Camargo Guarnieri (1907-1993): “Choro para piano e orquestra” e outras peças para piano – Caio Pagano

Mozart Camargo Guarnieri em sua residência

Este álbum, que guardo como um pequeno tesouro em minha coleção (apenas por uma ligação afetiva e pessoal, sem critérios lá muito objetivos), traz o registro de algumas das composições pianísticas do compositor Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993) na interpretação daquele que talvez seja o intérprete mais natural de suas obras: o paulistano Caio Pagano. É um pequeno mosaico composto por seu opus magnus para piano e orquestra – o Choro, de 1956 – e algumas peças solo, entre elas a Sonatina nº 4 e Em memória de um amigo, dedicada a Caio por ocasião da morte de seu pai.

Dedicado ao pianista Arnaldo Estrella, solista da estreia em 1957, o Choro para piano e orquestra encontrou na interpretação de Caio Pagano uma serenidade fluida, com traquejo para as constantes mudanças rítmicas e sensibilidade melódica para desenho das frases musicais. A obra é um dos melhores exemplos do grande melodista que Camargo Guarnieri foi.

Assim descreveu a obra o professor César Buscacio (UFOP): “No primeiro movimento, Cômodo, em caráter seresteiro, Guarnieri adota o princípio da variação temática. O piano dialoga com a orquestra, atingindo grande expressividade ressaltada pela dinâmica, do pianíssimo ao fortíssimo, para, em seguida, retomar a atmosfera intimista inicial, que encerra o Cômodo e prepara o movimento central, Nostálgico. Esse movimento, inspirado numa melancólica canção sertaneja, é marcado por uma atmosfera obscura provocada por harmonização expressiva e dinâmica muito suave. Uma sentida melodia é introduzida pelo clarinete e, em seguida, reafirmada e ampliada pelo piano. A parte central desse movimento atinge grande dramaticidade no discurso musical, pela densidade da massa orquestral, até voltar a acalmar-se com a retomada do tema inicial e a finalização por uma coda conduzida pelo piano. Já o terceiro movimento, Alegre, evoca o caráter dançante recorrente na música brasileira. Observa-se o predomínio de uma rítmica contundente, na qual o compositor reafirma humor e vivacidade por meio dos ritmos sincopados, e da ênfase na orquestração, que coloca em destaque os instrumentos de metal e percussão.”

Caio Pagano

Entre as peças para piano solo que completam o álbum, gosto especialmente dos seis Ponteios, executados aqui com elegância refinada – o tipo de refinamento que emerge da clareza e da simplicidade, desprovido de qualquer espécie de afetação. Uma concepção pianística que honra a linhagem em que Pagano foi formado: ele foi discípulo de Magdalena Tagliaferro, cujas interpretações eram muito marcadas por essas ideias.

O disco ainda promove um curioso e interessante encontro globalizado: regida pelo norte-americano Paul Freeman, a orquestra que acompanha Pagano no Choro é a Orquestra Sinfônica Nacional Checa. A obra foi gravada, inclusive, na Sala de Concertos da Rádio Nacional em Praga (as peças para piano solo, por sua vez, foram registradas no Arizona, onde Pagano leciona e reside).

Piano music of Camargo Guarnieri

Choro para piano e orquestra
1. Cômodo
2. Nostálgico
3. Alegre

Orquestra Sinfônica Nacional Checa
Paul Freeman, regência
Caio Pagano, Piano

Sonatina nº 4
4. I – Com Alegria
5. II – Melancólico
6. III – Gracioso

7. Dança Negra
8. Ponteio nº 22
9. Ponteio nº 24
10. Ponteio nº 30
11. Ponteio nº 45
12. Ponteio nº 46
13. Ponteio nº 49
14. Em memória de um amigo (dedicada a Caio Pagano)

Caio Pagano, piano

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Karlheinz

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