesmos. Adoro Rheinlegendchen, com o peixe com o anel na barriga. E adivinhem quem encontrará o anel? E como ele foi parar ali? Como termina a historieta?

As canções com soldados, temas de guerra e de separações de casais por essas razões fazem um grupo entre elas, sendo que Revelge e Der Tamboursg’sell são as últimas canções do Wunderhorn a terem sido compostas, publicadas em conjunto com as canções sobre poemas de Rückert. Essas canções sumarizam essa fase e encerram os 14 anos nos quais Mahler lidou com esse material.

Voltaremos ao tema do Wunderhorn em próximas postagens.

Gustav Mahler (1860 – 1911)

Lieder Aus Des Knaben Wunderhorn
  1. 13 – Revelge
  2. 7 – Rheinlegendchen
  3. 14 – Der Tamboursg’sell
  4. 4 – Wer hat dies Liedlein erdacht
  5. 1 – Der Schildwache Nachtlied
  6. 10 – Lob des hohen Verstandes
  7. 6 – Des Antonius von Padua Fischpredigt
  8. 5 – Das irdische Leben
  9. 3 – Trost im Ungluck
  10. 9 – Wo die schönen Trompeten blasen
  11. 8 – Lied des Verfolgten im Turm

Brigitte Fassbaender, mezzo soprano

Dietrich Fischer-Dieskau, barítono

Orchestra – Rundfunk-Sinfonieorchester Saarbrücken

Hans Zender

Recording: Saarländischer Rundfunk

Kongreßhalle Saarbrücken, 23 April 1979

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 104 MB

Gustav Mahler (1860 – 1911)

Lieder Aus Des Knaben Wunderhorn
  1. Rheinlegendchen
  2. Wer Hat Dies Liedlein Erdacht?
  3. Des Antonius Von Padua Fischpredigt
  4. Wo Die Schönen Trompeten blasen
  5. Der Tambourgesell
  6. Lob Des Hohen Verstands
  7. Der Schildwache Nachtlied
  8. Urlicht
  9. Trost Im Unglück
  10. Lied Des Verfolgten Im Turm
  11. Verlor’ne Müh’
  12. Revelge
  13. Das Irdische Leben
  14. Das Himmelsche Leben

Michael Volle, barítono

Christiane Oelze, soprano

Orchestra – Gürzenich-Orchester Köln

Markus Stenz

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 141 MB

Brigitte Fassbaender

The Wunderhorn songs contain a partnership of Brigitte Fassbaender and Dietrich Fischer-Dieskau that has to be a recommendation in itself. […] This release is especially valuable in that it’s the only chance we have to hear this incomparable artist in these songs. It’s also good to see this performance correctly assigns one singer to each song since most recordings make the “dialogue” songs duets which was a practice Mahler never sanctioned. One song usually included in performances, “Verlor’ne Muh”, is missing.

Dietrich Fischer-Dieskau

Fischer-Dieskau gives a stunning performance of “Revelge”, full of a character and experience. Likewise in “Der Tambourg’sell” he’s the complete Mahlerian in covering every aspect of these bittersweet poems. […] Fassbaender is the antidote to singers like Janet Baker for Wyn Morris. In fact she’s very much the counterpart to Fischer-Dieskau in pointing up the words clearly and with total understanding. In “Lob des hohen Verstandes” she shows a nice line in humour […]. Then in “Wo die schonen Trompeten blasen”, sung by Fassbaender alone, the depth she brings stays long in the mind. […] The vocal partnership for the Wunderhorn songs is absorbing and rewarding along with Zender’s fine accompaniment of it.

Tony Duggan

Zender conseguindo um ‘crescendo’ da PQP Bach Sinfonietta
Christiane Oelze

Michael Volle makes a strong impression. He is characterful in ‘Des Antonius von Padua Fischpredigt’, an orchestral expansion of which found its way into the Second Symphony. He’s even better in the military songs, such as ‘Die Tambourgsell’, the tale of the drummer boy awaiting execution – Stenz’s accompaniment to this is excellent too. Volle also excels in ‘Revelge’, which he sings with fine swagger and bravado; the orchestral scoring is, once again, very well touched in, not least in the ghostly prelude to and accompaniment of the last stanza. Volle also sings ‘Der Schildwache Nachtlied’; here I admired the contrasts he brings to the vocal line and his impressive top register.

