José Antônio de Almeida Prado (1943-2010): Ilhas / 14 Noturnos (Scopel, piano)

Um disco recente com obras pouco conhecidas de Almeida Prado. Ouçam e cheguem a suas próprias conclusões. Eu cheguei às minhas: Ilhas (1973), escrito na mesma linguagem de Cartas Celestes I (1974) é uma obra impressionante, com um uso monumental das possibilidades expressivas do piano. Os Noturnos (1985-1991) são obras bem mais simples, nas quais o compositor parece ter se voltado para o público dizendo algo na linha de: “vocês querem belas melodias e harmonias emocionantes? Então toma.” Simplicidade não é moleza: há quem faça do uso de poucas e certeiras notas uma marca após anos de experiência no assunto… Prado, pelo contrário, parece achar aqui que é fácil ser simples. Mas Ilhas, que ocupa 1/3 do disco, já vale o download.

“A obra Ilhas foi escrita em 1973, um ano antes da composição do primeiro volume de suas Cartas Celestes, sua obra mais importante para piano. Ela pode ser ouvida como sua predecessora, principalmente pelo uso de um material cordal pré-estabelecido através das sete ilhas, chegando à sua apresentação final no Arquipélago. O gérmen da exploração de sonoridades de ressonância do instrumento também está presente aqui. A associação poética com títulos como Ilha de Gelo, Pedra ou Flores, por exemplo, nos dá a indicação de uma música programática, uma maneira a mais para se identificar com a obra, passando pela ígnea densidade dos 9 vulcões ao majestoso e impessoal iceberg da Ilha de Gelo. Essa é definitivamente uma obra mística que merece ser apreciada a todo volume.” (Aleyson Scopel)

Almeida Prado:
Nocturnes nº 1-14 (1985-1991)
Ilhas (Islands) (1973)

Aleyson Scopel, piano
Recording Dates: 4–5 October 2021
Recording Venue: Sala Cecília Meireles, Rio de Janeiro, Brazil

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Almeida Prado, como Milton Nascimento e Baby do Brasil, era melhor nos anos 1970 (Foto no Jornal do Brasil)

Pleyel

Franz Liszt (1811-1886): Liszt Piano Recital (Leif Ove Andsnes)

Franz Liszt (1811-1886): Liszt Piano Recital (Leif Ove Andsnes)

Fiz tanta propaganda para o rapaz que nada mais justo que mostrar um pouco de seu talento neste cd excepcional, só com obras de Franz Liszt.

Ouvi este cd três vezes seguidas, e posso recomendá-lo sem pestanejar. Sei que alguns leitores consideram a obra de Lizst um monte de notas sem sentido, mas talvez ao ouvirem esta interpretação mudem de opinão.  Sim, concordo, é um virtuosismo exagerado o que se pede para interpretar estas obras, mas creio que Andsnes consegue demonstrar que por trás de tantas notas existe vida.  Sobre este cd, o editorial da amazon.com escreveu o seguinte:

“An index to the excellence of Leif Ove Andsnes’s Liszt recital is that he makes familiar works exciting and fresh-sounding and obscure ones persuasive and accessible. Andsnes turns the “Mephisto” Waltz No. 1 from a tired circus stunt into a tone poem daring in its effrontery and voluptuous in its lyricism. He plays the “Dante” Sonata without the usual penny-awful bludgeoning and sentimental blustering and lifts its treatment of love, chaos, and redemption to an exalted level. The infrequently performed “Andante lagrimoso” (No. 9 of the Harmonies poétiques et religieuses) is haunting in its unceasing alterations between pain and serenity. And in late works–such as the Second and Fourth “Mephisto” Waltzes and the “Valse oubliée” No. 4–the pianist shows us how far Liszt had traveled from romanticism toward both expressionism and impressionism, making us understand how these works lit the paths of composers as diverse as Debussy, Schoenberg, and Bartók. If you buy only one recording of Liszt’s piano music this year, make it this.

Confesso que não tenho muita familiaridade com a obra de Liszt, com excessão de seus concertos para piano, já postados aqui, e sua Sinfona “Fausto”, além, é claro, de suas rapsódias, e sempre me chamou a atenção sua capacidade de fazer espetáculo. Segundo seus biógrafos, Liszt seria um showman da época, e seu virtuosismo enquanto pianista se transmitiu à sua obra, de difícil execução para os solistas. O cd que ora posto tem momentos de puro virtuosismo, sim, mas ao mesmo tempo, graças a um excepcional intérprete, vemos que “the pianist shows us how far Liszt had traveled from romanticism toward both expressionism and impressionism, making us understand how these works lit the paths of composers as diverse as Debussy, Schoenberg, and Bartók, como bem exemplifica o editorial da amazon. Outro comentarista do mesmo site diz que nunca viu tanto vigor e paixão numa interpretação de uma obra de Liszt. E assino embaixo, ainda mais depois daquela excepcional performance que tive o raro prazer de presenciar semana passada.

Ah, e não se preocupem, a saga Gilels/Beethoven continua.

Franz Liszt  – Liszt Piano Recital – Leif Ove Andsnes

01. Apres une lecture du Dante (Années de pèlerinage, 2e année Italie)
02. Valse Oubliee No 4
03. Mephisto Waltz No 4
04. Die Zelle in Nonnenwerth Elegie Version 4
05. Ballade No 2
06. Mephisto Waltz No 2
07. Andante Lagrimoso (Harmonies Poe iques et Religieuses No 9)
08. Mephisto Waltz No 1 Der Tanz in der Dorfschenke

Leif Ove Andsdnes – Piano

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FDP

Serguei Liapunov (1859-1924): 12 Estudos de Execução Transcendente, Op. 11 (Scherbakov)

Serguei Liapunov (1859-1924): 12 Estudos de Execução Transcendente, Op. 11 (Scherbakov)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Olha, esse CD é muito bom. Achei meio ridícula a pomposidade do nome da obra, mas, se esta pode servir de piada, logo um oh! de surpresa cala qualquer intenção menos séria. Scherbakov é um pianista monstruoso e dá aos Estudos de Liapunov grande expressividade. Ao procurar saber mais sobre Liapunov, li várias vezes a expressão neglected composer. Bem, aqui no PQP, com nossos mais de mil compositores, ninguém é negligenciado, nem o ultrarromântico Liapunov ou Lyapunov. Scherbakov é apenas o segundo pianista a gravar o conjunto completo dos Estudos Transcendentais de Liapunov duas vezes, seguindo os passos de Louis Kentner, cuja primeira versão (de 1949) continua sendo a padrão. Estranhamente, as primeiras versões de ambos os pianistas são amplamente preferíveis às suas segundas tentativas. Esta é a primeira gravação de Scherbakov (1993) e está em segundo lugar, logo atrás de Kentner, à frente das gravações mais recentes de Vincenzo Maltempo e Etsuko Hirose.

Serguei Liapunov (1859-1924): 12 Estudos de Execução Transcendente, Op. 11 (Scherbakov)

1. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Lullaby 3:38
2. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Dance of the Ghosts 3:05
3. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Pealing of Bells 6:10
4. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Terek 4:06
5. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Summer Night 7:26
6. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Storm 4:35
7. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Idyll 4:38
8. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Epic Song 8:37
9. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Aeolian Harps 6:24
10. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Lesginka 7:10
11. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Dance of the Elves 4:03
12. 12 Etudes d’execution transcendante, Op. 11: Elegy in Memory of Franz Liszt 11:17

Konstantin Scherbakov, piano

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Olhando as fotos dele, não hesito em chamá-lo de dândi

PQP

Arnold Schoenberg (1874-1951): A Música para Piano (Pollini)

Arnold Schoenberg (1874-1951): A Música para Piano (Pollini)

Pollini chamou essas peças de as provavelmente mais importantes para piano do século XX. A proposição é discutível, não é discutível a qualidade das interpretações de Pollini. Aqui e ali, pode-se objetar sobre detalhes, e a primeira peça do Op. 11, que inicia o disco, sempre me pareceu muito estática, mas, no geral, há uma combinação de maestria intelectual e pianística que é indubitavelmente extraordinária. A oportunidade de ouvi-la em som remasterizado digitalmente não deve ser perdida. Se você é novo nesse repertório, não espere ser cortejado ou seduzido — Schoenberg não era um pianista talentoso, e parece ter usado o instrumento mais para aventuras ousadas no desconhecido do que para relaxamento. Aceite o choque ou vá direto para o Op. 11 No. 3 ou a Giga do Op. 25. Para um descanso lírico, experimente o Op. 33 a. Mas não importa para onde você olhe, pode ter certeza de que a percepção musical e o virtuosismo de Pollini, sem mencionar a gravação da DG, apresentam a música da melhor forma possível.

Arnold Schoenberg (1874-1951): A Música para Piano (Pollini)

Three Piano Pieces Op. 11 = Drei Klavierstücke Op. 11 = Trois Pièces Pour Piano, Op. 11 = Tre Pezzi Per Pianoforte Op. 11 (13:36)
1 1. Mässig 3:53
2 2. Mässige Achtel 7:11
3 3. Bewegt 2:32

Six Little Piano Pieces Op. 19 = Sechs Kleine Klavierstücke Op. 19 = Six Petites Pièces Pour Piano, Op. 19 = Sei Piccoli Pezzi Per Pianoforte Op. 19 (5:10)
4 1. Leicht, Zart 1:12
5 2. Langsam 0:53
6 3. Sehr Langsame Viertel 0:59
7 4. Rasch, Aber Leicht 0:26
8 5. Etwas Rasch 0:32
9 6. Sehr Langsam 1:08

Five Piano Pieces Op. 23 = Fünf Klavierstücke Op. 23 = Cinq Pièces Pour Piano, Op. 23 = Cinque Pezzi Per Pianoforte Op. 23 (10:12)
10 1. Sehr Langsam 2:03
11 2. Sehr Rasch 1:18
12 3. Langsam 2:47
13 4. Schwungvoll 1:37
14 5. Walzer 2:27

Suite For Piano Op. 25 = Suite Für Klavier Op. 25 = Suite Pour Piano, Op. 25 = Suite Per Pianoforte Op. 25 (14:16)
15 Präludium: Rasch 0:59
16 Gavotte: Etwas Langsam, Nicht Hastig (Attacca:) 1:04
17 Musette: Rascher 1:11
18 Gavotte (Da Capo) 1:10
19 Intermezzo 3:21
20 Menuett: Moderato – Trio 3:56
21 Gigue: Rasch 2:35

22 Piano Piece Op. 33a = Klavierstück Op. 33a = Pièce Pour Piano, Op. 33a = Pezzo Per Pianoforte Op. 33a. Mässig 2:06

23 Piano Piece Op. 33b = Klavierstück Op. 33b = Pièce Pour Piano, Op. 33b = Pezzo Per Pianoforte Op. 33b. Mässig Langsam 3:31

Maurizio Pollini, piano

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Schoenberg em momento de alegria com sua entusiasmada família.

