BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Romances para violino e orquestra, Opp. 40 & 50 – Concerto para violino e orquestra, Op. 61 – Menuhin – Furtwängler

O melífluo romance em Sol maior, Op. 40, servirá aqui como mero pretexto para lhes alcançar uma gravação extraordinária tanto por seus protagonistas quanto, e especialmente, pelo contexto em que foi feita.

As colunas de fumaça ainda estavam a ser extintas na Europa enquanto, em 1947, suas nações, fossem livres ou ocupadas, buscavam reerguer-se dentro das novas linhas entre elas traçadas. Um imenso número de pessoas fugira dos horrores perpetrados pelo nazifascismo, e algumas delas, grandes nomes da Música, recebiam então convites para regressar.  Alguns aceitavam e atravessavam o Atlântico para tocar nos teatros europeus, muitos dos quais reconstruídos. Outros recusavam terminantemente, dependendo do convite, do lugar e dos parceiros envolvidos. Entre os lugares, o mais evitado era Berlim, um dos maiores polos culturais da Europa antes da guerra, agora fatiada em quatro e, como coração do Reich genocida, justamente temida pelos muitos músicos judeus que escaparam da morte que o regime lhes desejara. Entre os parceiros, e entre tantos nomes malditos, havia o mais maldito de todos: o legendário Wilhelm Furtwängler, gênio inconteste da batuta e, para muitos, o maior regente do século XX.

Discutir se Furtwängler merecia ou não a pecha de maldito é um tema que foge ao escopo dessa despretensiosa postagem num blog que tão só busca polinizar música. A maioria de seus contemporâneos pensava que sim: que, ao escolher permanecer na Alemanha, ele se alinhou, passivamente que fosse, ao cruel regime que a controlava e acabou por lhe emprestar seu imenso prestígio, como um dos mais famosos artistas do mundo. Uma diminuta, mas muito ativa minoria acreditava que não: afinal, Furtwängler nunca se filiara ao Partido Nazista e sempre se recusara a alinhar-se com seus expoentes; não aceitou reger seus hinos e conduzir sob seus estandartes; abominava Hitler e não lhe prestava as saudações protocolares; e, acima de tudo, usou sua grande influência para ajudar muitos músicos judeus e suas famílias a encontrarem guarida e rotas de fuga para lugares seguros. No final da guerra, foi julgado por um comitê de desnazificação e inocentado de todas as acusações. Ainda assim, não foi perdoado pela maioria de seus colegas, que não aceitavam sua justificativa de permanecer na Alemanha por motivos puramente artísticos, sem pretender alinhar-se ao Nazismo, numa postura improvavelmente ingênua sob um regime tão afeito a usar arte como propaganda.

Entre os tantos que não o perdoaram estavam músicos do calibre de Horowitz, Rubinstein, Toscanini e Szell, que reagiram fortemente à indicação de Furtwängler para o cargo de regente titular da Sinfônica de Chicago e a ameaçaram com um boicote, caso ele fosse efetivamente contratado (o que nunca aconteceu). Entre os raros músicos que sempre o apoiaram, um deles se destacava pela envergadura artística e pelo esforço que despendeu em reconstruir a reputação de Furtwängler. Era um prodígio do violino que se encontrava no apogeu de sua arte, um generoso embaixador da boa vontade durante toda sua longa e prolífica vida, e um judeu secular que, não obstante, era judeu até no nome: Yehudi (“o judeu”) Menuhin.

Menuhin, que nasceu nos Estados Unidos e estudou na França e na Suíça, baseara-se no Reino Unido e já rodava o mundo havia décadas, amplamente reconhecido como um de seus mais importantes artistas. Durante boa parte da guerra dedicou-se corajosamente a tocar para os soldados no front, mesmo no perigo da ofensiva de Ardennes, muitas vezes na companhia do amigo Benjamin Britten. O bravo e generoso Yehudi chegou a Bergen-Belsen praticamente junto com as forças que libertaram o campo e tocou para seus sobreviventes. Assim, não surpreende que ele tenha sido o primeiro músico importante a voltar a Berlim após a guerra e, ao apoiar publicamente o desgraçado Furtwängler, tentar desagravar a reputação do grande músico e reabilitar sua carreira.

Suas intenções, alimentadas por uma imensa admiração pelo maestro, tinham sintonia com as próprias justificativas aventadas por Furtwängler para permanecer na Europa: enquanto este pretendia salvar a música alemã da barbárie, Yehudi buscava a reconciliação com os grandes músicos remanescentes na Alemanha para fomentar o resgate da cultura alemã, que tanto amava. E assim, sob muitos protestos de seus colegas, Menuhin foi ao encontro de Furtwängler para com ele tocar e realizar as históricas gravações que ora lhes apresento.

O repertório dessa apoteose da cultura alemã, claro, só poderia ser centrado em Beethoven e suas obras para violino e orquestra. O maravilhoso concerto, um dos pontos altos de toda arte, foi gravado pela dupla em Lucerna, na mesma Suíça que permanecera neutra durante toda a guerra, e onde Furtwängler e outros artistas indispostos com o Reich buscaram guarida nos estrebuchos do conflito. Os dois serenos romances, por sua vez, seriam gravados posteriormente em Londres, com a Philharmonia Orchestra.

O inimitável estilo de Furtwängler, com sua flexibilidade do andamento e liberdades em relação à partitura, faz-se perceber nos longos arcos do desenvolvimento do primeiro movimento do concerto e em seu rondó, no qual o andamento nunca é o mesmo a cada retorno do tema. O som de Menuhin, por sua vez, pode causar estranheza a nossos ouvidos, acostumados ao primor técnico, tanto de artistas quanto da engenharia de som, tão prevalente em nossos dias. Sua calorosa abordagem a Beethoven, no entanto, impressiona mais pela energia e radiância que pela perfeição nota a nota. Chamam-no frequentemente de superestimado; prefiro dizer que ele foi um artista cujo apogeu chegou cedo demais para que fosse bem gravado, e cuja merecida fama como um dos mais admiráveis cidadãos do mundo extrapolou tudo o que se pode expressar com um arco.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Concerto em Ré maior para violino e orquestra, Op. 61
Composto em 1806
Publicado em 1808
Dedicado a Stephan von Breuning

1 – Allegro ma non troppo (cadenza de Fritz Kreisler)
2 – Larghett0
3 – Rondo: Allegro (cadenza de Fritz Kreisler)

Yehudi Menuhin, violino
Lucerne Festival Orchestra
Wilhelm Furtwängler, regência

Romance no. 1 para violino e orquestra em Sol maior, Op. 40
Composto em 1802
Publicado em 1803

4 – Adagio cantabile

Romance no. 2 para violino e orquestra em Fá maior, Op. 50
Composto em 1798
Publicado em 1805

5 – Adagio cantabile

Yehudi Menuhin, violino
Philharmonia Orchestra
Wilhelm Furtwängler, regência

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Menuhin e Furtwängler em 1949. A atuação de Menuhin foi decisiva para a reabilitação da carreira de Furtwängler, e sua intercessão foi fundamental para que ele assumisse seu primeiro cargo permanente no pós-guerra, como regente da Philharmonia Orchestra em Londres. Os dois colaborariam com frequência nas salas de concerto e nos estúdios até a morte do alemão, em 1954.

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Takács) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Takács) #BTHVN250

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma gravação daquelas imbatíveis, de referência. Ouçam! Verdadeiros monumentos humanistas, os últimos quartetos de Beethoven têm que ser conhecidos por todos aqueles que desejam ser algo mais do que um saco vazio de conteúdo. Ouvi-los é como conhecer Mann e Kafka, Joyce e Proust. Os húngaros do Takács — formado em 1975, atualmente com dois norte-americanos no grupo — enfrentam estes difíceis quartetos com naturalidade e fluência. Engraçado que uma outra gravação de referência é a do Kodály Quartet, outro grupo húngaro, este fundado em 1965. Os húngaros parecem ter invadido esta área… O Takács não é mole. São artistas associados ao Southbank Centre, receberam em maio a Wigmore Hall Medal e estiveram dia desses com Merl Streep homenageando Philip Roth. Tais posturas podem ser ouvidas nestes CDs, acreditem.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos

CD1

String Quartet in E Flat, Op.127
01. I. Maestoso-Allegro
02. II. Adagio, Ma Non Troppo e Molto Cantabile-Andante
03. III. Scherzo.Vivace
04. IV. Allegro-Allegro Comodo

String Quartet in C Sharp Minor, Op.131
05. I. Adagio ma non troppo e molto espressivo
06. II. Allegro Molto Vivace
07. III. Allegro Moderato
08. IV. Andante Molto Cantabile-Più Mosso-Andante Lusinghiero
09. V. Presto
10. VI. Adagio Quasi un Poco Andante
11. VII. Allegro

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CD2

String Quartet in A Minor, Op.132
01. I. Assai Sostenuto-Allegro
02. II. Allegro Ma Non Tanto
03. III. Holy Songs. Andante-Molto Adagio
04. IV. Alla Marcia, Assai Vivace-Piu Allegro
05. V. Allegro Appassionato-Presto

String Quartet in F Major, Op.135
06. I. Allegretto
07. II. Vivace
08. III. Lento Assai, Cantante e Tranquillo
09. IV. Der schwer gefaßte Entschluß.Grave, Ma Non Troppo Tratto-Allegro

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CD3

String Quartet in F Minor, Op.95
01. I. Allegro Con Brio
02. II. Allegretto Ma Non Troppo
03. III. Allegro Assai Vivace Ma Serioso
04. IV. Larghetto Espressivo-Allegretto Agitato-Allegro

String Quartet in B Flat, Op.130
05. I. Allegro Ma Non Troppo-Allegro
06. II. Presto
07. III. Andante Con Moto, Ma Non Troppo
08. IV. Alla Danza Tedesca.Allegro Assai
09. V. Cavatina.Adagio Molto Espressivo

Grosse Fuge, Op.133
10. Grosse Fuge, Op.133
11. VI. Finale.Allegro

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Takács Quartet

Obra retratando Beethoven em Bonn: de alguns ângulos a coisa é quase incompreensível
Obra retratando Beethoven em Bonn: de alguns ângulos a coisa é quase incompreensível
Mas, olhando bem de frente...
Mas, olhando bem de frente…

PQP

BTHVN250 Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Trios – CD 3 de 5 – Beaux Arts Trio

 

 

 

Hoje, dia 21 de abril, é feriado. Para aqueles que se encontram em quarentena, em isolamento social devido à pandemia do Coronavírus, tanto faz se é feriado ou não, não acham? É um dia igual ao outro. Tenho um calendário aqui na mesa onde vou riscando os dias que passam. A pilha de livros que aguardavam sua vez de serem lidos está diminuindo, o número de CDs que aguardam sua vez para serem ouvidos também está menor … e assim vão passando os dias.

