BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral” – Chailly – Furtwängler – Gardiner – Goodman – Haitink – Jansons – Karajan – Rattle – Reiner – Solti – Toscanini – Wand

A “Pastoral” nunca me conquistou durante meus tempos de guri. Preferia ouvir as sinfonias ímpares, as obras de grandes gestos: o portento da “Eroica”, a Quinta, ou a “apoteose da dança” – nas palavras de Wagner – da Sétima. Achava a “Pastoral” engraçadinha e um pouco enfadonha. Talvez a tormenta de meus tempos espinhudos me soprasse em direção de mais fortes e fortíssimos e de vivaces e vivacíssimos.  Tampouco as interpretações que ouvia contribuíam para melhorar o quadro. Ouvia os jurássicos, e os então novos, e nada me convencia. Detestava em especial a versão de Wilhelm Furtwängler (aqui inclusa), que me soava incomparavelmente desconexa e sem pulso. Acho que era isso: os regentes não conseguiam achar um pulso que servisse para a “Pastoral”. Seria ela um calcanhar de Aquiles dos grandes maestros? Foi o que pensei, até encontrar a interpretação de Gardiner (também incluída nessa postagem) que finalmente a revelou para mim. Desde então eu a revisito com frequência, inclusive as gravações jurássicas, e passei até a ouvir com mais gosto aquela do Furtwängler, embora ela ainda não me desça bem.

A “Pastoral” cresceu em meu conceito, também, quando fui sobre ela aprender. Descobri que era a gêmea bivitelina da Quinta: compostas paralelamente numa mesma e prolongada gestação, com os mesmos dedicatários, estreadas no mesmo dia e em ordem invertida (a “Pastoral” primeiro, o que a fez ser considerada a “quinta” até a publicação de ambas, no ano seguinte), e, ademais, compartilhando o mesmo recurso de unir os dois últimos movimentos e de fazer flautim e trombones aguardarem pacientemente para irromperem, com grande efeito, no quarto movimento. Entre as tantas obras de Beethoven a levarem apelidos, ela carrega a distinção de ser uma das poucas a ganharem-no do próprio compositor, que a batizou Pastoral-Sinfonie oder Erinnerungen an das Landleben (“Sinfonia Pastoral ou Lembranças da Vida no Campo”). Composta em Fá maior – a tonalidade-clichê para evocações pastorais -, ela foi uma das primeiras composições com conteúdo assumidamente programático, e certamente a primeira sinfonia de um grande compositor com tal conteúdo. O próprio Ludwig desdenhava a música descritiva, e chegou a mencionar com pesar em sua correspondência as passagens em que o grande Haydn, em seus oratórios, imitava animais e fenômenos da Natureza. Não obstante, incluiu em sua “Pastoral” uma vívida evocação duma tempestade e, de forma ainda mais notável, o canto de três pássaros: o rouxinol (na flauta), a codorniz (oboé) e o cuco (clarinetes), todos óbvios na “Cena no regato” e com seus nomes indicados na partitura.

Beethoven provavelmente se sentia bastante ambivalente em colocar esses elementos em música, pois a partitura autógrafa e os rascunhos são repletos de anotações e lembretes para não perder o prumo: “os ouvintes devem conseguir descobrir as situações”, “Sinfonia caracteristica – memórias da vida no campo”, “Sinfonia pastorella – qualquer um que tenha ideia de como é vida no campo deve deduzir as intenções do compositor sem muitos títulos”, “mesmo sem os títulos o todo será reconhecido mais como uma evocação de sentimentos do que pintura com sons” e, talvez a mais importante de todas, “toda pintura em música instrumental está perdida se é por demais forçada”. De qualquer forma, Beethoven, que foi por toda vida um urbanita, amava a vida no campo. Fazia longas caminhadas – sempre com seus cadernos de anotações – fora dos muros da cidade e passava todos verões que podia nos sossegados subúrbios de Viena – num dos quais, Heiligenstadt, viveu o maior desespero de sua vida. A ocupação da Áustria pelas tropas napoleônicas impediu-o de fazer seus retiros, de modo que a composição da “Pastoral” certamente foi estimulada por fortes e genuínos sentimentos de nostalgia.

A inspiração funcionou, e os rascunhos mostram uma gestação muito menos conturbada que a da Quinta – até a medonha caligrafia do compositor parece mais legível. Pelo que deduzimos de sua correspondência, ele considerava a “Pastoral” um ferrolho do atribulado processo de composição da sinfonia-gêmea, o que é curioso se considerarmos que ambas foram lançadas ao público na mesma ocasião, praticamente no atacado, junto com a Fantasia Coral e o quarto concerto para piano. O mal ensaiado concerto de estreia certamente não contribuiu para qualquer das obras ser bem recebida. A frieza da crítica foi tão grande quanto a do teatro naquele dezembro gelado em Viena, a que se seguiu uma polêmica sobre se era apropriado que tais “evocações de sentimentos” fossem incorporadas à música de concerto. A discussão, hoje, parece superada, depois de tantas Sinfonias Fantásticas e Aberturas 1812, e do próprio Beethoven voltando à carga, anos mais tarde, com a ruidosa “Batalha de Wellington”, composta para ganhar dinheiro e que algum dia ouviremos aqui. A “Pastoral”, hoje, soa-me como uma obra-prima do mesmo nível de sua gêmea bivitelina, bem-sucedida tanto em sua capacidade de evocação quanto em expressividade. À sua já significativa discografia aqui no PQP Bach, que recebeu há alguns meses a importante contribuição do colega Chucruten, num guia de gravações comparadas cuja leitura fortemente recomendo, somam-se agora estas doze outras versões. Espero que algumas delas lhes agradem – e, se me permitem a sugestão, comecem por Chailly, Jansons ou Gardiner, que não irão se arrepender.

Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral”
Composta entre 1802-1808
Publicada em 1809
Dedicada ao príncipe Lobkowitz e ao conde Andreas Razumovsky

1 – Allegro ma non troppo – Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande (“Despertar de sentimentos alegres com a chegada ao campo”)
2 – Andante molto mosso – Szene am Bach (“Cena à beira de um regato”)
3 – Allegro – Lustiges Zusammensein der Landleute (“Alegre reunião de camponeses”)
4 – Allegro – Gewitter, Sturm  (“Trovões, tempestade”)
5 – Allegretto – Hirtengesang. Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm (“Canção de pastores. Sentimentos alegres e gratos, após a tempestade”)

Wiener Philarmoniker
Wilhelm Furtwängler
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NBC Symphony Orchestra
Arturo Toscanini
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Chicago Symphony Orchestra
Fritz Reiner
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Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan
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Chicago Symphony Orchestra
Sir Georg Solti
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Sinfonieorchester des Norddeutschen Rundfunks
Günter Wand
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Koninklijk Concertgebouworkest
Bernard Haitink
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The Hanover Band
Roy Goodman
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Orchestre Révolutionnaire et Romantique
John Eliot Gardiner
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Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks
Mariss Jansons
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Gewandhausorchester Leipzig
Riccardo Chailly
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Berliner Philharmoniker
Sir Simon Rattle
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Ludovico do Pastoreio

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonias Nº 5 e 7 (Manze) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonias Nº 5 e 7 (Manze) #BTHVN250

Um belo CD cujo repertório nos faz lembrar Kleiber, não? Aqui temos um Andrew Manze em plena forma e com bala suficiente para enfrentar bem este repertório lindo e batidíssimo. Após um premiado ciclo de gravações das sinfonias de Mendelssohn, a NDR Radiophilharmonie e Manze chegam a Beethoven. Enquanto a 5ª é a sinfonia mais famosa da história da música, a 7ª é uma das peças mais rítmicas da música do século XIX. Uma “apoteose da dança”, para citar Richard Wagner. A Sinfonia Nº 5 em Dó menor Op. 67, foi escrita entre 1804 e 1808. Trata-se da primeira sinfonia do autor composta em tonalidade menor, o que só voltaria a acontecer em 1824 com a Sinfonia Nº 9, em Ré menor op. 125. Os quatro movimentos caracterizam-se pelas alternâncias: o primeiro movimento tem grande tensão, o segundo é solene, trata-se de uma marcha fúnebre que se eleva em sua emoção e beleza; o terceiro andamento é um grito e o quarto movimento expressa triunfo e força. Já a Sinfonia Nº 7 talvez seja a minha preferida de Beethoven. Várias danças incrustadas por um emocionante Allegretto.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonias Nº 5 e 7

Beethoven: Symphony No. 5 in C Minor, Op. 67
1) I. Allegro con brio 7.34
2) II. Andante con moto 9.53
3) III. Scherzo. Allegro 5.07
4) IV. Allegro 11.16

Beethoven: Symphony No. 7 in A Major, Op. 92
5) I. Poco sostenuto – Vivace 14.03
6) II. Allegretto 8.41
7) III. Presto – Assai meno presto 9.01
8) IV. Allegro con brio 8:21

NDR Radiophilharmonie
Andrew Manze

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Vamo lá, meu povo!

PQP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sinfonia no. 5 em Dó menor, Op. 67 – Chailly – Furtwängler – Gardiner – Haitink – Huggett – Jansons – Karajan – Rattle – Reiner – Solti – Toscanini – Wand


Desde que comecei a planejar as postagens desta série, uma de minhas maiores preocupações era o que lhes escrever sobre a Quinta. Universalmente conhecida e aclamada, tantas vezes citada, parodiada e vilipendiada, figurinha fácil de qualquer discografia, programa de concerto e repertório, ela jamais deixou de calar fundo cá comigo. Ademais, foi a obra que virtualmente acendeu em mim a paixão pela Música, e lhe sou tão grato por isso que temia que qualquer tributo que lhe prestasse não lhe fosse chegar às solas do quanto lhe devo.