PQP

Franz Schubert (1797-1828): Symphonie No. 9 · Rosamunde: Ouvertüre (Die Zauberharfe) (The Chamber Orchestra Of Europe · Claudio Abbado)

Franz Schubert (1797-1828): Symphonie No. 9 · Rosamunde: Ouvertüre (Die Zauberharfe) (The Chamber Orchestra Of Europe · Claudio Abbado)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Hoje é o aniversário de… PQP Bach. Aniversário não do blog ou do personagem, mas do ser humano que há, dizem, por trás. Por isso, vou postar duas obras-primas neste 19 de agosto. Esta é a segunda.

Um CD eletrizante! Esta gravação de Schubert é uma sobre a qual não é realmente necessário dizer muito. É, provavelmente, a melhor performance da Nona que me lembro de ter ouvido e a direção de Abbado é magistral. Seu ritmo para cada movimento parece ser o ideal e ele frequentemente molda a música com sutis modificações de andamento da maneira que um maestro como Furtwängler teria feito. Abbado, nesta gravação de 1987, é um grande músico continuando a explorar a música e a renovar sua abordagem para obras que ele deve ter conduzido muitas vezes. Há também uma determinação em manter os mais altos padrões possíveis de musicalidade, trabalhando com músicos de primeira linha. Ele regravou a Nona em 2011, mas nunca ouvi a gravação.

Franz Schubert (1797-1828): Symphonie No. 9 · Rosamunde: Ouvertüre (Die Zauberharfe) (The Chamber Orchestra Of Europe · Claudio Abbado)

Sinfonia Nr. 9, D 944, “A Grande”
1 1. Andante – Allegro Ma Non Troppo 16:46
2 2. Andante Con Moto 15:26
3 3. Scherzo. Allegro Vivace 14:02
4 4. Allegro Vivace – Trio 15:29

5 Rosamunde: Ouverture (“Die Zauberharfe” D. 644) 10:12

Conductor – Claudio Abbado
Orchestra – The Chamber Orchestra Of Europe

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Edward Sorel – Caricatura de Franz Schubert – 1967

PQP

.: interlúdio :. John Surman – Upon Reflexion (1979)

.: interlúdio :. John Surman – Upon Reflexion (1979)

AB-SO-LU-TA-MEN-TE IM-PER-DÍ-VEL !!!

Hoje é o aniversário de… PQP Bach. Aniversário não do blog ou do personagem, mas do ser humano que há, dizem, por trás. Por isso, vou postar duas obras-primas neste 19 de agosto. Está é a primeira.

Durante anos disse que Upon Reflexion era o melhor LP/CD editado pela grande ECM. Hoje, eles lançam tanta coisa que talvez fosse perigoso manter esta opinião. De qualquer maneira, este seria um dos discos que levaria para a ilha deserta, trata-se de um dos melhores discos de jazz de todos os tempos. O disco abre com a espetacular Edges Of Illusion cujo solo decorei de tanto ouvir o LP desde 1980. Tal solo vem do sax barítono de Surman com algumas fundamentais intervenções melódicas do sax soprano. O curto ostinato viajandão do fundo deve-se aos sintetizadores. O som dos saxofones de Surman é algo. O ostinato da agitada Filigree vem de diversos saxofones sobrepostos que somem maravilhosa Caithness To Kerry, escrita para sax soprano solo. Alegre, ingênua e pastoral em sua absoluta falta de acompanhamento, parece ter sido composta pelo louco da aldeia. O louco some na sonoridade de jazz clássico de Beyond a Shadow, uma bela e negra composição do inglês, com acompanhamento de sintetizadores, saxofones e participação decisiva do clarone (bass clarinet). O lado 2 de meu antigo disco começava com Prelude And Rustic Dance. O louco da aldeia, já com os antipsicóticos em dia, organiza uma cortina de agitados saxofones para o solo de sax soprano de Surman. A poética e tranquila The Lamplighter acalma as coisas, preparando a área para a curta correria de Following Behind, uma brincadeira com ecos. Constellation talvez seja a melhor composição do disco. No ostinato voltam com tudo os sintetizadores.

John Surman: Upon Reflection (1979)

1. Edges Of Illusion 10:10
2. Filigree 3:41
3. Caithness To Kerry 3:51
4. Beyond A Shadow 6:40
5. Prelude And Rustic Dance 5:14
6. The Lamplighter 6:19
7. Following Behind 1:24
8. Constellation 8:16

all composed by Surman
recorded May 1979, Talent Studio, Oslo

John Surman, baritone and soprano saxophones, bass clarinet, synthesizers

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Surman, um gênio

PQP

Mozart (1756 – 1791): Die Entführung aus dem Serail (O Rapto do Serralho) – Soloists – The Monteverdi Choir – The English Baroque Soloists – John Eliot Gardiner (HIP) & Soloists – The Academy of St. Martin-in-the-Fields – Colin Davis ֍

Mozart (1756 – 1791): Die Entführung aus dem Serail (O Rapto do Serralho) – Soloists – The Monteverdi Choir – The English Baroque Soloists – John Eliot Gardiner (HIP) & Soloists – The Academy of St. Martin-in-the-Fields – Colin Davis ֍

Mozart

Die Entführung aus dem Serail

RD Postagem # 500

Chega de tanto videogame, eu disse aos meus filhos, vamos assistir a uma ópera de Mozart, algo que alegre o coração e nos afaste dessa violência virtual desses jogos… Assim, fomos ver (no DVD da sala, é claro), o Rapto do Serralho!

Pois eles adoraram e Osmin foi, por um bom tempo, um dos seus personagens preferidos, ao lado do Goku e do Vedita. E eu gostei tanto da música e dos costumes turcos que institui lá em casa uma espécie de ritual. Sempre que voltava do trabalho a esposa colocava em fila quem estivesse na área, filhos, cachorrada, e assim que eu adentrasse pelo portão soava em altos brados o coro dos janissários saudando o Paxá Selim:

Singt dem großen Bassa Lieder
Töne feuriger Gesang;
Und vom Ufer halle wieder
Unsrer Lieder Jubelklang!

Que se elevem ao grande Paxá nossas vozes em ardente aclamação;

Que desde a praia ecoem os alegres sons de nossa canção!

Vivíamos então propriamente em Piratininga…

Paxá Selim, Osmin e os dois casais…

1781 foi um daqueles anos ainda mais complicados na vida de Mozart. Foi o ano no qual ele finalmente levou um pé-no-traseiro, livrando-se de vez do Arcebispo Coloredo, indo morar em Viena. Apesar de todas as incertezas financeiras e das confusões com os assuntos pessoais, em função de sua relação com Constanze, Mozart era agora dono de seu próprio nariz.

O Rapto do Serralho é fruto de uma encomenda para o National Singspiegel, que havia sido fundado há poucos três anos pelo Imperador José II. A obra devia ser uma espécie de ópera cantada em alemão, mas também com diálogos, e era vista como uma forma menor do que as óperas em italiano. Essa perspectiva certamente era reforçada pelos cantores italianos que viviam em Viena, assim como pelos compositores de ópera em italiano.

A obra foi sendo composta calmamente, mas desde sua estreia em julho de 1782 experimentou um enorme e imorredouro sucesso – o primeiro de Mozart em Viena. Tanto que quase instantaneamente suas melodias foram arranjadas para conjuntos de sopros e eram tocadas em todas as partes.

O Serralho é o palácio do Paxá, onde ele mantém seu harém e onde estão presos a mocinha Konstanze (coincidência?), sua criada inglesa, Blonde, e Pedrillo, o servo de um nobre espanhol, o amado da Konstanze, chamado Belmonte, que está em busca dos três. Eles foram raptados por piratas turcos e vendidos como escravos para o Paxá Selim.

É claro que o Paxá está de olho na mocinha, mas ele é do tipo que não gosta de forçar a barra, e está dando um tempo para a moça aceita-lo.

As bastonadas não eram brinquedo, não…

Tudo isso sabemos por ter-nos sido contado por um passarinho verde e a ópera começa com Belmonte chegando ao Serralho em busca de informações, perguntando por Pedrillo a Osmin, o guardião e buldogue do Paxá, e que adoraria mostrar ao rascal Pedrillo todas as belas formas de torturas locais, entre elas as famosas bastonadas…

Como há de se esperar, mil confusões se seguem, com o astucioso Pedrillo apresentando o amo Belmonte ao Paxá como se fosse um arquiteto que dará um repaginada no Serralho.

Neste ponto é impossível não traçar um paralelo entre alguns dos personagens dessa ópera com membros do elenco de outro grande sucesso de Mozart: a Flauta Mágica: O casal Konstanze/Belmonte está para Tamina/Pamino assim como Pedrillo/Blonde está para Papagena/Papageno. O Paxá Selim corresponde a Sarastro e Osmin lembra um de alguma forma a Monostatos, apesar da grande diferença dos tipos vocais – baixo e tenor.

Voltando ao Rapto, o plano de fuga tramado pelos reféns envolve embriagar Osmin e raptar as moças, fugindo em seguida para a Espanha. A trama começa, mas, como se poderia esperar, as coisas desandam e eles são pegos. Belmonte então se apresenta como filho de um nobre espanhol, dando uma clara carteirada, tão nossa conhecida. Pois o tiro sai pela culatra, o tal nobre espanhol pai de Belmonte é o desafeto-mor do Paxá, ele mesmo tendo sido outrora nobre espanhol que fora traído justamente pelo dono da carteira usada pelo Belmonte – vá saber o que bebiam ou fumavam os libretistas daqueles dias.

Reação do Gardiner quando o pessoal do PQP Bach quis saber qual a marca de suas luvas de box: Everlast?

Com o filho de seu arqui-inimigo nas mãos, já se pensa, Osmin em grande alegria planeja os requintes de sofrimentos a serem infligidos aos sacripantas. No entanto, mais uma vez seus desejos serão adiados, o Paxá decide pagar com o bem os maus tratos de outrora e perdoa a todos e os manda de volta para casa. Os quatro partem com os bons votos do magnânimo Paxá que recebe mais uma vez o exultante Coro dos Janízaros, assim como pode ser visto na sequência do lindo filme Amadeus.