O terceiro CD da coleção dos Trios para Piano de Beethoven interpretados pelo Beaux Arts Trio traz o que talvez seja o trio mais conhecido, intitulado “Archduke”, de op. 97, obra de maturidade de Ludwig van. Não precisamos ter conhecimento do idioma alemão para entendermos esse nome que leva a obra. Sim, a obra foi dedicada a um nobre, mais especificamente para o Arquiduque Rudolph da Áustria, filho mais novo de Leopold II, Imperador do Sacro Império Romano. Rudolph era músico amador, amigo e aluno de Beethoven, e além disso, um dos patrono do compositor. Entenderam?

01. Trio No.7 in B flat major, op.97 ‘Archduke’ – I. Allegro moderato
02. Trio No.7 in B flat major, op.97 ‘Archduke’ – II. Scherzo Allegro
03. Trio No.7 in B flat major, op.97 ‘Archduke’ – III. Andante cantabile, ma pero
04. Trio No.7 in B flat major, op.97 ‘Archduke’ – IV. Allegro moderato
05. Trio No.9 in E flat major, WoO 38 – I. Allegro moderato
06. Trio No.9 in E flat major, WoO 38 – II. Scherzo Allegro ma non troppo
07. Trio No.9 in E flat major, WoO 38 – III. Rondo Allegretto
08. Trio No.11 in G major, op.121a – 10 Variations on Wenzel Muller’s song “Ich bin der Schneider Kakadu”

Beaux Arts Trio

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BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Obras para órgão, Op. 39, WoO 31 & 33, Hess 107 – Preston

Chamar essa compilação beethoveniana de “peças para órgão” (e, sim, sei que vocês estão a esperar que eu escreva “órgão de Beethoven”, mas tirem o cavalinho da chuva porque isso NÃO VAI ACONTECER) é um pouco de exagero, posto que apenas uma das obras – a fuga WoO 31 – foi composta originalmente para o instrumento. As outras peças estão no ademais imenso repertório à disposição dos organistas como opção ou por necessidade.

A opção está nos curiosos prelúdios do Op. 39, publicados em partitura para piano, sem indicação de pedal, mas que se prestam muito bem à execução no órgão. Essas curiosas peças, compostas ainda em Bonn, foram publicadas bem depois em Viena porque Ludwig, para variar, precisava de dinheiro. É muito provável que tenham sido escritas como exercícios para seu professor Neefe, que era organista e de quem foi assistente na corte do Eleitor. Os dois prelúdios partem do Dó maior e vão modulando para todas as tonalidades maiores, de maneira ascendente e descendente, até retornarem ao Dó maior. No primeiro, as tonalidades são mantidas por alguns compassos, ao passo que no segundo as modulações são tão rápidas que por vezes nem as percebemos, numa considerável demonstração de habilidade do jovem compositor.

Já a necessidade da execução ao órgão está nas peças restante, que são tradicionalmente designadas em português “para relógio mecânico”, denominação um tanto sem sentido, uma vez que todos os relógios daquela época eram mecânicos. O termo mais usado em alemão, Spieluhr, indica uma caixinha de música, o que também não é o caso. Com efeito, o instrumento que Beethoven tinha em mente era um Flötenuhr (“relógio-flauta”), um relógio integrado a um realejo automático, acionado por foles movidos por contrapesos. A engenhoca tornou-se tão popular que logo os laboriosos compositores do Império Austro-Húngaro enxergaram oportunidades em lhe criar um repertório. Como poucos Flötenuhren chegaram até nossos dias, e nenhum deles sabe tocar Beethoven, a diminuta coleção que Ludwig destinou ao instrumento costuma ser hoje tocado por flautistas, com acompanhamento de harpa ou piano – e organistas.

Já que a música para o órgão de Beet, er, beethoveniana para órgão mal dá para a metade de um CD, resolvi completá-lo com obras de seus três principais professores, que encontrei perdidas em meus alfarrábios e que eu dificilmente publicaria aqui de outra maneira. Assim, o obscuro Christian Gottlob Neefe faz sua estreia no PQP Bach com uma das incontáveis peças organísticas que certamente compôs em função de seu cargo de organista da corte do Eleitor de Bonn, a imensa maioria das quais jamais foi publicada. Johann Georg Albrechtsberger, compositor daqueles hilariantes concertos para marranzano, dá aqui uma prova do que ouviam os vienenses que frequentavam a Stephansdom, ou a nobreza na época em que ele era o organista da corte imperial. Arrematando os trabalhos, um pequeno compêndio que Haydn, a um só tempo o mais célebre e o menos dedicado dos professores de Ludwig, escreveu para Flötenuhr, a engenhoca que os leitores-ouvintes conhecerão melhor através dos vídeos mais abaixo.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Dois prelúdios em todas as tonalidades maiores, para órgão ou piano, Op. 39
Composto em 1789
Publicado em 1803
1 – Prelúdio no. 1
2 – Prelúdio no. 2

Fuga em Ré maior para órgão, WoO 31 (1783)
3 – Sem indicação de andamento

Cinco peças para Flötenuhr, WoO 33 (1794-1799)
4 – No. 1 em Fá maior
5 – No. 2 em Sol maior
6 – No. 3 em Sol maior
7 – No. 4 em Dó maior
8 – No. 5 em Dó maior

Marcha dos granadeiros em Fá maior, Hess 107 (1798)
9 – Sem indicação de andamento

Simon Preston, órgão

Christian Gottlob NEEFE (1748-1798)

10 – Variações sobre a “Marcha dos Sacerdotes” de Die Zauberflöte de Mozart, para órgão

Johann Georg ALBRECHTSBERGER (1735 – 1809)

11 – Prelúdio em Sol menor/Fuga em Sol menor sobre o tema B-A-C-H, para órgão

Joseph HAYDN (1732-1809)

12 – Peças para Flötenuhr

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Trios – CD 2 de 5 – Beaux Arts Trio

 

 

 

Se esta quarentena está servindo para alguma coisa, ao menos para mim está sendo para preparar postagens para o futuro. E acho que meus colegas estão fazendo o mesmo. Hoje, dia 8 de abril, estou preparando os trios com o Beaux Arts Trio que serão postados a partir do dia 19 …
Havia uma dúvida se eu iria postar a primeira ou a segunda versão destes trios, e acabei optando pela segunda. O colega Rene Denon gentilmente ofereceu sua caixa com a primeira versão. Quem sabe postamos mais a frente?

01. Trio No.3 in C minor, op.1 no.3 – I. Allegro con brio
02. Trio No.3 in C minor, op.1 no.3 – II. Andante cantabile con variazioni
03. Trio No.3 in C minor, op.1 no.3 – III. Menuetto Quasi allegro
04. Trio No.3 in C minor, op.1 no.3 – IV. Finale Prestissimo
05. Trio No.6 in E flat major, op.70 no.2 – I. Poco sostenuto – Allegro ma non tr
06. Trio No.6 in E flat major, op.70 no.2 – II. Allegretto
07. Trio No.6 in E flat major, op.70 no.2 – III. Allegretto ma non troppo
08. Trio No.6 in E flat major, op.70 no.2 – IV. Finale Allegro
09. Trio No.10 in E flat major, op.44 – 14 Variations on an original theme – Tema

Beaux Arts Trio

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BTHVN250 – Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra em Dó menor, Op. 37 – Sonatas para piano, Op. 49 – Dois Rondós para piano, Op. 51 – Variações sobre um tema original, WoO 80 – Lupu

A temporada transformadora em Heiligenstadt, de onde Beethoven saiu em outubro de 1802 com a disposição, segundo suas próprias palavras, de “agarrar o Destino pelo pescoço, de modo a que não me destrua por completo”, resultou num surto de planos, muitas das quais, como era bem típico a alguém tão desorganizado e cheio de problemas para resolver, nunca passaram à prática. Um deles, no entanto, era particularmente firme: refazer seu cartaz como compositor-virtuose, um tanto apagado tanto pelo sucesso de suas publicações quanto pelos quase oito anos transcorridos desde a estreia de seu primeiro par de concertos. Tal vontade certamente inspirou-se no grande sucesso de outro compositor-virtuose: Johann Nepomuk Hummel, com quem Beethoven manteve por muito tempo uma relação ambivalente. Eram predominantemente amigos, mas também prevalecia uma inveja azeda acerca dos triunfos do colega mais novo, um requisitadíssimo professor e pianista, além da mágoa por ter sido preterido por Hummel como aluno de Haydn, que jamais foi superada. O fruto mais notável dessa resolução foi um novo concerto em Dó menor, cujos primeiros esboços datavam de cinco anos antes, e que tinha não tinha nem Haydn, tampouco Hummel como inspirações. O modelo óbvio era Mozart: mais especificamente, seu grande concerto K. 491, com quem a nova obra compartilhava a tonalidade e muita, mas muita mesmo, semelhança temática.

A despeito da inspiração mozartiana, a audácia harmônica (que inclui um segundo movimento na distante tonalidade de Mi maior) e o pathos são Beethoven puro. A première foi dada por ele mesmo como solista, no mesmo mastodôntico concerto em que foram estreados o oratório Christus am Ölberge (Op. 85) e a sinfonia no. 2, além duma reapresentação da primeira sinfonia. Dentro da desorganização que lhe era peculiar, o incorrigível procrastinador de Bonn não completou as partes de piano a tempo da estreia, de modo que improvisou uma boa parte de seu solo e, talvez, a própria cadenza que depois acabou publicada junto com o concerto. A repercussão foi boa, ainda que eclipsada pela da segunda sinfonia. Notícia melhor ainda, inda mais depois de todo desespero de Heiligenstadt, foi a de que a surdez não lhe impedira o retorno aos palcos, que era o que mais temia. Em muito breve, Beethoven encontraria um patrono generoso no jovem arquiduque Rudolph e voltaria a estar em posição de vantagem nas negociações com editores, o que daria algum fôlego a suas finanças sempre periclitantes.

O solista desta gravação era o mais recluso dos mestres vivos do teclado, até se aposentar dos palcos no ano passado. O romeno Radu Lupu, intérprete realmente genial, exibe no concerto seu incomparável controle de nuances, belíssimo fraseado e, acima de tudo, a capacidade tantas vezes descrita por seus colegas como deixar a música falar por si própria. O disco abre e fecha, dir-se-ia estranhamente, com peças menores para piano solo. Quando ouvimos, no entanto, os rondós do Op. 51 soarem melífluos como improvisos de Schubert, e as brilhantes variações em Dó menor cintilarem na mesma tonalidade do concerto, percebemos o quão bem eles lhe servem muito bem como prelúdios. E, no fim, as duas pequenas sonatas do Op. 49, tão simples a ponto de estarem ao alcance de amadores, transformam-se num longo, delicado bis – como se Lupu, o sensível e arredio bicho-do-mato, buscasse um despiste para sumir sem ser percebido.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Dois Rondós para piano, Op. 51
Compostos entre 1795-1798
Publicados em 1802 (no. 2) e 1810 (no. 1)

1 – No. 1 em Dó maior
2 – No. 2 em Sol maior

Trinta e duas variações para piano sobre um tema original, em Dó menor, WoO 80
Compostas em 1806
Publicadas em 1807

3 – Thema – Variationen I-XXXII

Radu Lupu, piano

Concerto para piano no. 3 em Dó menor, Op. 37
Composto entre 1800-1803
Publicado em 1804
Dedicado ao príncipe Louis Ferdinand da Prússia

4 –  Allegro con brio
5 – Largo
6 – Rondo: Allegro

Radu Lupu, piano
London Symphony Orchestra
Lawrence Foster, regência

Duas sonatas para piano, Op. 49
Publicadas em 1805

No. 1 em Sol menor
Composta em 1797
7 –  Andante
8 – Rondo: Allegro

No. 2 em Sol maior
Composta entre 1795-1796
9 –  Allegro ma non troppo
10 – Tempo di Menuetto

Radu Lupu, piano

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“Qual é mesmo o nome do blogueirinho metido a comediante?” – “Vassily” – “Tá, então a gente pega o Vassily, uma torquesa, e…”

#BTHVN250, por René DenonVassily

BTHVN250 Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Trios – CD 1 de 5 – Beaux Arts Trio

 

 

 

Curioso, elogiamos tanto o Beaux Arts Trio, mas nunca mais trouxemos os trios de Beethoven interpretados por eles desde os primórdios do Blog, lá em 2008. Estava lembrando agora, que diabos eu fazia da vida em 2008? Aí lembrei que era professor em uma pequena cidade no interiorzão de nosso país. Eu era feliz e não sabia?  Mas essa falha só pode ser devido a esquecimento, não acham? Vá entender. Vou trazer então este histórico registro, dentro das comemorações dos 250 anos de nascimento de Beethoven.
Resolvi postar um cd de cada vez. Assim os senhores não ficam tão sobrecarregados de coisas para se ouvir.