Nunca, nem nas interpretações menos inspiradas, ela deixou de me impressionar. Sempre tento ouvi-la como se fosse a primeira vez. Há, claro, aquelas interpretações que o logram sem que eu despenda qualquer esforço, como a legendária leitura de Carlos Kleiber, que me avassalou como aquela de Klemperer fez com meus ouvidos infantis. Há leituras novas, novíssimas, tão frescas que parecem uma nova estreia, entre as quais incluo aquela magistral de Andris Nelsons, com a qual o patrão PQP Bach inaugurou – e praticamente encerrou – o Ano Beethoven por aqui. Outras interpretações evocam ineditismo pela incrível estranheza – é o caso daquela de Boulez, que algum dia, talvez, trarei aqui.

Sempre tento nela encontrar frescor, e acho que sempre consigo. Quando volto a mim, já se passaram uma vez mais aqueles trinta e tantos minutos, e aquele portentoso Dó maior encerra a Quinta como se nada pudesse se seguir a ele: puro Beethoven.

Nesses devaneios, fico muitas vezes a imaginar como os contemporâneos de Ludwig a receberam – talvez não aqueles que quase congelaram no mastodôntico e mal ensaiado concerto em que ela estreou, mas os que a conheceram logo depois, com interpretações à altura de sua grandeza. Aí, me lembrei do então imensamente influente e multiúso E. T. A. Hoffmann.

Ecce homo

Em ultrarromânticos e coloridos ensaios, Hoffmann espalhava ao mundo suas impressões sobre tudo e todos, inclusive as obras alheias. Na incapacidade de mais lhes dizer sobre essa obra-prima que me cala a capacidade de sobre ela discorrer, resolvi traduzir o famoso artigo de Hoffmann sobre a música instrumental de Beethoven, do qual ora lhes apresento a primeira parte. Não esperem dessa minha tradução bastante livre e confessamente incompetente o brilho bombástico do original em alemão – apenas coloquem-se no lugar de Hoffmann e imaginem um mundo em que a Quinta era uma retumbante novidade.

A MÚSICA INSTRUMENTAL DE BEETHOVEN
Ernst Theodor Amadeus Hoffmann 

Quando falamos da Música como uma arte independente, não nos deveríamos restringir à música instrumental, que, desprezando todo auxílio, toda mescla com outra arte (a arte da Poesia), dá pura expressão à natureza específica da Música, reconhecível sozinha nesta forma? É a mais romântica de todas as artes – quase se pode dizer, a única genuinamente romântica -, pois seu único tema é o infinito. A lira de Orfeu abriu os portais de Orco – a Música revela ao homem um reino desconhecido, um mundo que não tem nada em comum com o mundo sensual externo que o cerca, um mundo em que ele deixa para trás todos os sentimentos definidos para se render a um anseio  inexprimível. 
 
Vocês já se deram conta dessa natureza específica, vocês, miseráveis compositores de música instrumental, vocês que se esforçaram laboriosamente para representar emoções definidas, até eventos definidos? Como já lhes ocorreu tratar, à moda das artes plásticas, a arte diametralmente oposta ao plástico? Seus amanheceres, suas tempestades, suas “Batailles des Trois Empereurs” e os demais, afinal, eram certamente aberrações bastante risíveis, e foram punidos como mereciam, por terem sido totalmente esquecidos. 
 
No canto, em que a Poesia, por meio das palavras, sugere emoções definidas, o poder mágico da Música atua como o maravilhoso elixir dos sábios, algumas gotas do qual tornam qualquer bebida mais saborosa e mais nobre. Toda paixão – amor, ódio, raiva, desespero, e assim por diante, assim como a ópera nos dá – é coberta pela Música com o brilho púrpura do romantismo, e mesmo o que passamos na vida nos guia para fora da vida no reino do infinito. 
 
Tão forte quanto isso é a magia da Música, e, com cada vez mais força, ela teve que quebrar cada cadeia que a vinculava a outra arte. 
 
O fato de que compositores talentosos elevaram a música instrumental ao seu estado atual é devido, e disso podemos ter certeza, menos aos meios de expressão mais fáceis de se lidar (maior perfeição dos instrumentos, maior virtuosismo dos executantes) do que ao mais profundo, mais íntimo reconhecimento da natureza específica da Música. 
 
Mozart e Haydn, os criadores de nossa atual música instrumental, foram os primeiros a nos mostrar a Arte em toda a sua glória; o homem que então olhou para ele com todo o seu amor e penetrou em seu ser mais profundo é – Beethoven! As composições instrumentais desses três mestres respiram um espírito romântico semelhante – isso se deve à sua íntima e similar compreensão da natureza específica da Arte; no caráter de suas composições, no entanto, há uma diferença acentuada. 
 
Na escrita musical de Haydn, prevalece a expressão de uma personalidade serena e infantil. Suas sinfonias nos levam a vastos bosques verdes, a uma jovial, alegremente colorida trupe de felizes mortais. Jovens e donzelas passam flutuando numa dança circular; crianças rindo, espiando por trás das árvores, por trás das roseiras, jogam-se flores a brincar. Uma vida de amor, de felicidade antes do outono, de eterna juventude; sem tristeza, sem sofrimento, apenas uma doce melancolia que anseia pelo objeto amado que flutua ao longe, no brilho do pôr do sol, e que não se aproxima e nem desaparece – nem a noite cai enquanto está lá, pois é ele próprio o ocaso em que a colina e o vale rebrilham.  

Mozart nos leva ao coração do reino espiritual. O medo nos leva a seu alcance, mas sem nos torturar, e de tal forma que é mais uma indicação do infinito. Amor e melancolia nos chamam com adoráveis vozes espirituais, a noite chega com um brilho púrpura brilhante, e com um anseio inexprimível seguimos aquelas figuras que, acenando-nos familiarmente de suas carreiras, voam pelas nuvens em eternas danças das esferas.  

 Assim, a música instrumental de Beethoven nos abre também o reino do monstruoso e do incomensurável. Clarões de luz ardente fulguram através da noite profunda deste reino, e nos damos conta de sombras gigantes que surgem em vaivém, guiando-nos para recônditos cada vez mais estreitos até que eles nos destruam – mas não a dor do anseio sem fim em que cada alegria que decolou com uma canção jubilosa afunda e é engolida, e é somente nessa dor, que consome amor, esperança e felicidade, mas não os destrói, que procura estourar nosso seio com uma consonância de muitas vozes, de todas as paixões que vivemos, encantados espectadores do sobrenatural! 

O gosto romântico é raro, o talento romântico, ainda mais raro, e isso é sem dúvida o motivo pelo qual existem tão poucos que logram tanger a lira cujo som revela o maravilhoso reino do romântico.   

Haydn compreende romanticamente o que é humano na vida humana; ele é mais comensurável, mais compreensível para a maioria. 

Mozart pede antes o sobre-humano, o elemento maravilhoso que reside no ser interior. 

A música de Beethoven põe em movimento a alavanca do medo, do temor, do horror, do sofrimento, e desperta exatamente esse anseio infinito que é a essência do romantismo. Ele é, assim, um compositor completamente romântico, e não é essa talvez a razão pela qual ele tem menos sucesso com a música vocal, que exclui o caráter de anseio indefinido, meramente representando emoções definidas pelas palavras como emoções experimentadas no reino do infinito?

 A ralé musical é oprimida pelo poderoso gênio de Beethoven; procura em vão se opor a ele. Mas doutos críticos, olhando-os com um ar superior, asseguram-nos que podemos tomar por certa a palavra deles, como homens de grande intelecto e profunda compreensão, de que, embora dificilmente se possa negar que o excelente Beethoven tenha uma imaginação muito fértil e viva, ele não sabe como contê-la! Assim, dizem, ele não se dá mais o trabalho de selecionar ou moldar suas ideias, mas, seguindo o chamado método daimônico, ele exprime tudo exatamente como sua imaginação ardentemente ativa lhe dita. No entanto, como ficaria se é tão só a sua tíbia observação que a profunda continuidade interior de toda composição de Beethoven escapa? Se é sua culpa, somente, que você não entende a linguagem do mestre como a entendem os iniciados e que os portais do santuário mais profundo permanecem fechados para você? 
 
A verdade é que, no que diz respeito ao domínio de si mesmo, Beethoven está em pé de igualdade com Haydn e Mozart e que, separando seu ego do reino interno da harmonia, ele o governa como um monarca absoluto. Em Shakespeare, nossos cavaleiros da régua estética muitas vezes lamentaram a absoluta falta de unidade e continuidade interiores, embora para aqueles que olham mais profundamente surja, saindo de um único broto, uma linda árvore, com folhas, flores e frutos; assim, com Beethoven, é somente após um escrutínio minucioso de sua música instrumental que se revela o elevado autocontrole, inseparável do verdadeiro gênio e nutrido pelo estudo da Arte.