Uma das razões para o instantâneo sucesso dessa obra foi o uso da chamada música turca, que andava especialmente no gosto dos vienenses naqueles dias. Quem não conhece o movimento de Sonata para Piano, chamada Marcha Turca, de Mozart? Outros exemplos de música turca são encontrados nas obras de Haydn e mesmo Beethoven. Veja mais aqui e aqui.

Outro aspecto interessante sobre o Rapto é o fato de que Mozart não refrescou para os cantores e criou para ela algumas de suas árias mais difíceis. Uma delas é a ária de Konstanze chamada Martern aller Arten, na qual Konstanze explica ao atônito Paxá que preferiria experimentar os requintes de tortura turca a trair a memória de seu antigo amor.

Escolher uma boa gravação para a postagem se revelou uma tarefa a um só tempo divertida e difícil. Há muitas escolhas e na rodada final restaram muitas possibilidades na mesa. Das gravações mais antigas cogitei uma com Karl Böhm na regência, mas apesar das vozes maravilhosas, achei que a segunda gravação de Josef Krips, com selo EMI, é imbatível nesse segmento. Mas queria alguma coisa mais recente. Uma gravação destas que gostei bastante é a (segunda) de George Solti (quem diria?). Aqui a orquestra é a Wiener Philharmoniker e Kathleen Battle canta lindamente. Acabei optando por uma gravação historicamente informada, mas não apenas por isso. Acho que essa gravação, com a direção do maestro John Eliot (Manitas de Piedra) Gardiner, é uma das que mais facilmente eu retornaria, em qualquer situação.  No entanto, se você tiver a oportunidade, há também gravações com Christopher Hogwood, René Jacobs, William Christie e Nikolaus Harnoncourt que valem a pena de serem ouvidas. De qualquer forma, talvez alguma das versões mencionadas possa aparecer num futuro não muito distante.

Colin mostrando apresentando sua iguana para o pessoal do PQP Bach

Considerei, no processo da montagem da postagem, que uma outra bela possibilidade para a audição seria a gravação com Colin Davis regendo a Academy of St. Martin-in-the-Fields. Essa gravação está na caixa da Philips com a ‘Obra Completa’ de Mozart, editada por volta de 1991, para faturar bastante, na esteira das edições em datas significativas, no caso, duzentos anos de morte de Mozart. Afinal, os filhos dos donos das gravadoras precisam manter suas Ferraris, Lamborghinis ou Bugattis.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Die Entführung aus dem Serail (O Rapto do Serralho)

Singspiel (Ópera em alemão) em três atos

Gravação com instrumentos de época -HIP

Konstanze: Luba Orgonášová

Blonde: Cyndia Sieden

Belmonte: Stanford Olsen

Pedrillo: Uwe Peper

Osmin: Cornelius Hauptmann

English Baroque Soloists and Monteverdi Choir

John Eliot Gardiner

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MP3 | 320 KBPS | 304 MB

One of the main attractions to this recording is the rarely recorded Luba Orgonášová. This Slovakian soprano reminds me of what Joan Sutherland might have sounded like if she performed the entirety of Konstanze’s music. She brings a large beautiful sound to the coloratura and long sensitive phrasing, however, at times her interpretation lacks feeling and clear diction.

John Eliot Gardiner

Die Entführung aus dem Serail (O Rapto do Serralho)

Singspiel (Ópera em alemão) em três atos

Gravação com instrumentos modernos:

Konstanze: Christiane Eda-Pierre

Blonde: Norma Burrowes

Belmonte: Stuart Burrows

Pedrillo: Robert Tear

Osmin: Robert Lloyd

Academy of St Martin in the Fields

Sir Colin Davis

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MP3 | 320 KBPS | 303 MB

Trecho de um blog interessante: When I began listening to Mozart, Colin Davis’ interpretations were always my first pick. Not only do his records showcase some of the best singers in these roles, but he also brings out fine details in the orchestra while at the same time letting the voices shine. Despite approaching the score with a full orchestra rather than one with period instruments, Davis still manages to let the music stay light and breathe.

In addition to Davis, this recording is great for beginners because the German dialogue is severally reduced leaving only the essentials.

Colin Davis apreciando a flexibilidade das cordas da PQP Bach Sinfonietta

Aproveite!

René Denon

Mussorgsky (1839 – 1881) – Rimsky-Korsakov (1844 – 1908) – Borodin (1833 – 1887): Peças Orquestrais Russas Favoritas – Orchestre de Paris & Gennady Rozhdestvensky ֍

Mussorgsky (1839 – 1881) – Rimsky-Korsakov (1844 – 1908) – Borodin (1833 – 1887): Peças Orquestrais Russas Favoritas – Orchestre de Paris & Gennady Rozhdestvensky ֍

Umas das características da música russa é um certo elemento fantástico, de mitos e seres lendários, folclóricos. Isso está presente na primeira peça do disco, também pioneira nesse gênero por lá – Uma Noite no Monte Calvo – que saiu da mente imaginosa de Mussorgsky. Mas, teve que esperar a intervenção (e orquestração) de Rimsky-Korsakov para se firmar no repertório. Tornou-se tão popular que fez parte, em 1940, do filme Fantasia, de Walt Disney.

Outra característica da música russa é a orquestração requintada, um pouco exótica, arte que certamente deve bastante ao já mencionado Rimsky-Korsakov, compositor de duas outras peças do disco, justamente famosas – favoritas do público. A Abertura da Páscoa Russa e o Capricho Espanhol são figurinhas carimbadas em concertos de viés mais popular e justamente, pois encantam pela riqueza das melodias e dos timbres orquestrais.

A quarta faixa do disco, assim como a faixa bônus, as Danças Polovitsianas e Nas Estepes da Ásia Central, são composições de Borodin, outra figura importante da música russa. Eu incluí essa última composição por ser uma das minhas preferidas, desde sempre.

É interessante como esses dois compositores que tanto contribuíram para a música russa tiveram vida profissional dupla. Rimsky-Korsakov foi membro da Marinha Imperial Russa, seguindo a tradição familiar, e Borodin, além de músico, foi médico e químico atuante.

Gennady deu uma passadinha na redação do PQP Bach Press para um chá e um papinho…

Quanto aos intérpretes, o dito nas entrelinhas dos memorandos aqui na repartição é que, para música russa, o melhor é intérprete russo! Assim, para a postagem escolhi um disco que cumprisse, pelo menos em parte, o adágio local. Gennady Rozhdestvensky rege uma orquestra que não é russa, mas é espetacular e conhece o repertório como poucas, dada sua relação com músicos e compositores russos. O disco foi gravado no início da década de 1970, mas tem um produção excelente e é espetacular, a começar pela capa…

Veja a descrição do estilo do maestro: Rozhdestvensky foi considerado um maestro versátil e um músico altamente culto com uma técnica flexível. Ao moldar as suas interpretações, dava uma ideia clara dos contornos estruturais e do conteúdo emocional da peça, combinados com um estilo performático que fundiu lógica, intuição e espontaneidade.

A faixa extra é uma gravação de outra estirpe, Leonard Slatkin regendo a Orquestra de Saint Louis, conjunto e maestro que se conhecem como ninguém.

Eu adoro essa peça, a caravana surgindo no horizonte e passando até se perder de vista novamente. Veja a descrição deixada pelo próprio compositor: No silêncio das monótonas estepes da Ásia Central ouve-se o som desconhecido de uma pacífica canção russa. Ao longe ouvimos a aproximação de cavalos e camelos e as notas bizarras e melancólicas de uma melodia oriental. Uma caravana se aproxima, escoltada por soldados russos, e segue em segurança seu caminho pelo imenso deserto. Ele desaparece lentamente. As notas das melodias russas e asiáticas unem-se numa harmonia comum, que se extingue à medida que a caravana desaparece ao longe.

Modest Mussorgsky (1839 – 1881)

  1. A Night On Bare Mountain (orquestração de Rimsky-Korsakov)

Alexander Borordin (1833 – 1887)

  1. Polovtsian Dances From “Prince Igor”, Act 2 (Orquestração de Rimsky-Korsakov & Glazunov)

Nikolai Rimsky-Korsakov (1844 – 1908)

  1. Capriccio Espagnol, Op. 34
  2. Russian Easter Festival Overture, Op. 36

Orchestre de Paris

Gennady Rozhdestvensky

Faixa Bônus

Alexander Borordin (1833 – 1887)

  1. In the Steppes of Central Asia

Saint Louis Symphony Orchestra

Leonard Slatkin

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MP3 | 320 KBPS | 154 MB

Seção ‘The Book is on the Table’: Gennadi Rozhdestvensky is the son of two famous musicians. He received his musical education at the Moscow Conservatoire, studying conducting with his father and piano with Lev Oborin. While still a student there, he made his debut at the age of twenty in Tchaikovsky’s Sleeping Beauty at the Bolshoi Theatre. By the time he graduated he was already well known as a conductor both in the USSR and abroad.

Aproveite!

René Denon

BRUCKNER 200 ANOS! Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonia Nº 7 (Barenboim, Staatskapelle Berlin)

Cá entre nós: Daniel Barenboim merecia uma aposentadoria, uma despedida dos palcos em grande estilo para curtir a vida com a família, amigos, tomar bons vinhos, esse tipo de coisa. Uma despedida em grande estilo, por exemplo, teria sido a série de Sinfonias de Bruckner que regeu em Berlim em 2010, de onde saiu essa gravação da Sétima que mostra toda uma intimidade de maestro e orquestra com o estilo grandioso do compositor austríaco e católico devoto. Barenboim teve uma longa série de sucessos regendo Bruckner com a Sinfônica de Chicago, depois com a Filarmônica de Berlim logo após a morte de Karajan, com aquela orquestra tecnicamente impressionante mas ao mesmo tempo, para muitos críticos, um tanto fria pelo excesso de legato e de toque aveludado. Finalmente, com a Staatskapelle de Berlim ele fez muito Bruckner e anos e anos de óperas de Wagner, cuja linguagem harmônica é mais ou menos a mesma do austríaco que muito o admirava. Barenboim e Staatskapelle fizeram também um excelente Fidelio de Beethoven, obra cujo tom de celebração monumental da liberdade também tem muito a ver com Bruckner. Então eles estão no seu elemento aqui.

