Sabe aquele disco perfeito, sem falhas? Uma Waldstein tão boa quanto a de Pollini, uma Les adieux que é melhor nem comentar, uma 110 verdadeiramente estupenda e uma Ao Luar para incrementar as vendas. Dizer o mais quê?
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas para Piano Op. 27/2 “Moonlight”, 53 “Waldstein”, 81a “Les adieux” & 110 (Freire)
1. Piano Sonata No.21 in C, Op.53 -“Waldstein” – 1. Allegro con brio 9:29
2. Piano Sonata No.21 in C, Op.53 -“Waldstein” – 2. Introduzione (Adagio molto) 3:47
3. Piano Sonata No.21 in C, Op.53 -“Waldstein” – 3. Rondo (Allegretto moderato – Prestissimo) 9:12
4. Piano Sonata No.26 in E flat, Op.81a -“Les adieux” – 1. Das Lebewohl (Adagio – Allegro) 6:26
5. Piano Sonata No.26 in E flat, Op.81a -“Les adieux” – 2. Abwesendheit (Andante espressivo) 3:22
6. Piano Sonata No.26 in E flat, Op.81a -“Les adieux” – 3. Das Wiedersehn (Vivacissimamente) 5:11
7. Piano Sonata No.31 in A flat, Op.110 – 1. Moderato cantabile molto espressivo 6:15
8. Piano Sonata No.31 in A flat, Op.110 – 2. Allegro molto 2:00
9. Piano Sonata No.31 in A flat, Op.110 – 3a. Adagio ma non troppo 3:19
10. Piano Sonata No.31 in A flat, Op.110 – 3b. Fuga (Allegro ma non troppo) 6:59
11. Piano Sonata No.14 in C sharp minor, Op.27 No.2 -“Moonlight” – 1. Adagio sostenuto 5:26
12. Piano Sonata No.14 in C sharp minor, Op.27 No.2 -“Moonlight” – 2. Allegretto 2:11
13. Piano Sonata No.14 in C sharp minor, Op.27 No.2 -“Moonlight” – 3. Presto 5:26
Nas partituras usadas há séculos na música de concerto ocidental, muita coisa é escrita e lida em termos bastante racionais: uma oitava é uma oitava, pausa é uma pausa… Na música tonal, é mais ou menos evidente a função de uma pausa, de uma oitava, de uma dissonância resolvida na tônica, etc. Mas quando se trata de timbre e orquestração, muitas vezes as intenções dos compositores podem ser misteriosas e relacionadas com fatos específicos das suas vidas. Mozart, por exemplo, escreveu para clarinete só quando já vivia em Viena: tanto o quinteto como o concerto foram compostos para um clarinete-baixo que poucos anos depois caiu em desuso, de modo que a versão publicada em 1801, transcrita para clarinete tradicional (mais agudo) é aquela que é tocada quase sempre até hoje. Já Haydn, por volta de 1795, quando já tinha composto mais de cem sinfonias e umas dez missas, resolveu incluir partes para tímpanos bem mais proeminentes na Sinfonia nº 103 e na Missa “em tempos de guerra”, como comentei aqui.
J.S. Bach, ao escolher os instrumentos e vozes humanas para suas obras, também seguiu caminhos muitas vezes misteriosos. Ninguém tem certeza do que ele quis dizer com “flauti d’echo” no seu 4º Concerto de Brandenburgo: essa expressão não é usada em qualquer outra obra. Harnoncourt entendia que eram duas flautas doces tocando afastadas dos outros músicos, criando um efeito de eco, já outros especialistas chegaram a outras conclusões.
Outro mistério: por que, na sua coleção de mais de 200 obras vocais que, em sua maioria, misturam movimentos corais com árias para solistas*, Bach compôs três obras para alto com órgão obbligato estreadas em Leipzig em três domingos entre julho e outubro de 1726?
* No século XIX, quando foram editadas, as obras que não se encaixavam como “Paixão”, “Missa”, “Magnificat” ou outra categoria foram classificadas sob o guarda-chuva “Cantata”: essa provavelmente não era a palavra mais usada por Bach. Também data do século XIX a numeração dos “BWV”, que é mais ou menos arbitrária: tirando a ordem da reedição no século XIX, não há qualquer motivo para a cantata de BWV 35 (estreada em setembro de 1726) ter numeração distante das 169 (outubro de 1726) e 170 (julho de 1726).
São poucas as informações sobre os solistas que Bach tinha à disposição nas igrejas onde trabalhava. A hipótese de que, naquele ano, Bach se entusiasmou com a voz de um cantor é apenas isso, uma hipótese sem se apoiar em outros documentos além dessas cantatas. E o motivo para Bach ter escrito complicadas partes para órgão tampouco é claro. Apenas podemos imaginar que, na cabeça do mestre de Leipzig, os sons do órgão combinavam especialmente com a voz de alto (correspondente às contraltos e mezzo-soprano, para as mulheres, e, para os homens, ao contratenor e ao haute-contre no barroco francês).
JOHANN SEBASTIAN BACH (1685 –1750)
Gott soll allein mein Herze haben BWV 169 [22’59]
1 Sinfonia [7’23]
2 Arioso e Recitativo Gott soll allein mein Herze haben [2’48]
3 Aria Gott soll allein mein Herze haben [5’45]
4 Recitativo Was ist die Liebe Gottes? [0’48]
5 Aria Stirb in mir [4’33]
6 Recitativo Doch meint es auch dabei [0’28]
7 Choral Du süße Liebe, schenk uns deine Gunst [1’11]
HEINRICH SCHÜTZ (1585 –1672)
8 Erbarm dich mein, o Herre Gott SWV447 [4’00]
DIETERICH BUXTEHUDE (c. 1637–1707)
Klag-Lied BuxWV76b [13’03]
9 Verse 1 Muss der Tod denn auch entbinden [1’48]
10 Verse 2 Unsre Herzen sind die Väter [1’50]
11 Verse 3 Solcher ist mir auch gewesen [1’50]
12 Verse 4 Dieser nun wird mir entrissen [1’47]
13 Verse 5 Und dass er nun den empfangen [1’50]
14 Verse 6 Er spielt nun die Freuden-Lieder [1’50]
15 Verse 7 Schlafe wohl, du Hochgeliebter [2’04]
JOHANN SEBASTIAN BACH (1685 –1750)
Geist und Seele wird verwirret BWV35 [25’08]
16 PART I Sinfonia [5’02]
17 Aria Geist und Seele wird verwirret [7’38]
18 Recitativo Ich wundre mich [1’34]
19 Aria Gott hat alles wohlgemacht [3’18]
20 PART II Sinfonia [3’12]
21 Recitativo Ach, starker Gott [1’16]
22 Aria Ich wünsche nur bei Gott zu leben [3’06]
IESTYN DAVIES countertenor
with CAROLYN SAMPSON soprano / JOHN MARK AINSLEY tenor / NEAL DAVIES bass-baritone
TOM FOSTER organ
ARCANGELO / JONATHAN COHEN conductor
Recorded in St Jude-on-the-Hill, Hampstead Garden Suburb, London, 2020
IM-PER-DÍ-VEL !!! Um tesouro da cultura brasileira!
Há algum tempo notei, com susto, que não tínhamos aqui no blog um disco que considero entre os “top most” de toda a produção musical brasileira: o primeiro do Quinteto Armorial, “Do Romance ao Galope Nordestino”, de 1974.
Verdade que tínhamos várias peças desse disco na postagem do CVL “Projeto Quadrante – A Pedra do Reino” – mas nesses mixes perde-se um elemento artístico tão importante quanto cada peça em si, que é a concepção de conjunto de cada disco. Por isso, fazia tempo que vinha planejando postar aqui o tal disco de 1974.
Só que de repente me veio ideia melhor: por que postar só o disco de 1974? Porque não logo a discografia completa? E foi isso o que se fez.
Enfim, não vou contar aqui nada da história nem da teoria desse quinteto nem do movimento armorial em geral – isso vocês acham relativamente fácil com a ajuda se São Google. Prefiro reaplicar algumas considerações sobre “o que é clássico” que fiz há uns dois anos, ao postar o “Dança das Cabeças” de Egberto Gismonti. Espia aí, gente:
Afinal, o que é que faz determinada música ser “clássica” ou “erudita”? Evidentemente não pode ser a ausência de melodias cantáveis, a ausência de texto, a ausência ou pouca importância da percussão ou de determinadas instrumentações, e até mesmo ausência de vulgaridade ou banalidade… pois cada uma dessas “ausências” é contradita por abundância de presenças no repertório estabelecido.
Para muitos, “clássico” equivale, mesmo que sem consciência disso, a “em formas, escalas e instrumentações de origem européia”. Donde considerarem clássicas, p.ex., as valsas dos dois Johann Strauss, quando para mim são evidentemente música popular em arranjos para poderosos. (Não estou dizendo que são inferiores por serem populares, nem que não caibam num blog como este. As danças compostas e/ou publicadas pelo Pretorius, do século 16, também são música popular em bons arranjos, e seria uma pena não tê-las aqui!).
Para mim, o “clássico” ou “erudito” se refere ao grau de complexidade da elaboração na dimensão “forma”, e/ou de libertação em relação às duas fontes primárias da música (a dança e a declamação expressiva) na direção de uma música-pela-música. E nesse sentido encontramos “clássico” em muitas tradições totalmente autônomas da européia: chinesa, indiana, mandê (da qual postei aqui o lindo exemplo que é Toumani Diabaté), e também em outras que recebem maior ou menor medida de influxo da tradição européia, mas o incorporam em formas produzidas com total autonomia em relação a essa tradição.
O Brasil talvez seja a maior usina mundial da produção deste último tipo de música – mas não me refiro a nenhum dos nossos compositores normalmente identificados como “clássicos” ou “eruditos”: nem a Villa-Lobos, nem a Camargo Guarnieri, nem a Almeida Prado, ninguém desses: todos eles trabalham fundamentalmente com a herança das matrizes formais européias. Não que isso os desqualifique, não se trata disso! Trata-se, ao contrário, é de reconhecer a qualidade do “clássico” em música que não paga nenhum tributo a essas matrizes formais (“concerto”, “sonata”, “fuga” etc.) e por isso às vezes é tida como de segunda qualidade, quando é de primeiríssima!
E por que transcrevo isso? Porque os dois primeiros discos do Quinteto Armorial me parecem ser a realização mais perfeita desse “clássico autônomo” que o Brasil já produziu (os outros dois também são bons, mas ao tenderem um tanto mais para a documentação de repertórios e estilos populares acabam não correspondendo de modo tão puro ao que quero apontar):
Primeiro, temos aí uma formação instrumental de câmara com sonoridade única, criada aqui: não tenta fazer “músca de câmara brasileira” arranjando melodias populares para quartetos de cordas, p.ex. E é nesse sentido que o Quinteto me toca muito mais fundo que a Orquestra Armorial, por importante que o seu trabalho também seja. Mas é adaptação de uma instrumentação desenvolvida fora, esta é uma instrumentação desenvolvida aqui (reparem que falei “instrumentação”, e não “instrumental”…)
Além disso, temos peças bastante longas e livres sem nenhuma preocupação de aplicarem as tais matrizes formais de que falei – e nesse sentido me interessa mais a vertente da composição própria (basicamente de dois Antônios: o José Madureira e o Nóbrega) que a do registro de peças populares arcaicas ou atuais seja com fins de demonstrar as teorias de Ariano Suassuna ou documentais em geral.