Haveria alguma obra de Beethoven a confirmar tudo isso em mais alto grau do que sua sinfonia magnífica, indescritivelmente profunda, em Dó menor? Como essa maravilhosa composição, em um clímax que se eleva sem parar, arrasta o ouvinte a um avanço imperioso para o mundo espiritual do infinito!… Sem dúvida, o todo transcorre a muitos como uma engenhosa rapsódia, mas a alma de cada ouvinte atento é seguramente mexida, profunda e intimamente, por um sentimento que não é outro senão aquele anseio portentoso e indescritível, e até o acorde final – e, com efeito, mesmo nos momentos que se seguem – ele não terá poder para sair daquele maravilhoso reino espiritual, em que a dor e a alegria o envolvem na forma de som. A estrutura interna dos movimentos, sua execução, sua instrumentação, a maneira como eles se seguem um ao outro – tudo contribui para um único fim; acima de tudo, é a íntima inter-relação entre os temas que engendra aquela unidade que, sozinha, tem o poder de manter firmemente o ouvinte com um único humor. Às vezes, essa relação é clara para o ouvinte quando ele a ouve na conexão de dois movimentos ou a descobre no baixo fundamental que eles têm em comum; uma relação mais profunda, que não se revela dessa maneira, manifesta-se em outros momentos apenas da mente para a mente, e é precisamente essa relação que prevalece entre as seções dos dois Allegros e do Minueto e que proclama imperiosamente o autodomínio do gênio do mestre”

[Mal traduzido por Vassily Genrikhovich em junho de 2020]
 

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sinfonia no. 5 em Dó menor, Op. 67
Composta entre 1804-8
Publicada em 1809
Dedicada ao príncipe Lobkowitz e ao conde Andreas Razumovsky

1 – Allegro con brio
2 – Andante con moto
3 – Scherzo. Allegro
4 – Allegro

Wiener Philarmoniker
Wilhelm Furtwängler
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NBC Symphony Orchestra
Arturo Toscanini
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Chicago Symphony Orchestra
Fritz Reiner
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Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan
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Chicago Symphony Orchestra
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Sinfonieorchester des Norddeutschen Rundfunks
Günter Wand
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Koninklijk Concertgebouworkest
Bernard Haitink
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The Hanover Band
Roy Goodman
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Orchestre Révolutionnaire et Romantique
John Eliot Gardiner
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Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks
Mariss Jansons
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Gewandhausorchester Leipzig
Riccardo Chailly
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Berliner Philharmoniker
Sir Simon Rattle
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E já que estou terceirizando tudo nessa postagem, vou deixar com o brilhante Leonard Bernstein a responsabilidade de destrinchar o célebre primeiro movimento da Quinta nesse sensacional vídeo em que ele analisa os rascunhos da obra e, discutindo as escolhas feitas por Beethoven, tenta reconstruir seu processo criativo. O vídeo está em inglês, mas quem lê no idioma tem a opção das legendas automáticas (com algumas licenças poéticas). Mas mesmo quem não entende tchongas de inglês saboreará as vinhetas musicais que ilustram a longa lapidação da obra-prima. 

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Arvo Pärt (1935): Fratres / Festina Lente / Summa / Cantus in Memory of Benjamin Britten (Benedek)

Arvo Pärt (1935): Fratres / Festina Lente / Summa / Cantus in Memory of Benjamin Britten (Benedek)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Este é um disco excelente. Tem todas as diferentes orquestrações de Fratres, com Summa e Festina Lente como interlúdios e Cantus in Memoriam of Benjamin Britten como uma espécie de coda. Você pode questionar se ouvir o mesmo trabalho várias vezes não é chato. Respondo que não, pois cada uma é muito diferente da outra. O som é cintilante, claríssimo. Quase difícil de acreditar que é a mesma orquestra de cada vez. Os húngaros acertaram em cheio. Mas por que tantos Fratres? Ora porque a música é demais e recebeu várias versões de Pärt. Fratres (Irmãos) é uma composição do compositor do estoniano Pärt, que exemplifica um de seus estilos de composição, o tintinnabuli. É uma música de três partes, escrita em 1977, sem instrumentação fixa. Ela foi descrita como um “conjunto fascinante de variações sobre um tema que combina atividade frenética e imobilidade sublime que encapsula a observação de Pärt de que ‘o instante e a eternidade estão lutando dentro de nós'”. Fratres foi utilizada em Amor Pleno, de Terence Malick, em Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson, em O Clube, de Pablo Larraín, em Inverno Quente, de Tom Tykwer e em mais de dez outros filmes.

Arvo Pärt (1935): Fratres / Festina Lente / Summa

1. Fratres for Strings and Percussion 08:54
2. Fratres for Violin, Strings and Percussion 10:44
3. Festina Lente for Strings and Harp Ad Libitum 07:50
4. Fratres for String Quartet 08:42
5. Fratres for Cello and Piano 11:52
6. Summa for Strings 03:46
7. Fratres for Eight Cellos 11:51
8. Fratres for Wind Octet and Percussion (arr. B. Brinner) 07:45
9. Cantus in Memory of Benjamin Britten for Strings and Bells 07:39

Hungarian State Opera Orchestra
Tamás Benedek

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Eu também sou irmão de Pärt, tá? Por isso é que ele sorri assim.

PQP

Antonin Dvorák (1841-1904) – Concerto para Violoncelo – Piotr Illich Tchaikovsky (1840-1893) – Variações Rococo – Rostropovich, Karajan, BPO

Sem querer, descobri uma grande falha em nossa coleção, e se trata exatamente deste disco, gravado lá em 1969 por dois dos maiores músicos do século XX, Herbert von Karajan e Mstislav Rostropovich. Em hipótese alguma esta gravação histórica poderia estar faltando aqui. As Variações Rococo, esta mesma leitura de Rostropovich, até apareceu em outra série, dedicada a Tchaikovsky, mas não o Concerto de Dvorák.

Estamos aqui tratando simplesmente uma das melhores gravações já realizadas tanto do Concerto quanto das Variações. O tempo já se encarregou de consagrá-las, e as sucessivas reimpressões desde então são outra prova de sua importância. Os alemães da DG não podem estar tão errados.

Com certeza, este seria um dos discos que eu levaria para uma ilha deserta. Quem não conhece, por favor, baixe. O que Rostropovich faz aqui é algo de outro mundo, coisa de gênio, poucos músicos atingiram tal nível de excelência.

1 Cello Concerto In B Minor, Op.104, B. 191 – 1. Allegro
2 Cello Concerto In B Minor, Op.104, B. 191 – 2. Adagio ma non troppo
3 Cello Concerto In B Minor, Op.104, B. 191 – 3. Finale (Allegro moderato)58
4 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Moderato assai quasi andante
5 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Tema: Moderato semplice
6 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione I: Tempo del Tema
7 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione II: Tempo del Tema
8 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione III: Andante sostenuto
9 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione IV: Andante grazioso
10 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione V: Allegro moderato
11 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione VI: Andante
12 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione VII e Coda: Allegro vivo

Mstislav Rostropovich – Violoncelo
Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan – Conductor

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“Você sabia que o PQPBach ainda não tinha postado essa nossa gravação?”

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – “Ah, perfido!”, Op. 65 – Carl Maria von Weber (1786-1826) – Richard Wagner (1813-1883) – Árias – Nilsson

A bagunça no catálogo de obras de Ludwig lá na primeira década do século XIX era tamanha que ele deixou uma lacuna onde deveria estar sua composição de número 65, que só foi preenchida em 1819, quando a ária de concerto “Ah, perfido!”, composta em 1796 – contemporânea, portanto, das sonatas para violoncelo e piano do Op. 5 -, ocupou tardiamente seu lugar no rol da produção beethoveniana.

A obra compõe-se de um recitativo e duma ária em italiano, para soprano e orquestra, provavelmente instigadas pelos estudos de prosódia italiana que Ludwig fez sob Antonio Salieri, por sua vez alimentados pelo sonho de fazer fortuna ao escrever óperas nesse idioma. O título “Ah, perfido!” refere-se apenas ao recitativo de abertura, que compõe menos de um terço do total da composição, com texto da lavra do arroz de festa dos libretistas do século XVIII, o senhor Pietro Antonio Domenico Trapassi, dito Metastasio. O restante é dedicado a uma ária, de cujo texto o autor não se conhece:”Per pietà, non dirmi addio” (“Por piedade, não me diga adeus”), um desesperado apelo ante um abandono iminente que contrasta comicamente – numa onda à “entre tapas e beijos” – com a saraivada de impropérios do recitativo, que vão enfim evanescendo até a irrupção do franco arrependimento na elaborada ária.

“Ah, perfido!” foi estreada em Leipzig no mesmo ano de sua composição (1796) por Josepha Duschek (Dušková), uma cantora de Praga que, assim como seu esposo František Xaver Dušek, foi amiga de Mozart, de quem ganhou algumas árias de concerto. Não há outros registros de performances públicas da obra até 1808, quando “Ah, perfido!” integrou o programa do infame, mastodôntico concerto em que Beethoven estreou as sinfonias nos. 5 & 6, o quarto concerto para piano e sua fantasia coral num teatro em temperatura polar e com uma recepção ainda mais gélida.

Desde então, o recitativo e a ária são infrequentemente apresentad0s e gravados. Uma de suas maiores divulgadoras foi a soprano sueca Birgit Nilsson (1918-2005), que a tinha como xodó, um veículo bem apropriado para demonstrar a tremenda potência e clareza de sua inconfundível voz. Entre as várias gravações que fez de “Ah, perfido!”, esta é a minha preferida, com a orquestra do Royal Opera House do Covent Garden em Londres. Espero que deem ao pessoal da Decca algum desconto por oferecerem uma ária de concerto em italiano junto a uma coletânea de ópera alemã. Da mesma forma, dei-lhes outra ajudinha reorganizando as faixas, pois me parecia fazer mais sentido abrir com os dois números de Beethoven – além de “Ah, perfido!”, uma ária de “Fidelio” cuja introdução muito lembra a obra mais antiga – do que encerrar com eles, depois de tanto Wagner e algum Weber. Tampouco entendi os critérios de escolha do repertório, mas acho que os fãs de Nilsson apreciarão essa oportunidade, assim como eu, para relembrar o poder e expressividade de seu incrível aparato vocal.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Ah, perfido!“, recitativo e ária para soprano e orquestra, Op. 65
Compostos em 1796
Publicados em 1805
Dedicados a condessa Josephine von Clary-Aldringen

1 – Recitativo: “Ah, perfido!” (Dó maior) – Ária: “Per pietà, non dirmi addio” (Mi bemol maior)

“Fidelio”, ópera em dois atos, Op. 72

2 – Ato I: “Abscheulicher! Wo eilst du hin?”