É uma pena que Barenboim não tenha se preparado pra parar: em apresentações junto com Martha Argerich na última década, ficou evidente que ele, ao contrário dela, já não tem mais a mesma técnica como pianista, ou tempo e paciência para estudar as horas necessárias. Também como regente, apesar de alguns sucessos recentes, acaba deixando em algumas orquestras a impressão de já não ser lá essas coisas. É comum entre músicos de renome essa falta de tato para planejar a despedida: basta lembrar de Pollini que, após mais de 50 anos de brilho e inimitável pianismo, teve dois ou três últimos anos menos bons como uma pequena mancha na carreira. Também no Brasil temos músicos que já passaram do auge mas seguem nos palcos, por exemplo dois maestros, um que já foi um bom pianista e hoje só sabe dar entrevistas televisivas lamentando as mãos machucadas e falando – sempre sobre si mesmo – pra emocionar quem não entende nada de música… um outro, com a letra K, que já era velho há uns 40 anos… e hoje em dia alterna entre momentos bons e vergonhosos regendo neste nosso país tropical.

Voltando para Barenboim, deve-se mencionar o quanto o maestro veterano é respeitado por gente mais jovem como Gustavo Dudamel e Antonio Pappano. Este último, que já foi seu assistente muitos anos atrás em Bayreuth, conversou com a revista Gramophone sobre o grande especialista em Wagner e Bruckner, mostrando que mesmo quando discorda sobre o significado de uma ou outra obra musical, tem grande respeito pelas escolhas de Barenboim e também pela maneira como ele se relaciona com as orquestras nos ensaios e concertos, respeito esse que, para Pappano, é um significado da palavra influência, muito além de imitações ou cópias baratas:

Barenboim’s track record as a noted Brucknerian, I wondered whether Pappano had ever worked with him on these symphonies. ‘With Barenboim it was mostly opera. I did see him rehearse Bruckner, but not often. And we don’t conduct Bruckner at all the same way! I’ll tell you why, because there are two schools of thought about Bruckner. Interestingly enough, Furtwängler – God, right? – in the long wind-ups to climaxes almost always speeds up, accelerates. And to me, that goes against the tug, the Wagnerian tug. You have to torture people to arrive; it has to be hard won. And of course, Daniel belongs to that school. I don’t. It’s not a criticism at all. But in Bruckner I prefer the slower burn so that when it hits, it’s unbearable. I don’t know if it’s right. I just feel that that’s theway. This whole question of influence is very important. If it’s done right it makes you come to your own conclusions. Not “Oh, you know how he was very influenced by Barenboim”. Of course, I was very influenced by him, but if I conducted the same as him, that’s rubbish. That’s copying. I’m very different from him. I have very different repertoire choices from him. He wouldn’t go near Rachmaninov’s Second in a million years, nor Vaughan Williams. So that’s helped me keep my individuality intact and therefore the influence he’s had on me has been about bigger things: how do you treat tempo in a classical symphony when so much of the material is repetitive. The importance of transforming the themes after a combustible development? How do you deal with the repeat? What is important in conducting? Who do you take care of? Those things are really important. How do you deal with them? And they take a long time.

Anton Bruckner (1824-1896):
Sinfonia Nº 7
Staatskapelle Berlin, Daniel Barenboim
Live Recording: Berlin Philharmonie, 2010

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Barenboim e a famosa cortina do Teatro alla Scala di Milano

Pleyel

Henryk Górecki (1933-2010): Quartetos de Cordas Nros. 1 e 2 (Kronos)

Henryk Górecki (1933-2010): Quartetos de Cordas Nros. 1 e 2 (Kronos)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Já que temos duas excelentes gravações dos quartetos de Bartók e também dos últimos de Beethoven, nada como dialogar com mano CDF postando os dois primeiros quartetos do polonês Górecki: o primeiro plenamente bartokiano, o segundo indiscutivelmente beethoveniano.

Não creio que as grandes influências recebidas por Górecki desconsiderar o polaco. Burrice seria pensar que um quarteto de cordas pode ser escrito sem a referência destes gigantes. O primeiro quarteto é eslavo até a raiz dos cabelos, com lentos corais e danças furiosas de sabor mais bartokiano do que shostakovichiano. O segundo quarteto, principalmente no Arioso: Adagio Cantabile faz referências aos últimos quartetos de Beethoven, com a utilização de um tema curto levado ao paroxismo. Neste “Quasi una Fantasia” também há muito do minimalismo. Um bom disco!

Sobre o Kronos… Bem, não vou repetir o que os mais antigos no blog já sabem: acho-os o máximo!

Górecki (1933-2010): Quartetos de Cordas Nros. 1 e 2

1. Already It Is Dusk String Quartet No. 1, Op. 62

2. Quasi Una Fantasia String Quartet No. 2, Op. 64: Largo Sostenuto – Mesto
3. Quasi Una Fantasia String Quartet No. 2, Op. 64: Deciso – Energico; Furioso, Tranquillo – Mesto
4. Quasi Una Fantasia String Quartet No. 2, Op. 64: Arioso: Adagio Cantabile
5. Quasi Una Fantasia String Quartet No. 2, Op. 64: Allegro – Sempre Con Grande Passion E Molto Marcato; Lento – Tranquillissimo

Kronos Quartet

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PQP

.: interlúdio: billie, ella, sarah, dinah :.

.: interlúdio: billie, ella, sarah, dinah :.

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Link revalidado por PQP numa quarta-feira…

Eis uma postagem bastante sabatina: sem nenhum esforço. Essa caixinha com 4 cds — lançada somente aqui no Brasil — traz coletâneas, e embora saibamos que todo “best of” é um abcesso, em certos casos podem ter algum valor de iniciação, descoberta, ou mesmo pela preguiça. É só carregá-los na playlist (rip da casa, altíssima qualidade), apertar o botão de “shuffle” e abrir o vinho.

Ah: e aumentar bastante o volume. (A não ser que o domingo seja enamorado. As divas compreendem.)

Billie Holiday – download (131MB)
01 Summertime 02 What A Little Moonlight Can Do 03 Easy To Love 04 Billies Blues 05 Georgia On My Mind 06 I Cover The Waterfront 07 These Foolish Things 08 Pennies From Heaven 09 Nice Work If You Can Get It 10 Night And Day 11 They Can’t Take That Away From Me 12 The Way You Look Tonight 13 Easy Living 14 God Bless The Child 15 I Must Have That Man 16 You Showed Me The Way 17 My Man 18 I Can’t Believe That You’re In Love With Me 19 All Of Me 20 Body And Soul

Dinah Washington – download (133MB)
01 I Concentrate On You 02 I Won’t Cry Anymore 03 Mad About The Boy 04 Manhattan 05 September in The Rain 06 What Diference A Day Makes 07 All Or Nothing 08 When A Woman Loves a Man 09 Blow Top Blues 10. Embraceable You 11 Evil Gal Blues 12 Homeward Bound 13 I Can’t Get Started 14 Postman Blues 15 Rich Man Blues 16 Wise Woman Blues 17 Mellow Mama Blues 18 I Know How To Do It 19 Salty Papa Blues 20 No Voot, No Boot

Ella Fitzgerald – download (124MB)
01 Undecided 02 Petootie Pie 03 Chew Chew Chew Your Bubble Gum 04 I’m Beginning To See The Light 05 Stone Cold Dead In The Market 06 Into Each Life Some Rain Must Fall 07 Taint What You Do I’ts The Way Do It 08 Five O’ Clock Whistle 09 It’s Only A Paper Moon 10 Cow Cow Boogie 11 Imagination 12 All Or Nothing At All 13 A Tisket, A Tasket 14 Cryin’ Mood 15 How Hogh The Moon 16 If Yoou Should Ever Leave Me 17 Rock It For Me 18 Shine 19 Sing Song Swing 20 Mr. Paganini

Sarah Vaughan – download (92MB)
01 If You Could See Me Now 02 Sweet Affection 03 Are You Certain 04 That Old Black Magic 05 What’s So Bad About It 06 Separate Ways 07 Broken Hearted Melody 08 Friendly Enemies 09 I’ve Got The World On A String 10 Misty 11 Mary Contrary 12 Careless 13 What More Can A Woman Do 14 Perdido 15 The Nearness Of You

Sarah Vaughan manda um beijo pro pessoal do PQP Bach.
Sarah Vaughan manda um beijo pro pessoal do PQP Bach.

Bom sábado!

Blue Dog

Franz Schubert (1797-1828): Impromptus D. 899 e D. 935 (András Schiff)

Retrato do artista quando jovem: Schiff tem, até hoje, uma forte afinidade com a música de Schubert, tendo gravado pela Decca, Teldec (aqui) e ECM suas obras de câmara e para piano solo, inclusive mais recentemente em pianos do século XIX. Aqui neste álbum gravado no Japão em 1978 e lançado apenas naquele país, temos o jovem András Schiff com interpretações cheias de um certo fogo juvenil sem exageros românticos, como convém quando se trata de Schubert.

O livreto do CD diz: シューベルトの D. 899 と D. 935… o que, traduzido, significa mais ou menos:

Schubert escreveu dois grupos de “impromptus” em sua vida, D. 899 e D. 935. Ambos, até onde se sabe, datam do fim de 1827, embora alguns possam datar do ano seguinte, o último de vida de Schubert. Mas o próprio nome “impromptus” não foi dado pelo compositor, assim como as peças D. 780 e D. 946 tiveram os nomes “Moments musicaux” e “Klavierstücke” (peças para piano) dados pelos editores. As peças do D. 899 foram publicadas por Tobias Haslinger como Op. 90, com o nome Impromptus anotado a lápis. E na verdade apenas as duas primeiras peças do Op. 90 foram publicadas durante a vida de Schubert. As duas outras, que seriam lançadas em 1828, ficaram na gaveta de Haslinger e seriam publicadas por seu filho só em 1857. Schubert aparentemente gostou do nome “impromptus” dado pelo editor.

Em uma carta de 21 de fevereiro de 1828, Schubert listou suas publicações futuras, que incluíam o Trio em Mi bemol maior, os Quartetos em Sol maior e Ré menor, além de quatro Impromptus para piano. Com isso, muitos biógrafos e comentadores entendem que os dois grupos de Impromptus foram concebidos por Schubert como grupos de quatro peças, mais do que como miniaturas avulsas.

Em outra carta, de 2 de outubro de 1828, Schubert menciona como prontos para publicação “os quatro Impromptus e o Quinteto para vozes masculinas. Por favor me responda logo, eu gostaria de publicar essas obras assim que possível.” É possível, a partir dessas cartas, concluir que o compositor – ele viveria apenas até novembro – tinha em alta conta esses impromptus.