Podemos papear mais sobre isso se vocês quiserem, mas por agora vou deixar vocês com a música! As listas de faixas apareceram milagrosamente de um dia para o outro pela colaboração do colega Bisnaga – valeu, Bisnaga!
• DO ROMANCE AO GALOPE NORDESTINO (1974)
1. Revoada (Antônio José Madureira)
2. Romance da Bela Infanta (Romance ibérico do século XVI, recriado por Antonio José Madureira)
3. Mourão (Guerra Peixe)
4. Toada e Desafio (Capiba)
5. Ponteio Acutilado (Antonio Carlos Nóbrega de Almeida)
6. Repente (Antonio José Madureira)
7. Toré (Antonio José Madureira)
8. Excelência (Tema nordestino de canto fúnebre, recriado por Antonio José Madureira)
9. Bendito (Egildo Vieira)
10. Toada e Dobrado de Cavalhada (Antonio José Madureira)
11. Romance de Minervina (Romance nordestino, provavelmente do século XIX,
recriado por Antonio José Madureira)
12. Rasga (Antonio Carlos Nóbrega de Almeida)
• ARALUME (1976)
1 Lancinante (Antônio José Madureira)
2 Improviso (Antônio José Madureira)
3 O homem da vaca e o poder da fortuna (Antônio José Madureira)
4 Abertura
5 A preguiça
6 A troca dos bichos
7 Ironia ao rico
8 Aralume (Antônio José Madureira)
9 Reisado (Egildo V. do Nascimento)
10 Guerreiro (Antônio José Madureira)
11 Ponteado (Antônio José Madureira)
12 Chamada e marcha caminheira (Egildo V. do Nascimento)
• QUINTETO ARMORIAL (1978)
1 – Batuque de Luanda (Antonio José Madureira)
2 – Romance da Nau Catarineta (Antonio J. Madureira)
3 – Toques dos caboclinhos (D. P.)
4 – Entremeio para rabeca e percussão (Antônio C. Nobrega)
I – Cortejo
II – Baiano
III – Boi
5 – Ária (Cantilena da Bachianas Brasileiras nº 5
de Heitor Villa-Lobos transcrição Antônio J. Madureira)
6 – Toque para marimbau e orquestra (A. J. Madureira)
I – Galope à beira-mar
II – Bendito de romeiros
III – Marcha rural
• SETE FLECHAS (1980)
1-Marcha da folia (Raul Morais)
2-Sete flechas (Antônio José Madureira)
3-Xincuan (Antônio José Madureira)
4-Improviso (Antônio José Madureira)
5-Cocada (Lourival Oliveira)
6-Martelo agalopado (Ariano Suassuna – Antônio Carlos Nóbrega)
7-Cantiga (Antônio José Madureira)
8-Algodão (Luiz Gonzaga – Humberto Teixeira)
9-Zabumba lanceada (Fernando Torres Barbosa)
Antonio José Madureira: viola sertaneja
Edilson Eulálio: violão
Fernando Torres Barbosa: marimbau nordestino
Egildo Vieira: pífano, flauta
Antonio Nóbrega: rabeca, violino
(algumas vezes com músicos adicionais)
Eu não sou doido pelas missas antigas. É uma música extática demais para o meu gosto. Sua intrincada polifonia me agrada por 15-20 min e depois canso. Vocês podem me rebater que Byrd não escreveu suas três missas para serem ouvidas de enfiada como fazemos numa audição de um CD e serei obrigado a lhes dar razão. O Tallis Scholars é um conjunto simplesmente espetacular e só por ele já valeria ouvir o disco, mas em drágeas.
William Byrd (1540-1623): The Three Masses (Tallis)
1. Byrd: Mass for five voices: Kyrie (Mass for 5 voices) 1:28
2. Byrd: Mass for five voices: Gloria (Mass for 5 voices) 4:55
3. Byrd: Mass for five voices: Credo (Mass for 5 voices) 8:41
4. Byrd: Mass for five voices: Sanctus & Benedictus (Mass for 5 voices) 3:47
5. Byrd: Mass for five voices: Agnus Dei (Mass for 5 voices) 3:49
6. Byrd: Mass for four voices: Kyrie (Mass for 4 voices) 2:03
7. Byrd: Mass for four voices: Gloria (Mass for 4 voices) 5:29
8. Byrd: Mass for four voices: Credo (Mass for 4 voices) 7:31
9. Byrd: Mass for four voices: Sanctus & Benedictus (Mass for 4 voices) 3:39
10. Byrd: Mass for four voices: Agnus Dei (Mass for 4 voices) 3:29
11. Byrd: Mass for three voices: Kyrie & Gloria (Mass for 3 voices) 5:12
12. Byrd: Mass for three voices: Credo (Mass for 3 voices) 6:36
13. Byrd: Mass for three voices: Sanctus & Benedictus (Mass for 3 voices) 2:46
14. Byrd: Mass for three voices: Agnus Dei (Mass for 3 voices) 3:24
15. Byrd: Ave verum corpus 4:16
A música de Martinů é sempre encantadora, elegante e atraente, lindamente construída e pontuada, um prazer de ouvir. De certa forma, ele é o Haydn do século XX.
Christopher Hogwood
Há tempos venho flertando com a música de Martinů, mas até agora não havia sido fisgado por um trecho que me fizesse parar tudo o que estivesse fazendo para ficar ouvindo. Talvez esse critério não tenha sido o mais adequado, mas finalmente encontrei um disco que tenho ouvido bem amiúde e que sempre me dá vontade de revisitar.
Como o interesse pela música, também aumentou a curiosidade sobre o autor, que tipo de vida levou, como eram as coisas nos seus dias. Entendi que foi músico desde criancinha, que compôs muito, nasceu onde hoje se chama República Checa. Foi compositor, professor de música e, na juventude, tocou violino na Orquestra Filarmônica Checa.
Em 1923 mudou-se para Paris e mudou seu estilo, incluindo o corte de cabelo, deixando o romantismo para lá. Sua música incorporou várias características da música francesa da época.
Com a Segunda Guerra e a invasão de Paris pelos alemães, Bohuslav mudou-se para os Estados Unidos, onde ensinou em Princeton e no Berkshire Music Center, em Tanglewood, Massachusetts. Ele alternou sua residência entre os EU e a Europa, passando um ano ensinando no Curtis Institute, e também na Academia Americana, em Roma. Seus últimos anos foram passados na Suíça, aos auspícios do mecenato do músico milionário Paul Sacher.
Bohuslav felizão por estar no PQP Bach!
O disco da postagem traz cinco peças, algumas mais curtas que outras, mas sempre muito interessantes. A Sinfonietta ‘La Jolla’ foi escrita para atender a um pedido da Musical Arts Society de La Jolla, na Califórnia. Esperava-se uma obra agradável e melodiosa e ele certamente atendeu ao pedido. Com três movimentos, sua orquestração conta com um piano que atua marcadamente especialmente ajudando no ritmo.
La revue de cusine é um balé com os utensílios da cozinha. Aqui temos quatro números formando uma suíte, da qual fazem parte um tango e um delicioso charleston.
A Toccata e due canzoni é a obra mais sombria do disco. Durante a composição dessa peça, em 1946, Martinů caiu de um balcão e machucou-se seriamente, batendo e fraturando a cabeça. A coisa foi séria e ele perdeu parte da audição, mas recuperou-se e voltou a compor. Entendi que ele, desde sempre, tinha enorme memória musical, sendo capaz de se lembrar de partituras completas. Assim, compunha e ‘ouvia’ música enquanto caminhava e pode ter se distraído na ocasião do acidente.
A peça Merry Christmas 1941 foi composta para piano e oferecida à família que o recebeu, com sua esposa, na chegada aos EU na fuga da Europa. Aqui ouvimos um arranjo para quinteto de sopros.
Os Tre ricercare foram escritos sob comissão para a Bienal de Veneza e a sua orquestração emprega dois pianos, cujo uso dão às peças uma textura bem especial.
The performances here sound thoroughly convincing: Hogwood had steeped himself in the Martinů idiom and trained his orchestra well. The recording is clear and there is nothing not to like. There are other performances of all the works here but not in this combination, and anyone wanting a disc of Martinů works other than the main symphonies and concertos will be well pleased with this.
E este é o final de mais uma integral que publicamos no blog. A caixinha da EMI termina com uma gravação mais antiga (de 1981, quando Rattle tinha 26 anos) da Sinfonia Nro. 5. É um CD bônus cuja existência me parece justificada, pois há boa diferença entre este e o outro registro, realizado apenas seis anos depois.
Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 5 de 5) (CBSO / Rattle)
Disc: 5
Sinfonia Nro. 5, Op. 82
1. I. Tempo Molto Moderato – Allegro Moderato – Presto
2. II. Andante Mosso, Quasi Allegretto
3. III. Allegro Molto – Un Pochettino Largemente
City of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle
Depois do comentário escrito por um certo Adolf Hitler na postagem anterior de Sibelius, apresso-me a postar o quarto volume. (O comentário é lá de 2008 e essa figura asquerosa — se ainda não morreu — deve ter ficado muito feliz com os anos Bolsonaro, que, aliás, quando será preso?) Antes, li felicíssimo a repercussão da atuação de Rattle em Berlim. Ele prometeu que ia mudar o repertório da orquestra e o está fazendo. Nos 44 concertos deste ano (2008), há poucos Beethoven e Mozart, mas muitas obras modernas e músicas — antigas e novas — pouco ouvidas. Um show de equilíbrio. Ele retirou da Orquestra de Berlim a obrigação de palmilhar sempre a mesma via crucis de compositores. (Hoje, Rattle escolheu sair de Berlim. Saiu como um herói, seu último concerto foi apoteótico e ele sempre volta à orquestra como convidado.)
Bem, mas este é o melhor CD da coleção de Sibelius e um dos grandes discos que possuo. Sim, claro, a música ajuda. São as duas melhores sinfonias do muuuuito misterioso – como escreveu-me um amigo – Sibelius. Há algo na Sinfonia Nro. 5 que deixa meu duro coração sem lágrimas à flor da pele, quase se desmanchando de emoção. São três movimentos com temas bastante rarefeitos, mas belos, belos, belos e orquestrados estupendamente. A CBSO e Rattle não interpretam, mas parecem autenticamente criar a Sinfonia. O final da Quinta sempre me deixou obcecado e já sonhei várias vezes que – músico de uma orquestra qualquer – o errava lamentavelmente.
A execução da Sétima fica a alguns centímetros de Mravinski, que parece ter resolvido melhor o fato de ser uma música de cinco movimentos sem interrupções e, se Rattle ganha em colorido sonoro e no controle da orquestra, perde na qualidade do trombonista e nas passagens de um movimento a outro.