Carl Maria Friedrich Ernst von WEBER (1786-1826)

“Der Freischütz”, ópera em dois atos, J. 277

3 – Ato 2: “Leise, leise”

“Oberon”, ou The Elf King’s Oath”, ópera romântica em três atos, J.306

4 – Ato 2: “Ozean! Du Ungeheuer!”

Wilhelm Richard WAGNER (1813-1883)

“Lohengrin”, ópera em três atos, WWV 75

5 – Ato 1: “Einsam in trüben Tagen”


“Tannhäuser und der Sängerkrieg auf dem Wartburg”, ópera em três atos, WWV 70

6 – Ato 2: “Dich, teure Halle, grüß ich wieder”


“Die Walküre”, ópera em três atos, WWV 86B

7 – Ato 1: “Du bist der Lenz”
8 – Ato 1: “Der Männer Sippe saß hier im Saal”

Birgit Nilsson, soprano
Orchestra of the Royal Opera House, Covent Garden
Sir Edward Downes, regência

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“Ah, perfido!” – versão brasileira

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

J. S. Bach (1685-1750): Variações Goldberg (Marcin Świątkiewicz)

J. S. Bach (1685-1750): Variações Goldberg (Marcin Świątkiewicz)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma gravação de tranquila liberdade — inclusive para improvisar –, esta realizada pelo excelente polonês Marcin Świątkiewicz. Marcin é realmente muito bom! Faz décadas que coleciono Goldbergs. Tenho muitas gravações desta obra, muitas mesmo. Esse ritual — que começou no século XX — resultou em dezenas de interpretações realizadas em vários instrumentos e gravadas em vários selos. Quem é fiel a Bach coleciona gravações desta obra-prima. Há lendas sobre noites sem dormir, sobre a contagem de carneirinhos e sobre a genialidade de um adolescente de Gdansk. Os ortodoxos passam várias horas noturnas buscando o argumento final para o melhor registro desde aquele que veio do Canadá. E já há superiores, há sim.

Quando as variações “Goldberg” foram publicadas em 1741 como livro IV do Clavier-Übung, era simplesmente “uma ária com variações diferentes para cravo com dois manuais”. O virtuoso do teclado e compositor Johann Gottlieb Goldberg (1727-1756) teve seu nome associado à obra em 1802, quando Johann Nikolaus Forkel publicou sua criativa biografia inovadora de Bach.

Segundo Forkel (as traduções variam), “o conde Keyserlingk, ex-embaixador russo na Saxônia, costumava visitar Leipzig. Entre seus servos, havia um jovem talentoso, Johann Gottlieb Goldberg — um cravista que era aluno de Wilhelm Friedemann Bach e mais tarde do próprio Johann Sebastian Bach. O conde sofria de insônia e Goldberg, que também morava lá, teve que ficar no quarto ao lado para aliviar o sofrimento de seu mestre com a música. Tocando cravo. Certa vez, o conde pediu a Bach para compor algumas peças de teclado para Goldberg, alguns pedaços de suavidade e alegria que acalmariam suas noites sem dormir. Bach decidiu escrever um conjunto de variações, uma forma que antes não o interessava muito. No entanto, em suas mãos… O conde ficou muito satisfeito com isso, ele as chamou de ‘minhas variações’. Ele costumava dizer: “Meu querido Goldberg, toque uma das minhas variações’. Bach provavelmente nunca foi tão generosamente recompensado por sua música. O conde deu a ele um cálice de ouro com cem luíses de ouro!

É difícil acreditar que Bach teria publicado um trabalho encomendado sem nenhuma dedicação a Keyserlingk ou a Goldberg, o que torna a história duvidosa, juntamente com o fato de Goldberg ter apenas 14 anos na época. Goldberg, no entanto, era um prodígio de renome, e há ligações entre Bach e Keyserlingk. Bach pode ter dado a Keyserlingk uma cópia da edição impressa e recebido uma recompensa por isso. A ária que é objeto das variações é uma criação original, um sarabanda elegantemente serena que contém tudo o que Bach precisa para um vasto universo de variações. E o que ele faz é espantoso.

J. S. Bach (1685-1750): Variações Goldberg (Marcin Świątkiewicz)

1. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Aria
2. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 1. a 1 Clav.
3. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 2. a 1 Clav.
4. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 3. Canone all’Unisono. a 1 Clav.
5. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 4. a 1 Clav.
6. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 5. a 1 o vero 2 Clav.
7. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 6. Canone alla Seconda. a 1 Clav.
8. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 7. a 1 o vero 2 Clav. al tempo di Giga
9. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 8. a 2 Clav.
10. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 9. Canone alla Terza. a 1 Clav.
11. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 10. Fughetta. a 1 Clav.
12. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 11. a 2 Clav.
13. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 12. a 1 Clav. Canone alla Quarta in moto contrario
14. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 13. a 2 Clav.
15. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 14. a 2 Clav.
16. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 15. Canone alla Quinta. a 1 Clav. Andante
17. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 16. Ouverture. a 1 Clav.
18. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 17. a 2 Clav.
19. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 18. Canone alla Sesta. a 1 Clav.
20. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 19. a 1 Clav.
21. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 20. a 2 Clav.
22. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 21. Canone alla Settima
23. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 22. a 1 Clav. alla breve
24. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 23. a 2 Clav.
25. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 24. Canone all’Ottava. a 1 Clav.
26. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 25. a 2 Clav. Adagio
27. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 26. a 2 Clav.
28. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 27. Canone alla Nona. a 2 Clav.
29. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 28. a 2 Clav.
30. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 29. a 1 o vero 2 Clav.
31. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Variatio 30. a 1 Clav. Quodlibet
32. Marcin Swiatkiewicz – Goldberg Variations, BWV 988: Aria da Capo

Marcin Świątkiewicz, cravo

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Esta foto de Marcin Świątkiewicz não faz jus à sua sensibilidade e competência…

PQP

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios Nº 5 e 6, Op. 70 #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios Nº 5 e 6, Op. 70 #BTHVN250

Um bonito disco vindo da época socialista da Tchecoslováquia. Ele vem da grande e lendária gravadora Supraphon. O mau gosto das roupas dos caras na capa não pode ser confundida com a extrema sofisticação com que tocam. O Suk Trio é de primeira linha e isso pode ser notado logo nos primeiros compassos.

O Op. 70 é um conjunto de dois trios para piano de Ludwig van Beethoven. Ambos foram compostos durante a estada de Beethoven na propriedade da condessa Marie von Erdödy e ambos são dedicados a ela por sua hospitalidade. Eles foram publicados em 1809. O primeiro, em ré maior, conhecido como Fantasma (‘Ghost’), é um de seus trabalhos mais conhecidos no gênero (rivaliza apenas com o Trio Arquiduque). Ele apresenta temas encontrados no segundo movimento da Sinfonia nº 2 de Beethoven. Por causa de seu movimento lento estranhamente pontuado e assustador, foi apelidado de ‘Ghost’. O nome permanece desde então. A música fantasmagórica pode ter suas raízes nos esboços para uma ópera de Macbeth que Beethoven estava matutando na época”. Segundo Lewis Lockwood, o aluno de Beethoven, Carl Czerny, escreveu em 1842 que o movimento lento o fez lembrar da cena fantasma na abertura de Hamlet, e essa foi a origem do apelido. James Keller também atribui o apelido a Czerny, acrescentando: “Você pode descartar como errônea a alegação frequentemente encontrada de que esse movimento do Ghost Trio é uma reformulação da música que Beethoven originalmente esboçou como Coro das Bruxas para seu Macbeth. Essas peças são representativas do período estilístico “Médio” de Beethoven, que passou de aproximadamente 1803 a 1812 e incluiu muitas de suas obras mais famosas. Beethoven escreveu os dois trios de piano ao mesmo tempo, no mesmo local onde havia finalizado sua Sinfonia Nº 5 no verão anterior. Ele escreveu os dois trios imediatamente após escrever a Sinfonia Pastoral, Nº 6. Esse foi um período de incertezas na vida de Beethoven, em particular porque ele não tinha uma fonte confiável de renda. Embora esses dois trios às vezes sejam numerados como “No. 5” e “No. 6”, a numeração dos doze trios para piano de Beethoven não é padronizada e, em outras fontes, os dois Op. 70 trios podem ser mostrados com números diferentes.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios Nº 5 e 6, Op. 70

Trio N°.5 in D Major “Geister” Op.70, N°.1
1 1. Allegro Vivace e Con Brio 6:37
2 2. Largo Assai ed Espressivo 8:37
3 3. Presto 7:56

Trio N°.6 in E Flat Major Op.70, N°.2
4 1. Poco Sostenuto – Allegro ma Non Troppo 10:03
5 2. Allegretto 5:08
6 3. Allegretto ma non Troppo 7:04
7 4. Finale: Allegro 7:53

Cello – Josef Chuchro
Ensemble – Suk Trio
Piano – Jan Panenka
Violin – Josef Suk

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Ai, meu Deus! Um fantasma invade a sede de Bonn do PQP Bach!