Franz Schubert (1797-1828):
4 Impromptus D. 899
4 Impromptus D. 935
András Schiff, piano
Recorded june 1978 – Arakawa Public Hall, Tokyo, Japan

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Schubert em 1827 (quadro de Gabor Melegh)

Ple2yel

Girolamo Frescobaldi (1583-1643): Canzoni (Bruno Cocset & Les Basses Réunies)

Girolamo Frescobaldi (1583-1643): Canzoni (Bruno Cocset & Les Basses Réunies)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

É impossível não recomendar este disco. Ele apresenta notáveis performances de obras de grande nobreza e sensibilidade, além de expressiva elegância. Bruno Cocset — o fantástico violoncelista da melhor gravação que conheço das Suítes para Violoncelo de Bach — lidera o Les Basses Réunies em performances de força e sutileza. A gravação da Alpha é calorosa, capturando Les Basses Réunies em um ambiente acústico ideal. Parte da atração do disco está na novidade de ouvir essas peças, que são tocadas com bastante frequência, em uma instrumentação que dispensa os usuais sopros. O único toque de cor diferente é fornecido pelo cornetto. O papel do contínuo é imensamente trabalhado, tornando-se não um pano de fundo para os solos, mas sua fundação. Sua seção é realmente rica: harpa, claviorganum, theorbo e cravo. Quando tudo se junta, o resultado é colorido e emocionante. Não há tensão. Este é um disco que cresce em você com audições repetidas e demonstra que as canzoni de Frescobaldi não são menos inventivas do que sua música para teclado.

Girolamo Frescobaldi (1583-1643): Canzoni (Bruno Cocset & Les Basses Réunies)

1 Vigesimaquarta A Due Bassi E Canto “Detta La Nobile” 3:15
2 Ottava A Basso Solo “Detta L’Ambitiosa” 3:06
3 Prima A 4, Canto Alto Tenor Basse “Sopra Rugier” 2:15
4 Seconda A Canto Solo “Detta La Bernardinia” 2:40
5 Undecima A Due Canti “Detta La Plettenberger” 2:13
6 Prima A 2 Bassi 3:11
7 Trigesima Quinta “Detta L’Alessandrina” 3:28
8 Seconda A 2, Canto E Basso 3:34
9 Terza A 2, Canto E Basso 2:39
10 Prima A Basso Solo (Sesta “Detta Laltera”) 3:27
11 Quinta A 4, Canto Alto Tenor Basse 3:30
12 Decimasettima A Due Bassi “Detta La Diodata” 3:53
13 Quarta A 4, Due Canti E Due Bassi 3:03
14 Prima A 2, Canto E Basso 2:29
15 Quintadecima A 2 Bassi “Detta La Lieuoratta” 3:21
16 Settima A Basso Solo “Detta La Superba” 2:51
17 Decimasesta A 2 Bassi “Detta La Samminiata” 2:34
18 Seconda A 4, Due Canti E Due Bassi 4:36
19 Quinta A 3, Due Canti E Basso 3:01
20 Terza A Canto Solo “Detta La Donatina” 2:15
21 Seconda A 4, Canto Alto Tenor Basse “Sopra Romanesca” 2:56

Bruno Cocset & Les Basses Réunies

Bruno Cocset, ténor de violon, basse de violon “a la Bastarda” & direction
Emmanuel Jacques, ténor & basse de violon
Emmanuel Balssa, basse de violon
Richard Myron, violone & contrebasse
William Dongois, cornets
Xavier Diaz-Latorre, théorbe
Christina Pluhar, harpe
Luca Guglielmi & Laurent Stewart, clavecin & claviorganum

September 2003, Chapelle de l’hôpital Notre-Dame de Bon Secours, Paris

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Eu e minha mulher estávamos fazendo a ronda das igrejas romanas em 2020 quando demos de cara com um Festival Frescobaldi. Ah, vimos e ouvimos tudo e ainda ganhamos biscoitos do cara, seja lá o que isto signifique.

PQP

Tchaikovsky (1840 – 1893): Tchaikovsky para Milhões – Diversos Intérpretes ֍

Tchaikovsky (1840 – 1893): Tchaikovsky para Milhões – Diversos Intérpretes ֍

Tchaikovsky

Movimentos de Sinfonias

e Outras Peças Orquestrais

 

Considerando o enorme sucesso da postagem Mahler para milhões, decidi dar continuidade recriando o LP virtual Tchaikovsky para milhões. Dessa vez não consegui todos os arquivos das gravações originais do famigerado LP, mas as substituições foram escolhidas criteriosamente e tenho certeza que Peter Ilyich não ficará contrariado. No LP original havia duas faixas com dois números musicais da ópera Eugene Onegin interpretados pela Orquestra Sinfônica da Rádio de Berlim, regida por Férénc Fricsay, e a Marcha Eslava, interpretada pela Filarmônica de Berlim, regida por Ferdinand Leitner, e eu não encontrei essas gravações. Todo o resto, no entanto, está aí. E vocês poderão ver nos créditos da postagem, assim com poderão verificar com os seus próprios ouvidos que os artistas escolhidos para essas obras são de grande magnitude.

O que chamou a minha atenção depois de colocar todas as peças juntas, foi a importância da dança na obra de Tchaikovsky. A importância e a força. Além de ser um bamba das melodias, belíssimas, aquelas que grudam na gente, era um espetacular compositor de música de balé. O Lago dos Cisnes, A Bela Adormecida e especialmente O Quebra Nozes, transcendem o mundo da música clássica e suas músicas são reconhecidas por todos.

No lado B do disco encontram-se três movimentos das três últimas sinfonias, as valsas das Sinfonias Nos. 5 e 6 e um Scherzo da Sinfonia No. 4, onde as cordas nunca são tocadas pelos arcos… Você vai descobrir o significado em música da palavra pizzicato. Aproveite bem, pois esses três movimentos foram trazidos de uma das gravações mais famosas das três últimas sinfonias de Tchaikovsky: Leningrad Philharmonic Orchestra regida por Evgeny Mravinsky, gravados em Londres e em Viena, pela DG. Para fechar essa sequência espetacular, a Valsa da ópera Eugene Onegin. Um disco cativante…

Peter Ilyich Tchaikovsky (1840 – 1893)

Lado A

Eugene Onegin –

  1. Polonaise
Gothenburg Symphony Orchestra
Neeme Järvi

Serenade fur Streichorchester C-Dur

  1. II Waltz_ Moderato, tempo di valse
Staatskapelle Dresden
Otmar Suitner

Marche slave

  1. Marcha
Russian National Orchestra
Mikhail Pletnev

Nutcracker Suite, Op.71ª

  1. 35-1. Miniature Overture
  2. 35-2a. March
  3. 35-2e. Chinese Dance (Tea)
Berliner Philharmoniker
Ferdinand Leitner

Lado B

Symphony Nr. 6

  1. Allegro con grazia

Symphony Nr. 4

  1. Scherzo. Pizzicato ostinato – Allegro

Symphony Nr. 5

  1. Valse (Allegro moderato)
Leningrad Philharmonic Orchestra
Evgeny Mravinsky

Eugene Onegin

  1. Entr’acte – Waltz
Gothenburg Symphony Orchestra
Neeme Järvi

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MP3 | 320 KBPS | 141 MB

O pessoal do PQP Bach ensaiando a Dança Chinesa para não fazer feio na apresentação do fim de ano em Blumenau…

Quando a maioria de nós pensa em Tchaikovsky, pensamos nos seus balés – O Lago dos Cisnes, A Bela Adormecida e O Quebra-Nozes, este último tão onipresente na época do Natal como o Messias de Handel. Entre a estreia de O Lago dos Cisnes em Moscou, em 1877, e a estreia de O Quebra-Nozes, em São Petersburgo, em 1892, Tchaikovsky elevou o padrão da música de balé russo. Ele substituiu as melodias banais e os ritmos previsíveis normalmente encontrados nos palcos do balé russo por músicas cheias de melodias elevadas e inventivas, harmonias ousadas e vitalidade rítmica. Seus três balés tornaram-se clássicos que perduram até hoje. Leia a integral [aqui].

Cena de Eugene Onegin

Suas obras mostram de forma quase exemplar que o desafio da música de balé vai muito além desse nível funcional (o balé como como um nicho musical que visa simplesmente fornecer a base para os movimentos de dança). Em seus três principais balés, Tchaikovsky consegue retratar musicalmente processos dramáticos e psicológicos, desenvolvendo-os e tornando-os compreensíveis. Igor Stravinsky, o mais famoso compositor do gênero balé depois de Tchaikovsky, caracterizou acertadamente as qualidades da Bela Adormecida: “Cada entrada, cada ação no palco em geral, é sempre tratada individualmente de acordo com o caráter da respectiva pessoa, e cada número tem cara própria.” Leia a integral [aqui].

Aproveite!

René Denon

PQP Bach Quizz: O que é a máquina que aparece estilizada na capa do LP?

a) Parte de um samovar exposto no Museu Tsaritsyno, em Moscou

b) Astrolábio musical russo do século XIX

c) Apontador de batutas usado por Tchaikovsky em suas turnês pela Europa

d) Balança para pesar a quantidade de melodias usada por Tchaikovsky em seus balés

e) NRA

John Cage (1912-1992): The Seasons e outras peças (Margaret Leng Tan, American Composers Orchestra, Dennis Russell Davies)

John Cage (1912-1992): The Seasons e outras peças (Margaret Leng Tan, American Composers Orchestra, Dennis Russell Davies)

Este disco surpreendente e extraordinário é, pensamos, a melhor coleção de música de John Cage em catálogo. Ele é o mais geral. Demonstra o radicalismo do compositor, bem como o seu humor, tudo isso em várias fases. As obras são também são muito diferentes entre si. É muito bom ouvir a Suite for Toy Piano (1948) , que emprega apenas as teclas brancas em uma única oitava, e a versão belamente orquestrada que se segue (escrita por Lou Harrison, um amigo de Cage, em 1963). Mas três das obras-primas absolutas de Cage também estão aqui: a misteriosa Seventy-Four (1992) , a música para balé The Seasons (1947) e o fascinante Concerto para Piano Preparado e Orquestra de Câmara (1950-51). Muito do que você precisa saber sobre John Cage está aqui. No mais, ouça 4´33, o auge do radicalismo e ironia.