Um disco obrigatório, mesmo para quem não admira Sibelius.
Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 4 de 5) (CBSO / Rattle)
Disc: 4
Sinfonia Nro. 5, Op. 82
1. I. Tempo Molto Moderato – Allegro Moderato – Presto
2. II. Andante Mosso. Quasi Allegretto
3. III. Allegro Molto – Un Pochettino Largemente
4. Kualema – Scene With Cranes, Op. 44
Sinfonia Nro.7, Op. 105
5. I. Adagio –
6. II. Un Pochettino Meno Adagio – Vivacissimo – Adagio –
7. III. Allegro Molto Moderato –
8. IV. Vivace – Presto – Adagio
9. Night Ride and Sunrise, Op. 55
City of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle
Tenho poucas gravações destas duas sinfonias de Sibelius. Uma versão é a Karajan e outra é a de Leaper para a Naxos. Rattle parece ser bastante mais compreensivo para com as brumas e o estranho mundo de Sibelius. Orienta-se melhor que os outros dentro dele. Como o finlandês faz muitas vezes uma música sem movimento, é fundamental aquela atenção debussiana para o som produzido. E aqui Rattle e sua ex-orquestra, a CBSO, dão um show. Gosto especialmente dos últimos movimentos das sinfonias presentes neste CD. Moderadamente recomendável para depressões leves e decididamente desaconselhável para quem está à beira do abismo.
Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 3 de 5) (CBSO / Rattle)
Disc: 3
Sinfonia Nro. 4, Op. 63
1. I. Tempo Molto Moderato, Quasi Adagio
2. II. Allegro Molto Vivace
3. III.II Tempo Largo
4. IV. Allegro
Sinfonia Nro.6, Op. 104
5. I. Allegro Molto Moderato
6. II. Allegretto Moderato
7. III. Poco Vivace
8. IV. Allegro Molto
9. The Oceanides (Aallottaret), Op.73
City of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle
As leves críticas recebidas pelo volume 1 desta coleção deverão diminuir muito na segunda parte de nossa empreitada sibeliana. Rattle faz uma contemplativa e tranquila abordagem da Sinfonia Nº 2, uma das mais adequadas que ouvi. Talvez a opção de não ser tão especular assuste alguns desacostumados, mas a versão é uma joia. O finale é extraordinário! Já a terceira é uma sinfonia que não é muito conhecida, apesar do esplêndido Andantino Con Moto, Quasi Allegretto, movimento que mora no meu coração. A 3ª mais me parece uma longa – e boa — preparação para algo que… vai acontecer na 4ª… Ainda mais depois de ouvir, ontem à noite, duas que são absolutamente o máximo, da autoria de seu agitado vizinho Nielsen. É decididamente um período sinfônico de minha vida e pretendo postar a integral de Shosta, Sibelius, Nielsen e Mahler. Só gente parruda. O registro que Rattle faz da segunda sinfonia é tão acertado quando casar com a belíssima mezzo-soprano Magdalena Kožená, atual Sra. Sir Simon. Os tabloides ingleses não cansam de escrever que ela tem 18 anos a menos que Rattle. Grande coisa.
Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 2 de 5) (CBSO / Rattle)
Disc: 2
Sinfonia Nro. 2 1. I. Allegretto
2. II. Temp Andante, Ma Rubato
3. III. Vivacissimo
4. IV. Finale: Allegro Moderato
Sinfonia Nro. 3 5. I. Allegro Moderato
6. II. Andantino Con Moto, Quasi Allegretto
7. III. Moderato – Allegro, Ma Non Tanto
City of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle
Uma grande orquestra, um grande regente e um concerto impossível de ouvir após acostumar-se a Jascha Heifetz. Gosto muito da Primeira de Sibelius, mas o Concerto não satisfaz por causa da citada gravação de Heifetz. Comparado ao lituano, Nigel Kennedy é apenas aceitável. Já na Sinfonia Nº 1, Sibelius parece ainda não ter formado bem seu estilo. Tudo parece muito inicial, só que, de certa forma, todo ele já está lá. E isto é o interessante!
Sua Primeira Sinfonia começou a ser composta em abril de 1898. Em janeiro do ano seguinte, Sibelius mudava-se da capital Helsinque para a pequena cidade de Kerava, a fim de ter mais tempo para compor. Acabou saindo de lá porque não tinha amigos e era complicado de se embebedar… Enquanto trabalhava na sua Sinfonia, o czar Nicolau II expediu o “Manifesto de fevereiro de 1899”, restringindo a autonomia de todas as nações do Império Russo, incluindo a Finlândia. Indignado com a nova situação de seu país, Sibelius compôs uma canção de protesto, intitulada Canção dos Atenienses. A Sinfonia nº 1 e a Canção dos Atenienses foram estreadas no mesmo concerto, em Helsinque, no dia 26 de abril de 1899, pela Sociedade Filarmônica de Helsinque, sob a regência do compositor. O concerto teve grande sucesso e Sibelius foi alçado à condição de uma das principais figuras da resistência finlandesa. Nascia um herói nacional. Sibelius revisou a Sinfonia no ano seguinte. A versão que hoje conhecemos é de 1900 e foi estreada em Estocolmo no dia 4 de julho do mesmo ano, também pela Sociedade Filarmônica de Helsinque, sob a regência de Robert Kajanus, amigo do compositor. Em turnê pelas principais capitais europeias, Kajanus foi responsável pelo sucesso da Sinfonia fora da Finlândia e pelo consequente reconhecimento internacional do compositor. Na Sinfonia nº 1 já podemos vislumbrar aquelas que se tornariam as “marcas registradas” de Sibelius: as atmosferas misteriosas que nos remetem às terras geladas da Finlândia, os contrastes súbitos onde seções calmas são inesperadamente seguidas por momentos de extremo vigor e o uso da orquestral de uma forma extremamente pessoal.
Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 1 de 5) (CBSO / Rattle)
Disc: 1
Sinfonia No. 1 in E minor, Op. 39 (1898)
1. I. Allegro, Ma Non Troppo – Allegro Energico
2. II. Andante, Ma Non Troppo Lento
3. III. Scherzo: Allegro
4. IV. Finale: Quasi Una Fantasia (Andante-Allegro Molto)
Concerto para Violino e Orquestra, Op. 47 (1903)
5. I. Allegro Moderato
6. II. Adagio Di Molto
7. III. Allegro, Ma Non Tanto
Nigel Kennedy, violino
City Of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle
Os Nocturnes já tinham sido aqui postados com a gravação do Boulez. La Damoiselle élue é poema lírico baseado em um poema de Dante Gabriel Rosseti e Le Martyre de Saint-Sébastien são fragmentos sinfônicos, em 4 partes. A Orquestra é a Filarmônica de Los Angeles com a regência do sempre competente Esa-Pekka Salonen. As solistas são Dawn Upshaw – soprano – e Paula Rasmussen – mezzo soprano. O Coral é o Women of the Los Angeles Master Chorale. Belíssimo CD, que mostra toda a sensibilidade e delicadeza da música de Debussy. Abraços e boa semana. F.D.P. Bach.
Claude Debussy (1862-1918): Nocturnes, La Damoiselle élue e Le Martyre de Saint Sébastien (Esa-Pekka Salonen, Los Angeles Philharmonic Orchestra)
1. Nocturnes: I. Nuages (Nuvens)
2. Nocturnes: II. Fêtes (Festas)
3. Nocturnes: III. Sirènes (Sereias)
4. La damoiselle élue: Poème lyrique d’après Dante Gabriel Rossetti
5. Le Martyre de Saint Sébastien: I. La Cour des lys. Prelude
6. Le Martyre de Saint Sébastien: II. Danse extatique et Final du 1er Acte
7. Le Martyre de Saint Sébastien: III. La Passion
8. Le Martyre de Saint Sébastien: IV. Le Bon Pasteur
Conductor: Esa-Pekka Salonen
Performer: Paula Rasmussen, Dawn Upshaw, Women of the Los Angeles Master Chorale
Orchestra: Los Angeles Philharmonic Orchestra
A música vocal de Handel é uma das alegrias da vida. Mas este CD não me deixou especialmente tocado. Nada interrompeu minha leitura. OK, o livro que estou lendo — Diante do Manto do Soldado, de Lídia Jorge — é bom demais. Só o Dixit Dominus dividiu minha atenção. Mas a orquestra, coro e solistas são geniais. Deu para notar claramente em quão perfeita forma estavam Kozená e Massis na época da gravação. Eu tenho enorme paixão por Kozená, reconheço sua voz de longe. Gosto também de sua mania de se apresentar tantas vezes sem maquiagem, apesar da idade. As mulheres ficam espantadas quando ela chega na Filarmônica de Berlim com um belo vestido, mas de cara lavada… De resto, futebol é bola na rede.
G. F. Handel (1685-1759): Saeviat tellus / Laudate Pueri / Salve Regina / Dixit Dominus (Minkovski)
Saeviat Tellus Inter Rigores HWV 240: Motetto Per La Madonna Santissima Del Carmine (17:29)
1 “Saeviat Tellus” 5:42
2 “Carmelitarum Ut Confirmet” 0:38
3 “O Nox Dulcis” 6:04
4 “Stellae Fidae” 2:53
5 “Sub Tantae Virginis Tutela” 0:21
6 “Alleluia” 1:51
Laudate Pueri Dominum HWV 237 (16:46)
7 “Laudate Pueri” 3:02
8 “Sit Nomen Domini” 1:57
9 “A Solis Ortu” 1:20
10 “Excelsus Super Omnes” 1:55
11 “Quis Sicut Dominus” 1:43
12 “Suscitans A Terra Inopem” 2:15
13 “Qui Habitare Facit” 1:30
14 “Gloria Patri” 3:04
Salve Regina HWV 241 (12:28)
15 “Salve Regina” 2:55
16 “Ad Te Clamamus” 3:48
17 “Eia Ergo, Advocata Nostra” 3:41
18 “O Clemens, O Pia” 2:04
Dixit Dominus HWV 232 (30:39)
19 “Dixit Dominus” 5:07
20 “Virgam Virtutis” 2:44
21 “Tecum Principium” 2:28
22 “Juravit Dominus” 2:16
23 “Tu Es Sacerdos” 1:30
24 “Dominus A Dextris Tuis” 6:14
25 “De Torrente In Via Bibet” 4:10
26 “Gloria Patri” 6:10
Annick Massis, soprano
Magdalena Kozená, mezzo-soprano, soprano
Sara Fulgoni, alto
Patrick Henckens, tenor
Kevin McLean-Mair, tenor
Marcos Pujol, bass
Les Musiciens du Louvre
Choeur des Musiciens du Louvre
dir. Marc Minkovski
Então, você chega ao PQP Bach e lê: árias para Cuzzoni, de Händel. Não, não pode ser! Esses caras estão de brincadeira! Não, nada de brincadeiras — você adorará as árias para Cuzzoni.
