“Fidelio” deu tanto trabalho e gastura para Ludwig que o mínimo que podemos fazer é lhe dedicarmos um pouco mais de tempo aqui em nossa travessia de sua obra, nesse ano da pandemia, da distopia e do ducentésimo quinquagésimo aniversário do renano.
A gravação que lhes trago hoje é excelente, das minhas preferidas. Difícil haver alguma bola fora com o veteraníssimo Karl Böhm no pódio e um time vocal como o que aqui se escuta. E, apesar de “Fidelio” ser, claro, uma ópera de Beethoven, não é sempre que ela me SOA beethoveniana como uma das sinfonias do mestre. À frente do afinadíssimo instrumento que é a Staatskapelle Dresden, Böhm consegue a proeza, assim como a de domar o portento wagneriano da galesa Gwyneth Jones, uma Leonore impressionante, talvez o melhor emblema sonoro dessa heroína que, na contramão de todas fórmulas folhetinescas, vem ao socorro de um homem destroçado.
Jurássico? Certamente – mas de primeiríssima linha.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Fidelio, ópera em dois atos, Op. 72 Libreto de Joseph Sonnleithner (1805) a partir do romance em francês de Jean-Nicolas Bouilly, posteriormente abreviado por Stephan von Breuning (1806) e editado por Georg Friedrich Treitschke (1814)
1 – Abertura
PRIMEIRO ATO
2 – “Jetzt, Schätzchen, jetzt sind wir allein”
3 – “Armer Jaquino, ich war ihm sonst recht gut”
4 – “O wär ich schon mit dir vereint”
5 – “Marzelline, ist Fidelio noch nicht zuruckgekommen?”
6 – “Mir ist so wunderbar”
7 – “Höre, Fidelio”
8 – “Hat man nicht auch Gold beineben”
9 – ” Ihr könnt das leicht sagen, Meister Rocco”
10 – “Gut Söhnchen, gut”
11 – Marsch
12 – “Drei Schildwachen auf den Wall”
13 – “Ha! Welch ein Augenblick!”
14 – “Hauptmann! Besteigen Sie mit einem Trompeter…”
15 – “Jetzt, Alter, jetzt hat es Eile!”
16 – “Abscheulicher! Wo eilst du hin?”
17 – “Aber Marzelline”
18 – “O welche Lust, in freier Luft den Atem leicht zu heben!”
19 – “Nun sprecht, wie ..” – “Ach Vater, eilt” – “Verwegner”
20 – “Leb wohl, du warmes Sonnenlicht”
SEGUNDO ATO
21 – “Gott! Welch Dunkel hier! – In des Lebens Frühlingstagen”
22 – “Wie kalt ist es in diesem unterirdischen Gewölbe” – “Nur hurtig fort, nur frisch gegraben”
23 – “Er erwacht”
24 – “Euch werde Lohn in bessern Welten”
25 – “Alles ist bereit”
26 – “Er sterbe! Doch er soll erst wissen” – “Vater Rocco! Der Herr Minister ist angekommen” – “Es schlägt der Rache Stunde”
27 – “Meine Leonore”
28 – “O namenlose Freude”
29 – Interlúdio – Abertura “Leonore No.3”
30 – “Heil sei dem Tag, heil sei der Stunde”
Gwyneth Jones, soprano (Leonore)
Edith Mathis, soprano (Marzelline)
James King, tenor (Florestan)
Peter Schreier, tenor (Jaquino) Eberhard Büchner , tenor (prisioneiro I)
Günther Leib, barítono (prisioneiro II)
Franz Crass, barítono (Rocco)
Theo Adam, baixo (Pizarro)
Martti Talvela , baixo (Don Fernando)
Chor der Staatsoper Dresden
Staatskapelle Dresden
Karl Böhm, regência
Aqui está o vídeo da montagem regida por Böhm, com legendas em espanhol.
É ópera filmada, ao estilo de antanho, com todas jurássicas marcações pesadas e carões e bocas. A música, no entanto, é soberba.
Este álbum reúne três nomes – Gustav Mahler, Berliner Philharmoniker e Leonard Bernstein. Reunidos dois a dois, eles estão estampados em centenas de capas de álbuns musicais, mas reunidos simultaneamente em um aparecem aqui esta única vez. Na verdade, em apenas uma ocasião Leonard Bernstein – que era famoso por suas interpretações da música de Mahler – pode reger esta que sempre esteve altíssima na lista das melhores e mais famosas orquestras do mundo. Para nossa sorte, o resultado deste momento foi gravado e aqui temos. Rumores há que von Karajan não permitiria que seus músicos fossem colocados sob o charme, o encanto e a energia de Lennie – que teve uma longa e frutuosa colaboração com algumas orquestras europeias, especialmente com a Wiener Philharmoniker. Este único concerto surgiu do convite feito diretor do Berliner Festwochen e a renda do concerto acabou indo para a Anistia Internacional. O nome do diretor não aparece no livreto do álbum, mas uma busca na net indicou Peter Lilienthal.
Após escrutínio dos anais do PQP Bach, não percebi esta gravação e achei que seria oportuno trazê-las para nossos assíduos seguidores-leitores. A outra motivação para postar esta peça é achar que ela pode nos dizer algo mais neste momento de tanta incerteza, tanta angústia e dor que estamos passando.
O que esta música pode nos dizer hoje? Diz que a angústia e a incerteza, que a brevidade da vida está sempre presente, ontem e hoje, mas que há também beleza. Vocês alguma vez viveram dias mais bonitos do que os que estamos tendo neste outono? O libreto fala de Weltschmerz… Eu considero o primeiro e o último movimento as mais lindas peças que ouvi nestes dias. O primeiro movimento com suas incertezas, oscilações e quase dissonâncias parece um enorme lamento. O último movimento lembra a Canção do Adeus de ‘Das Lied von der Erde’, que encerra esta sinfonia com uma nota de aceitação, de transcendência, na minha opinião. Ouça você e depois me diga!
Uma troca de mensagens aqui no blog trouxe à baila o uso do pianoforte na interpretação das obras (tardias) de Bach. Parece haver uma regra não escrita de que Bach ‘autêntico’ deve ser interpretado ao cravo.
Certamente o cravo, assim como o clavicórdio, eram os instrumentos de teclado mais comuns nos fins do século 17 e início do século 18, mas o interesse de Bach pelos instrumentos musicais era enorme, em particular os instrumentos com teclado (e com muitos teclados). Ele costumava viajar para testar e opinar sobre órgãos e estas ocasiões eram sempre prazerosas.
Mas o tema é pianoforte e já divago. Lembrando, o antecessor do piano foi ‘inventado’ por Bartolomeo Cristofori por volta de 1700. Ele construiu um ‘cembalo che fa il piano e il forte’.
O construtor de cravos e órgãos Gottfried Silbermann soube da invenção de Cristofori por um artigo e construiu sua versão do instrumento. Há um relato de Johann Friedrich Agricola de que em 1736 Johann Sebastian testou um protótipo destes pianofortes de Silbermann. Segundo o relato, Bach teria gostado do instrumento, elogiando seu tom, mas observou uma certa fragilidade no seu registro alto e disse que o instrumento era difícil de tocar. Silbermann era aparentemente bastante suscetível a críticas e teria ficado de mal com Johann Sebastian. Mas depois, com a zanga passada, introduziu mudanças no instrumento, levando em conta as observações feitas por Bach. Estas mudanças devem ter funcionado, pois há registro de que Frederico, o Grande, comprou 15 destes instrumentos. Certamente um deles foi testado por Johann Sebastian em sua visita a Potsdam, onde atuava seu filho Carl Philipp Emanuel. Desta visita resultou a Oferenda Musical, origem dos comentários aludidos no início da postagem.
A propósito disto tudo, revisitei o disco que acabei escolhendo para esta postagem. O mesmo contém dois (maravilhosos) concertos de Johann Sebastian e mais um, de Johann Gottfried Müthel, que representa a música que surgia então, o estilo galante, transição do Barroco para o período Clássico.
Os concertos de Bach são resultado de sua ligação com o Collegium musicum de Leipzig, que foi fundado por Telemann, e cuja direção ele assumiu em 1729. A necessidade de obras para as semanais apresentações do grupo formado principalmente de estudantes, no Café Zimmermann, deu impulso a criatividade e ao poder de arranjador de Johann Sebastian, que meteu algumas de suas antigas obras, como concertos para violino, em novas roupas. Os experimentos feitos no Concerto de Brandemburgo No. 5, no qual um cravo se desgarra do concertino e alça um solo, são agora levados mais adiante e temos os concertos para cravo.
No disco encontramos um representante destas obra, o Concerto para Cravo em ré menor, BWV 1052. Na sequência, o Concerto Triplo, para flauta, violino e cravo, em lá menor, BWV 1044. Nesta gravação o instrumento usado para este concerto de Bach é um pianoforte, modelado em um dos instrumentos de Silbermann. Particularmente tocante é o movimento lento, um Adagio ma non tanto e dolce, que é apresentado como uma peça de câmera pelos instrumentos solistas. Este movimento é uma literal adaptação do movimento lento da Triosonata para Órgão No. 3 em ré menor, BWV 527. Incluímos nos arquivos uma faixa bônus com a interpretação deste movimento pelo organista Christoper Herrick. Para o álbum completo destas Triosonatas, fique atento ao seu distribuidor das postagens PQP-Bachianas mais próximo.
A última peça do disco é um concerto de Johann Gottfried Müthel, que era um jovem músico a serviço do Duque Christian Ludwig II de Meckelenburg-Schwerin. Em 1750, Johann Gottfried ganhou uma licença para estudar composição com Johann Sebastian, que tinha apenas mais alguns meses de vida. As suas composições eram já vistas como peças acadêmicas e antiquadas em relação ao novo estilo galante, típico das obras que seus filhos estavam compondo. De qualquer forma, a insistência de Müthel de estudar com Johann Sebastian o torna uma figura interessante. Ouçam o seu concerto, que aqui é interpretado ao pianoforte, e depois me digam.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto para cravo em ré menor, BWV 1052
Allegro
Adagio
Allegro
Concerto para flauta, violino e cravo em lá menor, BWV 1044 – ‘Concerto Triplo’
Quem conhece “Fidelio” e ouve “Leonore” passa a concordar com os resmungos de Ludwig: reescrever a ópera para o triunfo de 1814 deu mais trabalho que daria escrever uma outra inteira. “Leonore” soa, com efeito, como uma obra diferente. Quem gosta de “Fidelio” tem um choque: a narrativa muito mais lenta, as árias mais cheias de floreios, tudo entremeado por longos diálogos em alemão. “Leonore”, afinal de contas, sempre foi um Singspiel, uma “peça-cantada” no feitio daquelas de Mozart: “O Rapto do Serralho” e, principalmente, “A Flauta Mágica”, o apogeu do gênero, sem o qual, parece-me, “Leonore” não teria sido possível.