John Cage (1912-1992): The Seasons e outras peças

01. Seventy-Four (Versoin I) (12:15)

02. The Seasons – Prelude I, Winter (03:12)
03. The Seasons – Prelude II, Spring (03:43)
04. The Seasons – Prelude III, Summer (05:51)
05. The Seasons – Prelude IV, Fall (03:52)

06. Concerto for Prepared Piano and Orchestra – First Part (08:08)
07. Concerto for Prepared Piano and Orchestra – Second Part (08:09)
08. Concerto for Prepared Piano and Orchestra – Third Part (04:22)

09. Seventy-Four (Version II) (12:05)

Margaret Leng Tan e um de seus pianos de brinquedo
Margaret Leng Tan e um de seus pianos de brinquedo

10. Suite For Toy Piano – I (01:32)
11. Suite For Toy Piano – II (01:33)
12. Suite For Toy Piano – III (01:27)
13. Suite For Toy Piano – IV (01:22)
14. Suite For Toy Piano – V (01:09)

15. Suite For Toy Piano (Orchestration: Lou Harrison) – I (01:43)
16. Suite For Toy Piano (Orchestration: Lou Harrison) – II (01:33)
17. Suite For Toy Piano (Orchestration: Lou Harrison) – III (01:24)
18. Suite For Toy Piano (Orchestration: Lou Harrison) – IV (01:35)
19. Suite For Toy Piano (Orchestration: Lou Harrison) – V (00:55)

Margaret Leng Tan, prepared piano, toy piano
American Composers Orchestra
Dennis Russell Davies

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Cage: esse estava sempre rindo
Cage: esse estava sempre rindo

PQP

Sergei Prokofiev (1891-1953): Concertos para violino e Concerto para piano nº 3 (Ricci, Katchen, Ansermet, Suisse Romande)

Escritos entre 1915 e 1923 (1º para violino), entre 1913 e 1921 (3º para piano) e em 1935 (2º para violino), esses concertos são da fase mais internacional de Prokofiev, quando ele se mudou várias vezes mas viveu principalmente em Paris e foi fortemente influenciado pelo estilo orquestral dos balés (anos 1910) e obras neoclássicas (1918 em diante) de Stravinsky. Inclusive o impacto de Stravinsky, naqueles tempos, longe de ter se limitado a Prokofiev, foi imenso e, em comparação, nosso querido Sergei parecia um compositor menor: embora também grande, foi às vezes visto como um imitador, desprovido de grandes originalidades como, por exemplo, o inimitável tom folclórico de Bartók. Hoje, há um certo consenso de que a linguagem de Prokofiev é uma mistura única de coisas que circulavam em sua época e não um mero pastiche.

A orquestra da Suisse Romande e seu maestro, o longevo Ernest Ansermet (1883-1969), eram especialistas em obras desse repertório do início do século, incluindo dezenas de gravações de Stravinsky, Debussy e Honegger. Então é claro que a orquestra se sai muito bem aqui nessas obras de Porkofiev.

Ruggiero Ricci – o som dele é mais cativante do que o sorriso

Ruggiero Ricci (1918-2012) foi um violinista nascido na Califórnia que também era muito respeitado em obras que, na época, eram ainda contemporâneas, como os concertos e sonatas de Bartók e Prokofiev, a Kammermusik No. 4 de Hindemith, etc. Ele estreou o concerto para violino de Ginastera. Julius Katchen (1926-1969) também nasceu nos EUA e faleceu jovem, de câncer, em Paris.

Sergei Prokofiev (1891-1953):
Violin Concerto No. 1 In D Major, Op. 19
1. I. Andantino
2. II. Scherzo Vivacissimo
3. III. Moderato

Violin Concerto No. 2 In G Minor, Op. 63
4. I. Allegro Moderato
5. II. Andante Assai
6. III. Allegro, Ben Marcato

Piano Concerto No. 3 In C Major, Op. 26
7. I. Andante – Allegro
8. II. Tema Con Variazione
9. III. Allegro Ma Non Troppo

Ruggiero Ricci – violin (tracks: 1-6, recorded 1958)
Julius Katchen – piano (tracks: 7-9, recorded 1953)
Orchestre de la Suisse Romande, Ernest Ansermet

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Arthur Honegger, Ernest Ansermet e Roland Manuel (foto de 1925, colorizada por inteligência artificial)

Pleyel

John Cage (1912-1992): Music for Prepared Piano (Vol. 2) (Berman)

John Cage (1912-1992): Music for Prepared Piano (Vol. 2) (Berman)

O povo não para de pedir:

— John Cage! John Cage! John Cage!

Tãotá, né? Lá vai mais!

As fotografias denunciam e a música comprova: John Cage foi um sujeito talentoso, alegre e feliz. Se você não é absolutamente conservador em matéria musical, deve ouvir as obras deste CD e do anterior, de Cage, que postamos. São peças coloridas e interessantes do cara que criou a coisa mais estapafúrdia e intrigante de todos os tempos, 4`33″. O piano preparado de Cage, neste CD e no anterior, aparece em timbres realmente inusitados. Sua música talvez deixe corado alguns minimalistas, Quem ouvir saberá dizer por quê.

John Cage (1912-1992): Music for Prepared Piano (Vol. 2)

1. The Perilous Night: No. 1. – 2:32
2. The Perilous Night: No. 2. – 0:54
3. The Perilous Night: No. 3. – 4:16
4. The Perilous Night: No. 4. – 1:19
5. The Perilous Night: No. 5. – 0:44
6. The Perilous Night: No. 6. – 3:42
7. Tossed as it is Untroubled 3:04
8. Daughters of the Lonesome Isle 9:30
9. Root of an Unfocus 4:57
10. Primitive 4:28
11. Mysterious Adventure 8:15
12. And the Earth shall Bear Again 3:29
13. The Unavailable Memory of 4:08
14. Music for Marcel Duchamp 5:05
15. Totem Ancestor 2:05
16. A Room 2:03
17. Prelude for Meditation 1:02

Boris Berman, piano

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Cage: talentoso e feliz
Cage: talentoso e feliz

PQP

John Cage (1912-1992): Sonatas and Interludes for Prepared Piano (Vol. 1) (Berman)

John Cage (1912-1992): Sonatas and Interludes for Prepared Piano (Vol. 1) (Berman)

Roubado daqui. Reportagem de Irinêo Baptista Netto.

Uma lupa descansa sobre a mesa a alguns metros do piano. “Este é o nosso instrumento de trabalho”, diz a pianista Vera Di Domênico, pegando a lente de aumento para mostrar as anotações feitas à mão por John Cage (1912-1992) na fotocópia da partitura de Sonatas e Interlúdios, peça a ser tocada na íntegra pelas pianistas Grace Torres e Lilian Nakahodo no palco do Teatro HSBC.

(…)

Por algum motivo obscuro, poucos se dispõem a enfrentar a obra de John Cage.

O compositor norte-americano, um dos homens que debulharam a música erudita no século 20 – e poucos foram capazes disso –, explorou o silêncio como ninguém antes dele. Defendia uma música permeada pelos sons cotidianos e chegou a criar mecanismos como o “piano preparado” para dar conta daquilo que tinha em mente.

Sonatas e Interlúdios é a composição mais famosa de Cage para o “piano preparado”, criada entre 1946 e 1948. Ele não permitiu que passassem suas anotações a limpo e cabe aos músicos desvendarem as partes mais ambíguas do registro, feito com bico de pena (o que explica a lupa).

O “piano preparado” parece um objeto de ficção científica. Das cordas do instrumento, pendem parafusos, pedaços de plástico e até uma típica borracha escolar, meio vermelha e meio azul. É um instrumento saído da imaginação de um doutor Frankenstein – neste caso, Cage.

Uma “bula” acompanha a partitura de Sonatas e Interlúdios, com indicações minuciosas sobre onde encaixar cada um dos objetos. Ao todo, 45 notas são alteradas e o resultado deixa de ser um piano para se tornar outro instrumento, mais percussivo, que remete às orquestras de gamelão da Indonésia. Uma hipótese para a resistência dos músicos a Cage é exatamente essa transformação que arranca o pianista de sua zona de conforto.

“[A música de Cage] diz muito do momento atual, do ser humano de hoje”, diz Vera, e emenda uma comparação. “Você pode sair na rua com uma roupa do século 17. Uma roupa linda que você gosta, mas ela é de outra época. O mesmo serve para a música. Se você me perguntar se gosto de Beethoven… Eu adoro! Assim como adoro Cage.”

Há pelo menos duas décadas que Vera pensa em levar Sonatas e Interlúdios para o palco. Lilian e Grace se tornaram alunas dela em parte pelo interesse da professora nos compositores contemporâneos. Numa conversa cerca de dois anos atrás, surgiu a ideia de um projeto para oferecer às leis de incentivo. Vera se lembrou de Cage no ato.

“Para o Cage, a música não pode se alienar dos sons da vida”, diz Grace. Seu primeiro contato com a obra do norte-americano foi por meio de um livro de poesia, embora ele não seja lembrado como poeta. Amigo do pintor Jackson Pollock (1912-1956), que parecia fazer com a artes plásticas o que Cage fazia com a música, o compositor causou um forrobodó com 4’33’’, uma peça de 4 minutos e 33 segundos de duração em que não há uma nota sequer. Uma proposta extravagante, sem dúvida.

“Apesar dos parafusos, a música de Cage [Sonatas e Interlúdios] leva as pessoas a pensarem em imagens delicadas, de vidros e de água”, diz Lilian, citando as reações daqueles que tiveram chance de ouvir os ensaios.

Para Grace, a irreverência de Cage era uma característica memorável. Ele foi um dos primeiros a fazer a “música do acaso” (chance music), explorando a aleatoriedade, uma noção que se insinua no “piano preparado” – pois cada instrumento produz sons diferentes depois da inserção da parafernália citada na “bula”.

“O que ouvi no ensaio, apesar de minha cultura a respeito das gravações já existentes dessa obra ser limitada, me deu a certeza de estar diante de uma execução perfeita, em alto nível técnico e de excelência interpretativa”, escreveu o músico e historiador André Egg, professor Faculdade de Artes do Paraná, no blog Amálgama. “O que vi foi uma coisa impressionante.”

São 16 sonatas e quatro interlúdios que somam 70 minutos, divididos entre Lilian e Grace, que deverão usar um figurino desenhado para o espetáculo. Será uma das poucas ocasiões em que os músicos não deverão se incomodar com uma tosse ocasional, ou outros barulhos vindos da plateia. Ao menos em tese, a música de Cage é capaz de incorporar todos os sons não previstos na partitura.