Na verdade, talvez eu devesse escrever: Árias compostas por George Friderich Händel para Francesca Cuzzoni. Francesca foi uma superdiva que juntou-se em 1718 ao London’s Royal Academy of Music. Cuzzoni era tão boa cantora que Händel escrevia coisas cada vez maiores e mais difíceis a fim de analisar suas possibilidades. Mas não pensem que Händel gostava de Cuzzoni. Como toda diva, ela era insuportável a ponto de Händel ter ameaçado lançá-la pela janela, se não cooperasse. A fama de Cuzzoni é atestada pelo grande volume de histórias que sobre ela que chegaram a nós. Ela tinha um ciúme doentio de uma diva rival, Faustina Bordoni, e dizem que costumava desmaiar se ouvisse tal nome. Como era de esperar, Cuzzoni despertou paixões em seu tempo. Ainda hoje… Bem, deixa pra lá.
Simone Kermes tem bela voz e sua Cuzzoni é magnífica. Sem dúvida alguma, este CD vai entrar pros anais de nosso blog PQP Bach!
Georg Friedrich Händel – La Diva – Árias para Cuzzoni
1) Scipione: Scoglio d’immota fronte [5:05]
2) Giulio Cesare: V’adoro pupille [4:39]
3) Giulio Cesare: Piangerò [7:02]
4) Giulio Cesare: Se pietà di me non senti [9:47]
5) Alessandro: No, più soffrir non voglio [4:01]
6) Rodelinda: Ombre, piante (1st Version) [2:24]
7) Rodelinda: Ahi perché, giusto ciel (1st Version) [6:55]
8. Siroe: Or mi perdo di speranza [4:10]
9) Siroe: Mi lagnerò tacendo [6:46]
10) Siroe: Torrente cresciuto [4:19]
11) Tolomeo: Fonti amiche [5:00]
12) Flavio: Amante stravagante [3:36]
13) Riccardo primo: Morte vieni [2:45]
14) Admeto: Io ti bacio [3:15]
Simone Kermes
Lautten Compagney
Wolfgang Katschner
A mezzo-soprano austríaca Angelika Kirchschlager é uma especialista em Handel, Händel ou Haendel. Aqui, ela nos dá uma hora de boas árias, muitas delas raras, principalmente as árias de Ariana em Creta. Estas foram compostas provavelmente para a mezzo-soprano Durastanti ou o castrato Carestini. O CD apresenta não apenas Kirchschlager, mas também a Kammerorchester Basel, em excelente forma. Bom disco, mas nada comparável ao portento que postarei às 16h30.
G. F. Handel (1685-1759): Händel Arien (Kirchschlager)
1) Qui d’amor from Ariodante
2) T’amerò dunque…Con l’ali from Ariodante
3) Scherzo infida from Ariodante
4) Dopo notte from Ariodante
5) Svegliatevi nel core from Giulio Cesare
6) Cara speme from Giulio Cesare
7) L’angue offeso from Giulio Cesare
8. Sdegnata sei from Arianna
9) Oh patria!…Sol ristoro from Arianna
10) Salda quercia from Arianna
11) Qual Leon from Arianna
12) Ove son…Qui ti sfido from Arianna
Muito bom disco. Ernest Chausson foi um compositor francês da era romântica tardia. Foi influenciado por Wagner, Franck e pelo simbolismo. Morreu tragicamente e jovem (44 anos) em um acidente de bicicleta. Dizem que ele morreu afogado numa poça d`água. Ele descia uma ladeira de bicicleta quando perdeu o controle colidindo violentamente contra um muro de pedra, fraturando o crânio. A parte da poça me contaram. Chausson era um ciclista entusiasta e costumava pedalar frequentemente para relaxar. Na época, as bicicletas não tinham freios eficientes ou sistemas de segurança, e os caminhos eram irregulares. Bem, sua obra é marcada por intensidade emocional, harmonias ricas e um estilo entre o impressionismo e o romantismo. Na Sinfonia, nota-se a influência de César Franck (seu professor). A orquestração é densa, dramática e foi mal recebida na estreia (1891), criticada por ser “demasiado germânica” para o gosto francês da época. Hoje é considerada uma obra-prima esquecida do repertório sinfônico francês. Achei-a muito bonita.
Ernest Chausson (1855-1899): Symphony / Poeme / Viviane (Korcia, Kaltenbach)
Symphony in B-Flat Major, Op. 20
1 I. Lent – Allegro vivo – Allegro molto – Plus lent – Allegro scherzando – Moins vite – Allegro molto – Allegro vivo – Allegro molto – Presto 12:40
2 II. Très lent 09:26
3 III. animé – Tres animé – Encore plus animé – Tres animé – Grave – Modéré – Largement 12:09
Poème for Violin & Orchestra, Op. 25
4 Lento e misterioso – Cadenza – Animato – Poco lento – Allegro – Tranquillo 16:27
Symphonic Poem on a Legend of the Round Table, Op. 5, “Viviane”
5 Andante – Allegro – Lent – Andante 11:30
Laurent Korcia, violino
Orchestre Symphonique et Lyrique de Nancy
Jérôme Kaltenbach
Seguimos com as homenagens ao nosso campeão Hermeto Pascoal, o moço de Lagoa da Canoa, que fez sua passagem de volta para as estrelas no último dia 13, deixando a todos nós, ao mesmo tempo, órfãos de sua magnética presença e plenos, cheios, arrebatados pela sua forma de fazer, amar e ser música. Hermeto é um cometa que passou iluminando e encantando tudo.
O disco de hoje é um que já faz tempo que eu queria trazer para o blog, pois é um dos mais inspirados e inspiradores que saíram por essas bandas nos últimos anos. Erika Ribeiro, pianista paulista de Itararé radicada no Rio de Janeiro, onde leciona piano e música de câmara na UNIRIO, é uma artista que carrega adiante esse exercício pleno de liberdade em suas criações. Transita entre fronteiras e repertórios, entre rótulos e séculos, com uma fluidez que parece evocar os velhos mestres de taijiquan de Chenjiagou. Música é música, e isso é tudo. Se tem algo mais Hermeto que isso, desconheço.
Não deixa de haver graça no fato de que uma das definições de “hermético”, segundo o dicionário, é “difícil de entender e/ou interpretar; obscuro, ininteligível”. Se tem algo menos Hermeto que isso, desconheço.
Hermeto Pascoal é (não consigo escrever no passado, tem algo ali de circular, de infinito) música, é a música. Não é nem fácil nem difícil de entender, porque não é de entender. Música a gente ouve, música a gente é. Mas estou divagando, voltemos ao disco.
O texto da contracapa, assinado pelo craque Irineu Franco Perpétuo, abre com uma contextualização muito interessante:
“Nos dias de hoje, as transcrições são um artifício que costuma ser empregado para alargar o repertório de instrumentos que não foram contemplados pelos compositores canônicos da História da Música. Antes da difusão das tecnologias de gravação, contudo, a transcrição era uma prática muito mais disseminada, e até corriqueira no instrumento para o qual esses mesmos ‘compositores canônicos’ mais escreveram – o piano. Virtuoses do teclado transpunham sistematicamente para suas 88 teclas as árias das óperas mais célebres, as obras-primas do repertório sinfônico – ora procurando fielmente reproduzir-lhes a linguagem, ora embelezando-as com os recursos específicos da técnica pianística. Ao propor suas transcrições – retratos em branco e preto de obras escritas para outras formações –, Erika Ribeiro reconecta-nos à chamada Era de Ouro do piano, renovando uma tradição brilhante dentro dos novos parâmetros do terceiro milênio.”
E, mais adiante, sobre a peça de Hermeto:
“Série de arco nasceu de uma curiosa encomenda de Jovino dos Santos Neto, pianista de seu grupo: uma obra que a irmã de Jovino pudesse utilizar em sua coreografia da série de arco de ginástica rítmica. Hermeto e Jovino viram a coreografia da ginasta, cronometraram-na, e daí surgiu a primeira versão da peça, para piano solo. Ao ser gravada, em 1982, no LP Hermeto Pascoal e grupo, a obra teve a instrumentação ampliada, para contemplar o conjunto de Hermeto. Assim, ao executá-la somente ao teclado, Erika como que restaura sua sonoridade original.”
Hermeto Pascoal por Luis Trimano, 1983
Alguns dias depois da morte de Hermeto, Erika muito gentilmente falou com exclusividade ao PQP Bach, contando um pouquinho sobre o nascimento do disco:
Este álbum, a princípio, foi pensado para ser de transcrições para piano solo, autorais, feitas por mim. Eu já estava trabalhando nas canções japonesas (“Três poesias da lírica japonesa”), nas canções russas (“Quatro canções russas”) e no “Epitáfio”, do Stravinsky. Até que um dia, conversando com os produtores do álbum, o Sylvio Fraga e o Bernardo Ramos, falamos sobre como tínhamos que ter um brasileiro no disco, até para dialogar com o Stravinsky. Aí, a gente já pensa no Villa-Lobos, que foi muito influenciado pelo Stravinsky, muito da música dele tem do Stravinsky… Mas eu queria uma coisa menos óbvia. E foi aí que a gente chegou no Hermeto Pascoal, que eu acho que tem tudo a ver com a sonoridade que a gente estava buscando no álbum.
O Hermeto, com essa coisa da música universal, realmente expande os significados da música como a gente compreende, que é muitas vezes estar dentro de algum estilo… O Hermeto realmente criou um estilo musical que pertence a todos os estilos. Então, quando a gente ouve Stravinsky, pode parecer Hermeto, mas quando a gente ouve um forró, também pode parecer… Eu acho que essa pluralidade que ele traz é o que faz com que tanta gente se identifique com a música dele. Não só com a música dele, com as composições, com as invenções musicais, mas também com a maneira dele ser música. O Hermeto personifica essa entidade musical. E eu acho que isso, para qualquer músico, é um pensamento extremamente libertador, porque atiça a nossa criatividade, a nossa intuição. Eu sou uma pessoa super intuitiva, então se eu não estiver conectada à intuição, ou à maneira de como é que eu vou criar um som ali no instrumento, ou naquela sala de concerto, ou naquele momento, as coisas perdem muito o sentido para mim.
Por isso, foi bem natural a escolha do Hermeto Pascoal para figurar neste trabalho, ao lado também da Sofia Gubaidúlina, essa compositora fantástica. Eu sou completamente apaixonada por essa série de “Brinquedos Musicais”, uma série de 16 movimentos, super imagéticos. E tem tudo a ver com o Hermeto. A gente escolheu “Série de arco”, que também é uma peça que o Hermeto criou para uma coreografia de ginástica rítmica da irmã do pianista dele, o Jovino Santos Neto. Então foi isso, o Hermeto foi o que universalizou o álbum, agregou muitos sentidos, muitos significados para essa música. Que eu estava e estou buscando, e continuarei buscando por muito tempo.