Ainda que Fidelio, na trama, seja sinônimo de Leonore – a Leonore de calças, digamos assim -, as diferenças entre as obras são muitas. Elas começam pelo título: “Leonore” era o preferido de Ludwig, que acabou por alterá-lo para “Fidelio” ao estrear a versão definitiva para que não houvesse confusão com outra ópera, da lavra do italiano Ferdinando Paer (1771-1839). A hoje esquecida “Leonora, ossia L’amore coniugale” – que, como já adivinharam pelo título, baseia-se na mesma peça de Bouilly que inspirou a “Leonore” de nosso herói – fez tanto sucesso na época que Beethoven tinha sua partitura e provavelmente a consultou para esboçar sua trama.
Em segundo lugar, mas não menos importante: “Leonore” tem três atos, em lugar dos dois de “Fidelio”. Essa reestruturação consolidou-se já na segunda versão de “Leonore”, cujo texto foi amplamente tosado por Stephan von Breuning, amigo de Beethoven, para o relançamento em 1806. A “Leonore” original, obviamente, é uma ópera mais longa – dura quase meia hora a mais que “Fidelio”, na maioria das gravações. Ela inicia com a abertura que ficou conhecida como “Leonore no. 2” (mais sobre a numeração das aberturas “Leonore” numa postagem vindoura, à qual se segue imediatamente uma ária de Marzelline (“O wär ich schon”), e não o dueto em que ela faz aquela longa D.R. com Jaquino e lhe revela a vontade de se casar com Fidelio. Como se não fosse humilhação bastante para Jaquino, Marzelline prossegue, num diálogo adicional (“Höre Jaquino, ich muß dir rein heraus sagen”), e lhe explica por que não se darão bem juntos, e ele ainda por cima tem que ouvir de Rocco – o homem que quer ter como sogro – que ele não deve se casar por impulso, no trio “Ein Mann ist bald genommen”. As duas peças, que não são ouvidas em “Fidelio”, tornam mais patética a saída pela linha de fundo do pobre Jaquino, e o primeiro ato se encerra – sem o escanteado Jaquino, obviamente – com um trio entre Rocco, Leonore e Marzelline (“Gut, Söhnchen, gut”).
O segundo ato começa com um prelúdio que, por muito tempo, foi associado à música incidental para a peça “Tarpeja” de Christoph Kuffner, para a qual Beethoven também escreveu uma marcha triunfal (WoO 2a). Estudos de marcas d’água sugeriram, no entanto, que ele foi escrito, e com um tanto de pressa, para abrir o segundo ato de “Leonore”, quando o compositor percebeu que o primeiro ato do libreto de Sonnleithner ficara extenso demais e resolveu dividi-lo em dois. Com a passagem da foice que a levaria a tornar-se “Fidelio”, a ópera voltou a ter dois atos e o prelúdio tornou-se supérfluo e foi abandonado na zorra da papelada de Ludwig.
Em seguida, ouve-se talvez o mais belo dos trechos suprimidos da versão final: o dueto entre Marzelline e Leonore (“Um in der Ehe froh zu leben”), em que a primeira fala de casamento enquanto a segunda – que, lembremo-nos, está disfarçada de homem – lamenta estar enganando a moça sonhadora. A ária seguinte de Leonore, “Ach, brich noch nicht”, foi transformada na “Abscheulicher! Wo eilst du hin?” de “Fidelio”: a original é consideravelmente mais longa e virtuosística e, embora pareça-me melhor música, acaba atravancando o fluxo da narrativa. O ato termina com uma peça para Pizarro e o coro (“Auf euch nur will ich bauen”), que também não se ouve em “Fidelio”.
O terceiro e último ato começa com a ária de Florestan na masmorra (“Gott! Welch Dunkel hier!”), com texto modificado: em tom sentimental, Fidelio relembra os bons tempos com Leonore, mas, diferentemente da versão final, não tem qualquer visão em que a imagina vindo em seu resgate. Há também um recitativo (“Ich kann mich noch nicht fassen”) antes do dueto do casal (“O namenlose Freude”) que não se ouve em “Fidelio”. O final de “Leonore” também é diferente, muito mais iracundo: quando Don Fernando propõe que Pizarro seja preso na mesma masmorra em que manteve Florestan, a turba protesta alegando que a punição lhe seria muito branda, ao que Don Fernando decide enviar Pizarro para ser julgado pelo rei. A turba de “Fidelio”, como se percebe, é muito menos vingativa.
Esses tantos cortes, se eliminaram muitas belezas, tornaram a ópera mais concisa e dramaticamente mais efetiva. Por muito tempo considerada o broto de uma grande ópera, ou um “Fidelio” imperfeito, “Leonore” merece ter vida própria. Não achei maneira melhor de apresentá-la a vocês que essa impetuosa versão de René Jacobs, que, além de todos os méritos musicais, acabou também escrevendo os diálogos usados no Singspiel (quem não os quiser ouvir pode programar somente as faixas musicais). O time vocal é competente, muito bem dirigido por Jacobs – ele próprio um cantor de primeiríssima linha -, e os barrocos de Freiburg fazem toda diferença. Há uma atenção ao detalhe e uma verve que garantem o brilho à pérola renegada de Beethoven, que – assim espero – vocês apreciarão tanto quanto eu a adorei.
Sinopse: Florestan é um inimigo pessoal do governador da prisão, Don Pizarro, e homem de confiança do
ministro Don Fernando. Florestan conhece uma falta grave da parte de Pizarro, que o enxerga como uma ameaça. Pizarro quer eliminá-lo, mas, como não pode cometer um assassinado descarado,
ele aprisiona Florestan para que este morra de fome lentamente. Depois de dois anos, Florestan
é declarado morto; apenas sua esposa Leonore está convencida de que ele ainda está vivo. Ela se disfarça de homem e, sob o nome ‘Fidelio’, entra ao serviço do carcereiro Rocco como sua assistente – ela suspeita de que
Florestan está na prisão que Pizarro administra e espera poder libertar o marido.
PRIMEIRO ATO
Marzelline, filha única de Rocco, apaixonou-se por Fidelio e espera que seus sentimentos sejam recíprocos.
Ela rejeita firmemente o casamento proposto pelo carcereiro Jaquino. Rocco também não encoraja
as esperanças de Jaquino a esse respeito. Ele é levado pelo entusiasmo do estranho jovem pelo
trabalho, e ele oferece a Fidelio a possibilidade de se casar com Marzelline. Leonore
tenta manter-se impávida na situação embaraçosa. Rocco diz ao casal que não apenas o amor, mas também dinheiro é importante a vida conjugal. Fidelio exorta seu futuro sogro a acompanhá-lo a uma
masmorra secreta onde Leonore suspeita que seu marido está sendo mantido. Rocco promete obter a autorização de Pizarro para isso.
SEGUNDO ATO
Música marcial anuncia a chegada de Don Pizarro. Ele descobre, por uma carta anônima, que o ministro Don
Fernando, fará uma inspeção sem aviso prévio da prisão, por suspeitar que nela estão vítimas
de arbitrariedade. Pizarro ordena que o guarda toque a corneta assim que o ministro chegar. Pizarro tenta convencer Rocco a executar um plano diabólico – assassinar o prisioneiro secreto. Rocco recusa, mas concorda em cavar um poço em desuso para lhe servir como sepultura. Pizarro então decide
matar Florestan sozinho. Leonore está deprimida pela situação em que se envolveu e que lhe permitiu obter acesso a masmorra, e somente seu amor e a esperança de em breve encontrar o marido lhe darão uma nova coragem. Marzelline força Fidelio a conversar sobre fidelidade e confiança no casamento. Rocco diz a Fidelio que Pizarro concorda com o casamento e pede que Fidelio o acompanhe à masmorra, para cavar uma cova junto com ele.
TERCEIRO ATO
Florestan está definhando numa cela escura, pensando em sua esposa e aguardando a morte, quando Fidelio e Rocco vêm cavar a cova. A princípio, Leonore não reconhece o prisioneiro. Profundamente comovida, ela decide salvar este homem, quem quer que seja. Quando Rocco fala com o prisioneiro, ela reconhece
a voz do marido. Florestan descobre, através de Rocco que Pizarro é o governador desta prisão. Ele tem agora
certeza de que vai morrer e pede que Rocco envie uma mensagem para sua esposa Leonore. O carcereiro recusa, mas por compaixão lhe dá alguns restos de vinho. Fidelio consegue convencer Rocco a permitir que o
prisioneiro um pedaço de pão também. Ao sinal de Rocco, Pizarro entra para realizar o assassinato. Quando está prestes a apunhalar o prisioneiro, Leonore se joga na frente de Florestan para protegê-lo, revela sua verdadeira identidade e mantém o governador afastado apontando uma pistola para ele. Ao mesmo momento, a trombeta sinal anuncia a chegada do ministro. Pizarro foge; Rocco pega a pistola de Leonore e segue Pizarro. Marido e esposa permanecem sozinhos. Sem uma arma, Leonore acha que toda a esperança está perdida. O casal não consegue acreditar no reencontro, mas ainda assim se sente em perigo extremo, porque creem que os gritos de vingança que escutam destinam-se a eles. Eles decidem encarar a morte juntos. Então, acompanhado por Rocco, o ministro aparece na masmorra com Pizarro capturado e a turba.
