.: interlúdio :. Stanley Jordan – Magical Touch, Standards, Volume 1

Antes de iniciar esta postagem, quero pedir licença ao velho cão sarnento, nosso querido bluedog, por estar adentrando em seu território, o do Jazz e do Blues, sua especialidade, e que nos tem proporcionado momentos muito especiais com suas postagens sempre muito bem escritas, e selecionando um repertório ímpar de seu imenso acervo.

Por algum motivo inexplicável, esse imenso guitarrista chamado Stanley Jordan nunca tinha aparecido por aqui. Hoje, ouvindo a clássica canção ‘Sunny’ no rádio, me lembrei da versão de Jordan em seu belíssimo álbum intitulado ‘Standards Volume 1’, inexplicavelmente fora da catálogo do selo Blue Note. Aí fui procurar no PQPBach e, pasmo, descobri que nunca postamos nada dele. Então vamos corrigir esta tremenda falha trazendo seus dois primeiros discos, duas obras primas em minha humilde opinião.

Stanley Jordan nasceu em Chicago, Illinois, em 1959. Aos seis anos de idade começou a aprender a tocar piano e com 0nze, guitarra. Estudou Teoria Musical e Composição na Universidade de Princeton, onde teve a oportunidade de tocar com os lendário músicos de Jazz Benny Carter e Dizzie Gilespie. Em 1985 foi contratado pelo prestigioso selo de Jazz Blue Note, onde gravou seus primeiros discos, incluindo estes dois que ora vos trago.

“Magic Touch” tem um título bem apropriado. Comprei o LP na mesma época em que foi lançado, 1985, e nunca mais deixei de ouvi-lo. Com certeza seria um daqueles discos que eu levaria para uma ilha deserta. A técnica que Jordan desenvolveu para tocar suas guitarras (sim, no plural, por vezes ele toca dois instrumentos ao mesmo tempo) é baseada no ‘tapping’, se utilizando dos dedos da mão esquerda para tocar a linha do baixo e com a mão direita faz a parte do solo. O resultado é uma sonoridade única, em um primeiro momento até podemos imaginar que está tocando com dois ou três acompanhantes ao mesmo tempo. O disco começa com uma versão única e muito especial de ‘Eleanor Rigby’, clássico dos Beatles, canção que todos conhecem. Em seguida, vem ‘Freedie Freeloader’ de Miles Davis em uma roupagem única, (tudo bem, os arranjos de Jordan são todos únicos) com acompanhantes de luxo, como o baterista Peter Erskine e o contrabaixista Charnett Moffett. Aliás, a Blue Note chamou uma legião de grandes músicos para acompanhar o jovem guitarrista, a lista está aí embaixo.

Uma das mais belas composições da História do Jazz no século XX, ‘Round´Midnight’, de Thelonius Monk vem em seguida, para manter aquele clima de inverno, para se ouvir embaixo das cobertas, tomando um bom vinho. Nestes dois primeiros discos Jordan mantém sempre um clima de relaxamento, leve, nunca se excedendo no volume de suas guitarras. Em seguida temos a  delicada e sensível ‘All the Children’ (lembro que esta faixa tocava muito em uma determinada rádio lá na Florianópolis dos anos 80 e 90, não tanto quanto sua versão do ‘Bolero’ de Ravel, que ele gravou alguns anos mais tarde, mas isso é assunto para outra postagem). Nesta em em outras três faixas Jordan revela seu lado compositor, mas o que eu mais destacaria nestes dois primeiros discos é sua incrível capacidade de arranjador, desconstruindo clássicos, como os já citados ‘Eleanor Rigby’, ‘Roun´Midnight’, e nos mostrando novas possibilidades nestas obras já tão gravadas e regravadas.

Uma curiosidade: depois de lançado,  ‘Magic Touch’ ficou nas ‘paradas’ da Billboard, na categoria de Jazz, por 51 semanas. Um recorde.

Creio que o título de seu segundo álbum  ‘Standards, Volume 1’ seja uma brincadeira, e que nem Jordan nem a Blue Note pensavam em lançar um segundo volume. Aqui não tem banda de apoio, apenas o talento de Jordan se consolidando e mostrando um músico já mais maduro, mas ainda com ímpetos da juventude, afinal ele estava no apogeu de seus vinte e sete anos. Sempre digo que sou suspeito para falar desse disco, pois o considero impecável, do começo ao fim. Conheço cada nota tocada, cada respiração do músico e sempre volto a ele, e o velho LP ainda está na minha estante, trinta e seis anos após sua aquisição. Fui muito influenciado por ele, me ajudou muito em determinado momento de minha vida, aquele das paixões não correspondidas, quando estamos procurando o caminho a seguir (eu tinha meros 21 anos quando comprei esse disco).

Já desde a primeira faixa, ‘The Sound of Silence’, que foi imortalizada pela dupla Simon & Garfunkel, podemos identificar os riscos a que Jordan se expõem, não temendo os erros, se perdendo em redundâncias nos seus solos. Enfim, é um disco único no sentido em que ouvimos um músico em pleno processo criativo, estabelecendo parâmetros e critérios de execução, nem sempre conseguindo, mas nunca desistindo. E acho que isso pode ser melhor observado em ‘Georgia on My Mind’, onde a magnífica canção imortalizada na voz de Ray Charles é virada ao avesso e exposta em sua mais delicada expressão. A considero a melhor faixa do disco, apesar de amar o disco inteiro.

Stanley Jordan – Magic Touch (1985)

01. Eleanor Rigby
02. Freddie Freeloader
03. Round Midnight
04. All The Children
05. The Lady In My Life
06. Angel
07. Fundance
08. New Love
09. Return Expedition
10. A Child Is Born

Stanley Jordan – Guitar
Wayne Brathwaite – Electric Bass
Peter Erskine – Drums
Sammy Figueroa – Percussion
Onaje Allan Gumbis – Keyboards
Omar Hakim – Drums
Charnett Moffett – Acoustic Bass
Bugsy Moore – Percussion
Al Di Meola – Cymbals

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Stanley Jordan – Standards Vol. 1 (1986)

01. The Sound of Silence
02. Sunny
03. Georgia on My Mind
04. Send One Your Love
05. Moon River
06. Guitar Man
07. One Less Bell to Answer
08. Because
09. My Favorite Things
10. Silent Night

Stanley Jordan – GuitarS

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