Igor Stravinsky (1882-1971) Três poesias da lírica japonesa
I. Akahito
II. Masazumi
III. Tsurayuki
Quatro canções russas
I. Pato (dança de roda)
II. Solo
III. Gansos, cisnes [extraída do ciclo Três histórias para crianças (1917)]
IV. Canção de seita
Hermeto Pascoal (1936-2025)
Série de arco
Igor Stravinsky (1882-1971)
Epitáfio
Sofia Gubaidúlina (1931-2025) Brinquedos musicais
I. Acordeão mecânico
II. Carrossel mágico
III. Trompetista na floresta
IV. Ferreiro-feiticeiro
V. Dia de abril
VI. Canção do pescador
VII. Passarinho chapim
VIII. Urso contrabaixista
IX. Pica-pau
X. Clareira do alce
XI. Trenó de neve com sineta
XII. Eco
XIII. Tamborileiro
XIV. Músicos da floresta
Erika Ribeiro, piano
O bruxo Hermeto no traço do genial Baptistão
Karlheinz
ps: Vocês conhecem a gravadora Rocinante? Conheçam a gravadora Rocinante!
pps: A linda capa é de Tomie Ohtake, mestre absoluta.
Mais um disco em que Barbara Strozzi, junto dos seus contemporâneos, se mostra mais delicada, mais surpreendente, menos previsível. Já tinha acontecido aqui. Este disco ganhou boa parte dos prêmios que poderia ter ganho na mídia inglesa em 2022 e 2023: para a revista da BBC, a voz de Charlston é cheia como um bom vinho rosé, e altamente expressiva, mergulhando nos textos com variedade de timbres… Para a Gramophone, que deu o prêmio de “Concept Album of the Year”, a inteligência do programa é do mesmo nível que sua execução – legatos bem feitos, mudanças de tom que capturam os monólogos de Strozzi e Monteverdi.
A essas resenhas, acrescento a minha apreciação pela gravação: realizada dentro de uma igreja na Escócia, com uma acústica que faz os sons ressoarem um pouco, mas não excessivamente. Assim, nas finalizações de frases, temos o balanço perfeito entre o tom íntimo dos lamentos e certo aspecto um pouco mais grandioso do que o conceito mais moderno de intimidade em um quarto burguês… Ou seja, o ambiente soa perfeitamente adequado para essas obras que datam, em sua maioria, do período inicial do barroco.
Barbara Strozzi (1619-1677), Henry Purcell (1659–1695), Claudio Monteverdi (1567–1643) et al: Árias (Helen Charlston, mezzo-soprano / Toby Carr, theorbo)
1 O lead me to some peaceful gloom
Composed By – Henry Purcell
2:58
2 L’Eraclito Amoroso
Composed By – Barbara Strozzi
5:55
3 Prélude
Composed By – Robert de Visée
1:25
4 Restless In Though
Composed By – John Eccles
4:24
Dido’s Lament
Composed By – Henry Purcell
(3:57)
5 Thy Hand, Belinda
6 When I Am Laid In Earth
Battle Cry
Composed By – Owain Park
(16:51)
7 Boudicca
8 Philomela In The Forest
9 A Singer’s Ode To Sappho
10 Marietta
11 Preludio V
Composed By – Giovanni Girolamo Kapsberger
1:04
12 La Travagliata
Composed By – Barbara Strozzi
4:42
13 Lamento D’Arianna
Composed By – Claudio Monteverdi
9:03
14 Sarabande
Composed By – Robert de Visée
2:12
15 An Evening Hymn
Composed By – Henry Purcell
4:42
O lead me to some peaceful gloom / L’Eraclito Amoroso / Prélude / Restless In Though / Dido’s Lament / Battle Cry
/ Preludio V / La Travagliata / Lamento d’Arianna / Sarabande / An Evening Hymn
Helen Charlston, mezzo-soprano
Toby Carr, theorbo
Recorded on 29-30 October and 1 November 2021 in Crichton Collegiate Church, Midlothian, Scotland, UK
Das três sonatas para piano que Schubert completou em seus últimos meses, a Sonata em dó menor, D. 958, parece lidar mais diretamente com o legado de Beethoven.
Guardem esse nome – Can Çakmur, pianista turco de mão cheia (desculpem o trocadilho…). A primeira vez que vi seu nome foi num disco da série Next Generation, mentorada por Howard Griffiths e que apresenta os concertos de Wolfi Mozart, não apenas os para piano, interpretados por jovens solistas, como Claire Huangci e o próprio Can Çakmur. Ele interpreta o Concerto No. 8, ‘Concerto Lützow’, no primeiro disco da série. Nomes tais como Mélodie Zhao, Jeneba Kanneh-Mason, Aaaror Pilsan, pianistas, além de Johan Dalene, violino, Nicolas Ramez, trompa, e Gabriel Pidoux, oboé, já estão presentes nos outros discos da série.
Mas, a postagem é a propósito de Can Çakmur que tem produzido para a BIS uma série de discos com foco na obra para piano de Franz Schubert. Cada disco da série apresenta peças de Schubert acompanhadas de alguma peça de outro compositor que foi influenciado por ele ou que o tenha influenciado. Eu tenho ouvido esses discos com algum interesse, mas há tantas coisas que chamam a minha atenção no universo da música gravada, que acabei deixando-os na pilha dos que pretendo ouvir mais vezes. No entanto, esse aqui eu achei uma ‘maraviglia’ logo de cara e o ouvi diversas vezes. Tanto gostei que resolvi postá-lo, independentemente de voltar a postar algum outro da série. A Sonata em lá maior é em três movimentos e tem toda a leveza e graciosidade do período clássico. As variações do Ludovico apontam mais para a Sonata em dó menor, D. 958, a primeira das últimas três grandes sonatas, em quatro movimentos. Uma obra prima!
Franz Schubert (1728 – 1828)
Piano Sonata in A Major, D. 664
Allegro moderato
Andante
Allegro
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Variations (32) on an Original Theme in C minor, WoO 80
Trechos da resenha ‘rasga seda’ feita por Patrick Rucker para a Gramophone
Can Çakmur’s ‘Schubert+’ series, begun in 2023 and combining works by Schubert with composers influencing or influenced by him, has now reached its fifth instalment. Here he presents the exquisite A major Sonata of 1819, while Beethoven’s C minor Variations serve as a sort of overture to the first of the three crowning sonata masterpieces of Schubert’s final year.
If the 32 C minor Variations are not Beethoven’s most profound, they nevertheless effectively explore seemingly limitless instrumental textures. […]This is a carefully conceived performance, brilliantly executed.
Schubert’s ‘little’ A major Sonata is only small in comparison to the huge A major Sonata, D959. Here it is given a rhetorically apt, pristine performance of extraordinary beauty and nuance. […]
I don’t know of another performance of D958 that so successfully subordinates Schubert’s occasionally awkward pianistic demands to the grand musical sweep of this monumental work. […]
Finally, one admires most Çakmur’s inerrant kinaesthesia, vibrant, breathtaking, yet somehow always tempered by love for the beauty revealed in his art. Wholeheartedly recommended.
Há muita discussão em torno das opções tomadas por Anne-Sophie Mutter nesta série de gravações das Sonatas Completas para Violino e Piano de Beethoven. Em alguns momentos bem determinados, ela carrega nos vibratos “apaixonados” como se não houvesse amanhã. Em outros, retorna ao normal. O que é lento ficou beeeemmm lento. Gostei muito das interpretações de algumas Sonatas e guardo restrições a algumas coisinhas. Mutter e Orkis passaram um ano dedicados exclusivamente a este repertório, dando concertos e ensaiando. (É óbvio que antes e depois seguiram eventualmente com Beethoven, super-compositor incontornável). O resultado é geral é muito bom. Mas o que surpreende mesmo é a coragem de Mutter de aventurar-se em versões imaginativas de um repertório ultra solidificado em nossas memórias. Se fosse um ser humano menor, gravaria conforme faz o main stream e ganharia rios de dinheiro. Escolheu ser original. Incomodou os conservadores. Acho digno.
O estilo livre adotado caiu muito bem na Sonata Kreutzer, não tem bem na Primavera e maravilhosamente no Op. 30 e 96. Vale a pena ouvir. Nem que seja para depois falar mal.
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Integral das Sonatas para Violino e Piano (Mutter/Orkis)
CD 1
Sonate No. 1 D-Dur Op. 12 No. 1 In D-Major (22:14)
1.1 1. Allegro Con Brio 9:20
1.2 2. Tema Con Variazioni. Andante Con Moto (Var. I-IV) 7:42
1.3 3. Rondo. Allegro 5:10
Sonate No. 2 A-Dur Op. 12 No. 2 In A Major (17:42)
1.4 1. Allegro Vivace 6:50
1.5 2. Andante Più Tosto Allegretto 5:15
1.6 3. Allegro Piacévole 5:37
Sonate No. 3 Es-Dur Op. 12 No. 3 In E Flat Major (19:11)
1.7 1. Allegro Con Spirito 8:38
1.8 2. Adagio Con Molta Espressione 6:12
1.9 3. Rondo. Allegro Molto 4:21
CD 2
Sonate No. 4 A-Moll Op. 23 In A Minor (17:53)
2.1 Presto 9:06
2.2 Andante Scherzoso, Più Allegretto 8:47
2.3 Allegro Molto 5:58
Sonate No. 5 F-Dur Op. 24 “Frühlings-Sonate” (25:22)
2.4 1. Allegro 10:34
2.5 2. Adagio Molto Espressivo 5:57
2.6 3. Scherzo. Allegro Molto 1:22
2.7 4. Rondo. Allegro Ma Non Troppo 7:29
Sonate No. 6 A-Dur Op. 30 No. 1 In A Major (23:48)
3.1 1. Allegro 8:25
3.2 2. Adagio Molto Espressivo 7:07
3.3 3. Allegretto Con Variazioni (I-VI) 8:16
Sonate No. 7 C-Moll Op. 30 No. 2 In C Minor (26:44)
3.4 1. Allegro Con Brio 8:30
3.5 2. Adagio Cantabile 9:09
3.6 3. Scherzo. Allegro – Trio 3:35
3.7 4. Finale. Allegro – Presto 5:30
Sonate No. 8 G-Dur Op. 30 No. 3 In G Major (20:16)
3.8 1. Allegro Assai 6:53
3.9 2. Tempo Di Minuetto, Ma Molto Moderator E Grazioso 9:35
3.10 3. Allegro Vivace 3:48
3.11 Contretanz B-Dur In B Flat Major. Contretanz Es-Dur (12 Contretänze Für Orchester WoO 14: Nos. 4 & 7) 1:50
CD 4
Sonate No. 9 A-Dur Op. 47 “Kreutzer-Sonate” In A Major (43:56)
4.1 1. Adagio Sostenuto – Presto 15:19
4.2 2. Andante Con Variazioni (I-IV) 18:14
4.3 3. Presto 10:23
Sonate No. 10 G-Dur Op. 96 In G Major (29:13)
4.4 1. Allegro Moderato 11:27
4.5 2. Adagio Espressivo 6:11
4.6 3. Scherzo. Allgro – Trio – Coda 1:58
4.7 4. Poco Allegretto – Adagio Espressivo – Tempo I 9:37
Com a confessada intenção de demonstrar como nosso blog é foda, programei um Festival Fasch para hoje. Tá bom, este é um disco com Fasch, mas os próximos três serão exclusivamente de Johann Friedrich. Fasch é bom pra caraglio, vocês verão. E compreenderão que este blog fodão quer apenas lhe dar prazer ao introduzir Fasch em sua vida. Esse CD é da Harmonia Mundi e só o fato de ser com a Camerata Köln já deveria bastar para deixar excitado qualquer pequepiano que se preze. A ligação que há entre estes concertos barrocos é clara: eles estão no mesmo CD. Não há Cristo que vá me convencer da lógica de enfiar Vivaldi, Fasch, Marcello e mano Johann Christian no mesmo saco. OK, Fasch era fã de Vivaldi e de Telemann, que não está no disco… Vão tomar no cu. Mas o disco é do caraglio, repito. Muita atenção para a versão abusiva ma non troppo para o célebre concerto de Marcello. O grupo de músico realmente interpreta oq eu toca. Um tremendo CD!
