Giovanni Gabrieli (1557-1612): Motetos, Canzonas / Claudio Merulo (1533-1604): Magnificat (Mabire, La Guilde des Mercenaires)

Mais um disco do “Trio Parada Dura” de Veneza: Merulo, Gabrieli e Gabrieli. Os três trabalharam mutos anos na Basílica de San Marco, a maior igreja de Veneza, financiada pelos ricaços que comandavam boa parte do comércio mediterrâneo. Eles começaram a empobrecer quando Portugal e Espanha, contornando a África, chegaram às Índias e de bônus encontraram a América, mas esse processo de empobrecimento durou séculos, de modo que por volta de 1550 a 1650 o comércio se reduzia mas a música de Veneza chegou ao seu auge: toda a Europa imitou e aprendeu com as inovações de Merulo, dos dois Gabrieli e de Monteverdi. Mas atenção: o Gabrieli que aparece aqui, Giovanni, era sobrinho do outro, Andrea, que apareceu na postagem de anteontem. Boa parte das obras de Andrea foram publicadas postumamente, com edição do sobrinho, que possivelmente fez certas contribuições colocando notas aqui e tirando ali, de modo que é difícil diferenciar os estilos dos dois Gabrieli.

Claudio Merulo era contratado como organista em San Marco, mas também compunha música vocal como o Magnificat aqui gravado. Já Andrea Gabrieli foi responsável pela música vocal da Basílica de San Marco, cargo que herdou de seu professor, o franco-flamenco Adrian Willaert (morto em 1562). Muitos estrangeiros vinham escutar a música de San Marco e, se possível, aprender um pouco com Willaert, Merulo, A. Gabrieli e, depois, com seu sobrinho G. Gabrieli. O sucessor deste último no cargo foi Monteverdi, o último compositor de renome internacional em San Marco. Depois, outros gênios ainda viveriam em Veneza mas sem relações diretas com a Basílica, como Barbara Strozzi (que, por ser mulher, jamais seria cogitada Maestrina di Capella della Serenissima Republica) e Vivaldi.

Como explica Adrien Mabire nas notas, o programa do disco se baseia nas obras de G. Gabrieli publicadas nos “Concerti” de 1587 e nas “Sacrae Symphoniae” de 1597. Ele mostra a gênese das grandes peças para coro simples e duplo, arte tipicamente veneziana, com o objetivo de restituir a essa música sua forma original, na qual vozes e instrumentos se misturam. Para nos ajudar a imaginar as influências sobra Giovanni Gabrieli, além de sua educação com seu tio e com Roland de Lassus, adicionamos três peças de outros compositores. Primeiro o Magnificat de Claudio Merulo. Este último era organista em San Marco quando os dois Gabrieli ali trabalhavam, é evidente o impacto de sua obra sobre Giovanni. Em seguida a canção de Adrian Willaert (1490-1562), mestre de capela em San Marco e professor de Andrea Gabrieli, canção que representa aqui uma pausa nas obras de igreja. Para fechar, uma pequena peça humorística de Roland de Lassus, com quem Giovanni trabalhou em Munique de 1575 a 1579, apenas cinco ou seis anos antes das primeiras composições de G. Gabrieli aqui gravadas. Ao contrário de outras gravações desse repertório, o conjunto aqui presente é mais reduzido, com seis cantores, quatro sopros e órgão. Nos motetos para mais de seis vozes, são os instrumentos que tocam as partes vocais, prática comum na época em que essa música era ouvida em grandes celebrações na Basílica de San Marco.

GLORIA A VENEZIA !

CLAUDIO MERULO (1533-1604)
1. Magnificat 5’38

GIOVANNI GABRIELI (1557-1612)
2. Canzon terza a 4 1’50
3. Ego Dixi a 7 2’42
4. Beati immaculati a 8 2’42

GIOSSEFO GUAMI (1542-1611)
5. Canzon alla francese « La Lucchesina » 2’46

G. GABRIELI
6. Inclina Domine a 6 3’20
7. O magnum mysterium a 10 2’50
8. Canzon quarta a 4 2’26
9. Jubilate deo a 8 3’22
10. Deus, deus meus a 10 3’43
11. Ricercar per organo 1’49
12. Domine exaudi a 10 1’52

ADRIAN WILLAERT (1490-1562)
13. Le dur travail 1’21

G. GABRIELI
14. Surrexit pastor bonus a 10 2’37
15. Canzon seconda 2’36
16. Beata es virgo maria a 6 3’24
17. Canzon « La Spiritata » a 4 3’00
18. Angelus ad pastores a 12 2’42

ROLAND DE LASSUS (1532-1594)
19. Lucescit iam o socii 2’58

La Guilde des Mercenaires
Adrien Mabire, direction et cornet

Chanteurs:
Violaine Le Chenadec, soprano; Anaïs Bertrand, mezzo soprano; Marnix De Cat, contre-ténor; Marc Mauillon, baryton-basse; Renaud Bres, baryton-basse; Marc Busnel, basse

Instrumentistes:
Benoit Tainturier – cornet
Juan Gonzales Martinez, Arnaud Bretecher, Abel Rohrbach – trombones
Jean-Luc Ho – orgue
Enregistré à la Chapelle Royale de Versailles, France, 2019

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

2 trombones, 2 cornettos (não o sorvete, o instrumento renascentista com formato de chifre)

Pleyel

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