01. Trio No.1 in E flat major, op.1 no.1 – I. Allegro
02. Trio No.1 in E flat major, op.1 no.1 – II. Adagio cantabile
03. Trio No.1 in E flat major, op.1 no.1 – III. Scherzo Allegro assai
04. Trio No.1 in E flat major, op.1 no.1 – IV. Finale Presto
05. Trio No.2 in G major, op.1 no.2 – I. Adagio – Allegro vivace
06. Trio No.2 in G major, op.1 no.2 – II. Largo con espressione
07. Trio No.2 in G major, op.1 no.2 – III. Scherzo Allegro
08. Trio No.2 in G major, op.1 no.2 – IV. Finale Presto
09. Trio No.8 in one movement in B flat major, WoO 39 – Allegretto

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BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Trios para piano, violino e violoncelo, Opp. 36 & 38 (arranjos da Sinfonia no. 2 e do Septeto)

Analogias gastroenterológicas à parte, a sinfonia em Ré maior, Op. 36, foi um imenso e imediato sucesso, e sua também bem-sucedida publicação levou o próprio Beethoven a rapidamente adaptá-la para piano, violino e violoncelo. Esse expediente de arranjar obras de concerto para pequenos conjuntos, de que já lançara mão em obras anteriores, buscava trazer suas composições até os salões e salas de estar, tornando-as mais acessíveis ao público em geral e, assim, trazer-lhe também mais proventos. O prolongado retiro em Heiligenstadt, um bonito cafundó muito afastado de Viena, sem publicar obras novas, sem dar concertos e destilando agonia, piorara muito suas sempre cambaleantes finanças, o que promoveu um relaxamento sem precedentes em seus critérios normalmente estritos ao publicar suas obras. Tamanho era o desespero que Beethoven chegou a cavocar seus caóticos baús e deles tirar as quase esquecidas variações sobre um tema de Dressler – sua primeira obra publicada, quando ainda moleque em Bonn – e, com os mínimos retoques, republicá-la para, na onda de sua crescente fama, fazer mais alguns cobres.

A mesma necessidade sôfrega fê-lo voltar a uma conhecida vaca gorda – aquele mesmo septeto cujo incrível sucesso tanto o irritara, por achar que eclipsava obras suas muito melhores – e reeditá-la, também num arranjo para trio com piano. O resultado, que já ouvimos neste série numa versão com clarinete, foi publicado como seu Op. 38 e vendeu muito bem, aliviando-lhe um pouco o garrote até que, decisivamente, ingressasse na sua vida o jovem arquiduque Rudolph, caçula da família real austríaca, que se tornaria não só um aluno de piano e composição, mas um generoso mecenas, confidente e dedicatário de muitas de suas futuras obras-primas.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trio em Mi bemol maior para violino, piano e violoncelo, Op. 38 (arranjo do septeto, Op. 20)
Composto entre 1799-1800 (versão original do septeto, Op. 20)
Arranjado e publicado como trio em 1803
Dedicado à imperatriz Maria Theresia (septeto)

1 – Adagio – Allegro con brio
2 – Adagio cantabile
3 – Tempo di menuetto
4 – Tema con variazioni. Andante
5 – Scherzo – Allegro molto e vivace
6 – Andante con moto alla marcia – Presto

Sachiko Kobayashi, violino
Michael Wagner, piano
Chihiro Saito, violoncelo

Sinfonia no. 2 em Ré maior, Op. 36 (arranjo para piano, violino e violoncelo pelo próprio compositor)
Composta entre 1801-02
Arranjo para trio publicado em 1803
Dedicada ao príncipe Karl von Lichnowsky

7 – Adagio molto – Allegro con brio
8 – Larghetto quasi andante
9 – Scherzo: Allegro
10 – Allegro molto

Thomas Brandis, violino
Eckart Besch, piano
Wolfgang Böttcher, violoncelo

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Esses cinquenta euros de hoje valeriam… bem, várias noitadas de copa livre nas tavernas mais pulguentas de Viena.

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Brodsky) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Brodsky) #BTHVN250

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Este repertório é uma irrepetível mistura de profundidade e sofisticação, de comunicação e transcendência. Muitos quartetos o enfrentaram, mas poucos se saem realmente bem neste cânone da música.

O Quarteto Brodsky dedicou bastante de seu tempo aos quartetos de Beethoven. Em 2006, eles lançaram um disco com dois dos quartetos Rasumovsky, Op. 59 Nº 2 e 3, e seguiram dois anos depois com o conjunto dos seis Op. 18. Somente agora, no início do ano do 250º aniversário de Beethoven, eles enfrentaram os últimos quartetos. O conjunto inclui também o Op. 95, bem como, é claro, as obras geralmente consideradas como parte do cânone tardio: os Op. 127, 130 (com os dois finais, Grande Fuga, bóbvio), 131, 132 e 135. As gravações foram feitas antes da saída do primeiro violino do grupo, David Rowland, no ano passado. Ele foi substituído por Gina McCormack.

Não faltam gravações dessas obras máximas, desse verdadeiro Olimpo do repertório para quartetos de cordas. As mais famosas são a do Quarteto de Budapeste e do Busch nos anos 70, a do Italiano nos 80,  e a do Takács, do Kodály e do Alban Berg na era digital. Todos estão disponíveis em CD. O aniversário trará, sem dúvida, outras gravações. Embora as versões de Brodsky não possam ameaçar as posições de nenhum dos grandes conjuntos citados, elas certamente têm suas próprias virtudes, e seus destaques são muito altos.

Em primeiro lugar, a serenidade e a abordagem estranhamente antiquada. Tecnicamente, essas performances são imaculadas, então tudo se resume a questões de gosto pessoal. Para mim, o Quarteto Op. 132 está esplêndido, aqui com seu lindíssimo Adagio levado tão lentamente quanto qualquer um poderia desejar.  A intensidade de seu final cresce com perfeita segurança. Mas, como um todo, o quarteto final, o Op. 135, parece um pouco relaxado demais. No Op. 131, o desdobramento da fuga de abertura é muito bem feito, mesmo que o seu Presto pareça Mendelssohn, enquanto que no Op 130 a Cavatina parece evitar a profundidade do sentimento que alguns grupos — o Busch e o Kodály Quartet, principalmente — encontraram nela.

Como em qualquer ciclo dessas obras inesgotáveis, a gente têm que escolher o que prefere, mas não há dúvida de que são performances muito boas de algumas das melhores músicas já escritas.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos

Beethoven: String Quartet No. 11 in F minor Op. 95 ‘Serioso’ 22:11
I. Allegro con brio 4:26
II. Allegretto ma non troppo 7:59
III. Allegro assai vivace ma serioso 4:35
IV. Larghetto espressivo. Allegretto agitato 5:11

Beethoven: String Quartet No. 13 in B flat major, Op. 130 42:45
I. Adagio ma non troppo. Allegro 13:08
II. Presto 2:00
III. Andante con moto ma non troppo 7:02
IV. Alla danza tedesca. Allegro assai 3:12
V. Cavatina. Adagio molto espressivo 7:40
VI. Finale. Allegro 9:43

Beethoven: Grosse Fuge in B flat major, Op. 133 15:02

Beethoven: String Quartet No. 12 in E flat major, Op. 127 39:45
I. Maestoso. Allegro 6:47
II. Adagio ma non troppo e molto cantabile 16:55
III. Scherzando vivace 8:41
IV. Finale. Allegro 7:22

Beethoven: String Quartet No. 14 in C sharp minor, Op. 131 38:43
I. Adagio ma non troppo e molto espressivo 7:22
II. Allegro molto vivace 2:58
III. Allegro moderato 0:42
IV. Andante ma non troppo e molto cantabile 14:29
V. Presto 4:46
VI. Adagio quasi un poco andante 2:22
VII. Allegro. Poco adagio 6:04

Beethoven: String Quartet No. 15 in A minor, Op. 132 47:07
I. Assai sostenuto. Allegro 9:47
II. Allegro ma non tanto 8:57
III. Molto adagio. Andante 19:43
IV. Alla marcia, assai vivace 2:01
V. Allegro appassionato 6:39

Beethoven: String Quartet No. 16 in F major, Op. 135 24:27
I. Allegretto 6:20
II. Vivace 3:17
III. Lento assai, cantante e tranquillo 8:12
IV. Grave, ma non troppo tratto. Allegro 6:38

Brodsky Quartet
Daniel Rowland
Ian Belton
Paul Cassidy
Jacqueline Thomas

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O Quarteto Brodsky chegando na sede porto-alegrense da PQP Bach Corp.

PQP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sinfonia no. 2 em Ré maior, Op. 36 – Chailly – Furtwängler – Gardiner – Haitink – Huggett – Jansons – Karajan – Rattle – Reiner – Solti – Toscanini – Wand

Os três anos que separam as estreias da primeira e da segunda sinfonias marcam não somente um significativo salto estilístico, produto da evolução artística de um Beethoven cada vez mais propenso a extrapolar as convenções de todos os gêneros em que compunha, mas também apartam os lados dum abismo que lhe era cada vez maior: a surdez, que já se manifestara na década passada, tornara-se pervasiva o bastante para ele temer que algum dia se tornasse completa e, pior ainda, já atrapalhava suas tarefas cotidianas – uma sentença capital, temia ele, para sua carreira como compositor. Seu compreensível desespero levou-o a contemplar o suicídio. Por recomendação médica, passou uma temporada no lugarejo de Heiligenstadt, nos arredores de Viena – cujo nome eternizou-se no famoso testamento, na verdade uma carta  escrita aos irmãos, que nunca lhes foi entregue – e lá, entre outros afãs, dedicou-se a compor a segunda sinfonia.