Festival Fasch: Vivaldi, Marcello, Quantz, J. C. Bach, Fasch: Florilegium Musicale (Camerata Köln)
# Chamber Concerto (“La notte”), for flute or violin, 2 violins, bassoon & continuo in G minor, RV 104
Composed by Antonio Vivaldi
with Cologne Camerata
1. La Notte
2. Fantasmi
3. Il Sonno
4. Allegro
# Concerto for oboe, strings & continuo in D minor, SF. 935
Composed by Alessandro Marcello
with Cologne Camerata
5. Andante
6. Adagio
7. Allegro
# Trio in C
Composed by Johann Joachim Quantz
with Cologne Camerata
8. Affettuoso
9. Alla breve
10. Larghetto
11. Vivace
# Quintet for flute, oboe, violin, cello & keyboard in D major, Op. 22/1, CW B76 (T. 304/6)
Composed by Johann Christian Bach
with Cologne Camerata
12. Allegro
13. Andantino
14. Allegro assai
# Quartet for 2 oboes, obbligato basson & continuo in D minor, FaschWV N:d2
Composed by Johann Friedrich Fasch
with Cologne Camerata
15. Largo
16. Allegro
17. Largo
18. Allegro
# Piccolo (Flautino) Concerto, for piccolo (or recorder/flute), strings & continuo in C major, RV 444
Composed by Antonio Vivaldi
with Cologne Camerata
19. Allegro non molto
20. Largo
21. Allegro molto
Ronald Brautigam, pianista holandês, é um dos grandes pianistas do século XXI. Há algum tempo ele se especializou nos pianofortes (ou fortepianos) construídos como réplicas de intrumentos antigos. Após anos tocando esses instrumentos, ele tem a intimidade, a experiência para saber o que soa bem e o que soa mal nos fortepianos.
Ele gravou uma integral de Beethoven na qual o primeiro CD se inicia com a Sonata Patética (Sonata No. 8 em Dó menor, Op. 13) que começa logo com acordes tão marcantes e com som tão profundamente diferente de um piano Steinway que milhares de ouvintes já se apaixonaram nos primeiros segundos. Logo após esse pacotaço de Beethoven, Brautigam retornou a Mozart, de quem ele já tinha gravado a integral das sonatas, lançamento do ano 2000 que não teve tanta aclamação quanto o seu Beethoven.
A gravação dos concertos foi feita com mais calma e os discos foram sendo lançados separados: alguns já foram postados por FDP Bach. Neste aqui, gravado em Köln em 2012 e lançado em 2014, Brautigam utiliza uma réplica de instrumento feito por Anton Walter (circa 1795). Mozart comprou em 1782 um pianoforte de Walter, que já era um fabricante e vendedor respeitado em Viena desde 1778.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791):
Concerto para Piano nº 18, K 456
Concerto para Piano nº 22, K 482
Ronald Brautigam, fortepiano (after Walter circa 1795)
Die Kölner Akademie, Michael Alexander Willens
Cadenzas: W. A. Mozart (K 456); R. Brautigam (K 482)
PS: Estes discos de Mozart também tiveram os links consertados: Quintetos K 515 e 516 – Talich Qt. (aqui) / Piada musical, K.522 – Barshai, Moscow (aqui)
We are Ensemble Odyssee, and we are eager to share our music with you.
[Frase do livreto]
Bach, assim como vários outros compositores do período barroco, usava peças compostas anteriormente para produzir novas obras, adaptando para outros instrumentos ou combinação diferente de instrumentos, revivendo assim peças que poderiam ficar esquecidas. Esse parece ter sido o caso dos concertos para cravo que ele produziu para as apresentações no Café Zimmermann, em Leipzig.
Este disco sugere um percurso inverso, com arranjos de alguns desses concertos para uma combinação de outros instrumentos solistas e formação camerística. O pequeno número de instrumentos, no entanto, não rouba da música toda a sua grandiosidade e fleuma assim como sua diversidade sonora. Eu adorei tudo, em especial os andamentos, que podem ser perigosamente rápidos no caso dos grupos historicamente informados.
Para fechar o disco, um arranjo do próprio João Sebastião como que para ilustrar que a prática é ‘legítima’ e que a música é verdadeiramente de Bach. Eu diria que nem precisava…
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto in E-Flat Major, after BWV 1053, 169, 49,
(Arr. for Recorder & Orchestra by Andrea Friggi & Anna Stegmann)
[Allegro]
Siciliano
Allegro
Concerto in D Minor, after BWV 1052, 146,
(Arr. for Violin & Strings by Eva Saladin & Andrea Friggi)
Allegro
Adagio
Allegro
Concerto in G Minor, after BWV 1056,
(Arr. for Oboe & Strings by Georg Fritz & Andrea Friggi)
[Allegro]
Largo
Presto
Concerto in F Major BWV 1057, 1049,
(Arr. for Harpsichord, two Recorders & Strings by Johann Sebastian Bach)
[Allegro]
Andante
Allegro assai
Ensemble Odyssee
Anna Stegmann, Georg Fritz, flautas doce
Georg Fritz, Daniel Lanthier, oboés
Hanna Lindeijer, oboé da caccia
Eva Saladin, Ivan Iliev, Tomoe Badiarova, Elise Dupont, violinos
O pessoal do Ensemble Odyssee esperando o início da matinée
“The overall refinement of their musical expression, profound knowledge in the field of historically informed performance practice, flawless intonation and sense of subtle nuances, confirm that Ensemble Odyssee is clearly among the top in its field.” Karel Veverka, Opera Plus 2017
Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a quarta das onze partes de nossa eulogia ao gigante.
– Mais de duzentos milhões de seres humanos falam russo. Só uns poucos tocam bem piano. Não deve ser difícil aprender russo.
Com essa voadora à queima-roupa, recebida como resposta à sua preocupação com o aprendizado do idioma do país ao qual acabara de chegar, Arthur Moreira Lima Júnior foi devidamente apresentado a Rudolf Rikhardovich Kerer (doravante Kehrer), para cuja classe fora designado durante os cinco anos de sua bolsa no Conservatório Pyotr Ilyich Tchaikovsky de Moscou, sob os auspícios do Ministério da Cultura da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, no ano da graça de 1963.
Ao mostrar-lhe a caixa de ferramentas, à maneira do que o famigerado beque Gum faria no Fluminense de quatro décadas depois, Kehrer apresentava o recém-chegado ao modus russicus. No entanto, e por mais dura que imaginássemos a adaptação do carioca bonachão ao planeta soviético, com todas cores tragicômicas das histórias de peixes fora d’água, nosso herói a tirou de letra. Safo, flexível e de ouvido afiado, Arthur Arthurovich transpôs com rapidez as temidas dificuldades de adaptação a território, cultura e idioma. Não tardou para que o novo moscovita estivesse, sob temperaturas dúzias de graus abaixo daquelas de seu habitat, a desfrutar muito a experiência mais decisiva de sua vida – e também, naturalmente, a jogar muita conversa fora po-russki.
Arthur Arthurovich e Rudolf Rikhardovich: sempre no limiar entre a lição e o entrevero.
Enquanto o Brasil marchava para suas décadas de sangue e chumbo, a União Soviética experimentava um minúsculo relaxamento de tensões. Ainda que todas paredes enxergassem, que qualquer moita tivesse muitos ouvidos, e que a Guerra Fria tivesse ebulido com a Crise dos Mísseis do ano anterior, os níveis de paranoia na Moscou de Khruschev eram baixos o suficiente para que a fauna humana vinda do exterior fosse recebida com curiosidade e acolhimento. Ciente de sua posição privilegiada dentro dum regime que controlava todas as instâncias da sociedade, Arthur guardava para si suas críticas e, driblando sensores e censores, aproveitou o que o Regime de melhor tinha a lhe oferecer. O transporte público milagrosamente eficiente e a segurança agradaram-lhe tanto quanto o pervasivo senso de coletividade em tudo e de todos. Mesmo no mítico Conservatório, possivelmente o maior centro formador de músicos do seu tempo, o que em outras paragens seria um ambiente propício a canibalismo entre concorrentes era, na prática, imbuído tão só de camaradagem. Os colegas estudavam juntos, ajudavam-se, retroalimentavam-se, sem vislumbres da competitividade entre pianistas, que Arthur adorava comparar à dos jóqueis nos saudosos páreos da Gávea. Sua maior satisfação, por certo, era com formação holística oferecida aos estudantes. Muito além da Música e de sua História, eles eram instruídos num amplo escopo de disciplinas, da Economia à Política, com doses generosas da doutrina que fundamentava o onipresente Regime. As dezenas de salas do Conservatório vertiam música em todas as vozes e instrumentos, e de suas portas saíam figuras legendárias – gente do naipe de Gilels, de Rostropovich, de Oistrakh – a formarem, por trás delas, novas lendas.
Naquela usina de pianistas em que até os faxineiros assoviavam Rachmaninov, no cerne da então Capital de Todas as Rússias, ninguém o marcaria mais que Rudolf Kehrer. Admirado expoente da Grande Escola Russa, Kehrer incutiu-lhe com eficiência seus fundamentos e prática, que muito divergiam da Escola de Liszt – que fora professor do professor de dona Lúcia Branco – e da Escola Francesa de Mme. Marguerite Long. Os incontáveis arranca-rabos, que Arthur contaria às gargalhadas aos amigos pelo resto da vida, até que foram poucos, se levarmos em conta as culturas e temperamentos diametralmente opostos. Era óbvio ao mestre que o pupilo era uma gema rara, e o talentoso aprendiz sorvia as lições por todas suas terminações nervosas. O resultado não tardou: o pianismo do moço ficou russíssimo, mais russo que os próprios russos (e aqui citamos o crítico e tradutor Irineu Franco Perpétuo, “he outrusses the Russians”). Não perderei tempo tentando convencê-los disso com inda mais verborreia – apenas ouçam, por exemplo, a gravação do Concerto no. 3 de Rachmaninov que incluímos nessa postagem, uma das maiores que existem para essa obra icônica. Ou, talvez, esses Quadros de uma Exposição de Mussorgsky, gravados na Grande Sala do Conservatório de Moscou, seguidos dos Prelúdios de Chopin e de nada menos que OITO peças de bis (porque, sim, recitais mastodônticos são especialidades da Grande Escola Russa)…
… ou esse outro recital-maratona, com duas sonatas de Chopin, a integral de suas valsas, e mais alguns punhados de bis:
Quem ainda não se convenceu poderá mudar de ideia com esse incrível combo Schubert + Barber…
.
