Carl Friedrich Abel (1723-1787) – The Drexel Manuscript – Paolo Pandolfo

gls_08_12_abel_digipak_afDe volta do Coração das Trevas, ainda no divertidamente aflito período de incubação de perebas medonhas, e enquanto removo os parasitos das longas barbas, tento destilar as memórias da, ahn, *indescritível* viagem pelo rio Congo com algumas inalações de boa música.

Este cidadão, o gambista e violoncelista Abel, foi um dos virtuoses da corte de Cöthen que inspiraram Johann Sebastian Bach a escrever muito do melhor de sua música instrumental: se é certo que lhe coube uma das partes de viola da gamba do peculiar conjunto instrumental do Concerto de Brandenburg no. 6, há também quem diga que ele inspirou o Demiurgo da Música a compor suas sublimes Suítes para violoncelo solo.

Mais ainda: com um dos filhos do Mestre – Johann Christian, o “Bach Inglês” – Abel estabeleceria os primeiros concertos por assinatura daquelas ilhas, decisivos para o processo, que culminaria nas décadas seguintes, de mudança dos holofotes dos salões da nobreza para as salas de concertos repletas de público pagante.

Para alguém que teve a reputação de maior gambista de seu tempo, não surpreende que as obras de Abel para a viola da gamba sejam bastante idiomáticas. Ainda assim, suas sugestões de classicismo e rococó às vezes soam incongruentemente modernas num instrumento que, posto que belíssimo, cairia em oblívio antes do final do século XVIII.

As vinte e oito peças deste álbum, que fazem parte da coleção Drexel – uma calhamaçuda doação do sujeito em questão para a Biblioteca Pública de New York – foram editadas e executadas com o tesão habitual pelo maravilhoso gambista Paolo Pandolfo, que é daqueles artistas que transformam em ouro tudo o que tocam, e de tal maneira que mantém brilho próprio num céu em que, há muitas décadas, reina supremo o grande Jordi Savall.

Se todo este Abel não for o bastante para convencê-los disso, as Suítes de Bach que postarei em breve serão. Aguardem!

CARL FRIEDRICH ABEL – THE DREXEL MANUSCRIPT

Carl Friedrich ABEL (1723-1787)

Solos para viola da gamba da coleção Drexel, volume 5871

Suíte em Ré maior

01 – (Prélude)
02 – Allegro
03 – Vivace
04 – Andante
05 – (Allegro)
06 – Adagio
07 – (Tempo di Minuetto)
08 – (Aria)
09 – Tempo di Minuet
10 – (Minuetto)

Suíte em Ré menor

11 – (Arpeggiata)
12 – (Minuetto)
13 – Allegro
14 – Adagio
15 – (Allegro)
16 – Tempo di Menuet (Ré maior)

Suíte em Ré maior

17 – (Prélude)
18 – Allegro
19 – (Allegro)
20 – (Aria con
Variazioni)
21 – Fuga
22 – Adagio
23 – Tempo di Minuet
24 – (Petit Prélude)
25 – Tempo di Menuet
26 – (Minuetto)

Duas peças em Lá maior

27 – Allegretto
28 – Allegro

PAOLO PANDOLFO, viola da gamba baixo

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Paolo, il Magnifico
Paolo, il Magnifico

Vassily Genrikhovich

10 comments / Add your comment below

    1. Sou tiete do Pandolfo e, por isso, suspeito para responder. Acho que o estilo cheio de floreios e de oportunidades para bravado das obras de Abel para gamba são muito adequadas ao estilo brilhante desse intérprete. Em algumas semanas deverei trazer seis sonatas de Abel na interpretação de um outro gambista, que deverão ajudar a responder sua pergunta.

      1. De fato, o Pandolfo me chamou a atenção em outro disco postado por vocês (eu penso no pessoal desse site como um time de pessoas ultra dedicadas à música, mesmo que cada um tenha diferentes gostos e manias…), com as sonatas para viola da gamba do João Sebastião… Ribeiro (seria essa uma tradaptação para o nome do J S Bach?).
        Abração!
        Mário

        1. É uma honra fazer parte de um “vocês” que inclui PQP, FDP Bach, Avicenna, Ranulfus, CVL, Carlinus e, sem qualquer demérito aos demais que aqui menciono, tão distinta turminha!
          Quanto a Pandolfo, seu estilo extravagante dificilmente destoa da literatura para gamba, que se constitui essencialmente de miniaturas e suítes escritas por virtuoses para seu próprio deleite e exibição de bravado.

          1. Hahaha, muito bem lembrado! O Senhor de Sainte-Colombe vivido pelo Jean-Pierre Marielle resmungaria ao escutar o Pandolfo, enquanto o jovem Marais/Guillaume Dépardieu nada acharia de errado…

            Aliás, revisando nossos relicários não encontrei a maravilhosa trilha sonora do filme aqui no PQP. Daremos LOGO um jeito nisso!

          1. Grande referência! Tous les matins du monde! para mim o mais belo dos filmes – mas é opinião pessoalíssima, claro. Trilha estupenda! incrível que não tenha saído em DVD ainda. Já dei minhas cutucadas na Versatil Home Video pra isso. rs Mas, que bela postagem e que belo texto. Parabéns e gratíssimo!

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