Que uma obra de caráter tão luminoso e alegre seja um produto de uma época de terrível sofrimento psíquico é algo deveras notável, à altura talvez da capacidade de Mozart, então às portas da morte, de compor aquele belíssimo concerto para clarinete. Podemos supor que tudo, desde a escolha da ensolarada tonalidade de Ré maior até os toques humorísticos e as traquinagens harmônicas e dinâmicas que permeiam a sinfonia, fosse produto de um escapismo alimentado pela pacata vida no retiro em Heiligenstadt. Minha impressão, citando Platão, é que Beethoven simplesmente apertou o botão vermelho de f***-se (e quero ver vocês me provarem que Platão nunca disse isso) e escreveu com a deliberada intenção de, ignorando convenções de forma, provocar reações em quem a ouvisse. Independentemente de minhas desimportantes suposições, ela foi adorada pelo público, e recebeu – nenhuma surpresa – ressalvas dos críticos. Um deles comparou-a a um dragão agônico que, recusando-se a morrer, se contorce e estrebucha até se morrer exangue no movimento final – cujo primeiro tema já foi comparado a um soluço, um arroto ou mesmo um traque, fenômenos bastante familiares ao compositor, cronicamente desgraçado por problemas digestivos.

Bem, talvez os três juntos – e mais uma gargalhada do renano.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sinfonia no. 2 em Ré maior, Op. 36
Composta entre 1801-02
Publicada em 1804
Dedicada ao príncipe Karl von Lichnowsky

1 – Adagio molto – Allegro con brio
2 – Larghetto
3 – Scherzo: Allegro
4 – Allegro molto

Wiener Philarmoniker
Wilhelm Furtwängler
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NBC Symphony Orchestra
Arturo Toscanini
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Pittsburgh Symphony Orchestra
Fritz Reiner
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Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan
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Chicago Symphony Orchestra
Sir Georg Solti
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Sinfonieorchester des Norddeutschen Rundfunks
Günter Wand
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Koninklijk Concertgebouworkest
Bernard Haitink
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The Hanover Band
Monica Huggett
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Orchestre Révolutionnaire et Romantique
John Eliot Gardiner
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Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks
Mariss Jansons
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Gewandhausorchester Leipzig
Riccardo Chailly
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Berliner Philharmoniker
Sir Simon Rattle
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O “Testamento de Heiligenstadt”, em tradução de Erico Verissimo, lido por Paulo Autran

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – Ludwig van Beethoven (1770-1827) -Piano Concerto nº 5, ‘Emperor’ – Fleisher, Szell, Cleveland Orchestra

 

A Postagem original desta série foi feita lá em fevereiro de 2016, que foi um ano complicado, meu sogro e meu irmão mais velho estavam com sérios problemas de saúde, então nem me focava muito no PQPBach. Infelizmente os dois vieram a falecer com poucos meses de diferença. A música foi uma grande aliada nesse período. O ato de preparar as postagens era um momento para relaxar e esquecer os problemas. 

Depois de uma semana longe do meu computador (apenas conferindo emails), semana longa, diga-se de passagem, complicada, tensa, quente, etc., sento novamente em frente ao computador para poder preparar esta última postagem desta histórica gravação.
Como falei, está fazendo muito calor cá para as bandas do sul, com temperatura média de 30º C, ultrapassando fácil, fácil, os 40 º C de sensação térmica. Um inferno tropical.
Mas vamos ao que viemos. O Concerto Imperador dispensa maiores comentários, não temo em dizer que é uma das mais belas obras já produzidas pelo ser humano. E nas mãos desta trinca Fleischer / Szell / Cleveland Orchestra,  torna-se quase imbatível.
Ah, antes que me esqueça, mudam-se os nomes no Concerto triplo. Temos então Isaac Stern, Istomin, Rose & Eugene Ormandy e sua Orquestra da Filadélfia.

01 Piano Concerto #5 In E Flat, Op. 73, ‘Emperor’ – 1. Allegro
02 Piano Concerto #5 In E Flat, Op. 73, ‘Emperor’ – 2. Adagio Un Poco Mosso
03 Piano Concerto #5 In E Flat, Op. 73, ‘Emperor’ – 3. Rondo- Allegro

Leon Fleischer – Piano
Cleveland Orchestra
George Szell – Conductor

04 Concerto In C For Piano, Violin & Cello, Op. 56, ‘Triple’ – 1. Allegro
05 Concerto In C For Piano, Violin & Cello, Op. 56, ‘Triple’ – 2. Largo
06 Concerto In C For Piano, Violin & Cello, Op. 56, ‘Triple’ – 3. Rondo Alla Polacca

Isaac Stern – Violin
Eugene Istomin – Piano
Leonard Rose – Cello
Philadelphia Orchestra
Eugene Ormandy – Conductor

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FDP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Variações para piano, Opp. 34, 35 & 76, WoO 78-80 – Buchbinder

Depois de compor uma dúzia de séries de variações para piano antes da virada de século, Beethoven retornou esparsamente ao gênero nas décadas seguintes. Deixara, afinal, de ser um aspirante a compositor-virtuose, para o qual os cavalos de batalha mais óbvios eram, além dos concertos, as variações sobre temas em voga na época. Quando voltou a escrevê-las, já era um compositor conhecido e, desgraçadamente, sua surdez progredira a ponto de considerar deixar os palcos e contemplar o suicídio – como deixa claro e pungente no chamado “Testamento de Heiligenstadt”, escrito no mesmo 1802 em que compôs as variações Opp. 34 e 35.

Seu retorno ao gênero, além de atender às crescentes necessidades pecuniárias, parece justificar-se pela busca de horizontes que a sonata-forma – cujas costuras ele já vinha inovativamente arrebentando em obras com as do Op. 31 – não contemplava tão facilmente. Diferentemente das variações da juventude, quase que puramente figurativas, as séries da década de buscam transformações rítmicas e harmônicas inspiradas pelos temas, ou por seus pequenos cacoetes. As variações Op. 34, por exemplo, sobre um tema em Fá maior, são todas em tonalidades diferentes, num ciclo de terças descendentes, até retornar ao Fá maior. No Op. 35, indubitavelmente a melhor série de variações que escreveu antes das visionárias “Diabelli”, Beethoven lança mão dum tema de baixo que aparentemente lhe era muito querido: além de usá-lo no finale da música para o balé Die Geschöpfe des Prometheus (Op. 43), ele está numa de suas doze contradanças (WoO 14) e retornaria no finale de sua revolucionária sinfonia no. 3, a Eroica, por cuja alcunha essas variações acabaram conhecidas. Mais adequado, no entanto, seria chamá-las de “Variações Prometheus”, como o próprio compositor sugeriu ao editor, uma vez que o balé tinha sido publicado no ano anterior, e a Eroica, publicada somente três anos depois, encontrava-se apenas no começo de sua prolongada gestação.

Completam o disco as relativamente convencionais variações Op. 76, baseada na “Marcha Turca” da música incidental para a peça Die Ruinen von Athen (Op. 113) e outras três séries de variações. A duas primeiras, que abrem a gravação, baseiam-se sobre temas ingleses (o hino God Save the King e a canção patriótica Rule, Britannia!) e possivelmente direcionavam-se a seu crescente séquito de fãs nas ilhas britânicas – e os dois temas, curiosamente, seriam utilizados novamente em sua espalhafatosa Wellingtons Sieg, Op. 91, que lhe foi uma usina de dinheiro.

A série restante, com trinta e duas variações, todas muito curtas e virtuosísticas sobre um tema em Dó menor, é uma das poucas obras significativas que Beethoven publicou sem atribuir um número de Opus – algo que fez sem titubear, por exemplo, com as muito menos inspiradas variações do Op. 76. Um compêndio de truques pianísticos, foram um sucesso instantâneo entre pianistas profissionais e diletantes, o que talvez contribuiu para que o compositor as encarasse com algum desdém. Algumas fontes bem confiáveis (nada do atochador Schindler, portanto) contam que Beethoven as ouviu executadas pela filha de Johann Streicher, conhecido fabricante de pianos e, talvez enfastiado com a interpretação da jovem amadora e impedido pelas circunstâncias de lhe dirigir qualquer resmungo, perguntou:

– De quem é isso?
– Suas – responderam-lhe.
– Minhas? Essas tolices são minhas?
– … sim.
– Oh, Beethoven… que JUMENTO tu eras…

ooOoo

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

1 – Sete variações para piano sobre “God Save the King”, em Dó maior, WoO 78

2 – Cinco variações para piano sobre “Rule, Britannia!”, em Ré maior, WoO 79

3 – Trinta e duas variações para piano sobre um tema original, em Dó menor, WoO 80

4 – Seis variações para piano sobre um tema original, em Fá maior, Op. 34

5 – Quinze variações e uma fuga para piano sobre um tema original, em Mi bemol maior, Op. 35, “Variações Eroica”

6 – Seis variações para piano sobre um tema original, em Ré maior, Op. 76

Rudolf Buchbinder, piano

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Procuramos muito uma imagem de Buchbinder com a qual pudéssemos fazer gracinhas. Fracassamos: o bicho é um titã da fotogenia. Que homem, amigos – que homem!

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para Piano nº 5, “Imperador”

O Concerto nº 5 (de 1811) é apelidado Imperador justamente por ser uma das obras orquestrais mais grandiosas da fase heróica de Beethoven, junto com as Sinfonias nº 3 (1803), 5 e 6 (1808) e a ópera Fidelio com suas quatro Aberturas (1805 a 1814).

Karl Böhm (1894-1981) foi um maestro austríaco que conheceu, em Viena e Salzburgo, as gerações contemporâneas de Brahms e Bruckner, e carregou a tocha do romantismo germânico sem os exageros de Karajan. Realizou gravações famosas de Beethoven com a Filarmônica de Viena e a Staatskapelle Dresden. Sua Pastoral foi escolhida por meu colega Das Chucruten como a gravação romântica por excelência desta sinfonia.

Pollini não precisa de apresentações, os frequentadores do blog acompanharam suas gravações de Beethoven, de Chopin e muitos outros. Ele já foi incensado dezenas de vezes pelos elogios de PQP e FDP, como nesta postagem abaixo, de 2008.

Como colaboração à Fundação para a Divulgação e Inevitável Imortalização do Guia Genial dos Pianistas Maurizio Pollini trago para os nossos leitores / ouvintes um grande momento. Maurizio Pollini tocando o Concerto Imperador acompanhado pelo grande Karl Böhm.

Explico: há alguns meses, uma grande amiga do blog, Laís Vogel, me perguntou com aquele jeitinho que toda a baiana tem, se por acaso eu não teria esta gravação. Como grande admirador destes dois músicos, informei-lhe que obviamente possuía, e que se fosse de seu desejo, eu mandaria para ela. Claro que fã ardorosa de Pollini, e membra(?) fundadora da Fundação para a Divulgação e Inevitável Imortalização do Guia Genial dos Pianistas Maurizio Pollini ela pediu encarecidamente a gentileza. Bem, enviei este material para ela, e acabei esquecendo da tal da gravação, envolvido que estava com outras coisas.