.. ou com essa gravação feita pelo próprio Kehrer da plateia, talvez o ponto alto do pianorrussismo de Arthur Arthurovich, com uma Rapsódia Espanhola antológica, a melhor que já ouvi:
Rudolf Rikhardovich, o Estoico, só sorriria uma vez para Arthur. Foi na mesma tarde em que, após concluir os cinco anos de estudos sob sua supervisão, o mais meridional de seus pupilos o recebeu em seu apartamento e lhe tocou a Sonata de Liszt – ao que o mestre, notório por nunca elogiar os alunos, por acreditar que a bajulação era danosa à formação de artistas, então tascou:
– Isso foi muito bonito.
E deve ter sido, pois Kehrer convidou Arthur para ser seu assistente na cátedra de piano. Por três anos, sempre o titular viajava, quem assumia suas classes era um carioca de Estácio que, em russo fluente, ensinava pianistas russos como tocar mais russamente que os próprios russos.
Isso é russo o bastante? Para Arthur, ainda não. Sempre mais atento à voz do povo que às academias, ele receberia sua certidão definitiva junto com outro sorriso difícil de conquistar: o daquela rubicunda babushka que, depois de mais um recital abarrotado, veio cumprimentá-lo com um singelo:
– Artur ― nash!
“Arthur é nosso”. E é deles, sim – tanto quanto orgulhosamente nosso. ❤️
ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes Idealizada por Arthur Moreira Lima Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima
Volume 13: A GRANDE ESCOLA RUSSA
Aleksandr Nikolayevich SCRIABIN (1872-1915)
Das Três Peças para piano, Op. 2:
1 – No. 1: Estudo em Dó sustenido menor
Oito Estudos para piano, Op. 42 2 – No. 1 em Ré bemol Maior: Presto
3 – No. 2 em Fá sustenido menor
4 – No. 3 em Fá sustenido maior: Prestissimo
5 – No. 4 em Fá sustenido maior: Andante
6 – No. 5 em Dó sustenido menor: Affanato
7 – No. 6 em Ré bemol maior: Esaltado
8 – No. 7 em Fá menor: Agitato
9 – No. 8 em Mi bemol maior: Allegro
Dos Doze Estudos para piano, Op. 8: 10 – No. 5 em Mi maior: Brioso
11 – No. 11 em Si bemol menor: Andante
12 – No. 12 em Ré sustenido menor: Patetico
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986 Engenheiro de som: Georgi Harizanov Produção: Nikola Mirchev Piano Steinway & Sons, Hamburgo Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Dumka, Cena Rústica Russa em Dó menor, para piano, Op. 59
13 – Andantino cantabile
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Sonata para piano no. 2 em Ré menor, Op. 14
14 – Allegro non troppo
15 – Allegro moderato
16 – Andante
17 – Vivace
Concerto para piano e orquestra no. 3 em Ré menor, Op. 30
1 – Allegro ma non tanto
2 – Adagio
3 – Alla breve
Arthur Moreira Lima, piano Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional da Polônia Thomas Michalak, regência
Gravação: Katowice, Polônia, 1984 Produção: Thomas Frost
Engenheiro de som: Tom Lazarus
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)
Dos Dez Prelúdios para piano, Op. 23:
4 – No. 4 em Ré maior: Andante cantabile
5 – No. 5 em Sol menor: Alla marcia)
Dos Nove Études-Tableaux, Op. 39:
6 – no. 5 em Mi bemol menor: Appassionato
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986 Engenheiro de som: Georgi Harizanov Produção: Nikola Mirchev Piano Steinway & Sons, Hamburgo Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)
Quadros de uma Exposição, para piano
1 – Promenade [I]
2 – Gnomus
3 – [Promenade II] Moderato commodo assai e con delicatezza
4 – Il Vecchio Castello
5 – [Promenade III]. Moderato non tanto, pesamente
6 – Tuileries (Dispute d’enfants après jeux)
7 – Bydło
8 – [Promenade IV]. Tranquillo
9 – Balé dos Pintinhos nas Cascas
10 – Dois Judeus Poloneses: um rico, outro pobre (Samuel Goldenberg und Schmuÿle)
11 – Promenade [V]
12 – Limoges, le marché (La grande nouvelle)
13 – Catacombæ (Sepulcrum romanum) – Cum mortuis in lingua mortua
14 – Baba-Yaga: A Cabana sobre Pernas de Galinha
15 – A Porta de Bogatyr na Antiga Capital de Kiev
Sergey PROKOFIEV
Transcrição livre para piano de Tatiana Nikolayeva (1924-1993)
Suíte do Conto Sinfônico Pedro e o Lobo, Op. 67
16 – Pedro (Tema com Variações)
17 – O Passarinho
18 – O Pato
19 – O Gato
20 – O Avô de Pedro
21 – O Lobo
22 – O Sexteto Final: Todas as Personagens
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Londres, Reino Unido, 1999 Engenheiro de som: Peter Nicholls Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
As Estações do Ano, Suíte para piano, Op. 37a
1 – Janeiro: Junto à Lareira
2 – Fevereiro: Carnaval
3 – Março: O Canto da Cotovia
4 – Abril: Flor da Primavera
5 – Maio: Noites Brancas
6 – Junho: Barcarola
7 – Julho: O Canto do Ceifeiro
8 – Agosto: Colheita
9 – Setembro: Caça
10 – Outubro: O Canto do Outono
11 – Novembro: Troika
12 – Dezembro: Natal
Pyotr TCHAIKOVSKY
Transcrições de Arthur Moreira Lima (1940-2024)
Quatro Romances para piano 13 – Apenas Um Coração Solitário, Op. 6 No. 6
14 – Ode às Florestas, Op. 47 No. 5
15 – Janela Escancarada, Op. 63 No. 2
16 – Sozinho outra Vez, Op. 73 No. 6
Pyotr TCHAIKOVSKY
Das Seis Peças para piano, Op. 51 17 – No. 6: Valsa Sentimental
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Londres, Reino Unido, 1999 Engenheiro de som: Peter Nicholls Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
“4ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele falou sobre algumas filmagens raras que está encontrando em seu acervo, que incluem seu programa apresentado na Manchete na década de 1980. Depois relembrou o recital de Arnaldo Estrella a que assistiu em Moscou na década de 1960 e do contato que teve com ele nesta época. Mencionou um raro disco que gravou com obras de Chopin em 1969, o que acabou resultando em um convite de Arturo Michelangeli para ser um de seus alunos neste ano, e comentou o motivo que o levou a declinar. Também falou sobre russos célebres que conheceu na época, como Dimitri Shostakovich e Maya Plisetskaya. Depois relembrou recitais e concertos que tocou no Brasil após sua premiação no Concurso Chopin de 1965, incluindo o histórico recital em que tocou pela primeira vez no Theatro Municipal do Rio de Janeiro músicas de Ernesto Nazareth em 1966, anos antes dos discos antológicos que viria a gravar com obras deste compositor. Nesse contexto, falou sobre o contato que teve com o grande pesquisador Mozart de Araújo. Também comentou sobre quando se tornou assistente de Rudolf Kehrer depois que se formou no Conservatório de Moscou, e relembrou outros concursos de que participou na época, como o Concurso de Montreal em 1968, e o Concurso de Leeds em 1969, no qual ficou classificado em 3º lugar, e falou sobre os problemas que houve nesta edição. Também mencionou as vantagens e desvantagens de se tocar o Concerto No. 2 de Chopin em concursos.”
BÔNUS:
Nossa homenagem a Arthur abre vastos parênteses para estender nossa gratidão a seu professor, Rudolf Kehrer (1923-2013), por tudo que compartilhou com nosso herói. Nascido em Tbilisi, capital da Geórgia, Kehrer teve sua trajetória interrompida pela Segunda Guerra Mundial, quando sua família, de origem alemã, foi deportada para o Cazaquistão. Proibido de tocar piano durante o seu exílio, e autorizado a tão-só dedilhar o acordeão, manteve a destreza tanto quanto pôde tocando um teclado falso feito de um pedaço de madeira. Foi somente após a morte de Stalin, em 1953, que conseguiu retomar seus estudos no ainda remoto Conservatório de Tashkent, no Uzbequistão. Em 1961, viu sua carreira de concertista ser enfim lançada após vencer o Concurso de Toda-União em Moscou – cujo vencedor anterior fora também um brilhante pianista de origem alemã, de nome Sviatoslav Richter, e para o qual obtivera, aos 37 anos, a autorização excepcional para competir com pianistas mais jovens. Ainda proibido de se apresentar no Ocidente, assumiu uma cátedra no Conservatório de Moscou e fez muitas gravações para o selo Melodiya que, por muito tempo, só circularam pela sovietosfera. Eu as desconhecia completamente, até encontrar essa enorme coletânea da Doremi. O que ouvi derrubou meu queixo. Apesar da capinha safada, que parece ter sido feita pelo Paint duma babushka, o som é bom, e Kehrer, melhor ainda. Ainda mais que uma máquina de vencer na vida (vide seus retratos, que seriam bastantes para ilustrar todos os verbetes duma Enciclopédia do Estoicismo), ele foi um pianista MONSTRUOSO, tão imenso quanto seu repertório. É ouvir para crer.
CD 1
Johannes BRAHMS (1833-1897)
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Ré menor, Op. 15
Grande Orquestra Sinfônica da Rádio de Moscou
Gennady Rozhdestvensky, regência
Gravado em 1969
Sergei RACHMANINOFF
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Dó menor, Op. 18
Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1963
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Concerto para piano e orquestra no. 21 em Dó maior, K. 467
Orquestra Filarmônica de Moscou
Viktor Dubrovsky, regência
Gravado em 1965
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Concerto para piano e orquestra no.5 em Mi bemol maior, Op. 73 Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1963
Franz LISZT Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi bemol maior, S. 124
Orquestra Filarmônica de Moscou
Viktor Dubrovsky, regência
Gravado em 1965
Sergei PROKOFIEV(1891-1953) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Ré bemol maior, Op. 10
Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1961
Georgy Aleksandrovich MUSHEL (1909-1989) Concerto para piano e orquestra no. 2 em Lá menor
Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1963
Wilhelm Richard WAGNER (1813-1883)
Arranjo de Franz LISZT Abertura de “Tannhäuser”, S.442 (1848)
Gravada em 1961 BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
CD4
Wolfgang Amadeus MOZART Sonata para piano em Lá menor, K. 310
Gravada em 1975
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para piano no. 8 em Dó menor, Op. 13, “Patética” Sonata para piano no. 14 em Dó sustenido menor, Op. 27 no. 2, “Ao Luar”
Gravadas em 1975
Georgy Vasilyevich SVIRIDOV (1915-1998) Sonata para piano
Gravada em 1975
Franz LISZT Estudo Transcendental no. 10 em Fá menor, S. 139 (1852)
Gravado em 1961 Années de Pèlerinage, Livro 2, S. 161 – No. 1, “Sposalizio”
Gravado em 1975
Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952, . Eis o volante Jair Florêncio de Santana, ou, simplesmente, Jair (1929-2014).