John Cage (1912-1992): Sonatas and Interludes for Prepared Piano (Vol. 1)

1. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 1 3:10
2. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 2 2:32
3. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 3 2:26
4. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 4 2:06
5. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: First Interlude 3:29
6. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 5 1:51
7. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 6 2:28
8. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 7 2:31
9. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 8 2:54
10. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Second Interlude 4:03
11. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Third Interlude 2:17
12. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 9 4:27
13. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 10 4:08
14. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 11 3:39
15. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 12 3:33
16. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Fourth Interlude 2:47
17. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 13 3:57
18. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 14 and No. 15, ‘Gemini’ (after the work by Richard Lippold) 6:21
19. Sonatas and Interludes for Prepared Piano: Sonata No. 16 4:47

Boris Berman, piano

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Cage, parafusos, durex, sonatas
Cage, parafusos, durex, sonatas

PQP

Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sinfonia Nº 7, Op. 60, “Leningrado” (Jansons / RCO)

Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sinfonia Nº 7, Op. 60, “Leningrado” (Jansons / RCO)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Eram outros tempos, muito diferentes. Dias antes, em Leningrado, foram planejados ataques aos alemães a fim de que eles não incomodassem durante a execução da obra através de um ajuntamento de músicos famintos e estropiados. E, assim, a Sinfonia Nº 7 de Shostakovich foi estreada em Leningrado no dia 27 de dezembro de 1941, tornando-se instantaneamente popular na URSS e no Ocidente como um símbolo da resistência ao totalitarismo e militarismo nazista.

No dia 19 de julho de 1942, a NBC transmitiu a Sétima para todos os Estados Unidos na mais espetacular iniciativa da era do rádio até então — anunciada inclusive na capa da revista Time, que ostentava (abaixo) a figura do compositor como bombeiro, uma de suas atribuições na cidade sitiada há meses.

Capa de revista Time. O mundo curvou-se ante a Sétima Sinfonia de Shostakovich.
Capa de revista Time. O mundo curvou-se ante a Sétima Sinfonia de Shostakovich.

A maioria dos compositores de peso estavam nos EUA — Schoenberg, Bartók, Stravinsky, Eisler, Hindemith, Rachmaninov — e grudaram no rádio. E tiveram uma enorme decepção. A mais popular das sinfonias era horrível. Schoenberg e Hindemith esbravejaram publicamente. Bartók ficou pasmo diante da ruindade do primeiro movimento, mas confidenciou apenas a amigos. O grande problema era, obviamente, o primeiro movimento. Após uma introdução pastoral que descreve as maravilhas do tempo pré-guerra com Stalin, há o tema da invasão, claramente inspirado no Bolero de Ravel.

Concordo que é tudo muito simples e anormal para Shostakovich, mas, anos depois, terminada a guerra e acalmados os ânimos, os críticos começaram a ver o que sempre esteve sob seus tolos narizes. A descrição musical da URSS trabalhadora, feliz, tranquila e pastoral durante o regime de Stalin era um evidente e claríssimo sarcasmo. Fato conhecido de todos — inclusive dos envolvidos — é que Shosta detestava Stalin e jamais daria uma chance a ele. Além do mais, era um homem talentoso, inteligente, complexo e muito, mas muito corajoso, apesar de seus problemas. Ora, a ironia forma-se no ato de dizer-se as coisas exatamente ao contrário e com certo exagero. Como é que ninguém deu-se conta de que aquele açúcar todo tinha o endereço de Stalin? Já o restante da música é extremamente dramático e bom.

A gravação de Mariss Jansons e da RCO é uma coisa de louco.

Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sinfonia Nº 7, Op. 60, “Leningrado” (Jansons / RCO)

1. Shostakovich – Symphony 7 in C major, op. 60 – Leningrad: Allegretto 27:22
2. Shostakovich – Symphony 7 in C major, op. 60 – Leningrad: Moderato (poco allegretto 11:17
3. Shostakovich – Symphony 7 in C major, op. 60 – Leningrad: Adagio 18:37
4. Shostakovich – Symphony 7 in C major, op. 60 – Leningrad: Allegro non troppo 17:11

Royal Concertgebouw Orchestra
Mariss Jansons

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Quem é míope vira bombeiro, né?
Quem é míope vira bombeiro, né?

PQP

J. S. Bach (1685-1750): Oratório da Páscoa, BWV 249 & Cantata BWV 6 (Rilling)

J. S. Bach (1685-1750): Oratório da Páscoa, BWV 249 & Cantata BWV 6 (Rilling)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Vou contar um segredo para vocês. Eu estou ouvindo todos os meus CDs. Um a um, um por um. Alguns eu jogo fora ou dou depois de uma decepção. Mas às vezes bato de cara com algo excelente de que tinha esquecido. É o caso deste Vol. 11 de minhas queridas Cantatas de Bach por Helmuth Rilling. Ganhei a enorme Caixa de Cantatas de uma namorada faz uns 35 anos. 53 CDs! Minha capa é menos carnavalesca do que a que apresento, mas foi o que encontrei. Rilling estava no limite entre a música historicamente informada e o horrível passado das gravações barrocas. Adorei o mimo quando ganhei! Muito obrigado! A maturidade me ensinou que ex-mulher é cargo de confiança e que não se fala mal de nenhuma. Ainda mais eu, que casei tantas vezes até finalmente encontrar meu primeiro amor… Bem, ouçam tudo porque vale a pena. A sonhadora ária Sanfte soll mein Todeskummer (faixa 7) está de arrancar o coração, de tão linda. E o que dizer de Ach bleib bei uns, Herr Jesu Christ (faixa 14)?

J. S. Bach (1685-1750): Oratório da Páscoa, BWV 249 & Cantata BWV 6 (Rilling)

BWV 249 Osteroratorium Kommt, Eilet Und Laufet (40:53)
1 Sinfonia 4:01
2 Adagio 4:16
3 Duetto E Coro 4:41
4 Recitativo 1:06
5 Aria 8:19
6 Recitativo 0:47
7 Aria 6:08
8 Recitativo 0:55
9 Aria 6:57
10 Recitativo 0:42
11 Coro 2:45

BWV 6 Bleib Bei Uns (19:06)
12 Coro 5:37
13 Aria 4:04
14 Choral 4:25
15 Recitativo 1:00
16 Aria 3:04
17 Choral 0:47

Alto Vocals – Carolyn Watkinson (tracks: 12 to 17), Julia Hamari (tracks: 1 to 11)
Bass Vocals – Philippe Huttenlocher (tracks: 1 to 11), Walter Heldwein (tracks: 12 to 17)
Choir – Gächinger Kantorei Stuttgart
Conductor – Helmuth Rilling
Orchestra – Bach-Collegium Stuttgart
Soprano Vocals – Arleen Augér* (tracks: 1 to 11), Edith Wiens (tracks: 12 to 17)
Tenor Vocals – Adalbert Kraus

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Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim?

PQP

J. Brahms (1833-1897) & J. Joachim (1831-1907): Concertos para Violino (Barton Pine, Kalmar)

J. Brahms (1833-1897) & J. Joachim (1831-1907): Concertos para Violino (Barton Pine, Kalmar)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

O húngaro Joseph Joachim é uma figurinha comum nas capas de discos. O cara escreveu notáveis cadenze para uma infinidade de Concertos para Violino românticos e clássicos. Muita gente as usa. Além de violinista, foi regente, compositor e professor. Grande amigo e intérprete de Schumann e de Brahms, foi um dos mais influentes instrumentistas de seu tempo. A carreira de Joachim foi profundamente marcada pela amizade com Brahms. A colaboração entre os dois músicos foi benéfica para ambos. A obra mais signficativa dessa amizade é seguramente este Concerto para Violino de Brahms, claro. Na composição desse concerto, Brahms foi muito auxiliado por Joachim, especialmente no tocante à técnica violinística. A cadenza do concerto foi escrita por Joachim, para variar. E há mais de uma escrita por ele.

Curiosidade: parece que sua mullher plantou-lhe um belo par de cornos… O maravilhoso Concerto Duplo para Violino, Violoncelo e Orquestra de Brahms, só existe porque… Bem, em 1884, Joachim e sua mulher se separaram depois que ele se convenceu que ela mantinha uma relação com o editor de Brahms, Fritz Simrock. Brahms, certo de que as suposições do violinista eram reles paranoias, escreveu uma carta de apoio a Amalie, que mais adiante ela usará como prova no processo de divórcio que Joseph movia contra ela. O fato motivou um esfriamento das relações de amizade entre Joachim e Brahms, que depois foram restabelecidas quando Brahms escreveu o Concerto Duplo e o enviou a Joachim para fazer as pazes. Em suma, o Concerto Duplo só existe em função dos cornos que Amalie pôs em Joseph Joachim. PQP Bach é Cultura! Porém, não misturem as coisas, Joachim foi traído, mas era um monstro em seu instrumento.

Por exemplo, em Berlim, no dia 17 agosto de 1903, o músico gravou um disco para a Gramophone Company (G&T), que chegou à nossa época como uma fascinante fonte de informações sobre o estilo violinístico do século XIX. Joachim foi o primeiro violinista a fazer uma gravação sonora. Sim, ele não era moleza.

Mas, bem, o disco ora postado abre com um Concerto para Violino e Orquestra de Joachim. Olha, se lhe sobravam galhos na testa e talento para executar peças de outros, faltava-lhe a centelha que faz de um ser humano normal um compositor. O Concerto, de quase 50 minutos, não é mau, mas também não é lá essas coisas. O que é legal neste CD duplo é que a excelente violinista Rachel Barton Pine faz quase uma tese sonora explorando a obra de dois amigos, pois também coloca versões alternativas das cadenze. Versões de Joachim e dela. Sim, Joachim e suas cadenze foram imortalizados, ele grudou-se para sempre à obra de Brahms, Beethoven e outros. Quanto à Barton Pine, o futuro dirá. Bobagem comentar o Concerto de Brahms. A gente só precisa ouvir. É impecável, perfeito, incrível.

J. Brahms (1833-1897) & J. Joachim (1831-1907): Concertos para Violino (Barton Pine, Kalmar)

Joseph Joachim: Violin Concerto in Hungarian Style in D minor, Op. 11
1. Joachim: Violin Concerto: 1st mvmt.: Allegro un poco maestoso
2. Joachim: Violin Concerto: 2nd mvmt.: Romanze: Andante
3. Joachim: Violin Concerto: 3rd mvmt.: Finale alla Zingara: Allegro con spirito

Johannes Brahms: Violin Concerto in D Major, Op. 77
4. Brahms: Violin Concerto: Allegro non troppo
5. Brahms: Violin Concerto: 1st mvmt. cadenza (by Joachim)
6. Brahms: Violin Concerto: 2nd mvmt.: Adagio
7. Brahms: Violin Concerto: 3rd mvmt.: Allegro giocoso, ma non troppo vivace
8. Cadenza by Rachel Barton-end of 1st mvmt. (Bonus Track)

Rachel Barton Pine, Violino
Chicago Symphony Orchestra
Carlos Kalmar

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Rachel Barton Pine esteve em Porto Alegre em 2013. Foi inesquecível.
Rachel Barton Pine esteve em Porto Alegre em 2013. Foi inesquecível.