Falar o que sobre o Concerto Imperador a não ser que o considero a maior obra já escrita para o repertório pianístico? Falar o que sobre Pollini que já não tenha sido falado aqui no blog, e  ardorosamente defendido pela Fundação para a Divulgação e Inevitável Imortalização do Guia Genial dos Pianistas Maurizio Pollini…? E Karl Böhm, um dos maiores regentes do século XX, imbatível no quesito Mozart?

Vamos deixar, portanto, que a música fale por si mesma.

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Concerto No.5 in E flat major Op.73 -“Emperor”

1. Piano Concerto No.5 in E flat major Op.73 -“Emperor” – 1. Allegro
2. Piano Concerto No.5 in E flat major Op.73 -“Emperor” – 2. Adagio un poco mosso
3. Piano Concerto No.5 in E flat major Op.73 -“Emperor” – 3. Rondo (Allegro)

Maurizio Pollini – Piano
Karl Böhm – Condutor
Wiener Philharmoniker

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#BTHVN250, por René Denon

FDP (2008), Pleyel (Repostagem, 2020)

BTHVN250 – Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Concertos nº 2 e 4 – Fleisher, Szell, Cleveland Orchestra

No apogeu de sua carreira, Leon Fleischer desenvolveu distonia focal, um distúrbio do movimento neurológico que o deixou incapaz de tocar com a mão direita por 30 anos. Fleisher foi forçado a se concentrar no ensino e na condução, além de poder tocar apenas o repertório para a mão esquerda. No entanto, após décadas de terapias malsucedidas, as injeções de Botox começaram a restaurar o uso da mão direita de no início dos anos 90.

Leon Fleischer, George Szell e a Cleveland Orchestra fizeram história naquele começo de década de 60. E venderam muito, deixando os executivos da Columbia muito felizes. E olha que na época a concorrência era acirrada no mundo fonográfico. Mas como grandes músicos que eram, deixaram sua marca.

01 Piano Concerto #2 In B Flat, Op. 19 – 1. Allegro Con Brio
02 Piano Concerto #2 In B Flat, Op. 19 – 2. Adagio
03 Piano Concerto #2 In B Flat, Op. 19 – 3. Rondo- Molto Allegro
04 Piano Concerto #4 In G, Op. 58 – 1. Allegro Moderato
05 Piano Concerto #4 In G, Op. 58 – 2. Andante Con Moto
06 Piano Concerto #4 In G, Op. 58 – 3. Rondo- Vivace

Leon Fleicher – Piano
Cleveland Orchestra
George Szell – Conductor

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BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Bagatelas, Opp. 33, 119 & 126 – Brendel

Ao que tudo indica, Beethoven foi o primeiro a usar o termo “bagatela” no sentido de uma pequena peça para piano, assim chamando as três coleções publicadas sob os Opp. 33, 119 e 126. Além delas, um bom número de “ninharias” descobertas entre seus papeis, depois de sua morte, foram a prensa com a mesma denominação – incluindo aquela celebérrima, em Lá menor, que todos conhecem como “Pour Elise”.

As peças do Op. 33 são, grosso modo, um balaio de gatos com rascunhos, esboços e estudos abandonados para peças mais importantes, algumas datadas de seus anos em Bonn. Elas foram provavelmente retocadas e publicadas com o único e bastante terreno intuito de ganhar dinheiro – um expediente recorrente na vida do compositor que, apesar da fama crescente, via-se constantemente premido pelas necessidades a ser cada vez menos criterioso quanto àquilo que enviava aos editores. Não que essas miniaturas não sejam interessantes – a no. 6, que contém a incomum indicação “com uma certa expressão falante”, é extremamente expressiva, à altura dos bons momentos do compositor.

As duas séries remanescentes, publicadas em sua maturidade, são bastante diferentes. As do Op. 119, chamadas por Beethoven de “Novas Bagatelas”, não eram exatamente novas: baseavam-se em material reaproveitado, tanto dos cadernos de rascunho dos primeiros anos em Viena quanto dum compêndio didático para o qual colaborara, no qual as peças são chamadas “Kleinigkeiten” (“ninharias”). De qualquer maneira, são muito melhor trabalhadas que suas predecessoras e mais coesas como conjunto. Além disso, a coleção contém algumas das peças mais sucintas jamais publicadas pelo compositor – inclusive a recordista (no. 10, “Allegramente”), com meros treze compassos e quase tantos segundos de duração. A última série, Op. 126, não contém qualquer material reaproveitado, demonstrando a habilidade de Beethoven nas pequenas formas, como um hábil miniaturista a repousar dos esforços transcendentes dedicados à Nona Sinfonia, a Missa Solemnis e as Variações Diabelli, concluídas na mesma época.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sete bagatelas para piano, Op. 33
Compiladas e retrabalhadas entre 1801-02
Publicadas em 1803

1 – Andante grazioso quasi allegretto
2 – Scherzo – Allegro
3 – Allegretto
4- Andante
5- Allegro ma non troppo
6 – Allegretto quasi andante
7 – Presto

Dois rondós para piano, Op. 51
Composto e publicado em 1797
8 – No. 1 em Dó maior

Bagatela para piano em Dó menor, WoO 53 (1796-7)
9 – Allegretto

Onze novas bagatelas para piano, Op. 119
Compostas entre 1820-1822
Nos. 7-11 publicadas no tratado de piano de F. Starke em 1821
Coleção completa publicada em 1823

10 – Allegretto
11 – Andante con moto
12 – A l’Allemande
13 – Andante cantabile
14 – Risoluto
15 – Andante — Allegretto
16 – Allegro, ma non troppo
17 – Moderato cantabile
18 – Vivace moderato
19 – Allegramente
20 – Andante, ma non troppo

Seis bagatelas para piano, Op. 126
Compostas em 1824
Publicadas em 1825

21 – Andante con moto, cantabile e compiacevole
22 – Allegro
23 – Andante, cantabile e grazioso
24 – Presto
25 – Quasi allegretto
26 – Presto – Andante amabile e con moto

Bagatela em Si bemol maior, WoO 60 (1818)
27 – Ziemlich lebhaft

Bagatela em Lá menor, WoO 59, “Für Elise” (1808-10)
28 – Poco moto

Alfred Brendel, piano

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Brendel encerrando a “Hammerklavier” é um dos meus momentos favoritos na vida

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – Ludwig van Beethoven (1770-1827) – An die Hoffnung (Opp. 32 e 94) – Adelaide, Op. 46 – Lieder an die ferne Geliebte, Op. 98 – Der Kuß, Op. 128 – Lieder Opp. 48, 83, 88 – Fischer-Dieskau – Demus

Além de desprezar Horowitz e odiar Glenn Gould, outro esporte muito comum entre os melômanos é falar mal das dúzias de canções que Beethoven nos legou. Dando-se-lhe o devido desconto por ter sido contemporâneo de Schubert,  gênio inconteste do Lied, e reconhecendo que muitas de suas canções juvenis só têm importância histórica, acho esse preconceito com Ludwig injustificado: a produção vocal de câmara do mestre tem muitas peças interessantes, além de algumas de excepcional valor, que começamos a lhes apresentar a seguir.

Como pianista virtuoso e aluno de instrumentistas, era natural que o campo da música instrumental fosse o habitat mais natural para as criações do turrão. Ademais, dominar a composição de música vocal foi-lhe um considerável desafio. Neefe, com quem teve as primeiras aulas formais em Bonn, compunha canções algo simplórias e certamente o estimulou em suas primeiras tentativas no gênero (tais como Schilderung eines Mädchens, composta aos 12 anos e inclusa neste disco). Albrechtsberger, seu professor em Viena, também escreveu prolificamente para a voz, e o próprio Ludwig, almejando fama e fortuna com óperas em italiano, instruiu-se com Antonio Salieri na arte de criar para vozes nesse idioma, afã que rendeu vários exercícios de declamação que chegaram aos nossos tempos.

Apesar da notoriedade que ganhou em Bonn com duas cantatas dedicadas a imperadores (às quais, naturalmente, algum dia chegaremos nessa série), Beethoven era muito reticente com a música vocal camerística. Apesar de muitos modelos sobre os quais se calcar, faltava-lhe inserção suficiente nos meios aristocráticos apreciadores de música vocal para que obras assim lhe valessem a pena, uma vez que seus patronos, quase unanimemente, prestigiavam a música instrumental. A chave para a consagração, pensava ele, era compor uma ópera, mas muitos anos passariam até que Fidelio, sua única obra completa no gênero, chegasse aos palcos depois de imensas amarguras para o compositor.

Havia, também, um motivo mais íntimo para a insegurança: a despeito de todo brio com que se portava à medida que sua fama crescia (frequentemente ilustrado pela anedota de que, ao encontrar Goethe no balneário de Teplice, teria se recusado a prestar reverência à realeza passante), Beethoven reconhecia a precariedade de sua educação formal. Comentava com desdém sua letra, que dizia ser “de uma lavadeira”, e pranteava o que chamava de “meus poucos modos”, que eram muito sentidos nas tentativas, invariavelmente frustradas, de corte às inúmeras jovens aristocráticas por quem se apaixonou. Embora também menosprezasse sua cultura literária, era um ávido leitor de grandes autores. Ainda mais que Schiller, uma paixão de vida toda que redundaria na Ode an die Freude que todos conhecemos, seu maior herói literário era Goethe, e seus planos de musicar obras do mestre de Weimar – incluindo, num arroubo de otimismo, o Fausto inteiro! – acabaram por realizar-se num bom número de canções e na bela cantata Meeresstille und Glückliche Fahrt, composta depois do encontro supracitado dos dois gênios.

