- Repost de 22 de Novembro de 2015
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.
Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele.
Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz.
Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.
Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;
Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.
João 1:1-14
Não só os cristãos que ficam encantados com essas palavras, Stephen King em A Coisa, e agora eu, escrevendo sobre esse ótimo álbum com essa obra que se inspira nestas palavras sagradas, faço referência à esse evangelho e não teria outra forma de começar a não ser por esse belíssimo texto. Não sei exatamente o que me inspira nele, há algo de poético, de épico e de fantástico que me faz ter uma enorme reverência por estes versos, entre outros da Bíblia Sagrada, mesmo não sendo mais cristão.
Arvo Pärt aqui está um pouco diferente daquele compositor calmo que transparece em Für Alina. Vemos aqui um pouco daquela força arrasadora do primeiro movimento de Tabula Rasa, embora em outra forma dessa vez, na forma de um poderoso coro e uma orquestra, no caso da obra In Principio. Também sentimos essa força na belíssima e hipnotizante Mein Weg, obra que transparece em sua tonalidade um pouco de influência da música oriental… mas isso é uma outra história, e como bem sabem, deve ser contada em outro momento…
Arvo Pärt (1935): In Principio
01 In principio – I. In principio erat Verbum
02 In principio – II. Fuit homo missus a Deo
03 In principio – III. Erat lux vera
04 In principio – IV. Quotquot autem acceperunt sum
05 In principio – V. Et Verbum caro factum est
06 La Sindone
07 Cecilia, vergine romana
Estonian Philharmonic Chamber Choir
Estonian National Symphony Orchestra
Tõnu Kaljuste, regente
08 Da pacem Domine
Estonian Philharmonic Chamber Choir
Tallinn Chamber Choir
Tõnu Kaljuste, regente
09 Mein Weg
10 Fur Lennart in memoriam
Tallinn Chamber Orchestra
Tõnu Kaljuste, regente

Luke

![Kenneth Benshoof (1933): Traveling Music – Astor Piazzolla (1921-1992): Five Tango Sensations – Kronos Quartet: 25 anos [2/10]](https://pqpbach.ars.blog.br/wp-content/uploads/2016/01/kronos_quartet_121211_double.jpg)

![John Adams (1947): John’s Book of Alleged Dances – Arvo Pärt (1935): Missa Syllabica – Kronos Quartet: 25 anos [1/10]](https://pqpbach.ars.blog.br/wp-content/uploads/2015/12/front2.jpg)










O fim, meus caros, nada mais é do que um retorno ao início.













Depois de séculos sem postar, volto com alguma coisa da vanguarda eslovena. Tendo em conta meu conhecimento parco, tenho apenas dois nomes para apresentar neste e nos próximos posts: Primož Ramovš (1921-1999) e Lojze Lebič (1934-). Curiosamente, do primeiro, meio que o pai da vanguarda eslovena, o que mais conheço são peças neoclássicas, do início de carreira. Estava caçando música do compositor (não era, e talvez ainda não seja, fácil de achar), e um esloveno que conheci pela internet me fez o enorme favor de copiar dois cds da biblioteca. Os dois tristemente não indicavam um compositor assim, assim interessante, e acabei abandonando a busca. Muitos anos depois, achei por um preço fantástico dois cds de obras mais avançadas no site da rádio e tv eslovena. O comichão para conhecê-lo já tinha meio que passado, mas por preço de banana achei que compensava dar mais uma checada. E, sim, lá estava um músico bem mais impactante. Pelos idos da década de 50, Ramovš começa a desenvolver uma linguagem mais pessoal, tendo sido o Festival de Outono de Varsóvia, no qual esteve presente em 1960, catalisador de um novo estilo não apenas para ele, mas para boa parte da Europa Oriental.
Aí vai mais um cd de música romena. Embora seja sempre agradável ouvir um Niculescu, a peça gravada aqui, Sequentia (1994) para flauta, clarinete, violino, violoncelo e percussão, não é do que mais me surpreende nele. É de sua última fase, abertamente sacra, com peças em geral um pouco mais escuras e muito densas. Prefiro o momento anterior, doce sem deixar de ser denso, expressivo sem deixar de ser arrojado (ao contrário de compositores como Rautavaara, que realmente deram para trás para encontrarem comunicação). Ainda assim, como já dizia, a peça é interessante, guarda um sabor meio jocoso, apesar da sacralidade óbvia. Outras peças do período, como as sinfonias 4 e 5 também são muito fortes, com momentos de beleza soberba. O que me incomoda, talvez, é a sensação de reinserção na ambientação mais típica da música de vanguarda, ainda que com estilo. Sinto muita semelhança com o Lutoslawski de Mi-Parti e Livre para Orquestra (duas das minhas prediletas deles, por sinal) pelo ar grandioso, um tanto difuso, belo mas um tanto quanto assustador (sem falar na heterofonia). O Niculescu outsider me instigava mais.
Aqui está um compositor que me parece muito acessível, apesar da linguagem contemporânea, para estrear minha seção de autores latino-americanos. Dirié nasceu em Córdoba, na Argentina, e tem circulado pelo mundo desde então. Estudou e trabalhou na Universidade de Indiana e, mesmo vivendo atualmente na Austrália, parece manter vínculos com o Centro de Música Latina daquela instituição. Embora lance mão de recursos eletroacústicos e de técnicas típicas de música contemporânea, sua música é sempre muito delicada, muito envolvente e melodiosa. Talvez essa suavidade acabe por ser até um entrave para que sua música galgue a um patamar ainda mais significativo, mas, em seus melhores momentos, é uma delícia (e sempre que fica mais áspera, perco um pouco o interesse). Destaco neste cd as duas primeiras peças, Villancico al Nacimiento e Ti xiuhtototl, e o último movimento de La Espera, um daqueles momentos de delicadeza suprema.