Você encontra inspiração em outras coisas além da música?
Talvez três ou quatro anos atrás eu teria dito não, ou dito algo normal, como ler livros ou assistir a filmes, mas hoje me inspiro cada vez mais na minha vida familiar. Meus filhos são muito pequenos e, nessa idade, você precisa de muita paciência, de certa forma, para criá-los e para se criar, e isso ajuda muito com a música. [De uma entrevista com BP]
O primeiro álbum de Bruno Philippe que eu conheci foi a gravação das Suítes para Violoncelo de Bach que eu gostei muito e postei. O disco foi preparado e gravado (como aconteceu com muitos artistas) nos dias da pandemia, período terrível que vivemos e, ao que parece, já é esquecido das gentes. Depois disso ouvi um disco no qual ele toca ao violoncelo acompanhado de piano a Sonata ‘Arpeggione’, de Schubert. Nesta empreitada ele se faz acompanhar do pianista Tanguy de Williencourt. Completando o disco um arranjo para violoncelo e piano da Sonata ‘Kreutzer’ (para violino e piano) de Beethoven. Este disco você pode encontrar aqui. Há um outro disco da dupla Philippe – de Williencourt tocando Brahms/Schumann, este postado pelo nosso highlander colaborador FDP Bach, aqui.
Demorei um pouco para ouvir esse novo disco do Bruno Philippe, pois a quantidade de novidades que quero ouvir é grande e ando também bem ocupado com outras coisas, esses dias. Vocês devem imaginar, os artistas e gravadoras não param de nos enviar álbuns novos e relançamentos esperando que venhamos a apresenta-los aos nossos ávidos leitores e seguidores, devidamente endossados pela nossa ilibada e meritória opinião. Mas, finalmente chegou o dia (ou melhor, a noite) deste maravilhoso disco, que me cativou desde o início, uma pecinha para violoncelo e piano de Fauré, o Romance. Você poderá perceber que o Bruno está em outro patamar no universo dos violoncelistas. Assim como foi o caso da ‘Kreutzer’, no outro disco, temos a belíssima Sonata para Violino de César Franck, em arranjo para violoncelo. Bruno toca também o Concerto No. 1 para Violoncelo de Camille Saint-Saëns e a linda Sonata (essa originalmente escrita) para violoncelo de Poulenc. Atuando como prelúdio, interlúdios e encore, temos mais algumas peças de Fauré e Saint-Saëns. Nas peças para violoncelo e piano, Bruno é acompanhado pelo já nosso conhecido Tanguy de Williencourt e no concerto a orquestra é a Frankfurt Radio Symphony regida pelo maestro Christoph Eschenbach.
Eu achei que o FDP Bach postaria esse disco, mas após ouvi-lo umas três ou quatro vezes nesses últimos dias, achei que vocês não poderiam esperar mais. Se bem que essa postagem está sendo escrita a dois terços passados do mês de agosto do Ano da Graça de 2025 e não sei que dia pode ser hoje, quando a postagem efetivamente indo ao ar do nosso primoroso blog. De uma forma ou de outra, espero que gostem do disco, pelo menos uma fração do que eu gostei…
GABRIEL FAURÉ (1845-1924)
1 | Romance Op. 69 3’34
CÉSAR FRANCK (1822-1890)
Violin Sonata FWV 8
A major / La majeur / A-Dur
(transcription for cello and piano by Jules Delsart)
2 | I. Allegretto ben moderato 6’20
3 | II. Allegro 8’31
4 | III. Recitativo-Fantasia. Ben moderato – Molto lento 7’39
5 | IV. Allegretto poco mosso 6’27
CAMILLE SAINT-SAËNS (1835-1921)
Cello Concerto No. 1 Op. 33
A minor / La mineur / a-Moll
6 | I. Allegro non troppo 6’00
7 | II. Allegretto con moto 5’34
8 | III. Molto allegro 9’07
GABRIEL FAURÉ
9 | Papillon Op. 77 3’07
FRANCIS POULENC (1899-1963)
Cello Sonata FP 143
10 | I. Allegro – Tempo di Marcia 5’56
11 | II. Cavatine 6’13
12 | III. Ballabile 3’28
13 | IV. Finale 6’45
GABRIEL FAURÉ
14 | Après un rêve Op. 7 No. 1 2’57
(transcription for cello and piano)
CAMILLE SAINT-SAËNS
15 | Le Cygne 2’56
(extr. Le Carnaval des animaux – transcription for cello and piano)
Bruno Philippe,cello
Tanguy de Williencourt, piano (1-5, 9-15)
Frankfurt Radio Symphony | Christoph Eschenbach, conducting (6-8)
This enterprising and beautifully recorded programme, combining elements of late-Romanticism with Neo-classicism, provides cellist Bruno Philippe with a suitably wide stylistic range. Indeed, his magnetic playing proves to be a triumph, not least because his approach is self-effacing in allowing the music to speak for itself, thereby creating interpretations that are both natural and subtle. […]
Philippe’s interpretation of Saint-Saëns’s First Cello Concerto revels in its underlying Classical restraint, while offering sufficiently theatrical playing in the bravura passages; the Frankfurt Radio Symphony Orchestra under Eschenbach combines wonderfully precise and expressive playing.
Even more alluring, however, is Poulenc’s Cello Sonata. This underplayed work is exceedingly difficult to make rhythmically neat and expressive – needing performers who are alert to its rapidly changing moods and virtuosic demands. Both artists ensure that every bar sounds amazingly fresh and spontaneous. [Trechos da crítica na revista The Strad]
From the overt Romanticism of Saint-Saëns to the nostalgia-laden modernity of Poulenc, Bruno Philippe takes us on a journey through (almost) a century of French cello music. Alongside Tanguy de Williencourt, he also performs the cello version of Franck’s famous Violin Sonata, one of the absolute peaks of nineteenth-century chamber music. [da página da harmonia mundi]
É mais difícil escrever sobre música instrumental do que música com letra, é mais difícil escrever sobre música improvisada do que sobre música com estrutura bem determinada. É bastante difícil para mim falar sobre Hermeto Pascoal, também por esses motivos, além da sua carreira de camaleão nordestino de berço, carioca nos últimos anos por adoção e universal por vocação. Após o recente fim da sua longa e produtiva vida, vi um portal de notícias dizer que Hermeto deixou “um legado de 75 anos dedicado ao jazz, samba e forró” e em um primeiro momento fiquei puto: forró, samba, é assim que estão rotulando o Hermeto? Mas umas horas depois, dou o braço a torcer. É difícil escrever sobre Hermeto pela caleidoscópica mistura de sons que suas bandas fizeram, mas por outro lado talvez seja fácil: qualquer coisa que se disser vai ter um fundo de verdade. Sim, ele também fez forró.
Na verdade ele já cantou a pedra há muito tempo, em uma entrevista lá em 1972 para a revista Rolling Stone: Eu não gosto de dizer que faço um tipo de música. Porque eu faço questão de não fazer só um tipo de música. Eu quero fazer tudo: baião, rock, jazz, tudo sem uma intenção premeditada de fazer uma coisa específica. Depois ninguém vai dizer que o Hermeto tem um conjunto de baião ou de rock, todo mundo vai dizer que o Hermeto tem um conjunto de música, que para mim é o mais importante. (clique abaixo para expandir)
Então, constatando que tudo que se escreve sobre o bruxo tem boa chance de descrever em alguma medida a sua música, me atrevo a escrever sobre Hermeto Pascoal. Nos seus últimos anos ele manteve uma banda fixa com fiéis escudeiros que já tinham uma comunicação telepática com ele. Aliás, nos anos 1980 a banda também era espetacular, com destaque para o flautista e multiinstrumentista Carlos Malta, como vemos nesse disco postado mais abaixo. Mas voltemos aqui para o Hermeto já octogenário: vi dois shows desse seu último grupo. O primeiro eu vi de perto e me lembro que o solo de chaleira era o momento mais marcante para o público, aquele instante em que se impressionavam e se uniam em atenção unânime tanto os melômanos mais dedicados como o pessoal que estava por acaso naquele evento e sabia bem mais ou menos quem era o velhinho barbudo no palco. Ele tinha esse caráter do absurdo, do exótico que encanta quem normalmente não se preocupa com música instrumental. E quem se preocupa também se encantava com ele, nem preciso explicar os por quês, né?
O segundo show acabou sendo o último dele no Brasil, três meses atrás, no Circo Voador, junto aos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro. Show gratuito e lotadíssimo, não consegui entrar mas, colado à grade externa, foi possível ouvir tudo e ver uns 30% do palco, a parte da esquerda, sobretudo o pianista André Marques. Alguns solos, mesmo sem ver, eram óbvios: de bateria, de sax, etc. E nos momentos mais estranhos e absurdos, era evidente que o bruxo estava tocando. Deixo abaixo esse simplório vídeo que registra mais o ambiente do que a música, mas não deixa de ser histórico esse registro de nove segundos do último show da banda de Hermeto Pascoal no Rio, com gente na fila abaixo dos Arcos até o fim do show tentando entrar.
Terminado esse relato – no qual realmente não consigo botar em palavras as experiências desses dois shows de Hermeto, incompetência que espero justificada – deixo aqui um dos seus discos mais importantes, cheio de improvisos e de sons do cotidiano pois, como dizia Hermeto, “as coisas que fazem parte do meu dia a dia é que ditam meu som”. Em dois momentos do disco, trechos de locutores de futebol servem de base para a música. Aliás, para situar melhor aquele dia na Lapa: poucos minutos antes do início do show, eu chegava atrasado pela Rua Riachuelo e via, em um bar, botafoguenses pularem no momento do gol do Botafogo contra o PSG. Então os torcedores do glorioso podem guardar isso na memória: no mesmo dia dessa vitória improvável, a última aparição em um palco brasileiro desse músico, arranjador e compositor profundamente improvável, nascido em 1936 no município do agreste alagoano que dá nome ao disco.
Hermeto Pascoal e grupo: Lagoa da Canoa, Município de Arapiraca (1984)
Lado A
1. Ilza na feijoada (Hermeto Pascoal)
2. Santa Catarina (Hermeto Pascoal)
3. Tiruliruli (Osmar Santos)
4. Papagaio alegre (Hermeto Pascoal)
5. Vai mais, garotinho (José Carlos Araújo) / decisão do campeonato nacional 1984
6. Monte Santo (Hermeto Pascoal e João Bá)
Lado B
1. Spock na escada (Hermeto Pascoal)
2. Mestre Radamés (Hermeto Pascoal)
3. Aquela coisa (Hermeto Pascoal)
4. Frevo Maceió (Hermeto Pascoal)
5. Desencontro certo(Hermeto Pascoal)