Quem ouve as três canções do Op. 83, sobre poemas de Goethe, ou acompanha a inventividade e beleza com que Beethoven lamenta uma amada distante no Op. 94, que considero um dos mais belos ciclos em todo repertório de Lieder, certamente reverá seus conceitos acerca da produção vocal do mestre. Mais ainda, quem comparar as duas versões de An die Hoffnung (Opp. 32 e 94), um triste clamor pela esperança que lhes dá o título, perceberá que, entre a canção estrófica de acompanhamento arpejado de 1805 e a outra, completamente posta em música (Durchkomponiert), cheia de ousadias harmônicas e com um acompanhamento que só poderia ter sido escrito pelo inventor duma obra revolucionária para o piano, bem, quem as comparar terá inda outra prova de que a evolução artística de Beethoven é realmente a mais impressionante entre todos os criadores.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

1 – An die Hoffnung, Op.32 (poema de Tiedge, 1ª versão)
2 – Adelaide, Op.46 (Matthison)

Seis Lieder, Op. 48 (Gellert)
3 – No. 1: Bitten
4 – No. 2: Die Liebe des Nächsten
5 – No. 3: Vom Tode
6 – No. 4: Die Ehre Gottes aus der Natur
7 – No. 5: Gottes Macht und Vorsehung
8 – No. 6: Busslied

Três canções, Op. 83 (Goethe)
9 – No. 1: Wonne der Wehmut
10 – No. 2: Sehnsucht
11 – No. 3: Mit einem gemalten Band

12 – Vita Felice, Op. 88
13 – An die Hoffnung, Op.94 (Tiedge, 2ª versão)

Lieder an die Ferne Geliebte, Op.98 (Jeitteles)
14 – No. 1: Auf dem Hugel Sitz’ ich, spahend
15 – No. 2: Wo die Berge so Blau
16 – No. 3: Leichte Segler in den Hohen
17 – No. 4: Diese Wolken in den Hohen
18 – No. 5: Es kehret der Maien, es bluhet die Au
19 – No. 6: Nimm Sie hin denn, diese Lieder

20 – Ariette (Der Kuss), op.128 (Weisse)
21 – Schilderung eines Mädchens, WoO 107
22 – Duas canções: Seufzer eines Ungeliebten – Gegenliebe, WoO 118 (Bürger)
23 – Ich liebe dich, so wie du mich (Zärtliche Liebe), WoO 123 (Herrosee)
24 – La Partenza, WoO 124 (Metastasio)
25 – Opferlied, WoO 126 (Matthison)
26 – Der Wachtelschlag, WoO 129 (Sauter)
27 – Als die Geliebte sich Trennen Wollte, WoO 132 (Hoffman, tradução de von Breuning)

Dietrich Fischer-Dieskau, barítono
Jörg Demus, piano

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Um Ludwig acaju, todo trabalhado na henna

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Concertos nº 1 & nº 3 – Leon Fleisher, Cleveland Orchestra, George Szell

 

FrontHoje trago para os senhores uma repostagem para continuar com minha contribuição às comemorações dos 250 anos do nascimento de Beethoven. E com uma turminha muito especial: Leon Fleischer e George Szell, nos áureos deste com a Orquestra de Cleveland. 

O norte-americano Leon Fleischer (californiano, para ser mais exato), foi um fenômeno do piano que apareceu nas paradas ali em meados dos anos 50. O rapaz foi aluno de Arthur Schabel, quiçá o maior intérprete de Beethoven da primeira metade do século XX. Participou de diversas gravações com George Szell e sua Cleveland Orchestra, incluindo aí uma turnê até na Rússia. Ah, com meros 16 anos de idade se apresentou com a New York Philharmonic sob a direção de Pierre Monteux. tem currículo o rapaz… mas continuarei a dar detalhes autobiográficos dele nas postagens que concluirão esta série. 

Não sei quantas versões tenho dos concertos para piano de Beethoven, nem quantas já ouvi. Tenho algumas versões favoritas, enquanto que outras se encontram naquela lista para se ouvir com mais atenção, pois tem alguma coisa que se destaca.

Talvez estas gravações de Leon Fleischer se encontrem nesta categoria, pois não as tenho há muito tempo. Claro que os nomes envolvidos chamam a atenção, ainda mais depois da formidável leitura que este mesmo trio, Fleischer / Szell / CO, fez dos concertos de Brahms. Confesso, portanto, que ouvi poucas vezes estes CDs, e deixo a seu cargo a responsabilidade de classificá-los.

Minhas postagens tem sido feitas a toque de caixa, devido a eterna falta de tempo. E aqui novamente não vai ser diferente. Um cd por dia, certo?

01 Piano Concerto #1 In C, Op. 15 – Allegro Con Brio
02 Piano Concerto #1 In C, Op. 15 – Largo
03 Piano Concerto #1 In C, Op. 15 – Allegro Scherzando
04 Piano Concerto #3 In C Minor, Op. 37 – Allegro Con Brio
05 Piano Concerto #3 In C Minor, Op. 37 – Largo
06 Piano Concerto #3 In C Minor, Op. 37 – Allegro

Leon Fleischer – Piano
Cleveland Orchestra
George Szell – Conductor

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FDP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Três sonatas para piano, Op. 31 – Gould

Um tremendo trio de sonatas, estas do Op. 31. Diria mesmo que, individualmente e em conjunto, são as primeiras obras-primas maduras de Beethoven e, acima de tudo, marcos de sua ruptura com as convenções do classicismo para a expressão de um estilo fortemente individual. Elas tiveram grande repercussão em seu tempo, ainda que um incidente tenha retardado seu lançamento: após decidir publicá-las em Zurique, Ludwig enfureceu-se ao descobrir que seu editor suíço tinha acrescentado alguns compassos ao final do Allegro de abertura da sonata em Sol maior, e organizou uma republicação em Viena. O incidente sugere, talvez, o estranhamento causado pelos dois golpes secos ao teclado com que Beethoven encerrou o movimento, induzindo o editor suíço a finalizá-lo duma maneira que lhe parecia mais satisfatória. Esses toques incomuns, alheios às convenções vigentes, são uma das marcas da genial sonata em Ré menor, cujos movimentos todos desfalecem, em vez de encerrarem com uma vigorosa reafirmação da tonalidade. Apesar dela ter sido apelidada de “Tempestade” – numa referência oblíqua à obra de Shakespeare, que o nunca confiável factotum Schindler atribuiu ao próprio Beethoven -, nada há nela de programático, e os contrastes entre os plácidos arpejos recorrentes e os episódios tumultuados que se intercalam a eles expressam tensão e resolução para bem além das normas da sonata-forma. A última obra da trinca é, pelo contrário, uma bem-humorada, diria mesmo risonha obra sem movimentos lentos, e talvez a menos convencional de todas do ponto de vista harmônico. Toda esta inconvencionalidade reunida sob o teto dum só número de Opus devem tê-las tornado atraentes para o mais excêntrico dos grandes pianistas, e Glenn Gould, que as aprendeu muito cedo, de fato sempre as manteve em seu repertório. Depois de anos a ouvir interpretações romantizadas que nunca me convenceram, este registro do canadense – tecnicamente impecável e sem sentimentalismos – soou-me como uma revelação. Considero-a sua melhor gravação de Beethoven, e espero que também a consigam apreciar.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Três sonatas para piano, Op. 31
Compostas em 1802
Publicadas em 1803

No. 1 em Sol maior
1 – Allegro vivace
2 – Adagio grazioso
3 – Rondo – Allegretto – Adagio – Presto

No. 2 em Ré menor, “Tempestade”
4 – Largo – Allegro
5-  Adagio
6 – Allegretto

No. 3 em Mi bemol maior
7 – Allegro
8 – Scherzo – Allegretto vivace
9 – Menuetto – Moderato e grazioso
10 – Presto con fuoco

Glenn Gould, piano

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Para quem não se contenta com odiar um só Gould, aqui vai uma dúzia para que se divirtam.

#BTHVN250, por René Denon
Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas para piano nº 17, 30, 31, 32 (Richter-Haaser) #BTHVN250

Vimos aqui que com a crise social e econômica ligada à Revolução Francesa, a vida artística de Viena decaiu subitamente. Haydn foi morar em Londres (onde a riqueza era maior, as orquestras eram maiores e ele compôs suas sinfonias mais grandiosas), enquanto Mozart permaneceu em Viena e morreu pobre em 1791, aliás não era só ele: quase todos estavam pobres em Viena.

Pois bem. Em 1792, aparentemente a cena musical vienense melhorou, concluo isso pois Haydn foi chamado de volta. No caminho de Londres para o sul, ele passou por Bonn, onde se deparou com a partitura de uma cantata de Beethoven e convidou aquele  alemão de 21 anos para ser seu aluno em Viena. Outro provável motivo para Ludwig aceitar o convite era familiar: sua mãe morrera de tuberculose em 1787, o pai fora aposentado devido ao alcoolismo em 1789 (não foi um ano fácil pra ninguém!), nada mais o prendia ali. Ludwig, ao que parece, pretendia voltar à região do rio Reno após seus estudos em Viena, mas a vida nem sempre segue nossos planos. O pai morreria um mês após a chegada a Viena, os dois irmãos também se mudariam para a Áustria poucos anos depois…

Em carta de 29 de junho de 1800, Ludwig escreveu: “há momentos em que minha alma cultiva o desejo de estar com meus antigos amigos e ficar com eles algum tempo. Meu país, a bela região onde vi a luz do mundo, ainda é tão bonito e claro para mim como antes de deixá-los, enfim, considerarei como a grande fortuna de minha vida se puder vê-los novamente e cumprimentar nosso pai Reno. Quando esse dia virá, não posso te dizer com certeza. Mas quero dizer que me encontrarão maior: não falo do artista, mas também do homem, que lhes parecerá melhor; e se o bem-estar não crescer um pouco em nossa pátria, minha arte deverá se dedicar a melhorar a sorte dos mais pobres…” Em 1801, quinze meses depois, ele escrevia para o mesmo amigo de Bonn em um tom bem mais severo, de um homem que batalha com a surdez e outras doenças: “Não fosse minha surdez, já teria percorrido a metade do universo; é disso que eu precisava. Não há maior alegria para mim do que exercer e fazer brilhar minha arte em público […] Não creia que eu seria feliz perto de vocês. O que me tornaria mais feliz aí? Esses belos campos de minha pátria, o que eu encontraria lá? Nada além da esperança de melhora deste mal…. Oh! eu abraçaria o universo se me livrasse deste mal!”

Ludwig nunca mais voltaria a ver sua terra natal. Nisso, Beethoven se assemelha a Chopin, que também nunca voltou à sua Polônia após sair em exílio.  São artistas de dois lugares, com um pé aqui, o outro lá longe. Em Chopin, é mais evidente a oposição entre Mazurkas e Polonaises representando a terra natal e Norturnos e Barcarolle com uma sonoridade da Europa ocidental – oposição que ele transcende e une na Polonaise-Fantaisie. Em Beethoven, essas duas faces se combinam de maneira mais sutil.

Após toda essa introdução sobre o compositor alemão-austríaco e as complexidades inseridas na alma do mesmo homem, vamos pular para os músicos que, nesses últimos dois séculos, têm se dedicado à difícil tarefa de trazer à vida a música de Beethoven. Entre os intérpretes, é possível falar em uma linha de interpretação que foca no Beethoven mais alemão, sério, intelectual. E em uma outra escola que foca no Beethoven vienense, com seu desejo de brilhar nos palcos do Império Austro-Húngaro como o fez Mozart, com formas musicais derivadas de danças e às vezes até com humor. Pianistas como Brendel, Gulda, Badura-Skoda (um trio de austríacos), além de Kempff e Argerich tocam um Beethoven mais vienense, . Outros como Gilels, Richter, Arrau e Pollini tocam um Beethoven mais alemão. A Filarmônica de Viena, óbvio, é mais vienense, enquanto a de Berlim (sobretudo no século passado, com Karajan), mais alemã.

Qual interpretação escolher? Na dúvida, melhor ficar com as duas. O Beethoven de Kempff, menos intenso, mais poético, refinado, é maravilhoso em obras como as sonatas “quasi una fantasia” op. 27, assim como Martha Argerich é provavelmente a maior intérprete viva dos dois primeiros Concertos para Piano e Orquestra. Mas nas últimas sonatas, sempre prefiro ouvir os intérpretes com uma visão mais grandiosa, preocupados em juntar os detalhes e frases individuais em uma concepção elevada da obra, uma sucessão de notas formando um todo coerente. Aqueles que fazem menos absurda a comparação entre uma sonata instrumental e o idealismo germânico iluminista de Kant (1724-1804).