PQP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonata para violoncelo e piano, Op. 64 – Obras para bandolim e piano transcritas para violoncelo e piano – Berger – Gallardo

Depois do variado e um tanto apócrifo cozido servido ontem, trago-lhes hoje algo bem melhor. Não que seja algo 100% beethoveniano, pois, como já mencionamos, nessa fase em que seu catálogo atingira a sexagésima obra o afã de ganhar dinheiro obrigou o compositor a apelar para a reciclagem criativa de suas obras. Nem que esse afã, no entanto, tenha resultado em má música: essa sonata para violoncelo e piano do Op. 64, mais que um mero arranjo do trio para cordas, Op. 3, é uma recriação muito hábil duma das mais bem acabadas composições do jovem Beethoven. Embora os musicólogos divirjam sobre a autoria da adaptação, o mais provável é que ela seja da lavra de Franz Xaver Kleinheinz (1765-1832) – o mesmo arranjador responsável pela transformação de outra obra para trio de cordas, a serenata Op. 8, no noturno para viola e piano. Op. 42 – e que tenha sido supervisionada de perto e aprovada por Beethoven. O resultado é uma incomum sonata em seis movimentos, refletindo transparentemente o mozartiano divertimento que lhe serviu de origem, em que o violoncelo, grosso modo, assume as partes da viola do original, enquanto cabem ao piano aquelas do violino e do violoncelo. Para os cellistas que lamentam o fato do grande Wolfgang tanto ter desprezado as capacidades de seu belo instrumento como solista, esta transcrição talvez dê algum gosto do que seria uma sonata para violoncelo dum Mozart de quase trinta anos.

O duo Gallardo e Berger – o mesmo violoncelista que participou de minha estreia neste blog, cinco anos atrás – mostra um ótimo entrosamento neste recital muito bem gravado, que é completado por transcrições do próprio Julius Berger para as bagatelas que Ludwig escreveu para o bandolim, e que soam maravilhosamente idiomáticas no violoncelo. Apesar dos eventuais problemas de articulação, acho que a musicalidade de Berger – xodó de Antonio Janigro e professor de muita projeção em sua Alemanha natal – consegue fazê-lo convencer muito, e nessas miniaturas mediterrâneas, obras tão improváveis para um renano que só viu o mar uma vez, Berger faz-nos até acreditar que Beethoven sempre as pretendeu para o violoncelo.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para violoncelo e piano em Mi bemol maior, Op. 64
Arranjo de Franz Xaver Kleinheinz do trio para violino, viola e violoncelo, Op. 3 (1796)
Publicado em 1807

1 – Allegro con brio
2 – Andante
3 – Menuetto: Allegretto
4 – Adagio
5 – Menuetto: Moderato
6 – Finale: Allegro

Quatro peças para bandolim e piano, WoO 43-44 (1796)
Transcrição de Julius Berger para violoncelo e piano

Sonatina em Dó menor, WoO 43a
7 – Adagio

Adágio em Mi bemol maior, WoO 43b
8 – Adagio (ma non troppo)

Sonatina em Dó maior, WoO 44a
9 – Allegro

Andante com variações em Ré maior, WoO 44b
10 – Andante

Julius Berger, violoncelo
José Gallardo, piano

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

.: interlúdio :. Chet Baker Trio: Estate (1983-1985)

.: interlúdio :. Chet Baker Trio: Estate (1983-1985)

Há certo tempo venho intentando postar esse disco, para mim um dos melhores de Chet Baker, numa das suas melhores formações, com o guitarrista Philip Catherine e o baixista Jean-Louis Rassinfosse, ambos extraordinários músicos belgas. Não o fizera ainda por dúvidas quanto ao texto que o acompanharia. Em outra postagem sobre Chet, havia escrito que sobre ele tudo já fora dito; e ao final da mesma, disse que sobre ele sempre haveria algo a se dizer. Portanto, diga o que disser, estamos no lucro. Os que conhecem seu gênio, seu estilo, seu som e seu feeling, entenderão. Os que não conhecem têm aqui uma excelente oportunidade de conhecer. A faixa título, Estate, é um dos temas mais queridos e gravados, até mesmo pelo nosso João Gilberto, que Deus o tenha – só imagino o que seria um disco dele junto com Chet! O tema é de Bruno Martino (1925 – 2000), um cantor romântico italiano muito popular em seu tempo e que, eu diria, descobriu a galinha dos ovos de ouro ao ser abençoado com a ideia dessa melodia. É um dos mais belos e deliciosos e inspiradores temas que um instrumentista possa desejar tocar, e sobre ele improvisar. Outro ponto alto do disco é a faixa Chrystal Bells, tema do saxofonista Charlie Mariano (para mim, junto a Charles Lloyd, um dos mais chatos saxofonistas do jazz, mas isso é cá comigo). Nele, Catherine cria uma aura sonora para o trompete, que nos traz a intimista e melancólica melodia, mergulhando direto no solo improvisado, que nos transporta para regiões tipicamente bakerianas. Mais um ápice do disco é um tema do maior trombonista do jazz, J. J. Johnson, Lament. Não conheço melhor gravação ao trompete, mesmo do próprio Chet alhures, que este momento. Completando uma quadra de pontos altos do disco, Leaving, do pianista Richard Beirach (1947), composto para o próprio Chet, que o tocou inúmeras vezes, em estúdio e ao vivo. Tema de grande beleza e harmonia expressiva. Se Chet nos transporta, Catherine e Rassinfosse não deixam por menos. Gravada tempos depois das outras, a faixa My Funny Valentine, peça carro chefe na carreira de Chet, complementa os ápices do disco. Strollin’, do grande Horace Silver e a velha e boa Cherokee, fecham a sessão. Neste último tema, Chet toca com agilidade extraordinária. Chet sempre foi extraordinário. Sua carreira, que se pode dividir em antes e depois do triste e dramático episódio da agressão sofrida em 1968, sempre foi brilhante. Um gênio verdadeiro, com toda a propriedade da palavra. À parte os momentos esfuziantes de Cherokee e mais animados de Strollin’ o tom do disco é de um desalento sublimado pela beleza –  mágica na qual Mr. Baker é um dos maiores magos.

Graham Greene (1904-1991)

Costumo atrelar algo cinematográfico ou literário às postagens. Me parece que as emoções e impressões não se encalacram no reino dos sons, mas que abrem janelas para outros veículos da arte. Nestes tempos para todos nós difíceis de reclusão domiciliar, tenho visto filmes antigos, revisitado livros e discos. Tenho a sorte de poder fazer isso enquanto muitos, lamentavelmente, são obrigados a se arriscar fora de casa por necessidades de trabalho e sobrevivência – e com eles me solidarizo. Creio que muitos dos que como eu têm tal privilégio estão também revisitando seus afetos culturais ou descobrindo novas maravilhas. De certa maneira o atentado à liberdade que tem abatido o mundo inteiro nos avizinhou a todos. Quem não está com saudades da vida? Revisitei um dos meus amores literários, Graham Greene (1904-1991), em alguns contos e no seu grande livro “The Heart of The Matter” – “O Cerne da Questão”, também já traduzido como “O Coração da Matéria” (com cuidado para não confundir com “Heart of Darkness” de Conrad); publicado em 1948. A atmosfera das obras de Greene costuma ser, quando não de um cinismo mordaz, de profundo desalento. Embora em música tal sentimento costume se transfigurar na invisibilidade misteriosa dos sons, com a literatura a coisa é bem diferente. O quadro dos enredos é pintado – ou cinzelado – direto em nossa ideia, e nas mãos de um soberbo escritor, os efeitos podem ser devastadores. Curiosamente existe quem sobreviva melhor à literatura e não suporte a intensidade da música. Já conheci pessoas assim e as compreendo. Música pode fazer muito mal. Mal que muitas vezes buscamos apaixonadamente, afinal, amor é amor – O Cerne da Questão.

O livro de Greene traz uma triste narrativa. Mas antes de resumi-la gostaria de dizer que não comentarei exceto muito de passagem a questão religiosa de Greene, indissociável de sua biografia e obra. Ele que se dizia “agnóstico-católico”, seja como for que isso funcionasse. Avesso a qualquer monoteísmo, não me arvoro a comentar e jamais compreenderia a realidade de um católico inglês. No livro este ‘fator humano’ é um ônus, para o livro e para o protagonista, que se consome numa culpa de natureza em grande parte religiosa – para mim um horror e uma autoimolação inconcebível. O livro acabou sendo chamado de Romance Católico e Green chamado de “escritor católico”. Me parece exagero. Como alguém já observou, seria como chamar os livros de Jorge Amado e a ele de romances e escritor candomblecistas – o que não ocorre.