O ministro deixa Leonore remover as correntes de Florestan, e marido e mulher atiram-se aos braços um do outro. Todos celebram Leonore, o amor conjugal e a busca incessante pela justiça.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Leonore, oder Der Triumph der ehelichen Liebe (Leonora, ou o Triunfo do Amor Conjugal), ópera em três atos, Op. 72 Libreto de Joseph Sonnleithner, baseado em “Léonore, ou L’amour conjugal” de Jean-Nicolas Bouilly
Diálogos por René Jacobs, baseados nas quatro versões do libreto de Sonnleithner e no texto original de Bouilly
1 – Abertura (Leonore no. 2)
PRIMEIRO ATO
2 – Diálogo: „Ich liebe dich, so wie du mich” (Marzelline, Jaquino)
3 – No. 1, Ária: „O wär’ ich schon mit dir vereint” (Marzelline)
4 – Diálogo: „Ich komme zu gar nichts mehr!” (Marzelline, Rocco, Jaquino)
5 – No. 2, Dueto: „Jetzt, Schätzchen, jetzt sind wir allein” (Jaquino, Marzelline)
6 – Diálogo: „Nein, nein und nochmals nein” (Marzelline, Jaquino) – „Schon wieder Krach, ihr Beiden?” (Rocco, Marzelline, Jaquino)
7 – No. 3, Trio: „Ein Mann ist bald genommen” (Rocco, Jaquino, Marzelline)
8 – Diálogo: „Ist Fidelio noch immer nicht zurück, Marzelline?” (Rocco, Jaquino, Marzelline) – „Das hat ewig gedauert” (Marzelline, Rocco, Leonore)
9 – No. 4, Quarteto:„Mir ist so wunderbar” (Marzelline, Leonore, Rocco, Jaquino)
10 – Diálogo: „Es ist klar, sie liebt mich” (Leonore, Rocco, Marzelline)
11 – No. 5, Ária: „Hat man nicht auch Gold beineben” (Rocco)
12 – Diálogo: „Es ist ein mächtig Ding: Das Gold!” (Marzelline, Leonore, Rocco)
13 – No. 6, Trio: „Gut, Söhnchen, gut” (Rocco, Leonore, Marzelline)
SEGUNDO ATO
14 – Alla marcia, ma non troppo presto (WoO 2b)
15- Diálogo: „Hauptmann, ich will drei Schildwachen auf dem Wall” (Pizarro, Hauptmann, Rocco)
16 – No. 8, Ária com coro: „Ha! Welch ein Augenblick!” (Pizarro, Die Wachen)
17 – Diálogo: „Hauptmann, kommen Sie!” (Pizarro, Hauptmann, Rocco)
18 – No. 9, Dueto: „Jetzt, Alter, jetzt hat es Eile!” (Pizarro, Rocco)
19 – Diálogo: „Ich bin zu feige, ihr die Wahrheit zu sagen” (Leonore, Marzelline)
20 – No. 10, Dueto „Um in der Ehe froh zu lebe” (Marzelline, Leonore)
21 – Diálogo: „Komm Fidelio, wir gehen spazieren” (Marzelline, Leonore) – „Wie grausam, dieses liebenswürdige Mädchen” (Leonore)
22 – No. 11, Recitativo e Ária: „Ach, brich noch nicht, du mattes Herz!” (Leonore)
23 – No. 12, Finale: „O, welche Lust, in freier Luft” (Gefangene)
24 – Diálogo: „Nun sprecht, wie ging’s?” (Leonore, Rocco)
25 — „Ach, Vater, eilt!” (Marzelline, Rocco, Jaquino, Leonore, Pizarro, Chor der Wachen)
TERCEIRO ATO
26 – Nr. 13, Introdução e Ária: „Gott! Welch Dunkel hier!” (Florestan)
27 – No. 14, Melodrama e Dueto: “Eiskalt ist es hier!” (Leonore, Rocco)
28 – Diálogo: „Er macht die Augen auf!” (Leonore, Rocco, Florestan)
29 – No. 15, Trio: Euch were Lohn in bessern Welten” (Florestan, Rocco, Leonore)
30 – Diálogo: „Alles ist bereit” (Rocco, Leonore, Florestan) – „Ist alles bereit?” (Pizarro, Rocco)
31 – No. 16, Quarteto: „Er sterbe!” (Pizarro) – Diálogo: „Folge mir Rocco!” (Pizarro) – „Die Waffe hab’ ich mir nehmen lassen” (Leonore)
32 – No. 17, Recitativo e Dueto: „Ich kann mich noch nicht fassen” (Florestan, Leonore)
33 – Diálogo: „Durch welches Wunder gelang es dir” (Florestan, Leonore)
34- No. 18, Finale: „Zur Rache, wir müssen ihn seh’n!” (Chor) – „Zur Rache, zur Rache!” (Chor, Rocco, Florestan, Leonore, Fernando, Jaquino, Marzelline)
Neste período de pouco mais de um ano que venho contribuindo para o PQP Bach minha relação com a música não mudou profundamente, mas certas coisas mudaram. No princípio, as escolhas dos temas e dos conteúdos das postagens refletiam meu gosto pessoal mais sedimentado. Pelo menos assim eu acredito. Com o passar do tempo e das postagens, o que eu ouço recebe alguma influência das possibilidades de futuras postagens. Cada disco que considero ouvir, cada nova gravação ou novo repertório, ganha também a perspectiva de se tornar material para postagem. E preciso dizer, um blog que ostenta mais de 6.000 postagens, acaba exercendo grandes restrições sobre o que postar. Ou seja, já há muita, muita coisa que foi postada pelos colegas que estão a bordo desta nave há muito mais tempo.
O processo de construir uma postagem é um exercício interessantíssimo para mim, pois envolve várias etapas. Acabei construindo uma rotina de decisão do que postar e isso leva em conta o que dizer na postagem. Alto na lista de critérios (nem sempre claros e objetivos) está (é claro) meu gosto pessoal. Eu preciso gostar muito do disco todo para que ele encontre espaço nas minhas postagens. Mas há outras motivações também, tais como as eventuais efemérides, como os 250 anos de Beethoven ou 210 anos de Schumann. Se bem que isso pode puxar a gente um pouquinho além do limite do que é razoável. Até boa música pode fazer transbordar o pote.
Confesso que o que chamou minha atenção para este disco foi o nome da orquestra: A FAR CRY. Minha embotada mente fez uma conexão com as tiras de Gary Larson – The Far Side – que eu adoro. Ele usa constantemente a expressão ‘for crying out loud’ que eu acho irresistível.
A FAR CRY é uma orquestra de câmera formada por jovens músicos de Boston e a colaboração com o pianista Markus Schirmer surgiu de um encontro ocorrido durante uma excursão da orquestra pela Europa. Markus é professor da Kunstuniversität Graz e, por sua vez, visitou a orquestra na primavera de 2012. O disco foi então gravado no tradicional Jordan Hall de Boston.
A combinação do professor e excelente pianista com a jovem orquestra resultou em um disco com dois lindos concertos que Mozart compôs em 1782, pouco depois de sua mudança de Salzburgo para Viena, a Terra do Piano, segundo ele. A parte orquestral é relativamente simples, mas simplicidade em Mozart é sempre elusiva. Prepare-se para uma quase hora de maravilhosa e borbulhante música.
A escolha da Sonata para Igreja, na versão para piano e orquestra, para completar o disco, é explicada no livreto do disco que está nos arquivos.
Esta foi a primeira peça que Markus tocou como solista acompanhado por uma orquestra de câmera quando tinha ainda 11 anos. Ele diz: Que revelação foi ouvir meu próprio instrumento, o piano, mergulhado no maravilhoso som das cordas.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Concerto para piano e orquestra No. 13 em dó maior, K. 415
Allegro
Andante
Allegro
Concerto para piano e orquestra No. 12 em lá maior, K. 414
Allegro
Andante
Allegretto
Sonata para Igreja (arranjada para piano e orquestra) em dó maior, K. 336
Eu tenho um especial ‘soft spot’ pelo concerto em lá maior. O Andante deste concerto foi composto por Mozart tendo em mente o Bach de Londres, que morrera pouco antes. Mozart é assim, capaz de em seus momentos difíceis produzir música da maior beleza.
Um impressionante álbum de músicas novas da pianista / compositora / band leader Carla Bley (84), cujo trio com Andy Sheppard (63) e Steve Swallow (80) está agora em seu 25º ano. Mas a associação é ainda mais antiga: o baixista Swallow — marido de Bley há décadas — gravou pela primeira vez uma música dela em 1961. Então, quando Bley diz Life Goes On, fala de muita vida. Após dois outros álbuns do trio para a ECM, Trios (2013) e Andando el Tiempo (2016), esta gravação, realizada no Auditorio Stelio Molo Studio em Lugano, em maio de 2019, com a produção de Manfred Eicher, assume a forma de três suítes de danças calmas e de musicalidade perfeitas. A peça-título é como um blues estoico, primeiro melancólico e depois esperançoso. Beautiful Telefones, inspirado pela primeira observação de um presidente dos EUA ao entrar no Salão Oval, tem muito do humor e da inteligência sombria de Bley. E Copycat explora como os improvisadores seguem (e imitam) os pensamentos um do outro. O piano de Carla, com suas notas de Monk e Satie, é belamente enquadrado pelo eloquente e elegante baixo de Swallow e pelos sax de Sheppard. Esse trio tem um som coletivo único, refletindo um raro domínio musical. Eu amo Carla Bley e ponto.
.: interlúdio :. Carla Bley (Life goes on)
1. Life Goes On: Life Goes On (6:00)
2. Life Goes On: On (4:47)
3. Life Goes On: And On (4:10)
4. Life Goes On: And Then One Day (9:03)
5. Beautiful Telephones (Pt. 1) (4:36)
6. Beautiful Telephones (Pt. 2) (6:14)
7. Beautiful Telephones (Pt. 3) (6:16)
8. Copycat: After You (5:29)
9. Copycat: Follow The Leader (0:17)
10. Copycat: Copycat (9:52)
Carla Bley: piano
Andy Sheppard: saxofones tenor e soprano
Steve Swallow: baixo
“Originalmente preparado por Joseph Sonnleithner a partir do romance em francês de Jean-Nicolas Bouilly, posteriormente abreviado por Stephan von Breuning e editado por Georg Friedrich Treitschke”.
A convoluta descrição do libreto de “Fidelio” dá uma noção de quanta azia ela causou a Ludwig van Beethoven – o único responsável por sua música. Estreada com fracasso em 1805 sob o título “Leonore” e reencenada no ano seguinte com vários cortes e melhor acolhida, ela só teve êxito em 1814, amplamente reformulada e rebatizada de “Fidelio”. Todas essas roupagens, hoje, encontram-se sob o Op. 72.
Tentar escrever sobre “Fidelio”/”Leonore” aqui no PQP Bach foi uma tarefa considerável até o último aniversário de Ludwig, em dezembro passado, quando o colega Ammiratore fez uma postagem memorável sobre a ópera que a um só tempo pavimentou o caminho para novas publicações sobre “Fidelio” e deixou chinelas no guarda-roupas grandes demais para os infelizes pezinhos que depois as quisessem calçar. Eu, tsc, nem tentarei – limitar-me-ei a apontar que a reformulação, que deu tanto trabalho a Beethoven que ele declarou “preferir ter escrito uma outra ópera”, é preciosa não só pelo valor artístico como também por ser a única obra do período intermediário a ser retrabalhada em sua maturidade artística, e servir assim como material privilegiado para a análise de sua evolução como compositor.
Em relação à “Leonore” original, que compartilharei amanhã, “Fidelio” tem uma narrativa bem menos linear, em virtude do enorme naco de um ato que lhe foi ceifado. A abertura é muito mais concisa que as anteriores, evocando o espírito da obra sem citar-lhe qualquer um dos temas, sem criar a tensão dramática das aberturas para “Leonore” que acabariam invariavelmente contrastando com o levinho dueto inicial. Falando nelas, a chamada “Leonore no. 3” – certamente a mais robusta e dramática de todas as peças que Beethoven escreveu para abrir sua ópera – aparece aqui como um longo prelúdio para a última cena, um expediente adotado por Gustav Mahler para ganhar o devido tempo para os ajustes de cenário, e frequentemente repetido em montagens posteriores da obra.