O pianista Hans Richter-Haaser (Dresden, 1912 – Braunschweig, 1980) tem uma alta reputação entre os admiradores do “Beethoven alemão”, com seções contrastantes (compare o “piano” e o “forte” do curto movimento central da sonata op. 110) e uma concepção monumental da mensagem do gênio de Bonn que talvez seja resumida pela palavra latina gravitas (seriedade, dignidade, nobreza).

Richter-Haaser (não confundir com o pianista russo de sobrenome alemão) fez uma série de gravações em Londres com Walter Legge, de 1959 a 1966, nos estúdios de Abbey Road, que eram absolutamente state of the art, como atestam os excelentemente produzidos discos dos Beatles, bem como as gravações ali realizadas por outros alemães como o pianista W. Gieseking e o ainda jovem maestro H. von Karajan. A partir dos anos 70, talvez por motivos mais mercadológicos ou políticos* do que estéticos, Richter-Haaser parou de gravar por grandes gravadoras, mas até hoje beethovenianos fanáticos colocam nas listas de melhores gravações da História as 19 sonatas que ele gravou, além dos Concertos e Fantasia Coral com Giulini e Böhm. Em 2019, finalmente, foram reeditadas essas sonatas que os colecionadores ouviam em vinil.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): As Três Últimas Sonatas para Piano
Sonata No. 17 em Ré menor, Op. 31 no. 2
Sonata No. 30 em Mi maior, Op. 109
Sonata No. 31 in Lá bemol maior, Op. 110
Sonata No. 32 in Dó menor, Op. 111

Piano: Hans Richter-Haaser (1912-1980)

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#BTHVN250, por René Denon

*Em 1964, houve um boicote de artistas aos estados do sul dos EUA, devido à segregação racial.  Em muitas salas de concerto, negros eram proibidos de entrar. Richter-Haaser furou o boicote, alegando que os músicos deveriam se distanciar dos problemas raciais e políticos. O sobrevivente do holocausto Artur Rubinstein respondeu: “Os músicos também são seres humanos e têm a mesma responsabilidade moral que todo mundo”. Que bola fora, Richter-Haaser! Você provavelmente não valia nada, mas eu gosto do seu piano.

Pleyel

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para violino e piano, Op. 30 – Kavakos – Pace

Kavakos de volta, a trinca do Op. 30 com ele e Pace é supimpa demais! Achei linda, sublime mesmo a delicadeza com que ele saboreia cada frase da sereníssima primeira sonata do grupo – e de tal maneira que, se já não era muito fácil, se torna impossível imaginar a obra encerrando com o feroz finale da Op. 47, a “Kreutzer”, originalmente composto para ela. Qualquer complacência, no entanto, se dissolve logo no Allegro da sonata seguinte, completamente desenvolvido sobre a célula rítmica do motivo inicial – expediente a que Beethoven recorreria, com o poderoso resultado que todos conhecemos, na abertura de sua quinta sinfonia, também em Dó menor. A gravação termina com uma ótima sonata em Sol maior, talvez a primeira entre as congêneres em que os dois instrumentistas sejam exigidos da mesma maneira. Enrico Pace não só se sai à altura do extraordinário Kavakos, como fica tudo tão arrumadinho que a gente só consegue torcer para que a “Kreutzer” chegue logo.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Três sonatas para violino e piano, Op. 30
Compostas entre 1801-02
Publicadas em 1803
Dedicadas a Alexander I, czar da Rússia

No. 1 em Lá maior
1 – Allegro
2 – Adagio molto espressivo
3 – Allegretto con variazioni

No. 2 em Dó menor
4 – Allegro con brio
5 – Adagio cantabile
6 – Scherzo: Allegro
7 – Finale: Allegro – Presto

No. 3 em Sol maior
8 – Allegro assai
9 – Tempo di minuetto, ma molto moderato e grazioso
10 – Allegro vivace

Leonidas Kavakos, violino
Enrico Pace, piano

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Como gostamos de Pace e também queremos ser amigos dele, vamos ilustrar a postagem com a foto de um seu excelente momento capilar.

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para piano Opp. 27, 13 & 14 – Gould

Contrariando minha praxe, hoje não farei qualquer ressalva antes de publicar Gould. Já houve reações nervosas, hidrófobas até, a postagens anteriores com o mala-sem-alça canadense. As últimas publicações com o mais canoro dos pianistas que tocavam em cadeiras quebradas feitas pelo pai, no entanto, não suscitaram qualquer reação em qualquer sentido, pelo que deduzo que ou os leitores-ouvintes dominaram a arte de simplesmente ignorarem aquilo que não lhes apraz, poupando de reproches quem deles pense diferente, ou a distopia abocanhou o planeta dum jeito que hoje as pessoas já conseguem escutar Gould com indiferença – algo que, sinceramente, duvidava viver para ver.

Enquanto vocês decidem se meu convoluto parágrafo anterior é ou não é uma ressalva – se é que nele há cousa alguma que não seja retórica -, prossigo ao contar-lhes que gosto demais dessa gravação. Além duma ótima”Patética” e de leituras elétricas e bem-humoradas das sonatas-quase-sonatinas do Op. 14, Glenn sai-se extraordinariamente bem nas duas sonatas-quase-fantasias do Op. 27, que são o objeto principal desta publicação.

O termo “quase uma fantasia”, foi cunhado pelo próprio Beethoven, ensejou por muito tempo leituras açucaradas da segunda do par, aquela conhecida como “ao Luar” (que, para variar, é um título apócrifo), induzindo o diabetes e talvez mesmo a cetoacidose ao justificar que o turrão de Bonn, ao compor o Adagio sostenudo, fantasiava como que a devanear. Mais provável, no entanto, é que ele as pretendesse executadas ao modo das fantasias para piano, como aquelas de Mozart, e que suas partes fossem episódios, e não movimentos, duma peça ininterrupta. O fato do próprio compositor ter prescrito que os movimentos fossem executados “attacca”, – ou seja, sem interrupções – reforça a ideia, bem como a reticência na aplicação da sonata-forma, e o esquema tonal e desenvolvimento temático muito livres, especialmente na primeira dessas sonatas, que contém, em seu movimento derradeiro, uma recapitulação de temas ouvidos nos anteriores. Penso que Gould compreendeu muito bem esta proposta, e que sua interpretação não perde a meada ao longo da execução. Talvez sua relutância em usar o pedal choque um pouco os leitores-ouvintes acostumados a ouvir uma “Luar” iniciada com um Adagio sostenuto propriamente dito, e não o quase Andantino em que Gould o despacha, mas o resultado orna muito bem com os demais movimentos, particularmente com o tempestuoso Presto final, respeitando a concepção de, bem, uma quase-fantasia.

Sobre a “Luar” cabe, talvez, uma ressalva, já que ressalva não fiz lá no começo: ela foi gravada nas mesmas sessões que a “Patética” e a “Appassionata”, num projeto imposto pela Columbia para, imaginava ingenuamente, vender como água um LP somente com sonatas célebres e com apelidos, e para tentar extrair algum sumo do contrato com Gould, já que, diferentemente do assombroso sucesso de seu disco de estreia com as Variações Goldberg, seu projeto beethoveniano anterior, com as três últimas sonatas do mestre, fracassara nas vendas. Glenn, que odiava qualquer imposição, certamente brandiu suas melhores armas de sabotagem: além de uma “Patética” pouco patética, aliás quase nada sentimental (que é a mesma que os leitores-ouvintes encontrarão no link abaixo), despachou uma “Luar” sugar-free e – pior ainda – uma “Appassionata” totalmente desconstruída e tudo, mas tudo MESMO, menos apaixonada. Acho bom que vós outros, que agora me detestam por postar Gould, se comportem bem nos comentários, pois qualquer dia eu posto essa “Appassionata” e, bem: vocês verão só o que é me odiar.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Dó menor, Op. 13, “Patética”
Composta em 1798
Publicada em 1799
Dedicada ao príncipe Karl von Lichnowsky

1 – Grave – Allegro di molto e con brio
2 – Adagio cantabile
3 – Rondo: Allegro

Duas sonatas para piano, Op. 14
Compostas em 1798-1799
Publicadas em 1799
Dedicadas à baronesa Josefa von Braun

No. 1 em Mi maior
5 – Allegro
6 – Allegretto – Trio
7 – Rondo. Allegro comodo

No. 2 em Sol maior
8 – Allegro
9 – Andante
10 – Scherzo. Allegro assai

Duas sonatas para piano, Op. 27
Compostas em 1801

Publicadas separadamente em 1802

Sonata “quasi una fantasia” no. 1 em Mi bemol maior
Dedicada à princesa Josephine von Liechtenstein

11 – Andante – Allegro – Andante – attacca:
12 – Allegro molto e vivace – attacca:
13 – Adagio con espressione – attacca:
14 – Allegro vivace

Sonata “quasi una fantasia” no. 2 em Dó sustenido menor, “Ao Luar”
Dedicada à condessa Giulietta Guicciardi

15 – Adagio sostenuto
16 – Allegretto
17 – Presto agitato

Glenn Gould, piano

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Queria ver Gould vivo e blogueiro do PQP Bach. Aí vocês teriam saudades de mim. Humpf.
#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Christus am Ölberge, Op. 85 – Rilling


Subvertemos novamente a já pouquíssima ordem que há nesta série para publicar a singular composição de Beethoven que alude aos eventos celebrados pelos cristãos durante a semana santa: Christus am Ölberge (“Cristo no Monte das Oliveiras”), sua única experiência no gênero do oratório, que descreve a agonia de Jesus no Getsêmani.

Provavelmente idealizada e rascunhada durante sua tensa temporada em Heiligenstadt, foi  composta a toque de caixa no prazo de duas semanas, um ritmo que nada impressionaria Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus, que escreveu uma sinfonia em quatro dias, mas sem dúvidas frenético para os enrolados padrões de Beethoven. Muito se conjeturou se sua implosão psíquica, que culminou no célebre testamento, aproximou-o sentimentalmente do tema do sofrimento de Cristo na véspera de seu calvário. A pressa em terminar o oratório, no entanto, explica-se sem conjeturas: pretendia estreá-lo, junto com a sinfonia no. 2 e o concerto no. 3 para piano e orquestra, do qual também tocaria o solo, num megaconcerto com suas obras no mui respeitado Theater an der Wien, cuja renda líquida escorreria para seu estropiado bolso. Mais ainda, tentava cumprir uma promessa feita a ninguém menos que Emanuel Schikaneder – fundador do Theater, amigo de Wolfgangus, libretista de Die Zauberflöte e o primeiro Papageno (a promessa verdadeira era de uma ópera, mas Fidelio, de gestação complicadíssima, ainda estava longe de ser parida). Como o credor muito esperava, e o devedor era um grande procrastinador, Beethoven correu o que pôde, e ainda assim passou a manhã do dia do concerto escrevendo as partes de trombone do oratório que seria estreado à tarde, além de tocar o solo do concerto entre a memória e a improvisação, posto que ainda não a colocara no papel.