PQP

Paris est une fête: Música de Bizet • Chabrier • Milhaud • Ravel – Alexandra Soumm (violino) • Orchestre de Chambre Pelléas & Benjamin Levy ֎

Paris é uma festa

O clima de olimpíadas está no ar e a Cidade Luz mais cativante do que nunca – se bem que as (de)cantadas águas do Sena não parecem tão festeiras assim, segundo concluiu o triatleta belga…

Com essa motivação toda, dei com os costados em um balaio de discos com inspiração francesa e Paris em particular. Esse da postagem me pareceu tão interessante, deliciosamente alegre e estimulante, que resolvi apresenta-lo à nação PQP-Bachiana.

O disco começa com todo o charme das morceaux populaires brésiliens costuradas uma depois da outra por Darius Milhaud, para compor seu Le Boeuf sur le toit. Depois uma orquestração original para a Bourée fantasque de Emmanuel Chabrier, que a escreveu originalmente para piano. Seguindo com violino e orquestra, temos a famosa Tzigane, de Maurice Ravel.

Para terminar a festa parisiense em altos espíritos temos a bela, clássica e juvenil Sinfonia de Bizet. E tudo isso interpretado por uma peculiar orquestra, da qual não havia ouvido falar antes, mas que me deixou curioso e com vontade de quero mais. Você poderá descobrir um pouco mais sobre ela, a violinista e o maestro assistindo a este relativamente curto vídeo aqui.

Darius Milhaud (1892-1974)

Cinéma Fantaisie for Violin and Orchestra, Op. 58b

(After Le bœuf sur le toit, Cadenza by Arthur Honegger)

  1. Fantasia

Emmanuel Chabrier (1841-1894)

Bourrée fantasque

  1. Bourrée fantasque

(Arr. for Violin and Orchestra by Thibault Perrine)

Maurice Ravel (1875–1937)

Tzigane

  1. Tzigane

Georges Bizet (1838–75)

Symphony in C

  1. Allegro vivo
  2. Adagio
  3. Allegro vivace
  4. Allegro vivace

Alexandra Soumm, violino

Orchestre de Chambre Pelléas

Benjamin Levy

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MP3 | 320 KBPS | 135 MB

This recording, a testament to the musical and human affinities forged over many years between these performers, is also a return to the sources of creative fount, with the first recording of Tzigane in the new and the first recording of the orchestration of Emmanuel Chabrier’s Bourree fantasque according to the sketches left unfinished by the composer. From the crinolines of Georges Bizet’s adolescence to the wisps of cigar smoke in the dreamy Brazil of Le Boeuf sur le toit, let’s immerse ourselves in an era when Paris set the tempo for cosmopolitan, carefree celebrations.

Esta gravação, um testamento das afinidades musicais e humanas forjadas ao longo de muitos anos entre esses artistas, é também um retorno às fontes da fonte criativa, com a primeira gravação de Tzigane no novo e a primeira gravação da orquestração de Bourree fantasque de Emmanuel Chabrier de acordo com os esboços deixados inacabados pelo compositor. Das crinolinas da adolescência de Georges Bizet aos fios de fumaça de charuto no Brasil sonhador de Le Boeuf sur le toit, vamos mergulhar em uma era em que Paris definiu o ritmo para celebrações cosmopolitas e despreocupadas.

Aproveite!

René Denon

Alexandra quer saber se você gostou do disco… deixe um comentário!

Franz Berwald (1796-1868): Abertura “Estrela de Sória” / Sinfonia Nº 1, “Sérieuse” / Sinfonia Nº 2, “Capricieuse” (Kamu)

Franz Berwald (1796-1868): Abertura “Estrela de Sória” / Sinfonia Nº 1, “Sérieuse” / Sinfonia Nº 2, “Capricieuse” (Kamu)

Eu gosto muito de Berwald. Aliás, compositores suecos são raros. Escrevi “compositores eruditos suecos” e o Google mudou espertamente para “compositores escandinavos”. Citou Berwald, mas já dentro deste novo escopo. Coisas da AI. Ele escreveu 4 belas Sinfonias, das quais as duas primeiras estão aí. Franz Berwald, descendente de uma família de músicos suecos de remota origem alemã, era violinista por formação e se tornou a figura mais importante da música sueca do século XIX. Em suma, ele teve razoável sucesso em seu próprio país, eventualmente se voltando para os negócios, gerenciando uma fábrica de vidro e abrindo uma serraria. Ser músico na Suécia do século XIX devia dar uma grana… Ele acabou nomeado professor de composição da academia sueca apenas em 1867, um ano antes de  morrer.

Franz Berwald (1796-1868): Abertura “Estrela de Sória” / Sinfonia Nº 1, “Sérieuse” / Sinfonia Nº 2, “Capricieuse” (Kamu)

1 Overture to Estrella de Soria 08:08

Symphony No. 1 in G Minor, “Sinfonie serieuse”
2 I. Allegro con energia 11:26
3 II. Adagio maestoso 06:41
4 III. Stretto 05:14
5 IV. Finale: Adagio – Allegro molto 08:21

Symphony No. 2 in D Major, “Sinfonie capricieuse”
6 I. Allegro 11:49
7 II. Andante 08:41
8 III. Finale: Allegro assai 11:06

Conductor(s): Kamu, Okko
Orchestra(s): Helsingborg Symphony Orchestra

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O topetinho do bofe…

PQP

Max Bruch (1838-1920): Concerto Nº 1 para Violino e Orq. / Johannes Brahms (1833-1897): Concerto para Violino e Orq. (Little, Handley, RLPO)

Max Bruch (1838-1920): Concerto Nº 1 para Violino e Orq. / Johannes Brahms (1833-1897): Concerto para Violino e Orq. (Little, Handley, RLPO)

“Em 50 anos, serei lembrado apenas pelo meu concerto para violino em sol menor… Brahms foi um compositor muito maior do que eu porque assumiu riscos”. OK, então, neste CD, temos Bruch representado por sua melhor música e ela não parece uma obra complementar — é muito bonita. Claro que Brahms é Brahms , mas Bruch não faz feio, de modo algum. Talvez a comparação direta mais conhecida entre os concertos para violino de Brahms e Bruch venha de Hans von Bülow, que comentou que, enquanto Bruch havia escrito um concerto para violino, Brahms havia composto um contra ele. E embora isso seja talvez um pouco duro com Brahms, pode-se entender o ponto de von Bülow: Bruch usa a orquestra para apoiar seu solista, enquanto Brahms tenta tratar tanto o solista quanto a orquestra como iguais. Comparações à parte, ambos são exemplos imponentes do gênero e permanecerão estabelecidos como pedras fundamentais do repertório de concertos. Aqui, os dois concertos são tocados com raro brilho.

Tasmin Little toca num Stradivarius de 1,3 milhão de libras e ainda faz essas caras

Max Bruch (1838-1920): Concerto Nº 1 para Violino e Orq. / Johannes Brahms (1833-1897): Concerto para Violino e Orq. (Little, Handley, RLPO)

Violin Concerto No. 1 In G Minor, Op. 26
Composed By – Max Bruch
1 I Vorspiel: Allegro Moderato 8:51
2 II Adagio 9:09
3 III Finale: Allegro Energico 7:34

Violin Concerto In D, Op. 77
Composed By – Johannes Brahms
4 Allegro Non Troppo 22:15
5 Adagio 8:47
6 Allegro Giocoso, Ma Non Troppo Vivace 7:44

Conductor – Vernon Handley
Orchestra – Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
Violin – Tasmin Little

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O Bruch tem cara de boa pessoa, né? Tomaria um chope com ele.

PQP

Antonio Vivaldi (1678-1741): Cantate, Concerti & Magnificat (Kirkby / Tafelmusik / Lamon)

Antonio Vivaldi (1678-1741): Cantate, Concerti & Magnificat (Kirkby / Tafelmusik / Lamon)

Prezados, como estarei viajando no final de semana, minha contribuição para o blog está sendo postada h0je, quinta feira. E começarei com Vivaldi. Mas não se trata de qualquer Vivaldi, e sim de um Vivaldi interpretado por nossa musa inspiradora, com sua voz angelical, Emma Kirkby. Já postei duas outras obras com esta maravilhosa soprano inglesa, especialista no repertório renascentista e barroco. Neste CD Kirkby interpreta Motetos e a Magnificat do padre ruivo. Peças maravilhosas, sensíveis e que mostram o domínio que a sardenta Kirby tem de sua voz. Falar de Vivaldi é chover no molhado. Nunca conheci alguém que dissesse não gostar de sua música. Espero que gostem tanto quanto eu gostei.

Antonio Vivaldi (1678-1741): Cantate, Concerti & Magnificat (Kirkby / Tafelmusik / Lamon)

01 – Motet, RV627 – 1. In turbata mare irato
02 – 2. Splende serena, o lux amata
03 – 3. Resplende, bella divina stella
04 – 4. Alleluia

05 – Concerto madrigalesco in d, RV129 – 1. Adagio – Allegro
06 – 2. Adagio
07 – 3. Allegro

08 – Concerto in g, RV157 – 1. Allegro
09 – 2. Largo
10 – 3. Allegro

11 – Concerto alla rustica in G, RV151 – 1. Presto
12 – 2. Adagio
13 – 3. Allegro

14 – Motet, RV680 – 1. Lungi dal vago volto
15 – 2. Augelletti, voi col canto
16 – 3. Allegrezza, mio core
17 – 4. Mi stringerai si, si

18 – 1. Magnificat anima mea Dominum
19 – 2. Et exsultavit spiritus meus in Deo
20 – 3. Et misericordia eius a progenie
21 – 4. Fecit potentiam in brachio suo
22 – 5. Esurientes implevit bonis
23 – 6. Suscepit Israel puerum suum
24 – 7. Sicut locutus est ad patres
25 – 8. Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto

Tafelmusik Baroque Orchestra Conducted by Jeanne Lamon
Emma Kirkby – soprano

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Emma jovem, na época desta gravação.

PQP