Scobie é um major policial inglês que trabalha em uma colônia africana (Serra Leoa) durante a Segunda Guerra Mundial. Após a partida de sua esposa Louise (sempre lamuriosa e infeliz por seu marido não ter galgado certa posição e consequente êxito pecuniário) para a África do Sul, ele participa do resgate de um naufrágio, e ali presencia a morte de uma criança. Este episódio o faz reviver a perda de sua filha, que falecera poucos anos antes. Enquanto revive essa tristeza, conhece Helen, vítima do naufrágio, cujo marido perecera no mesmo. Tornam-se amantes. Depois de ser chantageado pelo personagem para mim mais simpático do livro, o contrabandista sírio Yusef, Scobie se vê metido em ações corruptas envolvendo tráfico de diamantes. Para agravar o estado das coisas, ele é espionado por Wilson, caçador de espiões e colaboracionistas, que corteja a Sra. Scobie como pretenso amante. Passando a viver dividido entre os deveres de sua profissão e da vida afetiva, mais as cobranças do seu catolicismo. É uma tragédia. No final Scobie escolhe abdicar da vida. Seu maior anseio era viver em paz e rotina, sabendo que as pessoas que ama estariam felizes – uma remotíssima possibilidade. Sentindo-se culpado por ofender seu casamento com o adultério e não conseguir assumir sua amante, e ainda se vendo enleado em crimes de contrabando e assassinato, Scobie simula um problema cardíaco e se mata com uma overdose de soníferos com gin. O livro recebeu uma versão cinematográfica na década de 50, com Trevor Howard no papel principal. Infelizmente é um filme raríssimo para nós.

Talvez não fosse o momento para uma postagem com um tema tão desolador. Peço desculpas por isso e creio que O Cerne da Questão em nossa página, afinal, é a música; e por mais que o disco seja intimista, a música, com sua beleza, nos salvará no final. Recortei alguns trechos do livro para que tenhamos a delícia das entrelinhas.

“Wilson gostava de poesia, mas costumava absorvê-la em segredo, como uma droga.”

“Eles tinham sido corrompidos por dinheiro; ele, por sentimento. O sentimento era o mais perigoso, porque não era possível especificar seu preço. Um homem aberto a subornos merecia confiança acima de um certo número, mas o sentimento podia brotar no coração à lembrança de um nome, uma fotografia, até mesmo um cheiro.”

“A verdade, ele pensava, nunca teve real valor para nenhum ser humano – é um símbolo buscado por matemáticos e filósofos. Nas relações humanas, a generosidade e os laços de afeição valem mil verdades.”

“Ele tinha praticamente tudo, só precisava de paz”

“O desespero é o preço que pagamos por nos comprometermos com uma meta impossível. (…) um pecado que nunca é cometido pelos corruptos e pelos maus. Eles sempre têm esperança. Nunca atingem aquele estado paralisante que é o conhecimento do fracasso absoluto. Só os homens de boa vontade levam sempre no coração essa capacidade para a desgraça.”

“Nós perdoaríamos a maioria das coisas se conhecêssemos os fatos. (…) Um policial deve ser a pessoa mais magnânima do mundo se entender corretamente os fatos.”

“…pela primeira vez percebeu a dor inevitável em qualquer relacionamento humano – dor sofrida e dor afligida. Que tolice ter medo da solidão.”

“…na noite confusa esqueceu por ora o que a experiência lhe ensinara – que nenhum ser humano pode entender outro ser humano, que ninguém pode providenciar a felicidade do outro.”

“…a amizade é uma coisa na alma. É uma coisa que a gente sente. Não é uma retribuição por alguma coisa. (…) – Eu gostaria que não falasse tanto, Yusef. Não estou interessado em sua amizade. – Suas palavras são mais duras que seu coração, major Scobie.”

“A felicidade nunca é realmente tão bem vinda quanto a imutabilidade.”

“Um pouco de cerveja então, major Scobie. – O Profeta não proíbe isso? – O Profeta não conheceu nem cerveja gelada nem whisky engarrafado, major Scobie. Nós temos de interpretar suas palavras à luz da modernidade!”

“Que coisa absurda era esperar felicidade num mundo tão cheio de sofrimento. Ele reduzira suas próprias necessidades ao mínimo, guardara as fotografias em gavetas, tirara os mortos da cabeça. Um afiador de navalhas, um par de algemas enferrujadas usadas como enfeite. Mas ainda temos nossos olhos, ele pensou, nossos ouvidos. Mostre-me um homem feliz e eu lhe mostro um egoísmo extremo, o mal – ou uma ignorância absoluta.”

“Um único ato de coragem pode alterar toda noção da medida do possível.”

“Até o sifão azul de soda estava no mesmo lugar: tudo tinha uma ar de eternidade, como a mobília do inferno.”

“Pareceu-lhe por um momento que Deus era demasiado acessível. Não havia nenhuma dificuldade em aproximar-se d’Ele. Como um demagogo popular, Ele estava disponível para receber a qualquer hora o menor dos Seus seguidores. Olhando para a cruz, ele pensou: Ele até mesmo sofre em público!”

“…fazia muito tempo que ele se tornara incapaz de qualquer coisa tão honesta como a loucura: era uma desses condenados na infância à complexidade.”

“Em nossos coração há um ditador impiedoso, pronto a contemplar a infelicidade de mil desconhecidos se ela assegurar a felicidade dos poucos que amamos.”

“Não podemos ser prudentes o tempo todo, morreríamos de desgosto.”

“Ele se deu conta de que para quem não ama o tempo nunca para.”

“Não acredito em ninguém que diz amo, amo, amo. Isso significa eu, eu, eu.”

“Ninguém pode dizer um monólogo sozinho por muito tempo. Outra voz sempre se fará ouvir. Todo monólogo, mais cedo ou mais tarde, se torna uma discussão.”

“Um homem não vem a nós para confessar suas virtudes.”

O texto já se estendeu demais. Letras demais para um só disco. Apenas para arrematar o tema literário: George Orwell atacou o livro com seu bisturi de gelo e pôs abaixo a coerência da caracterização do próprio protagonista: Se fosse tão ligado em religião, como optou pelo condenável suicídio? Se era tão cristão, como podia ser um policial de colônia? Não sei como Greene responderia a Orwell entre um drink e outro – seria um encontro magistral. Devo concluir com a impressão de que os motes de culpa e redenção, expiação e suicídio, tenham sido elementos talvez catárticos para o autor. Ele próprio, segundo se comenta, maníaco depressivo, que na juventude andou brincado de roleta russa – literalmente falando. O personagem, no fim das contas, é quase um santo, que se sacrifica para não perpetuar a infelicidade das pessoas que ama. Possivelmente uma espécie de alter ego religioso do autor, quem sabe. Ao longo da obra nos vemos numa encruzilhada sobre qual seria o ‘Heart of The Matter’. Os vetores às vezes apontam para o amor, às vezes para a infelicidade, às vezes para a compaixão – que nos remete ao primeiro.

Embora possam discordar alguns adeptos e compositores de música chamada “moderna” (que já vai em cem anos), música diz tanto quanto diz a literatura. Música e retórica estão profundamente imbricados ao longo dos contextos históricos. A pena de Green nos fala, o trompete de Baker nos fala. De maneiras distintas, mas que se cruzam em certo ponto: Mais um Cerne da Questão.

Postagem dedicada a Judy Esteves.

CHET BAKER TRIO – ESTATE

  1. Chrystal Bells
  2. Strollin’
  3. Lament
  4. Leaving
  5. Cherokee
  6. Estate
  7. My Funny Valentine

Chet Baker – Trompete e vocal
Philip Catherine – Guitar
Jean-Louis Rassinfosse – Bass

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Wellbach

Franz Joseph Haydn (1732-1809): Concertos para Piano em Ré e Sol maior – Arturo Benedetti Michelangeli

Franz Joseph Haydn (1732-1809): Concertos para Piano em Ré e Sol maior – Arturo Benedetti Michelangeli

Haydn

Concertos para Piano

Arturo Benedetti Michelangeli

Züricher Kammerorchester

Edmond de Stoutz

 

Incidências, co-incidências… coincidências. Sincronismos? Acontecimentos que se buscam…

Passei alguns dias ouvindo os concertos para piano de Haydn em preparação de uma postagem, há bem pouco tempo. Dúvidas – qual disco escolher? – Algum que represente bem o compositor e o repertório e que seja bom – ótimo, na verdade. E fugir do óbvio, se possível. Busquei uma gravação do Emanuel Ax, que não encontrei, ouvi alguns discos dos puristas com instrumentos de época, alguns encantadores, mas outros, nem tanto. Achei a solução do quebra-cabeças no disco do Leif Ove Andsnes.

Pois assim é a vida, agendada a postagem, cai no meu colo este disco especial, do Arturo Benedetto Michelangeli. Sem perder um segundo sequer, apresento-o aos leitores-seguidores do blog, como uma opção ao disco do Andsnes. Melhor, um complemento, mas não como se a este algo estivesse faltando, capisce? Considere também que ABM dispensou o concertinho em fá maior, mas que em mãos como a do Andsnes, pode ser muito bem apreciado. Mas, como a arquivos dados não se olha os kbites, aqui vai!

Arturo, chegando para falar do disco…

Atentem para o som, especialmente nas cordas na abertura do primeiro concerto do disco, um pouquinho ‘passado’, afinal a gravação é da década de 1970. Mas, a vivacidade da orquestra faz com que nossos ouvidos rapidamente se adaptem. A entrada do piano – bem destacado – mostra logo quem é o protagonista nesta (injusta) contenda. Prestem bastante atenção nas cadências do primeiro e segundo movimentos do concerto em sol maior. Elas são do Nino Rota!

Papa Haydn certamente merece ter sua obra divulgada por um disco como este.

Franz Joseph Haydn (1732 – 1809)

Concerto para Piano No. 11 em ré maior, Hob XVIII: 11

  1. Vivace
  2. Um poco adagio
  3. Rondo all’Ungarese (Allegro assai)

Concerto para Piano No. 4 em sol maior, Hob XVIII: 4

  1. Allegro moderato – Cadência de Nino Rota – Tempo I
  2. Adagio cantabile – Cadência de Nino Rota – Tempo I
  3. Finale (Rondo – Presto)

Arturo Benedetti Michelangeli, piano

Züricher Kammerorchester

Edmond de Stoutz

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FLAC | 276 MB

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MP3 | 320 KBPS | 146 MB

Ah, sem dúvida, merece o selo: Jurássico!