Christus am Ölberge teve uma acolhida apenas razoável pelo público, suficiente para que fosse levado ao palco algumas vezes nos anos subsequentes. A crítica dividiu-se em reconhecer-lhe bons momentos e apontar-lhe a falta de dramaticidade, defeito letal para um oratório, inda mais sobre um tema que, sozinho, já transpira drama. O próprio compositor constrangeu-se com a primeira execução e pôs-se imediatamente a revisar a obra, insatisfeito principalmente com seu fraco libreto, escrito por um seu conhecido, Franz Xaver Huber. Quando de sua publicação, que aconteceu oito anos depois e a levou a receber o enganoso número de Op. 85, o editor conseguiu-lhe um novo libretista que se dedicou a melhorar o texto. Mesmo com as emendas, Beethoven não ficou satisfeito: colheu suas moedas de prata e renegou o oratório, que foi caindo em oblívio e, hoje, e raramente escutado.

Meus ouvidos modernos e xucros tendem a concordar com os críticos e estranhar o estilo operístico e italianizado, certamente influenciado por Salieri, com quem Beethoven estudara recentemente composição e declamação em italiano com a ambição de enriquecer com uma ópera no idioma. A escolha de uma voz de tenor para representar Jesus, em lugar da tradicional opção por um baixo ou barítono, acaba por dar um brilho pouco apropriado a passagens que esperaríamos, pelo enredo, mais austeras, e o dueto entre Jesus e o serafim (soprano) chega às raias de soar como uma cena de amor. Em que pesem essas ressalvas, Christus am Ölberge é o que de mais pascal temos para lhes oferecer de Beethoven, e esperamos que a regência do indestrutível Helmuth Rilling – responsável não só por uma, mas duas séries de gravações de todas as cantatas de Johann Sebastian Bach – lhes ilumine suas virtudes enquanto disfarça seus achaques.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Christus am Ölberge, oratório para solistas, coro e orquestra, Op. 85
Composto em 1803
Publicado em 1811

 1 – Introduction
 2-  Jehovah, du mein Vater
 3 – Meine Seele ist erschuttert
 4 – Erzittre, Erde!
 5 – Preist des Erlosers Gute
 6 –  O Heil euch, ihr Erlosten
 7 –  Doch weh! Die frech entehren
8 – Verkundet, Seraph, mir dein Mund
 9 – Duo: So ruhe denn
 10 – Wilkommen, Tod!
 11 – Wir haben ihn gesehen
 12 – Die mich zu fangen augezogen
 13 – Hier ist er
 14 – Nicht ungestraft
 15 – In meinen Adern wuhlen
 16 – Auf, ergreifet den Verrater!
 17 – Welten singen Dank und Ehre

 18 – Preiset ihn, ihr Engelchore

Keith Lewis, tenor (Jesus)
Maria Venuti, soprano (
Serafim)
Michel Brodard, baixo (Pedro)
Gächinger Kantorei Stuttgart
Bach-Collegium Stuttgart
Helmuth Rilling, regência

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“Cristo no Monte das Oliveiras” (“Cristo nell’orto degli ulivi”), por Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610) – a fotografia em branco e preto é tudo o que nos resta da obra, destruída pelo bombardeio a Berlim na II Guerra Mundial.

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

O Mestre Esquecido, capítulo X (Beethoven – Sonata para violino e piano, Op. 24 – Brahms – Sonata para violino e piano no. 3 – Wanda Wiłkomirska e Antônio Guedes Barbosa) #BTHVN250

Claro que jamais esqueceríamos o Mestre por tanto tempo esquecido, e precisamente por isso resolvemos interromper nossa excursão pela obra completa de Lud Van para trazer uma das lamentavelmente poucas contribuições de Antonio Guedes Barbosa à discografia beethoveniana (a outra, com as sonatas Opp. 53 e 109, já foi publicada nessa série).

Este registro da sonata Op. 24, “Primavera”, ao lado de sua habitual parceira de recitais, a violinista polonesa Wanda Wiłkomirska (1929-2018), felizmente permite-nos escutar Barbosa em ação em partes mais significativas que o mero acompanhamento naquelas obras bonitinhas, mas pianisticamente catatônicas do álbum de Kreisler. Essa sonata preza exatamente pelo equilíbrio que Beethoven atribuiu às partes dos instrumentos, que aqui estão em pé de igualdade, num prenúncio do que ele mostraria ao mundo com sua fantástica sonata “Kreutzer”. Infelizmente (e percebam que eu muito uso este advérbio para comentar o exíguo legado fonográfico de Antonio), a gravação privilegia talvez um tanto demais o violino em detrimento do piano no primeiro movimento, de modo que acabamos escutando o mestre bem menos do que gostaríamos. As coisas melhoram nos movimentos seguintes, principalmente no finale. Pena que não tiveram com a sonata de Beethoven o mesmo cuidado que prestaram à sonata de Brahms que abre a gravação, com a gravação mais equilibrada para uma leitura muito robusta em que, admitamos, Barbosa e Wiłkomirska estão bem mais em sua praia.

Johannes BRAHMS (1833-1897)

Sonata para violino e piano no. 3 em Ré menor, Op. 108
1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Un poco presto e con sentimento
4- Presto agitato

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para violino e piano no. 5 em Fá maior, Op. 24, “Primavera”
5 – Allegro
6 – Adagio molto espressivo
7 – Scherzo: Allegro molto
8 – Rondo: Allegro ma non troppo

Wanda Wiłkomirska, violino
Antonio Guedes Barbosa, piano
Lançado em LP pela Connoisseur Society (Estados Unidos) em 1975
Nunca lançado em CD
Jamais lançado no Brasil

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Antonio Guedes Barbosa, em imagem do acervo do precioso Instituto Piano Brasileiro, que segue com seu incansável trabalho de preservação e divulgação do legado impresso e fonográfico dos grandes nomes do piano no Brasil – como o próprio Antonio, que sempre é lembrado por lá como um dos maiores de todos nossos compatriotas. Clique na imagem e visite o site do Instituto, e também suas páginas nas redes sociais – o Facebook e o YouTube são especialmente ricos. Mais ainda: se puder, contribua com ele. É fácil, rápido e imensamente gratificante.

Vassily [revalidado em 17/1/2021]

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para violino e piano, Opp. 23 & 24 – Kavakos – Pace

Depois de muito piano, o violino tenta voltar a esta série – e, como foi e será para as sonatas que lhe escreveu o mestre de Bonn, aqui ele soará com o mais belo dos timbres da atualidade, o de Leonidas Kavakos.

Acompanhado pelo riminese Enrico Pace, o ateniense aqui nos oferece as sonatas Opp. 23 e 24, compostas simultaneamente e só não publicadas juntas porque, pelo que consta, um mundano problema com o PAPEL disponível na gráfica obrigou o editor a dá-las à prensa em separado. Ainda que se lhes destinasse um só número de Opus, elas, como gêmeas bivitelinas, não poderiam ser mais diferentes. Dispensarei comentários à Op. 24, já por demais conhecida, e talvez aquela entre as composições de Beethoven que mais mereça o título primaveril e apócrifo que lhe colocaram. Permitam-me, pois, direcionar o facho para a Op. 23, uma composição num ácido lá menor, muitas vezes obtusa, e que o grego – sempre atento ao detalhe – despacha até com garbo e brilho, e não só no maroto Andante scherzoso em maior. Muito bem recebida pelos contemporâneos de Beethoven, acho inexplicável – ou, talvez, só compreensível à luz da imensa popularidade de sua gêmea mais querida – que ela não seja tão apreciada em nossos dias, enquanto espero que essa tremenda leitura de Kavakos e Pace corrija essa injustiça.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata em Lá menor para violino e piano, Op. 23
Composta em 1800
Publicada em 1801
Dedicada ao conde Moritz von Fries

1 – Presto
2 – Andante scherzoso, più allegretto
3 – Allegro molto

Sonata em Fá maior para violino e piano, Op. 24, “Primavera”
Composta entre 1800-01
Publicada em 1801
Dedicada ao conde Moritz von Fries

4 – Allegro
5 – Adagio molto espressivo
6 – Scherzo: Allegro molto
7 – Rondo: Allegro ma non troppo

Leonidas Kavakos, violino
Enrico Pace, piano

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Como adoramos Kavakos e queremos muito ser amigos dele, vamos fazendo aquilo que só os bons amigos fazem – divulgar suas melhores fotos.

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para piano Opp. 22, 31 no. 3 & 101 – Hewitt

Uma ilustre quase desconhecida, exceto aos mais atentos ludovicômanos, a sonata Op. 22 é muito bonita e elegantemente acabada, sem as explosões de temperamento a que Beethoven nos acostumara em tantas sonatas anteriores. Os temas são muito bem desenvolvidos e lindamente ornamentados, e não somente no movimento lento, que, noutra praxe do mestre, é o coração da obra.

A intérprete, Angela Hewitt, confessou que às vezes olha de soslaio para o público sempre que inicia a Op. 22, e invariavelmente encontra olhares em branco. Lamentável, pois trata-se duma peça que merece ser mais conhecida, nem que fosse pelo fato do próprio Beethoven, notoriamente reticente acerca de seu taco, não só a ter intitulado “Grande” (como fizera com a Op. 7) como também tê-la apresentado ao seu editor com um mui assertivo “essa sonata é uma obra extraordinária”.

Apreciando-a no seu contexto, da transição entre as sonatas do início da carreira e aquele grupo robusto das sonatas dos Opp. 26-28, eu tendo a concordar com o mestre. Quanto aos que a tentam vincular às supracitadas, eu tenho minhas ressalvas, uma vez que me a Op. 22 me soa muito mais afim às três sonatas dedicadas a Haydn do que a qualquer outra de suas comparativamente radicais irmãs mais velhas.

Completam a gravação uma vigorosa leitura sonata Op. 31 no. 3 e uma de minhas favoritas entre todas as gravações da extraordinária Op. 101, em que Hewitt usa toda sua experiência com Bach para iluminar o rico contraponto do movimento final – e ambas, claro, serão abordadas em postagens posteriores nesta série.

Ludwig van BEETHOVEN
 (1770-1827)

Grande Sonata para piano em Si bemol maior, Op. 22
Composta em 1800
Publicada em 1802
Dedicada ao conde Johann Georg von Browne

1 – Allegro con brio
2 – Adagio con molta espressione
3 – Menuetto
4 – Rondo: Allegretto

Das Três sonatas para piano, Op. 31:
No. 3 em Mi bemol maior
Composta em 1802
Publicada em 1804

5 – Allegro
6 – Scherzo. Allegretto vivace
7 – Menuetto. Moderato e grazioso
8 – Presto con fuoco

Sonata para piano em Lá maior, Op. 101
Composta em 1816
Publicada em 1817
Dedicada à baronesa Dorothea Ertmann

9 – Etwas lebhaft, und mit der innigsten Empfindung
10 – Lebhaft, marschmäßig
11 – Langsam und sehnsuchtsvoll
12 – Geschwind, doch nicht zu sehr, und mit Entschlossenheit

Angela Hewitt, piano

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“Aff, esses bocas-moles que não conhecem a Op. 22!”
#BTHVN250, por René Denon

Vassily