Christine Oelze sings expressively, though here and elsewhere I didn’t find that her words were always clear – and I’m not talking just about when she’s singing in her top register. She’s suitably pert in ‘Wer hat dies Liedlein erdacht?’ and, singing in duet with Volle, she catches the playful side of ‘Verlor’ne Müh!’ very well. Although she doesn’t have quite the mezzo timbre she is more convincing in ‘Urlicht’ than I would have expected a soprano to be[…].

On the evidence of what I’ve heard so far Markus Stenz is a pretty good Mahler conductor – and, at his best, in the Third and Fifth Symphonies, a very good one indeed – and he’s working with a very good orchestra.

John Quinn

Markus Stenz

Caso você tenha acesso às plataformas de distribuição de músicas, aqui está uma possibilidade para a audição:

Aproveite!

René Denon

J. S. Bach (1685-1750): Music for Lute-Harpsichord (Farr)

J. S. Bach (1685-1750): Music for Lute-Harpsichord (Farr)

Essas obras são sensacionais, mas penso que mereçam um alaúde de verdade, como fez Lutz Kirchhof. Elizabeth Farr é excelente cravista e interpreta as obras com aquilo que seria um sotaque mais antigo do que o barroco tardio de Bach. Não pensem que estou seguro desta avaliação, mas seu modo de tocar parece ser mais século XVII do que XVIII. O que deixa tudo muito curioso (e bom, por que não?). Sou um ouvinte experiente, jamais um especialista, deem o meu desconto! De qualquer modo, é Bach e ele magica (*) de forma tão perfeita que acaba nos convencendo. É estranho, o cravo-alaúde deve ter um som bem delicado, só que senti falta de algo ainda mais próximo e íntimo, o alaúde. Bach tinha dois desses instrumentos em casa, mas prefiro o alaúde.

(*) Do verbo magicar, caro leitor.

O cravo-alaúde de Bach.

J. S. Bach (1685-1750): Music for Lute-Harpsichord (Farr)

Suite In G Minor, BWV 995 (Transcription Of BWV 1011) (22:43)
1-1 Prelude 5:32
1-2 Allemande 4:49
1-3 Courante 2:33
1-4 Sarabande 2:13
1-5 Gavotte I 2:17
1-6 Gavotte II En Rondeau – Gavotte I, Reprise 2:45
1-7 Gigue 2:31

Suite In E Minor, BWV 996 (16:17)
1-8 Praeludio 2:30
1-9 Allemande 3:08
1-10 Courante 2:47
1-11 Sarabande 3:01
1-12 Bourrée 1:32
1-13 Gigue 3:19

Suite In C Minor, BWV 997 (19:57)
1-14 Prelude 3:01
1-15 Fugue 6:08
1-16 Sarabande 3:48
1-17 Gigue 3:10
1-18 Double 3:49

Prelude, Fugue And Allegro In E Flat Major, BWV 998 (11:24)
1-19 Prelude 2:32
1-20 Fugue 5:08
1-21 Allegro 3:44
1-22 Prelude In C Minor, BWV 999 1:31
1-23 Fugue In G Minor, BWV 1000 (Transcription Of BWV 1001/ii) 5:18

Suite In E Major, BWV 1006a (Transcription Of BWV 1006) (22:27)
2-1 Prelude 4:47
2-2 Loure 3:58
2-3 Gavotte En Rondeau 3:35
2-4 Menuet I 2:10
2-5 Menuet II 2:10
2-6 Menuet I, Reprise 1:15
2-7 Bourrée 2:03
2-8 Gigue 2:30

Sonata In D Minor, BWV 964 (Transcription of BWV 1003) (22:37)
2-9 Adagio 3:14
2-10 Fugue 8:24
2-11 Andante 4:24
2-12 Allegro 6:35

Sarabanda Con Partite, BWV 990 (25:38)
2-13 Sarabande In C Major 1:23
2-14 Partita 2 1:31
2-15 Partita 3 1:16
2-16 Partita 4 1:34
2-17 Partita 5 1:34
2-18 Partita 6 1:20
2-19 Partita 7 1:40
2-20 Partita 8 1:35
2-21 Partita 9 1:19
2-22 Partita 10 1:21
2-23 Partita 11 1:37
2-24 Partita 12 1:53
2-25 Partita 13 Allemande 1:54
2-26 Partita 14 Courante 1:35
2-27 Partita 15 1:26
2-28 Partita 16 Giguetta 1:08
2-29 Sarabande In C Major, Reprise 1:35

Elizabeth Farr, Cravo-alaúde ou Alaúde-cravo, como queiram

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Conhece o verbo magicar, Farr?
Conhece o verbo magicar, Farr?

PQP