A gravação que lhes apresento foi feita em Viena, em 1978, com um elenco estelar – começando pelo regente, Leonard Bernstein, que muito gravara com a Filarmônica local durante aquela década, numa colaboração que começara no bicentenário de Beethoven e culminaria com esta montagem de “Fidelio”. Sua leitura um tanto bombástica tem muito vigor e mantém maravilhosamente o pulso durante toda a ópera, muito embora lhe falte por vezes, dentro de seu afã de impressionar – o que não acho um defeito, e sim seu estilo -, alguma atenção ao detalhe. Adoro Gundula Janowitz e, embora sua voz impecável me soe um pouco delicada demais para a voluntariosa Leonore, sua expressividade transmite muito bem os sentimentos conturbados da heroína em sua trajetória na trama. Da mesma forma, o bonito timbre de René Kollo acaba sumindo nos momentos me que sua voz se soma à massa orquestral. Os demais cantores saem-se ainda melhor – Lucia Popp tem elã e doçura como Marzelline, Hans Sotin é um Pizarro emblemático, e a voz calorosa, inconfundível de Dietrich Fischer-Dieskau é tudo o que se esperaria ouvir dum Don Fernando que chega no final para tudo redimir.
O enredo: o nobre espanhol Florestan é preso por um nobre rival (Don Pizarro), depois de descobrir detalhes de seus crimes. Pizarro o mantém clandestinamente na prisão que comanda e espalhou boatos sobre a morte de Florestan.
No Ato I, a trama começa na referida prisão, onde vive o carcereiro (Rocco), que tem uma filha (Marzelline), por quem seu assistente (Jaquino) é apaixonado. Jaquino pede Marzelline em casamento, mas ela lhe diz que não casará com ele porque está apaixonada pelo jovem Fidelio – que, na verdade, é Leonore, esposa de Florestan, que não se convenceu de que seu marido está morto se infiltra entre o pessoal da prisão para descobrir seu paradeiro (“Jetzt, Schätzchen, jetzt sind wir allein“). Quando Jaquino sai, Marzelline descreve sua vontade de tornar-se esposa de Fidelio (“O wär ich schon mit dir vereint”). Seu pai entra, procurando por Fidelio, e que por sua vez entra em cena carregando correntes. Ao conversar com Fidelio, compreende sua discrição como uma atração reprimida por Marzelline. Os quatro juntam-se para falar sobre o amor de Marzelline por Fidelio (“Mir ist so wunderbar”).
Rocco diz a Fidelio que Marzelline poderá casar-se com ele quando Don Pizarro for para Sevilha, advertindo-os de que, se não tiverem como se sustentar, não serão felizes (“Hat man nicht auch Gold beineben”). Fidelio pergunta a Rocco por que este não o permite ajudar nas masmorras, de onde sempre volta exausto. Rocco conta-lhe que, na masmorra mais profunda, onde jamais poderá levá-lo, está um homem a definhar há dois anos. Marzelline pede a Rocco que poupe Fidelio de tanto sofrimento, mas Fidelio afirma-lhe que tem coragem para encará-lo (“Gut, Söhnchen, gut”). Rocco fica sozinho em cena, e ouve-se uma marcha anunciando a chegada de Pizarro e sua guarda. Rocco adverte Pizarro de que o ministro Don Fernando pretende visitar a prisão no dia seguinte para investigar acusações de tratamento cruel de prisioneiros. Pizarro reage dizendo que não pode deixar que Don Fernando descubra o paradeiro de Florestan, que todos consideram morto, e ordena que Florestan seja morto (“Ha, welch ein Augenblick”). Pizarro ordena que haja um toque de trompete para anunciar a chegada de Don Fernando. Oferece, também, dinheiro a Rocco para matar Florestan, o que Rocco recusa (“Jetzt, Alter, jetzt hat es Eile!”). Pizarro diz, então, que ele próprio matará Florestan, e ordena que Rocco faça uma cova no chão da masmorra. Combinam que, assim que a cova estiver pronta, Rocco dará o alarme para que Pizarro vá à masmorra e mate Florestan. Fidelio, ao descobrir os planos de Rocco, angustia-se enquanto planeja resgatar Florestan (“Abscheulicher! Wo eilst du hin? “/”Komm, Hoffnung, lass den letzten Stern”). Jaquino implora novamente a Marzelline para que se case com ele, o que ela outra vez recusa. Fidelio, na busca por Florestan, tenta convencer Rocco a deixar os prisioneiros tomarem sol no jardim. Rocco aceita e distrai Pizarro enquanto os prisioneiros sobem ao jardim. Os prisioneiros alegram-se (“O welche Lust”), mas logo aquietam-se para não serem descobertos. Após encontrar-se com Pizarro, Rocco retorna e conta a Fidelio que Pizarro autorizou o casamento e que Fidelio se junte a ele na masmorra (“Nun sprecht, wie ging’s?”). Rocco e Fidelio preparam-se para descer a masmorra, sabendo que Florestan será morto e enterrado em breve. Fidelio está visivelmente perturbado, e Rocco tenta dissuadi-lo a descer, mas Fidelio insiste. Jaquino e Marzelline entram correndo e dizem para Rocco para fugir, pois Pizarro ficou furioso ao descobrir que os prisioneiros estão no jardim (“Ach, Vater, Vater, eilt!”). Pizarro então chega e exige uma explicação. Rocco responde-lhe que fez a concessão aos prisioneiros em homenagem ao dia de santo do rei da Espanha, e diz que Pizarro deveria guardar sua ira para o prisioneiro misterioso da masmorra. Pizarro manda-o fazer a cova logo e anuncia que os prisioneiros serão novamente recolhidos. Rocco, Leonore, Jacquino e Marzelline, a contragosto, levam os prisioneiros de volta às suas celas (“Leb wohl, du warmes Sonnenlicht”).
O Ato II começa com Florestan, sozinho na masmorra, cantando sobre sua fé em Deus e tendo uma visão de que será salvo por sua esposa Leonore (“Gott! Welch Dunkel hier!”—”In des Lebens Frühlingstagen”). Florestan então cai ao solo e adormece, enquanto entram Rocco and Fidelio para fazer sua cova. Rocco pede a Fidelio para apressar-se (“Wie kalt ist es in diesem unterirdischen Gewölbe!” —”Nur hurtig fort, nur frisch gegraben”). Florestan desperta e Fidelio o reconhece. Quando Florestan descobre que a prisão em que se encontra é a de Pizarro, pede que uma mensagem seja entregue a sua esposa Leonore, mas Rocco diz-lhe que será impossível entregá-la. Florestan implora por um gole de água, e Rocco diz a Fidelio para dá-lo. Florestan não reconhece que Fidelio é Leonore, mas diz que ele será recompensado no além-vida pela boa ação (“Euch werde Lohn in bessern Welten”). Fidelio pede a Rocco para dar um pedaço de pão para Florestan, e Rocco assim lhe permite. Conforme combinado, Rocco dá o alarme para Pizarro, que surge e pergunta se tudo está pronto. Rocco confirma que tudo está pronto e manda Fidelio sair, mas este se esconde. Pizarro revela sua identidade a Florestan, que o acusa de assassinato (“Er sterbe! Doch er soll erst wissen”). Quando Pizarro brande uma adaga, Fidelio interpõe-se entre Pizarro e Florestan e revela que é Leonore, a esposa de Florestan. Quando Pizarro tenta atacá-la com a adaga, Leonore aponta-lhe uma pistola e ameaça atirar. Nesse instante, ouve-se o toque do trompete, anunciando a chegada de Don Fernando. Jaquino entra, acompanhado de soldados, anunciando que o ministro aguarda. Rocco diz aos soldados para escoltarem Pizarro para o térreo. Florestan e Leonore celebram sua vitória, enquanto Pizarro jura vingança, enquanto Rocco demonstra medo sobre o que lhes pode acontecer (“Es schlägt der Rache Stunde”), ao que o casal canta um dueto de amor. No pátio, os prisioneiros e os populares celebram a chegada do dia e da hora da justiça (“Heil sei dem Tag!”). Don Fernando anuncia o fim da tirania. Rocco chega com Florestan e Leonore e pede ajuda a Don Fernando (“Wohlan, so helfet! Helft den Armen!“). Rocco conta como Leonore disfarçou-se de Fidelio para salvar Florestan. Marzelline, que se apaixonara por Fidelio, fica chocada. Rocco descreve os planos de Pizarro, e este é levado à prisão. Leonore livra Florestan de suas correntes, e a turba canta em sua honra, a salvadora de seu marido (“Wer ein holdes Weib errungen”).
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Fidelio, ópera em dois atos, Op. 72 Libreto de Joseph Sonnleithner (1805) a partir do romance em francês de Jean-Nicolas Bouilly, posteriormente abreviado por Stephan von Breuning (1806) e editado por Georg Friedrich Treitschke (1814)
1 – Abertura
PRIMEIRO ATO
2 – “Jetzt, Schätzchen, jetzt sind wir allein”
3 – “Armer Jaquino, ich war ihm sonst recht gut”
4 – “O wär ich schon mit dir vereint”
5 – “Jaquino!” – “Ja, Meister Rocco?”
6 – “Mir ist so wunderbar”
7 – “Höre, Fidelio”
8 – “Hat man nicht auch Gold beineben”
9 – “Ihr habt recht, Vater Rocco”
10 – “Gut Söhnchen, gut”
11 – Marsch
12 – “Drei Schildwachen auf den Wall”
13 – “Ha! Welch ein Augenblick!”
14 – “Hauptmann! Besteigen Sie mit einem Trompeter…”
15 – “Jetzt, Alter, jetzt hat es Eile!”
16 – “Abscheulicher! Wo eilst du hin?”
17 – “Marzelline!” – “Nein, ich will nicht”
18 – “O welche Lust, in freier Luft den Atem leicht zu heben!”
19 – “Nun sprecht, wie ..” – “Ach Vater, eilt” – “Verwegner”
20 – “Leb wohl, du warmes Sonnenlicht”
SEGUNDO ATO
21 – “Gott! Welch Dunkel hier! – In des Lebens Frühlingstagen”
22 – “Wie kalt ist es in diesem unterirdischen Gewölbe” – “Nur hurtig fort, nur frisch gegraben”
23 – “Er erwacht”
24 – “Euch werde Lohn in bessern Welten”
25 – “Alles ist bereit”
26 – “Er sterbe! Doch er soll erst wissen” – “Vater Rocco! Der Herr Minister ist angekommen” – “Es schlägt der Rache Stunde”
27 – “O namenlose Freude”
28 – Interlúdio – Abertura “Leonore No.3”
29 – “Heil sei dem Tag”
Gundula Janowitz, soprano (Leonore)
Lucia Popp, soprano (Marzelline)
René Kollo, tenor (Florestan)
Adolf Dallapozza, tenor (Jaquino) Karl Terkal, tenor (prisioneiro I)
Alfred Šramek, barítono (prisioneiro II)
Manfred Jungwirth, barítono (Rocco)
Hans Sotin, baixo (Pizarro)
Dietrich Fischer-Dieskau, baixo (Don Fernando)
Wiener Staatsopernchor
Wiener Philharmoniker
Leonard Bernstein, regência
Para quem também quiser ver, e não só ouvir o “Fidelio”, eis o vídeo da mesmíssima produção regida por Bernstein em Viena, com quase o mesmo elenco – a notável diferença é Hans Helm no lugar de Dietrich Fischer-Dieskau no papel de Don Fernando
Eis aqui o sexto e último disco da séria Webern´s Complete Works. Devo confessar que minha relação com a música de Webern ainda continua conflituosa. As micro-estruturas que lembram tanto a arte chinesa e japonesa, arte que despreza o excesso e valoriza os detalhes, as delicadezas tão contrárias a minha personalidade de homem ocidental. Pior ainda para um homem da América Latina, acostumado a gritaria e choradeira, a soltar pum alto em pleno jogo do Náutico com um cachorro-quente na mão, e marcas de Ketchup no canto da boca… No entanto há certa agressividade na música de Webern realmente apaixonante. Ouçam as Three Little Pieces for Cello and Piano op. 11 para entender o que estou falando. A obra toda não dura nem 3 minutos, mas a estrutura, dependendo como você “observe”, pode ter infinitas possibilidades. O disco termina com as famosas Variações para Piano op.27, cujo tema (minúsculo) e suas permutações, seguindo com absoluto rigor o procedimento dodecafônico, é a obra mais representativa (popular?!) do mundo weberniano.
Anton Webern (1883-1945): Obra Completa – Disco (6/6)
1 – 2. 2 Pieces for Cello and Piano
3. Movement for Piano
4. Sonatensatz (Rondo) für Klavier (c.1906)
5 – 8. Four Pieces, Op.7 – for violin and piano
9 – 11. Three Little Pieces for Cello and Piano, op.11 (1914)
12. Cello Sonata (1914) – Sehr bewegt
13. Kinderstuck Krystian
14. Piano Piece (1925)
15 – 17. Piano Variations, Op.27
Performed by Gianluca Cascioli, Gidon Kremer, Clemens Hagen, and Krystian Zimerman
Na contracapa do disco desta postagem há um breve texto explicando a ideia geral da escolha do repertório. O texto é apresentado em três idiomas – francês, inglês e alemão. No início de cada versão do texto há uma inscrição em destaque que revela de maneira sutil aspectos do perfil de cada uma destas culturas. A versão em francês começa com a sugestiva frase: Secrets de cuisine (Segredos de cozinha), enquanto a versão em inglês abre com o destaque: Trade secrets (segredos de negócios) e o texto em alemão tem no seu início uma só palavra: Berufsgeheimnisse (Segredos profissionais). A cultura de cada povo revela a sua prioridade…
Além destas mundanas observações antropológicas, o texto nos diz que o repertório do disco consiste de quatro concertos. Dois deles são transcrições feitas por Bach de obras mais antigas (uma transcrição do Quarto Concerto de Brandemburgo e outra do Concerto para dois violinos) e outras duas reconstruções ‘bastante convincentes’ de concertos que conhecemos apenas nas transcrições feitas por Johann Sebastian. Ou seja, dois para lá, dois para cá!
O primeiro concerto no disco é uma reconstrução de um concerto para violino que teria sido a versão original do que conhecemos como o Concerto para cravo em ré menor, BWV 1052. Certamente um dos mais brilhantes da coleção, brilho que é mantido nesta gravação.
Em seguida vem o Concerto para dois cravos em dó menor, BWV 1062, uma transcrição feita por Bach do conhecido Concerto para dois violinos, BWV 1043. A fama do concerto original e da transcrição se deve em grande parte ao maravilhoso movimento lento, espetacular em qualquer das versões que você preferir.
Segue uma outra transcrição feita por Bach, agora o original é o Concerto de Brandemburgo No. 4. A transcrição é principalmente do solo de violino para cravo, ficando mantidas as duas flautas doces, que dão uma sonoridade muito especial e diferenciada a este concerto.
Para encerrar temos uma reconstrução feita a partir do Concerto para dois cravos, BWV 1060, para solo de violino e oboé. Acredita-se que este concerto perdido, e aqui reconstruído, tenha sido na verdade composto em período bem próximo da época das famosas transcrições feitas por Bach, enquanto que os outros concertos originais foram compostos bem antes, quando Bach estava em Cöthen.
Os solistas desta gravação, assim como a Akademie für Alte Musik Berlin, são excelentes. Como a também alemã Freiburger Barockorchester, ela oferece uma boa opção para ouvir música deste período, ao lado das conhecidas orquestras inglesas e francesas. Podemos dizer que elas dão um toque profissional às suas atuações.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto para violino, cordas e contínuo em ré menor, BWV 1052 (Reconstrução da parte de violino original por Midori Seiler)
[Allegro]
Adagio
Allegro
Concerto para dois cravos, cordas e contínuo em dó menor, BWV 1062 (Transcrição do Concerto para dois violinos em ré menor, BWV 1043)
[Allegro]
Andante e piano
Allegro assai
Concerto para cravo, duas flautas doce, cordas e contínuo em fá maior, BWV 1057 (Transcrição do Concerto de Brandemburgo No. 4, em sol maior, BWV 1049)
[Allegro]
Andante
Allegro assai
Concerto para violino, oboé, cordas e contínuo em dó menor, BWV 1060 (de um concerto para dois cravos em ré menor)
Momento ‘My dear teatcher’: Harmonia Mundi’s Violin Concerto, BWV 1052, is about everything one could want from a disc of reconstructed concerti played by a period ensemble — the sound is great and the performances are of such a high standard that it even puts the famous Neville Marriner recordings of similar Bach reconstructions on the defensive.
Quem vem acompanhando esta série conhece o velho expediente quando Ludwig precisava de grana e tinha que atender rapidamente uma encomenda: abrir a canastra de Bonn dela tirar qualquer coisa que pudesse polir para trocar por dindim.
Não foi diferente com o agradável sexteto para clarinetes, trompas e fagotes composto para o Eleitor de Colônia, que tinha um conjunto de sopros em sua sala de banquetes porque acreditava que essa música ajudava em sua digestão. Ludwig requentou-o, já em Viena, para um concerto beneficente em prol de seu amigo, o violinista Ignaz Schuppanzigh. Entre composição e publicação, passaram-se quatorze anos, o que explica o elevado número de Opus para a obra, tão antiquada que chegava a conter um minueto, em plena era dos temperamentais scherzi de Beethoven. O sexteto – elogiado pela crítica da época pelas “ideias novas”, certamente numa ironia com a velhacagem de Ludwig em ressuscitar uma velharia – é extremamente bem composto e deveras melífluo, relembrando a familiaridade do compositor com o meio, com os instrumentos e, principalmente, com as peças que seu ídolo Mozart compusera para os sopros.
Por coincidência, a mesma formação de instrumentos seria usada mais tarde numa obra sem qualquer relação com sexteto: a pequena marcha (WoO 29) que escreveu para o príncipe Esterházy quando o visitou em Eisenstadt, e sobre a qual nada mais sei para lhes escrever.
As peças que completam o disco atestam a breve e bem sucedida carreira de Beethoven como compositor para banda militar. A primeira delas (WoO 18) é a mais famosa de todos: composta para a “Milícia Boêmia” do exército austríaco, ganhou fama com o nome do general prussiano Yorck, é até hoje a primeira a tocada nas cerimônias da Bundeswehr alemã, como marcha oficial de suas tropas de elite. Juntamente com uma outra marcha composta para o regimento de Baden (WoO 19), foi tocada nas festividades de aniversário da imperatriz, a italiana Maria Ludovica, em 1810. Em rápida sucessão seguiram-se a escocesa em Ré (WoO 22), uma outra escocesa em Sol (WoO 23, que nos chegou só em redução para piano), uma polonesa em Ré (WoO 21) e uma marcha em Dó (WoO 20, chamada de “Tattoo” não porque tenha relação com tatuagem – palavra que, assim como “motel“, devo ter sido o primeiro a escrever aqui no PQP Bach – e sim porque este é o nome duma elaborada cerimônia militar acompanhada de música).
Ludwig ainda comporia uma última marcha (WoO 24) em 1816, para atender uma encomenda de “música turca” – o que, na época, não significava música autêntica da Turquia, e sim peças de ritmos bem marcados por pratos e outros exóticos instrumentos de percussão. O sucesso de suas obras marciais levaria ainda, no final de sua vida, a sondagens para tornar-se o compositor oficial das bandas das forças armadas da Prússia, que Beethoven, já severamente enfermo, infelizmente não conseguiu responder.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sexteto em Mi bemol maior para dois clarinetes, duas trompas e dois fagotes, Op. 71 Composto em 1796 Publicado em 1810
Talvez seja esse o melhor disco da série ou, o mais representativo de Webern. Todas as obras neste disco foram escritas para trio ou quarteto de cordas. E neste gênero tão precioso para o ouvinte concentrado, Webern é um mestre supremo. Não há em nenhuma dessas peças, mesmo aquelas quando Webern foi profundamente influenciado por Schoenberg, um momento pouco inspirado. A interpretação afiadíssima do Emerson String Quartet também ajuda muito e ainda não foi superada.
Anton Webern (1883-1945): Obra Completa – Disco (5/6)
1. Slow Movement for String Quartet 1905
2 – 6. 5 Movements for String Quartet, Op.5
7. String Quartet (1905)
8 – 13. 6 Bagatelles for String Quartet, Op.9
14. Rondo for String Quartet (c.1906)
15. Movement for String Trio op.post.
16 – 18. Three Pieces for String Quartet (1913)
19 – 20. String Trio op.20 – 1.
21 – 23. String Quartet, Op.28
A estonteante violinista espanhola Leticia Moreno não é apenas mais um rostinho bonito contratada pela poderosa Deutsche Grammophon. Ao contrário, é uma excepcional musicista, com uma técnica muito apurada, e não teme em encarar o genial Piazzolla neste espetacular CD, lançado em 2017. Mostra ao que veio com muita competência, e principalmente, ainda mais em se tratando do argentino, sensibilidade.
Já discutimos em outras ocasiões que Piazzolla exige sangue, suor e lágrimas. E a espanhola nos deixa literalmente arrepiados com sua performance. Ela conta com a cumplicidade do excelente Andrés Orozco-Estrada, jovem maestro colombiano / austríaco, que vem apresentando um trabalho muito consistente, que aqui está a frente da Filarmônica de Londres, orquestra que dispensa maiores apresentações.
Podemos classificar facilmente este CD como IM-PER-DÍ-VEL. Vale cada minuto de sua audição.
01. Cuatro Estaciones Porteñas – Arr. Desyatnikov Verano Porteño
02. Cuatro Estaciones Porteñas – Arr. Desyatnikov Otoño Porteño
03. Cuatro Estaciones Porteñas – Arr. Desyatnikov Invierno Porteño
04. Cuatro Estaciones Porteñas – Arr. Desyatnikov Primavera Porteña
05. Oblivion (Bandoneon Part Transcribed For Violin)
06. Concierto Para Quinteto (Guitar Part Transcribed For Harp)
07. Adios Nonino (Guitar Part Transcribed For Harp)
08. Le Grand Tango (Arranged For Violin And Piano)
09. La Muerte Del Ángel (Guitar Part Transcribed For Harp)
10. Milonga Del Ángel (Guitar Part Transcribed For Harp)
Leticia Moreno – Violin
Remy van Kesteren – Harp
Pablo Manetti – Bandoneon
Jose Gallardo – Piano
Janne Sakssala – Double Bass
Ennio MORRICONE (1928-2020), em colaboração com Andrea MORRICONE (1964)
Trilha sonora original para o filme “Nuovo Cinema Paradiso” (“Cinema Paradiso”) de Giuseppe Tornatore (1988)
1 – Cinema Paradiso (Main Theme)
2 – Maturity
3 – Love Theme
4 – Childhood and Manhood
5 – While Thinking About Her Again
6 – Cinema On Fire (Extended Version)
7 – Love Theme (2nd Version)
8 – Toto and Alfredo
9 – After The Destruction (Extended Version)
10 – Love Theme For Nata
11 – Visit to the Cinema
12 – First Youth
13 – Four Interludes
14 – Runaway, Search and Ritorno
15 – From American Sex Appeal to the First Fellini
16 – Love Theme (3rd Version)
17 – Projection For Two
18 – Toto and Alfredo (2nd Version)
19 – Bicycle Theme
20 – Visit to the Cinema (2nd Version)
21 – Maturity (2nd Version)
22 – For Elena
23 – Cinema Paradiso – Finals
Foi numa noite bem silenciosa que me apaixonei por este disco com canções para voz e piano de Webern, o quarto volume da série Complete Works. As três primeiras canções (1899-1903) que abrem o disco são surpreendentemente singelas, sem aquele romantismo extravagante e pessimista de Wagner. Para serem curtidas à noite em completa solidão. Logo em seguida temos 8 Early Lieder, escritas ainda por um jovem compositor, mas repletas de um lirismo apaixonante e não tão distantes do que ele iria fazer no futuro. Suas famosas características – economia, abusos de contraponto, pianíssimos quase inaudíveis, ousadias harmônicas – já estão presentes aqui. Já nas canções sobre os poemas de Stefan George, op.3 e op.4, podemos sentir a grande influência do mestre Schoenberg. Há ainda as canções do maduro e original Webern, as op.23 e op.25. Já totalmente dentro do mundo microscópico do compositor. Difíceis, mas instigantes.
Anton Webern (1883-1945): Obra Completa – Disco (4/6)
1 – 3.Three Poems (1899-1903)
4 – 11. 8 Early Lieder (1901-1904)
12 – 14. 3 Lieder
15 – 19. 5 Lieder on poems by Richard Dehmel (1906-1908)
20 – 24. 5 Lieder from “Der siebente Ring” by Stefan George op.3
25 – 29. 5 Lieder on poems by Stefan George op.4
30 – 33. 4 Lieder on poems by Stefan George (1908-1909)
34 – 37. 4 Lieder op.12
38 – 40. 3 Songs from “Viae inviae” by Hildegard Jone op.23
41 – 43. 3 Lieder on poems by Hildegard Jone op.25
Este álbum contém três concertos de três compositores que atuaram num período de transição entre o barroco e o classicismo. Nesta etapa da música os modelos antigos ainda eram praticados, mas a busca pelas novas formas já era evidente. O denominador comum entre estes três compositores é o fato de eles terem sido alunos do grande Johann Sebastian Bach.
A obra de Bach é o apogeu da arte musical praticada até os seus dias, enquanto a obra de seus filhos e a de seus alunos apontam novos rumos. Bach até como professor foi extremamente criativo.
Em uma recente postagem apresentamos um disco com dois concertos de Bach e um concerto para pianoforte de Johann Gottfried Müthel. Aqui temos mais um, interpretado pela mesma solista, porém outra orquestra. Ele esteve pouco tempo em contato com Johann Sebastian, mas certamente havia estudado suas obras.
O compositor do concerto que inicia o disco, Johann Philipp Kirnberger, que tem um cravo como instrumento solista, nasceu em Saalfeld, na Turíngia, e primeiro estudou com Johann Peter Kellner (violino e cravo) e com Heinrich Nicolaus (órgão), que foram por sua vez também alunos de Bach. Depois ele passou um período em Leipzig aprendendo com o próprio Johann Sebastian. Kirnberger obteve sólida formação, pois depois deste período em Leipzig, estudou em Dresden, onde aprendeu o estilo italiano com Pisendel e ópera com Hasse. Ganhou bastante experiência como regente de orquestras na Polônia, onde apurou seu sentido de ritmos. Seu concerto é um primor e já anuncia a nova música que surgia – o estilo galante. O último movimento é particularmente brilhante.
Na outra postagem já mencionamos alguns fatos sobre a formação de Müthel, de como seu patrão, o Duque de Mecklenburg Schwerin – Christian Ludwig II, sabia investir seu dinheiro, enviando o rapaz para estudar com os melhores mestres. Müthel passou seus poucos dias com Bach em Leipzig, depois com Hesse em Dresden, Carl Philipp Emanuel em Berlim e com Telemann em Hamburgo. Em seu concerto, especialmente no movimento lento, podemos apreciar a delicada sonoridade do pianoforte e imaginar o quanto o novo instrumento deve ter impressionado compositores e audiências, naqueles dias.
A mesma romaria de estudos foi seguida por Christoph Nichelmann, estudando com Bach em Leipzig, onde certamente atuou no Collegium musicum ao lado de Carl Philipp Emanuel. Ele também estudou com Telemann e Reinhard Keiser em Hamburgo e com Graun e Quantz em Berlim. Os alemães levam a sério essa coisa de estudar desde há muitos séculos. Nichelmann foi cravista na corte da Prússia, ao lado de Carl Philipp Emanuel, de 1745 até 1755. Suas qualidades de virtuoso estão estampadas no solo do seu concerto neste disco.
O disco é um registro que ilustra o tipo de música produzida no período que o libreto chama de uma época entre épocas, referindo-se à transição entre o barroco e o período clássico.
Johann Philipp Kirnberger (1721 – 1783)
Concerto em dó menor para cravo, cordas e contínuo
Allegro
Adagio
Presto
Johann Gottfried Müthel (1728 – 1788)
Concerto III em sol maior para pianoforte, cordas e contínuo
Non troppo Allegro
Um poco Adagio
Vivace
Christoph Nichelmann (1717 – 1762)
Concerto em mi maior para cravo, cordas e contínuo
Conversava com alguns amigos sobre grandes mestres das canções. E inevitavelmente os nomes foram surgindo: Tom, Chico, Djavan…, Schubert, Schumann, Brahms; mas quando falei sobre canções de Webern, o silêncio foi total. Boa parte das obras de Webern foi dedicada a este gênero musical tão comum nos dois mundos da música (popular e clássica). O alemão passou mais de dez anos só escrevendo canções, isso no seu mais importante período de amadurecimento musical, adotando com grande vigor as ideias dodecafônicas de seu mestre, Schoenberg. Talvez por isso, suas canções estão entre as mais difíceis obras do mestre, e mesmo entre aqueles de estômago forte, poucos se arriscam nessa música tão anti-melódica e árida.
A sensação que tenho é a do trovador dedilhando seu alaúde, cantando aquelas lindas canções de Dowland no pé da janela de sua amada. E de repente, da janela, sai uma mulher similar àquelas de um filme expressionista alemão, cantando canções místicas de sentimento denso e frio. Tão broxante que o trovador assustado se esquece para que veio. Mas não vai embora, uma força mantêm o rapaz no mesmo lugar. Para quem duvida, ouça o disco de Dowland postado pela Clara Schumann e, na seqüência, este terceiro disco de Webern da caixa Complete Works.
Mas não só de canções vive um grande mestre, há importantes obras instrumentais nesse disco, como as Five pieces for Orchestra op.10, aqui Webern utiliza praticamente todos os truques orquestrais existentes na época (trabalha com volume, dinâmica, intervalos, mudanças de ritmos) uma verdadeira aula de composição, e tudo isso em apenas 5 minutos. Um poeta sem rodeios que vai direto ao ponto (como a musa da janela). Outra importante obra é seu Quartet for violin, clarinet, tenor saxophone, and piano, Op. 22 (1928 -1930), música que mistura efeitos timbrísticos praticamente de uma nota a outra. A concentração do músico deve ser absurda. O mesmo acontece com o Concerto for 9 instruments, Op. 24 (1931-1934), obra-prima dedicada ao seu querido mestre, Schoenberg.
Destaco também o belíssimo e desconhecido Piano Quintet (1907), obra que abre este disco. Peça com um único movimento (Moderato), muito influenciada por Brahms, escrita pouco antes da Passacaglia op.1. É para aquele que pensa que está em terreno seguro só por saber que vai ouvir música tonal. Triste engano. A obra é forte e carrega um caráter sombrio angustiante (final arrebatador). Com certeza, mereceria ser o opus 1.
Anton Webern (1883-1945): Obra Completa – Disco (3/6)
1. Piano Quintet op.post. – Moderato
2. “Entflieht auf leichten Kähnen” op.2
3 – 4. 2 Songs op.8 for voice and eight instruments
5 – 9. 5 Pieces for Orchestra, Op.10
10 – 13. 4 Songs op.13 for voice and orchestra
14 – 19. 6 Songs op.14 for voice, clarinet, bass clarient,violin a.cello
20 – 24. 5 Sacred Songs op.15 for voice, flute, clarinet, bass clarinet, trumpet, harp, violin and viola
25 – 29. 5 Canons op.16 for high soprano, clarinet and bass clarinet
30 – 32. 3 Traditional Rhymes op.17 for voice, violin, viola, clarinet and bass clarinet
33 – 35. 3 Songs op.18 for voice, E clarinet and guitar
36 – 37. 2 Songs op.19 for mixed choir accompanied by celesta, guitar, violin, clarinet and bass clarinet
38 – 39. Quartet op.22 for violin, clarinet, tenor saxophone and piano
40 – 42. Concerto op.24 for flute, oboe, clarinet, horn, trumpet, trom- bone, violin, viola and piano
Performed by Berlin Philharmonic Orchestra
Conducted by Pierre Boulez
Não chega a ser um disco que se aprofunde muito na música da imensa família Bach, mas é bom de ouvir. A gente conclui o óbvio: vai tudo mais ou menos agradável até que aparece Johann Sebastian, quando a coisa fica espetacular. O homem era mesmo demais e a comparação de meu pai com seus parentes… Fica mais equilibrado quando a comparação inclui os filhos. Bem, eu sou o bastardo, como sabem. O Musica Antiqua Köln leva tudo com muita classe e elegância. É sempre uma alegria reouvir o pessoal de Goebel. Um bom disco, sem dúvida. A faixa 12, por exemplo, é sensacional! Mas o ponto alto é, obviamente, o JSB no final. Os dois maravilhosos movimentos instrumentais do Oratório da Páscoa foram transformados em concerto, sendo o coral de abertura reorquestrado apenas para instrumentos. Não há absolutamente nenhuma evidência de que este seja um movimento “perdido”, mas o resultado é bastante eficaz e as trompetes e a percussão dão uma esplêndida contribuição.
Bachiana ~ Music by the Bach Family
Johann Ludwig Bach (1677-1731)
01 J.L. Bach: Suite in G – Ouverture 6:13
02 J.L. Bach: Suite in G – Air I 1:58
03 J.L. Bach: Suite in G – Menuet 2:18
04 J.L. Bach: Suite in G – Gavotte 1:24
05 J.L. Bach: Suite in G – Air II 2:27
06 J.L. Bach: Suite in G – Bourrée 1:05
Heinrich Bach (1615-1692)
07 H. Bach: Sonata “a cinque” in C 5:25
08 H. Bach: Sonata “a cinque” in F 4:18
Johann Ludwig Bach (1677-1731)
09 J.L. Bach: Concerto in D – 1. Allegro 3:52
10 J.L. Bach: Concerto in D – 2. Adagio 2:02
11 J.L. Bach: Concerto in D – 3. Allegro 1:28
Johann Christoph Bach (1642-1703)
12 J. Christoph Bach: Aria Eberliniana pro dormente Camillo 16:26
Cyriacus Wilche (? – 1667)
13 Cyriacus: Wilche Battaglia – anno 1659 composta 7:16
Signr. (Singer/Signore) Pagh (before 1672)
14 Sonata & Fantaisie in G minor 7:40
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
15 J.S. Bach: Kommt, eilet und laufet (Easter Oratorio), BWV 249 – “Concerto” in D after BWV 249 – 1. Sinfonia 3:55
16 J.S. Bach: Kommt, eilet und laufet (Easter Oratorio), BWV 249 – “Concerto” in D after BWV 249 – 2. Adagio 3:00
17 J.S. Bach: Kommt, eilet und laufet (Easter Oratorio), BWV 249 – “Concerto” in D after BWV 249 – 3. Allegro 4:46
Musica Antiqua Köln directed by Reinhard Goebel
Solo Harpsichord – Léon Berben
“Un saluto pieno intenso e profondo ai miei figli, mia nuora e i miei nipoti. Spero che comprendano quanto li ho amati”
“Uma saudação intensa e profunda aos meus filhos, minha nora e meus netos. Espero que entendam o quanto os amei”
Ennio MORRICONE (1928-2020)
Trilha sonora original para “Marco Polo”, de Giuliano Montaldo (1982)
1 – Marco Polo (Titoli)
2 – Saluto alla Madre
3 – Nostalgia del Padre
4 – Adolescenza
5 – I Sogni (Versione Estesa)
6 – Il Lungo Viaggio Inizia
7 – I Crociati
8 – Tema di Marco (Morte nel Vento)
9 – Al Santo Sepolcro (Versione Estesa)
10 – Marco Chiede la Sepoltura di Guido
11 – Verso L’oriente (Viaggio)
12 – Marco Polo (Ornuz)
13 – I Mongoli
14 – Marco Polo e i Mongoli
15 – Tema di Marco (Dialogo)
16 – Verso L’oriente (Ripresa Viaggio)
17 – Risceglio Nel Tempo Tibetano
18 – Tema di Marco (Un Nuovo Mondo)
1 – Musica di Corte (Arpe)
2 – Tema di Marco (Nel Palazzo Imperiale)
3 – Festeggiamenti a Palazzo
4 – Una Nuova Civiltà
5 – Canzone di Mai-Li
6 – Tema di Marco (Nuove Sensazioni)
7 – Canzone di Mai-Li (Ripresa)
8 – Musica di Corte (Ripresa)
9 – Ricordo della Madre
10 – Il Sud Brucia
11 – La Città Proibita
12 – Tema di Marco (Nostalgia Di Venezia)
13 – Verso la Grande Muraglia
14 – La Leggenda della Grande Muraglia
15 – Kublai Khan
16 – La Grande Marcia di Kublai
17 – Tema di Marco (Ritorno Verso Casa)
18 – Primo Amore (Finale)
Apesar da música de Webern ser, quase sempre, de curta duração, a tentativa de memorizá-la é dificílima, pois sua música é absurdamente compacta, muita coisa acontece naqueles poucos segundos. Quando ouvi este segundo disco da série Webern´s Complete Works fiz uma tremenda confusão, pois acreditava que ouvia as famosas 5 Pieces For Orchestra, op.10 (1911). Na verdade eu estava ouvindo as 5 Pieces For Orchestra (1913), opus póstumo, enfim uma obra não publicada por Webern e desencavada em 1965 por um musicólogo. Essa peça, aparentemente, não está concluída, movimentos com poucos compassos (14 compassos na quarta peça, por exemplo) e que finalizam de forma brusca. Mas como isso era algo comum na música de Webern fica difícil dizer se a obra está completa ou não. No entanto, já ouvimos um Webern extremamente maduro e conciso. A segunda obra deste disco, 3 Songs for soprano and orchestra (1913), foi escrita na mesma época, e também não recebeu a assinatura final de Webern (sem opus). Canções com poemas do próprio Webern e Stefan George.
Após longo período escrevendo apenas canções, Webern nos apresenta uma composição instrumental, cujo gênero já parecia esgotado, falo da Symphonie op.21 (1926). Obra em dois movimentos e de beleza matemática mais próxima de Bach que de Haydn. No segundo movimento, com 7 variações e uma coda, Webern faz uso de palíndromos, ou seja, uma música perfeitamente simétrica que tanto pode ser lida de trás pra frente ou de frente pra trás. Exemplos de palíndromos são muitos, cito alguns exemplos que pesquei por aí:
“Socorram-me em Marrocos”
“Eva, asse essa ave.”
“Até cubanos metem só na buceta.”
Enfim, Webern tinha uma forte ligação com as estruturas simétricas que eram muito comuns na música renascentista e barroca. Engraçado que um músico tão moderno fosse quase arcaico nas suas concepções. Prova disso são suas duas cantatas com textos que misturam cristianismo com panteísmo, todos escritos por sua amiga Hildegard Jone. A celebrada Kantate n.2 op.31 (1944) foi sua última obra como também a mais longa de sua carreira (15 minutos, mais ou menos), escrita para soprano, baixo, coro, uma gama enorme de instrumentos de sopro, celesta e cordas.
Um disco excepcional. Ainda inclui as complexas Variations for Orquestra op.30, música que mereceria uma audição com partitura. Estou convencido que a música de Webern nunca será totalmente percebida apenas com o ouvido. Essa mistura quase impossível entre música cerebral e do coração, tão perfeitamente ajustada na música de Bach, ainda é impenetrável para o grande público e mesmo para os ouvintes mais concentrados. Ainda me questiono se Webern conseguiu alcançar tão difícil combinação.
Anton Webern (1883-1945): Obra Completa – Disco (2/6)
1. 5 Pieces for Orchestra (1913) – 1. Bewegt
2. 5 Pieces for Orchestra (1913) – 2. Langsam (sostenuto)
3. 5 Pieces for Orchestra (1913) – 3. Sehr bewegte Viertel
4. 5 Pieces for Orchestra (1913) – 4. Langsame Viertel
5. 5 Pieces for Orchestra (1913) – 5. (Alla breve)
6. Three Orchestral Songs for Voice and Orchestra (1913/14) – 1. Leise Düfte (Poem by Webern) 7. Three Orchestral Songs for Voice and Orchestra (1913/14) – 2. Kunfttag III. “Nun wird es wieder Lenz” (Poem by Stefan George)
8. Three Orchestral Songs for Voice and Orchestra (1913/14) – 3. O sanftes Glühn der Berge (Poem by Anton Webern)
9. Symphony, Op.21 – 1. Ruhig schreitend
10. Symphony, Op.21 – 2. Variationen
11. Das Augenlicht (The Light of the Eye) op.26
12. I. Kantate op.29 for soprano, mixed chorus and orchestra – 1. Getragen – Lebhaft. “Zündender Lichtblitz des Lebens” (Chorus)
13. I. Kantate op.29 for soprano, mixed chorus and orchestra – 2. Leicht bewegt “Kleiner Flügel Ahornsamen” (Soprano)
14. I. Kantate op.29 for soprano, mixed chorus and orchestra – 3. Ruhig “Tönen die seligen Saiten” (Chorus & Soprano)
15. Variations for Orchestra op.30
16. II. Kantate op.31 for soprano solo, bass solo, mixed chorus and orchestra – 1. Sehr lebhaft – Ruhig “Schweigt auch die Welt” (Basso)
17. II. Kantate op.31 for soprano solo, bass solo, mixed chorus and orchestra – 2. Sehr verhalten “Sehr tief verhalten innerst Leben” (Basso)
18. II. Kantate op.31 for soprano solo, bass solo, mixed chorus and orchestra – 3. Sehr bewegt “Schöpfen aus Brunnen des Himmels” (Chorus & Soprano)
19. II. Kantate op.31 for soprano solo, bass solo, mixed chorus and orchestra – 4. Sehr lebhaft “Leichte Bürde der Bäume” (Soprano)
20. II. Kantate op.31 for soprano solo, bass solo, mixed chorus and orchestra – 5. Sehr mässig “Feindselig ist das Wort” (Chorus & Soprano)
21. II. Kantate op.31 for soprano solo, bass solo, mixed chorus and orchestra – 6. Sehr fliessend “Gelockert aus dem Schosse” (Chorus)
Performed by Berlin Philharmonic Orchestra
Conducted by Pierre Boulez
Eu descobri a importância cultural de artistas do calibre de Elizete Cardoso — cujo centenário de nascimento é comemorado hoje — pelos olhos e pelos comentários, mas principalmente pelo interesse que por eles tinha meu amigo islandês. Em uma de minhas vidas passadas tive um amigo islandês que adorava o Brasil. Ao ponto de, enquanto estudava alta Matemática na Alemanha, também fazia um curso de Português. É verdade que estudavas com nossos patrícios, o que lhe deixou uma mistura de sotaques que chegava a nos fazer chorar de tanto rir. Era rrrorrível…. Somos assim, certas coisas nossas só apreciamos devidamente quando são vistas pela perspectiva de outros, os outsiders.
Temos aqui, não sei por quanto tempo, a postagem de um disco comprado na megastore da Tower Records que fica no 214 S Wabash Avenue, Chicago, próxima do Art Institute. O disco reúne nomes da mais alta linhagem da arte musical brasileira, que é reconhecida e apreciada nos mais estranhos e inusitados cantos do mundo. Que ele também encontre um cantinho em seu pen-drive com a inscrição ‘GoldenCDs’ ou o equivalente de seu próprio uso.
Canção do Amor Demais
Elizete Cardoso
Chega de Saudade
Serenata do Adeus
As Praias Desertas
Caminho de Pedra
Luciana
Janelas Abertas
Eu Não Existo Sem Você
Outra Vez
Medo de Amar
Estrada Branca
Vida Bela
Modinha
Canção do Amor Demais
Elizete Cardoso
A.C. Jobim, arranjos, regência e piano
João Gilberto, violão
Irany Pinto, violino e arregimentador
Nicolino Copia, flauta
Gaúcho e Maciel, trombones
Herbert, trompa
Vidal, contrabaixo
Juquinha, bateria
Sete violinos, duas violas e dois violoncelos anônimos
Anton Webern é o nome que sempre aparece quando o assunto é música moderna. Sua importância é indiscutível. Ele junto com Schoenberg e Alban Berg foram os criadores da música dodecafônica ou serial. Mas apesar do laço forte entre os três, é possível perceber características peculiares e caminhos distintos entre eles. Cada um deixou uma marca pessoal em suas obras. Nem por isso Webern é tão apreciado ou admirado como seus dois colegas. Poucos ouvem Webern, e muitos desses ouvem por obrigação.
Com o tempo e a boa vontade Webern começa a ser ouvido e executado nas salas de concertos. Mas realmente o ouvinte deve ser prevenido que não é tarefa fácil apreciar a música desse compositor. Ela é compacta e cortante como uma navalha. Onde, muitas vezes, perder um detalhe é perder o movimento inteiro de uma obra. Por isso apresento as obras completas de Anton Webern para que vocês mesmos avaliem esse compositor. Como virei torcedor de sua música, trago aqui seu mais competente advogado: Pierre Boulez.
Esta é a segunda integral realizada por Boulez. Alguns preferem a primeira versão (3 cds da Sony), acham mais empolgante (eu tenho essa versão, e não viveria sem ela). Mas essa segunda versão é tão boa quanto a primeira, e tem a vantagem de possuir uma qualidade de gravação melhor, além disso, essa integral tem as obras de juventude (aquelas sem opus). Desta maneira, a integral passa a ter 6 cds que pretendo postar aqui de maneira vagarosa para que os ouvintes julguem com cuidado.
O primeiro disco começa com a obra mais empolgante de Webern, a Passacaglia para orquestra op.1 (1908). Talvez a obra mais executada e gravada do mestre junto com Piano Variations op.27. Por incrível que pareça uma das melhores versões dessa obra é a de Karajan com a Filarmônica de Berlim. Mas esta versão de Boulez, também com a Filarmônica de Berlim, é genial pela transparência. Todos sabemos que Boulez é mestre em apresentar todos os detalhes de uma obra, mesmo que muitas vezes isso sacrifique a espontaneidade. Mas no caso de Webern, essa maneira de Boulez é perfeita. Como veremos, Webern escreveu muitas obras antes de sua Passacaglia. Obras de juventude, pouco originais. Como é o caso da última obra deste cd – Im Sommerwind (1904). Obra orquestral fortemente influenciada por Richard Strauss. O interessante é que essa simpática peça, desprezada pelo próprio Webern, tem sido regularmente executada.
A outra importante peça deste disco e que, podemos dizer, a primeira grande obra que caracteriza a forma econômica e concisa de Webern são as 5 movimentos para quarteto de cordas op.5 de 1909. A versão deste primeiro cd é o arranjo feito pelo próprio compositor em 1929 para orquestra de cordas. Mesmo assim não perdemos a nitidez dos timbres e texturas experimentadas por Webern na versão para quarteto de cordas.
Ainda em 1909 Webern escreveu outra obra de grande importância – as 6 peças para orquestra op.6. Claro que aqui a grande influência vem das 5 peças orquestrais de Schoenberg, pelas quais Webern tinha grande admiração. Mas não se enganem, Webern já tinha voz própria mesmo com seus 26 anos de idade. Às vezes penso que Schoenberg foi muito mais um parceiro que mestre dos dois outros compositores da Segunda Escola de Viena, acho que esse papel cabe mais a Mahler. Tanto a op.5 como a op.6 merecem silêncio absoluto e total concentração do ouvinte.
Esse primeiro disco é mesmo muito cativante. É impossível passar por ele e desprezar o que virá pela frente. Além das obras chaves e de juventude, temos um grande exemplo do poder de imaginação de Webern – a transcrição da fuga a 6 vozes da Oferenda Musical de Bach. Aqui Bach não é mais um compositor barroco. Sua música abstrata e complexa é levada pelas mãos de Webern para o modernismo. É, sem dúvida, a transcrição mais celebrada junto com os quadros de exposição de Ravel.
Para fechar o disco algumas transcrições da Danças Alemãs de Schubert feitas por Webern em 1931. Mas aqui o compositor não coloca cores diversas da leveza e simplicidade das peças originais.
Anton Webern (1883-1945): Obra Completa – Disco (1/6)
1. Passacaglia for Orchestra op.1
2 – 6. 5 Movements for String Quartet, Op.5
7 – 12. Six pieces for orchestra, Op.6 – Original version (1909)
13. Musical Offering, BWV 1079 – Transcription: Anton Webern – Fuga (Ricercata) a 6 voci Berliner Philharmoniker
14 – 15. Six German Dances, D820 – orch. Anton Webern – No. 1 – 3
16. Im Sommerwind
Performed by Berlin Philharmonic Orchestra
Conducted by Pierre Boulez
Reinhard Goebel é o máximo. Ex-aluno de Franzjosef Maier, foi o fundador — em 1973 — e principal violinista do esplêndido Musica Antiqua Köln, conjunto de música barroca historicamente informada que foi dissolvido pelo próprio fundador em 2007. Ele é outro adicto em Bach. Seu eu sou obcecado por Johann Sebastian e seus filhos Wilhelm Friedemann e Carl Philipp Emanuel Bach, ele é por toda a família. E não para de gravar discos dedicados à obra de todos os Bach. Este aqui é o quarto CD capitaneado por Goebel que conheço e que tem esta ideia. Fica claro que nenhum familiar chega próximo das alturas de J. S., que W.F. e C.P.E, foram geniais, mas não eram Deus como o pai e que o resto da família nem seria conhecida se não fosse Johann Sebastian. Mas Goebel ama todo mundo e não para. Ainda bem. Goebel, por favor, não pare de tentar nos convencer do contrário, OK?
C.P.E. Bach / J.C.F. Bach / W.F. Bach / J.S. Bach: Cantatas of the Bach Family (Goebel / Berliner Barock Solisten)
Carl Philipp Emanuel Bach
01. – Ich bin vergnügt mit meinem Stande, Wq. deest: No. 1, Ich bin vergnügt mit meinem Stande
02. – Ich bin vergnügt mit meinem Stande, Wq. deest: No. 2, Im Schweiße meines Angesichts
03. – Ich bin vergnügt mit meinem Stande, Wq. deest: No. 3, Lieber Gott, es ist das Deine
Carl Philipp Emanuel Bach
04. – Symphony in F Major, Wq. deest: I. Allegro
05. – Symphony in F Major, Wq. deest: II. Adagio
06. – Symphony in F Major, Wq. deest: III. Allegro assai
Johann Christoph Friedrich Bach
07. – Pygmalion, Wf XVIII:5: No. 1, Abgöttin meiner Seele!
08. – Pygmalion, Wf XVIII:5: No. 2, Ihr Götter welche Phantaseyn!
09. – Pygmalion, Wf XVIII:5: No. 3, Nicht taub, nicht fühllos, nein
10. – Pygmalion, Wf XVIII:5: No. 4, Ach, dass mein irdisch Ohr nicht fähig ist
11. – Pygmalion, Wf XVIII:5: No. 5, Ach, es muss ein Teil der Gottheit
12. – Pygmalion, Wf XVIII:5: No. 6, O Venus! Saturnia! Bracht ich nur dir
13. – Pygmalion, Wf XVIII:5: No. 7, O Himmel! Der Boden wankt
14. – Pygmalion, Wf XVIII:5: No. 8, Nun senkt sie Haupt und Hand herab
15. – Pygmalion, Wf XVIII:5: No. 9, Bald sollen diese Lippen mich
16. – Pygmalion, Wf XVIII:5: No. 10, Ja, diese leichte Mühe, dies selige Geschäft
17. – Pygmalion, Wf XVIII:5: No. 11, Allgütige! Wofern dich hier noch
Wilhelm Friedemann Bach
18. – Symphony in B-Flat Major, F 71: I. Allegro
19. – Symphony in B-Flat Major, F 71: II. Andante
20. – Symphony in B-Flat Major, F 71: III. Presto
Johann Sebastian Bach
21. – Ich habe genug, BWV 82 (1747 Version): No. 1, Ich habe genug
22. – Ich habe genug, BWV 82 (1747 Version): No. 2, Ich habe genug
23. – Ich habe genug, BWV 82 (1747 Version): No. 3, Schlummert ein, ihr matten Augen
24. – Ich habe genug, BWV 82 (1747 Version): No. 4, Mein Gott! Wann kömmt das schöne
25. – Ich habe genug, BWV 82 (1747 Version): No. 5, Ich freue mich auf meinen Tod
Benjamin Appl – Baritone
Berliner Barock Solisten
Reinhard Goebel – Conductor
“Saluto con tanto affetto Ines, Laura, Sara, Enzo e Norbert per aver condiviso con me e la famiglia gran parte della mia vita”
“Saúdo com muito carinho Ines, Laura, Sara, Enzo e Norbert por terem compartilhado comigo e com minha família grande parte de minha vida”
Ennio MORRICONE (1928-2020)
Trilha sonora original para “Novecento” (“1900”), de Bernardo Bertolucci (1976)
1 – Romanzo
2 – Estate – 1908
3 – Autunno – 1922
4 – Regalo di Nozze
5 – Testamento
6 – La Polenta
7 – Il Primo Sciopero
8 – Padre e Figlia
9 – Tema di Ada
10 – Apertura della Caccia
11 – Verdi e’ Morto
12 – I Nuovi Crociati
13 – Il Quarto Stato
14 – Inverno – 1935
15 – Primavera – 1945
16 – Olmo e Alfredo