Mesmo assim, aproveite!
René Denon

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Trios para piano, violino e violoncelo, Op. 63, Hess 47 e Anh. 3 – The Beethoven Project Trio

Para quem começara tão bem, protelando a publicação de seu Opus 1 e a inauguração de seu catálogo oficial de obras até os quase vinte e cinco anos, a década seguinte foi como um caminhão (se houvesse naquela época) esmigalhando aquele pobre bicho que era a já esculhambada organização de Ludwig van Beethoven. A necessidade do vil metal, muito aumentada pelos aportes irregulares de seus patronos, em função das guerras que devoravam os povos do continente, não só o fez furungar seus baús para publicar velharias dos tempos de Bonn, como a perder muitas vezes o controle sobre a divulgação de suas obras – invariavelmente pirateadas depois da primeira edição – e da própria numeração delas em seu catálogo pessoal.

Uma dessas criaturas frankensteinianas é o trio para piano, violino e violoncelo, Op. 63, que soará familiar a alguns que nos vêm acompanhando desde o começo da série: trata-se de um arranjo do quinteto para cordas, Op. 4, que já era, por sua vez, uma adaptação do octeto para sopros, Op. 104. Há quem force uma barra enorme para tentar se convencer de que o arranjo foi feito pelo próprio Beethoven, mas a ausência de menções ao Op. 63 em suas correspondências, bem como a surpresa com que recebeu a sua publicação, apontam que foi obra de terceiros a que, no máximo, o compositor acedeu sem sequer lhe corrigir as provas. O resultado ocupa de maneira agradável uns trinta e poucos minutos, ao final dos quais a gente concorda com que a única razão de ser para mais esta guaribada na composição juvenil deve ter sido um bom dinheiro, pois a obra não diz muito a que veio, com todo um abismo a separá-lo dos trios tão bem burilados do Op. 1.

Muito da experiência agradável da audição provém da qualidade da gravação da Cedille e do bom trio de intérpretes, todos radicados em Chicago. Seu nome – The Beethoven Project Trio – atesta que eles se uniram para um projeto: tocar todos trios com piano de Ludwig em várias cidades dos Estados Unidos, o que incluiu algumas estreias norte-americanas e, até, a estreia mundial duma obra do renano. Claro que, em pleno 2010, não poderíamos esperar que viesse à tona uma grande obra – e o trio Hess 47 não é exatamente algo desconhecido, pois é um arranjo (mais um!) do primeiro movimento do trio de cordas, Op. 3. A versão aqui ouvida espelha o conteúdo da competente composição original, com um interesse adicional trazido pela parte de piano, que nesta gravação é um Fazioli de elegante som. A obra que arredonda o disco não é exatamente um pinto bem-vindo ao galinheiro beethoveniano. Embora o encarte do BPT jure de pés juntos que a obra, outrora atribuída a Mozart, foi “possivelmente” composta por Beethoven, justificando assim sua inclusão no projeto, a realidade é bem outra. O cuidadoso catálogo de Kinsky-Hahn atirou-a no apêndice (Anhang) de seu rol de obras de Beethoven, que é um limbo onde estão as composições que ninguém hoje crê a sério que tenham vindo de sua pena. Tudo indica é que ele tenha sido escrito por Beethoven, mas não O Beethoven: não por Ludwig, e sim por Karl, seu irmão do meio, que tentara a sorte na composição antes de atuar como secretário, copista e, também sem muito êxito, como representante de Ludwig nas negociações com editoras. Além da atribuição duvidosa, a obra em dois movimentos ainda está incompleta, por lhe faltarem pelo menos duas páginas do Allegro inicial. O musicólogo Robert McConnell preencheu a lacuna, o BPT completou seu disco, e os completistas beethovenianos riscaram mais uma linha de sua lista de faltantes.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trio para piano, violino e violoncelo em Mi bemol maior, Hess 47

1 – Allegro con brio

Kaspar Anton Karl van BEETHOVEN (1774-1815)

Trio para piano, violino e violoncelo em Ré maior, Kinsky/Hahn Anhang 3 (1799)
Atribuído anteriormente a Ludwig van Beethoven
Completado por Robert McConnell

2 – Allegro
3 – Rondo: Allegretto

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trio para piano, violino e violoncelo em Mi bemol maior, Op. 63 (1806)
Arranjo anônimo do quinteto para cordas, Op. 4

4 – Allegro con brio
5 – Andante
6 – Menuetto & Trio
7 – Finale: Presto

The Beethoven Project Trio:

George Lepauw, piano
Sang Mee Lee, violino
Wendy Warner, violoncelo

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Muito esperei pela oportunidade de postar esta bela imagem de Karl van Beethoven. Chegou a hora. De nada.
#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Thomas Adès (1971): Adès Conducts Adès

Thomas Adès (1971): Adès Conducts Adès

IM-PER-DÍ-VEL !!!

O professor, escritor e tradutor Caetano Galindo sugeriu-me ouvir este disco. Ele notara certo parentesco entre o Concerto para Piano de John Adams, Must the Devil Have All the Good Tunes?, recém postado aqui no blog, e este de Thomas Adès. Impossível não concordar. Ambos os concertos são ótimos, guardam interlocução com o popular, têm momentos de muito ritmo e agitação, são para grandes orquestras, as linguagens não ficam nada distantes e foram escritos em três movimentos no velho esquema rápido-lento-rápido. Mas o principal parentesco é de espírito, de humor mesmo.

Adès nasceu em Londres, filho da historiadora de arte Dawn Adès e do poeta Timothy Adès . Estudou piano com Paul Berkowitz e mais tarde composição com Robert Saxton na Guildhall School of Music and Drama, Londres. Ele é professor de composição na Royal Academy of Music.

Em março de 2019, Adès regeu a Orquestra Sinfônica de Boston e Kirill Gerstein fazendo a estreia mundial deste seu Concerto para Piano e Orquestra. Encomendado pelo BSO e por Kirill Gerstein, o trabalho já foi interpretado com sucesso em outros palcos e espera-se que se torne parte do repertório de concertos em todo o mundo. Esta gravação ao vivo recebeu respostas arrebatadoras de público e crítica, ficando no mesmo nível do álbum com o trabalho de Adès em 2013, Totentanz. Aliás, Totentanz também está aqui, reunindo solistas como o barítono Mark Stone e a mezzo-soprano Christianne Stotijn com uma (muito) grande orquestra. É uma música surpreendente, alegremente macabra, com uma procissão muitas vítimas, de Papas à donzelas e crianças.

O Scherzo escreveu sobre este CD:

Parece que fue ayer pero Thomas Adés,  el antiguo niño prodigio, compositor en residencia de la Hallé con 22 años, tiene ya 49. Lleva a sus espaldas una carrera no solo brillante sino mucho más que eso, pues no deja de ser autor de obras para orquesta como Asyla, un clásico de nuestros días, o de una de las mejores óperas de lo que va de siglo: The Tempest. Hay más cosas pero con esas dos se define bien su genio. Un genio que sigue demostrándose también ahora desde ese otro aspecto que siempre debe preocupar al creador: conseguir que aquello quese propone responda a sus propias expectativas. En ese sentido su nuevo Concierto para piano y orquesta (2019), ya triunfante en muchas salas y muy programado para el incierto futuro, es un ejemplo, si se me permite decir, admirable. Admirable más acá de su efecto emocional, eso tan difícil de explicar objetivamente, y admirable porque se trata de una obra de una inteligencia asombrosa. Responde perfectamente a su título, pues es, ni más ni menos que lo que anuncia. Un concierto para piano y orquesta escrito para un virtuoso —en este caso Kirill Gerstein— y que incluye todas las características del género en su sentido más tradicional, desde la necesidad del poderío técnico a la pertinencia de un acompañamiento no menos sólido, brillantísimo, con un tiempo lento de buena ley lírica y unos extremos muy bien musculados. Todo el conjunto plenamente integrado en parte de una tradición que aquí llega diáfana desde las casi citas al aire general: Rachmaninov, Prokofiev, Ravel y Gershwin en primera instancia y un eco a Ligeti algo más lejano. Todo ello deja con la boca abierta pero al fin hay un punto de retórica, casi de espectáculo, que no es que impida ir más allá sino que da la sensación de que, en efecto, no hay más. Pura música, diría alguien y allá cada cual.

No sucede lo mismo en Totentanz, escrita en memoria de Witold Lutoslawski y estrenada en los Proms en 2013. Una obra mayor donde las haya sobre los textos que acompañaban al friso que estuvo en su día en la catedral de Lübeck, referidos a la muerte —el barítono— que finalmente iguala a todos —la mezzo. Cercana por momentos al Mahler más trágico y con rastros del Bartók de El castillo de Barbazul, está también formidablemente escrita, con unos recursos vocales y orquestales propios de un maestro de la categoría del británico que, aquí sí,  demuestra su capacidad para emocionar a su oyente.

Son dos aspectos, pues, de su creación, de sus intenciones y de sus logros. En ambos casos se cumplen de sobra unas y otros pero, en mi opinión, el Adès grande de verdad es el de Totentanz. El del Concierto es el mágico prodigioso a quien, seguro de gustar, y está en su derecho, los fuegos de artificio le salen de maravilla.

Thomas Adès (1972): Adès Conducts Adès

1. Concerto for Piano and Orchestra : 1. – (Live at Symphony Hall, Boston / 2019) (7:35)
2. Concerto for Piano and Orchestra : 2. – (Live at Symphony Hall, Boston / 2019) (7:00)
3. Concerto for Piano and Orchestra : 3. – (Live at Symphony Hall, Boston / 2019) (6:51)

4. Totentanz : Der Prediger (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:16)
5. Totentanz : Der Tod (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:56)
6. Totentanz : Der Tod zum Papst – Der Papst (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:52)
7. Totentanz : Der Tod zum Kaiser – Der Kaiser (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:16)
8. Totentanz : Der Tod zum Kardinal – Der Kardinal (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:42)
9. Totentanz : Der Tod zum König – Der König (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:55)
10. Totentanz : Der Tod zum Mönch – Der Mönch (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:41)
11. Totentanz : Der Tod zum Ritter – Der Ritter – Der Tod zum Bürgermeister – Der Bürgermeister (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:49)
12. Totentanz : Der Tod zum Arzt – Der Arzt – Der Tod zum Wucherer – Der Wucherer (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (0:45)
13. Totentanz : Der Tod zum Kaufmann – Der Kaufmann (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:05)
14. Totentanz : Der Tod zum Küster – Der Küster – Der Tod zum Küster (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (4:01)
15. Totentanz : Der Handwerker – Der Tod zum Handwerker (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:20)
16. Totentanz : Der Tod zum Bauer – Der Bauer (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:13)
17. Totentanz : Der Tod zum Mädchen – Das Mädchen (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:58)
18. Totentanz : Der Tod zum Kind – Das Kind (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (4:43)

Kirill Gerstein, piano
Boston Symphony Orchestra
Thomas Adès

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Thomas Adès

PQP

Kurt Weill (1900-1950): Speak Low (von Otter / Gardiner)

Um disco delicioso, ideal para estes dias frios aqui do sul. Porque ele traz o calor dos cabarés alemães às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Sempre fui fã do Kurt Weill, já há algum tempo pretendia postar alguma coisa dele, mas outros projetos sempre me tomavam o tempo. Ontem de noite, para variar tentando dar uma geral no meu acervo de cds, encontrei este, escondido. Já fazia bastante tempo que eu não o ouvia.

Anne-Sophie von Otter está em seu elemento natural cantando estas canções. E Sir John Elliot Gardiner pode surpreender a alguns menos acostumados ao seu talento e versatilidade, mas para mim ele soa natural. Já ouvi estas canções com diversos acompanhamentos, desde pequenos grupos de jazz, ou pequenos conjuntos orquestrais, ou apenas um piano, mas nunca antes com uma Orquestra completa. Diria que Gardiner realça a musicalidade das obras, deixando um pouco de lado seu aspecto mais teatral. Mas como estamos ouvindo, e não assistindo, creio que sua escolha foi acertada.

Espero que apreciem. Confesso que andei meio depressivo em minhas últimas postagens, principalmente com o Pergolesi, mas este CD ajuda a levantar a auto-estima.

Kurt Weill (1900-1950): Speak Low (von Otter / Gardiner)

1. Introduktion: Andante sostenuto “Meine Schwester . . .
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
2. Faulheit: Allegro vivace “Müssiggang ist aller Laster”
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
3. Stolz: Allegretto, quasi andantino “Als wir aber”
4. Zorn: Molto agitato “Das geht nicht vorwärts”
Anne Sofie von Otter, James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
5. Völlerei: Largo “Das ist ein Brief aus Philadelphia”
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
6. No.5 Unzucht “Und wir fanden einen Mann in Boston”
Anne Sofie von Otter, James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
7. Habsucht: Allegro giusto “Wie hier in der Zeitung”
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
8. Neid: Allegro non troppo “Und die letzte Stadt”
Anne Sofie von Otter, James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
9. Epilogue “Darauf kehrten wir zurück nach Lousiana”
Lady in the Dark
tran. Chris Hazell/Tony Burke
10. 3. My Ship
11. One Life to Live
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
12. Buddy on the Nightshift
13. Nannas Lied
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg

Happy End (1929)

tran. Chris Hazell/Tony Burke

14. 1. Bilbao Song
15. 2. Surabaya Johnny
16. Das Lied von der harten Nuss (Song of the Big Shot)
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
17. Je ne t’aime pas
18. Schickelgruber
19. Der Abschiedsbrief
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg

One Touch of Venus

20. Foolish Heart
21. Speak Low
22. I’m A Stranger Here Myself
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner

Anne Sofie von Otter
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin
Bengt Forsberg
NDR-Sinfonieorchester
John Eliot Gardiner

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LINK ALTERNATIVO

FDP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Aberturas “Coriolan”, Op. 62 – “Die Geschöpfe des Prometheus, Op. 43” – “Egmont”, Op. 84 – “Die Ruinen von Athen”, Op. 113 – “Zur Namensfeier”, Op. 115 – “König Stephan”, Op. 117 – “Die Weihe des Hauses”, Op. 124 – “Fidelio” & “Leonore” I-III – Abbado

“Coriolano” é, possivelmente, a primeira abertura de concerto de que se tem registro. Ela leva o nome da peça de Shakespeare sobre a vida dum semilegendário general romano, mas que em verdade foi inspirada na obra muito menos conhecida do hoje obscuro dramaturgo austríaco Heinrich Joseph von Collin (1771–1811).

Nas duas versões da tragédia, Coriolano é exilado de sua cidade e, acolhido pelos volscos, organiza os exércitos desses antigos inimigos para atacar Roma. Às portas dela e no ponto alto do drama, a mãe e a esposa de Coriolano tentam demovê-lo da ideia, no que têm sucesso. O general, então, prefere se matar a comandar a retirada de suas tropas. Pano rápido. Fim.

A música de Beethoven é apropriadamente dramática, contrapondo um tema trágico em Dó menor a um lírico, em Mi bemol maior, representando o embate entre a sanha bélica do general e os sentimentos evocados pelas mulheres de sua vida. O retorno do tema soturno em outra tonalidade parece representar sua decisão final, e seu vagaroso apagar, claro, a sua morte. Apesar de ter usado aqui o termo “abertura”, “Coriolan” é uma peça independente: não há registro sequer da intenção de fazê-la seguir-se de outros números de música incidental, como era a praxe da época. Assim, ao escrever uma obra musical autônoma inspirada por uma outra, literária, Beethoven inaugurava um novo gênero: a abertura de concerto, pedra fundamental da tradição de música programática que, em algumas décadas, ganharia corpo com o trabalho de Berlioz, Liszt e companhia.

O excelente álbum duplo que lhes alcanço, com o infalível Claudio Abbado liderando os filarmônicos vienenses, contém a integral das aberturas de Beethoven. Aqui estão tanto as aberturas de concerto quanto as outras tantas destinadas a suas incursões na música para o palco – as quais foram abordadas, ou assim o serão, ao longo dessa nossa integral de sua obra. A  exceção de Zur Namensfeier, Op. 115, da qual passaremos ao largo e não comentaremos, porque é uma das peças mais “nhé” do compositor e, enfim, temos muito mais o que fazer.

A clareza e o vigor do registro são, claro, aqueles que sempre se pode esperar de Abbado, e as duas obras-primas da coleção – “Coriolan” e “Egmont” – são de levantar da cadeira de tão eletrizantes. Para uma leitura bastante diferente, mas igualmente empolgante, recomendo a audição comparada do álbum do conde de la Fontaine und d’Harnoncourt-Unverzagt, vulgo Nikolaus, que restaurei aqui na postagem do patrão PQP.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Die Geschöpfe des Prometheus, música para o ballet de Salvatore Viganò, Op. 43
01 – Abertura

Música incidental para “König Stephan”, de August von Kotzebue, Op. 117
02 – Abertura

Música incidental para “Die Ruinen von Athen”, de August von Kotzebue, Op. 113
03 – Abertura

Música para o Festival de Carl Meisl
04 – Abertura “Die Weihe des Hauses”, Op. 124

5 – “Zur Namensfeier”, Grande Abertura em Dó maior, Op. 115

6 – “Coriolan”, Abertura em Dó menor sobre a tragédia de Heinrich von Collin, Op. 62

Música para a tragédia “Egmont” de Johann Wolfgang von Goethe, Op.84
7 – Abertura

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Aberturas para Fidelio/Leonore, Op. 72

Abertura “Fidelio”, Op. 72b
1 – Allegro – Adagio – Presto

Abertura “Leonore I”, Op. 138
2 – Andante con moto – Allegro con brio

Abertura “Leonore II”, Op. 72
3 – Adagio – Allegro – Adagio – Presto

Abertura “Leonore III”, Op. 72a
4 – Adagio – Allegro – Presto

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Wiener Philharmoniker
Claudio Abbado, regência

 


“Coriolan” era uma das peças preferidas de Arturo Toscanini, que a gravou meia dúzia de vezes. Ei-lo doman…, er, ensaiando a orquestra no trecho central da peça, com seu tradicional estilo vigoroso e suas legendárias broncas bilíngues nos músicos…


… muito embora suas cobranças ao contrabaixistas não cheguem aos pés desse legendário esporro (posso escrever “esporro” aqui?) que deve estar doendo até no bisneto do primeiro contrabaixista dessa orquestra. Aproveitem, que não é todo dia que a gente ouve uma criatura nascida em 1867 chamando alguém de “rompicoglioni” – que, sinceramente, virou meu impropério favorito.

 


FAIXA BÔNUS : a versão de “Coriolan” para banda de rock progressivo, por nosso leitor-ouvinte Eduardo D’Elboux

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily